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ARTIGO ARTICLE 333 Cem anos de endemias e epidemias A century of endemic and epidemic diseases 1 Departamento de Medicina Social/FCM, Santa Casa de São Paulo, rua Cesário Motta Jr. 61 5 o andar, 01221-020 São Paulo, SP cemedsoc@santacasasp. org.br Rita Barradas Barata 1 Abstract This paper traces, in brief, a broad view in the main epidemics and endemics that attacked the population in the State of São Paulo during the 20th century. The facts are presented contained in five defined periods starting from outstanding facts of the nation- al life. It tries to find the occurrence of the prob- lems of health in the social political and eco- nomical context of each period. The informa- tion are based on revision, not exhausting, of some scientific journals of the public health and medicine subjects. The considered periods are: from the beginning of the century to the end of the “República Velha”, the “getulista” period, the “golden years” from 1945 to 1964, the military dictatorship and the current pe- riod after the fall of the dictatorship. For each period it describes the epidemic situation and the main endemics for which there were avail- able information. Given the limited extension of an article, it was not possible to deepen the aspects related to the appearance of each one of the problems, nor the details of its control. We opted for the construction of a panel that makes possible to the readers a landscape vi- sion of the 20th century. The list of biblio- graphical references can be useful to those who want to deep themelves in the different themes. Key words Epidemiological Profile; Endemics and Epidemics; Infectious Diseases; Needs and Problems of Health Resumo Este ensaio traça, resumidamente, um panorama das principais epidemias e en- demias que acometeram a população do esta- do de São Paulo, no século XX. Os fatos são apresentados agrupados em cinco períodos, de- finidos a partir de fatos marcantes da vida na- cional. Situa a ocorrência dos problemas de saúde no contexto econômico social e político de cada período. As informações baseiam-se em revisão, não exaustiva, de alguns periódi- cos científicos da área de saúde pública e medi- cina. Os períodos considerados são: do início do século ao final da República Velha, o perío- do getulista, a redemocratização de 1945 a 1964, a ditadura militar e o período atual após a queda da ditadura. Para cada período des- creve-se a situação epidemiológica das princi- pais endemias e epidemias e para as quais ha- via dados ou informações disponíveis. Dada a extensão limitada de um artigo, não foi possí- vel aprofundar os aspectos relacionados ao sur- gimento de cada um dos problemas, nem os de- talhes de seu controle. Optou-se pela constru- ção de um painel que possibilitasse aos leito- res uma visão de conjunto do século XX. A lis- ta de referências bibliográficas poderá ser útil àqueles que desejarem se aprofundar nos dife- rentes temas tratados. Palavras-chave Perfil Epidemiológico; Ende- mias e Epidemias; Doenças Infecciosas; Neces- sidades e Problemas de Saúde

Cem Anos de Endemias e Epidemias

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Cem anos de endemias e epidemias

A century of endemic and epidemic diseases

1 Departamento deMedicina Social/FCM,Santa Casa de São Paulo,rua Cesário Motta Jr. 615o andar, 01221-020 São Paulo, [email protected]

Rita Barradas Barata 1

Abstract This paper traces, in brief, a broadview in the main epidemics and endemics thatattacked the population in the State of SãoPaulo during the 20th century. The facts arepresented contained in five defined periodsstarting from outstanding facts of the nation-al life. It tries to find the occurrence of the prob-lems of health in the social political and eco-nomical context of each period. The informa-tion are based on revision, not exhausting, ofsome scientific journals of the public healthand medicine subjects. The considered periodsare: from the beginning of the century to theend of the “República Velha”, the “getulista”period, the “golden years” from 1945 to 1964,the military dictatorship and the current pe-riod after the fall of the dictatorship. For eachperiod it describes the epidemic situation andthe main endemics for which there were avail-able information. Given the limited extensionof an article, it was not possible to deepen theaspects related to the appearance of each oneof the problems, nor the details of its control.We opted for the construction of a panel thatmakes possible to the readers a landscape vi-sion of the 20th century. The list of biblio-graphical references can be useful to those whowant to deep themelves in the different themes.Key words Epidemiological Profile; Endemicsand Epidemics; Infectious Diseases; Needs andProblems of Health

Resumo Este ensaio traça, resumidamente,um panorama das principais epidemias e en-demias que acometeram a população do esta-do de São Paulo, no século XX. Os fatos sãoapresentados agrupados em cinco períodos, de-finidos a partir de fatos marcantes da vida na-cional. Situa a ocorrência dos problemas desaúde no contexto econômico social e políticode cada período. As informações baseiam-seem revisão, não exaustiva, de alguns periódi-cos científicos da área de saúde pública e medi-cina. Os períodos considerados são: do iníciodo século ao final da República Velha, o perío-do getulista, a redemocratização de 1945 a1964, a ditadura militar e o período atual apósa queda da ditadura. Para cada período des-creve-se a situação epidemiológica das princi-pais endemias e epidemias e para as quais ha-via dados ou informações disponíveis. Dada aextensão limitada de um artigo, não foi possí-vel aprofundar os aspectos relacionados ao sur-gimento de cada um dos problemas, nem os de-talhes de seu controle. Optou-se pela constru-ção de um painel que possibilitasse aos leito-res uma visão de conjunto do século XX. A lis-ta de referências bibliográficas poderá ser útilàqueles que desejarem se aprofundar nos dife-rentes temas tratados.Palavras-chave Perfil Epidemiológico; Ende-mias e Epidemias; Doenças Infecciosas; Neces-sidades e Problemas de Saúde

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Introdução

Antes de iniciar, propriamente, este ensaio sãonecessárias algumas aclarações. Primeiramen-te, o sentido em que serão utilizados os termosendemia e epidemia neste texto. Em segundolugar a fixação do âmbito geográfico e tempo-ral ao qual este ensaio estará restrito. Um ter-ceiro aspecto diz respeito à construção do en-saio e os materiais nela utilizados. Finalmente,o marco teórico ao qual este estudo está filiado.

Vamos utilizar os termos endemia e epide-mia em sua acepção mais tradicional, isto é,aquela que predominou desde os escritos hi-pocráticos, na Antigüidade, até a emergênciada estatística e sua influência na epidemiolo-gia já no século XIX, e que se baseia em umadiferença de qualidade entre as doenças endê-micas e as epidêmicas. Tendo em vista que es-sas acepções convivem ainda hoje com as no-vas concepções baseadas no aspecto quantita-tivo, consideramos que poderíamos fazer usodas mesmas.

