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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESTUDOS DOS PROCESSOS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA DOS ÍONS DE Er 3+ E Ho 3+ PARA OS ÍONS DE Nd 3+ , Tb 3+ E Eu 3+ NO CRISTAL DE LiYF 4 E NO VIDRO ZBLAN PARA A OTIMIZAÇÃO DE MEIOS LASER ATIVOS QUE OPERAM NA REGIÃO DE 3 m FÁBIO HENRIQUE JAGOSICH Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Doutor em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear Materiais Orientador: Dr. Laércio Gomes SÃO PAULO 2006

FÁBIO HENRIQUE JAGOSICH - pelicano.ipen.brpelicano.ipen.br/PosG30/TextoCompleto/Fabio Henrique Jagosich_D.pdf · fluorescence decays. It was observed that 980nm is the most convenient

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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGTICAS E NUCLEARES

AUTARQUIA ASSOCIADA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

ESTUDOS DOS PROCESSOS DE TRANSFERNCIA DE ENERGIA

DOS ONS DE Er3+ E Ho3+ PARA OS ONS DE Nd3+, Tb3+ E Eu3+ NO

CRISTAL DE LiYF4 E NO VIDRO ZBLAN PARA A OTIMIZAO DE

MEIOS LASER ATIVOS QUE OPERAM NA REGIO DE 3 m

FBIO HENRIQUE JAGOSICH

Tese apresentada como parte dos

requisitos para obteno do Grau de

Doutor em Cincias na rea de

Tecnologia Nuclear Materiais

Orientador:

Dr. Larcio Gomes

SO PAULO

2006

ii

Dedico este trabalho aos meus pais,

irmos, sobrinhos e, em especial,

Fernanda

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeo ao Dr. Larcio Gomes pela orientao, incentivo, amizade e,

principalmente, pelos bons e proveitosos conselhos durante todos estes anos.

FAPESP pelo apoio financeiro.

Ao Dr. Nilson Dias Vieira Jnior pelo apoio e colaborao.

Dra. Lilia Coronato Courrol pelo grande incentivo desde a Iniciao Cientfica.

s Dra. Izilda Mrcia Ranieri e Dra. Lgia Delgado da Vila pelos crescimentos e

preparaes das amostras cristalinas e vtreas, respectivamente.

s Dra. Sonia Lcia Baldochi, Dra. Lcia Prado, Dra. Denise Maria Zezell e

Dra. Martha Marques Vieira pelas participaes e interesses constantes.

Aos Dr. Luiz Vicente Gomes Tarellho e Dr. Andr Felipe Henriques Librantz e ao

MSc. Gregrio Perez Pierro pelo grande apoio, amizade e incentivo sempre constante.

Aos Dr. Niklaus Ursus Wetter, Dr. Armando Mirage, Dr. Eduardo Landulfo,

Dr. Ricardo Elgul Samad, Dr. Paulo Srgio Fabris de Matos e ao MSc. Anderson Zanardi

de Freitas pelo incentivo e amizade.

Elsa, ao Sr. Tito e ao Sr. Luiz pela amizade e ateno.

Aos colegas do IPEN, principalmente aos da sala de bolsistas, por proporcionar

um ambiente de trabalho agradvel e receptivo.

Aos amigos do Instituto de Fsica: Alexandre, Fabiano, Frank, Hektor, Michel,

Rambo, Rgis, Renato, Valdir e Wilton pelo incentivo e amizade.

Aos colegas do Instituto de Criminalstica, especialmente aos da Equipe de

Percias Criminalsticas Oeste pelo grande incentivo e ajuda nas trocas dos plantes.

Ao pessoal do bairro, em especial famlia Rodrigues Stiebler, pelo grande

incentivo.

Aos meus queridos familiares, tios, primos e minha av Conceio por estarem

sempre torcendo pelo meu sucesso.

Desejo expressar minha gratido aos meus queridos pais, Valter e Marisa,

irmos, Valter e Rodrigo, pelo apoio e incentivo sempre constantes e que, juntamente

com os sobrinhos, Lgia e Gabriel, sempre estiveram presentes nas horas mais difceis.

E de modo especial minha esposa Fernanda pelo carinho, incentivo, pacincia e

compreenso ao longo de todos estes anos.

FBIO

iv

ESTUDOS DOS PROCESSOS DE TRANSFERNCIA DE ENERGIA

DOS ONS DE Er3+ E Ho3+ PARA OS ONS DE Nd3+, Tb3+ E Eu3+ NO

CRISTAL DE LiYF4 E NO VIDRO ZBLAN PARA A OTIMIZAO DE

MEIOS LASER ATIVOS QUE OPERAM NA REGIO DE 3 m

FBIO HENRIQUE JAGOSICH

RESUMO

Foram estudados os processos de transferncia de energia (TE) dos nveis 4I13/2 ; 4I11/2 do Er

3+ e 5I7 ; 5I6 do Ho

3+ no LiYF4 (YLF) e no ZBLAN, para os ons desativadores

Nd3+, Tb3+ ou Eu3+. Os microparmetros de interao dessas TE foram obtidos utilizando-

se o mtodo da integral de sobreposio e os resultados indicaram que o on de Eu3+ o

melhor desativador do primeiro estado excitado do Ho3+ no YLF e o Nd3+ o mais

eficiente desativador do Er3+ no YLF e ZBLAN. A dependncia temporal das

fluorescncias do Er3+ em 1,5 ; 2,7 m e do Ho3+ em 2,1 ; 2,9 m foram medidas utilizando-

se excitaes laser pulsadas provenientes do Nd-YAG+2 +OPO sintonizvel. Foi

proposto um critrio geral para a discriminao dos processos de TE assistidos pela

migrao da excitao entre doadores (difuso ou saltos). Verificou-se que o modelo de

migrao por difuso ajusta melhor os processos de TE do segundo estado excitado do

doador (Er3+ or Ho3+) independentemente da razo CD-D / CD-A, enquanto que o modelo de

migrao por saltos aplica-se ao primeiro estado excitado do doador. Foi proposta uma

modificao no modelo de saltos que descreve os resultados experimentais para

sistemas com CD-D / CD-A

10. Utilizando-se os parmetros de TE verificamos que os

melhores sistemas para a ao laser em 3 m so: Ho:Eu:YLF, Ho:Nd:YLF e Er:Nd:YLF.

Por outro lado, verifica-se que os sistemas com baixas concentraes (1,5mol%) de

Er:Nd; Er:Tb e Er:Eu no ZBLAN no apresentaram potencial de inverso de populao

para a ao laser em 2,8 m. Os processos de converso ascendente no sistema Er:YLF

foram estudados em funo da concentrao de Er3+, sendo que os processos de

absoro de estado excitado (ESA) e de converso ascendente por transferncia de

energia (ETU) foram discriminados utilizando as curvas de decaimento resolvidas no

tempo. Observou-se que o comprimento de onda de excitao em 980nm o mais

adequado para o bombeamento do sistema Er:YLF para a emisso laser quase contnua

(cw) em 2,8 m. A tcnica de pump-probe foi utilizada a fim de serem investigados os

efeitos nos tempos de vida do sistema Er:YLF, sendo verificada uma diminuio da

contribuio da migrao da excitao nos tempos de vida do primeiro e segundo

v

estados excitados do Er3+ no YLF com o aumento da potncia de bombeamento cw

( pump ). As taxas experimentais de TE, determinadas para os melhores sistemas por

meio do parmetro RN, foram utilizadas no sistema de equaes de taxa e, resolvendo-as

pelo mtodo numrico de Runge-Kutta de 4a

ordem, pudemos avaliar a densidade de

populao invertida para as emisses em 2,8 m do Er3+ e 2,9 m do Ho3+ em funo das

taxas de bombeamento e das concentraes dos ons ativador e desativador. A melhor

concentrao do sistema Er:YLF foi de 20mol% e no sistema Er:Nd:YLF foi de 4mol%

de Er3+ e 1,5mol% de Nd3+. Verificou-se que o sistema Er(4mol%):Nd(1.5mol%):YLF

favorece o aumento da freqncia mxima de operao de 14Hz no Er:YLF para 391Hz

baseando-se na medida do tempo de vida do nvel laser inferior (4I13/2) do Er3+. O sistema

Ho3+ no YLF otimizado utilizando-se 0,6mol% de Ho3+ e 1,5mol% de Nd3+ ou pelo

sistema Ho(3mol%):Eu(1,2mol%):YLF, sendo que a densidade de populao invertida

observada no sistema Ho(3mol%):Eu(1,2mol%) 2,4 vezes maior que no sistema

Ho(0,6mol%):Nd(1,5mol%).

vi

STUDIES OF THE ENERGY TRANSFER PROCESSES FROM

Er3+ AND Ho3+ TO Nd3+, Tb3+ OR Eu3+ IN LiYF4 CRYSTAL AND

ZBLAN GLASS FOR THE LASER MEDIA OPTIMIZATION

OPERATING NEAR 3 m REGION

FBIO HENRIQUE JAGOSICH

ABSTRACT

The energy transfer processes (ET) from the 4I13/2 ; 4I11/2 levels of Er

3+ and 5I7 ; 5I6

levels of Ho3+ ions in LiYF4 (YLF) crystal and ZBLAN glass to Nd3+, Tb3+ or Eu3+

deactivators ions were studied. The microparameters of these energy transfer processes

were determined using the overlap integral method, and showed that Eu3+ ion is the best

deactivator of the first excited state of the Ho3+ in YLF, and Nd3+ is the best deactivator of

the Er3+ in YLF and ZBLAN materials. The 1.5 and 2.7 m emissions of Er3+ and 2.1 and

2.9 m fluorescence of Ho3+ were measured using short laser pulses excitations from a

tunable OPO pumped 2w-Nd:YAG laser system. We proposed a criterion for

discriminating the energy transfer processes assisted by excitation migration (diffusion or

hopping) among donors. It was observed that diffusion model describes the ET process

from the second excited state of the donor (Er3+ or Ho3+) independently of the CD-D / CD-A

ratio, while the hopping model can describe the ET process involving the first excited state

of donor. We proposed a modification of the hopping model in order to describe the

experimental results for systems having CD-D / CD-A

10. Using the ET parameters, we

determined that the best systems for laser action at 3 m are the Ho:Eu:YLF, Ho:Nd:YLF

and Er:Nd:YLF systems. On the other hand, we found that Er3+ doped (1.5mol%) ZBLAN

glasses, single and co-doped with Nd3+, Tb3+ or Eu3+, do not show potential for laser

action at 2.8 m. The up-conversion processes were studied in Er:YLF systems as a

function of the Er3+ concentration, and the excited state absorption (ESA) and up-

conversion by energy transfer (ETU) processes were discriminated using a time resolved

fluorescence decays. It was observed that 980nm is the most convenient wavelength for

pumping the Er:YLF system for quasi cw laser operation at 2.8 m. The pump-probe

technique was used to investigate the lifetime effects in Er:YLF system showing that the

excitation migration contribution to the lifetime of the first and second excited states of Er3+

decrease with the laser pump power increasing. Using the ET experimental rates

determined for the best systems previously chosen based on the RN parameter as the

input in the rate equation system numeric solved by Runge-Kutta (4th

order), it was

vii

possible to evaluate the population density inversion for 2.8 m (Er3+) and 2.9 m (Ho3+) as

a function of the pumping rate, activators and deactivators concentrations. The best

concentration found for Er:YLF system was 20mol%. The best concentrations in the case

of Er:Nd:YLF system are 4mol% of Er3+ and 1.5mol% of Nd3+. A frequency increasing from

