Clusters Da Industria Do Sudeste Asiatico

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  • 65Revista de Cincias da Administrao v. 11, n. 23, p. 11-37, jan/abr 2009

    Anlise dos processos de gesto do conhecimento no departamento comercial de empresa do setor de telecomunicaes...

    A competitividade nos Clusters da indstria deborracha do sudeste asitico

    Lus Gustavo Mazzaro1

    Fbio Lotti Oliva2

    Celso Cludio de Hildebrand e Grisi3

    Hubert Drouvot4

    Srgio Crispim5

    Marcos Antonio Gaspar6

    Resumo

    O objetivo deste trabalho estudar a competitividade do setor manufatureiro deprodutos de borracha da Malsia, atravs da anlise da indstria de luvas mdicas.A articulao entre o setor produtivo e o Estado privilegiou a atrao deinvestimentos estrangeiros, o foco nas exportaes, a busca da competitividadeatravs da produtividade e da melhor utilizao dos recursos. Essas prticas socoerentes com a Teoria dos Aglomerados, pois enfatizam justamente o crescimentosustentado da produtividade e da competitividade, e no a concesso de vantagenstemporrias ou concentrao empresarial. Tem sido expressiva a atuao dasinstituies especializadas de pesquisa tecnolgica e das associaes dosfabricantes para fins de normatizao, melhora da qualidade e promoo doproduto no exterior. O caso pode servir de contraponto para avaliao dasestratgias para o desenvolvimento industrial no Brasil.

    Palavras-chave: Clusters. Competitividade. Indstria da borracha.

    1Ps-Graduao pela Fundao Instituto de Administrao. Professor da Fundao Instituto de Administrao. Endereo: Av. Prof. Luciano Gualberto,908 - Cidade Universitria - sala C-27. E-mail: [email protected] pela Universidade de So Paulo. Professor da Fundao Instituto de Administrao e Universidade de So Paulo. Endereo: Av. Prof. LucianoGualberto, 908 - Cidade Universitria - sala C-27. E-mail: [email protected] pela Universidade de So Paulo. Professor da Universidade de So Paulo. Endereo: Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 - Cidade Universitria sala G-105. E-mail: [email protected] em Sciences de Gestion. pela Universit Pierre Mends France de Grenoble, UPMF/CERAG, Frana. Mestre de Conferncia. Universit PierreMends France - I.A.E. de Grenoble. Endereo: Universit Pierre-Mendes-France / BP 46 / 38040, Grenoble Cedex 9. E-mail: [email protected] Docente em Gesto de Marketing pela Universidade de So Paulo. Professor da Universidade Municipal de So Caetano e Universidade de SoPaulo. Endereo: Rua Santo Antonio, 50 - So Caetano do Sul (SP) - CEP: 09521-160. E-mail: [email protected] em Administrao pela Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo FEA/USP. Endereo:Universidade Municipal de So Caetano. Rua Santo Antonio, 50 - So Caetano do Sul (SP) - CEP: 09521-160. E-mail: [email protected] recebido em: 14/07/2008. Aceito em: 13/12/2008. Membro do Corpo Editorial Cientfico responsvel pelo processo editorial: Thomas G.Brashear.

    A competitividade nos Clusters da indstria de borracha do sudeste asitico

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    1 Introduo

    O consumo de luvas mdico-hospitalares cresceu dramaticamente des-de meados dos anos 80, principalmente devido epidemia mundial de AIDS.Concomitantemente, o eixo de produo e inovao tecnolgica desses arti-gos concentrou-se no Sudeste Asitico, notadamente na Malsia pas cha-ve para este estudo. A Malsia responde por aproximadamente 60% da pro-duo mundial de luvas mdicas. A principal matria prima para as luvas oltex natural, extrado da seringueira (Hevea brasiliensis). Esse pas o ter-ceiro maior produtor dessa commodity. A simples vantagem comparativa decusto de aquisio de matria prima no parece explicar a liderana do setormanufatureiro malaio. Sabe-se que esse pequeno pas do sudeste asiticotem destacada competit ividade global. Segundo o Anurio deCompetitividade Mundial 2004, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial,de Lausanne Sua, a Malsia figura na 16a posio geral e como o quintopas mais competitivo entre os de populao acima de 20 milhes de habi-tantes. Esta performance suplanta as do Japo, China, Tailndia e Coria doSul. J o Brasil ocupa a modesta 53a colocao, enquanto que o estado deSo Paulo, a 47a (IMD, 2004).

    Algumas questes nortearam a pesquisa: Como a indstria de luvas deltex insere-se nesse contexto? Que conjunto de estratgias conduziu umaex-colnia agrcola dos anos 50 a transformar-se em exportador de produtosde valor agregado, de maquinrio especializado e de tecnologia? Quais ou-tros fatores estiveram presentes nesse notvel desenvolvimento?

    O presente trabalho busca estudar o desenvolvimento da competitividadedo setor de luvas mdico-hospitalares na Malsia, atravs da anlise dos fato-res de produo, da demanda, de setores correlatos e de apoio, e da estratgiae rivalidade das empresas, segundo a Teoria de Aglomerados.

    2 Base Conceitual

    2.1 Competitividade Nacional

    Os condicionantes da competitividade nacional so amplamente des-critos e analisados por Porter (1990), em sua obra A Vantagem Competitiva

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    das Naes. Atravs da investigao dos Padres do xito Competitivo dosPases, pesquisou-se os motivos pelos quais os pases ganham vantagem com-petitiva em determinados setores e suas implicaes para a estratgia das em-presas e para as economias nacionais. Os pases selecionados foram: Dinamar-ca, Alemanha, Itlia, Japo, Coreia, Cingapura, Sucia, Sua, Reino Unido eEUA, que representavam em 1985 mais de 50% das exportaes mundiais.

