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i Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Psicologia Programa de Pós-Graduação em Psicologia INVESTIGAÇÃO DE ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS E ACADÊMICOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES SOBREVIVENTES DE LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA – LLA Doutoranda: Ediana Rosselly de Oliveira Gomes Orientadora: Prof.ª Dr.ª Izabel Hazin Natal Setembro/2017

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i

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Psicologia

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

INVESTIGAÇÃO DE ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS E

ACADÊMICOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

SOBREVIVENTES DE LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA – LLA

Doutoranda: Ediana Rosselly de Oliveira Gomes

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Izabel Hazin

Natal

Setembro/2017

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Ediana Rosselly de Oliveira Gomes

INVESTIGAÇÃO DE ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS E

ACADÊMICOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

SOBREVIVENTES DE LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA – LLA

Tese elaborada sob a orientação da Prof.ª

Dr.ª Izabel Augusta Hazin Pires e

apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Psicologia da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como requisito parcial à obtenção

do título de Doutora em Psicologia.

Natal

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Gomes, Ediana Rosselly de Oliveira.

Investigação de aspectos neuropsicológicos e acadêmicos em crianças e adolescentes sobreviventes de leucemia linfoide aguda - LLA / Ediana Rosselly de Oliveira Gomes. - 2017.

259f.: il.

Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2017. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Izabel Augusta Hazin Pires.

1. Neuropsicologia. 2. Neurodesenvolvimento. 3. Oncologia

pediátrica. 4. Aprendizagem. 5. Quimioterapia. I. Pires, Izabel Augusta Hazin. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 159.94:616.155.392

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A educação (incluindo a habilitativa) é um processo

criativo, e não corretivo. É necessário entender e

superar tudo o que impossibilita uma criança de

viver em harmonia e em concordância com o seu

ambiente direto.

(Janna Glozman)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que iluminou a trajetória percorrida nesse período, possibilitando o exercício

diário da perseverança, da coragem, da busca pelo conhecimento e da esperança diante

de cada novo desafio;

Aos meus pais, irmãos e tias, sempre presentes em minha construção enquanto

profissional e ser humano, apoiando as lutas diárias, compreendendo as ausências,

comemorando as conquistas e acima de tudo acreditando e me incentivando a cada novo

passo; às minhas sobrinhas que nasceram no decorrer desse estudo e que tornaram a nossa

família mais cheia de cor e alegria;

A Victor Hugo, meu esposo, por estar sempre presente de todas as formas; por cultivar

junto comigo esse sonho e facilitar a sua realização sempre que necessário; pelo cuidado

e preocupação cotidiana; por comemorar ao meu lado cada etapa superada, cada criança

encontrada, cada avaliação concluída, mesmo precisando abdicar do descanso ou do lazer

em alguns momentos para me apoiar e acompanhar pelas estradas do RN; pela disposição

em ouvir com empatia cada momento, cada dificuldade e angústia vivenciadas; acima de

tudo, pelo amor incondicional, pelo melhor abraço, cuidado, zelo, respeito e

companheirismo diários;

À Professora Izabel Hazin, pela confiança, suporte, orientação e presença constantes; por

oportunizar a cada encontro a possibilidade de crescimento, reflexão e a preocupação em

se produzir/ensinar uma Psicologia imersa em um contexto social, histórico e cultural

cheio de signos e significados; por emocionar diariamente pela sua “humanidade” junto

às pessoas e aos animais; por ensinar concretamente o papel da Universidade junto à

sociedade e à relevância e necessidade em se produzir conhecimento científico no

Nordeste brasileiro; por sua preocupação diária em fazer sentido de suas/nossas

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atividades, inspirando e fortalecendo também a construção dos nossos sonhos e estando

sempre disposta a ouvir e buscar caminhos alternativos diante de qualquer barreira;

porque sem seu empenho esse estudo não seria possível; acima de tudo, por há 10 anos,

em sua chegada à UFRN, apresentar a Neuropsicologia em uma disciplina de Métodos de

Pesquisa e, a partir desse encontro, fazer florescer novos sonhos acadêmicos e

profissionais em minha história;

À Danielle Garcia (Dani), uma das pessoas mais especiais que a Psicologia me permitiu

encontrar; pela sua amizade, confiança e parceria desde o início da graduação; por me

auxiliar a buscar os caminhos necessários e se disponibilizar desde um empréstimo de um

livro à realização de coleta e discussão de dados, estando sempre preocupada em

contribuir da melhor forma possível; por estarmos nessa aventura de apropriação e

produção de conhecimento em Neuropsicologia há tanto tempo e podermos dizer que a

vida acadêmica nos trouxe muitas conquistas, desafios, oportunidades e, claro, muita

história para contar; pela imensa admiração e respeito que guardo pelo sua postura ético-

profissional, que me inspira a ser sempre uma pessoa melhor;

Ao grupo que carinhosamente denominamos Onco-LAPEN, que se ampliou

significativamente ao longo dos últimos quatro anos, e vem se consolidando como um

campo de pesquisa, extensão e prática profissional em Neuropsicologia e Oncologia

Pediátrica; especialmente à Cyndiane, mestranda que compartilha comigo o interesse por

crianças e adolescentes com LLA, mas também às alunas de graduação Laura Kyvia,

Leilani, Natália, Ana Paula, Jennifer, Jeane e Bárbara pela imensa contribuição em termos

teóricos e práticos para que esse estudo realmente se concretizasse.

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Ao grupo maior do LAPEN, mas especialmente, à Laura Aragão, Carol Leôncio, Sílvia e

Sarah, que tiveram uma participação essencial em todos os momentos que foi solicitado

ajuda;

Aos pais, mães e familiares das crianças com LLA e às próprias crianças, que apesar das

dificuldades imensuráveis vieram às instituições para participar deste estudo;

Aos professores, diretores e colaboradores de escolas públicas e privadas de ensino que

abriram suas portas, forneceram informações, disponibilizaram espaços e se solidarizam

aos objetivos dessa pesquisa. Em especial, às instituições Universidade da Infância,

Degraus do Saber, Instituto Reis Magos e Antônio Severiano;

A todos os profissionais da Liga Norte Riograndense Contra o Câncer, do Hospital

Infantil Varela Santiago, do Grupo de Apoio à Criança com Câncer e da Casa de Apoio

à Criança com Câncer Durval Paiva que atendem e cuidam destas crianças e seus

familiares, que cederam seus espaços e, assim, ajudaram de maneira salutar para que esta

empreitada acontecesse; agradeço em especial à Dra. Zélia Fernandes, Dra. Cassandra

Valle e às Psicólogas Rafaella, Daniela, Aline e Maria Isabel que abriram as portas para

que fosse possível a realização desse estudo nos hospitais pediátricos;

À UFRN e aos colegas de trabalho da Escola Agrícola de Jundiaí-UFRN pela

compreensão à importância deste degrau em minha trajetória profissional e por ter me

possibilitado conquistá-la em condição de afastamento das minhas atividades laborais;

Um agradecimento especial segue aos meus amigos de longas datas, do Ensino Médio do

CEFET-RN, que são inspiração, exemplo, suporte e alívio nos momentos mais difíceis e

com os quais sempre foi possível compartilhar e comemorar os bons momentos; por ter

sido junto a eles, que de alguma forma, essa trajetória acadêmica começou; por serem em

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um bom número professores, doutores, mestres, pessoas dedicadas às suas escolhas

profissionais e que sempre tiveram a habilidade de tornar os dias mais leves e os sorrisos

mais fáceis.

Aos demais amigos, familiares, colegas, profissionais e professores que serviram de apoio

e orientação nessa jornada.

Muito obrigada a todos vocês!

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SUMÁRIO

Resumo ....................................................................................................................................... xii

Abstract ..................................................................................................................................... xiv

1. Introdução .............................................................................................................................. 16

2. Objetivos ................................................................................................................................ 27

2.1 Objetivo geral: ................................................................................................................. 27

2.2 Objetivos específicos: ...................................................................................................... 27

3. Método .................................................................................................................................... 28

3.1 Participantes e Instituições ............................................................................................. 28

3.2 Procedimentos de Coleta de dados ................................................................................. 31

3.3 Procedimentos de Análise de dados ............................................................................... 32

4. Estudo 1: Funcionamento intelectual de crianças e adolescentes diagnosticados com leucemia linfoide aguda ............................................................................................................ 33

4.1 Introdução ........................................................................................................................ 33

4.2.1 Leucemia linfoide aguda – caracterização, tratamento e efeitos sobre o

funcionamento intelectual ................................................................................................. 34

4. 2 Método ............................................................................................................................. 44

4.2.1 Instituições ................................................................................................................. 44

4.2.2 Participantes .............................................................................................................. 45

4.2.3 Instrumentos .............................................................................................................. 46

4.2.4 Procedimento de Análise de Dados ........................................................................... 50

4.3 Resultados ........................................................................................................................ 52

4.4 Discussão .......................................................................................................................... 59

4.5 Considerações Finais ....................................................................................................... 75

5. Estudo 2: Atenção e funções executivas em pacientes pediátricos sobreviventes de leucemia linfoide aguda ............................................................................................................ 77

5.1 Introdução ........................................................................................................................ 77

5.1.1 Atenção e Funções Executivas: conceitos e desenvolvimento ................................. 79

5.1.2 Atenção e funções executivas em crianças e adolescentes sobreviventes de LLA .. 87

5.2 Método .............................................................................................................................. 91

5.2.1 Instituições: ............................................................................................................... 91

5.2.2 Participantes: ............................................................................................................. 92

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x

5.2.3 Instrumentos .............................................................................................................. 93

5.2.4 Procedimento de Análise de Dados ......................................................................... 100

5.3 Resultados ...................................................................................................................... 100

5.4 Discussão ........................................................................................................................ 105

5.4.1 Atenção .................................................................................................................... 105

5.4.2 Funções Executivas ................................................................................................. 109

5.5 Considerações Finais ..................................................................................................... 133

6. Estudo 3: Tradução e adaptação do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta .. 138

6.1 Introdução ...................................................................................................................... 138

6.2 Método ............................................................................................................................ 142

6.2.1 Desenho do estudo ................................................................................................... 142

6.2.2 Procedimento para coleta de dados ........................................................................ 145

6.2.3 Análise dos Dados ................................................................................................... 145

6.3 Resultados ...................................................................................................................... 146

6.4 Discussão ........................................................................................................................ 152

6.5 Considerações Finais ..................................................................................................... 157

7. Estudo 4: Investigação de aspectos acadêmicos em crianças e adolescentes diagnosticados com LLA .................................................................................................................................. 160

7.1 Introdução ...................................................................................................................... 160

7.2 Método ............................................................................................................................ 165

7.2.1 Instituições ............................................................................................................... 165

7.2.2 Participantes ............................................................................................................ 165

7.2.3 Instrumentos ............................................................................................................ 167

7.2.4 Procedimento de Análise de Dados ......................................................................... 173

7.3 Resultados ...................................................................................................................... 174

7.4 Discussão ........................................................................................................................ 188

7.4.1 Aspectos sociais, afetivos e comportamentais ......................................................... 188

7.4.2 Aspectos de Aprendizagem ...................................................................................... 191

7.5 Considerações Finais ..................................................................................................... 208

8. Considerações finais ............................................................................................................ 213

Referências ............................................................................................................................... 220

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xi

Apêndice I ................................................................................................................................ 242

Apêndice II ............................................................................................................................... 252

Apêndice III ............................................................................................................................. 256

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Resumo

A leucemia linfoide aguda (LLA) é o tipo de câncer mais comum entre crianças e

adolescentes. A sofisticação dos processos diagnósticos e terapêuticos promoveu a

elevação da sobrevida e a redução das recaídas da doença. A inclusão do tratamento

profilático direcionado ao SNC, realizado através de quimioterapia e/ou radioterapia, tem

sido apontada como essencial para o sucesso terapêutico, todavia parece relacionar-se à

emergência de efeitos neuropsicológicos tardios em cerca de 30% dos sobreviventes.

Estudos sugerem que alterações sobre domínios cognitivos específicos contribuem para

o declínio do funcionamento intelectual e dificuldades acadêmicas. O objetivo geral da

presente pesquisa foi investigar aspectos neuropsicológicos e acadêmicos de crianças e

adolescentes sobreviventes de LLA. A pesquisa foi dividida em quatro estudos: 1)

Funcionamento intelectual de crianças e adolescentes diagnosticados com LLA; 2)

Atenção e funções executivas em pacientes pediátricos sobreviventes de LLA; 3)

Tradução e adaptação do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta (DSBQ); 4)

Investigação de aspectos acadêmicos em crianças e adolescentes diagnosticados com

LLA. Participaram desse estudo 26 crianças e adolescentes sobreviventes de LLA

submetidas exclusivamente à quimioterapia (grupo clínico) e 26 crianças e adolescentes

saudáveis (grupo controle), além de 26 pais e 46 professores. O protocolo de avaliação

neuropsicológica contemplou os seguintes domínios: funcionamento intelectual, atenção,

memória, funções executivas, habilidades acadêmicas e aspectos comportamentais. Os

resultados foram analisados por ferramentas estatísticas descritivas e inferenciais. No

estudo 1 o grupo clínico apresentou desempenho significativamente inferior ao grupo

controle. A baixa escolaridade materna foi associada a menor desempenho nos domínios

verbal, não-verbal e funcionamento intelectual global. A menor idade ao diagnóstico foi

correlacionada com baixos desempenhos no domínio verbal, capacidade intelectual

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global e memória operacional, estando esta última também associada ao maior tempo de

conclusão do tratamento. O estudo 2 evidenciou desempenho significativamente inferior

do grupo clínico em atenção e funções executivas, especialmente no subgrupo de crianças

diagnosticadas antes dos cinco anos de idade. Os resultados do estudo 3 sugeriram que o

DSBQ apresenta validade aparente ou de face, sendo um instrumento de fácil utilização.

No estudo 4 o grupo clínico apresentou resultados inferiores em aritmética, compreensão

de textos e nos processos de armazenamento, evolução da aprendizagem e recuperação

de informações. Dificuldades específicas do funcionamento escolar associaram-se

predominantemente com a menor idade da criança ao diagnóstico. Espera-se que o

conhecimento produzido por esse estudo possa contribuir com o desenvolvimento de

programas voltados para a reinserção escolar e a elaboração de políticas públicas para

essa população clínica, bem como a realização de estudos futuros em neuropsicologia do

desenvolvimento e da aprendizagem.

Palavras-chave: neuropsicologia, neurodesenvolvimento, oncologia pediátrica,

aprendizagem, quimioterapia.

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Abstract

Acute lymphoblastic leukemia (ALL) is the most common type of cancer among children

and adolescents. The sophistication of the diagnostic and therapeutic processes has

promoted an increase in survival and reduction of relapse of the disease. The inclusion of

prophylactic CNS therapy, performed through chemotherapy and/or radiotherapy, has

been identified as essential for therapeutic success, but it seems to be related to the

emergence of late neuropsychological effects in about 30% of survivors. Studies suggest

that changes in specific cognitive domains contribute to the decline of intellectual

functioning and academic difficulties presented by this clinical population. The main

objective of the present study was to investigate the neuropsychological and academic

aspects of children and adolescents who survived ALL. The research was divided into

four studies: 1) The intellectual functioning of children and adolescents diagnosed with

ALL; 2) Attention and executive functions in pediatric survivors of ALL; 3) Translation

and adaptation of the Deasy-Spinetta Behavioral Questionnaire (DSBQ); 4) Investigation

of academic aspects in children and adolescents diagnosed with ALL. 26 children and

adolescents surviving ALL who underwent chemotherapy (clinical group), 26 healthy

children and adolescents (control group), 26 parents and 46 teachers took part in this

study. The neuropsychological evaluation protocol included the following domains:

intellectual functioning, attention, memory, executive functions, academic abilities and

behavioral aspects. The results were analyzed by descriptive and inferential statistical

tools. In study 1, the clinical group performed significantly lower than the control group.

Maternal low schooling was associated with lower performance in verbal, nonverbal and

global intellectual functioning. The younger age at diagnosis was correlated with low

verbal domain, global intellectual capacity and working memory, and the latter was also

associated with longer treatment completion time. Study 2 evidenced significantly lower

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performance of the clinical group in attention and executive functions, especially in the

subgroup of children diagnosed before the age of five. The results of study 3 suggested

that the DSBQ has an apparent or face validity, being a readily usable instrument. In study

4 the clinical group presented lower results in arithmetic, text comprehension and storage

processes, learning evolution and information retrieval. Specific difficulties of school

functioning were associated predominantly with the child's lower age at diagnosis. It is

hoped that the knowledge produced by this study may contribute to the development of

programs aimed at the reinsertion of the school and the elaboration of public policies for

this clinical population, as well as the accomplishment of future studies in

neuropsychology of development and learning.

Keywords: Neuropsychology, neurodevelopment, pediatric oncology, learning,

chemotherapy.

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1. Introdução

Fundamentados nas taxas de incidência e de mortalidade do câncer infantil no

Brasil, indicadores oficiais do Instituto Nacional do Câncer estimam que o número de

novos casos anuais de tumores pediátricos se encontra próximo a 12.600 no biênio 2016-

2017, representando 3% do total de diagnósticos de neoplasias no país. Neste contexto,

as regiões Sudeste e Nordeste se destacam como aquelas nas quais se espera o maior

número de novos diagnósticos, 6.050 e 2.750, respectivamente, seguidas pelas regiões

Sul (1.320 casos), Centro-Oeste (1.270 casos) e Norte (1.210 casos) (INCA, 2015).

Informações mais recentes acerca da taxa de mortalidade infantil no Brasil

mostram que no ano de 2013 ocorreram 2.800 óbitos por neoplasias para a faixa etária

entre um e 19 anos, constituindo-se como a principal doença associada à morte de crianças

e adolescentes e a segunda maior causa de mortalidade infantil (7%), inferior apenas aos

óbitos por causas externas (INCA, 2015).

A leucemia é o tipo de câncer mais comum na população infanto-juvenil (0-19

anos), representando 25 a 35% das neoplasias que atingem crianças e adolescentes no

mundo. A leucemia linfoide aguda (LLA) é a mais frequente na infância, correspondendo

a aproximadamente 75% das leucemias que acometem indivíduos menores de 15 anos de

idade, com pico de incidência entre dois e cinco anos de idade. No Rio Grande do Norte

cerca de 17 em cada 1.000.000 de crianças são diagnosticadas com LLA, constituindo

27,3% de todas as neoplasias pediátricas diagnosticadas entre 1977 e 2009 no estado, com

483 casos registrados nesse período e uma taxa de mortalidade de 64,5% para a amostra

total, porém com evidências de aumento de sobrevivência nas últimas décadas

(Fernandes, 2013).

Esse dado local reflete a realidade da região Nordeste, onde as taxas de

mortalidade para LLA representaram cerca de 105 óbitos por ano, considerando-se o

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período compreendido entre os anos de 2000 e 2013, para uma população de cerca de 56

milhões, configurando-se assim como uma das regiões mais gravemente afetadas pela

doença (Cazé, Bueno, & Santos, 2010; Dias, Silva, & Oliveira, 2016).

Dias et al. (2016) consideram que determinantes sociais de saúde encontram-se

diretamente relacionados a essas altas taxas de mortalidade. Tais determinantes se

constituem como aspectos sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e

comportamentais, que interatuam na ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de

risco na população. Nesse âmbito, o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil indica

que até o ano de 2013, entre os dez estados mais pobres do Brasil, oito faziam parte da

região Nordeste e ocupavam as colocações mais baixas no ranking do Índice de

Desenvolvimento Humano por Unidades Federativas do Brasil, reforçando a ideia de que

crianças e adolescentes dessa região encontram-se em maior situação de vulnerabilidade,

haja vista que os pilares que compõem tal índice são saúde, educação e renda (Dias et al.,

2016).

Constata-se assim que as condições sociais e econômicas que afetam regiões como

o Nordeste brasileiro repercutem no nível educacional e na saúde da população, e por sua

vez, acarretam impacto negativo ao diagnóstico e tratamento do câncer infantil. O

diagnóstico tardio, o agravamento dos quadros clínicos em decorrência deste atraso

(implicando na necessidade de tratamentos mais agressivos), as altas taxas de mortalidade

e os altos índices de abandono do tratamento ainda se constituem como desafios a serem

vencidos nestas regiões. Estes indicadores refletem também negativamente na

possibilidade de acompanhamento pós-tratamento, contribuindo para o progresso das

dificuldades experimentadas pelas crianças sobreviventes (Hazin, Dellatolas, Garcia,

Pedrosa & Pedrosa, 2011; Lins, 2005; Palmer, 2008).

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Contudo, apesar do cenário brasileiro parecer desfavorável à primeira vista, vale

destacar que no final do século passado, em especial na última década, a LLA começou

a ser considerada uma das doenças mais compreendidas e curáveis no mundo todo. Dados

da literatura revelam que até a década de 70 menos de 5% das crianças diagnosticadas

com LLA sobreviviam mais que cinco anos. Paulatinamente, as taxas de mortalidade

apresentaram declínio graças à sofisticação do tratamento, à ampliação do conhecimento

acerca desta malignidade, ao diagnóstico mais preciso e realizado precocemente, ao maior

delineamento de fatores prognósticos, bem como aos avanços da farmacologia que

possibilitaram a integração de novos medicamentos aos protocolos terapêuticos e a

utilização de tratamentos específicos adequados às diferentes faixas etárias e quadro

clínico da doença (Dwelle, Anderson, & Butler, 2013; Pedrosa & Lins, 2002).

Acrescenta-se, ainda, melhor suporte ao tratamento clínico e hospitalar, que

agrega desde aspectos nutricionais até apoio psicológico e socioeconômico, realizados

através de instituições de apoio que acolhem os pacientes e suas famílias durante o

tratamento. O conjunto desses fatores, portanto, têm possibilitado considerável aumento

no número das crianças sobreviventes em todo o mundo. (Leite et. al. 2007; Pedrosa &

Lins, 2002). Nesse sentido, atualmente cerca de 80% das crianças com LLA integram o

grupo de sobreviventes nos principais centros de tratamento em oncologia pediátrica do

mundo (Armstrong et al., 2014; Bomken & Vormoor, 2009; Pui, Robison, & Look, 2008).

A inserção do tratamento profilático direcionado ao SNC nos modernos

protocolos de tratamento tem sido apontada como essencial para o sucesso terapêutico,

visto que proporcionou uma redução de 75 para 5% no número de recidivas, diretamente

implicadas com as maiores taxas de óbito entre os pacientes. Essa evolução no índice de

sobrevivência tem impulsionado práticas e pesquisas que objetivam acompanhar os

pacientes curados por um período mais prolongado. A partir disso, tem-se observado

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efeitos que podem estar relacionados ao adoecimento e aos tratamentos aos quais os

sujeitos são submetidos, indicando que a terapêutica antineoplásica pode resultar em

impactos diversos, notadamente sobre o funcionamento cognitivo e a qualidade de vida,

os quais são passíveis de serem investigados a partir de estratégias e instrumentos

psicológicos e neuropsicológicos (Lopes, Camargo, & Bianchi, 2000).

Isso posto, constata-se que ao lado do contínuo progresso na cura das neoplasias,

existe crescente preocupação dos profissionais, familiares e sobreviventes com os efeitos

tardios relacionados ao tratamento do câncer infantil. Assim, o conceito de “cura” em

oncologia pediátrica vem sendo ampliado, tendo como um de seus componentes cruciais

a qualidade de vida das crianças e adolescentes sobreviventes. E, embora tenha havido

esforços e progressos relevantes no sentido de se reduzir a toxicidade e os riscos de

sequelas adversas relacionadas aos tratamentos, os efeitos tardios dos modernos

protocolos de tratamento ainda são objeto de preocupação. Nesse contexto, atualmente,

os esforços de pesquisa se concentram no delicado equilíbrio entre a eficácia terapêutica,

a manutenção da toxicidade em níveis mínimos e a promoção da qualidade de vida (Butler

& Haser, 2006; Cole & Kamen, 2006; Dwelle et al., 2013).

Alterações neuropsicológicas relacionadas aos tratamentos do câncer pediátrico,

em especial da LLA, incluem uma vasta gama de domínios que vão desde o

funcionamento intelectual e/ou acadêmico, até déficits em habilidades cognitivas mais

específicas (Dwelle et al., 2013). A presença recorrente de queixas de dificuldades

escolares relatadas por familiares e profissionais que acompanham os sobreviventes da

LLA, atrelada à escassez de estudos brasileiros que evidenciam e caracterizam os efeitos

neuropsicológicos associados ao adoecimento e aos protocolos de tratamento utilizados

no país e, em consequência disso, a ausência de programas institucionais de reabilitação

neuropsicológica e acompanhamento educacional especializado para este subgrupo de

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crianças e adolescentes pós-tratamento no Brasil, são aspectos que indicam a necessidade

e relevância de desenvolvimento de estudos nesse campo (Bender & Thelen, 2013).

Na LLA, o tratamento profilático do Sistema Nervoso Central – realizado através

da quimioterapia intratecal e sistêmica e/ou radioterapia de crânio – tem sido considerado

como potencial causador de insulto cerebral adquirido, exigindo a investigação

neuropsicológica antes, durante e após o tratamento em crianças e adolescentes. Tal

preocupação justifica-se tanto pela complexidade inerente à condição de

desenvolvimento do SNC neste grupo, quanto pelo atravessamento deste processo por um

dano ao tecido neural, que poderá resultar em desvios fundamentais do processo normal

de neurodesenvolvimento (Barnes & Raghubar, 2014; Mello et al., 2006).

Nesse contexto, destaca-se a importância de estudos realizados pela

neuropsicologia do desenvolvimento, área específica da neuropsicologia voltada à

interação entre o comportamento e a aprendizagem da criança e o desenvolvimento de

suas funções mentais, bem como o desenvolvimento ontogenético do cérebro em

condições típicas e patológicas. Nessa perspectiva, o estudo do neurodesenvolvimento

exige ainda uma compreensão integrada da forma pela qual os processos neurobiológicos

e socioculturais se inter-relacionam e modificam o perfil maturacional e o funcionamento

cognitivo ao longo do desenvolvimento infantil (Glozman, 2014; Muszkat, 2008). A

infância é um período marcado por grandes mudanças no contexto do desenvolvimento

neurológico, cognitivo e comportamental. O funcionamento cognitivo, mais

especificamente, não é uma entidade estática ao longo do desenvolvimento: a interação

entre os processos biológicos que permeiam a maturação do SNC e a inserção do sujeito

em ambiente sociocultural específico acompanham as transformações anatômicas,

fisiológicas e neuroquímicas que ocorrem nas estruturas nervosas.

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Esta constatação implica em afirmar que as lesões neurológicas na infância têm

expressão clínica bastante distinta das que ocorrem na idade adulta, uma vez que, no

cérebro infantil, as etapas maturacionais ainda estão em curso, a especialização

hemisférica ainda não se encontra consolidada e, portanto, a topografia funcional do

cérebro ainda não está plenamente estabelecida. Por essa razão, as alterações cognitivas

resultantes de dano cerebral na infância dependerão da interação complexa de diversos

fatores, notadamente quando a lesão ocorre entre um e quatro anos de idade, quando há

maior intensidade dos processos maturacionais do cérebro (Garcia, 2011; Mello et al.,

2006).

Nesse contexto, diante da alta prevalência da LLA na infância e adolescência, bem

como a relação estreita entre os seus tratamentos sobre a organização e o funcionamento

do Sistema Nervoso Central, especialmente em etapa precoce do desenvolvimento,

desenvolvi minha pesquisa de mestrado, no período de 2009-2011 (Gomes, 2011), que

objetivou avaliar o funcionamento cognitivo de crianças com LLA. Nesta oportunidade,

foram avaliadas crianças que já haviam concluído o tratamento e crianças que se

encontravam em tratamento, sendo identificadas pontuações rebaixadas no domínio

intelectual no grupo pós-tratamento e no funcionamento executivo em ambos os grupos,

em especial em crianças mais jovens ao diagnóstico e do sexo feminino (Gomes, 2011).

Os resultados oriundos do referido estudo sugeriram a ocorrência de dois

conjuntos distintos de déficits, sendo o primeiro constituído por impactos transitórios e o

segundo por danos permanentes, ambos associados à intrusão de componentes

quimioterápicos no curso maturacional do SNC. Tais achados foram publicados em 2012

no periódico Psychology & Neuroscience (Gomes, Leite, Garcia, Maranhão, & Hazin,

2012).

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As limitações identificadas na pesquisa de mestrado, em especial no que se refere

ao tamanho da amostra, à ausência de grupo controle constituído por sujeitos saudáveis e

ao uso de instrumentos que não possibilitaram mensurar, em sua maioria, aspectos

específicos do funcionamento neuropsicológico e acadêmico, promoveram reflexões a

respeito da necessidade de refinamento do processo de diagnóstico neuropsicológico

junto a essa população clínica, com ênfase em efeitos pós-tratamento ou tardios.

Nessa perspectiva, ingressei no curso de Doutorado do Programa de Pós-

Graduação em Psicologia da UFRN no ano de 2013 com o objetivo de desenvolver a

presente pesquisa intitulada “Investigação de aspectos neuropsicológicos e acadêmicos

de crianças e adolescentes sobreviventes de leucemia linfoide aguda”, cujo objetivo foi

alcançar melhor caracterização do funcionamento neuropsicológico desta população e

problematizar acerca das especificidades e efeitos do tratamento quimioterápico sobre o

desenvolvimento, a cognição e a aprendizagem de crianças e adolescentes sobreviventes

de LLA.

A escolha por investigar crianças e adolescentes sobreviventes desse tipo de

neoplasia foi pautada assim pela alta prevalência da LLA entre os tipos de câncer que

acometem pacientes pediátricos, somada à reportada interferência da doença e seus

tratamentos sobre o neurodesenvolvimento e o funcionamento neuropsicológico em

estudos internacionais. Acrescenta-se a esses fatores a constatação de queixas frequentes

de dificuldades escolares entre os sobreviventes, demandando o fortalecimento da aliança

entre a oncologia pediátrica e a neuropsicologia, tendo em vista os três objetivos

fundamentais deste campo do conhecimento: 1) objetivo de pesquisa, referente ao estudo

das relações entre os processos psicológicos e a organização do sistema nervoso; 2)

objetivo clínico, relacionado ao desenvolvimento e a aplicação de procedimentos de

diagnóstico neuropsicológico, e; 3) objetivo aplicado, voltado ao desenvolvimento e à

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utilização de procedimentos de reabilitação em caso de lesões e/ou disfunções cerebrais

(Seabra & Capovilla, 2009).

No que diz respeito à pesquisa, salienta-se a escassez de estudos brasileiros que

caracterizem e evidenciem os efeitos neuropsicológicos, acadêmicos e comportamentais

associados ao adoecimento e/ou aos protocolos de tratamento oncológicos pediátricos

utilizados no país. No que tange ao objetivo clínico, ressalta-se a necessidade do

refinamento do processo de diagnóstico neuropsicológico diante deste quadro específico,

constatação que evidencia a necessidade de se desenvolver instrumentos adaptados às

necessidades desta população, tendo em vista que os instrumentos neuropsicológicos

disponíveis atualmente não as contemplam em sua totalidade. E, por fim, no que diz

respeito à neuropsicologia aplicada, destaca-se a insuficiência de programas institucionais

de acompanhamento neuropsicológico (contemplando avaliação e intervenção) e suporte

educacional especializado para este subgrupo de crianças, como decorrência do limitado

conhecimento disponível a respeito da realidade desta população no Brasil.

As discussões suscitadas pelo aprofundamento da temática no período do Curso

do Doutorado resultaram em publicações científicas adicionais na área, das quais se

destacam:

• Garcia, D., Gomes, E., Balaban, B., Leite, D., & Hazin, I. (2014). Neuropsicologia e

Oncologia Pediátrica: um diálogo em emergência. Interação em Psicologia (Online), v.

18, 353-363.

• Hazin, I., Garcia, D., Gomes, E., Leite, D., Balaban, B., Guerra, A., & Vilar, C. (2015).

Desempenho Intelectual Pós-Tratamento de Câncer: Um Estudo com Crianças.

Psicologia: Reflexão E Crítica, 28(3), 565–573. doi:10.1590/1678-7153.201528315.

• Hazin, I., Garcia, D., Gomes, E., Garcia, B. B., Leite, D., Guerra, A., & Pedrosa, A.

(2014). Treatment Related Cognitive Impairment in Pediatric Oncology Patients: A

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Brazilian Experience. Journal of Nuclear Medicine & Radiation Therapy, 05(02), 1–9.

doi:10.4172/2155-9619.1000174

• Gomes, E., Maia, R., Garcia, D., Aragão, L., Ferreira, D., Andrade, P., Cavalcanti, C.,

Silva, D., Silva, N., Domingues, R., Maia, E., Deasy-Spinetta, P., & Hazin, I. (no prelo).

Reinserção Escolar e Leucemia: Tradução e Adaptação do Questionário Comportamental

Deasy-Spinetta. Psicologia da Educação.

Para efetivação do presente estudo reafirmou-se a parceria estabelecida entre o

LAPEN-UFRN, o Hospital Infantil Varela Santiago e a Liga Norte Riograndense Contra

o Câncer, instituições de referência no tratamento oncológico pediátrico no estado do Rio

Grande do Norte, bem como com as instituições que dão suporte aos pacientes e

familiares durante o tratamento, a exemplo da Casa Durval Paiva de Apoio à Criança com

Câncer e do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC), ambos situados no

município de Natal.

Assim, ao longo do desenvolvimento dessa pesquisa, constatou-se a importância

de se oferecer um serviço de atenção neuropsicológica integral a esta população nas

referidas instituições de tratamento, com vistas a superar ações pontuais e construir um

serviço permanente à disposição das crianças e adolescentes com câncer no estado, bem

como suas famílias, escolas e equipes de saúde. Assim, ao final de 2014, junto à realização

desse estudo, foi submetido um projeto à Pró-Reitoria de Extensão da UFRN com a

proposta de implantação de serviços de neuropsicologia na Liga Norte Riograndense

Contra o Câncer e no Hospital Infantil Varela Santiago. A proposta foi aprovada e

contemplada com recursos financeiros e bolsas de extensão para alunos de graduação,

tendo sido renovada nos três anos subsequentes com vistas à consolidação dos serviços.

Portanto, à medida que a iniciativa de pesquisa foi ampliada e abarcou também ações de

ensino e extensão junto a profissionais de diversas áreas de atuação e estudantes de

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graduação e pós-graduação, possibilitou a ampliação dos espaços de produção de

conhecimento na área e otimizou o acesso aos dados clínicos das crianças e adolescentes

participantes do estudo.

Nessa perspectiva, no presente estudo foi possível ampliar o número e a faixa

etária dos sujeitos participantes diagnosticados com LLA, concentrar-se apenas em

pacientes que já haviam finalizado o tratamento, avançar na investigação de uma maior

diversidade de domínios neuropsicológicos e habilidades acadêmicas específicas, incluir

a participação de crianças e adolescentes saudáveis que compuseram o grupo controle,

bem como de pais/responsáveis e professores das crianças e adolescentes.

Nessa direção, esse trabalho está estruturado de acordo com as normas do

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN, apresentando inicialmente a

introdução geral, seguida dos objetivos geral e específicos e do método global utilizado

para realização da pesquisa. Na sequência, os dados produzidos estão apresentados e

discutidos em quatro partes que correspondem a estudos relativamente independentes no

âmbito da temática em questão, quais sejam: 1) Funcionamento intelectual de crianças e

adolescentes diagnosticados com leucemia linfoide aguda; 2) Atenção e funções

executivas em pacientes pediátricos sobreviventes de leucemia linfoide aguda; 3)

Tradução e Adaptação do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta; 4) Investigação

de aspectos acadêmicos e comportamentais em crianças e adolescentes diagnosticados

com leucemia linfoide aguda. Os referidos estudos serão apresentados de forma

independente, sendo cada um constituído por todos os elementos textuais necessários a

uma publicação científica. Por fim, são apresentadas as considerações finais e as

referências bibliográficas do trabalho completo.

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Espera-se, assim, que os frutos do presente estudo possam subsidiar e

potencializar as intervenções de profissionais de outros campos do conhecimento junto a

este grupo clínico, notadamente nos campos da saúde e da educação.

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2. Objetivos

2.1 Objetivo geral:

Caracterizar o funcionamento neuropsicológico e acadêmico de crianças e

adolescentes sobreviventes de leucemia linfoide aguda (LLA).

2.2 Objetivos específicos:

� Investigar o funcionamento intelectual de crianças e adolescentes sobreviventes

de leucemia linfoide aguda, bem como sua relação com as seguintes variáveis

clínicas e sociodemográficas:

� Idade da criança/adolescente ao diagnóstico;

� Tempo decorrido entre o final do tratamento e a avaliação;

� Sexo do participante;

� Grupo de risco de recaída;

� Escolaridade da mãe.

� Investigar os domínios atencionais e funções executivas de crianças e adolescentes

sobreviventes de leucemia linfoide aguda com ênfase em aspectos

neurodesenvolvimentais;

� Realizar a adaptação transcultural para o português brasileiro do Questionário

Comportamental Deasy-Spinetta;

� Investigar o funcionamento escolar de crianças e adolescentes sobreviventes de

LLA, bem como sua relação com os seguintes fatores de risco:

� Idade da criança/adolescente ao diagnóstico;

� Tempo decorrido entre o final do tratamento e a avaliação;

� Escolaridade da mãe.

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3. Método

O presente estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, conforme recomenda a Resolução do

Conselho Nacional de Saúde - CNS 466/12, tendo sido aprovado em 29 de setembro de

2014, através do Parecer nº 810.767. Após essa primeira aprovação, o projeto foi

encaminhado para a análise do Comitê de Ética em Pesquisa da Liga Norte Riograndense

Contra o Câncer, obtendo aprovação em 06 de novembro de 2014, através do parecer nº

861.284.

Para operacionalização dos objetivos propostos foi realizado o seguinte

delineamento.

3.1 Participantes e Instituições

Participaram da presente pesquisa 26 crianças e adolescentes que cumpriram os

seguintes critérios de inclusão para a composição do grupo clínico: 1) diagnóstico prévio

de leucemia linfoide aguda (LLA); 2) submissão a protocolo de tratamento constituído

exclusivamente por quimioterapia; 3) tratamento finalizado; 4) faixa etária entre seis e 16

anos; 5) consentimento da participação das crianças e adolescentes por parte de pais ou

responsáveis, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; 6)

consentimento da participação por parte dos adolescentes, através da assinatura Termo de

Assentimento.

Foram utilizados como critérios de exclusão: 1) crianças e adolescentes com

diagnóstico de LLA secundária a outras neoplasias; 2) submissão a protocolo de

tratamento composto por radioterapia; 3) idade inferior a seis anos ou superior a 17 no

período da avaliação; 4) presença de enfermidades neurológicas e/ou neuropsiquiátricas

que poderiam alterar os domínios investigados; 5) alterações sensoriais não corrigidas; 6)

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não consentimento da participação da criança ou adolescente por parte de pais ou

responsáveis, ou por parte da própria criança ou adolescente; 7) pacientes que

apresentaram recidiva da LLA durante o período de avaliação.

O procedimento para a seleção dos participantes diagnosticados com LLA iniciou-

se com o levantamento da totalidade de casos registrados, a partir do ano 2000, nos livros

de registros dos setores de pediatria da Liga Norte Riograndense Contra o Câncer e do

Hospital Infantil Varela Santiago. Foram identificadas 63 crianças que cumpriam os

critérios de inclusão anteriormente citados. Ressalta-se que o número reduzido da amostra

se justifica por: 1) dificuldade em acessar os prontuários médicos de pacientes com alta,

pois os registros já haviam sido armazenados no arquivo geral do hospital impedindo o

acesso a dados clínicos, bem como de endereço e telefone que possibilitassem o contato

com os mesmos e seus familiares (cinco pacientes); 2) dificuldade de estabelecer contato

devido à desatualização cadastral (15 pacientes); 3) crianças residentes em municípios

muito distantes da capital do estado com raros retornos aos hospitais (oito crianças); 4)

crianças que tiveram recidivas durante o período de avaliação (três crianças); 5) pacientes

e/ou familiares que não apresentaram interesse em participar da pesquisa (três crianças);

6) presença de outras enfermidades: Síndrome de Down, Epilepsia e outras alterações

neurológicas (três crianças).

A Tabela 1 sintetiza a descrição frequencial dos participantes diagnosticados com

LLA, considerando as variáveis clínicas e sociodemográficas relevantes para o estudo de

acordo com a literatura da área, bem como a média de idade atual das crianças e

adolescentes que compuseram cada um dos grupos.

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Tabela 1. Distribuição frequencial dos participantes diagnosticados com LLA.

Variáveis Número

Participantes Média de Idade (DP)

Idade ao diagnóstico <5 anos 12 9,25 (2,76) ≥5 anos 14 11,36 (2,27)

Tempo fora de tratamento (anos)

<3 anos 14 9,54 (2,29) ≥3 anos 12 11,23 (2,94)

Sexo Masculino 15 9,87 (2,58) Feminino 11 11,09 (2,87)

Grupo de risco de recaída

Alto Risco 9 10,12 (2,20) Baixo Risco 17 10,89 (3,62)

Renda Até 1 SM 3 9,00 (2,64)

Entre 1 e 2 SM 20 10,60 (2,64) Mais de 4 SM 3 10,33 (4,04)

Escolaridade da mãe Abaixo de 4 anos 13 10,92(2,95) Acima de 4 anos 13 9,85(2,47)

Nota: DP, desvio padrão; SM, salário mínimo.

Foram incluídos também nesse estudo 26 crianças e adolescentes saudáveis, sem

histórico de alterações neurológicas, psiquiátricas, alterações sensoriais não corrigidas e

histórico de dificuldades de aprendizagem, integrantes do grupo controle. Este grupo foi

pareado com o grupo clínico, numa proporção de 1:1, considerando-se para tanto as

seguintes variáveis: sexo, idade, nível socioeconômico e tipo de escola (pública ou

particular). Assim como as crianças do grupo clínico, os participantes do grupo controle

tiveram sua participação autorizada, mediante a assinatura de Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido pelos responsáveis legais e Termo de Assentimento.

A faixa etária para a realização do presente estudo foi selecionada considerando-

se o período em que as crianças comumente são diagnosticadas com LLA, o tempo de

tratamento, as variáveis clínicas e sociodemográficas frequentemente apontadas pela

literatura como relacionadas a alterações neuropsicológicas e declínio no

desenvolvimento escolar, bem como as idades contempladas pelos instrumentos de

avaliação utilizados na constituição da bateria de avaliação neuropsicológica e

habilidades acadêmicas (Bender & Thelen, 2013; Campbell et al., 2007; Conklin et al.,

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2012; Jacola et al., 2016; Moore, 2005; Nathan et al, 2009; Reddick et al., 2014; Spiegler

et al., 2006).

Participaram também dessa pesquisa 46 professores vinculados às redes públicas

e privadas no estado do RN, sendo 20 colaboradores do processo de tradução e adaptação

do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta (DSBQ) para o português brasileiro

(Estudo 3) e, os demais, 26 professores das crianças e adolescentes diagnosticados com

LLA que forneceram informações sobre o funcionamento escolar desses sujeitos através

do preenchimento do DSBQ (Estudo 4).

Por fim, foram fundamentais para o desenvolvimento desse estudo os dados

fornecidos pelos 26 pais e/ou responsáveis das crianças e adolescentes do grupo clínico

acerca de aspectos clínicos, neuropsicológicos e escolares de seus filhos.

3.2 Procedimentos de Coleta de dados

As crianças e adolescentes selecionados foram avaliados através de extensa

bateria de avaliação neuropsicológica, visando possibilitar a investigação dos diversos

domínios passíveis de serem afetados pelos processos de adoecimento e tratamento da

LLA. Para realização das avaliações das crianças e adolescentes diagnosticados com LLA

e do grupo de participantes saudáveis foram utilizados espaços cedidos pelas instituições

de saúde colaboradoras, bem como escolas públicas e privadas do estado. Esses ambientes

atendiam às condições mínimas adequadas para realização da atividade: pouco ruído, boa

iluminação, ventilação adequada, ausência de elementos distratores, uma mesa e duas

cadeiras. Foram necessárias em média seis sessões individuais, com duração de 60

(sessenta) minutos cada.

A Figura 1 apresenta uma síntese das funções cognitivas, acadêmicas e

comportamentais avaliadas e os respectivos instrumentos utilizados.

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DOMÍNIOS INVESTIGADOS INSTRUMENTOS

Funcionamento intelectual Escala Wechsler de Inteligência para crianças (WISC-IV)

Atenção Atenção Auditiva do NEPSY Teste de Atenção por Cancelamento

Memória Memória Verbal Teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey (RAVLT)

Funções Executivas

Planejamento Relógios – NEPSY Teste da Torre de Londres

Flexibilidade Cognitiva Classificando Animais - NEPSY

Memória operacional

Bloco de Corsi Dígitos do WISC-IV Sequência de Números e Letras do WISC-IV

Fluência Fluência em Desenhos - NEPSY Produzindo Palavras - NEPSY

Controle inibitório Inibindo Respostas – NEPSY Conjunto de Respostas – NEPSY

Avaliação do Funcionamento Escolar pelos Professores Questionário Comportamental Deasy-Spinetta (DSQB)

Avaliação do Comportamento pelos Pais Child Behavior Checklist - CBCL

Processos de Leitura Provas Avaliação dos Processos de Leitura - PROLEC

Aritmética Prova de Aritmética

Figura 1. Protocolo de Avaliação

3.3 Procedimentos de Análise de dados

O presente estudo adotou formato transversal, com o objetivo de identificar as

semelhanças e diferenças entre o grupo de crianças pertencentes ao grupo clínico e grupo

controle, pareadas segundo os critérios: sexo, idade, tipo de escola e nível

socioeconômico. Os dados levantados a partir da avaliação neuropsicológica foram

analisados de forma geral através do uso de ferramentas estatísticas descritivas e

inferenciais somadas à análise clínico-qualitativa dos desempenhos das crianças e

adolescentes e das informações fornecidas por professores e pais e/ou responsáveis ao

longo do processo avaliativo.

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4. Estudo 1: Funcionamento intelectual de crianças e adolescentes diagnosticados

com leucemia linfoide aguda

4.1 Introdução

O crescimento das taxas de cura da leucemia linfoide aguda (LLA) nos últimos

30-40 anos permitiu a identificação de complicações tardias associadas à doença e seu

tratamento, demandando esforços na compreensão dos efeitos a longo prazo com vistas à

melhoria da qualidade de vida dos sobreviventes (Noogle & Dean, 2013; Waber et al.,

2012). Apesar da expressiva redução da toxicidade dos atuais tratamentos, quando

comparados à terapêutica de uma ou duas décadas atrás, mais de dois terços dos

sobreviventes vivenciam efeitos adversos após a finalização do tratamento, sendo os

prejuízos cognitivos uma das principais alterações encontradas nesta população (Reddick

et al., 2014).

A presença de alterações cognitivas em crianças e adolescentes diagnosticados

com LLA parece estar diretamente associada à etapa específica do tratamento direcionada

à prevenção de infiltração das células leucêmicas no Sistema Nervoso central (SNC),

realizada através de radioterapia craniana e/ou quimioterapia intratecal, na qual o fármaco

é diretamente lançado no canal medular.

Relatos de problemas cognitivos e acadêmicos associados ao tratamento

profilático do SNC começaram a ser identificadas no início dos anos 80, com incidência

que varia de 20 a 40% para sobreviventes de LLA na infância (Moore, Hockenberry, &

Krull, 2013). Dentre os domínios mais afetados destacam-se a atenção, memória de

trabalho e velocidade de processamento. De acordo com estudos internacionais, tais

comprometimentos contribuem significativamente para o declínio global do

funcionamento intelectual e para a emergência de dificuldades acadêmicas

frequentemente identificadas nesse grupo clínico (Butler & Haser, 2006; Cole & Kamen,

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2006; Nathan et al., 2007; Reddick et al., 2014). Para Sleurs et al. (2016), por um lado, é

possível que o câncer ou o seu tratamento induza mecanismos neurotóxicos fisiológicos,

por outro, o tratamento intensivo parece promover alterações relevantes na vida escolar e

social de tais crianças e adolescentes, tornando-se fundamental a maior compreensão

dessa problemática.

4.2.1 Leucemia linfoide aguda – caracterização, tratamento e efeitos sobre o

funcionamento intelectual

A LLA é o tipo de câncer que mais acomete crianças, representando

aproximadamente 75% dos casos das leucemias infantis e cerca de um terço do total de

neoplasias pediátricas diagnosticadas em crianças e adolescentes no Brasil. Apresenta

maior incidência em crianças de cor branca, com idades entre dois e cinco anos, e em

pacientes na faixa etária de 60 anos, sendo um diagnóstico menos frequente na

adolescência e idade adulta. Constitui-se como uma doença maligna resultante de

sucessivos defeitos genéticos de células progenitoras da linhagem linfoide e da

proliferação clonal destas células precursoras anormais na medula óssea, originando

células leucêmicas denominadas linfoblastos que substituem rapidamente as células

normais do sangue através do bloqueio da produção de glóbulos vermelhos, brancos e

plaquetas (Cazé et al., 2010; INCA, 2015; Melo & Silveira, 2013; Oliveira, Lins, Pedrosa,

Cabral, & Barbosa, 2013; Pui, 2010).

Os eventos patogênicos específicos que causam a LLA não estão totalmente

esclarecidos e acredita-se ser pouco provável que haja um agente explicativo único para

a alteração leucêmica, sendo a mesma provavelmente resultante de um conjunto de

processos e interações complexas associados à vulnerabilidade do hospedeiro. A sua

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origem, portanto, parece estar associada à suscetibilidade genética e fatores ambientais

(Ferreira, 2010; Leite et al., 2007).

A ocorrência de leucemia entre familiares, a alta incidência em gêmeos idênticos

e algumas condições patológicas relacionadas à predisposição genética para o

desenvolvimento da LLA, tais como síndrome de Down, síndrome de Bloom,

neurofibromatose, síndrome de Klinefelter e síndrome de Schwachman, além das

alterações citogenéticas características dos blastos leucêmicos, fortalecem os fatores

genéticos como causa subjacente ao desenvolvimento da LLA. Todavia, determinantes

ambientais e maternos, a exemplo de radiação ionizante, exposição intraútero ou pós-

natal ao benzeno, a pesticidas, ao fumo, ao álcool e outras drogas, também parecem

favorecer o surgimento da doença na infância (Leite et al., 2007; Lightfoot, 2005; Logetto

& Benites, 2008; Pui et al., 2008).

Infecções também têm sido associadas à etiologia da LLA, indicando que uma

resposta anormal às infecções virais comuns da infância pode ter um papel relevante na

origem da LLA, mas nenhum mecanismo dependente de vírus para sua gênese foi

identificado até o momento. A ideia essencial desta hipótese é que o sistema imunológico

da criança necessita de modulação mediante exposições a infecções naturais. A não

ocorrência desta modulação na etapa inicial da vida e subsequentes infecções no segundo

ou terceiro ano de idade, período marcado por infecções comuns na infância,

desencadearia estresse apoptótico e proliferativo para a medula óssea, favorecendo o

aparecimento de clones leucêmicos (Ferreira, 2010).