14Hz to 391Hz has been estimated as the maximum operation frequency for the

Er(20mol%):YLF and Er(4mol%):Nd(1.5mol%):YLF, respectively, based on the measured 4I13/2 excited state lifetime of Er

3+. The best concentrations of Ho3+ and deactivators found

for the Ho-laser in YLF are Ho(0.6mol%):Nd(1.5mol%) and Ho(3mol%):Eu(1.2mol%). The

Ho(3mol%):Eu(1.2mol%) system showed a population density inversion 2.4 times bigger

than the one verified in Ho(0.6mol%):Nd(1.5mol%) system.

viii

SUMRIO

CAPTULO 1 Introduo

1.1. Introduo........................................................................................................ 1

1.2. Objetivos.......................................................................................................... 4

CAPTULO 2 Reviso da literatura

2.1. Breve histrico.................................................................................................. 6

2.2. Lasers de estado slido.................................................................................... 7

2.3. ons de terras raras.......................................................................................... 10

2.4. Matrizes hospedeiras....................................................................................... 16

2.5. Meio laser ativo de Er3+ emissor em 2,8 m...................................................... 20

2.6. Meio laser ativo de Ho3+ emissor em 2,9 m..................................................... 22

CAPTULO 3 Consideraes tericas

3.1. Processos de transferncia de energia independentes da concentrao......... 23

3.1.1. Proceso radiativo...................................................................................... 23

3.1.2. Processo no radiativo por multifnons.................................................... 24

3.2. Processos de transferncia de energia dependentes da concentrao............

25

3.2.1. Tratamento microscpico dos processos de transferncia de energia......

25

3.2.1.1. Transferncia de energia direta (doador-aceitador)........................... 26

3.2.1.1.1. Transferncia de energia radiativa ressonante.......................... 27

3.2.1.1.2. Transferncia de energia no radiativa ressonante................... 28

3.2.1.1.3. Transferncia de energia no radiativa assistida por fnons..... 29

3.2.1.2. Relaxao cruzada ou transferncia de energia entre ons idnticos

34

3.2.1.3. Converso ascendente ( up-conversion ).......................................... 35

3.2.1.3.1. ETU (converso ascendente por transferncia de energia)....... 36

3.2.1.3.2. ESA (absoro de estado excitado)........................................... 36

3.2.2. Tratamento macroscpico......................................................................... 38

3.2.2.1. Modelo de Inokuti-Hirayama.............................................................. 39

3.2.2.2. Modelo de Yokota-Tanimoto.............................................................. 39

3.2.2.3. Modelo de Burshtein.......................................................................... 39

3.2.2.4. Comparaes entre os modelos de Yokota-Tanimoto e de Burshtein.......................................................

40

CAPTULO 4 Materiais e mtodos

4.1. Materiais utilizados........................................................................................... 43

4.1.1. Amostras cristalinas.................................................................................. 43

4.1.2. Amostras vtreas....................................................................................... 45

4.2. Mtodos utilizados............................................................................................ 47

4.2.1. Sistema de espectroscopia de absoro ptica........................................ 47

4.2.2. Sistema de espectroscopia de emisso luminosa com resoluo temporal...........................................................................

47

4.2.3. Tcnica de pump-probe .......................................................................... 50

ix

CAPTULO 5

Resultados e discusses (Parte 1)

Obteno dos parmetros microscpicos de interao

5.1. Espectros de absoro ptica.......................................................................... 51

5.2. Espectros das seces de choque de absoro e de emisso.........................

57

5.3. Estudos das transferncias de energia............................................................. 67

5.3.1. Transferncias de energia ressonante entre ons doadores..................... 67

5.3.2. Transferncias de energia de desativao entre os ons doador e aceitador....................................................................................

70

CAPTULO 6 Resultados e discusses

(Parte 2) Medidas da evoluo temporal das emisses luminosas

6.1. Obteno das curvas de decaimento luminescente.......................................... 80

6.2. Eficincia relativa de luminescncia................................................................. 87

6.3. Estudos das transferncias de energia D A auxiliadas pela migrao da excitao......................................................................................

91

6.3.1. Modificao no modelo de migrao da excitao por saltos entre ons doadores.................................................................

104

6.3.2. Estimativas dos efeitos nos tempos de vida dos nveis laser superior e inferior do Ho3+ e do Er3+..........................................................

109

6.3.3. Estimativas das concentraes ideais dos ons doadores e aceitadores para os sistemas estudados..................................................

119

6.4. Estudos dos processos de converso ascendente e de relaxao cruzada no Er:YLF......................................................................

126

6.4.1. Determinao das taxas de transferncia de energia no sistema Er:YLF. 143

6.4.1.1. Taxa de transferncia de energia da relaxao cruzada................... 143

6.4.1.2. Taxas de transferncia de energia dos processos de converso ascendente por ETU.........................................................................

145

6.5. Estudos das transferncias de energia no Er:YLF utilizando a tcnica de pump-probe ................................................................

155

6.6. Solues das equaes de taxa dos sistemas................................................. 164

6.6.1. Sistema Er:YLF......................................................................................... 164

6.6.2. Sistema Er:Nd:YLF................................................................................... 172

6.6.3. Comparaes entre os sistemas Er:YLF e Er:Nd:YLF.............................. 178

6.6.4. Sistemas Ho:YLF, Ho:Nd:YLF e Ho:Eu:YLF............................................. 180

CAPTULO 7 Concluses

7.1. Concluses....................................................................................................... 192

x

CAPTULO 8 Apndices

A. Mtodo de McCumber......................................................................................... 196 B. Relao de integrao........................................................................................ 199 C. Probabilidades de gerao de fnons................................................................. 200 D. Parmetros utilizados nos clculos das transferncias de energia..................... 206 E. Mtodos numricos de soluo de equaes diferenciais...................................

215 E.1. Mtodo de Euler.......................................................................................... 215 E.2. Mtodos de Runge-Kutta............................................................................. 216

E.2.1. Mtodo de Heun.................................................................................. 216 E.2.2. Mtodo clssico de Runge-Kutta......................................................... 216

CAPTULO 9 Referncias bibliogrficas

9.1. Referncia bibliogrficas.................................................................................. 218

1

1.1. Introduo

No h dvidas de que o laser representa um dos instrumentos mais

espetaculares desenvolvidos no sculo XX, tornando-se uma ferramenta indispensvel

do nosso cotidiano devido s suas inmeras aplicaes nos campos da cincia e da

tecnologia 1.

Seu princpio bsico de funcionamento est relacionado com o fenmeno de

amplificao da luz por emisso estimulada de radiao, o qual produz campos

eletromagnticos com caractersticas especiais, tais como, monocromaticidade,

coerncia, direcionalidade e possibilidade de focalizao em pequenas reas 2.

Dos muitos tipos de lasers encontrados atualmente, destacam-se os de estado

slido com suas enormes aplicaes desde o seu surgimento em 1960. Como o prprio

nome diz, os lasers de estado slido so aqueles que apresentam o meio ativo slido,

podendo ser cristal ou vidro. Deve-se ressaltar que, embora os lasers de semicondutor e

os de centros de cor tambm sejam meios ativos formados por materiais slidos, eles

no fazem parte do presente estudo.

Basicamente, os materiais laser devem possuir linhas de fluorescncia bem

definidas e estados metaestveis capazes de armazenar a energia de bombeamento, de

forma a favorecer a inverso de populao entre os nveis laser. Essas caractersticas

so geralmente apresentadas pelos elementos que so incorporados nas matrizes

slidas, destacando-se os metais de transio, as sries dos lantandeos e dos

actindeos.

Dentre esses elementos, os lantandeos, ou tambm denominados terras raras,

so os mais importantes ons que atuam como ativadores dos lasers de estado slido,

uma vez que apresentam nveis eletrnicos cujas transies fluorescentes cobrem uma

regio espectral desde o ultravioleta ao infravermelho 3.

Atualmente, a maioria dos elementos da srie dos lantandeos, na configurao

trivalente, demonstrou ser capaz de atuar como ons ativadores de meios lasers quando

incorporados em matrizes slidas apropriadas com valncia 3+ 4.

2

Dentre as matrizes hospedeiras que podem ser dopadas com os ons de terras

raras trivalentes, o cristal de fluoreto de ltio e trio (LiYF4 ou YLF) tem se destacado como

meio laser ativo por apresentar caractersticas trmicas e estruturais que permitem a

obteno de uma tima qualidade de feixe, alm da relativa facilidade com que crescido

e dopado 5. Desse modo, existe um esforo constante dos grupos que trabalham com

esse cristal no sentido de caracteriz-lo, alm de serem obtidas informaes no que diz

respeito aos ons incorporados nessa matriz 6.

As matrizes hospedeiras vtreas tambm se apresentam promissoras como

meios laser ativos, destacando-se o ZBLAN, cuja composio de formao :

53% ZrF4 - 20% BaF2 - 4% LaF3 - 3% AlF3 - 20% NaF. Esse vidro de fluoreto, alm de ser

utilizado na produo de fibras pticas, apresenta caractersticas favorveis para a ao

laser, tais como, baixa energia de fnon (~580cm-1) 7 quando comparada com os vidros

silicatos (~1100cm-1) 8 e fosfatos (~1300cm-1) 9, permitindo eficientes emisses

luminescentes dos ons dopantes, bem como apresenta baixa atenuao da radiao na

regio espectral de aproximadamente 0,22 m a 7 m 10-12.

A ao laser dos lantandeos tem sido demonstrada em mais de 300 combinaes

de cristais hospedeiros cobrindo uma regio de emisso do ultravioleta (0,17 m para o

Nd:LaF3) 13 ao infravermelho (7,24 m para o Pr:LaCl3)

14, 15. Nas matrizes vtreas, as

emisses laser dos ons de terras raras foram observadas nos comprimentos de onda

variando de 0,38 m no Nd:ZBLAN 16 a 3,95 m no Ho:ZBLAN 17.

Embora exista uma grande quantidade de lasers emissores na regio do

infravermelho, ainda h o interesse no desenvolvimento de novos sistemas,

especialmente aqueles dopados com ons de terras raras trivalentes que emitem na

regio de 3 m.

Essa emisso apresenta grande potencial para aplicaes nas reas da

Medicina 18-21 e da Odontologia 22-25, uma vez que est relacionada com a baixa

penetrao da radiao no tecido biolgico, favorecendo uma maior preciso no corte

desses tecidos.