    A principal concluso do estudo que a competitividade no condi-cionada, conforme o pensamento dominante, pelos fatores clssicos de pro-duo, como mo de obra e matrias-primas, ou por variveismacroeconmicas, como taxa de juros, taxa de cmbio, carga tributria edficit pblico, nem pela interveno governamental, como subsdios, polti-cas de concentrao ou protecionismo, e nem sequer por meras diferenasde prticas gerenciais: O nico conceito significativo de competitividadenacional a produtividade (PORTER, 1999, p. 172). O estudo incluiu maisde 100 setores e grupos de setores. Para compreender a competitividadenacional, h que se estudar minuciosamente os diversos segmentos da eco-nomia nos determinantes da produtividade e da sua taxa de crescimento.Faz-se necessria uma nova teoria que suplante a das vantagens comparativastradicionais, que fornea uma ferramenta de anlise do sistema ou conjunto di-nmico de fatores que formam o ambiente empresarial de um pas ou localida-de, e que explique por que certas empresas promovem inovaes constantes,buscam a melhoria contnua e formas mais sofisticadas de vantagem competiti-va, superam barreiras mudana e inovao. A anlise de quatro atributos deum pas, que formam o chamado Diamante da Vantagem Nacional, constituiessa ferramenta de anlise dessa nova teoria. Os atributos so:

    a) Condies dos fatores de produo. A posio do pas quanto aosfatores de produo, como mo de obra qualificada e infraestrutura,necessrios para competir num determinado setor.

    b) Condies da demanda. A natureza da demanda no mercado in-terno para os produtos ou servios do setor.

    c) Setores correlatos e de apoio. A presena ou a ausncia, no pas,de setores fornecedores e outros correlatos que sejam internacio-nalmente competitivos.

    d) Estratgia, estrutura e rivalidade das empresas. As condies pre-dominantes no pas, que determinam como as empresas so cons-titudas, organizadas e gerenciadas, assim como a rivalidade no

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    mercado interno (PORTER, 1999, p. 178). H dois pontos em es-pecial no Diamante que fornecem sinergia ao sistema se ocorremjuntos e de forma acentuada: a rivalidade domstica e a concentra-o geogrfica.

    2.2 Discusso Sobre o Conceito de Clusters

    A relao entre concentrao geogrfica e competitividade das empre-sas foi pioneiramente tratada por Marshall. O modelo de anlise de Marshallresumia a questo a uma trade de economias externas: disponibilidade lo-cal de mo de obra especializada, apoio local e tradies histricas, divisodo trabalho entre as firmas da localidade, que concorriam para criar a atmos-fera industrial local (MARTIN; SUNLEY, 2001). O modelo no se aprofundavana dinmica dos distritos industriais. Quase um sculo depois, na esteirados estudos sobre competitividade das naes, o papel das localidades retornaao centro do debate sobre competio internacional. Os aglomerados, clustersno original, so agrupamentos geogrficos de empresas, fornecedores, seto-res relacionados e instituies especializadas existentes em determinada reade um pas, estado ou cidade.

    Os aglomerados so uma constante nas naes mais desenvolvidas enos seus setores mais competitivos. Oferecem uma nova abordagem de de-senvolvimento econmico. Os aglomerados so a anttese da ideia errneade que a globalizao, uma vez que permite s empresas acessarem capital,bens e tecnologia em qualquer parte do mundo, tornou a questo da locali-zao menos importante. Diferentemente do enfoque tradicional de agrupa-mentos de empresas, os aglomerados, conceito mais amplo que o de setores,captam outros elos que seriam menos perceptveis para a competitividade,mas que lhe so crticos, como complementaridades e extravasamentos emtermos de tecnologia, qualificao, informao, marketing e necessidades dosclientes que vo alm das empresas e setores. Os aglomerados so uma facetado Diamante: setores correlatos e de apoio. As anlises que abordam osaglomerados apenas pelo prisma da proximidade com fontes de matria-pri-ma e mercados esto ultrapassadas na nova economia. Essas explicaesficaram comprometidas pelas facilidades de acesso inerentes globalizao(PORTER, 1999).

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    No Brasil, o conceito de clusters foi recentemente reconhecido e incor-porado pelo Governo Federal na Poltica de Desenvolvimento Econmico,atravs da Secretaria de Desenvolvimento da Produo (SDP), ligada aoMinistrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC). OGoverno Federal est organizando o tema Arranjos Produtivos Locais (APL) denominao adotada pelo BNDES Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econmico e Social para aglomerados. Instituiu um Grupo de Trabalhopara atuar em 11 APLs pilotos, distribudos nas cinco regies do pas, com opropsito de testar a metodologia de ao integrada (website do MDCI, Go-verno do Brasil - 2005). Embora Porter influencie na definio de polticasde governos e empresas em todos os nveis, estudos semelhantes de outrosautores, notadamente de gegrafos, no tem conquistado a mesma visibili-dade. O fato de tal autor estar associado ao estudo da competitividade nasltimas duas dcadas pode explicar o sucesso na aceitao das suas ideias.Entretanto, ainda segundo Martin e Sunley (2001), duas limitaes princi-pais devem ser consideradas: um conceito to abrangente do que um aglo-merado no pode prover um modelo universal e determinstico relacionan-do aglomerao e desenvolvimento regional e, como decorrncia, simples-mente por que h uma associao entre desenvolvimento acelerado de al-gumas indstrias e vrias formas de concentrao geogrfica, no significaque esta concentrao a causa principal do sucesso dessas empresas.