O quadro clínico da LLA depende da repercussão decorrente da infiltração

leucêmica da medula óssea e da extensão da doença extramedular. Geralmente a história

é aguda, com duração de dias ou semanas, referindo palidez, anorexia, fadiga, astenia,

manifestações hemorrágicas, artrite, artralgia e febre. As manifestações

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musculoesqueléticas são frequentes, configurando-se muitas vezes como as

manifestações iniciais da doença. Linfadenopatias e hepatoesplenomegalia são frequentes

ao exame físico. Sintomas neurológicos decorrentes da invasão no sistema nervoso

central (SNC) são raros na LLA. Anemia, trombocitopenia e neutropenia são muito

prevalentes, sendo as duas primeiras encontradas em mais de 75% dos casos (Cristofani,

2012; Logetto & Benites, 2008).

Para efetivação do diagnóstico de LLA realiza-se a biópsia da medula óssea ou o

mielograma que revelará a presença de no mínimo 25% de células blásticas linfoides. O

diagnóstico compreende ainda a imunofenotipagem, critérios morfológicos,

citogenéticos, clínicos e biológicos (Cristofani, 2012; Melo & Silveira, 2013).

No que concerne à classificação da doença de acordo com os grupos de riscos,

Cristofani (2012) aponta que os critérios de risco do National Cancer Institute (NCI,

Estados Unidos) são atualmente considerados os critérios-padrão, em uma tentativa de

uniformizar vários grupos de paciente e possibilitar a comparação dos diversos protocolos

de tratamento utilizados em todo o mundo. Desse modo são classificados como de Risco

Básico (ou baixo risco de recaída) os pacientes na faixa etária entre um e nove anos e que

apresentam leucometria menor que 50.000/mm³ ao diagnóstico. Os demais são

considerados como de alto risco para recaída (Cristofani, 2012; Pui, Carroll, Meshinchi,

& Arceci, 2011). Assim, estes são submetidos a um tratamento mais intensivo, com

dosagens mais elevadas e em alguns casos a inclusão de fármacos adicionais, enquanto

os pacientes de baixo risco de recidiva recebem um tratamento igualmente efetivo, porém

com nível de toxicidade reduzida (Pedrosa, 2002; Pui et al., 2008).

O tratamento da LLA é extenso, variando em média de dois a três anos, tendo

como base a quimioterapia e, em alguns casos, a radioterapia (Melo & Silveira, 2013).

Os protocolos de tratamento da LLA atuam com objetivo de eliminar células leucêmicas

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na medula óssea, em diferentes órgãos e no líquido cefalorraquidiano, bem como inibir a

metástase da doença no SNC. Apesar de existir variações entres os esquemas terapêuticos

utilizados, há relativa homogeneidade em termos das fases que atualmente constituem os

diferentes protocolos, evidenciando-se geralmente cinco etapas (Cristofani, 2012;

Oliveira, Diniz & Viana, 2004; Pedrosa & Lins, 2002; Pui et al., 2008):

a) indução da remissão: essa etapa busca eliminar mais de 99% das células

leucêmicas, restaurar a hematopoiese normal e eliminar a sintomatologia clínica

apresentada pelo paciente. Essa fase em geral inclui a utilização de glicocorticoides

(prednisona ou dexametasona), vincristina e um terceiro medicamento, como

asparaginase e/ou antraciclina. Esses três agentes utilizados na fase de indução parecem

ser suficientes para crianças classificadas como de baixo risco. Por outro lado, crianças

com LLA de alto risco e adultos com a doença, geralmente são tratados com quatro ou

mais fármacos nesse momento, incluindo antraciclina e/ou ciclofosfamida. Nos

protocolos atuais, o nível de remissão completa esperado em crianças nessa fase é de 96%

a 99% (Cristofani, 2012; Pui et al., 2008);

b) intensificação-consolidação: iniciada logo após a remissão da doença, é

utilizada para erradicar as células leucêmicas residuais resistentes aos medicamentos,

evitando que as células neoplásicas favoreçam o surgimento de outras células malignas

mais resistentes aos fármacos, tal ação é de grande relevância para o aumento da

sobrevida. Frequentemente são utilizados nessa etapa doses elevadas de metotrexato

somado à mercaptopurina, pulsos frequentes de vincristina, corticosteróide e altas doses

de asparaginase por 20 ou 30 semanas, além de esquemas semelhantes aos utilizados na

fase de indução (Cristofani, 2012; Pui et al., 2008);

c) Manutenção: essa fase consiste em um tratamento de acompanhamento

prolongado com o objetivo de prevenir recidivas. Assim, todos os pacientes recebem

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terapia de manutenção por aproximadamente 18 a 30 meses. A base do esquema

terapêutico nessa etapa é o uso diário de mercaptopurina, além de doses de metotrexato

semanalmente, associadas ou não a pulsos de vincristina e glicocorticoides (Cristofani,

2012; Pui et al., 2008);

d) Transplante de medula óssea: O transplante de células-tronco hematopoética

alogênico é a forma mais intensiva de tratamento para a LLA. Esse procedimento parece

beneficiar pacientes de muito alto risco de recaída ou aqueles com falha de resposta no

início do tratamento padrão. Entretanto, os estudos ainda são controversos quanto ao real

valor da inclusão dessa modalidade terapêutica para o tratamento da LLA na infância

(Cristofani, 2012);

e) Prevenção da leucemia no Sistema Nervoso Central - SNC: atravessa todas as

fases do tratamento padrão mencionado (indução, intensificação-consolidação e

manutenção), podendo ser realizada mediante o uso de quimioterapia intratecal e da

radioterapia de crânio (Laks, Longhi, Wagner, & Garcia, 2003). O tratamento profilático

proporcionou uma expressiva redução no número de recaídas da doença no SNC, tendo

sido desenvolvido a partir da observação da presença de células leucêmicas no SNC e da

dificuldade de acesso da quimioterapia sistêmica (oral e intravenosa) a este sistema

devido à presença da barreira hematoencefálica (Salkade & Lim, 2012).

A radioterapia de crânio consiste em um tratamento local ou regional a partir de

radiações ionizantes de áreas previamente determinadas que atuam destruindo as células

cancerosas e prevenindo a disseminação da doença para o SNC (Campbell et al., 2007;

Dwelle et al., 2013). No tratamento da LLA, a radioterapia profilática foi introduzida no

início da década de 1970 e consistia inicialmente de uma radiação craniana de 24 Grays

(Gy). Entretanto, à medida que a sobrevida dos pacientes irradiados foi crescendo, foram

identificados efeitos colaterais associados a esse procedimento, tais como, complicações

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neurológicas, distúrbios endócrinos, problemas de crescimento e neoplasias secundárias.

Avanços na medicina e na farmacologia constataram que combinada à quimioterapia, a

dosagem da irradiação poderia ser reduzida de 24 Gy para 18 Gy. Em alguns protocolos

terapêuticos essa dosagem foi, inclusive, reduzida para 12 Gy sem relação entre a mesma

e qualquer recidiva no SNC (Mennes et al., 2005). Contudo, por volta de 1980,

começaram a emergir relatos acerca da neurotoxicidade e efeitos cognitivos adversos

oriundos dessa combinação (Buizer, Sonneville, & Veerman, 2009; Fulbright, Raman,

McClellan, & August, 2011).

Diante de tais evidências, nos protocolos de tratamento atualmente utilizados, a

radioterapia de crânio é administrada apenas em crianças maiores de três anos de idade e

quando a LLA é classificada como de alto risco de recaída (Butler & Haser, 2006; Dwelle

et al., 2013; Oliveira et al., 2004; Pui & Evans, 2006). Em crianças menores de três anos

é evitado o recurso à radioterapia e a estabilização e/ou remissão da doença é mantida

através da quimioterapia, visando reduzir os riscos de impactos negativos sobre o

desenvolvimento físico e cognitivo (Furrer & Suzuki, 2003).

Tais medidas de prevenção justificam-se pela constatação de que com o uso da

radioterapia, além das células cancerosas presentes no SNC, células saudáveis são

destruídas, incluindo a substância branca, culminando em perdas cognitivas progressivas,

reconhecidas como efeitos tardios relacionados à terapêutica. Tais efeitos são observados

geralmente quando crianças mais jovens são irradiadas, sugerindo que as alterações são

decorrentes da interação entre o uso da radioterapia e a condição neurodesenvolvimental

na infância, em especial da produção e distribuição das substâncias branca e cinzenta

(Dwelle et al., 2013; Moore, 2005; Pieters & Carrol, 2008; Spiegler et al., 2006).

Assim, apesar da utilização da radioterapia de crânio ter se caracterizado como o

tratamento mais eficaz para a cura da LLA, a mesma foi considerada como de elevada

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neurotoxicidade, sendo substituída por doses adicionais de quimioterapia intratecal e uma

quimioterapia sistêmica mais intensiva, sem com isso elevar o número de recidivas

(Cristofani, 2012; Pedrosa & Lins, 2002).

A quimioterapia consiste em um tratamento antineoplásico no qual são

administradas substâncias capazes de interferir na proliferação das células tumorais,

impedindo o processo de divisão celular. A profilaxia direcionada ao SNC realizada

exclusivamente através de quimioterapia na LLA é composta de quimioterapia intratecal

somada à quimioterapia sistêmica. No procedimento intratecal os fármacos são lançados

diretamente no líquido cefalorraquidiano (também chamado de líquor ou fluido

cerebrospinal), sendo administrado o metotrexato sozinho ou combinado com citarabina

na quimioterapia intratecal dupla, ou ainda, esses dois fármacos somados à

hidrocortisona, na denominada quimioterapia intratecal tripla (Buizer et al., 2009).

A quimioterapia intratecal tripla tem sido considerada o tratamento profilático

padrão para crianças diagnosticadas com LLA na atualidade, mesmo em pacientes com

maior risco de recidiva (Lin et al., 2008; Pieters & Carrol, 2008). Além do tipo de

tratamento intratecal utilizado, uma atenção especial deve ser dada à administração ideal

desse procedimento. Por exemplo, os fármacos administrados em um grande volume (6

ml ou mais) atingem uma distribuição melhor no SNC, se comparada ao uso de um

volume menor. Além disso, após o procedimento, os pacientes devem permanecer em

posição prona (decúbito ventral com a cabeça voltada para um dos lados) durante pelo

menos 30 minutos, para aumentar os níveis de medicações nos compartimentos

intraventriculares (Pui & Evans, 2006). A quimioterapia sistêmica, por sua vez, é

realizada através de alta dose intravenosa de metotrexato e corticoide sistêmico, no qual

o uso da dexametosona tem sido considerado mais eficaz que o da prednisona,

comumente utilizada em protocolos anteriores (Buizer et al., 2009).

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De forma geral, as crianças respondem bem ao tratamento quimioterápico.

Contudo, a necessidade de utilizar uma quantidade elevada de fármacos durante as

diversas etapas do tratamento, torna necessário avaliar as possíveis interações diretas

entre os medicamentos ou os potenciais efeitos sinérgicos e/ou antagônicos ligados à sua

administração (Cazé et al., 2010).

Estudos nessa direção têm constatado que apesar da implementação de modernos

protocolos terapêuticos alguns prejuízos em domínios cognitivos e acadêmicos ainda

podem ser observados meses após o tratamento da LLA, impulsionando a discussão de

que também a quimioterapia pode acarretar prejuízos no funcionamento

neuropsicológico, sendo o metotrexato apontado como o principal fármaco relacionado à

neurotoxicidade (Buizer et al., 2009; Cole & Kamen, 2006; McCormick & Noggle, 2013).

Desse modo, apesar de ser um componente essencial do tratamento da LLA, a

profilaxia do SNC continua a ser um desafio para os profissionais da área e as alterações

cognitivas configuram-se como uma preocupação central nesse contexto. Os estudos

nessa direção corroboram que as alterações cognitivas estão mais especificamente

associadas à terapia profilática do SNC do que ao processo de adoecimento da leucemia

em si. Além disso, apesar de alterações cognitivas serem acentuadamente reportadas

durante as fases ativas do tratamento, déficits específicos são notados mesmo anos após

o término do tratamento (Temming & Jenney, 2010). Esse cenário tem encorajado a

investigação de potenciais efeitos colaterais cognitivos associados ao tratamento

quimioterápico fora do Brasil, especialmente no âmbito do funcionamento intelectual.

Os estudos a respeito do funcionamento intelectual em crianças e adolescentes

sobreviventes de LLA têm apresentado resultados inconsistentes (Buizer et al., 2009;

Krawczuk-Rybak et al., 2012; Watanabe et al., 2011). Moleski (2000) realizou um

mapeamento da literatura publicada entre 1981 e 1997 sobre os impactos decorrentes do

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uso da quimioterapia intratecal na LLA em crianças e observou que cerca de dois terços

das pesquisas analisadas documentaram declínios significativos em um ou vários aspectos

do funcionamento intelectual. Paralelamente, Raymond-Speden, Tripp, Lawrence e

Holdaway (2000) compararam o funcionamento intelectual de crianças sobreviventes de

longo prazo da LLA e identificaram que a quimioterapia profilática, combinada ou não à

radioterapia, foi associada a medidas significativamente inferiores de capacidade

intelectual (Raymond-Speden et al., 2000).

Estudo realizado por Reinfjell, Lofstad, Veenstra, Vikan e Diseth (2007) com

crianças diagnosticadas com LLA (n = 40) e crianças saudáveis (n = 42) concluiu que os

dois grupos alcançaram média de desempenho dentro do esperado para a capacidade

intelectual global no WISC-III, contudo foram observadas diferenças significativas em

favor do grupo composto por crianças saudáveis para as medidas de QI Total, QI Verbal,

QI de Execução, Índice de Compreensão Verbal e Índice de Resistência à Distratibilidade,

além disso, a média de desempenho do grupo de LLA foi classificada na média inferior

para o Índice de Velocidade de Processamento.

Halsey e colaboradores (2011) encontraram em seu estudo escores de Quociente

Intelectual (QI) significativamente mais baixos para pacientes de LLA ao longo do

desenvolvimento infantil em comparação aos controles, independentemente da dose de

metotrexato. Esses estudiosos concluíram que enquanto os tratamentos antineoplásicos

direcionados ao SNC pareciam não resultar em impactos intelectuais a longo prazo em

adultos, podiam afetar adversamente crianças cujos sistemas neurocognitivos estão em

processo de maturação (Halsey et al., 2011).

Halsey et al. (2011) identificaram que as diferentes modalidades de tratamento

(radioterapia, quimioterapia intratecal e/ou altas doses de quimioterapia sistêmica) não

eram determinantes específicas nas alterações encontradas, reforçando a necessidade de

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aprofundamento acerca dos fatores de riscos. Nessa direção, uma série de estudos

identificou o sexo feminino e a idade mais jovem ao diagnóstico como variáveis a serem

melhor investigadas, ressaltando que a idade de cinco anos ou menos no início do

tratamento constituía-se como um fator significativo para a emergência de sequelas

cognitivas que repercutiam no funcionamento intelectual (Halsey et al., 2011).

Isso posto, Butler et al. (2013) observaram que a idade mais avançada no momento

do diagnóstico configurou-se como fator de proteção, sendo associada a melhores

resultados em medidas que avaliam a capacidade intelectual global dessa população

clínica. Ademais, advertiram que as variáveis idade e sexo são fatores que podem interagir

para dar origem a resultados adversos (Halsey et al., 2011). Nessa direção, para

Krawczuk-Rybak et al. (2012) a idade mais baixa no tratamento, o sexo feminino e o uso

de múltiplos fármacos quimioterápicos configuravam-se como os fatores de risco mais

importantes para o rebaixamento da capacidade intelectual.

No Brasil, estudo realizado pelo nosso grupo (Gomes et al., 2012) com crianças

diagnosticadas com LLA, submetidas apenas à quimioterapia, revelou que o QI global

mensurado com o uso do WISC-III era menor que a média esperada em 50% dos sujeitos

(n=20), com pontuações rebaixadas principalmente nos grupos frequentemente

associados com maior risco de emergência de alterações cognitivas, quais sejam, crianças

que estavam fora tratamento, do sexo feminino e menor que cinco anos de idade no

momento do diagnóstico (Gomes et al., 2012).

Posteriormente, estudo comparando o desempenho intelectual de crianças

brasileiras sobreviventes de Tumores de Fossa Posterior e LLA identificou melhor

desempenho global obtido pelas crianças diagnosticadas com astrocitoma (submetidas

apenas à cirurgia), seguidas das crianças com LLA (submetidas à quimioterapia intratecal

e sistêmica) e, com o desempenho mais rebaixado identificado nas crianças sobreviventes

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de meduloblastoma (submetidas à radioterapia, à quimioterapia e à cirurgia). Os

resultados apontaram ausência de contrastes significativos entre os grupos LLA e

meduloblastoma no âmbito intelectual global e verbal, revelando desempenhos

semelhantes de ambos, caracterizados por pontuações inferiores à média esperada (Hazin

et al., 2015).

Recentemente, Sleurs et al. (2016) divulgaram dados de um estudo longitudinal

multicêntrico com 94 crianças diagnosticadas com LLA, os quais sugerem que a menor

idade ao diagnóstico é um relevante preditor de rebaixamento nos escores de QI. Além

disso, os achados indicaram melhores resultados relacionados com a maior escolaridade

dos pais (Sleurs et al., 2016).

Dado o contexto acima explorado, observa-se que alterações no funcionamento

intelectual vêm sendo foco de diversos estudos, notadamente internacionais, junto a esta

população. Todavia, considerando-se as controvérsias dos resultados encontrados na

literatura, a escassez de estudos brasileiros nessa direção, bem como a melhoria dos

índices de sobrevida e avanços nos protocolos de tratamento no país, esse primeiro estudo

teve como objetivo investigar o funcionamento intelectual de crianças e adolescentes após

o tratamento para LLA, sendo este exclusivamente quimioterápico.

4. 2 Método

4.2.1 Instituições

O presente estudo foi realizado em hospitais públicos de referência em oncologia

pediátrica da cidade do Natal/RN, a saber: Hospital Infantil Varela Santiago e Liga Norte

Riograndense Contra o Câncer. Considerando-se as diretrizes e normas regulamentadoras

de pesquisas envolvendo seres humanos conforme a Resolução 466/12 do Conselho

Nacional de Saúde – CNS, a pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética da

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Liga Norte Riograndense Contra o

Câncer1 e teve anuência concedida pelas duas instituições de tratamento para a realização

da pesquisa.

4.2.2 Participantes

Participaram do presente estudo 26 crianças e adolescentes diagnosticadas com

LLA – integrantes do grupo clínico – que realizaram o tratamento entre os anos de 2005

e 2015 nas referidas instituições. Os participantes foram selecionados através de consulta

aos livros de registros das instituições participantes, bem como de processo de

recrutamento contínuo nos ambulatórios de oncopediatria, considerando-se os seguintes

critérios de inclusão: 1) diagnóstico de leucemia linfoide aguda; 2) realização de

tratamento profilático para o SNC composto apenas de quimioterapia; 3) Idade entre seis

e 16 anos no momento da avaliação; 4) Tratamento finalizado; 5) Assinatura do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis; 5) consentimento do

participante adolescente através do Termo de Assentimento.

Foram utilizados como critérios de exclusão: 1) crianças e adolescentes com

diagnóstico de LLA secundária a outras neoplasias; 2) submissão a protocolo de

tratamento composto por radioterapia combinado à quimioterapia; 3) idade inferior a seis

anos ou superior a 17 no período da avaliação; 4) presença de enfermidades neurológicas

e/ou neuropsiquiátricas que poderiam alterar os domínios investigados; 5) alterações

sensoriais não corrigidas; 6) não consentimento da participação da criança ou adolescente

por parte de pais ou responsáveis, ou por parte da própria criança ou adolescente; 7)

pacientes que apresentaram recidiva da LLA durante o período de avaliação.

1 CAAE número 31266814.6.0000.5537, parecer número 810.767, de 03/09/2014 e CAAE 31266814.6.3001.5293, parecer número 861.284, de 03/11/2014.

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Foram incluídos também 26 crianças e adolescentes saudáveis, sem histórico de

alterações neurológicas, psiquiátricas, alterações sensoriais não corrigidas e histórico de

dificuldades de aprendizagem, que constituíram o grupo controle. Este grupo foi

estruturado considerando-se as variáveis sexo, idade, tipo de escola e nível

socioeconômico dos participantes do grupo clínico, numa proporção de 1:1, selecionados

em escolas da rede pública e privada do município de Natal/RN e adjacências.

4.2.3 Instrumentos

A capacidade intelectual dos participantes foi investigada através da aplicação da

Escala Wechsler de Inteligência para Crianças - IV Edição. A WISC-IV é composta por

10 subtestes principais e 5 suplementares que individualmente se propõem a avaliar

diferentes dimensões do funcionamento cognitivo e quando agrupados de modo

específico resultam em quatro índices específicos ou pontos compostos, quais sejam:

Índice de Compreensão Verbal (ICV), Índice de Organização Perceptual (IOP), Índice de

Memória Operacional (IMO); Índice de Velocidade de Processamento (IVP). Os dez

subtestes principais que abarcam os quatro índices mencionados fornecem as pontuações

do QI Total (QIT) (Wechsler, 2013).

I. Índice de Compreensão Verbal (ICV)

O ICV contempla subtestes que aferem habilidades verbais através do raciocínio,

da compreensão e da conceituação, sendo composto pelos seguintes subtestes:

a) Semelhanças

O subteste Semelhanças é um dos principais subtestes de ICV e tem como objetivo

principal mensurar o raciocínio verbal e a conceptualização. Integra também a avaliação

da compreensão oral, memória, da capacidade de distinguir aspectos essenciais e não

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essenciais e a habilidade do examinando se expressar verbalmente. A tarefa é composta

por 23 itens, nos quais o examinador apresenta duas palavras à criança, referentes a

objetos ou conceitos e solicitando à criança ou adolescente que indique o que ambos os

elementos possuem em comum ou são semelhantes (Wechsler, 2013).

b) Vocabulário

O subteste Vocabulário tem como objetivo mensurar o conhecimento de palavras

e a formação de conceitos verbais. Envolve também a investigação das habilidades de

aprendizagem, memória de longo prazo, a abstração, a expressão verbal, a percepção

auditiva, a compreensão, a expressão verbal e o desenvolvimento linguístico. A tarefa é

constituída por 36 itens, sendo quatro figurativos e 32 verbais. Nos itens figurativos, pede-

se à criança que nomeie as figuras apresentadas em um livro de estímulos. Nos itens

verbais, é solicitado que o examinando expresse verbalmente uma ou mais definições de

palavras lidas em voz alta pelo examinador (Wechsler, 2013).

c) Compreensão

O subteste Compreensão avalia raciocínio, expressão e conceituação verbais,

habilidade para avaliar e utilizar experiências anteriores e para transmitir informações de

ordem prárica. Mensura especialmente padrões comportamentais, julgamento,

maturidade e bom senso. É composto por 21 itens com perguntas destinadas a avaliar o

entendimento da criança a respeito dos princípios gerais e da vivência social (Wechsler,

2013).

II. Ìndice de Organização Perceptual (IOP)

O Índice de Organização Perceptual é uma medida mais pura utilizada para aferir

habilidades inseridas no domínio não-verbal. É formado pelos seguintes subtestes

principais:

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a) Cubos

O subteste Cubos tem como objetivo a avaliar a habilidade de analisar e sintetizar

estímulos visuais abstratos, bem como a criação de conceitos não-verbais, percepção

visual e organização, processamento simultâneo, coordenação visomotora, aprendizagem

e capacidade de discriminar figura e fundo em estímulos visuais. Essa tarefa é composta

por 14 itens, sendo todos eles apresentados por modelos ou figuras do livro de estímulos,

os quais a criança deverá reproduzir utilizando cubos disponíveis nas cores branca e

vermelha dentro de um limite de tempo estabelecido (Wechsler, 2013).

b) Conceitos Figurativos

Conceitos Figurativos é uma tarefa que mensura o raciocínio e habilidade do

examinando para compor categorias abstratas ou classes específicas a partir de estímulos

visuais. Os itens são apresentados em um livro de estímulos, organizados em uma

sequencia específica para estimular o raciocínio abstrato. Cada item é composto por duas

ou três fileiras de figuras a partir das quais a criança é convidada a indicar uma figura de

cada fileira, formando um subconjunto de figuras que tenham algo em comum entre si

(Wechsler, 2013)..

c) Raciocínio Matricial

No subteste Raciocínio Matricial o examinando deverá encontrar a parte que falta

de uma matriz incompleta, considerando cinco alternativas de resposta que lhes são

apresentadas. Essa atividade mensura a fluidez da inteligência, além de possibilitar uma

estimativa da habilidade intelectual global. O subteste é composto por 35 itens com quatro

tipos de matizes diferentes, a sabe: padrão contínuo e descontínuo de complementação,

classificação, raciocínio analógico e raciocínio serial (Wechsler, 2013).

III. Índice de Memória Operacional (IMO)

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O Índice de Memória Operacional (IMO) afere atenção, concentração e memória

de trabalho/operacional, sendo constituído principalmente pelos subtestes Dígitos e

Sequência de Números e Letras.

a) Dígitos

O subteste Dígitos é composto por duas partes: Dígitos Ordem Direta e Dígitos

Ordem Inversa. A primeira parte mensura principalmente aprendizagem por

memorização, atenção, codificação, sequenciamento e processamento auditivo. Já Dígitos

Ordem Inversa avalia memória operacional, manipulação de informações, agilidade

mental e imagens visoespaciais. Para realização da tarefa são apresentadas sequências de

números em extensão crescente, sendo solicitada primeiramente ao examinando a

repetição imediata dos mesmos na mesma ordem em que foram apresentados (ordem

direta) e posteriormente a repetição dos números em ordem inversa à que foi apresentada

(ordem inversa) (Wechsler, 2013).

b) Sequência de Números e Letras

O subteste Sequência de Números e Letras avalia sequenciamento, agilidade

mental, atenção, memória auditiva de curto prazo, imagens visoespaciais e velocidade de

processamento. Seus itens são apresentados sob a forma de sequências desordenadas de

número e letras, sendo solicitado ao examinando que ordene e repita os elementos,

evocando primeiro os números em ordem crescente e posteriormente as letras em ordem

alfabética (Wechsler, 2013).

IV. Índice de Velocidade de Processamento (IVP)

O Índice de Velocidade de Processamento investiga a velocidade psicomotora e a

agilidade mental, além da própria velocidade de processamento de informações. É

composto pelos subtestes Código e Procurar Símbolos, descritos abaixo:

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a) Subteste Código

O subteste Código avalia velocidade de processamento, memória visual de curto

prazo, aprendizagem, percepção visual, coordenação visomotora, atenção, concentração,

motivação e flexibilidade cognitiva. Envolve ainda processamento visual e sequencial.

Seus itens demandam que o examinando copie símbolos correspondentes a formas

geométricas simples ou números de acordo com uma chave localizada na parte superior

da folha, em um período de tempo estabelecido (Wechsler, 2013).

b) Subteste Procurar Símbolos

O subteste Procurar Símbolos mensura a habilidade de discriminação perceptiva,

a velocidade de processamento, a flexibilidade cognitiva, a coordenação visomotora, a

atenção visual e a memória visual de curto prazo. Seus itens exigem que a criança, a partir

de um modelo com um ou dois símbolos, indique a presença ou ausência em outro

conjunto de figuras, marcando “sim” – se ao menos uma das duas figuras da chave se

encontra presente no outro conjunto – ou “não” – se nenhuma das duas figuras na chave

está presente no outro conjunto. O examinando tem 120 segundos para concluir a tarefa,

sendo consideradas corretas aquelas respostas que obedeçam à regra apresentada

(Wechsler, 2013).

4.2.4 Procedimento de Análise de Dados

Os dados oriundos da investigação do funcionamento intelectual no presente

estudo foram analisados através de ferramentas estatísticas descritivas e inferenciais.

Inicialmente foram realizadas as análises descritivas dos desempenhos dos grupos nas

medidas de QIT, ICV, IOP, IMO e IVP. Em seguida, a partir de variáveis categoriais-

descritivas, efetuou-se a análise descritiva multidimensional de tipo cluster que

possibilita a reunião de dados nominais em agrupamentos, de tal forma que os

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componentes de um mesmo grupo apresentam alta similaridade entre si e elevada

dissimilaridade em relação aos integrantes associados aos outros grupos.

Por último, foram realizadas as análises estatísticas inferenciais de contrastes e

associação, visando verificar a presença de discrepâncias estatisticamente significativas

entre os grupos e subgrupos e às variáveis clínicas e sociodemográficas correlacionadas

aos resultados dos participantes nos instrumentos, respectivamente. Estas análises foram

realizadas através dos testes Ü de Mann-Whitney (verificação de contrastes) e ρ de

Spearman (análise de associação) em virtude do baixo efetivo de participantes e a não

garantia de distribuição normal da amostra, utilizando-se nível de significância de p≤0,05

para rejeição da hipótese nula.

Para efetivação de tais análises, variáveis independentes nominais clínicas e

sociodemográficas – referentes aos fatores de risco associados à emergência de impactos

neuropsicológicos – foram utilizadas a fim de comparar os desempenhos dos participantes

no QI Total e Índices Fatoriais da WISC-IV. As variáveis independentes utilizadas foram:

1) idade da criança ao diagnóstico (“inferior a cinco anos” ou “igual ou superior a cinco

anos”); 2) tempo decorrido entre o fim do tratamento e a avaliação do funcionamento

intelectual (“inferior a três anos” ou “a partir de três anos”); 3) sexo (“masculino” ou

“feminino”); 4) Grupo de risco de recaída (“alto risco” ou “baixo risco”); 4) escolaridade

da mãe (acima ou abaixo de quatro anos de instrução formal, período equivalente ao

Ensino Fundamental I no sistema educacional brasileiro).

A utilização da variável idade ao diagnóstico fundamentou-se nas evidências de

estudos na área que postulam que crianças diagnosticadas mais jovens (especialmente

antes dos cinco anos de idade) apresentam prognóstico menos favorável em relação às

crianças diagnosticadas em idade mais avançada (Campbell et al., 2007; Conklin et al.,

2012; Jacola et al., 2016; Moore, 2005; Nathan et al, 2007; Reddick et al., 2014; Spiegler

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et al., 2006). A delimitação do tempo de conclusão do tratamento informado teve como

base resultados de investigações que indicaram que os efeitos relacionados ao tratamento

emergiam tardiamente entre um e três anos após o fim do tratamento (Ashford et al., 2010;

Carey et al., 2007; Cole & Kamen, 2006; Jacola et al., 2016; Moleski, 2000; Mulhern &

Palmer 2003). Diversos estudos apontam que a maior vulnerabilidade em crianças do

sexo feminino para a emergência de alterações neuropsicológicas relacionada ao

tratamento da LLA pode estar associada à interação entre os fármacos, fatores hormonais

e neurodesenvolvimentais (Butler & Haser, 2006; Gomes et al., 2012; Moore, 2005). A

intensidade do tratamento, diretamente relacionada à classificação de risco de recaída da

doença, também foi selecionada por se constituir como um fator de risco de grande

relevância para investigação dos efeitos relacionados ao tratamento da LLA, tendo em

vista que tanto dosagens mais elevadas como a maior duração do tratamento parecem ser

fontes de disfunções cognitivas mais graves (Bender & Thelen, 2013; Krull et al., 2013;

Moore, 2005). Por fim, o tempo de escolaridade da mãe pode ser justificada por achados

que indicam que a escolaridade da mãe se constitui como fator importante para o

prognóstico cognitivo da criança após o tratamento oncológico e lesões/insultos cerebrais

(Ardilla, Rosselli & Rosas, 1989; Hazin et al., 2011).

4.3 Resultados

Inicialmente foi realizada a análise descritiva referente ao estabelecimento de

médias e desvios-padrão dos desempenhos dos grupos clínico e controle na WISC-IV.

Esse procedimento evidenciou que o resultado médio do grupo controle situou-se na faixa

esperada para todas as medidas do instrumento. Quanto aos resultados do grupo clínico,

observou-se que as pontuações de ICV, IOP, IVP e QIT situaram-se na média inferior,

contudo, em IMO o grupo obteve desempenho na faixa limítrofe (Tabela 2).

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Posteriormente, com o objetivo de investigar os efeitos tardios relacionados ao

tratamento da LLA, os desempenhos dos participantes do grupo clínico e do grupo

controle foram comparados através do Teste Ü de Mann-Whitney, adotando-se p≤0,05

para rejeição da hipótese nula. Os dados resultantes dessa primeira análise inferencial

sugerem contrastes significativos entre os desempenhos dos grupos clínico e controle nos

diferentes domínios do funcionamento intelectual, todos eles em favor do grupo

constituído por crianças e adolescentes saudáveis, conforme podem ser observados na

Tabela 2.

Tabela 2: Resultados das análises descritivas e inferenciais dos desempenhos dos grupos clínico e controle nos escores da WISC-IV.

Grupo Clínico

(n=26) Grupo Controle

(n=26) Ü/z P

Média/DP Média/DP ICV 89,65/13,76 104,88/9,52 130,00/-3,81 <0,001* IOP 89,54/14,68 102,65/9,42 156,00/-3,34 0,001* IMO 79,12/12,10 98,42/7,65 58,50/-5,14 <0,001* IVP 87,19/14,12 101,00/11,07 152,50/-3,40 0,001* QIT 83,50/13,07 102,92/8,42 64,00/-5,02 <0,001*

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; n, número de participantes; Ü, valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z, escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p, nível de significância estatística; *, domínios nos quais houve discrepância estatisticamente significativa entre os grupos clínico e controle. Os valores de referência para classificação descritiva do QI Total e Índices fatoriais são: ≥130 - Muito Superior; 120-129 – Superior; 110-119 – Médio Superior; 90-109 – Médio; 80-89 – Médio Inferior; 70-79 – Limítrofe; ≤ – Deficiência Cognitiva.

Em seguida, análises descritivas e inferenciais apenas com o grupo clínico

(intragrupo) foram realizadas, com o objetivo de explorar os resultados encontrados e

verificar os contrastes entre os desempenhos dos subgrupos estruturados a partir das

variáveis clínicas e sociodemográficas que têm sido associadas à ocorrência de impactos

no funcionamento intelectual dos sujeitos após o tratamento da LLA, conforme pode ser

observado nas Tabelas 3, 4, 5, 6, 7 e 8.

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Tabela 3: Distribuição frequencial dos participantes do grupo clínico em relação à classificação dos seus desempenhos no Índices Fatoriais e QI Total da WISC-IV.

Extremamente Baixo

Limítrofe Médio Inferior

Média Médio Superior

ICV 7,7% 7,7% 26,9% 50% 7,7% IOP 7,7% 15,4 19,2% 53,8% 3,8% IMO 15,4% 38,5% 26,9% 15,4% 3,8% IVP 7,7% 15,4 34,6% 38,5% 3,8% QIT 15,4% 11,5% 46,2% 23,1% 3,8%

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; n, número de participantes; p, nível de significância estatística. Os valores de referência para classificação descritiva do QI Total e Índices fatoriais são: ≥130 - Muito Superior; 120-129 – Superior; 110-119 – Médio Superior; 90-109 – Médio; 80-89 – Médio Inferior; 70-79 – Limítrofe; ≤ – Extremamente Baixo. Tabela 4: Desempenho dos grupos na WISC-IV de acordo com a idade ao diagnóstico

< 5 anos de idade ao diagnóstico (n=12)

≥5 anos de idade ao diagnóstico (n=14) p

Média DP Média DP ICV 82.5 12,0 95,8 12,4 0,017* IOP 83,0 15,0 95,1 12,2 0,036* IMO 73,5 11,4 83,9 10,8 0,036* IVP 84,67 15,1 89,3 13,3 0,494 QIT 77,00 11,3 89,0 12,1 0,008*

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; DP, Desvio Padrão; p, nível de significância estatística; *= domínios nos quais houve discrepância estatisticamente significativa entre os grupos clínico e controle.

Tabela 5. Desempenho dos grupos na WISC-IV de acordo com o tempo que concluiu o tratamento.

3< anos FT (n=13) ≥3 anos FT (n=13) p

Média DP Média DP ICV 93,0 15,1 86,3 11,8 0,243 IOP 91,0 11,8 88,0 17,4 0,687 IMO 84,2 10,7 74,0 11,5 0,022* IVP 87,6 12,8 86,7 15,7 0,920 QIT 86,6 12,3 80,3 13,4 0,362

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; DP, Desvio Padrão; FT, Fora de Tratamento; p, nível de significância estatística; *= domínios nos quais houve discrepância estatisticamente significativa entre os grupos clínico e controle.

Tabela 6. Desempenho dos grupos na WISC-IV de acordo com o grupo de risco de recaída.

Baixo Risco (n=17) Alto Risco (n=9) p

Média DP Média DP ICV 87,65 13,3 93,4 14,5 0,263

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IOP 84,18 13,0 99,6 12,4 0,004* IMO 75,71 8,8 85,5 15,1 0,133 IVP 84,3 15,6 92,5 9,2 0,148 QIT 79,4 11,8 91,1 12,4 0,095

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; DP, Desvio Padrão; p, nível de significância estatística; *= domínios nos quais houve discrepância estatisticamente significativa entre os grupos clínico e controle.

Tabela 7. Desempenho dos grupos na WISC-IV de acordo com o tempo de escolaridade da mãe

Menor que 4 anos (n=13) Maior que 4 anos (n=13) P

Média DP Média DP ICV 84,23 12,0 95,0 13,6 0,039* IOP 84,00 15,82 95,0 11,5 0,072 IMO 74,54 10,1 83,6 12,5 0,039* IVP 83,54 13,7 90,8 14,0 0,311 QIT 77,62 11,8 89,3 11,8 0,026*

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; DP, Desvio Padrão; p, nível de significância estatística; *= domínios nos quais houve discrepância estatisticamente significativa entre os grupos clínico e controle.

Tabela 8. Desempenho dos grupos na WISC-IV de acordo com o sexo do participante.

Masculino (n=15) Feminino (n=11) p

Média DP Média DP ICV 84,87 13,8 96,18 11,1 0,036* IOP 90,8 15,6 87,8 13,7 0,443 IMO 78,7 10,4 79,6 14,5 0,799 IVP 84,4 15,3 91,0 11,9 0,305 QIT 81,3 13,3 86,4 12,7 0,413

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; DP, Desvio Padrão; *= domínios nos quais houve discrepância estatisticamente significativa entre os grupos clínico e controle.

Os dados apresentados indicam resultados mais favoráveis para os subgrupos

compostos por participantes que haviam sido diagnosticados com LLA a partir dos cinco

anos de idade (ICV, IOP, IMO e QIT), cujas mães possuíam nível de escolaridade maior

que quatro anos (ICV, IMO e QIT) e que haviam concluído o tratamento a menos de três

anos (IMO). Já no que concerne à variável sexo do participante foram observadas

discrepâncias estatisticamente significativas apenas em ICV em favor das pacientes do

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sexo feminino. Por fim, a investigação a partir da variável grupo de risco de recaída

apontou melhor desempenho em IOP para o subgrupo classificado como alto risco,

submetido, portanto, a um tratamento mais intensivo.

Com o objetivo de melhor compreender como os dados dos participantes se

distribuíam e identificar a relevância das variáveis clínicas e sociodemográficas

investigadas sobre o desempenho dos sujeitos, foi realizada uma análise descritiva

multidimensional de tipo cluster. A partir de categorias nominais derivadas dos

desempenhos da WISC (ICV, IOP, IMO, IVP e QI - classificadas de acordo com os

valores de referência do instrumento) e de variáveis clínicas e sociodemográficas, idade

ao diagnóstico, tempo decorrido entre o fim de tratamento e a avaliação do

funcionamento intelectual, sexo do participante, escolaridade da mãe e risco de recaída,

obteve-se a partição dos participantes em dois grupos, sem perdas, cujas medidas de

coesão e separação foram consideradas satisfatórias, conforme aponta a figura 2. O grau

de importância de cada variável no âmbito da partição dos clusters é apresentado na figura

3. As características relacionadas aos dois clusters resultantes desta análise encontram-se

descritas na Tabela 9.

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Tabela 9. Distribuição dos grupos na análise de Cluster.

Cluster 1 Cluster 2

Distribuição dos participantes 57,7% (15) 42,3% (11)

Tempo de escolaridade da mãe 86,7% (< 4 anos) 100% (≥4 anos)

Tempo fora de tratamento 73,3% (≥ 3 anos) 81,8% (<3 anos)

Idade ao diagnóstico 66,7% (<5 anos) 81,8% (≥ 5 anos)

Interpretação do QIT 46,7% (Média Inferior) 45,5% (Média Inferior)

Interpretação do ICV 40,0% (Média Inferior) 72,7% (Média)

Interpretação do IVP 53,3% (Média Inferior) 63,6% (Média)

Interpretação do IMO 46,7% (Limítrofe) 36,4% (Média Inferior)

Interpretação do IOP 40,0% (Média) 72,7% (Média)

Sexo 60,0% (Masculino) 54,5% (Masculino)

Figura 3: Gráfico apontando o grau de importância de cada variável para a partição dos grupos.

Figura 2: Gráfico indicando a qualidade dos clusters a partir de medidas de coesão e separação.

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Grupo de risco de recaída 70,0% (BR) 50,0% (BR)

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; n, número de participantes; <, menor que; >, maior que; ≥, maior ou igual que; ≤, menor ou igual que; BR, baixo risco.

Por fim, visando compreender o relacionamento entre as variáveis clínicas e

sociodemográficas e os desempenhos dos participantes na WISC-IV realizou-se uma

análise de correlação através do ρ de Spearman com os dados categóricos anteriormente

submetidos à análise de cluster. Nessa direção foram verificados os seguintes resultados:

a) correlações significativas positivas entre idade ao diagnóstico e os escores de ICV,

IMO e QIT; b) correlações significativas negativas entre tempo fora de tratamento e IMO;

c) correlações significativas positivas entre tempo de escolaridade da mãe e os escores

de ICV, IOP e QIT.

Tendo em vista que as variáveis sexo do participante e grupo de risco de recaída

apresentaram pouca importância para a formação dos agrupamentos, tais variáveis foram

excluídas da análise de correlação realizada nessa etapa. Os dados desta análise

encontram-se na Tabela 10.

Tabela 10. Correlação de Spearman e nível de significância entre variáveis clínicas e sociodemográficas e os escores da WISC-IV.

ICV IOP IMO IVP QIT

Idade ao diagnóstico

ρ de Spearman

0,484 0,344 0,424 0,054 0,426

Significância 0,012* 0,086 0,031* 0,792 0,030*

Tempo fora de tratamento

ρ de Spearman

-0,272 -0,152 -0,525 -0,124 -0,245

Significância 0,179 0,460 0,006* 0,545 0,227

Tempo de escolaridade da mãe

ρ de Spearman

0,410 0,393 0,359 0,319 0,507

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Significância 0,037* 0,047* 0,072 0,112 0,008*

Nota: ICV, Índice de Compreensão Verbal; IOP, Índice de Organização Perceptual; IMO, Índice de Memória Operacional; IVP, Índice de Velocidade de Processamento; QIT, Quociente de Inteligência Total; DP, Desvio Padrão; *= domínios nos quais houve associação estatisticamente significativa com p<0,05.

4.4 Discussão

O presente estudo investigou o funcionamento intelectual de crianças e

adolescentes sobreviventes de LLA e submetidas a tratamento composto exclusivamente

por quimioterapia. Os dados produzidos sugerem que o grupo de crianças e adolescentes

sobreviventes de LLA apresentou desempenho na capacidade intelectual global

significativamente inferior (p<0,001), bem como em todos os índices fatoriais da WISC-

IV, com valores de significância situados entre 0,001 e <0,001 quando comparado ao

grupo de participantes saudáveis.

Foi possível observar também que 26,9% dos componentes do grupo clínico

alcançaram pontuações ponderadas classificadas como limítrofe ou extremamente baixo,

somadas a 46,2% dos desempenhos dos participantes situados na classificação média

inferior na capacidade intelectual global. No domínio verbal cerca de 80% dos integrantes

do grupo clínico apresentaram desempenhos classificados na zona média inferior ou

acima dela. No que concerne à velocidade de processamento de informação os resultados

em sua maioria foram igualmente classificados entre a média inferior e a média superior

(76,9% da amostra). Por fim, a avaliação da memória de trabalho permitiu identificar que

esse domínio concentrou a maior parcela de resultados classificados entre as categorias

extremamente baixo e limítrofe (53,9%) e médio inferior (26,9%), configurando-se como

os desempenhos mais reduzidos nos escores da WISC-IV.

Esses dados se somam à importante parcela de estudos com pacientes pediátricos

sobreviventes de LLA que sugerem potenciais efeitos tardios, geralmente sutis, sobre

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áreas específicas do funcionamento cognitivo em sobreviventes tratados apenas com

quimioterapia intratecal e sistêmica. Nessa direção, apesar de se reconhecer que a

quimioterapia é menos neurotóxica que a radioterapia profilática, estudos revisados

sugerem que até 50% das crianças desenvolvem déficits cognitivos após tratamento com

protocolos apenas quimioterápicos. Embora os prejuízos pareçam ser menos severos, ou

sutis, o perfil de funcionamento cognitivo é semelhante aquele apresentado por crianças

irradiadas, com pontuações reduzidas no funcionamento intelectual global, que se

expressam principalmente no intervalo entre dois e sete anos após o tratamento (Hearps

et al., 2016).

Adicionalmente, os resultados encontrados na análise de cluster, possibilitaram a

circunscrição de dois agrupamentos homogêneos e coesos internamente e adequadamente

heterogêneos entre si. A variável de maior força na partição entre os grupos foi tempo de

escolaridade da mãe, seguida da variável clínica tempo fora de tratamento, idade ao

diagnóstico, classificação do QI Total, classificação do Índice de Compreensão Verbal,

classificação do Índice de Velocidade de Processamento e classificação do Índice de

Memória Operacional. Apresentaram menor força para a partição dos agrupamentos o

domínio não-verbal e as variáveis sexo do participante e grupo de risco de recaída.

O Cluster 1 reuniu 57,7% dos participantes do grupo clínico. Desses, 86,7%

tinham mães com tempo de escolaridade menor que quatro anos, 73,3% estavam fora de

tratamento há três anos ou mais e em sua maioria (66,7%) haviam recebido o diagnóstico

de LLA com menos de cinco anos de idade. Esse agrupamento se caracterizou também

por concentrar participantes com desempenho médio inferior no domínio verbal e na

velocidade de processamento de informações, além de desempenho classificado como

limítrofe na memória de trabalho. Assim, os dados oriundos dessa análise indicam que

foram reunidos nesse agrupamento participantes com os desempenhos mais rebaixados

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na avaliação do funcionamento intelectual e que apresentavam características

frequentemente apontadas como fatores de risco para emergência de sequelas após o

tratamento direcionado ao SNC, a saber, baixa escolaridade materna, idade inferior a

cinco anos no momento do diagnóstico e maior tempo de conclusão do tratamento

(Ashford et al., 2010; Kesler, Tanaka & Koovakkatty, 2010; Jacola et al., 2016; Reddick

et al., 2014).

Já o Cluster 2, constituído por 42,3% da amostra, reuniu participantes cujas mães

tinham mais de quatro anos de escolaridade, haviam concluído o tratamento há menos de

três anos e tinham cinco anos de idade ou mais ao diagnóstico. Esse grupo concentrou

participantes com desempenhos melhores e situados dentro do esperado no domínio

verbal, na velocidade de processamento de informação e na memória de trabalho. Por fim,

não foram observadas diferenças na separação entre os grupos no funcionamento

intelectual global e no domínio não-verbal, os quais apresentaram desempenhos

predominantemente médio inferior e médio, respectivamente. Adicionalmente, na

composição dos dois agrupamentos havia maior concentração de sujeitos do sexo

masculino e de pacientes diagnosticados com LLA de baixo risco de recaída, não sendo

tais variáveis importantes na formação dos agrupamentos, conforme abordado

anteriormente.

Considerando-se as variáveis clínicas e sociodemográficas que se apresentaram

mais importante enquanto fatores associados aos desempenhos do funcionamento

intelectual da população estudada, foram conduzidas análises estatísticas inferenciais para

verificar o relacionamento das mesmas e o desempenho dos participantes na WISC-IV.

No que diz respeito à variável sociodemográfica tempo de escolaridade da mãe,

foi constatada correlação significativa positiva com os domínios verbal, não-verbal e a

capacidade intelectual global, de forma que o maior nível de escolaridade da mãe foi

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associado às maiores pontuações alcançadas pelos participantes nesses domínios.

Destaca-se aqui que, embora a análise de contrastes a partir dessa variável tenha

evidenciado diferença significativa entre os subgrupos em memória de trabalho, a análise

de correlação não indicou que os desempenhos dos subgrupos nesse domínio específico

estão significativamente correlacionados ao tempo de escolaridade da mãe.

Nessa mesma direção, Kesler, Gugel, Huston-Warren e Watson (2016) e Kesler

et al., (2010) verificaram que a educação materna atuou como fator preditor importante

para a emergência de déficits cognitivos e rebaixamento da capacidade intelectual entre

os jovens sobreviventes de LLA. Tais estudos propuseram que o funcionamento cognitivo

de um sujeito após lesão/insulto cerebral ou doença decorre da variação individual dos

seus recursos cerebrais (Kesler et al., 2016, 2010). Nessa perspectiva, aqueles com

maiores recursos cerebrais poderiam lidar melhor com os efeitos do tratamento do que

aqueles com menores recursos, mesmo quando a magnitude da lesão é semelhante (Fay

et al., 2010).

Nessa perspectiva, defende-se que o enriquecimento cognitivo possibilita o

desenvolvimento de propriedades de neuroplasticidade que permitem um funcionamento

cognitivo adequado, mesmo na presença de patologias que acometem o cérebro, sendo o

maior nível de escolaridade materna um aspecto de extrema relevância para propiciar esse

processo (Nithianantharajah & Hannan, 2009; Petrosini et al., 2009). Nesse sentido,

acredita-se que variáveis "psicossociais", como qualidade do ambiente da criança,

experiência educacional e disponibilidade de intervenções educacionais pode interagir

com aspectos terapêuticos produzindo resultados específicos (Anderson, Catroppa,

Morse, Haritou, & Rosenfeld, 2009; Anderson, Spencer-Smith, & Wood, 2011).

Kesler et al. (2010) acrescentam que o nível de educação materna tem se mostrado

como um dos principais aspectos associados ao desfecho cognitivo em crianças de modo

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geral. A relação entre o nível de escolaridade materna e o resultado cognitivo infantil

podem ser evidenciadas principalmente a partir dos seguintes achados de estudos com

essa ênfase: 1) a forte relação entre o nível de educação e o desempenho intelectual; 2) a

alta correlação entre o funcionamento intelectual dos pais e o da criança; 3) a associação

entre educação materna, nível socioeconômico e ambiente familiar.

Adicionalmente, sabe-se que o status socioeconômico, que reflete também o nível

de escolaridade dos pais, parece atuar como moderador entre as influências genéticas e o

desenvolvimento cognitivo. Assim, pais com níveis mais elevados de educação tendem a

proporcionar aos seus filhos uma maior gama de atividades relacionadas à aprendizagem

(Kesler et al., 2010).

