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GEONORDESTE, Ano XXIII, n.2 SOFTWARE PHILCARTO: UMA FERRAMENTA PARA O USO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA DIGITAL NA ESCOLA 1 PHILCARTO SOFTWARE: A TOOL FOR THE USE OF LANGUAGE SCHOOL IN DIGITAL CARTOGRAPHIC PHILCARTO SOFTWARE: UNA HERRAMIENTA PARA EL USO DE LA ESCUELA DE IDIOMAS EN CARTOGRAFÍA DIGITAL Rafael Rodrigues da Franca Docente do Departamento de Geografia Universidade Federal de Rondônia E-mail: ([email protected]) Alyson Fernando Alves Ribeiro Acadêmico de Geografia Universidade Federal de Sergipe (campus Itabaiana) E-mail: ([email protected]) José Hunaldo Lima Docente do Departamento de Geografia Universidade Federal de Sergipe (campus Itabaiana) E-mail: ([email protected]) RESUMO O ensino da geografia requer diferentes linguagens que contribuam para a formação de um aluno participativo e crítico, que reconheça a importância da ciência geográfica para a compreensão do mundo que habita. Uma dessas linguagens é a cartografia digital, que pode estimular a inclusão digital dos educandos e proporcionar um maior interesse e motivação destes em relação à disciplina. Este trabalho tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da alfabetização cartográfica, ao apresentar uma proposta de cunho didático baseada num programa cartográfico gratuito. A experiência aqui relatada utilizou o software Philcarto em uma oficina escolar no XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia realizado em 2010 na cidade de Aracaju. O programa pode ser obtido na página do autor na internet, possui versão em língua portuguesa, sua estrutura é funcional, de uso simples e apresenta recursos cartográficos e estatísticos que podem ser amplamente explorados pelo professor e seus alunos. Com base nas experiências com a utilização do software, verificou-se que o uso do Philcarto apresenta bons resultados. O programa proporciona a compreensão das representações cartográficas implicando em um processo de aquisição, pelos alunos, de um conjunto de conhecimentos e habilidades. O mesmo ainda facilita a leitura de informações pelos 1 Este trabalho resulta de experiências em uma oficina escolar no XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia, realizado em 2010 na cidade de Aracaju.

CARTOGRÁFICA DIGITAL NA ESCOLA1 PHILCARTO SOFTWARE: …

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SOFTWARE PHILCARTO: UMA FERRAMENTA PARA O USO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA DIGITAL NA ESCOLACARTOGRÁFICA DIGITAL NA ESCOLA 1
PHILCARTO SOFTWARE: A TOOL FOR THE USE OF LANGUAGE SCHOOL IN
DIGITAL CARTOGRAPHIC
PHILCARTO SOFTWARE: UNA HERRAMIENTA PARA EL USO DE LA ESCUELA DE
IDIOMAS EN CARTOGRAFÍA DIGITAL
Rafael Rodrigues da Franca
Universidade Federal de Rondônia
E-mail: ([email protected])
Universidade Federal de Sergipe (campus Itabaiana)
E-mail: ([email protected])
RESUMO
O ensino da geografia requer diferentes linguagens que contribuam para a formação de um aluno
participativo e crítico, que reconheça a importância da ciência geográfica para a compreensão do
mundo que habita. Uma dessas linguagens é a cartografia digital, que pode estimular a inclusão
digital dos educandos e proporcionar um maior interesse e motivação destes em relação à disciplina.
Este trabalho tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da alfabetização cartográfica,
ao apresentar uma proposta de cunho didático baseada num programa cartográfico gratuito. A
experiência aqui relatada utilizou o software Philcarto em uma oficina escolar no XXIV Congresso
Brasileiro de Cartografia realizado em 2010 na cidade de Aracaju. O programa pode ser obtido na
página do autor na internet, possui versão em língua portuguesa, sua estrutura é funcional, de uso
simples e apresenta recursos cartográficos e estatísticos que podem ser amplamente explorados pelo
professor e seus alunos. Com base nas experiências com a utilização do software, verificou-se que o
uso do Philcarto apresenta bons resultados. O programa proporciona a compreensão das
representações cartográficas implicando em um processo de aquisição, pelos alunos, de um
conjunto de conhecimentos e habilidades. O mesmo ainda facilita a leitura de informações pelos
1 Este trabalho resulta de experiências em uma oficina escolar no XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia, realizado
em 2010 na cidade de Aracaju.