    2.3 A Produtividade nos Aglomerados

    A Produtividade, nos dias atuais, permeia todo o estudo, e uma dasmais importantes armas, da competio. Ela medida em trs nveis: opera-o, empresa e nao. No nvel da operao, produtividade a relao entrea quantidade produzida e os recursos a ela aplicados; no da empresa, arelao entre o faturamento e os custos totais; e no nvel da nao, a relaoentre o Produto Nacional Bruto e a populao (CONTADOR, 1995, p. 51).

    H certas caractersticas presentes nos aglomerados que influenciampositivamente a produtividade e, mais importante, o crescimento da produti-vidade (PORTER, 1999): acesso a insumos, a pessoal especializado e in-formao, complementaridades entre as atividades dos diversos participan-tes, acesso a instituies e a bens pblicos e incentivos mensurao dodesempenho (benchmarking).

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    2.4 O Papel dos Governos nos Aglomerados

    Porter (1999) argumenta que o governo no tem capacidade de criarsetores competitivos; so as empresas que tm esse papel. O governo tematuao parcial, que favorvel apenas quando age em conjunto com ou-tras condies positivas do Diamante. Ao governo caberia: incentivar, impe-lir e desafiar as empresas no desenvolvimento do seu potencial competitivo;focar a criao de fatores especializados, como centros de pesquisas,capacitao tecnolgica e aprendizado especializado; evitar interveno nomercado; aplicar normas rigorosas sobre produtos, segurana e meio ambi-ente; restringir ao mximo a cooperao entre setores rivais e aplicar polti-cas internas vigorosas na defesa da concorrncia; e promover objetivos queconduzam a investimentos sustentados.

    Erro comum das polticas industriais o de proporcionar vantagens decusto estticas e de curto prazo, que tendem a solapar a iniciativa empresa-rial de inovao. A tendncia dos governos experimentarem polticas como aadministrao da taxa de cmbio, medidas controladoras do comrcio, atenua-o de medidas de defesa da concorrncia, geralmente tm sido contraprodu-centes. As aes do Estado, em muitos casos, so conduzidas em vista do curtoprazo, enquanto que o desenvolvimento das potencialidades competitivas re-quer planejamento de longo prazo e, muitas vezes, medidas que geram transtor-nos imediatos e cujos resultados sero percebidos somente em geraes.

    No mbito interno dos aglomerados, o Estado deveria favorecer o desen-volvimento de fatores avanados e especializados, poltica de cincia e tecnologia,atrao de investimentos externos, reforma de regulamentos, promoo de ex-portaes, levantamento e disseminao de informaes econmicas.

    3 Aspectos Metodolgicos

    Conforme Yin (2003, p. 19), o estudo de caso a estratgia preferidaquando se colocam questes do tipo como e por que, focando fenme-nos contemporneos reais e sobre cujos acontecimentos o pesquisador tempouco ou nenhum controle. As fontes de evidncias e dados para a condu-o do estudo so as publicaes estatsticas, tcnicas e econmicas setoriaise de negcios, disponveis em manuais, livros, jornais e em websites oficiaisda Malsia, das associaes de produtores, exportadores e das instituies

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    de apoio e pesquisa. H tambm estudos anteriores tratando do desenvolvi-mento econmico local.

    Como pressupostos bsicos, tem-se que:

    P1) O setor de luvas mdicas da Malsia um aglomerado;

    P2) Os aglomerados possuem dinmica benfica para o crescimentoda produtividade; e

    P3) A produtividade do setor o maior condicionante de suacompetitividade.

    A partir da reviso terica, sabe-se que h quatro fatores que determi-nam a competitividade da localidade em um setor: 1) Condio dos fatoresde produo; 2) Condies da demanda; 3) Setores correlatos e de apoio; e4) Estratgia, estrutura e rivalidade das empresas. Ainda dentro deste mode-lo conceitual, identifica-se que o setor manufatureiro de artefatos de borra-cha da Malsia um aglomerado produtivo, e que da decorrem uma sriede vantagens competitivas.

    Retomando a questo da produtividade como fator chave e de que osaglomerados tm implicaes positivas no fator de setores correlatos e deapoio, procura-se desvendar como as caractersticas pertinentes aos aglome-rados influenciam a produtividade e competitividade. necessrio partir deuma anlise abrangente do Pas para depois abordar o aglomerado. Paraapresentao e anlise dos dados, adota-se o roteiro de tpicos baseado noproposto por Slvell, Lindqvist, Ketels (2003), fracionando e encadeando osfatores na seguinte estrutura: a) Performance Econmica Geral (escolhas po-lticas macro e microeconmicas); b) Ambiente Geral de Negcios; c) Anli-se Interna do Aglomerado (Evoluo do Aglomerado, O Aglomerado Hoje,Os Quatro Fatores de Competitividade no Aglomerado); e d) Identificaodas Questes Estratgicas: Qualidade e Produtividade no Aglomerado.

    4 Anlise dos Resultados

    4.1 Malsia: um Retrospecto do Histrico Poltico-Econmico

    Localizada entre o Estreito de Mlaca e o Sul do Mar da China, a Malsia um pas jovem. At o final do Sculo XIX era apenas uma coleo de

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    sultanatos independentes, que dividiam a pennsula, e de entrepostos co-merciais coloniais. Esses diferentes Estados foram agrupados pelos britni-cos em uma federao, cuja independncia foi concedida apenas em 1957.Cingapura deixou a federao em 1965, basicamente por incompatibilida-des religiosas e culturais.