A variável clínica idade da criança ao diagnóstico apresentou correlação positiva

significativa com os escores no domínio verbal, na memória de trabalho e na capacidade

intelectual global. Nesses domínios, observou-se que o desempenho das crianças e

adolescentes diagnosticados antes dos cinco anos de idade foi significativamente inferior

quando comparado às pontuações obtidas pelos participantes cujo diagnóstico ocorreu

apenas após completados os cinco anos. É válido destacar, que embora o desempenho dos

subgrupos no domínio não-verbal tenha se caracterizado como significativamente

discrepantes em relação à idade ao diagnóstico, a análise de associação não identificou

que tal variável esteja particularmente associada a esses resultados.

Consistente com esses dados, Sleurs et al. (2016) encontraram menores escores

de funcionamento intelectual global para pacientes mais jovens ao diagnóstico. Tais

achados fortalecem a hipótese de que o diagnóstico na primeira infância é um fator de

risco para a ocorrência de prejuízos intelectuais nessa população clínica. Em direção

similar, outros estudos verificaram que crianças e adolescentes tratados para LLA em fase

pré-escolar, com o uso apenas da quimioterapia, mostraram redução do funcionamento

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intelectual nos âmbitos global, não-verbal, verbal e no Índice de Resistência à distração

(índice substituído pela IMO na WISC-IV), com pontuações de aproximadamente 1

desvio padrão abaixo dos controles correspondentes (Butler et al., 2013; Lofstad,

Reinfjell, Hestad, & Diseth, 2009;Von der Weid et al., 2003).

A relevância da idade no momento de uma lesão/insulto cerebral tem recebido

cada vez mais atenção em estudos com sobreviventes de LLA, visto que os efeitos

persistentes relacionados a tais adversidades na primeira infância fornecem evidências de

que as crianças pequenas estão em risco particular de sequelas em decorrência da

vulnerabilidade do cérebro imaturo (Anderson et al., 2009).

Lofstad et al. (2009) destacaram que a identificação de alterações cerebrais tardias

em crianças mais jovens ao diagnóstico, tais como a redução do volume de substância

branca, calcificações, alterações na utilização de glicose, dentre outros, fortalece a

hipótese de impactos associados à neurotoxicidade do tratamento profilático em idade

precoce do desenvolvimento. Soma-se a isso o fato de o cérebro jovem, em condições

normais, apresentar acelerado desenvolvimento, marcado pelo aumento no volume da

substância branca, particularmente no lobo frontal, mas também no hemisfério direito e

em conexões cerebrais, sendo estas estruturas de grande importância para o

funcionamento neurocognitivo complexo. Assim, a imaturidade da substância branca em

áreas em rápido desenvolvimento podem tornar as mesmas vulneráveis à toxicidade do

tratamento (Lofstad et al., 2009).

Anderson et al. (2011) ressaltam que muito pouco se sabe acerca dos mecanismos

de plasticidade após um dano cerebral precoce, visto que no contexto da infância é

possível haver a disrupção de processos programáticos de desenvolvimento, a influência

da plasticidade é menos clara e o cérebro imaturo nem sempre se beneficia de tais

processos. Os autores ressaltam que apesar de se reconhecer as vantagens da falta de

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especificidade funcional do cérebro imaturo – com a possibilidade da transferência de

funções de áreas danificadas para áreas não danificadas, por exemplo – as adversidades

sobre o cérebro imaturo também podem refletir "vulnerabilidade", em virtude da afetação

de recursos neurais e da ausência de substratos fundamentais para guiar a recuperação.

Além disso, crianças que sofrem um insulto cerebral generalizado/difuso, a exemplo da

terapia profilática do SNC na LLA, parecem apresentar uma recuperação mais lenta e

resultados piores do que os adultos (Anderson et al., 2011; Anderson & Moore, 1995;

Barnes & Raghubar, 2014).

Além da idade da criança ao diagnóstico, o tempo decorrido desde o fim do

tratamento tem se tornado um fator clínico importante para a compreensão dos efeitos do

tratamento em sobreviventes de LLA na infância, tendo em vista a importância de se

caracterizar a recuperação rápida que ocorre após uma lesão/insulto cerebral e o potencial

para as crianças afetadas manter o ritmo de desenvolvimento dos seus pares.

No presente estudo, a análise inferencial evidenciou resultados significativos

(p=0,022) para o domínio da memória operacional, revelando que o subgrupo de crianças

que estava fora de tratamento há três anos ou mais alcançou pontuações mais rebaixadas

(situadas na classificação limítrofe) que o grupo que havia concluído o tratamento há

menos de três anos. Além disso, a análise de associação também indicou que a variável

tempo de tratamento apresentava correlação com os resultados alcançados pelos sujeitos

no Índice de Memória Operacional.

Esses achados sugerem que os efeitos do tratamento sobre o funcionamento

intelectual, especificamente no que concerne ao domínio da memória de trabalho, função

executiva específica, podem se tornar mais evidentes com o passar dos anos, com

importantes implicações para a prática clínica e, em particular, a necessidade de

acompanhamento em longo prazo. Assim, acredita-se que, embora as crianças apresentem

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um funcionamento dentro do esperado logo após o término do tratamento, com o tempo

e com as crescentes exigências ambientais os sujeitos podem falhar em obter ganhos de

desenvolvimento adequados à idade ou apresentar déficits aparentemente novos

(Anderson et al., 2011).

Estudos que respaldam o modelo de vulnerabilidade precoce documentam

prejuízos em habilidades importantes para a aquisição de conhecimento e

desenvolvimento de aptidões (atenção, aprendizagem, funções executivas) que podem ter

um efeito cumulativo no desenvolvimento contínuo, com déficits crescentes emergindo

ao longo da infância, à medida que se espera à maturação de diversas funções dependentes

das estruturas/tecidos cerebrais danificados (Anderson et al., 2011).

Na adolescência, por exemplo, quando as exigências diárias aumentam,

problemas executivos podem "emergir", dando a impressão de que houve um

agravamento de seus déficits. Adicionalmente, é possível que haja uma aquisição tardia

de habilidades que interferem no funcionamento intelectual, evidenciando-se assim um

retardo progressivo após um insulto cerebral precoce difuso e, portanto, atrasos no

desenvolvimento (Anderson et al., 2011).

Hearps et al. (2016) destacam que processos de maturação como a mielinização e

o desenvolvimento de conexões neuronais complexas são intensos até os cinco anos de

idade – período no qual se concentra o pico de incidência e tratamento da LLA infantil –

e operam de forma programada e sobreposta nesse período crítico para a infância e vital

para o desenvolvimento saudável do cérebro. Nessa perspectiva, estudos que empregaram

métodos avançados de imagem funcional encontraram relações significativas entre a

atividade cerebral frontal e a conectividade intercortical de substância branca e o

funcionamento intelectual (Hearps et al., 2016). Assim, constata-se que a vulnerabilidade

para emergência de déficits cognitivos globais parece ser importante durante os primeiros

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cinco ou seis anos de vida no contexto de insultos difusos, como a quimioterapia

profilática, com bebês e pré-escolares mostrando resultados piores do que as crianças em

idade escolar (Anderson et al., 2009; Anderson et al., 2011).

Os dados descritivos desse estudo mostram também que os resultados do grupo

clínico como um todo se caracterizam por pontuações médias mais rebaixadas na

velocidade de processamento e na memória de trabalho. Contudo, os escores obtidos pelo

grupo clínico na memória de trabalho se destacam como os mais reduzidos, evidenciando

ainda associação significativa com variáveis clínicas que compartilham relação estreita

com os processos desenvolvimentais, a saber, idade ao diagnóstico e tempo desde o fim

do tratamento. Portanto, esses dados sugerem que quanto mais jovens ao diagnóstico e

quanto maior o tempo em que os sobreviventes haviam concluído o tratamento, piores

eram os seus desempenhos no âmbito da memória de trabalho, indicando que esses fatores

clínicos podem interagir e somar-se, produzindo efeitos mais acentuados. Por outro lado,

constatou-se que a velocidade de processamento não apresentou correlação com nenhuma

das variáveis clínicas e sociodemográficas investigadas.

Tais resultados são coerentes com os achados de Schatz, Kramer, Ablin e Matthay

(2000) que investigaram a influência de déficits na velocidade de processamento e na

memória de trabalho sobre a inteligência de 27 sobreviventes de LLA, pareados com

participantes saudáveis. Os resultados encontrados por esses autores revelaram que o

baixo desempenho em memória operacional foi o único fator importante para os

resultados reduzidos no funcionamento intelectual global, constituindo-se em suas

análises como um preditor independente de QI em sobreviventes de LLA (Schatz et al.,

2000).

Schatz et al. (2000) defenderam que a investigação das relações entre memória de

trabalho, velocidade de processamento e inteligência pode ser um caminho promissor na

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compreensão das falhas de crianças para fazer ganhos nos instrumentos de inteligência

após a ocorrência de insultos cerebrais difusos, como os tratamentos antineoplásicos

radioterápico e quimioterápico direcionados ao SNC. As investigações empreendidas por

esses autores estavam pautadas na proposta de desenvolvimento intelectual em cascata de

Fry & Hale (2000), segundo a qual, em crianças com desenvolvimento típico, a

capacidade intelectual progride como resultado de uma cascata de aquisições cognitivas

nos domínios da velocidade de processamento e da memória de trabalho.

Fry e Hale (2000) realizaram um estudo com 214 crianças e adolescentes com

idades entre sete e 18 anos, no qual verificaram que ao longo dos anos e do

desenvolvimento, o aumento da inteligência fluida ocorre associada a progressos na

velocidade de processamento e na memória de trabalho, as quais juntas seriam

responsáveis por 80% da variância nas medidas longitudinais de capacidade intelectual.

Os autores observaram que tanto a velocidade de processamento quanto a memória de

trabalho progridem de forma acelerada em idade precoce, continuam se desenvolvendo

ao longo da infância e atingem o auge de seu funcionamento apenas na idade adulta. Esse

padrão de sofisticação é acompanhado pelo ritmo de aquisição de conhecimentos e

habilidades, indicando forte relação entre a inteligência fluida, a velocidade de

processamento e a memória de trabalho (Fry & Hale, 2000; Palmer, 2008).

Com essa ênfase, Ashford et al. (2010) verificaram que dois anos após completar

o tratamento exclusivamente quimioterápico, 97 pacientes pediátricos apresentaram

déficits na memória de trabalho e na atenção, sugerindo que tais funções são

particularmente sensíveis aos modernos regimes de tratamento nos mais diferentes grupos

de risco, independentemente da intensidade do tratamento. Contudo, a memória de

trabalho se apresentou como um colaborador essencial para o funcionamento intelectual

global, visto que depois de controlados os resultados da avaliação da atenção, a memória

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de trabalho ainda desempenhou um papel significativo nos resultados de QI. Tais dados,

portanto, reforçaram as evidências de que a memória de trabalho pode ser considerada o

principal preditor do declínio do funcionamento intelectual nessa população clínica

(Ashford et al., 2010).

Considerando os resultados encontrados, Ashford et al. (2010) sugeriram que a

quimioterapia sistêmica e intratecal poderiam ocasionar alterações na substância branca,

afetando especialmente o processo de mielinização plena dos lobos frontais, cujo

desenvolvimento é mais prolongado se comparado às demais regiões cerebrais. Assim,

os processos cognitivos associados a essas estruturas, notadamente a memória de

trabalho, seriam particularmente vulneráveis aos fármacos quimioterápicos, resultando

em baixo desempenho no funcionamento intelectual (Ashford et al., 2010).

Ashford et al. (2010) problematizaram ainda que historicamente os estudos

realizados com esta população utilizaram medidas de avaliação de habilidades gerais, tais

como quociente de inteligência global (QI) e desempenho acadêmico, limitando o

estabelecimento de relações entre aspectos específicos do funcionamento cognitivo e os

desempenhos nos instrumentos utilizados, e em consequência disso, prejudicando a

compreensão acerca das alterações possivelmente associadas à terapêutica. A partir dos

seus resultados, os autores defenderam que o declínio no funcionamento intelectual é

secundário a um ou mais déficits em processos cognitivos específicos, especialmente a

memória de trabalho, tornando-se fundamental investigações para além das capacidades

globais, buscando-se evidências de déficits neuropsicológicos específicos.

Schatz et al. (2000) ressaltam que investigações anteriores à sua sobre a relação

entre desenvolvimento, memória de trabalho e velocidade de processamento apontavam

esta última como determinante para o aprimoramento da memória de trabalho ao longo

do desenvolvimento. Todavia, a consideração de que déficits em memória de trabalho são

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mais expressivos em sobreviventes a longo prazo de LLA, mesmo diante da relativa

preservação da velocidade de processamento, sugere a necessidade de revisão do modelo

que propõe a velocidade de processamento como o facilitador principal do

desenvolvimento da memória de trabalho e, consequentemente, do funcionamento

intelectual global (Ashford et al., 2010; Schatz et al., 2000).

Nessa direção, os resultados de Schatz et al. (2000) sugerem ainda a necessidade

de inclusão de outras variáveis mediadoras entre idade e o desenvolvimento da memória

de trabalho, tais como habilidades visoespaciais e fonológicas, e concluem que a

dificuldade no desenvolvimento/funcionamento da memória de trabalho é uma alteração

específica do grupo de sobreviventes de LLA na infância.

Com estudos semelhantes no âmbito da oncologia pediátrica, Palmer (2008)

propôs que os déficits intelectuais e acadêmicos apresentados por crianças sobreviventes

de câncer no SNC seriam marcadores distais secundários associados a déficits em funções

básicas específicas – incluindo-se a velocidade de processamento, a atenção e a memória

de trabalho sem, contudo, se limitar a elas – que, por sua vez, estão relacionadas a danos

subjacentes a substratos neuroanatômicos. Esta autora acrescenta ainda que dificuldades

no domínio da atenção sustentada seriam resultantes de uma dificuldade em armazenar

temporariamente as representações mentais necessárias para guiar o comportamento,

habilidade que se associa fortemente com o domínio da memória de trabalho.

A partir de suas investigações e em coerência com os dados construídos no

presente estudo, Palmer (2008) verificou a ocorrência de declínios intelectuais mais

significativos em crianças e adolescentes com menos de cinco anos ao diagnóstico, que

estavam a um tempo maior fora de tratamento e cujas mães tinham um nível de

escolaridade mais reduzido. A partir desses dados, recomendou ser de fundamental

importância agregar variáveis sociodemográficas como aspectos críticos para a

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compreensão das relações entre o neurodesenvolvimento, às funções cognitivas

correspondentes e a caracterização dos mecanismos através dos quais a doença e seu

tratamento conduzem a déficits intelectuais e acadêmicos, sugerindo a partir disso um

modelo mais ampliado para a compreensão dos efeitos neurocognitivos associados aos

processos de adoecimento e tratamento do câncer infantil, conforme pode ser visto na

Figura 4 (Palmer, 2008).

Figura 4. Modelo conceitual proposto por Palmer (2008) para compreender os impactos neurodesenvolvimentais do diagnóstico e tratamento de câncer no SNC na infância. Nota: Linhas sólidas: associações derivadas da revisão de literatura realizada por Palmer (2008); Linhas tracejadas: áreas sugeridas para pesquisas futuras.

Palmer (2008) ressaltou que sua proposta de modelo se constitui como um

direcionamento para pesquisas posteriores em oncologia pediátrica, visando à construção

de dados que contribuam para o estabelecimento da relação entre domínios cognitivos

fundamentais destacados em seu modelo, possibilitando um maior detalhamento dos

efeitos do tratamento sobre o funcionamento intelectual e as habilidades acadêmicas

dessa população. O objetivo maior de tais esforços seria o desenvolvimento de

intervenções precoces sobre esse encadeamento de alterações cognitivas, visando

interferir no curso de reorganização e desenvolvimento após o insulto e possibilitar a

minimização de sequelas cognitivas tardias (Palmer, 2008).

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Para Schatz et al. (2000), a evidência de que as sequelas progridem com o passar

dos anos ou até mesmo emergem tardiamente também sinaliza fortemente para uma

interação entre o tratamento e os processos desenvolvimentais. Assim, compreender os

mecanismos responsáveis pelo surgimento tardio de déficits pós-tratamento da LLA tem,

igualmente, implicações para a compreensão do curso de outras condições pediátricas

(Schatz et al., 2000).

Palmer (2008) lembra ainda que boa parte dos estudos tem se concentrado na

discussão acerca do risco de déficits em funções cognitivas, contudo também é necessário

atentar para os aspectos de resiliência identificados entre os sobreviventes do câncer

infantil. Pois, apesar dos resultados negativos, comumente apresentados pelos estudos, é

importante lembrar que há vasta variabilidade entre os indivíduos dentro desses grupos.

Nem todos os pacientes seguem as tendências esperadas em relação aos resultados

neurocognitivos e intelectuais inferiores. Dessa forma, além de fatores de tratamento,

possíveis explicações podem residir na análise de ambientes de casa, da escola e da

comunidade dos pacientes (Palmer, 2008).

Desse modo, é possível concluir que os dados construídos a partir do presente

estudo podem ampliar o diálogo entre os modelos propostos e estudados por Fry e Hale

(1996), Schatz et al. (2000) e Palmer (2008), bem como em relação aos avanços

alcançados através da investigação desenvolvida mais recentemente por Ashford et al.

(2010). Nesse contexto, a ocorrência de pontuações mais reduzidas na memória de

trabalho e mais sutis na velocidade de processamento, reforçam que aquele parece ser um

domínio cognitivo específico sensível ao tratamento da LLA, exercendo, por sua vez,

influência sobre as pontuações mais reduzidas no domínio intelectual global.

Adicionalmente, os resultados dessa pesquisa são também coerentes com modelos

de desenvolvimento que defendem a susceptibilidade do cérebro imaturo,

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fundamentando-se, para tanto, em estudos neuroanatômicos que evidenciam mudanças

contínuas do SNC após lesão cerebral precoce e investigações neuropsicológicas que

apontam uma associação semelhante para o desenvolvimento cognitivo. A observação

tardia de déficits na memória de trabalho sugere também que habilidades que estão em

fase crítica de desenvolvimento durante o tratamento podem ser particularmente

suscetíveis a rupturas (Anderson, Godber, Smibert, Weiskop, & Ekert, 2000).

Ressalta-se, ainda, que no presente estudo foi possível encontrar resultados

inconsistentes com a literatura da área em termos do papel da variável risco de recaída

da doença (alto risco e baixo risco) para o surgimento de déficits cognitivos. É

interessante notar que o subgrupo de crianças que realizou o tratamento mais intensivo

(alto risco), comumente descrito como mais vulnerável aos efeitos dos fármacos, obteve

melhores resultados no domínio não-verbal (IOP) se comparado ao subgrupo de crianças

submetidas a tratamento menos intensivo (baixo risco). Para Halsey et al. (2011) os

diferentes fatores de risco, associados à presença de efeitos cognitivos decorrentes do

tratamento quimioterápico profilático, podem interagir entre si, dando origem a resultados

adversos e inconsistentes. Também em contraste com a literatura, os dados desse estudo

indicaram maiores valores do índice de compreensão verbal em participantes do grupo

clínico do sexo feminino do que naqueles do sexo masculino, mas sem diferenças

estatísticas em outros domínios do funcionamento intelectual. Nesse contexto, Krawczuk-

Rybak et al. (2012) propõem que as diferenças na mielinização e maturação de várias

regiões do cérebro durante o processo de desenvolvimento de meninos e meninas podem

estar subjacentes a tais resultados que merecem investigações futuras mais aprofundadas.

Nessa perspectiva, a literatura atual sobre crianças diagnosticadas e tratadas para

neoplasias frequentes na infância, como a leucemia e os tumores de fossa posterior,

delineiam o início de modelos conceituais que ilustram as prováveis relações entre os

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tratamentos, substratos neuronatômicos, funções cognitivas fundamentais e habilidades

secundárias de espectro global (Palmer, 2008). Os estudos sugerem ainda que as

principais habilidades afetadas são essenciais para o desenvolvimento de um

funcionamento executivo complexo, como o planejamento, a resolução de problemas e a

tomada de decisões, o que, por sua vez, afeta o sucesso acadêmico, profissional e a

qualidade de vida de sobreviventes de LLA na infância (Hearps et al., 2016). Contudo, a

ausência de acompanhamento neuropsicológico sistemático de crianças e adolescentes

diagnosticados com LLA dificulta a elucidação quanto ao surgimento e evolução de

alterações cognitivas específicas e globais.

Nesse sentido, acredita-se que os dados construídos no presente estudo

corroboram a necessidade de se considerar a complexidade relacionada aos processos de

desenvolvimento e aprendizagem em um contexto bastante adverso como o diagnóstico

e o tratamento da leucemia infantil. O conjunto das crianças participantes, além de

diferentes protocolos de tratamento a que foram submetidas, notadamente em termos de

dosagens (ajustadas às idades e às classificações de risco de recaída) estão inseridas

também em: diferentes contextos socioculturais; fases de desenvolvimento diversificadas

quando do diagnóstico e do tratamento; distintos intervalos de exposição aos fármacos,

de forma que se encontra em diferentes etapas de reorganização funcional, e; em

combinações destas variáveis, que podem gerar impactos singulares a depender do

resultado desta interação.

Ratifica-se, assim, a relevância de estudos posteriores, longitudinais, com ampla

amostra de sujeitos, preferencialmente multicêntricos, que busquem consolidar as

relações entre déficits cognitivos específicos, alterações neurais subjacentes e

funcionamento intelectual reduzido, com vistas ao desenvolvimento de modelos

conceituais compreensivos que abarquem a multiplicidade de fatores clínicos,

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neurocognitivos e sociodemográficos associados tanto à suscetibilidade como à

resiliência e/ou proteção para a emergência de alterações neuropsicológicas.

4.5 Considerações Finais

Os resultados do presente estudo fortalecem a hipótese de que o tratamento apenas

quimioterápico da LLA na infância interfere nos mecanismos de neurodesenvolvimento,

sendo seguido por alterações no funcionamento intelectual global. Apesar de resultados

em sua maioria dentro da faixa de normalidade, observam-se diferenças substanciais de

desempenho entre o grupo clínico e crianças e adolescentes saudáveis pareados de acordo

com aspectos sociodemográficos. Esse estudo revelou pontuações reduzidas mais

evidentes no domínio da memória operacional e em subgrupos específicos, a saber,

crianças e adolescentes mais jovens ao diagnóstico, que estavam há um tempo maior fora

de tratamento e que tinham mães com escolaridade mais reduzida.

Os resultados apresentados e suas discussões reforçam que os estudos acumulados

evidenciando sequelas cognitivas após o tratamento da LLA na infância precisam ser

considerados pelas escolas e profissionais de saúde que lidam com essas crianças e

adolescentes. O funcionamento intelectual rebaixado é um fator de risco para problemas

de saúde mental, disfunção psicossocial e problemas escolares. Nesse sentindo,

programas de intervenção devem ser construídos para acompanhamento a longo prazo,

voltados à identificação e minimização dos efeitos associados a déficits no funcionamento

intelectual (Lofstad et al., 2009).

Pesquisas posteriores fundamentadas em modelos explicativos e compreensivos

que possam utilizar análises de regressão, e assim, contemplem a ideia de predição e do

déficit em cascata poderão ofertar grande auxílio no esclarecimento dos principais

aspectos envolvidos com impactos sobre o funcionamento intelectual após o tratamento

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da LLA. Adicionalmente, estudos em áreas diversas da oncologia pediátrica pautadas

notadamente sobre a Neuropsicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem podem se

somar na construção de metodologias de investigação, compreensão e intervenção sobre

os efeitos a longo prazo vivenciados pelos sobreviventes do câncer infantil.

Tanto os resultados de estudos transversais como longitudinais têm

problematizado que a redução do funcionamento intelectual em pacientes oncológicos

pediátricos, que realizam tratamentos direcionados ao SNC está associada a déficits em

funções cognitivas centrais, incluindo, mas não se limitando, a memória de trabalho, a

velocidade de processamento e a atenção. Contudo, mais esforços são necessários para

compreender tais relações, tanto entre essas funções, como entre cada uma delas e o

funcionamento intelectual, somados ainda à ação dos fármacos quimioterápicos que

atravessam o processo neurodesenvolvimental em curso nesses pacientes pediátricos. Por

fim, o mapeamento dos fatores clínicos e sociodemográficos relacionados a maiores

impactos é essencial para a identificação precoce daqueles que podem estar em risco

particular de declínio cognitivo.

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5. Estudo 2: Atenção e funções executivas em pacientes pediátricos

sobreviventes de leucemia linfoide aguda

5.1 Introdução

À medida que a sofisticação das estratégias terapêuticas tem proporcionado à

melhoria no prognóstico e elevado os índices de sobrevida das crianças diagnosticadas

com LLA, evidenciam-se as formas através das quais os tratamentos antineoplásicos bem

sucedidos podem afetar o neurodesenvolvimento, o funcionamento cognitivo, aspectos

socioafetivos e a aprendizagem a longo prazo (Genschaft et al., 2013).

As evidências de que declínios cognitivos específicos precedem a expressão

clínica dos sintomas vivenciados por esses sobreviventes, reforçam as implicações que a

identificação de fatores de risco tem como preditores dos impactos funcionais, podendo

conduzir a melhores tratamentos e estratégias de intervenção (Swier-Vosnos, 2013). Entre

os domínios cognitivos frequentemente abordados como prejudicados após o tratamento

da LLA infantil destacam-se a atenção e as funções executivas, com ênfase na repercussão

de déficits nessas habilidades sobre a aprendizagem e aspectos comportamentais na

escola e em situações sociais (Dwelle et al., 2013).

Mulhern e Palmer (2003) consideram que muitos dos déficits centrais vivenciados

pelos sobreviventes de LLA são definidos pelo termo "funções executivas",

caracterizadas pela capacidade de alocar recursos atencionais e organizar o

comportamento e o pensamento. Jacola et al. (2016) acrescentam que os efeitos

neuropsicológicos sobre as atividades diárias nesse grupo clínico podem se intensificar

durante a adolescência, em virtude das maiores expectativas em atividades que envolvem

planejamento, organização e comportamento autodirigido, aspectos inerentes às

habilidades executivas.

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Estudos nessa direção apontam que alterações nos mecanismos atencionais e nas

funções executivas relacionam-se em geral a lesões em áreas frontais e/ou a disrupção de

vias subcorticais-corticais que conectam os lobos frontais a outras regiões do cérebro,

resultando em impactos sobre a aprendizagem, atividades profissionais e qualidade de

vida dos indivíduos, dado o relevante papel que desempenham para o pleno

funcionamento cognitivo (Swier-Vosnos, 2013).

Pesquisas atuais indicam que os mecanismos subjacentes a tais alterações incluem

efeitos neurotóxicos diretos que levam à atrofia da substância cinzenta e/ou

desmielinização de fibras de substância branca, respostas imunológicas secundárias que

causam reações inflamatórias e lesões microvasculares. Postula-se, ainda, que diferenças

individuais podem conduzir a maior vulnerabilidade, sendo necessária a investigação de

aspectos genéticos e outros fatores de risco relacionados a impactos sobre o

neurodesenvolvimento (Moore et al., 2013; Zeller et al., 2013).

Nessa perspectiva, esse estudo volta-se para a investigação e problematização dos

fatores relacionados aos impactos negativos evidenciados nos domínios da atenção e

funções executivas em crianças e adolescentes sobreviventes da LLA. O domínio da

atenção é de interesse particular visto que prejuízos nessa habilidade podem comprometer

todo o funcionamento cognitivo. Somado a isso, efeitos sobre as funções executivas

emergem de forma global afetando diferentes aspectos do comportamento e do

desenvolvimento do sujeito. Ressalta-se ainda, que o maior aprofundamento dessa

temática se faz necessário, à medida que é amplamente defendido na literatura da área

que a ocorrência de alterações no desenvolvimento desses domínios específicos está

subjacente ao rebaixamento intelectual e acadêmico em crianças sobreviventes de LLA,

contudo são escassos estudos sistemáticos acerca dos domínios específicos afetados em

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meio a diversidade de funções que são denominadas como funções executivas (Dwelle et

al., 2013; Lezak, Howieson, Bigler & Tranel, 2012).

Para melhor compreensão dessa discussão serão apresentados brevemente

aspectos conceituais e de desenvolvimento dos domínios da atenção e funções executivas

que serão considerados para o presente estudo.

5.1.1 Atenção e Funções Executivas: conceitos e desenvolvimento

A atenção é responsável pelo processamento de quantidade limitada de

informações provenientes do meio externo ou produzidas no interior do corpo do sujeito

(Luria, 1981; Lezak et al., 2012). As habilidades concernentes ao construto da atenção

dizem respeito à capacidade de focar ou selecionar estímulos específicos, à concentração,

à manutenção do estado de alerta e observação (vigilância), à inibição de estímulos

distratores ou irrelevantes, bem como à alternância entre estímulos diferenciados. Vale

ressaltar que estas diversas habilidades atuam de forma conjunta ou sobreposta,

especialmente em colaboração com outras habilidades cognitivas (Glozman, 2014; Lezak

et al., 2012).

A atenção caracteriza-se como mais elementar e involuntária nos primeiros meses

de vida. Por volta dos seis meses de vida, a criança começa a adquirir uma orientação

endógena que vai se solidificando até os dois anos de idade, período que se observa

funcionamento atencional mais direcionado e seletivo que dá suporte a um

comportamento mais organizado. Aos quatro ou cinco anos crianças em desenvolvimento

típico já estão aptas a realizar a inibição de estímulos distratores de forma mais eficiente,

de modo que no período escolar, processos mais seletivos – estruturados a partir de uma

atenção socialmente organizada, notadamente, pela linguagem – são desenvolvidos. A

consolidação do funcionamento atencional pode se prolongar até a adolescência, em

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função de processos volitivos, que são mediados por áreas cerebrais em pleno

desenvolvimento (Muszkat, 2008).

Assim, como não é reconhecida como um único construto, a atenção também não

é vista como produto de uma área cerebral específica, de forma que o seu funcionamento

adequado demanda o funcionamento integrado e dinâmico do cérebro, realizado através

de redes neurais corticais e subcorticais. Nesse âmbito, a formação reticular está

implicada nas formas mais básicas da atenção e dos diversos níveis de vigília. O sistema

límbico, por sua vez, atua no aspecto motivacional da atenção, assegurando a seleção de

estímulos relevantes e a habituação da informação repetida. O complexo refinamento que

caracteriza os sistemas atencionais desenvolvidos mais tardiamente, notadamente a

atenção voluntária, envolvidos com o comportamento programado e a inibição de

estímulos distratores, está relacionado à atuação das áreas frontais, diretamente

relacionadas à atividade do componente executivo da atenção, bem como aos processos

de atenção dividida e a flexibilidade da atenção, ou seja, vinculadas às habilidades

conhecidas como funções executivas (Muszkat, 2008).

As funções executivas referem-se ao conjunto de habilidades cognitivas que

atuam de forma integrada e permitem ao indivíduo a elaboração de planejamento,

realização e regulação de comportamentos complexos dirigidos a um objetivo específico

(Hamdan & Pereira, 2009; Seabra, Reppold, Dias, & Pedron, 2014). Para Lezak et al.

(2012) as funções executivas consistem naquelas capacidades que permitem ao indivíduo

engajar-se com sucesso em comportamentos independentes, intencionais e

autorregulados.

Santos (2004) declara que apesar da ausência de consenso quanto à terminologia,

bem como à diversidade das habilidades que integram as funções executivas, algumas

características são claramente constituintes desse domínio, quais sejam: a) estão

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relacionadas ao controle voluntário e consciente sobre os aspectos do meio e sobre as

ações necessárias para se chegar a uma meta específica; b) sua expressão envolve a

integração de aspectos sensoriais, cognitivos e comportamentais; c) não se configura

como uma entidade única, à medida que abrange processos de controle de função

distintos; d) sua atuação se dá na orientação e coordenação de funções cognitivas,

comportamentais e emocionais.

As funções executivas permitem o controle top-down do comportamento, atuando

em situações/ações novas e raras, especialmente aquelas nas quais o processamento

automático não é apropriado ou suficiente (Diamond, 2013). Goldberg (2002) ressalta

que tais habilidades estão relacionadas à atividade dos lobos frontais, conforme

identificado na presença de déficits executivos relacionados a alterações nessas estruturas

cerebrais. Sabe-se, ainda, que as áreas frontais apresentam um curso de desenvolvimento

mais prolongado que outras regiões cerebrais, adquirindo sua funcionalidade plena a

partir da idade adulta e correlacionando-se com a emergência e evolução das funções

executivas (Seabra et al., 2014). Assim, relacionadas frequentemente ao desenvolvimento

e funcionamento dos lobos frontais, as funções executivas estão no cerne do conjunto de

funções mais sofisticadas do homem, apresentando uma configuração do tipo hierárquica

que se caracteriza por abarcar habilidades básicas e complexas (Flores-Lázaro &

Ostrosky-Shejet, 2012; Goldberg, 2002).

O estudo sobre o desenvolvimento neuropsicológico das funções relacionadas

com os lobos frontais teve início na última década do século passado e se consolidou

durante a primeira década deste século. Em termos de desenvolvimento ontogenético,

apesar de atingirem sua maturidade mais tardiamente, as funções executivas iniciam o

seu desenvolvimento já no primeiro ano de vida, revelando que se caracteriza como um

processo bastante prolongado e multideterminado (Hamdan & Pereira, 2009; Malloy-

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Diniz, Sedo, Fuentes & Leite, 2008). Nessa direção, estudos contemporâneos sugerem

que as habilidades específicas que integram as funções executivas são menos

diferenciadas na infância, de forma que com o desenvolvimento sucessivo tais domínios

tornam-se mais distintos e interdependentes (Seabra et al., 2014).

Diversos estudos sobre o desenvolvimento das funções executivas buscam

compreender as principais alterações que ocorrem notadamente entre os três e os seis anos

de idade. Tal enfoque se justifica por se observar que as crianças pré-escolares apresentam

dificuldades em tarefas ou situações que exigem controle inibitório, regulação da atenção,

flexibilidade cognitiva, desenvolvimento de estratégias para resolução de problemas,

planejamento, dentre outras habilidades. Contudo, melhores resultados nessas tarefas são

vistos com o avanço da idade, sugerindo que as funções executivas se encontram em

desenvolvimento gradual durante a infância e adolescência. Em paralelo, estudos de

neuroimagem evidenciam que nesses períodos se observam os processos maturacionais

que estruturam o córtex pré-frontal e suas conexões com as demais regiões cerebrais

(Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

O uso de estratégias diferenciadas no âmbito da pesquisa, a exemplo de técnicas

de neuroimagem e instrumentos da neuropsicologia e da neurofisiologia tem aludido à

necessidade de diferenciação das habilidades e componentes das funções executivas

(Hamdan & Pereira, 2009). Adjacente à proposição da diferenciação entre tais

componentes, diversos autores elaboram modelos que representam à interação dinâmica

entre os mesmos (Malloy-Diniz et al., 2008).

Flores-Lázaro e Ostrosky-Shejet (2012) propuseram um modelo conceitual que

estrutura as funções frontais e executivas em quatro níveis hierárquicos: no nível mais

básico encontram-se as funções frontais básicas (controle inibitório, controle motriz e

detecção de seleção de risco); no segundo nível encontra-se o sistema de memória de

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trabalho; no terceiro nível estão as funções executivas (planejamento, fluidez,

produtividade, sequenciamento, flexibilidade cognitiva, geração de hipóteses de

classificação, eficiência, etc.); por fim, com um maior nível de complexidade estão as

metafunções (metacognição, abstração e compreensão do sentido figurado) (Flores-

Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Para Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet (2012) cada uma das funções frontais e

executivas apresentam características, ritmos e complexidade de desenvolvimento

específicas. Tal perspectiva defende que tais habilidades se estruturam em quatro etapas:

1) funções de desenvolvimento muito precoce; 2) funções de desenvolvimento precoce;

3) funções de desenvolvimento intermediário, e; 4) funções de desenvolvimento tardio

(Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Na primeira etapa encontra-se o desenvolvimento da habilidade de identificação

de escolhas de risco na tomada de decisões, bastante associada ao funcionamento do

córtex orbitofrontal. Apesar dos escassos estudos nessa direção, observa-se que por volta

dos 4-5 anos as crianças apresentam bom desempenho em tarefas dessa natureza, com

resultados próximos aqueles alcançados por adolescentes e adultos por volta dos oito anos

(Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Na fase seguinte destaca-se o desenvolvimento de habilidades como controle

inibitório, controle motor e memória de trabalho visual. O controle inibitório ou inibição

diz respeito à capacidade de controlar comportamentos inadequados (autocontrole), bem

como a atenção e os pensamentos (controle de interferência), sendo essa capacidade

amplamente associada ao funcionamento do córtex frontomedial. Já o controle motor é

constituído por processos subjacentes a habilidade de adaptar-se e controlar de modo

flexível os processos cognitivos e a conduta de acordo com as demandas do ambiente e

metas específicas. Tais habilidades estão frequentemente relacionadas ao funcionamento

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do córtex orbitofrontal, especialmente o giro frontal. A memória de trabalho visual refere-

se à capacidade em manter na memória de trabalho informações visuais enquanto se

realiza uma atividade comportamental ou cognitiva. Essa habilidade tem sido bastante

associada ao mecanismo de funcionamento do córtex pré-frontal dorsolateral-ventral.

Nessa perspectiva, os mecanismos relacionados ao desenvolvimento das funções

executivas de desenvolvimento precoce parecem consolidar o seu desenvolvimento por

volta dos nove ou 10 anos quando atinge um funcionamento semelhante ao do adulto

(Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Em uma terceira etapa encontra-se o desenvolvimento das funções executivas

intermediárias, dentre as quais se destacam: 1) processamento risco-benefício, habilidade

em identificar as probabilidades do risco e benefícios em uma determinada tarefa,

amplamente relacionada à interação de diferentes regiões do córtex orbitofrontal e do

córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL); 2) memória de trabalho visoespacial sequencial

e verbal de ordenamento, capacidade em manter na mente informações sequenciadas e

realizar atividades de ordenamento mental de informações de natureza visoespacial ou

verbal, relacionadas também ao bom desenvolvimento do CPFDL; 3) flexibilidade

cognitiva, capacidade para inibir uma estratégia cognitiva ou sequência de ação e produzir

uma resposta alternativa, bastante relacionada também ao bom funcionamento do CPFDL

esquerdo; 4) planejamento, refere-se à habilidade de selecionar e ordenar esquemas de

ação para resolver um problema, destacando-se mais uma vez no estabelecimento de

metas a atuação do CPFDL esquerdo. O desenvolvimento dessas funções se caracteriza

por diferenças importantes ao longo da infância e por alcançar seu desempenho máximo

principalmente no início da adolescência. Essas habilidades apresentam diferenças

relevantes entre crianças de seis a oito anos, nove a 11 anos e a partir dos 12 anos, sendo

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o planejamento a que mais tarde alcança o seu desenvolvimento, entre os 13 e 15 anos de

idade (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Em um último estágio apresentam-se as funções executivas de desenvolvimento

tardio, quais sejam: 1) fluência verbal, geração ativa e eficiente de palavras, associada ao

funcionamento de giro frontal inferior correspondente a área de Broca (44 y 45); 2)

geração de categorias abstratas, capacidade em identificar os traços abstratos dos

estímulos apresentados e organizá-los em categorias, relacionada à atuação do córtex pré-

frontal anterior, inicia-se por volta dos oito anos, mas começa a ser competente entre 11

e 12 anos, desenvolvendo-se de forma linear até a juventude; 3) compreensão de sentido

figurado, relacionada às tarefas de compreensão de provérbios, requerem o bom

desenvolvimento e funcionamento do córtex pré-frontal anterior, podendo ser realizada

com bom desempenho por crianças entre 12 e 13 anos de idade; 4) metacognição, inclui

atividades como julgamentos da aprendizagem e do desempenho, possíveis de serem

realizadas com crianças acima dos 10 anos de idade para estimar os tipos de dificuldades

em seu desempenho cognitivo, com melhores resultados entre 12 e 15 anos e consolidação

a partir dos 16 (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Assim, conforme aponta Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet (2012) o conceito das

funções executivas converge em diversos processos ainda não bem estabelecidos

conceitualmente e metodologicamente, apresentando-se a seguir às funções executivas e

frontais mais estudadas e que serão abordadas na presente pesquisa:

• Controle inibitório ou inibição – capacidade de controlar comportamentos

inadequados (autocontrole), inibir uma resposta impulsiva, inibir um padrão de resposta

quando esse já não é relevante ou útil, regulando assim o comportamento, a atenção e os

pensamentos (controle de interferência) (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012; Seabra

et al., 2014);

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• Memória de trabalho – habilidade em manter a informação na mente

durante a resolução de um problema específico, possibilitando a manipulação mental de

informações, a atualização de dados relevantes para uma atividade, a integração de

informações atuais com outras retidas na memória de longo prazo, a lembrança de séries

ou encadeamentos de acontecimentos, bem como projeção de ações ordenadas (Baddeley,

2000; Diamond, 2013; Seabra et al., 2014). Diferencia-se dos modelos de armazenamento

de memória de curto prazo, exercendo um controle dinâmico e ativo, à medida que produz

um armazenamento temporal, linear e ativo da informação, que pode se manter por certo

tempo para se realizar uma ação, um conjunto de ações ou se resolver um problema. É

fundamental para diversas tarefas e atividades da vida diária, sendo de extrema

importância no processamento do significado e sintaxe das orações, no raciocínio e na

resolução de problemas. O sistema de memória de trabalho desenvolvido por Baddeley e

Hitch nos anos 70 é composto por um administrador central – responsável pelo controle

da atenção, seleção de estratégias cognitivas e coordenação das informações que

emergem de diferentes fontes –, e dois subsistemas: 1) a alça fonológica, encarregada de

armazenar informações verbais; 2) a alça visoespacial, responsável pelo arquivamento de

informações de natureza visoespacial. Somado a tais componentes, Baddeley (2000)

propôs um quarto subsistema, o buffer episódico responsável por integrar as informações

mantidas temporariamente na memória de trabalho com aquelas armazenadas nos

sistemas mnemônico de longo prazo (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012; Mello,

2008).

• Flexibilidade cognitiva – capacidade de alternar o foco atencional,

perspectivas, prioridades ou regras e adaptar-se às necessidades do meio. Diamond (2013)

defende que essa habilidade integra, de alguma forma, a inibição e a memória de trabalho,

visto que para resolver um problema a partir de uma nova perspectiva, é salutar inibir à

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abordagem anterior e acionar a memória de trabalho para alcançar novo enfoque para

solucionar a demanda emergente (Seabra et al., 2014). Implica ainda na geração e seleção

de novas estratégias dentro de múltiplas opções para desenvolver uma tarefa,

constituindo-se como uma habilidade para mudar um esquema de ação ou pensamento à

medida que este se torna ineficiente diante das condições em que se realiza (Flores-Lázaro

& Ostrosky-Shejet, 2012).

• Planejamento – habilidade de suma importância para o comportamento

humano, podendo ser caracterizada como a capacidade para integrar, sistematizar e

desenvolver os passos necessários para alcançar metas a curto, médio e longo prazo.

Nessa perspectiva, Luria ressalta que às atividades mais produtivas do homem estão

subjacentes a capacidade de planejamento (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012);

• Fluência Cognitiva – diz respeito à capacidade de selecionar e produzir de

modo eficiente respostas ou material de natureza verbal (palavras) ou não verbal

(desenhos, figuras). É comumente mensurada na avaliação das funções executivas, tendo

em vista que as atividades propostas requerem estratégias de categorização com vistas à

produção e evocação de um elevado número de palavras ou figuras em um tempo

determinado. Adicionalmente, estudos apontam maior sensibilidade e relação dessa

habilidade mediante alterações frontais esquerdas e frontoestriatais (Flores-Lázaro &

Ostrosky-Shejet, 2012; Lezak et al., 2012).

5.1.2 Atenção e funções executivas em crianças e adolescentes sobreviventes de

LLA

O adequado desenvolvimento e funcionamento do cérebro depende de múltiplos

fatores, como a maturação dos circuitos dos lobos frontais – especialmente do córtex pré-

frontal –, bem como de outras áreas cerebrais, tanto corticais como subcorticais, e a

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eficiente interação entre estas e o córtex pré-frontal. Depende igualmente da natureza e

complexidade das tarefas propostas aos sujeitos e da estimulação ambiental ao longo do

seu desenvolvimento. No início da infância, em especial durante a idade pré-escolar, são

observadas alterações maturacionais que moldam o córtex pré-frontal e suas conexões

com o resto do cérebro. Nessa etapa, as crianças incrementam gradualmente a sua

capacidade de se orientar para o futuro em diversos aspectos do funcionamento cognitivo,

possibilitando a execução mais eficiente de diferentes tarefas. O conjunto de mudanças

que ocorrem nessa fase é essencial para o desenvolvimento do indivíduo e o

conhecimento sobre a evolução desses processos, bem como a relação entre eles,

ampliando a compreensão acerca da constituição e processamento das funções executivas

(Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Somado a isso sabe-se que o pico de incidência da LLA encontra-se entre dois e

cinco anos de idade, o que determina a exposição destas crianças a fármacos

potencialmente neurotóxicos na primeira infância, período caracterizado

fundamentalmente por acelerada maturação cerebral e rápido desenvolvimento cognitivo

relacionados à mielinização das vias nervosas, proliferação sináptica e crescimento das

estruturas cerebrais (Kaiser, Bledowski, & Dietrich, 2014; Morioka et al., 2013).

O desenvolvimento e maturação dos lobos frontais e conectividade da substância

branca se prolongam até o início da idade adulta. Como tal, envolvem as habilidades

cognitivas de maior complexidade que parecem ser especialmente vulneráveis a insultos

precoces, em especial ao tratamento quimioterápico direcionado ao SNC, acarretando

prejuízos ao adequado desenvolvimento cognitivo em curso e comprometendo aquisições

cognitivas futuras (Muszkat, 2008; Rosselli & Matute, 2010).

Estudos com animais e humanos evidenciam cada vez mais que agentes

quimioterápicos estão associados a danos estruturais e funcionais ao tecido cerebral,

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expressos principalmente através de redução de volume e prejuízos microestruturais à

substância branca (Kaiser et al., 2014; Morioka et al., 2013). A quimioterapia está

subjacente a danos a células progenitoras neurais, bem como a alterações no padrão de

ativação de redes neurais envolvidas em funções cognitivas superiores. Embora a

quimioterapia intratecal esteja mais fortemente associada a danos ao tecido nervoso,

notadamente alterações na substância branca, tratamentos sistêmicos endovenosos

também estão ligados a prejuízos importantes, os quais se expressam cognitivamente em

déficits específicos em atenção e funções executivas (Kaiser et al., 2014; Nelson,

Compton, Patel, Jacob, & Harper, 2012).

Dwelle et al. (2013) defendem que os efeitos decorrentes do tratamento

oncológico infantil ocorrem porque à medida que os protocolos de tratamento atuam para

destruir células leucêmicas e inibir a metástase no SNC, também há eliminação de células

saudáveis do corpo que se encontra em amplo desenvolvimento. Nessa direção, as

primeiras pesquisas com técnicas de neuroimagem que avaliaram alterações do volume

das substâncias branca e cinzenta em sobreviventes de LLA, tratados apenas com

quimioterapia na infância, indicaram reduções principalmente em regiões frontais e

cerebelo (Carey et al., 2008; Kaiser et al., 2014; Reddick et al., 2006).

Ressalta-se que os lobos frontais são os últimos a se desenvolver totalmente em

relação à substância branca cerebral, com a mielinização estendendo-se até a terceira

década de vida. Dado este desenvolvimento prolongado, os processos cognitivos

suportados pelos lobos frontais podem ser particularmente sensíveis à neurotoxicidade

associada à terapia dirigida ao SNC, justificando a necessidade de maior investigação dos

mesmos com vistas à elucidação de vias potencialmente vulneráveis (Ashford et al.,

2010).

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Nessa direção, Krull et al. (2013) investigaram efeitos neuropsicológicos em 214

adultos sobreviventes de LLA na infância que realizaram tratamento profilático apenas

quimioterápico. Os resultados indicaram que a exposição à dexametasona foi associada a

impactos na atenção e funções executivas e o uso da hidrocortisona intratecal elevou o

risco de problemas atencionais. Esses achados sugeriram ainda que os impactos nas

funções executivas progridem junto ao tempo desde o diagnóstico. Para os pesquisadores,

esse efeito pode ser um resultado de diversos processos, dentre os quais se destacam: 1)

as funções executivas continuam o seu desenvolvimento durante toda a infância,

adolescência e idade adulta, de forma que uma lesão precoce pode alterar a trajetória de

desenvolvimento de habilidades que se estruturam mais tardiamente; 2) os sobreviventes

estão em risco de maiores problemas crônicos de saúde à medida que envelhecem e tais

condições podem ter impacto sobre o funcionamento executivo (Krull et al., 2013).

De forma semelhante, Morioka et al. (2013) utilizando ressonância magnética com

imagens por tensor de difusão concluíram que a quimioterapia utilizada em crianças com

neoplasias hematológicas afetavam a substância branca em regiões frontais. Os autores

reiteraram que o grau de vulnerabilidade à quimioterapia pode ser atribuído à evolução

gradual do processo de mielinização que progride das regiões inferiores para as superiores

e das posteriores para anteriores, apresentando-se de forma mais prolongada nas regiões

frontais com maior suscetibilidade aos agentes neurotóxicos (Morioka et al., 2013).

Constata-se assim que o uso de técnicas de neuroimagem em sobreviventes

evidenciam que reduções do volume e da integridade da substância branca relacionadas

ao tratamento podem ser preditores de pior desempenho em medidas de atenção e funções

executivas, habilidades dependentes da atividade do córtex frontal e suas redes de

conexões. Os principais achados nessa direção, sugere que dificuldades atencionais e

sintomas de impulsividade e hiperatividade permanecem estáveis ou pioram em pacientes

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pediátricos do sexo feminino e naqueles pacientes tratados em idades mais jovens (Jacola

et al., 2016).

Assim, de modo geral, os impactos vivenciados por crianças e adolescentes

sobreviventes de LLA abrangem especialmente os seguintes domínios: 1) atenção

(Ashford et al., 2010; Buizer, Sonneville, van den Heuvel-Eibrink, & Veerman, 2005;

Butler et al., 2013; Moyer et al., 2012); 2) memória de trabalho (Ashford et al., 2010;

Reddick & Conklin, 2010); 3) controle inibitório, e; 4) flexibilidade cognitiva (Gomes et

al., 2012; Jain, Brouwers, Okcu, Cirino, & Krull, 2009; Van Der Plas, Nieman, Ito, &

Schachar, 2015). As alterações sobre estas habilidades se destacam como mais

frequentemente associadas ao uso da quimioterapia profilática do SNC, administrada

diretamente no líquor. Contudo, os mecanismos específicos relacionados à

neurotoxicidade atribuída à essa terapêutica ainda não são totalmente compreendidos,

tendo em vista especialmente à complexidade subjacente à interação entre o tratamento e

os processos desenvolvimentais em curso.

À luz dos conceitos de atenção e funções executivas e os achados de literatura

apresentados, esse estudo objetivou investigar a ocorrência e natureza de alterações na

atenção e nas funções executivas de pacientes pediátricos sobreviventes de LLA

submetidos a tratamento apenas quimioterápico, com ênfase em aspectos

neurodesenvolvimentais.