GEONORDESTE, Ano XXIII, n.2
educandos e permite uma maior compreensão do espaço que apenas alfabetizados
cartograficamente podem usufruir.
Philcarto, oficina
ABSTRACT
The teaching of geography requires different languages that contribute to the formation of a
participatory and critic student, recognizing the importance of geographic science to understand the
world. One of these languages is the digital mapping, which can stimulate the digital inclusion of
students and provide a greater interest and motivation in relation to these disciplines. This paper
aims to contribute to the development of cartographic literacy by presenting a proposal for a stamp
based on free mapping software. The experience reported here used the software Philcarto in a
workshop school at the XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia held in 2010 in the city of
Aracaju, northeastern Brazil. The program can be obtained from the author page on the Internet, has
Portuguese language version, its structure is functional, simple to use and presents statistical and
cartographic resources that can be widely exploited by the teacher and his students. Based on
experiences using the software, it was found that the use of Philcarto were good. The program
provides an understanding of cartographic representations in a process involving the acquisition by
students of a body of knowledge and skills. The software also facilitates the reading of information
by students and allows understanding of the space that only cartography literates can enjoy.
Keywords: teaching cartography, digital inclusion, cartographic literacy, software Philcarto,
workshop
RESUMEN
La enseñanza de la geografía requiere diferentes lenguajes que contribuyen a la formación de un
estudiante participativo y crítico, que reconozca la importancia de la ciencia geográfica para
entender el mundo que habita. Uno de estos caminos es la cartografía digital, que puede estimular la
inclusión digital de los alumnos y proporcionar un mayor interés y motivación en relación a estas
disciplinas. Este trabajo tiene como objetivo contribuir al desarrollo de la alfabetización
cartográfica al presentar una propuesta didáctica basada en la utilización de un software
cartográfico gratuito. La experiencia aquí usó el software Philcarto en un taller en el XXIV
Congreso Brasileño de Cartografía, em el año 2010 en la ciudad de Aracaju. El software puede ser
obtenido en el sitio del autor en Internet, tiene versión en portugués, su estructura es funcional, fácil
de utilizar y presenta recursos estadísticos y cartográficos que pueden ser ampliamente
aprovechados por el profesor y sus alumnos. Basándose en la experiencia con el uso del software, se
concluyo que el uso de Philcarto da buenos resultados. El software proporciona una comprensión
de las representaciones cartográficas que impliquen en la adquisición por los alumnos de un
conjunto de conocimientos y habilidades. También facilita la lectura de la información de los
estudiantes y permite una mayor comprensión del espacio que sólo el cartográficamente
alfabetizado puede disfrutar.
Philcarto, taller
1 INTRODUÇÃO
Rafael Rodrigues da Franca, Alyson Fernando Alves Ribeiro, e José Hunaldo Lima 164
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O ensino da Geografia requer diferentes linguagens que contribuam para a formação de um
aluno participativo e crítico, que reconheça a importância da ciência geográfica para a compreensão
do mundo que habita. Uma dessas linguagens é a cartografia digital, uma proposta que contribui
para a inclusão digital dos educandos, proporciona um maior interesse e motivação por parte dos
alunos em relação à disciplina.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s, 1998) apontam para a necessidade de
formação de um aluno “leitor crítico” e “mapeador consciente”, além disso, o advento da
informática nas ciências em geral, especialmente na cartografia digital, geoprocessamento e
sensoriamento remoto, no âmbito da Geografia e o domínio dos microcomputadores e dos softwares
utilizados no processamento de dados espaciais se tornaram fundamentais para o desenvolvimento
da ciência geográfica. Sendo, portanto, indispensável o despertar de professores na inclusão digital
para o entendimento de todos os benefícios que a informática traz para o ensino em sala de aula.
