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SIC EPIDEMIOLOGIA EPIDEMIOLOGIA VOL. 4

EPIDEMIOLOGIA VOL. 4 - s3.sa-east-1.amazonaws.com · Epidemiologia e Bioestatística do Instituto de Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense (UFF). Marina Gemma

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Autoria e colaboração

Alex Jones Flores CassenoteGraduado em Biomedicina pelas Faculdades Integradas de Fernandópolis da Fundação Educacional de Fernan-dópolis (FEF). Mestre e doutorando em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Epidemiologista responsável por diversos projetos de pesquisa na FMUSP e na Universi-dade Federal de São Paulo (UNIFESP). Epidemiologista do Centro de Dados e Pesquisas do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Colabora-dor do Laboratório de Epidemiologia e Estatística (LEE) do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

Marília LouvisonGraduada em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Medicina Preventiva e Social pela UNIFESP. Mestre e doutora em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Médica da SES/SP - Coordenadora Es-tadual da Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa 2008.

Aline Gil Alves GuillouxGraduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre e dou-toranda em Ciências pelo Programa de Epidemiologia Experimental e colaboradora de projetos do Laboratório de Epidemiologia e Bioestatística da Faculdade de Me-dicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).

Augusto César Ferreira de MoraesGraduado em Educação Física pelo Centro Universitá-rio de Maringá (CESUMAR). Especialista em Fisiologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Ciências pelo Programa de Pediatria e doutorando em Ciências pelo Programa de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Nathalia Carvalho de AndradaGraduada em Medicina pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Especialista em Cardiologia Clínica pela Real e Benemérita Sociedade de Beneficência Portugue-sa de São Paulo. Título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Thaís MinettGraduada em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Clínica Médica e em Neurologia e doutora em Neurologia/Neurociências pela UNIFESP, onde é professora adjunta ao Departa-mento de Medicina Preventiva.

Valéria Troncoso BaltarGraduada em Estatística pelo Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade de Campinas (UNICAMP). Especialista em Demografia pelo Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (CELADE). Mestre em Ciências pelo Instituto de Mate-mática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP). Doutora e pós-doutora em Epidemiologia pela Fa-culdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Professora adjunta do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística do Instituto de Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Marina GemmaGraduada em Obstetrícia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Mestre em Ciências pela Faculdade de Saúde Pú-blica da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Professo-ra assistente junto ao curso de Obstetrícia da EACH-USP

Assessoria didáticaLicia Milena de Oliveira

Jader Burtet

Atualização 2017Alex Jones Flores Cassenote

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Apresentação

Os desafios da Medicina a serem vencidos por quem se decide pela área são tantos e tão diversos que é impossível tanto determiná-los quanto mensurá-los. O período de aulas práticas e de horas em plantões de vários blocos é apenas um dos antecedentes do que o estudante virá a enfrentar em pouco tempo, como a maratona da escolha por uma especialização e do ingresso em um programa de Residência Médica reconhecido, o que exigirá dele um preparo intenso, minucioso e objetivo.

Trata-se do contexto em que foi pensada e desenvolvida a Coleção SIC Principais Temas para Provas, cujo material didático, preparado por profis-sionais das mais diversas especialidades médicas, traz capítulos com inte-rações como vídeos e dicas sobre quadros clínicos, diagnósticos, tratamen-tos, temas frequentes em provas e outros destaques. As questões ao final, todas comen tadas, proporcionam a interpretação mais segura possível de cada resposta e reforçam o ideal de oferecer ao candidato uma preparação completa.

Um excelente estudo!

