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CORRELACIONANDO TURISMO E RESÍDUOS SÓLIDOS: UMA ANÁLISE DA VILA DE ALGODOAL, PARÁ, BRASIL.
Mônica de Souza Figueiredo
Graduanda do 7º semestre do Curso do Bacharelado em Turismo na Universidade Federal do Pará (UFPA) e
Graduanda do 3º Ano do Curso de Bacharelado em Secretariado Executivo Trilíngüe na Universidade do Estado
do Pará (UEPA)
Thiago da Silva Soares
Graduando do 7º semestre do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade do Estado do Pará
(UEPA)
RESUMOFalar da Ilha de Algodoal é lembrar de paisagens belíssimas e peculiares. Mas é ver
também a força do turismo invadindo a Ilha, multiplicando o número de pessoas e o acúmulo
de resíduos deixados para trás pelos visitantes. O Turismo tem de fato o potencial para
colaborar com a proteção e conservação do meio ambiente, caso contrário tem efeito
devastador.
Palavras-chave: Ilha de Algodoal, Turismo, Resíduos Sólidos, Área de Proteção Ambiental.
ABSTRACTTalk about Algodoal Island is remember of gorgeous and peculiar landscapes. But it is
also see the force of turism invading the island, multiplying the number of people and the
accumulation of residues left behind by the visitors. The Tourism has in fact the potential to
collaborate with the protection and conservation of the environment, or it may cause a terrible
effect.
Keyswords: Algodoal Island, Turism, Solid Residues, Area of Ambient Protection.
1
RESUMENHablar de la Isla de Algodoal es recordarse de paisajes bellísimos y peculiares. Pero es
también ver la fuerza del turismo invadiendo la Isla, multiplicando el numero de personas y el
acumulo de residuos dejados por los visitantes. El turismo tiene de hecho el potencial para
colaborar con la protección y conservación del medio ambiente, en caso contrario tiene efecto
devastador.
Palabras-clave: Villa de Algodoal, Turismo, Residuos Sólidos, Área de Protección Ambiental.
1. INTRODUÇÃOEm função da grande degradação dos recursos naturais, assunto exaustivamente
debatido nos meios de comunicação, sociais e políticos, iniciou-se uma movimentação da
sociedade na tentativa de pressionar os governantes a buscarem formas de preservar o meio
ambiente.
Uma das alternativas encontradas pelo Governo Brasileiro foi a criação do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, o SNUC. A Lei n o . 9.985, de 18 de julho de 2000 institui
o SNUC e define as Unidades de Conservação como: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. (BRASIL, Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em <www.presidencia.gov.br/legislação>. Acesso em: 21 fev. 2008.).
O órgão tem como objetivo principal contribuir para a manutenção da diversidade
biológica e dos recursos naturais da área, buscando a auto-sustentação local através de
práticas econômicas sustentáveis, valorizando o conhecimento e a população tradicional, e
envolvendo-os no processo.
Dentre as categorias de UC’s está a de Unidades de Manejo Sustentável. Nela estão
inseridas as Áreas de Proteção Ambiental, APA’s. A Resolução do Conselho Nacional do Meio
Ambiente, CONAMA, que as define é a nº. 10 de 14 de dezembro de 1988, e o faz da seguinte
forma:unidades de conservação, destinadas a proteger e conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali existentes, visando a melhoria da qualidade de vida da população local e também objetivando a proteção dos ecossistemas regionais.
No Estado do Pará existem 50 Unidades de Conservação estaduais. Destas, 17 são
APA’s. Apesar de a legislação federal e estadual terem como objetivo a preservação destes
patrimônios naturais, a realidade não condiz com o que é estabelecido nestas leis.2
A Lei nº. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, estabelece que
dentre as circunstâncias que agravam a pena de crime contra o meio ambiente está sempre
presente a degradação de UC’s. Na mesma lei, o Artigo 40 afirma que “Causar dano direto ou
indireto às Unidades de Conservação (...) independente de sua localização” a pena prevista é
de reclusão de um a cinco anos. E a “prestação de serviços à comunidade” prevista nesta
mesma legislação refere-se à atribuição ao condenado de tarefas gratuitas em UC’s, além de
parques e jardins públicos.
