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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009...Pedagogic Intervention Project in the Educational Development Program (EDP) of Parana State Department applied in the State School Jose Luiz Gori

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

COMPARANDO AS GEOMETRIAS EUCLIDIANA E NÃO-EUCLIDIANAS

Luzia Dogani Garcia1

Dr. Doherty Andrade2

RESUMO:

O presente artigo é o resultado final obtido na Implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da

Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), aplicado no Colégio

Estadual José Luiz Gori Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante de

Mandaguari. Considerando que a Matemática não é um conjunto de

conhecimentos universais e teoricamente definidos, mas sim uma disciplina com

saber dinâmico, e em construção pretendeu-se abordar a Geometria de maneira

significativa, fazendo comparações, entre a Geometria Euclidiana e a Geometria

Não-Euclidiana com o emprego de Recursos Didáticos como mediadores dos

processos e construção do conhecimento. O Projeto inclui, entre outras ações, a

execução de atividades no laboratório de informática com o software GEOGEBRA

com a intenção de oferecer aos alunos do Ensino Médio, confiança para buscar

novas experiências de aprendizagem, despertando o interesse por um conteúdo

pouco explorado e tornando as aulas mais criativas e contextualizadas

_________________________________________________________________

1 Professora da rede Pública Estadual, graduada em Ciências com Habilitação em Matemática e

Especialista em Fundamentos e Ensino da Matemática. E-mail; [email protected].

2 Professor Dr. Orientador do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá,

graduado em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Mestrado em

Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), doutorado em

Matemática pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós-Doutorado pelo Laboratório Nacional de

Computação Científica (LNCC). E-mail: [email protected].

2

Palavras-chave: Geometria Euclidiana; Geometria Esférica; Geometria

Hiperbólica; Comparando; Geogebra.

COMPARING THE EUCLIDEAN GEOMETRY AND NON-EUCLIDEAN

ABSTRACT:

The present article is the final result obtained in the Implementation of the

Pedagogic Intervention Project in the Educational Development Program (EDP) of

Parana State Department applied in the State School Jose Luiz Gori Mandaguari

Elementary School, High and Vocational. Considering that the Mathematics is not

a universal knowledge group and theoretically defined, but a discipline with

dynamic knowing, and in construction, intended to approach the Geometry in a

significant way, making comparisons between the Euclidean Geometry and Non-

Euclidean Geometry, in the plan spaces, spherical and hyperbolic with the Didactic

Resources add, as teach and learn processes mediators, looking for to be biased

toward the understanding and knowledge construction. The Project includes,

among other actions, the execution of activities in the computer science laboratory

with the GEOGEBRA software with the propose of offering to the High School

students, self-confidence to look for new learning experiences, arousing interest

for a content less explored and to make most creative classes and contextualized.

Key Words: Euclidean Geometry. Spherical Geometry. Hyperbolic Geometry.

Comparing. Geogebra.

INTRODUÇÃO

3

A função da Escola além de transmitir conteúdos está em socializar os

conhecimentos científicos produzidos pela humanidade nas diferentes áreas,

levando os alunos a se tornarem cidadãos autônomos, empregando os

conhecimentos acadêmicos em suas vidas. Na era tecnológica, as informações e

os saberes, estão acessíveis a todos, sejam por meios eletrônicos ou impressos,

portanto, o preparo do professor torna-se cada vez mais complexo, com a

necessidade de uma reestruturação no processo de ensinar e aprender

Matemática.

Nesse sentido, a presença das Geometrias no currículo escolar é de grande

relevância para a formação do educando, por favorecer o desenvolvimento de um

tipo de pensamento que possibilita a compreensão e a representação de modo

sistematizado de elementos do cotidiano, contribuindo para o desenvolvimento da

capacidade de observar o espaço tridimensional, adquirindo habilidade em

resolução de problemas.

Cumpre destacar que a Secretaria do Estado do Paraná (SEED) incluiu nas

Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do

Paraná, noções básicas de Geometria Não-euclidianas para o Ensino Médio. No

entanto, a Geometria tem tido pouco destaque nas aulas de Matemática e, muitas

vezes, confunde-se seu ensino com o das medidas.

