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COMPORTAMENTO MECÂNICO DO POLIESTIRENO DE ALTO IMPACTO (HIPS) FOTODEGRADADO
Cássia A. Freitas1, Laércio L. Fernandes2, Nicole R. Demarquette3, Guilhermino J. M. Fechine4*
1University of São Paulo – [email protected]; 2University of São Paulo – [email protected]; 3University of São Paulo - [email protected]; 4University of São Paulo, Department of Metallurgical and Materials Engineering, Av. Mello
Moraes, 2463 – Cidade Universitária, CEP 05508-900 - [email protected]
Mechanical behavior of photodegraded HIPS The weathering behavior of high impact polystyrene (HIPS) was investigated. The samples were exposed for various irradiation intervals, and changes in melt flow index (MFI) and mechanical properties – tensile and impact were monitored. The rubber particles changed the photodegration processes of the polystyrene even in few content. The increase of the irradiation time led to decrease of mechanical properties for HIPS due to increase of MFI. The Scanning Electronic Microscopy (SEM) showed be a great tool for the best comprehension of photodegraded surface fracture, but more extended studies are necessary to make conclusions about it. Introdução
O poliestireno (PS) é um termoplástico amorfo, transparente, de baixo custo e de fácil
processamento. A baixa resistência ao impacto fez com que fosse desenvolvido o poliestireno de
alto impacto (HIPS). O HIPS é produzido através da blenda de poliestireno e copolímero
poli(estireno-butadieno), tendo um limite de 12% na concentração da fase borracha, pois acima
disso a viscosidade da solução se torna muito alta [1]. O PS, HIPS bem como outros polímeros têm
sido alvo de enumeras publicações na área de fotodegradação, tanto pelas indústrias como pela
comunidade acadêmica [2-5]. Diferentes grupos de pesquisa espalhados pelo mundo se dedicam a
esclarecer o mecanismo de fotodegradação de diferentes polímeros, alguns utilizam ferramentas
espectroscópicas para identificar novos grupos químicos gerados durante o processo degradativo
[6,7], outros correlacionaram as mudanças químicas com a variação de massa molar (cisão ou
reticulação) [8,9], além de verificar os reflexos dessas variações químicas e estruturais com as
propriedades mecânicas [10,11]. Publicações sobre o processo de fotodegradação do HIPS foram
dedicadas ao entendimento do processo de inicialização [2], ao efeito de hidroperóxidos [4], e a
compreensão das reações de cisão e reticulação [3]. Pouca atenção foi dada as modificações em
propriedades mecânicas, principalmente a Resistência ao Impacto (RI). Este trabalho tem como
objetivo avaliar as propriedades mecânicas do HIPS exposto à radiação UV sob diferentes tempos
de exposição. A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) será utilizada como ferramenta para
análise da superfície de fratura dos corpos-prova de impacto.
Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros
Experimental
Materiais
Neste trabalho foi utilizado um poliestireno comercial de alto impacto, HIPS, com índice de fluidez
igual a 8 g/10min. De acordo com o fabricante, o polímero não contém fotoestabilizantes. O
material foi processado em extrusora dupla rosca, a uma velocidade de rotação da rosca igual a
50rpm e temperatura de 180ºC. Os corpos-de-prova foram obtidos numa injetora Demag seguindo
as normas ASTM D 638 e D 256 para ensaios de tração e impacto, respectivamente.
Métodos
As amostras foram submetidas à radiação UV utilizando-se uma câmara de envelhecimento Q-Lab,
a qual utiliza lâmpadas fluorescentes UVA. Estas lâmpadas possuem 1,2m de comprimento e
produzem irradiação ultravioleta a qual simula a luz solar. O ciclo de envelhecimento foi definido
como sendo: 8 horas sob irradiação UV com emissão de 0,89W/m2 a 60ºC e 4 horas com lâmpadas
desligadas sob condensação a 50ºC. Desta forma, as amostras estão submetidas a uma combinação
de degradações: foto, térmica e hidrolítica. Os tempos de exposição serão reportados em ciclos de
semanas.
