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ELABORAÇÃO DE ROTINAS PARA UMA ENFERMAGEM DE EXCELÊNCIA EM CENTRO CIRÚRGICO PREPARATION OF ROUTINES FOR EXCELLENCE IN NURSING IN THE OPERATING ROOM ELABORACIÓN DE RUTINAS PARA UN SERVICIO DE ENFERMERÍA DE EXCELENCIA EN EL QUIRÓFANO Jacqueline Ramos de Andrade Antunes Gomes, Viviane Serra Me/anda RESUMO: Estudo desenvolvido em um hospital de reabilitação, com o objetivo de relatar a experiência da elaboração de um modelo para descrição e do- cumentação de rotinas de enfermagem em centro cirúrgico (CC), compreensível e aplicável, em situ- ações de assistência direta e indireta ao paciente, na educação e no treinamento de profissionais. O método usado foi o 5W 1H do controle da qualidade total, a qual preconiza a padronização como elemen- to essencial para atingir altos níveis de qualidade do serviço e cumprimento de metas para melhoria da assistência. A ecologia da informação trouxe ideias de integração dos diversos tipos de conhecimento e informação, o que possibilitou reunir evidências científicas para que os procedimentos técnicos desenvolvidos no CC fossem documentados com precisão. Como resultados esperados, destaca-se a transferência de informações e tecnologia, educação e treinamento em serviço, registro e divulgação das técnicas, procedimentos padronizados, redução e controle de custos, maximização dos serviços e re- cursos para otimização de pesquisas científicas. Palavras-chave: Documentação. Gestão de quali- dade. Enfermagem de Centro Cirúrgico. ABSTRACT: Study deveioped in a rehabilitation hospital with the objective of reporting the experience of buiiding a modei to describe and document operating room routines, in indirect and direct assistance to the patients, comprehensible and applicabie, in the education and training of professionais. it was applied tooi 5W1H of total quality control, which assumes standardization as an essential element to achieve high leveis of quality services provided and compliance with goais to improve the quaiity of the nursing care given to the patient. Another theoreticai supposition used was the "information ecology", that brought the idea of integrating several types of knowiedge/information, making it possible to gather scientific evidences to enabie an accurate record of the technical procedures developed in the surgicai center. Among the expected resuits, stand out the transfer of information and technology, education and training in service, record and disciosure oftechniques, implementation of standardized procedures, reduction and control of costs, maximization of services and resources for optimization of scientific research. Key words: Documentation. Quaiity management. Operating room nursing. RESUMEN: Estudio desarroilado en un hospital de rehabilitación con ei objetivo de relatar Ia elaboración de un modelo para ia descripción y documentación de ias rutinas de enfermeria en ei quirófano, de fácil comprensión y aplicabilidad de ias informaciones en ia práctica cotidiana, tanto en situaciones de asistencia directa e indirecta ai paciente, como en ia educacián y en ei entrenamiento de los profesionales. El estudio tuvo como método ei 5W 1H dei control de caiidad total, que preconiza Ia estandarización como elemento esencial para alcanzar altos niveles de calidad dei servicio prestado y ei cumplimiento de metas en ei sentido de mejorar Ia asistencia de enfermería prestada ai paciente. Otro presupuesto teórico utilizado fue lo que se refiere a ia ecologia de Ia información, hecho que posibiiita reunir diversas evidencias científicas de modo a que ias rutinas para cada actividad desarroliada en ei quirófano sean documentadas con precisión. Resultados espera- dos: Ia transferencia de informaciones, tecnoiogía, educación y entrenamiento en servicio; registro y divuigación de Ias técnicas; Ia implementación de Rev. SOBECC, São Paulo. abr./jun. 2012; 17(2): 48-55

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ELABORAÇÃO DE ROTINAS PARA UMA ENFERMAGEM DEEXCELÊNCIA EM CENTRO CIRÚRGICO