A confecção de mapas e bancos de dados digitais deve, contudo, ser acompanhada de
conhecimentos anteriormente abordados na cartografia, estimulando o entendimento de seus
fundamentos básicos para uma boa formação cartográfica e ressaltando sua aplicação nesses
modelos digitais, levando o aluno ao maior conhecimento e inter-relação entre a prática e a teoria.
Na busca por bases teórico-metodológicas sobre o mapa e a cartografia geográfica escolar,
constata-se que o ensino de cartografia nas escolas é incipiente, sendo o mapa e o mapeamento
negligenciados nos planos de aulas, o que contribui para o desinteresse do aluno em relação à
cartografia.
Sabe-se também que um aprendizado errôneo ou até mesmo deficitário da cartografia nas
escolas gera problemas de interpretações vindouras, a exemplo de alguns alunos que chegam às
universidades em cursos de Geografia, por exemplo, e não sabem fazer uma interpretação básica e
correta de um mapa cartográfico.
A partir de algumas elucidações, o presente trabalho tem como objetivo repensar este
equívoco e contribuir para o desenvolvimento da alfabetização cartográfica, ao apresentar uma
proposta de cunho didático, que envolva noções básicas, tais como: alfabeto cartográfico (ponto,
linha, área); construção e noções de legenda; proporções e escalas; referências e orientação espacial.
Software Philcarto: Uma Ferramenta Para o uso da Linguagem Cartográfica Digital na Escola 165
GEONORDESTE, Ano XXIII, n.2
A experiência relatada neste artigo utilizou o software Philcarto, um programa cartográfico
desenvolvido pelo geógrafo francês Philippe Waniez 2 . O programa é gratuito e pode ser obtido na
página do autor na internet 3 , possui versão em língua portuguesa, sua estrutura é funcional, de uso
simples e apresenta recursos cartográficos e estatísticos que podem ser amplamente explorados pelo
professor e seus alunos.
Com o Philcarto, os alunos podem elaborar mapas coropléticos, mapas de círculos
proporcionais, mapas de pontos coloridos, mapas de diagramas de setor, representações
cartográficas norteadores no ensino da cartografia.
O presente artigo se justifica na medida em que procura resgatar a importância dos produtos
cartográficos no ensino da Geografia, além de demonstrar algumas formas como o professor de
Geografia pode atuar nessa tarefa, e por fim a elaboração de cartogramas a partir de exercícios
práticos na oficina do XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia, realizado na cidade de Aracaju.
2 EXPLORANDO O SOFTWARE PHILCARTO
Philcarto é um programa de cartomática 4 e está disponível em quatro idiomas: francês,
inglês, espanhol e português. É gratuito e não requer a necessidade de um Sistema de Informações
Geográficas (SIG), sendo assim, não possui sistema de georreferenciamento.
O Philcarto possui três características que atribuem qualidade ao programa: 1) total
liberdade e versatilidade na elaboração/adaptação das bases cartográficas e de dados; 2) diversidade
de funções de mapeamento e análise dos dados; e 3) qualidade do mapa final, exportado em formato
vetorial.
O princípio básico de funcionamento do Philcarto é o cruzamento de uma base de dados
com uma base cartográfica, ambos livremente elaborados pelo usuário do programa. A base
cartográfica é elaborada com o programa Phildigit, também de autoria de Waniez, que aceita
qualquer tipo de imagem como mapa. A conexão entre os dados e a base cartográfica é realizada
2 Pesquisador do Institut de Recherche pour le Développement (IRD) e, atualmente professor da Universidade de
Bordeux – França. 3 O software está disponível para download em <http://philcarto.free.fr/>
4 Segundo Waniez (2002) o termo cartomática foi cunhado por Brunet (1987) e agrupa cartografia e automática; refere-
se “ao conjunto de procedimentos matemáticos e gráficos destinados a traduzir sobre uma base cartográfica a variação
espacial de uma variável estatística” (WANIEZ, 2002, p.47), sendo que a utilização de ferramentas da informática no
trabalho com os dados estatísticos está diretamente ligada à cartomática.
