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D AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUA PORTUGUESA
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO REFLETIDO NAS ESCOLAS.
Alana Alves Ribeiro
Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo
JUÍNA/2014
AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUA PORTUGUESA
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO REFLETIDO NAS ESCOLAS.
Alana Alves Ribeiro
Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo
“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Língua Portuguesa.”
JUÍNA/2014
Dedico este trabalho aos meus pais, a
meu amor Lucélio, amigos, e demais
familiares que sempre me apoiaram no
decorrer de minha caminhada quanto
estudante.
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos primeiramente a Deus, por todas as alegrias
que foram concedidas no decorrer de toda a minha vida, dando-me saúde, fé para a
realização desse trabalho monográfico de conclusão da Pós-Graduação em Língua
Portuguesa.
Agradeço aos meus pais, Antônio e Elizabeth que sempre estão ao meu lado
me aconselhando, dando-me carinho, amor e proteção e força para continuar a
caminhada, juntamente com minha irmã, Yara.
Agradeço ao meu esposo Lucélio, uma pessoa muito especial, que faz parte
de minha vida e que me mostrou os caminhos do sentimento mais bonito, o amor.
É justamente porque a língua é um tipo de comportamento estritamente social, assim como tudo numa cultura, e também porque ela revela, em suas linhas gerais, regularidades que só o cientista tem o habito de formular, que a linguística é de estratégica importância para a ciência social. Por trás de uma aparente ausência de regras do fenômeno social, existe uma regularidade na sua configuração que é tão real quanto aquela dos processos físicos do mundo mecânico... uma língua é sobretudo um produto social e cultural e como tal deve ser entendida...e peculiarmente importante que os linguistas, que são frequentes acessados – e justamente acusados – de falhas em olhar, mas além dos padrões de sua matéria de estudo, tornam-se mais contantes do que a sua ciência pode significar para a interpretação da conduta humana em geral.
Edward Sapir, 1929.
RESUMO
O propósito deste trabalho é apresentar dentro da disciplina de Língua
Portuguesa, o preconceito linguístico que os brasileiros encontram tanto na escrita
quanto na fala, sendo é possível observar essas variações linguísticas nas regiões
do Sudeste, Sul, Norte, Centro-Oeste do Brasil, que empregam diversos dialetos
para sua comunicação. Esse preconceito linguístico de fato é mais visível sobre as
pessoas que vivem em regiões do interior, uma vez que na maioria das situações de
comunicação não utilizam ou fazem pouco uso da língua-padrão, não deixando
também de focar que esse preconceito está relacionado com o status social desse
cidadão.
Esse trabalho monográfico desenvolveu-se a partir de pesquisa bibliográfica,
sendo possível observar que os professores necessitam estar preparados para
orientarem seus alunos a não cometerem o preconceito linguístico, uma vez que
essa variedade linguística é fundamental para a comunicação das comunidades
sociais.
Palavras-chave: Preconceito linguístico, Variações Linguísticas, Língua Portuguesa,
Norma Padrão.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
CAPITULO I
As faces do Preconceito Linguístico..........................................................................10
CAPITULO II
A Formação do Professor para Lidar com o Preconceito Linguístico........................16
CAPITULO III
O que caracteriza a variação linguística.....................................................................21
CONCLUSÃO............................................................................................................27
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS..........................................................................28
INTRODUÇÃO
Dentro da disciplina de Língua Portuguesa, abordaremos o preconceito
linguístico existente na fala e na escrita dos brasileiros, sendo possível observar
essas variações linguísticas nas regiões do Sudeste, Sul, Norte, Centro-Oeste do
Brasil, que utilizam diversos dialetos para sua comunicação.
Nesta pesquisa buscaremos compreender sobre as dificuldades que o
professor de língua portuguesa possui para explicar sobre as regras da norma culta,
tendo em vista que cada cidadão traz consigo sua identidade da fala materna, ou
seja, o ambiente em que o individuo nasceu e conviveu parte de sua infância,
adolescência e até mesmo a fase adulta, proporciona uma “bagagem” muito
importante para a fala desse individuo.
De fato a problemática existente se refere ao preconceito linguístico voltado
principalmente sobre as pessoas que vivem em regiões do interior e que na maioria
das situações não utilizam ou faz pouco uso da língua-padrão, estando neste caso
relacionado também com o status social.
Em diferentes regiões geográficas do nosso país encontramos o mito da
língua única, ou seja, a língua-padrão, mas que, no entanto existe uma variedade de
português não padrão que devido à existência de sua gramática particular é
ridicularizada, causando o preconceito linguístico, sendo essas pessoas também
chamadas de sem língua.
Com as bases teóricas que neste trabalho monográfico serão abordados,
tentaremos responder a seguinte indagação: Será possível convivermos com os
diferentes dialetos existentes na comunidade escolar e na sociedade em geral sem
sermos preconceituosos? Conseguiremos “quebrar” essas barreiras existentes entre
as pessoas, se os próprios meios de comunicações ridicularizam a fala de
determinadas regiões, sendo que o reflexo desses preconceitos é observado dentro
da sala de aula?
Enfatizaremos sobre o papel que os professores de Língua Portuguesa têm
que desempenhar na aprendizagem dos alunos, no qual se explica que há varias
regras para língua oficial falada no nosso país, proporcionando assim uma reflexão
do seu contexto social, baseando nas diversas regiões geográficas do Brasil.
Compreenderemos sobre a presença da língua-padrão com relação aos
diversos lugares frequentados pelos indivíduos, dos grupos sociais e, de forma
geral, da sociedade na construção do espaço geográfico.