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Índice

Capítulo 1 - Bioestatística aplicada à análise de estudos epidemiológicos ........................... 15

1. Introdução ...................................................................16

2. A natureza das variáveis ........................................ 17

3. Medidas de ocorrência ............................................ 17

4. Medidas de associação em estudos epidemiológicos ........................................................ 24

5. Variáveis de confusão..............................................32

6. Aplicação da estatística em estudos epidemiológicos .........................................................33

7. Erros sistemáticos ....................................................40

Resumo ............................................................................ 42

Capítulo 2 - Análise de métodos diagnósticos ...................................................... 45

1. Introdução .................................................................. 46

2. Possibilidades diagnósticas ................................. 46

3. Parâmetros ...............................................................48

4. Curva ROC .................................................................. 50

5. Testes diagnósticos e predições clínicas ............ 51

6. Testes de rastreamento de doenças na população ...................................................................53

Resumo .............................................................................57

Capítulo 3 - Estudos epidemiológicos ..........59

1. Introdução ..................................................................60

2. Classifi cação dos delineamentos ......................... 61

3. Tipos de delineamentos ......................................... 63

4. Estudos qualitativos ............................................... 87

Resumo ............................................................................ 89

Capítulo 4 - Causalidade em Epidemiologia ....................................................93

1. Introdução .................................................................. 94

2. Postulados de Henle-Koch .................................... 95

3. Critérios de Bradford Hill ...................................... 96

4. Postulados de Henle-Koch-Evans ...................... 99

Resumo .......................................................................... 102

Capítulo 5 - Medicina baseada em evidências, revisão sistemática e meta-análise ...............103

1. Introdução ................................................................104

2. Medicina baseada em evidências ..................... 105

3. Revisão sistemática ............................................... 113

4. Meta-análise ............................................................. 115

Resumo ........................................................................... 118

Questões:Organizamos, por capítulo, questões de instituições de todo o Brasil.

Anote:O quadrinho ajuda na lembrança futura sobre o domínio do assunto e a possível necessidade de retorno ao tema.

QuestõesCirurgia do Trauma

Atendimento inicial ao politraumatizado

2015 - FMUSP-RP1. Um homem de 22 anos, vítima de queda de moto em ro-dovia há 30 minutos, com trauma de crânio evidente, tra-zido pelo SAMU, chega à sala de trauma de um hospital terciário com intubação traqueal pelo rebaixamento do nível de consciência. A equipe de atendimento pré-hos-pitalar informou que o paciente apresentava sinais de choque hipovolêmico e infundiu 1L de solução cristaloide até a chegada ao hospital. Exame físico: SatO2 = 95%, FC = 140bpm, PA = 80x60mmHg e ECG = 3. Exames de imagem: raio x de tórax e bacia sem alterações. A ultrassonografia FAST revela grande quantidade de líquido abdominal. A melhor forma de tratar o choque desse paciente é:a) infundir mais 1L de cristaloide, realizar hipotensão permissiva, iniciar transfusão de papa de hemácias e en-caminhar para laparotomiab) infundir mais 3L de cristaloide, aguardar exames labo-ratoriais para iniciar transfusão de papa de hemácias e encaminhar para laparotomiac) infundir mais 3L de cristaloide, realizar hipotensão permissiva, iniciar transfusão de papa de hemácias e plasma fresco congelado e encaminhar para laparotomiad) infundir mais 1L de cristaloide, iniciar transfusão de papa de hemácias e plasma fresco congelado e encami-nhar o paciente para laparotomia

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - SES-RJ2. Para avaliar inicialmente um paciente com traumatis-mo cranioencefálico, um residente utilizou a escala de Glasgow, que leva em conta:a) resposta verbal, reflexo cutâneo-plantar e resposta motorab) reflexos pupilares, resposta verbal e reflexos profundosc) abertura ocular, reflexos pupilares e reflexos profundosd) abertura ocular, resposta verbal e resposta motora

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFES3. A 1ª conduta a ser tomada em um paciente politrau-matizado inconsciente é:

a) verificar as pupilasb) verificar a pressão arterialc) puncionar veia calibrosad) assegurar boa via aéreae) realizar traqueostomia

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFG4. Um homem de 56 anos é internado no serviço de emergência após sofrer queda de uma escada. Ele está inconsciente, apresenta fluido sanguinolento não coa-gulado no canal auditivo direito, além de retração e movimentos inespecíficos aos estímulos dolorosos, está com os olhos fechados, abrindo-os em resposta à dor, e produz sons ininteligíveis. As pupilas estão isocóricas e fotorreagentes. Sua pontuação na escala de coma de Glasgow é:a) 6b) 7c) 8d) 9

