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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA SOCIAL
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
Validao da Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV) com
idosos
Hermesson Daniel Medeiros da Silva
Joo Pessoa,
Fevereiro de 2014
Hermesson Daniel Medeiros da Silva
Validao da Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV) com
idosos
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Psicologia Social da
Universidade Federal da Paraba, nvel
Mestrado, sob a orientao do Prof. Dr.
Natanael Antonio dos Santos, como
requisito para obteno do ttulo de Mestre
em Psicologia Social.
Joo Pessoa,
Fevereiro de 2014
S586v Silva, Hermesson Daniel Medeiros da. Validao da Escala de Avaliao da Percepo Visual
(EAPV) com idosos / Hermesson Daniel Medeiros da Silva.-- Joo Pessoa, 2014.
122f. : il. Orientador: Natanael Antonio dos Santos Dissertao (Mestrado) - UFPB/CCHL 1. Psicologia social. 2. Percepo visual - idoso - avaliao.
3. Envelhecimento cognitivo. TRI-Teoria de Resposta ao Item. UFPB/BC CDU: 316.6(043)
Validao da Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV) com
idosos
Hermesson Daniel Medeiros da Silva
Assinaturas da banca examinadora atestando que a presente
dissertao foi defendida e aprovada em 27 de fevereiro de 2014:
__________________________________________________________
Prof. Dr. Natanael Antonio do Santos
(Orientador)
__________________________________________________________
Prof. Dr. Bernardino Fernndez Calvo
(Membro Interno)
__________________________________________________________
Prof. Dr Maria do Carmo Eullio
(Membro Externo)
No espere por uma crise para descobrir o que importante em sua vida
(Plato)
Dedico este trabalho minha
esposa, Anna Luzia, por me apoiar
de maneira incondicional nesse meu
percurso acadmico. A meu av
(Belarmino in memorian) pelo seu
desejo em me ver formado, que no
imaginava que chegaria to longe, e
a minha av (Mariana in
memorian), que recentemente
terminou sua jornada na terra, por
todo o amor, carinho, dedicao e
por ter se apresentado para mim,
como estmulo no estudo do
envelhecimento.
Agradecimentos
Ao contrrio de muitos, considero os agradecimentos uma das partes mais
importantes do texto, na medida em que no se faz pesquisa sozinho. Diversas so as
pessoas s quais, hoje, sou grato. Agradeo primeiramente, minha amada esposa, por
todo seu incentivo, apoio, dedicao e investimento. Por acreditar que eu era capaz,
confiar no meu trabalho, ter me ajudado durante todo esse percurso, ter sido
companheira e compreensiva diante de minhas ausncias e posicionamentos nessa reta
final da dissertao. Sem ela, no sei como teria concludo.
Aos meus pais, Daniel e Guilhermina, por todo amor, carinho e apoio que recebi
ao longo da minha vida, pelos seus ensinamentos, preocupao e pelo investimento em
minha formao.
minha querida irm, Jessica, pelas vezes que, sem medir esforos, ajudou-me.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Natanael Antonio dos Santos, por ter me dado a
oportunidade de realizar o mestrado, pelo acolhimento ao grupo e pelo incentivo
cientfico.
Ao Prof. Dr. Bernardino Fernndez Calvo, pela confiana, ateno, compreenso
e pacincia, por acreditar no meu trabalho, pela sua incomensurvel disponibilidade em
ajudar, por sua preocupao com minha pessoa e pela amizade construda.
Profa. Dra. Maria do Carmo Eullio, por deixar as portas abertas do seu grupo
de pesquisa, que, sem pestanejar, ajudou-me de maneira incontestvel. Pelo incentivo,
preocupao, carinho e ajuda sem precedentes durante minha formao acadmica.
Aos meus amigos Rmulo, Frankleudo e Thiago pelo incentivo,
companheirismo em momentos difceis, disponibilidade em ajudar nas anlises
estatsticas e por tornar meus dias mais divertidos.
Aos colegas do Laboratrio de Percepo, Neurocincias e Comportamento
(LPNeC), pelo acolhimento.
Aos amigos de laboratrio Maria, Joenilton e Everton, pela troca de experincia,
ajuda na coleta de dados e por sempre estarem disponveis em me ajudar e compartilhar
minhas preocupaes.
s coordenadoras dos Centros de Convivncia, Gilma e Onlia, e s
coordenadoras dos programas destinados aos idosos da UEPB, Jozilma e Gorette, pela
disponibilidade em ajudar e permitir a realizao da coleta.
A todos os familiares e amigos que torceram por mim.
A todos os idosos participantes da pesquisa.
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES
pelo auxlio financeiro.
Sumrio
ndice de figuras ......................................................................................................................... viii
ndice de tabelas ........................................................................................................................... ix
Lista de siglas e abreviaturas ......................................................................................................... x
Resumo ........................................................................................................................................ xii
Abstract ...................................................................................................................................... xiii
Introduo ................................................................................................................................... 14
PARTE I MARCO TERICO ................................................................................................. 16
1. Percepo ................................................................................................................................ 17
1.1 Aspectos histricos do estudo da sensao e percepo ................................................... 17
1.2 Percepo visual ................................................................................................................ 18
1.3 Abordagens da percepo visual ....................................................................................... 20
1.3.1 Abordagem neurofisiolgica da percepo visual ...................................................... 20
1.3.1.1 Aspectos neuroanatmicos da percepo visual ................................................. 23
1.3.2 Abordagem da Gestalt ................................................................................................ 25
1.3.3 Habilidades perceptivas .............................................................................................. 28
1.4 Avaliao da percepo visual .......................................................................................... 29
1.4.1 Escalas e testes neuropsicolgicos de avaliao da percepo visual ........................ 29
1.4.2 Desenvolvimento da Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV) .................. 31
2. Envelhecimento cognitivo ....................................................................................................... 33
2.1 Reduo da velocidade de processamento ........................................................................ 36
2.2 Declnio do funcionamento da memria de trabalho ........................................................ 37
2.3 Declnio da funo inibitria ............................................................................................. 37
2.4 Declnio das funes sensoriais ......................................................................................... 38
2.5 Envelhecimento cognitivo e percepo visual .................................................................. 38
PARTE II ESTUDO EMPRICO ............................................................................................. 41
3. Objetivos ................................................................................................................................. 42
3.1 Geral .................................................................................................................................. 42
3.2 Especficos ........................................................................................................................ 42
4. Mtodo .................................................................................................................................... 43
4.1 Tipo de estudo ................................................................................................................... 43
4.2. Amostra ............................................................................................................................ 43
4.3 Instrumentos ...................................................................................................................... 45
4.3.1 Funcionamento cognitivo ........................................................................................... 45
4.3.2 Percepo visual ......................................................................................................... 46
4.3.3 Estado afetivo ............................................................................................................. 47
4.3.4 Funcionalidade ........................................................................................................... 47
4.3.5 Sade .......................................................................................................................... 48
4.5 Aspectos sociodemogrficos ......................................................................................... 48
4.6 Procedimentos ............................................................................................................... 48
4.7 Anlises estatsticas ........................................................................................................... 49
4.8 Consideraes ticas ......................................................................................................... 53
5. Resultados ............................................................................................................................... 55
5.1 Anlise fatorial da EAPV .................................................................................................. 55
5.2 Validade convergente e discriminante da EAPV .............................................................. 62
5.3 Anlise dos parmetros dos itens da EAPV por meio da TRI ........................................... 64
6. Discusso ................................................................................................................................. 68
7. Consideraes finais ................................................................................................................ 74
8. Referncias .............................................................................................................................. 76
9. Apndices ................................................................................................................................ 90
10. Anexos................................................................................................................................... 95
viii
ndice de figuras
Figura 1. A. O olho humano com imagem invertida projetada na retina. B. Camada da retina com clulas
fotorreceptoras (cones e bastonetes), clulas bipolares, clulas ganglionares, clulas amcrimas
e clulas horizontais. Retirado e adaptado de Lent (2010)...................................................... 21
Figura 2. Vias de processamento visual: via dorsal e via ventral. Retirado e adaptado de Lent (2010)....... 24
Figura 3. Experimento de Wertheimer de movimento ilusrio. Retirado e adaptado de Goldstein (2010)... 25
Figura 4. Princpios da Gestalt. a) princpio da proximidade; b) princpio da similaridade; c) princpio da
boa continuidade; e d) princpio da simetria. Retirado e adaptado de Gordon (2004).................. 27
Figura 5. Exemplo de figura-fundo, vaso de Rubin. Retirado e adaptado de Gordo (2004).......................... 28
Figura 6. Exemplo de Curva Caracterstica do Item (Pasquali & Primi, 2003)........................................... 51
Figura 7. Exemplo dos parmetros de discriminao de dois itens (Pasquali & Primi, 2003)..................... 52
