126
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS COMUNICAÇÃO SOCIAL - PRODUÇÃO EDITORIAL DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA REVISTA ZUPI TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Bruna Costa Camargo Santa Maria, RS, Brasil 2014

DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

COMUNICAÇÃO SOCIAL - PRODUÇÃO EDITORIAL

DESIGN EDITORIAL E REVISTAS:

UMA ANÁLISE GRÁFICA DA REVISTA ZUPI

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Bruna Costa Camargo

Santa Maria, RS, Brasil

2014

Page 2: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

DESIGN EDITORIAL E REVISTAS:

UMA ANÁLISE GRÁFICA DA REVISTA ZUPI

Bruna Costa Camargo

Monografia apresentada à Comissão de Trabalho de Conclusão de Curso,

do Departamento de Ciências da Comunicação, da Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM), como requisito parcial para obtenção do Grau de

Bacharel em Comunicação Social – Produção Editorial.

Orientador: Prof. Me. Luiz Henrique Coletto

Santa Maria, RS, Brasil

2014

Page 3: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Comunicação Social – Produção Editorial

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,

aprova a monografia de Graduação

DESIGN EDITORIAL E REVISTAS:

UMA ANÁLISE GRÁFICA DA REVISTA ZUPI

elaborada por

Bruna Costa Camargo

como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Comunicação Social - Produção Editorial

COMISSÃO EXAMINADORA:

____________________________________________ Prof. Me. Luiz Henrique Coletto

Orientador (UFSM)

____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Liliane Dutra Brignol

(Examinadora Interna – UFSM)

____________________________________________ Prof. Dr. Claudio Rabelo

(Examinador Interno – UFSM)

Santa Maria, 09 de dezembro de 2014

Page 4: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

AGRADECIMENTOS

Agradeço,

Primeiramente à minha família, em especial a minha mãe

Andrea e aos meus avós Elisa e Dilceu, os quais nunca

pouparam esforços para me proporcionar uma boa educação e,

à minha irmã Renata. Sem o apoio deles jamais teria chegado

até aqui;

Ao meu amigo, namorado e companheiro, Rafael, que esteve ao

meu lado em todo o processo de desenvolvimento deste

trabalho, com paciência e compreensão neste momento de

aflição e incertezas;

Ao meu querido orientador Luiz, cuja dedicação e confiança em

mim tornaram possível a realização desta pesquisa;

Aos colegas de faculdade, em especial ao amigo Pedro, quem

me confiou valiosíssimos conselhos em momentos de dúvidas

sobre este trabalho; aos professores e funcionários da UFSM

que de alguma forma colaboraram para minha formação;

À Universidade Federal de Santa Maria e ao curso de Produção

Editorial por me proporcionarem esta oportunidade de estudo,

crescimento profissional e pessoal;

E claro, à minha fiel escudeira Gaia, felina que esteve

pacientemente acompanhando cada palavra redigida nesta

monografia. Sem sua companhia e amor este trabalho não seria

o mesmo.

Page 5: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

RESUMO

Esta monografia investiga a forma como os elementos tipografia, grid, cor e imagem

atuam na construção da estrutura visual da revista Zupi, publicação brasileira de arte

contemporânea e design. A pesquisa tem como objetivo compreender a linguagem

adotada pela revista a partir do seu projeto gráfico, com a finalidade de entender o modo

pelo qual os elementos citados relacionam-se para dialogar com os seus leitores, além

de compreender as funcionalidades do projeto gráfico, e estratégias de comunicação

visual da publicação. Para tal investigação, partiu-se da análise gráfica, com inspiração

na semiótica plástica, para estruturar a análise dos elementos essenciais da revista, tendo

a pesquisa bibliográfica e o uso de entrevistas com o editor da Zupi como técnicas de

apoio. De modo geral, entendeu-se que a revista possui uma estrutura específica e

funcional voltada para os seus objetivos de difusão artística, por ser uma publicação

especializada, voltada para as necessidades de seus leitores, enquanto publicação de arte

e inspiração.

Palavras-chave: Design Editorial; Análise Gráfica; Comunicação Visual; Revistas;

Zupi.

Page 6: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

ABSTRACT

This monograph investigates the way how the elements of typography, grid, color and

image work in building the visual structure of Zupi magazine, Brazilian publication of

contemporary art and design. The research aims to understand the way the language

adopted by the magazine from its graphic design, in order to understand the way in

which the elements cited relate to dialogue with their readers, and to understand the

features of graphic design, and visual communication strategies of publication. For this

investigation, we used graphic analysis, with inspiration on plastic semiotics, to

structure the analysis of the magazine’s core elements, having the literature search and

interviews with Zupi’s editor as techniques of support. Overall, it was understood that

the magazine has a specific and functional structure toward its goals of artistic diffusion,

being a specialized publication focused on the needs of their readers, a publication of art

and inspiration.

Keywords: Editorial Design; Graphic Analysis; Visual Communication; Magazines;

Zupi.

Page 7: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Capa Notícias Ilustradas de Londres ......................................................... 37

Figura 2 – Capa Notícias Ilustradas de Londres ......................................................... 37

Figura 3 – Capa Leslie’s Weekly ................................................................................. 38

Figura 4 – Capa Leslie’s Weekly ................................................................................. 38

Figura 5 – Capa Revista Illustrada ............................................................................. 39

Figura 6 – Capa Revista Ver Sacrum .......................................................................... 41

Figura 7 – Capa Revista Kosmos ................................................................................ 41

Figura 8 – Capa Revista Klaxon ................................................................................. 43

Figura 9 – Capa Revista LEF....................................................................................... 43

Figura 10 – Capa Revista Bauhaus ............................................................................. 44

Figura 11 – Capa Elementare Typographie ................................................................ 44

Figura 12 – Família tipográfica Helvetica .................................................................. 56

Figura 13 – Caracteres usados na bíblia de Gutenberg ............................................... 56

Figura 14 – Tipo de Nicolas Jenson ............................................................................ 57

Figura 15 – Caracteres do tipo Bembo Italic ............................................................... 57

Figura 16 – Caracteres do tipo Garamond ................................................................... 58

Figura 17 – Caracteres do tipo Caslon ........................................................................ 59

Figura 18 – Caracteres do tipo Bodoni ........................................................................ 59

Figura 19 – Panfleto com a primeira Fatface, de 1810 ................................................ 59

Figura 20 – Caracteres Memphis Bold ........................................................................ 60

Figura 21 – O primeiro tipo sem serifa de William Caslon ........................................ 60

Figura 22 – Caracteres Akzidenz-Grotesk .................................................................. 60

Figura 23 – Caracteres Futura ..................................................................................... 61

Figura 24 – Caracteres Optima .................................................................................... 61

Figura 25 – Caracteres Verdana .................................................................................. 62

Figura 26 – Tipos de entrelinhamentos ....................................................................... 64

Figura 27 – Tipos de alinhamentos ............................................................................. 65

Figura 28 – Capa revista FreeWorld ........................................................................... 65

Page 8: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

Figura 29 – Capa revista Vogue Portugal .................................................................... 65

Figura 30 – Anatomia do Grid ..................................................................................... 68

Figura 31 – Tipos de Grid ........................................................................................... 69

Figura 32 – Exemplo de Grid retangular ..................................................................... 70

Figura 33 – Exemplo de Grid colunar ......................................................................... 70

Figura 34 – Exemplo de Grid modular ........................................................................ 70

Figura 35 – Exemplo de Grid hierárquico ................................................................... 71

Figura 36 – Percepção Cromática ................................................................................. 75

Figura 37 – Cores-luz primárias, cores-pigmento opacas e cores-pigmento transparentes

primárias ....................................................................................................................... 76

Figura 38 – Círculo cromático, cores complementares e cores análogas .................... 76

Figura 39 – Combinação entre cores ........................................................................... 77

Figura 40 – Sistemas de cores ..................................................................................... 78

Figura 41 – Capa revista Rolling Stone ....................................................................... 80

Figura 42 – Capas revista Zupi, edições analisadas #01, #23, #42 ............................. 89

Figura 43 – Saci, marca do Zupi Design ..................................................................... 90

Figura 44 – Recorte da tipografia Spoing .................................................................... 92

Figura 45 – Recorte de Texto com a tipografia Helvetica Neue ................................. 93

Figura 46 – Recorte da tipografia Bruhn Script .......................................................... 93

Figura 47 – Recorte da tipografia Spoing usada para indicar leitura do texto em

espanhol ........................................................................................................................ 93

Figura 48 – Recorte variações Helvetica Neue ............................................................ 94

Figura 49 – Recorte de texto da página 23, edição 23 ................................................. 94

Figura 50 – Páginas da Zupi e seu padrão preto e branco .......................................... 101

Figura 51 – Página da Zupi, edição 42 ...................................................................... 104

Figura 52 – Página da Zupi edição 1 (1) ................................................................... 104

Figura 53 – Página da Zupi edição 23 ....................................................................... 104

Figura 54 – Página da Zupi edição 1 (2) ................................................................... 104

Page 9: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Rebatimentos das leis da Gestalt ......................................................... 50-51

Quadro 2 – Classificação tipográfica ..................................................................... 62-63

Quadro 3 – Propriedades das cores ............................................................................. 74

Quadro 4 – Análise quanto à tipografia ................................................................. 91-92

Quadro 5 – Análise quanto ao grid ........................................................................ 95-96

Quadro 6 – Análise quanto às imagens ..................................................................... 103

Quadro 7 – Categorização das essências ................................................................... 119

Page 10: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

1 PRODUÇÃO EDITORIAL E DESING EDITORIAL:

ENTENDENDO A PESQUISA ......................................................................... 16

1.1 Design Editorial como objeto de estudo ................................................. 19

1.2 Revistas como meio de comunicação ...................................................... 23

2 PRODUÇÃO GRÁFICA: MUITO ALÉM DE PAPEL E TINTA ... 28

2.1 A mecanização da escrita e o desenvolvimento dos processos de

impressão ......................................................................................................... 28

2.2 1808: o começo das publicações no Brasil .............................................. 32

2.3 Trajetória das revistas ............................................................................. 34

2.3.1 Revistas que marcaram pelo visual ......................................................... 37

2.4 Da arte gráfica ao design gráfico ............................................................ 40

3 DESIGN EDITORIAL: O UNIVERSO DAS PUBLICAÇÕES ...... 49

3.1 Os quatro elementos essenciais do Design Editorial .............................. 53

3.1.1 Tipografia .......................................................................................... 55

3.1.2 Grid .................................................................................................... 66

3.1.2.1 Estrutura do grid ............................................................................. 68

3.1.3 Cor ..................................................................................................... 71

3.1.3.1 Cores são sensações ........................................................................ 75

3.1.4 Imagem .............................................................................................. 78

4 ZUPI: ABASTEÇA COM IDEIAS ............................................................. 82

4.1 Procedimentos metodológicos ................................................................. 82

4.2 A revista Zupi ........................................................................................... 84

4.3 Definição de Análise Gráfica ................................................................... 87

4.4 Análise gráfica da revista Zupi ............................................................... 88

4.4.1 Análise quanto à tipografia .............................................................. 91

4.4.2 Analise quanto ao grid ..................................................................... 95

4.4.3 Análise quanto à cor ........................................................................ 101

4.4.4 Análise quanto às imagens ............................................................... 102

4.5 A experiência visual na Zupi ................................................................... 105

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 107

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 109

Page 11: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

ANEXOS ................................................................................................................. 113

A – Anatomia tipográfica ................................................................................ 113

B – Capas da Zupi ........................................................................................... 114

C – Media Kit Zupi 2014 ................................................................................ 118

APÊNDICES ......................................................................................................... 119

A – Categorização das essências .................................................................... 119

B – Entrevista A .............................................................................................. 120

C – Entrevista B .............................................................................................. 125

Page 12: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

12

INTRODUÇÃO

Ao longo dos quatro anos do curso de graduação em Produção Editorial,

despertei meu interesse pelas possibilidades que as composições gráficas oferecem em

termos de comunicação e visualidade e senti uma carência muito grande do estudo

desses aspectos dentro do próprio curso. Procurei, então, possibilidades no curso de

Desenho Industrial e em outros cursos externos que pudessem contribuir com meus

questionamentos.

Os primeiros alunos do curso (as duas primeiras turmas que ingressaram em

2010/2 e 2011/1 respectivamente) vagaram em meio a definições nebulosas do que seria

a Produção Editorial de fato. Neste sentido, esse trabalho pretende somar ao curso

enquanto objeto de reflexão teórica na busca da consolidação e do estabelecimento do

profissional da Produção Editorial, trazendo questionamentos de ordem técnica sobre o

funcionamento e a aplicação de conceitos práticos importantes no desenvolvimento de

publicações impressas.

Este trabalho é uma investigação sobre design editorial e sua aplicação em

revistas; mais especificamente, aborda as estratégias de comunicação visual e o papel do

designer na construção de um diálogo entre a publicação e seu público leitor, a partir de

seus elementos compositivos essenciais: tipografia, grid, cor e imagem. Optamos por

analisar tais elementos a partir da adaptação da proposta de Smaniotto et. al (2012),

sobre as essências do design, inseridas no Ramo Vocacional do Projeto de

Comunicações. Tais essências são entendidas como partes centrais no processo de

desenvolvimento de projetos, que envolvem a concepção e criação de novos produtos

industriais, sejam eles de consumo, de capital ou de serviço, por parte dos acadêmicos e

profissionais do Desenho Industrial.

O artigo de Smaniotto et. al (2012), discorre sobre uma metodologia de ensino

do Desenho Industrial no âmbito da construção de uma forma capaz de proporcionar aos

alunos um corpo de conhecimentos que constitua a profissão, classificados em Ramos

Vocacionais e apresentados em essências. Para os autores, essência é

A natureza íntima das coisas; aquilo que faz algo ser o que é, ou que

lhe dá a aparência dominante; aquilo que constitui a natureza de um

objeto; é a existência no que ela tem de mais constitucional.

(SMANIOTTO et al., p. 2, 2012)

Page 13: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

13

Nesse sentido, adaptei alguns dos conceitos aplicados no campo do Desenho

Industrial, e trouxe para o âmbito da Produção Editorial elementos que considero

essenciais no processo de desenvolvimento e análise de materiais concebidos por nós,

produtores editoriais. Uma vez que compartilhamos a necessidade de dominar saberes e

habilidades comuns para “conceber, programar, projetar e realizar mensagens

específicas para grupos determinados” (FASCARA apud SMANIOTTO, 2012, p. 4),

esta é uma proposta adequada de interlocução com o campo do design. Para os autores,

os profissionais trabalham na interpretação, ordenamento e apresentação das

mensagens, de forma que sejam acessíveis aos seus usuários, envolvendo desde livros

até identidades corporativas.

No âmbito da comunicação, bem se sabe que, atualmente, diversas mídias

coexistem, relacionam-se, criam novas formas de interação, novos públicos, e

modificam a lógica da sociedade do ponto de vista econômico e cultural. Resultantes de

inovações tecnológicas, não se limitando, entretanto, apenas a essas questões, os

diversos meios de comunicação existentes mostram-nos a plural capacidade de difundir

signos e conferir-lhes novos significados, em novos contextos. Historicamente, sabe-se

que as novas mídias, ao surgirem, não erradicam as já existentes, mas as

complementam, produzindo reconfigurações, convergência ou simplesmente convivem

em outro espaço dentro dos processos comunicativos, devido às novas necessidades

geradas pelos públicos.

Santaella apud Santos, Vargas e Cardoso (2009, p.7), ressalta “a necessidade de

distinguir seis tipos de lógicas culturais que, embora historicamente sequenciais e

distintas, foram mesclando-se e interconectando-se de modo indissolúvel” até

chegarmos à organização atual que cria “tecidos culturais híbridos e cada vez mais

densos” (SANTAELLA, 2003, p.81). Tais lógicas são: a cultura oral, a escrita, a

impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cibercultura. Nesse sentido,

inserimos essa pesquisa na esfera da comunicação da cultura impressa e suas

particularidades, entendendo o funcionamento das revistas impressas enquanto meio de

comunicação.

Esta pesquisa realiza uma análise da linguagem adotada pela revista Zupi, por

meio de seu projeto gráfico e editorial, a fim de entender a forma como as informações

são tratadas a partir da perspectiva da comunicação visual gráfica, seus usos e reflexos.

Assim, investigo a forma como os elementos gráfico-visuais tipografia, cor, imagem, e

grid atuam na construção da linguagem de publicações impressas, visando compreender

Page 14: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

14

o funcionamento desse tipo de mídia e suas estratégias de comunicação frente ao

público-leitor.

Entre os objetivos, destaco a importância de perceber a formação da identidade

visual da revista Zupi a partir do seu projeto gráfico e, a forma pela qual ele se relaciona

com os leitores, além de entender as escolhas e estratégias de comunicação visual

utilizados pela revista por meio de seus componentes gráficos e sua eficácia como

veículo de informação. Quero entender as funcionalidades do projeto gráfico escolhido

pela revista e como esses elementos interagem para criar vínculos com os leitores.

O objeto de estudo escolhido para análise, a Revista Zupi, é uma revista de arte

contemporânea editada em São Paulo, pelo Zupi Design, desde maio de 2006. A revista

foi eleita para ser analisada no trabalho pelas suas características visuais marcantes e

singulares, sendo uma revista diferente do ponto de vista da sua estrutura e abordagem,

se comparada a outras revistas do mesmo segmento disponíveis no mercado. A Zupi

tem um planejamento visual independente dos padrões do mercado, e utiliza-se de um

formato diferente (17 x 24,5 cm), bem menor que as revistas tradicionais, para que seja

de fácil manuseio e transporte, o que reflete suas necessidades enquanto revista de arte.

Como veremos no capítulo da análise, a revista renova-se visualmente a cada edição,

trazendo a cada nova capa uma nova identidade para a marca, brincando com a temática

e artista apresentados em seus exemplares.

Para o desenvolvimento deste trabalho, parti de levantamento bibliográfico para

a conceituação e entendimento das particularidades que envolvem o universo das

revistas. Também realizei entrevistas com o idealizador e editor da revista, de forma a

auxiliar na formação de uma visão mais próxima e ampla do processo de

desenvolvimento da revista e do projeto gráfico da Zupi.

A pesquisa foi desenvolvida em cinco capítulos, sendo o primeiro responsável

por situar o trabalho na sua área de aplicação, trazendo os principais conceitos e termos

abordados no decorrer deste trabalho, mostrando a importância do design editorial

enquanto ramificação do design gráfico inserido no âmbito da Produção Editorial. No

primeiro capítulo, também encontram-se informações sobre o objeto de estudo eleito,

além de entender as especificidades do meio de comunicação revista, e conceitos

iniciais dos elementos compositivos utilizados para a análise do periódico.

O segundo capítulo encarrega-se de apresentar um contexto histórico sobre a

trajetória das publicações impressas em nossa sociedade, perpassando as evoluções

técnicas da produção gráfica e seus reflexos. Esse percurso histórico faz-se necessário

Page 15: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

15

para entender as principais influências e a forma como as publicações estruturaram- se

ao longo do tempo, os desenvolvimentos tecnológicos que aconteceram e que se

relaciona diretamente com a forma de produzir conteúdo, até chegarmos à concepção de

mídia impressa que presenciamos atualmente. Neste capítulo, uma revisão focada em

registrar os aspectos particulares das revistas também é feita como forma de

compreender de que maneira esse meio de comunicação porta-se frente à sua função e

características específicas no mercado, que nos permitam entender o conceito de

revistas que temos atualmente.

No terceiro capítulo do trabalho, fez-se um estudo mais aprofundado sobre o

design, sua evolução, desdobramentos, e a área que abrange o design gráfico e o design

editorial, enquanto campo de atuação. Também são apresentados os elementos

compositivos que estruturam um projeto gráfico, a fim de entender a finalidade de cada

um e, a forma como se comportam, observando as singularidades desses elementos

dentro de um projeto de design editorial.

O quarto capítulo contém a análise das edições selecionadas, formando o corpus

do trabalho a partir de três edições selecionadas, de forma que seja viável uma análise

ao longo do tempo de existência da revista e de suas possíveis (re)adequações nesse

período. Assim, escolhemos a primeira edição da revista impressa, relançada em (2006)

como edição especial, a última edição que tive acesso, lançada em agosto de 2014, e

uma edição que se situa no meio dessa trajetória (2006). No quinto e último capítulo,

são apresentadas as considerações finais da pesquisa.

Page 16: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

16

1 PRODUÇÃO EDITORIAL E DESING EDITORIAL:

ENTENDENDO A PESQUISA

Percebendo a importância de um planejamento visual adequado a cada tipo de

publicação e segmentação de mercado, e a falta de material bibliográfico bem

desenvolvido na área, o estudo tem como objetivo principal entender e investigar as

ferramentas das quais o design editorial apropria-se em suas criações. Esta área a que

faço referência, no campo da Comunicação, compreende conhecimentos teóricos e

práticos de diferentes disciplinas como Design, Jornalismo e Produção Editorial.

Na pesquisa, discuto sobre os elementos compositivos de uma publicação,

especificamente aqueles presentes em revistas impressas e suas formas de comunicação

visual em virtude do público consumidor. Partindo da relevância da comunicação visual

em projetos de Produção Editorial, o estudo insere-se como ferramenta de análise acerca

dos elementos gráfico-visuais usados na construção da linguagem editorial: tipografia,

cor, imagem e grid, a fim de compreender a relação entre eles e a forma como atuam na

formação da linguagem de publicações impressas.

Aliando concepções de design gráfico e Produção Editorial, minha problemática

de pesquisa foca-se em analisar três edições impressas da revista Zupi para entender

como os elementos do seu projeto gráfico relacionam-se com seu projeto editorial e

interagem para construir a identidade da revista e sua aproximação com o público-leitor.

O trabalho foi realizado a partir de levantamento bibliográfico e análise dos elementos

compositivos elencados como primordiais para a construção de uma publicação

(tipografia, cor, imagem e grid), além de entrevistas com Allan Szacher, editor da Zupi,

que serão utilizadas como técnica de suporte para a análise. Para a análise da revista, foi

utilizada a análise gráfica com inspiração na semiótica plástica. Considerou-se a

estrutura visual da revista como elemento de análise, o qual poderia nos fornecer

informações e dados práticos sobre a publicação.

A escolha em realizar uma análise gráfica dá-se pela curiosidade em entender o

funcionamento dos elementos compositivos de uma publicação e sua articulação, como

mediadores de informação e construtores de identidades. Acredito que este tema seja de

extrema importância para a formação de um profissional da área da Comunicação, mais

especificamente na de um produtor editorial.

Page 17: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

17

A proposta de analisar graficamente a revista Zupi deu-se a partir do interesse

pessoal pelo assunto abordado nas edições da revista, a arte contemporânea, além do

contexto no qual a revista está inserida e sua representatividade no mercado em que

atua. Considerada um crossmedia1, focada em arte, design e criatividade, a revista

apropria-se de diversas mídias para relacionar-se com seu público consumidor e

envolvê-lo. O Zupi Design, estúdio de design que realiza a revista, foi criado em 2001,

em São Paulo, e desenvolve diversos trabalhos a clientes espalhados entre Brasil,

Estados Unidos da América, Austrália e outros países.

Disponível em um portal de arte, o Zupi.com, a Zupi também conta com: uma

revista impressa, diversas redes sociais com mais de duzentas e setenta mil curtidas no

Facebook, com a revista digital no iPad/iPhone e o maior evento de arte e criatividade

da América Latina, o Pixel Show.2 Além desses projetos, a Zupi também é um estúdio

voltado para a criação de livros de arte, revistas customizadas, curadorias de exposições

no mundo e projetos culturais para grandes marcas.

Em 2002, com a intenção de divulgar o design brasileiro e dar espaço a novos

artistas nacionais e internacionais, a Zupi inseriu-se no mercado como uma revista

eletrônica de arte contemporânea. Nos seus primeiros quatro anos, o portal já recebia

em torno de 10 mil visitantes por mês, e abriu caminho para a criação de novos

produtos.

A versão impressa da Zupi, objeto em análise neste trabalho, chegou ao mercado

em maio de 2006, sendo uma publicação bimensal, lançada sempre em meses pares,

com duas edições extras ao ano. Quando publicada, a revista tem uma tiragem de 15 mil

exemplares e dialoga com um público bem definido, autointitulando-se uma revista de

arte e criatividade, e refletindo o enfoque em leitores apreciadores de design e arte. No

site oficial da revista, este posicionamento está bem claro:

A Zupi iniciou suas atividades em 2001 e é hoje o maior crossmedia

de arte e criatividade do Brasil. Somos uma revista diferente e

independente. Uma revista criada por e para artistas e profissionais

criativos que buscam novas ideias e tendências. Com o conteúdo que

1 “No crossmedia, há um processo de difusão de conteúdo em diversos meios. O material não

necessariamente deve ser idêntico, muitas vezes, o que é divulgado em uma mídia complementa o que

está presente em outra. Assim, pode existir uma diferenciação no texto, com acréscimo de imagens e

arquivos em áudio. O objetivo é criar uma interação do público com o conteúdo. Se considerarmos a

palavra crossmedia em seu significado reduzido, teríamos mídia cruzada. É preciso, entretanto,

considerar também as especificidades de cada meio na adaptação do conteúdo, sem perder a sua

essência.” (FINGER, 2011, p. 124, grifos do original) 2 Criado em 2005, é considerado o terceiro maior evento do mundo na área e reuniu um público estimado

de 20 mil pessoas em outubro de 2014.

Page 18: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

18

todos querem ver. Texto compacto, muita informação e muita

imagem.3

Seguindo um caminho inverso àquele percorrido pelas publicações mais

tradicionais (do impresso para o digital), a Zupi começou com sua versão online e, a

partir da necessidade e de pedidos do público, colocou no mercado a Zupi impressa.

Apostando no uso de imagens como sua grande aliada nessa plataforma, a lógica de

mercado inversa da publicação proporciona reflexões sobre as relações entre mídia

digital e mídia impressa, evidenciando o espaço que cada meio ocupa em nossa

sociedade.

Outro fator relevante a respeito do interesse em pesquisar sobre a Zupi é o fato

de grande parte de seus conteúdos provirem da ação de colaboradores espalhados ao

redor do mundo, o que reflete a pluralidade de abordagens dos mesmos e a presença da

revista em vários países.

O presente trabalho tomou como corpus de pesquisa três edições da revista Zupi

impressa: a edição #1 de 2006, relançada como edição especial em 2008 (marcando o

começo dos exemplares impressos), a edição #23 de junho de 2011, que marca a metade

da história da revista impressa, e a edição #42, lançada em outubro de 2014.

A escolha em analisar esses números dá-se pela tentativa de visualizar a possível

ocorrência de mudanças significativas entre 2006 e 2014, eventuais adequações no

projeto gráfico da revista ao longo desse período, e para compreender como os

elementos compositivos tipografia, cor, imagem e grid comportaram-se ao longo desse

tempo.

Há, atualmente, a compreensão de que o Design Gráfico não é

efêmero como o papel em que é impresso. Certos anúncios, pôsteres,

embalagens, logotipos, livros e revistas perduram como marcos de

conquistas artísticas, comerciais e tecnológicas e expressam mais

sobre determinadas épocas e ambientes que as belas-artes. (HELLER,

p. 9, 2007)

Tal consideração de Steven Heller mostra a relevância de se analisar a

linguagem visual de produtos gráficos de modo a colaborar com a construção do

conhecimento teórico no campo da comunicação, neste caso. Além disso, é um modo de

contribuir com a reflexão de como as formas de comunicação e expressão ocorrem

atualmente, e o quanto podem refletir sobre o contexto social, cultural e artístico no qual

estamos imersos. Principalmente no momento em que vivemos, numa cultura

3 Disponível em: <http://www.zupi.com.br/sobre-a-zupi/ >. Acesso em: 11 jul. 2014.

Page 19: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

19

predominantemente visual, na qual os meios de comunicação se voltam para atrair o

público pelo olhar. A Zupi, objeto de estudo deste trabalho, é reflexo de um meio de

comunicação impresso nesta sociedade visual: abusa de imagens na sua composição, e

assim, dialoga diretamente com este contexto.