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFCG 5. Um homem de 20 anos foi retirado do carro em cha-mas. Apresenta queimaduras de 3º grau no tórax e em toda a face. A 1ª medida a ser tomada pelo profissional de saúde que o atende deve ser:a) aplicar morfinab) promover uma boa hidrataçãoc) perguntar o nomed) lavar a facee) colocar colar cervical

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2014 - HSPE6. Um pediatra está de plantão no SAMU e é acionado para o atendimento de um acidente automobilístico. Ao chegar ao local do acidente, encontra uma criança de 5 anos próxima a uma bicicleta, sem capacete, dei-tada no asfalto e com ferimento cortocontuso extenso no crânio, após choque frontal com um carro. A criança está com respiração irregular e ECG (Escala de Coma de Glasgow) de 7. O pediatra decide estabilizar a via aérea

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Comentários:Além do gabarito o�cial divulgado pela instituição, nosso

corpo docente comenta cada questão. Não hesite em retornar ao conteúdo caso se sinta inseguro. Pelo

contrário: se achá-lo relevante, leia atentamente o capítulo e reforce o entendimento nas dicas e nos ícones.

ComentáriosCirurgia do Trauma

Atendimento inicial ao politraumatizado

Questão 1. Trata-se de paciente politraumatizado, ins-tável hemodinamicamente, com evidência de hemope-ritônio pelo FAST. Tem indicação de laparotomia explo-radora, sendo que a expansão hemodinâmica pode ser otimizada enquanto segue para o centro cirúrgico.Gabarito = D

Questão 2. A escala de coma de Glasgow leva em con-ta a melhor resposta do paciente diante da avaliação da resposta ocular, verbal e motora. Ainda que a avaliação do reflexo pupilar seja preconizada na avaliação inicial do politraumatizado, ela não faz parte da escala de Glasgow.Gabarito = D

Questão 3. A 1ª conduta no politraumatizado com rebai-xamento do nível de consciência é garantir uma via aérea definitiva, mantendo a proteção da coluna cervical.Gabarito = D

Questão 4. A pontuação pela escala de coma de Glasgow está resumida a seguir:

Abertura ocular (O)

Espontânea 4

Ao estímulo verbal 3

Ao estímulo doloroso 2

Sem resposta 1

Melhor resposta verbal (V)

Orientado 5

Confuso 4

Palavras inapropriadas 3

Sons incompreensíveis 2

Sem resposta 1

Melhor resposta motora (M)

Obediência a comandos 6

Localização da dor 5

Flexão normal (retirada) 4

Flexão anormal (decor-ticação) 3

Extensão (descerebração) 2

Sem resposta (flacidez) 1

Logo, o paciente apresenta ocular 2 + verbal 2 + motor 4 = 8.Gabarito = C

Questão 5. O paciente tem grande risco de lesão térmica de vias aéreas. A avaliação da perviedade, perguntando-se o nome, por exemplo, é a 1ª medida a ser tomada. Em caso de qualquer evidência de lesão, a intubação orotra-queal deve ser precoce.Gabarito = C

Questão 6. O tiopental é uma opção interessante, pois é um tiobarbitúrico de ação ultracurta. Deprime o sistema nervoso central e leva a hipnose, mas não a analgesia. É usado para proteção cerebral, pois diminui o fluxo sanguí-neo cerebral, o ritmo metabólico cerebral e a pressão in-tracraniana, o que é benéfico para o paciente nesse caso.Gabarito = A

Questão 7. Seguindo as condutas preconizadas pelo ATLS®, a melhor sequência seria:A: via aérea definitiva com intubação orotraqueal, man-tendo proteção à coluna cervical.B: suporte de O2 e raio x de tórax na sala de emergência.C: garantir 2 acessos venosos periféricos, continuar a infusão de cristaloides aquecidos e solicitar hemoderi-vados. FAST ou lavado peritoneal caso o raio x de tórax esteja normal.D: garantir via aérea adequada e manter a oxigenação e a pressão arterial.E: manter o paciente aquecido.Logo, a melhor alternativa é a “c”. Gabarito = C