5.2 Método

5.2.1 Instituições:

Essa pesquisa foi realizada no Hospital Infantil Varela Santiago e na Liga Norte

Riograndense Contra o Câncer, instituições de referência no tratamento oncológico

pediátrico no estado do Rio Grande do Norte. Observando diretrizes e normas

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regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos conforme a Resolução 466/12

do Conselho Nacional de Saúde – CNS, o estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Liga Norte Riograndense Contra o

Câncer, e teve anuência concedida pelas duas instituições para a realização da pesquisa.

Adicionalmente, colaboraram com esse estudo instituições públicas e privadas de

educação do estado, nas quais foram coletados os dados das crianças e adolescentes que

constituíram o grupo de participantes saudáveis.

5.2.2 Participantes:

Participaram do presente estudo 26 crianças e adolescentes diagnosticadas com

LLA – integrantes do grupo clínico – que realizaram o tratamento entre os anos de 2005

e 2015 nas referidas instituições. Foram incluídas também 26 crianças e adolescentes

saudáveis, sem histórico de alterações neurológicas, psiquiátricas, alterações sensoriais

não corrigidas e histórico de dificuldades de aprendizagem, que compuseram o grupo

controle. Para a composição deste grupo foram consideradas as variáveis sexo, idade, tipo

de escola e nível socioeconômico dos participantes do grupo clínico, numa proporção de

1:1.

Os participantes do grupo clínico foram levantados a partir dos livros de registros

das instituições participantes, bem como de processo de recrutamento contínuo nos

ambulatórios de oncologia pediátrica, observando-se os seguintes critérios de inclusão:

1) diagnóstico de leucemia linfoide aguda; 2) realização de tratamento profilático para o

SNC composto apenas de quimioterapia; 3) idade entre seis e 16 anos no momento da

avaliação; 4) tratamento finalizado; 5) assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido pelos pais ou responsáveis; 5) consentimento do participante adolescente

através do Termo de Assentimento.

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Após o levantamento, sujeitos inicialmente selecionados foram excluídos em

razão dos seguintes aspectos: 1) impossibilidade de acessar os prontuários médicos de

pacientes; 2) dificuldade de estabelecer contato devido à desatualização cadastral; 3)

residência em municípios distantes da capital do estado e com retornos pontuais aos

hospitais; 4) crianças e adolescentes que apresentaram recidivas durante o período de

avaliação; 5) pacientes e/ou familiares que se recusaram em participar da pesquisa; 6)

identificação de presença de outras enfermidades: Síndrome de Down, Epilepsia e outras

alterações neurológicas.

5.2.3 Instrumentos

Para investigação da atenção e das funções executivas foram utilizados os

seguintes instrumentos: 1) NEPSY-II (bateria de atenção e funções executivas); 2) Teste

de Atenção por Cancelamento (Montiel & Capovilla, 2007); 3) Escalas Wechsler de

Inteligência para Crianças – IV Edição (subtestes Dígitos, Sequência de Números e Letras

e Índice Memória Operacional); 4) Blocos de Corsi; 5) Teste das Torres de Londres.

1. Atenção e Funções Executivas da bateria neuropsicológica desenvolvimental

NEPSY – II

O NEPSY-II, publicado em 2007 nos Estados Unidos, configura-se como uma

bateria de avaliação neuropsicológica ampla, sendo a segunda edição do NEPSY: A

Developmental Assessment. Desenvolvida a partir da concepção luriana de avaliação

neuropsicológica, propõe que a avaliação de funções complexas seja realizada

considerando os subcomponentes de tais domínios. Assim, o NEPSY-II permite a

avaliação neuropsicológica compreensiva e de múltiplos domínios, sendo estruturada

para investigar habilidades neurocognitivas em pré-escolares, crianças e adolescentes. O

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NEPSY-II encontra-se em processo de validação no Brasil pela professora Nayara

Argollo (Argollo et al., 2009; Argollo, 2010).

No presente estudo foram utilizados sete subtestes do domínio “Atenção/ Funções

Executivas”, para avaliar os diferentes aspectos que compõem a atenção e as funções

executivas, quais sejam:

a) Atenção Auditiva

Atenção auditiva é um subteste que mensura a atenção auditiva seletiva e a

habilidade de atenção sustentada (vigilância), bem como o controle inibitório (Korkman,

Kirk & Kemp, 2007). Para realização dessa tarefa, apresenta-se à criança uma prancha

com quatro círculos, cada um de uma cor diferente (vermelho, amarelo, azul e preto). O

examinando é informado que ouvirá várias palavras em um áudio, devendo tocar o círculo

vermelho rapidamente a cada vez que ouvir a palavra “vermelho”, retirando a mão do

estímulo em seguida e preparando-se para tocar quando ouvir novamente a palavra-alvo.

A tarefa tem um tempo de duração de 3’56’’, de forma que a criança deverá enfocar a sua

atenção para a palavra-alvo e sustentar seu engajamento atencional diante da

imprevisibilidade da apresentação do estímulo. As respostas são consideradas corretas

quando emitidas segundo a instrução dentro de um intervalo de dois segundos entre a

palavra-alvo e a ação solicitada. Além disso, são contabilizados durante a realização da

tarefa os tipos de erros produzidos pelas crianças: erros de ação, erros de omissão e erros

de inibição (Korkman et al., 2007).

b) Subteste Conjunto de Respostas

O subteste Conjunto de Respostas também avalia a atenção seletiva e sustentada,

contudo inclui uma regra de incongruência, em que a palavra ouvida e o estímulo-alvo a

ser tocado são divergentes, tornando a tarefa mais complexa e exigindo mecanismos de

controle inibitório mais refinados, bem como a manutenção e a observância de diferentes

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regras simultaneamente vigentes (Korkman et al., 2007). Para a realização da tarefa

apresenta-se novamente a prancha com os quatro círculos coloridos e um áudio de 3’37’’

contendo a apresentação contínua de diversas palavras. É solicitado ao examinando que

toque o círculo vermelho ao ouvir a palavra “amarelo”, toque o círculo amarelo ao ouvir

a palavra “vermelho” e toque o círculo azul ao ouvir a palavra azul. Os resultados

produzidos são agrupados da seguinte forma: respostas corretas, erros de ação, erros de

inibição e erros de omissão (Korkman et al., 2007).

c) Subteste Classificando Animais

O subteste Classificando Animais avalia flexibilidade cognitiva, à medida que

exige a habilidade de formular conceitos básicos, estabelecer categorias, mudar conceitos

em contextos diferentes e a capacidade de utilizar diferentes abordagens ou perspectivas

para a resolução de problemas. A criança recebe oito cartões coloridos com figuras de

animais e paisagens e é instruída a fazer dois grupos de quatro cartas, separando os cartões

de acordo com uma categorização autoiniciada. A criança deve ser instruída a realizar o

máximo de agrupamentos possíveis num intervalo máximo de seis minutos (Korkman et

al., 2007).

d) Subteste Fluência em Desenhos

O subteste Fluência em Desenhos é uma tarefa de fluência não-verbal,

mensurando a flexibilidade cognitiva em sua dimensão visomotora. Mensura também

organização, planejamento e velocidade de processamento. A tarefa é composta por duas

partes. Na primeira apresenta-se ao examinando quadrados com pontos posicionados de

forma estruturada e, na segunda etapa apresenta-se quadrados com pontos aleatoriamente

posicionados. Orienta-se à criança ou adolescente a ligar os pontos em cada quadrado

com linhas retas, de modo a fazer um desenho diferente/original em cada quadrado (1

minuto para cada etapa) (Korkman et al., 2007). São consideradas corretas respostas em

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que as linhas dos desenhos apresentam-se retas, conectam exatamente um ponto a outro

e não são repetições de desenhos já realizados.

e) Subteste Produzindo Palavras

Esse subteste volta-se para avaliação de fluência verbal, ou seja, a capacidade de

resgatar palavras no léxico mental a partir de categorias semânticas (animais ou

comidas/bebidas) ou fonológicas (letras “F” e S”) (Korkman et al., 2007). A criança é

solicitada a evocar a maior quantidade possível de palavras diferentes segundo as

categorias pré-definidas dentro de um intervalo de 60 segundos. Para pontuação das

respostas corretas, são contabilizadas palavras condizentes com as categorias

mencionadas, excetuando-se os nomes próprios (pessoas ou lugares), bem como as

palavras derivadas.

f) Subteste Inibindo Respostas

O subteste Inibindo Respostas mensura a capacidade de inibir respostas

automáticas preponderantes, bem como de alternar entre diversas demandas de resposta,

mantendo e manipulando as regras vigentes em um sistema de armazenamento

temporário (memória de trabalho). A atividade é composta por dois itens de modo que

cada um deles possui três etapas: inicialmente o examinando deve olhar para formas

geométricas e nomeá-las corretamente, em seguida deve evocar o nome da forma inversa,

por fim, deve nomear a forma correta ou oposta dependendo da cor da forma. De maneira

semelhante, no segundo item o participante deve evocar a direção correta das setas (para

cima e para baixo), depois deve falar o nome da direção inversa e, na última parte, evocar

a forma correta ou oposta da direção de acordo com a cor (Korkman et al., 2007).

g) Subteste Relógios

O subteste Relógios mensura habilidades de organização e planejamento. Essa

tarefa divide-se em atividades com grau de complexidade decrescente. Inicialmente,

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pede-se à criança que desenhe livremente um relógio redondo e coloque os números e,

posteriormente, solicita-se à criança que desenhe os ponteiros do relógio indicando horas

específicas. Em seguida, ao apresentar uma folha contendo desenhos de relógios redondos

de ponteiro marcando horários específicos, pede-se à criança que reproduza as mesmas

horas em desenhos de relógios digitais. Posteriormente, ao apresentar à criança um

desenho de um relógio analógico de ponteiros sem números indicando horas específicas,

solicita-se à criança a verbalização das horas que estão marcadas. A seguir, pede-se à

criança que informe as horas apresentadas em um desenho de relógio analógico completo,

com ponteiros e números e, por fim, pede-se à criança para realizar a cópia em desenho

de dois relógios analógicos completos marcando horários específicos. A sequência, a

posição dos números e ponteiros, dentre outras características, são avaliadas como

parâmetros de correção, os quais, por sua vez, permitem a realização de inferências a

respeito da capacidade de planejamento da criança e das habilidades visoespaciais e

perceptivas subjacentes à realização da tarefa (Korkman et al., 2007).

2. Teste de Atenção por Cancelamento

O Teste de Atenção por Cancelamento, desenvolvido por Montiel e Capovilla

(2007) tem como objetivo a avaliação de diferentes dimensões da habilidade atencional

em crianças e adolescentes, a saber: a seletividade e a alternância. A seletividade refere-

se à capacidade de selecionar um estímulo específico em detrimento de outros não

relevantes. A alternância, por sua vez, é definida como a capacidade de substituição do

foco atencional, através da investigação ativa do ambiente (Montiel & Capovilla, 2007).

Esse instrumento é composto por três matrizes impressas com diferentes

estímulos. Na primeira parte do teste a criança deve selecionar dentre vários estímulos

aqueles exatamente iguais ao estímulo-alvo (seletividade). Na parte seguinte, a tarefa é

semelhante a primeira, no entanto o estímulo-alvo é composto por duas figuras que devem

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ser selecionadas pelo examinando quando estiverem juntas e na mesma ordem

(seletividade). A terceira parte do teste se propõe a avaliar a atenção alternada. Nesta etapa

os estímulos-alvo são diferentes a cada linha (alternância) (Montiel & Capovilla, 2007).

3. Escalas Wechsler de Inteligência para Crianças – IV Edição (subtestes Dígitos,

Sequência de Números e Letras – SNL - e Índice Memória Operacional - IMO)

O Índice de Memória Operacional (IMO) da WISC-IV foi utilizado para a

investigação da memória de trabalho, habilidade que permite ao sujeito manter-se

consciente de uma informação em um sistema de armazenamento temporário, manipulá-

la e, a partir disso, produzir um resultado. O IMO é constituído pelos subtestes Dígitos e

Sequência de Números e Letras.

O subteste Dígitos divide-se em duas etapas: ordem direta e ordem inversa. A

primeira avalia a eficiência atencional ou a resistência à distração. Já a ordem inversa

envolve mais especificamente a memória de trabalho, por exigir além da retenção

temporária em ordem dos números ditados pelo examinador, a manipulação com vistas a

operação de reversão da sequência conforme solicitado. Sequência de Números e Letras,

de modo semelhante, avalia memória de trabalho à medida que exige que o examinando

armazene temporariamente uma informação e realize mentalmente um rearranjo da

mesma para evocar uma resposta (Lezak et al., 2012; Wechsler, 2013).

4. Blocos de Corsi

O Teste dos Blocos de Corsi é um instrumento que avalia a memória de trabalho

visoespacial ou, mais especificamente, o componente esboço visoespacial do modelo de

memória de trabalho de Baddeley e Hitch (1974) (Lezak et al., 2012). Proposto por P.

Corsi este instrumento é constituído por duas etapas e avalia a memória imediata visual

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(ordem direta) e memória de trabalho visual (ordem inversa). O teste é composto por nove

blocos dispostos em um tabuleiro. O examinador aponta sequências progressivamente

mais longas (2 a 7) tocando nos blocos. Na face virada para o examinador, cada cubo é

numerado, enquanto na face virada para o examinando, não há nenhuma indicação para

os nove cubos. Na ordem direta pede-se que o examinando reproduza a mesma sequência

imediatamente após a demonstração. Na ordem inversa o examinando deve memorizar a

sequência vista e reproduzi-la na ordem inversa (Lezak et al., 2012). A aplicação é

interrompida com dois erros consecutivos em sequências de igual quantidade (Mello,

2008).

5. Teste da Torre de Londres

Desenvolvido por Shalice em 1982, o Teste da Torre de Londres permite a

avaliação das funções executivas, em especial a capacidade de planejamento e solução de

problemas. Constitui-se como um instrumento com níveis progressivos de dificuldade,

iniciando com problemas mais simples de serem resolvidos que vão se complexificando

à medida que o examinando avança na atividade (Menezes, Dias & Seabra, 2012;

Shlottfeldt, Levy, Nassif, Neves, Fuentes & Malloy-Diniz, 2010).

A versão utilizada do instrumento fundamenta-se no procedimento proposto por

Krikorian, Bartok e Gay em 1994, com 12 itens (Menezes et al., 2012). Para fins de

pontuação considera-se correto quando a resolução do problema for alcançada com o

número mínimo de movimentos estabelecido para o item. O examinando tem três

tentativas para resolver cada problema, de forma que a reposta corresponde a um, dois ou

três pontos caso o problema tenha sido solucionado na terceira, segunda ou primeira

tentativa, respectivamente (Menezes et al., 2012; Shlottfeldt et al., 2010).

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5.2.4 Procedimento de Análise de Dados

O estudo ora apresentado adotou formato transversal, com o objetivo de identificar

as semelhanças e diferenças na atenção e funcionamento executivo do grupo clínico e do

grupo-controle. Os dados oriundos do desempenho dos participantes nos instrumentos de

avaliação da atenção e funções executivas foram analisados através de ferramentas

estatísticas inferenciais não-paramétricas, adotando-se p≤0,05 para rejeição da hipótese

nula.

Tendo em vista que os dados de literatura evidenciam maior ocorrência de

alterações cognitivas associadas a aspectos neurodesenvolvimentais, especialmente em

sobreviventes diagnosticados e tratados antes dos cinco anos de idade, a análise desses

dados foi realizada em duas etapas. Na primeira etapa foi realizada uma comparação entre

os desempenhos dos 26 participantes do grupo clínico (LLAT) e dos 26 participantes do

grupo controle (GCT). Na segunda etapa, os participantes do grupo clínico que tinham

menos de cinco anos no momento do diagnóstico (LLA1) tiveram seus resultados

comparados com o de crianças e adolescentes saudáveis com mesmo perfil etário e

sociodemográfico na proporção de 1:1 (GC1). De forma semelhante, os participantes do

grupo clínico diagnosticados a partir dos cinco anos de idade (LLA2) tiveram seus

resultados comparados ao desempenho do grupo controle composto por participantes com

mesmo perfil etário e sociodemográfico na proporção de 1:1 (GC2).

5.3 Resultados

Os resultados alcançados pelos participantes do grupo e subgrupos clínicos

(LLAT, LLA1 e LLA2) foram comparados com os desempenhos obtidos pelos seus

respectivos grupos e subgrupos controle (GCT, GC1 e GC2), sendo tais dados analisados

através de estatística descritiva referente ao estabelecimento de médias e desvios-padrão

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e estatística inferencial por meio do Teste Ü de Mann-Whitney. As tabelas 11, 12, 13 e

14 apresentam os resultados destas análises que apontaram para importantes diferenças

entre os grupos e subgrupos no que concerne ao desempenho em medidas do

funcionamento atencional e executivo. Os resultados obtidos apresentaram consistência

com estudos anteriores realizados junto a esta população em diversos países, notadamente

países da Europa e América do Norte, reforçando as evidências de que o tratamento

quimioterápico, em interação com aspectos neurodesenvolvimentais, está associado a

alterações atencionais e executivas relevantes entre os sobreviventes de LLA,

notadamente os mais jovens ao diagnóstico (Hearps et al., 2016).

Tabela 11 Resultados das verificações de contrastes entre os desempenhos dos grupos e subgrupos no domínio “Atenção/Funções Executivas” da bateria NEPSY-II.

Instrumento Grupo Média/DP Posição Média

Ü/z p

Acertos em Atenção Auditiva

LLAT (n=26) GCT (n=26)

7,60/4,29 11,00/2,32

19,76 31,24

169,00/-4,08 0,005*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,82/4,57 11,00/2,93

7,91 15,09

21,00/-2,65 0,008*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

9,00/3,63 11,00/1,84

12,46 16,54

69,50/-1,34 0,194

Escore combinado em Atenção Auditiva (acertos e erros)

LLAT (n=26) GCT (n=26)

7,32/4,50 10,52/3,34

19,82 31,18

170,50/-2,77 0,005*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,91/4,55 10,82/3,86

8,36 14,64

26,00/-2,28 0,023*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

8,43/3,71 10,29/2,99

12,25 16,75

66,50/-1,47 0,150

Acertos em Conjunto de Respostas

LLAT (n=26) GCT (n=26)

7,26/3,81 9,71/3,38

19,52 28,29

173,00/-2,20 0,028*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,78/3,19 10,70/3,59

6,28 13,35

11,50/-2,75 0,004*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

8,21/3,98 9,00/3,16

13,89 15,11

89,50/-0,39 0,701

Escore combinado em Conjunto de Respostas

(acertos e erros)

LLAT (n=26) GCT (n=26)

7,39/3,59 9,67/2,74

19,78 28,04

179,00/-2,07 0,038*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,56/3,60 10,50/3,17

6,61 13,05

14,50/-2,51 0,010*

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LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

8,57/3,15 9,07/2,33

13,86 15,14

89,50/-0,41 0,701

Acertos em Classificando Animais

LLAT (n=26) GCT (n=26)

5,75/3,61 9,29/3,14

17,85 31,15

128,50/-3,30 0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

3,60/1,83 7,50/2,36

6,30 14,70

8,00/-3,21 0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,29/3,83 10,57/3,05

10,96 18,04

48,50/-2,28 0,021*

Escore combinado em Classificando Animais

(acertos e erros)

LLAT (n=26) GCT (n=26)

5,79/3,25 9,13/3,06

17,65 31,35

123,50/-3,41 0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

4,20/1,68 7,70/2,31

6,50 14,50

10,00/-3,10 0,002*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

6,93/3,66 10,14/3,20

10,93 18,07

48,00/-2,31 0,021*

Fluência em Desenhos

LLAT (n=26) GCT (n=26)

6,95/2,98 8,20/2,19

17,65 23,35

143,00/-1,55 0,127

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

6,80/3,52 9,00/1,63

8,35 12,65

28,50/-1,63 0,105

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,10/2,51 7,40/2,45

10,10 10,90

46,00/-0,30 0,796

Inibindo Respostas

LLAT (n=26) GCT (n=26)

3,52/2,38 8,50/3,17

16,04 35,58

76,00/-4,71 <0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

2,18/1,40 8,00/3,86

7,09 16,50

12,00/-3,36 <0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

4,57/2,50 8,93/2,52

9,14 19,86

23,00/-3,47 <0,001*

Relógios

LLAT (n=26) GCT (n=26)

6,61/4,28 9,96/2,61

17,96 29,79

137,00/-2,97 0,003*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

4,67/4,18 9,00/2,10

6,78 12,90

16,00/-2,39 0,017*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,86/3,99 10,64/2,79

11,32 17,68

53,50/-2,05 0,039*

Produzindo Palavras (semântica)

LLAT (n=26) GCT (n=26)

7,54/2,97 9,73/3,01

21,40 31,60

205,50/-2,43 0,015*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,92/2,39 10,08/2,27

7,46 17,54

11,50/-3,52 <0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

8,93/2,75 9,43/3,58

14,00 15,00

91,00/-0,32 0,769

Produzindo Palavras (fonológica)

LLAT (n=26) GCT (n=26)

5,58/3,20 8,17/2,49

18,63 30,38

147,00/-2,92 0,003*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

4,70/2,16 7,60/1,43

6,90 14,10

14,00/-2,74 0,005*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

6,21/3,72 8,57/3,03

12,14 16,86

65,00/-1,52 0,137

Nota: DP, Desvio-padrão; LLAT, total de crianças e adolescentes participantes diagnosticadas com LLA; LLA1, crianças e adolescentes do grupo clínico com menos de 5 anos ao diagnóstico; LLA2, crianças e adolescentes do grupo clínico com idade igual ou superior ao 5 anos no momento do diagnóstico; GCT, crianças e adolescentes saudáveis pareadas com LLAT em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC1, crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA1 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC2, crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA2 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; Ü, valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z, escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p,

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valor da significância estatística obtida através da comparação entre os grupos, assinalada com asteriscos quando igual ou inferior a 0,05, indicando a rejeição da hipótese nula. Os valores de referência para classificação descritiva dos escores ponderados da NEPSY II são:13-19 – Acima do Nível Esperado; 8-12 – Dentro do Nível Esperado; 6-7 – Limítrofe; 4-5 – Abaixo do Nível Esperado; 1-3 – Muito Abaixo do Nível Esperado (Korkman, Kirk & Kemp, 2007).

Tabela 12. Resultados das verificações de contrastes, através do Teste Ü de Mann Whitney, entre os desempenhos dos grupos nos domínios investigados através da WISC-IV.

Instrumento Grupo Média/DP Posição Média

Ü/z P

Dígitos Ordem Direta

LLAT (n=26) GCT (n=26)

7,08/2,43 9,15/1,87

19,58 33,42

158,00/-3,34 0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

6,42/2,35 9,00/1,65

8,75 16,25

27,00/-2,63 0,008*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,64/2,43 9,29/2,09

11,32 17,68

53,50/-2,08 0,039*

Dígitos Ordem Inversa

LLAT (n=26) GCT (n=26)

6,62/2,69 9,73/2,12

18,37 34,63

126,50/-3,92 0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,83/3,09 10,17/1,99

7,92 17,08

17,00/-3,22 0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,29/2,19 9,36/2,24

11,04 17,96

49,50/-2,25 0,024*

Dígitos Total

LLAT (n=26) GCT (n=26)

6,31/2,89 9,58/1,70

17,62 35,38

107,00/-4,27 <0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,42/3,24 9,83/1,64

7,75 17,25

15,00/-3,32 <0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,07/2,52 9,36/1,78

10,43 18,57

41,00/-2,66 0,008*

Sequência de Números e Letras

LLAT (n=26) GCT (n=26)

6,54/2,46 9,92/1,87

16,83 33,50

104,00/-4,08 <0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,40/1,57 9,83/1,99

6,35 15,79

8,50/-3,45 <0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,36/2,70 10,00/1,84

11,07 17,93

50,00/-2,24 0,027*

Índice de Memória Operacional

LLAT (n=26) GCT (n=26)

79,12/12,10 98,42/7,65

15,75 37,25

58,50/-5,14 <0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

73,50/11,45 98,75/5,78

6,75 18,25

3,00/-4,00 <0,001*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

83,93/10,80 98,14/9,18

9,57 19,43

29,00/-3,20 0,001*

Nota: DP=Desvio-padrão; LLAT = total de crianças e adolescentes participantes diagnosticadas com LLA; LLA1 = crianças e adolescentes do grupo clínico com menos de 5 anos ao diagnóstico; LLA2 = crianças e adolescentes do grupo clínico com idade igual ou superior ao 5 anos no momento do diagnóstico; GCT = crianças e adolescentes saudáveis pareadas com LLAT em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC1 = crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA1 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC2 = crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA2 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; Ü = valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z = escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p = valor da significância estatística obtida através da comparação entre os grupos, assinalada com asteriscos quando igual ou inferior a 0,05, indicando a rejeição da hipótese nula. Os valores de referência para classificação descritiva do IMO são: ≥130 - Muito Superior; 120-129 – Superior; 110-119 – Médio Superior; 90-109 – Médio; 80-89 – Médio Inferior; 70-79 – Limítrofe; ≤ – Deficiência Cognitiva. Os valores de referência para classificação descritiva do IMO são: ≥130 - Muito Superior; 120-129 – Superior; 110-119 – Médio Superior; 90-109 – Médio; 80-89 – Médio Inferior; 70-79 – Limítrofe; ≤ – Deficiência Cognitiva. Os valores de referência para classificação dos subtestes são: 13-19 Acima da Média; 8-12 = Média; 1-7 = abaixo da média (Cunha, 2000).

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104

Tabela 13. Resultados das verificações de contrastes, através do Teste Ü de Mann Whitney, entre os desempenhos dos grupos nos domínios investigados através do Teste de Atenção por Cancelamento.

Instrumento Grupo Média/DP Posição Média

Ü/z P

TAC1

LLAT (n=26) GCT (n=26)

34,19/12,93 36,92/10,35

24,87 28,13

295,50/-0,78 0,435

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

33,25/14,80 34,67/10,82

12,21 12,79

68,50/-0,20 0,843

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

35,00/11,60 38,86/9,92

13,07 15,93

78,00/-0,92 0,376

TAC2

LLAT (n=26) GCT (n=26)

2,88/1,60 3,31/1,51

24,27 28,73

280,00/-1,08 0,279

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

1,92/1,24 2,92/1,88

10,33 14,67

46,00/-1,52 0,143

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

3,71/1,43 3,64/1,08

14,86 14,14

93,00/-0,23 0,839

TAC3

LLAT (n=26) GCT (n=26)

24,36/11,68 30,12/9,54

22,50 29,37

237,50/-1,65 0,099

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

18,36/11,18 25,42/7,16

9,82 14,00

42,00/-1,48 0,151

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

29,07/10,08 34,14/9,69

12,71 16,29

73,00/-1,15 0,265

Nota: DP=Desvio-padrão; TAC1 = Etapa 1 do Teste de Atenção por Cancelamento; TAC2 = Etapa 2 do Teste de Atenção por Cancelamento; TAC3 = Etapa 3 do Teste de Atenção por Cancelamento; LLAT = total de crianças e adolescentes participantes diagnosticadas com LLA; LLA1 = crianças e adolescentes do grupo clínico com menos de 5 anos ao diagnóstico; LLA2 = crianças e adolescentes do grupo clínico com idade igual ou superior ao 5 anos no momento do diagnóstico; GCT = crianças e adolescentes saudáveis pareadas com LLAT em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC1 = crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA1 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC2 = crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA2 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; Ü = valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z = escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p = valor da significância estatística obtida através da comparação entre os grupos, assinalada com asteriscos quando igual ou inferior a 0,05, indicando a rejeição da hipótese nula.

Tabela 14. Resultados das verificações de contrastes, através do Teste Ü de Mann Whitney, entre os desempenhos dos grupos nos domínios investigados através dos Instrumentos Blocos de Corsi e Torre de Londres

Instrumento Grupo Média/DP Posição Média

Ü/z P

Blocos de Corsi Ordem Direta

LLAT (n=26) GCT (n=26)

5,54/1,77 7,58/2,13

19,87 33,13

165,50/-3,21 0,001*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

5,25/2,00 6,92/1,44

9,88 15,13

40,50/-1,87 0,061

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

5,79/1,57 8,14/2,50

10,46 18,54

41,50/-2,62 0,009*

Blocos de Corsi Ordem Inversa

LLAT (n=26) GCT (n=26)

5,85/3,24 8,04/2,21

21,33 31,67

203,50/-2,47 0,013*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

3,83/3,18 6,92/1,83

9,08 15,92

31,00/-2,38 0,017*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

7,57/2,17 9,00/2,11

11,75 17,25

59,50/-1,79 0,073

Blocos de Corsi Total

LLAT (n=26) GCT (n=26)

11,38/4,55 15,62/3,96

19,90 33,10

166,50/-3,14 0,002*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

9,08/4,71 13,83/2,82

9,00 16,00

30,00/-2,44 0,015*

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105

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

13,36/3,45 17,14/4,24

10,86 18,14

47,00/-2,35 0,018*

Torre de Londres

LLAT (n=26) GCT (n=26)

23,27/9,71 28,69/4,17

22,23 30,77

227,00/-2,03 0,042*

LLA1 (n=12) GC1 (n=12)

19,75/9,78 27,67/5,08

9,17 15,83

32,00/-2,31 0,020*

LLA2 (n=14) GC2 (n=14)

26,29/8,90 29,57/1,13

13,39 1,61

82,50/-0,71 0,482

Nota: DP=Desvio-padrão; LLAT = total de crianças e adolescentes participantes diagnosticadas com LLA; LLA1 = crianças e adolescentes do grupo clínico com menos de 5 anos ao diagnóstico; LLA2 = crianças e adolescentes do grupo clínico com idade igual ou superior ao 5 anos no momento do diagnóstico; GCT = crianças e adolescentes saudáveis pareadas com LLAT em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC1 = crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA1 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; GC2 = crianças e adolescentes saudáveis pareados com LLA2 em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; Ü = valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z = escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p = valor da significância estatística obtida através da comparação entre os grupos, assinalada com asteriscos quando igual ou inferior a 0,05, indicando a rejeição da hipótese nula.

5.4 Discussão

Com o objetivo de identificar natureza e extensão das alterações que acometem

crianças e adolescentes sobreviventes de LLA, esse estudo investigou os domínios

atencionais e as funções executivas desse grupo clínico, visando compreender efeitos

específicos possivelmente associados ao tratamento exclusivamente quimioterápico a que

os participantes foram submetidos em interação com processos neurodesenvolvimentais

específicos de tais domínios cognitivos. Para alcançar este objetivo foram avaliadas as

seguintes habilidades: atenção (seletiva, alternada e sustentada), inibição, flexibilidade

cognitiva, planejamento, fluência verbal e memória de trabalho. A discussão será

realizada observando-se os resultados obtidos na avaliação dos domínios cognitivos

mencionados.

5.4.1 Atenção

Os mecanismos atencionais foram avaliados a partir do Teste de Atenção por

Cancelamento (TAC) e do subteste Atenção Auditiva da Bateria NEPSY-II. As atividades

propostas pelo primeiro não resultaram em diferenças significativas de desempenhos

entre os participantes diagnosticados com LLA e aqueles pertencentes ao grupo de

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crianças e adolescentes saudáveis, sugerindo ausência de dificuldades ou funcionamento

satisfatório dos processos de atenção seletiva e alternada em tarefas de curta duração (1

minuto para cada item).

Tais achados corroboram com as evidências de que o aspecto seletivo da atenção

alcança estabilidade por volta dos dois anos de idade, de modo que as habilidades exigidas

para realização da tarefa consolidam-se em fase bastante inicial do desenvolvimento,

estando possivelmente já estabelecidas ao início do tratamento, inclusive no grupo de

crianças diagnosticadas mais cedo (Muszkat, 2008).

A avaliação da atenção seletiva em conjunto com a atenção sustentada, a partir do

subteste de atenção auditiva da Bateria NEPSY-II, evidenciou diferenças importantes nos

resultados alcançados pelo grupo total participantes com LLA (LLAT) e aqueles obtidos

pelos participantes saudáveis (GCT). Todavia, ao serem investigados os resultados a

partir da idade ao diagnóstico, observou-se que o subgrupo submetido ao diagnóstico

antes dos cinco anos apresentou prejuízos no funcionamento da atenção sustentada, com

desempenho significativamente inferior ao do subgrupo de comparação, enquanto aquele

diagnosticado em idade mais avançada demonstrou desempenho equivalente ao do seu

subgrupo controle.

Nessa direção, sabe-se que por volta dos cinco anos de idade as crianças

desenvolvem a capacidade de inibir estímulos distratores de forma mais eficiente e os

mecanismos atencionais tornam-se mais sofisticados favorecendo a sustentação do foco

atencional por um período mais prolongado (Muszkat, 2008). Assim, os resultados

encontrados sugerem que o fato de aspectos específicos subjacentes ao desenvolvimento

ótimo da atenção, para além do aspecto seletivo, estarem em fase crítica de

desenvolvimento durante o tratamento, conduzem às crianças diagnosticadas em idade

mais precoce a uma maior suscetibilidade a alterações ou desvios em seu

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107

desenvolvimento cognitivo (Anderson et al., 2000), que se refletem em desempenhos

significativamente rebaixados em relação ao esperado para a sua idade. Por outro lado, o

subgrupo diagnosticado a partir dos cinco anos de idade não apresentou tal dificuldade,

sugerindo que os mecanismos envolvidos com a sustentação da atenção não são afetados

em seu funcionamento por estarem em estágios mais avançados de desenvolvimento

quando do início do tratamento.

Impactos mais severos sobre a atenção sustentada parecem estar associados a

maiores prejuízos em controle inibitório. Estes, por sua vez, têm sido comumente

relacionados a anormalidades cerebrais nos circuitos frontoestritais, estruturas nas quais

alterações de substância branca têm sido comumente encontradas em sobreviventes de

LLA (Krull et al., 2011; Reddick et al., 2006). Em coerência a essa discussão e aos dados

do presente estudo, Reddick et al. (2014) identificaram que pacientes que receberam o

tratamento quimioterápico na primeira infância apresentaram prejuízos mais relevantes

no funcionamento atencional, os quais estavam diretamente relacionados a volumes

reduzidos de substância branca, fortalecendo a hipótese de que a introdução de fármacos

quimioterápicos direcionados ao SNC interferem em processos neurodesenvolvimentais.

Nessa direção, estudos longitudinais realizados através de exames de imagem

evidenciaram que alterações agudas na substância branca chegam a ocorrer em 86% dos

pacientes logo após a administração de doses elevadas de metotrexato por via intravenosa,

com uma redução para aproximadamente 30% de prevalência até o final do tratamento.

Notavelmente, tal efeito durante o tratamento tem sido associado ao desempenho

reduzido em tarefas de atenção sustentada (Ashford et al., 2010; Krull et al., 2011;

Reddick et al., 2006), indicando que a substância branca pode se constituir como uma

medida sensível de neurotoxicidade nesse grupo clínico em estudos posteriores e que

mesmo alterações sutis, subclínicas ou transitórias podem acarretar alterações

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108

significativas nos mecanismos atencionais mais complexos ou de desenvolvimento mais

tardio, como a sustentação (Reddick et al., 2014).

Diante das evidências de prejuízos sobre o funcionamento atencional desses

pacientes, Krull et al. (2011) investigaram a ocorrência de sintomas de Transtornos de

Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) em 161 sobreviventes de LLA na infância e

concluíram que um quarto da amostra apresentava prejuízos atencionais, embora não

atendesse aos critérios para o diagnóstico do TDAH. Para os pesquisadores a discrepância

entre o número de sintomas e o grau de comprometimento relatado no funcionamento

diário sinalizava que o fenótipo identificado entre os sobreviventes de LLA não está

circunscrito aos critérios estabelecidos para o diagnóstico do TDAH, sendo identificadas

queixas predominantemente de comportamento desatento, com dificuldades mais

expressivas no que concerne à atenção sustentada, conforme também verificado no

presente estudo (Krull et al., 2011).

Krull et al. (2011) destacaram que a constatação de que há forte correlação entre

a ocorrência de déficits atencionais nessa população e variáveis clínicas específicas do

tratamento (idade ao diagnóstico, presença de alterações de substância branca,

intensidade do tratamento, etc.), indica que os problemas de atenção nesse grupo clínico

estão associados com patologia cerebral. Acrescenta-se a isso o fato de os sobreviventes

de LLA apresentarem risco significativo para o desenvolvimento de déficits na

velocidade de processamento, aspecto não incluído como sintoma específico do TDAH,

contudo capaz de interferir nos resultados de atividades e testes que avaliam a atenção

(Krull et al., 2011).

Assim, os dados do presente estudo somam-se às evidências de que grande parcela

desses sobreviventes apresenta problemas atencionais, especialmente quando múltiplas

informações precisam ser processadas e/ou a atenção precisa ser sustentada por um maior

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período de tempo (Mennes et al., 2005; Reddick & Conklin, 2010). Nesse sentido,

especialmente aquelas crianças diagnosticadas em idade mais precoce do

desenvolvimento estão em maior risco de se dispersarem mais facilmente ou

apresentarem dificuldades em ouvir ou observar algo por longos períodos, persistirem em

uma determinada tarefa e resistirem a elementos ou eventos distratores, a exemplo da

presença de outros estímulos no ambiente (TV, sons, ações, etc.), o que pode acarretar

em comprometimento funcional das atividades diárias e escolares.

Aliados aos prejuízos atencionais específicos apresentados nessa seção são cada

vez mais evidentes alterações cognitivas no funcionamento executivo, tais como déficits

em flexibilidade cognitiva, memória de trabalho, controle inibitório, planejamento,

fluência verbal, dentre outras (Krull et al., 2011), conforme será discutido a seguir.

5.4.2 Funções Executivas

a) Inibição

O controle inibitório foi mensurado especificamente pelas atividades Conjunto de

Respostas e Inibindo Respostas da Bateria NEPSY-II. Os resultados obtidos a partir do

primeiro instrumento evidenciaram desempenho significativamente inferior do grupo

diagnosticado com LLA quando comparado ao seu grupo controle. Contudo, ao serem

avaliados os desempenhos dos subgrupos, observou-se que os resultados se mantiveram

estatisticamente diferentes apenas para o grupo que fora diagnosticado antes dos cinco

anos de idade (LLA1), indicando que o desempenho reduzido desse subgrupo resultava

no baixo desempenho do grupo completo de LLA.

Dessa forma, os dados revelaram a ocorrência de prejuízos nos sobreviventes mais

jovens ao diagnóstico no que se refere à habilidade de mudar e manter um determinado

conjunto novo e complexo de informações, o que requer tanto a inibição de respostas

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previamente aprendidas, como a evocação de respostas de contraste ou correspondência

a estímulos específicos. Os baixos resultados identificados de forma mais expressiva no

grupo diagnosticado com menos de cinco anos de idade sugerem que déficits nesse

subgrupo clínico estão relacionados a efeitos sobre aspectos desenvolvimentais, visto que

em crianças sem alterações observa-se que o progresso dessa habilidade é precoce e

apresenta um pico de desenvolvimento inicial entre os três e sete anos de idade (Flores-

Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

Na segunda atividade proposta, observou-se desempenho significativamente

inferior para os diferentes grupos e subgrupos de sobreviventes de LLA comparados aos

seus respectivos controles. Esta tarefa acrescentou complexidade em sua realização em

relação a atividade anterior, sendo desenvolvida para mensurar tanto a habilidade de inibir

respostas automáticas em favor de novas respostas, como a capacidade de alternar entre

diferentes tipos de resposta, exigindo também flexibilidade cognitiva e

automonitoramento (Korkman et al., 2007). Além disso, configura-se como uma

atividade que requer atenção sustentada, visto que apresenta seis subetapas que podem

chegar até a 22 minutos de duração.

A observação detalhada dos dados nessa última tarefa revelaram dificuldades

também no subgrupo que realizou o tratamento após os cinco anos de idade quando

comparado ao seu respectivo subgrupo controle. Esses resultados reforçam a

possibilidade de efeitos relacionados à interação entre o tratamento quimioterápico e os

processos desenvolvimentais, tendo em vista que a evolução da complexidade da tarefa

exige processos mais sofisticados e eficientes do funcionamento executivo, comumente

alcançados pelo sujeito ao fim da infância ou início da adolescência (Flores-Lázaro &

Ostrosky-Shejet, 2012),

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Nesse sentido, os resultados do presente estudo indicaram que as crianças e

adolescentes sobreviventes de LLA estão em risco de comprometimento no que se refere

ao desenvolvimento e/ou funcionamento de suas habilidades de autocontrole, que podem

ser traduzidas pela capacidade em resistir às tentações e não agir de forma impulsiva. Tais

aspectos se constituem como essenciais no cotidiano do ser humano, pois se referem à

competência em evitar/adiar determinados prazeres e gratificações, conseguir esperar o

momento mais adequado para realizar determinadas ações, tomar decisões considerando

as normas sociais, bem como ter disciplina na realização, permanência e conclusão de

uma tarefa mesmo diante de distrações, atividades mais atrativas ou desejo de desistir

(Diamond, 2013).

Ressalta-se, ainda, que a capacidade de inibição no início da vida parece ser

bastante preditiva do desempenho ao longo do desenvolvimento, inclusive na idade

adulta, estabelecendo relações positivas com a saúde física e mental, sucesso profissional

e bem-estar (Diamond, 2013). Dessa forma, os dados encontrados alertam para a

importância de identificação precoce de crianças em maiores riscos de dificuldades nesse

domínio cognitivo específico quando submetidas ao tratamento para LLA.

Por fim, é válido ressaltar que a inibição é uma função executiva básica e de

desenvolvimento precoce que contribui para a constituição de outras habilidades

cognitivas como inteligência, memória, atenção, compreensão da leitura, aspectos

afetivos e sociais (Diamond, 2013; Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012). Dessa

forma, a identificação de efeitos sobre esse componente cognitivo específico é substancial

para ampliação da compreensão acerca dos impactos do tratamento da LLA sobre o

funcionamento cognitivo complexo, aspectos acadêmicos e socioafetivos.

b) Flexibilidade Cognitiva

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No presente estudo, o subteste Classificando Animais da Bateria Nepsy-II foi

utilizado com o objetivo de avaliar especificamente o funcionamento da flexibilidade

cognitiva das crianças e adolescentes integrantes do estudo.

Os resultados evidenciaram pontuações estatisticamente diferentes entre os

grupos e subgrupos clínicos e controles, sendo todos os resultados em favor dos

participantes saudáveis. Todavia, foi possível observar que o subgrupo composto por

crianças com cinco anos ou mais no momento do diagnóstico apresentou melhor

desempenho (classificação limítrofe) do que aquele alcançado por crianças mais jovens

ao diagnóstico, que apresentaram desempenho classificado como muito abaixo do nível

esperado. Tais resultados indicaram dificuldades dos sobreviventes de LLA na

construção de diferentes estratégias para resolver um determinado problema e

automonitoramento, bem como na formulação e implementação de conceitos e categorias,

sobretudo quando submetidos ao tratamento mais jovens (Korkman et al., 2007).

Nesse âmbito, estudos que investigam o desenvolvimento da flexibilidade

cognitiva apontam que crianças entre três e cinco anos de idade começam a apresentar

melhoria significativa em atividades que exigem alternância/mudança de foco ou de

estratégia, ao mesmo tempo em que requerem manutenção ativa da informação e controle

inibitório. Entretanto, a capacidade para inibir uma estratégia cognitiva específica ou

sequência de ação e produzir uma resposta alternativa se desenvolve progressivamente e

alcança seu desempenho pleno por volta dos 12 anos de idade (Flores-Lázaro & Ostrosky-

Shejet, 2012).

Ressalta-se, ainda, que a capacidade de categorização, necessária ao bom

desempenho da atividade proposta, constitui-se como uma das habilidades executivas

consideradas de desenvolvimento tardio, visto que as crianças começam a ser

competentes nesse domínio por volta dos 10 anos e alcançam o seu máximo desempenho

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no início da idade adulta (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012). Nesse sentido, os

dados qualitativos oriundos da observação clínica durante a realização dessa atividade

revelam que as dificuldades de boa parte das crianças iam além da habilidade em produzir

uma resposta alternativa à anterior, visto que boa parte dos sujeitos não conseguiam ou

demoravam bastante para conseguir realizar uma primeira combinação/categorização

com as cartas apresentadas e produzir uma resposta correta inicial.

É necessário destacar também que as crianças e adolescentes integrantes do grupo

clínico foram em sua totalidade diagnosticadas antes dos 12 anos de idade, de modo que

os dados rebaixados entre os sobreviventes corroboram a hipótese de que o tratamento,

ao atravessar e interagir com períodos especiais de uma habilidade de desenvolvimento

intermediário como a flexibilidade cognitiva, pode acarretar em alterações e/ou prejuízos

no funcionamento da mesma. Nesse âmbito, observou-se ainda que os grupos e

subgrupos compostos por crianças saudáveis alcançaram desempenhos dentro do

esperado indicando desenvolvimento adequado desse componente executivo,

fortalecendo assim as evidências de comprometimento no desenvolvimento e/ou

funcionamento da flexibilidade cognitiva relacionadas aos processos de adoecimento e

tratamento LLA, mesmo quando os sobreviventes foram submetidos a tratamentos apenas

quimioterápicos, sendo os impactos mais expressivos em idade precoce do

desenvolvimento.

Conforme aponta Diamond (2013), a flexibilidade cognitiva permite a mudança

de perspectiva, sendo necessário para isso inibir a perspectiva anterior e carregar na

memória de trabalho uma nova alternativa. Nesse sentido, essa habilidade envolve a

capacidade de alterarmos a forma de resolver um problema quando a estratégia inicial

não está funcionando, bem como o ajustamento a situações novas e inesperadas,

circunstâncias comuns na rotina socioacadêmica e profissional de crianças, adolescentes

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e adultos. Assim, a flexibilidade cognitiva se constitui como o oposto da rigidez

comportamental, sendo demandada em atividades que exigem criatividade, mudança de

foco, alternância entre tarefas, categorias e estratégias (Diamond, 2013).

A presença significativa de comportamentos/respostas perseverativos foi

encontrada em estudo anteriormente realizado durante o mestrado com essa população

clínica (Gomes, 2011), caracterizados fundamentalmente pela dificuldade em alternar

entre critérios distintos – ações, respostas, pensamentos, etc. – de acordo com a demanda

do ambiente, bem como prejuízos na monitoração do comportamento, na capacidade de

inibir uma determinada resposta impulsiva e, por conseguinte, na limitação em aumentar

a eficácia para concluir com sucesso à tarefa proposta no referido estudo, o Teste

Wisconsin de Classificação de Cartas - WCST (Gomes, 2011). Assim, os dados

anteriores, somam-se às dificuldades observadas no presente estudo, sugerindo que

impactos sobre a flexibilidade cognitiva nessa população clínica podem estar subjacentes

a um comportamento perseverativo, estereotipado e não adaptativo, bem como a

dificuldades de regular e modular o comportamento (Lezak et al., 2012) e desenvolver

novas estratégias para resolução de problemas.

Ressalta-se ainda que a inflexibilidade, enquanto sintoma de disfunção executiva,

pode se manifestar tanto na dimensão perceptiva, como na conceitual. Vale acrescentar

que estudos diversos com pacientes com dano frontal têm estabelecido uma relação

importante entre o funcionamento do cortex pré-frontal dorsolateral esquerdo e a

flexibilidade cognitiva em adultos, sendo possível identificar através de exames de

neuroimagem que essa estrutura cerebral já é necessária desde os seis anos de idade em

tarefas que exigem flexibilidade cognitiva (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012),

apontando que alterações que atingem tais estruturas, seu desenvolvimento e suas

conexões podem estar subjacentes aos efeitos identificados nesse grupo clínico.

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c) Memória de Trabalho

Considerada por Flores-Lázaro e Ostrosky-Shejet (2012) como uma função

executiva de desenvolvimento intermediário, o componente visoespacial da memória de

trabalho foi avaliado nesse estudo pela tarefa Blocos de Corsi. Nesse contexto, observou-

se que o grupo de sobreviventes de LLA obteve desempenho significativamente inferior

àquele alcançado pelo grupo constituído por participantes saudáveis, tanto no que se

refere à etapa ordem direta quanto à ordem inversa, bem como no total de pontos obtidos

na tarefa. Tais dados sugerem à ocorrência de prejuízos nesse domínio cognitivo

específico, que por sua vez, podem estar atrelados ao fato de o desenvolvimento da

memória de trabalho visoespacial alcançar o desempenho próximo ao do adulto apenas

por volta dos 12 anos de idade (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012), estando,

portanto, mais suscetível a interferências durante sua evolução.

No que concerne ao desempenho dos subgrupos na atividade que avaliou memória

de trabalho visoespacial foi possível verificar que o subgrupo composto por crianças

diagnosticadas com menos de cinco anos de idade obteve resultado significativamente

inferior ao seu respectivo grupo controle na etapa Ordem Inversa, mas não na Ordem

Direta. Todavia, diferentemente do esperado, observou-se que o desempenho alcançado

pelo subgrupo diagnosticado a partir dos cinco anos de idade foi significativamente

inferior ao do seu controle na etapa Ordem Direta (atividade mais simples), mas

semelhante na Ordem Inversa (atividade mais complexa). Diante de resultados dessa

natureza, Lezak et al. (2012) sugerem que quando os pacientes recordam mais elementos

na ordem inversa do que na direta, o examinador pode assumir que o sujeito é capaz de

alcançar pelo menos o mesmo resultado na etapa direta, de forma que essa disparidade

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infrequentemente observada pode refletir a falta de esforço suficiente na tarefa mais

simples.

Através dos resultados oriundos da avaliação de memória de trabalho verbal,

realizada através dos subtestes Dígitos e Sequência de Números e Letras, que juntos

compõem o Índice de Memória Operacional (IMO) da WISC-IV, foi possível constatar

que as pontuações alcançadas pelas crianças e adolescentes com LLA foram

significativamente inferiores àquelas obtidas pelos participantes saudáveis. Diante de tais

dados, destaca-se que os participantes diagnosticados mais jovens (LLA1) apresentaram

escores de desempenho médio classificados em níveis inferiores ao esperado

(classificação limítrofe), enquanto aqueles que foram diagnosticados a partir dos cinco

anos de idade (LLA2) tiveram desempenhos situados próximos à média esperada, apesar

de significativamente inferiores ao seu subgrupo controle específico.

Assim, os resultados encontrados indicaram a presença de prejuízos significativos

no funcionamento da memória de trabalho verbal e visoespacial, notadamente no

subgrupo clínico diagnosticado antes dos cinco anos de idade, sugerindo que tais sujeitos

são mais vulneráveis aos efeitos do tratamento/adoecimento a longo prazo sobre o seu

funcionamento executivo, de forma que devem ser acompanhados sistematicamente

antes, durante e após o diagnóstico da LLA.

Corroborando com os resultados encontrados no presente estudo Ashford et al.

