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ISSN – 1982-4866. REVISTA DYNAMIS. FURB, BLUMENAU, V.25, N.2 – P. 187 - 204 CLUBE DE CIÊNCIAS: REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA DAS PRODUÇÕES STRICTO SENSU DOS ÚLTIMOS QUINZE ANOS SCIENCE CLUB: A SYSTEMATIC REVIEW OF STRICTO SENSU LITERATURE OVER THE LAST FIFTEEN YEARS Tatiane Alves Gonçalves Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS [email protected] Luciano Denardin Doutor em Educação em Ciências e Matemática Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS [email protected]

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ISSN – 1982-4866. REVISTA DYNAMIS. FURB, BLUMENAU, V.25, N.2 – P. 187 - 204

CLUBE DE CIÊNCIAS: REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

DAS PRODUÇÕES STRICTO SENSU DOS ÚLTIMOS QUINZE ANOS

SCIENCE CLUB: A SYSTEMATIC REVIEW OF STRICTO SENSU LITERATURE OVER THE LAST FIFTEEN YEARS

Tatiane Alves Gonçalves Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS [email protected]

Luciano Denardin Doutor em Educação em Ciências e Matemática Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS [email protected]

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Resumo

Neste trabalho discute-se os principais resultados encontrados a partir da realização de uma

revisão sistemática de literatura sobre clube de ciências. A revisão foi conduzida de acordo com

as etapas metodológicas preconizadas por Khan, Kunz e Kleijnen (2003) e visa identificar e

compreender as características das produções envolvendo os clubes de ciências. A fonte de

busca foi a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, resultando, após uma análise

preliminar, em um corpus de pesquisa constituído por 15 dissertações e 2 teses. Como

resultados que emergiram da análise das produções inventariadas destaca-se que a maioria dos

participantes das pesquisas são estudantes da educação básica, principalmente dos anos finais

do ensino fundamental e do ensino médio. Algumas produções objetivavam avaliar se as ações

realizadas nos clubes de ciências contribuíam para o desenvolvimento da alfabetização

científica (quatro trabalhos). Outros trabalhos visavam analisar atividades investigativas e/ou

interdisciplinares (nove trabalhos) ou ainda avaliar produtos educacionais aplicados nesses

espaços não formais de educação (5 trabalhos). Em geral, os trabalhos sugerem que os clubes

de ciências contribuem para o desenvolvimento de uma cultura científica escolar e suprem a

falta de estrutura e de tempo curricular dos professores no que diz respeito ao desenvolvimento

de atividades experimentais em aulas regulares.

Palavras-chave: Clube de Ciências. Alfabetização Científica. Revisão Sistemática de

Literatura.

Abstract

This paper discusses the main results obtained from a systematic review of literature on science

clubs. The survey was conducted according to the methodological steps recommended by Khan,

Kunz and Kleijnen (2003) and aimed to identify and understand the characteristics of this kind

of literature. The search was sourced from the Bibioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações (Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations) and resulted, after a

preliminary analysis, in a corpus of research consisting of 15 dissertations and 2 theses from

which stands out the fact that most of the research participants are mainly higher grade

elementary school students and high schoolers. Some papers aimed to evaluate whether the

actions taken in science clubs contributed to the development of scientific literacy (four works).

Some others intended to analyze investigative and/or interdisciplinary activities (nine works)

and also evaluate educational products applied in these non-formal educational spaces (five

works). Generally speaking, the dissertations and theses suggest that science clubs contribute

to the development of a school scientific culture and offset a lack of structure and curricular

time for teachers when it comes to developing experimental activities in regular classes.

Keywords: Science Club. Scientific Literacy. Systematic Review of the Literature.

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1 INTRODUÇÃO

A ciência fora da sala de aula tem se mostrado mais presente atualmente com o aumento

de mídias que trazem discussões, experimentos e uma gama de materiais interessantes aos

jovens, agregando ao ensino dimensões que antes não eram alcançadas. Ambientes como

museus, zoológicos e jardins botânicos se revelam locais que permitem a promoção da educação

científica e podem ser conceituados como espaços não formais de educação (ALVES et al.,

2012). Jacobucci (2008), por exemplo, utiliza o termo espaço não formal de educação para

referenciar lugares distintos da escola e que desenvolvem atividades educativas. Esses locais

podem ser institucionalizados (como museus, planetários, observatórios astronômicos, clubes

de ciências e outros) ou não institucionalizados, que são o caso de praias, praças e ruas, e que

também podem ser potencializadores do ensino (ibid).

Um espaço institucionalizado e não formal de educação e que é objetivo de estudo deste

trabalho são os clubes de ciências. A definição de clube de ciências também pode direcionar ao

termo centro de estudos de ciências, no qual o principal objetivo é desenvolver o pensamento

científico, não somente no âmbito escolar, mas em toda a comunidade (MANCUSO; LIMA;

BANDEIRA, 1996). O centro de estudos ou clube existe quando um considerável número de

pessoas se reúne em prol de discussões, realização de experimentos e aprofundamento de

interesses científicos em encontros periódicos com horários e turnos bem definidos (ibid).