Deste modo o Projeto de Intervenção aplicado no Colégio Estadual José Luiz Gori

Ensino Médio de Mandaguari, apresentou uma nova visão de que a Matemática

não é um conjunto de conhecimentos universais e teoricamente definidos, mas

sim uma disciplina com saber dinâmico, e em construção. Levou-se em

consideração que na natureza, com sua forma elipsoidal, as montanhas, as ondas

do mar, nem tudo é tão regular. Fez-se necessário a abordagem desses

conteúdos com novas formas de compreensão, de modo que se construiu e

sistematizou conceitos de um mundo com diferentes espaços geométricos,

possibilitando o desenvolvimento da argumentação, da formulação de conjecturas

e do raciocínio dedutivo na prática pedagógica.

Esta Produção foi construída, após muita pesquisa, com a abordagem centrada

no histórico de cada geometria, contendo textos de fundamentação com as

respectivas atividades, envolvendo recursos de materiais manipuláveis e do

Software GEOGEBRA, que deram suporte para uma aprendizagem significativa e

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viável comparando as geometrias nos três espaços uniformes: Espaço Euclidiano,

Espaço Esférico e Espaço Hiperbólico.

Com o uso da Geometria dinâmica, foi possível não apenas oferecer a

possibilidade de efetuar qualquer construção geométrica de modo mais rápido e

preciso do que no ambiente papel e lápis, mas também permitiu uma visualização

de maneira mais agradável das propriedades e relações geométricas.

Com a realização dessas e ainda outras ações que foram oportunas no decorrer

do Programa acreditaram-se estar otimizando o processo de ensinar e aprender

Geometria, levando o aluno a fazer reflexões e comparações dos conceitos

geométricos nos três espaços – plano, hiperbólico e esférico.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Geometria Euclidiana

A Geometria Euclidiana surge com Euclides, matemático da biblioteca de

Alexandria, cerca de 300 anos a.C., responsável pela compilação de praticamente

toda a matemática desenvolvida em uma grandiosa obra de treze volumes

chamada “Os Elementos”.

Na obra de Euclides temos dez axiomas, sendo cinco “noções comuns” que

segundo ele seriam verdades aceitas sem contestações em qualquer ciência, e

cinco “postulados” que, seriam preposições específicas da geometria e que

também deveriam ser aceitas sem contestações. Os treze volumes dos

Elementos contem 465 proposições, sendo 93 problemas e 372 teoremas. Do

volume I ao VI trata-se da Geometria Plana; do volume VII ao X a Teoria dos

Números e do XI ao XIII a Geometria Espacial.

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No Ensino Médio são apresentados aos alunos em atividades os cinco famosos

postulados do volume I dos Elementos:

1º Uma linha reta pode ser traçada de um ponto a outro, escolhido à vontade.

2º Uma linha reta pode ser prolongada indefinidamente.

3º Um círculo pode ser traçado com centro e raio arbitrários.

4º Todos os ângulos retos são iguais.

5º Num plano, por um ponto fora de uma reta existe uma e somente uma paralela

à reta dada.

A complexidade de formulação do quinto postulado fez com que diversos

matemáticos tentassem deduzi-lo dos demais axiomas e postulados, buscando

demonstrá-lo como um teorema. Porém, essa pretensão não foi alcançada,

porque o 5º Postulado não é uma consequência lógica dos quatro anteriores.

Se a Geometria Euclidiana é válida para superfícies planas, então como podemos

definir situações geométricas sobre uma superfície curva, como por exemplo, a

superfície da Terra? Para isso a Geometria Euclidiana com certeza não é

satisfatória.

Sabemos que na Geometria Euclidiana a soma dos ângulos internos de um

triângulo é sempre igual a 180°. Quando traçamos o mesmo ângulo sobre uma

superfície curva, isso já não é verdade. Era preciso então estabelecer uma nova

geometria que pudesse resolver essa questão. Para desenvolver uma geometria

de espaços curvos foi necessária a colaboração de pesquisadores que marcaram

a história da matemática. Entre esses nomes estavam Gauss, Bolyai,

Lobachevsky e Riemann. Basicamente, o que esses pesquisadores investigaram

era o que ocorreria se eles desprezassem o quinto postulado de Euclides e

considerassem exatamente o oposto, ou seja, que através de um ponto C não

situado sobre uma linha reta AB, pudéssemos traçar não uma, mas duas, e

consequentemente um número infinito, de linhas paralelas a AB. A tarefa agora

passava a ser construir uma Geometria baseada nesse novo axioma. Após anos

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de estudos os matemáticos descobriram que tinham uma nova e elegante

Geometria com várias características interessantes e únicas. Surgia assim a

Geometria Não-euclidiana.