(2010) e Reddick e Conklin (2010) propuseram que a memória de trabalho se constituía

como uma habilidade especialmente sensível às alterações associadas ao tratamento

antileucêmico, visto que déficits nessa habilidade chegam a afetar cerca de 70% de

pacientes sobreviventes de LLA na infância após dois anos de tratamento, sendo

potencialmente relacionada a decréscimos em medidas de inteligência global.

Adicionalmente, Ashford et al. (2010) observaram que alterações na substância branca

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estão correlacionadas tanto à ação de agentes quimioterápicos, como a baixas pontuações

em memória de trabalho.

A memória de trabalho apresenta desenvolvimento bastante prolongado e tardio

situado entre as idades de quatro e 15 anos, em condições típicas. Além disso, sua

aquisição e desenvolvimento gradativo durante a idade pré-escolar em interdependência

com processos de inibição e teoria da mente constitui um avanço fundamental na vida do

indivíduo, apresentando importante repercussão em outras áreas do desenvolvimento

cognitivo (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012). É justamente durante esse período

sensível de desenvolvimento da memória de trabalho que boa parcela de crianças são

diagnosticadas com LLA e submetidas ao tratamento quimioterápico intratecal e

sistêmico, além de estarem restritas a atividades educativas e sociais que impulsionam e

otimizam o seu desenvolvimento cognitivo.

Desse modo, conclui-se que a presença de prejuízos mais acentuados em

participantes diagnosticados antes dos cinco anos de idade, bem como a constatação de

que pacientes diagnosticados após essa idade enfrentam dificuldades mais atenuadas,

reforçam a hipótese de que, para além de uma relação direta entre efeitos do tratamento

sobre o funcionamento cognitivo, tais alterações são mediadas por efeitos do tratamento

sobre os mecanismos neurodesenvolvimentais.

Estudos de neuroimagem indicam que o funcionamento da memória de trabalho

demanda a atividade do córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL), no qual a capacidade de

manutenção e monitoramento da informação se associa mais com as regiões ventrais (de

desenvolvimento mais precoce), enquanto o ordenamento sequencial relaciona-se com as

estruturas anteriores e mais superiores, que se desenvolvem posteriormente (Flores-

Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012). Nessa direção, os resultados médios mais próximos à

média esperada na habilidade em realizar tarefas que exigem apenas a manutenção da

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informação – subteste Dígitos Ordem Direta – no subgrupo composto por crianças

diagnosticadas a partir dos cinco anos de idade corroboram com o fato de que as crianças

adquirem mais cedo tal competência. Por outro lado, a aquisição mais tardia e prolongada

da capacidade de manter e manipular as informações para realizar uma tarefa (Dígitos

Ordem Inversa e Sequência de Números e Letras) sugerem maior vulnerabilidade a

alterações desse componente executivo, favorecendo a afetação do mesmo em ambos

subgrupos (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

As dificuldades em realizar atividades que demandam especificamente o

funcionamento adequado da memória de trabalho entre os sobreviventes de LLA, mas

não entre os sujeitos saudáveis, pareados de acordo com aspectos sociodemográficos aos

primeiros, sugerem que os processos de adoecimento e tratamento dessa neoplasia na

infância atuam sobre os mecanismos e estruturas que promovem o desenvolvimento dessa

habilidade. Nessa perspectiva, sabe-se que em termos de desenvolvimento da densidade

neuronal, o CPFDL alcança os valores de um adulto entre os 11 e 12 anos de idade,

contudo, a maioria das funções executivas dependentes dos seus mecanismos neuronais

consolidam o seu funcionamento entre os 12 e 15 anos, aspecto que corrobora com os

prejuízos significativos apresentados pelos sobreviventes de LLA no presente estudo na

memória de trabalho em geral.

Nesse sentido, os dados encontrados sugeriram alterações relevantes no âmbito da

memória de trabalho visual e verbal, com prejuízos mais expressivos em crianças e

adolescentes que receberam tratamento quimioterápico intratecal e sistêmico na primeira

infância e, possivelmente, associados à ação dos fármacos durante o curso

desenvolvimental dessas habilidades e dos seus substratos neurais correspondentes que

apresentam maturação prolongada.

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d) Planejamento

Os dados oriundos da avaliação da capacidade de planejamento visoespacial,

investigada nesse estudo especialmente pelo subteste Relógios da Bateria NEPSY-II,

indicam desempenho estatisticamente discrepante entre as crianças e adolescentes

saudáveis e os sobreviventes de LLA, em favor dos primeiros. Nesse âmbito, é notável o

desempenho rebaixado no grupo diagnosticado mais jovem (LLA1), com pontuação

média situada na classificação abaixo do nível esperado (M=4,67; DP=4,18), enquanto o

escore médio alcançado pelo grupo diagnosticado a partir dos cinco anos de idade (LLA2)

alcançou classificação limítrofe (M=7,86; DP: 3,99).

Ressalta-se aqui, que o desenvolvimento do planejamento visoespacial encontra-

se muito intenso e acelerado na infância, atingindo seu desempenho máximo por volta

dos 12 anos (Flores-Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012). Dessa forma, todos os

participantes do grupo clínico tiveram o desenvolvimento dessa habilidade atravessado

pelos processos de adoecimento e tratamento da LLA.

No que se refere ao desempenho dos grupos e subgrupos no teste Torre de

Londres, que envolve um planejamento do tipo sequencial, também foi verificado

desempenho significativamente inferior dos participantes diagnosticados com LLA

(LLAT) comparado às crianças e adolescentes saudáveis (GCT). Contudo, ao ser

realizada a análise com os subgrupos e seus respectivos controles verificou-se que os

participantes diagnosticados após os cinco anos de idade apresentaram desempenho

semelhante àquele alcançado pelos seus pares indicando, portanto, resultados satisfatórios

ou adequados ao seu nível de desenvolvimento. Resultados significativamente

discrepantes foram encontrados entre aqueles menores que cinco anos ao diagnóstico e o

seu respectivo grupo controle, fortalecendo as evidências de alterações específicas mais

acentuadas para o subgrupo submetido ao tratamento mais cedo, quando competências

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básicas requeridas para sua realização ainda estão em processo mais inicial de

organização.

Em conformidade com esses resultados Flores-Lázaro e Ostrosky-Shejet (2012)

apontam que estudos com crianças com idades entre quatro e oito anos utilizando uma

versão computadorizada da Torre de Londres identificaram um efeito significativo do

desempenho na tarefa de acordo com a idade, de modo que os participantes com quatro

anos utilizavam um número maior de movimentos para o nível mais fácil da tarefa (2 a 3

movimentos), além de não conseguirem solucionar os problemas que exigiam até cinco

movimentos. Por outro lado, as crianças que tinham entre cinco e oito anos de idade, não

apresentavam diferença em seu desempenho para o nível máximo de dificuldade na tarefa,

sugerindo estabilidade de desempenho nessa atividade já nessa faixa etária (Flores-Lázaro

& Ostrosky-Shejet, 2012).

Schlottfeldt et al. (2010) também relatam a ocorrência de um provável “efeito

teto” na tarefa observado em estudos realizados no Brasil, com resultados bastante

semelhantes entre os desempenhos de adultos e crianças, sugerindo que tal ferramenta

pode ser pouco sensível para discriminar dificuldades da habilidade de planejamento mais

sutis em virtude da facilidade da tarefa.

Contudo, Menezes et al. (2012) afirmam que, apesar de serem encontrados

resultados de “efeito teto” em estudos com crianças brasileiras para os problemas mais

simples do Torre de Londres já em crianças com 11 anos de idade, diferenças entre os

desempenhos de adolescentes e adultos jovens podem ser observadas especificamente nos

itens que apresentam um maior nível de complexidade, ratificando incremento do

desenvolvimento dessa habilidade durante a adolescência e consolidação na idade adulta.

Nessa perspectiva, vale ressaltar que a habilidade de planejamento é uma das

habilidades executivas de desenvolvimento intermediário que completam o seu

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desenvolvimento em idade mais avançada. Esse processo prolongado está atrelado, entre

outros aspectos, à interdependência entre a capacidade de planejamento/estratégias de

solução de problemas e o bom funcionamento do controle inibitório, flexibilidade

cognitiva, memória e atenção sustentada, domínios cognitivos em amplo

desenvolvimento e maturação na infância e adolescência (Flores-Lázaro & Ostrosky-

Shejet, 2012) e que também se apresentaram afetados no grupo clínico estudado,

especialmente entre os sujeitos diagnosticados mais precocemente.

Desse modo, considerando-se que ambos os grupos, LLAT e GCT, encontram-se

em intenso processo de desenvolvimento da competência de planejamento, estudos

posteriores tornam-se necessários para verificar se a semelhança entre os desempenhos

dos grupos dizem respeito à ausência de dificuldades no planejamento sequencial em

pacientes diagnosticados a partir dos cinco anos de idade, à limitação dessa atividade em

discriminar as dificuldades de planejamento que os sujeitos possam apresentar ou à

necessidade de avaliar em um momento posterior as habilidades que se desenvolvem mais

tardiamente.

Assim, os resultados encontrados no presente estudo indicam dificuldades dos

sobreviventes de LLA nas atividades que demandaram habilidades de planejamento

quando comparados aos participantes saudáveis, com resultados mais rebaixados e

indicativos de déficits a longo prazo em pacientes diagnosticados antes dos cinco anos de

idade. Desse modo, esses achados sugerem que tais sujeitos estão mais vulneráveis a

apresentar dificuldades em atividades cotidianas que requeiram a identificação de

elementos e passos necessários para alcançar determinado objetivo, a consideração de

diferentes alternativas, a realização de escolhas e a organização sequencial e hierárquica

que irá direcionar a execução do plano elaborado, capacidade que se constitui como uma

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das mais importantes da cognição humana (Flores Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012;

Lezak et al., 2012).

e) Fluência Cognitiva

A capacidade de fluência cognitiva (não verbal e verbal) foi avaliada no presente

estudo através dos subtestes Fluência em Desenhos e Produzindo Palavras da Bateria

NEPSY-II.

No que se refere ao desempenho dos participantes na tarefa Fluência em

Desenhos, não foram encontradas diferenças relevantes entre os resultados de

participantes saudáveis e aqueles submetidos ao tratamento para LLA de modo geral,

apontando para ausência de alterações entre os sobreviventes nessa habilidade. Tais

resultados indicaram desenvolvimento e funcionamento dentro do esperado entre os

sobreviventes nas habilidades visoperceptivas, velocidade de processamento e

flexibilidade cognitiva a partir do uso de estímulos não-verbais investigados por essa

tarefa de curta duração (Korkman et al., 2007).

Por outro lado, na tarefa Produzindo Palavras observou-se desempenho

significativamente inferior do grupo total de sobreviventes de LLA em comparação ao

grupo constituído por crianças saudáveis, em favor deste. Tais discrepâncias não se

mantiveram ao serem investigados os desempenhos do subgrupo composto por crianças

diagnosticadas após os cinco anos de idade e o seu respectivo controle, mas foram

evidenciadas entre o subgrupo diagnosticado em idade mais jovem (LLA1) em

comparação ao seu subgrupo controle (GC1). Tais resultados, portanto, sugeriram

prejuízos dessa habilidade no subgrupo composto por crianças diagnosticadas mais

jovens, tanto no que tange à etapa fonológica quanto à semântica.

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Direcionada à mensuração de aspectos executivos relacionados ao

comportamento verbal (flexibilidade, alternância de categorias e autorregulação), a tarefa

Produzindo Palavras avalia também habilidades como a aquisição e recuperação da

linguagem, recuperação do vocabulário, memória de trabalho, velocidade de

processamento, atenção e produção verbal (Korkman et al., 2007; Lezak et al., 2012).

Nesse âmbito há evidências de que danos frontais estão associados a dificuldades de

geração de palavras tanto a partir de categorias (semântica) como de letras iniciais

(fonológica) (Lezak et al., 2012), conforme verificado no presente estudo.

Os resultados apresentados ratificaram ainda achados de dissociação entre o

componente visual e verbal no âmbito da fluência cognitiva. Nessa perspectiva, estudos

revelam que o córtex pré-frontal esquerdo se relaciona mais com os processos de

planejamento sequencial, flexibilidade cognitiva, memória de trabalho (estímulos

verbais) e fluência verbal. Por outro lado, o córtex pré-frontal direito atua principalmente

no funcionamento executivo que envolve construção e desenhos de objetos e figuras,

memória de trabalho (material visual), aspectos afetivos e de humor (Flores Lázaro &

Ostrosky-Shejet, 2012).

Nesse sentido, os resultados da avaliação da fluência cognitiva sugerem a

preservação das habilidades relacionadas mais à atividade do hemisfério direito, como a

fluência não verbal, o que pode estar relacionado ao fato das mesmas estabelecerem-se

de forma mais acelerada e mais precocemente na infância, enquanto a fluência verbal

apresenta desenvolvimento mais prolongado, estando mais suscetível a interferências em

seu desenvolvimento (Flores Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012).

A capacidade de fluência verbal desenvolve-se de maneira contínua até o fim da

adolescência, exigindo participação mais ativa da área de Broca e do córtex pré-frontal

dorsolateral com lateralidade à esquerda, iniciando-se na primeira infância e se

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consolidando cada vez mais com o aumento da idade. Ressalta-se, ainda, que em uma

tarefa de produção de linguagem é possível que condições ambientais e de escolaridade

produzam alterações nas redes neuronais relacionadas à essa função, de modo que essa

habilidade pode ter mais interferências de fatores linguísticos, psicolinguísticos e

cognitivos que outras funções executivas (Flores Lázaro & Ostrosky-Shejet, 2012; Lezak

et al., 2012).

Tal ponderação tem importância crucial nesse contexto, tendo em vista que as

crianças que são diagnosticadas e iniciam o tratamento na primeira infância estão mais

vulneráveis a serem inseridas em processos de escolarização mais tardiamente e estarem

mais restritas em suas atividades sociais e acadêmicas em função do tratamento (Moreira

& Valle, 2010).

De modo global, os achados encontrados no presente estudo a partir da

investigação mais aprofundada dos domínios atencionais e das funções executivas

sugerem que a faixa etária ou período de desenvolvimento em que as crianças recebem o

tratamento para LLA pode estar relacionado às dificuldades constatadas em diferentes

atividades que recrutam habilidades específicas. Nesse sentido, as funções investigadas

ao apresentarem ritmos de desenvolvimento distintos e estarem vinculadas

predominantemente a atividade de estruturas específicas e suas redes de conexões ou

sistemas funcionais, podem ser também afetadas de formas diferentes.

Em síntese, destaca-se que o perfil de funcionamento cognitivo apresentado pelos

sobreviventes evidenciou que a atenção seletiva e a fluência em desenhos se configuraram

como domínios preservados no grupo geral de sobreviventes. Por outro lado, as

habilidades de atenção sustentada, inibição (atividade mais simples), planejamento

sequencial e fluência verbal se apresentaram como pontos de fragilidade apenas entre os

participantes com LLA diagnosticados com menos de cinco anos de idade. Por último, as

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habilidades de memória de trabalho (visual e verbal), planejamento visoespacial, controle

inibitório (atividade mais complexa e prolongada) e flexibilidade cognitiva configuraram-

se como domínios nos quais os participantes submetidos ao tratamento para LLA

apresentaram dificuldades mais extensas.

É notável, contudo, que os menores desempenhos foram alcançados

predominantemente pelo subgrupo composto por crianças e adolescentes diagnosticados

mais jovens, alertando para a presença de déficits mais significativos nessa parcela de

sobreviventes, enquanto as crianças e adolescentes com diagnóstico em idade superior

aos cinco anos apresentaram desempenhos mais próximos ao esperado para sua faixa

etária e semelhantes ao seu grupo de referência.

Em coerência a esses resultados gerais, Hearps et al. (2016) defendem que as

alterações cognitivas identificadas nessa população clínica estão associadas à disrupção

de redes neurais em processo de maturação. Estas, em condições típicas de

desenvolvimento, se caracterizam por um aumento progressivo da conectividade entre as

regiões do cérebro que ocorre através do desenvolvimento de sinapses e do processo de

mielinização. Nessa perspectiva, como o córtex pré-frontal e as fibras de associação

intercotical configuram-se como as estruturas com o desenvolvimento mais tardio e

prolongado – e suportam as funções mais sofisticadas, como as funções executivas – são

particulamente suscetíveis a danos externos, relacionados à ação do metotrexato e demais

fármacos lançados no SNC (Hearps et al., 2016).

Apesar de os mecanismos envolvidos com a neurotoxicidade induzida pelo

tratamento da LLA e subjacentes às alterações cognitivas complexas identificadas entre

os sobreviventes ainda não estarem completamente esclarecidos, estudos internacionais

apontam que danos diretos ao tecido cerebral que resultam em desmielinização,

inflamação secundária e lesão microscópica consistem em fatores potenciais. Mais

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especificamente, o metotrexato tem sido fortemente associado a alterações de substância

branca e a danos vasculares no cérebro imaturo (Bhojwani et al., 2014; Caron et al., 2009;

Reddick & Conklin, 2010). Nessa direção, estudos sinalizam que doses elevadas de

metotrexato por via intravenosa e intratecal podem representar um risco substancial às

funções neurocognitivas por ser associado a alterações de substância branca persistentes

e transitórias, que apresentam frequência e gravidade relacionadas à dosagem utilizada, à

exposição cumulativa do fármaco e a outras variáveis clínicas, especialmente a menor

idade ao tratamento (Reddick & Conklin, 2010).

Nesse contexto, as crianças mais jovens parecem ser mais vulneráveis à

neurotoxicidade em razão do acelerado crescimento da mielina, caracterizada como

metabolicamente mais ativa e menos estável em momento precoce do desenvolvimento

(Caron et al., 2009; Reddick et al., 2014). Assim, a idade mais avançada no início da

doença e tratamento se configuraria como um fator de proteção à integridade da

substância branca nessa população (Ashford et al., 2010).

Estudo nessa direção desenvolvido por Cheung et al. (2016) identificou que

pacientes com LLA com alterações agudas de substância branca durante o tratamento

também apresentaram efeitos sobre a integridade de tais estruturas ao fim do tratamento,

especialmente nas regiões frontal e parietal e em fibras de associação longa,

especialmente o trato frontoestriatal. Tais sobreviventes destacaram-se ainda como

aqueles que apresentaram maiores queixas e problemas comportamentais, com

dificuldades expressivas em instrumentos que avaliaram a habilidade em iniciar e planejar

uma determinada tarefa, sendo tais efeitos correlacionados a déficits atencionais e no

funcionamento executivo a longo prazo, achados cognitivos semelhantes aos encontrados

no presente estudo. Esses resultados indicam que as mudanças identificadas durante o

tratamento podem interromper ou promover desvios fundamentais no desenvolvimento

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saudável do cérebro, e mesmo que as alterações pareçam sutis, podem estar subjacentes

a problemas cognitivos e comportamentais constatados mais tardiamente entre os

sobreviventes (Cheung et al., 2016).

Para Reddick et al. (2014) as evidências de menores volumes de substância branca

em regiões frontais e frontoestriatais em sobreviventes de LLA na infância reforçam que

as conexões envolvendo essas áreas estão em risco elevado de sofrerem impactos

relacionados ao tratamento, repercutindo também em sequelas cognitivas, intelectuais,

acadêmicas e psiquiátricas. Desse modo, as alterações de volume, integridade e

proliferação da substância branca se apresentam cada vez mais como um fator explicativo

importante para melhor compreensão do desenvolvimento de alterações cognitivas, tendo

em vista a forte associação entre a redução significativa dessa medida e as baixas

pontuações em instrumentos que avaliam atenção e funções executivas (Reddick et al.,

2014).

Lesnik et al. (1998) identificaram que mesmo estruturas subcorticais que se

desenvolvem mais tardiamente (posteriores) poderiam ser mais afetadas pelo tratamento

quimioterápico da LLA, juntamente com regiões frontais e suas conexões com estruturas

subcorticais de curso igualmente prolongado e tardio. Nessa perspectiva, entende-se que

esses sobreviventes estão suscetíveis a sofrerem um insulto tóxico capaz de atingir um

subsistema subcortical-cortical em crianças pequenas, cujos efeitos se manifestam mais

tarde na ontogenia como anormalidades estruturais, funcionais e de interconexão,

comprometendo a atividade de funções mais complexas, como as funções executivas

(Lesnik et al., 1998).

Nessa direção, estudos posteriores que empregaram métodos avançados de

imagem funcional encontraram relações significativas entre variáveis do tratamento, a

atividade cerebral frontal, a conectividade intercortical de substância branca, aspectos

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cognitivos e habilidade intelectual. Esses achados fortaleceram a hipótese de que o

desenvolvimento e funcionamento de uma rede frontal-subcortical são especialmente

afetados pela ação dos componentes quimioterápicos (Hearps et al., 2016). Em

consonância a tais achados, investigações neurofisiológicas demonstraram que, nos

primeiros anos de vida, há um desenvolvimento mais acelerado no sistema de conexões

verticais, realizados pelas fibras de projeção (substância branca) responsáveis pela

interação entre estruturas corticais e subcorticais (Glozman, 2014).

Adicionalmente, a constatação em estudos adicionais de redução do volume de

substância branca predominantemente em regiões como a amígdala, núcleo caudado,

hipocampo, tálamo e lobos frontais e sua correlação com resultados desfavoráveis nos

domínios da atenção sustentada, velocidade de processamento, aprendizagem e funções

executivas em sobreviventes de LLA, corroboram que impactos sobre o desenvolvimento

de estruturas nervosas subcorticais-corticais que se desenvolvem mais tardiamente, como

o córtex pré-frontal e fibras de associação, parecem estar envolvidas com os prejuízos

encontrados nessa população (Genschaft et al., 2013; Zeller et al., 2013).

Entretanto, a duração das alterações na substância branca em sobreviventes de

LLA e sua relação com efeitos neurocognitivos a longo prazo ainda não estão claras.

Apesar das mudanças radiológicas serem frequentemente identificadas como transitórias,

pouco se sabe se as alterações agudas que comumente ocorrem durante o tratamento

podem afetar a maturação e o desenvolvimento normais do cérebro de forma permanente.

Estudos nessa direção consideram que mesmo as alterações transitórias na substância

branca podem resultar em desmielinização das estruturas nervosas, capazes de promover

diminuição da densidade axonal e atrofia cerebral a longo prazo (Cheung et al., 2016).

Estudos neuroanatômicos fornecem evidências para alterações contínuas do SNC

após uma lesão/insulto cerebral no início da infância, que repercutem progressivamente

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ao longo do desenvolvimento cognitivo. A constatação de déficits mais acentuados em

crianças menores ao diagnóstico em domínios como atenção sustentada e funções

executivas, reforça que habilidades que estão em fase sensível de desenvolvimento

durante o tratamento podem ser particularmente suscetíveis a rupturas. Nesse contexto,

Glozman (2014) ressalta que uma lesão/insulto cerebral numa criança, além de afetar o

funcionamento de sistemas específicos, é capaz de ocasionar o subdesenvolvimento de

outros sistemas vinculados funcionalmente ao sistema diretamente prejudicado. Portanto,

em consonância aos dados encontrados no presente estudo, Glozman (2014) defende que

quanto mais precoces são os danos, mais severos serão os comprometimentos posteriores

no desenvolvimento, especialmente no contexto de insultos difusos ou globais.

Dessa forma, os achados do presente estudo são consistentes e fortalecem os

modelos de desenvolvimento que defendem a maior suscetibilidade do cérebro imaturo,

notadamente durante os primeiros 5 ou 6 anos de vida, e no contexto de insulto de

natureza difusa/generalizada, após o qual se espera uma recuperação mais lenta e maiores

impactos em crianças do que em adultos. Nessa perspectiva, compreende-se que diante

de privação ambiental e/ou lesão cerebral, há interrupção de etapas programáticas de

desenvolvimento, de modo que a influência da plasticidade não está estabelecida e o

cérebro imaturo pode não se beneficiar dos processos de plasticidade, em virtude do

esgotamento dos recursos neurais e da ausência de um plano de desenvolvimento para

direcionar a recuperação (Anderson et al., 2011; Hearps et al., 2016). Nesse âmbito,

Anderson et al. (2011) propõem que insultos cerebrais precoces impõem à atividade

cerebral um continuum que vai desde a plasticidade (boa recuperação) à vulnerabilidade

(recuperação pobre) (Anderson et al., 2011).

Tendo em vista que a substância branca cumpre um papel essencial na promoção

de novas conexões, tanto no desenvolvimento típico quanto em casos de lesão, os efeitos

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da quimioterapia sobre a substância branca podem acarretar dificuldades à ação da

plasticidade neural, de modo que as próprias chances de compensação neural e funcional

podem ser reduzidas nessa população através da inibição da regeneração axonal e da

remielinização (Follett, Roth, Follett, & Dammann, 2009; Rodgers, Trevino, Zawaski,

Gaber, & Leasure, 2013).

Para Anderson et al. (2011) o insulto cerebral em idade precoce resulta em uma

"cascata" de eventos, alguns prejudiciais e alguns benéficos, com o equilíbrio

dependendo, da natureza do insulto, da extensão, da idade da criança e do tipo de

patologia subsequente. Contudo, parece haver poucas evidências para esperar que o

cérebro em acelerado processo maturacional seja favorecido por processos de restituição

de substratos neurais e recuperação funcional, parecendo de fato estar em maior risco de

sequelas a longo prazo (Anderson et al., 2011).

Nessa direção, torna-se mais promissor considerar a interação complexa de fatores

como natureza da lesão/insulto, idade da criança ao diagnóstico, idade da criança no

momento da avaliação, aspectos socioambientais e acesso a intervenções para

compreender a trajetória de recuperação de um indivíduo ao longo de um continuum.

Ressalta-se, ainda, que embora essas variáveis possam atuar independentemente, é mais

provável que elas interajam dinamicamente, considerando o amplo espectro e a

diversidade de efeitos observados após insultos cerebrais na infância (Anderson et al.,

2011; Hearps et al., 2016).

Ressalta-se, ainda que os efeitos relacionados à idade no insulto podem se tornar

mais evidentes com o passar do tempo, ratificando a necessidade do seguimento a longo

prazo de crianças que sofrem insultos precoces na infância, como as submetidas a

tratamento antineoplásicos direcionados ao sistema nervoso central. Além disso, os

resultados de avaliação do funcionamento cognitivo nos estágios agudos pós-lesão podem

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refletir deficiências transitórias que se recuperam com o tempo (atraso no

desenvolvimento) ou não são sensíveis para identificar deficiências nas habilidades ainda

por desenvolver (déficits emergentes). Nesse sentido, é possível concluir que embora as

crianças possam funcionar normalmente imediatamente após o insulto, com o passar do

tempo e o aumento das exigências ambientais, podem deixar de fazer ganhos de

desenvolvimento esperados para a idade ou observar-se a emergência em déficits

aparentemente novos (Anderson et al., 2011).

Glozman (2014) declara que o desenvolvimento de cada nova habilidade acontece

comumente em um período ótimo. Assim, quando esse desenvolvimento não ocorre

estabelece-se uma maturação incompleta que dá seguimento a organização da função

subsequente, de modo que esta poderá também ter sua formação distorcida. Origina-se,

então, uma reação em cadeia de subdesenvolvimento ou desenvolvimento atípico

(Glozman, 2014). Nesse sentido, as dificuldades funcionais identificadas no âmbito

executivo em crianças e adolescentes com LLA, conforme observado no presente estudo,

podem estar associadas a várias rupturas do desenvolvimento neurológico que se

expressam principalmente no ponto em que os substratos anatômicos subjacentes tornam-

se críticos, mesmo que o insulto primário tenha ocorrido anteriormente, parecendo que

há um “crescimento em déficits” (Walsh et al., 2014).

Assim, sabendo-se que a maturação cerebral é marcada por uma série de surtos de

desenvolvimento, os resultados do presente estudo corroboram a hipótese de que o

tratamento antineoplásico pode promover eventos disruptivos durante períodos sensíveis

do de desenvolvimento de determinadas habilidades, acarretando em cessação ou desvio

do curso esperado (Anderson et al., 2011). Apesar de ainda não serem completamente

compreendidos, os períodos sensíveis são marcas do desenvolvimento precoce que

culminam em resultados particularmente bons ou, inversamente, desfavoráveis. Tais

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períodos são mais vulneráveis às influências patológicas, exigindo que as etapas de

desenvolvimento de uma habilidade específica sejam consideradas ao investigar as

conseqüências de um insulto precoce, conforme buscou-se realizar nesse estudo. Assim,

a ocorrência de um insulto quando habilidades são emergentes pode ter implicações

generalizadas para o curso de desenvolvimento de diversas funções, acarretando em

alterações no tempo ou ordem de aquisição de várias competências (Anderson et al., 2011;

Glozman, 2014).

Dessa forma, evidencia-se uma complexa interação entre a maturação cerebral, a

natureza da habilidade e o nível de maturidade da função (emergente, em

desenvolvimento e estabelecida) no momento do insulto. Tal aspecto pode explicar os

resultados desfavoráveis em habilidades relacionadas a atividade das estruturas frontais

no presente estudo, efeito comumente observado em diversas formas de desenvolvimento

infantil atípico e associado ao longo processo de formação de tais estruturas (Anderson

et al., 2011; Glozman, 2014).

Nesse sentido os dados apresentados são consistentes com a concepção de que

esse grupo clínico de crianças e adolescentes está sujeito a um "risco duplo", no qual o

insulto mais grave (de natureza difusa), mais cedo no desenvolvimento (até os cinco anos

de idade) tem os efeitos mais expressivos. Contudo, essa relação não é inteiramente linear

nem perfeitamente compreendida, particularmente na primeira infância em que mudanças

rápidas, saltos de desenvolvimento e/ou períodos críticos coexistem, demandando estudos

futuros mais aprofundados e cuidadosamente delineados para melhor compreender essa

complexa relação (Glozman, 2014).

Conforme aponta Anderson et al. (2011) o quadro estudado reflete o cérebro

jovem como dinâmico, no qual os mecanismos de plasticidade e recuperação parecem ser

sustentados por uma série de processos neurais complexos específicos ao cérebro imaturo.

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Assim, modelos que exploram os processos de plasticidade no contexto do insulto

cerebral precoce, como o proposto por Anderson et al. (2011), podem auxiliar na

compreensão acerca das diferenças em estruturas neurais identificadas nos sobreviventes

da LLA na infância e os fatores atrelados aos resultados cognitivos distintos encontrados,

enfatizando a importância de interpretar o funcionamento atípico dentro de um contexto

maturacional.

5.5 Considerações Finais

No presente estudo foi possível constatar a presença de alterações nos domínios

da atenção e das funções executivas de crianças e adolescentes sobreviventes de LLA,

com a presença de prejuízos maiores no desempenho dos participantes submetidos à

quimioterapia intratecal e intravenosa mais cedo, ainda na primeira infância. Os achados

sinalizaram ainda que estudos como o realizado podem auxiliar não apenas na

identificação dos efeitos relacionados ao tratamento da LLA, mas também na maior

compreensão de trajetórias de desenvolvimento neuropsicológico das habilidades

investigadas, notadamente, em um contexto adverso.

Os achados do presente estudo corroboraram sobretudo a relevância de se discutir

os impactos do tratamento do câncer infantil a partir de uma perspectiva de interação

complexa com o neurodesenvolvimento que permita a compreensão da emergência de

alterações ou desvios no desenvolvimento cognitivo típico, sobre os quais não é possível

estabelecer relações simples, estáticas ou localizadas, tendo em vista o seu caráter

multifacetado e sistêmico.

Desse modo, os dados indicam que compreender as mudanças dos mecanismos

neuroanatômicos subjacentes aos efeitos tardios cognitivos em sobreviventes de LLA é

particularmente importante dentro de um contexto pediátrico. A lesão potencial está

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ocorrendo em um sistema em estado de maturação, com implicações para o

desenvolvimento contínuo em redes neurais funcionais globais. No início da infância,

especialmente até os 7 anos de idade, período no qual se encontra o pico de incidência

dessa neoplasia, o cérebro está em acelerado crescimento e refinamento, processos que

operam de forma prolongada e sobreposta, caracterizando-se assim como um período

crítico fundamental para o desenvolvimento saudável do cérebro (Glozman, 2014; Hearps

et al., 2016).

A discussão realizada também sinaliza que a dificuldade em avançar no debate

sobre a magnitude e a qualidade da recuperação após o insulto cerebral precoce pode

residir na necessidade primeira de reconhecer as principais variáveis intervenientes que

perpassam esse processo, a saber: natureza, extensão e localização do insulto/patologia e

complicações associadas, idade da criança e variáveis ambientais. Além disso, as

limitações no uso de modernas técnicas de neuroimagem dificultam o estabelecimento de

relações entre os resultados cognitivos encontrados e efeitos do tratamento sobre

mecanismos neurais nessa população clínica.

É válido ressaltar que os recentes achados acerca das alterações nas relações entre

a atividade cerebral frontal e a conectividade intercortical associados a prejuízos da

integridade da substância branca (como circuitos subcortical-corticais) e o

comprometimento de aspectos cognitivos, especialmente aqueles com desenvolvimento

mais tardio, configuram-se como um caminho promissor de investigação. Nesse sentido,

estudos futuros, especialmente de caráter longitudinal e multicêntrico com ampla amostra

de sujeitos, podem proporcionar uma maior compreensão acerca da relação entre os

processos neurodesenvolvimentais e os tratamentos do câncer infantil utilizados no

Brasil.

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Os resultados encontrados e a discussão avançada indicam fortemente que atenção

especial é necessária junto àqueles considerados mais vulneráveis a impactos no

desenvolvimento saudável do cérebro, tais como: os pacientes mais jovens ao

diagnóstico, os pacientes que apresentaram alterações de substância branca durante o

tratamento, bem como crianças e adolescentes submetidos a tratamentos mais intensivos

e/ou mais prolongados. Além disso, apontam para a necessidade de se compreender a

extensão dos efeitos neuropsicológicos associados ao tratamento quimioterápico quando

múltiplos fatores de risco ocorrem conjuntamente, tendo em vista que podem produzir

danos mais acentuados que transcendem simplesmente a somatória dos resultados

relacionados a variáveis específicas.

Os dados apresentados somam-se às evidências de pesquisas contemporâneas que

destacam um aumento do risco de alterações neuropsicológicas quando há ocorrência de

insulto cerebral precoce, notadamente nos primeiros anos de vida, em comparação com

insulto semelhante em idade posterior. Fortalece-se, com isso, a ideia de que a maior

vulnerabilidade aos efeitos do tratamento da LLA está associada à imaturidade do SNC e

consequente descarrilamento dos processos de desenvolvimento em andamento. Nessa

direção, compreende-se que dado o aumento da população sobrevivente de câncer infantil

torna-se fundamental e urgente a identificação de intervenções precoces, adaptadas ao

cérebro em desenvolvimento, que possam minimizar os efeitos relacionados ao insulto

cerebral.

O presente estudo ratificou também a relevância de se utilizar grupos de referência

compostos por participantes saudáveis e instrumentos de avaliação sensíveis e adequados

às faixas etárias e contextos sociohistóricos distintos que supererm a avaliação de

habilidades globais e empreendam esforços na identificação de efeitos neuropsicológicos

específicos que possam estar associados ao tratamento.

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Todavia, limitações importantes relacionadas principalmente à ausência de dados

longitudinais, diversidade de protocolos de tratamento, amostra reduzida e escassez de

estudos brasileiros que possam dialogar com os resultados encontrados reforçam a

importância do adensamento de pesquisa e inovação na interface neuropsicologia e

oncologia pediátrica.

Espera-se que estudos futuros realizados com recursos avançados de

neuroimagem em diferentes etapas do tratamento possam auxiliar no enriquecimento da

compreensão dos mecanismos subjacentes aos danos transitórios e persistentes, bem

como suas repercussões sobre o neurodesenvolvimento e funções mentais complexas,

como as funções executivas. Adicionalmente, o desenvolvimento de investigações

utilizando-se biomarcadores neurológicos através da análise da composição do líquor, por

exemplo, representa uma estratégia para ajudar a identificar pacientes pediátricos em

risco de alterações cognitivas e fornecem uma alternativa para melhor direcionar as

intervenções farmacológicas e não-farmacológicas mais adequadas a esse grupo clínico.

Nesse sentido, a integração de diferentes abordagens que se complementam –

incluindo imagens anatômicas, funcionais e avaliações neuropsicológicas, permitem

explorar o cérebro em desenvolvimento, bem como compreender os mecanismos

subjacentes a alterações que repercutem no funcionamento das atividades diárias de

crianças, adolescentes e adultos sobreviventes do câncer na infância. Portanto, o

desenvolvimento de estudos sistemáticos, realizados nos próprios centros de tratamento,

através de equipes interdisciplinares, com instrumentos e recursos adequados ao contexto

hospitalar, poderão favorecer o mapeamento de efeitos a longo prazo e seus preditores e

construir estratégias de intervenção e prevenção relevantes durante e após o tratamento.

Tais esforços, por sua vez, possibilitarão maior compreensão e ampliação do debate

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acerca da organização e funcionamento cognitivo complexo em condições normais e

patológicas.

Por fim, ressalta-se que oportunidades de intervenção construídas especificamente

para crianças e adolescentes, a assistência escolar e o suporte familiar, representam

alternativas fundamentais para otimizar a recuperação após um insulto cerebral na

infância, notadamente ao serem considerados períodos sensíveis do desenvolvimento e o

papel de ambientes estimulantes e enriquecedores para o desenvolvimento ideal em

crianças saudáveis. Nesse contexto, o mapeamento de fatores facilitadores de recuperação

pós-insulto cerebral precoce deve incluir, além de variáveis clínicas relacionadas ao

tratamento e desenvolvimento, aspectos familiares, socioeconômicos e acesso a recursos

educacionais.

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6. Estudo 3: Tradução e adaptação do Questionário Comportamental

Deasy-Spinetta

6.1 Introdução

O maior conhecimento e refinamento de estratégias terapêuticas em oncologia

pediátrica permitiu um significativo crescimento nas taxas de sobrevivência de crianças

e adolescentes diagnosticados com câncer nas últimas décadas. Tais avanços, por sua vez,

possibilitaram a emergência de uma nova população de estudo no campo da psico-

oncologia pediátrica: os sobreviventes (Medín, 2009).

No Brasil, dados do INCA (2015) apontam uma incidência de cerca de 12.600

novos casos de câncer por ano na faixa etária da infância e adolescência, com ênfase para

as regiões Sudeste e Nordeste em relação a maior prevalência de diagnósticos (6.050 e

2.750, respectivamente) para o ano de 2016 (INCA, 2015). Dentre os diversos subtipos

de neoplasias, a leucemia é a mais frequente na população pediátrica (0-19 anos), sendo

a Leucemia Linfoide Aguda (LLA) a de maior incidência, correspondendo a

aproximadamente 75% das leucemias que acometem indivíduos menores de 15 anos de

idade (Cristofani, 2012; INCA, 2015).

No cerne dos progressos vivenciados na oncologia pediátrica, a LLA começou a

ser considerada uma das doenças mais compreendidas e curáveis, de forma que na

contemporaneidade, aproximadamente 80% das crianças com LLA integram o grupo de

sobreviventes (Armstrong et al., 2013; Bomken & Vormoor, 2009). Esse significativo

crescimento das taxas de cura da LLA permitiu o reconhecimento de complicações tardias

associadas aos processos de adoecimento e tratamento, exigindo maiores esforços para a

compreensão dos efeitos a longo prazo associados à doença, cujos desdobramentos

podem ter impactos no funcionamento cognitivo e na qualidade de vida dos

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sobreviventes, especialmente em seu desenvolvimento escolar (Bender & Thelen, 2013;

Lopes et al., 2000).

Estudos epidemiológicos e revisões de literatura relatam alta incidência de

dificuldades de aprendizagem identificadas através de relatos de pais e professores acerca

do desenvolvimento escolar, bem como a partir do desempenho dos sobreviventes em

instrumentos voltados à avaliação das habilidades acadêmicas e cognitivas. No cerne

desse debate, destaca-se a etapa do tratamento direcionado ao Sistema Nervoso Central

(SNC), realizada através da quimioterapia e/ou radioterapia, como fator associado às

alterações neuropsicológicas e dificuldades escolares encontradas (Bender & Thelen,

2013; Moore et al., 2013).

Na atualidade é cada vez mais evidente que impactos acadêmicos podem não

emergir até pelo menos 5 anos após o diagnóstico e parecem apresentar um declínio

progressivo no desenvolvimento escolar ao longo do tempo, de modo que sobreviventes

de LLA na infância são mais propensos a precisar de serviços de educação especial

mesmo após concluído o tratamento. Ressalta-se que este padrão alterado de

funcionamento pode levar à redução no sucesso acadêmico e profissional, bem como a

baixa autoestima e problemas de comportamento entre essa população pediátrica (Moore

et al., 2013).

Estudos nessa direção propõem que a profilaxia do SNC em idade precoce do

desenvolvimento, especialmente antes da adolescência, configura-se como insulto

cerebral difuso adquirido, comprometendo a aquisição de novas habilidades ou

competências de desenvolvimento mais tardio e/ou prolongado. Diversas investigações

nessa direção evidenciam a ocorrência de prejuízos neurocognitivos específicos

subjacentes ao declínio global da capacidade intelectiva e às dificuldades acadêmicas

frequentemente apresentadas por esse grupo clínico (Butler & Haser, 2006; Cole &

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Kamen, 2006; Gomes et al., 2012; Nathan et al., 2007; Reddick et al., 2014) que, por sua

vez, merecem investigação específica. Achados iniciais de estudos realizados no Brasil

que avaliaram o funcionamento cognitivo pós-tratamento em crianças diagnosticadas

com LLA submetidas apenas ao tratamento exclusivamente quimioterápico corroboram

a ocorrência de alterações nessa população, à medida que encontram evidências de

déficits nos domínios atencionais, de memória, funcionamento executivo e capacidade

intelectual (Gomes et al., 2012; Hazin et al., 2015).

Adicionalmente, é necessário considerar outros aspectos relacionados à

emergência de dificuldades de aprendizagem nessa população, especialmente o fato de

que o tratamento resulta em frequente e/ou prolongada ausência da escola ou absenteísmo

escolar (Barnes & Raghubar, 2014). Para Moreira e Valle (2010), a criança com câncer

encontra diversas barreiras para efetivação de sua vivência escolar, dentre as quais se

destacam: 1) as restrições do próprio tratamento antineoplásico e seus efeitos colaterais;

2) o despreparo da equipe escolar para acolhimento do estudante com câncer; 3) atitudes

de rejeição, preconceito e desinformação dos pares; 4) o receio das famílias em manter a

criança na escola, e; 5) a dificuldade na comunicação entre a equipe de saúde e os

profissionais da escola.

Nucci (2002) considera que a atuação do professor junto à criança com leucemia

deve possibilitar não apenas à adequação de estratégias didático-pedagógicas, mas

também favorecer a (re) integração da criança ao contexto acadêmico e a interação entre

a mesma e seus pares. Contudo, os professores não se sentem capacitados para lidar com

a criança nessas condições, especialmente, em razão do escasso conhecimento da doença,

do seu tratamento e seus possíveis efeitos, da dificuldade em lidar emocionalmente com

a situação, das dúvidas em relação aos procedimentos que podem ser adotados em sala de

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aula e da identificação de declínio no rendimento acadêmico da criança após o tratamento

(Câmara, 2011; Moreira & Valle, 2010; Nucci, 2002).

Moreira e Valle (2010) defendem que a estratégia mais eficaz para favorecer a

reinserção escolar de crianças com câncer está pautada na maior compreensão da

temática, com vistas a nortear ações entre os professores, a equipe hospitalar, familiares

e demais atores envolvidos. Nessa perspectiva, Nucci (2002) compreende que o professor

é um importante aliado nesse processo, sendo capaz de fornecer contribuição essencial

para retomada do convívio escolar e da qualidade de vida da criança. Além disso, o

contato diário junto à criança e ao adolescente possibilita ao professor um olhar atento e

próximo, facilitando a identificação de necessidades educacionais especiais mais

precocemente e a adequação de estratégias pedagógicas, com vistas a minimizar prejuízos

no processo de aprendizagem (Câmara, 2011).

Diante desse cenário, o Questionário Comportamental Deasy-Spinetta (DSBQ),

desenvolvido por Deasy-Spinetta (1981) caracteriza-se como uma ferramenta de

importante contribuição no acompanhamento de crianças sobreviventes da LLA,

especialmente no que tange ao processo de reinserção escolar, visto que se volta

especificamente para a avaliação de diferentes aspectos do funcionamento escolar em

crianças com câncer a partir da perspectiva do professor (Moreira & Valle, 2010). O

DSBQ foi traduzido e adaptado para diversos países, sendo voltado para crianças em

idade escolar. Consiste num instrumento multidisciplinar que abarca a investigação de

três grandes domínios: aprendizagem, socialização e aspectos emocionais, distribuídos

em 38 questões com respostas dicotômicas afirmativas ou negativas, as quais possibilitam

a coleta de informações que contribuem para o diálogo entre instituições de saúde e de

educação (Adamoli et al., 1997; Kieffer et al., 2007).

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No Brasil, ainda que se perceba um crescente interesse pela temática, há uma

escassez de estratégias relacionadas à avaliação da reinserção escolar de crianças e

adolescentes sobreviventes do câncer infantil. Uma alternativa para suprir tal carência é

adaptar ferramentas já existentes para o contexto de destino. A adaptação transcultural de

instrumentos é uma empreitada complexa que demanda procedimentos metodológicos e

planejamento, mas viável para lidar com a lacuna de instrumentais. Caracteriza-se como

uma adequação de um instrumento de uma cultura, intitulada de origem, para outra, de

destino, indo além de uma simples tradução idiomática. Este é um procedimento que

apresenta vantagens significativas, uma vez que é possível comparar dados obtidos em

diferentes amostras e contextos e culturas (Borsa, Damásio & Bandeira, 2012).

Tendo em vista que o uso do DSBQ pode auxiliar na compreensão e no acúmulo

de conhecimento acerca dos efeitos tardios da LLA, bem como favorecer atendimento

integral ao referido subgrupo clínico, subsidiando demandas de educação especial e de

estratégias de reabilitação voltadas ao pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes

sobreviventes do câncer infantil (Kieffer et al, 2007), o presente estudo teve como

objetivo promover a adaptação transcultural para o português brasileiro do DSBQ.

Especificamente, pretendeu-se: a) caracterizar o processo de tradução e retrotradução do

instrumento e sua versão brasileira; e b) verificar evidências de validade aparente ou de

face da versão brasileira junto à população de destino do instrumento.

6.2 Método

6.2.1 Desenho do estudo

A partir das proposições metodológicas para a adaptação transcultural de Beaton,

Bombardier, Guillemin e Ferraz (2000), a proposta de operacionalização do estudo de

tradução e adaptação do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta dividiu-se em seis

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passos, a saber: a) solicitação da autorização dos autores do instrumento para a submissão

do DSBQ ao procedimento de tradução e adaptação transcultural; b) tradução da versão

francesa do instrumento (Kieffer et al., 2007) para a língua do país de cultura-destino, no

caso, tradução do francês para o português brasileiro; c) tradução reversa ou retrotradução

(back translation) do português brasileiro para a língua francesa; d) comparação da

tradução reversa, gerada a partir da versão traduzida, com a versão inicial, com o intuito

de verificar a fidedignidade dos itens; e) julgamento de juízes quanto a necessidade de

revisão dos itens e∕ou necessidade de adequações semânticas, utilizando a técnica do

painel de especialistas para as avaliações (Pinheiro, Farias & Abe-Lima, 2013); e f)

administração da versão brasileira em um grupo de profissionais a que se destina o

instrumento para avaliação da inteligibilidade dos itens.

Com relação à primeira etapa, a autorização fora obtida por meio de correio

eletrônico à autora do DSBQ. Nas duas etapas seguintes, a tradução e retrotradução foram

realizadas, de forma independente e às cegas, por profissionais com ensino superior

completo conhecedores da cultura do país de origem do instrumento e, ainda que nascidos

no Brasil, fluentes na língua francesa. É válido destacar que a retrotradução ou tradução

reversa caracteriza-se pela tradução do instrumento traduzido para a cultura de destino de

volta para a língua de origem. Este passo é importante uma vez que seu objetivo é analisar,

em que medida, a versão adaptada à cultura de destino está refletindo o conteúdo do item

como propõe a versão original, evitando mudanças expressivas do sentido e significado

proposto no item original em relação a seu correlato adaptado para a cultura de destino.

Sendo assim, a retrotradução não pretende verificar a literalidade do item, mas sim,

verificar a manutenção do sentido conceitual proposto pela versão da cultura de origem

(Borsa et al., 2012).

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Na quarta etapa, três profissionais, com perfil semelhante à etapa anterior, foram

solicitados a avaliar a tradução e retrotradução no sentido de assinalar a manutenção da

literalidade dos itens do instrumento, visando garantir uma fidedignidade da versão

brasileira à versão francesa. Nesta avaliação, dois participantes eram de origem francesa

e fluentes em português brasileiro e um deles brasileiro e fluente na língua francesa. Os

profissionais avaliaram o conteúdo dos itens de forma dicotômica, assinalando se o item

foi alterado (S) ou inalterado (N) durante o processo de tradução e retrotradução.

Na etapa seguinte, fora verificada a necessidade de eventuais modificações,

adequações culturais do instrumento e construção da versão síntese prévia. Para tanto,

contou-se com o auxílio de seis profissionais, os quais eram pós-graduandos na área de

Psicologia, com experiência em uso de instrumentação psicológica, escalas e testes

psicológicos e não-psicológicos, bem como em oncologia, desenvolvimento humano,

aprendizagem e neuropsicologia. Neste painel de especialistas, solicitou-se que fossem

feitas adequações dos itens baseando-se na população a que se destina o uso do

instrumento, a saber, professores de crianças que retornam a rotina escolar após ou

durante o tratamento oncológico quimioterápico e/ou radioterápico.

Ressalta-se que o procedimento de tradução, na adaptação transcultural, supera a

tradução literal dos itens, pois esta pode resultar em itens não coerentes, incompreensíveis

e/ou incongruentes para o idioma e cultura de destino. Sendo assim, faz-se necessário,

durante este procedimento, um tratamento minucioso e ponderado, por parte de juízes

expertises, que considere as variações linguísticas, contextuais, culturais, teóricas e

práticas acerca do constructo e do instrumento adaptado (Borsa et al., 2012). Após esta

etapa, o mesmo grupo procedeu à elaboração da versão final do instrumento para

aplicação junto ao público ao qual o instrumento se destina.

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6.2.2 Procedimento para coleta de dados

O questionário em adaptação foi aplicado em uma população de 20 professores da

Educação Infantil ou Pré-Escolar, do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano), II (6º ao 9º

ano) e do Ensino Médio (1ª à 3ª série). Neste procedimento, os participantes foram

solicitados a julgar a compreensão sobre os itens do instrumento, por meio de uma escala

dicotômica, assinalando como inadequado (IN), quando o item fora avaliado como de

difícil compreensão e entendimento para um respondente ou adequado (AD), quando de

muito fácil compreensão e entendimento. Além disto, foram coletadas informações

sociodemográficas e ocupacionais dos docentes respondentes.

Este estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte e alicerçou-se na Resolução do Conselho

Nacional de Saúde - CNS 466/12, tendo sido aprovado em 29 de setembro de 2014,

através do Parecer nº 810.767.

