E.P. Thompson No Brasil

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%04HOMPSONNO"RASILMarcelo Badaro MallosProfessor do Departamento de histria da Universidade Federal Fluminense (UFF).%04HOMPSONNO"RASILNesteartigo,pretende-seapresentaralgunsresultadosdeumapesquisasobre a recepao e a fortuna crtica no Brasil da obra do historiador marxista ingls Edward Palmer Thompson. Nos limites deste texto buscou-se apresentar muito sucintamente a origem e o contexto da produao do historiador britanico, bem como a trajetria das referncias a Thompson entre cientistas sociais e historia-dores brasileiros para, em seguida, avaliar criticamente algumas referncias ao historiador ingls, perceptveis em determinados trabalhos recentes de historia-dores do trabalho. %04HOMPSONIN"RAZILInthisarticleitwasthoughttopresentsomeresultsofaresearchonthere-ception and the critical fortune in Brazil of the oeuvre of the Marxist English historian Edward Palmer Thompson. Within the scope of this text we tried to present the origin and the context of the British historian`s production, as well as his trajectory and references among Brazilian social scientists and historians, in order to critically evaluate some references to the English historian, which are perceptible in determined recent studies of Labor historians..esteartigo,pretende-seapresentaralgunsresultadosdeuma pesquisasobrearecepaoeafortunacrticanoBrasildaobrado historiadormarxistainglsEdwardPalmerThompson. Apesquisa propoe-se a avaliar a recepao da obra de E. P. Thompson no Brasil, observandoquaisdentreasrefernciasconceituaiseconsideraoes por ele formuladas foram incorporadas e de que forma o foram, con-forme as especifcidades de cada especialidade do conhecimento.Pretende-secolocaremdiscussao,atravsdesteestudo,aspectos do dialogo mais recente entre a histria e as demais cincias sociais, objetivo facilitado pela prpria nfase atribuda por E. P. Thompson aessastrocas,bemcomopelofatodeexistiremtantocientistasso-ciais brasileiros que valorizam as discussoes travadas por Thompson quanto historiadores que frequentemente se propoem a dialogar com as cincias sociais de forma geral. Nesteespaorestrito,buscou-seapresentarmuitosucintamentea origem e o contexto da produao do historiador britanico, bem como a trajetria das referncias a Thompson entre cientistas sociais e his-toriadores brasileiros para, em seguida, avaliar criticamente algumas referncias ao historiador ingls, perceptveis em determinados traba-lhos recentes de historiadores do trabalho. As propostas interpretati-vas expressas nos prprios textos de Thompson sao resgatadas - ainda que rapidamente - para po-las em dialogo com tais leituras recentes.DeformaasituardeformarapidaaproduaodeE.P.Thomp-son, necessario localizar um debate que, desde a origem, rompia as fronteirasespecfcasdaproduaodoconhecimentohistrico.Em Thompsonpercebe-seamarcadeumageraao,responsavelpelo entendimentodomarxismocomoaberturacrtica,formadapor 84 0ulubron.142 semeslre 2006historiadoressociais,masnaoapenashistoriadores,queaolongo das quatro dcadas posteriores ao fm da Segunda Guerra Mundial produziram algumas das mais importantes obras de analise sobre as sociedades humanas, citando, apenas para fcar nos exemplos mais conhecidos, os trabalhos de Maurice Dobb - espcie de patriarca` do grupo -, Christopher Hill; Raymond Williams (que nao era exa-tamente um historiador mas dialogou permanentemente com eles); Eric Hobsbawm; Perry Anderson (de uma geraao mais jovem e de um dialogo mais tenso com os antecessores) e E. P. Thompson. E a partir dessa tradiao que podemos entender suas contribuioes para o debate sobre os conceitos de classe social e luta de classes. Para corretamente avaliar tal tradiao necessario situar o contexto de seu surgimento nas dcadas de 1950 e 1960, quando a diminuiao dasdisparidadesnadistribuiaoderendaeaampliaaonopoder de consumo da classe operaria dos pases industrializados europeus levaram alguns cientistas sociais a proclamarem o fm da classe ope-rariaeahomogeneizaaodassociedadesdecapitalismoavanado, com a afrmaao de uma grande e homognea classe mdia`.Variosquestionamentosatesedoaburguesamento`operario foram mais tarde levantados, tendo por base estudos sobre a classe operaria no mundo do trabalho, na esfera da produao, e nao ape-nasnoambitodomercadodeconsumo.1Umadascontribuioes maisricasparaessedebateviriadeumaabordagemquedestacava as matrizes culturais do comportamento operario. Richard Hoggart, emborareconhecendoatendnciaatransformaoesprofundasna classe operaria, destacou a persistncia de padroes de comportamen-to e valores tradicionais de classe, com base na observaao ativa de uma comunidade operaria, aliada a problematizaao de sua prpria experincia de vida ((OGGART, s.d.). Apesar de seu trabalho preocu-par-se principalmente com a circulaao e repercussao de livros e pe-ridicos ditos populares, a obra de Hoggart extrapolou tal limite te-1 O debate sobre essa questao resumido em Goldthorpe (1968).8Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllmatico em direao a uma rica descriao etnografca da vida familiar ecomunitariadooperariadobritanico,emquesedestacaaforma especfca de classe em que novas situaoes sociais sao lidas, atravs de lentes condicionadas pelas matrizes culturais tradicionais.Papel semelhante teve o estudo sociolgico coletivo Ccal is cur life, em que se procurava estudar o impacto da nacionalizaao das minas de carvao e de outras reformas sociais promovidas pelos governos de maioria trabalhista do ps-guerra sobre a vida dos mineiros britani-cos. As constataoes do trabalho, que inspiraria toda uma srie de es-tudos de comunidades operarias`, enfatizavam que, apesar de todas as mudanas da nova era`, as divisoes de classe e sua percepao pelos mineiros havia mudado muito pouco. A partir de uma perspectiva de classe muito ntida, os mineiros de carvao continuavam a mani-festar um profundo antagonismo contra os administradores das mi-neradoras e contra os privilegiados da sociedade em geral. Existiam, entretanto,mudanasperceptveisnasrelaoesdosmineiroscom oPartidoTrabalhista,queapesardebemvotadonascomunidades mineiras parecia ter cada vez menos presena no cotidiano das co-munidades ($ENNIS, (ENRIQUES & 3LAUGHTER, 