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pelo Philcarto através de códigos atribuídos às unidades espaciais nessas duas bases. A partir desta
junção são elaborados os mapas e realizadas diferentes análises estatístico-espaciais pelo programa
por meio de uma interface interativa e fácil.
Resumidamente, apresenta-se alguns passos para criação de uma base cartográfica com o
Phildigit, com base no manual de utilização do Philcarto elaborado por Eduardo Paulon Girardi
(2008):
1. Após executar o programa, escolha a opção nouvelle digitalisation avec umfond de
carte scanné;
2. Indique o arquivo do mapa base, que deve estar em formato BMP, JPG, GIF ou TIF;
3. Vá à janela opções e defina as configurações, caso isso seja necessário;
4. Na janela calques, clique na opção ajouter un calque para criar uma nova camada;
5. Escolha o tipo de camada (.S, .L ou .P) e dê um nome para ela, clicando em seguida
na opção valider. Repita essa opção quantas vezes forem necessárias;
6. Selecione a camada para onde serão destinados os elementos digitalizados;
7. Selecione a ferramenta desenhar e em seguida forneça o código do elemento a ser
digitalizado (ponto, linha ou polígono) - clique em valider;
8. Inicie a digitalização. Em caso de polígono, para finalizar a digitalização, clique em
stop. O polígono será fechado automaticamente;
9. Quando o primeiro elemento for finalizado será requisitado um nome para o arquivo;
10. Para digitalizar novos elementos realize os passos 7 e 8 quantas vezes forem
necessárias;
11. Quando terminada a digitalização, na janela opções, clique em exporter vers
Philcarto, para que o arquivo seja salvo no formato. Forneça um nome para o arquivo;
12. Caso seja necessário alterar um mapa base elaborado anteriormente, ao executar o
Phildigit escolha a opção modifier une digitalisation enregistrée avec Phildigit e em
seguida indique o arquivo a ser modificado, utilize as ferramentas de edição (que foram
descritas) e salve o arquivo novamente.
Após a elaboração da base cartografia, é fundamental criar a base de dados. A base de dados
utilizada no Philcarto pode ser elaborada no software Excel Versão (97-2003). Para a construção da
base é necessário utilizar o sistema de códigos adotado para a elaboração da base cartográfica. Para
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que o Philcarto leia a base de dados é vital seguir o padrão apresentado no quadro 1. A primeira
coluna deve conter os códigos das entidades (polígonos, pontos ou linhas); a segunda coluna deve
conter os respectivos nomes; a partir da terceira coluna devem está as variáveis. A primeira célula
da primeira coluna deve ser nomeada ID; a primeira célula da segunda coluna deve ser nomeada
NOME (também pode ser nom e name); a primeira célula das demais colunas deve ser nomeada de
acordo com as variáveis (devem ser utilizados nomes curtos).
Quadro 01. Formato da base de dados para o Philcarto
ID NOME POP. 2010 DES. DEM. 2010 TAX . URB.
2010
2 S. JOSE 3684 17 83
Os dados ausentes devem ser registrados com um X (é necessário que seja maiúsculo).
Nenhuma célula pode estar vazia. Nunca deve ser utilizada vírgula como separador decimal. Os
decimais devem ser separados por pontos, pois o Philcarto utiliza o sistema inglês de numeração.
Para que seja lida pelo Philcarto a base de dados deve ser salva no formato texto separado por
tabulações. Isso pode ser feito no Excel através do menu “Salvar como”, escolhendo texto separado
por tabulação no campo salvar como tipo.
Os dados para a tabela podem ser obtidos de diferentes fontes como o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo. Através do Sistema IBGE de Recuperação
Automática (SIDRA) 5 o Instituto disponibiliza dados agregados em diferentes escalas (município,
microrregião, mesorregião, estado, região geográfica e Brasil). Esses dados são baixados em
formato compatível com o Philcarto, ou seja, com código e nome dos municípios.
3 OFICINAS DE CARTOGRAFIA COM A UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE PHILCARTO:
EXPERIÊNCIAS E RESULTADOS.