Geometria Não-euclidiana

Suponha que a terra é perfeitamente esférica e que ela é habitada por “seres

planos”. Lembre-se que estas criaturas se deslocam se arrastando sobre a

superfície terrestre.

O método usado por estas criaturas para identificar “linhas retas”, aquelas linha

de mais curta distância entre dois pontos, consiste em estender linhas através da

superfície conectando dois pontos quaisquer. Para essas criaturas essa linha

parece ser uma reta à medida que elas se movem ao longo delas, uma vez que

as direções de chegada ou de partida dessas criaturas em qualquer ponto sobre a

linha têm ângulo zero entre elas.

Baseados nesta ideia os “seres planos” descobrem que todas as linhas retas se

interceptam e que se movendo ao longo de qualquer linha reta eles finalmente

retornam ao seu ponto de partida. Eles descobrem também que a soma de três

ângulos internos de qualquer triângulo que eles desenham sobre a Terra não é

mais 180°, em vez disso sempre excede dois ângulos retos.

Ao contrário da Geometria Euclidiana, passamos agora a representar geometria

sobre a superfície de uma esfera ou de um hiperbolóide.

Em uma superfície esférica tem-se uma curvatura positiva enquanto que a

superfície de um hiperbolóide tem-se curvatura negativa.

Em uma superfície com curvatura positiva a soma dos ângulos internos de um

triângulo traçado nessa superfície é maior que 180 graus.

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No caso da superfície com curvatura negativa a soma desses ângulos será menor

que 180 graus.

De todos os possíveis espaços Não-euclidianos existem somente dois que

também são uniformes do mesmo modo que o espaço Euclidiano. Ambos foram

descobertos no século XIX. O primeiro tem uma Geometria Hiperbólica e o

segundo tem a Geometria Esférica.

Comparando as Geometrias

O desafio hoje é a busca de um Ensino Médio que ofereça uma formação não

mais voltada para a teoria da atividade, mas sim para a teoria da criatividade.

Hoje vivemos uma situação diferente. Entre os objetivos de pesquisa estão o

papel das motivações e das emoções nos atos de formulação e valorização dos

resultados.

O desenvolvimento da tecnologia, da informática, da informação produz não

somente mudanças consideráveis na atividade humana, mas passa a ter uma

nova função que é o aprimoramento do educando como pessoa humana,

incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico.

Só será possível a formação de alunos críticos se as aulas forem ministradas com

a função de instigá-los a pesquisarem utilizando os mais variados recursos, para

enriquecer o processo de investigação e produção de conhecimento. Não se trata

de ditar receitas para serem seguidas, mas de explicitar possíveis caminhos.

Introduzir o conteúdo da Geometria fazendo comparações entre as mesmas

implica mudança de ação docente, pois requer uma postura que tenha como foco

a aprendizagem significativa, conectada com o interesse dos alunos e articulada

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com a busca, a reflexão, a pesquisa, favorecendo uma visão mais ampla,

relacionando conhecimentos prévios com os novos.

Na aprendizagem significativa é viável comparar as geometrias nos três espaços

uniformes.

Espaço Euclidiano

- através de um ponto dado podemos traçar somente uma paralela a uma

linha reta.

- a soma dos ângulos interiores de um triângulo é igual a dois ângulos

retos.

- a circunferência de um círculo é igual a vezes o seu diâmetro.

Espaço Esférico

- através de um ponto dado não podemos traçar nenhuma paralela a uma

linha reta.

- a soma dos ângulos interiores de um triângulo é maior do que dois

ângulos retos.

- a circunferência de um círculo é menor que π vezes o seu diâmetro.

Espaço Hiperbólico

- através de um ponto dado podemos traçar mais de uma paralela a uma

linha reta.

- a soma dos ângulos interiores de um triângulo é menor do que dois

ângulos retos.

- a circunferência de um círculo é maior do que π vezes o seu diâmetro.

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Ensinar contextualmente constrói o entendimento

A maioria das aulas do Ensino Médio é ministrada fora de contextos, onde os

alunos são induzidos a aprender/memorizar processos algorítmicos, vocabulários

e conceitos abstratos, com exercícios de repetição, fixação, sendo avaliados com

questões que testam suas habilidades em recordar e reproduzir.