PREPARATION OF ROUTINES FOR EXCELLENCE IN NURSING IN THE OPERATING ROOM

ELABORACIÓN DE RUTINAS PARA UN SERVICIO DE ENFERMERÍA DE EXCELENCIA EN EL QUIRÓFANO

Jacqueline Ramos de Andrade Antunes Gomes, Viviane Serra Me/anda

RESUMO: Estudo desenvolvido em um hospital dereabilitação, com o objetivo de relatar a experiênciada elaboração de um modelo para descrição e do-cumentação de rotinas de enfermagem em centrocirúrgico (CC), compreensível e aplicável, em situ-ações de assistência direta e indireta ao paciente,na educação e no treinamento de profissionais. Ométodo usado foi o 5W 1H do controle da qualidadetotal, a qual preconiza a padronização como elemen-to essencial para atingir altos níveis de qualidade doserviço e cumprimento de metas para melhoria daassistência. A ecologia da informação trouxe ideiasde integração dos diversos tipos de conhecimentoe informação, o que possibilitou reunir evidênciascientíficas para que os procedimentos técnicosdesenvolvidos no CC fossem documentados comprecisão. Como resultados esperados, destaca-se atransferência de informações e tecnologia, educaçãoe treinamento em serviço, registro e divulgação dastécnicas, procedimentos padronizados, redução econtrole de custos, maximização dos serviços e re-cursos para otimização de pesquisas científicas.

Palavras-chave: Documentação. Gestão de quali-dade. Enfermagem de Centro Cirúrgico.

ABSTRACT: Study deveioped in a rehabilitationhospital with the objective of reporting the experienceof buiiding a modei to describe and document operatingroom routines, in indirect and direct assistance tothe patients, comprehensible and applicabie, inthe education and training of professionais. it wasapplied tooi 5W1H of total quality control, whichassumes standardization as an essential element toachieve high leveis of quality services provided andcompliance with goais to improve the quaiity of thenursing care given to the patient. Another theoreticai

supposition used was the "information ecology",that brought the idea of integrating several types ofknowiedge/information, making it possible to gatherscientific evidences to enabie an accurate record ofthe technical procedures developed in the surgicaicenter. Among the expected resuits, stand out thetransfer of information and technology, education andtraining in service, record and disciosure oftechniques,implementation of standardized procedures, reductionand control of costs, maximization of services andresources for optimization of scientific research.

Key words: Documentation. Quaiity management.Operating room nursing.

RESUMEN: Estudio desarroilado en un hospital derehabilitación con ei objetivo de relatar Ia elaboraciónde un modelo para ia descripción y documentaciónde ias rutinas de enfermeria en ei quirófano, de fácilcomprensión y aplicabilidad de ias informacionesen ia práctica cotidiana, tanto en situaciones deasistencia directa e indirecta ai paciente, como en iaeducacián y en ei entrenamiento de los profesionales.El estudio tuvo como método ei 5W 1H dei controlde caiidad total, que preconiza Ia estandarizacióncomo elemento esencial para alcanzar altos nivelesde calidad dei servicio prestado y ei cumplimientode metas en ei sentido de mejorar Ia asistencia deenfermería prestada ai paciente. Otro presupuestoteórico utilizado fue lo que se refiere a ia ecologia deIa información, hecho que posibiiita reunir diversasevidencias científicas de modo a que ias rutinas paracada actividad desarroliada en ei quirófano seandocumentadas con precisión. Resultados espera-dos: Ia transferencia de informaciones, tecnoiogía,educación y entrenamiento en servicio; registro ydivuigación de Ias técnicas; Ia implementación de

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procedimientos estandarizados; reducción y controlde castos y maximización de los servicios y aportespara Ias investigaciones científicas.

Palabras clave: Documentación; Gestión de calidad;Enfermería; Quirófano.

INTRODUÇÃO

No Centro Cirúrgico (CC) são realizados variadosprocedimentos cirúrgicos e diagnósticos, conformeas diversas especialidades médicas, que demandamda equipe de enfermagem a necessidade de conheci-mento pleno dos processos de trabalho necessáriosao desenvolvimento das atividades de assistência àsaúde dos pacientes.

A busca pela qualidade no trabalho pode ter comobase o estabelecimento de nova dinâmica fundamen-tada em necessidades diagnosticadas previamente ena manutenção e melhoria do padrão de qualidadejá existente. Partindo do princípio de que a definiçãoda palavra sistematizar seja organizar de forma co-erente, a sistematização de rotinas de enfermagemem CC é de extrema importância para garantir umpadrão de assistência seguro e com qualidade aospacientes. Essa sistematização está intrinsecamenterelacionada à padronização das técnicas.