Uma das formas de ato lesivo à natureza é a falta de tratamento adequado dos
“resíduos sólidos”, ou “lixo”, termos indistintamente usados em publicações científicas. A
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – define o termo (apud IBAM, 2001) como
"restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou
descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que não
seja passível de tratamento convencional.".
Para que haja um tratamento de resíduos sólidos com sucesso, desde o
acondicionamento, coleta, transporte até a destinação final, é necessário que ocorra uma
integração entre sociedade e poder público, pois caso o lixo não seja tratado de forma correta
isso irá prejudicar vários segmentos econômicos, dentre eles o Turismo. Este segmento, um
dos que mais cresce, movimenta capital e gera empregos no mundo, ganha um papel
primordial no desenvolvimento local, uma vez que a imagem da cidade visitada é positiva ou
negativa na mesma proporção da limpeza desse espaço.
Falar de Turismo em uma Área de Proteção Ambiental é bastante delicado. Apesar de
ser considerada uma Unidade de Manejo Sustentável, “que tem como características básicas a
proteção parcial dos atributos naturais e o uso direto dos recursos disponíveis em regime de
manejo sustentado” (PARÁ, Lei nº. 5.887 de 9 de maio de 1995. Disponível em
<www.sectam.pa.gov.br>. Acesso em 19 fev. 2008.), isto não significa dizer que estas áreas
podem ser exploradas turística e ambientalmente sem medidas.
O Plano Nacional do Turismo – PNT – menciona os possíveis efeitos do turismo
desordenado em um destino:o desenvolvimento de uma região, ou produto turístico, sem planejamento pode levar, rapidamente, ao esgotamento dos recursos naturais, à descaracterização do patrimônio cultural e à desestruturação social. E, em conseqüência disso, ao abandono do local pela demanda. (PNT, 2006, p.10).
3
Considerando todas as evidências supracitadas, esta análise pretende entender a
relação entre fluxo turístico e acúmulo de resíduos sólidos na APA de Algodoal/ Maiandeua,
mais precisamente na Vila de Algodoal, suas causas, conseqüências e possíveis soluções.
2. OBJETIVOS2.1. GERAL
Identificar de que forma a atividade turística interfere no acúmulo de resíduos sólidos na
Vila de Algodoal, pertencente à Área de Proteção Ambiental Algodoal – Maiandeua localizada
no município de Maracanã/ PA.
2.2. ESPECÍFICOS
a) Fazer um levantamento do atual destino dos resíduos sólidos na ilha;
b) Averiguar a sazonalidade do fluxo de turistas na ilha e de que forma isto influencia na
quantidade de detritos no local;
c) Verificar a atuação dos órgãos competentes no que diz respeito à coleta, transporte e
destinação final do lixo na Vila de Algodoal;
d) Identificar se há na Ilha de Algodoal o gerenciamento condizente com a categoria Área de
Proteção Ambiental.
3. METODOLOGIA3.1. ÁREA DE ESTUDO
Localizada na Região Nordeste do Pará, Microrregião do Salgado, e subordinada ao
Município de Maracanã, a Área de Proteção Ambiental Algodoal – Maiandeua foi criada pela
Lei nº. 5.621 de 27 de novembro de 1990. Possui área total de 23,78 Km2 (2.378 ha), e situa-
se entre as coordenadas geográficas de 47º 32' 05'' à 47º 34' 12'' de Longitude (W. Gr.) e 0º 34'
45'' à 0º 37' 30'' de Latitude Sul (Pará, Lei nº. 5.621 de 27 de novembro de 1990). Nela está
inserida a Vila de Algodoal, objeto de estudo da presente análise.
O clima da região é quente e úmido, com temperatura média anual de 27ºC. Os períodos
de maior ocorrência de chuva são os meses de janeiro a março e o período de estiagem vai de
setembro a dezembro, inverno e verão regionais, respectivamente.