Destacam-se os lasers de rbio em 2,8 m e de hlmio em 2,9 m incorporados

nas matrizes hospedeiras de YAG (Y3Al5O12) e de YLF (LiYF4) 26-29. Entretanto, esses

sistemas apresentam propriedades espectroscpicas distintas, seja nos mecanismos de

fluorescncia ou nos processos de transferncia de energia entre os ons. Desse modo,

deve-se realizar um estudo espectroscpico detalhado a fim de serem investigados e

compreendidos os mecanismos existentes em cada um dos sistemas para serem obtidas

otimizaes das emisses laser.

3

Desse modo, vrios mtodos tm sido propostos para a otimizao da eficincia

dos lasers em 3 m, entre eles podemos destacar o sistema codopado, no qual so

incorporados diferentes ons de terras raras em uma mesma matriz hospedeira 30. Esses

ons adicionais apresentam duas funes distintas, sendo que, no primeiro caso, so

denominados sensitizadores quando absorvem mais eficientemente a energia de

bombeamento e, posteriormente, transferem parte dessa excitao para o on ativador.

No segundo caso, so chamados de desativadores, uma vez que apresentam nveis

eletrnicos capazes de introduzir caminhos alternativos no radiativos de desexcitao

da energia do ativador.

Portanto, a compreenso dos processos de transferncia de energia entre os ons

de um determinado sistema laser de fundamental importncia, uma vez que o

conhecimento detalhado dos parmetros relacionados com essas transferncias, tais

como, a concentrao crtica, o raio crtico e a eficincia relativa de luminescncia,

poder conduzir arquitetura de meios lasers mais eficientes 31.

Vale ressaltar que esses processos de transferncia de energia so dependentes

das concentraes dos ons ativadores e desativadores (ou sensitizadores). Logo, para

tornar um meio laser mais eficiente no basta, simplesmente, adicionar qualquer

concentrao de on sensitizador de modo a aumentar a frao da energia incidente

absorvida, ou mesmo elevar a concentrao do on desativador a fim de proporcionar um

maior decrscimo no tempo de vida do nvel laser inferior, deve-se, primeiramente,

compreender os mecanismos de transferncia de energia entre os ons envolvidos e,

posteriormente, minimizar os efeitos indesejveis presentes no sistema. Portanto, s

assim ser possvel determinar as concentraes ideais dos ons ativadores e

desativadores (ou sensitizadores) capazes de maximizar a ao laser tornando o sistema

mais eficiente.

Com o tempo so descobertos novos mecanismos de sensitizao e desativao

em novos meios lasers ou mesmo em sistemas amplamente estudados. Entretanto,

observa-se que esses processos de transferncia de energia entre os ons so

complexos e ainda continuam sendo amplamente investigados 32.

Nesse sentido, os estudos espectroscpicos contribuem para o desempenho da

ao laser dos ons de terras raras em matrizes slidas, pois esto diretamente

relacionados com os princpios fundamentais de operao desses lasers 33-36.

4

1.2. Objetivos

Na primeira etapa do trabalho, sero investigados, por meio dos microparmetros

de interao, os processos de transferncia de energia entre os primeiros estados

excitados dos ons de Er3+ (4I13/2 e 4I11/2) e Ho

3+ (5I7 e 5I6) nos sistemas dopados e

codopados com os ons desativadores de Nd3+, Tb3+ ou Eu3+ nas amostras cristalinas de

YLF e vtreas de ZBLAN, a fim de serem determinadas as melhores combinaes entre

os ons ativador e desativador capazes de minimizar os efeitos indesejveis presentes

nesses sistemas e otimizar as emisses do Ho3+ em 2,9 m e do Er3+ em 2,8 m.

Posteriormente, por intermdio das curvas de decaimento luminescente dos nveis 5I6 ;

5I7 do Ho3+ e 4I11/2 ;

4I13/2 do Er3+ nas presenas dos ons desativadores (Nd3+, Tb3+ ou

Eu3+) sero obtidas as eficincias relativas de luminescncia e de transferncia de

energia, a fim de serem determinados os parmetros RN os quais esto relacionados

com o critrio de determinao da existncia de inverso de populao entre os nveis

laser quando o sistema excitado continuamente.

Em seguida, de posse dos microparmetros de interao calculados e das curvas

de decaimento luminescente obtidas experimentalmente, sero estudados os processos

de transferncia de energia entre os ons doador (Ho3+ ou Er3+) e aceitador (Nd3+, Tb3+ ou

Eu3+) auxiliados pela migrao da excitao do doador, a fim de se determinar um critrio

de validade dos modelos existentes na literatura (Yokota-Tanimoto e Burshtein) e,

conseqentemente, avaliar as concentraes ideais dos ons doador e aceitador capazes

de maximizar as inverses das populaes dos nveis laser dos sistemas estudados.

Na segunda etapa do trabalho, sero investigados os processos de converso

ascendente existentes no sistema Er:YLF na qual ser desenvolvida uma metodologia de

discriminao dos processos ESA (absoro de estado excitado) e ETU (converso

ascendente por transferncia de energia) mediante as anlises dos tempos de excitao

das curvas de decaimento luminescente do Er3+ em 556nm (4S3/24I15/2).

Com relao ao sistema Er:YLF, sero ampliados os estudos das transferncias

de energia avaliando as curvas de decaimento luminescente das emisses em 1600nm e

2730nm obtidas mediante a tcnica de pump-probe cujo meio se encontra altamente

excitado, j que bombeado continuamente por um laser de diodo em 981nm ( pump )

juntamente com as excitaes laser pulsadas em 972nm e 1490nm ( probe ).

5

Alm disso, com o objetivo de compreender ainda mais os sistemas Er3+ e Ho3+ no

YLF e compar-lo com os sistemas codopados com os ons desativadores, sero

descritas as equaes de taxa desses sistemas quando se encontram sob bombeamento

contnuo e resolvidas utilizando o mtodo numrico de resolues de equaes

diferenciais denominado Runge-Kutta de 4a

ordem. A meta principal desse estudo ser

obter o ganho do meio laser desses sistemas mediante as evolues das populaes dos

primeiros estados excitados dos ons de Er3+ e de Ho3+ que esto relacionadas com as

concentraes dos ons ativadores e desativadores, bem como com a intensidade do

bombeamento.

Desse modo, os estudos espectroscpicos pretendidos no presente trabalho

contribuiro diretamente para o desenvolvimento de lasers de estado slido dopados com

ons de terras raras trivalentes emissores de radiao laser na regio do infravermelho

mdio.

6

2.1. Breve histrico

A possibilidade de criao do laser foi prevista teoricamente por Einstein em 1917

aps a publicao do estudo sobre o efeito de amplificao da luz que se poderia obter

em uma emisso estimulada de radiao 37.

No entanto, passaram-se vrias dcadas antes que houvesse condies tcnicas

para viabilizar o conceito terico. Somente em 1952, os fsicos soviticos Basov e

Prokhorov e, independente deles, o fsico americano Townes 38 apresentaram a idia de

um amplificador de microondas o qual foi inicialmente denominado gerador a feixe

molecular e, mais tarde, maser , formada a partir das iniciais da expresso Microwave

Amplification by Stimulated Emission of Radiation

(amplificao de microondas por

emisso estimulada de radiao).

Em 1958, Schawlow e Townes propuseram estender os princpios do maser para

as regies do infravermelho e visvel 39. O tema desencadeou grande interesse em torno

da construo do instrumento que hoje se conhece como laser e cuja palavra formada

pelas iniciais da expresso Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation

(amplificao de luz por emisso estimulada de radiao).

Nos anos subseqentes, muitos pesquisadores se dedicaram ao desenvolvimento

do laser. A primeira soluo foi apresentada em 1960 pelo fsico americano Maiman 40,

utilizando um cilindro de rubi sinttico no qual foram introduzidas impurezas de cromo.

Seis meses aps o advento do laser de rubi, pesquisadores dos Laboratrios Bell

desenvolveram outro modelo de laser com uma composio de hlio e nenio, tornando-

se o laser emissor na regio do visvel mais conhecido atualmente.

Muito depressa comearam a aparecer outras variaes em torno do tema,

empregando tomos e molculas diferentes, assim como distintas fontes de energia para

estimul-los. Nos anos subseqentes, novos lasers comearam a ser desenvolvidos,

podendo ser citados os lasers de argnio, criptnio, Nd:YAG e de semicondutores.

Portanto, a partir do incio da dcada de 60, a histria dos lasers difcil de ser resumida

devido enorme variedade de sistemas utilizados 41.

7

2.2. Lasers de estado slido

Dos inmeros tipos de lasers existentes atualmente, destacam-se os de estado

slido que podem ser classificados em semicondutores, centros de cor e os ativados com

ons metlicos que so incorporados em matrizes hospedeiras cujas estruturas podem

ser cristalinas ou vtreas.

Os ons metlicos podem ser subdivididos em metais de transio e de transio

interna que incluem as sries dos lantandeos (terras raras) e dos actindeos 3.

Dentre os metais de transio, o principal elemento utilizado para a ao laser

o cromo, alm de serem encontrados sistemas com V2+, Fe2+, Co2+, Ni2+, Ti3+ e Mn5+.

Na famlia dos actindeos, cuja maioria dos elementos so sintticos e radioativos,

apenas o U3+ foi utilizado com sucesso. J as terras raras apresentaram muitas

possibilidades bem sucedidas, tendo o Nd3+ como o on ativador mais utilizado nos lasers

de cristais, seguido pelos ons de Er3+, Ho3+ e Tm3+.

A utilizao dos lasers de estado slido teve incio em 1960 com o advento do

laser de rubi, por Maiman e, posteriormente, Sorokin e Stevenson desenvolveram um

laser de cristal de CaF2-U3+, emitindo em 2,6 m. Em 1961, os mesmos autores tambm

observaram a emisso estimulada no visvel a partir do CaF2 dopado com Sm2+ 42, desse

modo, o samrio bivalente veio a ser o primeiro laser ativado por um on de terra rara.

Entretanto, os meios lasers cristalinos de terras raras s se destacaram em 1961 quando

Johnson e Nassau desenvolverem um laser de CaWO4 dopado com Nd3+ emitindo na

regio de 1 m a 300K 43.

Desde ento a ao laser tem sido observada em vrios ons de terras raras

trivalentes, tais como, Ce3+, Pr3+, Nd3+, Pm3+, Sm3+, Eu3+, Gd3+, Tb3+, Dy3+, Ho3+, Er3+ ,

Tm3+ e Yb3+ e em ons de terras raras bivalentes, sendo Sm2+, Dy2+, Tm2+, os quais foram

incorporados em diversas matrizes hospedeiras 3.