A sobrevivência humana depende, há milhares deanos, da padronização de processos, porém osindivíduos aprendiam com a observação e a me-morização e não registravam os procedimentos detrabalho.' Atualmente, os processos, padronizadosde forma impressa ou em meio eletrônico, é que ga-rantem a memória, sendo que instituições se utilizamda elaboração de procedimentos documentados pormeio de normas técnicas, como, por exemplo, a As-sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e aInternacional Organization for Standardization (1 SO).Nesse caso, a sigla ISO foi escolhida com o propósitotraduzir o radical grego que significa igualdade emqualquer idioma.

O reconhecimento de mudanças evolutivas é funda-mental para a abertura à transformação, visto queisto é fato na vida de todas as instituições e de todosos seres humanos. A implantação de manuais deconduta representa a adoção de diretrizes clínicasfundamentadas em graus de evidência e de reco-

mendações que auxiliam no exercício da prática deenfermagem com qualidade, além de fortalecer aassistência, que deve ser baseada em evidênciascientíficas e servir de estímulo para a busca de co-nhecimento e capacitação de enfermeiros.2

Na busca pela qualidade, a padronização é umaferramenta gerencial, que possibilita a transmissãode informações e dos conhecimentos adquiridos. Emalgumas instituições onde os processos de trabalhonão estão padronizados, a maneira de executá-lossomente está clara para quem os faz, ou seja, estáregistrada na memória das pessoas.' Dessa forma,quando várias pessoas executam o mesmo trabalho,normalmente cada profissional o faz de uma formadiferente.

O trabalho humano tem o objetivo essencial de aten-der as necessidades das pessoas que precisam doresultado desta atividade. Quando o trabalho huma-no satisfaz necessidades de pessoas, agrega valor e,ao fazê-lo, provê satisfação ao cliente, onde a padro-nização é a chave para gerenciar o trabalho diário.4Nesta mesma linha de raciocínio, 5 gerenciar significaatingir metas e, para se chegar às metas de melho-ria, é necessário estabelecer novos padrões comoplanejamento da qualidade ou modificar padrõesexistentes, o que resulta na melhoria da qualidade.Vale ressaltar que para se atingir as metas padrão énecessário cumprir os padrões existentes.4-5

Em um estudo qualitativo realizado com médicos eenfermeiros, os autores' verificaram que a imple-mentação de sistemas com regras e padronizaçõescontribui para redução de erros e propicia segurançaao paciente. Nessa pesquisa, os enfermeiros rela-taram que a padronização é elemento chave paraprover qualidade no cuidado de enfermagem. Enecessário salientar que a diversidade da profissãode enfermagem, o contexto sociocultural e a forma-ção acadêmica, podem influenciar na elaboração deroteiros para rotinas de enfermagem em CC.

É imprescindível compreender, em profundidade,os processos de trabalho existentes antes de pro-jetar outros. Assim, foi verificada a necessidade deintegração dos diversos tipos de informação queestavam disponíveis nos manuais do CC do Hos-pital Sarah Centro, em Brasília (DF), bem como namemória dos profissionais mais antigos do setor,

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para que essas informações fossem organizadas eclassificadas, com a finalidade de listar as rotinas deenfermagem em CC e a consequente reestruturaçãodas mesmas.

OBJETIVO

Relatar a experiência da elaboração de um modelosistematizado para descrição de rotinas de enfer-magem em centro cirúrgico em um hospital de re-abilitação.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva e analítica, dotipo relato de experiência, na qual foi desenvolvi-do um modelo em forma de quadros didáticos deprocedimentos, para elaboração e sistematizaçãode rotinas de enfermagem em centro cirúrgico, pormeio da aplicação do método 5W 1H da Teoria doControle da Qualidade Total, no Centro Cirúrgico daRede Sarah de Hospitais de Reabilitação - SarahCentro, em Brasília (DF). Foi feita a descrição dasetapas de aplicação do Método 5W 1H da qualida-de total para a elaboração e sistematização das ro-tinas de enfermagem. O desenvolvimento do traba-lho foi realizado após a aprovação pelo Comitê deÉtica em Pesquisa da Rede Sarah de Hospitais deReabilitação.