O objetivo fundamental do ensino contextualizado é fornecer ingredientes que

aumente o interesse dos alunos, que conseguem visualizar a transferência do

conteúdo acadêmico a novas situações.

A metodologia do ensino contextualizado visa estimular cinco formas essenciais

de aprendizado, conhecida como estratégia R.E.A.C.T.: Relacionar; Experimentar;

Aplicar; Cooperar e Transferir.

Relacionar: O ideal seria que professores conduzissem os alunos de uma

atividade para outras, encorajando-os a relacionar o que estão aprendendo

com experiências reais.

Experimentar: O aluno deixa de ser passivo e passa a manipular

equipamentos, materiais e se interessam ativamente por novas pesquisas.

Aplicar: Levar os estudantes a um futuro imaginário, adquirindo uma

noção realista, que faça conexão entre a atividade escolar e a vida

profissional.

Cooperar: Estratégia fundamental não só para a aprendizagem de

conteúdos, mas para desenvolver habilidades de dividir informações

livremente, de trabalhar em equipe, de se comunicar efetivamente.

Transferir: Ajuda a manter a segurança e aumentar a auto-confiança, pois

a construção de novos conhecimentos são baseadas no que eles já

sabem.

Podemos citar um simples exemplo da distinção entre ignorar e aproveitar-se da

experiência dos alunos.

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As crianças vivenciam linhas paralelas muito antes de entrar na escola. Quando

as linhas paralelas são ensinadas em Geometria, o aluno já viu vários exemplos

em cercas, janelas, brinquedos mecânicos, quadros e outros. Ao invés de

referirem-se as linhas paralelas dialogando sobre conceitos já existentes, é,

comum professores desenharem linhas paralelas no quadro-negro e fornecer uma

definição. Os alunos, obedientemente, irão copiar essa nova informação no

caderno, e decorá-la para a prova. Linhas paralelas torna-se de repente uma nova

informação abstrata armazenada no cérebro como um fato isolado.

Muitos conceitos ensinados são baseados na crença equivocada de que se

podem ensinar os alunos a ler e escrever, separando o significado e o objeto. As

transformações a serem feitas na educação requer de educadores, mudanças

consideravelmente perceptíveis.

O aluno precisa estar envolvido com o falar, ouvir, ler, opinar, atuar e avaliar, e

não simplesmente estar preocupado em estudar para a prova.

De acordo com a teoria da aprendizagem contextualizada alunos só aprendem

quando processa nova informação ou conhecimento que faz sentido para ele em

sua própria estruturação de referência (seu mundo interior de memória; Carl

Sagan (1977), assim se posiciona em relação ao ensino e aprendizagem.

“Como uma consequência das enormes mudanças sociais e

tecnológicas dos últimos séculos, o mundo não está funcionando bem.

Nós não vivemos em sociedades tradicionais e estáticas. Mas nossos

governantes, em oposição, agem como se vivêssemos. Ao menos que

nos destruamos completamente, o futuro pertencerá àquelas sociedades

que, embora não ignorem a parte réptil e mamífero de nosso ser,

permitam que os componentes de nossa sociedade caracteristicamente

humana prosperem: àquelas sociedades estimulem a diversidade ao

invés do conformismo; àquelas sociedades dispostas a investir em uma

variedade de experimentos sociais, políticos, econômicos e culturais e

preparadas para sacrificar vantagens a curto prazo por benefícios a

longo prazo; àquelas que tratem novas ideias como trilhas delicadas,

frágeis e imensamente valiosas para o futuro”. (p.203-204).

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O aluno precisa estar envolvido com o falar, ouvir, ler, opinar, atuar e avaliar, e

não simplesmente estar preocupado em estudar para a prova.

No Ensino Médio, aprofundam-se os estudos das noções de geometria não-

euclidiana ao abordar a geometria dos fractais, geometria hiperbólica e elíptica.

Coutinho (2001,p.36) salienta a importância da nova geometria:

A Geometria Euclidiana, transmitida de geração a geração por mais de

dois mil anos, não era única. As mentes criativas dos matemáticos

Bolyai, Lobachewsky, Gauss e Riemann lançaram as bases de outras

geometrias tão logicamente aceitas quanto a Euclidiana. Uma dessas

geometrias não-euclidianas encontra aplicação na Teoria da relatividade,

o que se justifica, pois sendo curvo o universo eisteniano, a Geometria

Euclidiana não é adequada.