Acredito na importância da estrutura visual das publicações, aliada à postura da

revista frente aos seus objetivos e leitores, como fatores que determinam o rumo que a

publicação toma e, a forma como ela será recebida e interpretada pelos seus leitores.

Também levo em consideração a escassa produção teórica acerca desse tema nos

estudos de Produção Editorial, e entendo esta pesquisa como uma ferramenta de

discussão acerca da utilização dos elementos gráficos visuais: tipografia, cor, imagem e

grid na construção da linguagem de publicações impressas; também como forma de

compreender suas funcionalidades e expressões resultantes enquanto materiais que

mediam as nossas experiências e fazem parte da nossa cultura hodierna.

Para Heller (2007, p.10), os objetos de design são vistos como “expressões de

necessidades comerciais ou artísticas específicas, soluções para problemas distintos e

até mesmo demonstrações de personalidades únicas”. Além disso, o autor entende que:

A compreensão de um trabalho singular ou de gêneros de trabalhos

analisados por meio de critérios objetivos e subjetivos pode ser útil

para se determinar como os designers fizeram o design gráfico

funcionar ao longo do tempo. (HELLER, 2007, p. 9)

Dessa forma, a análise da revista Zupi se insere como uma investigação de

design editorial, que permite observá-la como uma forma de expressão e veículo de

difusão cultural, inserida na nossa sociedade atual.

1.1 Design Editorial como objeto de estudo

Aqui procuro esclarecer alguns dos conceitos utilizados para o percurso teórico

desta pesquisa e apresento um breve apanhado sobre design editorial e a sua função.

Entender os termos e expressões utilizadas pelos autores que nortearão nossa pesquisa

faz-se necessário para esclarecer os propósitos e a importância deste estudo.

O design editorial, conforme Gruszynski e Calza (2013, p.208), é “uma área de

especialização do design gráfico que compreende a criação de projetos para

publicações”. Também

Page 20: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

20

se refere a um processo que envolve o desenho e a produção de uma

determinada edição, periódica ou não, reproduzida em suporte

impresso ou digital, que ordena os elementos na composição de modo

a cumprir um determinado objetivo de comunicação junto ao leitor.

(GRUSZYNSKI; CALZA, 2013, p.208)

O projeto editorial de um veículo é o responsável por nortear o foco da

publicação, sua temática, estratégias de posicionamento no mercado, definição do

público-leitor e periodicidade. Já o projeto gráfico abrange as escolhas formais e

técnicas da publicação, como a definição de formato, suporte (impresso/digital), e

articulação dos elementos que compõem uma página, tais como os estudados neste

trabalho: tipografia, grid, cor e imagem. O projeto gráfico está sempre relacionado aos

interesses do público-leitor e afinado com o conteúdo veiculado, sendo o responsável

por conferir uma identidade ao material que a publicação apresenta aos leitores.

A expressão visual pode ser interpretada de muitas formas. Donis Dondis (1997,

p.3) explica que “o modo visual constitui todo um corpo de dados que, como a

linguagem, podem ser usados para compor e compreender mensagens em diversos

níveis de utilidade”. Ao mesmo tempo em que o livro possibilita que se origine e seja

difundido o alfabetismo verbal, o aparecimento da fotografia representou uma

reprodução mecânica do meio ambiente que possibilitou discussões em torno do

alfabetismo visual. No entanto, por si só, “a reprodução mecânica do meio ambiente não

constitui uma boa expressão visual., Para controlar o assombroso potencial da

fotografia, se faz necessária uma sintaxe visual” (p.2), um estudo que se enraíza no

conceito de alfabetismo visual proposto pela autora.

Dondis (1997) vê o alfabetismo visual como uma extensão da capacidade

exclusiva que o homem tem de criar mensagens e ressalta a importância de nos

alfabetizarmos visualmente; isto é, saber construir e reconhecer visualmente

determinadas mensagens. Para a autora, o alfabetismo [verbal] pressupõe “que um

grupo compartilha o significado atribuído a um corpo comum de informações” (p.3).

Nesse sentido, o alfabetismo visual teria os mesmos objetivos do desenvolvimento da

linguagem escrita: “construir um sistema básico para a aprendizagem, a identificação, a

criação e a compreensão de mensagens visuais que sejam acessíveis a todas as pessoas”

(DONDIS, 1997, p. 3). A autora ainda evidencia a relação entre as palavras alfabetismo

e visual. “A visão é algo natural; criar e compreender mensagens visuais é natural até

certo ponto, mas a sua eficácia só pode ser alcançada através do estudo” (p.16).

Page 21: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

21

A força cultural e universal do cinema, da fotografia e da televisão, na

configuração da autoimagem do homem, dá a medida da urgência do

ensino de alfabetismo visual, tanto para os comunicadores quanto para

aqueles aos quais a comunicação se dirige (DONDIS, 1997, p. 4).

Conforme Dondis (1997), existem variáveis externas que definem a forma como

cada indivíduo pode absorver determinada mensagem, e “a percepção e as forças

sinestésicas, de natureza psicológica, são fundamentais para o processo visual” (p. 19).

Segundo ela, “o modo como encaramos o mundo quase sempre afeta aquilo que vemos.

O processo é, afinal, muito individual para cada um de nós”.

Para auxiliar na compreensão da questão da percepção visual, recorro à teoria da

Gestalt, que é estudada por psicólogos e desenvolvida a partir da ideia de que o que

acontece no cérebro não é idêntico ao que acontece em nossa retina. Para os estudiosos

desta teoria, não existe, na percepção da forma, um processo posterior de associação de

várias sensações; a primeira sensação já é de forma, já é global e unificada. Conforme

Filho (2004, p.19), a Gestalt entende que “não vemos partes isoladas, mas relações, em

que uma parte depende de outra parte para a nossa percepção, que é resultado de uma

sensação global”.

A teoria da percepção da Gestalt sintetiza um pouco do objetivo deste trabalho,

incidindo sobre o resultado e as sensações a que o arranjo dos elementos compositivos

podem nos remeter, sobre a composição e a relação dos elementos de forma global e

unificada, e o resultado que eles nos oferecem em termos de design e visualidade.

A expressão design e sua concepção estão diretamente relacionadas ao período

moderno, principalmente porque foi depois da Revolução Industrial – e do

desenvolvimento tecnológico que esta trouxe – que foi possível desenvolver a atividade

como profissão. Dondis (1997, p.206) explica que o designer gráfico surgiu

durante a verdadeira Revolução Industrial do século XIX, quando a

sofisticação das técnicas de impressão e de confecção de papéis

permitiu a criação de efeitos decorativos mais criativos na

manipulação do texto e das ilustrações.

Ainda que com divergências na definição, para Luiz Carlos Fetter (2011, p.47),

o termo design significa “planejamento, arranjo, estrutura, desígnio e intenção”; e o

design gráfico, como uma especialidade do design que abrange o design editorial, é tido

como:

Page 22: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

22

[...] a área de conhecimento e a prática profissional específica que

tratam da organização formal de elementos visuais – tanto textuais

quanto não textuais que compõem peças gráficas feitas para

reprodução, que são reproduzíveis e que têm um objetivo

expressamente comunicacional (VILLAS-BOAS, 1999, p.17 apud

FETTER, 2011, p.49).

Fetter (2011) entende o design editorial como “uma das especialidades do design

gráfico, responsável pelo projeto gráfico de uma edição” (p.51). Por edição

compreende-se a preparação dos originais, sejam eles textos ou imagens, que vão

compor uma publicação, seja ela periódica ou não.

Livros, jornais e revistas são os produtos dos quais o design editorial

trata, ordenando as mensagens visuais e textuais de modo a cumprir

um objetivo de comunicação [...]. O domínio, as habilidades e o

conhecimento desse profissional abrangem aspectos artístico-culturais

e técnicos, exigindo formação histórica e senso estético, além de

treinamento ferramental. O profissional relaciona-se com jornalistas e

editores de texto, ilustradores, fotógrafos e infografistas, além de

manter contato com os setores de impressão e acabamento (FETTER,

2011, p. 51).

O design editorial, enquanto ramificação do design gráfico, e uma das mais

significativas áreas de atuação da Produção Editorial, ocupa importante papel em nossas

vidas. Milhares de impressos, entre jornais, revistas, livros, relatórios anuais, catálogos,

sistemas de literatura corporativa e muitos outros são feitos todos os dias, abordando os

mais variados temas e cumprindo as mais distintas funções no mercado, tendo contato

com uma diversidade enorme de pessoas. Neste sentido, Timothy Samara afirma que se

enganou quem pensou que a era digital acabaria com as publicações impressas.

Recentemente, em 1995, um influente designer gráfico declarou que a

imprensa estava morta: nascia a era digital! A internet, o PDF! Parecia

que estávamos diante de um futuro sem papel. Uma década depois,

nos primeiros anos do século XXI, aquela ousada previsão parece ter

sido um pouco prematura. Dê um passeio pela rua de uma cidade, seja

ela grande ou pequena, cruze um aeroporto ou caminhe pelo corredor

de um supermercado. Em qualquer momento, você encontra uma

prateleira, ou dez, repleta de revistas sobre qualquer assunto

imaginável. E não estamos falando de um título sobre cada assunto,

mas de 20. (SAMARA, 2011a, p.6)

Como publicação, as revistas se diferenciam dos demais produtos do design

editorial, por suas particularidades, como será possível observar no capítulo dedicado ao

resgate histórico das publicações, e na próxima seção dedicada a conceituação do meio

de comunicação revista.

Page 23: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

23

1.2 Revistas como meio de comunicação

Nesta seção, apresento uma definição de revista e suas especificidades enquanto

meio de comunicação, assim como as particularidades que a diferencia dos outros meios

inseridos no contexto do design editorial. No próximo capítulo, em que um histórico

mais extenso das publicações é feito, serão resgatados com maior profundidade a

história das revistas, os principais nomes que marcaram épocas importantes, e a

evolução da produção gráfica e seus materiais.

Para Marília Scalzo (2008, p.13), as revistas, “enquanto meios de comunicação,

cobrem funções culturais complexas: elas entretêm, trazem análise, reflexão,

concentração e experiência de leitura”. Além disso, Scalzo (2008) acredita que,

desde o seu surgimento, as revistas configuraram-se em dois caminhos

bem evidentes: o da educação e o do entretenimento. As revistas

nasceram com o viés da diversão, trazendo gravuras e fotos que

funcionavam para distrair seus leitores e transportá-los a lugares

aonde jamais iriam (p.14).

Ao mesmo tempo, as revistas ajudaram na educação de pessoas que precisavam

de informações específicas e não podiam se dedicar aos livros.

As revistas vieram para ajudar na complementação da educação, no

aprofundamento de assuntos, na segmentação, no serviço utilitário que

podem oferecer aos seus leitores. Revista une e funde entretenimento,

educação, serviço e interpretação dos acontecimentos (p.14).

É no âmbito de expressar as questões da vida cotidiana e como uma nova forma

de informação, cultura e entretenimento, que surgem as primeiras revistas. Conforme

Samara (2011ª, p.7), em 1820, no Brasil, “já circulavam nas cidades catálogos de

produtos, periódicos de poesia e filosofia”, os quais podem ser entendidos como os

progenitores da revista moderna.

A primeira revista de que se tem registro no mundo foi publicada em 1663. A

Edificantes Discussões Mensais, feita na Alemanha, esteticamente mais se parecia com

um livro, mas é considerada uma revista por reunir artigos sobre um mesmo tema –

teologia – ou seja, era voltada a um público específico. Conforme Scalzo (2008), as

primeiras revistas, mesmo que ainda não conhecidas por esse nome, já deixavam clara a

sua missão e grande distinção em relação às demais publicações da época: “destinar-se a

Page 24: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

24

públicos específicos e aprofundar os assuntos – mais que os jornais, menos que os

livros” (p.19). Desta maneira, são a segmentação e a periodicidade as grandes

características do meio de comunicação revista.

Conforme Samara (2007), como reflexo da mecanização da imprensa, no fim do

século XVIII, com a Revolução Industrial e a significativa melhoria no padrão de vida

da população, ainda que a maioria das pessoas que tinha acesso a tais materiais, nessa

época, fosse considerada da elite. De lá para cá, esse ciclo só se alargou, tomando

proporções mundiais, com publicações capazes de oferecer às sociedades diferentes

formas de registrar e difundir o conhecimento. Isso permitiu à humanidade conservar

sua história, criar novas formas de interação, trocar experiências e compartilhar ideias,

numa profusão cada vez maior.

De acordo com Samara (2011a, p.6), atualmente, vivemos em uma comunidade

cada vez mais globalizada, em que, como consumidores,

não só dependemos de um fluxo constante de informações que nos

fala sobre o mundo em que vivemos, mas o saboreamos. Vivemos em

um mundo onde as publicações nos aproximam como parte de uma

comunidade maior, até mesmo quando atendem aos nossos estilos de

vida específicos.

Pensando sobre a condição de aproximação entre as pessoas que as revistas,

mais especificamente, promovem, Scalzo (2008, p.12) afirma que revista também é

um encontro entre um editor e um leitor, que une um grupo de pessoas

e, nesse sentido, ajuda a construir identidade, ou seja, cria

identificações, dá sensação de pertencimento a um determinado grupo.

Quanto ao aspecto de planejamento prévio, Fetter (2011, p.21) pondera: “tudo

que é impresso é de algum modo planejado. O mais rudimentar produto gráfico é

elaborado visando a um receptor, ao estabelecimento de uma comunicação”. A razão

básica para a criação de todas as inúmeras formas de materiais visuais, segundo Dondis

(1997, p.183), é a resposta a uma necessidade humana. Para ela,

A gama de necessidades humanas abrange uma área enorme. Podem

ser imediatas e práticas, tendo a ver com questões triviais da vida

cotidiana, ou podem estar voltadas para necessidades mais elevadas de

autoexpressão, um estado de espírito ou de uma ideia.

Samara (2011a, p.12) acredita que “toda publicação começa como uma ideia, um

assunto ou mensagem que possui função, mas ainda não tem forma”. É, neste momento,

que o designer e o produtor editorial, em específico, encontram a sua responsabilidade:

determinar qual a melhor forma de apresentar determinado assunto. De acordo com

Page 25: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

25

Samara (2011a, p.13), “o papel do designer é examinar o conteúdo e começar a pensar

em sua aparência e sensação em relação às suas mensagens”.

Nesse sentido,

as revistas possuem um caráter de entretenimento mais acentuado em

relação ao jornal e aos livros, e, tradicionalmente, investem em design,

tendo em vista a necessidade de atrair leitores e diferenciar sua

identidade visual (FETTER, 2011, p.21).

O apelo visual das revistas caracteriza-as enquanto expressões únicas que se

relacionam com os mais diversos públicos e ocupam um espaço primordial no mercado

editorial, principalmente pela forma de apresentar as informações e envolver os leitores.

A Zupi, por exemplo, é uma revista altamente atraente do ponto de vista visual,

com muito uso de cores e imagens em seu projeto gráfico. Ela, geralmente, destaca-se

em meio a uma banca de revistas, deixando clara a sua intenção frente aos leitores: ser

uma publicação capaz de inspirar seu público por meio de uma abordagem

prevalentemente imagética. Quem lê a Zupi espera, a cada nova edição, saber quais os

artistas que irão participar das matérias, as ilustrações que a revista irá trazer e a

temática que será abordada.

A abordagem das revistas, de modo geral, reflete o planejamento e a intenção

frente aos interesses específicos de cada uma delas, que são materializados no projeto

editorial em constante diálogo com o projeto gráfico do periódico. “É o projeto editorial

que determina quem são os leitores do periódico, planeja cenários futuros para a

publicação, antevê possíveis riscos e propõe estratégias de ação” (TONINI, 2011, p.

35). O projeto editorial não é, evidentemente, apresentado ao público da revista em sua

totalidade, mas é possível compreendê-lo por meio da forma como é estruturada a

publicação, pela sua abordagem frente aos temas apresentados e pelo modo como as

informações são conduzidas.

No capítulo dedicado à análise das edições da Zupi, há um estudo mais

aprofundado sobre cada um dos elementos que consideramos essenciais na produção de

uma publicação, com considerações sobre a função e especificidades de cada um. Aqui,

apresento uma síntese breve desses elementos para ressaltar a importância deles e a

função central que ocupam no desenvolvimento de materiais gráficos.

O grid é um sistema de linhas guias articuladas entre si com o objetivo de

ordenamento na disposição dos elementos da página. Ellen Lupton (2013) descreve o

Page 26: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

26

grid como divisores do espaço ou tempo em unidades regulares, podendo ser simples ou

complexos, específicos ou genéricos, rigidamente definidos ou livremente interpretados.

Projetados para responder às pressões internas do conteúdo (texto,

imagens, dados) e às pressões externas da margem ou da moldura

(página, tela, janela), os grids eficientes não são fórmulas rígidas, mas

estruturas flexíveis e resilientes – esqueletos que se movem em

uníssono com a massa muscular da informação. (LUPTON, 2013,

p.147)

A tipografia pode ser considerada um dos principais elementos no design

editorial segundo Fetter (2011, p.65), “uma vez que praticamente inexiste peça de

design gráfico sem a presença da tipografia”. O termo nasceu com a invenção da prensa

de Gutenberg e seus tipos móveis, revolucionando a forma de produzir e difundir

informação na época, ainda que hoje o sentido da palavra esteja mais ligado a outros

aspectos. A tipografia, atualmente, pode ser relacionada tanto com a criação de

caracteres como com a composição destes para transmitir mensagens, sendo cada vez

mais empregada para designar a disposição de qualquer material escrito. “Intermediária

entre o conteúdo e a mensagem, dá forma ao texto e transmite-o” (FETTER, 2011,

p.65). Questões como classificação de estilos, legibilidade, alinhamentos,

entrelinhamento, espaço em branco, entre outras, estão diretamente ligadas à tipografia

e serão apresentadas e estudadas mais a fundo no capítulo destinado ao estudo desses

elementos.

Compreendem-se as imagens, nesta pesquisa, como todo o universo de

representação de figuras que auxiliam no discurso de uma publicação, incluindo

fotografias, ilustrações, montagens, gravuras, infográficos e todo o material que sirva de

apoio ou complemento ao entendimento da mensagem que se quer transmitir. Para

Smaniotto et. al., (2012, p.12), a imagem “é um recurso comunicacional amplamente

disponível que desempenha as mais diferentes funções, desde resumir e apoiar as ideias

de um texto e fornecer informações detalhadas, até transmitir emoções”.

Uma imagem é uma experiência poderosa que está longe de ser

inerente — uma descrição simples de objetos, lugares ou pessoas. Ela

é um espaço simbólico e emocional que substitui a experiência física

(ou a memória dela) na mente do observador no momento em que está

sendo vista (SAMARA, 2010, p.166 apud SMANIOTTO et. al, 2012,

p.12).

As cores fazem toda a diferença em um layout, ressaltando elementos

importantes, deixando de lado os menos relevantes, sendo capazes de conferir sensações

Page 27: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

27

às composições. Para Lupton e Phillips (2008, p.71), é por meio das cores que os

designers podem “exprimir uma atmosfera, descrever uma realidade ou codificar uma

informação”, e, nesse sentido, os designers usam a cor para fazer com que algumas

coisas destaquem-se e outras desapareçam. “A cor serve para diferenciar e conectar,

ressaltar e esconder” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.71).

Para concluir estas breves definições de termos, é preciso deixar claro que se

entende a expressão layout como o resultado do conjunto dos elementos inseridos na

página, que transparece a relação entre eles e a mensagem gerada na totalidade da sua

representação. Para Hurlburt (2002, p.8), “não há palavra melhor do que layout para

sintetizar a ideia, a forma, o arranjo ou composição de uma página impressa”.

Page 28: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

28

2 PRODUÇÃO GRÁFICA: MUITO ALÉM DE PAPEL E TINTA

Neste capítulo, será apresentado um apanhado histórico do desenvolvimento das

publicações impressas, partindo do estudo da evolução técnica dos sistemas de

impressão, suas principais características e contribuições relacionadas para a forma de

reproduzir a informação. Também será apresentado o contexto em que se deu o

surgimento das primeiras publicações no Brasil. A partir disso, serão resgatadas as

principais revistas que, de alguma forma, marcaram o mercado editorial, assim como as

primeiras revistas que investiram na sua apresentação visual como forma de atrair

leitores ou que se destacaram pelo seu design. Por fim, farei uma contextualização

histórica com os principais movimentos artísticos e estilos de design que influenciaram

as características visuais das publicações no Brasil e no mundo.

2.1 A mecanização da escrita e o desenvolvimento dos processos de impressão

De acordo com Meggs e Purvis (2009, p.19) “os primeiros registros de traçados

humanos datam de 200 mil anos atrás, do Alto Paleolítico ao período Neolítico (35.000

a.C. – 4.000 a.C.”. Utilizando carvão e pigmentos naturais, os antigos africanos e

europeus deixaram marcados nas paredes o que para Philip Meggs e Alston Purvis são

“a alvorada das comunicações visuais” (p.19). Isso porque as imagens registradas nas

pedras, ao longo do tempo, foram se tornando uma linguagem.

Segundo esses autores, no final do período paleolítico, “alguns petróglifos e

pictogramas4 haviam se reduzido a ponto de quase se assemelharem a letras” (p.20). Ao

que tudo indica, esses sinais figurativos marcam o prelúdio do desenvolvimento da

linguagem escrita. Se antes a fala era o principal instrumento para a troca e registro de

ideias, a escrita aparece para dar um novo rumo a essa realidade. Mais do que sintetizar

sons, o aparecimento do alfabeto marca a passagem de uma cultura oral para uma

cultura escrita, mudando os hábitos e oferecendo uma nova forma de comunicação para

as pessoas.

Marshall McLuhan (1977), teórico da comunicação, observa essa transição de

sentidos (oral-visual) que foi capaz de mudar profundamente o uso deles. Para o autor,

4 “Sinais ou figuras simples entalhados ou arranhados na rocha. Muitos petróglifos são pictografias e

outros talvez sejam ideografias – símbolos para representar ideias ou conceitos.” (MEGGS; PURVIS,

2009, p. 19).

Page 29: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

29

“a assimilação e interiorização da tecnologia do alfabeto fonético traslada o homem do

mundo mágico da audição para o mundo neutro da visão” (p.40). Dessa forma,

McLuhan acredita que as novas relações entre os sentidos advindas de novas

tecnologias, “oferecem ao homem um surpreendente mundo novo, que evoca um novo

modelo de interação entre todos os sentidos conjugados” (p.46).

Para Meggs e Purvis (2009), a escrita é a contrapartida visual da fala, sendo um

complemento da palavra falada. Para os autores, “as limitações da fala são o malogro da

memória humana e um imediatismo de expressão que não pode transcender o tempo e o

lugar” (p.18). Dessa forma, o surgimento da escrita deu o suporte para a preservação do

conhecimento e registro de experiências, e mais do que isso, resultou em um sistema de

símbolos que repercutiu diretamente na ordem social, no progresso econômico e na

expansão cultural das civilizações.

De acordo com Paulo Heitlinger (2006, p.16), o primeiro alfabeto fonético,

desenvolvido pelos fenícios, composto por vinte e duas consoantes, foi baseado na

escrita de diversos povos, como os semitas e egípcios, e espalhou-se rapidamente pelo

Mediterrâneo através das atividades comerciais desenvolvidas pelo mar. “O motivo que

animou os Fenícios a utilizar um alfabeto fonético foi o aspecto prático e utilitário. Os

produtores de bens e os comerciantes terão achado este sistema de escrita apropriado

para fazer registos, relatórios e conta”. Acrescenta ele que:

A própria palavra alfabeto é composta por duas consoantes fenícias

alef e beth, e foi por volta de 1.000 a.C. que eles desenvolveram o que

seria a base para todos os alfabetos usados atualmente

(HEITLINGER, 2006, p.14).

Conforme Bann (2010), foi na China do século VI depois de Cristo que a

impressão teve origem. Blocos de madeira entalhados com palavras e imagens

imprimiram o livro mais antigo do mundo, O Sutra do Diamante, no ano de 868 d.C.

Após essa técnica, houve outras tentativas de impressão, utilizando caracteres de argila

na China no século XI, ou até mesmo de metal, no Oriente Médio do século XIII, as

quais não obtiveram sucesso pela complexidade dos caracteres ideográficos utilizados

no período.

Os tipos móveis de metal, criados pelo alemão Johannes Gutenberg em meados

do século XV, revolucionaram a forma de imprimir, sendo os progenitores do que hoje

conhecemos como tipografia. No princípio da prensa, ao unir uma alavanca utilizada

Page 30: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

30

para espremer uvas a tipos móveis de metal, Gutenberg proporcionou a capacidade de

reproduzir informações em uma escala maior e com mais rapidez.

Os caracteres de chumbo eram produzidos a partir de um molde e fixados em um

quadro na base da prensa, montando a página letra por letra, formando linhas de texto.

Dessa forma, “os tipos individuais permitiam revisar e corrigir erros nos textos antes da

impressão e chamaram a atenção quando, em 1455, Gutenberg imprimiu 180 bíblias”

(COLLARO, 2012, p.1).

De acordo com Rafael Cardoso (2009), a tecnologia de Gutenberg logo se

espalhou pela Europa, e estima-se que foram produzidos, ao longo do século XV, mais

de 40 mil títulos, chegando perto de 10 milhões de exemplares de obras publicadas em

cerca de trezentas cidades na época. A prensa chegou à Itália em 1465, na Suíça e na

França cinco anos depois, e num intervalo de menos de vinte anos já se encontrava em

diversos países como Holanda, Bélgica, Hungria, Espanha, Polônia, Boêmia, Inglaterra,

Áustria, Dinamarca e Portugal (PEREIRA, 2009). Conforme Camargo (2003), “ainda

que Portugal vivesse seu apogeu cultural e econômico no século XV”, não foi o

suficiente para que a imprensa ultrapassasse os limites políticos e religiosos de sua

colônia, mantendo-se o Brasil afastado da imprensa até 1808.

Interessada em proteger as conquistas realizadas por mares nunca

antes navegados, a nação portuguesa tendeu-se a fechar-se, enquanto o

mundo europeu caminhava depressa para os tempos modernos. Nesse

movimento de manutenção do império e dos privilégios da Igreja e da

aristocracia, Portugal vai se retrair, selando uma longa inimizade com

as novas ideias [...]. E foi assim que manteve o Brasil à margem da

história, exatamente quando ela começava a ser escrita em letras de

fôrma. (CAMARGO, 2003, p.14)

A partir da fundição de tipos, o desenho das letras começou a ganhar atenção e

sofrer grandes transformações. É com o surgimento de tipógrafos e tipos móveis que

passa a existir a preocupação com o desenho e desenvolvimento de variadas “fontes”.

“As letras já não dependiam exclusivamente do gesto humano, da escrita manual, o que

não só limitou drasticamente os caprichos da letra manuscrita, mas também anulou

variações e erros dos copistas” (PEREIRA, 2009, p.17).

Até a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, e

o nascimento da máquina a vapor de James Watt, em 1781, a invenção de Gutenberg

não sofreu mudanças significativas. Conforme Pereira (2009, p.21), “a máquina de Watt

passou a acionar navios, locomotivas, drenagens e diversos tipos de indústria, não

deixando de fora a impressão, que foi mecanizada”.