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No XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia, promovido pela Sociedade Brasileira de
Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, realizado em Aracaju- SE, entre os
dias 16 e 20 de maio de 2010, foram desenvolvidas oficinas de cartografia com a aplicação do
software Phicarto. Participaram das oficinas alunos e professores de escolas públicas, como
também alunos e docentes do curso de Geografia da Universidade Federal de Sergipe.
O objetivo geral das oficinas foi apresentar o programa Philcarto como um caminho
metodológico para o ensino digital da cartografia nas escolas. Esta atividade é apresentada a seguir,
como uma referência a professores e também para avaliação de sua eficácia quanto um recurso
didático.
Desde que sejam feitas de maneira objetiva e planejada, as oficinas são uma metodologia
diferenciada para o ensino, pois representam uma forma proveitosa para assimilação de conteúdos.
Para Archela (2003, p.74) “a oficina é um caminho, ou seja, um processo de desenvolvimento de
determinado conteúdo. Assim, a oficina nada mais é, do que uma forma de desenvolver o conteúdo
procurando usar uma metodologia adequada.”
Os procedimentos metodológicos utilizados no desenvolvimento da oficina consistiram de
etapas que favoreceram o desenvolvimento da criatividade, criticidade e interesse dos alunos. Estes
caminhos buscam possibilitar a construção coletiva do conhecimento (MATUI, 1995).
Adicionalmente, a utilização de uma abordagem holística, a adoção de um método participativo e a
integração de temas abordados no ensino da cartografia fez parte do processo de construção do
trabalho. Assim, a prática e os temas foram trabalhados a partir da participação coletiva, da
observação, do questionamento e do resgate do conhecimento, superando a simples transmissão do
conhecimento. Para alcançar os objetivos propostos pela oficina foram definidas quatro etapas ou
momentos de trabalho.
No primeiro momento da oficina os participantes foram levados a conhecer os princípios
básicos de funcionamento do Philcarto. O segundo momento foi destinado ao aprendizado da
construção da base cartográfica e da construção da base de dados. No terceiro momento os
participantes, com base nos conhecimentos adquiridos nos momentos anteriores da oficina,
formaram duplas e elaboraram mapas coropléticos e de círculos proporcionais da população do
Brasil e um mapa de semi-círculos opostos referente às safras do ano de 2008 de soja, café e cana
de açúcar do Brasil.
Ao contrário do que alguns professores que participaram das oficinas manifestaram, é
possível ministrar aulas diferenciadas, mesmo sem forte aparato de materiais de difícil aquisição.
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Na experiência das oficinas de cartografia com a utilização do Philcarto foram utilizados
computadores que para confeccionar os mapas não precisavam estar conectados à internet. A
simplicidade dos procedimentos das oficinas é o que as tornam mais interessantes aos alunos, pois
por meio delas eles conseguem ver a praticidade desses conteúdos em seu cotidiano.
Segundo Padim (2006, p.11):
As oficinas de ensino de Geografia e Cartografia são recursos que oferecem
condições para um melhor aprendizado. Assim sendo, é uma sugestão didática para
os professores e alunos que proporciona oportunidades de realizar experiências, de
forma a construir cada conceito gradativamente e estimular a integração e a
participação efetiva de ambos na construção do conhecimento.
As oficinas de cartografia realizadas em questão tiveram êxito, pois conseguiram de certa
forma tornar os conteúdos trabalhados mais atrativos e empolgantes. Tais oficinas proporcionaram
aos alunos a compreensão de fenômenos e mostraram a importância e as possíveis circunstâncias de
utilização dos conteúdos ministrados.
Alguns produtos – mapas elaborados no Philcarto – do curso em forma de oficina
ministrado no XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia podem se observados no capítulo a seguir.
4 ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA COM A UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE
PHILCARTO
Desde o final do século XX, o ensino de Geografia tem passado por profundas
transformações decorrentes da evolução da própria história do pensamento geográfico, e das
reformas ocorridas na educação brasileira, estimuladas pelas transformações sociais. A cartografia
e seus consideráveis avanços tecnológicos, por sua vez, muitas vezes não atingem estudantes de
Geografia, principalmente aqueles de séries iniciais nas escolas públicas.