Este trabalho monográfico justifica-se, pois apresentará a problemática
existente nas escolas, sendo que os alunos possuem dificuldades em compreender
sobre a diferença, a necessidade e o porquê de existir inúmeras variedades
linguísticas na língua portuguesa, estando também relacionada à língua-padrão e
língua não padrão. Dessa forma busca-se que seja através da leitura, do
pensamento critico e reflexivo, que possa interagir o aluno com o mundo social.
Apresentaremos os instrumentos essenciais para a compreensão e
intervenção na realidade social dos diferentes dialetos existentes, sendo possível
conhecer as múltiplas palavras que, no entanto são diferentes de região para região,
mas que apresentam o mesmo significado.
Este trabalho será estruturado em três capítulos, que desenvolvermos
através de pesquisa bibliográfica, buscando enfatizar sobre as principais dificuldades
encontradas nas escolas e na sociedade para aceitar o dialeto de cada pessoa e
principais métodos para solucionar essa problemática.
No primeiro capitulo com o titulo “As faces do preconceito Linguístico",
apresentaremos os principais conceitos que caracterizam o preconceito linguístico,
baseando-se principalmente nas pesquisas realizadas pelo autor renomado Marcos
Bagno, no qual emprega os principais fatores que levam as pessoas que tem o
conhecimento da língua padrão a ridicularizaram as pessoas com nível menos
elevado de conhecimento da norma culta, sendo também caracterizado esse
preconceito sobre as pessoas que vivem em regiões do interior que utilizam a fala
caraterística de sua região, se tornando também um preconceito linguístico devido
ao status social.
Apresentaremos o fato das redes sociais contribuírem para que aconteça
esse preconceito, devido ao fato de principalmente os canais de televisão expor
artistas nordestinos para causarem risos nos telespectadores pela “diferente” forma
de comunicação que apresentam. Para BAGNO (2007) de fato para combatermos o
preconceito linguístico tanto nas escolas, quanto na sociedade em geral, seria
necessário à mudança de atitude, não deixando que as diversas formas de
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preconceito nos ofendam ou nos ridicularize, tendo visto que a nossa fala materna
também cumpri com Um Importante Papel Na Sociedade.
No Segundo Capítulo “A Formação do Professor para Lidar com o
Preconceito Linguístico” apresentaremos as formas de tratamento que possibilitam a
facilidade de comunicação entre professor e aluno para desenvolverem uma melhor
compreensão entre si, deixando os alunos, mas a vontade para se expressarem,
possibilitando ao professor um melhor conhecimento para então aplicar os
conteúdos didáticos.
Ao abordarmos os conceitos dos autores que farão parte desse capítulo,
poderemos observar que a fala regional também fará parte dessa variação
linguística, sendo ela também caraterizada como “errada”, proporcionando então o
preconceito linguístico por parte de algumas pessoas.
No terceiro capitulo abordaremos sobre alguns conceitos que dizem respeito
à variedade linguística, abordando sobre a obra de alguns autores como Luiz Carlos
CAGLIARI (2007), os Parâmetros Curriculares Nacionais entre outros que
apresentam pontos proporcionem aos professores o direcionamento correto para se
aplicar dentro da sala de aula.
Enfatizaremos as principais características sobre a variação linguística, uma
vez que os maiores problemas existentes entre na fala e na escrita estão ligadas a
esse fenômeno que acontece preferencialmente no primeiro contato com o estudo
da língua portuguesa.
Apresentaremos alguns exemplos de falas regionais que possuem um
significado diferente para determinadas regiões, sendo que muitas vezes essa fala
característica é ridicularizada, por se distanciar da norma culta, para veremos essa
barreira torna-se necessário uma mudança de atitude por parte de quem sofre essa
discriminação, conforme veremos nos capítulos seguintes.
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CAPÍTULO I
AS FACES DO PRECONCEITO LINGUISTICO
Segundo MARCOS BAGNO (2007 p. 40) na obra “Preconceito Linguístico o
que é, como se faz”, apresenta conceitos que caracterizam que o preconceito
linguístico acontece, pois existe apenas uma única língua portuguesa, sendo está a
“ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogadas nos dicionários”,
uma vez que qualquer aparição linguística que se desvincule, já é considerada
como, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”.
BAGNO (2007), explica que quando ocorre à transformação dos encontros
consonantais como a troca de L para R, não é um “atraso mental” de falantes
“ignorantes”, mas sim um fenômeno fonético, que em muitas situações são
confundidas por grande parte da população como “errada”, causando
involuntariamente o preconceito.
A partir das palavras de BAGNO (2007), podemos perceber que esse
preconceito linguístico esta vinculado a uma visão distorcida que a sociedade tem,
podendo ser “fruto” da falta de conhecimento sobre o assunto, fazendo com que
julguemos errado o que é apenas uma das diversas regras e situações que
acontecem dentro da gramática, como citado a cima, o fenômeno fonético.
De acordo com BAGNO (2007), da mesma forma como existe o preconceito
sobre a fala de determinadas classes sociais existe o preconceito sobre a fala
característica de certas regiões, como por exemplo, nas novelas os nordestinos são
retratados como pessoas grotescas, rústicas, atrasadas, no qual são personagens
criados para provocar risos nos espectadores.
De fato os meios de comunicação expõem em seus programas de humor,
novelas, series e entre outros o cotidiano de pessoas simples, que em grande parte
das situações são moradores de cidades do interior, tendo visto que o estudo é de
mais difícil acesso e que prevalece com mais intensidade a fala regionalista,
significando que esses meios de comunicação passam a imagem de que essas
pessoas são hilárias por apresentam uma fala distante na norma padrão.