Os ensaios de tração foram realizados em duas fases (equipamento Kratos, modelo Til CR- 29). Na
primeira fase a velocidade usada foi de 1mm/mim até um deslocamento de 0,4%. Essa fase foi
usada para obter os valores de módulo de elasticidade. Na segunda fase a velocidade usada foi de
20mm/mim até a ruptura do corpo de prova. Os ensaios de impacto foram realizados de acordo com
a norma Izod ASTM D 256, com um equipamento de impacto Tinius Olsen modelo Impact 104, à
temperatura ambiente. Foram realizados cinco ensaios sem entalhe para todos os ciclos de
fotodegração do HIPS.
As medidas de Índices de Fluidez foram feitas num plastômetro Ceaste Melt Flow – Modular Line,
usando um peso de 5kg e temperatura de 200oC.
As análises de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) foram efetuadas num microscópio
Philips, modelo XL 30, com voltagem de aceleração de 15 kV e imagem formada por elétrons
secundários. A preparação das amostras foi feita através de sputtering com ouro.
Resultados e Discussão
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos nos testes mecânicos de tração e impacto. Verifica-se
que o aumento no tempo de exposição leva a um aumento nos valores do módulo elástico. Scott et
al. [3] observaram que durante a exposição à radiação UV podem ocorrer reações de reticulação na
fase borrachosa presente no HIPS, o polibutadieno – PB. Reflexos dessas reações são facilmente
observadas na região elástica da curva tensão x deformação. Contudo, deverão ser feitos ensaios de
Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros
teor de gel para confirmação da ocorrência de reticulações. No caso da tensão na ruptura, os valores
mostraram uma tendência de queda com o aumento no tempo de exposição. Logo após 3 semanas, a
deformação na ruptura apresentou uma diminuição bastante drástica. Esses dois fenômenos
relacionados à tensão e deformação na ruptura estão diretamente ligados com reações de cisão de
cadeia, as quais refletem diretamente em propriedades na região de deformação plástica. Após 3
semanas de exposição o corpo-de-prova de impacto foi rompido completamente, mostrando que
houve uma significativa perda na RI, porém nos tempos subseqüentes, a diminuição nos valores de
RI não foi tão significativa. Sabe que a partícula de borracha inserida na matriz de PS é a
responsável pela iniciação e o controle da propagação das trincas. Sob a aplicação de uma tensão, o
fissuramento é iniciado por pontos máximos de deformação, tipicamente próximo da partícula de
borracha, e a propagação ocorre na direção normal a tensão aplicada, embora possa haver desvios.
O crescimento da fissura é terminado quando a mesma encontra outra partícula de borracha,
prevenindo o crescimento destas. O resultado é um grande número de pequenas fissuras em
contraste para um pequeno numero de fissuras grandes formadas no polímero na ausência de
partículas de borrachas. O denso processo de fissuramento que ocorre num grande volume de um
material multifásico resulta numa alta energia de absorção em testes de impacto e tração [12]. A
perda da RI pode ter ocorrido por dois motivos: i) diminuição da massa molar ou ii) perda da
elasticidade da fase borrachosa. A primeira possibilidade será confirmada através dos dados de
MFI, onde o aumento dos valores de MFI indica a diminuição da massa molar. A segunda
possibilidade significa o aumento da rigidez da fase borrachosa através de reações fotodegradativas,
esse fato já foi reportado na literatura por outros pesquisadores [3].
Tabela 1 - Resultado dos valores médios de módulo elástico, tensão e deformação na ruptura,
e resistência ao impacto do HIPS expostas à radiação UV por diferentes tempos de exposição.
Tempo de
exposição
(semanas)
Módulo Elástico
(GPa)
Tensão na ruptura
(MPa)
Deformação na
ruptura (%)
Resistência ao
Impacto (J/m)
0 1,45 ± 0,05 17,73 ± 0,57 34,03 ± 1,35 não rompeu
3 1,51 ± 0,04 16,17 ± 3,53 0,94 ± 0,16 28,79 ± 2,95
6 1,52 ± 0,05 13,84 ± 1,01 0,92 ± 0,13 24,64 ± 3,00
9 1,60 ± 0,06 13,50 ± 1,46 0,28 ± 0,11 25,09 ± 3,66
12 1,59 ± 0,05 9,10 ± 0,87 0,58 ± 0,05 23,25 ± 2,74
15 1,65 ± 0,03 11,24 ± 1,50 0,68 ± 0,09 20,40 ± 2,49
Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros
A Figura 1 apresenta os valores de MFI para o HIPS exposto à radiação UV por diferentes tempos
de exposição. Os valores de MFI aumentam juntamente com o tempo de exposição aumenta. Esse
fato está relacionado com a maior efetividade das reações de cisão de cadeia, confirmando assim os
resultados obtidos na Tabela 1 para tensão e deformação na ruptura, e RI.