1969).2Naquela conjuntura, o grupo de historiadores, ligados as questoes da classe operaria pela militancia poltica no Partido Comunista Bri-tanico, produzia uma srie de contribuioes que avanava em sentido analogo. Propunham - no interior dos marcos conceituais do mar-xismo - uma histria nao apenas economica do capitalismo ingls, embora valorizassem a Histria Economica. Forando os limites da interpretaaomarxistadominantenapoca,ressaltavamaimpor-tanciaeaautonomiarelativadeoutrosnveisdeanalise(poltico, social, cultural), destacando a relevancia de estudos historicamente localizados em que tais nveis pudessem ser observados na sua dina-mica inter-relaao (sobre esse grupo, ver 3CHWARTZ, 1982).2UmbomcomentariosobreolivrodeDennis,Henriques&Slaughter(1969),emseu contexto, pode ser encontrado em Savage & Miles (1994, p. 4-5).86 0ulubron.142 semeslre 2006A partir dos debates desse grupo e de sua experincia na educaao dejovenseadultosdeorigemoperaria,E.P.Thompsoncompos, comseuAfcrmaacdaclassecperariainglesa,publicadoem1963, umestudoque,pelanfasenadimensaoculturaldaclasseepela riquezadeumaanalisequereconstituaimportantesaspectosda vida comunitaria dos trabalhadores pr-industriais`, pode ser lido a partir de varios paralelos com outros trabalhos, do campo dos estu-dos culturais` (tal como defnia Raymond Williams), como o estudo de Hoggart ou as analises de comunidades por cientistas sociais, de Ccal is cur life, apesar das diferenas signifcativas quanto aos mar-cos conceituais (Cf. 4HOMPSON, 1987-1988).3 NasdcadasseguintesapublicaaodeAfcrmaac...,Thompson dedicou-se,noplanodosestudoshistricos(poisaanalisedesua trajetriapblicabastanteativafugiriaaoslimitesdesteartigo),a uma srie de estudos sobre o sculo XVIII ingls, em que se destaca-vasuapreocupaaocomaanalisedasformasespecfcasemquea dominaao social e as lutas de classe assumiam numa fase anterior a revoluao industrial e a defnitiva implantaao do capitalismo in-dustrial.Nesses estudos encontramos algumas referncias mais diretas ao dialogo interdisciplinar travado por Thompson com as demais cin-cias sociais e, em particular, com a antropologia. Neste caso, Thomp-sonrefere-seaum estmulo`antropolgico,quepodesignifcara incorporaao de temas caros aos estudos dos antroplogos - como os rituais e as normas -, ou o compartilhamento de um olhar mais atento as dimensoes simblicas da autoridade e da dominaao. Con-formeafrmaemumdostextosquemaisdiretamenteserefereao dialogohistria-antropologia,paraeleeoutroshistoriadoresque compartilham preocupaoes semelhantes: 3 A comparaao com o trabalho de Hoggart foi sugerida por Leve (1992) e ja havia sido propostapeloscrticosdo culturalismo`deThompson,queteveaoportunidadede rechaar as crticas e de salientar as diferenas entre o marco terico de seus estudos e o de Hoggart (cf. 4HOMPSON, 1984).87Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllo estmulo antropolgico se traduz primordialmente nao na construao do modelo, mas na identifcaao de novos problemas, na visualizaao de velhos problemas em novas formas, na nfase em normas (ou sistemas de valores) e em rituais, atentando para as expressivas funoes das for-mas de amotinaao e agitaao, assim como para as expressoes simbli-cas de autoridade, controle e hegemonia. (4HOMPSON, 2001b, p. 229.)Poroutrolado,semprequeafrmaaimportanciadetaldialogo interdisciplinar, Thompson frisa as diferenas entre a abordagem da histria e a da antropologia, ou da sociologia. Para ele, uma relaao coma muitomaissofsticadadisciplinadaantropologia`,exigiria dahistriasocialumaatenaoredobradaasdifculdadestericas. No mesmo artigo acima citado, Thompson destaca a especifcidade da histria como disciplina do contexto e do processo:Supoem-se algumas vezes que a antropologia possa fazer descobertas naoapenasacercadesociedadesparticulares,massobreassociedades em geral, que funoes ou estruturas basicas tenham sido reveladas e que, pormaissofsticadasoudisfaradasquepossamestarnassociedades modernas, ainda fundamentam as formas modernas. Entretanto, a his-tria uma disciplina do contexto e do processo: todo signifcado um signifcado-dentro-de-um-contextoe,enquantoasestruturasmudam, velhas formas podem expressar funoes novas, e funoes velhas podem achar sua expressao em novas formas.(Idem, p. 243.)Orecursoainterdisciplinaridadetambmfoijustifcadopor Thompsonapartirdapreocupaaocomumaelaboraaoterica aberta a crtica e a polmica, que se mantivesse preocupada com o testedaempiria.Noentanto,tambmamantinhaapreocupaao com as especifcidades da histria: Achoqueahistriatemnecessidadedeumaarmaaoterica(...) melhor que a teoria passe pela crtica e pela polmica, em vez de ser 88 0ulubron.142 semeslre 2006essa elaboraao de estruturas tericas desligadas de qualquer crtica e de qualquer pesquisa empric (...) O que implica uma atitude totalmente diferente diante da teoria. E preciso estar alerta para todos os pressupos-tos que puderam insinuar-se em cada etapa; creio que isso tambm quer dizerquenecessariolermuitodeoutrasdisciplinas;preciso,alm disso, estar a par das inovaoes tericas da antropologia e da sociologia, permanecendo ao mesmo tempo prudente, pois nao se trata de aceita-las em bloco. (%NTREVISTA, 1997, p. 173.)Manter o dialogo, sem perder de vista o lugar especfco em que o produz, parece ser a proposta que Thompson apresenta aos histo-riadores interessados no contato com as cincias sociais em geral e a antropologia em particular. Sua proposta, entretanto, nao fazia sen-tido apenas para os historiadores, mas interessou tambm cientistas sociais atentos para os aportes da historiografa. Vejamos como isso se manifestou no Brasil.