Tradicionalmente foram classificadas co-mo doenças endêmicas aquelas que apresen-tavam entre suas características epidemioló-gicas a variação espacial, isto é, uma distribui-ção espacial peculiar associada a determina-dos processos sociais ou ambientais específi-cos. Do mesmo modo eram classificadas comoepidêmicas as doenças que apresentavam va-riações no tempo, isto é, apresentavam con-centração de casos em períodos determinados,sugerindo mudanças mais ou menos abruptasna estrutura epidemiológica.

A concepção quantitativa passou a consi-derar ocorrência endêmica aquela que corres-ponde ao comportamento usual da enfermi-dade numa população específica em um de-terminado momento histórico e ocorrênciaepidêmica uma alteração significante, bruscae temporária no número de casos de umadoença em uma determinada população emcerto período histórico (Foucault, 1977).

Qualquer classificação apresenta uma do-se de arbitrariedade, sendo facilmente cons-tatável o aparecimento de surtos epidêmicosde doenças classificadas como endêmicas bemcomo a observação de doenças epidêmicas quese tornam endêmicas em determinadas cir-cunstâncias. Apesar disto tentaremos nos atera problemas de saúde produzidos pelas cha-madas endemias e aos episódios epidêmicosde doenças infecciosas com interesse em saú-de pública.

O ensaio irá se referir apenas às ocorrên-cias no estado de São Paulo, tendo em vista aescassez de tempo para elaborá-lo e a maiorfacilidade de acesso às informações referentesa São Paulo por parte do autor. As informa-ções trabalhadas referem-se ao século XX.

Tendo em vista a dificuldade de obter sé-ries históricas confiáveis acerca da ocorrênciadessas doenças para o período de interesse,optamos por trabalhar com informações vei-culadas em artigos científicos publicados nosseguintes periódicos: Annaes da Faculdade deMedicina de São Paulo, Annaes Paulistas de Me-dicina e Cirurgia, Arquivos de Higiene e SaúdePública, Revista de Saúde Pública, Cadernos deSaúde Pública, Revista da Sociedade Brasileirade Medicina Tropical, Informe Epidemiológicodo SUS.

Não se trata evidentemente de pesquisaexaustiva, havendo uma série de publicaçõesque poderiam ser consultadas mas que não oforam por impossibilidade de tempo. Alémdisso, limitamos nosso material a aquilo quemereceu a atenção dos epidemiologistas emcada época. Para a caracterização das trans-formações sociais em São Paulo neste séculoutilizamos principalmente a coleção Nosso Sé-culo e a coleção História da Vida Privada noBrasil.

Finalmente, o ensaio foi construído bus-cando articular as transformações ocorridas,desde o início do século, na sociedade paulistae as endemias e epidemias que acometeram apopulação de São Paulo, assumindo a teoria dadeterminação social do processo saúde-doen-ça como referencial teórico. Esta opção impli-ca entender a ocorrência das endemias e epide-mias como produto social, da mesma formaque a produção do conhecimento científico re-lativo a elas e as respostas sociais, ou práticassanitárias de controle (Laurell, 1983; Breilh etal., 1990; Castellanos,1997; Paim, 1997)

A forma ensaio foi escolhida como a maisadequada para o tipo de discussão que se pre-tende fazer e também pelo tipo de materialdisponível para a construção do artigo.

Primeiro período: 1900-1930

Do início da colonização em 1532 até meadosdo século XVIII o crescimento demográficoda província havia sido lento e apenas uma pe-quena parte do território estava ocupado. Ocafé que começa a ser plantado no Vale do Pa-

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raíba, ainda dependendo de mão-de-obra es-crava, vai progressivamente ocupando novosespaços no planalto (SEADE, 1992).

O século XIX assiste a intenso desmata-mento, fluxos migratórios internos e externos,construção de ferrovias e grande crescimentoeconômico. Uma nova classe dirigente surgedesse movimento, muito mais poderosa e opu-lenta do que os antigos barões do açúcar. Estanova classe, mais urbana do que os antigosproprietários rurais contribui para a modifica-ção da paisagem urbana. Na última década doséculo XIX foram criados 41 novos municí-pios ao longo dos trajetos das estradas de fer-ro (Monbeig, 1981).

Os sinais de enriquecimento do estadoeram visíveis embora a cotação internacionaldo café caísse constantemente. A safra de 1901-1902 superou o consumo em 1 milhão de sacas(Nosso Século, 1980). Durante todo o períododa Primeira República a produção cafeeira se-rá mantida e expandida às custas da políticaeconômica do governo federal garantindo pre-ços aos produtores e subsidiando as exporta-ções agravando consideravelmente o endivi-damento nacional.

Grandes cidades começam a surgir comoespaço para novas possibilidades de vida,atraindo principalmente os imigrantes estran-geiros descontentes com as condições de vidae trabalho nas fazendas de café (Marins, 1998).

Parte desses trabalhadores migravam natentativa de fugir das epidemias de febre ama-rela e varíola que acometiam de maneira avas-saladora muitas das cidades do interior. A úl-tima década do século XIX e a primeira do sé-culo XX tiveram as atenções das autoridadessanitárias voltadas para a elucidação dos me-canismos de transmissão e o controle dessasduas doenças.

As formas de ocupação do espaço agrário etambém do espaço urbano determinaram con-dições extremamente favoráveis para a ocor-rência de doenças transmitidas por vetores,doenças de transmissão hídrica e doenças detransmissão respiratória. Dentre as doençastransmitidas por vetores destacam-se nesseperíodo a febre amarela, a peste, a malária, asleishmanioses cutâneo-mucosas e a doença deChagas.

Em Santos a mortalidade por febre ama-rela, em 1892 chegou a 6,2% da população. Daía doença irradiou-se para o interior do esta-do fazendo algumas vítimas na capital, geral-mente na hospedaria dos imigrantes (Piza,

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1964). Na região cafeeira de Ribeirão Preto osurto se inicia em outubro de 1901 generali-zando-se no ano seguinte. Os médicos da ci-dade não aceitavam a teoria da transmissãovetorial da doença e impediam a tomada dasmedidas de controle preconizadas por EmílioRibas. Dada a gravidade do surto, parte da po-pulação bem como a própria administraçãomunicipal abandonaram a cidade e a comis-são da Inspetoria Sanitária do estado pôde im-por as medidas de controle: isolamento hos-pitalar dos doentes, expurgo domiciliar compiretro, destruição dos criadouros com o usode querosene, proteção telada para portas e ja-nelas (Figueiredo, 1996). Realizaram-se tam-bém obras de engenharia sanitária como a ca-nalização de córregos e a drenagem das mar-gens dos rios além da coleta de lixo urbano re-duzindo a densidade dos vetores.