As Mídias na Educação Matemática.

A criança, ao chegar à escola, já passou por processos de educação importantes:

pelo familiar e pela mídia eletrônica. Diante dessa nova realidade o ensino da

Matemática, não pode continuar pautado, na prática que valoriza a memorização

de fórmulas, regras, definições e resolução de baterias de exercícios mecânicos,

com problemas resolvidos através de modelos.

Nesse sentido, Pais (2002), alerta para a urgência da superação dessa prática,

abrindo espaço para uma educação de significados, alegando estar longe das

necessidades atuais essa concepção de ensinar e aprender Matemática.

O baixo índice de aproveitamento em avaliações como a Olimpíada Brasileira de

Matemática e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), talvez se deva ao fato,

de as escolas continuarem ministrando conteúdos dentro de uma tendência

tradicional onde o aluno é levado a decorar conteúdos sem significados, com

avaliações que não requer raciocínio lógico.

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As tecnologias quando empregadas no ensino podem facilitar o trabalho do

professor no processo de ensino-aprendizagem e são pontes que abrem a sala de

aula para o mundo, mas é fundamental que esse profissional esteja preparado

para adequar cada habilidade a cada situação de aprendizagem, fazendo

questionamentos, incentivando a visualização dos conteúdos por novos ângulos,

a relativizar dados e tirar conclusões.

A educação deve ser vista como um processo de construção da consciência

crítica e a escola precisa exercitar as novas linguagem que sensibilizam e

motivam os alunos conseguindo através das mídias contrapor à educação

convencional, educando com entretenimento.

Moran (2007) argumenta:

“A simples introdução dos meios e das tecnologias na escola pode ser a

forma mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo sob a égide da

modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola um

ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo:

experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da

informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional

como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu

encanto”.

Portanto, a utilização de recursos tecnológicos, deve estar em consonância com

os objetivos propostos pelo professor em seu planejamento e com conteúdos que

atendam as diretrizes curriculares.

Para que os recursos selecionados não se tornem improdutivos por problemas de

mau emprego, previamente devem-se tomar alguns cuidados como:

- examinar o funcionamento de aparelhos;

- utilizar no momento oportuno;

- integrar com o conteúdo do momento;

- controlar o tempo disponível;

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- estudar todas as fontes que expliquem maneiras mais efetivas e eficientes de

utilização.

A posição do professor no processo educativo com meios tecnológicos deve

mostrar sempre que os meios nunca podem substituí-lo, para tanto o ato

educativo não deve ser direcionado como transmissão de sentido único,

mostrando que os recursos não são panacéias e desempenha uma função num

determinado momento de uma atividade.

Especificamente no estudo da Geometria um instrumento fantástico para

visualização geométrica é o Geogebra, um software de Matemática Dinâmica que

simultaneamente realiza operações de geometria, álgebra e cálculo. Foi

desenvolvido, visando principalmente o ensino e aprendizagem da matemática

nas escolas básicas e secundárias, por Markus Holenwarter, e sua utilização será

de grande valia no decorrer desse projeto.

Este projeto foi idealizado, concordando que a geometria não tem sido valorizada

no ensino da Matemática, mas, que é possível e necessário que o ensino dessa

parte tão importante seja enfatizado, porque, sem experiência geométrica não se

consegue raciocinar geometricamente e, por consequência, se constrói uma visão

capenga e incompleta da Matemática. (LORENZATO, 2006).

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Foi muito gratificante a Implementação do Projeto de Intervenção do PDE, com a

concretização das fases que foram planejadas

Para iniciar o trabalho com os alunos os mesmos formaram grupos de quatro

pessoas, pois como as atividades eram executadas com o uso de material

manipulável essa didática facilitou a compreensão dos conhecimentos e os

debates entre aluno/professor permitindo um maior entrosamento, facilitando a

troca de informações e a condução do aprendizado.

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A metodologia aplicada, conforme o planejado teve inicio com a fundamentação

teórica repassada com auxilio da TV Pendrive, abordando os conceitos das três

Geometrias e o histórico da dificuldade de aceitação das novas Geometrias. A

seguir foram executadas as atividades com material manipulável e com o software

Geogebra.