%04HOMPSONENTREOSCIENTISTASSOCIAISBRASILEIROSTalvez por essa origem de seus estudos, em si ja bastante marcada pelorecorteinterdisciplinar,explique-seofatosintomaticodeque estehistoriadoringlstenhasidoinicialmentetomadocomorefe-rncia no Brasil, por estudos da area das cincias sociais. Assim que osestudosdeThompsonsobreosmotinsdealimentosnosculo XVIIIinglsserviramcomoinspiraaoparaaanalisedosquebra-quebras de trens no Brasil dos anos 1970. Jos Alvaro Moiss e Ve-rena Martinez-Alier tentam explicar uma sequncia signifcativa de episdios semelhantes de quebra-quebras, buscando fugir a idia de querepresentariamepisdioscompletamenteespontaneosdevio-lncia incontida de uma massa economicamente submetida a grande arrocho. Na literatura da histria social que procura explicar os mo-vimentos de revoltas da multidao no perodo pr-industrial - Rud, 80Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no BrasllHobsbawmeThompson-MoisseAlierbuscamumaexplicaao que destaque as motivaoes e o sentido poltico de mobilizaoes que possuem uma racionalidade prpria (-OISS & !LIER, 1978). Jaadefniaodeclassesocialcomoprocessoerelaao,caracte-rsticadaobradeThompsonapartirde Afcrmaac...,seriacitada por estudos sociolgicos a respeito do novo sindicalismo (fenomeno que irrompe na cena poltica brasileira a partir das greves dos meta-lrgicos do ABC em 1978). Um dos mais signifcativos o de Sader, que toma o conceito de experincia de Thompson como central para suarefexaosobreaemergnciadosnovosmovimentossociaisem fns dos anos 1970 (cf. p. ex. 3ADER, 1988, p. 44). Na discussao de Sa-der encontramos uma das marcas caractersticas dos estudos sobre movimento operario no Brasil produzidos na poca, a combinaao de referncias a Thompson com recursos a autores que trataram de representaoeseimaginarioemtermosnaomarxistas,comoCas-toriadisequetomaramasrelaoesdepodercomotranscendendo adominaaodeclasses,descrevendoconfitoseresistnciascomo reaoes ao controle social`, nos termos de Michel Foucault. Combinaoesdeleiturassaoderesponsabilidadedequemasfaz, naodosautoreslidos.Cabeassinalarquerefernciascruzadasdesse tiponaoencontrariamrespaldonostextosdeThompsondapoca, que criticavam a noao de controle social e sublinhavam os limites dos estudos e das polticas que se centravam nos aspectos identitarios e nas representaoes, defendendo a necessidade de uma intervenao pauta-da pela perspectiva poltica classista e por uma referncia nagrande poltica (cf. o prefacio de 4HOMPSON, 1980 & 4HOMPSON, 1991).No caso da antropologia, Jos Srgio Leite Lopes destacou como acombinaaoderefernciasdos estudosdehistoriadoressociais, preocupadoscomasmentalidadescoletivasdaclassetrabalhadora (...)cujopontoculminanteolivrodeThompson,Themakingcf the english wcrking class com os estudos antropolgicos de comu-nidades foram importantes para a geraao de uma problematica an-tropolgica na literatura especializada sobre a classe operaria:00 0ulubron.142 semeslre 2006Isto , uma problematica nao exclusivamente voltada para os aspec-tospolticos,ouparaascondioesmateriaisdevidadessaclasse,mas enfatizando a sua pratica cotidiana, as suas tradioes, a sua diferencia-aointerna,oseupensamento,asuainternalizaaosubjetivadesuas condioes materiais de existncia. (,OPES, 1987, p. 12.)Um excelente exemplo de como tal problematica se traduziu em estudos especfcos dado pela prpria obra de Jos Srgio Leite Lo-pes.EmAtecelagemdcsccnfitcsdeclassenacidadedaschamines, analisando a trajetria das formas de dominaao e as manifestaoes doconfitodeclassesnumadasmaiores(amaiordurantealguns anos) indstrias do ramo txtil no Brasil, localizada em Paulista, ci-dade vizinha a Recife, Jos Srgio recorre a Thompson em diversos momentos. Asformasemodosdedominaaopolticaedeclassesaocom-preendidosapartirdasdiscussoesdeThompson-assimcomodos aportes de Pierre Bourdieu - enfatizando tanto esta interiorizaao da dominaao, e tambm da resistncia a dominaao, quanto os aspectos propriamente simblicos por ela assumida` (,OPES, 1988, p. 21).O autor tambm se referencia em Thompson para defnir classe e conscincia de classe, enfatizando o carater de (auto)construao his-trica e cultural da classe (Idem, p. 22). Na analise das formas de do-minaao encetadas pela empresa (o modo paulista de dominaao`) e das resistncias a essas formas pelos trabalhadores, Jos Srgio re-corre as analises de Thompson sobre a teatralizaao da dominaao` e o contra-teatro do terror popular` (Idem, p. 215 e 586).Destaque-se ainda o recurso pioneiro as referncias de Thompson a lei e ao direito, em Senhcres e caadcres, para rediscutir a relaao da classe trabalhadora brasileira com o direito trabalhista institudo na Era Vargas, uma discussao que foi retomada e ampliada pela histo-riografa a partir da dcada seguinte (Idem, ibidem, p. 359).Essa presena de Thompson como referncia nas obras dos cien-tistassociaismanteve-seaolongodosanos1980e1990.Umaboa 01Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllamostrapodeserbuscadanasrefernciasaohistoriadoringls presentesemartigosdaprincipalrevistabrasileiradaarea,aRe-vistaBrasileiradeCienciasScciais(RBCS),publicadapelaANPOCS. Acompanhando os nmeros de 1 a 50 da RBCS, pudemos constatar a presena de referncias a E. P. Thompson em doze artigos, de onze edioes do peridico acadmico, entre os anos de 1986 e 1998. Numa apreciaao geral pode-se dizer que se esse autor nao um dos cam-peoesdecitaoes`entreosartigosdaRBCS,aconstanciacomque aparece nao desprezvel.Os textos de Thompson citados foram: A fcrmaac da classe cpera-ria inglesa (1987-1988); A eccncmia mcral da multidac (1998a); Ex-terminismc e Guerra Iria (1985); A miseria da tecria (1981a); Mcdcs dedcminaacerevclucesnaInglaterra(2001a);Tempc,disciplina dctrabalhcecapitalismcindustrial(1998b);Ccstumesemccmum (1998) e Senhcres e caadcres (1987).4 Os dois primeiros foram cita-dos mais de uma vez (cinco vezes no caso de A fcrmaac...). Ou seja, praticamente toda a obra do historiador ingls circulou nos debates dos cientistas sociais.Taistextosforamcitadosparatratardetemascomoosaspectos simblicos e religiosos da luta de classes, o conceito de classe social, o marxismo, as revoltas da multidao e a ecologia. Como o primeiro tema mais frequente, pode-se dizer que foram aqueles pontos em queThompsonafrmoutertidomais inspiraoes`antropolgicas os que mais repercutiram no debate dos cientistas sociais brasileiros. Note-se, porm, que nao ha referncias a uma contribuiao propria-mente terica do autor para os debates entre histria e antropologia ou demais Cincias Sociais.4Respeiteiaquiaformacomoostextosforamcitadospelosartigos,traduzindoapenas os ttulos, pois alguns foram citados no original. Nao fz distinao entre artigos de pes-quisadores brasileiros e traduoes, pois a escolha dos autores traduzidos revela opoes teoricamente orientadas dos editores brasileiros da revista.02 0ulubron.142 semeslre 2006%NTREOSHISTORIADORESEntre os historiadores, um