Emílio Ribas aproveitou a ocorrência des-se surto para realizar experimentos que com-provassem a transmissão vetorial da febreamarela visto que muitos médicos e cientistasconsideravam que a doença era transmitidapela água contaminada. Esta visão era refor-çada pelos avanços obtidos no controle apósa realização de obras de saneamento básico.Emílio Ribas obteve larvas do vetor na cidadede Itu, onde não havia casos de febre amare-la, e enviou os mosquitos adultos a São Simão,onde estava ocorrendo a epidemia, fazendo-os picar indivíduos doentes. Após 16 dias es-tes mesmos mosquitos picaram seis pessoas:o próprio Emílio Ribas, Adolfo Lutz, um as-sistente dos dois e três imigrantes italianos quenunca haviam estado em áreas endêmicas. Ostrês imigrantes apresentaram os sintomas dadoença. Ribas leu o resultado de seus experi-mentos na sessão de 19 de fevereiro de 1909da Society of Tropical Medicine and Hygienepresidida por Patrick Manson (Ribas, 1909).

Após 1903 não houve mais registros de ca-sos e a doença só voltou a ser registrada emSão Paulo em 1928 durante a ocorrência deuma epidemia no Rio de Janeiro, desaparecen-do a seguir (Piza, 1964).

Durante toda a década a importação de al-fafa e trigo da Argentina esteve associada à o-corrência de surtos de peste, inicialmente noporto de Santos e depois nas localidade cor-tadas pela estrada de ferro Santos-Jundiaí, in-clusive na capital. Os casos registrados em SãoPaulo ocorriam nos bairros em que estavamlocalizados os armazéns de estocagem degrãos. Em 1908 a peste aparece em Iguape em

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conseqüência de um surto iniciado no portode Paranaguá. Oswaldo Cruz foi chamado aSantos para orientar o controle da doença ins-tituindo a compra de ratos para posterior eli-minação. Rapidamente a população mais po-bre passou a criar ratos para vendê-los ao Ser-viço Sanitário. Na capital, os casos foram maisfreqüentes entre 1900 e 1903 declinando nosanos subseqüentes (Piza, 1964).

A malária era doença extremamente fre-qüente em todo o planalto paulista bem comono litoral do estado embora as informaçõesdisponíveis não sejam muito precisas. Há rela-tos de epidemias com acometimento de 40 a85% da população das localidades atingidas.O aparecimento de casos novos vai acompa-nhando a progressão da fronteira agrícola,principalmente da produção cafeeira, em seuavanço para o oeste (Lutz, 1903; Machado,1919).

A epidemia de leishmaniose tegumentareclode em 1907 e 1908 durante a construçãoda Estrada de Ferro Noroeste disseminando-se por toda a Alta Sorocabana, Alta Paulista eregião noroeste do estado seguindo a penetra-ção do homem e a derrubada das matas. A de-signação “úlcera de Bauru” surgiu em decor-rência desse surto visto que o acampamentodos trabalhadores localizava-se nessa cidade.Durante a década de 1910 ocorrem surtos im-portantes em Bauru; 1914, Pirajuí; 1917, Biri-güi e Penápolis e Araçatuba, em 1919. Os ca-sos ocorrem entre trabalhadores que derrubamas matas, moradores de vilas e povoados re-cém-instalados bem como entre os sitiantes efazendeiros (Pessoa, 1941).

Em outubro de 1910 Carlos Chagas apre-senta à Academia Nacional de Medicina suamonografia sobre “Nova entidade mórbida dohomem”(Chagas, 1910). Teodoro Bayma des-creve os primeiros casos da doença, em SãoPaulo, em 1914, época em que é feito o primei-ro levantamento entomológico no estado(Coutinho, 1962). A única zona então infes-tada pelo Triatoma infestans era a região nor-te do estado, área de plantio de café e cana deaçúcar (Wanderley, 1993). Assim como no ca-so da malária, a doença passará a ocupar as ou-tras regiões do estado acompanhando a “on-da verde” da expansão dos cafezais.

Entre as endemias rurais importantes a úl-tima a aparecer em São Paulo foi a esquistos-somose cujos primeiros casos autóctones fo-ram registrados em Santos em 1923. Nessaocasião foram identificados 11 casos sem que

se conhecesse a espécie de transmissor envol-vida. Não foi atribuída maior importância àdescoberta visto que se acreditava não havercondições propícias para a instalação da en-demia (Piza, 1965).

Apesar da crise dos preços do café, a fartamão-de-obra imigrante que afluía para as ci-dades, as facilidades de crédito e a moderniza-ção dos transportes deram impulso definiti-vo à concentração industrial. As indústriasvão transformando as cidades. Cafeicultorespaulistas como os Prado e os Álvares Pentea-do começam a diversificar seus investimentosdando origem aos impérios industriais. Mas,a maioria dos industriais em São Paulo cons-tituía-se de europeus enriquecidos nas ativi-dades comerciais como os Jafet, Crespi, Streete Scarpa no ramo de tecelagem; Siciliano eD’Andrea nas máquinas agrícolas; Duchen,nos biscoitos; Klabin no papel; Ramenzonina confecção de chapéus e os Matarazzo eminúmeros ramos industriais (Nosso Século,1980).

No início do século, São Paulo tinha 240mil habitantes e para cada dois italianos ha-via um brasileiro. Ao final da década a popula-ção atingia 450 mil dos quais cerca da metadeeram imigrantes europeus (Nosso Século,1980).As condições precárias de habitação predomi-navam tanto na área central quanto nos bair-ros operários dos arrabaldes: Brás, Moóca,Cambuci, Bom Retiro, Barra Funda, Pari e Be-xiga (Marins, 1998). A maioria da populaçãoapinhava-se em cortiços e casa geminadas, comprecárias condições sanitárias. A higiene eraprecária mesmo entre as famílias ricas e eramuito freqüente a mortalidade entre menoresde um ano em todas as classes.

As condições de vida do proletariado erammuito precárias e cerca de 50% dos trabalha-dores da indústria eram crianças. As grevescontra a carestia eram constantes nas primei-ras décadas do século, destacando-se o movi-mento dos portuários de Santos em 1905, dosferroviários paulistas em 1906, e as greves ge-rais de 1907 e 1917, todas elas organizadas pe-lo movimento anarquista.