Figura 8. Exemplo do parmetro de acertos ao acaso (adaptado de Pasquali & Primi, 2003)....................... 53
Figura 9. Grfico dos valores prprios da EAPV..................................................................................... 56
Figura 10. Curvas Caractersticas dos itens 2 e 9...................................................................................... 63
Figura 11. Curva de informao da EAPV................................................................................................ 64
ix
ndice de tabelas
Tabela 1. Estatsticas descritivas dos aspectos sociodemogrficos, cognitivos, afetivos, funcionais
e de sade........................................................................................................................... 44
Tabela 2. Estrutura fatorial da EAPV................................................................................................ 57
Tabela 3. Estrutura fatorial da EAPV com fixao do nmero de fatores......................................... 57
Tabela 4. Valores empricos e aleatrios dos 8 fatores da EAPV.................................................... 58
Tabela 5. Estrutura fatorial da EAPV a partir de matrizes de correlaes tetracricas.................... 59
Tabela 6. Estrutura fatorial final da EAVP........................................................................................ 60
Tabela 7. Correlaes de Spearman da EAPV com testes bateria perceptiva e cognitiva.............. 62
Tabela 8. Estatsticas de ajustes aos modelos.................................................................................... 62
Tabela 9. Parmetros de dificuldade dos itens................................................................................... 63
Tabela 10. ndice de ajuste dos itens ao modelo.................................................................................. 65
x
Lista de siglas e abreviaturas
AFE Anlise Fatorial Exploratria
AFC Anlise Fatorial Confirmatria
AIC Critrio de Informao de Akaike
AGFI Adjusted Goodness of Fit Index
BIC Critrio de Informao Bayesiano
CCI Curva Caracterstica do Item
CCS Centro de Cincias da Sade
CEP Comit de tica em Pesquisa
CIRS Escala de Avaliao de Doenas Cumulativas
DRS Escala de Avaliao de Demncia
DRS_A Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala Ateno)
DRS_I/P Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala Iniciativa e Perseverao)
DRS_Const Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala Construo)
DRS_Conc Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala Conceituao)
DRS_M Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala Memria)
DTVP Developmental Test of Visual Perception
EAPV Escala de Avaliao da Percepo Visual
EDG Escala de Depresso Geritrica
FI Funo de Informao
GFI Goodness of Fit Index
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
KMO Kaiser-Meyer-Olkin
MEEM Mini Exame do Estado Mental
NGL Ncleo Geniculado Lateral
PAF Principal Axis Factoring
xi
PET Tomografia por Emisso de Psitrons
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra e Domiclio
QAFP Questionrio de Atividades Funcionais de Pfeiffer
RMSR Root Mean Square of Residuals
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TCT Teoria Clssica dos Testes
TCVB Teste de Discriminao Visual de Benton
TFCR Teste da Figura Complexa de Rey
TFSP Teste de Figuras Sobrepostas de Poppelreuter
TFV Teste de Fluncia Verbal
TRI Teoria de Resposta ao Item
UAMA Universidade Aberta Maturidade
UBSF Unidade Bsica de Sade da Famlia
UEPB Universidade Estadual da Paraba
VOSP Visual Object Space Perception
xii
Resumo
O objetivo do presente estudo foi verificar evidncias de validade da Escala de
Avaliao da Percepo Visual (EAPV) com idosos. Para isso, contou-se com a
colaborao de 104 pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos,
selecionadas de forma no-aleatria e residentes nos municpios de Joo Pessoa e
Campina Grande PB. Alm da EAPV, na coleta de dados foram aplicados os
seguintes instrumentos: Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), Escala de Avaliao
de Demncia (DRS), Teste de Fluncia Verbal (TVB), Teste de Figura Complexa de
Rey (TFCR), Teste de Discriminao Visual de Benton (TDVB), Teste de Figuras
Sobrepostas de Poppelreuter (TFSP), Escala de Depresso Geritrica (EDG-15),
Questionrio de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP), Escala de Avaliao de
Doenas Cumulativas (CIRS) e um Questionrio sociodemogrfico. Os idosos foram
entrevistados em Centros de Convivncia, Unidades Bsicas de Sade da Famlia
UBSF e em trs programas da Universidade Estadual da Paraba (UEPB), destinados
para o idoso: Universidade Aberta no Tempo Livre, Viva a Velhice com Plenitude e
Universidade Aberta Maturidade (UAMA). Foram realizadas anlises descritivas,
Anlise Fatorial Exploratria, anlise paralela, clculo da consistncia interna,
verificao de validade convergente e discriminante e estimao dos parmetros dos
itens utilizando a Teoria de Resposta ao Item (TRI). Utilizou-se, nas anlises, os
softwares SPSS, verso 18.0, FACTOR verso 9.20 e a linguagem R, verso 2.15.1. A
partir das anlises fatoriais, verificou-se uma estrutura unifatorial da EAPV composta
por 13 itens que avaliam os aspectos da figura-fundo (2 e 18), visuocontruo (4, 8, 12,
16 e 20) e discriminao visual (9, 11, 14, 15, 17, e 18). Foi possvel atestar a validade
convergente e discriminante da EAPV a partir das correlaes significativas com os
testes que avaliam a percepo visual e ausncia de correlao com os que mensuram
construtos distintos. Quanto as anlise via TRI verificou-se que o melhor ajuste dos
dados foi ao modelo 1 parmetro de Rach. Estimou-se o parmetro de dificuldade dos
itens dos quais apresentaram uma variao de -2,81 a 0,93 (M = -0,67; DP = 1,20). Foi
observado que a EAPV oferece mais informao para os indivduos com percepo
visual mediana. De modo geral, os resultados indicam que a EAPV configurou-se como
uma medida vlida para avaliar a percepo visual em idosos.
Palavras-chave: percepo visual, idoso, envelhecimento, envelhecimento cognitivo,
validade, TRI.
xiii
Abstract
The aim of this study was to investigate evidence of validity of the Scale for
Assessment of Visual Perception (AEFI) with elderly people. He was assisted with the
collaboration of 104 people aged over 60 years, of both sexes, selected non-random way
and residents in Joo Pessoa and Campina Grande - PB. Besides the AEFI in data
collection, the following instruments were applied: Mini-Mental State Examination
(MMSE), Dementia Rating Scale (DRS), Verbal Fluency Test (TVB), the Rey Complex
Figure Test (TFCR), the Benton Visual Discrimination Test (TDVB) in Figures Test
superimposed Poppelreuter (TFSP), Geriatric Depression Scale (GDS-15), Functional
Activities Questionnaire Pfeffer (QAFP), Rating Scale cumulative Illness (CIRS), and a
sociodemographic questionnaire. The elderly were interviewed in Centers, Basic Health
Units Family - UBSF and three programs from the State University of Paraba (UEPB)
intended for the elderly: Open University in Leisure, Live Aging with Fullness and
Open University to Maturity (UAMA). Descriptive analyzes, exploratory factor
analysis, parallel analysis, calculation of internal consistency check convergent and
discriminant validity and estimation of the parameters of the items using the Item
Response Theory (IRT) were performed. Was used in the analyzes SPSS software,
version 18.0, 9:20 FACTOR version and language R, version 2.15.1. From the factor
analysis, there was an AEFI the factor structure composed of 13 items that assess
aspects of figure-ground (2:18), visuocontruo (4, 8, 12, 16 and 20) and visual
discrimination (9, 11, 14, 15, 17, and 18). It was possible to certify the convergent and
discriminant validity of AEFI from significant correlations with tests that assess visual
perception and lack of correlation with those that measure distinct constructs. As the
route TRI analysis it was found that the best fit of the data to the model was 1 Rach
parameter. We estimated the parameter of difficulty of the items of which varied
between -2.81 to 0.93 (M = -0.67, SD = 1.20). It was observed that AEFV provides
more information for individuals with visual perception median. Overall, the results
indicate that the AEFI was configured as a valid measure for assessing visual perception
in the elderly.
Keywords: visual perception, elderly, aging, cognitive aging, validity, TRI.
14
Introduo
O processamento visual caracteriza-se como o sistema sensorial mais importante
para o homem (Schiffman, 2005). De acordo com Gazzaniga, Ivry e Mangnun (2006),
as informaes visuais dominam as percepes do ser humano. Os autores acrescentam
que a viso teve uma importncia evolutiva na histria da humanidade, ao possibilitar a
percepo de informaes distantes. Para Schiffman (2005), a relevncia do sistema
visual pode ser constatada pelo fato de metade do crtex cerebral ser destinado ao
processamento das informaes visuais.
O fenmeno do envelhecimento acompanhado do declnio de diversas funes
cognitivas (Salthouse, 2010). De acordo com Foutaine (2010), existem alteraes
perceptivas observadas nos idosos. O autor resume inmeros estudos que apontam que
as principais mudanas da percepo visual esto relacionadas: ao aumento com a idade
dos limiares absolutos e diferenciais; ao aumento da sensibilidade de ofuscao;
dificuldade de discriminao de certas cores; e reduo da acuidade visual.
possvel encontrar na literatura inmeras medidas utilizadas na avaliao da
percepo visual. Entretanto, boa parte dos testes e escalas aplicadas apresenta estudos
de validao apenas com crianas. Desse modo, a finalidade desse estudo foi verificar
evidncias de validade da Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV) em uma
amostra de idosos saudveis. A presente dissertao composta por duas partes
subdivididas em 10 captulos. A Parte I Marco Terico constitui-se de dois captulos
que possuem carter introdutrio. O Captulo 1 aborda as principais idias sobre a
percepo, com enfoque na percepo visual. O Captulo 2 apresenta os aspectos gerais
do envelhecimento cognitivo e estudos que relacionam o envelhecimento com a
percepo visual. A parte II Estudo Emprico formada por oito captulos. No
Captulo 3 so apresentados os objetivos do estudo. O captulo 4 descreve o mtodo da
15
pesquisa. Os Captulos 5 e 6 tratam do relato e discusso dos principais resultados
encontrados. O Captulo 7 aborda as consideraes finais do estudo. No Captulo 8
esto disponibilizadas as referncias utilizadas. Os Captulos 9 e 10 apresentam
respectivamente os apndices e anexos.
16
PARTE I MARCO TERICO
17
1. Percepo
1.1 Aspectos histricos do estudo da sensao e percepo
Durante a antiga civilizao grega j existia uma preocupao sobre como o ser
humano adquire o conhecimento proveniente do meio externo. Naquela poca, a
experincia era concebida como a principal maneira de obteno do conhecimento,
sendo Aristteles (384-322 a.C.) o responsvel por introduzir a classificao bsica dos
cinco sentidos: viso, audio, olfato, paladar e tato (Schiffman, 2005).
Os questionamentos sobre a aquisio de conhecimento pelo homem
direcionaram o foco, durante os sculos XVII e XVIII, para a escola filosfica
empirista, que compreendia a mente humana como uma tbula rasa. Os seus principais
representantes Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e George
Berkeley (1685-1753) defendiam que todo o conhecimento derivado das experincias
dos sentidos (Schultz & Schultz, 2009). De acordo com os empiristas, as sensaes so
as principais fontes de informao do meio externo (Schiffman, 2005).
Em meados do sculo XIX, a emancipao das cincias sociais em relao
filosofia foi substancialmente influenciada pelos pressupostos epistemolgicos
provenientes do pensamento positivista (lvaro & Garrido, 2006). O progresso
observado nas cincias naturais contribuiu no fortalecimento da ideia de que para o
desenvolvimento do conhecimento social era necessria a adoo dos mesmos
princpios metodolgicos utilizados pelos cientistas naturais. No que diz respeito
Psicologia, houve influncia principalmente da Fisiologia e Psicofsica (lvaro &
Garrido, 2006).