Atualmente existem muitos clubes de ciências espalhados pelo Brasil, nos quais as

culturas locais acabam também influenciando nos objetivos desses espaços não formais de

educação. Compreende-se que isso está relacionado às mudanças no cenário educativo, uma

vez que essa modalidade de espaço também é vista como um ambiente propício para o

desenvolvimento de uma cultura científica. Para tanto, é relevante investigar os trabalhos

produzidos no meio acadêmico sobre os clubes de ciências, identificando quem são os

participantes das pesquisas, os objetivos das produções e as metodologias empregadas para que

dessa forma um panorama desta temática seja traçado.

Esse panorama pode ser construído a partir da realização de revisões sistemáticas de

literatura. As revisões sistemáticas são relevantes para o conhecimento das produções e

elaboração de novas diretrizes de investigação dentro das mais variadas áreas do conhecimento.

Neste sentido, o objetivo desse trabalho é apresentar uma revisão sistemática de literatura sobre

clube de ciências e tem como corpus as produções stricto sensu dos últimos quinze anos no

Brasil disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). A revisão

de literatura foi conduzida de acordo com as etapas metodológicas estabelecidas por Khan,

Kunz e Kleijnen (2003), que elencam cinco passos para o desenvolvimento deste tipo de

trabalho e que podem produzir resultados confiáveis acerca dos estudos.

Revisões de literatura sobre clube de ciências em eventos nacionais (GONÇALVES;

DENARDIN, 2019) e em periódicos, dissertações, teses e nas atas do encontro nacional de

pesquisa em educação em ciências (PRÁ e TOMIO, 2014) já foram realizadas. Entretanto, a

revisão aqui apresentada contempla uma amostra diferente daquela realizada por Prá e Tomio

(2014). O trabalho das autoras avaliou todas as produções disponíveis on-line até o ano de 2012

encontradas majoritariamente no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ao passo que a presente revisão envolve

produções disponíveis na BDTD no período de 2003 a 2018. Apenas duas dissertações do

corpus da revisão aqui apresentada e do trabalho de Prá e Tomio (2014) se repetem.

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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Esta seção aborda os principais aspectos teóricos relacionados com o tema deste trabalho.

Dessa forma, primeiramente destacam-se os principais conceitos trazidos por autores da área.

Algumas ideias a respeito do ensino de ciências no decorrer do tempo são apontadas na segunda

parte e, por fim, aspectos gerais de clube de ciências, salientando-se sua importância para um

ensino formativo e com igualdade de oportunidades educativas.

2.1 DEFINIÇÕES SOBRE CLUBE DE CIÊNCIAS

Quando um grupo considerável de pessoas se reúne periodicamente, em horários

definidos e com a finalidade de aprofundar os conhecimentos (na ciência) tem-se o que se

aproxima de um clube (MANCUSO; LIMA; BANDEIRA, 1996). Segundo Silva et al. (2008,

apud PRÁ; TOMIO, 2014), estas atividades que acontecem em contraturno, estando

direcionadas ao debate, projetos, exposição de ideias e curiosidades dos seus sócios, assim

como a construção do conhecimento utilizando conceitos científicos, estão enquadradas no

conceito de clube de ciências.

Na concepção de Mancuso; Lima; Bandeira (1996), o pensamento científico precisa

estar ligado por alguns objetivos específicos no ensino de ciências, tais como: vivenciar práticas

científicas; possibilitar o desenvolvimento de pensamento lógico e a investigação; compreender

as leis científicas e conhecer o meio ao seu redor.

A respeito da significação desses espaços, Bazo e Santiago (1981), entendem que

corresponde a uma associação de jovens orientados por professores que procuram realizar

atividades de divulgação científica e, assim, desenvolver o interesse pela ciência. Pensar em um

ambiente no qual suas reuniões possibilitem troca de ideias, leituras e pesquisas dentro da

comunidade é o que Costa (1988) idealiza como um clube. Entende-se por “clubistas” aqueles

estudantes que participam das atividades desenvolvidas nesses espaços não formais de

educação.

2.2 UM BREVE RELATO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NO DECURSO DO TEMPO

Nem sempre os clubes tiveram um olhar direcionado para a criticidade e a construção

do conhecimento, fato que pode estar associado à abordagem transmissiva das disciplinas de

ciências. Assim, é pertinente entender como - ao longo do tempo - os clubes de ciência perderam

parte de sua ambientação voltada, algumas vezes, para uma formação tecnicista, tradicional e

transmissiva, e passaram a assumir uma postura mais investigativa, crítica e de construção do

conhecimento.