Vale ressaltar que, a ao laser dos ons de terras raras trivalentes tem sido

observada em mais de 300 combinaes de cristais hospedeiros cobrindo uma regio

espectral de emisso do ultravioleta (0,17 m do Nd3+:LaF3) 13 ao infravermelho (7,24 m

do Pr3+:LaCl3) 14, 15, bem como em amostras vtreas apresentando emisses de 0,38 m

no Nd3+:ZBLAN 16 a 3,95 m do Ho3+:ZBLAN 17.

8

Atualmente, existe uma grande quantidade de lasers emissores na regio do

infravermelho, no entanto, ainda h o interesse no desenvolvimento de novos sistemas

ou mesmo na otimizao dos sistemas amplamente estudados, especialmente nos meios

dopados com ons de terras raras trivalentes que emitem na regio de 3 m, devido ao

seu enorme potencial para aplicaes nas reas da Medicina 18-21 e da Odontologia 22-25.

Sabe-se que o tecido biolgico contm grande quantidade de gua, cerca de 70%

e, desse modo, como primeira aproximao, pode-se afirmar que as propriedades pticas

do tecido so similares s da gua. Logo, o conhecimento do espectro de absoro da

gua com relao ao comprimento de onda incidente permite indicar a extenso da

interao da radiao de um determinado laser com o tecido biolgico.

A FIG. 2.1 ilustra o espectro de absoro da gua, observando-se que na regio

de 3 m, a gua apresenta um mximo no seu coeficiente de absoro, indicando uma

forte interao da radiao de tal forma a produzir uma menor profundidade de

penetrao na gua e, de modo anlogo, tambm no tecido biolgico 31.

0,1 1 1010-4

10-3

10-2

10-1

100

101

102

103

104

comprimento de onda ( m )

coef

icie

nte

de a

bsor

o

( cm

-1 )

FIGURA 2.1. Espectro de absoro da gua 31.

Nessa regio de 3 m, destacam-se os lasers de hlmio em 2,9 m e de rbio em

2,8 m nas matrizes de Y3Al5O12 (YAG) e LiYF4 (YLF) os quais foram utilizados em

pesquisas relacionadas com a interao da radiao laser e seus efeitos nos tecidos

biolgicos humanos 18-21.

9

As radiaes emitidas na regio de 3 m pelos ons de rbio e hlmio so mais

absorvidas pela gua que a radiao emitida em 10,6 m pelo laser de CO2 que tambm

utilizado nas aplicaes mdicas e odontolgicas. Alm disso, estudos mostraram que

a radiao incidente nos tecidos biolgicos apresenta uma profundidade de penetrao

ou penetration depth , cuja grandeza definida como a distncia na qual a luz incidente

reduz sua intensidade pelo fator 1/e, de aproximadamente 1 m para o comprimento

de onda de 3 m e cerca de 15 m para a emisso em 10,6 m, conforme se observa na

FIG. 2.2 44.

Isso significa que a utilizao de lasers emissores em 3 m promove cirurgias a

laser mais exatas, uma vez que apresenta maior preciso no corte dos tecidos biolgicos,

alm de minimizar os efeitos trmicos causados nos tecidos vizinhos.

0,1 1 10 100

10-3

10-2

10-1

100

101

pr

ofun

dida

de d

e pe

netr

ao

( m

m )

comprimento de onda ( m )

FIGURA 2.2. Espectro da profundidade de penetrao no tecido biolgico 44.

Outro fato interessante que os lasers emissores na regio de 3 m apresentam

menor elevao na temperatura da estrutura do dente apresentando-se restritos

superfcie durante a aplicao sendo, desse modo, mais eficientes nas remoes dos

tecidos dentais duros, tais como, o esmalte e a dentina 45-47.

Por outro lado, esses lasers apresentam uma desvantagem com relao sua

conduo por fibras pticas de quartzo ou de slica que possuem alto teor de OH .

Contudo, para contornar essa deficincia so empregadas fibras pticas de vidros

fluoretos ou, ento, fibras especiais como as cristalinas de safira.

10

2.3. ons de terras raras

A Comisso de Nomenclatura em Qumica Inorgnica da IUPAC (International

Union of Pure and Applied Chemistry) 48 recomenda utilizar a expresso metais das

terras raras para os elementos Sc, Y e La a Lu. J o termo srie do lantnio ou srie

dos lantandeos reservado para os elementos de nmeros atmicos de 57 a 71 (La a

Lu), e o termo lantandeos ainda mais restrito, pela excluso do lantnio, incluindo-se

os elementos de nmeros atmicos 58 a 71 (Ce a Lu) 49.

Desse modo, freqentemente, nos artigos e relatrios publicados na literatura,

o termo terras raras acata a recomendao da IUPAC que inclui os elementos

lantandeos (Ce a Lu), o La e mais dois elementos, o Y e o Sc.

Os elementos lantandeos so originariamente conhecidos como terras raras

devido sua ocorrncia em misturas xidas e que, na nomenclatura arcaica,

denominavam-se terras . Entretanto, atualmente sabe-se que esses elementos no so

raros e a abundncia na litosfera relativamente alta, tendo-se encontrado com relativa

facilidade novas jazidas minerais contendo terras raras, sendo que a monazita uma das

principais fontes 50.

Na crosta terrestre verifica-se que os elementos lantandeos mais abundantes

so: Ce, Y, Nd e La, e a suas ocorrncias mdias, em partes por milho (ppm), so

indicadas como: Y(31ppm), La(19), Ce(44), Pr(5,6), Nd(24), Sm(6,5), Eu(1,0), Gd(6,3),

Tb(1,0), Dy(4,3), Ho(1,2), Er(2,4), Tm(0,3), Yb(2,6) e Lu(0,7ppm).

Com relao s propriedades fsicas, os espectros de absoro ptica dos ons de

terras raras trivalentes apresentam particular interesse, uma vez que corresponde base

para um dos mais gerais e satisfatrios mtodos de determinao das terras raras

individuais.

Os ons de terras raras quando trivalentes apresentam o fenmeno denominado

contrao lantandica , que consiste num significativo decrscimo do tamanho do raio

inico com o aumento do nmero atmico, conforme pode ser observado na TAB. 2.1 51.

Essa contrao lantandica decorrente da blindagem imperfeita de um eltron 4f

por outro no mesmo orbital. Quando se percorre a srie dos lantandeos, a carga nuclear

e o nmero de eltrons 4f aumentam de forma escalonada de uma unidade, de modo que

a cada novo eltron 4f adicionado a carga nuclear efetiva aumenta, causando ento a

reduo em tamanho do volume da configurao interna 4f n.

11

TABELA 2.1. Raios atmicos e inicos (3+) da srie dos lantandeos e do trio 51.

Nmero

Atmico

Smbolo Raio Atmico

( )

Raio Inico (3+)

( )

39 Y 1,801

0,88

57 La 1,877 1,061 58 Ce 1,824 1,034 59 Pr 1,828 1,013 60 Nd 1,821 0,995 61 Pm 1,810 0,979 62 Sm 1,802 0,964 63 Eu 2,042 0,950 64 Gd 1,802 0,938 65 Tb 1,782 0,923 66 Dy 1,773 0,908 67 Ho 1,766 0,894 68 Er 1,757 0,881 69 Tm 1,746 0,869 70 Yb 1,940 0,858 71 Lu 1,734 0,848

Os elementos da srie dos lantandeos, quando neutros, possuem em comum o

fato de que 54 de seus eltrons preenchem as camadas completas como no tomo de

Xe, tal que, o orbital 4f n (n de 1 a 14) fica incompleto e 2 ou 3 eltrons preenchem as

camadas 6s2 ou 5d 6s2 mais externas, respectivamente.

Na forma inica, todas as terras raras formam ctions trivalentes e alguns

lantandeos podem se apresentar nos estados bivalente e tetravalente, entretanto esses

so sempre menos estveis que os trivalentes, conforme ilustra a TAB. 2.2 52.

Os ons bivalentes e tetravalentes mais estveis so formados pelos elementos

que podem apresentar o orbital 4f nas seguintes configuraes f 0, f 7 e f 14, como o caso

do Ce4+ cuja configurao f 0 e do Tb4+ apresentando configurao f 7, enquanto os

bivalentes Eu2+ e Yb2+ so estabilizados pelas configuraes f7 e f14, respectivamente.

No estado trivalente, trs eltrons so removidos do tomo neutro, sendo um

eltron da camada 4f n e dois eltrons da camada 6s2. Nessa configurao observa-se

que trs terras raras so especialmente estveis, ou seja, o La3+ que tem a configurao

de xennio, o Gd3+ que tem o orbital 4f semipreenchido formando 4f 7 e o Lu3+ que tem o

orbital 4f completamente preenchido com 14 eltrons.

12

TABELA 2.2. Configuraes eletrnicas dos elementos terras raras 52.

Nmero

Atmico

Smbolo Configurao

normal

Configurao

monovalente

Configurao

bivalente

Configurao

trivalente

57 La [Xe] 5d16s2 [Xe] 5d2 [Xe] 5d1 [Xe] 4f 0

58 Ce [Xe] 4f 15d16s2 [Xe] 4f 15d16s1 [Xe] 4f 2 [Xe] 4f 1

59 Pr [Xe] 4f 36s2 [Xe] 4f 36s1 [Xe] 4f 3 [Xe] 4f 2

60 Nd [Xe] 4f 46s2 [Xe] 4f 46s1 [Xe] 4f 4 [Xe] 4f 3

61 Pm [Xe] 4f 56s2 [Xe] 4f 56s1 [Xe] 4f 5 [Xe] 4f 4

62 Sm [Xe] 4f 66s2 [Xe] 4f 66s1 [Xe] 4f 6 [Xe] 4f 5

63 Eu [Xe] 4f 76s2 [Xe] 4f 76s1 [Xe] 4f 7 [Xe] 4f 6

64 Gd [Xe] 4f 75d16s2 [Xe] 4f 75d16s1 [Xe] 4f 75d1 [Xe] 4f 7

65 Tb [Xe] 4f 96s2 [Xe] 4f 96s1 [Xe] 4f 9 [Xe] 4f 8

66 Dy [Xe] 4f 106s2 [Xe] 4f 106s1 [Xe] 4f 10 [Xe] 4f 9

67 Ho [Xe] 4f 116s2 [Xe] 4f 116s1 [Xe] 4f 11 [Xe] 4f 10

68 Er [Xe] 4f 126s2 [Xe] 4f 126s1 [Xe] 4f 12 [Xe] 4f 11

69 Tm [Xe] 4f 136s2 [Xe] 4f 136s1 [Xe] 4f 13 [Xe] 4f 12

70 Yb [Xe] 4f 146s2 [Xe] 4f 146s1 [Xe] 4f 14 [Xe] 4f 13

71 Lu [Xe] 4f145d16s2 [Xe] 4f146s2 [Xe] 4f16s1 [Xe] 4f 14

Nmero Atmico Smbolo Configurao normal

54 Xe 1s22s22p63s23p63d104s24p64d105s25p6

camada fechada

Devido s suas estruturas eletrnicas, as terras raras formam uma classe nica

entre os elementos naturais, de tal forma que, na construo progressiva do sexto

perodo dos elementos, aps o nvel quntico 6s ser ocupado por dois eltrons (Ba), os

orbitais 5d e 4f se tornam mais estveis.