Page 31: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

31

Em 1796, os processos gráficos ganham grande aliada, a litografia. Descoberta

na Alemanha por Alois Senelfelder, possibilitou a impressão de imagens a partir de uma

matriz, executada em um tipo de pedra calcária, e “utiliza-se uma tinta oleosa e a

imagem é impressa com base na repulsão natural entre óleo e água, sendo este o

princípio da impressão offset” (BANN, 2010, p.11), popularizada somente no século

XX. A litografia apresentava uma alta qualidade na reprodução de imagens e foi um

divisor de águas na história da produção gráfica. Ela impulsionou a produção artística e

a impressão de caráter comercial. Nos primórdios da imprensa moderna, no século XIX,

a litografia “imprimiu todo o tipo de documentos, rótulos, cartazes, mapas, jornais,

revistas, entre outros, e possibilitou uma nova técnica expressiva para os artistas”

(PEREIRA, 2009, p.21).

Junto com a tipografia, outros processos de composição foram surgindo para

aperfeiçoar e diminuir o tempo de trabalho que os caracteres separados exigiam. A

composição manual de Gutenberg ainda exigia o trabalho de muitos compositores para

acompanhar o ritmo crescente de publicações. Foi com a máquina Linotipo, criada em

1886 por Ottamar Mergenthaler, que a composição de textos passou a ser mecânica,

acelerando este processo. Na Linotipo, conforme (BANN, 2010, p. 10-11),

ao pressionar um caractere do teclado, uma matriz de bronze (em

baixo-relevo) desse caractere descia pelo canal de um magazine até o

componedor5. Quando uma linha de tipos estava completa no

componedor, ela era enviada ao molde para fundir uma linha sólida de

tipos com chumbo.

Enquanto um compositor manual diagramava cerca de mil caracteres por hora (BANN,

2010), a Linotipo multiplicou esse processo para quase dez mil toques por hora

(COLLARO, 2012).

Em 1890, Tolbert Lanston inventou o sistema Monotipo em que um teclado

perfurava uma fita de papel que era então inserida em uma fundidora, que já fundia cada

tipo na ordem correta. Dessa forma, “o texto passou a ser composto na velocidade da

digitação, o que reduziu os custos de impressão e editoração daquela época” (BANN,

2010, p.11).

Até o surgimento da fotocomposição, em 1944, pela Monotype Corporation, os

sistemas Linotipo e Monotipo foram os mais utilizados. A Intertype Photosetter foi

5 Bastão componedor é o suporte onde eram montadas as linhas de palavras formadas pelos tipos.

Page 32: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

32

introduzida no mercado em 1945, porém foi somente em 1960 que a fotocomposição

passou a ser usada comercialmente.

Elas [as máquinas] dispensavam o armazenamento de toneladas de

tipos metálicos [...]. A fotocomposição, que usava os primeiros

computadores para ajustar a diagramação e o espacejamento, também

produziu o primeiro programa de composição de página, o que,

consequentemente levaria à editoração eletrônica no final dos anos

1980 e início dos anos 1990. (BANN, 2010, p.12).

A impressão em offset, ainda que já existente desde a litografia, consolidou-se na

indústria gráfica a partir da fotocomposição, substituindo a impressão tipográfica.

As impressoras offset tornaram-se mais rápidas e sofisticadas e

culminaram nas impressoras rotativas (que imprimem a partir de

bobinas de papel em vez de folhas), utilizadas para produtos de

grandes tiragens, como revistas e jornais. Este tipo de impressora

produzia até 50 mil cópias por hora [...] (BANN, 2010, p. 12).

Os grandes avanços da tecnologia de impressão nos anos 1980 e 1990

ocorreram nos escritórios, com o surgimento do computador pessoal

(PC) e dos primeiros Macs da Apple, o que abriu caminho para a

editoração eletrônica. A máquina de fotocópia deu origem às

impressoras digitais atuais, enquanto e-mail, arquivos de textos,

hipertexto e protocolos de transferências (amplamente utilizados nos

anos 1990) permitiram a comunicação rápida das informações e a

transmissão de arquivos em longas distâncias (BANN, 2010, p.14).

Os programas de editoração que apareceram, como o QuarkXPress e o

PageMaker, pai do atual InDesign (da Adobe), deram ao mundo a possibilidade de

produzir um único arquivo de trabalho completo, que compilava textos e imagens, os

quais podiam ser enviados diretamente à gráfica, onde os fotolitos eram impressos por

uma fotocompositora, dos quais se produziam as chapas de offset a serem gravadas.

O mais recente sistema de impressão, o Computer to Plate ou CTP (do

computador para a chapa), tornou o processo de impressão muito mais simples,

produzindo chapas de impressão diretamente de arquivos, eliminando os fotolitos. Esse

sistema “utiliza uma tecnologia ablativa (erosiva) em que um laser grava a imagem em

um revestimento sobre a base de fotopolímeros ou metal” (BANN, 2010, p.76).

2.2 O começo das publicações no Brasil

A impressão desembarcou no Brasil com a chegada da família real portuguesa.

No porão do navio, foram trazidos livros, prelos de impressão e tipos móveis, marcando

Page 33: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

33

o começo oficial da imprensa no país. Na sua chegada ao Rio de Janeiro, a corte logo

decretou a criação da Impressão Régia, em 13 de maio de 1808, a qual, no mesmo dia,

deu forma à primeira obra impressa no Brasil: Relação dos despachos publicados na

Corte (SODRÉ apud CARDOSO, 2009), um folheto de 27 páginas que trazia a relação

dos despachos publicados naquela data (LUSTOSA apud CARDOSO, 2009).

Conforme Camargo (2003, p.19), “junto com a corte portuguesa, instalaram-se

no país instituições indispensáveis como academias de arte, academias militares, escola

médica, teatro, biblioteca, entre outras”, que impulsionaram a difusão de ideias e

movimentos culturais no país. Devido às rígidas proibições da Coroa Portuguesa, que

limitavam a impressão no país à Impressão Régia, em 1808, em Londres, foi publicado

o jornal que é considerado o fundador da imprensa brasileira, O Correio Braziliense ou

Armazém Literário, de Hipólito José da Costa. Feito na capital britânica, compilava

informações de vários periódicos americanos e europeus (LUSTOSA apud CARDOSO,

2009) e, com foco político, trazia informações comerciais e administrativas, pregando a

reforma política, o fim da escravidão, e a liberdade de imprensa, tendo 172 edições

publicadas (ALI, 2009). O Correio Braziliense, segundo Lustosa (2009), oferece-nos

valiosas informações sobre este momento da história, quando o periódico manifestava-

se contra as políticas retrógradas da corte, em defesa da Independência do país.

Em setembro de 1808, foi criado o primeiro jornal editado e produzido no Brasil,

a Gazeta do Rio de Janeiro, que descrevia a vida administrativa do Reino, e “refletia o

controle da corte, com seu conteúdo anódino, burocrático e totalmente filtrado pela

censura” (LUSTOSA apud CARDOSO, 2009, p.30). Durante séculos, tal sistema de

censura deixou o país afastado da produção de impressos, demorando ainda alguns anos

para que a iniciativa privada pudesse colocar suas oficinas gráficas em funcionamento.

Foi somente em agosto de 1820, depois da Revolução Constitucionalista do Porto, que

houve a liberação da imprensa (LUSTOSA apud CARDOSO, 2009), ainda que antes já

circulassem clandestinamente outros materiais gráficos no Brasil.

A Idade d’Ouro do Brazil foi o primeiro periódico produzido pela iniciativa

privada brasileira, em 1811, publicado na Bahia pela tipografia de Manuel Antonio da

Silva Serva (SODRÉ apud CARDOSO, 2009). Conforme Scalzo (2008), é também na

Bahia, um ano depois, que surge a primeira revista do Brasil: As variedades ou Ensaios

de Literatura, que tratava de assuntos variados como costumes, virtudes morais e

sociais, roteiros de viagens e outros temas diversos; além disso, visualmente mais se

parecia com um livro do que com uma revista.

Page 34: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

34

2.3. Trajetória das revistas

Nesta seção, faço um apanhado histórico do percurso das revistas no Brasil e

mundo, a fim de entender a lógica de funcionamento destes produtos e as principais

características como meio de comunicação.

Revistas, desde o seu início em 1663, promoveram a troca de ideias,

influenciaram o pensamento, os costumes e a cultura do mundo

moderno. Atravessaram guerras, períodos de recessão econômica e

ditaduras que sufocaram o direito de expressão. Enfrentaram a

competição do rádio, do cinema, da televisão e da internet, e

sobreviveram (ALI, 2009, p. 305).

É dessa forma que Ali (2009) acredita que as revistas sejam consideradas

história viva, que sejam reflexo da sociedade do seu tempo. No século XVII, por

exemplo, quando nasceram as primeiras revistas, elas traziam um conteúdo mais

erudito, basicamente resumos de livros, e serviam de base para discussões entre

intelectuais e artistas e cientistas difundirem suas ideias (ALI, 2009, p. 306). Nessa

época, as publicações eram destinadas à elite da sociedade, já que a maior parte da

população ainda era analfabeta.

Como já dito no primeiro capítulo, a primeira revista de que se tem notícia no

mundo foi a Edificantes Discussões Mensais, de 1663, na Alemanha, criada pelo

teólogo e autor de hinos religiosos Johann Rist. Segundo Scalzo (2011), a revista,

esteticamente, parecia-se com um livro, e é considerada uma revista por ter uma

periodicidade e publicar artigos de um único tema, teologia, sendo voltada para um

público específico, marcando o começo de uma característica fundamental do meio

revista: a segmentação.

Conforme Dulcilia Buitoni (2013, p.107), segmentação pressupõe divisão,

grupos. Diferentemente dos jornais, que quase sempre trataram de vários assuntos para

um público sem caracterizações específicas, “as primeiras revistas, mesmo trazendo

temas diversos, já aceitavam mais rótulos definidores do que os jornais”. Para a autora,

a origem da segmentação está relacionada a pesquisas de consumo de agências de

publicidade, com classificações por gênero, faixa etária e classes sociais. Ainda que o

Page 35: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

35

formato revista desde o seu primórdio esteja relacionado a determinados públicos, a

segmentação está ligada a uma ideia de mercado, sendo um fenômeno do século XX.

Conforme a autora, as revistas nasceram com um formato misto de almanaque,

assuntos de interesses variados, literatura, informações sobre artes e espetáculos, moda,

e foram se firmando ao longo do século XIX como uma abertura para o mundo, que

pretendia trazer uma mistura de ilustração, conhecimento e entretenimento. Desde o

começo, as revistas investiram em imagens, gravuras, ilustrações e, posteriormente,

fotografias, recursos que foram “importantes instrumentos de educação para as novas

visualidades que surgiam” (BUITONI, 2013, p.108).

Para pensar a segmentação, Buitoni (2013) resgata as primeiras revistas de moda

europeias, que, até então, com exceção das revistas especificamente literárias, eram

destinadas a um público genérico, sendo a grande maioria dos leitores homens, já que

poucas mulheres eram alfabetizadas na época. Buitoni (2013, p.109) acredita, contudo,

que “essa primeira divisão masculina/feminina não se sustenta como segmentação, até

porque a distinção era entre publicações de interesse geral e os nascentes periódicos

femininos”. Ela complementa, afirmando que “não havia publicações exclusivamente

masculinas contrapondo-se às femininas como hoje, em que temos revistas dirigidas ao

público masculino” (p.109).

Ainda no século XIX, o formato revista, com sua natureza visual, adequou-se

para divulgar hábitos, costumes e produtos, entrando naturalmente na consolidação do

capitalismo que se desenrolava por todo o mundo. “As revistas de moda dessa época já

prenunciavam um direcionamento temático e uma diversificação que poderiam ser

considerados um princípio de segmentação” (BUITONI, 2013, p.110). A autora

conceitua e diferencia as noções de especialização e segmentação. Segundo ela, a

especialização está relacionada a uma “aprofundação temática, sem tanta relação com

um público definido, enquanto a segmentação implica mais o recorte do público e

menos a concentração temática, podendo cobrir vários assuntos” (p.110). Ou seja, a

especialização está ligada ao tema, e a segmentação ao público a ser alcançado.

A autora resgata que as revistas formaram-se paralelamente aos jornais diários e

que, com uma periodicidade diferente (semanal, quinzenal ou mensal), tinham a

possibilidade de aprofundar mais os temas e utilizar imagens, deixando de lado a

vocação noticiosa. As revistas “rapidamente adotaram a fotografia e ampliaram suas

formas de expressão: a relação com o visível tornou-se parte da natureza da revista”

(p.111).

Page 36: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

36

Muitas revistas começaram com o viés da educação, incorporando mais tarde o

entretenimento. Para Buitoni (2013, p.111), a educação é “uma das razões que ajudarão

a desencadear o processo de especialização e, posteriormente, a segmentação”. Desse

modo, a mistura de jornalismo e entretenimento que a revista traz depende diretamente

de uma relação de proximidade com os leitores, de modo a fidelizá-los, transformando

os leitores em um grupo com interesses comuns.

A Edificantes Discussões Mensais inspirou novas publicações do tipo em todo o

mundo e, ainda que não denominadas como “revistas”, deixavam clara sua missão:

“destinar-se a públicos específicos e aprofundar os assuntos, mais que os jornais, menos

que os livros” (SCALZO 2008, p.19). Foi apenas em 1731 que Edward Cave, editor de

A Revista do Cavalheiro, cunhou o termo “magazine”, inspirado nos grandes magazines

europeus, lojas que vendiam de tudo um pouco, no sentido de “depósito de

informações”. Este novo formato de revista (o mais próximo do modelo que temos

atualmente) reunia matérias variadas, com notícias, opinião, poesia e ciência, de forma

acessível às pessoas comuns. Com uma circulação de 10 mil exemplares, “abriu

caminho para a criação de diversas revistas na Europa e nos Estados Unidos” (ALI,

2009, p.313).

Ao longo do século XIX, o cenário dos impressos mudou expressivamente. Para

Cardoso (2009), o acesso a papel mais barato e a introdução de impressoras rotativas

deram condições para a produção de grandes tiragens de impressos que circulavam entre

uma maior quantidade de pessoas. O aperfeiçoamento das técnicas, máquinas e

organização do trabalho deu existência a uma verdadeira indústria gráfica, em nível

mundial, no fim do século XIX:

Segundo a definição clássica de Eric Hobsbawn, a fabricação

industrial é caracterizada justamente por esse círculo virtuoso em que,

de modo concomitante, a quantidade aumenta e o custo baixa tanto,

em proporção direta, que a produção passa a não depender mais da

demanda existente, mas gera seu próprio mercado novo. (CARDOSO,

2009, p. 67)

É dessa forma que as revistas do mundo todo expandiram-se rapidamente, com

periódicos cujas tiragens chegavam a dezenas de milhares de exemplares. Foi nessa

época que o Brasil recuperou-se do atraso na sua produção de impressos, incorporando

às suas publicações os novos processos que chegavam ao mercado: a litografia e a

fotografia, que foram determinantes para a existência dos primeiros periódicos

Page 37: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

37

coloridos, ilustrados e, posteriormente, com fotos, que investiram no visual como forma

de chamar a atenção do público.

Em 1827, nos Estados Unidos, nasce a primeira revista voltada especificamente

para o público jovem, O companheiro dos jovens, fazendo sucesso entre os adolescentes

americanos, vendendo cerca de 500 mil exemplares semanais, o que é um número

impressionante mesmo para os padrões atuais. Tratava de assuntos sobre cultura, ficção

e entretenimento, e inovou ao premiar novos assinantes com livros, fotos, roupas,

ferramentas e até piano (ALI, 2009).

2.3.1 Revistas que marcaram pelo visual

Os primeiros periódicos a se apropriarem da litografia e de ilustrações deram um

novo visual às publicações, que antes dependiam inteiramente da tipografia, e traziam

textos densos para um melhor aproveitamento de papel. A revista Notícias Ilustradas de

Londres (Illustred London News), de 1842, editada em Londres, era publicada com 16

páginas de textos e 32 de ilustrações, e vendia dez vezes mais que o maior jornal da

época, o Times, chegando perto de 130 mil exemplares por semana (ALI, 2009). A

Notícias Ilustradas de Londres é um exemplo do sucesso de revistas que investiram em

imagens como suas aliadas editoriais. A revista trazia matérias sobre política, ciência,

literatura, arte, arqueologia e viagens, sempre ilustradas, possibilitando que as pessoas

pudessem “ver” algo que havia acontecido em um lugar distante.

Figura 1 – Capa Notícias Ilustradas de Londres, julho de 1883.

Figura 2 – Capa Notícias Ilustradas de Londres, janeiro de 1984.

Page 38: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

38

Conforme Ali (2009), A Ilustração, revista francesa que nasceu em 1843 e durou

até 1957, destacou-se pela qualidade de suas ilustrações, e teve grande prestígio entre

1904 e 1905, ao cobrir a guerra entre Japão e Rússia, consagrando-se como a maior

revista ilustrada do mundo, conhecida como a primeira a usar fotografia na França.

Depois dela, outra revista que se destacou pelas ilustrações foi O Semanário de Leslie

(Leslie’s Weekly), periódico americano, também inspirado no Illustred London News,

que trazia grandes ilustrações e notícias publicadas não mais que duas semanas depois

do fato ocorrido, algo nunca visto antes.

A Leslie’s Weekly, no seu terceiro ano de existência, tinha uma circulação de

mais de 100 mil exemplares, “que dobrava ou triplicava quando havia uma ilustração

sensacional” (ALI, 2009, p.328). Um exemplo de uma ilustração famosa publicada pela

Leslie’s é a capa com a ilustração de Tio Sam, publicada originalmente em 6 de julho de

1916, do ilustrador Ames Montgomery, que se tornou um dos pôsteres mais famosos do

mundo, fazendo circular milhões de cópias quando os Estados Unidos entraram na

primeira guerra.

Figura 3: Capa Leslie’sWeekly, agosto de 1895.

Figura 4: Capa Leslie’sWeekly, com a famosa ilustração do Tio Sam, julho de 1916.

Segundo Scalzo (2011), no Brasil, em 1837 é lançada a Museu Universal, com

um modelo editorial copiado dos magazines europeus. Trazia textos leves e acessíveis,

além de ilustrações, a fim de proporcionar cultura e entretenimento à parcela da

população recém alfabetizada. Seguindo a mesma proposta da Museu Universal, surgem

outras revistas no país, como Gabinete da Leitura, Ostentor Brasileiro, Museu

Pitoresco, Histórico e Literário, Ilustração Brasileira, O Brasil Ilustrado e Universo

Ilustrado. Essas revistas, aliadas à expansão do acesso à educação e a consolidação da

Page 39: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

39

indústria gráfica e seu barateamento de produção, ao longo do século XIX, foram

importantes no que se refere à popularização das revistas e ao acesso à informação.

Uma revista que marcou época no Brasil e destacou-se pelo arranjo visual foi a

Revista Ilustrada, de 1876, que, para Camargo (2003), foi a mais importante publicação

ilustrada do século, alcançando quatro mil exemplares no seu ano de nascimento, um

número impressionante para a época. Além das famosas ilustrações de Angelo Agostini,

em sua própria revista, a publicação “abordava temas como corrupção, disputas

políticas, injustiças sociais, e refletia o estado de ânimo carioca nos anos que

precederam a Abolição da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889) no

Brasil” (A REVISTA NO BRASIL, 2000, p 43).

Figura 5: Capa Revista Illustrada, de 1887. Ilustração satirizando a falta de interesse em política de D.

Pedro II, no final do seu reinado (ALI, 2009, p. 335).

Segundo Scalzo (2011), foi Henrique Fleuiss o responsável por publicar as

primeiras fotos nas revistas brasileiras. Na sua revista, Semana Ilustrada, de 1864,

publicou cenas de batalhas da Guerra do Paraguai, introduzindo a técnica fotográfica no

país, que é amplamente explorada pelas publicações até hoje.

No final do século XIX e início do XX, a publicidade mudou a lógica econômica

das revistas, que, conforme Ali (2009), passaram a ter duas fontes de receita: a venda de

exemplares e a venda de anúncios. Ainda que muitas publicações considerassem a

publicidade vulgar e muitos anúncios mentirosos, mantendo, portanto, certa resistência

em incorporá-las nos periódicos, com o tempo, os anúncios foram crescendo e as

agências começaram a investir cada vez mais na produção de anúncios de impacto

Page 40: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

40

visual, que fomentaram o desenvolvimento editorial das revistas, obrigando os editores

a investirem em layouts ainda mais atraentes para competir com os anúncios.

2.4 Da arte gráfica ao design gráfico

Foi também nessa transição entre os séculos XIX e XX que a Revolução

Industrial provocou profundas mudanças nas sociedades. Ao investir em máquinas para

a fabricação em massa, aliada à crescente urbanização das cidades, a fabricação

industrial aumentou a oferta de produtos e diminuiu custos, tornando-se a força motriz

para a produção em massa. As Revoluções Francesa e Americana expandiram o público

de materiais de leitura, ao resultar em maior igualdade social e alfabetização. Foi assim

que, segundo Meggs e Purvis (2009), a comunicação gráfica tornou-se mais importante

e de acesso relativamente generalizado.

Antes disso, o impressor envolvia-se em todos os aspectos de sua arte, do projeto

de tipos e do layout da página à impressão (MEGGS; PURVIS, 2009, p. 175). Com a

produção em fábricas, esse processo foi fragmentado em projeto e produção, surgindo

assim a necessidade de alguém específico para cuidar do projeto dos materiais gráficos.

O designer surgiu em uma época dinâmica, em que as novas necessidades dos

consumidores geraram uma mudança radical na natureza das informações visuais, que

cada vez mais ganhavam variações e novos estilos.

Na Inglaterra, o pintor, designer, escritor, impressor, editor, tipógrafo e criador

de fontes William Morris deu início a “uma série de empreendimentos comerciais que

divulgaram a importância do design de forma inédita” (CARDOSO, 2004, p.69). A

empresa de Morris e seus sócios produziam objetos decorativos e utilitários como

móveis, tecidos, tapetes, azulejos, vitrais e papéis de parede, e, mais tarde, livros

inspirados pela arte e arquitetura góticas, ao longo das décadas de 1860 a 1890.

Indo contra a crescente produção em massa da época, os trabalhos da empresa

prezavam pela qualidade de materiais e acabamento, e refletiam uma empresa

“alicerçada sobre o design como princípio organizador da sua existência comercial”

(CARDOSO, 2004, p.71). A repercussão de suas criações os inseriu no contexto do que

veio a ser chamado de Arts and Crafts (Artes e Ofícios), inspirando diversas

organizações e oficinas da época (CARDOSO, 2004).

Page 41: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

41

As características estampas florais de Morris e seus companheiros são populares

até hoje, e, no final dos anos 1880, inspiraram o que, segundo Raimes e Bhaskaran

(2007), “tornou-se um estilo de design universal”: o Art Nouveau. Marcado pelas

formas naturais, desenhos orgânicos e curvilíneos, os designers, artistas e arquitetos

desse estilo produziram variadas obras, desde cartazes e revistas, pintura de cavalete,

joias e vasos, até mobiliário, edifícios e obras urbanísticas (CARDOSO, 2004).

Conforme Cardoso (2004, p.86), o “Art Nouveau acabou tornando-se o primeiro estilo

divulgado em escala maciça, que suscitou uma reprodução industrial intensiva das suas

formas”. Os motivos florais e femininos, em curvas assimétricas e cores vivas, foram

amplamente explorados e marcam as características essenciais desse estilo.

Segundo Raimes e Bhaskaran (2007), o Art Nouveau difundiu-se em diversos

países sendo que, na Áustria, o movimento ficou conhecido como Secessão Vienense,

na qual a voz do movimento era uma revista chamada Ver Sacrum (Primavera Sagrada),

que circulou entre 1898 e 1903. No Brasil, no começo do século XX, revistas como A

Avenida, Fon-Fon e A Maçã trouxeram ao leitor brasileiro esse novo requinte visual.

Renascença e Kosmos, entretanto, foram as mais sofisticadas do ponto de vista gráfico.

Para Cardoso (2009, p.144),

Ambas ostentavam uma diagramação impecável, com elegância no

uso de ornamentos e tipografia; altíssima qualidade de papel e

impressão; recursos inovadores como a aplicação de tinta metálica e

até impressão colorida de fotos.

Figura 6: Capa revista Ver Sacrum.

Figura 7: Capa revista Kosmos, outubro de 1908.

Page 42: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

42

Depois da Primeira Guerra Mundial, nos primeiros anos do século XX, os

sentimentos de destruição e dor que pairavam entre as pessoas incitou uma nova era de

reconstrução e mudanças.

Descrente dos ensinamentos tradicionais sobre a arte, uma geração de

jovens artistas descobria na tecnologia, na indústria e no design o que

prometiam ser novos padrões para a organização de suas atividades

(CARDOSO, 2004, p.113).

Dessa forma, os movimentos vanguardistas que surgiram nessa época, como o

cubismo, o futurismo e o dadaísmo, incorporaram valores estéticos a partir de máquinas

e objetos industrializados, resultando numa abstração formal e geométrica, que prezava

pela ordem matemática e a racionalidade.

A partir de então, o movimento modernista ganhou força e forma. Com o

Construtivismo Russo, o movimento De Stijl na Holanda e a Bauhaus na Alemanha,

nomes que são considerados os fundadores do design gráfico moderno incorporaram

elementos dos movimentos de vanguarda para criar uma nova era visual.

O impacto direto desses designers se fez sentir principalmente através

de uma grande produção de cartazes e outros impressos que

privilegiam a construção da informação visual em sistemas

ortogonais, prenunciando o conceito de grid, de módulos lineares

(CARDOSO, 2004, p.114).

Segundo Cardoso (2004), os designers desses movimentos prezavam pelo uso de

formas claras, simples e geométricas, com uma gama reduzida de cores, fontes

tipográficas sem serifas e a quase abolição da pontuação. Eles acreditavam que os

significados visuais deveriam derivar do contraste e do equilíbrio entre massas, o que

remete às teorias da Gestalt, em voga na época, e estudada em maior profundidade no

terceiro capítulo deste trabalho.

Fruto da onda modernista, a revista Klaxon, foi lançada em maio de 1922, logo

após a Semana de Arte Moderna em São Paulo. Segundo Ali (2009), a Klaxon foi

fundada pelos escritores e poetas modernistas Sergio Milliet e Oswald de Andrade, a

fim de divulgar as ideias e os trabalhos do movimento. Era uma revista de arte de

caráter anárquico que buscava romper as estruturas do passado.

Conforme Ali (2009), entre seus colaboradores, vale lembrar os nomes de Di

Cavalcanti, Victor Brecheret, Sergio Buarque de Holanda, Manuel Bandeira, Anita

Malfatti, Tarsila do Amaral e Graça Aranha. Ainda que com uma tiragem pequena e

vida curta, a Klaxon teve grande repercussão e fez história no Brasil.

Page 43: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

43

O Construtivismo Russo, importante expoente desse movimento modernista,

assim como os outros movimentos, prezava pelo uso racional de material para criar

objetos ou encontrar soluções para problemas de comunicação. Traziam em suas obras a

combinação de palavras e imagens numa experiência simultânea. Essa composição

palavra-imagem foi o primeiro passo para o fotojornalismo. Os construtivistas também

introduziram “novas técnicas visuais, como a fotomontagem, os fotogramas e a

superposição” (HURLBURT, 2002, p.27). Aleksandr Ródtchenko, importante nome do

construtivismo, projetou uma revista para todos os campos das artes criativas, LEF

(Levy Front Isskustva – Frente Esquerdista das Artes), na qual, “explorou o design em

formas horizontais e verticais, fortes e estáticas, relacionadas em ritmo maquinal”

(MEGGS; PURVIS, 2009, p.383).