18
Diversos foram os pensadores que contriburam para a consolidao da
Psicologia no ambiente acadmico. De acordo com lvaro e Garrido (2006), Johann
Friedrich Herbart (1776-1841) foi um dos primeiros a propor a psicologia como cincia,
ao relacionar os contedos mentais com frmulas e expresses matemticas. Segundo
Schiffman (2005), outros pesquisadores como Ernst Weber (1834-1846) e Gustav
Fechner (1850-1860) deixaram contribuies relevantes. O primeiro realizou
experimentos somatossensoriais e introduziu a ideia da diferena mnima detectvel
entre estmulos diferentes. J Fechner (1850-1860), que considerado o pai da
psicofsica, foi o responsvel pelos mtodos usualmente empregados na determinao
do limiar absoluto (Schiffman, 2005).
Embora os legados de Weber e Fechner tenham sido importantes para a
consolidao da Psicologia, foi no ano de 1879, em Leipzig na Alemanha, com a
fundao do primeiro laboratrio de Psicologia Experimental por Wilhelm Wundt
(1832-1920), que, definitivamente, a mesma se institui como cincia (Schultz &
Schultz, 2009). Alm de fundar o laboratrio, Wundt foi responsvel por criar a
primeira revista de Psicologia Experimental de sua poca e por desenvolver
experimentos envolvendo a sensao, percepo, ateno e tempo de reao (Schultz &
Schultz, 2009).
1.2 Percepo visual
A maneira pela qual o ser humano se relaciona com o mundo a sua volta passa
por dois processos psicolgicos bsicos: a sensao e a percepo. Ambos so
considerados unificveis e inseparveis, embora apresentem definies distintas
(Schiffman, 2005). A sensao consiste no processo de transformao de certos
19
aspectos da energia fsica e qumica existentes no ambiente em impulsos nervosos
capazes de ser entendidos pelos neurnios (Lent, 2010). A percepo diz respeito ao
processo psicolgico bsico capaz de atribuir significado a estmulos sensoriais, a partir
de experincias passadas (Kandel, Schwartz, Jessel, Siegelbaum & Hudspeth, 2013).
Segundo Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006), o processo perceptivo est relacionado
aquisio, interpretao, seleo e organizao de informaes adquiridas pelos
sentidos.
A percepo pode ser classificada em funo do sistema sensorial envolvido no
processo de captao do estmulo ambiental (Hockenbury & Hockenbury, 2002). Dessa
forma, pode-se considerar a existncia de uma percepo visual, uma auditiva, uma
olfativa, uma gustativa e uma ttil. Entretanto, os processos perceptivos visuais
apresentam um nmero maior de estudos. Talvez isso se deva, em parte, por dois
motivos: primeiro que diante dos demais sistemas sensoriais, o processamento visual o
que melhor se compreende em funo da acessibilidade anatomia e s estruturas
envolvidas na viso. Segundo, devido importncia adaptativa que a viso adquiriu
durante a evoluo do ser humano, de tal forma que o sistema sensorial que mobiliza
cerca de 50% do crtex cerebral para seu processamento (Schiffman, 2005).
Destarte, compreende-se a percepo visual como o resultado final de um
procedimento complexo, que envolve mais do que a transformao de estmulos fsicos
em impulsos nervosos que so transmitidos para regies especficas do crebro. Trata-se
de um processo no qual h atribuio de sentidos e significados aos inputs sensoriais
que chegam ao crtex cerebral (Gazzaniga, et al., 2006). Dessa maneira, faz-se
necessrio discorrer sobre as perspectivas tericas que lidam com o processamento
perceptual.
20
1.3 Abordagens da percepo visual
Antes de adentrar nas principais correntes tericas da percepo visual,
importante destacar as duas formas bsicas de processamento perceptual: bottom-up e
top-down. O processo bottom-up (de baixo para cima) ou data-driven processing
(processamento dirigidos por dados) prope uma anlise que parte das caractersticas
bsicas de um estmulo em direo a constituio de nveis mais elevados (Hockenbury
& Hockenbury, 2002). Ou seja, consiste em um processamento que vai das partes para o
todo. A forma de processamento top-down (de cima para baixo) ou concepually driven
processing (processamento dirigido por conceituao) envolve o conhecimento, as
experincias e as expectativas na construo da percepo. Com outras palavras,
envolve a interpretao do todo em detrimento das partes (Schiffman, 2005).
1.3.1 Abordagem neurofisiolgica da percepo visual
A perspectiva terica neurofisiolgica compreende a percepo como um
processo que envolve as vias neurais e fisiolgicas dos sistemas sensoriais (Schiffman,
2005). Prope que os mecanismos neurais embasam todo e qualquer comportamento
humano. O crebro o principal responsvel pelo processamento da informao visual.
Entretanto, existem diversos fenmenos que antecedem a chegada da informao no
crtex cerebral. Inicialmente, importante considerar que o estmulo fsico responsvel
por excitar as clulas sensrias do sistema visual a luz. A luz consiste em um tipo de
energia eletromagntica que se propaga na natureza em forma de onda (Schiffman,
2005).
21
Na percepo visual, a luz que refletida nos objetos; ao penetrar no olho
humano, passa pelo cristalino, e projeta a imagem de maneira invertida na retina (Figura
1). A retina composta por milhes de clulas fotorreceptoras que transforma a luz em
sinais eltricos por meio de um processo denominado de transduo (Goldestein, 2010;
Kandel et al., 2013).
Existem dois tipos de clulas fotorreceptoras na retina: os bastonetes e os cones,
assim denominados devido s suas formas (Figura 1). Os bastonetes esto localizados
essencialmente na regio perifrica da retina. Eles so sensveis a baixos nveis de
luminosidade e consequentemente responsveis pela viso noturna. Por outro lado, os
bastonetes no apresentam sensibilidade para a viso de cores. Acredita-se que existem
em torno de 120 a 130 milhes de bastonetes na retina (Gazzaniga et al., 2006;
Goldestein, 2010).
Figura 1. A. O olho humano com imagem invertida projetada na retina. B. Camada da retina
com clulas fotorreceptoras (cones e bastonetes), clulas bipolares, clulas ganglionares,
clulas amcrimas e clulas horizontais. Retirado e adaptado de Lent (2010).
22
Em contrapartida, os cones esto concentrados principalmente na regio da
fvea na retina. So responsveis pela viso diurna, viso de cores e viso de detalhes,
assim como so ativos em alta luminosidade e apresentam boa resoluo espacial
(Gazzaniga et. al., 2006). Alm das clulas fotorreceptoras, existem outros quatro tipos
de neurnios na retina: clulas bipolares, clulas ganglionares, clulas amcrimas e
clulas horizontais (Lent, 2010).
De forma resumida, as clulas fotorreceptoras realizam diversos tipos de
conexes neurais na retina, sobretudo com as clulas bipolares, que, por sua vez, ligam-
se s clulas ganglionares. Os axnios das clulas ganglionares formam o nervo ptico,
que se origina na regio posterior do olho, sendo responsvel por levar informaes
visuais ao crtex cerebral (Schiffman, 2005).
Antes de chegar ao sistema nervoso central, o nervo ptico converge para o
quiasma ptico, onde h um cruzamento em forma de X das fibras nervosas. no
quiasma ptico que uma parte do campo visual de cada olho se projeta no seu lado
oposto do lobo occipital. Por exemplo, metade das informaes do olho direito
representada no lado esquerdo do crtex visual. Por outro lado, pequena parte das
informaes segue para o colculo superior (regio responsvel pela coordenao dos
movimentos oculares e localizao espacial), e a maioria dos axnios, aps cruzar o
quiasma ptico, realiza sinapse com as clulas do Ncleo Geniculado Lateral (NGL),
localizado no tlamo (Gazzaniga et. al., 2006).
O NGL consiste em um importante centro de regulao e organizao de
informaes recebidas das diversas estruturas do sistema visual (Schiffman, 2005). Ao
sair do NGL, os estmulos sensoriais partem para serem interpretados no crtex visual
(Gazzaniga et. al., 2006).
23
1.3.1.1 Aspectos neuroanatmicos da percepo visual
O crtex visual composto por um agrupamento de diferentes reas funcionais,
cada uma responsvel por processar um aspecto distinto do sistema visual. A regio que
recebe a maior gama de informaes do NGL a rea visual primria ou V1, tambm
conhecida como crtex estriado e rea 17 de Brodmann (Schiffman, 2005). Ao seu
redor, esto situadas as demais reas da funo visual, que so conhecidas como crtex
extra-estriado, crtex associativo ou rea 18 de Brodmann. Assim como V1, tambm
so nomeadas de acordo com sua localizao relativa ao crtex visual primrio, como
V2, V3, V4 e V5 (rea mdio-temporal MT). A rea V1 capaz de interpretar apenas
as caractersticas elementares dos estmulos com bordas e orientaes. As reas V2 e V3
so responsveis por processar estmulos visuais relacionados forma e orientao. A
rea V4 analisa as informaes sobre cores e a rea V5 especializada no
processamento de estmulos de movimento (Kandel et al., 2013; Lent, 2010).
No obstante, existem, ainda, duas importantes vias envolvidas no
processamento visual. A primeira, denominada de via ventral, occipitotemporal ou via
o qu, responsvel pelo reconhecimento de objetos. A segunda, conhecida como via
dorsal, occipitoparietal ou via onde, fundamental para a percepo espacial (Figura
2). Mishkin, Ungerleider e Macko (1983), em estudos com macacos, identificaram vias
independentes, porm paralelas, responsveis pela discriminao e localizao dos
objetos.
24
Nesse sentido, os estudos de Haxby et al. (1991), utilizando a tcnica de
Tomografia por Emisso de Psitrons (PET) em humanos, apresentam importantes
contribuies. Tais pesquisadores propuseram a 11 indivduos a realizao de duas
tarefas. Na primeira, o participante era solicitado a discriminar faces. J na segunda, o
indivduo tinha que indicar qual dos estmulos que lhes eram apresentados encontrava-
se na mesma localizao de um estmulo padro. Haxby et al. (1991) observaram
ativao da regio occipitotemporal e occipitoparietal, durante a tarefa de discriminao
e de localizao, respectivamente.