Referencial teórico para elaboração do modelosistematizado para descrição de rotinas de en-fermagem em centro cirúrgico

Inserido no Método para Controle da Qualidade To-tal e Padronização de Empresas, encontra-se o Mé-todo 5W1 H (Quadro 1), que é um checklist utilizadopara garantir que dada ação seja conduzida semnenhuma dúvida, tanto por parte da chefia, quantopor parte dos subordinados.'-'

Quadro 1 - Etapas do Método 5W 1 H, adaptado deCampos'

WHATQueAssunto: que operação éesta?

WHOQuemQuem conduz estaoperação?

WHERE OndeOnde a operação seráconduzida? Em quelugar?

WHENQuandoQuando esta operaçãoserá conduzida? Aque horas? Com queperiodicidade?

WHY Porque Por que esta operação énecessária? Ela pode seromitida?

HOW Como Método: como conduziresta operação? De quemaneira?

O 5W1H é um método cujo nome se origina dajunção das letras iniciais de seis palavras da lín-gua inglesa: What (O que?), Who (Quem?), Where(Onde?), When (Quando?), Why (Por que?), How(Como?). Este método gera um documento de for-ma organizada, onde é evidenciada a identificaçãodas ações a serem executadas, suas justificativas,responsabilidades e a forma de execução. Estatécnica serve para orientar as diversas ações quedevem ser implementadas e tem por objetivo pro-gramar tais ações de forma precisa e padronizada.

Por meio do 5W1 H é possível considerar todas astarefas a serem executadas de forma cuidadosa eobjetiva, para que sua implementação seja organi-zada. Este método pode ser aplicado para referen-ciar as decisões de cada etapa no desenvolvimentodos processos de trabalho, identificar as ações eresponsabilidades de cada indivíduo na execuçãodas atividades ou no planejamento das diversasações que serão desenvolvidas no decorrer do tra-balho.

Inicialmente, para elaboração do modelo sistemati-zado para rotinas de enfermagem em centro cirúrgi-co (CC), optou-se por listar todos os procedimentosdo setor. Após, foram consideradas as dificuldadestécnicas, de memorização de tarefas, as possibili-dades de ocorrência de iatrogenias durante o tra-balho, bem como a observação do trabalho de todaequipe de enfermagem.

As rotinas foram organizadas e adaptadas de acor-do com documentos anteriores existentes no CC doHospital Sarah Centro, que traziam informações naforma de textos e também resgatando o conheci-mento existente na memória dos profissionais maisantigos do setor. Afim de atender às questões ob-jetivas do trabalho diário, de maneira clara e conci-sa, foram elaborados quadros didáticos de proce-

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dimentos com itens do checkl/st do método 5W1 Hadaptados, os quais orientaram e direcionaram osprocedimentos de enfermagem, conforme o Qua-dro 2.

Quadro 2 - Itens do checklist do Método 5W 1H deCampos` adaptado para elaboração das rotinas doCentro Cirúrgico.

Itens adaptadosDescrição proposta

1. O que fazer?Qual é o procedimento

2. Por que ou paraObjetivoque?

3. Quem faz?Atribuição

4. Com o quê?Material necessário

5. Como fazer?Descrição doprocedimento

6. Justificativa de fazero procedimento dessa Justificativamaneira

7. EvidênciasReferênciascientíficas bibliográficas

No Quadro 2, ao número 1, "O que fazer?", foi atri-buído o tipo de procedimento que deve ser realiza-do, por exemplo, tricotomia do sítio cirúrgico, deger-mação e antissepsia. No número 2, "Por que?", foiatribuído o objetivo de se realizar respectivo proce-dimento, por exemplo, no caso de tricotomia, o ob-jetivo seria facilitar o acesso ao sítio cirúrgico, a su-tura e reduzir os riscos de infecção de sítio cirúrgico.O número 3, "Quem faz?", se refere ao responsávelpela realização do procedimento, neste caso, o en-fermeiro ou o técnico de enfermagem. No número4, "Com o quê?", é o material necessário para exe-cução do procedimento, como por exemplo, luvas,tricotomizador elétrico, esparadrapo, etc. No item 5,