No início do século XX, no Brasil e na maioria dos países, o ensino se enquadrava nos

moldes tradicionais, no qual o professor está no centro do processo de ensino e é o detentor do

conhecimento. Além disso, neste mesmo período a formação escolar era direcionada

majoritariamente para o âmbito profissional, de maneira que as etapas finais da educação básica

e o ensino superior eram predominantemente frequentadas pelas classes sociais mais abastadas

(OLIVEIRA; MANZANO, 2015). Foi na década de 30 que o movimento conhecido como

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Escola Nova (tendo como um dos defensores no Brasil Anísio Teixeira) tentaram colocar em

prática concepções de educação que iam de encontro ao tradicionalismo da época. A Escola

Nova prega uma educação mais liberal e critica a passividade do estudante (MANCUSO;

LIMA; BANDEIRA, 1996). Entretanto, esta ideia não vigorou como esperado por muitos

defensores e no nosso país, até meados dos anos 50, predominava um ensino pautado em aulas

teóricas, com exposição e recursos exclusivamente orais, focados em quadro e anotações,

remetendo a uma filosofia behaviorista de ensino para aprendizagens mecânicas (ibid)1.

As disciplinas de ciências da natureza (química, física e biologia) nesse período ainda

eram direcionadas para o produto das atividades dos cientistas, com uma grande valorização de

seus feitos, negligenciando a utilização desse conhecimento para fins não tão positivos para a

natureza e para o homem (MANCUSO; LIMA; BANDEIRA, 1996).

Na década de 50 os primeiros clubes eram utilizados como método capaz de atender às

demandas da época, produzindo conhecimento de uma forma mais tecnológica do que científica

(ibid). Utilizavam equipamentos com montagens prontas nos quais os experimentos realizados

visavam apenas comprovar leis científicas. Os autores evidenciam que frequentar um clube de

ciências nesse período significava participar ativa e diretamente de feiras de ciências, como se

não houvesse uma outra finalidade. Essa concepção de clube de ciências perpetuou até o início

dos anos 90.

O cenário da educação tem mudado com o passar dos anos e, de acordo com Gonçalves

e Oliveira (2019), os clubes de ciências são vistos como ambientes que suprem a falta de

estrutura e de tempo curricular para que os professores desenvolvam atividades experimentais

em sala de aula, bem como espaços para promover a inclusão escolar e para estruturar o

pensamento científico. Essa tendência se aproxima de uma (desejável) concepção cognitivista

de ensino e aprendizagem que requer a construção do conhecimento por parte dos estudantes.

2.3 ASPECTOS GERAIS SOBRE CLUBE DE CIÊNCIAS

Um clube de ciências, na concepção de Gomes (1988, apud MANCUSO; LIMA;

BANDEIRA, 1996), permite o desenvolvimento paralelo de um ensino formativo e educativo,

atrelado espontaneamente com afetividade e resultados satisfatórios. Estes espaços não formais,

além do desenvolvimento de atividades científicas, atualmente têm se preocupado com a

formação do sujeito, permitindo a socialização do indivíduo, e o desenvolvimento de

habilidades como liderança, responsabilidade e trabalho em equipe (GONÇALVES;

OLIVEIRA, 2019).

Parte do processo de ensino de ciências está relacionado com a tarefa de cativar o

interesse de crianças e jovens na ciência, seja pela leitura de jornais, revistas, sites e

documentários relacionados à esta temática, seja pela realização de atividades investigativas

(PRÁ; TOMIO, 2014). Os clubes de ciências podem ser espaços que contribuem para a

formação da criticidade, desenvolvendo o potencial criativo dos estudantes, bem como de

atitudes reflexivas, éticas e morais da ciência (SOUZA; SILVA; SIMÃO, 2016).

Uma educação estimuladora é aquela que permite aos educandos associarem os

conhecimentos construídos nesses ambientes com o cotidiano, possibilitando melhores

condições para a vida social (ibid). Nesse aspecto, a escola exerce um papel fundamental,

1 Para os autores deste trabalho, infelizmente essa ainda é a realidade da educação brasileira.

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organizar seu tempo e espaço para ambientes que além do ensino se desafiam a refletir sobre as

mais variadas situações, estabelecendo relações entre o conhecimento adquirido e a nossa

cultura (PRÁ; TOMIO, 2014).

3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Nesta investigação, a revisão sistemática de literatura foi utilizada como procedimento

metodológico. No contexto atual é comum dispor de um extenso número de produções

científicas com a mesma temática, sendo assim, existe a necessidade de, periodicamente,

sistematizar o conhecimento produzido em temas específicos das diversas áreas do

conhecimento. Para isso, recorre-se à realização de revisões sistemáticas de literatura, pois elas

captam, sistematizam e reconhecem evidências científicas (GUANILO; TAKAHASHI;

BERTOLOZI, 2010).