Questão 8. O chamado damage control resuscitation, que deve ser incorporado na próxima atualização do ATLS®, está descrito na alternativa “a”. Consiste na contenção precoce do sangramento, em uma reposição menos agressiva de cristaloide, mantendo certo grau de hipo-tensão (desde que não haja trauma cranioencefálico as-sociado), e no uso de medicações como o ácido tranexâ-mico ou o aminocaproico.Gabarito = A

Questão 9. O tratamento inicial de todo paciente poli-traumatizado deve sempre seguir a ordem de priorida-des proposta pelo ATLS®. A 1ª medida deve ser sempre garantir uma via aérea pérvia com proteção da coluna cervical. Nesse caso, a fratura de face provavelmente in-viabiliza uma via aérea não cirúrgica, e o paciente é can-didato a cricotireoidostomia. Após essa medida, e garan-

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Estudos epidemiológicos

Aline Gil A. GuillouxAugusto César F. de MoraesAlex Jones F. Cassenote

Neste capítulo, serão abordados importantes temas da Epidemiologia e que servem de ponto de partida para os estudos e as pesquisas em Medicina, sendo por isso comumente cobrados em prova. A pesquisa epidemio-lógica baseia-se na coleta sistemática de dados sobre eventos ligados à saúde em população/grupo defi -nido e na quantifi cação desses eventos, que podem se desenvolver sobre diferentes formas de estudos epidemiológicos, dividindo-se em experimentais ou observacionais, que, então, se subdividem em diferentes tipos: ecológico, transversal, de coorte, caso-controle, ensaios clínicos, relatos de casos ou de série de casos.

3Marília LouvisonMarina Gemma

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sic epidemiologia60

1. IntroduçãoA pesquisa epidemiológica baseia-se na coleta sistemática de dados so-bre eventos ligados à saúde em uma população/grupo definido e na quantificação desses eventos. O tratamento numérico dos fatores in-vestigados ocorre por 3 procedimentos relacionados: mensuração de variáveis, estimativas de parâmetros populacionais/grupais e testes estatísticos de hipóteses para comprovação ou refutação de hipótese de associação estatística (BLOCK; COUTINHO, 2009).

Os autores citados explicam que o método científico, do qual a Epide-miologia se serve, é um processo pelo qual se busca conectar observa-ções e teorias. Nesse processo as “hipóteses conceituais”, mais amplas, são reescritas sob a forma de hipóteses operacionais, possíveis de se-rem mensuradas. A teoria que gerou a hipótese conceitual é, então, confrontada com os dados obtidos na investigação. O mecanismo pelo qual a pesquisa epidemiológica busca essa conexão, ou seja, o estabe-lecimento de inferência causal, refere-se, principalmente, à inferência indutiva (Figura 1).

Rothman, Greenland e Lash (2008) explicam que, em Epidemiologia, parte-se de observações para leis gerais da natureza. Essas observa-ções podem ser chamadas de “evidências científicas” e levam a uma generalização que vai além desse conjunto particular (processo cha-mado de “inferência indutiva”). Block e Coutinho (2009) concordam que, nesse processo, observam-se fenômenos, identifica-se uma rela-ção constante entre eles e, finalmente, generaliza-se essa relação para fenômenos que podem ainda não ter sido observados. Todo esse pro-cesso só é possível graças às diferentes metodologias existentes em Epidemiologia, também denominadas como estudos ou delineamentos epidemiológicos.

Figura 1 - Inferência indutiva (generalização dos resultados), procedimento lógico constantemente realizado nas pesquisas em EpidemiologiaFonte: http://www.dkfz.de/en/biostatistics/index.php; com modificações.