Dentre as doenças de transmissão hídricaa febre tifóide é a mais emblemática desse pe-ríodo. Conhecida desde o final do século XIXera uma das mais importantes causas de mor-talidade na capital. Adolfo Lutz elucidou aetiologia tifóide das chamadas febres paulis-tas. Os mananciais não protegidos, a contami-nação da água de abastecimento, o leite, os le-

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gumes e as frutas contaminadas favoreciam oaparecimento de grande número de casos (Pes-tana, 1918). Em 1914 e em 1920-1921 ocorre-ram importantes epidemias na capital atingin-do principalmente os bairros operários do Be-lenzinho, Moóca e Penha (Vieira, 1922). Naepidemia de 1924-1925, o coeficiente de inci-dência chegou a 196 casos por 100.000 habi-tantes apesar da subnotificação de casos ocor-rida no período da revolução de 1924 quandoa cidade foi bombardeada. Todos os bairrosperiféricos apresentaram cifras acima da mé-dia da cidade e na Penha e no Butantã as taxasultrapassaram 790 casos por 100.000 habitan-tes (Vieira, 1926).

A aglomeração urbana favorecia tambéma ocorrência de doenças de transmissão respi-ratória tais como a tuberculose, a varíola, a dif-teria, a escarlatina e a meningite meningocóc-cica. A tuberculose, além de transmitida porvia aérea, era adquirida também pelo consu-mo de leite contaminado não pasteurizado. Avaríola ocorre em casos esporádicos e benig-nos nesse período, gerando inclusive muitosdebates acerca de seu diagnóstico tendo emvista a ausência de casos graves como era co-mum em outras partes do mundo. A difteria,introduzida na década de 1990 do século XIXpor imigrantes europeus, disseminou-se rapi-damente, tornando-se endêmica nos meses deoutono e inverno. A escarlatina também erabastante freqüente respondendo por 964 in-ternações no Hospital de Isolamento, entre1900 e 1908 (Piza, 1964).

Os primeiros casos de meningite menin-gocóccica foram diagnosticados em fevereirode 1906 em quatro pacientes removidos daHospedaria dos Imigrantes no Brás, para oHospital de Isolamento. Entre 1906 e 1913 fo-ram registrados mais 53 casos, sendo 47% de-les entre estrangeiros mas apenas 16% na Hos-pedaria. A letalidade, na ausência de tratamen-to específico, chegava a 45% dos casos (Jun-queira, 1914). Entre 1921 e 1925 ocorre umaepidemia provocada por cepas do soro A fran-cês, com incidência 3 a 4 vezes maior do quea observada no período endêmico. Durante to-da a década de 1920 a letalidade oscila entre 30e 60% (Assumpção, 1929).

Mas, nenhuma epidemia marcou tanto avida da capital quanto a epidemia de gripe co-nhecida como gripe espanhola, que provocouinúmeras mortes em 1918 acometendo inclu-sive o presidente eleito Rodrigues Alves. A epi-demia teve início em São Paulo no final de ou-

tubro e em meados de dezembro já havia per-dido força. Nesse curto espaço de tempo, entre6 e 8 semanas, foram notificados 116.777 casos(22,32% da população da capital) e registra-dos 5.331 óbitos. O número total de casos foiestimado em 350 mil o que corresponderia a2/3 da população paulistana. Em decorrênciada epidemia foram suspensas as atividades es-colares, fecharam-se os bares e os cinemas, in-terromperam-se as atividades industriais e co-merciais. Embora toda a população tenha si-do envolvida no episódio, as maiores taxas deincidência foram observadas nos bairros pe-riféricos e nas áreas centrais onde predomina-vam os cortiços e a aglomeração humana fa-cilitava o contágio (Bertolli, 1986).

Durante todo esse período o “complexo ca-feeiro” estimulou múltiplas atividades e assu-miu várias facetas, sendo ao mesmo tempo umempreendimento agrícola, mercantil, indus-trial e financeiro além de motor da urbaniza-ção. Apesar das flutuações no preço interna-cional, a política econômica de desvalorizaçãocambial e compra de estoques permitiu a ex-pansão continuada da “onda verde” até que em1929 os preços caem vertiginosamente e a cri-se se instala, ainda mais profundamente com ocrash da Bolsa de Valores de Nova York.

Segundo período: 1930-1945

O ano de 1930 marca uma inflexão importan-te na história nacional com a ascensão de Ge-túlio Vargas ao poder e a quebra da política“café com leite” que até então havia privilegia-do os interesses dos cafeicultores paulistas edos pecuaristas mineiros. Para São Paulo, a mu-dança nas orientações da política econômicativeram muitas repercussões.

Com a crise de 1929 muitas indústrias fo-ram desativadas, as demissões dos operáriostornaram-se rotina, e os salários sofreram re-duções de até 50% de seu valor agravando asjá precárias condições de vida do proletariadourbano.

A centralização do poder no nível federalpermitirá a emergência de um mercado nacio-nal integrado, base para a implementação deuma política de substituição das importaçõesno setor industrial.

A oligarquia paulista, sentindo-se alijadado poder permanece na oposição ao novo go-verno insurgindo-se em 1932 através de umarevolta armada que será derrotada.

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O processo de modernização e a retoma-da da industrialização refletem-se na criaçãode instituições de pesquisa e tecnologia quevão constituir a base para o progresso do es-tado. Em 1934, Armando de Sales Oliveira criaa Universidade de São Paulo reunindo as facul-dades de Direito, Medicina, Filosofia e Ciên-cias Humanas, Ciências Naturais e Química.

No início da década de 1940 São Paulo jáé o maior centro industrial da América Lati-na e a capital tem mais de um milhão de ha-bitantes.

Nesse período, o eixo dinâmico da econo-mia passa a ser a produção industrial para omercado interno tendo em vista as dificulda-des para a expansão das exportações durante operíodo da depressão econômica e da II Guer-ra Mundial (Nosso Século, 1980).

O crescimento e a diversificação industrialocorrem com maior rapidez em São Paulo aomesmo tempo em que a agricultura passa porum período de diversificação e modernização.A monocultura do café é substituída paulati-namente pelo plantio de cana, algodão, arroz,feijão, milho e trigo.

Os problemas urbanos se avolumam e ga-nham destaque nas lutas populares a questãoda moradia, a falta de água, a carestia, o cresci-mento da inflação.

O quadro sanitário, em relação às doençasendêmicas e epidêmicas permanece pratica-mente inalterado. As mesmas doenças que ha-viam dominado o cenário no período anteriorse fazem presentes agregando-se a elas a emer-gência de novos problemas ou de antigos sobnovas roupagens.