    A Malsia um dos lderes da Associao de Naes do Sudeste Asi-tico (ASEAN). Desde a independncia, sua economia tem sofrido alteraesradicais. O primeiro plano nacional de desenvolvimento focou a expansoagrcola e a reduo da dependncia da monocultura da seringueira. Poste-riormente, notadamente a partir dos anos 80, a manufatura passou a serpriorizada, tendo ultrapassado, em 1987, a contribuio do setor agrcolapara o Produto Interno Bruto (PIB). O setor de servios cresceu ainda maisrapidamente no perodo. As polticas econmicas e sociais, implementadasatravs do New Economic Policy (NEP, 1970) e New Development Policy(NDP, 1991) visaram diminuir desigualdades econmicas entre as diversasetnias que compe o pas. Historicamente, os malaios de origem chinesadominam o comrcio e a indstria locais. Assim, o NEP buscou melhorar oequilbrio social e diminuir as tenses entre grupos. O NPD, socialmente maisliberal, promoveu a implantao de indstrias de alta tecnologia, incentivoua produo de maior valor agregado, a capacitao de mo de obra e o cres-cimento da produtividade. a base da estratgia de desenvolvimento eco-nmico do governo.

    A viso lanada em 1991 pelo ex-primeiro-ministro, Dr. MahathirMohamad, a Malsia elevar-se ao status de pas desenvolvido em 2020,aproximando as etnias e investindo em setores da economia onde o diferen-cial no esteja no baixo custo de mo de obra, mas em altos nveis de educa-o e capacitao. Esse movimento tem seu marco em Cyberjaya, um supercorredormultimdia, o Silicon Valley oriental, ao sul da capital Kuala Lumpur, com investi-mento de 20 bilhes de dlares (ELIOT; BICKERSETH, 2002).

    4.2 Performance Econmica Geral e Ambiente de Negcios

    Em termos macroeconmicos, o pas tem apresentado quadro de cres-cimento sustentado a boas taxas, aumento da produtividade global, baixodesemprego, baixa inflao, cmbio fixo, dficit fiscal baixo e dvida pblicaestvel. Quanto performance microeconmica destaca-se o comrcio exte-rior, que equivale a duas vezes o PIB e ostenta um supervit de US$ 21,3

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    bilhes em 2004. Os investimentos externos diretos totalizaram US$ 3,45bilhes em 2004. Alemanha, Japo, Cingapura, EUA e Canad concentra-ram 75% destes aportes, distribudos em 295 projetos (MITI Industry,Investment, Trade and Productivity Performance 2004).

    No quesito educao, em 2003, 98,5% das crianas estava nas escolas,e a populao universitria ultrapassava 290 mil jovens. Some-se a isso ofato de que a lngua inglesa o segundo idioma para maioria da populaoque vive nos grandes centros. O ambiente geral de negcios da Malsia ca-racteriza-se pela estabilidade poltica e social, governo que incentiva e re-compensa os investimentos externos, sistema de transporte e outrasinfraestruturas pblicas bem estabelecidas, sistema Judicial moderno frutoda herana colonial Britnica , fora de trabalho capacitada, caracterizadapela habilidade manual, e alto senso de responsabilidade.

    Assim, o setor de luvas mdicas insere-se em um ambiente geralmenteatrativo para investimentos, inclusive de empresas multinacionais, que en-contram, em larga escala, funcionrios qualificados e com domnio da lnguainglesa.

    4.3 Poltica Industrial

    O Governo da Malsia estabeleceu, desde 1986, polticas especficaspara promover o desenvolvimento industrial: o Plano Mestre Industrial (In-dustrial Master Plan IMP1 1986/1995) e o Segundo Plano Mestre Indus-trial (Second Industrial Master Plan IMP2 1996/2005).

    O IMP1 constituiu um dos instrumentos para o cumprimento das metasdo NEP (1971/1991). Visou otimizar a utilizao dos recursos naturais atra-vs de atividades de fabricao de produtos com maior valor agregado. Focou-se no desenvolvimento da indstria de produtos de borracha e de outros 11setores produtivos especficos, baseados ou no em recursos naturais, comas seguintes estratgias: a) Industrializao visando o mercado externo e cres-cimento das exportaes; b) Desenvolvimento intenso das indstrias basea-das em recursos naturais; c) Diversificao e melhoria das indstrias exporta-doras no baseadas em recursos naturais; e d) Desenvolvimento de tecnologiae da mo de obra, aperfeioamento do sistema de incentivos, desenvolvi-mento de infraestrutura, modernizao e racionalizao do setor para apoiara estratgia de industrializao voltada para exportao.

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    As recomendaes chave do IMP1 foram implementadas, inclusive aconsolidao de incentivos fiscais para novos investimentos, integrao dascadeias produtivas, exportao e treinamento. A Lei de Promoo a Investi-mentos, de 1986, e as modificaes na Legislao de Imposto de Renda atra-ram investidores. Houve liberalizao de polticas, procedimentos e garga-los que afetavam o setor produtivo.

    Os principais resultados no perodo superaram as metas iniciais: a) Onvel de emprego no setor de transformao cresceu taxa mdia de 8,9%a.a.; b) Em 1995, o setor empregava 2,05 milhes de trabalhadores,correspondendo a 25,9% dos empregos do pas; c) A participao de produ-tos manufaturados na pauta de exportaes cresceu de 33%, em 1985, para79,8 %, em 1995.