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Medicina baseada em evidências, revisão sistemática e meta-análise

Augusto César F. de MoraesAlex Jones F. Cassenote

Nos últimos anos, a produção científi ca apresentou cres-cimento exponencial de artigos publicados em todas as áreas das Ciências da Saúde, o que levou à necessi-dade de sintetizar o conhecimento científi co para gerar melhor atendimento ao paciente, por meio de evidên-cias obtidas das pesquisas básicas e aplicadas (Medicina Baseada em Evidências). A revisão sistemática cons-titui o meio de obter os subsídios para a Medicina Baseada em Evidências e corresponde a uma metodo-logia rigorosa que inclui etapas específi cas que devem ser cumpridas, enquanto a meta-análise consiste em uma análise estatística que visa sintetizar resultados de diversos estudos a fi m de obter um resultado fi nal.

5Marília LouvisonMarina Gemma

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sic epidemiologia104

1. IntroduçãoEste capítulo propõe a apresentação de um dos conteúdos mais recen-tes discutidos em Epidemiologia e nas Ciências Médicas: a Medicina Ba-seada em Evidências (MBE), as revisões sistemáticas e a meta-análise. O médico que conhecer essas ferramentas estará apto a fazer uma boa análise de novos trabalhos que forem publicados, independentemente de sua área de atuação ou especialidade, podendo lidar com a vastidão de informações que surgem no dia a dia.

Tradicionalmente, a prática médica era, em muito, baseada na expe-riência de cada profissional. As provas científicas tinham pouco peso quando um médico tinha de tomar determinada decisão clínica. Por mais contraditório que possa parecer, tal situação era ainda mais pre-sente no mundo acadêmico, quando o argumento de autoridade, ex cathedra, prevalecia sobre qualquer outra coisa. No entanto, setores importantes da classe médica, lentamente, começaram a perceber que as decisões clínicas eram tão mais apropriadas quanto mais embasa-mento encontravam em conhecimentos provenientes de estudos cien-tíficos. Apesar da grande resistência em determinados meios médicos, o movimento favorável às decisões clínicas baseadas em evidências científicas começou a ganhar corpo, sobretudo a partir da década de 1980 (CORDEIRO et al., 2012).

Foi nesse cenário que David Sackett e seu grupo da Universidade de McMaster, no Canadá, cunharam o termo “Medicina Baseada em Evi-dências”. A ideia central era a de que os médicos se utilizassem de modo consciencioso, explícito e judicioso da melhor evidência científica atual quando tomassem decisões em seu trabalho de cuidado individual dos pacientes. Obviamente, a MBE não nega o valor da experiência pes-soal de cada profissional, propondo apenas que esta esteja alicerçada em evidências científicas, o que, além de tudo, confere também caráter ético à prática profissional (CORDEIRO et al., 2012).

Nas últimas 2 décadas, a produção científica apresentou crescimento exponencial de artigos publicados em todas as áreas das Ciências da Saúde. Utilizando um assunto relacionado à especialidade de Cardio-logia, a Figura 1 ilustra esse crescimento em um espaço de tempo de

11 anos (2001 a 2012). Os termos-chave (descritores) utilizados para essa pes-quisa realizada junto ao PubMed foram: “cardiovascular disease” e “adult”, consi-derando todos os tipos de artigos (estu-dos originais, revisões, editoriais, entre outros). Observe que existe crescimento médio elevado de cerca de 1.000 artigos por ano.

Figura 1 - Número de publicações entre 2000 e 2015 indexados no Pub-Med, relacionados com doença cardiovascular em adultos

Essa evidência mostra a necessidade de sintetizar o conhecimento científico para gerar atendimento melhor e mais pró-ximo do mundo “real” do paciente, por meio de provas obtidas das pesquisas bá-sicas e aplicadas.