Assim, a srie das terras raras resulta do preenchimento dos orbitais 4f at sua

capacidade de 14 eltrons, enquanto que a configurao externa permanece

sensivelmente inalterada nos 6s2 ou 5d1 6s2. Como o orbital 4f est dois nveis abaixo da

camada mais externa, a designao de srie interna de transio usada para os

elementos das terras raras.

Conforme se observa na TAB. 2.2, a partir de n=1 (Ce3+) at n=13 (Yb3+), os ons

de terras raras trivalentes tem em comum a camada interna 4f n semipreenchida, sendo

que os eltrons das camadas mais externas 5s2 e 5p6 formam uma blindagem eletrnica

de camada fechada.

13

Esses ons trivalentes quando utilizados como dopantes em matrizes cristalinas

experimentam a ao do campo eltrico dos ons hospedeiros vizinhos, porm o campo

cristalino da vizinhana impe apenas pequenas perturbaes nas transies internas da

camada 4f n devido camada de blindagem eletrnica 53.

Diante disso, os nveis de energia desses ons so determinados por trs efeitos

de desdobramento do nvel 4f n, conforme ilustra a FIG. 2.3 53. Aps a interao

coulombiana ter dado origem aos termos 2S+1L, cada um dos nveis desdobra-se em 2S+1

novos termos, que a multiplicidade decorrente das possveis orientaes do spin total

S. Sob a ao de um campo cristalino os nveis podem se desdobrar em, no mximo,

2J+1 subnveis dependendo da simetria local e do nmero de eltrons envolvidos,

denominado efeito Stark, conforme descrito na TAB. 2.3 54.

FIGURA 2.3. Desenho esquemtico do desdobramento do nvel f n 53.

TABELA 2.3. Abertura dos nveis eletrnicos das terras raras

em campos cristalinos para uma simetria local 54.

J inteiro

Simetria local J=0

2J+1=1 1 3

2 5

3 7

4 9

5 11

6 13

7 15

8 17

Cbica Oh, Td, O, Th, T

1 1 2 3 4 4 6 6 7

Hexagonal D6h, D3h, C6v,

D6, C6h, C3h, C6

1 2 3 5 6 7 9 10 11

Trigonal D3d, C3v, D3,

C3i, C3

1 2 3 5 6 7 9 10 11

Tetragonal D4h, D2d, C4v, D4,

C4h, S4, C4

1 2 4 5 7 8 10 11 13

Ortorrmbica D2h, C2v, D2

1 3 5 7 9 11 13 15 17

Monoclnica C2h, C3, C2

1 3 5 7 9 11 13 15 17

Triclnica Ci, C1

1 3 5 7 9 11 13 15 17

14

J semi - inteiro

Simetria local

J=1/2 2J+1=2

3/2 4

5/2 6

7/2 8

9/2 10

11/2 12

13/2 14

15/2 16

17/2 18

Cbica

Oh, Td, O, Th, T 1 1 2 3 3 4 5 5 6

Outros tipos de simetrias

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Devido blindagem eletrnica, a Hamiltoniana do sistema composta por uma

terra rara em uma matriz cristalina deve ser resolvida levando-se em conta a

aproximao de campo fraco. Desse modo, a Hamiltoniana do sistema pode ser descrita

como 55-57:

H = T + Vn-e + Ve-e + Vs-o + Vcr (2.1)

T: energia cintica;

Vn-e: energia potencial de interao entre o ncleo e os eltrons;

Ve-e: energia potencial de interao eletrosttica, definindo os termos 2S+1L;

Vs-o: energia potencial de interao spin-rbita, decompondo os termos nos nveis 2S+1LJ;

Vcr: energia potencial de interao entre o campo cristalino e os eltrons, introduzindo

no mximo de 2J+1 em subnveis (efeito Stark).

Devido blindagem eletrnica dos nveis 5s2 5p6 sobre os estados 4f n, a abertura

dos nveis no on livre com relao ao efeito Stark pequena ( 102cm-1). J os potenciais

da interao eltron-eltron e spin-rbita so da mesma ordem de grandeza (Vs-o

Ve-e),

entretanto, so muito maiores que o potencial do campo cristalino (Vs-o, Ve-e >> Vcr).

Desse modo, o potencial do campo cristalino tratado como uma perturbao dos

estados do on livre.

As transies pticas nos ons de terras raras so predominantemente do tipo

dipolo-eltrico, apesar das transies dipolo-magntico e quadrupolo-eltrico serem

permitidas pelas regras de seleo, as suas contribuies para o decaimento radiativo

so bastante pequenas.

Cumpre ressaltar que as transies 4f - 4f no envolvem mudana de paridade e

por isso so proibidas do ponto de vista da transio de dipolo-eltrico. Entretanto, o

campo cristalino pode quebrar a degenerescncia misturando os estados do nvel 4f com

os estados vazios 6s e 5d e cujas transies entre os nveis provenientes dessa mistura

se tornam permitidas por dipolo-eltrico forado 58, 59.

Na FIG. 2.4 est ilustrado o diagrama dos nveis de energia dos ons de terras

raras trivalentes na matriz hospedeira de LaF3 55.

15

FIGURA 2.4. Esquema dos nveis de energia dos ons de terras raras trivalentes no LaF3 55.

16

2.4. Matrizes hospedeiras

A matriz hospedeira apresenta fundamental importncia na obteno de uma

ao laser eficiente, uma vez que nela que o on dopante ir se alojar. Alm disso, elas

podem ser variadas de acordo com as suas caractersticas e aplicaes, entretanto, so

geralmente agrupadas em cristais e vidros.

Essas matrizes devem possuir propriedades pticas, mecnicas e trmicas

capazes de suportar as severas condies de operao laser. Dentre essas propriedades

podem ser citadas a resistncia, a ausncia de tenses internas, a facilidade de

fabricao e o baixo custo. Alm disso, a matriz deve ser transparente nas regies de

emisso e de absoro de interesse, bem como aceitar o on dopante, isto , no caso de

um cristal, esse on dever apresentar a mesma valncia do on do composto a ser

substitudo.

Dentre as matrizes hospedeiras cristalinas que podem ser dopadas com os ons

de terras raras, destacam-se o Y3Al5O12 (YAG) e o LiYF4 (YLF), sendo que o YAG tem

sido um dos meios lasers ativos mais utilizados, embora apresente dificuldades de

obteno devido ao seu alto ponto de fuso e problemas trmicos quando em operao

laser em regime contnuo.

Por outro lado, atualmente o cristal de YLF tem se destacado como meio laser

ativo por apresentar caractersticas trmicas e estruturais que permitem uma qualidade

de feixe superior ao do YAG, alm disso, o pleno conhecimento da tcnica com que

crescido e dopado aliado ampla faixa de aplicaes faz dele um material bastante

utilizado.

O YLF tem uma estrutura do tipo scheelite que pertence ao grupo espacial

tetragonal C h46 com duas molculas por clula primitiva e cujos parmetros de rede so

dados por a = b = (5,155

0,005) e c = (10,747

0,007) , sendo, portanto, um cristal

biaxial 60. Nas FIG. 2.5 e 2.6 so apresentados os desenhos esquemticos da matriz

hospedeira de YLF 61.

A faixa de transparncia desse cristal de 0,12 m a 11 m, seu ndice de refrao

de 1,45 para o comprimento de onda de 3 m e sua densidade de 3,99g/cm3 para o

cristal puro 62, alm disso, o cristal denominado alfabtico, j que aceita dopagem

simultnea de diferentes ons de terras raras.

17

FIGURA 2.5. Desenho esquemtico da estrutura cristalina do LiYF4 (YLF) 61.

FIGURA 2.6. Desenho esquemtico da clula primitiva do LiYF4 (YLF) 61.

A sntese do cristal de YLF ocorre a partir da mistura de 49,5mol% de YF3 e

51,5mol% de LiF e no processo de dopagem, os ons de terras raras ocupam a posio

do trio trivalente que tem simetria S4 na rede cristalina, sem apresentar compensao de

carga 63, 64.

( LiF4 ) 3-

Y 3+

b

a

c

18

importante destacar que de todos os cristais laser conhecidos, o YLF o que

pode ser dopado com o maior nmero de ons de terras raras trivalentes, sendo 3:

Ce3+, Pr3+, Nd3+, Eu3+, Tb3+, Dy3+, Ho3+, Er3+ , Tm3+ e Yb3+. Alm disso, foram observadas

emisses laser em uma extensa regio espectral apresentando-se de 0,306 m para o

Ce3+:YLF a 4,34 m para o Dy3+:YLF 3.

Os vidros base de fluoreto de zircnio (ZrF4) foram descobertos em 1974 por

Poulain 65 e atraram o interesse cientfico, uma vez que apresentaram propriedades

promissoras para aplicaes na regio do infravermelho. Infelizmente, esses materiais

exibiam grande tendncia a devitrificao e sua estabilidade trmica frente cristalizao

somente foi melhorada com a adio de outros compostos, tais como, os fluoretos de

brio (BaF2), de lantnio (LaF3), de alumnio (AlF3) e de sdio (NaF), dando origem ao

vidro ZBLAN.

Esse vidro de fluoreto, cuja composio formada pelos seguintes elementos:

53% ZrF4 - 20% BaF2 - 4% LaF3 - 3% AlF3 - 20% NaF, alm de ser utilizado na produo

de fibras pticas 66, apresenta caractersticas favorveis ao laser, tais como, a

possibilidade de incorporao de ons terras raras trivalentes em concentraes

relativamente altas, baixa energia de fnon (~580cm-1) 7 quando comparada com os

vidros silicatos (~1100cm-1) 8 e fosfatos (~1300cm-1) 9, permitindo eficientes emisses

luminescentes dos ons dopantes 67-70, alm de apresentar baixa atenuao da radiao

na regio espectral de aproximadamente 0,22 m at 7 m 10-12, conforme ilustra o grfico

da FIG 2.7 71.

0 10000 20000 30000 400000

5

10

15

20

aten

ua

o (

dB )

nmero de onda ( cm-1 )

FIGURA 2.7. Espectro da janela de transmisso do vidro ZBLAN 10-12.

19

O ndice de refrao desse vidro de 1,48 para o comprimento de onda de 3 m e

a sua densidade de 4,34g/cm3 para o vidro sem ons dopantes 71.