    O lanamento do IMP2 significou uma nova era industrial para aMalsia, baseando-se em cinco estratgias: a) Orientao global.Aprofundamento da orientao anterior, puramente para exportao, parauma orientao global. Desenvolvimento de marketing internacional, deempresas com qualidade e escalas mundiais; b) Realce para competitividade.Desenvolvimento dos aglomerados, com o aprofundamento e alargamentoda integrao industrial e nfase na produtividade; c) Melhora da base eco-nmica. Capacitao e administrao de recursos humanos, aquisio e ca-pacidade de absoro de tecnologia. Melhora da infraestrutura fsica, dosprocedimentos administrativos de apoio, incentivos fiscais e no fiscais e ser-vios de apoio aos negcios; d) Aumento de participao de empresas con-troladas por empresrios locais. Isso se deu em vrios segmentos, mas espe-cialmente nos aglomerados estratgicos para o desenvolvimento industrial;e) Processos conduzidos pelo conhecimento e informao intensiva. Utiliza-o de conhecimento e informao intensiva na manufatura e em atividadesrelacionadas, tais como Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), projeto de pro-duto, marketing, distribuio e aquisio. Ampliao do uso de Tecnologiada Informao (TI) e E-commerce.

    Partindo desta viso estratgica de desenvolvimento integrado da in-dstria, o IMP2 tem duas linhas de ao:

    1) Orientao para manufatura + + (Manufacturing Plus-PlusOrientation) O IMP2 busca uma viso integrada que abrange ser-vios de sustentao da manufatura e do negcio. Orienta as com-panhias que j operam na Malsia, bem como as entrantes, a in-

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    vestir em P&D, projeto de produto, distribuio, logstica emarketing. Essas indstrias so incentivadas a aumentar sua efici-ncia com maior automatizao, desenvolvimento tecnolgico e dehabilidades que promovam melhoria gerencial. Enfatiza a integraoda cadeia de valor, a fim de fortalecer os laos industriais e aumen-tar a produtividade e a competitividade.

    2) Desenvolvimento Industrial Baseado em Aglomerados Trs gran-des grupos de aglomerados industriais foram identificados: a) Con-glomerados multinacionais, dirigidos ao mercado global, tais comoeletroeletrnicos e as indstrias txteis; b) Aglomerados baseadosem recursos naturais: madeira, borracha, petroqumica e leo depalma; c) Aglomerados tecnolgicos: indstrias automotiva eaeroespacial.

    Foram criados 21 grupos de trabalho para aglomerados e cinco forastarefa para executar os planos de ao esboados no IMP2, identificar estra-tgias e falhas na implementao, e tomar as medidas necessrias para o cres-cimento da competitividade do setor de manufatura. O investimento totalnecessrio foi estimado em US$ 66 bilhes para o perodo.

    Esses grupos de trabalho e foras tarefa envolviam os setores pblico eprivado no aperfeioamento da competitividade dos aglomerados, atravsda integrao das indstrias principais, fornecedores, indstrias de apoio,servios crticos de apoio a negcios, infraestrutura necessria e instituiesde pesquisa.

    Assim como no IMP1, o setor manufatureiro de borracha foi includoentre os dez grupos escolhidos para implementao dessa poltica.

    4.4 A Indstria da Borracha na Malsia

    A Malsia o dcimo maior consumidor de toda borracha produzidamundialmente, compreendendo borracha natural, sinttica e ltices. o quin-to maior consumidor de borracha natural e o primeiro de ltex natural con-centrado (Tabela 1). lder no fornecimento de luvas mdicas, de cateteres ede fios e cordes de ltex. Ocupa a terceira colocao entre os maiores pro-dutores e exportadores de borracha (MREPC, 2005).

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    Os fabricantes desses artigos so empresas multinacionais dos EUA,Europa e Japo, e pequenas e mdias empresas locais. Essa indstria ca-paz de fornecer uma variedade de 40.000 produtos diferentes. Os itens sele-cionados da pauta de exportaes, na ordem de participao no volume devendas, so: luvas (outras que no cirrgicas), cateteres, luvas cirrgicas, fiose cordes vulcanizados, tubos e conexes para a indstria, preservativos,banda de borracha pr-vulcanizada, tecidos emborrachados, correias, ba-les de ar, fios de cabos eltricos, dedeiras, bicos de mamadeira, chupetas eanis de vedao (MREPC, 2005). O consumo de borracha pela indstria daMalsia est estratificado conforme tabela a seguir:

    Tabela 1: Consumo Domstico da Indstria de Borracha na Malsia (em toneladas).

    Man

    tas

    e P

    laca

    s

    An

    o

    Cal

    ad

    os

    Lu

    vas

    Fio

    s

    2000

    2001

    2002

    2003

    55,116

    60,536

    60,229

    76,148

    3,317

    3,272

    3,686

    2,545

    20,746

    19,224

    19,572

    18,992

    201,159

    224,430

    224,644

    216,589

    64,189

    72,099

    78,049

    85,711

    3,253

    4,219

    5,255

    4,770

    4,880

    5,010

    5,340

    4,919

    273,481

    305,758

    313,288

    311,989

    6,571

    7,520

    7,091

    7,580

    4,484

    4,578

    4,017

    3,522

    363,715

    400,888

    407,883

    420,776

    Esp

    um

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    Produtos de Ltex

    Produtos Diversos de Borracha

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    Fonte: Estatsticas Mensais da Borracha, Departamento de Estatstica, Governo da Malsia(2005).

    Entre os diversos artefatos produzidos com ltex natural, as luvas emgeral tm participao preponderante: 72% no perodo estudado (2000/2004). Assim como, em comparao com o total de borracha consumida,representa cerca de 54% do total processado.