"Como fazer?", procede-se à descrição da sequên-cia das etapas de como é feito o procedimento. Noitem 6, "Justificativa de fazer o procedimento dessamaneira", é descrita a justificativa para cada etapado procedimento, baseada nas evidências científi-cas. O item 7 "Evidências científicas", traz uma listada bibliografia consultada para elaboração do ma-nual de rotinas de enfermagem em CC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O relato de experiência foi baseado na elaboração derotinas para descrição sistematizada das atividades

de enfermagem exercidas em um CC de um hospitalde reabilitação, onde os enfermeiros cumprem váriastarefas relacionadas a seis especialidades médicas(ortopedia, neurocirurgia, urologia, cirurgia torácica,cirurgia geral e cirurgia plástica reparadora), bemcomo ações específicas da equipe enfermagem,como assistência direta e indireta aos pacientes,auxílio em induções anestésicas, instrumentaçãocirúrgica, circulação de sala operatória, assistênciadireta na sala de recuperação anestésica, preparode carrinhos cirúrgicos, atividades administrativas,preparo de materiais e equipamentos em salasoperatórias, dentre outras diversas, sendo que omodelo desenvolvido das rotinas de enfermagemfoi na forma de quadros didáticos de procedimentos,como o descrito a seguir.

Quadro 3 - Modelo adaptado para descrição edocumentação de rotinas de enfermagem emCentro Cirúrgico.

ROTINA:

OBJETIVO:

ATRIBUIÇÃO:

MATERIAL NECESSÁRIO:

PROCEDIMENTO:

BIBLIOGRAFIA:

JUSTIFICATIVA:

DATA:

O Quadro 3 mostra o modelo criado para descriçãoe documentação das rotinas de enfermagem no CC,no qual é descrito o nome do procedimento a serrealizado, qual é o objetivo para ser executado; aatribuição ou o profissional responsável pela execu-ção; o material necessário para executar; o proce-dimento, onde é descrita a maneira como executara tarefa na sequência mais adequada; a justificativaou o porquê de executar o procedimento daquelamaneira; a bibliografia consultada ou as evidênciascientíficas que sustentam a realização do procedi-mento da forma como está sendo informado. Porúltimo, a data e, uma vez que as rotinas serão revi-sadas e atualizadas periodicamente, foi mantida adata inicial e depois serão acrescentadas as datasdas revisões feitas futuramente.

O Quadro 4 mostra um exemplo de rotina elabora-

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da. A forma como foi descrita é de fácil leitura e compreensão e sua consulta é simples e acessível.

Quadro 4 - Rotina de tricotomia da área operatória, elaborada no Centro Cirúrgico da Rede Sarah de Hos-pitais de Reabilitação - Sarah Centro, Brasília

ROTINA: Tricotomia do sítio cirúrgico

OBJETIVOS: facilitar o acesso à área operatória e a sutura; reduzir o risco de infecção de sítiocirúrgico

ATRIBUIÇÃO: enfermeiro ou circulante de sala

MATERIAL NECESSÁRIO:- luvas de procedimentos- gazes não estéreis- protetor plástico- tricotomizador elétrico- lâmina descartável para tricotomizador- extensão de tomada de 110 volts- esparadrapo

PROCEDIMENTO: JUSTIFICATIVA:- Certificar-se com o cirurgião qual é a - realizar tricotomia mínima necessáriaárea a ser tricotomizada

- Orientar o paciente, se acordado- obter colaboração do paciente- Lavar as mãos - evitar contaminação cruzada- Descobrir a área a ser tricotomizada - promover exposição da área- Proteger a mesa operatória com- diminuir a propagação de pelosprotetor plástico

- Calçar as luvas de procedimentos- proteger-se de contaminações- Realizar a tricotomia imediatamente- agilizar o procedimento; diminuir o risco de infecção deantes da degermação e da sítio cirúrgicoantissepsia de pele - evitar que fiquem no sítio cirúrgico

- Remover o excesso de pelosretirados com as gazes - remover o excesso de pelos, contê-los e diminuir o

- Aplicar o esparadrapo sobre arisco de contaminação da ferida operatóriaregião tricotomizada e sobre a mesa- proteger o pacienteoperatória - evitar contaminação cruzada

- Cobrir o paciente - documentar a ação de enfermagem- Lavar as mãos- Registrar o procedimento emimpresso próprio

Bibliografia:1. Rothrock JC. Alexander: cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico. 13a ed. Rio deJaneiro: Elsevier; 2007.2. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Guideline for the prevention of surgical siteinfection. Minneapolis: University of Minnesota; 1999.3. Goldenberg S, Bevilacqua RG. Bases da cirurgia. 2 1 ed. São Paulo: EPU; 1984.4. Lacerda RA. Controle de infecção em centro cirúrgico. São Paulo: Atheneu; 2003.