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QUESTÕES

Cap. 1 - Bioestatística aplicada à análise de estudos epidemiológicos ............................... 125

Cap. 2 - Análise de métodos diagnósticos .............. 140

Cap. 3 - Estudos epidemiológicos ...............................156

Cap. 4 - Causalidade em Epidemiologia .................... 176

Cap. 5 - Medicina baseada em evidências, revisão sistemática e meta-análise ...........................178

Outros temas .....................................................................186

COMENTÁRIOS

Cap. 1 - Bioestatística aplicada à análise de estudos epidemiológicos ...............................189

Cap. 2 - Análise de métodos diagnósticos ..............204

Cap. 3 - Estudos epidemiológicos ...............................221

Cap. 4 - Causalidade em Epidemiologia ................... 239

Cap. 5 - Medicina baseada em evidências, revisão sistemática e meta-análise .......................... 242

Outros temas ....................................................................248

Índice

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õesQuestões

Epidemiologia

Bioestatística aplicada à análise de estudos epidemiológicos

2016 - UNIFESP1. De 20 mulheres com tensão pré-menstrual que rece-beram extrato de soja, 6 melhoraram em 6 meses. De outras 20 mulheres com tensão pré-menstrual que re-ceberam placebo, 2 melhoraram em 6 meses. Os 2 pa-râmetros resultantes foram, então, comparados. Qual teste estatístico deve ser aplicado na análise?a) teste t para 2 médias provenientes de amostras inde-

pendentesb) teste exato de Fisher para 2 proporções provenientes

de amostras independentesc) teste t para 2 médias provenientes de amostras rela-

cionadas (teste t pareado)d) teste de McNemar para 2 proporções provenientes de

amostras independentese) teste exato de Fisher para 2 proporções provenientes

de amostras relacionadas

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2016 - UNIFESP2. Observe a homocisteinemia plasmática (em µmol/L) na seguinte amostra de 30 homens com idade entre 51 e 64 anos, sorteados entre aqueles matriculados em 2015 no Ambulatório de Saúde Coletiva da UNIFESP (valores já ordenados):

10,2 12,4 14,8 15 16,3

18,5 19,1 19,9 20 20,4

20,8 21,5 21,7 21,9 22

23,4 24,4 24,6 24,9 25

25,9 26,3 27,7 28,5 28,9

29,8 30 31 32 33

Qual é o valor da mediana dessa amostra (em µmol/L)?a) 22,7b) 21,6c) 22d) 23,4e) 23

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2016 - UNIFESP3. Encontre a natureza correspondente a cada variável apresentada a seguir: I - Peso ao nascerII - Número de fi lhosIII - Grau de queimaduraIV - SexoV - NacionalidadeVI - Classe socialA - Quantitativa contínuaB - Quantitativa discretaC - Qualitativa ordinalD - Qualitativa nominalAssinale a sequência correta:a) I-A, II-A, III-D, IV-C, V-D, VI-Db) I-A, II-B, III-C, IV-D, V-D, VI-Cc) I-B, II-A, III-C, IV-D, V-C, VI-Dd) I-B, II-A, III-D, IV-C, V-C, VI-Ce) I-A, II-B, III-D, IV-C, V-D, VI-C

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2016 - UNIFESP4. Na população norueguesa, o ferro sérico tem distri-buição aproximadamente normal com µ = 100µg/dL e σ2 = 25µg/dL. Sendo assim, pode-se afi rmar que 95% dos noruegueses apresentam valores de ferro sérico varian-do entre (µg/dL):a) 90,2 e 109,8b) 5,1 e 150c) 62,5 e 137,5d) 92,5 e 107,5e) para esse tipo de afi rmação, deve-se conhecer o ta-

manho da amostra (n)

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2016 - UNIFESP5. Duzentas mulheres foram convidadas, e aceitaram, a participar de um protocolo de pesquisa sobre perda de peso. Metade das mulheres recebeu uma droga recém--criada para agir na diminuição do apetite e a outra me-tade recebeu placebo durante 1 mês. O estudo realizado foi duplo-cego. Para testar a hipótese de que a droga viabiliza maior perda de peso que o placebo, deve-se re-correr ao teste:a) Wilcoxon