6.2.3 Análise dos Dados

Para a avaliação dos professores escolares, utilizou-se o nível de consenso

associado à mensuração do Kappa de Fleiss (k), que avalia a confiabilidade do acordo na

avaliação entre juízes, aplicando-os para avaliar as evidências de validade aparente ou de

face. A interpretação do coeficiente Kappa pode ser classificada como: a) concordância

quase perfeita, para valores entre 0,81 e 1,00; b) concordância substancial, quando está

entre 0,61 e 0,80; c) concordância moderada entre 0,41 e 0,60; d) concordância fraca ou

pequena entre 0,21 e 0,40; e) concordância leve entre 0,0 e 0,20; e) e, nenhuma correlação

quando forem menores do que zero (0), indicando ausência de acordo (Landis & Koch,

1977).

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Para alcançar evidências de validade aparente satisfatórias adotou-se como nível

de concordância entre os juízes pelo menos 80% e que os valores do Kappa deveriam ser

superiores a 0,61, que indicam concordância substancial no julgamento dos respondentes.

Os demais dados foram analisados através de estatística descritiva. Para efetuar as

análises, contou-se com o auxílio do software estatístico Minitab, versão 15.1.

6.3 Resultados

Concedida à autorização do autor, submeteu-se o DSBQ ao processo de tradução

e retrotradução (back translation), ressaltando a etapa de comparação da tradução reversa

com a versão inicial. Os resultados deste processo podem ser vistos na Figura 5.

OR TR RT CO

1. vient volontiers à l'école Vai à escola sem reclamar va à l’école de façon spontanée

S

2. fréquente l'école régulièrement

Frequenta a escola com regularidade

frequente l’école régulièrement

N

3. exprime de l'appréhension vis-à-vis de l'école

Expressa receio em relação à escola

exprime une appréhension vis-à-vis de l’école

S

4. suit le niveau de la classe Acompanha o nível da turma suit le niveau de la classe N

5. achève le travail qui lui est demandé

Dá conta das tarefas que lhe são solicitadas

réussi les tâches démandées S

6. est capable de se concentrer

É capaz de se concentrar Est capable de se concentrer N

7. présente des difficultés d'apprentissage

Apresenta dificuldades de aprendizagem

présente des difficultés d’apprentissage

N

8. sociable, échange avec ses camarades

É sociável, interage com os colegas

est sociable, intéragit avec les camarades de classe

N

9. a des difficultés à rester sur une tâche

Tem dificuldade para permanecer numa tarefa

présente des diffcicultés pour rester dans une activité

N

10. a des difficultés à suivre des consignes orales

Tem dificuldade em seguir instruções verbais

présente des difficultés pour suivre des instructions verbales

N

11. ne peut pas rester tranquille, est remuant ou hyperactif

Não consegue ficar quieto, é agitado ou hiperativo

n’arrive pas à rester calme, est agité ou hyperactif N

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12. participe à des sports ou des activités physiques organisées

Pratica esportes ou participa de atividades físicas regulares

pratique des activités physiques ou sportives de façon régulière

S

13. parle de ses activités Fala de suas atividades il parle de ses activités N

14. a l'initiative d'activités avec ses camarades

Toma a iniciativa em atividades com seus colegas

prend l’initiative auprès de ses camarades

N

15. parle facilement avec ses professeurs

Fala facilmente com seus professores

parle facilement avec ses enseignants

N

16. passe du temps seul(e), paraît triste

Passa o tempo sozinho, parece triste

reste seul la plupart du temps, semble triste

S

17. peu actif, lent dans les mouvements ou manque d'énergie

É pouco ativo, lento em seus movimentos ou lhe falta disposição

est peu attentif, lent dans ses mouvements ou lui manque d’energie, de motivation

S

18. est souvent l'objet de moquerie

É frequentemente submetido a gozação

est souvent cible de moquerie N

19. essaie des choses nouvelles

Experimenta coisas novas essaye de nouvelles choses N

20. se blesse facilement, est enclin aux accidents

Fere-se facilmente, tem tendência a se machucar

se blesse facilement et a tendence à se blesser

S

21. soigne sa présentation physique

Cuida de sua aparência física prend soin de son apparence physique

N

22. pleure, gémit, se plaint Chora, geme, se queixa pleure, gemit et se plaint N

23. s'inquiète beaucoup É muito inquieto est très inquiet S

24. n'accepte pas les critiques et revendique beaucoup

Não aceita críticas e reclama muito

n’accepte pas des critiques et revendique beaucoup

N

25. est attentif et s'intéresse aux autres

É atencioso e demonstra interesse pelos outros

est attentionné et montre de l’intérêt vis à vis des autres

S

26. cherche des signes physiques, verbaux, d'affection ou d'approbation

Procura sinais físicos ou verbais que indiquem afeto ou aprovação

cherche des signes physiques ou verbaux indicateurs d’affect ou d’approbation

N

27. se « colle » aux adultes ou trop dépendant

“Gruda” nos adultos ou é excessivamente dependente

colle aux adultes ou est trop dépendant

N

28. manque de confiance et est facilement embarrassé

Demonstra falta de confiança e se envergonha facilmente

démontre manque de confiance et se vexe facilement

S

29. se fait remarquer, fait des bêtises dans la classe

É exibido, faz besteiras durante as aulas

fait souvent de bêtises pendant les cours et aime se montrer

N

30. présente des signes de troubles émotionnels

Apresenta sinais de problemas emocionais

présente des signes de problèmes affectifs

N

31. a des difficultés de mémorisation ou pour enchaîner les tâches

Tem dificuldades de memorização ou para concatenar tarefas

a des difficultés de mémoire ou pour enchainer des idées S

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32. a des difficultés spécifiques dans le domaine de la lecture

Tem dificuldades específicas no domínio da leitura

a des difficultés spécifiques dans le domaine de la lecture N

33. a des difficultés spécifiques dans le domaine des mathsa

Tem dificuldades específicas no domínio da matemática

a des difficultés spécifiques dans le domaine des mathématiques

N

34. a des difficultés dans les tâches demandant un raisonnement

Tem dificuldades em tarefas que exigem raciocínio

a des difficultés dans des tâches relevant d’un raisonnement

N

35. a 2 ou 3 amis proches Tem 2 ou 3 amigos próximos a 2 ou 3 amis proches N

36. se comporte comme un enfant plus jeune que son âge

Comporta-se como uma criança de idade inferior à sua

se comporte comme un enfant plus jeune que son âge

N

37. se comporte comme un enfant plus vieux que son âge

Comporta-se como uma criança de idade superior à sua

se comporte comme un enfant plus vieux que son âge N

38. essaye de manipuler les autres dans son intérêt

Tenta manipular os outros a seu favor

essaye de manipuler les autres à sa faveur

N

Legenda: OR, itens originais em francês; TR, itens traduzidos para o português; RT, retrotradução dos itens em português para o francês; CO, comparação literal do item original e da retrotradução; S, item alterado de acordo com a avaliação dos juízes; N, item inalterado de acordo com a avaliação dos juízes.

Figura 5. Tradução e retrotradução (back translation) do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta.

Na Figura 6 pode ser visualizada a versão síntese do instrumento após os

julgamentos de juízes quanto à necessidade de revisão dos itens e∕ou necessidade de

adequações semânticas. Verificou-se que para a elaboração da mesma os itens foram

incorporados de forma integral ou parcialmente, após modificações pontuais. Essas

adequações foram realizadas com o objetivo de tornar o instrumento inteligível à

população de destino, bem como coerente semanticamente com a versão original.

Itens 1 Vai à escola sem reclamar? ( ) S ( ) N

2 Frequenta a escola com regularidade? ( ) S ( ) N

3 Expressa receio em relação à escola? ( ) S ( ) N

4 Acompanha o nível da turma? ( ) S ( ) N

5 Conclui as tarefas que lhe são solicitadas? ( ) S ( ) N

6 É capaz de se concentrar? ( ) S ( ) N

7 Apresenta dificuldades de aprendizagem? ( ) S ( ) N

8 É sociável, interage com os colegas? ( ) S ( ) N

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9 Tem dificuldade para permanecer numa tarefa? ( ) S ( ) N

10 Tem dificuldade em seguir instruções verbais? ( ) S ( ) N

11 Não consegue ficar quieto, é agitado ou hiperativo? ( ) S ( ) N

12 Pratica esportes ou participa de atividades físicas com regras? ( ) S ( ) N

13 Fala de suas atividades? ( ) S ( ) N

14 Toma a iniciativa em atividades com seus colegas? ( ) S ( ) N

15 Fala facilmente com seus professores? ( ) S ( ) N

16 Passa tempo sozinho, parece triste? ( ) S ( ) N

17 É pouco ativo, lento em seus movimentos ou lhe falta disposição? ( ) S ( ) N

18 É frequentemente submetido a gozação? ( ) S ( ) N

19 Experimenta coisas novas? ( ) S ( ) N

20 Machuca-se facilmente, tem tendência a se acidentar? ( ) S ( ) N

21 Cuida de sua aparência física? ( ) S ( ) N

22 Chora, geme, se queixa? ( ) S ( ) N

23 É muito preocupado? ( ) S ( ) N

24 Não aceita críticas e reclama muito? ( ) S ( ) N

25 É atencioso e demonstra interesse pelos outros? ( ) S ( ) N

26 Procura sinais físicos ou verbais que indiquem afeto ou aprovação? ( ) S ( ) N

27 “Gruda” nos adultos ou é excessivamente dependente? ( ) S ( ) N

28 Demonstra falta de confiança e se envergonha facilmente? ( ) S ( ) N

29 É exibido, faz besteiras durante as aulas? ( ) S ( ) N

30 Apresenta sinais de problemas emocionais? ( ) S ( ) N

31 Tem dificuldades de memorização ou para organizar tarefas? ( ) S ( ) N

32 Tem dificuldades específicas no domínio da leitura? ( ) S ( ) N

33 Tem dificuldades específicas no domínio da matemática? ( ) S ( ) N

34 Tem dificuldades em tarefas que exigem raciocínio? ( ) S ( ) N

35 Tem 2 ou 3 amigos próximos? ( ) S ( ) N

36 Comporta-se como uma criança de idade inferior à sua? ( ) S ( ) N

37 Comporta-se como uma criança de idade superior à sua? ( ) S ( ) N

38 Tenta manipular os outros a seu favor? ( ) S ( ) N

Legenda: S: Sim; N: não. Fonte: Dados da pesquisa. Figura 6. Versão síntese do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta.

Na etapa de administração da versão brasileira entre o grupo de professores, para

avaliação da inteligibilidade dos itens, participaram 20 professores, com idade entre 25 e

67 anos (M: 38,55, DP: ±12,31) e com diferentes formações e tempo de atuação (Tabela

15). Os professores participantes avaliaram o instrumento como adequado e

compreensível à população a que se destina, observado no acordo um valor bruto

consensual de 81%. A concordância verificada com auxílio do Kappa de Fleiss foi de

0,6882 (Desvio padrão: ±0.0247), indicando concordância substancial.

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Tabela 15. Dados da etapa de administração da versão brasileira entre o grupo de professores, para avaliação da inteligibilidade dos itens.

Dados FA PC

Sexo Feminino 16 80% Masculino 4 20%

Tipo de Escola Privada 9 45% Pública 11 55%

Nível de Ensino Educação Infantil 8 40%

Ensino fundamental (I e II) 6 30% Ensino Médio 6 30%

Nota: FA, frequência absoluta; PC, porcentagem. Fonte: Dados da pesquisa.

Ressalta-se que foram sugeridas modificações quanto ao conteúdo de alguns itens,

como a exemplo do item nº 13, “Fala de suas atividades?”. Fora sugerido que o item

especificasse o tipo de atividade a que se refere. Entretanto, apesar das sugestões serem

relevantes em termos de conteúdo, consultou-se o grupo de especialistas, os quais

sugeriram manter a redação original dos itens da versão síntese já elaborada, em função

dos valores de concordância bruta e estatística obtidas no presente estudo.

A Figura 7 apresenta a versão final do instrumento traduzido e adaptado no presente

estudo.

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Figura 7. Versão final do Questionário Comportamental Deasy-Spinetta.

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6.4 Discussão

O objetivo do presente estudo foi realizar a tradução e adaptação transcultural do

Questionário Comportamental Deasy-Spinetta para o contexto brasileiro, visto que este

pode se constituir como uma ferramenta de grande utilidade na investigação do

funcionamento acadêmico de crianças com câncer em processo de reinserção escolar,

notadamente no que concerne aos domínios da aprendizagem, socialização e aspectos

emocionais, favorecendo a identificação de dificuldades e construção de estratégias de

intervenção precoce adequadas a serem desenvolvidas pela escola, pela equipe de saúde

e pela família.

Os resultados indicaram que após realizadas as etapas referentes à adaptação do

DSBQ para o português brasileiro o instrumento apresentou validade aparente ou de face,

sendo um recurso de fácil manuseio e aplicação. Dessa forma, o processo de tradução e

adaptação realizado possibilita a disponibilização do DSBQ como ferramenta auxiliar em

pesquisas e serviços de acompanhamento contínuo sobre o funcionamento escolar de

crianças e adolescentes antes, durante e após o tratamento para o câncer infantil no Brasil.

Considerando-se que dentre os efeitos que tem sido objeto de preocupação dos

profissionais que atuam na oncologia pediátrica destacam-se os impactos do pós-câncer

nos processos que envolvem o ensino e a aprendizagem das crianças e adolescentes

sobreviventes (Silva & Valle, 2008), o uso DSBQ adaptado para o português brasileiro

permite o rastreio e a maior compreensão dos efeitos relacionados aos processos de

adoecimento e tratamento sobre aspectos específicos do cotidiano escolar, especialmente

no que tange à (re) inserção escolar, a aprendizagem, a socialização e características

emocionais.

A administração do referido instrumento junto aos professores de crianças e

adolescentes diagnosticados com LLA apresenta ainda uma contribuição particular, visto

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que essa neoplasia é a mais frequente na infância, os pacientes são diagnosticados

geralmente no período inicial dos processos de escolarização (entre dois e cinco anos de

idade), o tratamento é bastante prolongado (entre dois e três anos de duração), a

terapêutica é composta por quimioterapia e/ou radioterapia direcionadas ao sistema

nervoso central e os índices de sobrevivência chegam a 80% nos principais centros de

tratamento.

Crianças e adolescentes sobreviventes de LLA na infância apresentam ainda

queixas recorrentes relacionadas a dificuldades de aprendizagem, requerendo na maioria

das vezes atendimento educacional especializado nas escolas ou em instituições

adequadas. Isso posto, é visível que tais crianças representam uma nova população

também inserida no contexto escolar, que por suas características próprias, não pertencem

ao tradicional grupo de estudantes com necessidades especiais, constituídos em sua

essência por aqueles com deficiência física, visual, auditiva ou intelectual (Moreira &

Valle, 2010).

Todavia, estudos desenvolvidos com ênfase no desenvolvimento escolar dessa

população clínica evidenciam que após finalizado o tratamento cerca 60% dos

sobreviventes podem ser identificados como portadores de dificuldades de aprendizagem,

apresentando especialmente reduções progressivas no desempenho da atividade

matemática, mesmo após o desenvolvimento e implementação de protocolos de

tratamento menos agressivos que substituíram à radioterapia pela quimioterapia intratecal

(Barnes & Raghubar, 2014; Espy et al., 2001; Moore et al., 2013; Temming & Jenney,

2010). Tais achados corroboram a hipótese de que a terapêutica pode ter impacto sobre o

funcionamento escolar dessas crianças, sendo de grande relevância a investigação e

identificação de tais aspectos a partir de ferramentas específicas, construídas com foco

nessa população, como o DSQB, que possam agregar, além de dados obtidos através da

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investigação do funcionamento cognitivo e acadêmico junto a tais sobreviventes e seus

familiares, a percepção do professor.

Nessa perspectiva, a utilização de métodos que abarquem diferentes fontes de

informações como questionários respondidos pelos pais e relatórios de professores são

capazes de agregar valor aos achados junto a esssa população (Buizer et al., 2006). Essa

compreensão reforça a relevância na construção, tradução e adaptação de instrumentos

que auxiliem no acompanhamento sistemático de crianças e adolescentes que após o

diagnóstico do câncer estão retomando a sua rotina escolar. De forma particular, um

instrumento que considere o olhar do professor para aspectos que podem ser afetados

pelos processos de adoecimento e tratamento de neoplasias infantis apresenta valor

adicional, tendo em vista que o professor através da sua competência técnica, experiência

e habilidades no fazer pedagógico diário encontra-se em uma posição singular que

favorece a identificação precoce de dificuldades de aprendizagem e a construção de

estratégias de intervenção (Nucci, 2002).

Ressalta-se ainda, que dentre outras características o DSBQ abrange a investigação

de fatores que têm sido abordados também como relacionados às dificuldades enfrentadas

por crianças e adolescentes sobreviventes de leucemia, para além de alterações

cognitivas. Nessa direção, estudos apontam que crianças com leucemia passam um tempo

considerável no hospital, perdem quantidades significativas de aulas escolares, sentem-

se mais cansadas facilmente e são restritas em aspectos mais ativos de aprendizagem do

que as crianças saudáveis. Tais fatores têm sido relacionados com o desempenho reduzido

na avaliação da inteligência, em especial naquelas tarefas com forte componente escolar

(Barnes & Raghubar, 2014; Raymond-Speden et al., 2000).

Diante desse cenário, a literatura aponta que instrumentos largamente utilizados

para avaliar aspectos comportamentais na infância, tais como o Child Behavior Checklist

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(CBCL), podem não ser suficientemente sensíveis às dificuldades vivenciadas por tais

crianças, visto que na maioria das vezes não abrangem as especificidades e efeitos

relacionados aos processos de adoecimento e tratamento oncológico, que podem emergir

no cotidiano escolar ao longo e depois de finalizada a terapêutica do câncer infantil (Silva

& Valle, 2008).

É válido ressaltar que a necessidade de se obter informações de perfil de

funcionamento escolar na crescente população de sobreviventes de LLA na infância,

corrobora à realização da adaptação de um instrumento já elaborado, em detrimento da

construção de um novo instrumento, visto que tal estratégia permite o diálogo entre os

dados obtidos em diferentes contextos, possibilitando uma maior capacidade de

generalização dos achados, bem como a constatação de diferenças entre populações e

protocolos de tratamento diversificados (Borsa et al., 2012).

As etapas seguidas pelo presente estudo e os seus resultados corroboram a hipótese

de que o processo de adaptação transcultural vai além da mera tradução de um

instrumento, sendo necessário considerar a pertinência dos conceitos e domínios que

integram o instrumento original na nova cultura, bem como a equivalência semântica,

linguística e contextual entre os itens originais e traduzidos. Adicionalmente, os

resultados satisfatórios alcançados a partir da etapa de aplicação prévia do instrumento

em uma pequena amostra que representava características da população-alvo (professores

de ensino básico) foram fundamentais para assegurar a validade de face do referido

instrumento adaptado, tendo em vista que tais participantes eram competentes para avaliar

a adequação e qualidade dos itens em relação ao seu significado e à sua dificuldade de

compreensão (Beaton et al., 2000; Borsa et al., 2012).

Destaca-se, ainda, a relevância de tradução e adaptação do DSQB para o português

brasileiro, como iniciativa de estudo em laboratório de pesquisa situado no Nordeste do

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país, região com elevado número de casos diagnosticados anualmente, com pacientes em

sua maioria atendidos por serviços públicos de saúde e muitas vezes diagnosticados

tardiamente, o que representa agravamento do quadro clínico, adoção de terapêuticas

mais agressivas, maiores efeitos colaterais relacionados ao tratamento e redução das

chances de cura e reabilitação (Hazin et al., 2015). Tais fatores, por sua vez, promovem

dificuldades adicionais à manutenção do estilo de vida anterior da criança, lhe impondo

restrições e mudanças que favorecem o abandono ou insucesso escolar (Silva & Valle,

2008).

Na atualidade, constata-se que a maioria dos sobreviventes de LLA encontra-se em

escolas regulares e enfrenta problemas relevantes no cotidiano acadêmico em relação aos

aspectos cognitivos, educacionais e comportamentais, apresentando desempenho escolar

inferior aos seus pares. Isso posto, torna-se evidente a necessidade da assistência integral

aos sobreviventes de câncer infantil, especialmente ao grupo de crianças e adolescentes

que recebeu terapêutica direcionada ao sistema nervoso central. Este deve ser

acompanhado continuamente através de avaliações neuropsicológicas sistemáticas e

monitoramento do seu desenvolvimento escolar para que suas dificuldades possam ser

atendidas com intervenções adequadas (Buizer et al., 2006; Moreira & Valle, 2010).

Nesse sentido, o desenvolvimento, tradução, adaptação e a incorporação de recursos

auxiliares em protocolos de avaliação voltados à compreensão das alterações que

repercutem no contexto escolar dessas crianças, tais como a socialização, aspectos

emocionais e dificuldades específicas no processo de aprendizagem, como propõe o

DSBQ, são de grande relevância para identificação da natureza e extensão de sequelas ou

dificuldades. Além disso, a utilização do DSBQ favorece o manejo adequado de tais

impactos, para que as ações desenvolvidas pela equipe escolar e multiprofissional

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previnam o abandono e o fracasso escolar e contribuam com o sucesso acadêmico e futuro

profissional dos sobreviventes.

Tais esforços são de imensa relevância, pois como aponta Deasy-Spinetta (1981),

as crianças sobreviventes de neoplasias estão aptas a frequentar a escola, conviver com

seus pares e integrar o mundo profissional, pois são sujeitos com potencial para crescer e

se desenvolver como seus semelhantes. Contudo, observa-se ainda a escassez de

ferramentas específicas voltadas ao acompanhamento do desenvolvimento escolar de

crianças com câncer no contexto brasileiro e de programas de acompanhamento à

reinserção escolar desse subgrupo clínico.

Por fim, espera-se que a disponibilização e o uso do DSBQ no contexto brasileiro

possam subsidiar pesquisas cujos resultados sejam traduzidos em políticas públicas que

contemplem a capacitação profissional e possibilitem à prevenção ou intervenção precoce

de efeitos deletérios ao desenvolvimento escolar dessa população clínica, tanto no âmbito

da saúde quanto da educação.

6.5 Considerações Finais

Diversos estudos têm demonstrado que o funcionamento escolar de pacientes

oncológicos pediátricos de LLA podem ser afetados pelos processos de adoecimento e

tratamentos a que são submetidos. Todavia, os estudos acerca dos impactos

neuropsicológicos, psicossociais e acadêmicos são limitados, especialmente em

decorrência da escassez de instrumentos sensíveis que possam detectar alterações ao

longo do desenvolvimento dessa população clínica junto aos atores que tem como papel

mediar e garantir a promoção desse desenvolvimento, os professores.

Nesse sentido, os resultados do presente estudo avançam no sentido de ampliar a

disponibilidade de um instrumento de fácil aplicação e baixo custo especificamente

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construído para o acompanhamento de crianças e adolescentes diagnosticados com

neoplasias infantis, favorecendo a instrumentalização para serviços de atendimento em

saúde e educação, bem como para o desenvolvimento de pesquisas com esse público-

alvo. Soma-se a isso, o fato de o DSBQ ser utilizado em diferentes países em programas

voltados à inserção ou reentrada escolar de tais pacientes, possibilitando entre outras

vantagens o diálogo entre o perfil de funcionamento escolar de crianças e adolescentes

submetidos ao tratamento oncológico em diferentes partes do mundo.

A relevância desse estudo se consolida com a sua aprovação para publicação sob

a forma de artigo científico na Revista Psicologia da Educação¸ periódico da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, vinculado ao Programa de Estudos Pós-Graduados

em Psicologia da Educação (versão On-line ISSN 2175-3520)

Ressalta-se, ainda, que o processo de tradução e a adaptação transcultural é apenas

um primeiro passo na construção de tais ferramentas, de forma que estudos futuros mais

ampliados com dados que contemplem a avaliação do funcionamento escolar de crianças

e adolescentes com diferentes neoplasias comparados com seus pares saudáveis, a partir

da perspectiva do professor, serão capazes de constatar a sensibilidade dessa ferramenta

para a identificação e compreensão das dificuldades e efeitos que um paciente oncológico

atravessa no seu contexto escolar. Nesse contexto, é válido sublinhar a necessidade de

pesquisas adicionais que se debrucem sobre a validade e fidedignidade desse instrumento

para populações específicas, capazes de delinear inclusive problemas que podem surgir

no processo de utilização de tal ferramenta.

Por fim, é válido ressaltar que o DSBQ se configura sobretudo como um

instrumento de rastreio dos aspectos emocionais, comportamentais e de aprendizagem

que se expressam no contexto escolar, de modo que as informações fornecidas a partir de

seus itens devem ser complementadas e/ou correlacionadas com dados oriundos de outras

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fontes de informações, notadamente de avaliação neuropsicológica em caso de pacientes

submetidos a tratamento direcionado ao SNC.

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7. Estudo 4: Investigação de aspectos acadêmicos em crianças e

adolescentes diagnosticados com LLA

7.1 Introdução

Imagine que no momento em que você terminar de ler esta frase, você não consegue se lembrar de como começou, quando chegar ao topo da escada, você não consegue se lembrar do que estava buscando ou quando chegou ao telefone, não pode se lembrar do número que você estava prestes a ligar. Agora imagine que você não está mostrando sinais precoces de envelhecimento, mas está no auge de seus anos de infância. Você ainda tem que enfrentar os desafios da adolescência, incluindo a seleção de horários alternativos do Ensino Médio, o malabarismo com as múltiplas etapas necessárias para a aceitação na faculdade, automatizar as micro-rotinas envolvidas em aprender a dirigir e monitorar as nuances das interações sociais da adolescência. Estes são precisamente os desafios enfrentados por um grupo cada vez maior de sobreviventes que seguem a terapia moderna para leucemia linfoblástica aguda (LLA). (Reddick & Conklin, 2010, p. 655)

A leucemia linfoide aguda (LLA) é a forma mais comum de câncer infantil,

chegando a cerca de um terço de todos os cânceres em crianças e adolescentes com idade

inferior a 15 anos. O tratamento constituído por quimioterapia isolada ou combinada à

radioterapia é bastante prolongado durando entre 30 e 36 meses. Apesar da crescente taxa

de sobrevida, aproximadamente metade desses sobreviventes apresenta problemas de

aprendizagem, um fenômeno não conhecido até a década de 1970 quando o diagnóstico

era acompanhado por altas taxas de mortalidade (Barnett & Hart, 2008; Moore et al.,

2012).

O tratamento profilático direcionado ao Sistema Nervoso Central é comumente

apontado como responsável por alterações neuropsicológicas que emergem

eminentemente no contexto escolar (Moreira & Valle, 2010). Estas se tornam cada vez

mais evidentes em relatos de pais e professores acerca do rendimento acadêmico, bem

como no desempenho de crianças e adolescentes sobreviventes em instrumentos e tarefas

voltados à avaliação de habilidades acadêmicas específicas. Estes prejuízos no

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funcionamento escolar podem levar a um nível educacional mais reduzido e a elevadas

taxas de desemprego na idade adulta (Cheung et al., 2016; Espy et al., 2001; Moore et al.,

2013).

Diante desse cenário, o desenvolvimento acadêmico entre sobreviventes de LLA

na infância tem sido foco de ampla preocupação entre profissionais e familiares. Estudos

frequentemente sugerem um aumento do risco de problemas comportamentais e de

aprendizagem desses pacientes pediátricos quando comparados a estudantes da mesma

idade, com dificuldades principais no âmbito da escrita, leitura e atividade matemática

(Barnes & Raghubar, 2014; Temming & Jenney, 2010).

Anderson et al. (2000) investigaram mudanças nas habilidades intelectuais e

educacionais ao longo do tempo para sobreviventes de câncer infantil diagnosticados

antes dos cinco anos de idade. Esses pesquisadores observaram que o grupo que recebeu

radioterapia apresentou desempenho rebaixado em leitura, escrita e aritmética, já aqueles

que receberam apenas quimioterapia apresentaram resultados semelhantes ao obtido por

crianças saudáveis (Anderson et al., 2000). Tais pesquisadores observaram também

melhorias ao longo do tempo nas habilidades de leitura e escrita no grupo submetido à

radioterapia. A partir disso concluíram que tal sucesso estaria associado com as

intervenções implementadas após a primeira avaliação, tendo em vista que o grupo

irradiado se caracterizou como aquele que mais recebeu assistência educacional durante

o tratamento. Tais resultados, portanto, significaram avanços positivos no que concerne

à compreensão sobre os pontos preservados e deficitários das crianças participantes, além

de ressaltar a relevância da implementação de estratégias de intervenção educacionais

precoces adequadas (Anderson et al., 2000).

Considerando que outros fatores podem estar relacionados às dificuldades de

aprendizagem pós-tratamento da LLA, tais como, períodos de hospitalização

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prolongados, perda frequente de aulas, efeitos colaterais do tratamento e restrições em

atividades específicas e comuns na educação infantil, Raymond-Speden et al. (2000)

investigaram o funcionamento intelectual, neuropsicológico e acadêmico de crianças

sobreviventes de LLA tratadas com quimioterapia combinada ou não à radioterapia,

comparado ao de crianças saudáveis e com asma crônica. Estas últimas foram

selecionadas para grupo controle por também serem frequentemente hospitalizadas, se

ausentarem constantemente das atividades escolares e vivenciarem fadiga diurna

decorrentes de alterações de sono. Os resultados indicaram que a quimioterapia profilática

do SNC, com e sem irradiação craniana, está associada a níveis significativamente mais

baixos de funcionamento intelectual e acadêmico, com piores resultados no grupo de

pacientes irradiados. Ademais, os dados apontaram que a asma crônica está associada a

um menor funcionamento, mas não significativamente diferente, desses domínios em

relação ao desempenho do grupo composto por participantes saudáveis (Raymond-

Speden et al., 2000).

Kingma, Rammeloo, Berg e Postma (2000) investigaram a trajetória escolar de 28

sobreviventes de LLA durante 13 anos e compararam os resultados encontrados com

dados de desenvolvimento acadêmico de 48 irmãos saudáveis dos referidos pacientes. Os

achados indicaram que os primeiros alcançaram níveis de escolaridade significativamente

menores do que seus irmãos e foram mais frequentemente encaminhados para escolas

especiais, voltadas a pessoas com deficiência ou dificuldades de aprendizagem. A menor

idade ao diagnóstico se apresentou como um fator específico determinante para reduzida

carreira acadêmica muitos anos após o tratamento, alertando para maior vulnerabilidade

das crianças mais novas. Além disso, os pesquisadores enfatizaram que, considerando os

13 anos de acompanhamento, não houve correlação entre o absenteismo escolar e os

baixos resultados encontrados entre os sobreviventes de LLA (Kingma et al., 2000).

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De forma mais específica, ao passo que estudos com ênfase nos efeitos tardios

associados ao tratamento exclusivamente quimioterápico sobre as habilidades acadêmicas

têm constatado resultados dentro do esperado nos domínios da leitura e escrita, também

têm verificado prejuízos acentuados na atividade matemática, notadamente, três anos ou

mais após o diagnóstico, mesmo quando controlada a quantidade de faltas escolares

(Barnes & Raghubar, 2014; Brown, Madan-Swain, & Pais, 1992; Brown, Sawyer, &

Antoniou, 1996; Moore et al., 2013; Moore et al., 2012; Temming & Jenney, 2010).

Os resultados produzidos pelo estudo desenvolvido por Buizer et al. (2006)

corroborou com achados relacionados à presença de dificuldades na atividade matemática

e alterações cognitivas nessa população clínica, identificando ainda que o baixo

desempenho nessa disciplina estava correlacionado a uma pior atenção sustentada e a

maior intensidade do tratamento. Tais achados também reforçaram que a baixa frequência

escolar não desempenhava um papel importante nos resultados obtidos, visto que mais de

70% dos participantes sobreviventes de LLA concluíram o tratamento antes de começar

a educação infantil (Buizer et al., 2006).

Para Duffner et al. (2014), as dificuldades atencionais e a baixa resistência à

distração são os principais pontos de fragilidade nesse subgrupo clínico, estando

associados, portanto, a impactos importantes ao sucesso educacional futuro.

Compreende-se assim que as alterações de atenção frequentemente identificadas em

crianças com LLA submetidas a tratamento quimioterápico, não estão associadas apenas

com problemas cognitivos subclínicos, mas são parte de um achado significativo com

consequências para a vida escolar e atividades diárias.

Considerando os estudos abordados, observa-se que a maioria dos sobreviventes

de LLA na atualidade podem enfrentar problemas no contexto escolar, especialmente no

que concerne aos aspectos cognitivos, educacionais e comportamentais, que interagem e

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se sobrepõem. Moreira e Valle (2010) apontam que, apesar das incertezas acerca da

origem, natureza e gravidade dos prejuízos acadêmicos, é imprescindível que as crianças

que receberam terapêutica direcionada ao sistema nervoso central sejam acompanhadas

através de avaliações neuropsicológicas e monitoramento do seu desenvolvimento escolar

e recebam intervenções e atenção adequadas. Adicionalmente, os autores sinalizam que

algumas dificuldades de aprendizagem podem ser agravadas por serem vistas como

problemas de comportamento, quando na realidade se constituem como déficits de

atenção, memória, fadiga, dentre outros aspectos subjacentes aos problemas de

aprendizagem em pacientes oncológicos na infância (Moreira & Valle, 2010).

Os esforços voltados para ampliação da qualidade de vida entre as crianças

sobreviventes têm levado equipes de saúde a inserirem em sua rotina programas voltados

à reinserção escolar dos pacientes pediátricos. No Brasil, tal prática tem sido caracterizada

predominantemente pela construção e/ou tradução de diferentes materiais informativos

sobre o câncer infantil e suas implicações físicas e psicossociais (Moreira & Valle, 2010),

com escasso conhecimento acerca de ações mais específicas que insiram na pauta os

possíveis efeitos neuropsicológicos e acadêmicos que podem acometer crianças e

adolescentes sobreviventes da neoplasia mais comum na infância, a LLA.

Nessa perspectiva, apesar de um crescente corpo de literatura internacional que

documenta os efeitos adversos do tratamento direcionado ao SNC sobre as habilidades

acadêmicas de pacientes pediátricos com LLA, raros são os estudos publicados no Brasil

que especificam o tipo, a gravidade e as possíveis relações entre as dificuldades

encontradas, aspectos neuropsicológicos e protocolos de tratamentos utilizados, e como

consequência, mais escassas ainda são as intervenções projetadas para auxiliar o grupo

de crianças e adolescentes sobreviventes da leucemia na infância em suas dificuldades no

cotidiano escolar.

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Nesse sentido, esse estudo buscou investigar aspectos acadêmicos em

sobreviventes de LLA que realizaram tratamento apenas quimioterápico, em instituições

de referência no tratamento oncológico pediátrico no estado do Rio Grande do Norte,

situado no Nordeste do Brasil.

7.2 Método

7.2.1 Instituições

Colaboraram com o presente estudo escolas públicas e privadas do estado do Rio

Grande do Norte, nas quais foram coletados dados junto aos professores de crianças e

adolescentes sobreviventes de LLA e realizadas avaliações das habilidades acadêmicas

de crianças e adolescentes que constituíram o grupo de participantes saudáveis. Os

participantes integrantes do grupo clínico estavam vinculados às principais instituições

de tratamento oncológico infantil no estado: Hospital Infantil Varela Santiago e à Liga

Norte Riograndense Contra o Câncer. Conforme diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisas envolvendo seres humanos previstas na Resolução 466/12 do Conselho

Nacional de Saúde – CNS, o estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte e da Liga Norte Riograndense Contra o Câncer2, e teve

anuência concedida pelas duas instituições para a realização da pesquisa.

7.2.2 Participantes

Participaram deste estudo 26 professores de crianças e adolescentes

diagnosticados com LLA, que foram solicitados a responder o Questionário

Comportamental Deasy-Spinetta (DSBQ).

2 CAAE número 31266814.6.0000.5537, parecer número 810.767, de 03/09/2014 e CAAE 31266814.6.3001.5293, parecer número 861.284, de 03/11/2014.

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Compuseram também esse estudo 26 crianças e adolescentes diagnosticados com

LLA – integrantes do grupo clínico – que já haviam finalizado o tratamento. Como

integrantes do grupo controle foram incluídas 26 crianças e adolescentes saudáveis, sem

histórico de alterações neurológicas, psiquiátricas, alterações sensoriais não corrigidas e

dificuldades de aprendizagem. Na construção do grupo controle foram consideradas as

variáveis sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico dos participantes do grupo

clínico, numa proporção de 1:1.

Os participantes do grupo clínico foram selecionados observando-se os seguintes

critérios de inclusão: 1) diagnóstico de leucemia linfoide aguda; 2) realização de

tratamento profilático para o SNC composto apenas de quimioterapia; 3) idade entre seis

e 16 anos no momento da avaliação; 4) tratamento finalizado; 5) assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis; 5) consentimento do

participante adolescente através do Termo de Assentimento.

Foram considerados critérios de exclusão para participação do grupo clínico: 1)

inviabilidade de acesso aos prontuários médicos dos pacientes; 2) desatualização

cadastral dos contatos dos pacientes; 3) residência em municípios distantes da capital do

estado com retornos esporádicos às instituições de tratamento; 4) presença de recidiva

durante o período de avaliação; 5) recusa de pacientes e/ou familiares em participar da

pesquisa; 6) presença de outras enfermidades, como: Síndrome de Down, Epilepsia e

outras alterações neurológicas.

Por fim, os pais/responsáveis dos 26 participantes do grupo clínico também

contribuíram com esse estudo fornecendo informações relevantes acerca de aspectos

escolares, afetivos, sociais e comportamentais dos seus filhos.

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7.2.3 Instrumentos

Para investigação dos aspectos acadêmicos conforme proposto nessa seção foram

utilizados os seguintes instrumentos: a) Provas de Avaliação dos Processos de Leitura

(PROLEC); b) Provas de Aritmética (Seabra, Montiel & Capovilla, 2009); c) Subteste de

Aritmética (WISC-IV); d) Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey (RAVLT); e)

Questionário Comportamental Deasy-Spinetta (DSBQ); f) Child Behavior Checklist

(CBCL). Ao iniciar o processo avaliativo, os pais de crianças e adolescentes com LLA

também forneceram informações específicas acerca do desenvolvimento escolar dos seus

filhos, com ênfase nos seguintes aspectos: afastamento da escola, tipo de escola (pública

ou particular), escolaridade do participante, bem como a ocorrência de dificuldades

específicas em atividades de leitura, escrita e matemática.

a) Provas de Avaliação dos Processos de Leitura (PROLEC)

As Provas de Avaliação dos Processos de Leitura fornecem informações sobre as

estratégias que as crianças utilizam na leitura de um texto e sobre os mecanismos que não

estão funcionando adequadamente para que se realize uma boa leitura (Cuetos, Rodrigues

e Ruano, 2010). As provas se organizam em quatro blocos que correspondem aos

processos cognitivos que intervêm na leitura, a saber: 1) identificação de Letras

(composto pelas provas de nome ou som da letra e igual-diferente em palavras e

pseudopalavras); 2) Processos Léxicos (incluem as provas de Decisão Léxica, Leitura de

Palavras, Leitura de Pseudopalavras e Leitura de Palavras e Pseudopalavras; 3) Processos

Sintáticos (Provas de Estruturas Gramaticais e Sinais de Pontuação); 4) Processos

semânticos (Provas de Compreensão de Orações e Compreensão de Textos). Os autores

propõem que as provas são indicadas para aplicação individual e não tem tempo prefixado

de duração (Cuetos et al., 2010).

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Para operacionalização do presente estudo, os desempenhos das crianças e

adolescentes nas atividades de leitura foram analisados através do pareamento com o

grupo controle de referência, considerando-se para tanto os dados brutos, tendo em vista

a não existência de dados normativos desse instrumento para toda a faixa etária do grupo

clínico.

b) Prova de Aritmética

A Prova de Aritmética é composta por seis subtestes, são eles: 1) Subteste de

escrita por extenso de números apresentados em forma algébrica e de escrita de forma

algébrica de números apresentados de modo falado; 2) Subteste de contagem numérica;

3) Subteste de relação maior-menor; 4) Subteste de cálculos montados; 5) Subteste de

cálculos orais; 6) Subteste de problemas por escrito. Cada item de um determinado

subteste conta um ponto e a pontuação máxima em toda prova são 60 pontos. A aplicação

pode ser realizada individualmente ou de forma coletiva (Seabra et al., 2009).

Conforme realizado com o PROLEC, os dados oriundos desse instrumento foram

analisados através da comparação dos resultados alcançados pelo grupo clínico e pelo

grupo composto por crianças saudáveis de referência, utilizando-se os resultados brutos,

tendo em vista a ausência de dados normativos para toda a faixa etária dos participantes.

c) Subteste Aritmética (WISC-IV)

Aritmética é um subteste que integra o conjunto de atividades complementares da

WISC-IV. Nessa tarefa o examinando é solicitado a resolver problemas aritméticos que

são apresentados oralmente e organizados em nível gradual de dificuldade (Lezak et al.,

2012). A atividade envolve agilidade mental, concentração, atenção, raciocínio numérico,

memória, sequenciamento, fluidez de raciocínio e lógica (Whechsler, 2013). Na atividade

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original, na qual esse subteste compõe o Índice de Memória Operacional da WISC-IV, a

criança deve resolver os problemas mentalmente e responder dentro de um limite de

tempo estabelecido.

Na tarefa utilizada nesse estudo, para fins de avaliação da competência aritmética,

é fornecido ao sujeito lápis, papel e borracha e a possibilidade de se repetir o problema

quantas vezes forem necessárias para a sua resolução. A adoção de tal modelo para essa

atividade foi fundamentada em Lezak et al. (2012) que propõem que diante da suspeita

de déficits em memória, os examinadores podem investigar as habilidades aritméticas dos

pacientes utilizando o subteste Aritmética das Escalas Wechsler, dando-lhes papel e lápis

para que eles possam resolver os problemas enquanto olha para eles ou repetindo as

questões sempre que solicitado para que o examinando anote os números no problema.

Adicionalmente, Lezak et al. (2012) ressaltam que o uso de papel pode favorecer

informações úteis aos examinadores relacionadas à organização espacial, ordenação e

planejamento durante a realização da tarefa.

d) Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey (RAVLT)

O Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey foi desenvolvido por Andre

Rey e posteriormente modificado por vários autores de língua inglesa. Possibilita a

investigação dos seguintes aspectos: aprendizagem, memória verbal imediata,

interferência na aprendizagem, retenção a longo prazo e memória de reconhecimento

(Diniz, Cruz, Torres, & Cosenza, 2000).

Nesse estudo está sendo utilizada a versão para crianças, em Português,

desenvolvida por Oliveira e Charchat-Fichman (2008). Esse instrumento é constituído

por uma lista com 12 palavras – lista A, que é lida para a criança quatro vezes consecutivas

e ao final de cada leitura a criança deverá dizer todas as palavras que lembrar (A1 a A4).

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Em seguida o examinador realiza a leitura de uma lista de interferência com outros 12

substantivos – lista B, terminada esta leitura solicita-se ao examinando que expresse

verbalmente todas as palavras que recordar desta segunda lista. Posteriormente, é pedido

ao examinando que evoque mais uma vez as palavras da lista A que lembrar, no entanto

neste momento o avaliador não realiza a leitura da referida lista para a criança (A5). Após

20 minutos é novamente solicitado à criança que evoque as palavras da lista A, mais uma

vez sem a reapresentação desta (A6). Por fim, solicita-se à criança que reconheça as 24

palavras das listas A e B em meio a outras 30 palavras distratoras semelhantes àquelas

presentes nas listas, em termos fonológicos ou semânticos.

O desempenho dos sujeitos é avaliado considerando-se o número de palavras

recordadas cada vez que é solicitado que a criança evoque as palavras das Listas A e B,

bem como a quantidade de palavras reconhecidas na última etapa. A evolução no processo

de aprendizagem ao longo das repetições da Lista A é avaliado a partir do somatório do

número de palavras recordadas de A1 a A4 (∑A) (Diniz et al., 2004; Oliveira & Charchat-

Fichman, 2008).

e) Questionário Comportamental Deasy-Spinetta

O Questionário Comportamental Deasy-Spinetta (DSBQ), desenvolvido por

Deasy-Spinetta (1981) caracteriza-se como uma ferramenta de importante contribuição

no acompanhamento de crianças sobreviventes da LLA, especialmente no que tange ao

processo de reinserção escolar, visto que abrange a avaliação de diferentes aspectos do

funcionamento escolar em crianças com câncer (Moreira & Valle, 2010). O DSBQ é

voltado para crianças em idade escolar. Consiste num instrumento multidisciplinar que

abarca a investigação de três grandes domínios: aprendizagem, socialização e aspectos

emocionais relacionados ao contexto escolar, distribuídos em 38 questões com respostas

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dicotômicas afirmativas ou negativas, as quais possibilitam a coleta de informações que

contribuem para o diálogo entre instituições de saúde e de educação (Adamoli et al., 1997;

Kieffer et al., 2007).

O estudo apresentado no capítulo anterior (estudo 3) abordou o processo de

tradução e adaptação dessa ferramenta para o Português Brasileiro com vistas à

disponibilização e utilização dessa ferramenta nas rotinas de monitoramento do

desenvolvimento escolar dos pacientes pediátricos sobreviventes de neoplasias. No

presente estudo, o DSBQ foi preenchido por professores que estavam em contato direto

com os participantes do grupo clínico há pelo menos um semestre letivo, garantindo que

o docente tivesse tempo de contato suficiente para conhecer a criança ou adolescente que

iria avaliar, conforme precaução tomada pela autora do instrumento em estudo anterior

(Adamoli et al., 1997).

Para Kieffer et al. (2007) o emprego do DSBQ pode auxiliar na compreensão e no

acúmulo de conhecimento acerca dos efeitos tardios da LLA, bem como promover

atendimento integral ao referido subgrupo clínico, subsidiando demandas de educação

especial e de estratégias de reabilitação voltadas ao pleno desenvolvimento de crianças e

adolescentes sobreviventes do câncer infantil.

f) Child Behavior Checklist (CBCL)

A Child Behavior’s Checklist – (CBCL) é um instrumento que, juntamente com

A Youth Self-Report (YSR) e a Teacher's Report Form (TRF), constitui o Sistema

Baseado Empiricamente de Avaliação de Achenbach, voltado para a avaliação de

problemas comportamentais e emocionais sob o ponto de vista dos pais, da

criança/adolescente e dos professores, respectivamente. Tais instrumentos visam oferecer

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uma abordagem compreensiva para avaliação do funcionamento adaptativo e não-

adaptativo de crianças e adolescentes (Bordin et al., 2013).

O CBCL avalia competência social e problemas de comportamento em indivíduos

de 4 a 18 anos, sendo composto de 138 itens divididos em duas partes. A primeira relativa

à avaliação de Competências Sociais e a segunda de Problemas de Comportamento.

No presente estudo, foram utilizados apenas os dados referentes à Escala de

Competência Social que envolve três aspectos principais, quais sejam: 1) Atividades; 2)

Socialização, e; 3) Aprendizagem. Essa escala é composta por 20 itens que informam

sobre o envolvimento da criança em diversas atividades (brincadeiras, jogos, execução de

tarefas), participação em grupos, relacionamento com pessoas (familiares, amigos),

independência no brincar e desempenho escolar (Bordin et al., 2013)).

Os itens comportamentais estão organizados em três escalas: escala de problemas

internalizantes de comportamento, escala de problemas externalizantes de

comportamento e escore total de problemas comportamentais. Os dados obtidos fornecem

escores para oito classificações sindrômicas: ansiosa/deprimida; embotada/deprimida;

queixas somáticas; problemas sociais; problemas de pensamento ou raciocínio;

problemas de atenção; comportamento opositor/desafiador/transgressor e comportamento

agressivo (Bordin et al., 2013).

Vale ressaltar que a CBCL é um dos instrumentos de avaliação do comportamento

de crianças e adolescentes mais utilizado na literatura e tem sido considerado um dos

instrumentos mais eficazes para quantificar as respostas de pais e mães. Devido a isso,

esse inventário é utilizado em diversos países, tendo sido traduzido para 61 línguas além

de existirem estudos publicados em 50 culturas diferentes, demonstrando, deste modo,

um grande valor em pesquisas e utilidade na prática clínica. No Brasil, a adaptação do

CBCL foi feita por Bordin, Mari e Caeiro (1995).

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7.2.4 Procedimento de Análise de Dados

Os dados oriundos do DSBQ e CBCL foram transformados em categorias

nominais e submetidos à análise estatística descritiva relacionada à verificação da

frequência de ocorrência dos aspectos ou problemas apontados por cada item dos

referidos instrumentos, com o objetivo de realizar uma exploração inicial dos dados e

obter uma visão global da distribuição das respostas dos pais e professores.

Posteriormente, tais dados, compuseram variáveis integrantes da análise

descritiva multidimensional de tipo cluster, em conjunto com as seguintes variáveis

clínicas e sociodemográficas: 1) idade ao diagnóstico; 2) tempo de conclusão do

tratamento, e; 3) tempo de escolaridade da mãe. Essa modalidade de análise possibilita a

reunião de dados nominais em agrupamentos, de forma tal que os componentes de um

mesmo agrupamento tenham alta similaridade entre si e elevada dissimilaridade em

relação aos componentes associados aos outros grupos. Tal ferramenta de análise

possibilita agrupar informações contidas em variáveis categoriais-descritivas, de maneira

a obter características de grupos passíveis de interpretação. Após essa etapa, para melhor

compreender o relacionamento entre variáveis categóricas foi realizada análise de

associação por meio do ρ de Spearman.

Os desempenhos dos participantes nas atividades voltadas para investigação de

aspectos específicos da aprendizagem foram submetidos a análises descritivas

unidimensionais referentes ao estabelecimento de médias e desvios-padrão e análises

inferenciais não paramétricas, adotando-se p≤0,05 para rejeição da hipótese nula,

comparando-se as diferenças e semelhanças entre os resultados alcançados pelo grupo

clínico e o grupo controle. Adicionalmente, os dados encontrados foram submetidos à

análise interpretativa clínico-qualitativa.

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7.3 Resultados

Os dados coletados inicialmente junto aos pais e/ou responsáveis acerca do

desenvolvimento escolar das crianças e adolescentes sobreviventes de LLA evidenciaram

que dos 26 participantes, apenas três haviam sido diagnosticados e realizado todo o

tratamento antes do ingresso na escola, retardando assim a sua inserção na educação

infantil. Os demais sujeitos haviam sido afastados das suas atividades regulares na escola

por recomendação médica por cerca de um ano letivo completo (13 sujeitos) ou por um

período de até um ano e seis meses (10 participantes). Foi constatado também que 11

crianças/adolescentes frequentavam atividades de acompanhamento educacional paralelo

às atividades regulares da escola, notadamente, aulas de reforço/professor particular e

atendimento educacional especial na escola. O grupo clínico se caracterizou ainda por

apresentar 19 estudantes da rede pública de ensino e sete da rede privada, estando estes

últimos em sua totalidade matriculados em escolas particulares de pequeno porte (escolas

de bairro).