Os seres humanos adéquam a sua fala de acordo com os ambientes em
que vivem, e essa transformação ocorre com o passar do tempo, conforme relata
BAGNO (2007),
Toda variedade linguística atende ás necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam. Quando deixar de atender, ela inevitavelmente sofrerá transformações para adequar às novas necessidades. Toda variedade lingüística é também o resultado de um processo histórico próprio, com suas vicissitudes e peripécias particulares. (BAGNO, 2007, p. 47)
Conforme aponta BAGNO (2007) faz necessário instruir as pessoas para
que criem consciência de que não existe apenas uma forma de falar a língua
portuguesa, mas sim, existem variedades linguísticas que devem ser respeitadas,
pois fazem parte da identidade de cada cultura.
É preciso abandonar essa ânsia de tentar atribuir a um único local ou a uma única comunidade de falantes o “melhor” ou o “pior” português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura. Todas elas têm seu valor, são veículos plenos e perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas que as falam. Se tivermos de incentivar o uso de uma norma culta, não podemos fazê-lo de modo absoluto, fonte do preconceito. Temos de levar em consideração a presença de regras variáveis em todas as variedades, a culta inclusive. (BAGNO, 2007, p. 57)
Para BAGNO (2007, p. 74), os requisitos fundamentais para cumprir a
função de ensinar à escrita e a língua padrão, se estabelece de que a escola precisa
livrar-se de vários mitos, como:
O de que existe uma forma “correta” de falar, o de que a fala de uma região é melhor do que a de outras, o de que a fala “correta” é a que se aproxima da língua escrita, o de que o brasileiro fala mal o português, o de que o português é uma língua difícil, o de que é preciso “consertar a fala do aluno para evitar que ele escreva errado”.
Contudo BAGNO (2007, p. 115), afirma que a arma para combatermos o
preconceito linguístico é a mudança de atitude, no qual se deve elevar o grau de
autoestima linguística, ou seja, recusar os velhos argumentos que menosprezam o
saber linguístico individual de cada um. “Temos que nos impor como falantes
competentes de nossa língua materna”. O autor enfatiza que devemos ter senso
crítico todas as vezes que ocorrer uma situação linguisticamente preconceituosa, e
que necessitamos filtrar as informações que sejam realmente úteis para nós,
deixando de lado as que nos ofende.
Segundo Sílvia Brandão (1991), apresentada na obra “A geografia linguística
no Brasil” é através da língua que o homem expressa suas ideias, essas anunciadas
de acordo com a tradição que lhe foi transmitida no decorrer de sua vida, tendo visto
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que sofre constantes transformações. Devido às novas situações que surgem cada
falante utiliza e modifica sua própria língua que vai tomando novas formas, ou seja,
a língua se projeta de acordo com a cultura de cada povo.
Conforme BRANDÃO (1991, p. 01), a linguagem que um indivíduo transmite
ao falar proporciona que o interlocutor perceba seu estilo pessoal, além da
mensagem já contida em seu discurso, ou seja, o idioleto, que se enquadra em
determinado grupo. Os índices que permitem observar a “entonação, a pronuncia, a
escolha do vocabulário, a preferência por determinas construções frasais, os
mecanismos morfológicos que lhe são peculiares”, são:
1. O país ou a região de que se origina;
2. O grupo social de que faz parte (seu grau de instrução, sua faixa etária, seu nível socioeconômico, sua atividade profissional;
3. A situação (formal ou informal) em que se encontra. (BRANDÃO, 1991. p. 01).
Um processo de distinção linguística se resulta através da diferenciação
geográfica e social entre uma mesma comunidade linguística, ou seja, falares ou
dialetos regionais. A diferenciação social acontece devido às características do
grupo em que pertence como os grupos caracterizados pela: idade, sexo, raça,
classe social e níveis de fala diferenciados pelos contextos. Todavia não há
superioridade entre os dialetos geográficos ou sociais, pois cada indivíduo se
adéqua as características necessárias de seu grupo.
BAGNO (2007) aponta que Infelizmente, o preconceito linguístico é
alimentado diariamente em programas de televisão, de rádio, em colunas de jornais
e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é
“errado”, mas, no entanto, não utilizam dos instrumentos tradicionais de ensino da
língua que é a gramática normativa e os livros didáticos.
Com base nessas características poderemos observar dentro dos conceitos
do autor o que mais se adequa para combater esse preconceito, ou seja, para
BAGNO (2007) os meios mais adequados para combatê-lo faz parte do nosso dia-a-
dia, principalmente na atividade pedagógica dos professores em geral, que devem
ser aplicados nas rotinas diárias das escolas, para que os alunos desenvolvam
essas habilidades cronologicamente sem sofrerem drásticas transformações
inesperadas.
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De acordo com BAGNO (2007), a educação é privilégio da minoria da
população brasileira e consequentemente a maioria permanece à margem do
domínio de uma norma culta, da mesma forma como existem milhões de brasileiros
sem condições dignas de sobrevivência, como escolaridade, moradia, trabalho,
saúde entre outras necessidades básicas, há também milhões de brasileiros sem
língua.
BAGNO (2007) enfatiza que se formos acreditar no mito da língua única,
estamos nos equivocando, pois existem milhões de pessoas no nosso país que não
têm acesso a norma padrão, que são encontradas nas literaturas, empregadas pelas
instituições oficiais, pelos órgãos do poder.
As pessoas chamadas de sem língua, no entanto também falam português,
mas utilizam de uma variedade de português não padrão, tendo sua gramática
particular, que, no entanto não é reconhecida como válida, sendo desprestigiado,
ridicularizado, alvo de chacota e de escárnio por parte dos falantes do português-
padrão.