É nesse contexto que se insere o software Philcarto. Como linguagem cartográfica digital
na escola, ele contribui não apenas para que os alunos compreendam os mapas, mas também para
que desenvolvam capacidades relativas à representação do espaço. ”Os alunos precisam ser
preparados para que construam conhecimentos fundamentais sobre essa linguagem, como pessoas
que representam e codificam o espaço e como leitores” (FRANCISCHETT, 2002, p.37).
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O caminho metodológico proposto por Paganelli (1987, p.136) para o entendimento sobre a
produção capitalista do espaço geográfico pela criança é de extrema importância, pois ressalta seu
papel na construção das estruturas operatórias “possibilitando construir gradualmente a
compreensão das articulações que ocorrem na sociedade através do espaço e do tempo”. Dessa
maneira Paganelli apresenta:
[…] um redimensionamento do desenvolvimento cognitivo e social tomou forma
na busca de uma tomada de consciência, pelo próprio aluno, do pensar, da
expressão e da representação da realidade como forma de conhecimento do eu, e da
realidade e da inserção social e conceitual do aluno na sociedade, no espaço,
através da análise do espaço de vivência cotidiana (op. cit, 1987, p.144).
O aluno deve se sentir parte integrante de todo o processo de ensino-aprendizagem e, ao
construir um mapa, ele estará participando de forma direta da elaboração. Além desta aproximação
da realidade da prática cartográfica, é de considerável valor a apreensão da sua realidade com dados
referentes ao seu convívio, com elaboração de mapas de seu bairro, seu município e outros recortes
que ele tenha maior aproximação.
De acordo com Passini (1998), a alfabetização cartográfica como processo metodológico
propõe que:
O aluno seja mapeador para que utilizando os elementos cartográficos (símbolos,
projeção e redução), consiga a cognição da simbologia cartográfica; o objeto a ser
mapeado seja o espaço conhecido do aluno; o ponto de chegada signifique a
sistematização dos elementos conhecidos do espaço cotidiano através da
classificação, comparação, seleção, quantificação, ordenação na elaboração de
símbolos, que são auxiliares na construção do conhecimento físico e social da
criança; essas ações estruturantes possibilitem ao aluno a compreensão das relações
espaços-temporais de forma significativa e a transferência para compreensão de
espaços mais distantes (generalização), assim como de sua representação; a
inclusão do espaço conhecido em espaços mais amplos e suas relações mais
complexas sejam percebidas pela criança através de suas ações e deslocamentos
diários (casa-escola), ‘a priori”. E “a posteriori” numa continuidade para espaços
mais distantes, sem que haja fechamento, possibilitando a compreensão do
processo de produção/consumo/circulação, dependência/dominação de forma
globalizada (PASSINI, 1998, p.28/29).
É de suma importância, nesse sentido, o professor ter clareza do processo metodológico que
conduz a teoria à prática. Ter domínio e clareza desse processo é essencial para que se planejem as
primeiras e últimas ações, constituindo em seqüência consciente o processo de ensino-
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expõe Castrogiovanni:
As atividades devem levar o aluno a ter que buscar generalizações, criar
classificações, estabelecer categorias, construir signos, selecionar informações,
escolher uma escala. Somente com tais atividades ele terá a oportunidade de
interagir com o espaço que está sendo codificado, desenvolvendo seu raciocínio
lógico-espacial (CASTROGIOVANNI, 1998, p.35)
De acordo com Pereira (1995, pp. 62-66), o objetivo deste fazer consciente e gradativo deve
possibilitar aos alunos instrumentos para poderem, eles mesmos, lerem o espaço geográfico e sua
paisagem, pois convém pensar acerca do papel do aluno como participante da sociedade".
Complementando, para Simielli (1986, p.98) é importante permitir ao aluno a percepção e domínio
do espaço.
Trabalhando a linguagem cartográfica e a construção de cartograma, o aluno
desenvolve o raciocínio lógico-matemático, as noções de espaço, a produção
escrita e a compreensão de representações entre outros objetivos propostos pelas
diferentes áreas do Núcleo Comum (PIRES JÚNIOR, 1997, p.73).