A sntese do vidro ZBLAN ocorre a partir da fuso dos compostos fluoretos de

partida (fluoretos de zircnio, brio, lantnio, alumnio e sdio) e no processo de

dopagem dos ons de terras raras trivalentes, esse vidro passa a apresentar a seguinte

composio: (100 - x) [53 ZrF4 - 20 BaF2 - 4 LaF3 - 3 AlF3 - 20 NaF] - x TRF3, onde

TR representa os ons terras raras trivalentes e x indica a concentrao do on dopante

em mol%. A ao laser ativada pelos ons de terras raras nessa matriz vtrea foi

observada em uma regio espectral de emisso variando de 0,381 m no Nd3+:ZBLAN 16

a 3,95 m do Ho3+:ZBLAN 17, alm disso, atualmente so encontrados vidros de ZBLAN

dopados com os seguintes ons de terras raras trivalentes: Pr3+, Nd3+, Eu3+, Tb3+, Ho3+,

Er3+, Tm3+ e Yb3+.

Uma das principais vantagens das matrizes hospedeiras vtreas com relao s

cristalinas que, as primeiras so mais facilmente obtidas, uma vez que os cristais

necessitam de rigorosas tcnicas de crescimento e que so, geralmente, lentas e

dispendiosas, alm disso, os vidros podem ser obtidos em diversos formatos e tamanhos.

20

2.5. Meio laser ativo de Er3+ emissor em 2,8 m

A ao laser na regio de 3 m ativada pelo on de Er3+ resulta de uma transio

entre os nveis 4I11/2 e 4I13/2 os quais correspondem ao segundo e terceiro estados

eletrnicos, respectivamente, conforme ilustrado o desenho esquemtico da FIG. 2.8.

Para que ocorra uma inverso de populao entre esses estados eletrnicos,

o nvel 4I11/2 dever possuir um tempo de vida superior ao do nvel 4I13/2 a fim de que seja

armazenada a energia de bombeamento. Entretanto, observa-se que, nos sistemas

dopados, o tempo de vida do nvel laser inferior (4I13/2) da ordem de 11ms, sendo

sempre maior que o tempo de vida do nvel laser superior (4I11/2) que da ordem de 4ms.

Devido a essa propriedade intrnseca do sistema, o meio apresenta uma reduo na

emisso laser com o acrscimo da taxa de bombeamento pulsado.

Vrios mtodos tm sido propostos para a otimizao da eficincia das emisses

laser em 3 m, entre eles destaca-se a incorporao de outros ons de terras raras

trivalentes nas matrizes hospedeiras, os quais so denominados desativadores e que

apresentam nveis eletrnicos capazes de introduzir caminhos alternativos e no

radiativos de desexcitao da energia do on ativador, favorecendo, desse modo, a

diminuio do tempo de vida do nvel laser inferior 30, 31.

Entretanto, observa-se que, com a adio do on desativador no sistema, surgem

efeitos indesejveis que so decorrentes dos processos de transferncia de energia por

relaxao cruzada e que reduzem a populao do nvel laser superior.

Desse modo, a investigao e compreenso dos processos de transferncia de

energia entre os ons dopantes de um determinado sistema laser so de fundamental

importncia, uma vez que o conhecimento detalhado dos seus parmetros poder

conduzir a arquitetura de meios lasers mais eficientes.

Portanto, na primeira etapa do presente trabalho foram investigados os processos

de transferncia de energia entre os primeiros estados excitados do on de Er3+ (4I13/2 e 4I11/2) nos sistemas dopado e codopados com os ons desativadores de Nd

3+, Tb3+ ou Eu3+

em amostras cristalinas de YLF e vtreas de ZBLAN.

Na FIG. 2.8 so apresentados os possveis processos de transferncia de energia

desativao dos nveis 4I13/2 e 4I11/2, que correspondem s transferncias de energia direta

(indicadas por linhas slidas) e por relaxao cruzada (indicadas por linhas tracejadas),

respectivamente, mediante as excitaes lasers seletivas e ressonantes com o nvel laser

superior do Er3+ em 970nm.

21

A eficincia do processo de transferncia de energia direta do nvel 4I13/2 do Er3+

para os nveis dos ons desativadores de Nd3+, Tb3+ ou Eu3+ deve ser maximizada, pois

est relacionada com a diminuio do tempo de vida do nvel 4I13/2. J a eficincia do

processo de transferncia de energia por relaxao cruzada, que corresponde

transio entre a emisso em 2,8 m do Er3+ e os primeiros estados excitados dos ons

desativadores, deve ser minimizada, uma vez que est relacionada com os processos

indesejveis que causam perdas no sistema laser.

Portanto, o objetivo principal da primeira etapa do trabalho a determinao das

melhores combinaes entre os ons ativador (Er3+) e desativadores (Nd3+, Tb3+ ou Eu3+)

capazes de otimizar a emisso luminosa do Er3+ em 2,8 m na matriz hospedeira de YLF

e de ZBLAN.

FIGURA 2.8. Diagrama esquemtico dos nveis de energia dos ons ativador de Er3+ e

desativadores de Nd3+, Tb3+ ou Eu3+ . Nessa figura tambm so ilustrados os

processos de transferncia de energia de desativao dos nveis laser

superior (4I11/2) e inferior (4I13/2) do Er

3+ nos sistemas codopados.

22

2.6. Meio laser ativo de Ho3+ emissor em 2,9 m

O meio laser ativo de Ho3+ com emisso em 2,9 m apresenta, basicamente, o

mesmo princpio utilizado no sistema laser de Er3+ em 2,8 m conforme foi descrito na

seo 2.5, tal que, no presente trabalho, foram utilizados os mesmos ons desativadores

(Nd3+, Tb3+ ou Eu3+).

A FIG. 2.9 ilustra o diagrama esquemtico dos nveis de energia do on ativador

Ho3+ com emisso laser em 2,9 m resultante da transio entre os nveis 5I6 e 5I7 que

correspondem ao primeiro e segundo estados excitados, alm de serem apresentados os

primeiros estados eletrnicos dos ons desativadores de Nd3+, Eu3+ e Tb3+.

De modo anlogo ao sistema laser de Er3+ em 2,8 m, o sistema laser de Ho3+ em

2,9 m tambm apresenta reduo da emisso laser com o aumento da taxa de

bombeamento pulsado, uma vez que o tempo de vida do nvel laser inferior (5I7) da

ordem de 15ms sendo maior que o tempo de vida do nvel laser superior (5I6) que da

ordem de 3ms.

Cumpre ressaltar que a ao laser do Ho3+ em 2,9 m foi pouco investigada, uma

vez que no se consegue introduzir concentraes desejveis para que o sistema

apresente um ganho razovel com o aumento da taxa de bombeamento.

Desse modo, a introduo do on desativador possibilitar melhor desempenho da

ao laser em regime pulsado j que favorece a diminuio no tempo de vida do nvel

laser inferior por intermdio de caminhos alternativos e no radiativos de desexcitao.

FIGURA 2.9. Diagrama esquemtico dos nveis de energia dos ons ativador de Ho3+ e

desativadores de Nd3+, Tb3+ ou Eu3+ . Nessa figura tambm so ilustrados os

processos de transferncia de energia de desativao dos nveis laser

superior (5I6) e inferior (5I7) do Ho

3+ nos sistemas codopados.

23

3.1. Processos de transferncia de energia

independentes da concentrao

3.1.1. Processo radiativo

A probabilidade de emisso espontnea (Wr) obtida por Einstein para uma

transio radiativa entre os estados inicial a e final b, para uma interao dipolo eltrico,

descrita pela equao 3.1 como sendo 72:

abfnn

mc

eWr

22

3

222

0 3

28

4

1 (3.1)

onde n o ndice de refrao, m massa do eltron, e a carga do eltron,

a

freqncia da transio, c a velocidade da luz e f (ab) a fora do oscilador que dado

por:

f abg

m

heb D a

a a b

1 8

3

2

2

2

,

(3.2)

onde ga a degenerescncia do estado inicial, D o operador de dipolo eltrico e h a

constante de Planck.

Essa probabilidade de emisso espontnea (Wr) tambm pode ser relacionada

com o tempo de vida radiativo do estado excitado ( r ) da seguinte forma:

ijij

rr AW

1 (3.3)

tal que P

cnd

g

gcnA

ij

em

i

j

ij

ij 4

2

4

2 88 (3.4)

onde

( ) o coeficiente de absoro, gj e gi so as degenerescncias dos nveis

inferior e superior, respectivamente,

a densidade de ons dopantes em ons/cm3,

ij o comprimento de onda correspondente ao mximo da absoro para uma transio

entre os estados i e j, P( ) a funo do perfil de linha normalizada da fluorescncia e

em( p) a seo de choque de emisso do mximo da banda.

Para uma transio permitida por dipolo eltrico, o tempo de vida radiativo da

ordem de nanossegundo, entretanto, para os primeiros estados eletrnicos dos ons de

terras raras esse tempo varia de microssegundo at milissegundo.

24

3.1.2. Processo no radiativo por multifnons

O processo no radiativo por multifnons corresponde aquele cuja transio

eletrnica envolve a assistncia de fnons locais, de modo que, o sistema pode gerar

fnons quando h a necessidade de dissipar uma determinada quantidade de energia em

excesso ou absorver os fnons da rede a fim de ser compensada a falta de energia para

que uma determinada transio ocorra 73, 74.

Experimentalmente, a probabilidade da transio no radiativa por multifnons

(Wnr) apresenta uma dependncia exponencial com relao diferena de energia E

entre dois nveis eletrnicos, a qual denominada Lei do Gap e que dada por:

E nrnr e WEW 0 (3.5)

onde

e Wnr (0) so parmetros dependentes somente da natureza da matriz hospedeira

e E deve ser maior que a energia de um nico fnon.

Essa probabilidade de transio no radiativa por multifnons (Wnr) tambm pode

ser obtida por intermdio do tempo de vida do nvel excitado, como sendo:

W Wnr r1

(3.6)

onde r

rW1

, tal que, r e so os tempos de vida radiativo e total do nvel excitado.

Teoricamente, a probabilidade de transio no radiativa por multifnons pode ser

descrita para os sistemas que apresentam o deslocamento Stokes (ou fator de Huang-

Rhys, S0) diferente de zero 74, 75. Assim, Wnr dado por:

W W Sr

r

S r r S r

j N jnr

j N j

j0 0

0 0

0

1

1

1 1 1exp

/ /

! ! (3.7)

onde W0 a taxa de emisso de fnons que da ordem de 1013s-1, N o nmero de

fnons gerados na transio e r kTexp /0 , tal que 0 a freqncia dos fnons.

Vale ressaltar que a somatria apresentada na equao 3.7 representa todas as

possibilidades de criao de (N+j) fnons seguida pela absoro de j fnons.

Definindo a populao mdia de fnons na temperatura T como sendo

n e kT1 10/ /

observa-se que as probabilidades de criao e de absoro dos

fnons diferem de tal forma que, na criao a probabilidade do processo inclui um termo

( n +1), enquanto que na absoro de fnons o processo dependente de n .