Figura 8: Capa da revista Klaxon, de maio de 1922.

Figura 9: Capa da Revista LEF, n. 1, 1923

A escola de design e arquitetura alemã Bauhaus, fundada em 1º de abril de 1919,

também incorporou a linha da funcionalidade proposta pelos modernistas. Dirigida por

Walter Gropius, no campo do design gráfico, a tipografia ganhou destaque e

experimentações na escola. A valorização do espaço em branco, a abolição das letras

maiúsculas e as peças geometricamente produzidas são características marcantes da

Bauhaus.

De acordo com Raime e Bhaskaran (2007), foi inspirada nas experimentações

tipográficas da Bauhaus que se desenvolveu na Europa, no período entre as duas guerras

mundiais, o die Neue Typographie (a nova tipografia). Jan Tschichold, seu grande

idealizador, foi muito influenciado pelos grafismos da Bauhaus ao visitar uma

exposição da escola em 1923. A nova tipografia caracterizava-se por tipos geométricos

sem serifa e composições assimétricas e simplificadas. Segundo Meggs e Purvis (2009,

Page 44: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

44

p.417), “Tschichold acreditava que um design assimétrico e cinético de elementos

contrastantes expressava a nova era da máquina”.

A essência da nova abordagem era a clareza, não simplesmente a

beleza; seu objetivo era desenvolver a forma a partir das funções do

texto (MEGGS; PURVIS, 2009, p. 417).

Em outubro de 1925, Tschichold elaborou uma publicação de 24 páginas,

intitulada Elementare Typographie, a fim de demonstrar e explicar a tipografia

assimétrica a impressores, tipógrafos e designers.

Figura 10: Capa da revista Bauhaus, 1929.

Figura 11: Capa da Elementare Typographie, de Jan Tschichold, 1925.

O período entre as décadas de 1920 e 1940 caracterizou-se pelo surgimento de

novas tecnologias, que mudariam de maneira permanente os hábitos das sociedades. Foi

nessa época que, de acordo com Cardoso (2004), popularizaram-se o automóvel, o

avião, o cinema, o rádio e outros eletrodomésticos que difundiram hábitos antes restritos

à elite da sociedade.

O cinema e o rádio trouxeram consigo a ascensão de valores culturais, além de

ajudar a divulgar modas e padrões de comportamento que geraram novas oportunidades

para a inserção do design e do mercado editorial. Conforme Cardoso (2004, p.124),

“diante das mudanças impostas pelas novas mídias, a imprensa e a indústria gráfica

passaram a dar uma atenção redobrada à configuração visual dos impressos”, além de

abrir espaço para novos segmentos do mercado editorial.

De acordo com Ali (2009), no Brasil, a revista O cruzeiro, que surgiu em 1928 e

durou até 1975, trazia assuntos nacionais e internacionais, sobre política, rádio, cinema

Page 45: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

45

e teatro, e é considerada um dos maiores sucessos editoriais brasileiros de todos os

tempos. Em 1954, a revista atingiu um recorde ao vender 720 mil exemplares na edição

de cobertura do suicídio do presidente Getúlio Vargas.

Segundo Ali (2009), os anos que seguiram depois da segunda guerra mundial

clamavam por conforto e diversão. A sociedade que sobreviveu aos horrores da guerra

agora queria passear e praticar atividades ao ar livre; um maior número de pessoas

passou a viajar, a televisão ganhou destaque, a população rural diminuiu e as mulheres

reclamaram os seus direitos. Todos esses fatores refletiram diretamente no mercado

editorial, que se segmentou para atender às diferentes áreas de interesses dos leitores,

que se multiplicavam.

Foi a partir de 1945 que houve uma explosão de títulos no mercado das revistas.

Surgiram uma enxurrada de publicações com temas específicos, como moda, cinema,

rádio, televisão e telenovelas, automóveis, esporte, revistas para homens, sobre música,

alimentação e muitas outras. De acordo com Ali (2009), foi em 1945, na França, que foi

fundada a revista Elle, inserindo-se como uma semanal de moda, voltada para a jovem

mulher de classe média que entrava no mercado de trabalho após um sofrido período de

guerra, com o lema: pouco dinheiro, muito charme e bom gosto, a revista influenciou a

moda francesa e faz sucesso até hoje no mundo todo.

Nos anos 1950, o rádio era um objeto de adoração em praticamente todas as

casas brasileiras. Era através do rádio que, segundo Ali (2009), a população

experimentava a sensação de pertencer a uma grande comunidade. Foi nessa época que,

a Revista do Rádio, publicada por Anselmo Domingos, tornou-se um sucesso, trazendo

notícias sobre os ídolos populares e, depois, com o crescente sucesso da televisão,

notícias sobre os astros da TV.

Em 1950, surge a revista pioneira sobre estilo de vida saudável e alimentação, a

Prevention, até hoje uma das dez maiores revistas em circulação nos Estados Unidos

(ALI, 2009), também reflexo da segmentação do pós-guerra. No Brasil, a Capricho foi a

primeira revista de fotonovelas que, em 1956, com 500 mil exemplares, era a maior

revista da América Latina, sendo publicada até hoje.

A revista que fazia a ponte entre o cinema e o público brasileiro, nos anos 1950,

era a Cinelândia, influenciada pela cultura americana e pelos astros de Hollywood.

Basicamente, vendia fofocas e escândalos de artistas, chegando a vender 250 mil

exemplares por mês (ALI, 2009). Na mesma época, surgiu a revista Manchete, a fim de

concorrer com a O cruzeiro como um semanário de notícias nacionais. Segundo Ali

Page 46: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

46

(2009), a Manchete cresceu junto com Brasília, na euforia desenvolvimentista de

Juscelino Kubitscheck. A edição de inauguração da nova capital do Brasil vendeu 740

mil exemplares em 48 horas.

De 1953, a norte-americana Playboy foi a primeira a “tornar o nu feminino algo

socialmente aceito” (ALI, 2009, p.366). Devido às transmissões de jogos e esportes

pela televisão, outro espaço do mercado de revistas foi ocupado pela Sports Illustred, de

1954, que circula até hoje nos Estados Unidos, com uma tiragem aproximada de 3

milhões de exemplares.

Segundo Scalzo (2011), em 1959, época de efervescência cultural no Brasil, a

revista Senhor reuniu o que havia de melhor em jornalismo, design, humor e literatura,

sendo marcada pela elegância e qualidade visual. Para Ali (2009), Senhor é, do ponto de

vista gráfico, a revista mais bem elaborada já publicada no Brasil. Contava com uma

equipe impressionante de estrelas do jornalismo e das artes gráficas. No mesmo ano,

acompanhando o crescimento da indústria de fios e tecidos, a revista Manequim foi a

primeira a publicar figurinos com moldes, criando um diálogo com as leitoras que

costuravam a própria roupa.

Em 1966, o Brasil ganha a sua mais importante revista de reportagem, a

Realidade, inspirada na francesa Realités e na americana Esquire. Sua primeira edição,

com 250 mil exemplares, esgotou-se em uma semana. “Documento de uma época,

retratou o Brasil em mudança, publicou grandes narrativas de repórteres que percorriam

o Brasil e o mundo, e ensaios fotográficos de qualidade” (ALI, 2009, p. 371).

Conforme Ali (2009), em 1967, em São Francisco (EUA), foi criada a revista

Rolling Stone, a primeira específica sobre música. Grande sucesso internacional, hoje

tem uma circulação anual de 1,4 milhão de exemplares, sendo que a sua versão

brasileira foi criada em 2006. Fundada no mesmo ano, a revista também americana,

Avant Garde ficou famosa pelo seu logotipo, criado pelo designer Herb Lubalin, e mais

tarde tonou-se uma fonte tipográfica. Prestigiada, principalmente, por agências de

publicidade e diretores de arte, a Avant Garde publicava críticas da sociedade e do

governo americano, além de temas sexuais.

Lembrada por Ali (2009), revista que também se destacou no Brasil pelo design

foi a Setenta, inspirada na americana Bazaar. Trouxe a própria diretora de arte da

revista americana Bea Feitler para o seu projeto gráfico, mas pecou no planejamento

editorial, tendo publicado apenas nove edições, embora tenha deixado um importante

legado na produção de moda do país.

Page 47: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

47

Nos últimos 40 anos, o mercado editorial de revistas continuou crescendo e

mudando; novos títulos surgem e outros desaparecem a cada ano. Conforme Ali (2009),

depois dos anos 2000, as revistas que mais crescem tendem a prezar por simplicidade,

espiritualidade e bem-estar. O rumo das publicações começou a se alterar

expressivamente, principalmente depois dos anos 1980, com a popularização dos

computadores e o desenvolvimento de softwares de editoração eletrônica. Para Meggs e

Purvis (2009, p.627), “o rápido desenvolvimento da internet e da web nos anos 1990

transformou o modo como as pessoas se comunicam e acessam informações, gerando

uma revolução que, em sua magnitude, ultrapassa até a de Gutenberg”.

De acordo com Meggs e Purvis (2009), o desenvolvimento do PageMaker nos

anos 1980, como pai dos softwares de editoração eletrônica, significou a economia de

volumes significativos de tempo e dinheiro na preparação das páginas para impressão.

Também possibilitou aos designers explorar possibilidades inéditas, impensáveis antes

dos computadores e programas gráficos.

Atualmente, as plataformas digitais alteraram a forma de acessar informações,

cenário em que as mídias de massa dividem espaço com mídias descentralizadas como a

internet e as tecnologias móveis. Tablets, Ipads, celulares e computadores agora

oferecem uma nova experiência de leitura, comunicação e interação entre as pessoas. O

impacto dessas tecnologias sobre a mídia impressa é grande. Elas oferecem caminhos

alternativos e instantâneos para o estático papel, permitem que informações sejam

atualizadas em tempo real, em uma época na qual vivemos com um turbilhão de

informações sendo oferecidas num mundo interconectado.

Ali (2009) afirma que cada nova tecnologia traz aqueles profetas que dizem que

as revistas vão deixar de existir. Foi assim com a televisão nos anos 1950, que, ao

contrário, abriu novas oportunidades paras as revistas, com guias de programação,

telenovelas e celebridades. Nos anos 1990, profetizou-se que a digitalização acabaria

com as revistas, porém muitos títulos sobre computação foram lançados; já nos anos

2000, previu-se que a internet acabaria com as revistas. Não acabou, e permitiu um

contato direto e imediato com o leitor, como nunca havia sido possível antes. A internet

também se tornou um meio para vendas, e produziu o surgimento da revista virtual

(ALI, 2009, p. 22).

Entretanto, a tatilidade, a experiência física, o conforto e a durabilidade que os

impressos oferecem são características que dificilmente alguma outra mídia será capaz

de reproduzir. As telas dos aparelhos eletrônicos cansam a visão para leituras mais

Page 48: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

48

profundas e dependem de bateria ou alguma forma de energia para se manterem em

funcionamento. Ao mesmo tempo, muitas revistas impressas são feitas para durarem,

para serem guardadas e colecionadas como objetos queridos – ou mesmo como objetos

de arte.

Page 49: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

49

3 DESIGN EDITORIAL: O UNIVERSO DAS PUBLICAÇÕES

Conforme Ana Cláudia Gruszynski (2008), o design gráfico é uma atividade que

abrange o social, a técnica e as significações, e baseia-se em um processo de articulação

de signos visuais que possui o objetivo de produzir uma mensagem a partir do uso de

uma série de procedimentos e ferramentas. Conforme a autora, o design busca alterar

uma situação existente para outra mais desejável, e dessa forma a produção de uma

mensagem sempre visa otimizar a intenção comunicativa, seja em seus aspectos

estéticos, persuasivos ou informativos.

Gruszynski (2008) vê o design gráfico além dos limites da função estética, como

uma função que lida fundamentalmente com a informação, entendendo-o como uma

atividade de fazer e comunicar signos híbridos, não se limitando à produção de vestes

gráficas. Dessa forma, ao entender o design como um meio, é necessário levar em conta

a sua audiência de modo que seja possível admitir que a aparência visual de

determinada peça ultrapassa as barreiras de determinado estilo estético, transparecendo

época, contexto, cultura e meios de produção da sociedade em que se insere.

Discutindo sobre o design em revistas, Ali (2009, p.95), acredita que

O design de revistas não é um fim em si mesmo. É parte do jornalismo

e tem duas funções primordiais: estabelecer a identidade visual e

comunicar o conteúdo editorial. O resto é arte.

Dessa forma, Ali (2009) afirma que o design é o meio de levar as ideias da

página para a mente do leitor, de modo que o design é a chave para conduzir o olhar do

leitor, emocionar, surpreender, e apresentar as qualidades do conteúdo inserido na

publicação. Conforme a autora, o design “é um produto integrado de voz e imagem que

faz o leitor ver, sentir e ficar satisfeito” (p.96). Para que isso aconteça, é necessário

dominar os elementos que compõem uma página, delimitados, neste trabalho, como

tipografia, grid, cor e imagem, que serão discutidos ao longo deste capítulo.

A autora acredita, ainda, que o projeto gráfico, ao expressar e personalizar o

conteúdo publicado, estabelece a identidade da publicação, visando desenvolver um

produto agradável, útil e informativo, além de atrair e reter a atenção do leitor,

funcionando, assim, como um mediador no processo de comunicação.

Para compreender como se articulam os elementos que estruturam as revistas e a

sua apresentação visual, serão estudados, neste capítulo, os fundamentos dos elementos

Page 50: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

50

considerados básicos na sua construção: tipografia, grid, cor e imagem, extraídos e

adaptados da proposta de metodologia de ensino de Smaniotto et al. (2012), apresentada

na próxima seção.

Como foi visto, no capítulo anterior, a escrita ocupou papel de destaque no

desenvolvimento de nossas sociedades. Porém, somente as palavras não dão conta de

expressar toda a cultura visual em que vivemos. Para entender um pouco mais sobre a

relação dos elementos que compõem uma página com a linguagem visual e o

significado que eles geram é necessário recorrer às teorias da percepção visual, assim

como às particularidades que envolvem os elementos que são a ponte para uma

comunicação eficaz.

Para isso, recorri a autores como Donis Dondis (1997), designer e teórica de

referência nos estudos de comunicação visual, João Gomes Filho (2004), que apresenta

e sintetiza a teoria da Gestalt como um sistema de leitura visual da forma, e, Rudolf

Arnheim (2000), psicólogo alemão e estudioso da relação entre arte e percepção visual

que também se baseia nos estudos gestaltistas.

A Gestalt, conforme Filho (2004), é uma escola de psicologia experimental que

surgiu no fim do século XIX, em que o filósofo Von Ehrenfels é considerado seu

precursor. Mais tarde, no começo do século XX, Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e

Kurt Koffka, da Universidade de Frankfurt, foram os principais nomes desse

movimento, que atuou, principalmente, no campo da teoria da forma, nos estudos da

percepção, linguagem, inteligência, aprendizagem, memória, motivação, conduta

exploratória e dinâmica de grupos sociais, por meio de pesquisas experimentais.

De acordo com Filho (2004), o termo Gestalt, geralmente é traduzido como

estrutura, figura, forma.6 Para os estudiosos dessa escola, na percepção da forma, não

existe um processo posterior de associação de várias sensações, a primeira sensação já é

de forma, já é global e unificada. Essa percepção psicológica da forma está relacionada

com as forças que integram o processo fisiológico cerebral no qual o sistema nervoso

central, em busca de “sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos

coerentes e unificados” (FILHO, 2004, p.19).

Segundo Filho (2004), Koffka, ao tentar entender “porque vemos as coisas como

as vemos”, estabeleceu uma divisão geral entre forças externas e internas. As forças

6 “A forma pode ser definida como a figura ou a imagem visível do conteúdo. De um modo mais prático,

ela nos informa sobre a natureza da aparência externa de alguma coisa. Tudo que se vê possui forma.”

(FILHO, 2004, p.39)

Page 51: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

51

externas dizem respeito à estimulação da retina através da luz do objeto que olhamos, e

as forças internas são forças de organização que estruturam as formas numa

determinada ordem, a partir das forças externas.

Para essas forças internas de organização, existem princípios básicos que foram

formulados a partir de constantes que “são o que os gestaltistas chamam de padrões,

fatores, princípios básicos ou leis de organização da forma perceptual” (FILHO, 2004,

p.20). É a partir desses princípios, ou forças, que entendemos por que vemos as coisas

de uma maneira e não de outra. Entre esses princípios, Filho (2004) expõe rebatimentos

operados sobre as leis da Gestalt, que embasam este sistema de leitura visual. Entre eles

encontram-se: unidades, segregação, unificação, fechamento, continuidade,

proximidade, semelhança e pregnância da forma, apresentados em um quadro síntese a

seguir:

Princípio Definição Representação visual

Unidades

Uma unidade pode ser um único elemento que se encerra

em si mesmo ou como parte de um todo, com mais de um

elemento.

Segregação

A capacidade perceptiva de separar, identificar, evidenciar

ou destacar unidades formais em um todo compositivo ou

em partes deste todo. Depende da criação de estímulos

desiguais no campo visual que pode ser feita com linhas,

planos, volumes, cores, sombras, texturas e outros.

Unificação

Igualdade ou semelhança de estímulos produzidos pelo

objeto. Acontece quando fatores como harmonia,

equilíbrio, ordenação visual e a coerência da linguagem

estão presentes no objeto ou na composição.

Fechamento

É importante para a formação de unidades. As forças de

organização da forma dirigem-se espontaneamente para

uma ordem espacial que tende para a formação de

unidades em todos fechados.

Continuidade

A impressão visual de como as partes de sucedem através

da organização perceptiva da forma, sem quebras ou

interrupções na sua trajetória ou fluidez visual.

Page 52: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

52

Proximidade

Elementos próximos tendem a ser vistos juntos,

constituindo um todo ou unidades dentro do todo.

Estímulos mais próximos, seja por forma, cor, tamanho,

textura, brilho, peso, direção e outros, tendem a ser

agrupados.

Semelhança

A igualdade de forma e de cor desperta a tendência de

construir unidades, estabelecer agrupamentos de partes

semelhantes. Junto com Proximidade, promovem a

unificação do todo, no sentido de harmonia e equilíbrio

visual.

Pregnância da

Forma

As forças de organização da forma tendem a se dirigir

tanto quanto o permitam as condições dadas, no sentido da

harmonia e do equilíbrio visual.

Quadro 1: Rebatimentos da Gestalt, produção própria com base em Filho (2004).

Outro autor que também desenvolve o seu pensamento com base nos

experimentos da Gestalt é Arnheim (2000, p.XIII); para ele, “temos negligenciado o

dom de compreender as coisas através de nossos sentidos”. Isso acontece porque nossos

olhos teriam se reduzido a meros instrumentos de identificação e medida, o que traria

uma carência de ideias exprimíveis em imagens e de capacidade de descobrir

significado no que vemos segundo o autor. Arnheim (2000, p.XIII) complementa que “é

natural que nos sintamos perdidos na presença de objetos com sentido apenas para uma

visão integrada e procuremos refúgio num meio mais familiar: o das palavras”. No

entanto, o autor acredita que a nossa capacidade inata de entender através dos olhos está

adormecida e precisa ser despertada. Isso porque, para ele, “é impossível comunicar as

coisas visuais através da linguagem verbal” (p.XIV). A linguagem verbal é limitadora,

uma vez “que não é via direta para o contato sensório com a realidade; serve apenas

para nomear o que vemos, ouvimos e pensamos” (p.XIV).

Para Arnheim (2000, p.XV), o estudo da visão “encontra-se no campo do

psicólogo”, visto que a atividade artística é encarada pelos psicólogos como um

instrumento de exploração da personalidade humana, porque os meios visuais são

capazes de ilustrar aspectos da forma com uma precisão que só é possível com o esforço

da mente; para o autor, a “concepção do artista é um instrumento de vida, uma maneira

refinada de entender quem somos e onde estamos” (p.XVII). Além disso, ele acredita

que mais do que “um registro mecânico de elementos sensórios, a visão prova ser uma

Page 53: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

53

apreensão verdadeiramente criadora da realidade – imaginativa, inventiva, perspicaz e

bela” (p.XVII).

Dondis (1997) resgata uma citação de Bergson para entender o que é arte,

definida por ele como “a visão direta da realidade”. Dessa forma, Dondis conclui que os

meios de comunicação atuais devem ser “vistos como meios naturais de expressão

artística, uma vez que apresentam e reproduzem a vida quase como um espelho” (p. 27).

Dondis (1997) acredita que a natureza dos meios de comunicação enfatiza a necessidade

de compreender os seus componentes visuais, recorrendo assim para o estudo do

alfabetismo visual, já que “o que vemos é uma parte fundamental do que sabemos, e o

alfabetismo visual pode nos ajudar a ver o que vemos e a saber o que sabemos” (p. 27).

Para Dondis (1997), no alfabetismo visual, não há regras absolutas, mas sim

ordenações de partes que nos permitem organizar os meios visuais. Dessa forma, muitos

dos critérios para entender a forma visual decorrem do conhecimento da percepção

humana, como os estudos da Gestalt, por exemplo. A autora acredita que isso acontece

porque o significado das mensagens visuais não depende exclusivamente dos efeitos da

disposição dos elementos básicos, mas sim do mecanismo perceptivo humano.

3. 1 Os quatro elementos essenciais do design editorial

A fim de organizar um corpo de conhecimento para o ensino e aprendizagem do

ato de projetar, designers e professores como Smaniotto et al. (2012) propõem essências

para o desenho industrial/design a fim de proporcionar informações mais unificadas

sobre o básico da profissão aos alunos.

Para Smaniotto et al. (2012, p.1), essência “é o que faz algo ser o que é; a

existência no que ela tem, por necessidade de mais constitucional e sem o que se perde

identidade”. A partir daí, são elencadas as essências que são o que há de mais básico, e

ao mesmo, tempo mais central na atividade de projetar algo. Os autores categorizam as

essências em: Gerais para projetação, Específicas para Design/Desenho Industrial e

Particulares para os ramos vocacionais.7

7 Ver apêndice A.

Page 54: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

54

O campo projetual, compartilhado entre profissões que dependam de projetos

como arquitetura, engenharia e desenho industrial, é categorizado em projeto de

ambientes, de artefatos e de comunicações, pela complexidade que cada campo

projetual possui, exigindo uma especialização e direcionamento dos conhecimentos e

habilidades que caracterizam a atividade profissional.

O ramo vocacional Projeto de Comunicações, no qual se insere a investigação

do presente trabalho, é tido como a resposta à necessidade humana de se comunicar,

utilizando-se principalmente de recursos visuais, podendo incluir, também, meios

sonoros e táteis, com a finalidade de transmitir mensagens específicas a grupos

determinados. Nesse ramo vocacional, os autores inserem trabalhos de identidade

corporativa, sinalização, livros e jornais, embalagem, interfaces virtuais, entre outros.

Desta forma, o design editorial e de revistas interagem com esses conceitos.

A partir dessas considerações e da análise da produção de produtos de design

editorial, adaptei e simplifiquei a proposta dos autores, elencando para a Produção

Editorial os quatro elementos considerados básicos para o desenvolvimento de um

projeto de design gráfico: tipografia, grid, cor e imagem.

Conforme os autores, a tipografia – tida como uma essência particular para o

desenho de comunicação – é “toda mensagem representada pelos símbolos de um

alfabeto” (SMANIOTTO et al., 2012, p.12), e o conhecimento do desenhista sobre essa

essência o auxilia na transmissão mais adequada da informação. O grid, ou malha, é

entendido como uma essência geral para projetação, de modo que é um instrumento

prático de trabalho que facilita na resolução de problemas de comunicação visual,

auxiliando em termos de concepção, organização, confiança e rapidez.

A cor é classificada como uma das essências específicas para o desenho

industrial/design, e é vista como um dos estímulos visuais mais potentes, de alto valor

comunicativo. Por fim, as imagens, como a tipografia, também se inserem no estudo

como uma essência particular para o desenho de comunicação. Elas são entendidas,

pelos autores, como um contraponto visual ao texto, capazes de envolver o usuário com

suas diferentes funções de resumir, apoiar um texto, até fornecer informações

detalhadas e transmitir emoções.

Page 55: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

55

3.1.1 Tipografia

O primeiro elemento considerado primordial na construção de uma página e de

uma mensagem visual é a tipografia. Como foi visto na contextualização histórica

realizada no capítulo dois, a escrita foi a principal ferramenta que permitiu a expansão, a

popularização e o registro de informação ao longo da história das sociedades, tornando-

se um imprescindível meio de comunicação e de troca de experiências.

Inserida como uma essência particular para o desenho de comunicação, segundo

Smaniotto et al. (2012, p.12), a tipografia é vista pelos autores como “um sistema visual

composto por um conjunto de sinais de codificação gráfica da linguagem verbal”, sendo

considerada tipografia toda a mensagem representada por símbolos de um alfabeto, que

pode ser manual, mecânica ou digital.

McLuhan (1977, p.176) vê a tipografia como “a invenção que consolidou a nova

tendência visual do conhecimento, que originou o primeiro bem de comércio

uniformemente reproduzível, a primeira linha de montagem e a primeira produção em

série”. Isso significou uma mudança radical na relação entre o homem e o

conhecimento, refletida no desenvolvimento das sociedades.

A tipografia não é apenas tecnologia, mas, ela própria recurso natural

ou produto básico, como o algodão ou a madeira ou o rádio: e, como

qualquer bem de produção, modela as relações intersensoriais do

indivíduo, bem como os padrões de interdependência comunal ou

coletiva (MCLUHAN, 1977, p.227).

O tipógrafo e designer americano Robert Brighurst (2005, p.17) afirma que “a

tipografia é o oficio que dá forma visível e durável à linguagem humana”. E para ele, se

a tipografia tem algum sentido, ele é visual e histórico. Claudio Rocha (2005), também

designer e tipógrafo, acredita que a história da tipografia reflete os movimentos do

progresso cultural da humanidade, a partir das mudanças nos eixos de poder e

conhecimento de cada época. Os copistas da Idade Média, por exemplo, produziam seus

livros manuscritos determinados pelo clero e seus membros. As formas das letras

também mudaram e evoluíram através dos séculos, acompanhando traços característicos

da cultura de cada país e do momento histórico em que foram produzidas. Dessa forma,

estudar o passado é entender a produção e o uso da tipografia no presente.

Page 56: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

56

Primeiramente, é importante definir e diferenciar o uso dos termos: tipografia,

tipo, família tipográfica e fonte. De acordo com Pereira (2007), tipografia é a palavra

empregada para se referir ao processo de impressão tipográfica e tem origem no

desenho, composição e impressão com tipos, como vimos no resgate histórico sobre a

prensa de Gutenberg. Conforme o autor, os tipos derivam da prensa e do processo

tipográfico, mas, atualmente, a expressão é usada para designar o desenho dos

caracteres, suas propriedades e as características visuais que as distinguem.

Segundo Pereira (2007), o conjunto ou grupo de tipos unidos por características

similares é chamada de família tipográfica, na qual seus membros compartilham

características comuns mas se diferem entre si pela espessura, largura ou inclinação.

Essas variações fazem parte dos tipos que oferecem opções como negritos, itálicos,

versais, condensados e expandidos. Conforme o autor, fonte, ainda que frequentemente

confundida com tipo, é na verdade uma expressão empregada na composição eletrônica

e refere-se ao arquivo de dados instalado no computador, que é capaz de compor os

textos e reproduzir os tipos.