A descoberta de diversas regies corticais responsveis pelo sistema visual
proporcionou o surgimento de modelos a respeito da maneira como as informaes so
processadas. O primeiro deles, denominado de processamento hierrquico, pressupe
que as informaes so analisadas de maneira que as mais simples antecedem as mais
complexas. O segundo, conhecido como processamento paralelo, postula que os
aspectos das informaes visuais (ex.: cor, forma, movimento) so processados
simultaneamente em regies especficas do crtex visual (Lent, 2010).
Figura 2. Vias de processamento visual: via dorsal e via ventral.
Retirado e adaptado de Lent (2010).
25
1.3.2 Abordagem da Gestalt
A Psicologia da Gestalt surgiu no incio do sculo XX, na Alemanha, em
oposio teoria estruturalista, que defendia uma viso atomista da percepo
(Schiffman, 2005). O fundador do estruturalismo, Titchener (1867-1927) compreendia a
percepo como o somatrio de sensaes bsicas e que a Psicologia deveria estudar os
fenmenos mais elementares da experincia consciente (Schultz & Schultz, 2009).
De acordo com Gordon (2004), a Psicologia da Gestalt teve incio durante o
vero de 1910, quando em uma viagem Max Wertheimer observou o padro de
funcionamento de um estroboscpio de brinquedo. Wertheimer identificou que
alternncias rpidas de dois estmulos luminosos diferentes so vistos em movimento.
Tal fenmeno foi denominado de movimento ilusrio, movimento aparente ou
fenmeno phi (ver Figura 3). Evidentemente, a percepo de movimento oferecida pela
alternncia sequencial dos estmulos no poderia ser explicada pelos pressupostos do
estruturalismo (lvaro & Garrido, 2006). Diante disso, Wertheimer continuou
estudando o fenmeno phi na Universidade de Frankfurt e, juntamente com os
psiclogos Wolfgang Khler e Kurt Koffka, desenvolveu a teoria da Gestalt (Gordon,
2004).
Figura 3. Experimento de Wertheimer de movimento ilusrio. Retirado e
adaptado de Goldstein (2010).
26
A Gestalt considera que a percepo muito mais do que os dados fsicos
bsicos fornecidos pelos nossos sentidos. Para os gestaltistas, os estmulos so
percebidos de maneira holstica e no de forma fragmentada. Os tericos da Gestalt
estavam preocupados em encontrar regras especficas capazes de explicar como as
partes se organizavam para formar o todo. Dessa forma, postularam diversos princpios
que norteiam a percepo, sobretudo acerca de como ocorre o agrupamento dos
elementos visuais de maneira a se organizar em padres, configuraes e formas
(Hockenbury & Hockenbury, 2002).
Os psiclogos da Gestalt introduziram um princpio geral denominado de lei da
pregnncia, que rege todos os demais pressupostos da teoria (Gordon, 2004). A lei da
pregnncia, tambm conhecida como lei da boa forma ou lei da simplicidade diz
respeito tendncia do ser humano perceber as coisas da maneira mais simples possvel
(Goldstein, 2010).
Houve diversos princpios de agrupamento (Figura 4) formulados pelos
Gestaltistas, dentre os quais destacam-se (Gordon, 2004): 1) Proximidade: trata-se da
capacidade perceptiva de agrupar os elementos que encontram-se mais prximos entre
si; 2) Similaridade: consiste no agrupamento perceptivo em funo da semelhana dos
elementos; 3) Boa continuidade: destaca a tendncia de perceber como grupos os
elementos que seguem em uma mesma direo; e 4) Simetria: enfatiza a preferncia por
agrupar formas simtricas em detrimento das assimtricas.
27
A abordagem da Gestalt procurou compreender, tambm, o fenmeno de figura-
fundo (Figura 5). Os gestaltistas defendiam que para perceber o mundo no qual os
objetos e as superfcies encontram-se fisicamente separados era essencial que alguns
elementos de uma cena se destacassem em relao aos demais (Gordon, 2006). A
relao figura-fundo trata-se da capacidade do indivduo perceber como figura a parte
que se apresenta como mais distinta e nitidamente definida, e como fundo aquilo que
no to distinto (Schiffman, 2005).
Figura 4. Princpios da Gestalt. a) princpio da proximidade; b) princpio da
similaridade; c) princpio da boa continuidade; e d) princpio da simetria. Retirado
e adaptado de Gordon (2004).
28
Nessa perspectiva, Goldstein (2010) apresenta as principais propriedades da
relao figura-fundo: 1) a figura possui a qualidade de ser mais memorvel do que o
fundo; 2) a figura, quando comparada com o observador, parece estar mais prxima do
que o fundo; 3) o fundo apresenta a caracterstica de ser visto como um elemento de
forma indefinida que comporta por trs da figura; e 4) a figura possui a capacidade de
delimitar, por meio do contorno, sua forma, ou seja, o que se trata de figura e o que se
trata de fundo.
1.3.3 Habilidades perceptivas
A percepo visual pode ser compreendida por um conjunto de aspectos ou
habilidades complexas. Nessa perspectiva, Frostig, Lefever e Whittlesy (1964)
elaboraram o Developmental Test of Visual Perception (DTVP) para crianas com
dificuldade de aprendizagem. Os autores propuseram a existncia de cinco habilidades
Figura 5. Exemplo de figura-fundo, vaso de
Rubin. Retirado e adaptado de Gordon (2004).
29
perceptivas: coordenao visuo-motora, figura-fundo, constncia da forma, posio no
espao e relaes espaciais.
Por outro lado, Clutten (2009), em estudo sobre o desenvolvimento de uma
bateria para a avaliao da percepo visual em alunos do ensino bsico, realiza uma
minuciosa descrio dos diversos aspectos da percepo visual, dos quais se destacam:
1) Discriminao visual: capacidade de diferenciar objetos; 2) Constncia da forma:
habilidade de reconhecer uma forma, independente do tamanho, cor ou posio; 3)
Posio no espao: trata-se da identificao de figuras, formas ou objetos invertidos ou
em diferentes rotaes; 4) Relaes espaciais: diz respeito ao reconhecimento de objetos
em determinada posio ou orientao no espao; e 5) Figura-fundo: capacidade de
discernir um objeto ou uma forma do seu fundo.
Existem maneiras distintas de avaliar a percepo visual, dentre as quais
encontram-se as escalas e os testes neuropsicolgicos, que podem auxiliar numa
avaliao de forma adequada e eficaz. A seguir, so descritas algumas das medidas
utilizadas na avaliao da percepo visual.
1.4 Avaliao da percepo visual
1.4.1 Escalas e testes neuropsicolgicos de avaliao da percepo visual
Para a avaliao da percepo visual, pode-se contar com inmeros
instrumentos: aqueles que avaliam apenas um componente especfico da percepo
visual; aqueles que avaliam diversos aspectos perceptivos; e as baterias
neuropsicolgicas que avaliam vrias habilidades perceptuais.
30
Dentre os que avaliam apenas um aspecto da percepo visual, encontram-se,
sobretudo, os seguintes testes neuropsicolgicos:
Teste da Figura Complexa de Rey (Oliveira & Rigoni, 2010), Teste do
Desenho do Relgio e Teste Gestltico Visuomotor de Bender (Bender,
2003): todos avaliam a habilidade de visuoconstruo (Strauss, Sherman
& Spreen, 2006);
Teste de Organizao Visual de Hooper (1958): avalia o aspecto visuo-
espacial (Strauss et al., 2006);
Julgamento de Orientao de Linhas (Benton, Varney & Hamsher,
1978): possui o objetivo de mensurar a orientao e a percepo espacial
(Strauss et al., 2006);
Teste de Discriminao Visual de Benton (Benton, Hamsher, Varney &
Spreen, 1983): avalia a habilidade de discriminao visual;
Teste de Figuras Sobrepostas de Poppelreuter (Sells & Laner, 2011) e
Teste de Percepo Visual Figura Fundo (Petersen, Goar & Deusen,
1985): objetivam mensurar o aspecto figura-fundo da percepo visual;
Por outro lado, existem os instrumentos que mensuram vrios aspectos da
percepo visual. O Developmental Test of Visual Perception (DTVP), elaborado por
Frostig e colaboradores (Maslow, Frostig, Lefever & Whittlesey, 1964) com a
finalidade de avaliar a percepo visual de crianas com dificuldade de aprendizagem,
composto por cinco subtestes, cada um responsvel por avaliar um aspecto especfico da
percepo visual: coordenao visuomotora, figura-fundo, constncia da forma, posio
no espao e relaes espaciais.
H tambm as baterias neuropsicolgicas que avaliam mais de um aspecto da
percepo visual. A Visual Object Space Perception (VOSP) foi desenvolvida por
31
Warrington e James (1991) com a finalidade de verificar as funes visuoespaciais.
Dessa forma, o instrumento composto por oito categorias das quais quatro avaliam a
percepo de objeto e quatro, a percepo de espao (Strauss et al., 2006).
Nessa perspectiva, diversos pesquisadores (Femina, Senese, Grossi & Venuti,
2009; Grossi et al., 2002; Nichelli & Magherini, 2005; Trojano et al., 2004) esto
realizando a avaliao da percepo visual a partir da construo de baterias
neuropsicolgicas, pois consiste em uma avaliao que contempla vrios aspectos da
percepo visual, sendo, consequentemente, mais ampla.
Apesar de existirem diversos instrumentos que avaliam algumas dimenses da
percepo visual, observa-se que a maioria foi desenvolvida e aplicada com crianas
(Andrade et al., 2012). Dessa forma, entende-se a necessidade de validar escalas que
avaliem a percepo visual em amostras diferentes, sobretudo em idosos, que
apresentam declnio cognitivo durante o processo de envelhecimento.
