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Estruturação e revitalização das calçadas do Recife: por onde começar? Structuring and revitalization of Sidewalks in Recife: Where to start? Patrícia Pedrosa Alves Braga, Universidade de Pernambuco, patrí[email protected]. Jessica Helena de Lim 1 , Universidade de Pernambuco, [email protected]. 1 Aluna e Professora do Programa Graduação em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco

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EstruturaçãoerevitalizaçãodascalçadasdoRecife:porondecomeçar?

StructuringandrevitalizationofSidewalksinRecife:Wheretostart?

PatríciaPedrosaAlvesBraga,UniversidadedePernambuco,patrí[email protected].

JessicaHelenadeLim1,UniversidadedePernambuco,[email protected].

1AlunaeProfessoradoProgramaGraduaçãoemEngenhariaCivil,UniversidadedePernambuco

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SESSÃO TEMÁT ICA 8 : TÉCNICAS E MÉTODOS PARA ANÁLISE URBANAE REGIONAL

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

RESUMO

É notória a precariedade dos passeios por falta de manutenção ou prioridade do poder público ouparticular na cidade do Recife. Fatores como lixo acumulado, e ocupação irregular por comerciantesacarretamemumadiminuiçãodafluidezesegurança,inibindoo“caminhar”.Nacidaderecifense,comoemoutrascidades,aconstruçãoeosreparosdopasseiosãoatribuiçõesdivididasentreoPoderPúblicomunicipaleosproprietáriosouocupantesdoslotes.Entretanto,poucostrabalhosnaliteraturaprezampordeterminarumaordemdepriorizaçãode intervençõesconsiderandoapreferênciaenecessidadedopedestre.Essapesquisapropõeousodaanálisemulticritérioparaavaliar,observandoocasodascalçadas dos edifícios públicos, qual ordem seguir entre os critérios: demanda, criticidade dainfraestrutura,iluminação,acessibilidadeeobstáculosfísicos.OmodelodeanáliseusadofoioAnalyticHierarchyProcess(AHP).Apartirdoprocedimentoescolhidofoipossívelperceberainsatisfação,dentroda região metropolitana de Recife, pela falta de cuidados. Finalmente, esta pesquisa serve comoartefato deajudaparaplanejamentosdosgestorespúblicoseparaprojetosquepretendemlevaremconsideraçãoasituaçãodopedestrenacapitalpernambucana.

PalavrasChave:Calçada,Pedestre,AnáliseMulticritério,AHP,Acessibilidade.

ABSTRACT

TheprecariousnessofRecife’ssidewalksisnotofduetothelackofmaintenanceorprioritybythepublicorprivateactors.Factorssuchasaccumulatedlitterandirregularoccupationbymerchantsresult inadecreaseinfluidityandsafety,inhibitingwalking.InthecityofRecife,asinothercities,theconstructionand repairs of sidewalks are attributions divided between the municipal government and the lots’owners or occupants. However, few works in the literature are concerned with determining aninterventionsprioritizationorderconsideringpedestrianpreferencesandneeds.Thisresearchproposestheuseofmulticriteriaanalysistoevaluate,consideringpublicbuildingssidewalks,whichisshouldbethecriteria to follow:demand, infrastructure’s criticality, lighting, accessibility andphysicalobstacles.TheanalysismodelusedwastheAnalyticHierarchyProcess(AHP).Fromthechosenprocedureitwaspossible to perceive the dissatisfaction, within theMetropolitan Area of Recife, by the lack of care.Finally, this research serves as an aid artifact for the publicmanagers planning and for projects thatintendtotakeintoaccountthepedestriansituationinthecapitalofPernambuco.

Keywords:Sidewalk,Pedestrian,MulticriteriaAnalysis,AHP,Accessibility.

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INTRODUÇÃO

Calçadas, em sua história, são palco para servir aos transeuntes - que realizam suas atividadeshabituais - proporcionando, dentre outros, liberdade de movimento, conforto, acessibilidade eproteçãoemrelaçãoaosveículos.DeacordocomJaneJacobs(2014),nãoapenasumabrigoparaopedestre,mas,ospasseios têmumagamadeutilidades ligadasàcirculaçãoresponsáveispelaatividadeapropriadadascidades.