bom indicador da importancia da re-ferncia a Thompson no Brasil pode ser encontrado na coletanea de entrevistas Ccnversas ccm histcriadcres brasileircs, que rene depoi-mentosdequinzeentreosmaisdestacadosrepresentantesdaarea (-ORAES & 2EGO, 2002). Destes, sete mencionam explicitamente a importanciadoreferencialthompsonianoemseustrabalhos.Ha, entre os demais, pelo menos uma outra depoente que, embora nao mencioneessareferncia,fazdelausodiretoemseustrabalhos.5 Portanto, nota-se a importancia da obra de Thompson no Brasil en-tre todas as geraoes de historiadores ainda ativos, dos formados nos anos 1950, aos que foram seus alunos nos anos 1970 e comearam a publicar seus trabalhos na dcada de 1980.No depoimento de Emlia Viotti da Costa, por exemplo, o historia-dor ingls aparece listado entre os historiadores que mais a infuen-ciaram e retomado, juntamente com Eric Hobsbawm e Raymond Williams para caracterizar o marxismo como um pensamento vivo` e tais pensadores como os que produziram maior impacto em mi-nha geraao` (-ORAES & 2EGO, 2002, p. 70 e 81).TalrefernciaaThompsoncomorepresentantedomarxismo como pensamento vivo` nao , entretanto, a nica nos depoimen-tos. Ha varias menoes ao impacto das leituras de Thompson para o estudo de temas e questoes especfcas. Joao Jos Reis, por exemplo, ao tratar de sua obra A mcrte e uma festa (2EIS, 2003), sobre o epi-sdiodeumlevanteurbanoemSalvadornaprimeirametadedo sculo XIX, conhecido como a cemiterrada`, afrma que com o risco de abusar de um conceito usado por Thompson para um fenomeno 5 Os entrevistados que mencionam E. P. Thompson sao Emlia Viotti da Costa, Fernando Novais, Maria Odila da Silva Dias, Ciro Flamarion Cardoso, Edgard De Decca, Joao Jos ReiseLauradeMelloeSouza.TambmentrevistadaAngeladeCastroGomesque, embora nao mencione Thompson na entrevista, recorre a obra do historiador britanico em Gomes (1988).02Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllespecfco,talvezeupossadizerquetrateiacemiterradacomoex-pressao de uma economia moral do sentimento religioso` (-ORAES & 2EGO, 2002, p. 330).Na entrevista de Laura de Mello e Souza, Thompson aparece como de certa forma`, um representante de uma historiografa mais vol-tada para temas da marginalidade` (-ORAES & 2EGO, 2002, p. 374), explicando assim sua infuncia na construao do livro Os desclassi-fcadcs dc curc (3OUZA, 1982).6Em se tratando de E. P. Thompson nao poderia deixar de haver po-lmica, ainda que centrada nos usos de sua obra entre ns. E o que po-demos constatar do trecho da entrevista de Ciro Cardoso, em que este afrma: o Thompson muito bom; o que eu andei criticando muito, na poca, foi a tentativa de casar Thompson e Castoriadis feita na Uni-camp. Tentaram juntar um flsofo de direita e que nao trabalha com o conceito de classe social, como o Castoriadis, com um pensador de esquerda` (-ORAES & 2EGO, 2002, p. 228; cf. tb. p. 234).O ponto explorado na entrevista com Edgard De Decca, repre-sentantedaUnicampnacoletanea,atravsdeumaperguntaem queosentrevistadoresafrmamque naUnicampseestabeleceua convergnciaentreahistoriografamarxistainglesacomtradioes flosfcas francesas representadas, por exemplo, por Foucault e Cas-toriadis`.Naresposta,DeDeccaafrmaqueconsideraarenovaao historiografca menos como obra da histria nova` (a terceira gera-ao dos Annales), e mais nessa tendncia que surgiu da confuncia entre a histria marxista da nova esquerda com as correntes da flo-sofa da diferena, de Michel Foucault. O que ocorre que elas abrem duasperspectivascomplementares:opensamentodamargemeo pensamento da individualidade. A histria que se fazia entao era a histria dos coletivos, dos grandes silncios, dos grandes sujeitos. A 6Nolivro,ThompsonreferidopelosseusartigosnacoletaneacoordenadaporHay (1975) e por Senhcres e caadcres (4HOMPSON, 1987), para destacar como essas obras evi-denciam o carater violentamente classista da justia` (3OUZA, 1982, p. 121, nota 116).04 0ulubron.142 semeslre 2006se comeou a interpelar as margens, a revoluao perdia o horizonte coletivo. Atorevolucionarioentaopassaaseraatitudequesetem perante normas, regras, instituioes etc.` (Idem, p. 279-280).Porisso,DeDeccadestacaaresponsabilidadedaUnicamppor terintroduzidoumavertentehistoriografcaquechamavaaaten-ao para a luta de classes (e menciona sua iniciativa de traduzir The making...), mas para dizer que, com Thompson, comeamos a apro-fundar a questao do fazer-se dos sujeitos histricos, como os sujeitos histricosseconstituam`.Precisa,porm,dequesujeitostrataao afrmar: Ns nao vamos estudar os grandes sujeitos histricos, mas os sujei-tosanonimos,os 'pequenossujeitos`.Entaoonossoprojetotinhaum horizontebastantentidonesseaspecto.Enstnhamosumrespaldo intelectual enorme. Com o Thompson, com o Hobsbawm, voc nunca esta mal acompanhado (Idem, p. 272).7Nessecaso,haqueseconcordarcomCiroCardosoemsuacr-ticaaousoeclticoeaocasamento`dedifcilconciliaaoentre ThompsoneCastoriadisouFoucault.Pelostermosdocomentario deDeDeccapareceproduzir-seumasupostaconfuncia`entre autoresdematrizmuitodistinta,afrmando complementaridade` ondemuitasvezesseexplicitanaoapenasdiferena,masoposiao deidias.SeemThompsonhavariosestudossobrequestoesdes-consideradaspelahistoriografatradicional-comocerimoniasde trocas de esposas, msicas jocosas, ou mesmo os motins do pao - seu objetojamaispodeserdefnidocomo ospequenossujeitos`,pois tratadaclasseoperariaemformaao,da plebe`inglesadosculo XVIII,dosmodosdedominaao,ouseja,detemasequestoesque 7EinteressantenotarquenolivromaisconhecidodeEdgardDeDecca(1991),naoha qualquer referncia a Thompson e o debate terico se fazia a partir do marxismo clas-sico`, com Marx e Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo e Louis Althusser.0Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllenvolvemsimos grandessujeitos`dahistria,asclassessociaise suas lutas. Em Thompson tambm nao parece existir respaldo para idias como a de que a revoluao perdeu o horizonte coletivo` ou de que ato revolucionario` passou a ser o questionamento de normas einstituioes,ouseja,dequeoenfoquenos pequenossujeitos` homlogo a nfase na pequena poltica`.Parece-nos sim, neste caso, que se trata de buscar o respaldo inte-lectual enorme` da historiografa marxista britanica, mas para fazer