As atividades planejadas com a utilização do software Geogebra foram as que

mais agradaram os alunos, pois com o movimento das figuras e com os

resultados aparecendo na janela de álgebra à certificação dos pressupostos

teóricos ficou evidente. Mesmo as figuras dos triângulos mudando a forma e o

tamanho, a soma dos ângulos internos na Geometria Plana permaneceu

constante e igual a 180°. As atividades de Geometria Não-Euclidianas não foi

possível de serem executadas no software Geogebra, pois o departamento de

informática da SEED não conseguiu efetuar a atualização do mesmo e faltaram

“ferramentas” para a construção das “macros” que seriam utilizadas para

movimento no plano esférico e hiperbólico.

Um ponto que merece destaque é o fato de que os alunos não precisaram copiar

conceitos que já estavam prontos, à medida que as atividades eram realizadas os

conceitos eram verificados e assimilados. Portanto, ficou para mim comprovado

que a metodologia tradicional aplicada em sala de aula precisa ser revista e o

professor que ainda não se rendeu as novas tecnologias precisa rever seus

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conceitos, pois novas práticas despertam o interesse e participação dos alunos.

Com a aplicação desse Projeto foi possível inovar a maneira de ensinar

Geometria.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES COM OS ALUNOS

A primeira atividade proposta foi a construção de cartazes que comprovaram que

a soma dos ângulos internos de um triângulo será sempre igual a 180°,

independente da forma e tamanho. Nessa atividade os alunos desenharam três

triângulos (um equilátero, um isósceles e um escaleno) de tamanho a escolher,

marcaram os ângulos, recortaram e colaram formando um ângulo raso, obtendo

assim que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180°.

Para realizar essa atividade foi resgatado os conceitos de classificação dos

triângulos quanto aos lados e quanto aos ângulos, os conceitos de vértices e de

arestas.

Outra atividade de destaque foi adaptada do livro “Convite às Geometrias Não-

Euclidianas de Lázaro Coutinho, que é o famoso problema do urso.

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Um urso saiu de sua casa e caminhou 100 km para o Sul. Depois virou ao Oeste e

caminhou por mais 100 km. Então virou novamente e caminhou por mais 100 km ao

Norte. Qual não foi a sua surpresa quando descobriu que voltara novamente a sua casa.

Qual a cor do urso?

Desenvolvimento:

- Esboce em uma folha o trajeto percorrido pelo urso.

- Foi possível o urso chegar ao mesmo lugar após uma caminhada como a

descrita acima?

- Esboce agora em uma bola ou balão de ar o trajeto do urso.

- Foi possível o urso chegar ao mesmo lugar na superfície esférica? Agora é

possível definir a cor do urso?

Para a realização dessa atividade foi necessário resgatar os conceitos

geográficos de norte, sul, leste, oeste e geodésicas, sendo a mesma o marco

para despertar o interesse pelos alunos de conhecer as novas Geometrias Não-

Euclidianas.

Para trabalhar o conceito de soma dos ângulos internos nos planos esféricos e

hiperbólicos os alunos usaram como material manipulável, cornetas de brinquedo,

transferidores de papel, balões de ar e bolas de isopor. Desenhando triângulos na

bola de isopor e na parte hiperbolóide da corneta, usando os transferidores de

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papel os mesmos mediram os valores de seus ângulos, efetuaram a soma e

concluíram que na esfera a soma dos ângulos internos é sempre maior que 180°

e na região hiperbólica esta soma é sempre menor que 180°.

Nessa atividade os alunos formaram os conceitos de soma dos ângulos internos

nos planos esféricos e hiperbólicos partindo de descobertas através de

experimentos e não simplesmente copiando teorias do quadro negro.

Outra atividade em que os alunos puderam observar e contextualizar os conceitos

de raio, diâmetro e círculos máximos foi a atividade de fatiar laranjas no sentido

dos gomos e observar os três conceitos

Após serem concluídas as atividades com material manipulável foi possível

perceber que essas atividades proporcionaram aos alunos a oportunidade de

aprender significativamente, de trabalhar em grupo respeitando a opinião do

outro, almejando assim que se tornem pessoas capazes de discernir conceitos e

prever resultados.