1.4.2 Desenvolvimento da Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV)
Foi desenvolvida a partir do Programa de Treinamento da Percepo Visual
(PTVP), realizado com crianas portuguesas que apresentavam dificuldades de
aprendizagem (Dias & Chaves, 2000). Os autores criaram um instrumento composto por
64 itens subdivididos em oito categorias da percepo visual: coordenao culo
manual, cpia, relaes espaciais, posio no espao, figura-fundo, velocidade visual
motora, lacunas visuais e constncia da forma.
Para a construo e validao da EAPV, Andrade et al. (2012) realizou dois
estudos. O primeiro, que foi a construo da escala, teve como referncia uma amostra
no-probabilstica composta por 295 acompanhantes de usurios do servio de sade,
32
com idade entre 35 e 65 anos (M = 46,21; DP = 3,40). Os pesquisadores realizaram
anlise fatorial e utilizaram-se do critrio de Kaiser para selecionar os itens. A partir
disso, propuseram uma escala constituda por 20 itens que avaliam quatro dimenses da
percepo visual: constncia da forma, figura-fundo, posio no espao e relaes
espaciais. Foram realizadas, tambm, anlise de juzes e anlise semntica.
Em um segundo estudo, foram realizadas anlises das propriedades
psicomtricas da EAPV. Os pesquisadores utilizaram uma amostra de 183 indivduos
dos sexos masculino e feminino com faixa etria de 35 a 65 anos (M = 47,98; DP =
7,47). Realizaram anlise fatorial, utilizando o mtodo PAF (Principal Axis Factoring)
com rotao oblqua para extrao e rotao dos fatores. Foram encontrados ndices
satisfatrios de fatoriabilidade (Kaiser-Meyer-Olkin KMO = 0,89 e Teste de
Esfericidade de Bartlett =5195,50; p
33
2. Envelhecimento cognitivo
O envelhecimento est comumente relacionado a dficits e perdas ao nvel
funcional, cognitivo e comportamental (Neri, 2006). Por outro lado, Salthouse (2010)
pontua que existem registros histricos de interpretaes negativas e positivas do
envelhecimento cognitivo. Segundo o autor, Plato (360 a.C.), por exemplo, acreditava
que o envelhecimento proporcionava uma reduo na capacidade de aprendizagem do
homem. J para Solon (600 a.C.), o envelhecimento sempre era capaz de ofertar o
aprendizado de coisas novas. Desde antigamente, possvel observar as divergncias
de opinies acerca do envelhecimento cognitivo (Salthouse, 2010).
Segundo Neri (2006), h um consenso entre os pesquisadores de que o
envelhecimento proporciona um declnio normal da cognio, a partir da meia-idade,
porm sendo mais comum aps os 70 anos. A autora referencia estudos dos quais
apontam as funes cognitivas como algo fundamental para a qualidade de vida na
velhice e longevidade. Por outro lado, o comprometimento cognitivo frequentemente
est associado a desconforto pessoal, perda de autonomia e aumento dos custos sociais
(Neri, 2006).
Existem diferentes formas de avaliar a capacidade cognitiva. Salthouse (2010)
enumera cinco perspectivas distintas utilizadas na investigao do envelhecimento
cognitivo: psicomtrica, cognitiva experimental, neuropsicolgica, neurocincia
cognitiva e epidemiolgica.
A abordagem psicomtrica trabalha com testes padronizados com a finalidade de
verificar as diferenas entre os indivduos. Caracteriza-se, sobretudo, pela utilizao de
grandes amostras com aplicao de vrios testes cognitivos. Preocupa-se
fundamentalmente com as inter-relaes das variveis estudadas. A perspectiva
34
cognitiva experimental est interessada na compreenso de processos tericos
especficos. Desenvolvem estudos com amostras relativamente pequenas, que,
comumente, so formadas por dois grupos: um de jovens, como por exemplo:
estudantes universitrios, e outro de idosos. Utilizam de vrias condies ou verses
diferentes da mesma tarefa, de maneira que permite inferir relaes de causa e efeito.
Na perspectiva neuropsicolgica, os testes ou tarefas tm o objetivo de avaliar o
funcionamento de regies cerebrais especficas. Tal perspectiva desenvolve
frequentemente pesquisas com indivduos que apresentam leses cerebrais. A
abordagem da neurocincia cognitiva contempla tanto os aspectos da perspectiva
cognitiva experimental como da neuropsicolgica. Entretanto, distingue-se das demais
pela utilizao de medidas de ativao cerebral enquanto os participantes realizam os
testes ou tarefas. Por fim, a perspectiva epidemiolgica comumente est preocupada em
realizar uma avaliao cognitiva breve de um grande nmero de indivduos. Assim, se
detm mais aos aspectos gerais do funcionamento cognitivo (Salthouse, 2010).
Conforme destaca Salthouse (2010), o estudo do envelhecimento cognitivo
proporcionou duas intrigantes questes para os pesquisadores. A primeira trata-se dos
padres de relacionamento distintos entre as variveis cognitivas e o aumento da idade.
Ou seja, durante o envelhecimento cognitivo h habilidades que se deterioram enquanto
outras permanecem estveis. Nesse sentido, Park e Minear (2004) realizaram uma
pesquisa com 345 adultos de 20 a 95 anos e constataram um declnio contnuo em
funo da idade da velocidade de processamento, memria de trabalho e memria de
longo prazo visoespacial e verbal. Por outro lado, observaram que a capacidade verbal
permanceu estvel com o aumento da idade.
A segunda questo, diz respeito grande variabilidade do desempenho cognitivo
entre as pessoas independentemente da idade. Isso quer dizer que apenas uma pequena
35
proporo das diferenas cognitivas existentes entre os indivduos est associada ao
aumento da idade (Salthouse, 2010).
A constatao dos pesquisadores de que as diversas funes cognitivas
apresentavam padres diferentes de declnio em funo da idade, possibilitou a
distino de dois tipos de capacidade cognitiva. A primeira referente habilidade de
gerar, manipular e transformar informaes, e a segunda relacionada ao acmulo de
conhecimento a partir de experincias (Salthouse, 2010). Nessa perspectiva, Cattell
(1943) prope dois tipos de capacidades cognitivas denominadas de fluidas e
cristalizadas.
A habilidade fluida foi assim denominada por ter a caracterstica de fluir, de
circular por entre vrias capacidades intelectuais (Cattell, 1943). Trata-se dos aspectos
fisiolgicos e que por isso est mais susceptvel ao declnio com o aumento da idade.
Envolve as capacidades primrias como raciocnio, memria e velocidade perceptual
(Neri, 2006). Para Fontaine (2010), as aptides que melhor representam a habilidade
fluida so a complementao, o raciocnio indutivo, a flexibilidade figural e a
integrao. De acordo com Parente e Wagner (2006), a capacidade fluida trata dos
processos que precisam ser elaborados a partir de diferentes situaes e que necessitam
de elaborao de estratgias adaptativas. Isso explica, por exemplo, a dificuldade dos
idosos de desenvolver novas habilidades.
A habilidade cristalizada se refere ao produto estvel derivado da relao entre a
capacidade fluida e o meio ambiente (Salthouse, 2010). Dessa forma, a capacidade
cristalizada depende, fundamentalmente, das influncias culturais e no diminui com a
idade (Neri, 2006). Fontaine (2010) aponta que as habilidades cristalizadas esto
relacionadas com a dimenso do saber e da experincia, do julgamento, da compreenso
das relaes sociais e das convenes. Trata-se dos processos dependentes de
36
aprendizados que podem ser utilizados em qualquer situao. Como exemplo, pode-se
citar os processos que dependem do conhecimento semntico aprendidos na infncia
(Parente & Wagner, 2006).
De acordo com Nunes (2009), h quatro modelos explicativos para as diferenas
de processamento cognitivo relacionadas idade: reduo da velocidade de
processamento, declnio do funcionamento da memria de trabalho, declnio na funo
inibitria e declnio das funes sensoriais.
2.1 Reduo da velocidade de processamento
A teoria da velocidade de processamento prope que com o envelhecimento h
uma reduo na velocidade de execuo de operaes cognitivas. Essa ideia foi
proposta por Salthouse (1996) e embasada em vrias evidncias. Uma delas foi a de
que, a partir das pesquisas sobre o envelhecimento cognitivo desenvolvidas com tarefas
de lpis e papel, houve diferenas nas respostas em funo da idade. Para Salthouse
(1996), o desempenho na maioria das tarefas cognitivas dependia da rapidez perceptual
dos participantes.
Diante disso, os dficits cognitivos estariam relacionados lentido no
processamento a partir de dois mecanismos denominados de tempo limitado e
simultaneidade. No tempo limitado, existe uma restrio para a execuo de operaes
posteriores devido ao grande tempo perdido com operaes iniciais. O mecanismo da
simultaneidade trata da possibilidade das informaes iniciais serem perdidas com o
trmino do processamento final (Salthouse, 1996).
37
2.2 Declnio do funcionamento da memria de trabalho
O sistema de memria de trabalho pode ser concebido como a capacidade de
armazenamento, manuteno e manipulao das informaes, no qual seu xito est
associado quantidade de recursos disponveis (Baddeley, Anderson, & Eysenck,
2011). A memria de trabalho assume um importante papel no funcionamento cognitivo
do idoso. Nunes (2009) afirma que existem diferenas do efeito da idade no declnio da
memria de trabalho. As tarefas que implicam armazenamento e manuteno das
informaes encontram-se mais preservadas do que as tarefas relacionadas
manipulao e ao processamento das informaes. Nessa perspectiva, Dobbs e Rule
(1989) realizaram uma pesquisa com indivduos com idade entre 30 e 99 anos,
utilizando as tarefas do digit span direto e digit span inverso. Os autores constataram
redues nos desempenhos significativas entre os idosos.
2.3 Declnio da funo inibitria
A perspectiva da funo inibitria pressupe que com o aumento da idade, os
indivduos tendem a apresentar maiores dificuldades em focalizar informaes
importantes e inibir as irrelevantes (Zacks & Hasher, 1997). Assim, de acordo com a
teoria inibitria, o controle de informaes desnecessrias para a memria de trabalho
diminui com a idade resultando em problemas nas operaes cognitivas (Dixon,
Bckman, & Nilsson 2004). De acordo com Nunes (2009), possvel interpretar que o
declnio observado na memria de trabalho no est associado capacidade da memria
de trabalho propriamente dita, mas na reduo do funcionamento inibitrio.