cumpriroprogramadahistoriografafrancesadaterceirageraao dos Annales que a princpio se nega, ou se procura contornar atravs da referncia a flsofos, como Foucault e Castoriadis, que ao fm e ao cabo tambm infuenciaram os historiadores franceses da nova histria`. Ressalte-sequeessaleituradeThompsonnaoexclusivade DeDecca,oudahistoriografadaUnicamp`,queelefortemente contrapoeatradiaouspiana.Namesmacoletaneadeentrevistas encontramosafrmaoesbemsemelhantesnoscomentariosjus-tamente de Fernando Novais, representante maior da historiogra-fadaUSPemsuageraao.ParaNovais,daterceirageraaodos Annales]participaoVovelle,quecontinuasendomarxista;e,ao mesmo tempo, o trabalho de Thompson poderia estar na Nova His-tria` (Idem, p. 130).Um apanhado menos que superfcial das referncias a obra de E. P. Thompson na historiografa brasileira deve estar atento a diversas areas. Seus estudos sobre movimentos de protesto coletivo e motins da multidao tiveram forte infuncia sobre os estudos de historiado-res brasileiros a respeito de motins urbanos, a exemplo da revolta da vacina no Rio de Janeiro da primeira dcada do sculo XX. As analises de Thompson sobre a lei e o crime infuenciaram muitas pesquisas sobre a legislaao brasileira e as formas de criminalizaao dos modos deviverdaspopulaoespobresetrabalhadoras,tantonoperodo maisrecente,quantosobavignciadaescravidao.Estudossobrea escravidao,alias,foramemgrandeparterenovadosnosanos1980 06 0ulubron.142 semeslre 2006buscandoemThompsonfontedeinspiraao.Tambmnocampo dasanalisessobrea culturapopular`enosdebatestericossobre a histriacultural`,E.P.Thompsonpresenamarcanteentreos historiadoresbrasileiros.Paraoslimitesdesteartigonoscontenta-remos, entretanto, em avaliar sua repercussao naquela especialidade do conhecimento que mais diretamente foi afetada por sua obra: nos estudos sobre a classe trabalhadora, suas organizaoes, movimentos e relaoes com o Estado e as classes dominantes.4HOMPSONEAHISTRIADOMOVIMENTOOPERRIONO"RASILNo que tange aos estudos sobre a classe trabalhadora, Claudio Ba-talhajaapontouaimportanciatantodaemergnciadasgrevesdo ABC, quanto a contribuiao e infuncia da produao historiograf-ca vinda do exterior`, para a renovaao dos estudos produzidos nos anos 1980. Segundo ele, um papel primordial coube a historiografa marxista inglesa, particularmente A fcrmaac da classe cperaria in-glesa, de Edward Thompson` ("ATALHA, 2001, p. 152). Os estudos publicados na virada dos anos 1970 para os 1980, centra-dos principalmente na analise da formaao da classe operaria no Brasil, introduziram, progressivamente, referncias ao historiador ingls. E o casodotextoescritoentre1979e1981epublicadonoanoseguinte por Hardman & Leonardi (1982). No livro ha referncias a Thompson ja no prefacio de Paulo Srgio Pinheiro, que tentava mostrar como a defniao de classe a partir de Thompson permitia romper com visoes sobre a anomia ou fragilidade da classe operaria no Brasil. Dizia ele: A classe operaria deve ser defnida, como ja lembrou E. P. Thomp-son, pelos trabalhadores como eles vivem a sua prpria histria; a classe aconscinciaqueemergedalutadeclasses.Consequentemente,ne-nhumaexperinciadeumaclasseoperariapodeserconsideradamais 07Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllverdadeira`doqueoutra.Naohanenhumsentidoemsubmetero proletariado brasileiro a uma competiao com o proletariado de outros pases, atribuindo ao nosso uma classifcaao patolgica: fraco, apatico, sofrendo de uma falsa conscincia aguda, e as vezes at como incapaz de sua missao histrica, e assim por diante` (0INHEIRO, 1982, p. 14).O mesmo tipo de preocupaao parecia estar embalando as revisoes sobreosestudosarespeitodaclassetrabalhadoraproduzidossoba gide da sociologia industrial ou do trabalho. Diante do retomar das lutasoperariasapartirde1978,indagavam-seasinterpretaoesdo passadooperariobrasileiro,revendoimagensdedeterminaaoes-trutural de uma subordinaao da classe, desprovida de iniciativa his-trica.EotipodeanalisequecompoearesenhadePaoli,Sader& Telles, publicada pela Revista Brasileira de Histcria, em 1983. Embora Thompson nao seja ali explicitamente citado (ao contrario de Casto-riadis, que aparece no ttulo e em referncia no primeiro paragrafo do texto), percebe-se a presena de uma dada leitura de seu conceito de experincia e de agncia dos sujeitos, que, como vimos, estava presente de forma mais explcita em outros trabalhos dos autores da resenha: Impressionadospelasdemonstraoesdessessinaisdevidaprpria dos dominados, muitos de ns nos voltamos para a interrogaao do seu signifcado e de sua gestaao. Vivemos todo um movimento intelectual de revisao histrica, buscando as razes do presente, invisveis nas for-maspassadasderepresentaaodosocial.Foientaoquestionadauma imagemconstrudaintelectualmente,nointeriordaqualostrabalha-dores eram vistos como subordinados ao Estado graas a determinaoes estruturaisdaindustrializaaobrasileira.Apoiadosnosnovosmovi-mentos sociais, toda uma produao terica recente procura captar nas experinciasdosdominadosainteligibilidadedesuaspraticas.Oque paransdefniuumarupturacomaproduaoanteriorsobreaclasse operaria foi a noao de sujeitc que emerge dessa nova produao, isto , o estatuto conferido as praticas dos trabalhadores, como dotadas de sen-08 0ulubron.142 semeslre 2006tido,pesopolticoesignifcadohistriconadinamicadasociedade.E foi precisamente isso que estruturou nossa questao e nos levou a pensar as obras do perodo anterior como compondo um paradigma no qual a classe aparece como sujeito subordinado, sem uma dinamica prpria que emerja de suas praticas, determinado por condioes exteriores a sua existncia concreta (0AOLI, 3ADER & 4ELLES, 1983, p. 131-132).Retomando a discussao de Hardman e Leonardi, Thompson apa-rece em seu estudo, tambm a partir da discussao sobre um deter-minado conceito de classe, que fugindo as classifcaoes acadmicas e sociologizantes, as quais esvaziam historicamente seu sentido, ao de-fni-loenquanto 'estrutura`ou 'categoria`,tentaapreende-loconcre-tamente` ((ARDMAN e ,EONARDI, 1982, p. 317-318). E passam entao a citar Thompson, em algumas das famosas passagens do Prefacio` de A fcrmaac... Interessante notar que os autores fazem uma ressalva aidiaqueacreditamestaremThompson,deuma culturaopera-ria`. Defnindo