Conforme comenta BAGNO (2007) o preconceito linguístico inicia
primeiramente pela Constituição Federal, que afirma que todos os indivíduos são
iguais perante a lei, mas a linguagem utilizada pelo poder público não é
compreendida por muitas pessoas, por serem designadas exclusivamente para os
conhecedores da língua-padrão, uma vez que os “leigos” nessa linguagem padrão
consequentemente não conseguem compreender a mensagem a ser passada,
devido ao fato de utilizarem palavras que tem seu significado distante da realidade
que essas pessoas vivem, fazendo com que não tem acesso à língua padrão
consequentemente se sintam ridicularizadas, por não compreenderem o que
escutam.
BAGNO (2007), explica que da mesma maneira como existe o preconceito
contra a fala de determinadas classes sociais, há também o preconceito contra a
fala característica de certas regiões. Na verdade muita indiferença por parte do ser
humano, como por exemplo, nas novelas principalmente as da Rede Globo, a fala
nordestina é retratada, sem exceção, como um tipo grotesco, rústico, atrasado,
criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do
espectador.
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BAGNO (2007) acredita que a fala Nordestina não tem nada de “engraçada”
ou “ridícula”, e para enfatizar tal situação o autor faz uma pequena comparação:
Na pronúncia normal do Sudeste, a consoante que escrevemos T é pronunciada [tš] (como em tcheco) toda vez que é seguida de um [i]. Esse fenômeno fonético se chama palatalização. Por causa dele, nós, sudestinos, pronunciamos [tšitšia] a palavra escrita TITIA. E todo mundo acha isso perfeitamente normal, ninguém tem vontade de rir quando um carioca, mineiro ou capixaba fala assim. (p. 42).
Com isso nota-se que o preconceito linguístico também está associado com
o status social em que as pessoas vivem, ou seja, conforme relata o autor, se o
fenômeno é o mesmo para ambos, “por que na boca de um ele é “normal” e na boca
de outro ele é “engraçado”, “feio” ou “errado”? (BAGNO, 2007, p. 44).
De fato isso acontece, porque o que se leva em consideração não é a língua
falada, mas sim quem está falando, para entender melhor o autor enfatiza sobre a
característica empregada sobre o Nordeste como: “atrasado”, “pobre”,
“subdesenvolvido”, “pitoresco”, se tornando assim natural que as pessoas que lá
nasceram e a língua que elas falam também devem ser consideradas assim.
(BAGNO, 2007, p.44).
De acordo com Jorge Luiz Fiorin (2005), na “Introdução à linguística” a
gramática gerativa revela que os seres humanos nascem com a capacidade da
linguagem, ou seja, que é componente de mente/cérebro designadamente dedicada
a língua. A criança desenvolver essa capacidade da linguagem assim que nasce,
sendo, no entanto, considerada uniforme em relação a toda a especial humana.
Segundo FIORIN (2005), esse estado inicial se modifica a medica com a
qual a criança vai crescendo e sendo exposta a um determinado ambiente linguístico
em que se utiliza da língua portuguesa como meio de comunicação, com isso vai se
desenvolvendo um conhecimento mais profundo sobre essa língua, se
transformando a partir dessa interação da informação genética que traz ao nascer e
com os dados linguísticos a que é exposta.
Alguns pontos merecem ênfase, primeiro esse tipo de conhecimento linguístico é adquirido somente por meio da participação da criança nas interações verbais entre os membros de sua comunidade linguística, sem que isso envolva qualquer estimulação especifica ou qualquer correção por parte dos pais ou das pessoas com as quais elas interagem. (FIORIN, 2005, p. 96)
Conforme explica FIORIN (2005), apesar do ser humano utilizar de várias
variantes para se comunicar, é no contato linguístico com as outras pessoas se sua
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comunidade que ele vai encontrar limites para a sua variação individual, ou seja,
como as pessoas vivem em uma comunidade, de fato sua fala será na maioria das
vezes semelhante à língua que os outros membros da comunidade falam.
Para FIORIN (2005), as atitudes diante do uso linguístico se revelam de
acordo com as diferenças geográficas, este fato muito marcante na fala de cada
brasileiro, ou seja, uma criança que nasceu, por exemplo, na região Sul de Santa
Catarina crescerá se comunicando da mesma forma como aprendeu com quem está
mais próximo, no qual devemos levar em consideração que temos as nossas
atitudes e modos de falar também relacionadas com os fatores sociais, tais como
escolaridade, nível econômico.
Desse modo, um grupo de indivíduos de maior nível de escolaridade e de melhor situação econômica possivelmente tenderá a evitar realizações como “as pessoa” e “uns carro”, em vez de “ as pessoas” e “uns carros”. Trata-se então de um exemplo claro de que as atitudes linguísticas não estão delimitadas apenas por fronteiras geográficas, mas também por fronteiras sociais. (FIORIN, 2005, p.129).
O autor conclui que chegamos a um ponto em que devemos analisar o modo
como vivemos e que não basta apenas falar em termos do que se é diferente e do
que se é igual no interior das comunidades linguísticas. Precisamos, no entanto,
saber notar o quanto se é diferente e o quanto se é igual. “Nesse sentido para
estudar a variação linguística, torna-se necessário usar um modelo de analise que
opere com quantidade de dados.” (FIORIN, 2005, p.129).
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CAPÍTULO II
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA LIDAR COM O PRECONCEITO
LINGUÍSTICO
Neste Segundo Capítulo focaremos sobre a forma de tratamento que seria
mais viável que os professores tivessem com seus alunos para que se consiga uma
melhor compreensão, ou seja, deixar o aluno à vontade para utilizarem os seus
diferentes falares de forma que possam oferecer ao aluno a acolhida necessária
para que possa manifestar as variantes que são imprescindíveis para sua
comunicação.