38
2.4 Declnio das funes sensoriais
Diz respeito explicao do envelhecimento cognitivo a partir do declnio das
funes sensoriais com o aumento da idade. Lindenberger e Baltes (1994) apresentam
dados relevantes para a compreenso da relao existente entre idade e funcionamento
sensorial. Os autores realizaram medidas de acuidade (visual e auditiva) e de
inteligncia em uma amostra estratificada de idosos na cidade de Berlin. Constataram
que as funes sensoriais foram capazes de explicar 93,1% da varincia relacionadas
idade da medida de inteligncia.
Por outro lado, o envelhecimento cognitivo tambm est associado a mudanas
no sistema nervoso central. De acordo com Fontaine (2010), as principais alteraes
com o avanar da idade so: reduo de peso e volume da massa enceflica, surgimento
de placas senis, degenerescncia neurofibrilar, diminuio da neuroplasticidade,
mortalidade neuronal e rarefao e enriquecimento dentrticos.
As regies dos crtices cerebrais apresentam padres distintos de
envelhecimento. H, por exemplo, uma maior vulnerabilidade com aumento da idade
das regies associativas. Em contrapartida, os crtices sensoriais primrios (visual,
motor e somatossenssorial) so menos vulnerveis ao processo do envelhecimento.
(Rodrigue & Kennedy, 2011).
2.5 Envelhecimento cognitivo e percepo visual
O processo de envelhecimento pode ser acompanhado pelo declnio gradual de
diversas funes cognitivas. Conforme Yassuda e Abreu (2006), as funes cognitivas
39
que apresentam declnio significativo em idosos saudveis so as de memria, ateno e
as funes executivas.
Alguns estudos tm sugerido relao entre o declnio da percepo visual com o
envelhecimento humano (Costa et al., 2009; Santos, Oliveira, Nogueira, & Simas, 2006;
Santos, Simas, & Nogueira, 2003; Santos, Oliveira, Nogueira, Cruz, & Simas, 2006).
Faubert (2002) referencia pesquisas nas quais o aumento da idade est associado
reduo da acuidade visual, diminuio da sensibilidade ao contraste, a perdas da
sensibilidade dos cones para longos, mdios e principalmente curtos comprimentos de
ondas, e reduo da sensibilidade ao movimento. Por outro lado, Levine et al. (2000)
destacam diversos estudos em que o envelhecimento tambm est relacionado ao
prejuzo de outros aspectos das funes visuais, tais como: ateno visual, funes
visuoespaciais e codificao e reconhecimento de estmulos visuais.
Entretanto, conforme apontam Costa et al. (2009) e Fauber (2002), as pesquisas
desenvolvidas com a finalidade de encontrar alteraes entre a percepo visual e o
envelhecimento tm apresentado resultados contraditrios, pois h caractersticas da
percepo visual que so afetadas com envelhecimento, em detrimento de outras.
Estudos tm relacionado as funes perceptivas visuais com sndromes
demenciais (Binetti, et al., 1998; Hanish, 2008; Nguyen, Chubb & Huff, 2003;
Schmidtke & Olbrich, 2007). De acordo com o DSM-IV, demncia consiste no
comprometimento de vrias funes cognitivas, tais como: memria, afasia, apraxia,
agnosia ou pertubao do funcionamento executivo. Existem diversos tipos de
demncias, sendo a Doena de Alzheimer a mais comum (Herrera Jr., Caramelli,
Silveira, & Nitrini, 2002; Lopes & Bottino, 2002). Segundo Machado, Ribeiro, Leal e
Cotta (2007), a demncia considerada uma das mais importantes causas de
morbimortalidade entre idosos e um dos problemas de sade mental que tem aumentado
40
em importncia e em estatsticas. De acordo com Cunha, Pinheiro, Scoralick e Silva
(2006), juntamente com a depresso, os quadros de demncia so as enfermidades mais
prevalentes em geriatria. Segundo Herrera Jr. et al. (2002), a demncia acomete cerca de
5% dos idosos aos 65 anos e 40% daqueles que apresentam idade igual ou superior a 80
anos.
Nessa perspectiva, Quental, Brucki e Bueno (2009) afirmam que a habilidade
visuoespacial consiste em uma das funes cognitivas que pode ser prejudicada na
Doena de Alzheirmer. Observa-se dficits visuoespaciais em atividades que envolvem
discriminao visual, anlise e julgamento espacial e organizao perceptiva (Quental,
Brucki, & Bueno, 2009).
Segundo Camargo, Gil e Moreno (2006), a percepo de profundidade, a
adaptao da viso ao escuro e a distino de coisas a distncia comeam sofrer
alteraes a partir dos 50 anos de idade. Dessa forma, o comprometimento das funes
perceptivas e/ou visuoespaciais nos idosos interfere na realizao de diversas atividades
dirias como, por exemplo, as que eles necessitam distinguir distncias, perceber a
profundidade de degraus e falhas no calamento (Camargo, Gil, & Moreno, 2006).
Assim, a partir da constatao do declnio perceptivo em funo do
envelhecimento e da presena do comprometimento perceptual nos processos
demenciais, entende-se a importncia de avaliar a percepo visual nos idosos.
Entretanto, diante dos custos da avaliao, percebe-se a necessidade de estudar
parmetros psicomtricos de escalas que avaliem aspectos da percepo visual, na
medida em que consistem em alternativas mais rpidas e baratas.
41
PARTE II ESTUDO EMPRICO
42
3. Objetivos
3.1 Geral
Verificar evidncias de validade da Escala de Avaliao da Percepo Visual
(EAPV) em idosos.
3.2 Especficos
Verificar a estrutura fatorial da EAPV;
Verificar a validade convergente por meio de correlao entre a EAPV e os
Teste da Figura Complexa de Rey (TFCR), Teste de Discriminao Visual de
Benton (TDVB) e Teste de Figuras Sobrepostas de Poppelreuter (TFSP);
Verificar a validade discriminante por meio de correlao entre a EAPV, o Teste
de Fluncia Verbal (TFV) e a Escala de Depresso Geritrica (EDG);
Avaliar a consistncia interna do instrumento atravs do Alpha de Cronbach;
Estimar os parmetros dos itens via TRI;
43
4. Mtodo
4.1 Tipo de estudo
Trata-se de uma pesquisa do tipo transversal, de abordagem quantitativa e
delineamento ex post facto.
4.2. Amostra
Os participantes deste estudo foram selecionados de maneira no-probabilstica
nos municpios de Joo Pessoa e de Campina Grande PB. Os critrios de incluso
utilizados foram: morar na comunidade, ter idade igual ou superior a 60 anos e no
manifestar dficit cognitivo, evidenciado por exibir uma pontuao acima de 18 para os
analfabetos e 24 para indivduos com instruo escolar, obtidas no Mini-Exame do
Estado Mental MEEM (Loureno & Veras, 2006).
Foram excludos aqueles participantes que apresentaram: a) acuidade visual
prejudicada ou no-corrigida, verificada a partir da cartela de optotipos E de Raskin;
b) sintomas depressivos com escores superior a 6 (seis) na Escala de Depresso
Geritrica EDG (Paradela, Loureno & Veras, 2005); c) comprometimento funcional
com pontuao superior a 3 (trs), evidenciado pelo Questionrio de Atividades
Funcionais de Pfeffer QAFP (Pfeffer, Kurosaki, Harrah, Chance, & Filos, 1982); d)
presena de graves dficits de audio ou de fala, que dificultem fortemente a
comunicao; e e) presena de doenas endcrinas (Ex.: Diabetes Mellitus), doenas do
sistema nervoso (Ex.: Doena de Parkinson, Doena de Alzheimer, Esclerose Mltipla),
doenas cerebrovasculares (Ex.: Acidente Vascular Cerebral AVC) e transtornos
44
metais e comportamentais (Ex.: Esquizofrenia), verificados a partir da Escala de
Avaliao de Doenas Cumulativas CIRS (Linn, Linn, & Gurel, 1968).
Finalmente, foram selecionados 104 idosos, dos quais so apresentados na
Tabela 1 as caractersticas sociodemogrficas, os dados cognitivos, afetivos, funcionais
e de sade. Por meio dos instrumentos MEEM, EDG, QAFP e CIRS, foi possvel
certificar que os participantes no apresentavam dficits cognitivos, transtornos
depressivos, perdas funcionais e problemas de sade. Alm disso, por meio da Escala de
Avaliao de Demncia (DRS), foi possvel observar que os idosos no demonstraram
alterao na memria, ateno, funcionamento executivo e percepo.
Tabela 1.
Estatsticas descritivas dos aspectos sociodemogrficos, cognitivos, afetivos, funcionais
e de sade
Varivel M DP Mn Mx
Feminino
Sexo 77,9%
Idade 71,47 6,20 61 86
Anos de escolaridade 9,63 5 2 22
MEEM 26,14 2,17 20 30
DRS_A 34,73 1,72 26 37
DRS_I/P 34,58 3,43 20 37
DRS_Const 5,87 ,72 1 7
DRS_Conc 30,22 4,68 6 39
DRS_M 21,42 3,66 11 26
DRS_Total 126,82 9,43 95 140
TFCR 23,66 9,47 2 36
TFSP 14,09 3,34 7 20
TDVB 24,54 4,43 11 32
TFV 16,13 3,76 9 26
EDG 2,56 1,97 0 6
QAFP ,14 ,51 0 2
CIRS 1,67 ,76 0 3
Nota. MEEM = Mini Exame do Estado Mental; DRS_A = Escala de Avaliao de
Demncia (Sub-escala Ateno); DRS_I/P = Escala de Avaliao de Demncia (Sub-
escala Iniciativa e Perseverao); DRS_Const = Escala de Avaliao de Demncia (Sub-
escala Construo); DRS_Conc = Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala
Conceituao); DRS_M = Escala de Avaliao de Demncia (Sub-escala Memria); DRS
= Escala de Avaliao de Demncia (Total); TFCR = Teste da Figura Complexa de Rey;
TFSP = Teste de Figuras Sobrepostas de Poppelreuter; TDVB = Teste de Discriminao
Visual de Benton; TFV = Teste de Fluncia Verbal; EDG = Escala de Depresso
Geritrica; QAFP = Questionrio de Atividades Funcionais; CIRS = Escala de Avaliao
de Doenas Cumulativas.