Uma revisão pode ser conceituada como sistemática quando estruturada a partir de uma

pergunta precisamente formulada, encontrar estudos relevantes, analisar sua qualidade e

resumir as evidências com uma metodologia sistêmica (KHAN; KUNZ; KLEIJNEN, 2003).

Para esses autores, são cinco as etapas essenciais para o desenvolvimento de uma revisão

sistemática de literatura:

A etapa 1 engloba a definição de perguntas claras e diretas, estabelecidas no início do

processo e mantidas até o final. A identificação de trabalhos relevantes faz parte da etapa 2, na

qual a busca deve ser extensa e os critérios de seleção estão enquadrados de acordo com a

definição dos questionamentos iniciais. Na etapa 3, há a avalição crítica da qualidade das

produções selecionadas, devendo estas seguirem uma heterogeneidade e adequação à

metanálise de dados. O resumo das evidências constitui a etapa 4, na qual, a tabulação das

características permite a comparação de informações qualitativas e quantitativas dos estudos

analisados. Por fim, a interpretação dos resultados compõe a etapa 5. Quando seguidas

corretamente todas as etapas, conclusões fidedignas acerca dos objetos estudados serão

reveladas.

Seguindo as etapas definidas anteriormente, foram elaboradas- como parte inicial e

integrante do processo- algumas perguntas que visavam atender ao questionamento principal.

A questão base da revisão sistemática foi: “Quais são as características das produções stricto

sensu no Brasil que possuem a temática clube de ciências?”. As indagações a seguir, servem

como auxílio para alcançar o objetivo estabelecido:

Quem são os participantes das pesquisas?

Qual é o contexto educacional dos participantes da pesquisa?

Quais são as temáticas e principais resultados das pesquisas?

Quais são as metodologias das pesquisas?

Quais são as metodologias de análise de dados?

Na realização da segunda etapa, uma busca relativamente extensa foi realizada em um

dos principais repositórios digitais de trabalhos acadêmicos stricto sensu do Brasil, a BDTD. O

recorte temporal envolve os últimos quinze anos, no período compreendido entre 2003 e 2018,

os descritores utilizados foram clube e clubes de ciências e a busca ocorreu por título e palavra-

chave.

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As pesquisas foram realizadas na base de dados da BDTD entre 20/02/2019 e 02/03/2019

e, levando em conta os critérios acima elencados, encontrou-se 23 produções sobre o tema. A

etapa 3, de acordo com Khan, Kunz e Kleijnen (2003), determina que os estudos encontrados

devam ser submetidos a uma avaliação de qualidade, que refina e atenda os parâmetros

estabelecidos inicialmente. Para que essa etapa fosse atendida e a questão base da revisão

sistemática respondida com propriedade, identificou-se que apenas a leitura dos resumos das

23 produções encontradas não seria suficiente. Desta forma, as informações adicionais e

necessárias foram buscadas nos corpos dos textos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização da busca e leitura dos 23 trabalhos encontrados, 6 foram excluídos, pois

não tinham como tema principal clube de ciências e sim outras constituições de clubes (como

por exemplo, clubes de futebol e de fotografia). Dessa forma, os resultados dessa investigação

correspondem a um total de 17 produções, sendo quinze dissertações e duas teses.

Comparado ao número de dissertações, as produções em nível de doutorado são muito

menores e constam apenas nos anos de 2014 e 2018, de forma que aproximadamente 11% do

corpus desta investigação correspondem a teses. Ainda assim, considerando o período em

questão (últimos 15 anos), a temática “clubes de ciências” não é muito abordada em nível stricto

sensu.

As referências completas das 17 produções que configuram o corpus deste trabalho

estão nas referências bibliográficas. Para uma melhor apresentação e discussão dos dados foi

realizada uma codificação das produções de D1 até D15 para as dissertações e T1 e T2 para as

teses. O quadro 1 apresenta o inventário das produções indicando o sistema de códigos, autor,

ano da defesa e a instituição de ensino pertencente.

Quadro 1: Dados das produções, autores, anos e instituições de ensino

CÓDIGO AUTOR, ANO INSTITUIÇÃO

D1 OLIVEIRA, 2009 UFGO

D2 MENEZES, 2012 FURB

T1 PARENTE, 2012 UNESP

D3 LONGHI, 2014 FURB

D4 GREIN, 2014 UTFPR

D5 ROMAIS, 2014 FURB

D6 BUCHI, 2014 FURB

T2 AMARAL, 2014 PUCRS

D7 SCHLEICH, 2015 PUCRS

D8 ADRIANO, 2015 FURB

D9 RIBEIRO, 2016 UNB

D10 COURA, 2016 UFOP

D11 CORDEIRO, 2016 FURB

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D12 ALBUQUERQUE, 2016 PUCRS

D13 COUTO, 2017 UNB

D14 CATARDO, 2018 UFRGS

D15 LIPPERT, 2018 PUCRS

Fonte: os autores (2019)