Dessa forma o aluno ficará mais a vontade para se expressar, facilitando ao
professor a explicação sobre como, onde e por que utilizar a norma padrão da língua
portuguesa, sendo que esse aprendizado não ficará restrito somente ao interior do
ambiente escolar.
De outras praticas educativas (...) por constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e continuada para crianças e jovens durante um período continuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como objeto de ensino, conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são consideradas essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. Para tanto ainda é necessário que a instituição escolar garanta um conjunto de práticas planejadas como o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos de maneira critica e construtiva. A escola, por ser uma instituição social como o propósito explicitamente educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos (ROJO, 2000, p. 45-46).
Faz-se necessário que os professores e alunos tenham uma boa
convivência dentro da sala de aula, para que as aulas não se tornem polemicas, a
ponto do aluno não conseguir assimilar a diversidade linguística e cultural como algo
natural, a partir da compreensão dos modos de realização das diferentes falas que
envolvem regiões diferentes de nosso país.
O caminho para solucionar essa problemática conforme enfatiza BAGNO
(2007, p. 18).
É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação
junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão.
É fundamental o reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas
diferentes, pois dessa forma proporciona que o ensino em nossas escolas seja
adequado, tendo em vista que a norma linguística ensinada em sala de aula é, em
muitas situações, como comenta BAGNO (2007), uma verdadeira “língua
estrangeira” para o aluno que vem de um ambiente social em que o seu cotidiano é
somente empregada uma variedade de português não padrão.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicado pelo Ministério da
Educação e do Desporto em 1998, reconhece que há uma diversidade linguística e
devido a isto planeja a educação no Brasil. Assim, nos, podemos observar que,
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...] A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, não se sustenta na análise empírica dos usos da língua. (BRASIL, 1998, 48).
BAGNO (2007), comenta sobre o fato de ser considerado “errado” dizer
Craudia, praca, mas por outro lado, dizer se frouxo, escravo, branco e praga,
considera-se “certo”, isso se deve simplesmente a uma questão que não é
linguística, mas social e politica.
No entanto as pessoas que dizem Craudia, praca, pranta são consideradas
de uma classe social desprestigiada, marginalizada, no qual a língua falada é
considerada “feia”, ”pobre”, ”carente”, quando na verdade é apenas diferente da
língua ensinada na escola.
O autor aponta que uma mesma palavra como, por exemplo, Colégio, lida
por um pernambucano, carioca e paulistano não terão a mesma pronúncia, mas isso
não significa que algum deles estará errado, pelo contrário essa diferença se
estabelece devido a um fenômeno chamado variação, ou seja, nenhuma língua é
falada da mesma maneira em todas as regiões, e nem fala de modo idêntico.
Segundo BAGNO (2007), existe uma tendência muito negativa, não
deixando de ser um preconceito linguístico, o fato de querer obrigar os alunos a
pronunciar as palavras da mesma forma como são escritas. Dessa forma ocasiona
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nos alunos certo desconforto, pois em sua casa empregasse a língua falada
diferentemente daquela que os professores ensinam que se apresentam
principalmente nos livros didáticos.
De acordo com BAGNO (2007), é muito comum encontrar nos livros
didáticos e demais livros de gramaticais a recomendação de que os professores
deveriam ““corrigir” quem fala muleque, bejo, minino, bisoro, como se isso pudesse
anular o fenômeno da variação, tão natural e tão antigo na historia das línguas”. O
autor enfatiza que esse preconceito é de data muito antiga, ou seja, desde antes de
Cristo, uma vez que esse fato aconteça justamente pela supervalorização da língua
escrita combinada com o desprezo da língua.
O autor destaca que de fato é muito importante se ensinar a escrever de
acordo com a ortografia oficial, mas, não se pode criar uma língua falada “artificial” e
condenando como “erradas” aquelas pronuncias que fazem parte dos resultados
naturais das forças internas que governam o nosso idioma.
BAGNO (2007, p. 53), comenta sobre o fato de que seria mais justo e
democrático dizer ao aluno que ele pode sim falar BUnito ou BOnito, no entanto que
só poderá escrever BONITO, deve-se isso porque se faz necessário uma ortografia
unica para toda a língua, ou seja, isso proporciona que todos leiam e compreendam
o que esta escrito, “mas é preciso lembrar que ela funciona como a partitura de uma
musica: cada instrumentista vai interpreta-la de um modo todo seu, particular!”.
Relata o autor que do ponto de vista da historia de cada pessoa, o
aprendizado da lingua falada sempre antecede o aprendizado da língua escrita,
mas, quando ele acontece é comum que bilhões de pessoas que nascem, crescem,
vivem e morrem sem nunca ter aprendido a ler e a escrever, porem não devemos
negar que esses falantes falam perfeitamente a língua materna.
Quando o estudo da gramatica surgiu, no entanto, na Antiguidade classica, seu objetivo declarado era investigar as regras da lingua escrita para poder preservar as formas consideradas mais “corretas” e “elegantes” da língua literária. Alias a palavra gramatica, em grego, significa exatamente “a arte de escrever”. (BAGNO, 2007, p. 57).
Segundo BAGNO (2007), existem vários cientistas que se dedicam
designadamente a estudar as diferenças, semelhanças, inter-relações e interações
que existem entre a língua padrão e a língua não padrão. Porém o ensino tradicional
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da língua quer que as pessoas se comuniquem sempre da mesma maneira, ou seja,
como os grandes escritores escreveram suas obras.