O software Philcarto proporciona uma alfabetização cartográfica de cunho didático, a partir
do qual os educandos são levados a saber ler e interpretar um mapa, através da elaboração de
cartogramas que envolvem noções básicas, tais como: alfabeto cartográfico (ponto, linha, área);
construção e noções de legenda; proporções e escalas; referências; orientação espacial. O software
oferece recursos para elaboração de diferentes cartogramas, representando diferentes informações
para diferentes finalidades: mapas coropléticos, mapas de círculos proporcionais, mapas de semi-
círculos opostos, mapa de nuvens de ponto. Representações cartográficas norteadores no ensino da
cartografia.
Os mapas coropléticos (figura 01) são elaborados com dados quantitativos e apresentam sua
legenda ordenada em classes conforme as regras próprias de utilização da variável visual.
Geralmente são atribuídos valores a tonalidades de cores, ou seja, é criada uma seqüência ordenada
de cores que aumentam de intensidade conforme a seqüência de valores apresentados nas classes
estabelecidas.
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Figura 01. Mapa de percentagem de pastagem, Brasil, 2011.
A elaboração dos cartogramas é de considerável facilidade. No entanto, em algumas
ocasiões, pode ocorrer uma elevada concentração de classes, por isso deve-se ter o máximo de
cuidado e colocar a quantidade de classes condizentes com a realidade do fenômeno expresso no
mapa. Para isso, existem seis métodos, como o da amplitude, onde o próprio autor escolhe a
quantidade de classes.
Para a coloração do mapa (pintura) é recomendável que o autor leve em consideração a
tipologia internacional das cores. Em fenômenos de crescimento utiliza-se a seqüência de cores
quentes e no inverso emprega-se cores em degradê frio, esta opção é visível na barra de ferramentas
que fica ao lado do mapa.
Estes mapas são indicados para o ensino da distribuição das densidades (habitantes por
quilômetro quadrado), rendimentos (toneladas por hectare), ou índices expressos em percentagens,
os quais refletem a variação da densidade de um fenômeno (médicos por habitante, taxa de
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natalidade, consumo de energia, por exemplo) ou ainda, outros valores que sejam relacionados a
mais de um elemento.
Outro tipo de cartograma de elevada importância para análise de fenômenos quantitativos são
os mapas de círculos proporcionais. Com eles é possível visualizar valores exatos (não apenas
intervalos) dos fenômenos representados. São indicados para temas puntiformes, ou seja,
representação de fenômenos pontuais, com a colocação dos pontos no centro do polígono
(município, estado, região, país e outros).
Os mapas de círculos proporcionais (figura 02), ao contrário dos coropléticos, são usados
para representar dados absolutos, tais como população total, população urbana, população rural,
população masculina, população, renda, etc. Sua representação não se baseia no preenchimento da
área do polígono, mas apenas na localização de pontos previamente selecionados (como por
exemplo, a localização da sede municipal). Esse tipo de mapa consiste em elaborar círculos
proporcionais aos valores de cada unidade (neste caso a unidade é o município) em relação a uma
determinada variável.
Na maioria das vezes estes círculos são elaborados com a cor preta e caso fiquem com
dimensão grande podem atrapalhar a visibilidade dos limites dos polígonos. Para sanar esse
problema é necessário que se escolha um tamanho adequado do raio do círculo (opção que fica na
barra de ferramentas, com variação 0 a 40). Caso não seja possível reduzir é aconselhado que os
círculos sejam pintados com cores mais brandas. Em determinados casos os mapas devem respeitar
a tipologia cartográfica internacional, a exemplo da utilização da cor azul para fenômenos relativos
à qualidade e distribuição de reservas de água.
Como se observa na figura a seguir, os mapas de círculos proporcionais têm um excelente
efeito visual na interpretação dos dados.
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Figura 02. Mapa de população, Brasil, 2011.
O mapa de semi-círculos opostos ou cartodiagramas são mapas de considerável utilização,
pois comportam mais de uma informação e facilitam a compreensão de dois temas ao mesmo
tempo. Eles podem ser elaborados tanto com dados absolutos como também com dados relativos
(transformados em graus na circunferência). O modo de elaboração desses mapas é bastante
semelhante ao dos de círculos proporcionais.