Com o intuito de atender à questão de pesquisa, caracterizando as produções stricto sensu

no país que possuem a temática clube de ciências, os resultados serão apresentados e discutidos

em diversas subseções: a primeira traz um breve recorte temporal e quantifica os trabalhos

produzidos ao longo do tempo; a segunda identifica e caracteriza os participantes das pesquisas;

a terceira relata os contextos de ensino que ocorreram as pesquisas; a quarta versa sobre as

metodologias de pesquisa e de análise utilizadas nas produções e a última subseção apresenta

as principais temáticas e resultados das investigações envolvendo clube de ciências.

4.1 PRODUÇÕES AO LONGO DO TEMPO

A primeira produção sobre o tema encontrada na BDTD é do ano de 2009, embora o

filtro do recorte temporal ter como indicador inicial o ano de 2003.

A maior concentração de trabalhos ocorreu no ano de 2014 com um total de 5,

posteriormente 2016, com 4. Nos anos de 2012, 2015 e 2018 constam apenas 2 pesquisas, ao

passo que nos anos de 2009 e 2017 apenas uma produção foi defendida. O gráfico 1 relaciona

as quantidades de dissertações e teses com o ano na qual foram defendidas.

Gráfico 1: Distribuição das produções stricto sensu por ano

Fonte: os autores (2019)

10 0

2

0

5

2

4

1

2

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Quantidade de Produções por ano

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4.2 OS PARTICIPANTES DE PESQUISA

A partir da análise dos textos foi possível identificar os participantes das pesquisas,

caracterizando-os de três formas: Estudantes; Professores e Pais/responsáveis. O quadro 2

destaca as produções e as categorias citadas, de forma que os códigos em negrito remetem às

teses e dissertações que figuram em mais de uma categoria.

Quadro 2: Os participantes da pesquisa

1. CATEGORIAS CÓDIGO

1.1 Estudantes D1

D3

D4

D5

D7

D8

D9

D11

D12

D13

D14

D15

T2

1.2 Professores D2

D6

D10

D12

D13

T1

T2

1.3 Pais/ responsáveis D12

Fonte: os autores (2019)

Percebe-se que 76% dos trabalhos tem entre seus participantes de pesquisa os clubistas

(sendo 59% constituído exclusivamente por estudantes). Apesar da maior parte das

investigações optar pelo olhar dos alunos, 24% delas tem como participantes somente os

educadores. Apenas duas produções tiveram como participantes das pesquisas professores e

estudantes (D13 e T2) e uma única dissertação envolvia, além desses, os pais/responsáveis dos

clubistas (D12). Percebe-se uma tendência das pesquisas em compreender as motivações,

aspirações e o processo de aprendizagem pelo viés dos estudantes, de forma que poucos

trabalhos investigam o clube de ciências como um ambiente para a formação docente. Esta é

uma tendência, uma vez que a maioria dos trabalhos que envolvem espaços não-formais de

aprendizagem, direcionam suas questões de pesquisa para os estudantes, quiçá pelo fato desses

espaços proporcionarem uma educação científica menos tradicional e mais centrada no aluno

como construtor do seu próprio conhecimento.

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4.3 O CONTEXTO DE ENSINO

A busca no banco de dados da BDTD contemplou trabalhos nos quais os clubes de

ciências investigados eram frequentados por alunos dos mais variados níveis de ensino, desde

os anos iniciais do ensino fundamental até o ensino médio. Para melhor explicitar, as produções

foram distribuídas em três categorias que remetem ao nível de ensino dos clubistas: Ensino

Fundamental I (anos iniciais); Ensino Fundamental II (anos finais) e Ensino Médio, como

mostrado no quadro 3.

Quadro 3: Produções e níveis de ensino

2. CATEGORIAS CÓDIGO

2.1 Ensino Fundamental I D8

2.2 Ensino Fundamental II T1

D2

D4

D7

D10

D11

D12

D14

D15

T2

2.3 Ensino Médio D1

D3

D5

D6

D9

D13

T2

Fonte: os autores (2019)

Nenhuma das investigações envolve a educação infantil e ensino superior, em

contrapartida, quase 60% delas foram realizadas em espaços que possuem clubistas dos anos

finais do ensino fundamental. Aproximadamente 42% delas contemplavam atividades

desenvolvidas no ensino médio. Apenas a tese T2 apresenta atividades desenvolvidas em dois

níveis de ensino e somente uma pesquisa envolvia os anos iniciais do ensino fundamental. Uma

hipótese para a quase inexistência de clubes de ciências nos primeiros anos do ensino

fundamental pode estar associado a escassez de professores especialistas em ciências atuando

nesta etapa de ensino. Uma outra possibilidade é o fato de geralmente os clubes de ciências

serem ofertados no contra turno, o que, pela faixa-etária das crianças dos anos iniciais do ensino

fundamental, poderia dificultar a ida delas no turno que não seja o de aulas regulares.