O acesso à Ilha pode ser feito de duas formas. Um é via Marudá (Figura 1), distrito do
município de Marapanim, de onde chegam e saem ônibus e vans diariamente rumo à capital,
Belém, pela PA 136. Atualmente o valor da passagem de ônibus da Linha Excelsior custa
aproximadamente R$15, e as vans cobram R$20 ou mais, dependendo da demanda Nos 4
períodos de feriados e férias, há a oferta e ônibus-extras. O percurso, de 160 km, dura em
média de 3 horas. Ao chegar a Marudá os transportes públicos deixam os passageiros no Porto
do Distrito. Lá, o preço da travessia para a Ilha de Algodoal custa R$5, dura em torno de 40
minutos e é feita em embarcações de médio e pequeno porte movidos a motor, popularmente
chamadas de “popopôs”. Via Maracanã, o acesso fluvial é bem mais demorado (cerca de 3
horas), contudo passando em frente às praias das vilas de Fortalezinha e Mocooca. O percurso
Belém – Maracanã dura também em torno de 3 horas, com um total de aproximadamente 170
km.
Maiandeua é originária do Tupi “Mãe da Terra” e “Algodoal” foi o nome dado pelos primeiros
pescadores que chegaram na Ilha por volta de 1920 devido à abundância de uma planta nativa
popularmente chamada de algodão de seda.
Em Algodoal é a maior das quatro vilas da APA. As outras três são Fortalezinha Camboinha
e Mocooca (Figura 2). As vilas são separadas entre si por porções de manguezais. Apenas em
2005 a luz elétrica foi introduzida na Ilha. Antes, a geração de energia era feita a base de motor
a diesel. O abastecimento de água é comumente feito por poços artesianos. Na Vila não há a
presença de veículos automotores. Os meios de transporte utilizados são bicicleta e carroças
puxadas a cavalo (Figura 9), além de canoas e pequenos barco a motor.
3.2. TURISMO
Devido à demanda crescente, a oferta turística tem aumentado bastante.
As principais atrações naturais da Vila de Algodoal são as praias (Figura 3), de areia fina
e branca, dunas e muitas vegetações costeiras. São elas a Praia da Beira (figura 7), Praia da
Caixa D’Água (Figura 6), Enseada do Costeiro e a mais conhecida, a Praia da Princesa (Figura
4). Quando a maré está baixa é possível fazer todo o percurso até a praia a pé ou alugando as
carrocinhas puxadas a cavalo, uma espécie de “táxi” local. Nos horários de maré alta, em um
certo ponto forma-se um canal que “corta” a praia, sendo necessário embarcar em canoas
(custo: R$0,50 de 6h às 18h e R$1,00 nos demais horários, por pessoa) durante 5 a 10
minutos (Figura 8).
A Praia da Princesa, que já foi eleita uma das dez praias mais bonitas do Brasil, tem
uma atração à parte: a Lagoa da Princesa (Figura 5). Suas águas de cor escura e bastante
gelada causam fascínio nos visitantes, que caminham em torno de 30 a 40 minutos na areia
“fofa” das dunas para chegar até lá.
A infra-estrutura hoteleira vem crescendo vertiginosamente. Além do grande número de
hotéis, pousadas e campings na vila, durante os períodos de alta estação os moradores 5
alugam suas casas ou quartos aos visitantes, ou improvisam lanchonetes e restaurantes em
suas moradias, com o intuito de aumentar sua renda. A oferta de Alimentos e Bebidas é
também bastante diversificada, com restaurantes, lanchonetes, carrinhos de lanches , de
bebidas e drinks e bancas de café da manhã.
Na Ilha há também opções de esporte e lazer, como wind car, surf, kite surf, caminhadas
e passeios de canoas ou barcos. Há também muitas opções de bares e festas na noite de
Algodoal, para todos os gostos musicais.
3.3. PESQUISA DE CAMPO
Segundo censo 2000 o número de pessoas residentes em Algodoal é de 625.