45
4.3 Instrumentos
O protocolo de coleta de dados foi composto por 9 instrumentos, alm da Escala
de Avaliao da Percepo Visual (EAPV), divididos entre escalas e testes
neuropsicolgicos que foram organizados de acordo com seus objetivos. Dessa forma, a
bateria formada por instrumentos que avaliam: a) o funcionamento cognitivo; b) a
percepo visual; c) o estado afetivo; d) a funcionalidade; e) a sade; e f) os aspectos
sociodemogrficos.
4.3.1 Funcionamento cognitivo
Mini-Exame do Estado Mental (MEEM): consiste num questionrio de 30 itens,
com pontuao variando de 0 a 30, que avalia sete categorias de funes cognitivas,
assim distribudas: orientao temporal, orientao espacial, memria imediata, ateno
e clculo, evocao atrasada de palavras, linguagem e praxia construtiva (Veridiana,
2013).
Escala de Avaliao de Demncia DRS (Mattis, 1988): adaptada e validada
para o Brasil por Porto et al. (2003), a escala consiste em 36 atividades dividas em 5
subescalas: Ateno, Iniciativa/Perseverao, Construo, Conceituao e Memria. A
pontuao varia de 0 a 144 pontos, distribudos da seguinte forma nas subescalas:
Ateno, 37 pontos; Iniciao/Perseverao, 37 pontos, Construo, 6; Conceituao,
39 pontos e Memria 25 pontos.
Teste de Fluncia Verbal (TFV): trata-se de uma tarefa para avaliar a memria
semntica e as estratgias de busca relacionadas funo executiva. Ao participante
46
solicitado que recorde todos os animais ou bichos que conseguir em um tempo de 60
segundos. A pontuao consiste no total de animais lembrados (Brucki et al., 1997).
4.3.2 Percepo visual
Escala de Avaliao da Percepo Visual (EAPV): composta por 20 itens que
avaliam quatro dimenses da percepo visual: constncia da forma, figura-fundo,
posio no espao e relaes espaciais e que apresentam como alternativas de respostas:
correto (1), errado ou faltante (0).
O Teste de Figura Complexa de Rey (TFCR): foi desenvolvido por Andr Rey,
em 1942, com o objetivo de avaliar as habilidades de construo visuo-espacial e
memria (Oliveira & Rigoni, 2010). O teste consiste em um carto com o desenho de
uma figura geomtrica complexa do qual o sujeito solicitado a realizar uma cpia em
uma folha em branco. Durante o processo, os participantes so instrudos a utilizar lpis
de cores, que so trocados de acordo com o comando do examinador para que se
obtenha uma sequncia das formas desenhadas (Oliveira & Rigoni, 2010). Aps 10
minutos do trmino da cpia, o sujeito requisitado a reproduzir o desenho novamente
sem a presena do carto estmulo.
Teste de Discriminao Visual de Benton (TDVB): introduzido por Benton et al.
(1983), o teste possui a finalidade de avaliar a percepo visual de formas. Trata-se na
apresentao de 16 estmulos compostos por 3 figuras geomtricas distintas que esto
organizadas em uma certa ordem, rotao e posio. O participante instrudo a
identificar na folha de respostas, formada por 4 opes, o estmulo apresentado pelo
examinador. Existe apenas uma reposta correta com as demais opes se diferenciando
em pequenos detalhes. De acordo com Benton et al. (1983), deve-se atribuir 2 pontos
47
para cada resposta totalmente correta, 1 ponto para repostas que envolve erro das formas
perifricas e 0 ponto para os erros de maior rotao, distoro ou no respondeu. Dessa
forma, a pontuao total do instrumento apresenta uma variao de 0-32 pontos.
Teste de Figuras Sobrepostas de Poppelreuter (TFSP): foi proposto inicialmente
pelo Neuropsiquiatra alemo Walter Poppelreuter, que tinha interesse no estudo da
negligncia visual (Sells & Laner, 2011). O teste caracteriza-se pela existncia de dois
grupos de figuras sobrepostas em que o participante solicitado a identificar todos os
objetos apresentados. O primeiro grupo de figuras composto por 5 itens sobrepostos e
o segundo, por 15. A pontuao possui uma variao de 0-20, sendo um ponto atribudo
a cada figura identificada corretamente.
4.3.3 Estado afetivo
Escala de Depresso Geritrica (EDG-15): em sua forma reduzida (Yesavage et
al., 1983), composta por 15 itens, sob o formato de respostas sim e no, que
investigam o humor e o sentimento do sujeito nas ltimas duas semanas. A pontuao
total varia de 0 a 15 pontos e escore acima de 6 pontos sugere provvel depresso
(Almeida & Almeida, 1999).
4.3.4 Funcionalidade
Questionrio de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP): foi desenvolvido por
Pfeffer et al. (1982) e adaptado para o Brasil por Sanchez, Correa e Loureno (2011). O
instrumento possui a finalidade de avaliar as atividades instrumentais de vida diria.
composto por 10 questes sob o formato de respostas que varia de 0 (desenvolve a
48
atividade normalmente) a 3 (no capaz). A pontuao varia de 0 a 30 e escores
superiores a 3 sugerem comprometimento funcional.
4.3.5 Sade
Escala de Avaliao de Doenas Cumulativas (CIRS): tem como objetivo
verificar o ndice de funes mdicas gerais em 14 subsistemas orgnicos: cardaco,
respiratrio, hematolgico, gastrointestinal superior, gastrointestinal inferior,
genitounirrio, heptico/pancretico, renal, musculoesqueltico, endcrino/metablico,
neurolgico e psiquitrico. A pontuao varia de 0 (representa nenhum problema) a 4
(representa disfuno orgnica terminal, necessitando de tratamento imediato) (Linn,
Linn & Gurel 1968).
4.5 Aspectos sociodemogrficos
Questionrio sociodemogrfico: ser composto por 26 questes de respostas
estruturadas relacionadas : idade, data de nascimento, gnero, raa, ocupao, trabalho,
aposentadoria, penso, alfabetizao, escolaridade, nmero de filhos, arranjo de
moradia, propriedade da residncia, chefia familiar, renda mensal individual e renda
mensal familiar.
4.6 Procedimentos
A coleta de dados foi realizada em Centros de Convivncia, Unidades Bsicas de
Sade da Famlia UBSF e em trs programas da Universidade Estadual da Paraba
49
(UEPB), destinados para o idoso: Universidade Aberta no Tempo Livre, Viva a Velhice
com Plenitude e Universidade Aberta Maturidade UAMA. Para a realizao da
pesquisa nas UBSF e nos Centros de Convivncia foram adquiridas autorizaes com as
Secretarias Municipais de Sade. Quanto aos programas da UEPB, os consentimentos
para a coleta foram solicitados com os devidos coordenadores. Aps as devidas
permisses, foram realizadas visitas s instituies e, em um espao reservado, os
idosos eram convidados a participar da pesquisa.
4.7 Anlises estatsticas
Os dados foram tabulados no SPSS (Statistical Package for the Social Sciences),
verso 18.0 para Windows, para a realizao de anlises descritivas, Anlise Fatorial
Exploratria, anlise paralela, clculo da consistncia interna e verificao de validade
convergente e discriminante. Em seguida os dados foram exportados para o software
Microsoft Excel, com a finalidade de executar Anlise Fatorial com matriz de
correlaes tetracricas por meio do software FACTOR verso 9.20 (Lorenzo-Seva,
Timmerman, & Kiers, 2011). Por fim, foram realizadas anlises orientadas pela Teoria
de Resposta ao Item (TRI) com a utilizao da linguagem R, verso 2.15.1 (R Core
Team, 2012) e do pacote ltm (Rizopoulos, 2006). Em um primeiro momento, averiguou-
se a unidimensionalidade da escala (uns dos princpios fundamentais para anlise
embasada na TRI) a partir das anlises fatoriais. Em seguida, procurou-se verificar os
parmetros dos itens.
A TRI surgiu durante a dcada de 1950, impulsionada pelas limitaes
existentes na Teoria Clssica dos Testes (TCT). De acordo com Pasquali (1996), os
principais problemas encontrados na TCT so: 1) a dependncia que os parmetros dos
50
itens apresentam em funo da amostra em que os mesmos foram estimados; 2) o fato
do clculo do parmetro de discriminao (a) ser realizado tendo como referncia o
escore total do teste; 3) a fidedignidade do teste frequentemente estimada a partir de
formas paralelas do teste utilizado; e 4) considera a varincia dos erros de medida como
sendo a mesma para todos os testandos.
Diante de tais limitaes, modelos matemticos complexos foram elaborados
para a estimao dos parmetros dos itens. A TRI tomou como referncia o conceito de
trao latente, representado pela letra (Teta). Segundo Pasquali (1996), o trao latente
apresenta diversas denominaes, das quais destacam-se: fenmenos psicolgicos,
construto, habilidade, aptido, trao psquico, varivel hipottica. O principal objetivo
da TRI consiste em fornecer modelos capazes de relacionar as variveis observveis
(ex.: itens de um teste) com traos hipotticos no observveis () (Pasquali & Primi,
2003). Assim, as repostas de um indivduo em um teste (variveis observveis) podem
ser preditas pela magnitude do (variveis hipotticas). Com outras palavras, o trao
latente a causa e o desempenho do indivduo o efeito (Pasquali, 2007).
H duas suposies ou hipteses que norteiam a TRI: a unidimensionalidade e a
independncia local. A primeira, parte do princpio de que existe um nico trao latente,
ou pelo menos um que seja dominante, responsvel por um conjunto de varveis
observadas. J a independncia local pressupe que as repostas dos sujeitos a quaisquer
dos itens no dependem estatisticamente entre si. Ou seja, o desempenho do indivduo
em um item independente de sua performance em outro item, sendo influenciado
apenas pela magnitude de seu teta () (Pasquali & Primi, 2003; Pasquali, 2007;
Andriola, 2009).