Durante a década de 1930 são feitos os pri-meiros relatos de casos de leptospirose em SãoPaulo (Magaldi, 1963). Embora a doença fosseconhecida desde a década de 1910 ela não ha-via sido registrada no estado. As precárias con-dições de saneamento e a presença constantede ratos certamente possibilitaram o surgi-mento dos casos. A partir daí os surtos seriamfreqüentes nos meses de verão.

A febre amarela que esteve ausente desde1906, volta a se manifestar, agora sob a formasilvestre, isto é, na ausência do vetor urbano.Os casos aparecem em novembro de 1935, nadivisa com Minas Gerais e Goiás. Em 1936 sãoregistrados 996 casos e em 1937, 351 casos, to-dos nas áreas novas, de ocupação recente, naregião noroeste do estado (Pestana, 1937).

A leishmaniose que até então havia provo-cado surtos nas áreas em desmatamento apa-

rece na capital produzindo casos periurbanose suburbanos em clusters familiares (Pestanae Pessoa, 1940).

As taxas de incidência da malária são ex-tremamente altas durante todo o período, aco-metendo a população de todo o estado, commaior intensidade no litoral e nas áreas novasde ocupação mais recente próximas à divisado estado com o Mato Grosso e o Paraná. Hátrês grandes epidemias nesse período: 1935,1940-1941 e 1945. A incidência que normal-mente variava entre 250 e 350 casos por 100.000habitantes chega a 476/100.000 hab. em 1935,713 em 1940, 2.422 em 1941 e 690 em 1945. Astaxas ultrapassam os 5 mil casos por 100.000hab. nos municípios do litoral com exceção dacidade de Santos (Barata, 1998). As epidemiascoincidem com períodos de disseminação doscriadouros de A. darlingi ao longo dos rios Tie-tê, Paraná e Paranapanema e de seus princi-pais afluentes, que se sucedem a cada cincoanos.

Outra doença extremamente freqüente nomeio rural paulista nesse período é o traco-ma. A inexistência de água tratada e a aglome-ração intradomiciliar nas moradias rurais fa-cilita a transmissão (Ferreira, 1948).

Na área urbana, principalmente nas cida-des maiores, continuam ocorrendo casos dedifteria, meningite meningocóccica, escarla-tina, sarampo, febre tifóide, tuberculose. Umnovo perigo, que se tornaria muito presenteno período seguinte começa a fazer sua apa-rição: a poliomielite.

Terceiro período: 1946-1964

Com o final da era Vargas e a re-democratiza-ção do país, o estado tenta restabelecer os prin-cípios liberais na condução da economia ago-ra sob forte influência dos norte-americanos.A política de livre importação tem como prin-cipais efeitos o esgotamento das divisas acu-muladas durante o período de guerra e a es-tagnação da indústria nacional. A desvalori-zação do cruzeiro provoca maciças entradasde capital estrangeiro mas aumenta a inflaçãopiorando as condições de vida das massas ur-banas.

Entre 1945 e 1964 o processo de industria-lização vive momentos decisivos na substitui-ção das importações passando a produzir bensde consumo duráveis e bens de capital (Melloe Novaes, 1998).

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No início da década de 1950 a ocupaçãoterritorial do estado está completa, restandoapenas 1% da cobertura florestal original naescarpa atlântica, no vale do Ribeira e no pon-tal do Paranapanema. São Paulo continua sen-do o principal produtor dos principais produ-tos agrícolas do país embora mais de 50% dapopulação já esteja residindo na área urbana.A urbanização acelerada decorre de um duplomovimento: o aumento da oferta de empre-gos nas indústrias e a transformação do tra-balho no campo com a destruição do sistemade “colonato” e o surgimento do trabalhadorvolante ou “bóia-fria” que deixa de residir nasfazendas vindo engrossar as periferias dos nú-cleos urbanos (Barata, 1998).

Durante esse período doenças como a ma-lária, as leishmanioses, a febre amarela e a do-ença de Chagas tem sua incidência diminuídaou estabilizada uma vez que já não há florestasa derrubar nem espaços novos a conquistar. Aocupação agrícola ou industrial do solo vaitransformando as condições de produção des-sas doenças tornando o risco de transmissãomenos presente. Em 1950 ocorre a última epi-demia de malária significativa. São 261 casospor 100.000 habitantes afetando menos de 10municípios do extremo noroeste do estado.Durante a década as taxas vão oscilar entre 30e 50 até que tenha início, em 1959, a campa-nha para a erradicação (Barata, 1998).

Surgem focos autóctones de esquistosso-mose nos municípios de Ourinhos, Palmital eIpauçu, região onde é encontrada a Biompha-laria glabrata, hospedeiro intermediário commaior potencial para a manutenção de focos.Novos focos são detectados ainda no vale doRibeira e vale do Paraíba, região que se torna-rá endêmica para a doença, tendo a transmis-são associada principalmente à lavoura do ar-roz em alagados (Chieffi e Waldman, 1988).

Em 1950 a capital já tem 2 milhões e sete-centos mil habitantes e não pára de crescer. Aimigração internacional, praticamente inter-rompida após a década de 1930, dá lugar a in-tenso movimento migratório interno. A gre-ve geral de 1953 vê surgirem novas liderançassindicais vinculadas ao partido socialista oucomunista, fora da influência populista doPTB. Em 1954, 1 milhão de trabalhadores en-tram em greve face à política econômica ca-tastrófica.

O governo de JK com seu otimismo desen-volvimentista e o programa de metas marcama segunda metade da década de 1950. A indús-

tria automobilística, instalada na região doABC paulista, torna-se o símbolo da moder-nização do país. Entre 1955 e 1961 são feitosgrandes investimentos na construção de estra-das de rodagem, transportes aéreos, siderurgia,eletricidade e outros investimentos de base(Nosso Século, 1980).

Próximo ao final da II Guerra, em 1945,inicia-se em São Paulo nova epidemia de doen-ça meningocóccica que irá se estender até 1951.Embora a incidência tenha aumentado bas-tante em relação ao período endêmico, estaepidemia parece ter passado praticamente de-sapercebida das autoridades e da populaçãohavendo sido “descoberta” já no início dos anos60 pelos professores Ary Schmid e Ayrosa Gal-vão ao realizarem exercícios de epidemiologiadescritiva com seus alunos de Saúde Pública.Novamente parecia se tratar de uma epidemiaprovocada pelo sorotipo A visto que os gru-pos mais afetados foram os menores de 4 anose os adolescentes de 15 a 19 anos. A incidênciapassou de 2,34 casos por 100.000 hab. em 1944para 9,41 em 1945; 20,17 em 1946; 25,00 em1947; 18,00 em 1948; 8,76 em 1949; 6,01 em1950 e 4,80 em 1951 (Schmid e Galvão, 1961).