DATA: 17/08/2010

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No CC do Hospital Sarah Centro inicialmente foramelaboradas, de forma sistematizada, as seguintesrotinas:

1. Elaboração do mapa cirúrgico2. Coordenação do andamento do mapa cirúrgico3. Acesso ao centro cirúrgico4. Recepção do paciente no centro cirúrgico5. Assistência de enfermagem na sala de indução

anestésica6. Tricotomia da área operatória7. Degermação e antissepsia da área operatória8. Circulação de sala operatória9. Colocação da placa dispersiva do bisturi elétrico10. Conferência de materiais cirúrgicos11. Encaminhamento de materiais para exames12. Escovação e paramentação cirúrgica13. Instrumentação cirúrgica14. Disposição dos materiais cirúrgicos em mesa

de instrumental15. Assistência de enfermagem em sala de

recuperação pós-anestésica16. Organização do setor e das salas operatórias

para o mapa cirúrgico do dia seguinte17. Preparação dos lavabos18. Limpeza e desinfecção do centro cirúrgico19. Preparação do corredor de material

esterilizado20. Recepção e processamento de material

contaminado21. Procedimentos administrativos de enfermagem

na secretaria do centro cirúrgico

Deve-se considerar que a elaboração de uma ro-tina ou de um roteiro sistematizado de trabalho, esua padronização para assistência direta ou indire-ta, não pode tirar a capacidade do profissional deentender o "ser humano como sujeito da ação e nãocomo objeto sobre o qual se aplicam técnicas".7

A rotina é apenas um instrumento de organizaçãodos processos que devem ser entendidos e adapta-dos a cada realidade.

O registro da sequência de execução das rotinasde enfermagem auxiliou na transferência de infor-mações e tecnologia, por meio da educação e dotreinamento de profissionais, o que garantiu a uni-formização das práticas de enfermagem no CC.

Também propiciou o dimensionamento exato de ma-teriais e a simplificação de procedimentos, os quaisauxiliam na redução e no controle de custos e criam

uma interface importante entre os profissionais, nabusca de conhecimento científico para elaborar asjustificativas das práticas diárias.

Verificou-se que as condições de segurança no tra-balho e, em especial a segurança dos pacientes,aumentou por meio da sistematização dos procedi-mentos, bem como ocorreu a diminuição da possi-bilidade de se cometer erros.

A padronização de procedimentos é essencial paraa prestação de uma assistência com qualidade epara o processo de gestão com eficácia, podendo,ainda, diminuir variações e controlar riscos com efi-ciência.

É possível, inclusive, o estabelecimento de itens decontrole ou indicadores para avaliação dos proces-sos, o que serve de base para pesquisas e para osprocessos de melhoria contínua.

Também foi observado que, quando da chegada denovos equipamentos no setor, houve empenho naformação de grupos para estudar os manuais des-ses equipamentos, a fim de redigir a rotina específi-ca para o seu manuseio, utilizando-se o modelo de-senvolvido de quadros didáticos de procedimentos.

De acordo com a manifestação verbal dos funcio-nários do setor, verificou-se que a elaboração derotinas de enfermagem em CC possibilitou a atuali-zação científica e o repensar da assistência presta-da, ou seja, a avaliação permanente.A organização e a documentação dos procedimen-tos tiveram um impacto muito positivo na assis-tência de enfermagem prestada no CC, onde seobservou o aumento da participação dos indivídu-os em pesquisas e estudos de atualização e naformação de grupos de estudo para elaboraçãode outras rotinas, com consequente reflexo posi-tivo da qualidade e da segurança no atendimentoaos pacientes, em consonância com as recomen-dações da Organização Mundial de Saúde (OMS)para cirurgias seguras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A informação pode ser transmitida de várias formas,de acordo com a área do conhecimento. Porém, épreciso ter um método para poder transmiti-ia deforma inteligível e aplicável.