cultura a maneira de Williams em Cultura e scciedade, como todoummododevida`,entendem,apartirdeTrotsky,que nao ha possibilidade de uma cultura operaria`, pois cada classe do-minanteformaaculturadominantedesuapoca.Aidiadeuma cultura proletaria seria relativa mesmo na fase de transiao para a so-ciedade socialista, pois embora os proletarios imprimam a sua marca a produao cultural, a tendncia deveria ser a supressao das classes, perdendosentidooproblemadeumaculturadeclasses(Idem,p. 318-319). Tal vis de dialogo entre Thompson e Trotsky nao se repro-duziria com frequncia no debate da historiografa posterior.OimpulsomaiordedifusaodarefernciaaE.P.Thompson, porm,viriaposteriormenteapublicaaoemportugusdeseu Icrmaacdaclassecperariainglesa,em1987eosanos1980-1990 saoprofundamentemarcadosporessapresena.8Almdessare-8 Cabe ressaltar que tanto a A miseria da Tecria (4HOMPSON, 1981a), quanto Exterminismc eGuerraIria(4HOMPSON,1985),jaestavamtraduzidosantesdeAfcrmaac...,masa maior parte das referncias ao autor encontradas entre pesquisadores brasileiros at o 00Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no BrasllfernciamaisfrequenteaThompson,outracaractersticadoses-tudosmaisrecentesnahistriasocialdotrabalhobrasileirao avano recorrente de seus recortes cronolgicos de pesquisa para o perodo ps-1930.Um bom exemplo a obra A Invenac dc Trabalhismc de ngela Gomes, que, publicada em 1988, logo se transformou em referncia fundamental dos estudos posteriores sobre as relaoes entre traba-lhadoreseEstadonaEra Vargas(emboratambmapresenteuma contribuiao muito signifcativa para o debate sobre o movimento operario na Primeira Repblica). Nela a autora recorre a Thompson emdiversaspassagense,particularmentena Introduao`,destaca arefernciaaconcepaodeformaaodaclassedohistoriadorin-gls,pensadacomosendotantoumfatodehistriaeconomica quanto um fato de histria poltica e cultural` ('OMES, 1988, p. 16). Talaportefoidecisivoparaumaanalisequedestacouapalavra operaria`noprocessodeformaaodaclassenosanosanteriores a chegada de Vargas ao poder, bem como para uma percepao dos trabalhadores como sujeitos conscientes no processo de implanta-ao da proposta trabalhista.Toda uma sequncia posterior de estudos buscou, abordando o perodo compreendido entre o fm da ditadura do Estado Novo e o incio da ditadura militar, rever os usos tradicionais da caracte-rizaao do perodo como marcado pelo populismo - e em especial a idia de um sindicalismo populista - para destacar o papel ativo dos trabalhadores e suas organizaoes no perodo. Sob a infuncia de Thompson, tais estudos procuraram pautar-se pela valorizaao da agncia`daclassetrabalhadora.Umdoscaminhosmaispro-fcuosdeanalisecomtalrefernciafoioestudodasformaspelas quais os trabalhadores perceberam a legislaao trabalhista, lutando paramaterializaremdireitosefetivosoqueseinscreveranalei. fm dos anos 1980 eram feitas a partir de edioes estrangeiras de A fcrmaac... e de cole-tanea espanhola (4HOMPSON, 1979).100 0ulubron.142 semeslre 2006Eoquefaz AlexandreFortes,quandoreivindicaThompsonpara afrmar que a intenao de seu trabalho realizarumahistriasocialdapolticaconsiderando,comoThomp-son, que a construao de direitos perpassa a prpria formaao da clas-setrabalhadora,edeitarazesnascaractersticasculturaispeculiares assumidas pelas suas confguraoes em diferentes contextos histricos (&ORTES, 2004, p. 21).9Porm, se o recurso a Thompson como referncia aproxima mui-tosdessesestudosrecentes,hadiferenassignifcativasnasleituras quecadaumdelesfazemdessereferencialthompsoniano.Alguns exemplos dessa diversidade de leituras podem ser buscados no deba-te sobre o populismo e as relaoes entre Estado e trabalhadores no perodo 1945-1964.10Os estudos acadmicos sobre a classe trabalhadora e o sindicalismo no Brasil viveram certos ciclos, quanto as linhas interpretativas mais gerais. De incio, predominaram as abordagens centradas na caracte-rizaao da origem (rural, recente etc.) da classe operaria, como fator determinante dos padroes de sua aao coletiva.11 As crticas mais con-tundentes a esse primeiro ciclo de analises, deram destaque ao aspec-to essencialmente poltico da aao coletiva da classe, valorizando as concepoes e praticas da vanguarda poltica (o PCB e suas lideranas) na explicaao dos caminhos da aao sindical ( o caso dos trabalhos de 7EFFORT, 1973, 1978, 1978a e 1979).Embora excludentes nos princpios, esses dois referenciais de anali-se tenderam a caracterizar a classe trabalhadora no Brasil, em especial 9 Uma abordagem semelhante perpassa o conjunto dos artigos reunidos na obra coletiva Fortes (1999).10 Fazemos uma analise mais ampla desse debate no primeiro captulo de Mattos (2003).11Essamarcaencontra-sedeformamaisoumenosenfaticanostrabalhospioneirosde Simao (1966); Rodrigues (1968) e Rodrigues (1966). De forma paradigmatica, ela sin-tetizada em Rodrigues (1970).101Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasllno perodo anterior a 1964, no negativo. Comparando a classe e o sin-dicato a modelos internacionais ou comparando o momento anterior ao golpe militar ao perodo posterior a erupao do novo sindicalismo, no ps-1978, tendeu-se a defnir o movimento operario daquele pero-do como pouco combativo, cupulista e atrelado ao Estado. Hojejapossvellistarmuitosexemplosdetrabalhosqueques-tionamoslimitesdasanalisescentradasemtalcaracterizaaodo sindicalismo populista`. Mas o debate sobre o populismo foi alm, incluindo uma revisao do conceito, que para alguns deveria ser com-pletamenteabandonadoeparaoutros,restringidoasuadimensao mais estritamente poltica, tendendo a circunscrever-se a uma carac-terizaao da forma de exerccio da dominaao no plano do Estado, naquele perodo.Essa segunda linha de analise, que restringe a abrangncia do con-ceito, adotada por Hlio da Costa e Fernando T. da Silva, em artigo no qual caracterizam o populismo como um espao de lutas pol-ticas e economicas dos trabalhadores, tornando-se um campo, por-tanto, mais complexo e dinamico do que pressupunham as teses que reforavam a imagem de uma classe operaria passiva e manipulada peloEstado`(#OSTA&3ILVA,2001,p.271).Parasustentaremsua analise os autores recorrem aos estudos de Thompson sobre pater-nalismo, cultura plebia e justia na Inglaterra do sculo XVIII, bus-cando