Conforme a fala do autor acima citado a gramática tradicional rejeita
totalmente os fenômenos da língua oral, e sempre impõe “a ferro e fogo” a língua
literária como a unica forma autentica de falar e escrever, sendo exigida que essa
seja a única manifestação linguística que merece ser estudada.
De fato é difícil encontrar alguém que não concorde com a declaração de
BAGNO (2007), pois faz parte do conceito da maioria dos professores de português
e esta formulada em muitos livros gramaticais que traz o conceito de que a
gramatica é o instrumento de fundamental importância para o domínio do padrão da
norma culta.
De acordo com BAGNO (2007), é muito comum, no comportamento dos pais
de alunos a cobrança aos professores de língua portuguesa sobre o “ensino dos
“pontos” de gramática tais como eles próprios os aprenderam em seu tempo de
escola”. Regularmente acontece a situação em que pais protestaram
impetuosamente contra os professores e escolas que, trabalham de uma maneira
diferenciada da tradicional e que adotam a pratica da língua menos conservadora,
por não seguirem rigorosamente “o que esta nas gramaticas”.
Conheço gente que tirou seus filhos de uma escola porque o livro didático ali adotado nao ensinava coisas “indispensáveis” como “antônimos”, “coletivos” e “analise sintática”... Por que aquela declaração e um mito? Porque, como nos diz Mario Perini em Sofrendo a gramatica (p. 50), “nao existe um grao de evidencia em favor disso; toda a evidencia disponível e em contrario”. Afinal, se fosse assim, todos os gramáticos seriam grandes escritores (o que esta longe de ser verdade), e os bons escritores seriam especialistas em gramática. (BAGNO, 2007 p. 62).
Existe um conflito insuperável entre o ideal de uniformidade de um sistema
ortográfico e a realidade oral de uma língua, caracterizada pela variação social tanto
quanto regional.
Com efeito uma mesma palavra pode ser diferentemente pronunciada pela mesma pessoa quando este se dirige a uma plateia ou quando conversa informalmente (cf., p. ex., pronuncias para abobora, fosforo e ferrugem); além disso, essa diferença pode ser ainda maior quando “a mesma palavra” é pronunciada por indivíduos naturais de regiões diferentes (cf., p. ex., as pronuncias de porta da fala de gaúchos, de carioca, de mineiros ou de paulistas) ou pertencentes a diversos níveis socioculturais (p. ex.: problema problema, pobrema). (AZEVEDO, 2008, p. 12).
De acordo com FIORIN (2005), toda e qualquer língua em uso está sujeita
as variações fonéticas, morfológicas, sintáticas, vocabulares, sendo neste caso,
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natural que falada por uma população tão grande e dispersa por localidades tão
diversas, que essa língua portuguesa apresente diferenças admissíveis entre as
variedades brasileiras, europeia e africana.
FIORIN (2005) finaliza seu ponto de vista enfatizando que mesmo o falante
que é membro de uma comunidade que tem como característica o alto nível escolar
e econômico, consequentemente pode deixar de realizar a chamada concordância
nominal, em alguns casos, pois o individuo pode fazer uso de variantes dentro de
sua comunidade.
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CAPÍTULO III
O QUE CARACTERIZA A VARIAÇÃO LINGUISTICA
Conforme aponta LUIZ CARLOS CAGLIARI (2007), em sua obra
“Alfabetização e Linguística” no conceito de grande parte da população, quando se
diz que a escola necessita levar em conta a fala, criam o conceito de que devem
ensinar os alunos a falarem bonito, da mesma forma que se escreve. No entanto,
isso realmente pode ser aplicado nas escolas, mas os linguistas tem uma visão
muito mais ampla sobre esse assunto, ou seja, se a escola tem como objetivo
ensinar como a língua funciona, precisa incentivar, falar e mostrar como realmente
ela se caracteriza: "(...) uma língua vive na fala das pessoas e só ai se realiza
plenamente. A escrita preserva uma língua como um objeto inanimado, fossilizado.
A vida de uma língua esta na fala." (CAGLIARI, 2007, p.52)
Com bases no conceito de CAGLIARI (2007) isso acontece, pois se uma
simples palavra que entra em desuso da população, consequentemente perderá seu
sentido, tendo visto que entrará no esquecimento da população, sendo geralmente
substituída por outra que consequentemente terá seu valor perante a escrita e a fala,
no entanto com o passar do tempo, isso não faz com que se tornem imperfeitas,
estragadas, mas agregam novos valores sociolinguísticos, ligados a essa nova
perspectiva da sociedade, que também muda com o passar do tempo.
A variação linguística tem fundamental importância, pois a maior parte dos
problemas da fala e da escrita estão ligados a esse fenômeno, tendo visto que isso
ocorre geralmente nos primeiros momentos da escolarização, que é onde ocorre o
primeiro contato com o estudo da sua língua, tendo em vista um contato maior com
a escrita na alfabetização.
(...) há modos diferentes de se falar uma língua, mas diante das diferenças se pode ser intransigente, atribuindo a isso valores de certo ou errado de acordo com a gramatica normativa preestabelecida pelos estudiosos, como se pode, por outro lado, fazer uma gramatica dessas mesmas diferenças e observar como a sociedade as manipula para justificar seus preconceitos. A escola como representante da sociedade, costuma incorporar esses preconceitos, mesmo sem ter consciência do fato. (CAGLIARI, 2007, p.76)
Conforme relata CAGLIARI (2007), a linguagem humana tem a função de se
comunicar, mas, existe uma serie de outras funções que podem ser empregadas,
levando-se em conta que nem sempre a comunicação é a função mais importante
no uso da linguagem.