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ComentáriosEpidemiologia

Bioestatística aplicada à análise de estudos epidemiológicos

Questão 1. Analisando as alternativas:a) Incorreta. O teste T é indicado para explorar a rela-ção de 1 variável quantitativa com 1 variável categórica por meio do teste de hipótese para valores médios de 2 populações independentes. No caso, as amostras são in-dependentes (20 mulheres que receberam soja e 20 que receberam placebo), mas não se utilizam valores médios da intervenção para a comparação. b) Correta. Os testes estatísticos que podem ser utili-zados são muitos e, em geral, levam em conta o que o investigador pretende examinar e a natureza das variá-veis. Na questão, 2 variáveis categóricas estão sendo re-lacionadas (tensão pré-menstrual e consumo de extrato de soja). Além disso, o experimento compara a propor-ção de melhora da tensão pré-menstrual entre os 2 gru-pos de intervenção (placebo x soja). Neste caso, é indi-cado o teste exato de Fisher, teste não paramétrico (não depende dos parâmetros populacionais, média e variân-cia), que permite calcular a probabilidade de associação de características independentes quando o número total de dados é pequeno.c) Incorreta. O teste t pareado é indicado para explorar a relação de 1 variável quantitativa com 1 variável categó-rica por meio do teste de hipótese para valores médios de 2 populações dependentes.d) Incorreta. O teste de McNemar é um teste não para-métrico utilizado para análise de 2 variáveis qualitativas nominais, que determina se proporções pareadas (amos-tras dependentes) são diferentes.e) Incorreta. O teste exato de Fisher tem como condição necessária a independência entre as amostras em com-paração.Gabarito = B

Questão 2. A mediana consiste no valor que ocupa a posi-ção central de um conjunto de dados ordenados. Ou seja, é o ponto médio das observações. No caso, o conjunto compreende um número par de dados (30 amostras), logo a mediana consiste na média dos 2 valores centrais (mediana = 22+23,4/2 = 45,4/2 = 22,7).Gabarito = A

Questão 3. Analisando as alternativas:a) Incorreta. Não apresenta a classifi cação correta da natureza das variáveis. A variável II é 1 variável quan-titativa discreta, visto que é descrita numericamente e resultante de um processo de contagem. A variável III é qualitativa ordinal, pois, além de representar um atribu-to, possui uma ordenação entre suas categorias (leve, moderada ou grave). A variável IV é uma qualitativa no-minal, pois a variável sexo só é categorizada em feminino ou masculino, sem nenhuma ordenação entre as catego-rias. Por fi m, a variável VI é qualitativa ordinal, visto que as categorias da variável possuem uma ordenação entre si (baixa, média ou alta). b) Correta. Apresenta a classifi cação correta da nature-za de cada variável. As variáveis podem ser qualitativas, quando representam atributos, ou quantitativas, quan-do expressam números e quantidades. Uma variável qualitativa pode ser ordinal ou nominal, caso apresente ou não alguma ordenação. As quantitativas podem ser discretas, quando o valor numérico é obtido por conta-gem, ou contínuas, quando resultam de mensuração. c) Incorreta. Não apresenta a classifi cação correta da natureza das variáveis. A variável I é uma variável quan-titativa contínua, visto que é descrita numericamente e resultante de um processo de mensuração. A II é uma variável quantitativa discreta, visto que é descrita nu-mericamente e resultante de um processo de contagem. A V é uma variável qualitativa nominal, pois apenas re-presenta uma característica dos indivíduos. A VI, por sua vez, é uma qualitativa ordinal, pois possui uma ordena-ção entre suas categorias. d) Incorreta. Não apresenta a classifi cação correta da natureza das variáveis. A variável I é uma variável quan-titativa contínua, visto que é descrita numericamente e resultante de um processo de mensuração. A II é uma va-riável quantitativa discreta, visto que é descrita nume-ricamente e resultante de um processo de contagem. A variável III é qualitativa ordinal, pois, além de represen-tar um atributo, possui uma ordenação entre suas ca-tegorias (leve, moderada ou grave). A variável IV é uma qualitativa nominal, pois a variável sexo só é categoriza-da em feminino ou masculino, sem nenhuma ordenação entre as categorias. Por fi m, a variável V é de natureza qualitativa nominal, pois apenas representa uma carac-terística dos indivíduos.e) Incorreta. Não apresenta a classifi cação correta da natureza das variáveis. A variável III é de natureza qua-

Epid

emio

logi

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