Opedestresofreuumamudançadefococomodesenvolvimentodoautomóvelesuainserçãonasociedade. Diante disto, ruas, calçadas, passeios públicos, passarelas, pontes, etc. têm sidopensadoseplanejadosparagarantirmaioreficáciaaosveículosmotorizados.Osentimentoéqueas estruturas viárias fazem parte de um complexo cuja finalidade principal é fazer com que otráfego avance omais rápido possível, em detrimento das pessoas (Pires e Elali, 2008).Muitasvezespedestreseciclistas–atoresmaisvulneráveisdotrânsito-seveemobrigadosacontornarobstáculos e desviar seus trajetos, graças à maleabilidade para circular frente às outrasmodalidades de transporte. A autora observa ainda que tal flexibilidade pode ser a razão pelaausência de critérios técnicos ao se construir trajetos adequados para os pedestres e ciclistas.(Gondim,2010).

Odescasocomosusuáriosdomodo“apé”érecorrenteemmuitascidades.NoBrasil,opanoramaondeaprática cotidianaprimária é afetada tambémse fazpresenteepode ser visto emváriasmetrópoles,dentreelas,noRecife.

“CAOS(ÇADAS)“2

Faltademanutenção,descuido,má iluminação, rampascom inclinação foradanorma,presençainadequada de comerciantes, material de construção comprometido, carros estacionadosinapropriadamenteouatémesmosua inexistênciasãoapenasalgunsdosnumerososproblemasdo estado e uso das calçadas, encarados diariamente ao se percorrer a pé emRecife (Cunha eHelvecio,2013).

ANBR9050, de19de Setembrode2015, conceitua calçadas como:Parteda via, normalmentesegregadaeemníveldiferente,nãodestinadaàcirculaçãodeveículos, reservadaaotrânsitodepedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário, sinalização, vegetação, placas desinalização e outros fins (ABNT, 2015). A norma deixa claro que o protagonista deve ser otranseunte e que o passeio deve atender às suas necessidades frente, inclusive, ao mobiliáriourbano. Sendoassim, as calçadasdeveriam ser itemprincipal ou, aomenos,demaiorpesonosprojetosurbanosepolíticasurbanas.

Alémde prover segurança ao pedestre em relação aos automóveis, as calçadas são espaços decontemplação,porexemplo,das faixadasdeedifíciosecomércio,contribuemparaamobilidadesustentável,promoveoencontrodepessoas,permiteacessoaosedifícioseseusserviços,dentreoutros convívios. O contato promovido entre pessoas que transitam a calçada é gerador deconfiança (Jacobs,2014).Alémdisso,umacidadeédeclarada seguraquandohámovimentoemseusespaçosurbanos(Gehl,2014).Istoretrataarelaçãodiretamenteproporcionalentreafunçãoe a dinâmica da calçada (Jacobs, 2014).O conjunto de serventias apresentadas pelas calçadas,além da importância de caminhar para o ser humano, simboliza a importância desta estrutura

2Expressão utilizada porManuel Aguiar em seu texto: “’Caos(çadas)’ tropicões e quedas que podemmudar destinos!”.Encontradanolivro:“Calçada.OprimeirodegraudacidadaniaUrbana”deFranciscoCunhaeLuizHelvecio.

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viáriaparaaqualidadedevidanascidades.Umavezqueseinvestenasviasfazcrescerotráfegode automóveis, de forma análoga, investir nas calçadas é umconvite a andar a pé, bem comomeiodefortaleceravida(Gehl,2014).

Embora o sistema de transporte urbano seja o grande responsável por garantir o acesso aosserviçosdeumacidade,historicamente,noBrasil,aprioridadedeinvestimentoseexecuçãotemsidodadaaosmodosmotorizadosemdetrimentodosmodosativos,bicicletaeapé(SilvaJúnioretal.,2008).Atéadécadade1960,ocenáriodoRecifeeraopostoaoatual.Otransportesedividiaprioritariamente entre coletivo e a pé. A partir de então, o número de veículos motorizadoscomeçou a crescer rapidamente e com ele o descaso com os pedestres. Como outro reflexo, amalhaviáriadacidadepassouaserocupadapeloscarros,ecalçadasse restringiramàquelesdemenorpoderaquisitivo.Portanto,ascalçadasperderamofocoeacabaramprejudicadas(CunhaeHelvecio,2013).