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4.4 METODOLOGIAS DE PESQUISA E DE ANÁLISE

Nesta seção são apresentadas as metodologias de pesquisa, de análise e os instrumentos

de coleta de dados adotados nas produções strictu sensu que compõem o corpus deste trabalho.

Um número significativo de trabalhos optou pelo estudo de caso (onze dissertações e as duas

teses). Em menor número, os autores de três dissertações entenderam suas investigações como

pesquisa ação e a apenas uma foi classificada como pesquisa participante. O gráfico 2 apresenta,

em termos percentuais, os tipos de pesquisa utilizados.

Gráfico 2: Metodologias de pesquisas das produções

Fonte: os autores (2019)

O estudo de caso visa compreender fenômenos contemporâneos pouco investigados

(YIN, 2004). Ademais, o estudo de caso permite um maior detalhamento de um ambiente

específico, envolvendo um ou vários sujeitos. Todas essas características se fazem presentes

nos clubes de ciências, podendo explicar a predominância desta metodologia de pesquisa nas

produções que figuram nesta revisão de literatura.

Os instrumentos de coleta de dados são fundamentais para a qualidade e confiabilidade

de resultados. Uma grande parcela das investigações apresentou ao menos mais de um meio de

obter as informações, entre elas estão os dois trabalhos em nível de doutorado e cinco

dissertações. A triangulação é um conceito que é fundamental para a articulação dos mais

variados métodos qualitativos, por combiná-los, supera limitações e torna-se mais produtivo se

diversas abordagens teóricas forem utilizadas ou consideradas (FLICK, 2009). Nos métodos de

coleta de dados (entrevistas, observações revisão documental, questionários), a triangulação

atribui mais confiabilidade e entendimento ao objeto de estudo (SAMUEL; HARRES;

FLORES, 2016). Acredita-se que essas razões justificam o fato de 41% das produções

utilizarem mais de um instrumento de coleta de dados.

As preferências foram entrevistas e questionários e uma minoria utilizou a observação

participante. O gráfico 3 apresenta os tipos de instrumentos e seus respectivos percentuais.

76%

18%

6%

Métodos Empregados

Estudo de caso

Pesquisa Ação

Pesquisa Participante

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Gráfico 3: Instrumentos de Coletas de Dados

Fonte: os autores (2019)

Pesquisas em educação em ciências realizam, de forma majoritária, análises qualitativas.

Diversas metodologias de análise qualitativa dos dados contribuem para a compreensão mais

fidedigna do fenômeno investigado, permitindo a emersão de sentidos e significados a partir da

interpretação dos dados. Dentre os trabalhos analisados, nenhum empregou análises

quantitativas e um pouco menos da metade não especifica o tipo de metodologia qualitativa

utilizada para a análise dos dados. Destes, 75% são de mestrados profissionais e 25% de

mestrados acadêmicos. Talvez o fato do foco dos mestrados profissionais ser a elaboração,

aplicação e análise de produtos educacionais justifique a ausência de metodologias de análise

específicas. Essa hipótese é levantada porque como o mestrado se desenvolve em dois anos,

muito do tempo do curso acaba sendo utilizado na construção e aplicação do produto

educacional em detrimento ao estudo teórico de metodologias de análise (OSTERMANN;

REZENDE, 2009). Em relação às metodologias de análise, a Análise Textual Discursiva foi

empregada em cinco trabalhos, uma tese e quatro dissertações e foi a metodologia de análise

mais utilizada. A Análise de Discurso foi o dispositivo de análise em uma tese e duas

dissertações, ao passo que somente um trabalho, em nível de mestrado, utilizou a Análise de

Conteúdo. O gráfico 4, apresenta as metodologias de análise utilizadas e seus respectivos

percentuais.

Gráfico 4: Métodos de Análise

Fonte: os autores (2019)

23%

24%

12%

41%

Questionários

Entrevistas

ObservaçãoParticipante

Mais de uminstrumento

31%

19%6%

44%

ATD

Análise de Discurso

Análise de Conteúdo

Sem especificação

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199 ISSN – 1982-4866. REVISTA DYNAMIS. FURB, BLUMENAU, V.25, N.2 – P. 187 - 204

4.5 TEMÁTICAS INVESTIGADAS E PRINCIPAIS RESULTADOS

Com a leitura dos textos emergiram sete categorias: Alfabetização e Letramento

Científico; Atividades Interdisciplinares; Recursos Didáticos (RD), Produtos Educacionais

(PE) e Sequências Didáticas (SD); Tecnologias no Ensino de Ciências; Motivações e

Contribuições na Formação dos Estudantes; Motivações e Contribuições na Formação dos

Docentes e Atividades Investigativas. Os trabalhos D4, D5, D10 e T1 enquadram-se em mais

de uma categoria. Para melhor especificá-las, o quadro 4, relaciona as produções e suas

respectivas categorias.