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    A competitividade nos Clusters da indstria de borracha do sudeste asitico

    4.5 O Aglomerado de Luvas Mdicas

    A Malaysian Rubber Gloves Manufactures Association (MARGMA, 2005)classifica as luvas de ltex nas seguintes categorias: a) Luvas para salas lim-pas; b) Luvas de exame, usadas principalmente em instalaes mdico-hos-pitalares e consultrios dentais, mas tambm na indstria alimentcia ecozinhas, cabeleireiros e jardinagem; c) Luvas para uso domstico; e) Luvaspara uso de indstria; e f) Luvas cirrgicas.

    Em 2001, o mercado mundial de luvas mdicas movimentou cerca deUS$ 1,2 bilhes, totalizando 40 bilhes de pares. A Malsia teve participa-o estimada em 60% no volume. Outros pases exportadores so Tailndia,Indonsia, China, Sri Lanka e ndia (MALAYSIA RUBBER INDUSTRYGLOVES EXPORTERS, Industry New, 2004). Dados mais recentes, apresen-tados na tabela anterior, indicam que a produo de luvas mdicas na Malsiacontinua expandindo-se.

    O embrio do aglomerado de luvas mdicas foi o setor primrio, osseringais, em resumo. A produo de borracha e ltex natural consideradaestratgica pela Malsia. A Malsia foi at 1993 o maior produtor mundial deltex natural. Entre os fatores que conduziram a esta liderana destaca-se oinvestimento realizado ao longo de dcadas na pesquisa e desenvolvimentoda tecnologia da borracha natural. Atravs do Rubber Research Institute ofMalaysia (RRIM), desenvolveram-se clones de seringueira cada vez mais pro-dutivos e resistentes s pragas, otimizaram-se os mtodos de cultivo da serin-gueira e de extrao do ltex, e criaram-se normas e padronizao que pas-saram a ser adotadas internacionalmente. A indstria de transformao be-neficiou-se da excelncia na produo de matria-prima.

    Nos anos 70, as luvas j despontavam como o produto manufaturadobaseado em ltex mais significante, e passaram a atrair investimentos estran-geiros. A produo de artefatos de ltex recebeu um grande impulso e incen-tivo com o lanamento do IMP1 (1986/1995). Durante esse perodo, a Malsiaconsolidou-se como o maior consumidor mundial de ltex natural, e lder nofornecimento de luvas mdicas.

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    Figura 1: O Aglomerado de Luvas Mdicas da Malsia.Fonte: Elaborada pelos autores.

    Os fabricantes de luvas mdicas esto no centro do aglomerado. Cons-tituem um conjunto de empresas com caractersticas bastante diversificadas.Em 2004, existiam 80 diferentes empresas estabelecidas na Malsia. Entreessas companhias esto empresas multinacionais, com fbricas em vrioscontinentes, grandes grupos locais, com centenas de linhas de produo dis-tribudas em diversas unidades fabris na Malsia, e at pequenas empresasfamiliares. A grande maioria delas produz luvas cirrgicas e de exame. Pou-cas produzem apenas luvas de uso domstico ou completam a linha comoutros artefatos, como bales ou preservativos.

    Existem pelo menos 18 fabricantes de insumos qumicos especializadospara indstria de luvas. Quantos aos moldes cermicos, h cinco fabricantesproduzindo as mais diversas formas de porcelana para confeco de luvas.

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    A competitividade nos Clusters da indstria de borracha do sudeste asitico

    H sete empresas fabricando equipamentos especializados para produode luvas. Ao todo, a indstria manufatureira de borracha na Malsia empre-gava em 2004 cerca de 67.000 trabalhadores. Estima-se que 60%, ou 40.200deles, atuavam diretamente nas indstrias fabricantes de luvas (Departamen-to de Estatstica, Governo da Malsia 2004).

    4.6 Instituies Especializadas

    O Malaysian Rubber Board (MRB) foi estabelecido em 1998, como re-sultado da fuso dos trs maiores institutos que trabalhavam no desenvolvi-mento da indstria de borracha local: Malaysian Rubber Researsh andDevelopment Board, Rubber Researsh Institute of Malaysia (RRIM) eMalaysian Rubber Exchange and Licensing Board. O MBR uma agnciagovernamental vinculada ao Ministrio das Indstrias Agrcola e Commodities.Sua primeira grande misso foi encontrar uma soluo economicamente vi-vel para eliminao das protenas alergnicas do ltex. As mudanas nos pro-cessos de produo implementadas permitiram atingir nveis seguros de pro-tenas alergnicas nas luvas.

    Malaysian Rubber Export Promotion Council (MREPC) promove noexterior os artigos de borracha e ltex, especialmente as luvas de exame. Ain-da como parte da estratgia de promoo das luvas mdicas da Malsia eesclarecimento quanto questo da alergia ao ltex, o MRPEC abriu umescritrio tcnico-comercial em Washington DC (EUA). Entre outras ativi-dades, destacam-se os seminrios, encontros e workshops. Os EUA, apesardas suas restries ao ltex natural, absorvem atualmente 42% das exporta-es de luvas da Malsia.

    A Malaysian Rubber Glove Manufacturers Association (MARGMA), fun-dada em 1990, a associao de fabricantes que rene 52 membros efetivose 80 membros associados (fornecedores e indstria de apoio). responsvelpela realizao de Conferncias e Exibies Internacionais, que atraem paraa Malsia agentes do setor de todo o mundo. Mantm intercmbio com asso-ciaes anlogas da Tailndia e Indonsia e trabalha fortemente na padroni-zao dos produtos quanto a dimenses, critrios de testes, propriedades f-sicas e de resistncia mecnica.

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    4.7 Os Fatores de Produo (Insumos)

    Recursos naturais: o setor das indstrias de produtos de borracha, par-ticularmente o de luvas, teve um crescimento to espetacular que, mesmo aMalsia sendo o terceiro maior produtor de ltex natural, tornou-se importa-dora de matria-prima. O desenvolvimento da qualidade deste recurso e aespecializao na sua produo para usos em tais artefatos beneficiam acompetitividade do setor.