Existem 2.733km de ruas e por volta de 11 km² de calçadas na capital pernambucana (Passos,2016).Entreaquelesquese locomovemestritamenteapéeosquecaminhamaté o pontodeônibusmaispróximo,chega-sea70%dapopulaçãodiárianessespasseios.Aindaassim,75%dasvias da cidade, ou seja, a maior parte delas são utilizadas pela minoria que anda motorizada(Cunha e Helvecio, 2013). Além do percentual de portadores de necessidades especiais queenfrentamesuportamessasituaçãodesconfortável todososdiase sofremmaisqueaspessoassemnecessidadesespeciais.Porfim,nasgrandescidadesbrasileiras,aparticipaçãodospedestresno número demortos em acidentes de trânsito está entre 60% a 80% (Pires e Elali, 2008). Odesequilíbriodosdadosmostraoquãodesprezadosãoospedestres,alémdafaltadeatitudeparaquetalsituaçãosejarevertida.

Odeverdecuidardascalçadaséde todos.Porém,emRecife,assimcomoemoutrascidades,aconstruçãoeosreparosdopasseiosãoatribuiçõesdivididasentreoPoderPúblicomunicipaleosproprietáriosouocupantesdos lotes.Cabeaosórgãosadministrativosgerirascalçadasde locaisondeestãopresentes: rios, lagoas, canais,praias,praças,parquese imóveispúblicosmunicipaisemespaçospúblicos; também fazempartedasobrigaçõesospasseiosdoscanteiros centraisdevias públicas, as rampas nos cruzamentos das faixas sinalizadas e, por fim, as alterações denivelamento, danificações e reestruturações produzidas pelo Município e seus delegados. Asdemaisocorrências sãodedomíniodosproprietáriosouocupantesdos lotes,ou seja,a calçadaemfrenteaoimóvel(Recife,2004).

Adiversidadedepessoasquepercorremoperímetrodeumacalçadaéaprincipalquestãorelativaà circulação e requer infraestrutura adequada à necessidademotora de cada um (Figueiredo eMaia, 2015). Deficientes físicos, deficientes visuais, pessoas com capacidade motora reduzida,idosos,criançasemcarrinhosdebebê,sãoalgunsexemplosdessemistodepessoas.Emboranãosejaoqueocorrenaprática,nomodelodeexcelênciatodaestruturavoltadaaospedestresprecisanãosódeestudosquantoaousuário,comotambémcostumes,condiçõesregionaiseambientais(Silva Júnior et al., 2008). Existe, em Recife, um modelo a seguir segundo a Emlurb, nele sãocolocadosdoisatributosessenciaisàscalçadas,quesão:FaixadeserviçoseFaixalivre.Aprimeiracorresponde ao setor destinado a equipamentos urbanos, como postes, sinalização, vegetação,etc.Devendoestafaixaconternomínimo0,70m,massugere-se1,2m.Asegundadeveserlivredeobstáculos,apresentando1,20mnomínimo, sendodestinadaaomovimentodepedestres.Alémdo mais, na cartilha especifica a superfície, os tipos de piso, o porte da vegetação a serimplantada, as inclinações e rebaixamentos. Qualquer intervenção nos passeios deve estarcoerente com as regras estabelecidas no Decreto n° 20.604 de 20 de agosto de 2004; com as

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normasdeacessibilidadedaAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas–ABNT(2015),NBR9050,alémdasdisposiçõesdalegislaçãofederal,estadualemunicipal(RECIFE,2004).

Embora a prefeitura ofereça tal documento com informações a respeito da construção dascalçadas,vivencia-se,aindaquenãodevasermotivodeacomodação,estruturasforadepadrão.Diante do problema existente, tornam-se importantes políticas públicas para alocar o pedestrecomopontoprincipal do cenário urbanoe, a calçada comoaprincipal infraestruturado espaçopúblico(PireseElali,2008).