25

Portanto, as probabilidades no radiativas de criao e absoro de N fnons so

descritas pelas equaes 3.8 e 3.9, respectivamente, levando-se em conta a

aproximao no caso S0 < 1 que vlida para as transies nos ons de terras raras 76:

W W n SS

Nn W Pnr

NN

N0 00

02 1 1exp ! (3.8)

onde PN a probabilidade de criao de N fnons, e

W W nSS

Nn W Pnr

NN

N0 00

02exp ! (3.9)

onde PN

a probabilidade de absoro de N fnons.

3.2. Processos de transferncia de energia

dependentes da concentrao

Nos sistemas que apresentam mais de um on so observados processos de

transferncia de energia que podem ser classificados em: transferncia de energia direta,

relaxao cruzada e converso ascendente.

Inicialmente, esses processos de transferncia de energia sero analisados por

um tratamento microscpico no qual apenas dois ons interagem entre si. Posteriormente,

esses processos sero apresentados de uma forma macroscpica que corresponde s

medidas experimentais nas amostras e cujas interaes entre os ons so tratadas na

mdia.

3.2.1. Tratamento microscpico dos processos

de transferncia de energia

O tratamento microscpico relaciona as interaes entre dois ons e a sua

finalidade est na determinao dos parmetros microscpicos de interao que so

parte importante na caracterizao dos processos de transferncia de energia entre os

ons.

26

3.2.1.1. Transferncia de energia direta (doador-aceitador)

A transferncia de energia direta se refere s transferncias de energia de um on

doador (D) para um on aceitador (A) e pode ocorrer de quatro formas distintas, conforme

ilustrado o desenho esquemtico da FIG. 3.1 76.

Cumpre consignar que, alm da transferncia de energia direta tambm pode

ocorrer a transferncia de energia oposta do on aceitador para o on doador e cujo

processo denominado retro-transferncia ou back-transfer , no entanto, tal processo

no est ilustrado na FIG. 3.1.

FIGURA 3.1. Representao esquemtica dos quatro processos de transferncia de energia

direta de um on doador (D) excitado para um on aceitador (A) no estado fundamental:

(a) radiativa ressonante, (b) no radiativa ressonante, (c) no radiativa assistida por fnons e

(d) quenching entre os ons doador e aceitador 76.

(a) radiativa ressonante: ocorre quando o doador emite uma radiao (fton) que

absorvida pelo aceitador.

(b) no radiativa ressonante: ocorre por meio de uma interao eletromagntica entre

os nveis do doador e do aceitador sem envolver a emisso de ftons.

(c) no radiativa assistida por fnons: ocorre por meio de uma interao

eletromagntica, com a necessidade da assistncia de fnons da rede para

absorver o excesso (ou fornecer a falta) da energia transferida do doador para o

aceitador.

(d) quenching ou relaxao cruzada: ocorre por meio de uma interao

eletromagntica, tal que, a energia de excitao do doador parcialmente

transferida para o aceitador deixando ambos os ons em estados excitados

intermedirios.

27

3.2.1.1.1. Transferncia de energia radiativa ressonante

A probabilidade da transferncia de energia radiativa ressonante (Wt(rad.))

descrita pelo produto das probabilidades de emisso da radiao do doador (D) e

de absoro dessa radiao pelo aceitador (A), tal que, para uma dada freqncia da

radiao , dada por 76:

DAA

DD

radt P B PAW 1221. (3.10)

onde PD( ) e PA( ) correspondem aos perfis de linha da emisso pelo doador e da

absoro pelo aceitador, AD21 e BA

12 so os coeficientes de Einstein para o doador e

aceitador, respectivamente e D( ) a densidade de ftons do doador descrita por:

24 R c h

D (3.11)

onde R a distncia entre os ons doador e aceitador.

Utilizando a equao 3.11 e a relao entre a seco de choque de absoro (

)

e os coeficientes de Einstein (equao 3.12) possvel obter a probabilidade da

transferncia radiativa ressonante que apresentada na equao 3.13.

APBc

h12 (3.12)

221. 4 R P AW D

Dradt (3.13)

Considerando a integrao da seco de choque de absoro do aceitador como

sendo A, ento:

AA P (3.14)

Logo,

221. 4 R P

P AW ADAD

radt (3.15)

Integrando a expresso 3.15, ento se obtm a probabilidade da transferncia de

energia radiativa ressonante entre os ons doador e aceitador como sendo 77:

dP PR

W ADr

Aradt

14 2.

(3.16)

onde, r o tempo de vida radiativo do doador e a integral representa a sobreposio das

formas de linha da emisso do doador e da absoro do aceitador.

28

3.2.1.1.2. Transferncia de energia no radiativa ressonante

No caso que dois ons apresentam energias de excitao idnticas, considerados

nveis ressonantes, possvel que essa excitao seja transferida de um on para outro

de forma no radiativa.

Tal processo foi primeiramente estudado de forma terica por Frster 78 que o

descreveu para uma interao dipolo-dipolo, obtendo-se uma probabilidade de

transferncia de energia entre um doador e um aceitador (WD-A), dada por:

WC

RD AD A

6 (3.17)

onde CD-A a constante de transferncia de energia que descreve a interao entre os

ons envolvidos e R a distncia radial de separao entre os ons doador e aceitador.

O parmetro microscpico CD-A, cuja dimenso expressa em cm6/s, pode ser

obtido pela expresso 3.18, tal que RC o raio crtico de interao descrito pela

expresso 3.19.

CR

D AC

D

6

(3.18)

d g

g

n

cR Aabs

DemisD

acima

DabaixoD

C 24

6

2

6 (3.19)

onde c a velocidade da luz, n o ndice de refrao do material, Dabaixog e Dacimag so as

degenerescncias dos nveis inferior e superior do doador (D), respectivamente.

A integral observada na equao 3.19 representa a sobreposio dos espectros

das seces de choque de absoro do aceitador Aabs e de emisso do doador

Demis e D o tempo de vida total do nvel doador sem a presena do on aceitador

dado por:

nrrD

W11

(3.20)

onde r o tempo de vida radiativo do doador e Wnr a probabilidade do processo no

radiativo por multifnons.

Cumpre consignar que o raio crtico de interao (RC) representa uma distncia na

qual a transferncia de energia do doador para o aceitador e a desexcitao espontnea

do doador so equiprovveis.

29

No entanto, Dexter 79-82 demonstrou que essa teoria poderia ser estendida a fim

de serem includas outras ordens de grandeza da interao multipolar. Logo, a

probabilidade de transferncia de energia para as interaes multipolares pode ser

descrita como:

s

C

DAD R

RW

1 (3.21)

onde s um nmero inteiro positivo que est relacionado com as interaes multipolares

dado por:

s = 6 para a interao dipolo-dipolo.

s = 8 para a interao dipolo-quadrupolo.

s = 10 para a interao quadrupolo-quadrupolo.

Essa teoria de transferncia de energia no radiativa ressonante introduzida por

Frster e Dexter foi aplicada aos ons de terras raras trivalentes nos cristais por Kushida

em 1973 83. Em 1992, Payne avaliou o raio crtico de interao dos processos de

transferncia de energia no radiativa ressonante entre os vrios ons de terras raras

trivalentes nos cristais de LiYF4 confirmando a aplicabilidade desse mtodo 84.

3.2.1.1.3. Transferncia de energia no radiativa assistida por fnons

A transferncia de energia entre os ons tambm pode ocorrer no caso que no

h ressonncia entre as transies envolvidas, necessitando da assistncia dos fnons

locais, tal que, a diferena de energia E compensada pelas vibraes na rede.

Se a diferena de energia for maior que a energia do fnon local ( 0 ), ento

mais de um fnon ser criado no processo de transferncia de energia do doador para o

aceitador ou absorvido no processo de transferncia de energia oposto aceitador para o

doador ( back-transfer ) 85, 86.

Esse processo foi primeiramente estudado por Miyakawa e Dexter 87 os quais

observaram que a probabilidade de transferncia de energia pode ser descrita por:

W H SD A DA DAN2 2 (3.22)

onde N indica a ordem do processo de multifnons, HDA a Hamiltoniana do sistema e

SDAN a integral de sobreposio entre os perfis de linha de emisso de m-fnons do

doador e de absoro de k-fnons pelo aceitador.

30

No caso que h um pequeno acoplamento eltron-fnon, isto , S D0 e SA

0

31

Nesse mtodo verifica-se que para descrever completamente uma transferncia

de energia entre os ons doador e aceitador de um sistema que se encontra na

temperatura de equilbrio T, so necessrios trs processos de multifnons os quais

correspondem a:

a) uma emisso de m-fnons pelo doador, tal que, m=N-k, onde N o nmero total

de fnons necessrios na transio;

b) uma absoro de k-fnons pelo aceitador;

c) uma emisso de k-fnons pelo aceitador.

A FIG. 3.2 ilustra um diagrama esquemtico dos nveis de energia dos ons

doador (D) e aceitador (A), bem como os trs processos de multifnons necessrios para

uma transferncia de energia no ressonante.

No item (a) dessa figura so apresentados os processos de multifnons para uma

transferncia de energia direta do doador para o aceitador, tal que (N-k) fnons so

criados pelo doador, enquanto k fnons so absorvidos pelo aceitador. Verifica-se que

esse mecanismo proporciona aos nveis de energia do doador e aceitador condies de

uma transferncia de energia ressonante.

Ainda nessa figura, observa-se que as linhas tracejadas representam os estados

intermedirios virtuais do doador e do aceitador de modo que a energia de excitao

transferida de forma ressonante. J no item (b) dessa figura so apresentados os trs

processos de multifnons necessrios para a transferncia de energia oposta do

aceitador para o doador ou back-transfer .

FIGURA 3.2. Diagrama esquemtico dos nveis de energia dos ons doador (D) e aceitador (A)

ilustrando os trs processos de multifnons necessrios para uma transferncia de energia

no ressonante: (a) direta do D para o A e (b) oposta do A para o D ( back-transfer ) 93.

32

As probabilidades dos trs processos de multifnons so dadas por:

a) para a transferncia de energia direta (D A): P P PN k k k ;

b) para a transferncia de energia oposta (A D): P P PN k k k

onde os sinais (+) e ( ) indicam a criao e absoro de fnons, respectivamente.

Portanto, kNP e kP representam as probabilidades de criao de (N-k) fnons

pelo doador e de absoro de k fnons pelo aceitador, respectivamente, e so obtidas

realizando-se as razes entre as taxas dos decaimentos de multifnons descritas nas

equaes 3.8 e 3.9, tal que:

kNkN

kN nkN

SSnP 1

!12exp 00 (3.25)

kk

k nk

SSnP

!2exp 00 (3.26)

onde 1/1 /0 TkBen

a populao mdia de fnons na temperatura T e S0 o fator

de acoplamento eltron-fnon ou fator de Huang-Rhys.

A probabilidade de transferncia de energia microscpica entre os ons doador e

aceitador foi apresentada anteriormente nas equaes 3.17 e 3.18 como sendo:

WC

RD AD A

6 onde CR

D AC

D

6

lembrando que R a distncia radial de separao entre os ons doador e aceitador,

CD-A a constante de transferncia de energia, RC o raio crtico de interao e

D o tempo de vida do nvel excitado do doador na ausncia do on aceitador.