Figura 12: Família tipográfica, variações do tipo Helvetica. Disponível em:

<http://www.des1gnon.com/2014/05/termos-comuns-da-tipografia/>. Acesso em: 17/10/2014.

Conforme Rocha (2005), o primeiro tipo foi criado por Gutenberg no século XV

para a composição da Bíblia de 42 linhas. O desenho dos caracteres era baseado na

escrita gótica ou blackletter, e tinha a intenção de reproduzir o estilo Textura, muito

utilizado nos manuscritos daquele período. Ainda de acordo com Rocha (2005),

Gutenberg baseou sua fonte em 300 letras diferentes da época, de forma a aproximar o

seu tipo aos textos produzidos pelos escribas.

Figura 13: Caracteres usados na Bíblia de Gutenberg (ROCHA, 2005, p. 26)

Page 57: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

57

Em pouco tempo, a invenção de Gutenberg e a crescente produção de impressos

espalharam-se pela Europa, gerando a necessidade de novos desenhos de tipos. Segundo

Rocha (2005), no final do século XV, na Itália, foram produzidos tipos baseados nas

capitulares do alfabeto romano e nas minúsculas carolíngeas8, reproduzindo os traços

feitos com bico-de-pena. Para Rocha (2005), a mais refinada versão dos tipos romanos

dessa época foi feita pelo francês Nicolas Jenson, em Veneza, no ano de 1470, a qual

serviu de modelo para vários tipos nos séculos seguintes, com suas letras que traziam

um contraste suave entre os traços finos e grossos9 e serifas

10 curtas e robustas.

Figura 14: Caracteres ampliados do tipo criado por Nicolas Jenson. (ROCHA, 2005, p. 28)

Figura 15: Bembo italic (ROCHA, 2005, p. 28)

Conforme Rocha (2005), ainda em Veneza, no início do século XVI, Aldus

Manutius, considerado o primeiro editor comercial da história, queria reduzir os custos

de produção e diminuiu o formato dos livros, sendo assim necessária uma otimização do

espaço ocupado pelo texto na página. Em parceria com o gravador Francesco Griffo,

Aldus desenvolveu um novo tipo baseado na escrita itálica, cujas letras eram mais

condensadas e ocupavam menos espaço na página. Um exemplo de tipo baseado nesses

caracteres é o Monotype Bembo Italic, de 1929.

8 Conforme Ribeiro (1987), com seu apogeu no século VIII, idealizadas no império de Carlos Magno, a

escrita carolíngia é composta de maiúsculas e minúsculas e representa uma reforma decisiva na evolução

das letras. 9 Disponível no Anexo A está a anatomia dos tipos e suas partes básicas.

10 “Serifa é um pequeno filete de acabamento que se estende nas terminações das hastes dos caracteres.

Sua origem remonta aos caracteres romanos antigos, nas pinceladas de arremate das extremidades das

letras [...] As serifas romanas clássicas nasciam das hastes dos caracteres como curvas espontâneas e

graciosas, conferindo elegância e refinamento às letras.” (PEREIRA, 2007, p.12)

Page 58: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

58

De acordo com Rocha (2005), no século XVI, foram produzidos na França livros

com tipos que compunham páginas claras e luminosas. Os tipos desenhados por Claude

Garamond, obtiveram sucesso pela sua excelência técnica e pela nobreza de seu design.

O tipo de Garamond obteve enorme sucesso comercial e foi exportado para vários

países da Europa. Na Holanda, já no século XVII, Cristofell van Dijck desenvolveu um

tipo baseado no Garamond, porém acrescentou mais peso às letras e mais corpo,

difundindo os tipos holandeses em toda Europa.

Figura 16: Caracteres Garamond (ROCHA, 2004).

Conforme Rocha (2005), no século XVIII, na Inglaterra, William Caslon,

baseando-se nos tipos holandeses, criou o tipo romano Caslon, preferido entre os

impressores europeus até o século XIX. Segundo Pereira (2007), foi também no século

XIX que Giambattista Bodoni, na Itália, e Didot, na França, produziram tipos próprios

com um enfoque não caligráfico e racionalista ao desenho de tipos. Nos tipos romanos

modernos desses tipógrafos, a verticalidade das letras domina e o contraste entre as

hastes finas e grossas é levado ao extremo, com um acabamento refinado que

demonstrava o avanço da tecnologia gráfica. Mais tarde e até hoje, esses tipos começam

a ser amplamente utilizados em revistas de moda.

Page 59: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

59

Figura 17: Caracteres Caslon (ROCHA, 2004).

Figura 18: Caracteres Bodoni (ROCHA, 2004).

De acordo com Rocha (2005), o século XIX trouxe a preocupação em encontrar

uma nova expressão tipográfica para a sociedade industrial. Daí surgiram os tipos fat

faces11

, slabserifs (serifa quadrada) e tipos sem serifas, que, usados em tamanhos

grandes em pôsteres e trabalhos comerciais, tinham a intenção de chamar mais atenção

que os tipos em negrito existentes até então. Essas tipografias marcaram uma fase onde

as letras deixaram de ser simples condutores de conteúdo, ganhando força e

expressividade e representando o início de um novo mercado de tipos voltado para a

publicidade. Exemplo de tipografia que deriva das slabserifs dessa época é a Memphis,

de Rudolf Wolf, de 1929.

Figura 19: Panfleto com a primeira fatface, de 1810. (ROCHA, 2005, p. 31)

11

“Os tipos Fat face derivam diretamente da Bodoni e da Didot e se caracterizaram pelas hastes verticais

bastante grossas. Não eram feitos para leitura em tamanhos pequenos, e sim para uso em anúncios e

outras peças comerciais.” (ROCHA, 2005, p.32)

Page 60: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

60

Figura 20: Memphis Bold (ROCHA, 2004)

Conforme Pereira (2007), os primeiros tipos sem serifa foram produzidos pela

fundidora Caslon, em 1816, com caracteres apenas em caixa alta; a chamada Two Line

English Egiptian foi a precursora desses tipo de letras. De acordo com Rocha (2005),

além da ausência de serifas, as fontes desenvolvidas a partir dessa época

caracterizavam-se pela ausência ou pouca modulação no peso das hastes. Os primeiros

tipos foram chamados “grotescos”, ou “gothic”, em referência ao peso visual das

blackletters, no estilo antigo. Exemplo dessas novas produções de tipos, a Akzidenz-

Grotesk, de 1889, é uma sem serifa clássica e atual, que ganhou projeção nos

movimentos de arte e design como De Stijl, Bauhaus e principalmente no Estilo

Internacional Suíço.

Figura 21: O primeiro tipo sem serifa de William Caslon. (ROCHA, 2005, p. 33)

Figura 22: Caracteres Akzidenz Grotesk (ROCHA, 2004).

Segundo Pereira (2007), no início do século XX, o tipógrafo Paul Renner criou a

tipografia Futura, argumentando que “o texto deveria ser vestido conforme o estilo do

seu tempo; que a letra da nova era deveria ser uma forma puramente geométrica” (p.

38). A Futura é considerada por muitos o melhor design dos tipos sem serifa e é

Page 61: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

61

referência entre os tipos geométricos. De acordo com Pereira (2007), na década de

1950, os suíços mostraram a excelência de seu design criando dois dos mais notáveis

tipos sem serifa já criados: o Univers, de Adrian Frutiger, em 1954, e o Helvetica, de

Max Miendiger, em 1957, seguindo o estilo racional e o padrão estético da precursora

Akzidenz. Ainda segundo Pereira (2007), para os designers da época, a Helvetica em

particular, pareceu representar o tipo ideal, a perfeição da forma, e tanto a Helvetica

quanto a Univers pretendiam ser a solução racional para qualquer questão em tipografia.

Para Pereira (2007), equilibrado e funcional, o tipo Helvetica, com a virtude de ser o

mais neutro possível, permite que cada uso torne-o expressivo.

Figura 23: Caracteres Futura (ROCHA, 2004).

A partir dessa época, começaram a surgir tipos que misturavam as características

dos tipos tradicionais romanos com os sem serifa. Segundo Pereira (2007), em 1958 o

designer Hermann Zapf criou o tipo Optima, no qual se percebe uma leve serifa,

combinando a qualidade do romano clássico e a limpeza formal dos tipos sem serifa.

Essa combinação resultou num tipo de singular elegância, e seu desenho dificultou a

distinção entre os tipos com e sem serifa. Com o tempo, esse hibridismo entre os tipos

com e sem serifa formou um grupo numeroso de tipos, que foram batizados como “sem

serifa humanistas”, como veremos a seguir na classificação de tipos apresentada por

Lupton (2013).

Figura 24: Caracteres Optima (ROCHA, 2004)

Page 62: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

62

Também, é importante lembrar-se das fontes desenvolvidas para serem lidas na

tela do computador. De acordo com Lupton (2013), nos primeiros anos da Web, os

designers eram forçados a trabalhar com o estreito conjunto de fontes instaladas nos

computadores. Em 1996, lançadas pela Microsoft, as tipografias Verdana e Georgia

foram especialmente projetadas para a internet e eram uns dos poucos tipos que podiam

ser usados confiavelmente na tela.

Figura 25: Caracteres Verdana (ROCHA, 2004)

Conforme Lupton (2013), a classificação tipográfica surgiu no século XIX,

quando impressores buscaram analogias entre a história da arte e a herança de seu

próprio ofício. A classificação de tipos é capaz de dar uma visão mais ampla do

desenvolvimento dos tipos através da história, de forma a capturar a diversidade das

letras existentes. Lupton (2013) apresenta sete diferentes tipos de letras: humanistas,

transicionais, modernas, egípcias, sem serifas humanistas, sem serifas transicionais e

sem serifas geométricas, exibidas em um quadro-síntese a seguir:

Classificação Características Exemplos

Humanistas Estão intimamente ligadas à caligrafia clássica e

ao movimento da mão.

Garamond Centaur

Transicionais

Possuem serifas mais afiadas e um eixo mais

vertical que as humanistas, com formas precisas

e alto contraste de traços.

Baskerville

Georgia

Modernas

Letras predominantemente verticais, contraste

entre as hastes finas e grossas levado ao

extremo. Serifas finas e retas.

Bodoni Didot

Egípcias ou

SlabSerif

Serifas pesadas e retangulares. Pouco ou

nenhum contraste entre as hastes.

Clarendon Rockwell

Page 63: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

63

Sem serifas

humanistas

Trazem traços da característica caligráfica

humanista, mais orgânicos, porém não possuem

serifas. Gill sans

Sem serifas

transicionais

Traços retos e pouca variação entre eles.

Conhecidas também como sem serifas

anônimas, pela sua “neutralidade”.

Helvetica

Univers Sem serifas

geométricas

Inspiradas em formas geométricas, como o

círculo e a reta. Futura

Quadro 2: Classificação tipográfica, produção própria com base em Lupton (2013) e Pereira (2007).

É importante ressaltar que existem diversos tipos de classificação tipográfica,

baseados em diversas características históricas e no desenho das letras, a classificação

aqui exposta é apenas uma delas. Porém, não é só a respeito do desenho das letras que a

tipografia trata. Aspectos relacionados ao texto e sua formatação também são muito

importantes na construção de uma página bem elaborada.

Para Willberg e Forssman (2007, p.9), “se a composição estiver inadequada,

qualquer um pode fazer com que um bom tipo torne-se ilegível”. Conforme os autores,

para compor textos com legibilidade12

, existem algumas premissas básicas, como a

escolha correta do tipo, o espaço adequado entre as letras, a relação entre as palavras

dentro de uma linha, a proporção entre a distância das palavras e da entrelinha, que

incluem o tamanho da letra, além da proporção entre a largura do texto e a entrelinha.

Conforme Lupton (2013), o ajuste do espaço entre duas letras é chamado

kerning, e é usado quando se precisa corrigir espaços inadequados entre duas letras,

como entre T/a, L/a, que muitas vezes parecem desajeitados. O tracking, ou

espacejamento, é o ajuste do espaço global do texto, entre as palavras, linhas ou bloco

de texto e permite ao designer criar um campo mais arejado.

O entrelinhamento diz respeito a distância de uma linha de texto para outra.

Também chamado de leading, em referência às antigas linhas de impressão em chumbo,

a entrelinha, se expandida, proporciona um bloco de texto mais leve e aberto, porém é

preciso tomar cuidado para que as linhas não se tornem elementos independentes e sem

relação entre si. Por outro lado, uma entrelinha muito apertada pode causar uma colisão

12

“Em tipografia legibilidade é a qualidade dos caracteres de uma família não se confundirem entre si. A

facilidade ou qualidade de leitura de um texto é nomeada como leiturabiliadde (do inglês readability)

palavra inexistente em português mas de uso corrente entre tipógrafos, designers e estudantes de

tipografia” (WILLBERG; FORSSMAN, 2007, p.9).

Page 64: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

64

entre as letras e prejudicar a leitura. Para Lupton (2013), a configuração padrão para a

entrelinha é de 120% do tamanho do tipo, ou seja, um texto composto em 10 pontos,

geralmente terá uma entrelinha de 12 pontos.

Figura 26: Entrelinhamentos, produção própria com base em Lupton (2013).

O alinhamento do texto é outro elemento primordial na composição tipográfica.

Segundo Lupton (2013, p.108), “cada modo de alinhamento carrega qualidades formais,

associações culturais e riscos estéticos únicos”. Desse modo, para a autora, o

alinhamento centralizado é formal e clássico, sendo frequentemente o modo mais

simples e intuitivo para posicionar um elemento. Neste alinhamento, as linhas de texto

têm tamanho desigual sobre um eixo central, conforme imagem abaixo. Já, no

alinhamento justificado, as margens esquerda e direita são regulares, o que, para Lupton

(2013), confere um aspecto limpo à página, otimiza o espaço disponível e por isso é o

mais utilizado para livros e jornais. Porém é preciso ter cuidado para não se criarem

buracos no texto, com linhas de comprimento inadequado ao tamanho do tipo.

Para Lupton (2013), o alinhamento à esquerda, no qual a margem esquerda é

rígida e a direita é flexível, respeita o fluxo orgânico da linguagem e evita o

espaçamento desigual do tipo justificado. O texto alinhado à direita é incomum, pode

ser interessante e uma opção diferente, mas também pode aborrecer os leitores mais

cautelosos. Nesse tipo de alinhamento, a margem direita é rígida enquanto a margem

esquerda é flexível, conforme imagem abaixo.

Page 65: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

65

Figura 27: Tipos de alinhamento, produção própria com base em Lupton (2013).

Outro recurso interessante e amplamente usado em publicações é a tipografia

como recurso visual, ou até mesmo como imagem. Samara (2011b, p.96) afirma que

“transformar tipo em imagem significa definir uma relação simples entre a forma

intrínseca das letras e alguma outra ideia visual”. O autor acredita que esse recurso

amplia o poder de comunicação das palavras, ao dar condições de a tipografia tornar-se

algo a mais do que suas palavras estão dizendo.

Abaixo, resgatei dois exemplos desse uso da tipografia em duas revistas: na

primeira, um projeto de um designer chamado Javi Rivas transforma a tipografia em

armas de fogo na capa da revista Freeworld; na segunda imagem, uma capa da revista

Vogue Portugal, brinca-se com a tipografia em uma edição comemorativa de 100

edições da revista no país.

Figura 28: Capa revista Freeworld, desenvolvida por Javi Rivas. Disponível em:

<http://www.domestika.org/es/projects/69173-editorial-tipografica>. Acesso em 17/10/2014.

Figura 29: Capa revista Vogue Portugal, edição de coleção n.100. Disponível em:

<http://www.vogue.xl.pt/vogue_portugal/arquivo_de_capas/detalhe/2013_09_14_100_fevereiro_de_2011

.html>. Acesso em 17/10/2014.

Page 66: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

66

3.1.2 Grid

Amado por uns, odiado por outros, o grid, também conhecido como malha ou

grelha, divide opiniões em torno de um princípio organizador, que tem a finalidade de

dar ordem e algum sentido às composições visuais. Conforme Samara (2007), para

alguns designers gráficos o grid é sinônimo de precisão, ordem e clareza em seus

trabalhos, para outros ele é símbolo de opressão, de uma prisão sufocante que atrapalha

a busca pela expressão.

De forma mais técnica, para Ambrose e Harris (2009a, p.27),

o grid é o esqueleto básico para a criação de um design. Ele fornece

uma estrutura de referência que guia o posicionamento dos elementos

que formam a anatomia de um projeto, como textos, imagens e

ilustrações [...].

De acordo com Samara (2007), o grid voltado para o design foi criado após a

Revolução Industrial e desenvolveu-se acompanhando as mudanças sociais e

tecnológicas da civilização ocidental. A crescente população urbana e a produção em

massa ofereceram ao design o importante papel de tornar os bens de consumo materiais

desejáveis. Como foi citado no capítulo dois, o Construtivismo Russo, o movimento De

Stijl e a Bauhaus foram movimentos que se apropriaram da nova linguagem visual

oferecida pelo grid e seu sistema de linhas horizontais e verticais em suas composições,

e difundiram a sua utilização.

Conforme Samara (2007), a fusão entre o cubismo e o futurismo gerou o

construtivismo, tido como uma expressão da luta russa por uma nova ordem. Um dos

principais nomes deste movimento, El Lissitski, dedicou-se a um design gráfico de

orientação política, caracterizado pela composição geométrica dinâmica, refletindo os

princípios do grid. A escola alemã Bauhaus recebeu influência do pintor Theo van

Doesburg, do movimento De Stijl, e seu rigoroso dogma geométrico.

A Bauhaus também foi diretamente influenciada por Laszlo Moholy-Nagy,

construtivista húngaro, que ministrou aula na escola e experimentou layouts

assimétricos, fotomontagens e elementos tipográficos que, conforme Samara (2007,

p.16), “expandiram a expressão geométrica do modernismo no design gráfico”. Junto

com o estudante Herbert Bayer, “criaram a base de uma nova tipografia com barras,

fios, quadrados e tipos assimetricamente dispostos num grid” (p.16).

Page 67: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

67

Tschichold, como foi dito também no capítulo dois, influenciado por Lissitski e

pela Bauhaus, divulgou os princípios da tipografia assimétrica na sua obra Elementare

Typographie, e construiu as suas composições num sistema de alinhamento vertical e

horizontal, introduzindo a estrutura de grid hierárquico para ordenar e criar espaços em

seus layouts.

Segundo Samara (2007, p.17), a estética do design europeu foi interrompida na

década de 1930. “Com o nazismo no poder, designers e artistas que usavam a nova

linguagem visual, tachados de degenerados, foram presos ou obrigados a sair do país. A

Bauhaus fechou oficialmente em 1932 [...]”. A Suíça manteve-se afastada dos ataques

nazistas pela sua geografia acidentada e seu forte sistema bancário, em que Zurique e

Basel eram os centros culturais que fomentaram o desenvolvimento do Estilo

Internacional e a exploração e a divulgação de composições geometricamente feitas,

baseadas em um grid, com o foco em uma visualidade universal, cultivando a

objetividade.

Conforme Samara (2007, p.19), em meados dos anos 1960, o grid começou a

dominar o design europeu e americano, como “uma maneira muito eficiente de unificar

os programas de comunicação visual de grandes entidades, eventos ou empresas”. As

empresas estavam convencidas da ideia de aderirem sistemas capazes de organizar sua

imagem pública, e complexos sistemas de grid foram desenvolvidos para assegurar uma

continuidade visual nos mais diversos meios, da embalagem à publicidade, utilizando o

grid como forma de garantir uma uniformidade visual em suas aplicações.

Para Josef Muller Brockmann (1982, p.9), importante expoente do Estilo

Internacional e suas características “grelhas”, acredita que “o uso da grelha como

sistema de ordenação é a expressão duma atitude mental”. Para o autor, trabalhar com o

sistema de grelhas significa submeter-se a leis de validez universal, que implica no

desejo de sistematizar, clarificar, chegar até o essencial, de racionalizar os processos

criativos e técnicos de produção.

De acordo com Samara (2007, p.21), nas últimas quatro décadas o grid passou a

ser visto como uma das várias ferramentas a disposição dos designers. No século 21, o

grid continua presente no design gráfico e a internet aparece como uma mídia que pode

se beneficiar muito dos grids como maneira de simplificar “a atividade vertiginosa de

navegar por informações interativas”.

Page 68: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

68

3.1.2.1 A estrutura do Grid

As partes básicas de um grid são sempre as mesmas, ainda que a sua combinação

dependa das necessidades informativas do conteúdo. De acordo com Samara (2007), a

anatomia do grid é formada por margens, guias horizontais, zonas espaciais,

marcadores, módulos e colunas, onde cada parte desempenha uma função específica.

Figura 30: Anatomia do Grid, produção própria com base em Samara (2007).

Conforme Samara (2007, p.25), “as margens são os espaços negativos entre o

limite do formato e o conteúdo”, elas definem a área ocupada pelos tipos e imagens e

auxiliam na tensão geral da composição, orientando o olho do leitor e também

funcionando como área para informações secundárias. As colunas são definidas por

Samara (2007, p.25) como “alinhamentos verticais que criam divisões horizontais entre

as margens”. A quantidade e a largura das colunas são variáveis, dependendo da

necessidade de informação específica de cada publicação.

Os módulos, conforme o autor, são as unidades individuais separadas por

intervalos regulares, e são eles que geram as colunas e as faixas horizontais. As zonas

espaciais são formadas por agrupamentos de módulos, que formam campos distintos

que desempenham funções específicas na apresentação da informação. Para o autor, as

flowlines, ou guias horizontais, são os alinhamentos que dividem o espaço em faixas

horizontais e ajudam a orientar a leitura, dividindo a página e criando novos pontos de

partida para o texto ou imagens. Os marcadores, são tidos como indicadores de

localização, para elementos como cabeçalho, nomes de seções, ou qualquer elemento

que ocupe sempre a mesma posição na página.

Page 69: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

69

Samara (2007) classifica a estrutura do grid e suas variações entre: grid

retangular, grid de colunas, grid modular e grid hierárquico. O grid retangular, é a

estrutura mais simples, a sua forma básica é uma grande área retangular, que ocupa a

maior parte da página. É indicado para acomodar longos textos, como aparece, por

exemplo, na estrutura de livros, onde o bloco de texto e as margens definem sua posição

na página.

Conforme Samara (2007), no grid de colunas, a informação se organiza em

colunas verticais. Para o autor, este tipo de grid é muito flexível e pode ser usado para

separar diferentes tipos de informação. Já o grid modular é usado para projetos mais

complexos, que dependem de um controle maior do que o grid colunar. Ele é

basicamente um grid de colunas com muitas guias horizontais que subdividem as

colunas, criando uma matriz de células chamadas módulos, nos quais cada módulo

define um pequeno campo de informação e grupos de módulos formam áreas chamadas

zonas espaciais que podem ter funções específicas no projeto.

Quando as exigências visuais e informativas não se encaixam em nenhuma

dessas categorias anteriores, é necessário recorrer ao grid hierárquico. De acordo com

Samara (2007), esses grids se moldam às exigências da informação, baseando-se mais

numa disposição intuitiva dos alinhamentos do que na repetição regular dos intervalos

entre os elementos. A construção desse tipo de grid começa com o estudo da interação

ótica dos elementos em diferentes posições, para então definir uma estrutura

racionalizada para coordená-los. Um bom exemplo de grid hierárquico são as páginas

da internet, que, geralmente, necessitam de uma lógica de organização diferente, que dê

conta de toda a sua carga de informação. Samara (2007, p.29) acredita que esse tipo de

grid “é uma abordagem quase orgânica da ordenação dos elementos e da informação

que ainda unifica arquitetonicamente todas as partes no espaço tipográfico”.

Figura 31: Grid Retangular, Grid de Colunas, Grid Modular e Grid Hierárquico, com base em Samara

(2007).

Page 70: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

70

Para se ter uma visão mais prática e unificada desses conceitos, reuni alguns

exemplos de grids aplicados às revistas, apresentados a seguir:

Figura 32: Exemplo de Grid retangular, página dupla revista Clouds, edição de verão de 2014.

Disponível em: <http://issuu.com/debesys/docs/clouds_summer2014>. Acesso em: 17/10/2014.

Figura 33: Exemplo de Grid de Colunar, página dupla revista Noize, edição de junho de 2012.

Disponível em.:<http://issuu.com/noize/docs/noize54_junho_2012>. Acesso em: 17/10/2014.

Figura 34: Exemplo de Grid Modular, página revista Noize, edição de junho, julho e agosto de 2013.

Disponível em.:<http://issuu.com/noize/docs/noize62_web2>. Acesso em: 17/10/2014.

Page 71: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

71

Figura 35: Exemplo de Grid Hierárquico, página dupla revista Billboard Brasil, edição de maio de 2011.

Disponível em: <http://issuu.com/billboard_brasil/docs/billboard_bb19_kurt>. Acesso em 17/10/2014.

3.1.3 Cor

Com uma abordagem mais voltada para o campo da comunicação e da

Publicidade e Propaganda, o publicitário, professor e pesquisador Modesto Farina, junto

com seus colegas Clotilde Perez e Dorinho Bastos, desenvolvem o livro Psicodinâmica

das cores em Comunicação (2006), no qual estudam as propriedades das cores na

comunicação, e suas relações com os nossos sentimentos, entendendo a influência

cultural em que a cor é inserida e os aspectos puramente fisiológicos por trás da

percepção das cores.

Farina, Perez e Bastos (2006) acreditam que as cores influenciam o ser humano,

de modo que os seus efeitos (psicológicos ou fisiológicos) intervêm nas nossas vidas

com a sua capacidade de criar alegria ou tristeza, exaltação ou depressão, atividade ou

passividade, calor ou frio, equilíbrio ou desequilibro, e assim por diante. Os autores

acreditam que isso acontece porque as cores podem produzir impressões, sensações e

reflexos sensoriais, pois cada cor tem uma vibração determinada em nossos sentidos.

As cores, por meio de nossos olhos e cérebros, fazem penetrar no

corpo físico uma variedade de ondas com diferentes potências que

atuam sobre os centros nervosos e suas ramificações e que modificam,

não somente o curso das funções orgânicas, mas também nossas

atividades sensoriais, emocionais e afetivas (FARINA; PEREZ;

BASTOS, 2006, p. 2).

Page 72: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

72

Conforme eles, “o impacto que a cor já traz implícito em si, de eficácia

indiscutível, não pode, entretanto, ser analisado arbitrariamente pela mera sensação

estética. Ele está intimamente ligado ao uso que se fará do elemento cor” (FARINA;

PEREZ; BASTOS, 2006, p.13).

Conforme o campo de aplicação, as exigências a serem exploradas pela cor vão

variar. Por exemplo, a abordagem de uma sinalização de trânsito das cores será uma, já

na decoração de interiores, outra; nos meios de comunicação, haverá outro uso das

cores, que é diferente também na moda e em tantos outros campos de conhecimento. De

acordo com os autores, isso acontece porque cada um desses campos utiliza uma

linguagem específica para explicitar seus pontos de vista e chegar aos seus objetivos.

Dessa forma, os autores acreditam que o estudo da cor seja uma necessidade nos cursos

voltados à comunicação e à comunicação visual.

Sobre o indivíduo que recebe a comunicação visual, a cor exerce uma

ação tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A

cor é vista: impressiona a retina. E sentida: provoca uma emoção. E é

construtiva, pois, tendo um significado próprio, tem valor de símbolo

e capacidade, portanto, de construir uma linguagem própria que

comunique uma ideia. (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p.13,

grifos do original).