Como de fato já é de nosso conhecimento que as línguas evoluem com o
tempo, passam por transformações e adquirem novas características próprias em
função da forma como é utilizada pelas comunidades especificas, ou seja, cada
variedade será completa e perfeita dentro entre si no ponto de vista estrutural
linguístico e essa diferenciação existente entre elas são os valores sociais que seus
membros têm na sociedade.
"Desse modo, um baiano falará como baiano, não como gaúcho, uma
pessoa de classe social alta não falará como uma pessoa de classe baixa, e assim
por diante." (CAGLIARI, 2007, p. 81).
Ainda abordando os conceitos de CAGLIARI (2007), podemos observar que
os diferentes modos de falar geralmente acontecem devido às transformações das
línguas ao longo do tempo, que com esse fator passa a assumir as características
de grupos sociais diferentes, fazendo com que os indivíduos aprendam a língua ou o
dialeto da comunidade do qual faz parte.
Observaremos neste momento alguns fatores que originam as variações
linguísticas, as quais recebem diferentes denominações:
Dialeto é a variedade regional de uma língua. Para Luiz Carlos Cagliari
(2007), o dialeto não é simplesmente um uso errado no falar, mas sim uma maneira
diferente de pronunciar:
“um dialeto não é simplesmente um uso errado do modo de falar do outro dialeto. São modos diferentes. [...] que os falantes estabelecem a ordem das palavras livremente, dizendo algo como: “prantá vai arrois nóis” ou“ plantar vamos arroz nós”,pois esse modo de organizar as palavras em sentenças foges às regras de ambos dialetos.” (p. 19).
Socioletos: Representam variações faladas por comunidades socialmente
definidas;
Idioletos: São as variações particulares, isto é, representam vocabulários
especializados;
Etnoletos: São as variações para que representam as falas um grupo
étnico;
Ecoletos: São os idioletos adotados por uma casa.
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De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 26),
é possível observar que as variações linguísticas vêm sofrendo desde os primeiros
séculos de seu aparecimento, através das imigrações o que chamamos de
variedades dialetais.
A língua é o objeto da variação linguística, que se trata de um produto
heterogêneo, múltiplo e variável, que estão em constante transformação, porque a
língua nunca estará permanentemente concluída, tendo visto que faz parte de uma
sociedade de falantes que pode ser apresentada quanto em sua modalidade oral e
escrita.
É possível observar que muitos docentes, trabalhavam apenas com a norma
culta nas aulas de Língua Portuguesa, uma vez que não consideravam as
variedades próprias dos grupos sociais dos alunos. Há importância em apontar que
os PCNs de 1998 relatam o seguinte ponto de vista:
Não existem, portanto, variedades fixas: em um mesmo espaço social convivem mescladas diferentes variedades linguísticas, geralmente associadas a diferentes valores sociais. Mais ainda, em uma sociedade como a brasileira, marcada por intensa movimentação de pessoas e intercâmbio cultural constante, o que se identifica é um intenso fenômeno de mescla linguística, isto é, em um mesmo espaço social convivem mescladas diferentes variedades linguísticas, geralmente associadas a diferentes valores sociais. (BRASIL, 1998, p. 29).
De fato é possível observar que a comunidade social em que vivemos possui
uma ampla variedade linguística, com diferentes formas de comunicação devido às
regionalidades de cada um e principalmente a fala materna que trazemos no nosso
subconsciente, faz se necessário sabermos conviver com as pessoas, que fazem
parte desse espaço social em que vivemos.
Para BAGNO (2007), um exemplo de variação que a usada pelo Jeca Tatu,
um homem simples de origem rural, muito comum em certas regiões do interior de
São Paulo e Minas Gerais, além de outros espaços geográficos do país.
De fato podemos visivelmente observar que essa variação é muito
desprestigiada, tanto quanto o papel social exercido pelo Jeca na sociedade, por ter
uma fala muito distante da norma culta, passa a ser discriminado socialmente,
principalmente porque é muito caracterizada em novelas e programas de televisão
para causar risos.
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Observaremos abaixo alguns exemplos de palavras que não se encontram
nos dicionários, mas são frequentemente utilizadas pelos adolescentes, também
chamada de variação etária, que se encontram muito distantes da norma culta da
língua Portuguesa, mas fazem parte da comunicação da sociedade em que vivemos,
proporcionando a fácil a compreensão entre esses adolescentes, por serem também
classificadas como gírias.
Vejamos algumas delas:
• Antenado: ligado, com a percepção mais aguda; prestando atenção;
• Ta ligado: você sabe
• Azaração: paquerar
• Queimar o filme: estragar tudo
• Balada: festa
• Partiu: vamos
• Baranga: mulher feia
• Caô: mentira
• Já é, demoro: vamos
• Filé: garota bonita
• Pagando um sapo: esperando
• Bolado: chateado
• Rolo: namoro sem compromisso
• Fedelho: criança
• Irado: muito bom
• De lei: é assim
• Mala: chato
• Pagar mico: dar vexame
• Pintar: aparecer
• Mané: bobo
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• Mauricinho: rapaz bem arrumado e “certinho”.
• Animal: muito bom
A variação linguística pode sofrer alterações, pois está relacionada com à
heterogeneidade linguística, tendo visto que as mudanças ocorrem de acordo com a
diversidade social de cada comunidade. A língua e a sociedade estão sempre
entrelaçadas, em que uma influencia a outra. De acordo com BAGNO:
É precisamente relacionar a heterogeneidade linguística com a heterogeneidade social. Língua e sociedade estão indissoluvelmente entrelaçadas, entremeadas, uma influenciando a outra, uma constituindo a outra.” (BAGNO, 2007(b), p. 38).