Diversos tipos de modelos matemticos foram construdos com a inteno de
expressar a relao do trao latente com as variveis observadas. Entretanto, existem 3
51
modelos predominantes que se diferenciam em funo dos nmeros de parmetros
(dificuldade, discriminao e acerto ao acaso) utilizados para descrever o item
(Andrade, Tavares & Valle, 2000).
O primeiro modelo que foi idealizado por Rasch (1960), conhecido tambm
como Modelo logstico de 1-parmetro, trabalha apenas com o ndice de dificuldade
representado pela letra b. O parmetro apresenta a quantidade de teta () necessrio
para que um indivduo tenha a probabilidade de 50% de responder corretamente um
item (Pasquali, 2007; Andrade, Laros & Gouveia, 2010). O modelo produz uma curva
denominada de Curva Caracterstica do Item (CCI), na qual encontra-se no eixo das
ordenadas a probabilidade do indivduo acertar um item, e nas abscissas, a quantidade
de teta necessrio (ver Figura 6).
O segundo modelo denominado de Modelo logstico de 2-parmetros foi
introduzido por Birnbaum (1968), que acrescentou ao modelo proposto por Rasch
Figura 6. Exemplo de Curva Caracterstica do Item (Pasquali & Primi,
2003).
52
(1968) a estimao da discriminao do item representado pela letra a. Como exposto
na Figura 7, o parmetro pode ser visualizado pela inclinao da curva no ponto de
inflexo no qual a probabilidade de acerto de 50% (Pasquali, 1996).
O Modelo logstico de 3-parmetros foi desenvolvido por Lord (1980) e
considerado o terceiro modelo mais utilizado na TRI. Parte do pressuposto de que as
chances de acertar um item depende da sua dificuldade (parmetro b), de sua
capacidade de discriminao (parmetro a) e da probabilidade de que o mesmo seja
acertado ao acaso (parmetro c) (Andriola, 2009). Devido o acerto ao acaso, o item
torna-se mais fcil. Por este motivo, estima-se um parmetro de dificuldade para que o
indivduo tenha uma probabilidade de 60% de responder o item corretamente (Figura 3)
(Pasquali, 2007).
Figura 7. Exemplo dos parmetros de discriminao de dois itens (Pasquali
& Primi, 2003).
53
A estimao do modelo da TRI possibilita tanto o clculo da CCI, como tambm
da Funo de Informao (FI). A FI consiste na magnitude de informao psicomtrica
de um item contida em um trao latente (Pasquali, 2007). Diante da FI, possvel
construir um grfico denominado curva de informao para os itens individualmente ou
para um teste como um todo. De acordo com Couto e Primi (2011), a FI uma
importante ferramenta na anlise dos itens, na medida em que permite o conhecimento
tanto da quantidade de informao que um item acumula em , como do valor de em
que o item apresenta mais informao.
4.8 Consideraes ticas
O presente projeto foi submetido e aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa
CEP do Centro de Cincias da Sade (CCS/UFPB), sob o protocolo n 0141/13 (ver
Figura 8. Exemplo do parmetro de acertos ao acaso (adaptado de
Pasquali & Primi, 2003).
54
anexo A). Antes do incio da entrevista, os idosos foram esclarecidos acerca dos
objetivos e justificativas da pesquisa, da sua participao voluntria e do sigilo e
anonimato das informaes. Em seguida, como condio necessria para a participao
do estudo, todos os idosos assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido
(Apndice A), elaborado em duas vias, uma para o participante ou representante legal e
outra para o pesquisador. Dessa forma, a investigao seguiu todas as diretrizes
regulamentadoras da Resoluo n. 196, de 10 de outubro de 1996 do Conselho
Nacional de Sade que asseguram os direitos e deveres relacionados a pesquisas
envolvendo seres humanos (Brasil, 1996).
55
5. Resultados
Os resultados esto organizados da seguinte maneira: inicialmente, esto
apresentados os resultados relativos estrutura fatorial da EAPV, seguidos das
evidncias de validade da escala. Posteriormente, esto dispostos os resultados
referentes verificao dos parmetros dos itens da escala por meio da Teoria de
Resposta ao Item (TRI).
5.1 Anlise fatorial da EAPV
Procedeu-se na anlise fatorial exploratria (AFE) da mesma forma como foi
realizada por Andrade et al. (2012) na construo e validao da EAPV. Dessa forma,
primeiramente foi verificada a fatoriabilidade da matriz de correlaes entre os itens do
instrumento por meio do ndice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO = 0,69) e do Teste de
Esfericidade de Bartlett, 2 (190) = 390,828, p < 0,001, que atestaram a possibilidade
de realizao da anlise fatorial. Em seguida, foi a realizada a extrao de fatores por
meio do mtodo dos principais eixos fatoriais. O procedimento de rotao adotado foi o
da oblqua (direct oblimin). Utilizou-se, como critrio para a seleo de fatores, valor
prprio (eigevelues) igual ou superior a um (Critrio de Kaiser). A anlise sugere a
presena de oito fatores que juntos explicam 68,14% da varincia. Os valores prprios
encontrados foram: 3,94; 1,69; 1,42; 1,27; 1,18; 1,14; 1,11 e 1,06. Entretanto, a
observao da distribuio grfica dos valores prprios (critrio de Cattell; Figura 9)
aponta para a extrao de apenas um nico fator.
56
Por outro lado, a inspeo da estrutura fatorial (Tabela 2) aponta para a excluso
dos itens 5, 6, 8, 9 e 14 por no carregarem em nenhum fator ou por terem cargas
cruzadas. Alm disso, observa-se a existncia de fatores que sequer apresentaram o
nmero mnimo de 3 itens (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009).
Figura 9. Grfico dos valores prprios da EAPV
57
Tabela 2.
Estrutura fatorial da EAPV.
Itens Fatores
1 2 3 4 5 6 7 8
16. Faa, em cada quadro, traos
formando uma figura igual primeira 0,746
17. Mostre qual destes animais
corresponde quele indicado acima 0,615
20. Junte os pontos para que fiquem
igual ao primeiro desenho 0,552
8. Una os pontos como demarcado no
primeiro quadro 0,498 -0,361
12. Ligue os pontos formando trs
figuras iguais primeira 0,464
19. Mostre qual a figura est na mesma
posio dos retngulos esquerda 0,336
10. Assinale, na figura, as ovelhas
representadas em sobreposio 0,765
7. Marque qual a figura est na mesma
posio dos smbolos esquerda -0,599
18. Indique, na figura, os postes
representados em sobreposio -0,386
14. Marque na figura as formas que
voc v no retngulo de cima 0,329 0,352
3. Aponte qual a seta est na mesma
posio daquela situada no primeiro
quadro
0,791
15. Indique quais os quadrados
apresentam figuras na mesma posio 0,710
4. Marque, nos retngulos com pontos,
traos na mesma posio dos do
retngulo inicial
0,403
13. Aponte quais as formas so iguais
quela destacada acima 0,517
5. Indique que figuras so iguais
destacada
2. Indique, na figura, que animais esto
representados -0,437
11. Assinale, em cada fileira, os
desenhos que esto na mesma posio -0,385
9. Marque as figuras que tm formato
idntico 0,314 0,673
1. Assinale as formas que tm o mesmo
formato do retngulo acima 0,368
6. Aponte, na figura, os chapus
representados em sobreposio
Eigenvalue 3,940 1,694 1,421 1,275 1,184 1,144 1,116 1,063
% da Varincia Explicada 19,702 8,468 7,103 6,376 5,919 5,721 5,581 5,313
58
Em virtude da incongruncia dos resultados com os apresentados na construo
e validao da EAPV por Andrade et al. (2012), decidiu-se por efetuar uma nova anlise
fatorial fixando o nmero de fatores. Deste modo, foi fixado extrao de 4 fatores que
juntos explicaram 41,64% da varincia, cujos resultados esto apresentados na Tabela 3
a seguir.
Tabela 3.
Estrutura fatorial da EAPV com fixao do nmero de fatores.
Itens Fator
1 2 3 4
16. Faa, em cada quadro, traos formando uma figura igual
primeira
0,755
8. Una os pontos como demarcado no primeiro quadro 0,726 -,0397
20. Junte os pontos para que fiquem iguais ao primeiro desenho 0,672
12. Ligue os pontos formando trs figuras iguais primeira 0,580
17. Mostre qual destes animais corresponde quele indicado acima 0,443
14. Marque na figura as formas que voc v no retngulo de
cima
0,441 0,361
19. Mostre qual a figura est na mesma posio dos retngulos
esquerda
0,418
15. Indique quais os quadrados apresentam figuras na mesma
posio
0,405
9. Marque as figuras que tm formato idntico 0,397
11. Assinale, em cada fileira, os desenhos que esto na mesma
posio
0,393 ,0308
3. Aponte qual a seta est na mesma posio daquela situada no
primeiro quadro
4. Marque, nos retngulos com pontos, traos na mesma posio
dos do retngulo inicial
6. Aponte, na figura, os chapus representados em sobreposio 0,392
10. Assinale, na figura, as ovelhas representadas em
sobreposio
1. Assinale as formas que tm o mesmo formato do retngulo
acima
5. Indique que figuras so iguais destacada
7. Marque qual a figura est na mesma posio dos smbolos
esquerda
-0,331 -0,383
18. Indique, na figura, os postes representados em sobreposio -0,332
2. Indique, na figura, que animais esto representados
13. Aponte quais as formas so iguais quela destacada acima 0,329
Eigenvalue 3,940 1,694 1,421 1,275
% da Varincia Explicada 19,702 8,468 7,103 6,376
59
Observa-se que mesmo fixando o nmero de fatores, os itens no saturam da
forma como observado por Andrade et al. (2012). Ademais, nessa segunda anlise
fatorial houve uma configurao semelhante primeira, no tocante sugesto de
excluso de itens por no carregarem em nenhum fator ou por terem cargas cruzadas
(Hair et al., 2009), assim com