No dia 27 de janeiro de 2008 foi efetuada a pesquisa de campo, na qual foram
consultadas 20 pessoas. O levantamento de informações acerca do assunto foi feito através de
pesquisa bibliográfica e em meio eletrônico, visita técnica e observação, e coleta de dados a
partir de entrevistas com os moradores da Vila de Algodoal.
Primeiramente foi desenvolvido um questionário fechado com as seguintes perguntas:
1. O que você faz com o lixo da sua casa?
2. Quais os principais tipos de lixo que você produz?
3. Há coleta de lixo regularmente? Se sim, com que regularidade?
4. Você sabe onde esse lixo é despejado?
5. Há muito lixo nas ruas da vila?
6. Em quais períodos você acha que tem mais lixo na rua?
7. Existem campanhas freqüentes sobre o que fazer com o lixo?
8. Há alguma ação da Prefeitura de Maracanã sobre o lixo em Algodoal?
9. Você acha que há lixeiras o suficiente na Vila de Algodoal?
10.As praias de Algodoal são muito sujas?
Com o resultado desta pesquisa tornou-se possível analisar de forma geral a opinião dos
moradores, para corroborar o resultado final.
4. RESULTADOS PARCIAIS4.1. QUESTIONÁRIO
1. O que você faz com o lixo da sua casa?
Dos resíduos sólidos como madeira, plástico e papel, 95% dos entrevistados
afirmaram que os queimam, 40% destes também os enterram. Apenas um entrevistado afirmou
jogar o lixo no mangal existente na ilha.6
Dos entrevistados, 15% separam o vidro em suas residências e pagam alguém para
depositar em outro local, este muitas vezes desconhecido. Outros 15% encarregam-se de
separar o vidro e levá-lo à Belém sempre que possível, e 5% reaproveitam as garrafas de vidro
para fazer calçadas.
Foi constatado que 20% dos resíduos feitos de metal são guardados e destinados à
Belém pelos próprios moradores. Existem ainda 15% que dão os restos de comida para
animais, geralmente cachorros, os quais são muito comuns nas ruas da vila.
2. Quais os principais tipos de lixo que você produz?
Tem-se como principais resíduos gerados, o plástico, produzido por 85% dos
entrevistados, resíduo orgânico 40%, materiais metálicos são 25%, o vidro representa 20%, e o
papel com o total de 10%.
3. Há coleta de lixo regularmente? Se sim com que regularidade?
Segundo os habitantes consultados, 50% afirmaram não haver coleta de lixo regular.
Um morador afirmou que existia coleta da prefeitura na época em que existia uma ponte que
interligava Algodoal as outras três vilas da ilha. 20% dos moradores pagam carroceiros para
transportar o lixo para outras áreas. Segundo 15% dos moradores, a prefeitura promove a
varrição das ruas da vila. Dois habitantes confirmaram que despejavam o seu lixo em outra
comunidade, atualmente esta prática esta impedida devido à ponte de acesso está em
péssimas condições. 5% afirmam ter coleta regular apenas nos feriados e nas férias de julho e
somente um morador relatou que há coleta todos os dias.
4. Você sabe onde esse lixo é despejado?
35% dos entrevistados afirmaram que os resíduos são despejados em um terreno
improvisado às margens de uma das praias da ilha. Outros 35% informaram que os resíduos
sólidos são despejados em vilas vizinhas à Algodoal.
O restante dos moradores não soube informar aonde o lixo é despejado.
5. Há muito lixo nas ruas da vila?
De acordo com 40% dos moradores, as ruas da vila são muito sujas, principalmente
depois de feriados. Entretanto, para 60% as ruas da vila não têm muito lixo, pelo fato de a
população fazer a limpeza, e também porque, segundo os residentes, até pouco tempo
7
existiam dois funcionários da prefeitura que limpavam as ruas, no entanto estes foram
demitidos.
6. Em quais períodos você acha que tem mais lixo na rua?
Segundo os entrevistados os períodos em que se encontra mais lixo nas ruas são nos
feriados, principalmente Semana Santa, carnaval e reveillon, e também no período das férias
do mês de julho.