ali alguns princpios gerais da noao de hegemonia utilizada porThompsonque]permitempercebercomoostrabalhadores retiravamdaideologiaformaldo 'modelopaternalista`osrecursos necessariosassuasdemandaselutas,utilizando-ocomoalgoque pertencia ao seu patrimonio adquirido` (Idem, p. 224).1212 Vale ressaltar que os autores reconhecem a origem gramsciana do uso que Thompson faz do conceito de hegemonia e um desenvolvimento dessa linha de analise sobre o po-pulismopoderiaserbuscadonasrefernciasdoprprioGramscisobrehegemoniae sobrea revoluaopassiva`noscasoshistricosemqueumadominaaohegemonica nao se apresenta de forma plena. Ver sobre este aspecto Gramsci (2000).102 0ulubron.142 semeslre 2006A crtica as teses que caracterizaram a classe como passiva e ma-nipulada sao compartilhadas por Jorge Ferreira, em outro ensaio so-bre o tema do populismo. Suas conclusoes, porm sao distintas das de Hlio da Costa e Fernando da Silva, ja que propoe a rejeiao do termopopulismoesuasubstituiaoportrabalhismo.Talproposta tambm busca sustentaao em referncias a Thompson, mas de uma forma muito distinta. Assim, em uma analise das relaoes entre Esta-do e trabalhadores no ps-1945, encontramos Thompson associado aos mais diversos autores que estudaram a cultura popular`, como seessacombinaaoeclticapudessesercapazdesuperarasvisoes maissimplistassobreofenomenodopopulismo.Thompsonsur-ge em meio a Carlo Ginzburg, Roger Chartier, Peter Burke, Robert Darnton, Natalie Davis, Giovani Levi, como historiadores que pas-saram a utilizar o conceito de cultura - categoria at entao restrita asanalisesantropolgicas`,almdeserassociadoauma narrativa densa` (talvez numa referncia nao explicitada a descriao densa de Gertz).Tudoissocompatibilizadocomosubttulo DeGramscia Ginzburg, de Foucault a Thompson` (&ERREIRA, 2001, p. 96-98).Oresultadodeumatalmesclatericaumaanalisequetratao ideariogetulista/trabalhistacomocorrespondendoliteralmentea conscincia de classe dos trabalhadores brasileiros da poca: Com-preendido como um conjunto de experincias polticas, economi-cas,sociais,ideolgicaseculturais,otrabalhismoexpressouuma conscincia de classe, legtima porque histrica` (Idem, p. 103). Ou seja, da crtica ao conceito de populismo chega-se a valoraao positiva de uma proposta caracterstica, na poca, de uma perspectiva de in-tervenao poltica de setores dominantes pautada pela conciliaao de classes- o trabalhismo - nao apenas como conceito substitutivo, mas comocorrespondenteaprpriaconscinciadaclassenaquelemo-mento. E Thompson aparece como referncia para tais conclusoes.Do nosso ponto de vista, trata-se a de uma clara tentativa de do-mesticaao` das propostas interpretativas do historiador ingls. Uma domesticaaoqueperpassadaporumvis culturalista`,dedifcil 102Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Brasll13 Para uma outra noao de culturalismo`, que associa o termo a uma vertente funda-dora dos estudos culturais ingleses, que comportaria Thompson ao lado de Raymond Williams e Richard Hoggart ver Hall (2002).associaao com os textos de Thompson. Por culturalismo, entende-se, como defne Aijaz Ahmad uma ideologia (...) que trata a 'cultura` nao apenas como um forte aspecto de organizaao e comunicaao social, mas como uma instancia determinante` (!HMAD, 2002, p. 9).13 Tambm em Ahmad, buscou-se a defniao de domesticaao, por ele apresen-tadaparadefnirumaapropriaaodosconceitosedospropsitos de Gramsci, inscritos no territrio do marxismo, por uma proposta poltica e por uma leitura acadmica que apresentam como centrais no pensamento do autor italiano apenas a discussao da democracia e as tematicas da cultura. Segundo Ahmad, quando os escritos de Gramsci surgiram na Frana e nos pases anglo-saxoes, o eurocomunismo havia se tornado a tendncia predominante na poltica de esquerda e as rebelioes de 1968-1969 nos campi universi-tarios haviam dado lugar a uma teoria radical, por meio de diversas dis-ciplinas acadmicas, que era culturalista no sentido exato que postulava oreinodaculturacomoautonomoeprimario.Emelhorreconhecer, penso, que o Gramsci que chegou a ns foi fltrado por meio de leituras eurocomunistas e culturalistas (Idem, p. 259).NoBrasil,porm,maisquedeGramsci,deThompsonque encontramoscommaiorfrequnciaasleiturasdomesticadaspelo culturalismo. Thompson reivindicado como um dos modelos` da histria cultural por brasileiros, que chegam a defni-lo, como o faz Ronaldo Vainfas, como uma espcie de 'versao marxista` da histria cultural`, no texto identifcada como uma evoluao da histria das mentalidades` de matriz francesa (6AINFAS, 1997, p. 155). Tal pers-pectiva permite toda a sorte de reducionismos sobre a obra do histo-riador ingls, como as afrmaoes de que ela parte de um marxismo mais convencional (estudo de ideologias, conscincias de classe etc.) 104 0ulubron.142 semeslre 2006para um conceito mais elastico e histrico-antropolgico de cultura popular`, ou que o conceito de cultura popular de Thompson expri-me, sem deixar de ser marxista, um relativo afastamento do autor em relaao a tradiao marxista britanica`, ou ainda, que em Thompson o que importa desvendar a identidade sociocultural das classes su-balternas no contexto especfco da formaao do capitalismo, o que fazdesuaobraummodeloparaoestudodaformaaodaordem burguesa na tica dos 'vencidos`` (Idem, p. 157).Com certeza, entretanto, esse nao um uso consensual dos textos deThompson,poisqueelemesmorebateudeformadefnitivaas acusaoes de culturalismo nas polmicas que se seguiram a publica-ao do seu livro Miseria da Tecria. No tom duro de um debate que empreendeu em 1979, Thompson partiu de um repdio sem reser-vasaoeptetode 'culturalismo`aplicadoatradiaohistoriografca marxistadaqualconsideradorepresentante`,paralembrarque, quandocriticou,em1961,olivrodeRaymondWilliams,Alcnga revcluac,14 procurou opor as pretensoes de Williams a uma histria cultural`, como histria de todo um sistema de vida`, o contraponto marxistadahistria comotodoumsistemadeluta`.Assim,para Thompson: Cada teoria da cultura deve incluir o conceito da inte-raao dialtica entre cultura e algo que nao cultura` (Thompson, 1984, p. 301 e 303-304).15PorqueentaoorecursoaThompsonparaoperar-seadomesti-caao aqui discutida? Uma possvel resposta talvez esteja no fato de que, no interior