    Recursos humanos: viu-se que a Malsia possui mo de obra especi-alizada e instruda. Alm disso, h o trao cultural que contribui para aatratividade de indstrias de mo de obra intensiva.

    Recursos de capital: o governo da Malsia fez a escolha poltica de atra-ir investimentos externos para industrializar o pas. Os planos de desenvolvi-mento industrial contemplaram incentivos fiscais, incentivos exportao edoaes a institutos de pesquisa. O setor expandiu-se rapidamente, a taxasmdias de 33% a.a. durante o IMP1 (1986/1995).

    Infraestrutura fsica: a infraestrutura de transportes, rodovias, ferrovias,aeroportos e portos, de armazns, de energia eltrica, de gs canalizado e degua e esgoto bem desenvolvida na Malsia. O pas beneficia-se do legadoda colonizao inglesa e do fato de ser uma pequena pennsula, com meno-res distncias geogrficas a serem vencidas.

    Infraestrutura administrativa do governo e empresas: do ponto de vistagovernamental, toda rede administrativa e que pode impactar no custo dosnegcios e transaes est informatizada e orientada para mxima eficincia.As empresas tambm buscam uma estrutura enxuta, com foco na qualidadee produtividade.

    Infraestrutura de informao: as vrias instituies de pesquisa e apoiodo aglomerado e as agncias estatais, disponibilizam amplamente estattiscas,normatizao, relatrios e projees. Os meios usados so internet, boletinssetoriais, relatrios gratuitos ou pagos, publicaes especficas e guias deempresas. O fato de tantas empresas concorrentes concentrarem-se na locali-dade proporciona intercmbio tecnolgico e mercadolgico, estruturado jus-tamente nesses organismos.

    Infraestrutura cientfica e tecnolgica: o papel do MRB tem um pesodecisivo. fruto de uma tradio de mais de 78 anos na pesquisa e desen-volvimento da indstria de borracha. O setor de luvas possui vrios progra-mas especficos junto ao RMB, destacando-se o SMG (Standard Malaysian

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    A competitividade nos Clusters da indstria de borracha do sudeste asitico

    Glove). um fator importante para a continuidade da sua liderana mundialem termos tecnolgicos.

    Todos estes insumos do aglomerado tm qualidade e so competitivos.Ressalte-se que os recursos naturais, humanos, informao e cientfico/tecnolgicos so extremamente especializados.

    4.8 Condies da Demanda

    A teoria identifica como fonte de vantagem competitiva a existncia declientes locais sofisticados e exigentes, cujas necessidades antecipem as quesurgiro em outros lugares. Como a produo de luvas na Malsia visa emi-nentemente a exportao, o conceito tem que ser adaptado de alguma for-ma. Ento, parece razovel que seja analisado nas suas especificidades omaior mercado consumidor de luvas, os EUA.

    Esse mercado extremamente exigente dado seu alto poder aquisitivo,seu alto nvel tecnolgico, notadamente o de sade. A legislao para pro-dutos mdicos rigorosa. Some-se a isso a problemtica da alergia ao ltexnatural e a srie de restries e imposies que da decorreram. O mercadonorte-americano ditou e antecipou uma preocupao crescente de sadepblica. A reao positiva dos fornecedores malaios, sendo ainda mais rigo-rosos nos seus padres, os fez liderar, uma vez mais, todo o desenvolvimentode luvas mdicas com melhores propriedades de uso seguro. Resultado dis-so que o aglomerado todo se beneficiou do salto qualitativo e da diversifi-cao de produtos decorrentes dos avanos.

    4.9 Setores Correlatos e de Apoio

    Fornecedores: o parque de fornecedores local internacionalmentecompetitivo e capaz. Os produtores de ltex exportam para o mundo todo; osfabricantes de maquinrio exportam para a sia e tm buscado novos mer-cados. Os ceramistas, produtores de moldes de porcelana, tambm tm naMalsia sua base de exportao.

    Setores correlatos: dentre os setores correlatos mais semelhantes, ouseja, que fabricam artefatos de ltex natural por processo de imerso, desta-cam-se o de cateteres, no qual a Malsia tambm lder mundial, e o depreservativos. Esses setores correlatos utilizam vrios insumos em comum,

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    tais como ltex natural e produtos qumicos. Os fabricantes de maquinriosespecializados so compartilhados, assim como os consultores de processo.

    4.10 Contexto para a Estratgia e Rivalidade das Empresas

    Embora haja colaborao nas associaes de produtores e exportado-res, no h relatos de cartelizao, acordos de preos ou outras prticas lesi-vas concorrncia. Nesse setor, com mais de 80 fabricantes, empresas dediversos portes e origens, a competio tende a ser perfeita. As polticas dedesenvolvimento industrial pautaram-se pelos esforos na atrao de inves-timentos externos e nfase nas exportaes do aglomerado. O incentivo sexportaes est presente nos atos regulatrios e legislao local.

    4.11 Os Fatores e a Produtividade no Aglomerado

    O Estado da Malsia criou, em 1962, um programa conjunto com asNaes Unidas, atravs da Organizao Mundial do Trabalho (OIT): o Cen-tro Nacional de Produtividade (NPC). O NPC atua na Pesquisa em reasestratgicas de:

    a) Qualidade e Produtividade para aumento da Competitividade;

    b) Promoo do desenvolvimento de recursos humanos, construindouma sociedade baseada no conhecimento;

    c) Promoo de excelncia organizacional e das melhores prticaspara melhoria da produtividade e competitividade;

    d)Disponibilizar dados e informaes abrangentes sobre a produtivi-dade; e

    e) Aplicao de Tecnologia de Informao e Comunicao para me-lhoramento da produtividade e Intercmbio com outras instituiesde Qualidade e Produtividade Internacionais e Locais.