METODOLOGIA

Ametodologiaconsistenaaplicaçãodomodelomulticriterialdetomadadedecisãodesenvolvidopor Saaty, Analytic Hierarchy Process (AHP). Tal procedimento constitui-se em um modelomatemáticodeauxílioàtomadadedecisão,consolidado,masaindapoucoutilizadonastomadasde decisão de atores públicos. Nele, as alternativas são propostas com base em variáveis oucritérios (Santos e Cruz, 2013).Métodosmonocritérios não alcançam a clareza e transparênciapresentes nos multicritérios, portanto, o emprego da segunda opção valoriza o processo deescolha(Marinsetal.,2009).Notocanteàsdecisõespúblicas,existempesquisadoresfocadosemaprimorar a análise da sociedade brasileira através das ferramentas de apoio à decisão, queverificam as prioridades a serem tomadas, permitindo avanços técnicos dos programas e açõesdesenvolvidas pelo Estado (Januzziet al., 2011). Isto corrobora a utilizaçãodestemétodo comoforma de eleger as calçadas de edifícios públicos a sofrerem devidas adequações. O modelotambém permite comparar e considerar a opinião dos usuários, correspondendo a uminstrumento importante,capazdeorientareapoiardecisões.OAHPnãoapenasdefineaopção,mastambémfundamentaaescolhadeformaplausível(SantoseCruz,2013).

Basicamente, pode-se delimitar o AHP em três etapas (Santos, 2008 apud Chakraborty e Dey,2006):

(1º)Apresentaroproblemaemformadeestruturahierárquica;

(2º)Compararparapar;

(3º)Derivaraprioridadeouvalordepreferênciaparaasalternativas.

O modelo prevê, primeiramente, a divisão do problema em critérios em porções, ordenadas,menores. Ou seja, separá-lo com intuito de interpretá-lo de forma mais clara. Em seguida osdetentoresdadecisãoestãoaptosaavaliarasalternativasemparesdentrodecadacritério.Esteprocessocomparativotantopodecontarcominformaçõesconcretasdasalternativasoutambémcom análise do indivíduo como informações implícitas (Saaty, 2008). Quando uma estruturahierárquicadecisóriaapresentaosseguintesníveisdedetalhes:objetivo,critériosealternativas–émarcadacomoamaissimples,videFigura1.Entretanto,desenharaestruturadeumproblemadependedapercepçãodo sujeitoedoescopoda solução.Muitas vezesquemémais criativoeexperientedesenvolveumaformamaisestruturada(RabbanieRabbani,1996).

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Figura1–Estruturadeumahierarquiasimples

Fonte:Rabbani;Rabbani(1996).

AestruturaparaapesquisaédemonstradanaFigura2:Figura2–Estruturadapesquisa

Fonte:AutorO segundo passo é a comparação realizada com base na Escala Fundamental de Saaty. Elaexpressaarelaçãoentreospares inserindo-seosvaloresquevariamde1a9seguindoaTabelaabaixo(RabbanieRabbani,1996):

Tabela1–EscalaFundamentaldeSaaty

Fonte:RabbanieRabbani,(1996)

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Os valores ímpares qualificam as relações de importância. Os pares são empregados para asrelaçõesondeo julgamentonão temcompletadistinção,entãoele ficaentreduasqualificaçõesdosnúmeros ímpares.Ovalorselecionadodemonstraquantasvezesumcritérioépreferívelemrelação a outro. Exemplificando: se um critério temmoderada importância em relação a outro,significaqueeleépreferíveltrêsvezesmais,pelatabeladeSaaty(RabbanieRabbani,1996).Comintuitodemelhorcompreenderasprioridadesdapopulação, foiaplicadoumquestionárioatrêsdiferentesgruposdepedestres: idosos, indivíduosconduzindoumcarrinhodebebêepedestressem dificuldade de locomoção, totalizando uma amostra de 25 entrevistados. Nesta etapa, ospedestresdefiniramqualcritériorelativoàscalçadaseradesuapreferência,segundoaTabela2aseguir. Na escala verbal foi exposta a opinião quanto à importância do critério escolhido emrelaçãoaoposposto.

Tabela2:Questionário

1 = Igual 3 = Moderada 5 = Forte 7 = Muito Forte 9 = Extremo

ESCALAVERBAL

ESCOLHADOCRITÉRIO 1 3 5 7 9 Demanda()xCriticidadedaInfraestrutura() 1 3 5 7 9 Demanda()xIluminação() 1 3 5 7 9 Demanda()xAcessibilidade() 1 3 5 7 9 Demanda()xObstáculosFísicos() 1 3 5 7 9 CriticidadedaInfraestrutura()xIluminação() 1 3 5 7 9 CriticidadedaInfraestrutura()xAcessibilidade() 1 3 5 7 9 CriticidadedaInfraestrutura()xObstáculosFísicos() 1 3 5 7 9 Iluminação()xAcessibilidade() 1 3 5 7 9 Iluminação()xObstáculosFísicos() 1 3 5 7 9 Acessibilidade()xObstáculosFísicos() 1 3 5 7 9

Fonte:AutorCom os valores selecionados é preparada amatriz quadrada dos julgamentos (comparação) decadacritériorelativosàsalternativaseàmetafinal(Santos,2008).Amontagemdamatrizsegueoprincípio que um elemento é igualmente preferível a ele próprio, portanto, a sua diagonalprincipal é compostapelonumeral “um”, comopode ser vistonaTabela abaixo (SantoseCruz,2013):

Tabela3–Matrizcomparativa,considerando-sequeocritérioC1dominaoC2.