Quadro 4: Produções por temáticas

3. CATEGORIAS CÓDIGO

3.1 Alfabetização e Letramento

Científico D2

D5

D6

T2

3.2 Atividades Interdisciplinares D1

D4

D10

3.3 Recursos Didáticos (RD),

Produtos Educacionais (PE) e

Sequências Didáticas (SD)

D4

D5

D10

D11

D15

3.4 Tecnologias no Ensino de

Ciências D7

3.5 Motivações e Contribuições na

Formação dos Estudantes D3

3.6 Motivações e Contribuições na

Formação dos Docentes T1

3.7 Atividades Investigativas D8

D9

D12

D13

D14

T1

Fonte: os autores (2019)

A categoria Alfabetização e Letramento Científico corresponde a um número expressivo

das pesquisas. Algumas produções, como a D2, entendem que o clube de ciências pode

fomentar o processo de educação científica, contribuindo para a elaboração e apropriação de

conceitos científicos por parte dos estudantes. D6, que teve como participantes de pesquisa os

professores, preconiza que esses percebem que a compreensão da organização e do

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200 ISSN – 1982-4866. REVISTA DYNAMIS. FURB, BLUMENAU, V.25, N.2 – P. 187 - 204

funcionamento do clube, bem como das atividades propostas, contribuem para a alfabetização

científica dos clubistas. Trabalhar com os conceitos científicos de uma forma mais próxima da

realidade dos alunos é um grande desafio, pois muitas ideias são abstratas e abarrotadas de

equações complexas. A tese T2 sugere que o letramento científico é uma possibilidade de

aproximar os clubistas de uma leitura de mundo, formando um estudante crítico, com

capacidade de aplicar os conhecimentos adquiridos no cotidiano, intervindo de forma

consciente na sociedade. A conclusão elencada por T2 de que os clubes de ciências podem agir

como potencializadores do letramento científico, emerge dos dados coletados em quatro clubes

de ciências vinculados a instituições públicas do município e do estado nos quais a pesquisa foi

realizada.

Na categoria Atividades interdisciplinares, destaca-se a produção D10, na qual os

bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) são os

participantes da pesquisa e que visou avaliar a contribuição de projetos interdisciplinares nos

clubes de ciências na formação dos licenciandos. Em D1, um grupo de estudantes articulou

conceitos de ciências da natureza, aprofundando seus conhecimentos construídos em sala de

aula. Observou-se que os trabalhos que envolvem uma abordagem interdisciplinar se

aproximam da concepção de Santomé (1998), uma vez que valorizam as relações entre as

disciplinas e a contextualização dos conteúdos. Além disso, salientam que a abordagem

interdisciplinar nos clubes de ciências pode contribuir para que os alunos solucionem problemas

complexos.

As demandas da sociedade atual não são mais atendidas em um ensino dito tradicional.

Ao analisar textos das produções, percebe-se que em número significativo estão na categoria

denominada Recursos Didáticos (RD), Produtos Educacionais (PE), Unidades de

Aprendizagem (UA) e Sequências Didáticas (SD). O desenvolvimento do pensamento, de forma

crítica, analítica e científica com recursos didáticos aplicados, faz parte do trabalho D4. A

formação contemporânea dos sujeitos que participam de um clube de ciências é investigada sob

o olhar de estudantes, pais e docentes no trabalho de D15. Estes espaços não formais são locais

que permitem aliar a realização de unidades de aprendizagem de cunho ambiental. Os produtos

educacionais podem ser utilizados como meio de promover atividades relacionadas à saúde e

bem-estar, como relatado em D5.

Uma única pesquisa abrange a categoria Tecnologias no Ensino de Ciências. A geração

presente na escola hoje, possui uma grande afinidade com a tecnologia, que pode ser uma

grande aliada ao ensino de ciências. A dissertação D7 analisou atividades de um clube de

ciências envolvendo a temática educação ambiental, por meio do Google Earth TM. O autor

conclui que a tecnologia utilizada pode auxiliar o professor a trabalhar de forma mais instigante

e interessante o tema, conscientizando os alunos frente à questão ambiental.

Entender as motivações dos estudantes, sua participação, assimilações sobre o espaço e o

quanto significativa suas atividades se tornaram, de acordo com D3, pode ser um ponto crucial

na melhoria da educação científica. Este trabalho faz parte da categoria Motivações e

Contribuições na Formação dos Estudantes.