Para Farina, Perez e Bastos (2006), a cor é uma linguagem individual, e seu

valor de expressividade a torna um elemento importante na transmissão de ideias. Os

autores destacam o fato de a cor não ter fronteiras espaciais ou temporais, isto é, seu

impacto não sofre com as barreiras impostas pela língua, e sua mensagem pode ser

compreendida até por analfabetos se manejada de forma correta.

De acordo com Farina, Perez e Bastos (2006), quem recebe os estímulos das

cores reage de acordo com as condições físicas em que ela está inserida, e é

influenciado pelo meio em que vive, sua cultura, educação, temperamento e idade,

regidos pelo peso psicológico e cultural na preferência de uma ou outra cor. Embora a

estrutura dos sentidos humanos seja igual em todas as pessoas, sempre há uma

diferenciação biológica entre todos, além da diferenciação cultural, que, para os autores,

leva a graus de sensibilidade desiguais, resultando em efeitos de sentido distintos em

cada pessoa.

Farina, Perez e Bastos (2006) explicam que, ainda que a reação do indivíduo a

cor seja particular e mude de pessoa para pessoa, existem alguns psicólogos e agentes

culturais que admitem a sistematização e a atribuição de significados a determinadas

Page 73: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

73

cores básicas para qualquer indivíduo que viva dentro da nossa cultura. Os autores

expõem o que os pesquisadores estabelecem a respeito do significado psicológico das

cores, dividas em sensações acromáticas13

(branco, preto e cinza) e sensações

cromáticas.

Conforme Farina, Perez e Bastos (2006), o branco representa a neutralidade,

pureza, limpeza, liberdade, paz. “Se para os ocidentais representa a vida e o bem, para

os orientais é a morte, o fim, o nada” (p.97), o que reflete a subjetividade cultural do uso

das cores. No campo do design, Ambrose e Harris (2009b) acreditam que o branco é um

elemento essencial dos layouts, porque ajuda o olho a navegar entre os diversos

componentes do design, de modo que o uso de grandes quantidades de espaço em

branco proporciona sofisticação e contundência a um design.

Já o preto, de acordo com Farina, Perez e Bastos (2006), está associado à morte,

destruição, temor e em algumas situações é signo de sofisticação e requinte, sendo

expressivo e angustiante ao mesmo tempo, podendo ter conotação de nobreza, seriedade

e elegância. Para os designers Ambrose e Harris (2009b), o preto é conservador e sério,

mas também sensual, sofisticado e elegante. Segundo os autores, o preto quando usado

com branco ou amarelo “oferece maior contraste do que qualquer combinação de cores,

sendo assim uma das mais poderosas. O preto funciona bem com quase todas as outras

cores, exceto as muito escuras” (p. 128).

Para Farina, Perez e Bastos (2006), a cor cinza, obtida pela mistura de branco e

preto, simboliza uma posição intermediária entre luz e sombra, e é considerada uma cor

neutra pois não interfere se usada junto as outras cores em geral. Representa resignação

e neutralidade e eventualmente pode determinar maturidade.

A seguir, construí um quadro para sintetizar as principais propriedades

psicológicas e associações mentais das cores, assim como algumas particularidades

associadas ao seu significado e uso no design, com base em Farina, Perez e Bastos

(2006), e Ambrose e Harris (2009b).

13

O preto e o branco não são considerados cores, isso porque “o branco e o preto não existem no espectro

solar. A cor branca é a síntese aditiva de todas as cores, e a cor preta, o resultado da síntese subtrativa,

isto é, a superposição de pigmentos coloridos”. (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p.63).

Page 74: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

74

Cor Associação Psicológica/Representação Associação no Design

Remete a energia e fluxo (sangue), além de

possuir grande potência de calor, aumenta a

tensão muscular e a pressão sanguínea. Também

pode remeter à proibição e à revolução.

Pode ser usado para direcionar a atenção

do leitor a aspectos específicos de um

design, porém é uma cor exigente que se

usada em grandes blocos de textos ou

fundos brancos gera uma leitura

cansativa.

É considerado sinônimo de energia, alegria,

luminosidade e calor. Possui diferentes

conotações culturais, por exemplo, para os

budistas essa cor significa iluminação e representa

o grau supremo de perfeição.

É uma das cores mais quentes,

extrovertida, lúdica e chamativa,

especialmente atraente para adolescentes

e crianças. Também É uma cor muito

utilizada em embalagens e propagandas

de comida por estimular o apetite.

Remete à alegria, espontaneidade, ação,

dinamismo e impulsividade. Pode representar

diversos estados emocionais, quando os amarelos

mais claros se associam a vitalidade e felicidade,

enquanto os mais esverdeados se relacionam com

o conceito de enfermidades e náuseas.

Em contraste com uma cor mais quente

adquire uma luminosidade maior e

chama muito mais atenção.

Está ligada à terra, melancolia, resistência e vigor.

É uma cor bastante associada ao mundo natural e

materiais orgânicos.

É uma cor sólida e confiável que passa a

impressão de calor e bondade natural.

É a cor dos oceanos e do céu, e possui conotações

de vitalidade, calma e relaxamento pela sua

associação com a água. Essa cor é percebida

universalmente como fria e purificadora.

Azuis mais escuros passam a ideia de

estabilidade, segurança, confiança e por

isso são muito usados como cores

corporativas, azuis mais claros sugerem

qualidades mais jovens e serenas.

Contém a dualidade do impulso ativo e a

tendência ao descanso e relaxamento, por ser um

sedativo que dilata os vasos capilares e reduz a

pressão sanguínea, acalmando dores e tensões.

Nas páginas, é uma cor harmônica e

estável, que geralmente proporciona uma

leitura agradável. O verde denota bem-

estar, natureza e meio ambiente, e

representa saúde, vida e recomeços.

É vista como a cor da realeza, sendo uma

combinação dos tons quentes do vermelho com os

frios do azul. É uma cor autoritária, com

denotações de espiritualidade, nobreza e

cerimônia.

Em tons escuros remetem a luxo e

prosperidade, em tons mais claros, essa

cor se associa a primavera e romance.

Quadro 3: Propriedades das cores, produzido com base em Farina, Perez e Bastos (2006) e Ambrose e

Harris (2009b).

Page 75: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

75

3.1.3.1 Cores são sensações

De acordo com Israel Pedrosa (2008), artista plástico e pesquisador da cor, a cor

não tem existência material, o que vemos é uma sensação provocada pela luz sobre os

nossos olhos, o que significa que a coloração dos objetos que enxergamos varia de

acordo com a luz a que estão expostos. De forma mais direta, a luz estimula nossos

sentidos através dos olhos, e gera sensações chamadas de cores. Conforme Pedrosa

(2008), percebemos as cores quando os raios de luz atravessam nossa pupila e atingem o

córtex, a parte posterior do nosso cérebro, onde é processada a sensação cromática.

Figura 36: Percepção cromática (PEDROSA, 2008, p.19).

Segundo Pedrosa (2009), os efeitos luminosos que formam as cores se dividem

em três grupos, que embora compartilhem a luz como origem comum, são estímulos de

espécies diferentes. Conforme o autor, as cores-luz primárias, como o próprio nome

diz, iluminam as nossas vidas, e advém de fontes luminosas diretas como o sol, a luz de

uma vela ou mesmo de lâmpadas. Essa tríade de cores é formada pelo vermelho, verde e

azul, e se somadas produzem o branco, na chamada síntese aditiva. As cores-pigmento

opacas primárias, são produzidas pela absorção ou refração dos raios de luz que

incidem em uma superfície material e, são formadas pelo vermelho, amarelo e azul, que

somadas formam o preto, no processo conhecido como síntese subtrativa.

As cores-pigmento transparentes primárias, de acordo com Pedrosa (2009), são

produzidas pela propriedade de filtrar os raios da luz, através dos efeitos de absorção,

reflexão e transparência em alguns materiais, como nos filmes fotográficos, no processo

de impressão gráfica e em processos que as imagens sejam produzidas a partir de pontos

ou retículas.

Page 76: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

76

Figura 37: cores-luz primárias, cores-pigmento opacas primárias, cores-pigmento transparentes

primárias. (PEDROSA, 2008, p. 29)

De acordo com Ambrose e Harris (2009b), as cores secundárias derivam da

combinação de quaisquer duas cores primárias na mesma proporção. A seguir é

ilustrado o círculo cromático, uma representação circular do espectro cromático, que

ajuda a explicar a relação entre as cores e serve de guia rápido sobre as matizes14

de cor

que pode auxiliar a escolha correta de esquemas cromáticos pelos designers.

O círculo cromático também oferece valiosas seleções e combinações de cores

que podem ajudar na composição de layouts harmônicos e bem estruturados. Ambrose e

Harris (2009b) sintetizam algumas dessas seleções do círculo (imagem abaixo). Entre

elas, estão as cores complementares, que são aquelas posicionadas em lados opostos do

círculo, elas permitem um forte contraste e produzem em um design mais vibrante

quando combinadas. De acordo com Ambrose e Harris (2009b), outra possível seleção é

de cores análogas, que são três cores dispostas lado a lado no círculo, as análogas são

as duas cores em ambos os lados da cor principal selecionada. Esse tipo de esquema

permite uma mistura harmônica e natural das cores. Estas duas combinações são apenas

dois exemplos de muitas possibilidades que o círculo oferece.

Figura 38: Círculo cromático, cores complementares e cores análogas.

14

“Matiz ou cor, se refere à característica única que nos ajuda a diferenciar visualmente uma cor da outra.

São formados pelos diferentes comprimentos de ondas” (AMBROSE; HARRIS, 2009b, p.18).

Page 77: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

77

Outro fator importante nesta discussão sobre cores é a combinação e a

harmonização entre elas. Pedrosa (2008) explica que as cores sofrem alteração na sua

aparência quando são expostas à presença de outras, o que influencia a composição

visual. O autor observa e exemplifica esse fenômeno em uma ilustração de justaposição

de cores reproduzida abaixo:

Figura 39: Combinação entre cores (PEDROSA 2008, p. 133).

Conforme Pedrosa (2008), é possível observar nesta ilustração exemplos de

variações das cores quando são expostas às outras. O primeiro par de círculos, mostra o

mesmo laranja aplicado a um fundo vermelho, no qual parece mais amarelado, do que

sobre o círculo amarelo. No segundo par, o violeta é sobreposto em um círculo

vermelho e um azul, em que notadamente parece mais azulado e escuro no primeiro

caso, e mais claro no segundo. O último par de cores mostra o verde tornando-se mais

amarelo no fundo azul e mais azulado sobre o amarelo.

Farina, Perez e Bastos (2006) acreditam que a combinação cromática é capaz de

potencializar os efeitos de sentido em determinadas composições. Para eles, a

integração entre cores pode acontecer pela proximidade, como rosa e vermelho, o que

remete às cores análogas, ou por contrastes bem definidos com cores altamente distintas

como verde e rosa, e as cores complementares.

Ambrose e Harris (2009b) explicam como funcionam as cores aplicadas no

design. Conforme os autores, existem diversos sistemas cromáticos com os quais os

designers podem trabalhar. Os dois sistemas mais conhecidos são o CMYK (ciano,

magenta, amarelo e preto), usado para publicações impressas, e o RGB (vermelho,

verde e azul), usado para publicações digitais.

Page 78: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

78

Estes sistemas correspondem às cores primárias que combinadas produzem uma

enorme gama de cores. No processo CMYK, é possível imprimir quase todas as cores,

que são formadas a partir do percentual de tinta de cada cor, no processo de impressão

chamado quadricromia. O sistema RGB reproduz a cor em telas, e é correspondente as

cores aditivas primárias.

Figura 40: Sistemas de cores.

3.1.4 Imagem

Como foi visto no capítulo dois, as imagens foram fundamentais para

impulsionar o desenvolvimento e a popularização das publicações impressas,

principalmente das revistas e jornais, com o poder de chamar a atenção para si e

transportar o leitor a lugares antes nunca vistos. Ambrose e Harris (2009c) acreditam

que as imagens são os elementos gráficos que dão vida ao design.

Para Martine Joly (1999), professora francesa e pesquisadora de imagens e

comunicação, é possível considerar uma imagem como uma mensagem visual que

equivale a uma linguagem, sendo assim uma ferramenta de expressão e comunicação.

Dessa forma, a autora admite que uma imagem sempre constitui uma mensagem que se

dirige a alguém, a qual precisa levar em consideração seu destinatário e sua função.

Mais do que uma mensagem visual, para a autora, as imagens podem ampliar sua

função, tomando a dimensão de instrumento de conhecimento, uma vez que é capaz de

fornecer informações sobre os objetos, lugares ou pessoas, nas suas mais variadas

formas de representação, como ilustração, fotografia, painéis e muitas outras.

Além disso, Joly (1999) acredita que uma imagem é um instrumento de

conhecimento porque serve para ver o mundo e interpretá-lo. Joly (1999) cita o teórico

de arte Ernst Gombrich (1971), que afirma que uma imagem não é uma reprodução da

realidade, “mas o resultado de um longo processo, durante o qual, foram utilizados

alternadamente representações esquemáticas e correções” (GOMBRICH apud JOLY,

1999, p.60).

Page 79: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

79

Porém, o mais importante da discussão desses autores é a compreensão de que a

relação entre a representação visual e o campo artístico atribui um valor particular às

imagens, dentre os diversos instrumentos de comunicação. Deste modo, os instrumentos

plásticos de uma imagem tornam-na um meio de comunicação vinculado ao prazer

estético, que estimula no espectador um tipo de percepção da informação diferente dos

estímulos que as mensagens verbais produzem.

Acredito que aí esteja a chave para compreender o porquê das imagens serem

elementos tão decisivos na captura e encantamento dos leitores em projetos que se

utilizam desse elemento compositivo. O objeto aqui em estudo, a revista Zupi, como

será visto no próximo capítulo, tem uma composição baseada em imagens e estruturada

a partir delas, de forma que as imagens são o foco principal do projeto gráfico e

editorial da publicação.

Para Ambrose e Harris (2009c), as imagens podem ter diferentes significados,

que normalmente vêm da cultura em que o sujeito está inserido. Por isso, os designers

utilizam-se de diferentes métodos para comunicar suas ideias através das imagens, para

que interpretações indesejadas não aconteçam, já que, geralmente, as imagens têm

pouco tempo para transmitir sua mensagem.

Segundo Ambrose e Harris (2009c), o significado das imagens relaciona-se com

seu tema, com o contexto no qual está inserida e também com os objetos que a cercam.

Os autores acreditam que a maneira pela qual interpretamos uma imagem pode ser

modificada devido a forma de apresentação dela e influenciada por experiências

passadas, de modo que imagens podem adquirir significados denotativos15

ou

conotativos.16

No design editorial, os tipos mais comuns de imagens são as fotografias e as

ilustrações. Ali (2009, p.165) acredita que, em revistas, as “imagens emocionam,

seduzem, despertam a imaginação, conduzem a leitura do texto e fixam na mente algo

memorável”. Para a autora, as fotografias combinadas com palavras são imbatíveis em

termos de comunicação; além de um recurso estético, são um componente básico do que

15

“Interpretação denotativa quer dizer significar algo por meio de um signo visível. Por exemplo, “carro”

é um denotativo que associamos a um veículo de transporte de quatro rodas. Do mesmo modo, a imagem

de um carro pode denotar ‘transporte’”. (AMBROSE; HARRIS, 2009c, p.70). 16

“Muitas imagens têm significados cognitivos que vão além de suas interpretações denotativas. A

cognição se refere ao que percebemos, aprendemos e raciocinamos. Uma imagem de uma casa denota um

lar, um lugar para se viver, mas o lar tem outras conotações, como família, segurança, amor”

(AMBROSE; HARRIS, 2009c, p.70).

Page 80: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

80

caracteriza uma revista. Além disso, as imagens desempenham a importante função de

despertar a curiosidade do leitor para o texto.

Scalzo (2011) acredita que é a fotografia que prende a atenção do leitor, pela sua

capacidade de provocar emoções que convidam os leitores a mergulhar em determinado

assunto. Além disso, a autora afirma que as fotos devem excitar, entreter, surpreender,

informar e comunicar ideias. Dessa forma, Scalzo considera que fotos e revistas tenham

nascido uma para a outra, que desde o lançamento das primeiras revistas ilustradas elas

nunca mais se separaram, o que evidencia a importância das imagens neste tipo de

publicação. Conforme Gruszynski e Calza (2013), a foto está historicamente relacionada

à noção de credibilidade e confiança, o que a torna singular em relação a outros tipos de

imagens.

Há publicações que marcaram historicamente pelo uso de imagens e pela

expressividade que elas foram capazes de gerar, como é o caso da clássica capa da

revista Rolling Stone em que John Lennon e sua mulher, Yoko Ono, aparecem em foto

tirada na manhã do dia em que ele foi assassinado. A capa deixou de lado as chamadas

para as matérias da revista, dando vazão à expressividade da foto, utilizando-a apenas

com a logomarca da publicação.

Figura 41: capa da revista Rolling Stone de janeiro de 1982. (ALI, 2009).

As ilustrações, conforme a Ali (2009), entram em cena quando é necessário dar

uma informação que não seria possível com o uso de fotografias. O importante é que o

ilustrador saiba adequar seu trabalho ao tema da revista para que a ilustração funcione.

Ambrose e Harris (2009c) afirmam que a ilustração é capaz de ir além dos limites

Page 81: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

81

físicos de um objeto fotografado, transmitindo emoções e esclarecendo ideias que a foto

não consegue.

Para Gruszynski e Calza (2013), as ilustrações são caracterizadas pelo seu

caráter autoral, que é fruto da interpretação do gesto e da técnica, podendo ser

analógicas, digitais, ou híbridas, em que se utilizam diferentes técnicas como a

fotomontagem, a colagem, a justaposição e a sobreposição. De acordo com Ambrose e

Harris (2009c), a fotomontagem é uma técnica que combina diferentes imagens a fim de

criar uma composição, e podem ser usadas para agrupar elementos diversos que não

existiriam naturalmente. Conforme os autores, a justaposição é a disposição de imagens

contrastantes lado a lado, que pode ser um recurso visual forte, capaz de fazer as

imagens comunicarem sem texto.

Page 82: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

82

4 ZUPI: ABASTEÇA COM IDEIAS17

Neste capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos deste

trabalho, além de uma breve contextualização sobre a revista Zupi, seus concorrentes e

classificação de acordo com Ali (2009). Também será exposto o conceito de análise

gráfica e realizada a análise da revista, cuja concepção inspirou-se na semiótica plástica,

a partir de Jean-Maire Floch (2001), na qual os seus elementos compositivos e a forma

pela qual eles se relacionam foram dissecados para definir a estrutura visual da revista.

4.1 Procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos utilizados para a realização deste trabalho

partiram de pesquisa bibliográfica, definida por Gil (2008) como a pesquisa

desenvolvida a partir de material já elaborado, como livros e artigos científicos, que

permite ao pesquisador investigar uma ampla gama de fenômenos. Outra adotada para

esta pesquisa, como elemento de apoio à análise, é a entrevista, que, conforme Gil

(2008), é uma forma de interação social em que uma das partes busca coletar dados e a

outra se porta como fonte de informação. Para isso foram realizadas duas entrevistas

estruturadas com perguntas e respostas com Allan Szacher, idealizador e editor da

revista Zupi. De acordo com Gil (2008), este tipo de entrevista distingue-se da simples

conversação por ter um objetivo de coleta de dados específico, e permite ao pesquisador

uma visão aproximativa do problema pesquisado.

Para tal procedimento, foi realizado um primeiro contato via e-mail com a

redação da revista para verificar a possibilidade de entrevistar o responsável pela revista

impressa. Em poucos dias, obtive a resposta positiva do próprio idealizador da

publicação, que preferiu realizar as entrevistas via telefone, por ser mais rápido e

prático, já que sua agenda de compromissos é apertada. Dessa forma, as entrevistas

realizadas foram divididas em dois momentos. A primeira entrevista (Apêndice B) foi

feita antes da análise das edições selecionadas, e consistiu-se numa primeira sondagem

sobre a concepção da revista, a forma como foi planejada, a fim de entender sua

17

Slogan da revista.

Page 83: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

83

história, objetivos, inserção no mercado e lógica de funcionamento. A segunda

entrevista (Apêndice C) foi realizada após a análise das edições selecionadas e teve um

objetivo mais técnico e pontual, com perguntas relativas aos elementos compositivos e à

estrutura da revista, a partir de dúvidas surgidas durante a análise.

Para estruturar a análise dos elementos compositivos da revista, os

procedimentos metodológicos foram inspirados na abordagem da semiótica plástica,

que distingue dois planos principais em dada linguagem: o plano da expressão e o plano

do conteúdo. Dessa forma, esta pesquisa volta-se para o plano da expressão, que se

refere primordialmente à estrutura da revista e o que ela é capaz de exprimir sobre a

publicação em análise.

Para a semiótica, o sentido resulta da reunião, na fala, na escrita, no

gesto ou no desenho, de dois planos que toda linguagem possui: o

plano da expressão e o plano do conteúdo. O plano da expressão é o

plano onde as qualidades sensíveis que possui uma linguagem para se

manifestar são selecionadas e articuladas [...] O plano do conteúdo é o

plano onde a significação nasce [...]." (FLOCH, 2001, p. 09).

Deste modo, articulamos as considerações de Villas-Boas (2009) sobre análise

gráfica (ver seção 4.3), na qual a operacionalização analítica ocorre por meio da

distinção de elementos técnicos e estéticos, e a perspectiva da semiótica plástica que

distingue estes dois planos principais expostos acima. Neste sentido, deixamos de lado

considerações específicas sobre o conteúdo da publicação (os sentidos que quer

exprimir, o discurso que a associação entre palavra e imagem pode evocar) e voltamo-

nos para a dimensão “estrutural” da publicação, aqui reunidos nos quatro elementos que

consideramos essenciais para esta análise: tipografia, grid, cor e imagem.

Foi realizada uma pré-análise envolvendo 12 edições aleatórias da revista. Desta

pré-análise foram selecionadas as três edições a serem analisadas, que transitam entre os

primeiros números da revista, metade e últimos. A partir disso foram selecionadas três

seções a serem analisadas, seções estas que foram mais presentes, significativas e

diferentes entre si nas edições selecionadas. A partir disso, foi realizada a análise,

exposta na seção 4.4 do trabalho, que trouxe reflexões e resultados em torno da

problemática da pesquisa, cujos resultados são discutidos na seção 4.5 do trabalho.

Page 84: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

84

4.2 A revista Zupi

A revista Zupi é editada em São Paulo, por um estúdio que recebe o mesmo

nome, o Zupi Design. Conforme o site da revista, o termo Zupi é empregado para

designar velocidade e mudança, unindo os determinativos ‘zip’ e ‘zap’ ao ‘yupi’, que

remete a magia dos cartuns e demonstra alegria em desenvolver a revista.

O estúdio Zupi Design nasceu em São Paulo, em março de 2001. Em 2002, com

a intenção de divulgar e fomentar o design brasileiro criando um espaço para novos

artistas nacionais e internacionais foi criado o portal Zupi (www.zupi.com.br), que

inseriu-se no mercado como uma revista eletrônica de arte contemporânea, com

atualização diária, que recebe em média 30 mil vistas por mês. Em março de 2005 foi

lançada uma coletânea chamada “ZupiisArt”, primeira publicação impressa realizada

pela Zupi, que consistia na compilação de 40 trabalhos não comerciais de artistas e

designers de todo o mundo, feitos especialmente para este projeto, que fazia parte da

comemoração de três anos de vida do portal.

Em outubro do mesmo ano, foi realizado o primeiro Pixel Show, conferência de

arte e design criada pela Zupi. O Pixel Show, conforme Allan Szacher, é hoje a maior

conferência de arte contemporânea da América Latina, que reúne diversas palestras e

artistas, tendo um público maior a cada ano.

A Zupi impressa, objeto de estudo desta pesquisa, chegou ao mercado em maio

de 2006, foi a primeira revista de design experimental brasileira, trazendo para o país

uma produção de qualidade editorial e gráfica antes só vistas no exterior. Conforme

explica o idealizador da revista Allan Szacher, em entrevista para este trabalho, essa

lógica inversa de mídias (digital-impresso) aconteceu pelo alto custo de produção que

uma revista impressa depende em nosso país, ainda mais se tratando de um grupo

editorial desvinculado dos grandes conglomerados editoriais do país, que trabalha de

forma independente e com uma equipe reduzida.

E, foi com o objetivo de incentivar, registrar e difundir trabalhos autorais de

artistas de todo o mundo, e de funcionar como um portfólio ideias, reunindo o que há de

melhor em termos de arte, design, ideias e criatividade, que a Zupi ganhou seus leitores

em todo o país e posteriormente no mundo todo. A Zupi, ao longo dos oito anos que

está no mercado editorial brasileiro se consolidou como uma publicação independente,

Page 85: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

85

completamente voltada para a arte, artistas e seus projetos, oferecendo um banquete de

ideias e inspiração aos seus leitores.

Segundo Allan Szacher, foi na terceira edição da revista impressa que ela

começou a ser editada em três línguas, português e inglês nas páginas editoriais, e

espanhol nas páginas traduzidas ao final de cada edição, além de ser exportada para

vinte e dois países. Isso reflete uma abordagem globalizada da publicação, até mesmo

pela sua rede de contatos de artistas de todo o canto do mundo, que enviam em média

dois mil trabalhos por edição, na tentativa de expor sua arte na Zupi.

Entre as últimas novidades da Zupi está o lançamento da Zupi para iPad, em

outubro do ano passado que também está em processo de implementação para iPhone e

assinatura digital, previstos para o final deste ano, conforme Allan.

Ali (2009) classifica as revistas em três grandes grupos: revistas de consumo,

revistas profissionais e revistas de empresas e organizações, sendo que estes três grupos

que se dividem em outros grupos menores. As revistas de consumo são classificadas

em: de interesse geral, segmentadas por público e segmentadas por interesse, na qual se

encaixa a revista Zupi, objeto de estudo deste trabalho. As revistas profissionais se

dirigem a profissões específicas, como médicos, advogados, entre outros. Já as revistas

de empresas e organizações se subdividem em revistas customizadas, revistas

institucionais e revistas de associações.

As revistas segmentadas por interesse, como é o caso da revista Zupi, focam em

um tema específico, e consequentemente ocupam um nicho específico do mercado, se

direcionando a leitores bem definidos e se adequando as suas necessidades. No média

kit18

disponibilizado pela empresa, é evidente o perfil dos leitores da revista, no qual

81% dos leitores possuem entre 15 e 30 anos, na sua grande maioria possuem

escolaridade superior, no qual 93% dos leitores possuem ensino superior completo ou

pós graduação, ou especialização, ou mestrado, ou ensino superior incompleto. Estes

dados demonstram que a maioria maçante dos leitores da revista tem relação

profissional ou acadêmica com a publicação, e alto grau de instrução, já tendo

familiaridade com os temas abordados pela revista.

A Zupi, em seu site, deixa clara a sua delimitação em ser uma publicação

dedicada a arte, design e criatividade, se voltando para artistas, designers, ilustradores,

diretores de arte, fotógrafos, estilistas, web designers, artistas de rua, grafiteiros,

18

Disponível no Anexo C.

Page 86: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

86

arquitetos, designers de produto, decoradores, paisagistas, motion designers,

publicitários e criativos em geral, de modo que seu público leitor é diversificado, mas

com o foco em temas comuns, que, na sua grande maioria, utilizam a Zupi como fonte

de inspiração para seus projetos.