    Considerando o setor manufatureiro de produtos de borracha, no per-odo de 1993 a 1999, a produo total por funcionrio aumentou 55,1%, ou6,5% a.a. o Valor agregado por funcionrio; 81,1%, ou 8,9% a.a. o Valor

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    A competitividade nos Clusters da indstria de borracha do sudeste asitico

    agregado por Ativo Fixo; 37.2%, ou 4.6% a.a. (NPC, 2000). O crescimentoda produtividade expressivo, especialmente por tratar-se de indstrias commo de obra intensiva. Sabe-se que o peso dos fabricantes de luvas 65%do valor agregado e 75% da mo de obra, assim sendo, verifica-se aexpressividade do aumento da produtividade no setor.

    Porter (1999) descreve certas caractersticas que conferem aos aglome-rados influncia positiva no crescimento da produtividade. No caso estuda-do podemos reconhec-las:

    Acesso a insumos e pessoal especializado: observa-se que houve umfenmeno de especializao de empresas fornecedoras de maquinrio emoldes de cermica, por exemplo. Tais fabricantes tm solues sob medidapara a indstria manufatureira e trabalha em parceria no aperfeioamentoda produtividade dos equipamentos. A mo de obra especializada, formadadurante anos nas empresas produtoras de luvas, espalhou-se pelo aglomera-do, contribuindo para que a cultura de produo de luvas fosse levada aossubfornecedores que surgiam.

    Acesso informao: os subfornecedores tm agido no sentido de dis-seminar atravs do aglomerado as melhores prticas desenvolvidas pelos fa-bricantes de luvas. Percebe-se que h uma constante evoluo na concep-o e execuo dos principais equipamentos de produo, e que o conceitodominante de aumento de escala e melhora na remoo de protenas, porexemplo, passa a ser adotado por todo o setor.

    Complementaridades: os fabricantes, atravs da MRPEC e da MARGMA,efetivam aes conjuntas para desenvolver mercados, promover seus produ-tos e garantir um padro de qualidade internacionalmente aceito.

    Acesso a instituies e a bens pblicos: a participao do MRB, rgopblico de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de borracha, tem sidofundamental para o aumento da produtividade agrcola e industrial do setor.

    Incentivos e mensurao do desempenho: o Estado mantm dispon-veis na internet, seja atravs do Departamento de Estatsticas, MRB ou NPC,um conjunto amplo de informaes sobre o desempenho setorial. Alm des-sas informaes econmicas, h tambm extenso material tcnico e normativopara a indstria de luvas.

    Ao analisar a condio dos fatores considerados como positivos paracrescimento da produtividade, portanto fontes de vantagem competitiva, nota-se que esto presentes e so todos coerentes com a Teoria da Competitividade.

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    5 Consideraes Finais

    O objetivo deste trabalho foi estudar o desenvolvimento dacompetitividade do setor de Luvas Mdicas da Malsia. Para tal, com basenas evidncias iniciais e na bibliografia consultada, partimos do pressupostoque o setor um aglomerado e que da poderiam derivar fontes decompetitividade internacional. Ao comparar os dados encontrados no aglo-merado com as fontes de competitividade previstas na teoria, nota-se a fortecorrelao.

    No aglomerado, a condio dos insumos, a condio da demanda, ossetores correlatos e de apoio e as estratgias e rivalidade das empresas influ-enciam positivamente na competitividade, proporcionado um desenvolvi-mento constante do setor.

    O papel do governo marcante, compreende a definio de polticasde industrializao, a atrao de capitais estrangeiros, a promoo das ex-portaes e a organizao das instituies de apoio pesquisa e desenvolvi-mento. O foco das aes do Estado tem sido o aumento da produtividadedas empresas. Essas prticas so alinhadas com a teoria dos aglomerados.Os planos IMP1 e IMP2 deram impulso ao crescimento do setor. No IMP2 expressa claramente a adoo da viso de aglomerados industriais para de-senvolvimento da competitividade econmica.

    A poltica industrial coerente com a teoria da competitividade, poisenfatiza a maior eficincia e integrao entre empresas, na busca da crescen-te produtividade. No se detectaram no aglomerado de luvas mdicas, aesno sentido de distorcer a concorrncia ou promover a concentrao de em-presas. Quanto s instituies de apoio, h as governamentais, fundamental-mente ocupadas na pesquisa e desenvolvimento, e as associaes de fabri-cantes exportadores, que tm agido com foco na normatizao do produto eem marketing internacional.

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    A competitividade nos Clusters da indstria de borracha do sudeste asitico

    The competitiveness in the clusters ofsoutheastern asian rubber industry

    Abstract

    The objective of this paper is to study the competitiveness of the manufacturingsector of rubber products of Malaysia, through the analysis of the medical glovesindustry. The joint action between the productive sector and the State privilegedthe attraction of foreign investments, the focus in the exportations, the search ofthe competitiveness through the productivity and the best use of the resources.These practical are coherent with the clusters theory, therefore they exactlyemphasize the supported growth of the productivity and the competitiveness, andnot the temporary advantages or firms concentration. The performance of thespecialized institutions of technological research and of the associations of themanufacturers has been expressive, either for standardization purposes,improvement of quality and product promotion in the foreign. The case study offersa counterpoint for evaluation of the strategies for industrial development in Brazil.

    Key-words: Clusters. Competitiveness. Rubber industry.

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