Para a transferncia de energia no radiativa assistida por fnons realizada uma

extenso do modelo da transferncia de energia ressonante na qual so includas as

probabilidades adimensionais de criao e absoro dos fnons, bem como a integral de

sobreposio modificada contendo uma translao do espectro da seco de choque de

emisso do doador na direo do espectro de seco de choque de absoro do

aceitador de forma a produzir uma integral de sobreposio diferente de zero.

33

Desse modo, a probabilidade de transferncia de energia microscpica pode ser

obtida utilizando a equao 3.27 vlida para uma transferncia de energia direta do

doador para o aceitador:

d PPPg

g

Rn

cRW k

AabskN

Demis

N

N

kkkkND

acima

Dabaixo

AD0 0

6242

6 (3.27)

tal que:

P P P d P P P dN k k kk

N

emisD

N k absA

k N k k kk

N

emisD

N absA

0 0

(3.28)

onde emisD e abs

A representam os espectros das seces de choque de emisso do

doador e de absoro do aceitador, n o ndice de refrao, kN

e k

representam as

translaes dos comprimentos de onda das sees de choque de emisso do doador

para a criao de (N-k) fnons e de absoro do aceitador para a absoro de k fnons,

respectivamente.

Essas translaes dos comprimentos de onda das sees de choque kN

e k

so descritas pelas equaes 3.29 e 3.30, como sendo:

0

11

kNkN (3.29)

0

11

kK (3.30)

O raio crtico de interao pode ser obtido por intermdio das equaes 3.8 e

3.27, tal que:

para uma transferncia de energia direta (D A):

0 024

6

2

6

N

N

kkkkN

AabsN

DemisD

acima

DabaixoD

C PPP d g

g

n

cR (3.31)

para uma transferncia de energia oposta (A D):

0 024

6

2

6

N

N

kkkkN

DabsN

AemisA

acima

AabaixoA

C PPP d g

g

n

cR (3.32)

Portanto, essas equaes permitem determinar os microparmetros de interao

(RC e CD-A) para uma transferncia de energia no ressonante assistida por fnons

utilizando os espectros das seces de choque de absoro do aceitador e de emisso

do doador.

34

3.2.1.2. Relaxao cruzada ou transferncia de energia

entre ons idnticos

O termo relaxao cruzada refere-se s transferncias de energia que ocorrem

entre ons idnticos (doador-doador ou aceitador-aceitador) e pode ocorrer de duas

formas distintas, sendo a primeira uma migrao da excitao entre os ons doadores

que ocorre quando os nveis envolvidos so idnticos ou, ento, por meio de quenching

quando os nveis so diferentes 72, 74, conforme ilustra o desenho esquemtico da

FIG. 3.3.

Durante esses processos, observa-se que o on excitado decai para um nvel de

menor energia transferindo a excitao para um on vizinho que a absorve promovendo-o

para um estado de energia maior.

FIGURA 3.3. Processos de relaxao cruzada: (a) migrao e (b) quenching 72, 74.

(a) transferncia de energia por migrao da excitao: corresponde ao processo de

relaxao cruzada entre ons idnticos originando a migrao de energia por

difuso ou por saltos ( hopping model ). Nesse processo, a energia de excitao

de um on doador transferida totalmente, de forma no radiativa, para um on

vizinho de mesma espcie.

(b) quenching ou relaxao cruzada entre ons idnticos: corresponde ao processo

de transferncia de energia que ocorre entre os ons doadores, tal que a energia

de excitao parcialmente transferida, de forma no radiativa, para um on

vizinho deixando ambos em estados excitados intermedirios.

Nas transferncias de energia entre ons idnticos os microparmetros de

interao (RC e CD-A) podem ser obtidos utilizando-se as mesmas expresses descritas

na transferncia de energia no radiativa ressonante (equaes 3.18 e 3.19), lembrando-

se apenas que, nesse caso, o on aceitador um on semelhante ao doador e, portanto, a

constante de transferncia de energia CD-A passa a ser CD-D.

35

3.2.1.3. Converso ascendente ( up-conversion )

A converso ascendente refere-se aos processos de transferncia de energia que

produzem populaes em estados excitados cujas energias so maiores que a energia

do fton absorvido, ou seja, a emisso desse estado excitado apresenta comprimento de

onda menor que a do fton de bombeamento, denominada emisso anti-Stokes 94.

Os processos de converso ascendente necessitam da absoro de dois ou mais

ftons os quais podem ser absorvidos simultaneamente pelo mesmo on. Esses

processos foram observados nas transferncias de energia entre os ons e so

classificados em 95, 96:

(a) converso ascendente por transferncia de energia ou ETU ( energy-transfer

up-conversion ) que tambm conhecido por APTE ( Addition de Photons par

Transferts d Energie );

(b) absoro de estado excitado ou ESA ( excited-state absorption );

(c) sensitizao cooperativa;

(d) luminescncia cooperativa;

(e) gerao de segundo harmnico ou G.S.H.;

(f) excitao por absoro de dois ftons.

Na FIG. 3.4 apresentado um diagrama esquemtico comparativo dos processos

de converso ascendente por dois ftons, bem como as suas respectivas eficincias (

)

em W / cm2.

FIGURA 3.4. Processos de converso ascendente e suas respectivas eficincias em W / cm2 95, 96.

Conforme se observa na FIG. 3.4, os processos de converso ascendente mais

provveis so: a converso ascendente por transferncia de energia (ETU) e a absoro

de estado excitado (ESA). Portanto, nas sees a seguir sero apresentadas algumas

consideraes importantes no que diz respeito a esses dois processos.

36

3.2.1.3.1. ETU (converso ascendente por transferncia de energia)

No processo de converso ascendente por transferncia de energia (ETU) h o

envolvimento de dois ons distintos, sendo que cada on absorve separadamente um

fton de bombeamento que popula o seu estado metaestvel intermedirio e,

posteriormente, por intermdio dos processos de transferncia de energia por relaxao

cruzada, essa excitao promovida para um nvel emissor superior que apresenta

maior energia, conforme ilustra o desenho esquemtico da FIG. 3.5 97.

FIGURA 3.5. Esquema representativo do processo de converso ascendente

por transferncia de energia (ETU) entre dois ons 97.

Cumpre ressaltar que a energia da transio entre os nveis 1 e 2 no precisa ser

idntica a da transio entre os nveis 2 e 3, uma vez que a diferena de energia pode

ser compensada pelos fnons da rede.

3.2.1.3.2. ESA (absoro de estado excitado)

A absoro de estado excitado (ESA) ou tambm denominado absoro

seqencial ressonante de dois ftons o processo de converso ascendente mais

conhecido e estudado 97.

Nesse processo um nico on populado pela absoro seqencial de dois ou

mais ftons durante a aplicao do pulso do laser, sendo que o primeiro fton popula um

estado intermedirio e o segundo promove a excitao para um nvel emissor de maior

energia, conforme ilustra o desenho esquemtico da FIG. 3.6.

37

FIGURA 3.6. Esquema representativo do processo de converso ascendente

por absoro de estado excitado (ESA) 97.

Experimentalmente, observa-se que alguns sistemas apresentam

simultaneamente os dois processos de converso ascendente mais provveis (ESA e

ETU), entretanto, uma caracterstica importante deixa clara a diferena entre eles,

conforme ilustra a FIG. 3.7.

FIGURA 3.7. Diferenas nos tempos de excitao para os processos de ESA e ETU.

No processo de absoro de estado excitado (ESA) o tempo de excitao

(ou tempo de subida) instantneo e coincide com o tempo de bombeamento que da

ordem de nanossegundo para um laser pulsado Q-switch. J no processo de converso

ascendente por transferncia de energia (ETU) o tempo de excitao ocorre em escalas

mais longas, da ordem de microssegundo, j que envolve uma transferncia de energia

entre dois ons excitados.

Cumpre ressaltar que, nos sistemas que apresentam esses dois processos, o

tempo de excitao ou tempo de subida composto pelas duas componentes temporais

(ns e s).

38

3.2.2. Tratamento macroscpico

At o presente momento foram estudadas as transferncias de energia por meio

do tratamento microscpico no qual as interaes ocorrem entre dois ons. Entretanto, no

caso de amostras reais, as interaes envolvem vrios ons, sendo necessrio um

tratamento macroscpico que considera a distribuio de ons doadores e aceitadores no

sistema 98.

Essas interaes entre os ons so responsveis pelo comportamento observado

experimentalmente, que so tratadas na mdia por intermdio das anlises estatsticas

dos processos de transferncia de energia e cuja finalidade consiste em descrever, por

intermdio dos modelos microscpicos, os resultados experimentais obtidos a partir das

medidas do tempo de decaimento da luminescncia.

3.2.2.1. Modelo de Inokuti Hirayama

A intensidade de luminescncia do doador na ausncia do aceitador foi

inicialmente estudada por Frster 78 e descrita por:

D

t

et (3.33)

onde D o tempo de vida do nvel doador na ausncia do aceitador.

Posteriormente, Inokuti e Hirayama 99 estenderam os estudos do comportamento

da luminescncia do doador na presena dos ons aceitadores considerando a

distribuio aleatria dos aceitadores em uma esfera de volume V centrada no doador.

Desse modo, a intensidade de luminescncia do doador na presena do aceitador

foi desenvolvida para os parmetros de interao multipolar e descrita por:

tt c

c s

t

D

A

D

s

exp

/

0

3

13

(3.34)

onde (s) a funo Gamma de Euler, D o tempo de vida intrnseco do doador na

ausncia do aceitador, s o parmetro de interao multipolar, cA a concentrao de

aceitador e c0 a concentrao crtica de aceitador que dada por c Rc01 34 3/ .

Vale ressaltar que esse modelo vlido somente nos casos que no h

transferncia de energia entre os ons doadores, ou seja, no inclui a migrao da

excitao entre os ons doadores ou o processo de transferncia de energia oposto entre

os ons aceitadores e doadores ( back-transfer ).

39

Por outro lado, observa-se que, em alguns sistemas, a transferncia de energia

do doador para o aceitador pode ser auxiliada pela migrao da excitao entre os ons

doadores, modificando a probabilidade de transferncia de energia prevista pelo modelo

de Inokuti-Hirayama.

Diante disso, existem dois modelos distintos denominados modelo de Yokota-

Tanimoto 100 e modelo de Burshstein 101-104 que descrevem essas transferncias de

energia e que sero apresentados nos tpicos a seguir.

3.2.2.2. Modelo de Yokota Tanimoto

No primeiro mtodo, denominado modelo de Yokota-Tanimoto 100, a migrao da

excitao do doador considerada como um processo contnuo de difuso no qual

assumi-se, para uma interao dipolo-dipolo, que a difuso uma perturbao da

transferncia de