7. Existem campanhas freqüentes sobre o que fazer com o lixo?
50% dos habitantes consideram não existir campanhas freqüentes. 35% consideram
haver campanhas com pouca regularidade e 15% consideram que existem campanhas
freqüentes. Alguns moradores reclamam que vários grupos ambientais fazem campanhas
momentâneas, e posteriormente deixam de atuar na ilha. Também existe a falta de interesse
da Prefeitura de Maracanã em relação às dificuldades da população.
8. Há alguma ação da Prefeitura de Maracanã sobre o lixo em Algodoal?
Os que consideram que a Prefeitura de Maracanã não possui nenhuma ação sobre o
lixo somam 85% dos entrevistados, enquanto 15% consideram que a prefeitura apenas
desenvolve ações como limpeza das ruas e coleta. Alguns moradores afirmam que somente há
ações quando existem eventos no local, a exemplo do Festival de Verão realizado pela
FUNTELPA no ano de 2006. Há também quem reclame que a prefeitura valoriza mais os que
visitam a ilha em detrimento dos próprios moradores.
9. Você acha que há lixeiras o suficiente na Vila de Algodoal?
Todos os entrevistados consideraram insuficiente o número de lixeiras presentes na
ilha, e uma moradora afirmou que existem lixeiras apenas na frente dos grandes hotéis.
10.As praias de Algodoal são muito sujas?
75% dos moradores avaliam que as praias de Algodoal não estão sujas,
principalmente devido à limpeza realizada pelos donos dos bares lá situados. Já 25%
consideraram as praias sujas, principalmente em julho e feriados.
4.2. ENTREVISTA COM FUNCIONÁRIA DO TRAPICHE DE ALGODOAL
8
Também foi entrevistada a bilheteira do Trapiche de Algodoal (Figura 10), Jaqueline.
Esta reside em frente à bilheteria, e afirmou queimar e enterrar a maior parte do seu lixo
domiciliar. A parte orgânica ela joga na água para os peixes, e os bilhetes de passagens ela
também queima.
O principal tipo de lixo que ela diz produzir é o plástico, e quando questionada se há
coleta de lixo regular, ela afirma que não. Citou que a retirada do lixo acumulado no mês de
julho é paga pela Cooperativa dos Lancheiros de Maiandeua (CLIMAM), da qual ela faz parte,
caso contrário ninguém o faz.
Quando questionada sobre a destinação dos resíduos gerados em Algodoal, Jaqueline
diz que um representante da Prefeitura de Maracanã mandou recentemente levar o lixo para
um terreno próximo à praia para ser enterrado em valas. A limpeza da área nos arredores do
Trapiche também é paga pela CLIMAM, e para ela o maior problema relacionado a resíduos
sólidos na ilha é o vidro, principalmente as garrafas de bebidas trazidas por turistas.
Nos meses de Agosto e Setembro ocorre o maior fluxo de estrangeiros em Algodoal, e
estes, em sua visão, são mais educados, e sujam menos. Os que poluem mais são os turistas
que vêm fazer piquenique, pois estes normalmente já trazem comidas e bebidas próprias, não
deixando nada na Ilha, além de lixo.
Jaqueline acha que não existem campanhas nem lixeiras suficientes no local. Segundo
ela as praias de Algodoal são limpas apenas porque os donos dos bares se encarregam disso,
enquanto a Prefeitura somente faz uma limpeza básica.
Ela contou também que em 2006 ocorreu em Algodoal o Festival de Verão, organizado
pela Fundação de Telecomunicações do Para - FUNTELPA. Nesse ano esta contratou de 20 a
30 pessoas para limpar a ilha, além de 70 agentes ambientais e 14 para fazer a triagem do lixo,
sendo que Jaque, como é comumente conhecida, foi uma dessas contratadas. Durante este
evento a coleta de lixo era feita todos os dias. No final do festival a Prefeitura da Maracanã não
permitiu que o seu porto fosse utilizado para escoar o lixo acumulado. A solução encontrada foi
entrar em contato com o Prefeito de Marapanim, e este permitiu a retirada do lixo, todo
separado e ensacado, pelo Porto de Marudá.