A década de 1950 marca o surgimento dasgrandes epidemias de poliomielite. Com o pro-gressivo saneamento básico dos bairros inter-mediários e periféricos da cidade, as criançasdeixavam de estar expostas aos poliovírus des-de a idade pré-escolar tornando-se especial-mente vulneráveis ao contágio durante as fé-rias de verão, em idades mais avançadas, o queaumentava o risco de aparecimento de formasparalíticas. Assim, contraditoriamente, o sa-neamento básico, numa época em que nãoexistiam as vacinas, tornava o surgimento decasos paralíticos mais freqüentes.

Outra doença importante no âmbito ur-bano era o sarampo que por sua intensa infec-tividade e patogenicidade afetava praticamen-te todas as crianças, em torno dos 7 anos deidade ou mesmo antes. Para parte delas, ter sa-rampo era parte “natural” da infância mas, mui-tas, acometidas por diferentes graus de desnu-trição, morriam antes de completar 5 anos deidade em conseqüência das complicações pro-vocadas pela doença.

Em 1962 a inflação chega a 52% ao ano, apopulação já é majoritariamente urbana, e osproblemas de moradia, educação, saúde, sa-neamento e transporte urbano só se agravam.A mudança de uma economia primordialmen-te agrícola para outra industrial é acompanha-

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da no plano sanitário pelo crescimento de do-enças ligadas ao padrão de vida urbano como ascardiovasculares, as neoplasias e os acidentes ea redução das doenças infecciosas, embora es-tas continuassem a representar grande desafioàs instituições de saúde (Nosso Século, 1980).

Quarto período: 1965-1984

O novo governo militar instalado após o gol-pe de 64 tem como primeira meta o expurgodo populismo. Mudadas as regras do jogo po-lítico, tem início o novo modelo econômicocentrado no fortalecimento do capitalismoprivado e fomento ao capital estrangeiro. Ocombate à inflação será feito a partir do conge-lamento salarial embora em uma conjunturade pleno emprego e crescimento econômico.

A política salarial favorece a concentraçãode rendas levando grandes parcelas do prole-tariado urbano à pauperização, aumentandoas desigualdades sociais. Entre 1970 e 1973 aeconomia vive uma fase de euforia batendo re-cordes de crescimento. As exportações cresce-ram 32% respaldando a expansão industrialinterna. No final da década, a crise do petróleoe a escalada do processo inflacionário inter-nacional põem fim a esta fase de crescimentoe lança a economia em profunda crise (NossoSéculo, 1980)

No estado de São Paulo, o processo de ur-banização se acelera durante toda a década de1960 e a população urbana passa de 62% em1960 a 80% em 1970.

A redução constante da população ruraldurante todo o período associada aos esforçosde controle de endemias como a malária e adoença de Chagas modificam o perfil epide-miológico no estado.

A campanha de erradicação da malária exe-cutada entre 1960 e 1964 começa a mostrar re-sultados e a incidência da doença reduz-seconsideravelmente. As taxas de incidênciacaem em todo o território e a transmissão na-tural torna-se residual (Barata, 1998). Inicia-da a fase de consolidação da campanha de ma-lária, em 1964, os recursos são deslocados pa-ra o “arrastão” contra a doença de Chagas. Em1968, passa-se a utilizar o “expurgo seletivo”como forma de controle dos triatomíneos e em1973 tem início o processo de estratificação e-pidemiológica das localidades rurais. Em 1978é interrompida a transmissão natural (Wander-ley, 1993).

A esquistossomose ganha maior proemi-nência nesse contexto de redução da maláriae da doença de Chagas. A endemia encontra-seem franca expansão surgindo focos autócto-nes em vários pontos do interior do estado. Em1970, são localizados focos mantidos por B.straminea em Americana e em 1982 identifi-ca-se um foco ativo em Ubatuba. Entre 1978 e1983 ocorrem cerca de 20 mil casos novos porano sendo que apenas 10% são autóctones. Hátrês regiões consideradas endêmicas no estado:o vale do Paraíba, o vale do Ribeira e a regiãode Marília. São consideradas potencialmenteendêmicas a Grande São Paulo, as regiões deSantos, Campinas e Ribeirão Preto. As regiõesdo oeste do estado: Bauru, Araçatuba, Presi-dente Prudente e São José do Rio Preto e a re-gião de Sorocaba são consideradas indenes àdespeito da presença de hospedeiros interme-diários inicialmente classificados como B. te-nagophila. Em 1981, Paraense identifica esseshospedeiros intermediários como B. ociden-talis, espécie resistente à infeção pelo schistos-soma explicando assim a ausência de focos nes-sas áreas (Chieffi e Waldman, 1988).

O desenvolvimento industrial segue trêseixos geográficos de crescimento. O primeiro,na região central em torno de Campinas, con-centra grandes indústrias com incorporaçãotecnológica intensiva e produção de meios in-termediários. O segundo, na região norte doestado, caracteriza-se pela agroindústria de la-ranja, carne, soja, café e cana de açúcar. O ter-ceiro, na região da sorocabana, reúne ativida-des industriais produtoras de bens interme-diários e agroindústrias (Barata, 1998).

Em 1970, cerca de 72% da força de traba-lho está constituída por assalariados dos quais88% trabalham mais de 40 horas semanais e55% ganham menos de dois salários mínimos.Os salários reais sofrem queda acentuada atin-gindo em meados dos anos 70 valores inferio-res aos do início dos anos 50 (Barata, 1988).

A cidade de São Paulo será palco da maiorepidemia de doença meningocóccica já regis-trada. Entre 1970 e 1977 serão registrados cer-ca de 35 mil casos na população paulistana.Até 1973, praticamente se repete o que haviaocorrido na última epidemia, isto é, as auto-ridades sanitárias ignoram o fato, embora aincidência tenha aumentado cerca de 10 ve-zes. Entretanto, em 1974 com a superposiçãode duas ondas epidêmicas, pelos sorotipos A eC, a incidência chega a 169,10 casos por 100.000habitantes, não podendo mais ser ignorada.