Critérios C1 C2 C3

C1 1 avaliação

C2 1/avaliação 1

C3 1 Total(Ʃ)

Fonte:SantosL.;Cruz(2013).

A matriz é, então analisada, por meio de processo matemático chamado normalização. Cadaelementoquecompõeamatrizédivididopelasomadosvaloresdacolunaemqueseencontra.Pordefinição,normalizarumamatrizétornarasomadecadacolunacorrespondenteàunidade(SantoseCruz,2008).UmexemplodenormalizaçãopodeserobservadonasTabelas4e5:

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Tabela4–MatrizdeJulgamentosParitários(soma)

C1 C2 C3 C1 1 2 2 C2 1/2 1 2 C3 1/2 1/2 1

Total 2 3,5 5 Fonte:Autor.

Tabela5–MatrizdeJulgamentosParitários(normalizada)

C1 C2 C3 C1 1/2=0,50 2/3,5=0,57 2/5=0,4 C2 1/2/2=0,25 1/3,5=0,29 2/5=0,4 C3 1/2/2=0,25 1/2/3,5=0,14 1/5=0,2

Fonte:Autor.

Visandoestipularapossibilidadequeumaalternativapossuiemsatisfazerametafinal,oprocessopropõe calcular o vetor prioridade (autovetor). Ele é medido a partir da média aritmética dospesosrelativosdecadacritério,conformevistonaTabela6(GomedeeBarros,2012).

Tabela6–CálculodoAutovetor

Cálculo Resultado(Vetor) C1 (0,5+0,57+0,40)/3=0,49 49% C2 (0,25+0,29+0,40)/3=0,31 31% C3 (0,25+0,14+0,20)/3=0,20 20%

Fonte:Autor.

Oserhumanoérepletodesubjetividades,estefatopodeinterferirnaqualidadedoscálculosdedecisão destemétodo, gerando dados inconsistentes. Por exemplo, se um tomador de decisãodefinequeA>BeB>C,seriainconsistenteeleafirmarqueA<C(GOMEDE;BARROS,2012,p.431).Portanto, na tentativa de eliminar possíveis falhas na análise, são conferidas as inconsistências(RABBANI; RABBANI, 1996, p. 58). Primeiramente deve-se determinar o maior autovalor damatriz comparativa paritária (λMáx). Este cálculo inicia coma multiplicaçãodamatrizdecomparaçõespelo autovetor calculado anteriormente, e prontamente são somadas as linhasdamatriz resultado, obtendo-se um novo vetor. Em seguida os elementos do vetor recente sãodivididos pelo correspondente do autovetor, dando origem ao último vetor que terá seuscomponentessomadoseposteriormenteoresultadoédivididopelaordemdamatriz,ouseja,érealizadaumamédiageométricadosvaloresdoúltimovetor.Finalmente,chega-seaoλMáx.UmexemplodospassoscitadosacimaéexibidonaTabela7.

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Tabela7–Cálculodoautovalorprincipal

Fonte:SantosF.(2008)

Em seguida, o índice de consistência (IC) é determinado através da equação 1. Este índicedemonstraograudeinconsistência.

Paraosvaloresdoexemplo,foiencontradonaEquação2:

Nesta, o valor de N corresponde à ordem da matriz. Posteriormente calcula-se a razão deconsistência (RC),poisatravésdelaépossívelestimara inconsistênciadamatriz.AequaçãoqueindicaoRCédadanaEquação3:

Onde:ICrepresentaoíndicedeconsistênciaeIRéoíndicerandômico.