Há outras publicações voltadas para design e criatividade em funcionamento

atualmente no Brasil, entre elas se destacam a revista ABC Design, e Computer and Arts

Brasil, ambas editadas em São Paulo e com o foco na publicação de informações sobre

design. Porém estas publicações se diferem da Zupi no recorte de suas pautas. As

revistas ABC Design e Computer and Arts Brasil geralmente trazem aos seus leitores

tutoriais de como fazer boas escolhas de composição para designers gráficos, entrevistas

com profissionais da área, dicas de manuseio de softwares de edição gráfica como

Photoshop e Illustrator e, ainda que reservem um espaço voltado para a publicação de

trabalhos dos seus leitores, este não é o foco das publicações, que trazem longos textos e

reportagens. O diferencial da Zupi está em ser uma revista voltada para a arte e

trabalhos artísticos individuais, com textos compactos e total ênfase a carga visual que

os trabalhos publicados carregam, como será possível observar na próxima seção deste

trabalho, dedicada a sua análise.

A partir de uma análise prévia com doze edições diferentes da revista, é visível a

abordagem temática bem específica, voltada para o campo das artes visuais e design.

Entre as seções mais decorrentes da revista encontram-se: Carne Fresca, Portfólio,

Artista Convidado, Galeria, Ambiente, Bate-Papo, Inspiração, Livros, Perfil, Road Trip

e Bloody Cool. A seção Carne fresca é responsável por apresentar e dar espaço a novos

artistas com potencial que estão surgindo no cenário artístico, tanto internacional quanto

nacionais. A seção Portfólio também apresenta artistas e seus trabalhos, em forma de

entrevistas com perguntas e respostas e muita imagem. A seção Artista Convidado tem

a mesma lógica de funcionamento, na qual artistas são entrevistados sobre suas

influencias, estilo de vida e técnicas por trás de seus trabalhos.

Na seção Galeria, é onde fica o espaço para expor os trabalhos oriundos de

colaboração, pra todos os artistas, designers e amantes de arte que queriam mostrar suas

criações. Na seção ambiente geralmente são escolhidos lugares relacionados a

criatividade e criação, como agências de publicidade, e escritórios de design. Nesta

seção, a equipe editorial da Zupi redige uma matéria sobre o local, o que o espaço

oferece em termos de ambiente de trabalho e decoração. Na seção Bate-Papo, como o

nome já diz, artistas são convidados para conversar com a Zupi, sobre seus trabalhos,

Page 87: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

87

características, inspiração, planos de carreira e assuntos relacionados. Na seção

inspiração, geralmente são publicados textos e imagens de artistas sobre formas de

buscar inspiração para seus trabalhos e assuntos afins. Na seção Livros, o editor da Zupi

seleciona publicações relacionadas ao mundo da arte que estejam em voga no momento

como dica de leitura. Em Perfil, são publicadas entrevistas com artistas, numa lógica

parecida às seções Bate-Papo e Artista Convidado. Em Road Trip, são mostrados

diferentes lugares do mundo, a partir do olhar de fotógrafos que contam suas

experiências combinando suas imagens com entrevista. A seção Bloody Cool é redigida

pela equipe editorial da revista, e assim como outras seções apresenta artistas e seus

trabalhos, com muita imagem e textos compactos.

4.3. Definição de Análise Gráfica

Para compreender o conceito de análise gráfica e suas propriedades, recorri ao

designer e pesquisador André Villas-Boas. O autor ressalta em seu artigo intitulado

Sobre Análise Gráfica, ou algumas estratégias didáticas para a difusão de um design

crítico, de 2009, a importância da disciplina de Análise Gráfica no desenvolvimento da

capacidade crítica dos alunos e futuros profissionais. O autor define análise gráfica

como “a prática da análise crítica de projetos de programação visual no que se refere às

soluções adotadas na organização de seus elementos visuais, ou seja, no seu layout”

(VILLAS-BOAS, 2009, p.4). Esta análise refere-se desde ao formato e mancha gráfica

da página até a estrutura organizacional e relação interna entre os seus elementos, o que

remete ao enfoque gestaltiano; embora os elementos sejam observados separadamente,

eles compõem um arranjo único, uma composição que é lida como um todo.

De acordo com o autor, a análise gráfica permite ao estudante exercitar a sua

autocrítica, ainda que o objeto analisado não seja de sua autoria. Isso acontece pelo fato

de o aluno poder esmiuçar soluções de layout que podem se contrapor às suas propostas

e concepções, de modo que a análise gráfica torna-se fundamental no desenvolvimento

de uma cultura projetual pelo estudante.

Villas-Boas (2009), a fim de sistematizar a análise gráfica, distingue os

elementos que compõem o layout em elementos estético-formais e elementos técnico-

formais. Na primeira categoria, o autor usa o termo estético para indicar o que o

Page 88: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

88

observador leigo efetivamente vê, incluindo imagens, letras, cores, gráficos, etc., e o

termo técnico para designar os aspectos que o observador comum não vê, como

harmonia, movimento, hierarquia, centramento, eixo, entre outros. Dessa forma, os

elementos técnico-formais referem-se à organização geral dos elementos estético-

formais no projeto, mas não aos elementos em si mesmos. Já os elementos estético-

formais são o que o autor chama de elementos visuais. É necessário ressaltar, entretanto,

que o autor não vê tais categorias como um método de análise, e sim como uma

sistematização para organizar o raciocínio dos estudantes.

4.4. Análise gráfica da revista Zupi

A análise da revista partiu da definição das edições que compuseram o corpus da

pesquisa, assim delimitado: edições #1 (reedição especial lançada em 2008), #23 (de

junho de 2011) e #42 (de agosto de 2014), de forma que esta amostra representasse o

início, a metade e o estágio atual das edições publicadas, a fim de observar possíveis

mudanças e adequações no projeto gráfico ao longo da existência da revista. Os

exemplares foram analisados a partir dos elementos estudados neste trabalho: tipografia,

grid, cor e imagem. Para observar a utilização destes itens pela revista, foram

selecionadas três seções da publicação, a partir de uma análise prévia com doze edições

da revista, que foram elencadas as seções que mais se repetem. Dessa forma foram

elencadas as três principais seções publicadas com mais frequência pela revista, sendo

elas: artista convidado, galeria e bloody cool, havendo uma exceção na análise da

seção bloody cool, que não está presente na 1ª edição da revista; para a análise, ela foi

substituída pela seção portfólio, considerada similar na abordagem, em que artistas são

apresentados ao público com textos produzidos pela equipe editorial da Zupi.

Tais seções foram escolhidas para análise com a intenção de observar diferentes

composições ao longo das páginas da revista sucintamente: a seção artista convidado

estrutura seus textos com perguntas e respostas, a galeria é composta apenas por

imagens, e a bloody cool, ou portfólio no caso da #1, são matérias produzidas pela

equipe editorial.

A seção artista convidado é o espaço dedicado a entrevistas com diferentes

artistas convidados pela Zupi para falar sobre seus trabalhos, influências, técnicas

Page 89: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

89

utilizadas e assuntos relacionados. Esta seção é estruturada com base em perguntas e

respostas ao artista convidado, combinadas com grandes imagens, que apresentam e dão

destaque a obra de cada artista.

A seção galeria foi escolhida para análise por se tratar de uma das maiores

seções da publicação, presente em todas as edições da revista, sendo primordial no

projeto editorial da Zupi. A galeria é um espaço colaborativo destinado a exibir

criações artísticas de qualidade, na qual artistas de todo o mundo podem participar

enviando seus trabalhos, desde ilustração, fotografia, artes gráficas, design, 3D,

animação, motion e tipografia até pintura, grafite, moda e outros. A seção expõe os

trabalhos acompanhados pelo nome do artista, país de origem e algum contato virtual,

geralmente site ou e-mail. A seção bloody cool apresenta matérias em torno do nome de

um artista e, nesta seção, os editores da revista apresentam novos ou consagrados

artistas, seus trabalhos, características e influências por trás de suas criações.

Nas três edições analisadas, o formato, tipo de papel, impressão e quantidade de

cores (quadricromia) manteve-se o mesmo. O formato da revista Zupi, de 24,5 cm x 17

cm já distingue a publicação do formato padrão de revistas no mercado, no qual a

maioria adota um tamanho em torno de 27 cm x 20 cm (ALI, 2009, p. 98). Esse formato

reduzido carrega a função de conferir à publicação um aspecto prático, de fácil

manuseio, que não dobre nem amasse e que seja possível carregá-la e guardá-la em

qualquer lugar. A capa da revista é impressa em papel couché com laminação fosca com

a gramatura de 250g/m². Já o miolo é produzido em papel couché brilho com gramatura

de 150g/m², o que confere à Zupi uma aparência sofisticada e realça as imagens, o

carro-chefe da publicação. O acabamento é feito em lombada quadrada e passa pelo

processo de refile, tendo uma tiragem mensal de 15.000 exemplares.

Figura 42: Capas da revista Zupi, edições analisadas: #01, #23 e #42, respectivamente.

Page 90: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

90

Como é possível observar nas imagens acima, as capas19

da Zupi são

visivelmente uma proposta independente às regras de mercado, no qual geralmente as

revistas utilizam logomarcas padrão em suas edições. As capas da Zupi voltam-se

totalmente ao plano editorial e ao viés artístico da revista, uma vez que apresentam uma

identidade visual para o nome da revista a cada edição. As capas não possuem uma

logomarca padrão para apresentar o nome da revista, mas sim uma composição baseada

na própria temática da edição, acompanhando o estilo dos trabalhos apresentados em

cada número, muitas vezes realizada pelo próprio artista que participou de determinada

edição. Para isso, geralmente é utilizado o lettering, técnica em que o desenho exclusivo

do nome da revista integra-se com a imagem formando uma composição fluida,

evidenciando ainda mais o caráter artístico da publicação.

Também, é notável que as capas, assim como a revista em geral, dão total ênfase

à imagem, sem inserir nenhum tipo de chamada para as matérias, aparecendo apenas as

informações básicas como o número da edição, preço e código de barras no canto

inferior esquerdo, juntamente com o saci, identidade visual do estúdio Zupi Design. O

saci é a identidade visual do estúdio e é a referência visual que aparece em todas as

edições. Conforme é explicado no site do estúdio, a criação da marca teve o objetivo de

mesclar o ícone folclórico do saci à nuvem da imaginação, das histórias em quadrinhos,

revelando um dos conceitos do estúdio, que visa trazer influências estrangeiras e

divulgar a autenticidade das raízes brasileiras com a finalidade de registrar e fomentar a

arte.

Figura 43: Saci, Marca do Zupi Design

As influências estrangeiras mescladas às raízes brasileiras ficam evidentes em

toda a revista com seus artistas participantes, porém, na seção galeria essa mescla é

ainda mais visível. Na edição #1 há um total de vinte e dois artistas brasileiros, além de

um argentino, dois espanhóis, um francês, um chileno, um colombiano e um português.

Na edição #23, há nove artistas brasileiros, um alemão, um argentino, um sérvio, e um

19

No Anexo B, há um painel que reúne as capas das edições publicadas disponíveis no site da revista, até

a edição de n.38, incluindo edições com capas duplas e edições especiais.

Page 91: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

91

inglês. Na edição #42 foram publicados três artistas brasileiros, um da Arábia Saudita,

um polonês, três norte americanos e um francês.

Estes dados demonstram que a maioria dos artistas publicados na Zupi são de

origem brasileira, porém a presença de artistas estrangeiros é constante e diversificada.

Este fato demonstra a presença global da revista, ao mesmo tempo em que cumpre seus

objetivos de divulgação de produções brasileiras.

4.4.1 Análise quanto à tipografia

Para a análise da tipografia, foram identificados os tipos usados e sua

classificação de acordo com estilo com base na proposta tipológica de Lupton (2013).

Também foi observado o tipo de entrelinhamento e alinhamento utilizados na

composição do texto. Dessa forma, nas três edições analisadas foram identificadas três

tipografias distintas: Spoing, usada para títulos, Helvetica Neue, usada no corpo de

texto, e Bruhn Script, usada nos cabeçalhos e marcações, que se repetem nas três

edições. Para observar e comparar tais dados, elaborei um quadro que reúne as seções

analisadas, apresentado a seguir.

Análise da

Tipografia Seções Analisadas

Edição Artista Convidado Galeria Bloody Cool/portfólio

# 01

Tipos usados

/Classificação

Spoing para títulos /sem

serifa geométrica;

Helvetica Neue para o

corpo do texto /sem

serifas transicional;

Bruhn script para

marcações /sem serifa

geométrica;

Bruhn script para

rodapés

Spoing para títulos;

Helvetica Neue para

o corpo do texto;

Bruhn script para

marcações;

Alinhamento/

entrelinhamento

Justificado;

Entrelinhamento simples. Não se aplica

Justificado;

Entrelinhamento

simples.

# 23

Page 92: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

92

Tipos usados

Spoing para títulos;

Helvetica Neue para o

corpo do texto

Bruhn script para

marcações

Bruhn script para

rodapés

Spoing para títulos;

Helvetica Neue para

o corpo do texto;

Bruhn script para

marcações;

Alinhamento/

entrelinhamento

Justificado;

Entrelinhamento simples. Não se aplica

Justificado

Entrelinhamento

simples.

# 42

Tipos usados

Spoing para títulos;

Helvetica Neue para o

corpo do texto;

Bruhn script para

marcações;

Bruhn script para

rodapés (sem

serifa

geométrica)

Spoing para títulos;

Helvetica Neue para

o corpo do texto;

Bruhn script para

marcações;

Alinhamento/

entrelinhamento

Justificado;

Entrelinhamento simples. Não se aplica

Justificado;

Entrelinhamento

simples.

Quadro 4: Análise quanto a tipografia

Com a coleta desses dados sobre o uso da tipografia na revista Zupi, pode-se

observar que o alinhamento justificado é uma constante em sua diagramação, além dos

três tipos escolhidos para compor os títulos, textos e marcações, que se mantêm nas três

edições analisadas, portanto, desde o ano de 2008. As imagens abaixo ilustram este uso

regular das tipografias analisadas:

Figura 44: recorte da tipografia Spoing

Page 93: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

93

Figura 45: Recorte de texto com a tipografia Helvetica Neue usada para o corpo do texto.

Figura 46: Recorte da tipografia Brhun Script

A tipografia Spoing, utilizada para títulos, pode ser descrita como sem serifa

geométrica, de acordo com a classificação proposta por Lupton (2013). É um tipo

visivelmente inspirado em formas geométricas, baseadas em linhas retas e círculos. O

uso desta tipografia confere um ar moderno e contemporâneo às páginas da Zupi. A sua

legibilidade é boa, principalmente porque ela é empregada, em geral, com um corpo de

texto grande para enfatizar os títulos, e seus caracteres são bem diferentes entre si. A

Spoing também aparece em tamanho reduzido para indicar a leitura do texto traduzido

para o Espanhol, no final da edição, conforme imagem abaixo. Neste caso a tipografia é

usada em corpo pequeno, mas mantém-se legível.

Figura 47: Recorte da tipografia Spoing usada para indicar a leitura do texto em espanhol.

A Helvetica Neue, tipografia utilizada no corpo do texto, é classificada por

Lupton (2013) como um tipo sem serifa transicional, por possuir traços retos, sem serifa

nas terminações e praticamente nenhuma variação na espessura das hastes. Esta

Page 94: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

94

tipografia confere aos textos da Zupi uma atmosfera neutra e limpa, de fácil leitura e

interação com os demais elementos das páginas. Há variação no seu uso aplicado nos

textos em Inglês, que utiliza os tipos em itálico para diferenciar os textos em idiomas

diferentes, e negrito para destacar as perguntas na parte das entrevistas, como é possível

observar na imagem a seguir.

Figura 48: Recorte variações Helvetica Neue.

A tipografia Bruhn script, empregada nos cabeçalhos, rodapés e paginação

também pode ser classificada como um tipo sem serifa geométrico. Seu desenho, assim

como a Spoing, é baseado em linhas retas e curvas, o que lhe confere um ar moderno e

elegante.

Os textos justificados em toda a publicação otimizam o espaço ocupado pelas

informações textuais e, dão um aspecto claro e limpo ao à página, além de conferir um

padrão geométrico à revista, que evoca características modernas e fluidas. Porém, em

alguns casos, nos quais a largura da coluna de texto varia, o alinhamento justificado

prejudica a leitura, pois cria espaços irregulares entre as palavras, o que causa certo

desconforto, ocorrência bem comum ao se utilizar este tipo de alinhamento, como é

possível observar no recorte de texto abaixo.

Figura 49: Recorte de texto, página 23, da Zupi #23.

Page 95: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

95

4.4.2 Análise quanto ao grid

A análise do uso de grids no layout da revista encarregou-se de identificar os

tipos de grids utilizados, a mancha gráfica, suas medidas, e as marcações da página, a

fim de entender a construção da estrutura das páginas. Para isso foi elaborado um

quadro para sintetizar e comparar os tipos e medidas utilizadas, exposto abaixo.

Análise do

Grid Seções Analisadas

Edição Artista Convidado Galeria Bloody Cool/portfólio

# 01

Tipos Colunar, com duas colunas Retangular Não há uso de um grid

definido.

Medidas/

Mancha

gráfica

Margens:

página inicial: 9x2x1,5x2 cm

Mancha: 12,8x22,5cm

Demais páginas:

0,8x0,8x1,5x1,5

Mancha: 14,5x22,5cm

Margens:

0,5x0,5x0,5x1,0cm

Mancha: 23x16cm

Páginas sangradas

com boxes para os

textos;

Há apenas as margens

inferiores de 1,0 cm.

Marcações

Página inicial: cabeçalho e

paginação;

Demais páginas: somente

paginação

Rodapés e

paginação

Página inicial:

cabeçalho e

paginação;

Demais páginas:

somente

paginação

# 23

Tipos Colunar com duas colunas Retangular

Colunar violado na

primeira página e com

duas colunas nas

demais.

Medidas/

Mancha

Gráfica

Margens: 0,5x0,5x1,0x0 cm

Mancha: 23x16,5 cm

Margens:

0,5x0,5x0,5x1,0cm

Mancha: 23x16cm

Margens:

2,5x1,5x1,5x6,5cm

Mancha:

Marcações

Página inicial: paginação e

cabeçalho

Demais páginas: somente

paginação

Rodapés e

paginação

Página inicial:

paginação e

cabeçalho

Demais páginas:

somente

paginação

# 42

Tipos Retangular e colunar com duas

colunas Retangular Retangular

Page 96: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

96

Medidas/

Mancha

Gráfica

Margens:

página inicial:

12x3,5x2x4,5cm

Mancha: 10,5x8cm

Demais páginas: sangrado

(24,5x17cm

Margens:

0,5x0,5x0,5x1,0cm

Mancha: 23x16cm

Margens:

página inicial:

3,0x4,0x2,0x4,0

cm

Mancha: 19,5x8,0 cm

Demais páginas:

sangrado

(24,5x17cm)

Marcações

Página inicial: paginação e

cabeçalho

Demais páginas: somente

paginação

Rodapés e

paginação

Página inicial:

paginação e

cabeçalho

Demais páginas:

somente

paginação

Quadro 5: Análise quanto ao grid.

Para se ter uma visão mais clara e prática desses dados do quadro acima, criei

algumas representações gráficas das páginas analisadas, apresentadas a seguir, em que

as áreas cinzas representam os elementos textuais e sua posição na página, enquanto as

áreas amarelas representam o espaço utilizado para as imagens, o que possibilita

compreender a estrutura da revista e dos grids utilizados na publicação.

Seção: artista convidado, edição #1

Page 97: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

97

Seção: artista convidado, edição #23

Seção: artista convidado, edição #42

Page 98: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

98

Seção: galeria, edições #1, #23 e #42

A seção galeria mantém-se igual nas três edições, utilizando um grid retangular,

com pequenas margens para maximizar o espaço ocupado pelas imagens, já que o

objetivo da seção é funcionar como um expositor de trabalhos. As únicas informações

que são colocadas nas páginas, além das imagens, é um pequeno box para o rodapé

indicando o nome do artista, seu país de origem e um contato, além da paginação

corrente da revista no canto inferior externo de cada página.

Page 99: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

99

Seção: portfolio, edição #1

Seção: bloody cool, edição #23

Page 100: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

100

Seção: bloody cool, edição #42

A partir destas representações, ficou evidente que os grids mais usados no layout

da revista são colunares e retangulares. Os grids colunares geralmente são usados para

acomodar os textos mais longos em duas colunas, enquanto os grids retangulares

desempenham a função de maximizar o espaço ocupado pelas imagens. De modo geral,

a distribuição dos elementos na página confere um aspecto dinâmico à leitura, em que

não há repetição de estruturas-padrão, ainda que se trate da mesma seção da revista.

Em cada edição, a composição e arranjo dos elementos variam, privilegiando

sempre as imagens. Nessas representações, as áreas amarelas que identificam as

Page 101: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

101

imagens são inquestionavelmente dominantes nos layouts. Também é notável que, no

decorrer das edições, nas páginas de texto, as margens foram ganhando espaço

tornaram-se mais arejadas, beneficiando a leitura do texto e a navegação entre as

páginas. Outra observação é que o número de páginas dedicadas à seção artista

convidado aumentou gradualmente entre as edições analisadas, o que indica a

importância da seção para a revista.

4.4.3. Análise quanto à cor

Para realizar a análise da seleção cromática adotada pela revista Zupi, foram

levados em consideração apenas os elementos estruturantes da revista. Refiro-me a

elementos estruturantes como sendo cor do plano de fundo, cor do texto e grafismos nas

páginas, sem incluir as cores das imagens, já que estas são produções dos artistas que

participam de cada edição da publicação, e variam de acordo com as técnicas e o estilo

de cada um, não sendo, portanto, produções próprias da revista.

Dessa forma, a análise da seleção cromática adotada pela revista foi simples,

uma vez que suas definições são bem evidentes em um primeiro contato geral com a

publicação. É perceptível que as cores básicas do projeto gráfico da Zupi são o preto e

branco, em todas as edições. Há o uso de magenta e ciano para alguns detalhes, em

pequenas legendas indicando a leitura do texto traduzido para o espanhol, no final de

cada edição. O padrão de cores P&B é observado nas imagens a seguir.

Figura 50: páginas da Zupi, e sua composição em preto e branco, na qual as cores ficam a cargo das

imagens.

Page 102: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

102

A escolha do padrão cromático preto e branco é justificada pelo editor da revista

em entrevista para esta pesquisa. Allan afirma que este padrão foi escolhido para que

nenhum elemento chame mais atenção do que as imagens, e também por serem cores

neutras e fáceis de combinar com qualquer estilo e tipo de imagens. Dessa forma, é

evidente que esta seleção de cores é uma estratégia de comunicação visual da revista,

que tem como foco as imagens de colaboradores externos.

Além disso, o branco confere um aspecto limpo e claro à revista, além de ajudar

a guiar o olho do leitor entre as páginas de texto. O branco, combinado com o preto, dá

um ar elegante e sofisticado à publicação, ao mesmo tempo em que proporciona uma

leitura confortável dos textos pelo contraste de uma cor com a outra, geralmente pelo

emprego do branco para o fundo e do preto para os textos e grafismos.

4.4.4. Análise quanto às imagens

Como já foi dito em todo o percurso deste trabalho, as imagens são o elemento

compositivo principal e mais explorado na Zupi. Analisá-las é uma tarefa difícil, uma

vez que suas abordagens são extremamente diversificadas devido às particularidades

que circundam cada artista e seus estilos. É preciso deixar claro, de antemão, que a

análise das imagens feita nesta pesquisa não aborda o campo da semiótica e suas

significações; apenas se analisam as imagens enquanto componentes de um todo, que

interagem com os demais elementos das páginas, com a finalidade de entender o

funcionamento delas no layout da publicação.

As representações, criadas na subseção dedicada à análise do grid, demonstram a

imponência e representatividade das imagens na Zupi. Elas ocupam em torno de 80%

das páginas totais da revista, e, geralmente, são utilizadas de maneira que cubram uma

ou duas páginas inteiras, muitas vezes sangradas, ou com pequenas margens brancas.

Assim, a análise quanto às imagens procurou identificar os principais tipos de

imagens utilizados pela publicação, evidenciando os motivos que levaram os editores a

selecionarem tais obras e artistas para participar da revista e não outros, uma vez que a

quantidade de trabalhos submetidos para a publicação é alta, chegando a dois mil

artistas por edição, conforme registrou Allan Szacher em entrevista.

Page 103: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

103

Dentre as três seções analisadas (artista convidado, galeria e bloody

cool/portfolio) nas três edições selecionadas para o corpus, há um total de 124 imagens

diferentes. Na edição #1, seção artista convidado, há sete; na seção galeria, trinta e uma

e na seção portfolio, onze imagens. Na edição #23, seção artista convidado, há seis,

sendo que duas ocupam páginas duplas; na seção Galeria, há quinze imagens e na seção

bloody cool, onze. Na edição #42, existem doze imagens na seção artista convidado;

vinte e duas na seção galeria, e nove na seção bloody cool. Os dados podem ser

visualizados no quadro comparativo abaixo:

Análise Imagem Artista Convidado Galeria Bloody Cool/Portfólio

#1

Quantidade de imagens 7 31 11

Tipo Ilustrações

manuais: 07

Fotomontagem: 09

Pintura: 05

Ilustração: 14

Graffiti: 02

Colagem: 01

Pintura: 01

Graffiti: 10

#23

Quantidade de imagens 6 15 11

Tipo Fotografias: 06

Ilustração: 10

Manipulação

digital: 04

Fotografia: 01

Ilustração: 11

#42

Quantidade de imagens 12 22 9

Tipo

Fotografia e

manipulação

digital: 12

Manipulação

digital: 22 Manipulação digital: 09

Quadro 6: Análise das imagens

Esses números só evidenciam ainda mais a linha editorial da revista, que, num

intervalo de 151 páginas, apresenta um total de 124 imagens. A Zupi foca nas

mensagens visuais intrínsecas às imagens para atrair e conquistar seus leitores que

buscam, justamente, inspiração e novas linguagens visuais para seus trabalhos, já que a

grande maioria do público da revista tem relação profissional ou acadêmica ligada a

criatividade, como observado no media kit da empresa (ver Anexo C).

Outro fator evidenciado pelo quadro é a variedade dos tipos de imagens

escolhidas para cada edição. Percebe-se que, nas seções como artista convidado e

Page 104: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

104

bloody cool, ou portfólio no caso da edição #1, os tipos de imagens veiculadas estão

diretamente ligadas ao artista que está sendo apresentado e a seu estilo. Já a seção

galeria oferece diferentes tipos de imagens e abordagens temáticas, com exceção da

última edição (42), que possui uma temática específica de manipulação digital em todas

as páginas. Essa variedade de imagens demonstra os objetivos da revista em difundir e

veicular da forma mais plural possível as manifestações artísticas visuais, como é

possível observar nas imagens abaixo, extraídas das páginas da Zupi, em que a primeira

trata-se de uma manipulação digital, a segunda uma fotomontagem, a terceira uma

ilustração e a última uma obra de graffiti.

Figura 51: Página da Zupi #42, Seção Galeria, trabalho de Bruno Luciano, Brasil

Figura 52: página da Zupi #1, seção galeria, trabalho de Eduardo Burguer, Brasil.

Figura 53: página da Zupi #23, seção galeria, trabalho de Daniel Vincent, Brasil

Figura 54: página da Zupi #1, seção portfólio, trabalho de Os gêmeos, Brasil.

Page 105: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

105

4.5 A experiência visual na Zupi

A análise gráfica da revista evidenciou um projeto gráfico e editorial bastante

específico com objetivos bem definidos. Na análise da Zupi, ficou claro que a revista

utiliza os elementos estudados (tipografia, grid, cor e imagem) de forma integrada para

comunicar seus objetivos enquanto publicação voltada para o campo artístico. A

tipografia, o grid e a cor são utilizados de forma a dar total destaque às imagens; ao

longo das edições, e especificamente nas três que compuseram o corpus desta pesquisa,

os elementos são dispostos para valorizá-las.