5. CONCLUSÕESO Plano Nacional do Turismo cita claramente:
A atividade turística em uma localidade, quando é desenvolvida para buscar apenas o lucro rápido no curto prazo, sem considerar as conseqüências deste modelo de desenvolvimento, compromete todo o processo e isso encurta seu ciclo de vida. (PNT, 2006, p. 10).
9
A partir dos resultados obtidos do questionário, percebeu-se que a maioria absoluta dos
moradores queima boa parte de seus resíduos, principalmente papel, plástico e madeira. Esta
atitude, do ponto de vista ambiental, não é a adequada. Segundo Mota (2003), “a queima do
lixo pode ocasionar a liberação de produtos tóxicos à atmosfera, causando a poluição do ar,
com prejuízos à saúde humana,”.
Fazendo-se uma análise detalhada, notou-se a ausência de coleta regular de resíduos
na Vila de Algodoal. Os moradores precisam muitas vezes pagar para se desfazer do lixo,
custear um serviço que lhes é de direito.
Moradores afirmaram que antes o lixo era colocado na Vila de Camboinha, vizinha a
Algodoal, cujo acesso era feito por uma ponte de madeira, que atualmente está deteriorada.
Ultimamente os resíduos estão sendo despejados e enterrados em valas dispostas às margens
de uma das praias de Algodoal, o que pode causar infiltração e poluição de aqüíferos
superficiais, crime ambiental previsto na Lei Federal nº. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, com
pena de reclusão de um a cinco anos.
Os entrevistados crêem que as ruas da Vila de Algodoal não são mais sujas porque eles
próprios procuram cuidar desta limpeza. A iniciativa da CLIMAM é louvável, pois ao cuidar da
higiene do lugar estão também preocupando-se com a imagem do local.
Verificou-se que os períodos de maior concentração de resíduos sólidos coincidem com
os de maior fluxo de turistas na região, comprovando a necessidade de um planejamento
turístico com responsabilidade ambiental. Quaresma (2000) demonstra esta mesma
preocupação em sua obra “O Desencanto da Princesa”:O turismo massivo que é praticado na ilha, apesar de sua sazonalidade, traz consigo, além de alternativas de recursos financeiros para a população local, uma série de problemas. Dentre eles, têm-se o aumento de lixo urbano, que se avoluma em função da inexistência de uma coleta sistemática. (QUARESMA, 2000, p. 25)
Faz-se necessário perceber a alta variação da quantidade de pessoas que passam por
Algodoal em alguns períodos do ano. Apesar de a Vila possuir uma população fixa de 625
habitantes (IBGE, 2000), este número chega a aumentar extraordinariamente, porém de forma
sazonal, como foi constatado no Reveillon de 2007 – 2008, quando passaram pela Ilha por
volta de 8200 pessoas somente no intervalo de 27 a 31 de dezembro.
Outro período do ano em que há um aumento admirável no fluxo de turistas é durante as
férias de julho, que no ano de 2007 constatou-se a passagem de cerca de 20.040 visitantes.
Além das datas já citadas, outras relevantes em relação ao aumento de turistas tratam-se do
Carnaval e Semana Santa.
10
Tal variação de pessoas é importante para se analisar o acúmulo de resíduos sólidos na
Ilha, uma vez que este aumenta proporcionalmente àquela. Estes quantitativos foram obtidos
no Porto de Marudá, com o Sr. Nerino, bilheteiro do local.
Grande parte dos consultados acha insuficientes as campanhas até então promovidas.
O Plano Nacional do Turismo salienta esta necessidade quando menciona:a importância de as administrações públicas de cidades turísticas estarem atentas para a necessidade de implantação de campanhas de limpeza urbana endereçadas especificamente aos seus visitantes, com vistas à manutenção dos aspectos estéticos urbanos e, conseqüentemente, à contribuição das condições sanitárias do meio. (IBAN, 2001)
85% dos habitantes da Vila afirmam que a Prefeitura de Maracanã não faz
absolutamente nada sobre os resíduos sólidos e educação ambiental local. Apenas 15% cita as
varrições feitas às vezes nas ruas, sem regularidade. Esta realidade demonstra-se quando o
assunto é a destinação final do lixo. Nada é estabelecido pela gestão municipal, o que causa o
acúmulo de detritos em diversas partes da Ilha. Percebe-se, portanto, com a análise dos dados
coletados o total descaso do atual órgão gestor da APA. A insuficiência de lixeiras citada por
100% dos entrevistados é mais uma prova disso. Outra evidência é a necessidade de os donos
dos bares terem que manter a limpeza das praias para evitar o acúmulo de lixo na areia e na
água.