ParaobterovalordoIRbastaobservarnaTabeladesenvolvida,atravésdesimulaçõesrealizadasporSaaty(apudSANTOSL.,2008),ovalorcorrespondenteàordemdamatriz.OIRéumíndicedeconsistênciaparamatrizrandômicarecíprocadediversostamanhosedeelementosnãonegativos.Segueabaixooquadroparasuaobtenção:

Tabela8:ValoresdeIR

OrdemdaMatriz(n) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 ValoresdeIR 0 0 0,58 0,9 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49 1,51

Fonte:SaatyapudSantos(2008)

C1 C2 C3 C1 1 2 2 C2 1/2 1 2 C3 1/2 1/2 1

Autovetor 0,49 0,31 0,20

C1 C2 C3 C1 0,49 0,62 0,40 C2 0,25 0,31 0,40 C3 0,25 0,16 0,20

Vetor1

0,49+0,62+0,40=1,51 0,25+0,31+0,40=0,95 0,25+0,16+0,20=0,60

Vetor2 1,51/0,49=3,08 0,95/0,31=3,05 0,60/0,20=3,03

x =

λMáx = (3,08 + 3,05 + 3,03)/3 λMáx = 3,05

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Substituindopelosvaloresdoexemplo,foiencontradonaEquação4:

É aceitável um RC menor que 0,10, para valores diferentes é sugerido revisar a matriz decomparação (SANTOS, F., 2008). Portanto, como no exemplo o RC é 0,05, menor que 0,10, osdadossãoválidos.

RESULTADOSECONSIDERAÇÕESFINAIS

Durante a produção da pesquisa de campo, ficou clara a insatisfação do pedestre recifense notocanteàscondiçõesatuaisdascalçadasdasuacidade.Osdadoscoletadosatravésdepesquisascomtrêscategoriasdeusuários(idosos,indivíduosconduzindoumcarrinhodebebê,epedestressemdificuldadedelocomoção)semostraraminconsistentes.Osíndicesvariaramde16%a32,8%,ouseja,superioraos10%permitidos.

Por um lado, a inconsistência encontrada nas respostas impossibilitou o objetivo inicial dessetrabalho:aelaboraçãodeumaescaladepriorização,destinadaaosórgãosdoPoderPúblico,paraaçõesdemelhorianoscritériosconsideradosmaiscríticosdeacordocomosgruposdeusuáriospesquisados.Poroutro,essamesmainconsistência,mostraqueaconfiguraçãoatualseencontradetalmaneiracalamitosaquenãoimportaoaspectoqueprimeirosejaabordadoemumprocessodemelhoria.Ouseja,oproblemadascalçadasdacapitalpernambucananãoresidenailuminaçãoapenas,ounaestrutura,ounaacessibilidadeounosobstáculos;consiste,sim,emumproblemageralegrave,que,provavelmente,sóseriaresolvidacomumareestruturaçãoconsistentedetodomodelodemobilidadedacidade.

OAHPchamaaatençãoporserummétodosimplesquequalificaatomadadedecisão,contudo,oprincipalpontoobservadofoiocondicionamentoeafirmezanecessáriosaoconstruiramatrizdecomparações para não tornar os resultados inconsistentes. O expressivo índice de consistênciainviabilizaoandamentodaanálise,casonãosatisfaçaacondiçãodeserinferiora10%(Santos,L.;Cruz,2013)..

Como recomendação a trabalhos futuros, apesar de a participação social configurar um pontobastante significativo para as decisões públicas, seria interessante aplicar essa pesquisa aespecialistas. Ou também, poderia aumentar o entendimento dos entrevistados quanto aométodo,comintuitodereduzirainconsistência.Aindaassim,atolerânciaquantoàinconsistênciaéum itemdiscutível,umavezque,sãopoucasasdiscussõesnas fontesbibliográficasvoltadasaisso. Portanto, é recomendável, em trabalhos futuros, a análise dos desvios toleráveis para talíndice(Santos,L.;Cruz,2013).

Finalmente, o método de análise multicritério norteia a tomada de decisão, mas nãonecessariamenteconfiguraadecisãomaisadequadaaocontexto.Decidiralgorequerumentendimentomaisamplo,nãodevendoapenassedeteraoscritériosdefinidosnométodo,masenvolvemnegociações,aspectoshumanoseestratégias(VARGAS,2010).

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃOBRASILEIRADENORMASTÉCNICAS–ABNT.NBR9050:Acessibilidadeaedificações,mobiliário,espaçoseequipamentosurbanos.3.ed.RiodeJaneiro:ABNT,2015.

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