É notório que a língua portuguesa é composta de muitas variedades, o aluno
ao entrar na escola, já tem o conhecimento de pelo menos uma dessas variedades,
pelo fato de estar inserido em uma comunidade de falantes ativos. Conforme aponta
os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 81):
certamente, ele será capaz de perceber que as formas de línguas apresentam variação e que determinadas expressões ou modos de dizer podem ser apropriados para certas circunstancias, mas não para outras.
É de fundamental importância que não haja somente a mudança de atitude,
mas que a escola também fique atenta para que não aconteça em seu espaço
escolar à discriminação linguística, ou seja, não é conveniente que as
variedades linguísticas que mais se afastam dos padrões estabelecidos pela gramatica tradicional e das formas diferentes daquelas que se fixaram na escrita como se fossem desvios ou incorreções. (BRASIL, 1998, p. 82).
De fato o preconceito linguístico entre os membros da sociedade existe, e
como qualquer outro preconceito surge a partir de avaliações subjetivas, mas para
combatê-las será necessário muito “vigor e energia”.
É consideravelmente importante que os alunos compreendam que ao
aprender as novas formas de linguísticas, ou seja, a escrita e a oralidade formal
baseada na gramatica tradicional, observem que são variedades linguísticas que
fazem parte da historia e da cultura humana, que deve estar presente nas aulas de
língua portuguesa para um desenvolvimento da competência discursiva nos alunos.
(Brasil, 1998)
Relacionaremos algumas propostas de atividades que possibilitam descobrir
a fundo sobre a variação linguística (BRASIL, 1998, p. 82, 83):
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• transcrição de textos orais, gravados em vídeo cassete, para permitir identificação dos recursos linguísticos próprios da fala;
• edição de textos orais para apresentação, em gênero da modalidade escrita, para permitir que o aluno possa perceber algumas das diferenças entre a fala e a escrita
• analise de força expressiva da linguagem, popular na comunicação cotidiana, na mídia e nas artes, analisando depoimentos, filmes peças de teatro, novelas televisivas, musica popular, romances e poemas;
• levantamento das marcas de variação linguística ligadas a gênero, gerações, grupos profissionais, classe social e área de conhecimento, por meio da comunicação de textos que tratem de um mesmo assunto para públicos com características diferentes;
• elaboração de textos procurando incorporar na redação traços da linguagem de grupos específicos;
• estudo de textos em função da área de conhecimento, identificando jargões próprios da atividade em analise;
• comparação de textos sobre o mesmo tema veiculados em diferentes publicações (por exemplo, uma matéria sobre meio ambiente para uma revista de divulgação cientifica e outra para o suplemento infantil);
• comparações entre textos sobre o mesmo tema, produzidos em épocas diferentes;
• comparações de duas traduções de um mesmo texto original, analisando as escolhas estilísticas feitas pelos tradutores;
• comparações entre um texto original e uma versão adaptada do mesmo texto, analisando as mudanças produzidas;
• comparações de textos de um mesmo autor, produzido em condições diferentes (um artigo para uma revista acadêmica e outro para uma revista de vulgarização cientifica)
• analise de fatos de variações presentes nos textos dos alunos;
• analise e discussão de textos de publicidade ou imprensa que vinculem qualquer tipo de preconceito linguístico;
• analise comparativa entre registros de fala ou de escrita e os preceitos normativos estabelecidos pela gramatica tradicional.
As propostas descritas acima possibilitam aos professores um
direcionamento de como orientar seus alunos e compreenderem essas variações
linguísticas que estão presentes na comunidade social. Com essas orientações os
professores terão uma melhor facilidade em elaborar seus planos de aula, podendo
também adequar com a realidade dos alunos, possibilitando um melhor
desenvolvimento, por poderem assimilar o conteúdo aplicado na sala de aula com a
realidade que vivenciam no dia-a-dia.
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CONCLUSÃO
De fato, realizar uma educação apresentando para os alunos que existem as
diversas variedades na língua portuguesa é a melhor forme de incluí-los na
sociedade, ou seja, é a partir da educação e do conhecimento da sociedade que
conseguiremos levar as pessoas que esse preconceito linguístico não passa de um
equivoco, uma vez que cada falante trás sua identidade de fala materna e que não é
errado ele utiliza-la, mas sim adequar de acordo com o ambiente em que se está
frequentando.
Cabe aos professores tanto de língua portuguesa como os das demais
matérias esse diálogo entre os alunos para que esse preconceito seja eliminado
dentro da escola, pois dessa forma esses alunos conscientes levaram para suas
casas essa nova compreensão sobre as variedades linguísticas.
Mas tendo visto que a mídia ainda é o maior “vilão” que torna visível esse
preconceito linguístico, pois apresenta em suas reportagens e demais programas,
principalmente nos programas de humor que as pessoas menos favorecidas, que
residem em regiões do interior são falantes ignorantes, motivos de risos, conforme
comentado no texto acima.
Os profissionais que trabalham em nossas escolas necessitam de apoio,
visto como o que acontece na maioria das escolas da rede regular de ensino o
preconceito linguístico dentro as sala de aula, acontecendo esse fato por não
saberem distinguir o que é “certo” do que é “errado”, ou seja, se tornam
preconceituosos quando um aluno que viveu grande parte se sua vida na região
Nordestina, por exemplo, é excluído pela sua fala característica e materna.
Para conseguirmos vencer essas barreiras do preconceito linguístico,
conforme apontado neste trabalho monográfico, é necessário mudarmos nossa
atitude com relação a essa discriminação que principalmente está presente no
espaço escolar e sociedade em geral, dessa forma não podemos nos esquecer de
que temos uma língua padrão que nos orienta e direciona, mas que também
possuímos uma identidade de língua materna e regional que nos possibilita uma
comunicação com nosso grupo social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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