Quando a informação é disponibilizada de manei-

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ra textual, na forma impressa ou em mídia, muitasvezes pode se tornar cansativa para o trabalho depesquisa de informações.

Na busca da qualidade total, a padronização é abase para orientar o trabalho diário. A padronizaçãoé um método de sistematização da informação parao treinamento no trabalho, que propicia controle dosprocedimentos, favorece a pesquisa científica e aavaliação da assistência de enfermagem prestadapelos profissionais.

A padronização ou a sistematização da informaçãoem quadros didáticos de procedimentos propiciauma leitura da informação mais agradável e rápida,além de enfatizar as etapas dos processos de tra-balho de forma sequencial e clara.

Sua utilização também é muito útil no treinamentode novos funcionários e na educação continuada.

A experiência da elaboração de um modelo sistema-tizado para descrição de rotinas de enfermagem emCC, na forma de quadros didáticos de procedimen-tos, propiciou, por meio de evidências científicas, oestabelecimento de práticas que podem contribuirpara a melhoria contínua da assistência de enfer-magem na busca da qualidade total dos serviçosprestados no CC.

Como vantagem na elaboração desse modelo sis-tematizado, verificou-se que a equipe de enferma-gem pode ampliar os conhecimentos quanto aosprocedimentos técnicos de enfermagem neste setorespecífico, utilizando a pesquisa dos fundamentoscientíficos envolvidos e estabelecendo uma manei-ra sistematizada de executá-los.

Ressalta-se que a sistematização das rotinas oudos procedimentos técnicos de enfermagem em CCé um passo importante para a futura informatização,a fim de disponibilizá-los online para todos os pro-fissionais de saúde do hospital, que poderão fazerconsultas, em caso de dúvidas, ou mesmo proporsugestões e mudanças, de modo a incorporar no-vos conhecimentos.

REFERÊNCIAS

1. Vieira LR. Padronização, base da qualidade [In-ternet]. 2000-2011. [acesso 2010 jul 18]. Disponívelem: http://www.ecivilnet.com/artigos/padronizacao_base_da_qualidade. htm

2. BorkAMT. Enfermagem de excelência: da visão àação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.

3. Meegen RAV. Análise crítica da utilização da pa-dronização no sistema de melhoria dos centros dedistribuição domiciliária dos correios [dissertação].Porto Alegre: Escola de Engenharia, UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul; 2002.

4. Campos VF. Gerenciamento da rotina do trabalhodo dia-a-dia. Belo Horizonte: Fundação ChristianoOttoni. Escola de Engenharia da UniversidadeFederal de Minas Gerais; 2004.

5. Campos VF. Qualidade total: padronização de em-presas. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni.Escola de Engenharia da Universidade Federal deMinas Gerais; 2004.

6. McDonald R, Waring J, Harrison S, Walshe K,Boaden R. Rules and guidelines in clinical prac-tice: a qualitative study in operating theatres ofdoctors' and nurses' views. Qual Saf Health Care2005-14(4):290-4.

7. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Prin-cípios fundamentais da Rede Sarah de Reabili-tação [Internet]. Brasília; 1993. [citado 2011 set4]. Disponível em: http://www.sarah.br/paginas/prevencao/PDF201 1-1 0/PDF-ARTIGOS!ARede-SARAHeomodelodeadm inistraodaassistnciamdico-hospitalr. pdf

Autoras

Jacqueline Ramos de AndradeAntunes GomesEnfermeira Doutoranda, Enfermeira de CentroCirúrgico da Rede Sarah de Hospitais de Rea-bilitação, Brasília (DF).E-mail: jantunesster©gmail.com .

Viviane Serra MelandaEnfermeira Especialista em Gerenciamentode Serviços de Enfermagem e em GestãoEmpresarial da Saúde, Enfermeira da SecretariaEstadual de Saúde do Paraná, EnfermeiraChefe do Centro Hospitalar de ReabilitaçãoAna Carolina Moura Xavier, Curitiba (PR).

Rev. SOBECC, São Paulo. abr./jun. 2012; 17(2): 48-55