O levantamento acerca da escolaridade dos sujeitos demonstrou que a maioria

encontrava-se no Ensino Fundamental (24), notadamente nos anos iniciais, ou seja, do 1º

ao 5º ano (17), com apenas dois participantes já estudantes do Ensino Médio, conforme

pode ser verificado na Tabela 16.

Tabela 16 Nível de escolaridade dos participantes.

Escolaridade Frequência Percentual (%) 1º ano do EF 3 11,5 2º ano do EF 4 15,4 3º ano do EF 2 7,7 4º ano do EF 4 15,4 5º ano do EF 4 15,4 6º ano do EF 4 15,4 7º ano do EF 2 7,7 8º ano do EF 1 3,8

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9º ano do EF 0 0 1ª série do Ensino Médio 1 3,8 2ª série do Ensino Médio 1 3,8

TOTAL 26 100

Do total de participantes do grupo clínico, 15 crianças e adolescentes estavam

alfabetizadas no momento do estudo, tendo alcançado a alfabetização em média aos oito

anos de idade (±1,38).

Tabela 17. Distribuição frequencial dos participantes em relação à alfabetização.

Variáveis Número

Participantes Média de Idade (DP)

Alfabetizada Sim 15 11,81 (2,28)

Não 11 8,10 (1,59) Nota: DP, desvio padrão.

Os resultados obtidos através da aplicação do DSBQ junto aos professores de

crianças e adolescentes integrantes do grupo clínico estão apresentados na Tabela 18.

Tabela 18. Distribuição frequencial das respostas dos professores de crianças com LLA em cada item do DSBQ em relação aos fatores aprendizagem (A), socialização (S) e aspectos emocionais (E)

Fator Questão %

Sim %

Não A 4. Acompanha o nível da turma? 65,2 A 5. Conclui as tarefas que lhe são solicitadas? 65,2 A 6. É capaz de se concentrar? 65,2 A 7. Apresenta dificuldades de aprendizagem? 52,2 A 9. Tem dificuldade para permanecer numa tarefa? 65,2 A 10. Tem dificuldade em seguir instruções verbais? 73,9 A 11. Não consegue ficar quieto, é agitado ou hiperativo? 69,6 A 31. Tem dificuldades de memorização ou para organizar tarefas? 65,2 A 32. Tem dificuldades específicas no domínio da leitura? 60,9 A 33. Tem dificuldades específicas no domínio da matemática? 60,0 A 34. Tem dificuldades em tarefas que exigem raciocínio? 71,4 S 2. Frequenta a escola com regularidade? 87,0 S 8. É sociável, interage com os colegas? 100,0 S 12. Pratica esportes ou participa de atividades físicas com regras? 61,9 S 13. Fala de suas atividades? 52,2 S 14. Toma a iniciativa em atividades com seus colegas? 52,2 S 15. Fala facilmente com seus professores? 82,6 S 18. É frequentemente submetido a gozação? 87,0

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S 19. Experimenta coisas novas? 94,4 S 25. É atencioso e demonstra interesse pelos outros? 69,6 S 35. Tem 2 ou 3 amigos próximos? 100,0 S 36. Comporta-se como uma criança de idade inferior à sua? 82,6 S 37. Comporta-se como uma criança de idade superior à sua? 87,0 E 1. Vai à escola sem reclamar? 81,8 E 3. Expressa receio em relação à escola? 87,0 E 16. Passa o tempo sozinho, parece triste? 87,0 E 17. É pouco ativo, lento em seus movimentos ou lhe falta disposição? 60,9 E 20. Machuca-se facilmente, tem tendência a se acidentar? 95,7 E 21. Cuida de sua aparência física? 95,7 E 22. Chora, geme, se queixa? 95,7 E 23. É muito preocupado? 65,2 E 24. Não aceita críticas e reclama muito? 86,4 E 26. Procura sinais físicos ou verbais que indiquem afeto ou aprovação? 57,1 E 27. “Gruda” nos adultos ou é excessivamente dependente? 95,7 E 28. Demonstra falta de confiança e se envergonha facilmente? 52,2 E 29. É exibido, faz besteiras durante as aulas? 91,3 E 30. Apresenta sinais de problemas emocionais? 78,3 E 38. Tenta manipular os outros a seu favor? 95,7

Nota: A, aprendizagem; S, socialização, E, aspectos emocionais. A apresentação dos resultados seguiu o modelo adotado por Adamoli et al. (1997) em estudo semelhante.

Com o objetivo de explorar as relações entre os dados construídos a partir da

contribuição dos professores e as variáveis clínicas e sociodemográficas idade ao

diagnóstico, tempo de conclusão do tratamento e tempo de escolaridade da mãe foram

realizadas análises descritivas multidimensionais de tipo Cluster.

No DSBQ as análises foram realizadas considerando-se os itens que compõem

cada um dos três domínios investigados (aprendizagem, socialização e aspectos

emocionais). No domínio da aprendizagem obteve-se a partição dos participantes em dois

grupos, cujas medidas de coesão e separação foram consideradas satisfatórias, conforme

aponta a Figura 8. O grau de importância de cada variável no âmbito da partição dos

clusters é apresentado na figura 9. As características relacionadas aos dois clusters

resultantes desta análise estão descritas na Tabela 19.

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Tabela 19. Distribuição dos grupos na análise de cluster no Aspecto Aprendizagem do DSBQ.

Fatores Cluster 1 Cluster 2

Distribuição dos participantes 30,0% 70,0%

Tem dificuldades de memorização ou para organizar tarefas? 100,0% (Não) 100,0% (Sim)

Tem dificuldades em tarefas que exigem raciocínio? 66,7% (Não) 92,9% (Sim)

Tem dificuldades específicas no domínio da leitura? 100,0% (Não) 64,3% (Sim)

Figura 9: Gráfico apontando o grau de importância de cada variável para a partição dos grupos na análise do domínio Aprendizagem do DSBQ.

Figura 8: Gráfico indicando a qualidade dos clusters a partir de medidas de coesão e separação no domínio Aprendizagem do DSBQ.

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Tempo de Escolaridade da Mãe 100,0% (>4 anos) 64,3% (≤ 4 anos)

Idade ao diagnóstico 100,0% (≥ 5 anos) 64,3% (< 5 anos)

Acompanha o nível da turma? 100,0% (Sim) 57,1% (Não)

Conclui as tarefas que lhe são solicitadas? 100,0% (Sim) 50,0% (Não)

Tem dificuldades em seguir instruções verbais? 100,0% (Não) 57,1% (Não)

Tem dificuldades específicas no domínio da matemática? 66,7% (Não) 71,4% (Sim)

Tem dificuldade para permanecer numa tarefa? 83,3% (Não) 50,0% (Sim)

Apresenta dificuldades de aprendizagem? 66,7% (Não) 64,3% (Sim)

Não consegue ficar quieto, é agitado ou hiperativo? 83,3% (Não) 57,1% (Não)

É capaz de se concentrar? 66,7% (Sim) 57,1% (Sim)

Tempo fora de tratamento 66,7% (< 3 anos) 57,1% (<3 anos)

Nota: <, menor que; >, maior que; ≥, maior ou igual que; ≤, menor ou igual que.

Com o objetivo de compreender o relacionamento entre as variáveis clínicas e

sociodemográficas utilizadas e os dados relacionados aos aspectos de aprendizagem

avaliados pelo DSBQ realizou-se uma análise de correlação através do ρ de Spearman

com os dados categóricos submetidos anteriormente a análise de cluster. Os dados desta

análise encontram-se na Tabela 20.

Tabela 20 Correlação de Spearman e nível de significância entre variáveis clínicas e sociodemográficas e os resultados do DSBQ, no domínio Aprendizagem.

Idade ao Diagnóstico

Tempo FT

Escolaridade da Mãe

Acompanha o nível da turma? ρ de Spearman -0,163 0,096 -0,151

Significância 0,458 0,663 0,492

Conclui as tarefas que lhe são solicitadas?

ρ de Spearman 0,024 -0,272 0,032

Significância 0,912 0,209 0,886

É capaz de se concentrar? ρ de Spearman 0,024 0,096 0,032

Significância 0,912 0,663 0,886

Apresenta dificuldades de aprendizagem?

ρ de Spearman 0,233 -0,137 0,129

Significância 0,285 0,532 0,558

Tem dificuldade para permanecer em uma tarefa?

ρ de Spearman -0,024 0,088 -0,215

Significância 0,912 0,689 0,326

Tem dificuldade em seguir instruções verbais?

ρ de Spearman 0,538 -0,278 0,172

Significância 0,008* 0,199 0,432

Não consegue ficar quieto, é agitado ou hiperativo?

ρ de Spearman 0,051 -0,182 -0,123

Significância 0,819 0,405 0,575

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179

Tem dificuldades de memorização ou para organizar tarefas?

ρ de Spearman 0,586 -0,088 0,397

Significância 0,003* 0,689 0,061

Tem dificuldades específicas no domínio da leitura?

ρ de Spearman 0,452 -0,016 0,233

Significância 0,030* 0,944 0,285

Tem dificuldades específicas no domínio da matemática?

ρ de Spearman 0,328 -0,458 0,328

Significância 0,158 0,042* 0,158

Tem dificuldades em tarefas que exigem raciocínio?

ρ de Spearman 0,548 0,091 0,181

Significância 0,01* 0,694 0,433

Nota: *, domínios nos quais houve correlação significativa com p<0,05.

No que concerne aos itens relacionados à socialização também se obteve a

partição do grupo clínico em dois agrupamentos, cujas medidas de coesão e separação

foram consideradas satisfatórias, conforme aponta a Figura 10. O grau de importância de

cada variável no âmbito da partição dos clusters é apresentado na Figura 11. As

características relacionadas aos dois clusters resultantes desta análise estão apresentadas

na Tabela 21.

Figura 10: Gráfico indicando a qualidade dos clusters a partir de medidas de coesão e separação no domínio Socialização do DSBQ.

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180

Figura 11: Gráfico apontando o grau de importância de cada variável para a partição dos grupos na análise do domínio Socialização do DSBQ.

Tabela 21. Distribuição dos grupos na análise de cluster no Aspecto Aprendizagem do DSBQ.

Fatores Cluster 1 Cluster 2

Distribuição dos participantes 50,0% (9) 50,0% (9)

Toma a iniciativa em atividades com seus colegas? 100,0% (Não) 100,0% (Sim)

Idade ao diagnóstico 77,8% (<5 anos) 77,8% (≥5 anos)

Comporta-se como uma criança de idade inferior à sua? 55,6% (Não) 100,0% (Não)

Fala facilmente com seus professores? 66,7% (Sim) 100,0% (Sim)

É atencioso e demonstra interesse pelos outros? 55,6% (Sim) 88,9% (Sim)

Experimenta coisas novas? 88,9% (Sim) 100,0% (Sim)

Tempo fora de tratamento 66,7% (< 3 anos) 55,6% (≥3 anos)

Pratica esportes ou participa de atividades físicas com regras?

66,7% (Sim) 55,6% (Sim)

Tempo de Escolaridade da Mãe 55,6% (≤4 anos) 55,6% (>4 anos)

Frequenta a escola com regularidade? 88,9% (Sim) 88,9% (Sim)

É frequentemente submetido a gozação? 100,0% (Não) 100,0% (Não)

É sociável, interage com os colegas? 100,0% (Sim) 100,0% (Sim)

Tem 2 ou 3 amigos próximos? 100,0% (Sim) 100,0% (Sim)

Nota: <, menor que; >, maior que; ≥, maior ou igual que; ≤, menor ou igual que.

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A Tabela 22 apresenta os dados referentes à análise de correlação através do ρ de

Spearman com os dados categóricos do domínio Socialização do DSBQ.

Tabela 22 Correlação de Spearman e nível de significância entre variáveis clínicas e sociodemográficas e os resultados do DSBQ no domínio Socialização

Idade ao Diagnóstico

Tempo FT

Escolaridade da Mãe

Frequenta a escola com regularidade

ρ de Spearman 0,046 -0,340 0,405

Significância 0,835 0,113 0,056

É sociável, interage com os colegas

ρ de Spearman -- -- --

Significância -- -- --

Pratica esportes ou participa de atividades físicas com regras

ρ de Spearman 0,085 0,113 -0,159

Significância 0,714 0,625 0,491

Fala de suas atividades ρ de Spearman 0,054 -0,137 -0,045

Significância 0,806 0,532 0,837

Toma a iniciativa em atividades com seus colegas

ρ de Spearman -0,411 -0,389 -0,129

Significância 0,051 0,066 0,558

Fala facilmente com seus professores

ρ de Spearman -0,337 0,292 -0,210

Significância 0,116 0,177 0,337

É frequentemente submetido à gozação

ρ de Spearman -- -- --

Significância -- -- --

Experimenta coisas novas ρ de Spearman -0,243 0,271 -0,243

Significância 0,332 0,276 0,332

É atencioso e demonstra interesse pelos outros

ρ de Spearman -0,051 -0,008 0,123

Significância 0,819 0,970 0,575

Tem 2 ou 3 amigos próximos ρ de Spearman -- -- --

Significância -- -- --

Comporta-se como uma criança de idade inferior à sua

ρ de Spearman 0,572 -0,292 -0,020

Significância 0,004* 0,177 0,928

Comporta-se como uma criança de idade superior à sua

ρ de Spearman -0,046 -0,181 0,112

Significância 0,835 0,408 0,610 Nota: *, domínios nos quais houve correlação significativa com p<0,05.

Os itens voltados à investigação dos aspectos emocionais propostos pelo DSBQ

também foram submetidos à análise de cluster, a partir da qual também foi possível obter

a partição do grupo clínico em dois agrupamentos, cujas medidas de coesão e separação

foram consideradas satisfatórias, contudo menos fortes do que as análises relacionadas

aos aspectos de aprendizagem e socialização do DSBQ, conforme aponta a Figura 12. O

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grau de importância de cada variável no âmbito da partição dos clusters está ilustrado na

Figura 13. As características relacionadas aos dois clusters resultantes desta análise estão

apresentadas na Tabela 23.

Figura 12: Gráfico indicando a qualidade dos clusters a partir de medidas de coesão e separação nos itens referentes aos aspectos emocionais do DSBQ.

Figura 13: Gráfico apontando o grau de importância de cada variável para a partição dos grupos na análise dos Aspectos Emocionais do DSBQ.

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Tabela 23. Distribuição dos grupos na análise de cluster no domínio Aspectos Emocionais do DSBQ.

Fatores Cluster 1 Cluster 2

Distribuição dos participantes 52,6% (10) 47,4% (9)

Tempo fora de tratamento? 70,0% (≥3 anos) 100,0% (<3 anos)

Tempo de Escolaridade da Mãe 90,0% (≤4 anos) 77,8% (>4 anos)

Vai à escola sem reclamar? 100,0% (Sim) 66,7% (Sim)

Expressa receio em relação à escola? 70,0% (Não) 100,0% (Não)

Passa o tempo sozinho, parece triste? 70,0% (Não) 100,0% (Não)

Idade ao diagnóstico 60,0% (<5 anos) 77,8% (≥5 anos)

É exibido, faz besteiras durante as aulas? 100,0% (Não) 77,80% (Não)

Apresenta sinais de problemas emocionais? 90,0% (Não) 66,7% (Não)

É muito preocupado? 70,0% (Não) 55,6% (Sim)

Tenta manipular os outros a seu favor? 100,0% (Não) 88,9% (Não)

Cuida de sua aparência física? 90,0% (Sim) 100,0% (Sim)

É pouco ativo, lento em seus movimentos ou lhe falta disposição?

50,0% (Sim) 66,7% (Não)

Demonstra falta de confiança e se envergonha facilmente? 60,0% (Sim) 55,6% (Não)

Procura sinais físicos ou verbais que indiquem afeto ou aprovação?

60,0% (Sim) 55,6% (Não)

Não aceita críticas e reclama muito? 80,0% (Não) 88,9% (Não)

“Gruda” nos adultos ou é excessivamente dependente? 100,0% (Não) 100,0% (Não)

Chora, geme, se queixa? 100,0% (Não) 100,0% (Não)

Machuca-se facilmente, tem tendência a se acidentar? 100,0% (Não) 100,0% (Não)

Nota: <, menor que; >, maior que; ≥, maior ou igual que; ≤, menor ou igual que.

A Tabela 24 apresenta os dados referentes à análise de correlação utilizando o ρ

de Spearman com os dados categóricos do domínio Aspectos Emocionais do DSBQ.

Tabela 24 Correlação de Spearman e nível de significância entre variáveis clínicas e sociodemográficas e os resultados do DSBQ no domínio Aspectos Emocionais

Idade ao Diagnóstico

Tempo FT

Escolaridade da Mãe

Vai à escola sem reclamar? ρ de Spearman 0,153 -0,194 -0,194

Significância 0,498 0,388 0,388

Expressa receio em relação à escola

ρ de Spearman 0,219 -0,181 0,112

Significância 0,316 0,408 0,610

Passa o tempo sozinho, parece triste

ρ de Spearman -0,046 -0,181 0,112

Significância 0,835 0,408 0,610

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É pouco ativo, lento em seus movimentos ou lhe falta disposição

ρ de Spearman 0,270 -0,016 0,233

Significância 0,213 0,944 0,285

Machuca-se facilmente, tem tendência a se acidentar

ρ de Spearman -- -- --

Significância -- -- --

Cuida da sua aparência física ρ de Spearman -0,266 0,243 -0,204

Significância 0,220 0,264 0,350

Chora, geme e se queixa ρ de Spearman 0,266 -0,243 -0,223

Significância 0,220 0,264 0,307

É muito preocupado ρ de Spearman -0,024 0,088 0,151

Significância 0,912 0,689 0,492

Não aceita críticas ρ de Spearman -0,025 -0,208 -0,169

Significância 0,912 0,353 0,451

Procura sinais físicos ou verbais que indiquem afeto ou aprovação

ρ de Spearman 0,167 -0,283 -0,248

Significância 0,470 0,214 0,279

"Gruda" nos adultos ou é excessivamente dependente

ρ de Spearman 0,266 -0,243 -0,223

Significância 0,220 0,264 0,307

Demonstra falta de confiança e se envergonha facilmente

ρ de Spearman 0,233 0,038 0,477

Significância 0,285 0,863 0,021*

É exibido, faz besteiras durante a aula

ρ de Spearman 0,069 0,271 -0,322

Significância 0,755 0,212 0,134

Apresenta sinais de problemas emocionais

ρ de Spearman 0,009 0,037 0,083

Significância 0,966 0,867 0,708

Tenta manipular os outros ao seu favor

ρ de Spearman -0,171 0,187 -0,223

Significância 0,435 0,393 0,307 Nota: *, domínios nos quais houve correlação significativa com p<0,05.

Os dados descritivos referentes à avaliação dos aspectos sociais, de aprendizagem

e comportamentais (Escala de Competência Social do CBCL) coletados juntos aos pais

e/ou responsáveis de crianças e adolescentes sobreviventes de LLA estão apresentados na

Tabela 25.

Tabela 25. Distribuição frequencial das respostas dos pais/responsáveis de crianças e adolescentes com LLA em cada item da Escala de Competência Social do CBCL

Questão %

Pior %

Igual %

Melhor % NS

% NR

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele nos esportes citados?

81,0 4,8 14,3

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Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) nas brincadeiras citadas?

4,8 81,0 14,3

Comparando com outros da mesma idade como é a participação dele(a) em grupos?

4,8 23,8 9,5 61,9

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) nas tarefas citadas?

52,4 9,5 4,8 33,3

Comparando com outros da mesma idade como é o relacionamento dele com os irmãos?

9,5 61,9 19,0 9,5

Comparando com outros da mesma idade como é o relacionamento dele com outras crianças e adolescentes?

76,2 19,0 4,8

Comparando com outros da mesma idade como é o relacionamento dele com os pais?

19,0 57,1 23,8

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) quanto a brincar ou trabalhar sozinho?

90,5 9,5

Questão %

Pior %

Igual %

Melhor % NS

% Ins

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) em Português ou Literatura?

23,8 42,9 14,3 19,0

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) em História ou Estudos Sociais?

11,1 72,2 5,6 11,1

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) em Matemática ou Aritmética?

23,8 57,1 4,8 14,3

Comparando com outros da mesma idade como é o desempenho dele(a) em Ciências?

11,1 66,7 5,6 5,6 11,1

Questão %

Sim %

Não Frequenta alguma sala de atendimento educacional especial?

52,4 47,6

Apresenta histórico de reprovação? 35,0 65,0

Já apresentou problemas com o desempenho escolar ou outros tipos de problema na escola?

55,0 45,0

Apresenta alguma doença ou deficiência? 23,8 76,2

Tem dois ou mais amigos próximos? 95,2 4,8

Encontra amigos ou colegas fora do horário da escola mais de uma vez por semana?

85,7 14,3

Nota: %, percentual; NS, não sabe responder; NR, não realiza. *, item em que foi verificado em mais de 30% dos respondentes como resposta afirmativa, sugerindo para a presença constante de determinado sintoma ou problema de comportamento.

Os itens referentes à competência social do CBCL também foram submetidos à

análise de cluster junto às variáveis clínicas e sociodemográficas idade ao diagnóstico,

tempo de conclusão do tratamento e escolaridade da mãe, contudo não foi observada a

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formação de agrupamentos, conforme apresenta a Figura 14. Diante desse resultado, não

foram realizadas análises de associação com os dados oriundos do uso do CBCL.

Figura 14: Gráfico indicando a qualidade dos clusters a partir de medidas de coesão e separação nos itens referentes à Competência Social do CBCL.

Por fim, as tabelas 26 e 27 apresentam os dados referentes às análises estatísticas

descritivas e inferenciais dos desempenhos dos grupos clínico e controle nos instrumentos

voltados para avaliação dos aspectos de aprendizagem utilizados junto às crianças e aos

adolescentes participantes.

Tabela 26 Resultados das verificações de contrastes, através do Teste Ü de Mann Whitney, entre os desempenhos dos grupos clínico (LLA) e Controle (GC) nas habilidades de leitura e aritmética.

Instrumento Grupo Média/DP Posição Média

Ü/z p

PROLEC Nome ou som das

letras

LLA (n=19) 18,63/3,00 17,68 146,00/-1,35 0,176

GC (n=19) 19,79/0,53 21,32

PROLEC Igual ou diferente

LLA (n=19) 19,33/1,08 18,28 158,00/-0,47 0,633

GC (n=19) 19,63/0,59 19.68

PROLEC Decisão léxica

LLA (n=15) 28,00/2,26 13,00 75,00/-1,65 0,097

GC (n=15) 29,47/0,64 18,00

PROLEC Leitura de palavras

LLA (n=15) 28,80/2,26 13,97 89,50/-1,14 0,253

GC (n=15) 29,73/0,45 17,03

PROLEC Leitura de

pseudopalavras

LLA (n=15) 27,00/3,52 13,43 81,50/-1,32 0,186

GC (n=15) 28,40/1,99 17,57

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PROLEC Estruturas gramaticais

LLA (n=15) 12,53/3,13 14,57 98,50/-0,59 0,550

GC (n=15) 13,47/1,50 16,43

PROLEC Sinais de pontuação

LLA (n=15) 14,80/1,47 14,57 98,50/-0,61 0,536

GC (n=15) 14,87/1,59 16,43

PROLEC Compreensão de

orações

LLA (n=15) 12,20/1,08 15,53 112,00/-0,03 0,972

GC (n=15) 12,13/0,83 15,47

PROLEC Compreensão de textos

LLA (n=15) 11,60/1,76 11,83 57,50/-2,31 0,021*

GC (n=15) 13,33/1,91 19,17

PAC Total LLA (n=15) 43,06/12,10 12,69

67,00/-2,30 0,021* GC (n=15) 52,50/5,58 20,31

PA Processamento numérico

LLA (n=15) 12,94/2,11 14,91 102,50/-1,52 0,128

GC (n=15) 13,88/0,50 18,09

PA Cálculo LLA (n=15) 22,94/8,16 12,34

61,50/-2,51 0,012* GC (n=15) 29,63/4,89 20,66

Aritmética WISC-IV LLA (n=21) 16,52/7,62 17,71

141,00/-2,00 0,045* GC (n=21) 20,81/5,97 25,29

Nota: DP, Desvio-padrão; LLA, crianças e adolescentes participantes diagnosticadas com LLA; GC, crianças e adolescentes saudáveis pareadas com o grupo LLA em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; Ü, valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z, escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p, valor da significância estatística obtida através da comparação entre os grupos, assinalada com asteriscos quando igual ou inferior a 0,05, indicando a rejeição da hipótese nula; PROLEC, provas de avaliação dos processos de leitura; PA, Prova de Aritmética;

Tabela 27 Resultados das verificações de contrastes, através do Teste Ü de Mann Whitney, entre os desempenhos dos grupos clínico (LLA) e Controle (GC) no Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey (RAVLT).

Instrumento Grupo Média/DP Posição Média

Ü/z p

A1 LLA (n=24) 3,79/1,79 17,08

110,00/-3,74 <0,001* GC (n=24) 5,71/1,16 31,92

A2 LLA (n=24) 6,33/2,07 20,69

196,50/-1,90 0,057 GC (n=24) 7,50/1,88 28,31

A3 LLA (n=24) 7,88/2,15 23,19

256,50/-0,65 0,511 GC (n=24) 8,38/2,10 25,81

A4 LLA (n=24) 8,38/2,35 21,40

213,50/-1,55 0,120 GC (n=24) 9,42/1,58 27,60

∑A LLA (n=24) 26,38/6,88 20,04

181,00/-2,21 0,027* GC (n=24) 31,00/5,84 28,96

B1 LLA (n=24) 3,46/2,28 20,52

192,50/-1,99 0,046* GC (n=24) 4,58/1,79 28,48

A5 LLA (n=24) 7,04/2,80 22,31

235,50/-1,09 0,274 GC (n=24) 8,04/2,07 26,69

A6 LLA (n=24) 6,21/2,68 18,65 147,50/-2,92 0,003*

GC (n=24) 8,46/2,12 30,35

Reconhecimento LLA (n=24) 15,25/4,01 25,05 109,00/-2,47 0,013*

GC (n=24) 18,25/2,59 15,95 Nota: DP, Desvio-padrão; LLA, crianças e adolescentes participantes diagnosticadas com LLA; GC, crianças e adolescentes saudáveis pareadas com o grupo LLA em número, sexo, idade, tipo de escola e nível socioeconômico; Ü, valor de Ü de Mann-Whitney derivado da análise de dados; z, escore z, tamanho do efeito derivado da análise de dados; p, valor da significância estatística obtida através da comparação entre os grupos, assinalada com asteriscos quando igual ou inferior a 0,05, indicando a rejeição da hipótese nula.

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188

7.4 Discussão

O presente estudo teve como objetivo investigar aspectos relacionados ao

funcionamento escolar de crianças e adolescentes sobreviventes de leucemia. Nessa

direção, a verificação dos desempenhos das crianças e adolescentes com LLA

comparadas aos seus pares saudáveis em atividades que avaliaram aprendizagem,

processos de leitura e aritmética, somados à observação dos domínios investigados

através do uso do DSQB e do CBCL no presente estudo, sugeriram que aspectos

específicos podem interferir no funcionamento escolar do grupo investigado e, portanto,

merecem atenção, conforme será discutido a seguir.

7.4.1 Aspectos sociais, afetivos e comportamentais

No âmbito da socialização, considerando-se os aspectos avaliados a partir da

perspectiva dos professores através do uso do DSBQ, foi possível constatar que as

crianças e adolescentes diagnosticados com LLA em sua maioria frequentam a escola

com regularidade, apresentam boa socialização e interação com os colegas, participam de

atividades esportivas e físicas, têm facilidade para falar com os seus professores,

experimentam coisas novas, têm dois ou três amigos mais próximos, são atenciosos e

interessados pelos seus pares, não sendo submetidos à gozação ou apresentando

comportamento inesperado para a sua idade.

Todavia, os professores de um grupo de aproximadamente metade dos

participantes sinalizaram que seus alunos parecem apresentar dificuldades para falar

sobre suas atividades e tomar iniciativa em atividades junto aos seus colegas. Tais

dificuldades também foram constatadas por Adamoli et al. (1997) em seu estudo junto a

291 professores de crianças com LLA comparadas a 291 crianças saudáveis, pareados de

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acordo com o sexo e escolhidos pelo próprio professor participante do estudo, sugerindo

que configuram-se como aspectos comumente apresentados por essa população clínica.

A análise de cluster demonstrou que as variáveis clínicas e demográficas

utilizadas não apresentaram relevância para partição dos grupos, sugerindo a baixa

interação entre tais variáveis e à emergência de dificuldades de socialização. Ressalta-se,

contudo, que a análise de correlação apontou para associação significativa entre a idade

ao diagnóstico e ao fato de o sujeito do grupo clínico comportar-se como uma criança de

idade inferior à sua, sugerindo que tal comportamento tem maior probabilidade de ocorrer

quando a criança é diagnosticada antes dos cinco anos de idade.

No que se refere aos aspectos emocionais os resultados oriundos do uso do DSBQ

indicaram que os participantes do grupo clínico não expressavam, em sua maioria,

dificuldades ou sinais de problemas emocionais no contexto escolar que se constituíssem

como barreiras para o processo de aprendizagem. Destaca-se, contudo, que nos itens que

investigam se a criança busca sinais que indiquem afeto ou aprovação e se demonstra

falta de confiança, cerca de metade dos professores avaliam que esse comportamento é

frequente. A análise de cluster realizada para investigação desse domínio não apresentou

forte medida de coesão e separação, sendo as variáveis tempo fora de tratamento e tempo

de escolaridade da mãe as categorias que mais contribuíram para composição dos

agrupamentos.

A observação dos agrupamentos não indica diferenças importantes entre os

componentes de cada cluster, e como reflexo disso, apenas a avaliação do item

“Demonstra falta de confiança e se envergonha facilmente” foi significativamente

associado à variável tempo de escolaridade materna, sugerindo que o menor tempo de

escolaridade da mãe (≤4 anos) pode estar associado à expressão dessa dificuldade no

contexto escolar.

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A avaliação dos pais/responsáveis, através do uso do CBCL, indicaram que em

coerência às informações fornecidas pelos professores a grande maioria das crianças e

adolescentes diagnosticados com LLA participavam de atividades esportivas,

brincadeiras e tarefas/trabalhos diversos, apresentando desempenho semelhante ao de

seus pares. Além disso, os integrantes do grupo clínico foram avaliados pelos pais, em

sua maioria, com um desempenho semelhante aos de outros da sua idade quanto ao

relacionamento com os irmãos, colegas, pais e quanto a sua habilidade em brincar ou

trabalhar sozinho. Os pais também indicaram que a grande maioria tinha mais que dois

amigos próximos que encontravam mais de duas vezes por semana, sugerindo ausência

de dificuldades no âmbito da Competência Social, em conformidade ao observado pelos

professores também ao avaliar tais sujeitos.

Para Nazari et al. (2014) o ocorrência de neoplasias infantis somada aos efeitos

colaterais específicos relacionadas ao tratamento profilático do SNC sobre a capacidade

funcional global podem influenciar profundamente a ocorrência de problemas

comportamentais e emocionais entre os sobreviventes. Em estudo realizado junto a

pais/responsáveis de pacientes em remissão de LLA, Nazari et al. (2014) constataram a

ocorrência significativa de problemas somáticos e baixo desempenho em aspectos sociais

no grupo composto por pacientes com LLA. Todavia, problemas comportamentais

também foram prevalentes nos pares saudáveis, conduzindo os autores a concluírem que

crianças e adolescentes que vivenciam a experiência de um câncer na infância são mais

propensos a receberem melhor atenção e apoio das famílias, o que as auxilia na superação

de tais problemas (Nazari et al., 2014).

Em estudo anterior, com um grupo de 40 crianças em remissão para LLA

Reinfjell, Lofstad, Nordahl, Vikan e Diseth (2009) identificaram taxas de sintomas de

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problemas comportamentais significativamente maiores que o grupo controle em todos

os domínios avaliados pelo CBCL.

Na contramão desses achados, o presente estudo constatou apenas características

bastante pontuais que sugerem dificuldades na rotina escolar pós-tratamento da leucemia

infantil no que se refere aos aspectos de socialização e afetividade, de modo que em sua

maioria tais domínios se constituem como pontos de força nessa população. Para ilustrar,

destacam-se os seguintes relatos de professores: “a socialização é um ponto forte dela.”;

“apesar de ter chegado à escola recentemente e ter passado pelo tratamento é super

independente”. Desse modo, o esforço dessa investigação vem a contribuir com a maior

compreensão acerca da emergência ou não de problemas psicossociais vivenciados por

crianças e adolescentes pós-tratamento quimioterápico antileucêmico realizado no Brasil,

favorecendo a implementação de programas de intervenção que repercutem na qualidade

de vida, formação escolar e profissional desses sobreviventes a longo prazo (Nazari et al.,

2014; Reinfjell et al., 2009).

7.4.2 Aspectos de Aprendizagem

a) Investigação dos aspectos de aprendizagem juntos aos professores e aos pais

No que concerne à investigação da aprendizagem, a partir do uso do DSQB os

professores sinalizaram que a maioria das crianças e adolescentes sobreviventes de LLA

apresentavam dificuldades de aprendizagem, especialmente no domínio da matemática,

em atividades que exigem raciocínio e para memorizar ou organizar tarefas, sendo

observadas ainda em quase 40% dos relatos dificuldades no âmbito da leitura. Por outro

lado, os docentes informaram que a maioria dos participantes do grupo clínico

conseguiam acompanhar o nível da turma, concluíam as tarefas que lhes eram solicitadas,

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eram capazes de se concentrar, permaneciam em uma tarefa por um longo período e

seguiam instruções verbais com facilidade.

A utilização do recurso da análise de cluster indicou que as variáveis tempo de

escolaridade da mãe e idade ao diagnóstico foram relevantes na partição dos

participantes sobreviventes de LLA em dois agrupamentos, sugerindo que tais fatores

poderiam estar associados a resultados satisfatórios ou a emergência de dificuldades de

aprendizagem entre esses indivíduos. Nessa perspectiva, o Cluster 1 agregou participantes

que haviam sido diagnosticados após os cinco anos de idade e as mães tinham maior

tempo de escolaridade e que, de modo geral, não apresentavam queixas de dificuldades

de aprendizagem.

Por outro lado, foi possível verificar que o grupo composto predominantemente

por participantes mais jovens ao diagnóstico e que as mães tinham menor tempo de

escolaridade (Cluster 2) apresentava predominantemente também as seguintes

dificuldades: em memorizar ou organizar tarefas; em atividades que exigiam raciocínio;

no processo de aprendizagem em geral, leitura e matemática; em acompanhar o nível da

turma.

A análise de correlação a partir de tais dados evidenciou que a idade ao

diagnóstico estava associada significativamente às dificuldades em seguir instruções

verbais, na memorização e organização de tarefas, nos processos de leitura e em tarefas

que exigem raciocínio. A variável tempo fora de tratamento, por sua vez, apresentou

associação relevante apenas com o item que relata dificuldades específicas na atividade

matemática, corroborando com os estudos que apontam que tais problemas emergem

progressivamente, sendo constatados anos após a conclusão do tratamento.

Não foram observadas associações significativas entre a escolaridade da mãe e os

resultados obtidos a partir da participação dos professores no domínio Aprendizagem do

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DSBQ. Nesse sentido, os dados alertam para a maior vulnerabilidade de crianças que

iniciam o tratamento ainda na primeira infância e a necessidade de se considerar a

emergência de dificuldades ao longo do desenvolvimento infantil, mesmo anos após

finalizado o tratamento (Moore et al., 2013).

Durante o contato com os professores para a aplicação do DSQB foi possível ainda

registrar aspectos qualitativos importantes que representam a sua atuação e o seu olhar

sobre o funcionamento escolar da criança ou adolescente sobrevivente de leucemia.

Assim, alguns relatos podem ser destacados: “apresenta muita dificuldade de

concentração, o que ocasiona um rendimento um pouco abaixo do nível da turma, mas

não é hiperatividade, é falta de concentração, distração”; “o tempo de concentração é

muito pequeno, curto”; “consegue se concentrar e concluir as tarefas apenas com

intervenção”; “há necessidade de colocar a criança numa sala com menor quantidade de

alunos”; “necessita de um tempo bem maior que os outros para concluir as atividades”;

“as instruções verbais precisam ser direcionadas para ele”; “necessita de intervenção

para organizar e memorizar as tarefas que são propostas”; “às vezes demora um pouco,

mas procura a professora quando não está entendedo”; “às vezes diz que está cansado”;

“é inteligente, mas apresenta falta de interesse, preguiça, é disperso”.

Esses relatos fortalecem a relevância do uso do DSBQ como instrumento de

rastreio junto ao professor de crianças e adolescentes diagnosticados com câncer, além de

se somar às evidências de que em alguns casos essa população clínica necessita de

adaptações e ajustes no contexto escolar para melhor promoção e desenvolvimento de sua

aprendizagem. Nesse contexto, Nucci (2002) ressalta que o professor da criança com

leucemia se constitui como um mediador especial do desenvolvimento sociocognitivo na

infância, à medida que possibilita de forma planejada experiências de aprendizagem junto

aos alunos. Assim, o envolvimento do professor com a (re) inserção e sucesso escolar da

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criança diagnosticada e tratada para leucemia pode garantir a adequação de estratégias

pedagógicas e a facilitação da interação entre essa criança e os seus colegas de escola

(Nucci, 2002).

Já no que se refere à percepção dos pais quanto aos aspectos de aprendizagem, a

maioria indicou que o desempenho dos seus filhos era igual ao de seus pares nos itens

avaliados através do CBCL, contudo destaca-se um percentual de cerca de 40% na

somatória das respostas insuficiente ou pior nas disciplinas de Português/Literatura

(42,8%) e Matemática/Aritmética (38,1%). Adicionalmente, os pais e/ou responsáveis de

mais de 50% dos sobreviventes de LLA indicaram que os filhos frequentavam

atendimento educacional especial e já apresentaram dificuldades ou problemas na escola,

contudo a maioria dos pais relatou que os filhos não foram reprovados e não apresentavam

doença ou deficiência no momento da avaliação. Aqui ressalta-se que os pais que

indicaram que os filhos apresentavam doença/deficiência referiram-se à LLA.

Em coerência a esses dados, Jacola et al. (2016) reforçam que os resultados de

suas investigações indicam que um em cada quatro sobreviventes tratados sem

radioterapia foi colocado em educação especial após o diagnóstico, de modo que mesmo

com os protocolos terapêuticos contemporâneos a prevalência de desfechos adversos em

pacientes sobreviventes de LLA permanecem substanciais, sendo associados também ao

menor nível de escolaridade sintomas de agressividade, problemas atencionais e sociais

na escola.

A evocação de respostas específicas no momento em que os pais responderam ao

item do CBCL que investiga qual a principal preocupação em relação ao filho sugere que

o processo de escolarização/aprendizagem se constitui como fonte de apreensão entre os

familiares, como pode ser visto nos seguintes relatos: “tenho medo do desenvolvimento

escolar”; “a preocupação é na aprendizagem, dele não conseguir”; “fico preocupada

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com a escola, recebia reclamação porque ele não queria ir para a escola, achava chato,

o comportamento dele é diferente, ele é muito agitado, só quer saber de rua. Então tive

que colocar numa escola particular para ter mais controle”; “a preocupação é com a

escola”; “a preocupação é o comportamento dele e as dificuldades com os estudos”; “o

problema maior é que ele não gosta de estudar”; “a maior preocupação são essas

dificuldades na escola”. Contudo, para além das dificuldades escolares é ainda mais

frequente o receio que os pais apresentam em a doença recair.

Adicionalmente, diferentemente das informações prestadas pelos professores, os

dados obtidos junto aos pais/responsáveis não apresentaram diferenciação na análise de

agrupamentos realizada em conjunto com as variáveis clínicas e sociodemográficas

selecionadas. A tais resultados podem estar subjacentes, dentre outros, dois aspectos

principais: 1) as diferenças no que concerne à natureza dos instrumentos utilizados, tendo

em vista que o DSBQ foi elaborado especialmente para investigação de aspectos escolares

em crianças e adolescentes submetidos a tratamentos oncológicos, podendo ser mais

sensível a identificação de características específicas; 2) a habilidade do respondente em

avaliar fatores próprios ao contexto escolar e aos processos de aprendizagem, tendo em

vista que o professor dado a sua formação e experiência com outras crianças e

adolescentes podem possuir recursos adicionais para identificação de dificuldades e

facilidades do aluno.

Até o momento foram discutidos aspectos relacionados à aprendizagem,

comportamentais e socioafetivos investigados a partir da perspectiva de pais e professores

através do uso do CBCL e do DSBQ. Na sequência serão abordados os desempenhos dos

sujeitos do grupo clínico e controle nos instrumentos voltados à investigação da

aprendizagem e dos processos de leitura e aritmética.

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b) Investigação dos aspectos de aprendizagem junto às crianças e adolescentes

A avaliação dos processos de leitura através do PROLEC, evidenciou desempenho

semelhante entre os grupos clínico e controle no que concerne à identificação de letras, à

distinção quanto a palavras iguais ou diferentes, aos processos léxicos, aos processos

sintáticos e à compreensão de orações. Contudo, observou-se desempenho com

discrepância significativa entre os grupos, em favor do grupo controle, na etapa voltada

a avaliação de compreensão de textos.

De acordo com Capellini e Mousinho (2015), a compreensão da leitura envolve

diversos fatores que atuam em sincronia e conduzem o leitor ao sentido do material

escrito, tais como, a eficiência da decodificação, o domínio do conhecimento, o

vocabulário e a habilidade em fazer inferências. Assim, à compreensão da leitura está

subjacente habilidades específicas, dentre as quais se destacam: a capacidade de integrar

informações do texto, o conhecimento prévio sobre a sua estrutura, o monitoramento

metacognitivo e a memória de trabalho (Capellini & Mousinho, 2015; Cunha, Oliveira &

Capellini, 2010). Nesse âmbito, observa-se que a tarefa utilizada para avaliação da

compreensão da leitura de textos no presente estudo demanda o bom funcionamento de

habilidades como memória e atenção, visto que após a leitura de cada um dos quatro

textos pequenos é solicitado ao examinando que responda questões, sem consultar

novamente o texto no momento da evocação da resposta.

A partir da análise clínico-qualitativo das respostas do examinando foi possível

observar que a redução do desempenho está associada a respostas como “não sei”, “não

lembro”, “esqueci”, apesar de ser verificada leitura fluente durante a execução da tarefa

de forma geral. Adicionalmente, são frequentes respostas relacionadas ao texto, porém

incorretas em relação à pergunta, sugerindo compreensão em relação ao conteúdo global

da história lida, mas a dificuldade em apreender detalhes de forma exata. Assim, vale

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observar a relevância em se utilizar instrumentos como o PROLEC junto a essa

população, visto que é focado na avaliação dos diferentes processos e subprocessos que

interferem na leitura, auxiliando assim na elucidação das dificuldades de aprendizagem

apresentadas por esses sobreviventes.

Os resultados encontrados exigem o desenvolvimento de estudos posteriores que

possam aprofundar e produzir conhecimento nesse campo, preferencialmente, com o

apoio de profissionais da fonoaudiologia, neuropsicologia e pedagogia, tendo em vista a

necessidade de se compreender também os mecanismos subjacentes às dificuldades de

aquisição de leitura nesse grupo clínico, conforme observado no presente estudo e

também relatado por pais e professores.

Nesse contexto, ganha destaque as alterações/déficits nas funções executivas em

crianças e adolescentes sobreviventes de LLA, habilidades fortemente relacionadas ao

desempenho escolar em crianças com diversas idades, com e sem dificuldades de

aprendizagem, especialmente no âmbito de competências acadêmicas básicas como a

leitura. Em relação a compreensão da leitura reconhece-se a relevante participação das

funções executivas, com habilidades de planejamento e organização contribuindo

significativamente para o desempenho de crianças e adolescentes nesse domínio, para

além da contribuição de habilidades de linguagem oral e fluência (Seabra et al., 2014).

Adicionalmente, é válido salientar que a diferença significativa entre o

desempenho do grupo clínico e do grupo controle no Teste de Aprendizagem Auditivo-

Verbal de Rey, em favor do segundo grupo, especialmente nos itens relacionados à

investigação da memória de curto prazo, longo prazo, curva de aprendizagem (∑A) e

reconhecimento (recordação com pistas), indica a presença de dificuldades de

armazenamento/retenção das informações fundamentais para a compreensão da leitura e

da realização aritmética. Em suas diferentes versões, o paradigma auditivo-verbal de

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aprendizagem, é um dos procedimentos mais amplamente utilizados de avaliação da

aprendizagem e da memória (Oliveira & Charchat-Fichman, 2008). Os achados desse

estudo, portanto, reforçam a importância e a necessidade de se buscar continuamente

identificar a contribuição, a interação e os efeitos do tratamento (mesmo que sutis) sobre

domínios cognitivos específicos e a competência acadêmica nessa população clínica.

No que se refere à atividade matemática, foram utilizados dois instrumentos de

avaliação do domínio da aritmética – capacidade relacionada às propriedades dos

números e das operações que podem ser realizadas com eles – quais sejam, a Prova de

Aritmética (Seabra et al., 2009) e o subteste de Aritmética do WISC-IV adaptado.

A Prova de Aritmética (PA), configura-se como um dos poucos recursos

disponíveis no Brasil para auxiliar na investigação da atividade matemática na infância

(Dias e Seabra, 2013), tendo sido utilizado nesse estudo apenas com as crianças e

adolescentes alfabetizados. Os resultados encontrados a partir da comparação dos

desempenhos dos participantes saudáveis e aqueles sobreviventes de LLA mostram

diferenças bastante significativas em favor dos primeiros. Resultado equivalente foi

encontrado na aplicação do subteste de Aritmética da WISC-IV.

O desempenho semelhante entre os grupos nas atividades voltadas

especificamente à investigação do Processamento Numérico na Prova de Aritmética

indicou a preservação entre os sobreviventes de LLA da compreensão e produção de

símbolos e números, quantidades, leitura, escrita e contagem de números. Por outro lado,

observou-se discrepâncias significativas dos resultados entre os grupos relacionadas ao

menor desempenho das crianças com LLA na realização das tarefas de cálculo, nas quais

são necessários compreensão e conhecimento das propriedades numéricas, recuperação

de fatos aritméticos da memória de longo prazo, implementação de regras e

procedimentos, manipulação e transformação das informações (Seabra et al., 2014).

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As dificuldades na atividade matemática tem sido apontadas como um dos efeitos

secundários pós-tratamento mais freqüentemente observados em sobreviventes

pediátricos de LLA pós-tratamento quimioterápico, sendo comumente vinculados a

alterações cognitivas primárias, como memória, atenção, velocidade de processamento e

funcionamento executivo (Kaemingk, Carey, Moore, Herzer, & Hutter, 2004; Moore et

al., 2013).

Nessa direção, Barnes e Raghubar (2014) defendem que a menor idade no

momento do tratamento constitui-se como um fator de risco adicional para dificuldade

na aquisição de habilidades matemáticas entre as crianças com LLA. Para tais estudiosos,

a intrínseca relação entre atividade matemática e recursos cognitivos frequentemente

apontados como afetados nos tratamentos oncológicos, tais como memória de trabalho e

atenção, exige a avaliação destes domínios cognitivos nas crianças sobreviventes de LLA

mesmo antes da emergência de dificuldades na disciplina, com o objetivo de investigar a

maior suscetibilidade no desenvolvimento de problemas de aprendizagem e refletir sobre

possíveis intervenções no processo educacional (Barnes & Raghubar, 2014).

De acordo com Bastos (2016), compreende-se hoje que o cálculo matemático se

constitui como uma atividade complexa que envolve processamento verbal ou gráfico da

informação, percepção, reconhecimento e produção de números, representação

número/símbolo, visoespacialidade, memória de curto prazo, memória de longo prazo,

memória de trabalho e atenção. Nesse contexto, algumas competências envolvem mais

diretamente a atenção, tais como a distinção entre os sinais (“+”, “x”), a colocação dos

números no espaço correto e a utilização da “reserva” adequadamente (Bastos, 2016).

Somado a isso, a identificação de sintomas de desatenção por professores de crianças em

idade escolar tem se caracterizado como altamente preditiva do baixo desempenho em

matemática (Barnes & Raghubar, 2014). Vital e Hazin (2008) acrescentam ainda que

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déficits atencionais trazem prejuízos à utilização de estratégias ordenadas e

hierarquizadas necessárias ao emprego de algoritmos específicos na atividade

matemática. Dificuldades dessa natureza são ilustradas nas Figuras 15, 16 e 17.

Figura 15. Sexo feminino, 6º ano do Ensino Fundamental, 12 anos, escola pública, dificuldades no uso da “reserva” e colocação dos números nos espaços corretos.

Figura 16. Sexo masculino, 11 anos, 3ª ano do Ensino Fundamental, escola particular, dificuldades na ordem dos procedimentos para realização de cálculos de subtração, multiplicação e divisão. Tarefa incompleta e trocas de sinais.

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Figura 17. Sexo feminino, 13 anos, 7º ano do Ensino Fundamental, escola pública, dificuldades relacionadas a trocas de sinais, uso da reserva e dispersão ao longo da realização de cálculos de adição e multiplicação.

Ressalta-se ainda, que na atualidade fortes correlações têm sido estabelecidas

entre o desempenho aritmético e as funções executivas, em especial, controle atencional,

memória de trabalho e inibição (Seabra et al., 2014). Nessa direção, o segundo estudo

apresentado nesse documento, ratifica que o grupo clínico investigado apresenta

alterações no funcionamento atencional e executivo, corroborando a hipótese de que

déficits nessas habilidades podem estar subjacentes a efeitos sobre os baixos

desempenhos em aritmética.

Menon (2010) defende que o funcionamento executivo desempenha um papel

importante nas operações aritméticas de sequenciamento, coordenação do fluxo de

informações e orientação na tomada de decisões, particularmente quando os problemas

são mais complexos e os resultados não podem ser facilmente recuperados da memória.

Nesse contexto, a memória de trabalho tem se detacado como uma das habilidades

executivas mais correlacionadas positivamente ao desempenho escolar, apresentando

papel relevante na realização da atividade matemática à medida que está envolvida nos

processos de raciocínio e resolução de problemas, manutenção ativa de múltiplas idéias

e procedimentos, recuperação de elementos matemáticos da memória a longo prazo e o

monitoramento efetivo durante a resolução de problemas.

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Assim, podem ser reflexo de alterações em memória de trabalho a dificuldade em

acertar etapas/sequenciamento de tarefas complexas, a necessidade de repetição das

instruções ou apresentação dos problemas, a omissão/esquecimento de procedimentos e

o abandono de tarefas antes de sua finalização (Seabra et al., 2014; Vital & Hazin, 2008).

Além disso, déficits em memória de trabalho conduzem a uma maior dependência de

estratégias de resolução de problemas imaturas em crianças e adolescentes (Menon,

2010). Tais dificuldades podem ser observadas nas estratégias e tipos de erros

apresentados na Figura 18 (b, c) e Figura 19 (c, d).

Figura 18. Sexo feminino, 5º ano do Ensino Fundamental, 12 anos, escola pública, expressão de dificuldades no uso da “reserva” (a), em procedimentos e estratégias hierarquizada para realização de cálculos, em fatos numéricos (b e c) e na colocação dos números no espaço incorreto (d).