Para melhor compreensão da perda de energia absorvida durante os ensaios de impacto das
amostras de HIPS expostas à radiação UV, foram feitas microscopias eletrônicas de varredura das
superfícies de fratura dos corpos-de-prova. As micrografias foram feitas em regiões distintas dos
corpos-de-prova, como mostrado na Figura 2. A região “A” da superfície de fratura é a região
oposta ao lado em que o pêndulo atinge a amostra, a região “B” é a região central, e a região “C” é
o lado em que o pêndulo atinge o corpo-de-prova. As amostras não-expostas à radiação UV não
romperam após os ensaios de impacto, visto que os corpos-de-prova utilizados não eram entalhados.
0 2 4 6 8 10 12 14 1610,0
12,5
15,0
17,5
20,0
MFI
(g/1
0min
)
Tempo de exposição (semanas)
Figura 1 – Valores de MFI (g/10min) do HIPS exposto à radiação UV por diferentes tempos de
exposição.
Figura 2 – Esquema das regiões analisadas por MEV da secção transversal do corpo-de-prova de
impacto.
A B CPêndulo
Superfície exposta à radiação UV
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A Figura 3 apresenta as três diferentes regiões do corpo-de-prova do HIPS exposto à radiação UV
por 3 semanas. As micrografias da região A apresentam alto grau de variação de topografia. Essas
regiões, devido ao corpo-de-prova não ser entalhado, sofrem grandes esforços de compressão,
conduzindo a regiões com grandes descontinuidades. Na região central (B), pode-se verificar a
presença de regiões de franjas, onde as trincas se dividem para aumentar a taxa de dissipação de
energia por criação de novas superfícies de fratura, e por isso essa região apresenta-se rugosa. Na
região C verifica-se o mesmo tipo de topografia, ou seja, região com grande número de campos de
propagação de trincas, característico de matriz frágil tenacificada com partículas de borracha. Essa
tenacificação ocorre através da cavitação da fase borrachosa, porém com pouca distorção. A Figura
4 apresenta as micrografias do HIPS exposto por 9 e 15 semanas, nas três diferentes regiões.
Conforme os dados apresentados na Tabela 1, após 9 e 15 semanas de exposição os valores de RI
mostraram uma pequena queda quando comparados com os de 3 semanas. A região C das amostras
expostas por 9 e 15 semanas mostra um mecanismo de fratura um pouco diferente da amostra
exposta por 3 semanas. Fica claro que o mecanismo de fratura do HIPS é modificado durante o
processo fotodegradativo, porém os valores de RI não são modificados significativamente. Devido à
dificuldade de se encontrar publicações sobre superfície de fratura de corpos-de-prova de impacto
não-entalhados, e mais especificamente, para polímeros fotodegradados, um estudo mais
aprofundado sobre o mecanismo de dissipação de energia está sendo feito para que conclusões
possam ser feitas a respeito desse fato.
Conclusões
O mecanismo de fotodegradação do HIPS foi estudado detalhadamente por um grupo de
pesquisadores na década de 80, porém foi dada uma maior atenção as modificações químicas
geradas durante o processo degradativo. Os resultados aqui reportados apresentam os reflexos do
processo fotodegradativo do HIPS em suas propriedades mecânicas. O aumento dos valores de
MFI, que podem ser correlacionados com a diminuição da massa molar, é o principal responsável
pelas perdas das propriedades mecânicas. Os resultados de resistência ao impacto juntamente com a
MEV mostraram-se ser dados inovadores, tendo a necessidade de um maior aprofundamento para
melhor compreensão destes.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio financeiro cedido pela FAPESP através de auxílio à pesquisa
projeto Jovem Pesquisador, processo 05/00322-1.
Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros
(a)
(b)
(c)
Figura 3 – Micrografias da superfície de fratura de corpos-de-prova de impacto das regiões A, B,
C., para HIPS exposto por 3 semanas.
A
B
C
Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros
Figura 4 – Micrografias da superfície de fratura de corpos-de-prova de impacto das regiões A, B,
C., para HIPS exposto por 9 (a, b, c) e por 15 semanas (d, e, f).
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A D
B E
C F
Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros
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