As tipografias utilizadas, que se mantiveram nas três edições analisadas,

demonstram características contemporâneas, visíveis no tipo Spoing, escolhido para os

títulos, e no Bruhn Script, usado para marcações. O tipo Helvetica Neue, empregado nos

textos, possui uma neutralidade característica que permite uma fácil interação com os

demais elementos da página.

Os grids mais utilizados, colunares e retangulares, funcionam como esqueleto

para acomodar os textos (colunares) e as imagens (retangulares). Os grids colunares

fragmentam os textos para uma leitura mais dinâmica e agradável do conteúdo textual.

Já os retangulares maximizam o espaço ocupado pelas imagens. Dessa forma, o

resultado do uso de grids na revista é um layout dinâmico e diferente a cada página, ao

mesmo tempo em que confere uma identidade específica à publicação, na totalidade do

tratamento dos elementos textuais e imagens.

As cores são utilizadas com a intenção de não interferir na percepção visual das

imagens, e tornam a leitura dos textos e demais grafismos confortável. A partir de uma

perspectiva unificada, em que o todo é visto, entendo que os elementos compositivos da

Zupi interagem de forma integrada para valorizar e direcionar o olhar e a percepção para

as imagens. Num sentido maior, há uma valorização da experiência estética do leitor por

meio de um uso sóbrio dos elementos relativos à cor, tipografia e grid.

Foi possível observar que as imagens publicadas têm uma abordagem

diversificada de acordo com a temática de cada edição, mas que sempre são os

principais elementos do layout da revista. Dessa forma, ficou evidente que o projeto

gráfico da Zupi é funcional, pois utiliza seus elementos para comunicar visualmente os

Page 106: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

106

seus objetivos enquanto publicação de arte: difundir novas ideias e artistas e inspirar

seus leitores com o mais poderoso elemento de comunicação visual estudado neste

trabalho: as imagens. Assim, confirma-se a máxima de que o designer que desenvolve o

projeto gráfico de uma publicação é capaz de conferir-lhe uma identidade, bem como

uma forma de aproximar os leitores da publicação, servindo como estratégia de

comunicação visual e mercadológica adequada.

É notável também que a Zupi é uma revista especializada voltada para a temática

de arte e design, direcionada para leitores específicos que já têm algum tipo de relação

com o conteúdo veiculado, seja profissional, acadêmico ou de admiração pessoal. Isso

justifica a exclusividade do projeto gráfico da publicação e seu sucesso entre os

admiradores de arte e design. Tendo em vista o leitor que a própria revista reconhece

como especializado em seu media kit (conforme Anexo C), é possível afirmar que tal

disposição dos elementos ao longo da revista seja relativamente consciente aos olhos

dos leitores. Recordando a distinção que Villas-Boas (2009) faz entre elementos

estéticos e técnicos em seu artigo, entendo que, no caso da Zupi, o público-leitor tome

consciência mais clara da disposição dos elementos no layout e da relação entre eles

como forma de valorização das imagens.

Além disso, nota-se a singularidade da publicação, que inova no formato, capa e

abordagem temática no Brasil. A estrutura da revista, com textos compactos e muita

imagem, é reflexo da demanda e dos interesses de seus leitores, que buscam inspiração e

novas ideias nas páginas da revista. Nesse aspecto, Zupi articula-se muito bem,

cumprindo seus objetivos enquanto publicação voltada à arte e criatividade. A

linguagem do projeto gráfico da revista está alinhada ao seu projeto editorial, e ambos

articulam os elementos compositivos de forma a conduzir os ideais da publicação de

divulgar e fomentar a arte no Brasil e no exterior.

Um aspecto a destacar é que a revista também está sintonizada com uma

perspectiva colaborativa no campo das artes e da comunicação. Ao utilizar imagens e

obras de artistas convidados, a publicação dialoga com as necessidades de interação que

marcam a comunicação (visual) no século XXI. A própria criação da revista primeiro na

versão digital é ilustrativa deste fato. Embora este aspecto não seja parte da análise que

empreendemos, é inegável que tal posicionamento editorial da Zupi contribui para seu

sucesso num nicho especializado de leitores/artistas.

Page 107: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

107

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse em pesquisar sobre revistas surgiu justamente pelas possibilidades

que o design e a visualidade que elas oferecem, muito mais do que outros produtos

editoriais impressos como livros e jornais. O resgate histórico sobre as publicações e as

revistas, de modo geral, confirmou esta característica de valorização da experiência

visual do meio revista, que se consolidou como um importante veículo de comunicação

periódico, ligado à estética e à qualidade visual e aliado ao uso de imagens e ilustrações

como forma de conquistar leitores e diferenciar-se das demais publicações.

Além disso, o estudo de cada elemento eleito como essencial para estruturar

visualmente uma publicação foi enriquecedor para minha formação, e espero que possa

contribuir para colegas e novos alunos do curso de Produção Editorial que

compartilhem das mesmas dúvidas que tive durante o curso. Também pode auxiliar em

projetos práticos de editoração a serem desenvolvidos pelos alunos. O estudo da Gestalt

e da percepção visual mostrou a importância da concepção de um material de forma

unificada, organizada e coerente com os objetivos comunicacionais da publicação.

Entre os elementos elencados como essenciais em uma publicação, tive maior

dificuldade em estudar e analisar as imagens, pela complexidade que elas demandam. A

discussão em torno das imagens é ampla e perpassa muitos campos disciplinares (como

a Estética, a Semiótica, o Jornalismo e a Publicidade), e o foco do trabalho era analisar

estruturalmente a revista e as relações entre seus elementos compositivos. Procurei,

então, analisá-las como componentes de um todo dentro da publicação, que se

relacionam com os demais elementos para comunicar algo. Ao mesmo tempo em que as

imagens fazem parte da linguagem visual da revista, não são criações da Zupi, e sim de

seus colaboradores, sendo expressões destes veiculadas e divulgadas pela revista. Dessa

forma, seria demasiado complexo, e para além dos objetivos deste trabalho, adentrar no

campo das significações geradas por elas, e me ative às questões estruturais. Entretanto,

esta é, sem dúvida, uma possibilidade de análise futura que essa pesquisa pode auxiliar

a despertar.

Paralelamente às dificuldades enfrentadas para a análise e conceituação teórica,

as imagens mostraram-se a principal ferramenta de comunicação da publicação. Por

meio delas, a Zupi desempenha um papel de curadoria artística, já que expõe em suas

Page 108: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

108

páginas o que considera o melhor em termos de arte no Brasil e no mundo. É, portanto,

uma expressão e reflexo do contexto artístico no qual vivemos hoje.

Deixo aqui minha sugestão para uma possível pesquisa futura com a Zupi:

acredito ser interessante analisar a linguagem visual da revista na plataforma digital

(iPad), comparando com a impressa, com a finalidade de entender as especificidades de

cada suporte e as necessidades visuais de cada um. Neste trabalho, foquei na publicação

impressa pela admiração pessoal que nutro pelas características singulares que o

formato possui, como a possibilidade de a revista ser consumida como um objeto

querido, para colecionadores e que é projetado para durar.

Page 109: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

109

REFERÊNCIAS

A REVISTA NO BRASIL. São Paulo: Editora Abril, 2000.

ALI, Fátima. A arte de editar revistas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.

AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Design básico grid. Porto Alegre: Bookman, 2009.

______. Design básico: cor. Porto Alegre: Bookman, 2009.

______. Design básico: imagem. Porto Alegre: Bookman, 2009.

ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São

Paulo: Pioneira, 2000.

BANN, David. Novo Manual de Produção Gráfica. Porto Alegre: Bookman, 2010.

BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. São Paulo: Cosac Naify,

2005.

BUITONI, Dulcilia Schroeder. Revista e segmentação: dividir para reunir. In:

TAVARES, Frederico de Mello B.; SCHWAAB, Reges. (Orgs.). A revista e seu

jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013.

CAMARGO, Mario de (Org.). Gráfica: arte e indústria no Brasil – 180 anos de

História. São Paulo: Bandeirantes, 2003.

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard

Blucher, 2004.

______ (Org.). Impresso no Brasil, 1808-1930: destaques da história gráfica no acervo

da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Verso Brasil, 2009.

COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica na direção de arte. São

Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.

Page 110: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

110

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

FARINA, Modesto; PEREZ, Clotilde; BASTOS, Dorinho. Psicodinâmica das cores

em comunicação. São Paulo: Edgard Blucher, 2006.

FETTER, Luis Carlos. Revistas, design editorial e retórica tipográfica: a experiência

da revista Trip (1986 – 2010). Dissertação de Mestrado para o programa de Pós-

graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul. Porto Alegre, 2011.

FILHO, João Gomes. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo:

Escrituras Editora, 2004.

FINGER, Cristiane. Crossmedia e Transmedia: desafios do telejornalismo na era da

convergência digital. Em questão. Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 121-132, jul./dez., 2012.

FLOCH, Jean-Marie. Alguns conceitos fundamentais em semiótica geral. In:______.

Documentos de estudo do Centro de Pesquisa Sociossemióticas. São Paulo: Centro

de Pesquisas Sociossemióticas, 2001.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Editora Atlas

S. A., 2008.

GRUSZYNSKI, Ana Cláudia. Desing gráfico: do invisível ao ilegível. São Paulo:

Edições Rosari, 2008.

______; CALZA, M. Projeto gráfico: a forma de um conceito editorial. In: TAVARES,

Frederico de Mello Brandão; SCHWAAB, Reges (Org.). A revista e seu jornalismo.

1.ed. Porto Alegre: Penso, 2013, v. 1, p. 203-220.

HEITLINGER, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Lisboa: Dinalivro,

2006.

HELLER, Steven. Linguagens do design gráfico: compreendendo o design gráfico.

São Paulo: Edições Rosari, 2007.

HURLBURT, Allen. Layout: o design da página impressa. São Paulo: Nobel, 2002.

Page 111: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

111

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas: Papirus, 1996.

LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e

estudantes. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

______; PHILLIPS, Jennifer. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify,

2008.

MCLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico.

São Paulo: Editora Nacional, 1977.

MEGGS, Philip; PURVIS, Alston. História do design gráfico. São Paulo: Cosac

Naify, 2009.

MULLER-BROCKMANN, Josef. Sistema de grelhas: um manual para desenhistas

gráficos. Barcelona: GG Editorial, 1982.

PEREIRA, Aldemar d’Abreu. Tipos: desenho e utilização de letras no projeto gráfico.

Rio de Janeiro: Quartet, 2007.

PEREIRA, Lígia Maria Leite. 200 anos de indústria gráfica no Brasil: trajetória em

Minas Gerais. Belo Horizonte: Prefácio Comunicação, 2009.

RAIMES, Jonathan; BHASKARAN, Lakshimi. Design retrô: 100 anos de design

gráfico. São Paulo: Editora Senac, 2007.

RIBEIRO, Milton. Planejamento visual gráfico. Brasília: Linha, 1987.

ROCHA, Claudio. Tipografia comparada. São Paulo: Edições Rosari, 2004.

______. Projeto Tipográfico: análise e produção de fontes digitais. São Paulo: Edições

Rosari, 2005.

SAMARA, Timothy. Grid: construção e desconstrução. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

______. Guia de design editorial. Porto Alegre: Bookman, 2011.

Page 112: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

112

______. Guia de tipografia: manual prático para uso de tipos no design gráfico. Porto

Alegre: Bookman, 2011.

SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à

cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

SANTOS, Roberto Elísio dos; VARGAS, Herom; CARDOSO, João Batista (Orgs.).

Mutações da cultura midiática. São Paulo: Paulinas, 2009.

SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2008.

SMANIOTTO, Mariah et. al. Essências para o Desenho Industrial/Design. In: 10.

Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Anais... São Luís,

Maranhão, 2012.

TISKI-FRANCKOWIAK, Irene T. Homem, comunicação e cor. São Paulo: Ícone,

2000.

TONINI, Juliana Colli. Tipo&grafia: identidade gráfica em revista. Trabalho de

Conclusão de Curso de Desenho Industrial da Universidade Federal do Espírito Santo.

Vitória, 2011.

WILLBERG, Hans Peter; FORSMANN, Frederich. Primeiros socorros em tipografia.

São Paulo: Edições Rosari, 2007.

VILLAS-BOAS, André. Sobre Análise Gráfica, ou algumas estratégias didáticas para a

difusão de um design crítico. Arcos Design, v. 5, p. 2-17, 2009.

Page 113: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

113

ANEXO A – ANATOMIA TIPOGRÁFICA

Fonte: Paulo de Loyola, 2008. Disponível em:

<http://allysoncorreia.wordpress.com/2009/03/15/anatomia-tipografica/>. Acesso: em 09/11/2014.

Page 114: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

114

ANEXO B – CAPAS DA ZUPI20

20

Disponíveis em: <www.zupi.com.br/revista-de-arte-e-criatividade-zupi/>. Acesso em: 10 nov. 2014.

Page 115: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

115

Page 116: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

116

Page 117: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

117

Page 118: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

118

ANEXO C –MEDIA KIT ZUPI 2014 (p. 2)

Page 119: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

119

APENDICE A – CATEGORIZAÇÃO DAS ESSÊNCIAS

Categorização das Essências Essências

Essências Gerais Para Projetação Malhas gráficas (grid), método de

projeto, taxonomia, pesquisa.

Essências Específicas para design/desenho

industrial Criatividade, cor, estética industrial,

crítica e questionamento.

Essências Particulares para

os Ramos Vocacionais

Essências particulares para o desenho

de artefatos;

Essências particulares para o desenho

de ambiente;

Essências particulares para o desenho

de Comunicação, que incluem as

essências: leiaute, tipografia, imagem

e identidade.

Quadro 7: Categorização das essências, produção própria com base em Smaniotto et. al. (2012).

As essências estudadas neste trabalho aparecem em itálico no quadro.

Page 120: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

120

APÊNDICE B – ENTREVISTA A

Transcrição da entrevista concedida por Allan Szacher21

Entrevista realizada em 17 de setembro de 2014, via telefone, às 18 horas.

Duração: 21 min.

1- Como foi a idealização da Zupi, como começou o projeto?

Allan: Vamos voltar um pouco no passado. Em março de 2001 eu abri a Zupi, depois de

vários anos trabalhando em diversos outros estúdios e agências de propagandas,

também como freelancer. Um ano e meio, dois antes da Zupi, eu já tinha tentado abrir

outra empresa com amigos que não deu certo, chamava Babylon, e ai tinha mais sócios

e contas pra pagar do que dinheiro no bolso. Aí depois de seis meses eu fui convidado

para trabalhar em outro estúdio, que chamava Paleon. Durante um ano e meio que eu

fiquei trabalhando lá como designer pleno eu comecei a criar os fundamentos, os

conceitos da Zupi. Bom, aí eu abri o estúdio sozinho, comecei trabalhando em casa

mesmo. Eu sempre quis trabalhar sozinho, nunca gostei muito de, sei lá, das pessoas

ficarem meio que mudando as coisas que eu tava fazendo, ou ficando olhando e tal. Eu

fui aprendendo e vendo nos outros lugares que trabalhei coisas que eu gostava e outras

não, e pensei: a minha empresa vai ser dessa forma.

E a Zupi foi pensada sempre em tentar fazer um trabalho misturado sempre um pouco

mais experimental e artístico, não apenas um trabalho de design gráfico puro e simples.

A ideia foi criar um estúdio de design do começo, que tivesse um pé na arte. Então

desde o começo que a gente começou a fazer o estúdio de design, paralelo a gente tinha,

é, eu tinha uma jornalista que fazia a parte jornalística pra mim e a gente tinha um site o

Zupi Design, e o portal que deu origem a Zupi impressa.

2- Como foi essa transição da Zupi Online pra Impressa, porque ela segue uma

lógica inversa né, do online pro impresso.

Allan: Exatamente, a gente seguiu uma lógica inversa mesmo. Então, assim, a Zupi

sempre foi um projeto cultural, um projeto pessoal meu pra também ter contato com

artistas do Brasil e do mundo, para aprender técnicas e me aperfeiçoar como artista,

21

Idealizador e Editor da Revista Zupi.

Page 121: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

121

artista gráfico, e ao mesmo tempo, procurar trabalhos que eu acreditasse que fossem

tendência e trabalho autoral, e é isso o que a gente publicava no site da revista. Tinha

uma jornalista que fazia as matérias pra gente e eu ia passando assim: fala com esse

cara, chama esse cara e aí o portal foi crescendo. Aí eu fui pra Austrália e abri uma

empresa lá, em uma hora abri a empresa, super rápido e fácil, bem parecido com o

Brasil (risos) e que mais, aí quando eu voltei para o Brasil em 2003, ou 2004 eu já fui

pra um escritório aqui onde é até hoje, na Vila Mariana, em São Paulo, e um ano depois

a gente, eu comecei a falar, não a gente tem que tem que fazer uma revista impressa, a

gente queria fazer ela desde o começo, mas o problema de fazer ela no começo era a

verba, porque fazer uma revista impressa é muito caro, principalmente no Brasil, onde o

custo é gigante. E aí eu comecei a pensar e a gente lançou em 2005 um projetinho que

chamava ZupiisArt, que é o primeiro projeto que começou a Zupi, que é na verdade

uma coletânea de 45 artistas gráficos do Brasil e do mundo e ele vinha numa caixinha

de CD, era pequenininho, fez muito sucesso, tanto que a gente reedito ele duas vezes e

vendia que nem água assim, se você quiser ver tem uma foto dele no portal da Zupi

online, uma fotinho do Zupiis Art.

E ai a gente fez um teste, um pré lançamento lá no Sesc, que era uma exposição que era

pra durar três semanas e durou três meses, porque vinha ônibus e caravana de tudo que é

lugar, de várias faculdades de são Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, foi super bacana.

Daí surgiu a ideia de criar o Pixel Show, em 2005 ou 2006, não to lembrado, que é hoje

a maior conferência de arte e criatividade da américa latina.

O pixel foi sucesso desde o começo, e a gente lançou nessa época, no ano seguinte, em

março, em 2005 pra 2006, ou 2006 pra 2007, não to lembrado de cabeça, e aí surgiu a

revista impressa, depois da revista online né, do site, geralmente o pessoal lança a

revista impressa e o site junto, a gente começou a revista impressa depois, ela foi

crescendo, alcançando 15.000 exemplares, e ela começou com uma língua, e no terceiro

ano, a gente começou a fazer a revista trilíngue e exportar para 22 países, então até hoje

ela tem em inglês, português e espanhol.

Em outubro do ano passado a gente lançou a revista digital pra iPad e agora a gente tá

lançando pra iPhone também, e até o final do ano deve tá funcionando a parte de

assinatura digital também, da revista.

Page 122: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

122

3- Eu queria saber como vocês fazem a seleção dos trabalhos, como funciona a

parte colaborativa dos artistas mesmo.

Allan: Toda essa parte curatorial da revista, escolha de artista, para a definição do tema

de cada revista a gente trabalha de duas formas: a gente tem algumas edições temáticas

e algumas edições tema livre. Quando é tema livre a gente costuma tentar convidar

artistas das mais variadas formas e campos, então, tenta não repetir, então a gente tenta

colocar um ilustrador, um fotógrafo, um artista de rua, um artista plástico e assim vai. E

nas temáticas a gente foca no tema, por exemplo, a gente teve duas edições de arte

erótica, teve edição de conceptart, de quadrinhos, de grafitti, de iconografia, de

infografia, e aí a gente começa a pesquisar e procurar artistas que tenham uma visão

interessante do assunto, que tenham um trabalho super bacana, diferenciado, que

tenham potencial pra servir de referência para o nosso público e a gente entra em

contato com eles e faz as matérias, pega as imagens em alta resolução e começa a

montar a revista. De forma reduzida, resumidamente é isso.

A gente também recebe, depois de vários anos de vida, nos últimos anos a gente tem

recebido todo mês cerca de dois mil trabalhos, de artistas do mundo inteiro para

publicar na revista, e isso também facilita bastante hoje, pra gente trazer sempre artistas

novos.

4- Como é o processo de criação da Zupi impressa, quais as etapas?

Allan: Bom a gente tinha algumas ideias, no começo a gente tava na dúvida de como ia

ser, se a gente ia misturar um pouco de tutorial, de como fazer arte, ou abordar o design

gráfico, e aí quando a gente começou a fazer o boneco da revista, um ano antes da

revista ser lançada, eu comecei a pensar, falei “putz” se eu colocar tutorial, vai ser mais

uma revista tipo Computer Arts, Photoshop, e essas milhões de revistas que tem no

mercado, no Brasil e no mundo. E quando eu comecei a montar, eu achei que seria

muito interessante fazer uma revista de arte, e hoje até a gente fala em uma revista de

arte e criatividade, porque a gente tenta mostrar um pouco de tudo e para isso a gente

tem que ter criatividade, bastante criatividade né? Então a revista acabou virando uma

revista de arte e criatividade e a gente foca sempre nos trabalhos autorais, a gente não

foca no que a galeria está expondo, a gente foca no portfólio do artista. Então o interesse

principal é sempre o artista, não é uma empresa ou uma galeria, ou um museu que tá

fazendo uma exposição que a gente vai lá e foca no artista que tá expondo, não, a gente

Page 123: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

123

que escolhe os artistas e a gente sempre tenta procurar pessoas que, sei la, artistas novos

que a gente acredita nos potenciais. Um grande exemplo disso é os Gêmeos, que na

primeira edição da Zupi há nove anos atrás, ninguém sabia dizer quem era os Gêmeos

ainda e um ou dois anos depois eles estouraram, saiu no fantástico, teve a primeira

exposição deles que foi um mega sucesso. Eles eram mega conhecidos fora do Brasil,

mas aqui ninguém nunca tinha ouvido falar deles ainda. Basicamente começou assim. E

foi tomando forma, as primeiras três ou quatro edições ainda era só em português a

revista, até o layout foi mudando com o tempo.

5- Tem como você me falar um pouco do projeto gráfico da Zupi?

Então, o foco principal são as imagens, a gente tenta fazer textos mais concisos, sei la,

entre quatro e oito mil caracteres no máximo, nas matérias. O layout, ele tem pequenas

margens e a ideia é que as imagens sejam sangradas para ter o máximo de impacto para

o leitor. Então se você folhear a revista, é um padrão gráfico bem fácil de entender. Ou

as imagens são grandes, ou ocupam página dupla, ou elas ocupam meia página, menor

do que isso a gente tenta evitar, porque não tem como, principalmente imagens que tem

muito detalhe.

A gente pensou em fazer uma revista em formato 23x30 cm, que é um formato gringo

de revista de arte que é espetacular, só que o problema é que a gente queria fazer

alguma coisa que a revista não amassasse com o tempo, que a revista durasse mais

tempo, que fosse possível guardar ou transportar fácil, que no manusear ela não virasse

pra trás, como acontece no caso dessas revistas muito grandes. Então a gente pensou,

vamos fazer num formato diferenciado que ainda ninguém faz. Na época ninguém fazia

esse formato de revista, depois de alguns anos começaram a aparecer várias outras

revistas, algumas já nem existem mais, outras sim da Joyce Pascowitch, Poder, que são

todas revistas menores, que é uma revista mais fácil de ler, tipo ela não dobra, ela é bem

enxuta, então as folhas amassam menos, e a gente quer um formatinho fácil, tipo de

carregar, de segurar, levar na bolsa, leve, que fosse diferente das revistas que tem no

mercado, tipo a maioria é 21x28 cm, o formato padrão. Acho que é isso da parte gráfica

né.

6- Como você definiria ‘a cara’ da Zupi?

Então, o principal da Zupi, a gente tenta fomentar, registrar, mostrar o que ta

acontecendo de arte no Brasil e no mundo, de arte contemporânea, de trabalhos

Page 124: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

124

interessantes, que tenham muita criatividade. E também a gente tenta inspirar o público

criativo, que trabalha com arte, ou estilistas, quem trabalha com moda, com artes

plásticas, publicidade, decoração, cinema, arquitetura, fotografia, etecetera. E ao mesmo

tempo tenta informar novos colecionadores e apreciadores de arte do que ta acontecendo

o que tem de interessante pra ser adquirido comprado, colecionado, guardado e pra

quem também não entende muito de arte, é pra ser algo de leitura fácil que trouxesse

artistas bacanas do mundo inteiro. E a ideia era criar uma revista que tivesse

pouquíssimos anúncios, sem texto na capa, pra ser um objeto de desejo, um objeto

colecionável.

7- As capas são produzidas pelos próprios artistas?

Sim, as capas são obras dos artistas, algumas capas são exclusivas feitas para a Zupi,

outras são trabalhos já realizados que a gente achou que ia ter um impacto bacana como

capa.

Page 125: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

125

APÊNDICE C - ENTREVISTA B

Transcrição da entrevista realizada dia 05 de novembro de 2014, às 15 horas com Allan

Szacher, via telefone, com duração de 11 min. 30 seg.

1- Tem como você me informar alguns dados de venda/público/circulação da Zupi,

onde vende mais?

Allan: Em São Paulo mesmo, uma média de 49 a 50%. Eu cheguei a te enviar o mídia

kit? Lá tem todas essas informações, vou te encaminhar por e-mail. Ele tá bem

completo, todas essas informações você encontra lá.

2- Vocês adotam um grid para a revista?

Allan: A gente tem uns cinco grids diferentes, na tradução para o espanhol tem um grid,

as matérias tem outro, a galeria tem outro, e acho que tem mais um grid pra matérias

especiais, se não me engano. Nas últimas edições a gente ta usando o grid mais próximo

da estrutura do iPad também.

3- Qual o nome das tipografias usadas?

Allan: Pro texto é Helvetica Neue, Spoing pros títulos e bruhn script que a gente usava

mais nas primeiras edições, mas acabamos usando só a spoing por ser mais

contemporânea.

.

4- Como foi definido o padrão de cores, preto e branco?

Allan: A gente resolveu não usar muita cor, porque a ideia é focar na imagem, a gente

não quer que a cor chame mais atenção que a própria imagem. Esse padrão de cores

você pode colocar qualquer imagem que ela acaba realçando a imagem.

5- Como são selecionadas as imagens? Tem algum critério de avaliação?

Allan: Tem alguns critérios. Bom, a gente vê o detalhamento da imagem, a

originalidade, que as vezes a gente vê que tem um artista original, com estilo próprio,

mas acaba descobrindo com pesquisas e próprio número de trabalhos que a gente recebe

hoje, em média de dois mil por edição para selecionar e comunidades de artistas na

internet acaba descobrindo que as vezes você acha que o cara é original, mas acaba

descobrindo que tem mais uns trinta artistas exatamente do mesmo estilo. Então isso a

Page 126: DESIGN EDITORIAL E REVISTAS: UMA ANÁLISE GRÁFICA DA ......centro de ciÊncias sociais e humanas comunicaÇÃo social - produÇÃo editorial design editorial e revistas: uma anÁlise

126

gente acaba cuidando. A gente tenta buscar estilos originais e que não tenha mais de

uma pessoa fazendo a mesma coisa.

6- Vocês fazem algum tipo de tratamento na imagem?

Allan: Não, a gente não mexe na imagem, o próprio artista manda a imagem e a gente

tenta não mexer em nada da imagem para não ter dor de cabeça depois. A gente pede

inclusive para mandar prova de cor, mas a maioria não manda. Normalmente a gente

não tem muita reclamação de que mude de cor, na verdade fazem anos que não tem

nenhuma reclamação. Se você entrar lá no site da Zupi, no sobre, tem as regras de

colaboração de trabalhos, bem explicadinho, pode te ajudar.