O Turismo tem um papel decisivo neste momento. O de colaborar com a proteção e
conservação do meio ambiente, tendo como conseqüência a manutenção da qualidade de vida
da comunidade local, o aumento dos investimentos para conservação do meio ambiente
visitado e melhoria das condições ambientais do destino aliado à melhoria da infra-estrutura
básica da localidade, entre outros (PNT, 2006, p.16). Caso nada seja feito com esse intuito, o
“frágil encanto de Algodoal” pode se perder.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Disponível em <www.sectam.pa.gov.br>. Acesso em 19. fev. 2008.
BRASIL, Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em <www.presidencia.gov.br/legislação>. Acesso em: 21 fev. 2008.
CONAMA, Resolução nº. 10, de 14 de dezembro de 1988. Disponível em <www.mma.gov.br>. Acesso em: 21 fev. 2008.
11
COOPERATIVA DOS LANCHEIROS DA ILHA DE MAIANDEUA E MARUDÁ. CLIMAM. Pará, 2008. Disponível em <http://br.geocities.com/climampa>. Acesso em 22 fev. 2008.
CRUZ, Anamaria; PEROTA, Maria ; MENDES, Maria. Elaboração de Referências (NBR 6023/2002). 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2002. 89 p.
ILHA DE ALGODOAL. Pará, 2008. Disponível em <www.algodoal.com>. Acesso em 19 já. 2008.
MANUAL DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS / José Henrique Penido Monteiro... [et al.]; coordenação técnica Victor Zular Zveibil. Rio de Janeiro: IBAM, 2001.
MINISTÉRIO DO TURISMO. MTUR. Distrito Federal, 2008. Disponível em <www.mtur.gov.br>. Acesso em 22 jan. 2008.
PARÁ, Lei nº 5.621, de 27 de novembro de 1990. Dispõe sobre a criação de Área de Proteção Ambiental de Algodoal - Maiandeua no Município de Maracanã. Gabinete da Presidência da Assembléia Legislativa do Estado do Pará. Disponível em <http://www.sema.pa.gov.br/leis_detalhes.php?idlei=5>. Acesso em 4 dez. 2007.
PARÁ, Lei 5.887 de 9 de maio de 1995. Dispõe sobre a Política Estadual do Meio Ambiente e dá outras providências. Disponível em <www.sectam.pa.gov.br>. Acesso em 19 fev. 2008.
QUARESMA, Helena Dóris de Almeida Barbosa. O Desencanto da Princesa: Pescadores Tradicionais e Turismo na Área de Proteção Ambiental de Algodoal/ Maiandeua. 2000. 233 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento – PLADES, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém.
12
7. ANEXOS
Figura 1: Percurso Belém – Marudá – Algodoal.Fonte: www.algodoal.com
Figura 2: Imagem de satélite da IlhaFonte: www.algodoal.com
13
Figura 3: Vila de Algodoal e praias.Fonte: www.algodoal.com
Figura 4: Praia da PrincesaFonte: http://br.geocities.com/climampa
14
Figura 5: Lago da PrincesaFonte: www.algodoal.com
Figura 6: Praia da Caixa D’águaFonte: http://br.geocities.com/climampa
Figura 7: Praia da BeiraFonte: www.algodoal.com
15
Figura 8: Travessia do Canal para a Praia da PrincesaFonte: http://br.geocities.com/climampa
Figura 9: O “táxi” da IlhaFonte: http://br.geocities.com/climampa
Figura 10: Portinho de AlgodoalFonte: http://br.geocities.com/climampa
16