Sobre as atividades no laboratório de informática no software Geogebra os alunos

inicialmente, para se familiarizarem com as ferramentas, começaram construindo

figuras planas como quadrados, retângulos, círculos e polígonos de n lados. Essa

fase de atividades no laboratório foi a mais gratificante na Implementação do

Projeto de Intervenção do PDE, pois foram realizadas sem necessidade de

adequações e com a participação ativa dos alunos. Adquirindo habilidade no

manuseio das ferramentas do software os alunos passaram a utilizar a janela de

álgebra e puderam calcular a soma dos ângulos internos do triângulo. Com a

figura em movimentos esse conceito ficou evidenciado e os alunos ficaram

maravilhados em ver que a cada movimento da figura a forma e as medidas eram

alteradas o valor da soma continuava constante, ou seja, igual a 180°. Os alunos

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tiveram também um momento livre para usarem a criatividade e descobrirem

outras funções do software.

Nas aulas seguintes às atividades no laboratório vários alunos fizeram relatos de

que tinham baixado o software em seus computadores e que estavam fazendo

outras atividades em casa como, por exemplo, construções de gráficos de

funções.

Para finalizar as atividades propostas, os alunos construíram um material em que

foi possível visualizar a soma dos ângulos internos do triângulo nos três espaços.

Material este composto por uma bola de isopor cortada ao meio, fixada na base

de uma corneta.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dia ouvi a frase “Deixem as crianças e jovens desabrochar”. Quando escutei a

frase me questionei se em se tratando de educação a mesma seria válida. O

tempo e a experiência foram mostrando que certas práticas pedagógicas podem

estorvar o desenvolvimento intelectual do aluno. Não podemos estar desligados

neste universo contraditório, pois educar não pode ser razão de tanto conflito com

tantos resultados melancólicos como os que muitas vezes se vêem por aí. Há

uma necessidade de amparar quando for preciso, colocando limites, mas com

cuidado para não interferir gravemente diminuindo talentos e acentuando

dificuldades.

Com certeza com a realização desse projeto foi possível mudar as práticas

pedagógicas e observar nos alunos a motivação em aprender Geometria,

atingindo o objetivo de tornar a disciplina de Matemática mais agradável e

prazerosa. Não é aceitável mais, repassar conteúdos de forma mecânica, quando

se sabe que existem meios e tecnologias que podem levar a uma aprendizagem

significativa, onde seja respeitado o fluxo em que o aluno observa, pensa e

precisa se desenvolver.

A participação no Programa de Desenvolvimento Educacional proporcionou uma

oportunidade de crescimento pessoal e profissional, onde desde o início com os

cursos, palestras e trocas de experiências o enriquecimento de conhecimentos

teóricos e práticos levou a uma nova visão das práticas pedagógicas. Foi possível

perceber que o professor pode fazer a diferença na vida do seu aluno

conhecendo diferentes maneiras de ensinar e aprender matemática.

Nada mais empolgante para os jovens do Ensino Médio do que serem desafiados.

Por isso as questões selecionadas para esse projeto estimularam a criatividade, a

intuição e a capacidade de análise. Os recursos didáticos foram assertivamente

empregados, provocando uma postura diferente dos alunos na participação e

conclusão das atividades.

Espera-se que a partir da aplicação desse trabalho o conteúdo de Geometria

possa ser mais explorado e a inclusão das Geometrias Não-Euclidianas não faça

parte apenas das Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do

Estado do Paraná mas seja uma prática aplicada anualmente no Colégio Estadual

José Luiz Gori de Mandaguari visto que o mesmo foi repassado a todos os

professores da disciplina de Matemática.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, Lázaro. Convite às Geometrias Não-Euclidianas: Rio de Janeiro,

2001.

EUCLIDES. Elementos. Disponível em http://www.euclides.org. Acesso em

23/06/2009

LORENZATO, S. org. O laboratório de ensino da Matemática na formação de

professores. Campinas: Autores Associados, 2006

MORAN, J. M. Desafios da televisão e do vídeo à escola. Disponível em:

http://www.eca.usp.br/prof/moran/desafio.htm. Acesso em 18/08/2009

PAIS, L. C. Didática da Matemática, uma análise da influencia francesa.

2.ed.Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008.

SAGAN, C, Bilhões E Bilhões. São Paulo: Companhia das Letras, 1977.

SECOUNDY-VACUUM OIL CO. STUDIES. Disponível em

http://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/aula_para_alunos.pps. Acesso

em 05/08/2009.