A formação continuada é importante no contexto de qualquer profissão, assim, ao analisar

os textos emergiu uma categoria que abrange a compreensão destes espaços educativos na

formação de professores de ciências. Contata-se que a categoria Motivações e Contribuições na

Formação dos Docentes corresponde apenas a uma produção, o que indica que o clube de

ciências ainda é pouco investigado e compreendido como um ambiente que contribui para o

desenvolvimento profissional docente. Segundo T1, o discurso argumentativo pode promover

a formação de educadores ao utilizarem práticas investigativas. O clube de ciências como

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espaço não formal, segundo o autor de T2, é considerado um ambiente especial, complexo e

desafiador, podendo instigar a formação continuada de professores e o desenvolvimento de

estratégias didáticas para a construção do pensamento científico. De acordo com T1, na

construção do conhecimento, cabe ao professor desencadear ações problematizadoras,

incentivando a inquietude para assim desenvolver a argumentação. O mesmo autor ainda sugere

que a inserção do educador nas práticas de investigação nem sempre é fácil, de forma que a

continuidade desse processo requer uma série de fatores, entre eles o respeito à singularidade

de cada indivíduo, processo esse que contribui para a formação docente.

Um número significativo de trabalhos figura na categoria Atividades Investigativas.

Segundo D9, o educador tem um papel crucial que é, transformar as aulas de ciências em um

ambiente propício para a construção do pensamento científico. Para o autor, uma forma deste

ambiente ser estabelecido é por meio da realização de atividades investigativas. Na concepção

de D13, que visava identificar e registrar o trabalho investigativo e o processo de iniciação na

ciência por intermédio de um clube de ciências, notou-se que os alunos que participavam das

ações do clube desenvolviam grande autonomia intelectual. Além disso, apresentavam maior

envolvimento com os estudos, compreendendo com mais facilidade conceitos científicos.

Entender os processos de elaboração de conceitos espontâneos e científicos, no segundo ano do

ensino fundamental fez parte das atividades realizadas em clube de ciências e analisadas na

dissertação D8. Para o autor foi perceptível, a partir das atividades propostas, que as crianças

gradativamente se apropriaram dos conhecimentos científicos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os clubes de ciências são considerados por muitos pesquisadores como um ambiente que

fomenta uma educação em ciências mais contextualizada e capaz de formar um estudante mais

ativo e crítico, associando os conhecimentos construídos ao seu cotidiano.

As atividades desenvolvidas nestes espaços, em sua maioria, contemplaram os anos finais

do ensino fundamental, em alguns momentos de forma interdisciplinar e visando a alfabetização

científica. O ato de despertar nos jovens o interesse pela ciência pode surgir com atividades

investigativas, produtos educacionais, ferramentas tecnológicas, entre outras temáticas e

recursos. Os anos finais da educação básica tem sua relevância quando se pensa na formação

de possíveis seguidores das carreiras científicas, logo, desenvolver mais pesquisas com

estudantes do ensino médio é essencial. Identificou-se que muitos trabalhos utilizam a temática

educação ambiental em atividades dos clubes de ciências. A maioria tem como participantes da

pesquisa os clubistas e buscam avaliar as atividades investigativas realizadas nos encontros.

Verificou-se ainda que poucas investigações visam entender a contribuição desse espaço não

formal para o desenvolvimento profissional docente. Conhecer a relevância dos clubes de

ciências na formação dos educadores é um aspecto importante a ser discutido em nível

acadêmico. Em muitos cursos de graduação, os estudantes de licenciatura e futuros professores,

acompanham aulas com métodos tradicionais e transmissivos, logo, não estão habituados a

trabalharem de uma forma diferente, perpetuando aulas com falta de práticas experimentais e

investigativas. Assim, os espaços não formais tornam-se ambientes alternativos e

potencializadores para o desenvolvimento deste tipo de atividade.

A revisão realizada identifica uma escassez de investigações que avaliem o impacto dos

clubes de ciências na formação continuada docente. Verifica-se ainda que não há trabalhos que

avaliem as interações entre clubes de ciências e a sociedade em geral. Por fim, constata-se ainda

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202 ISSN – 1982-4866. REVISTA DYNAMIS. FURB, BLUMENAU, V.25, N.2 – P. 187 - 204

que por mais que o número de pesquisas com o tema clube de ciências tenha sido significativo

nos últimos anos, em nenhum dos trabalhos foi discutido temáticas que envolvem as formas de

inclusão escolar e o feminismo. Estes assuntos são discutidos sob outros aspectos em educação,

porém pouco abordados pelo viés dos clubes. Espera-se que as próximas investigações em nível

acadêmico possam contemplar assuntos como estes para que, dessa forma, tenha-se ambientes

com oportunidades educativas igualitárias. Sugere-se ainda que trabalhos futuros busquem

compreender a formação de professores nesses espaços não formais de educação, bem como as

atividades praticadas pelos clubistas podem impactar nas comunidades.

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