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Mais uma vez, as populações residentes na pe-riferia serão as mais afetadas. A censura à im-prensa escrita, ao rádio e à televisão impedemque sejam divulgados os números de casos eóbitos e, principalmente, que se estabeleçamconexões entre o crescimento da pobreza e dasdesigualdades provocado pelo modelo econô-mico e o surgimento da epidemia. Apenas umaextensa campanha de vacinação promovidaem 1975 é capaz de deter o avanço da epidemiaque mesmo assim ainda levará 24 meses parase extinguir (Barata, 1988).

Da capital a doença se espalhou atingindooutras cidades grandes do interior e do litoraldo estado. Na vigência da epidemia começam asurgir casos com manifestações clínicas de en-cefalite no litoral sul atingindo sete municí-pios da Baixada Santista e 13 municípios dovale do Ribeira. Em janeiro de 1975 são regis-trados 8 casos de encefalite por 100.000 habi-tantes e a cifra chegará a 90 casos por 100.000hab. em março de 1976. Em 1978 é isolado oagente causal dessa epidemia, identificado co-mo vírus Rocio provavelmente transmitidopor culicídeos. Entre 1978 e 1983 ainda serãoregistrados 80 casos nessa região. A investiga-ção epidemiológica concluiu pela introduçãorecente do agente na região e pela possível ori-gem em Iguape, facilitada pelas condições cli-máticas, topográficas, cobertura vegetal, ati-vidade humana predominantemente rural, re-sidência próxima à mata, rios e lagoas, e pelapresença de grandes contingentes de operá-rios que haviam trabalhado na construção darodovia Transamazônica e retornaram à re-gião após 1971 (Iversson, 1977, 1980, 1984).

Além das epidemias já mencionadas, o pe-ríodo é marcado por diversos surtos de febretifóide localizados em bairros periféricos dacapital e pela persistência de casos de polio-mielite, difteria, sarampo, e outras doenças in-fecciosas da infância.

Com o licenciamento da vacina Salk e emseguida da vacina Sabin o interesse pelo con-trole da poliomielite aumentou e a Secretariade Estado da Saúde iniciou, em 1969, a realiza-ção de campanhas bianuais de imunização dosmenores de 4 anos visando ao controle da do-ença além de intensificar esforços para aumen-tar a cobertura vacinal dos menores de 1 anona imunização de rotina. Estudos conduzidospor Stewien, Barbosa e Rosenburg (1977) comalunos da rede de ensino municipal demons-traram que cerca de 50% do grupo de 7 a 14anos estava imunizado contra os três tipos de

vírus. As crianças residentes na área central dacidade apresentavam menor imunidade do queas residentes nas áreas intermediárias e peri-féricas, fato este explicado pela exposição na-tural ao vírus selvagem nas regiões interme-diárias e periféricas dadas as piores condiçõesde saneamento básico aí vigentes.

Entre 1964 e 1980 nosso capitalismo com-binou concentração de riqueza, mobilidadesocial, concentração de renda, ampliação rá-pida dos padrões de consumo moderno, dife-renciação e massificação. A pobreza espiritual,a miséria moral e a despolitização social da-rão seus frutos na “década perdida” e se pro-longarão praticamente até o final do século.

Quinto período: 1985-1999

Nos anos 80 e 90 a estagnação econômica, oprocesso inflacionário e o desemprego cres-cente rompem os mecanismos básicos de re-produção social interrompendo a mobilidadesocial observada no período anterior e restrin-gindo o consumo. A transformação no mundodo trabalho é de tal ordem que os trabalhado-res informais ultrapassam percentualmente ostrabalhadores formais.

O agravamento da crise financeira e as vá-rias tentativas de ajuste efetuadas nesse perío-do acabaram por produzir um aumento do de-semprego urbano principalmente no setor in-dustrial, atingindo de trabalhadores não qua-lificados a profissionais de nível superior.

As políticas de ajuste visavam principal-mente à proteção da acumulação da riquezaprivada concentrando ainda mais a renda na-cional. Com a globalização invertem-se as ba-ses da reprodução social: faltam empregos, amobilidade torna-se descendente, acirra-se aconcorrência e a violência torna-se um recur-so cotidiano para a sobrevivência (Mello e No-vaes, 1998).

Nesse cenário novas doenças surgem e an-tigas reaparecem sob novas formas. No iníciodos anos 80 aparecem em São Paulo, os pri-meiros casos de AIDS, importados dos Esta-dos Unidos. Rapidamente, contra as expecta-tivas de muitos sanitaristas, a doença irá setornar um dos mais importantes problemasde saúde pública. Os casos inicialmente aco-metendo grupos restritos da população, dis-seminam-se entre as diferentes classes sociaise nos anos 90 seu impacto é tal que produz re-dução na esperança de vida masculina, rever-

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tendo os ganhos que, desde o início do século,o controle das doenças infeciosas e carenciaistinham propiciado.

Em 1984 outra doença nova surge, agorano interior do estado: é a febre purpúrica doBrasil. Crianças entre 3 meses e 8 anos de ida-de apresentam quadros agudos e muitas vezesfatais, de febre purpúrica, que no início sãoconfundidos com meningococcemia. A inves-tigação epidemiológica, entretanto, demons-tra que não há a concomitância entre esses ca-sos e a presença de meningite meningocócci-ca nessa população havendo então a suspeitade uma doença nova. Após cerca de 8 sema-nas, os casos cessam sem que tenha sido pos-sível esclarecer a etiologia. Dois anos depois,em 1986, novo surto ocorre em Serrana, esta-belecendo-se então a relação entre o surgimen-to dos casos e a ocorrências de epidemias deconjuntivite provocadas por Haemophilusaegypti (Kerr-Pontes e Ruffino Netto, 1991).

Em 1985, a febre amarela faz sua re-intro-dução no estado. Em maio são notificados 3casos em Presidente Prudente e Santo Expe-dito, aparentemente, todos importados do Ma-to Grosso. A investigação epidemiológica de-corrente dessas notificações identifica 44 fo-cos de Aedes aegypti em Presidente Prudente,indicando assim o risco de transmissão urba-na da doença e de possíveis epidemias de den-gue (Coimbra et al., 1987).

Em 1989 é identificado um surto de malá-ria em usuários de drogas injetáveis na cida-de de Presidente Prudente com 12 casos. Osafetados são jovens do sexo masculino, resi-dentes na periferia e empregados no comér-cio ou na construção civil (Lo et al., 1991). Noano seguinte novo surto ocorre em Bauru com21 casos confirmados e 119 suspeitos (Barata,1993). Durante a década de 1990 outros sur-tos ocorrerão em Araçatuba, Presidente Pru-dente, Bauru e outras cidades do interior, cons-tituindo-se essa modalidade de transmissãoem um problema recorrente desde então.