Como se observa na figura 03, esse cartograma possibilita a representação de duas
informações quantitativas com implantação pontual, o que permite a comparação de uma mesma
variável obtida em períodos diferentes. Este tipo de representação é recomendada para o ensino de
apresentações de uma mesma informação em períodos distintos, ou para duas informações
diferentes, com dados não muito discrepantes.
No exemplo a seguir o mapa possibilita a análise de três fenômenos: o espaço para a
produção de lavouras, pastagens e áreas ainda florestadas. Além de conceber temas diferentes ao
mesmo tempo, esses mapas permitem representar a dinâmica espacial no tempo, com a
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representação de um mesmo tema em dois períodos diferentes, como a produção de milho em 1990
e em 2000. Nesse caso permite observar visualmente aumento ou diminuição de tais elementos.
Figura 03. Mapa de áreas de lavouras, pastagens e florestas, Brasil, 2011.
Os mapas de pontos ou de nuvem de pontos (figura 04) expõem dados absolutos (número de
tratores de um município, número de habitantes, totais de produção, etc.) e o número de pontos deve
refletir exatamente o número de ocorrências. Sua construção depende de duas decisões: o valor que
será atribuído a cada ponto e como esses pontos serão distribuídos dentro da área a ser mapeada.
Esse cartograma é de grande valia para estudos que mostram a espacialização dos
fenômenos dentro dos polígonos (município, estados e outros), não sendo recomendável para
representar temas pontuais, como localização de cidades, indústrias, aeroportos, hospitais e outros.
Por facilitar a compreensão de densidade é indicado para representar a população (densidade
demográfica), a produção agrícola (produtividade), propriedades rurais (concentração de terras) e
outros.
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No mapa a seguir é possível notar que o tamanho dos pontos é variável, sendo essa variação
de 1 a 5 (no mapa encontra-se com o tamanho 4). O próprio autor é quem escolhe o tamanho do
ponto e também pode mudar sua cor. Com a diversidade dos temas, recomenda-se que quando a
representação for relacionada ao espaço agrário (produção agrícola, luta pela terra, entre outros), os
pontos devem ser de cor verde.
Figura 04. Mapa de população, Brasil, 2011.
Portanto, o Phicarto proporciona a compreensão das representações cartográficas implicando
em um processo de aquisição, pelos alunos, de um conjunto de conhecimentos e habilidades. O
mesmo ainda facilita a leitura de informações pelos educandos e permite uma melhor compreensão
do espaço que apenas alfabetizados cartograficamente podem usufruir.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A partir da análise realizada neste estudo, é notória a importância da cartografia como
ferramenta que auxilia na compreensão dos fenômenos que contribuem para a produção do espaço
geográfico, pois possibilita a representação visual desse processo histórico e social realizado pelo
homem e dos fenômenos naturais que contribuem para tais transformações.
Neste sentido, Souza 2000), enfatiza que:
[...] a linguagem cartográfica é, a nosso ver, uma das que indubitavelmente devem
ser utilizadas no ensino, pois representa a territorialidade dos diferentes fenômenos,
razão de ser da própria ciência geográfica (SOUZA, 2000 apud SILVA &
CARNEIRO, 2009).
A alfabetização cartográfica produz resultados que extrapolam o ambiente escolar. Para
Simielli (1993, p.73), o conhecimento cartográfico possibilita um repensar cotidiano: “[...] a
cartografia não é prioridade da escola e nem do ensino de geografia, mas, sim, uma das muitas
formas de se entender o mundo”.
Desta forma, o software Philcarto se coloca como uma ferramenta de elevada valia. Sua
utilização, além proporcionar aos alunos noções importantes de cartografia digital, estimula a leitura
e compreensão dos fenômenos geográficos representados nos mapas.
O Philcarto permite, assim, a interação de metodologias de processamento digital na
disciplina geográfica, proporcionando ao aluno recursos para exercícios de observação da realidade
sob determinadas condições, entendendo, elaborando e utilizando o mapa como uma fonte de
informações acerca do espaço que ele ajudou a produzir como parte do grupo social local.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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