(a) (b) (c) (d)

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Figura 19. Sexo masculino, 16 anos, 2ª série do Ensino Médio, escola pública, dificuldades nos procedimentos e estratégias para realização de cálculos de subtração e multiplicação e fatos numéricos.

As dificuldades observadas nas ilustrações ganham mais notoriedade quando

constatado o baixo desempenho do grupo clínico no Teste de Aprendizagem Auditivo-

Verbal de Rey, somados aos erros encontrados na execução das atividades de cálculo,

indicam ainda que dificuldades específicas no processo de armazenamento e recuperação

de informações podem estar na raiz de dificuldades escolares, especialmente, em

aritmética. Bastos (2016) afirma que é possível observar a interferência da memória sobre

a atividade matemática quando está presente a dificuldade em lembrar os fatos numéricos

(como tabuadas), bem como recuperar/utilizar os procedimentos adequados para realizar

o cálculo (Bastos, 2016).

A recuperação da memória baseada no aprendizado prévio permite o acesso rápido

de fatos aritméticos aprendidos através da exposição repetida, processo que envolve

sistemas de memória episódica e memória semântica (Menon, 2010). Dias & Seabra

(2014) acrescentam que quando os fatos aritméticos não se encontram consolidados na

(a)

(b)

(c)

(d)

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memória e a atividade precisa ser solucionada através do cálculo, há uma maior demanda

à memória de trabalho e, portanto, ao funcionamento executivo. Assim, os processos de

memória somados aos recursos atencionais, a sequenciação de operações mentais e a

tomada de decisões interferem na velocidade e precisão do desempenho, constituindo-se

como fatores essenciais quando uma criança está buscando melhorar suas habilidades

aritméticas (Menon, 2010).

A investigação da atividade matemática em crianças com desordens

neurodesenvolvimentais adquiridas, incluindo aquelas tratadas para LLA, é fundamental,

tendo em vista que tal competência é um preditor tão forte como a alfabetização para uma

(re)inserção escolar de sucesso. Além disso, à medida que diferentes insultos na infância

afetam o cérebro em desenvolvimento, também promovem alterações na atividade

matemática que, por sua vez, não se constitui como uma habilidade única, envolvendo

aritmética, geometria, álgebra, resolução de problemas, etc., recrutando assim diferentes

sistemas cognitivos para sua aquisição e desempenho. Assim, o enfoque sobre a

competência aritmética em pacientes pediátricos diagnosticados com LLA é necessário,

tendo em vista a mesma ser considerada uma habilidade matemática básica, com a qual

as crianças com dificuldades na disciplina se deparam primeiro e pelo fato de se

estabelecer cada vez mais correlações entre a aritmética e domínios neurocognitivos

específicos, comumente afetados pelo tratamento direcionado ao SNC na LLA (Barnes

& Raghubar, 2014).

Estudos realizados com o uso de ressonância magnética funcional tem avançado

na identificação do envolvimento de diferentes áreas cerebrais na realização aritmética.

Nesse contexto destaca-se que regiões corticais e subcorticais comumente apontadas

como afetadas em estudos de imagem junto a crianças submetidas ao tratamento

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quimioterápico para LLA (Genschaft et al., 2013; Reddick et al., 2014; Zeller et al., 2013),

estão relacionadas à essa habilidade.

Nessa direção, destaca-se que a atividade do córtex pré-frontal tem sido

relacionada com processos de tomada de decisão, seqüenciamento, memória de trabalho

e atenção necessárias para recuperar fatos aprendidos e realizar cálculos mais elaborados

quando necessário. Regiões subcorticais incluindo núcleo caudado e o cerebelo também

são recrutadas à medida que as tarefas se complexificam. Além disso, investigações

comparando a realização aritmética entre crianças e adultos sugerem diferenças na relação

entre habilidades aritméticas e funcionamento cerebral, indicando que crianças

apresentam maior ativação no córtex pré-frontal, bem como no hipocampo e gânglios

basais (Menon, 2010).

Há também uma maior demanda dos sistemas de memória nos estágios iniciais da

aprendizagem aritmética em crianças, bem como uma mudança de processos executivos

centrais relacionados ao funcionamento do córtex pré-frontal para mecanismos mais

especializados no córtex parietal posterior com o avançar da idade. Assim, estudos

transversais disponíveis apesar de limitarem a compreensão acerca da trajetória

maturacional dessa habilidade, evidenciam que a resolução de problemas aritméticos

demanda o funcionamento de uma rede cerebral distribuída envolvida em processamento

visoespacial, memória e controle cognitivo (Menon, 2010).

É necessário considerar ainda que o tratamento extenso da LLA exige frequente

e/ou prolongada ausência da escola, o que pode ser bastante problemático para a

aprendizagem matemática e precisa ser considerado na emergência de dificuldades, visto

que o desenvolvimento dessa disciplina apresenta uma estrutura relativamente

hierárquica, na qual uma nova aprendizagem ocorre sobre habilidades aprendidas

anteriormente, resultando em maior vulnerabilidade a dificuldades diante de faltas

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escolares prolongadas e a variabilidade na qualidade do ensino (Barnes & Raghubar,

2014).

Nesse sentido, Glozman (2014) acrescenta que o fracasso na atividade matemática

configura-se como uma manifestação comum do subdesenvolvimento do raciocínio em

crianças em idade escolar, tendo em vista que contar e resolver problemas imprescinde

de uma estrutura psicológica complexa que exige uma quantidade relevante de diferentes

funções. Assim, é de suma importância a realização de uma avaliação neuropsicológica

compreensiva para identificar as principais causas das dificuldades apresentadas e

subsidiar um programa de habilitação/reabilitação, capaz de atender aos problemas de

aprendizagem de cada criança e/ou adolescente (Glozman, 2014).

Nessa perspectiva, o dados desse estudo acumulam evidências de que um

importante direcionamento para pesquisas futuras com pacientes com câncer infantil e

crianças com dificuldades em matemática em geral diz respeito à proposição e avaliação

de intervenções combinadas ou integradas em atividade matemática e domínios

cognitivos específicos, que tenham como foco a melhoria do desenvolvimento e da

aprendizagem em atividade matemática (Barnes & Raghubar, 2014). Todavia, apesar de

um crescente corpo de literatura documentar os efeitos adversos do tratamento do SNC

sobre habilidades cognitivas e acadêmicas de crianças com LLA, há poucas experências

publicadas que relatem intervenções direcionadas a esta relevante problemática (Moore

et al., 2012; Peterson et al., 2008).

De acordo com Moore et al. (2012) as intervenções na atividade matemática para

crianças tratadas com leucemia devem promover o desenvolvimento e o progresso

adaptativo e minimizar déficits em habilidades e/ou funções. Um primeiro esforço de

intervenção precoce focada na prevenção de problemas matemáticos e fundamentada na

apresentação de conceitos da disciplina a partir de diversas formas de representações

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(visuais, simbólicas e concretas) pareceu eficaz. Os resultados evidenciaram efeito

positivo imediato nas habilidades de cálculo e um efeito prolongado na melhoria da

resolução de problemas matemáticos, além de progressos na memória de trabalho (Moore

et al., 2012).

Barnes & Raghubar (2014) lembram que a importância de se compreender as

habilidades cognitivas envolvidas com a atividade matemática, como, visoespacialidade,

linguagem, uso dos dedos, atenção, memória, etc. são importantes porque os estudos

sugerem a existência de diferentes rotas ou estratégias alternativas para a resolução de

problemas matemáticos, o que pode ser útil ao se construir propostas de intervenções.

Nesse cenário, também torna-se fundamental considerar a idade da criança, a sua

familiaridade com os conceitos e procedimentos de matemática, bem como o formato em

que os problemas aparecem, como os números são representados na linguagem da

criança, a natureza da instrução na escola e se problemas matemáticos particulares podem

ser resolvidos usando diferentes estratégias (Barnes & Raghubar, 2014).

Apesar dos crescentes avanços no acompanhamento dessa população clínica,

ainda é notável a escassez de estudos que utilizem múltiplos recursos para avaliação das

habilidades matemáticas e busquem estabelecer relações entre os desempenhos dos

sujeitos nestas e em instrumentos neuropsicológicos, limitando a compreensão e a

possibilidade de intervenção nesse âmbito (Kaemingk et al., 2004; Moore et al., 2013).

Ressalta-se, ainda, que os poucos estudos disponíveis na literatura estrangeira não

detalham o processo, tipo de dificuldades e/ou erros apresentados pelos sobreviventes de

LLA, apresentando em geral escores e produtos finais, os quais não são problematizados

de forma mais abrangente e contextualizada.

Deasy-Spinetta (1993) ressalta ainda que é necessário se atentar ao fato de que

pacientes tratados para leucemia e tumores de SNC que apresentem desempenho

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satisfatório em suas atividades diárias na escola, muitas vezes são alunos que

apresentavam funcionamento acima da média para a sua idade, sendo inclusive capazes

de perceber/sentir que apresentam dificuldades em funcionar como antes do tratamento.

Assim, tais estudantes podem ter bons resultados na atividade matemática, mas estão

cientes de que não são mais tão rápidos como antes e que as novas informações não são

mais armazenadas e recuperadas tão facilmente. Nessa perspectiva, a avaliação dos

déficits desses alunos representam um desafio constante, tendo em vista que os

sentimentos e percepções sobre o seu próprio funcionamento podem repercutir em

abandono escolar e na tomada de decisões que afetam profundamente suas vidas (Deasy-

Spinetta, 1993).

Desse modo, é essencial o desenvolvimento e estabelecimento de uma bateria de

avaliação padronizada dentro de cada cultura, com o objetivo de melhor estimar

alterações neuropsicológicas de forma culturalmente justa e significativa, na qual se

inclua o rastreio de habilidades neuropsicológicas e acadêmicas ao longo do tempo,

facilitando assim a intervenção precoce e a prevenção de problemas escolares. Assim, os

resultados desse estudo coroboram que pacientes pediátricos que recebem terapêutica

direcionada ao SNC precisam ser acompanhados sistematicamente no contexto

educacional para que suas dificuldades possam minimizadas ou supridas através de

intervenções adequadas (Barnes & Raghubar, 2014; Moreira & Vale, 2010).

7.5 Considerações Finais

O presente estudo teve como objetivo a investigação de aspectos acadêmicos em

crianças e adolescentes sobreviventes de leucemia linfoide aguda. Apesar das

dificuldades que emergem no contexto escolar serem frequentemente relatadas pela

literatura como um problema vivenciado por essa população clínica, este é o primeiro

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estudo brasileiro que aborda conjuntamente dados de habilidades acadêmicas específicas

em pacientes pediátricos sobreviventes de LLA, a avaliação dos professores sobre o

funcionamento escolar de tais sujeitos, além de informações de pais e/ou responsáveis

acerca de aspectos socioafetivos e escolares que perpassam o processo de ensino e

aprendizagem dos seus filhos após o tratamento.

Os resultados ora apresentados foram consistentes com achados de pesquisadores

de diversos países, uma vez que evidenciaram alterações mais significativas no domínio

da aritmética no grupo investigado, submetido a protocolos de tratamento mais modernos,

compostos apenas por quimioterapia. Além disso, o presente estudo avançou na discussão

acerca da relação entre impactos sobre o funcionamento escolar e alterações em domínios

cognitivos específicos decorrentes dos tratamentos direcionados ao sistema nervoso

central em fase de intenso neurodesenvolvimento.

Nessa perspectiva, fatores relevantes para o contexto escolar foram investigados,

tais como socialização, afetividade e comportamento, tendo sido constatado que crianças

e adolescentes em geral não apresentam dificuldades nesses aspectos que se constituam

como barreiras a uma (re)entrada escolar de sucesso. Por outro lado, os dados construídos

junto aos pais e professores e os resultados nos instrumentos utilizados junto às crianças

evidenciaram que processos específicos de ensino-aprendizagem exigem maior atenção

entre os sobreviventes. Foram observadas de modo geral dificuldades em tarefas que

exigem compreensão da leitura de textos, realização de cálculos, raciocínio ou resolução

de problemas, memória, organização e planejamento, além dos relatos da maioria dos pais

de que os filhos apresentavam problemas no desenvolvimento escolar e necessitavam de

atendimento educacional especial. Soma-se a isso a associação significativa entre a

expressão dessas dificuldades e variáveis clínicas específicas, notadamente, a menor

idade ao diagnóstico e o maior tempo fora de tratamento.

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Estudos adicionais, especialmente longitudinais e que também contem com

participantes saudáveis que constituam um grupo de comparação, são necessários para

melhor compreender e intervir adequadamente sobre as dificuldades escolares

apresentadas pelos sobreviventes da LLA a longo prazo. Nessa direção, a oferta de

serviços de caráter integral e permanente que tenham como foco o atendimento

neuropsicológico, psicossocial e pedagógico, associados ao desenvolvimento de

pesquisas sistemáticas junto a essa população clínica, são essenciais para a consolidação

do conhecimento acerca dos efeitos das atuais estratégias de tratamento da LLA sobre o

funcionamento escolar de crianças e adolescentes.

Vale ressaltar também a necessidade de maior compreensão das dificuldades

acadêmicas apresentadas por esse grupo no Brasil, dada a carência de orientação à equipe

escolar acerca dos impactos sociais, afetivos, cognitivos e físicos associados aos

processos de adoecimento e tratamento da LLA, para que possam atuar de modo a

contribuir com o melhor desempenho escolar do estudante. Estudiosos desse campo do

conhecimento reconhecem que a escola brasileira ainda não está preparada para receber

a criança com câncer, especialmente porque a inclusão de crianças sobreviventes de

neoplasias infantis é algo novo no contexto do país, que ainda trava um forte embate

contra altas taxas de mortalidade, diagnóstico tardio e condições precárias de suporte ao

tratamento. Soma-se a isso a realidade do sistema educacional brasileiro, especialmente

na região Nordeste, marcado por problemas de repetência, evasão, insuficiência de

profissionais, baixas remunerações, dentre outros fatores que acentuam a falta de preparo

técnico e emocional dos professores para lidar com esse subgrupo clínico (Moreira &

Valle, 2010; Nucci, 2002).

Assim, os achados do presente estudo apontam para a necessidade de práticas de

acompanhamento e intervenção junto a essas crianças, realizadas a partir do

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estabelecimento de uma parceria entre a família, a equipe de saúde e os profissionais da

escola que acompanham a criança ou o adolescente acometido pela LLA na busca da (re)

inserção e desenvolvimento escolar de sucesso. Nesse contexto, destaca-se o papel e a

necessidade de formação continuada dos profissionais das Classes Hospitalares, que se

constituem como serviços de referência para garantir a permanência e continuidade do

paciente na escola, além de serem muitas vezes os primeiros locais onde a criança é

inserida nos processos de escolarização formal, tendo em vista o diagnóstico da doença

ocorrer geralmente na primeira infância. Adicionalmente, tornam-se importantes estudos

futuros que tenham como foco o desenvolvimento, execução e avaliação dos programas

de reentrada escolar, especialmente desenvolvidos pelas Classes Hospitalares e

instituições de suporte ao tratamento oncológico pediátrico. Nesse âmbito, ressalta-se que

no corrente ano a equipe do LAPEN foi convidada para participar da formação de

professores das Classes Hospitalares do estado do RN, sendo possível nessa oportunidade

compartilhar o conhecimento produzido durante o desenvolvimento do presente estudo.

A elaboração de estratégias de intervenção precoces e de caráter

informativo/educativo junto a pais e professores podem se constituir como um importante

caminho na prevenção de problemas no futuro. Nessa direção, encontra-se em processo

de construção no Laboratório de Pesquisa e Extensão em Neuropsicologia da UFRN uma

cartilha voltada para pais e professores de crianças com LLA e tumores de SNC, com o

objetivo de apresentar os principais aspectos relacionados às dificuldades que comumente

surgem no contexto escolar após o tratamento oncológico na infância, bem como de

alertar para os principais fatores de risco para a emergência de tais problemas.

Por fim, os dados do presente estudo se somam às evidências de que crianças e

adolescentes que realizam o tratamento da LLA estão em risco de desenvolvimento de

prejuízos que interferem no seu desenvolvimento escolar, exigindo planos de

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identificação e intervenção que sejam sensíveis ao contexto em que estão inseridos e aos

tipos de alterações que possam apresentar, inclusive as mais sutis, fornecendo assim, o

atendimento às suas necessidades educacionais especiais.

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8. Considerações finais

O interesse em torno dos efeitos cognitivos decorrentes do adoecimento e

tratamento de neoplasias infantis reflete a evolução alcançada no campo da oncologia

pediátrica nas últimas décadas. No entanto, os estudos nessa área são atravessados por

múltiplos fatores limitantes, além das controvérsias que envolvem os seus achados e a

escassez de pesquisas brasileiras.

Variações referentes a aspectos metodológicos na elaboração e operacionalização

de pesquisas – tamanho da amostra, tempo de acompanhamento dos sobreviventes,

utilização de grupos-controle, instrumentos de avaliação disponíveis, bem como

peculiaridades da própria enfermidade e dos protocolos terapêuticos existentes na

atualidade, se configuram como aspectos que dificultam a consolidação dos resultados

encontrados. Soma-se a estes fatores a complexidade relacionada aos processos e estágios

neurodesenvolvimentais e a relação que os mesmos estabelecem com aspectos

socioculturais na infância.

Nessa perspectiva, embora alguns estudos apontem que pacientes com diferentes

tipos de tratamentos direcionados ao SNC manifestam efeitos neurocognitivos

semelhantes, outros estudos discutem que os sobreviventes de LLA na infância

apresentam grande variabilidade quanto ao seu funcionamento neuropsicológico e

desenvolvimento escolar. Uma explicação plausível para fatos como esse é de que

aspectos neurodesenvolvimentais e contextos socioeducativos, como casa, escola e

comunidade, refletem diferenças na compensação de alterações centrais, interferindo na

natureza e intensidade na emergência de déficits.

Diante desse cenário, o presente estudo investigou aspectos neuropsicológicos e

acadêmicos de crianças e adolescentes sobreviventes de leucemia linfoide aguda,

permitindo avançar na compreensão do perfil de funcionamento apresentado por esse

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grupo clínico e discutir as principais variáveis de risco associadas à ocorrência de efeitos

associados ao tratamento para LLA.

A partir do estudo 1 foi possível constatar funcionamento intelectual

significativamente inferior do grupo de participantes sobreviventes de LLA quando

comparados ao grupo controle. Contudo, apesar dessa discrepância entre os desempenhos

dos grupos os resultados alcançados pelo grupo clínico situaram-se em sua maioria dentro

da faixa de normalidade (média inferior), reforçando que as alterações vivenciadas por

essa população no domínio intelectual são sutis, especialmente quando utilizados

tratamento exclusivamente quimioterápico.

Esse estudo permitiu ainda o estabelecimento de relações entre fatores clínicos e

sociodemográficos subjacentes à redução no funcionamento intelectual dos sobreviventes

de LLA, quais sejam, menor idade ao diagnóstico, menor nível de escolaridade materna

e maior tempo de conclusão do tratamento. Adicionalmente, os dados evidenciaram que

as pontuações mais reduzidas no âmbito do funcionamento intelectual se concentraram

na memória de trabalho, sugerindo que esta se constitui como um domínio especialmente

sensível aos efeitos a longo prazo relacionados ao adoecimento e tratamento da LLA.

O estudo 2 apresentou resultados coerentes aos encontrados no primeiro estudo,

apontando para a presença de alterações no domínio da atenção seletiva e funções

executivas, permitindo concluir que as crianças diagnosticadas antes dos cinco anos de

idade estavam mais suscetíveis à emergência de déficits nessas habilidades, tanto no que

se refere à natureza quanto à extensão de tais alterações. Nessa direção, apesar dos

sobreviventes diagnosticados a partir dos cinco anos também apresentarem dificuldades

no funcionamento executivo, observou-se que os prejuízos atingiram um menor número

de habilidades e em um grau menos acentuado.

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Os resultados do estudo 2 suscitaram ainda a discussão acerca das relações entre

os prejuízos atencionais e executivos encontrados e aspectos específicos do

neurodesenvolvimento, notadamente os processos de mielinização das estruturas frontais

e das vias de conexão intercotical que apresentam desenvolvimento mais tardio e

prolongado, bem como relação com o bom funcionamento das habilidades afetadas de

forma mais específica. Esse debate permitiu considerar que, mais do que uma relação

direta entre a ação dos fármacos quimioterápicos sobre o SNC e a ocorrência de déficits

sobre o funcionamento neuropsicológico dos pacientes, as alterações as quais essas

crianças e adolescentes estão vulneráveis são mediadas por aspectos maturacionais que

interagem com o insulto cerebral difuso em momento bastante precoce do

desenvolvimento, a primeira infância.

O estudo 3 diferenciou-se dos demais estudos por se caracterizar como um esforço

em traduzir, adaptar e disponibilizar para o contexto brasileiro uma ferramenta de fácil

manuseio que possibilita a investigação e o acompanhamento do perfil de funcionamento

escolar de crianças e adolescentes diagnosticadas com câncer. Tal iniciativa foi

respaldada no fato de o Questionário Comportamental Deasy-Spinetta constituir-se como

um instrumento construído essencialmente com o objetivo de identificar efeitos

relacionados ao adoecimento e tratamento de neoplasias infantis que repercutem no

cotidiano escolar, notadamente no que diz respeito ao (re) ingresso escolar,

aprendizagem, socialização e aspectos emocionais.

Por último, o estudo 4 investigou aspectos acadêmicos de sobreviventes de LLA

evidenciando dificuldades mais expressivas no âmbito da atividade matemática. A

integração entre dados quantitativos e qualitativos oriundos dessa investigação permitiu

considerar que prejuízos primários em domínios neuropsicológicos específicos,

notadamente, atenção, memória e funções executivas promovem efeitos subsequentes em

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aspectos acadêmicos. De forma relevante, foi possível estabelecer relações entre a

expressão de dificuldades no contexto acadêmico e variáveis clínicas específicas como a

menor idade ao diagnóstico e o maior tempo fora de tratamento, em consonância com a

hipótese de que os prejuízos encontrados estão relacionados a fatores desenvolvimentais

em interação com aspectos terapêuticos.

Os dados do estudo 4 evidenciaram a relevância de desenvolvimento de

programas de acompanhamento do desenvolvimento escolar dessa população clínica para

melhor elucidação e intervenção socioacadêmica, bem como do fortalecimento e

consolidação de uma rede de suporte composta por equipe de saúde, classe hospitalar,

família e escola. Desde a década de 1990, nos mais diversos centros de oncologia

pediátrica do mundo atenção especial tem sido dada a relação entre escola e hospital como

parceiros na promoção, melhoria e facilitação da participação escolar de crianças e

adolescentes com câncer. Isso se dá a partir da compreensão de que a idade escolar

representa uma etapa da vida na qual há intenso desenvolvimento físico, intelectual,

psicológico e social, sendo também um período de grande vulnerabilidade (Adamoli et

al., 1997).

Até recentemente, a criança diagnosticada com câncer tinha acesso ao ensino

formal limitado às classes hospitalares, quando estas haviam sido implementadas em suas

unidades de tratamento. Todavia, os atuais protocolos de tratamento objetivam reduzir a

permanência das crianças e adolescentes nos hospitais, possibilitando maior convivência

com a família e o contexto escolar. Com isso, o atendimento da classe hospitalar como

modalidade de ensino de Educação Especial tem hoje o papel de evitar o atraso escolar

durante os períodos de hospitalização, facilitando a (re)inserção na escola regular e o

desenvolvimento acadêmico da criança ou adolescente, configurando-se assim como

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recurso chave para assistência integral a esses sujeitos, considerando-se a parceria escola-

hospital.

Nesse contexto, ressalta-se a relevância da intríseca relação entre neuropsicologia

e educação no atendimento integral ao paciente pediátrico com LLA, especialmente, na

busca pela compreensão das relações entre as variáveis relacionadas aos tratamentos, o

funcionamento neuropsicológico, os processos de desenvolvimento e de aprendizagem,

com vistas à promoção da qualidade nas intervenções realizadas no contexto escolar e

otimização do papel dos educadores como mediadores da aprendizagem (Carvalho &

Guerra, 2010).

De modo geral, acredita-se que este estudo avançou na ampliação e

aprofundamento dos domínios neuropsicológicos investigados, contando especialmente

com a participação de diferentes fontes para a obtenção dos dados, a saber, desempenhos

das crianças e adolescentes nos instrumentos utilizados e a participação de pais e

professores. Ressalta-se a relevância da inclusão do grupo constituído por crianças e

adolescentes saudáveis (grupo controle), que sinalizou a presença de dificuldades e/ou

alterações mesmo que sutis quando comparados os seus desempenhos ao de crianças e

adolescentes que realizaram o tratamento composto exclusivamente por quimioterapia.

Adicionalmente, a participação de crianças e adolescentes saudáveis também permitiu

reconhecer aspectos preservados do funcionamento neuropsicológico e acadêmico,

evidenciando caminhos a serem especificamente considerados na elaboração de

estratégias de intervenção ou (re) habilitação.

É válido reconhecer que o presente estudo ratificou conclusões importantes da

literatura internacional relacionadas às variáveis de risco envolvidas com a expressão de

impactos sobre o funcionamento neuropsicológico, acadêmico e intelectual de crianças e

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adolescentes sobreviventes de LLA, notadamente no que se refere à menor idade ao

diagnóstico, ao maior tempo de conclusão de tratamento e à baixa escolaridade materna.

Como limitações relevantes às conclusões do presente estudo destacam-se o

reduzido número de participantes do grupo clínico, a utilização de estudo do tipo

transversal, bem como a dificuldade em utilizar instrumentos sensíveis e adequados a

larga faixa etária dos participantes e às suas dificuldades. Nesse âmbito, foram evidentes

as dificuldades e restrições em se investigar aspectos acadêmicos a partir de instrumentos

que exigiam que o examinando fosse alfabetizado, conduzindo assim, a necessidade de

se selecionar, produzir e/ou utilizar um protocolo de avaliação apropriado ao perfil de

funcionamento dos sobreviventes de LLA.

Nessa perspectiva, espera-se que os resultados do presente estudo possam se

somar aos achados de estudos futuros, preferencialmente de caráter longitudinal,

realizados de forma integrada por múltiplos centros especializados em oncologia

pediátrica no país, com o auxílio de recursos avançados de neuroimagem e capazes de

controlar variáveis relacionadas às especificidades do tratamento. Adicionalmente,

ressalta-se a relevância em se construir dados que considerem a interação entre variáveis

clínicas (intensidade do tratamento, fármacos utilizados, duração do tratamento,

modalidade de tratamento, presença de alterações cerebrais), aspectos relacionados à

maturação estrutural e funcional do SNC e variáveis socioculturais que constituem a

trajetória única de desenvolvimento de cada sujeito.

Neste âmbito, especula-se que um contexto familiar no qual sobreviventes de

LLA tenham acesso a recursos para complementar sua educação pode promover uma

melhoria no funcionamento cognitivo global da criança. Acredita-se ainda que a interação

com profissionais, principalmente professores, capazes de reconhecer as dificuldades

centrais dos pacientes e que estejam qualificados para prestar assistência direcionada a

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estas fragilidades específicas, se caracterizariam como estratégias mais exitosas na

compensação e superação das alterações observadas.

Espera-se, nesse sentido, que os dados oriundos da presente pesquisa possam se

traduzir em contribuições para a delimitação das alterações neuropsicológicas

relacionadas ao uso da quimioterapia como tratamento profilático padrão para o SNC em

pacientes com LLA no Brasil. Os resultados do presente estudo indicam que são

necessárias a realização de novas pesquisas brasileiras na interface entre a

neuropsicologia e a oncologia pediátrica, que possibilitem maior compreensão acerca dos

impactos cognitivos relacionados ao câncer e seus tratamentos e respaldem projetos de

intervenção que garantam a assistência adequada a tais crianças, seus professores e

familiares, considerando o contexto brasileiro.

Por fim, espera-se que os dados apresentados nesse trabalho e pesquisas futuras

forneçam maiores subsidios acerca da natureza e extensão dos impactos do tratamento

oncológico na infância, bem como caminhos alternativos que busquem o equilíbrio entre

a eficácia do tratamento, a preservação do SNC em desenvolvimento, o sucesso escolar e

a qualidade de vida desses sujeitos.

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241

APÊNDICES

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242

Apêndice I

ROTEIRO DE ANAMNESE ADMINISTRADO AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

1) DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS:

Nome da criança: ______________________________________________________________

Data de nascimento: ___ / ___ / ______

Responsável(is):

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Parentesco do(s) responsável(is): ( ) pai/mãe ( )avô/avó ( ) tio/tia ( ) outro. Qual?

_____________________________________________________________________________

Origem: ( ) Capital/Região Metropolitana ( ) Interior. Cidade:_________________________

_____________________________________________________________________________

Endereço:____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Telefone(s):

_____________________________________________________________________________

Está na escola? ( ) Sim ( ) Não. Há quanto tempo? __________________________________

Tipo de escola: ( ) pública ( ) privada ( ) de aplicação ( ) filantrópica

Nome da escola: _______________________________________________________________

Escolaridade da criança: ( ) Educação infantil ( ) Fundamental I incompleto ( ) Fundamental

I completo ( ) Fundamental II incompleto ( ) Fundamental II completo ( ) Ensino Médio

incompleto ( ) Ensino Médio completo

Série cursada atualmente: ______________________________________________________

Frequenta à Casa de Apoio? Em que horários? _____________________________________

Escolaridade dos pais:

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243

Mãe: ( ) Educação infantil ( ) Fundamental I incompleto ( ) Fundamental I completo ( )

Fundamental II incompleto ( ) Fundamental II completo ( ) Ensino Médio incompleto ( )

Ensino Médio completo ( ) Ensino Superior completo

Cursou até: ___________________________________________________________________

Pai: ( ) Educação infantil ( ) Fundamental I incompleto ( ) Fundamental I completo ( )

Fundamental II incompleto ( ) Fundamental II completo ( ) Ensino Médio incompleto ( )

Ensino Médio completo ( ) Ensino Superior completo

Cursou até: ___________________________________________________________________

Ocupação dos pais:

Pai:_________________________________________________________________________

Mãe: ________________________________________________________________________

Composição familiar: ( ) 2 pessoas ( ) 3 pessoas ( ) 4 pessoas ( ) 5 ou mais pessoas

Situação conjugal dos pais: ( ) casados ( ) União estável ( ) divorciados ( ) pai/mãe falecido

A criança possui irmãos? ( ) Sim ( ) Não

Irmãos são saudáveis? ( ) Sim ( ) Não

Renda familiar mensal: _________________________________________________________

( ) Até um salário mínimo ( ) Entre 1 e 2 salários mínimos ( ) Entre 2 e 3 salários mínimos (

) Entre três e quatro salários mínimos ( ) Mais de quatro salários mínimos

Renda familiar per capita: ______________________________________________________

Principal fonte de renda:________________________________________________________

2) ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO

2.1. Concepção:

A gravidez foi planejada? ( ) Sim ( ) Não

A gravidez foi desejada? ( ) Sim ( ) Não

Qual a posição da criança na ordem das gestações? ( ) primeira ( ) segunda ( ) terceira

( ) quarta ( ) quinta adiante _____________________________________________________

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244

A mãe sofreu algum aborto ou ameaça de aborto anteriormente/durante a gestação da

criança?

( ) Sim ( ) Não

2.2. Gestação:

Idade da mãe na gravidez: ______________________________________________________

( ) Antes dos 20 anos ( ) Entre 20 a 30 anos ( ) Entre 30 e 40 anos ( ) Mais de 40 anos

Duração da gestação: __________________________________________________________

Realizou acompanhamento pré-natal? ( ) Sim ( ) Não

Houve alguma intercorrência/complicação na gestação da criança? ( ) Sim ( ) Não

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

A mãe apresentou alguma doença ao longo da gestação? ( ) Sim ( ) Não. Qual?

_____________________________________________________________________________

A mãe adotou hábitos alimentares saudáveis durante a gestação? ( ) Sim ( ) Não.

A mãe fez uso de cigarro, álcool ou drogas durante a gestação? ( ) Sim ( ) Não.

Se sim, qual(is)? _______________________________________________________________

2.3. Parto:

Condições do parto: ( ) Em casa ( ) Maternidade

Desenvolvimento do parto: ( ) Natural ( ) Fórceps ( ) Cesariana

Intercorrências no parto? ( ) Sim ( ) Não.

( ) Hipóxia ( ) Anóxia ( ) Prematuridade ( ) Outras. Quais?

_____________________________________________________________________________

Duração do parto: _____________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Peso ao nascimento:____________________________________________________________

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245

Tamanho ao nascimento:______________________________________________________

Necessidade de cuidados especiais após o nascimento: ( ) Sim ( ) Não

Qual(is): ____________________________________________________________________

2.4. Desenvolvimento:

Quando bebê foi uma criança fácil ou difícil de lidar? ( ) Fácil ( ) Difícil

A criança teve acompanhamento pediátrico no primeiro ano de vida? ( ) Sim ( ) Não

2.4.1. Desenvolvimento motor:

O desenvolvimento motor ocorreu dentro do esperado? ( ) Sim ( ) Não

Qual a idade aproximada em que a criança:

1. Sustentou a cabeça? _____________________________________________________

2. Engatinhou? ___________________________________________________________

3. Ficou em pé sozinho? ____________________________________________________

4. Deu os primeiros passos? _________________________________________________

A criança já apresenta preferência por uma das mãos para escrever, desenhar ou se

alimentar?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual? ( ) Direita ( ) Esquerda

2.4.2. Desenvolvimento da linguagem:

Com que idade aproximadamente a criança falou? __________________________________

Teve alguma dificuldade no início da fala?_________________________________________

Compreende o que lhe dizem?____________________________________________________

Possui dificuldades específicas de fala atualmente?__________________________________

2.4.3. Desenvolvimento escolar:

Gosta de estudar? ( ) Sim ( ) Não

Gosta do(s) professor(es)? ( ) Sim ( ) Não

Frequentou Educação Infantil (creche; jardim)? ( ) Sim ( ) Não

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246

Como é a socialização na escola?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Atualmente apresenta alguma dificuldade na escola? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, em que matérias?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Sabe ler? ( ) Sim ( ) Não Com que idade aprendeu? ________________________________

Como é a leitura? ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Já sabe escrever? ( ) Sim ( ) Não Com que idade aprendeu a escrever? _______________

Como é a escrita? ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Como é o desempenho em aritmética? ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Foi reprovado em alguma série? ( ) Sim ( ) Não Qual(is)? __________________________

Mudou de escola? ( ) Sim ( ) Não Por quê? _______________________________________

Precisou ficar afastado da escola? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, por quanto tempo, com que idade e por qual motivo?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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247

2.4.4. Alimentação:

Foi amamentado (a)? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, por quanto tempo (exclusivamente por leite materno)?

_____________________________________________________________________________

Como é a alimentação da criança atualmente (tipo de comida, horários,

aceitação)?___________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

2.4.5. Atividades Psicomotoras

Se realiza, como realiza as seguintes atividades?

• Pintura: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

• Desenho: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

• Recorte: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

• Colagem: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

• Encaixes: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

• Quebra-cabeças: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

• Uso de celular: ( ) Sem dificuldades ( ) Com dificuldades ( ) Não realiza

2.4.6. Sociabilidade e outros aspectos do cotidiano

Como foi a socialização na Primeira Infância:

( ) Com dificuldades ( ) Sem dificuldades

____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Prefere brincar só ou com amigos?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Brincadeiras preferidas:

( ) Tabuleiro ( ) Videogame/computador/celular ( ) Bola ( ) ( ) Boneca ( ) Casinha ( )

Brincadeiras recreativas coletivas ( ) Parquinho

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_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Adapta-se bem às situações novas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Em algumas ocasiões

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Qual a rotina da criança?

Manhã:______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Tarde:_______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Noite:________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Como é o sono? ( ) Normal ( ) Agitado

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3) AMBIENTE FAMILIAR E SOCIAL

3.1. O ambiente familiar é saudável/tranquilo? ( ) Sim ( ) Não

3.2. Quem acompanha o tratamento da criança?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3.3. Como a criança lida com o tratamento?

( ) Com dificuldade ( ) Sem dificuldade ( ) Dificuldade em alguns momentos

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4) DADOS CLÍNICOS:

Local de tratamento:___________________________________________________________

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249

Médico responsável: ___________________________________________________________

Diagnóstico: ( ) Astrocitoma pilocítico ( ) Meduloblastoma ( ) LLA ( ) Outro: Qual?

_____________________________________________________________________________

Data do diagnóstico: ___ / ___ / ______

Idade da criança ao diagnóstico: _________________________________________________

( ) Antes dos 6 anos ( ) Após os seis anos

Tempo aproximado entre início dos sintomas e diagnóstico: ___________________________

Tratamento realizado: ( ) Neurocirurgia ( ) Quimioterapia sistêmica ( ) Quimioterapia

Intratecal ( ) Radioterapia de crânio e neuroeixo (Dose: _____________________________)

Duração do tratamento: de ___ / ___ / ___ a ___ / ____ / ____ (ou contabilizar sessões de QT e

RXT)

Protocolo utilizado:____________________________________________________________

Número de cirurgias realizadas (para TFP):________________________________________

Local do tumor (para TFP): ( ) Hemisfério Cerebelar Direito ( ) Hemisfério Cerebelar

Esquerdo

( ) Vermis Cerebelar ( ) IV ventrículo

Hidrocefalia (para TFP): ( ) Sim ( ) Não

DVP (para TFP): ( ) Sim ( ) Não

Recidiva: ( ) Sim ( ) Não

Transplante de Medula Óssea (para LLA): ( ) Sim ( ) Não

Comnplicações pós-tratamento? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual(is)? ( ) Mutismo cerebelar ( ) Alterações afetivas/comportamentais ( ) Mudanças

de personalidade ( ) Disfunções executivas ( ) Leucoencefalopatia ( ) Infecções ( ) Problemas

com DVP ( ) Outras. Quais?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Situação do tratamento: ( ) Em tratamento ( ) Fora de tratamento ( ) Alta (sobrevida global

de mais de 5 anos)

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Data de início do tratamento: ___ / ___ / ______

Data de final do tratamento: ___ / ___ / ______

Se fora de tratamento, há quanto tempo: __________________________________________

( ) Até seis meses ( ) Entre seis meses e um ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Entre 2 e 3 anos

( ) Entre 3 e 4 anos ( ) Mais de quatro anos

Tempo decorrido do diagnóstico à avaliação:_______________________________________

( ) Até seis meses ( ) Entre seis meses e um ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Entre 2 e 3 anos

( ) Entre 3 e 4 anos ( ) Mais de quatro anos

Faz algum outro acompanhamento?

( ) Sim ( ) Não

( ) Oncologia

( ) Neurologia

( ) Fisioterapia

( ) Endocrinologia

( ) Fonoaudiologia

( ) Psicoterapia

( ) Terapia Ocupacional

( ) Pedagogia/Psicopedagogia

( ) Outro. Qual? _______________________________________________________________

5) DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA APÓS O TRATAMENTO:

5.1. Percebe alguma mudança no desenvolvimento da criança após o tratamento?

( ) Sim ( ) Não

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

5.2. Em que aspectos você observa estas mudanças (na escola; em casa; no relacionamento

interpessoal)?

( ) Atenção (ele(a) não consegue mais prestar atenção no que se diz, ou é agitado?)

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( ) Memória (ele(a) está mais esquecido?)

( ) Aprendizagem na escola (alguma matéria em específico? Qual? __________________

( ) Linguagem ( ) fala; ( ) escrita; ( ) leitura)

( ) Aspectos emocionais (mais agressivo? Mais desmotivado? Mais sensível?)

( ) Comportamento/personalidade

( ) Sequelas motoras

( ) Sequelas sensoriais (visão; audição etc.)

OUTRAS INFORMAÇÕES:

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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Apêndice II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE – PARA PARTICIPANTES DOS GRUPOS CLÍNICOS

Estamos solicitando a você a autorização para que a criança ou adolescente pelo qual você

é responsável participe da pesquisa CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS

NEUROPSICOLÓGICOS, ACADÊMICOS E COMPORTAMENTAIS DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES SOBREVIVENTES DE TUMORES DE FOSSA POSTERIOR E

LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA, coordenada pela professora Izabel Augusta Hazin Pires, do

Departamento de Psicologia da UFRN.

As crianças com leucemia e tumores cerebrais, devido ao próprio adoecimento e ao

tratamento utilizado, podem vir a apresentar dificuldades de aprendizagem na escola e na sua vida

social como um todo. Dessa forma, esta pesquisa pretende verificar se as crianças com câncer

(leucemia e tumores cerebrais) entre 06 e 16 anos apresentam dificuldades comportamentais e

escolares, ou problemas de atenção, memória, linguagem dentre outras, relacionadas à doença e

ao tratamento. Pretende, assim, encontrar resultados que possam ajudar a equipe de saúde e os

professores a compreenderem as dificuldades que a criança possa apresentar depois do tratamento,

para que possam ajudá-la na escola e em casa.

A pesquisa é realizada por meio da aplicação de testes psicológicos e neuropsicológicos

em crianças e adolescentes. Estes testes são atividades semelhantes a jogos e tarefas que a criança

faz na escola. As aplicações serão realizadas na instituição de saúde que acompanha o seu filho e

vão durar aproximadamente três (3) sessões com duração estimada de 50 minutos. O trabalho será

interrompido se a criança apresentar desconforto, cansaço, inquietação ou sonolência decorrentes

do adoecimento e do tratamento, bem como da atividade que está realizando.

Durante a realização das atividades o(a) seu/sua filho(a) não correrá nenhum risco que

possa afetá-lo e ele terá o direito de se recusar a responder perguntas que lhes causem

constrangimento de qualquer natureza. Por outro lado, esta avaliação poderá levar a benefícios na

medida em que pode identificar se a criança apresenta alterações que possam estar relacionadas a

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dificuldades escolares e de comportamento, podendo ajudar na elaboração de intervenções

adequadas às suas necessidades. Para tanto, após a avaliação os resultados serão detalhadamente

informados ao(à) seu/sua filho(a) e a você, bem como à equipe de saúde e escolar. Será entregue

a todos os interessados um laudo contendo todas as informações obtidas na avaliação da criança.

Além dos dados obtidos na avaliação mencionada acima, os pesquisadores consultarão os

dados clínicos contidos no prontuário médico da criança, bem como resultados de exames que

venha a realizar ao longo do tratamento. Estes dados consistem basicamente em idade da criança

ao diagnóstico, início e duração de tratamento, tipo de tratamento realizado, resultados de exames

laboratoriais e de imagem, como tomografia e ressonância etc. Estas informações são importantes

para compreender se existe uma relação entre a doença e o tratamento e o desempenho da criança

nos testes e na escola.

Os dados que o(a) seu(sua) filho(a) irá nos fornecer serão confidenciais e serão publicados

apenas em eventos ou publicações científicas, sendo garantido que nenhum dado que possa

identifica-lo será divulgado. Esses dados serão guardados pela pesquisadora responsável por essa

pesquisa em local seguro e por um período de cinco anos e em qualquer etapa vocês podem

solicitar diretamente aos pesquisadores informações adicionais sobre os resultados encontrados.

Se você tiver algum gasto pela participação do(a) seu/sua filho(a) nesta pesquisa, ele será

assumido pela pesquisadora e reembolsado para você. Se ele(a) sofrer algum dano

comprovadamente decorrente desta pesquisa, ele(a) será indenizado.

A participação do(a) seu/sua filho(a) é voluntária e, caso você consinta a participação da

criança, mas queiram desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, isso não irá lhes

trazer nenhum prejuízo. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda dúvida que tiver a respeito

desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para Danielle Ferreira Garcia pelo telefone (84)

36421154 / (84) 987431154, Ediana Gomes (84) 3091-2665/(84) 988143867 e Prof.ª. Izabel

Hazin pelo telefone (84) 3342-2236 (ramal 332), ou através do endereço: Av. Senador Salgado

Filho, s/n, Lagoa Nova, Natal, RN, Brasil, CEP 59078-000, Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Departamento de Psicologia, Campus

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254

Universitário, CP1622. Qualquer dúvida sobre a ética desta pesquisa você deverá ligar para o

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone 3215-

3135.

Consentimento Livre e Esclarecido

Eu, ____________________________________________, representante legal da

criança/adolescente __________________________________________________, data de

nascimento ___/___/___, sexo ( ) masculino ( ) feminino, autorizo sua participação na pesquisa

CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS, ACADÊMICOS E

COMPORTAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES SOBREVIVENTES DE

TUMORES DE FOSSA POSTERIOR E LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA.

Esta autorização foi concedida após os esclarecimentos que recebi sobre os objetivos,

importância e o modo como os dados serão coletados, por ter entendido os riscos, desconfortos e

benefícios que essa pesquisa pode trazer para ele(a) e também por ter compreendido todos os

direitos que ele(a) terá como participante e eu como seu representante legal.

Autorizo, ainda, a publicação das informações fornecidas por ele(a) em congressos e/ou

publicações científicas, desde que os dados apresentados não possam identificá-lo(a).

Natal/João Pessoa, ___/____/____

___________________________________________

Assinatura do(a) Responsável:

Declaração da pesquisadora responsável

Como pesquisadora responsável pelo estudo CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS

NEUROPSICOLÓGICOS, ACADÊMICOS E COMPORTAMENTAIS DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES SOBREVIVENTES DE TUMORES DE FOSSA POSTERIOR E

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LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA, declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir

fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados

ao(à) participante deste estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade

do(a) mesmo(a).

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal/João Pessoa, ____/____/____.

_____________________________________

Assinatura da pesquisadora responsável

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Apêndice III

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE – PARA PARTICIPANTES DOS GRUPOS CONTROLE

Estamos solicitando a você a autorização para que a criança ou adolescente pelo qual você

é responsável participe da pesquisa CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS

NEUROPSICOLÓGICOS, ACADÊMICOS E COMPORTAMENTAIS DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES SOBREVIVENTES DE TUMORES DE FOSSA POSTERIOR E

LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA, coordenada pela professora Izabel Augusta Hazin Pires do

Departamento de Psicologia da UFRN.

Participarão desta pesquisa saudáveis, como o seu filho, e crianças com câncer. As

crianças com leucemia e tumores cerebrais, devido ao próprio adoecimento e ao tratamento

utilizado, podem vir a apresentar dificuldades de aprendizagem na escola e na sua vida social

como um todo. Dessa forma, esta pesquisa pretende verificar se as crianças com câncer (leucemia

e tumores cerebrais) entre 06 e 16 anos apresentam dificuldades comportamentais e escolares, ou

problemas de atenção, memória, linguagem dentre outras, relacionadas à doença e ao tratamento.

Pretende, assim, encontrar resultados que possam ajudar a equipe de saúde e os professores a

compreenderem as dificuldades que a criança possa apresentar depois do tratamento, para que

possam ajudá-la na escola e em casa. Para tanto, irá investigar estes domínios tanto em crianças

com câncer quanto em crianças saudáveis e, através da comparação, poderemos verificar se as

crianças com câncer apresentam dificuldades não esperadas para a sua idade.

Portanto, a participação do(a) seu/sua filho(a) se dará no grupo de crianças saudáveis. A

pesquisa é realizada por meio da aplicação de testes psicológicos e neuropsicológicos, que são

atividades semelhantes a jogos e tarefas que a criança faz na escola. As aplicações serão realizadas

no Serviço de Psicologia Aplicada/SEPA da UFRN, ou na própria escola da criança e ocorrerão

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em aproximadamente três (3) sessões com duração estimada de 50 minutos. O trabalho será

interrompido se a criança apresentar desconforto, cansaço, inquietação ou sonolência.

Durante a realização das atividades o seu filho não correrá nenhum risco que possa afetá-

lo e ele terá o direito de se recusar a responder perguntas que lhes causem constrangimento de

qualquer natureza. Por outro lado, esta avaliação poderá levar a benefícios na medida em que

pode identificar se a criança apresenta alterações que possam estar relacionadas a dificuldades

escolares e de comportamento, podendo ajudar na elaboração de intervenções adequadas às suas

necessidades. Para tanto, após a avaliação, os resultados serão detalhadamente informados ao seu

filho e a você, bem como à equipe escolar. Será entregue a todos os interessados um laudo

contendo todas as informações obtidas na avaliação da criança.

Os dados que o(a) seu/sua filho(a) irá nos fornecer serão confidenciais e serão publicados

apenas em eventos ou publicações científicas, sendo garantido que nenhum dado que possa

identificá-lo será divulgado. Esses dados serão guardados pela pesquisadora responsável por esta

pesquisa em local seguro e por um período de cinco anos. Em qualquer etapa você pode solicitar

diretamente às pesquisadoras informações adicionais sobre os resultados encontrados.

Se você tiver algum gasto pela participação do(a) seu/sua filho(a) nessa pesquisa, ele será

assumido pela pesquisadora e reembolsado para você. Se ele(a) sofrer algum dano

comprovadamente decorrente desta pesquisa, ele(a) será indenizado.

A participação do(a) seu/sua filho(a) é voluntária e, caso você consinta a participação da

criança, mas queira desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, isso não irá lhes

trazer nenhum prejuízo. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que tiver a

respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para Danielle Ferreira Garcia pelo telefone

(84) 36421154 / (84) 987431154, Ediana Gomes (84) 3091-2665/(84) 988143867 e Prof.ª. Izabel

Hazin pelo telefone (84) 3342-2236 (ramal 332) ou através do endereço: Av. Senador Salgado

Filho, s/n, Lagoa Nova, Natal, RN, Brazil, CEP 59078-000, Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Departamento de Psicologia, Campus

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258

Universitário, CP1622. Qualquer dúvida sobre a ética desta pesquisa você deverá ligar para o

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone 3215-

3135.

Consentimento Livre e Esclarecido

Eu, ____________________________________________, representante legal da

criança/adolescente _______________________________________________, autorizo sua

participação na pesquisa CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS,

ACADÊMICOS E COMPORTAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

SOBREVIVENTES DE TUMORES DE FOSSA POSTERIOR E LEUCEMIA LINFÓIDE

AGUDA.

Esta autorização foi concedida após os esclarecimentos que recebi sobre os objetivos,

importância e o modo como os dados serão coletados, por ter entendido os riscos, desconfortos e

benefícios que essa pesquisa pode trazer para ele(a) e também por ter compreendido todos os

direitos que ele(a) terá como participante e eu como seu representante legal.

Autorizo, ainda, a publicação das informações fornecidas por ele(a) em congressos e/ou

publicações científicas, desde que os dados apresentados não possam identificá-lo(a).

Natal, ___/____/____

___________________________________________

Assinatura do Responsável:

Declaração da pesquisadora responsável

Como pesquisadora responsável pelo estudo CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS

NEUROPSICOLÓGICOS, ACADÊMICOS E COMPORTAMENTAIS DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES SOBREVIVENTES DE TUMORES DE FOSSA POSTERIOR E

Page 259: Federal University of Rio Grande do Norte - INVESTIGAÇÃO DE … · 2019. 1. 30. · junto comigo esse sonho e facilitar a sua realização sempre que necessário; ... por comemorar

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LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA, declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir

fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados

ao(à) participante desse estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade

do(a) mesmo(a).

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, ____/____/____.

_____________________________________

Assinatura da pesquisadora responsável