A ameaça de re-introdução da febre ama-rela urbana não se concretizou, mas os primei-ros casos autóctones de dengue foram regis-trados em 1987 em Araçatuba e Guararapes.Ocorreram apenas 46 casos devido à prontaação da SUCEN no controle dos surtos. Mas,em 1990 o dengue provocou grande epidemiana região de Ribeirão Preto com 3.038 casos(Pontes et al., 1991). Inquérito sorológico rea-lizado em 1991 mostrou que 23.000 indiví-duos haviam sido infectados. Em 1991 as epi-

demias se sucederam nas cidades médias dointerior atingindo as regiões de Barretos, Ca-tanduva, São José do Rio Preto e Ribeirão Pre-to. Nos anos seguintes a transmissão mantém-se controlada voltando a surgir grandes epi-demias de 1995 em diante (Donalísio, 1999).

Uma nova doença aparece em 1993 na re-gião metropolitana. Em Juquitiba são identi-ficados 3 casos de síndrome pulmonar porhantavírus com dois óbitos. Os vírus são dotipo Muerto Canyon que haviam produzido ca-sos nos EUA. Sorologia feita em soroteca obti-da de roedores capturados entre 1981 e 1983na capital mostrou 14% de positividade. O exa-me do soro de 409 pacientes com suspeita deleptospirose em 1990 mostrou oito soroposi-tivos para hantavírus demonstrando assim quejá havia circulação do agente na populaçãomurina e humana (Simões et al., 1994). Du-rante os anos 90 novos surtos serão identifica-dos em diferentes locais do interior do estado.

O verão de 1994 dá início aos surtos de có-lera no litoral sul. A ingestão de mariscos epescados contaminados produz surtos fami-liares em São Vicente atingindo posteriormen-te Santos, Praia Grande, Cubatão e Guarujá.Em seis meses são investigados 3.600 suspei-tos confirmando-se, laboratorialmente, 70 ca-sos. Os casos ocorrem em áreas de extrema po-breza e sem as mínimas condições de sanea-mento (CVE, 1994).

Outra endemia que faz seu retorno ao es-tado, durante a década de 1990, é a leishmanio-se tegumentar, apresentando-se agora comodoença de áreas periurbanas submetidas a pro-cessos de desmatamento para loteamento, nasquais os vetores apresentam adaptação domi-ciliar (Corte et al., 1996). Já no final da déca-da, ocorrerá um surto de leishmaniose visceralem Araçatuba demonstrando que antigos dog-mas não resistem às transformações sociais. Adoença que era considerada inexistente no es-tado, se manifesta em área que sofreu grandetransformação econômica substituindo a cria-ção de gado pelo plantio da cana, na qual se em-prega, temporariamente, grande contingentede mão-de-obra migrante durante a colheita.

O aumento da cobertura vacinal de rotinae a realização de campanhas nacionais de in-tensificação durante os anos 80 reduziramconsideravelmente a ocorrência das doençasevitáveis por vacinação. O saneamento básicocontribuiu para tornar raridade os casos de fe-bre tifóide e fez com que as diarréias deixassemde ser uma causa importante de morbidade e

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mortalidade. A poliomielite, cuja transmissãofoi interrompida em decorrência desses doisgrupos de medidas, foi considerada erradicadado continente americano.

O sarampo, doença com uma das maiorestaxas de infectividade e patogenicidade conhe-cidas, apresentava, em São Paulo, aumento cí-clico a cada dois ou quatro anos a despeito davacinação de rotina realizada em menores deum ano e reforçada aos 15 meses. Em 1987 aSecretaria de Estado da Saúde optou por rea-lizar campanha de vacinação indiscriminadapara crianças de 9 meses a 14 anos de idade. In-quérito sorológico subseqüente mostrou quehavia apenas 3% de suscetíveis entre a popula-ção de 1 a 14 anos. Em 1992 nova campanhafoi realizada entre as crianças de 1 a 10 anos deidade, utilizando a vacina tríplice viral. O im-pacto dessas medidas foi imediatamente sen-tido com o desaparecimento dos óbitos porsarampo e a intensa redução no número de ca-sos. Entretanto, na década de 1990, as cober-turas vacinais contra sarampo estiveram sem-pre abaixo de 90% propiciando o acúmulo dequantidade importante de suscetíveis. Em1996, após 10 anos com baixas incidências,surge uma grande epidemia com registro de57.659 casos suspeitos dos quais 21 mil foramconfirmados laboratorialmente. As áreas maisatingidas foram a região metropolitana, Cam-pinas e Ribeirão Preto. Cerca de 47% dos ca-sos acometeram indivíduos de 20 a 29 anos em-bora o maior risco fosse verificado entre os me-nores de 5 anos (CVE, 1997).

Conclusão

Este breve recorrido pela história das epide-mias e endemias em São Paulo durante o sé-culo XX evidencia que, apesar dos avanços téc-nico-científicos e das transformações econô-micas, sociais e políticas, vivenciadas pela so-ciedade paulista, o controle das doenças infe-ciosas, endêmicas e epidêmicas não tem sidofácil de obter.

A história nos mostra que ao invés de exis-tir um processo linear e relativamente simplesde transição epidemiológica, no qual as cha-madas doenças de pobreza são substituídas pe-los males da modernidade, o que se observa éum quadro complexo de alterações, mudan-ças, adaptações e emergências típicas dos fe-nômenos vivos. A relação entre as populaçõesde homens, vetores e agentes etiológicos é bas-tante complexa e não parece estar no horizon-te, para os próximos anos, a miragem de umavida livre de infeções. Talvez esse não seja umfato totalmente negativo, uma vez que, de cer-to modo, ele prova a vitalidade do mundo noqual vivemos e as inúmeras possibilidadesplásticas dos seres vivos, que no processo deconstrução e reprodução de sua vida como es-pécie e como gênero, criam normas de vida sau-dáveis e doentes.

Realmente assustador é o fato, hoje comumàs grandes cidades do continente americano,de ter como principal causa de morte entreadolescentes e adultos jovens os homicídios,sintoma inequívoco, da violência urbana e denossa incapacidade de reconstruir o tecido so-cial esgarçado pela falta de solidariedade, pe-la competição desenfreada, pela desigualdadevergonhosa, pela perda dos valores humanosmais elementares.

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