do debate que travou contra o que considerava uma perspectiva determinista do marxismo, Thompson tenha sido acusa-do de culturalista por outros marxistas. Recorrer a Thompson seria, nesse sentido, uma busca de legitimaao no interior do prprio deba-te marxista para o culturalismo praticado pelos seus usuarios`.14 Williams a poca mantinha uma atitude de crtica ativa ao marxismo, que depois reve-ria, como pode ser constatado no prefacio de Williams (1979).15 Cabe lembrar que esta tambm parece ter sido a compreensao posterior de Williams, quando propugna, em seu Marxismc e literatura, uma histria materialista da cultura`.10Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no BrasllPorm, pouco autorizada uma leitura que despreze em Thomp-sonsuasformulaoessobreasimultaneidade`dasmanifestaoes normalmente compartimentadas como economicas` ou culturais`, por ele entendidas como igualmente constitutivas do modo de pro-duao. Seguindo Ellen Wood:O argumento de Thompson sobre a simultaneidade das expressoes economicas` e culturais` de qualquer modo de produao tem dois la-dos inseparaveis e igualmente importantes. O primeiro (...) insiste que ideologia e cultura tm uma lgica` prpria que constitui um elemento autntico` nos processos sociais e histricos. (...) O outro lado do argu-mento que, dado que os efeitos determinados do modo de produao operam simultaneamente na esfera economica` e na nao-economica`, eles sao tambm ubquos. O argumento nao pretende negar nem reduzir a importancia dos efeitos determinativos do modo de produao, mas, ao contrario, reforar a proposiao de que eles sao operacionais o tempo todo` e em toda parte. Em outras palavras, possvel que o materialismo de Thompson atinja seu apice no exato momento em que ele se recusa a privilegiar a economia` em relaao a cultura`. Na verdade, a insistncia na simultaneidade` se apresenta nao como afastamento ou correao do materialismoclassicomarxista,mascomoumpolimentodaspalavras do prprio Marx. (7OOD, 2003, p. 61-62) E neste sentido que podemos entender como Thompson procurou resgatar a questao da determinaao do ser social sobre a conscincia social`, contestando ao mesmo tempo a associaao do ser social exclu-sivamente a metafora da base economica e defendendo que ha uma simultaneidade da manifestaao de relaoes produtivas particulares em todos os sistemas e areas da vida social`. Vida material, vida social e vida cultural, encaradas a partir da dimensao fundamental do con-fito social e diante dessa simultaneidade de manifestaoes, sao vistas, portanto, de uma forma que procura equilibrar o peso das determi-naoes objetivas e da aao das classes como sujeitos da histria: 106 0ulubron.142 semeslre 2006A transformaao da vida material determina as condioes dessa luta epartedeseucarater,masoresultadoespecfcodeterminadoape-nas pela luta em si mesma. Isso signifca que a transformaao histrica acontece nao por uma dada base` ter dado vida a uma superestrutura` correspondente, mas pelo fato de as alteraoes nas relaoes produtivas serem vivenciadas na vida social e cultural, de repercutirem nas idias e valores humanos e de serem questionadas nas aoes, escolhas e crenas humanas (4HOMPSON, 2001, p. 263).Na defniao de classe - como processo e relaao - esposada por Thompson, a dimensao do confito, bem como a da dominaao que lhe explica, sao elementos que nao se pode expurgar para se chegar a conscincia: Para diz-lo com todas as letras: as classes nao existem como enti-dades separadas que olham ao seu redor, acham um inimigo de classe e partem para a batalha. Ao contrario, para mim, as pessoas se vem numa sociedade estruturada de certo modo (por meio de relaoes de produao fundamentalmente), suportam a exploraao (ou buscam manter poder sobre os que as exploram), identifcam os ns dos interesses antagoni-cos,sebatememtornodessesmesmosnsenocursodetalprocesso delutadescobremasimesmascomoumaclasse,vindopoisafazera descobertadesuaconscinciadeclasse.Classeeconscinciadeclasse sao sempre o ltimo e nao o primeiro degrau de um processo histrico real (Idem, p. 274).16Do ponto de vista aqui assumido, a difculdade nao esta, portanto, no uso de referncias a Thompson, mas justamente na tentativa de domesticar um autor que compartilha um referencial marxista assu-mido, que o leva a formular propostas interpretativas voltadas para 16 Sobre os usos dessa noao em estudos histricos sobre o sculo XVIII ingls, o trabalho mais amplo de Thompson encontra-se reunido em Ccstumes em Ccmum (1998).107Marcelo Badaro Mallosl. P. 1hompson no Braslla explicaao de modos de dominaao social em meio a dinamica do confito, da luta de classes. Pensar a classe atravs de Thompson, des-prezando a luta de classes para chegar a uma idia de conscincia da classetrabalhadoracomolegitimamenterepresentadanaproposta poltica dos dominadores , para dizer pouco, uma contradiao. Embora reconhecendo a possibilidade quase ilimitada de leituras e iluminaoes que uma obra tao rica quanto a de E. P. Thompson pode gerar, acreditamos que muito difcil buscar num autor como ele o arcabouo para analises sobre a classe trabalhadora que desprezam elementoscentraisasuarefexao,comoaquestaodadominaaoe adinamicadalutadeclasses.Mas,atentativadedomesticaaode Thompson nao um fenomeno isolado. A estigmatizaao do mar-xismo tem sido o tom dominante de estudos recentes e se Thomp-son atravessou como referncia importante os estudos sobre a classe trabalhadorabrasileiradesenvolvidosnosltimostrintaanos,isto nao se fez sem que tambm essa referncia fosse atingida pelo venda-val antimarxista. Se descarta-lo seria impossvel, pois que alicerara muito do que fora escrito nos anos anteriores, a sada para alguns foi reduzi-lo a mais um entre tantos outros pensadores da cultura. 2EFERNCIASBIBLIOGRlCASAHMAD, Aijaz. Iinhagens dc presente. Sao Paulo: Boitempo, 2002. BATALHA, Claudio H. M. A Historiografa da classe operaria no Brasil: traje-triaetendncias.In:FREITAS,MarcosC.de.Histcricgrafabrasileiraem perspectiva. Sao Paulo: Contexto, 2001, p. 145-158.COSTA, Hlio da & SILVA, Fernando Teixeira da. Trabalhadores urbanos e po-pulismo:umbalanodosestudosrecentes.In:FERREIRA,Jorge(org.).O pcpulismc e sua histcria: debate e crtica. 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