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Cancro da mama e desenvolvimento pessoal e relacional: Estudo das características psicométricas do Inventário de Desenvolvimento Pós-Traumático ( Posttraumatic Growth Inventory ) numa amostra de mulheres da população Portuguesa Breast cancer and personal and relational growth: Psychometric characteristics of the Portuguese version of the Posttraumatic Growth Inventory in a sample of Portuguese women SÓNIA ISABEL MARTINS DA SILVA 1 , HELENA TERESA DA CRUZ MOREIRA 2 , SÍLVIA MARGARIDA DE AGUIAR PINTO 3 , MARIA CRISTINA CRUZ SOUSA PORTOCARRERO CANAVARRO 4 105 RIDEP · Nº 28 · Vol. 2 · 2009 · 105 - 133 1 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/27704/2006), Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro da Linha de Investigação “Relações, Desenvolvimento & Saúde” do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional e Social, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Psicóloga do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, PORTUGAL. Universidade de Coimbra. Rua do Colégio Novo, Apartado 6153, 3001-802 Coimbra, Portugal. Telemóvel: 938634769. E-mail: [email protected]. 2 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/29132/2006), Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro da Linha de Investigação “Relações, Desenvolvimento & Saúde” do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional e Social, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL. 3 Mestre em Psicologia. Psicóloga da Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo, PORTUGAL. 4 Professora Agregada, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Coordenadora da Linha de Investigação “Relações, Desenvolvimento & Saúde” do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional e Social, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Coordenadora da Unidade de Intervenção Psicológica (UnIP) da Maternidade Daniel de Matos dos Hospitais da Universidade de Coimbra, PORTUGAL.

Cancro da mama e desenvolvimento pessoal e relacional ...aidep.org/03_ridep/R28/r286.pdf · Social, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL

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Cancro da mama e desenvolvimento pessoal e relacional:Estudo das características psicométricas do Inventário deDesenvolvimento Pós-Traumático (Posttraumatic GrowthInventory) numa amostra de mulheres da populaçãoPortuguesa

Breast cancer and personal and relational growth:Psychometric characteristics of the Portuguese versionof the Posttraumatic Growth Inventory in a sample ofPortuguese women

SÓNIA ISABEL MARTINS DA SILVA1, HELENA TERESA DA CRUZ MOREIRA2,SÍLVIA MARGARIDA DE AGUIAR PINTO3, MARIA CRISTINA CRUZ SOUSA

PORTOCARRERO CANAVARRO4

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1 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/27704/2006), Faculdade de Psicologia eCiências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro da Linha de Investigação “Relações,Desenvolvimento & Saúde” do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional eSocial, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Psicóloga doNúcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, PORTUGAL. Universidade deCoimbra. Rua do Colégio Novo, Apartado 6153, 3001-802 Coimbra, Portugal. Telemóvel:938634769. E-mail: [email protected] Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/29132/2006), Faculdade de Psicologia eCiências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro da Linha de Investigação “Relações,Desenvolvimento & Saúde” do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional eSocial, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL.3 Mestre em Psicologia. Psicóloga da Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissionalde Miranda do Corvo, PORTUGAL.4 Professora Agregada, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade deCoimbra. Coordenadora da Linha de Investigação “Relações, Desenvolvimento & Saúde” doInstituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional e Social, Faculdade de Psicologiae Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Coordenadora da Unidade de IntervençãoPsicológica (UnIP) da Maternidade Daniel de Matos dos Hospitais da Universidade de Coimbra,PORTUGAL.

RESUMO

Actualmente, um vasto corpo empírico sugere que a exposição a situações ad-versas, potencialmente indutoras de uma reacção de stress inadaptativa, podeconstituir-se como um desafio desenvolvimental, precursor da percepção de mu-danças psicológicas positivas na esfera pessoal, relacional e espiritual, conheci-das por “desenvolvimento pós-traumático”. Neste trabalho, é descrito o estudodas características psicométricas do Inventário de Desenvolvimento Pós-traumá-tico (IDPT), numa amostra de mulheres da população portuguesa com históriapessoal de cancro da mama. Este instrumento avalia a percepção subjectiva demudanças psicológicas positivas, resultantes dos esforços empreendidos para li-dar com os acontecimentos de vida adversos. Os estudos apresentados, nomea-damente a análise da estrutura factorial, o exame dos índices de consistênciainterna e os dados adicionais relativos aos estudos da validade de constructo, fo-ram realizados numa amostra constituída por 202 mulheres diagnosticadas comcancro da mama, tendo sido utilizado como grupo de referência, um total de 136mulheres da população geral. Os resultados são indicadores de uma estrutura fac-torial constituída por quatro dimensões, que foram designadas de Percepção deRecursos e Competências Pessoais, Novas Possibilidades e Valorização da Vida,Fortalecimento das Relações Interpessoais e Desenvolvimento Espiritual. Foramobtidos bons índices de fidelidade e de validade para o IDPT, recomendando asua utilização tanto em contexto clínico, como de investigação.

Palavras-chave: desenvolvimento pós-traumático, adversidade, cancro damama, Inventário de Desenvolvimento Pós-traumático, IDPT

ABSTRACT

There is a growing body of research suggesting that the exposure to adversesituations, which can induce maladaptative stress reactions, may also be achallenge to human development, encouraging the perception of positivepsychological changes in the personal, relational and spiritual domains. Thesechanges have been described as “posttraumatic growth”. In this article the studyof the psychometric characteristics of the Posttraumatic Growth Inventory(PTGI) in a sample of Portuguese women with a personal history of breastcancer is described. This inventory assesses the individual’s perception ofpositive life changes which occur as a result of struggling with highlychallenging events. Psychometric analyses were performed on a sample

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composed of 202 women diagnosed with breast cancer. A total of 136 womenfrom the general population was used as a reference group. The analysesincluded the item structure factor, the examination of the internal consistencyand additional studies of the construct validity. The results are indicative of afour factor structure, assessing Perception of Personal Resources and Abilities,New Possibilities and Life Appreciation, Strengthening of Social Relationshipsand Spiritual Development. PTGI is shown to be a reliable and valid measure,its use being recommended in clinical and research settings.

Key-words: posttraumatic growth, adversity, breast cancer, PosttraumaticGrowth Inventory, PTGI

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INTRODUÇÃO

A experiência de mudanças psico-lógicas positivas, resultantes dos es-forços empreendidos para lidar comos acontecimentos de vida adversos,só muito recentemente, a partir dosanos 80, e mais expressivamente nosanos 90, tem merecido a atenção dosinvestigadores e clínicos interessadosna temática do trauma. Muito emborarecente, se tivermos em linha de con-ta a existência de estudos e concepçõ-es teóricas que a suporte, apossibilidade de desenvolvimentoposterior a uma situação adversa, temsido um tema proeminente e bem do-cumentado ao longo da história huma-na, retratado no Cristianismo, naliteratura filosófica e também ao nívelda Psicologia Clínica. Todavia, aPsicologia tem-se debruçado, particu-larmente, sobre os resultados negati-vos que o confronto com umacircunstância indutora de stress signi-ficativo pode acarretar para o indiví-

duo, dando pouca ênfase à possibili-dade de descoberta de componentespositivas e à oportunidade de desen-volvimento pessoal e relacional.

Na verdade, determinados aconteci-mentos têm potencial para abalar a vi-são que o indivíduo tem do mundo e dasua própria vida, sendo por isso desig-nados de traumáticos. Segundo oManual de Diagnóstico e Classificaçãodas Perturbações Emocionais (DSM-IV), estes acontecimentos correspon-dem a situações de ameaça de mortereal, ferimento grave, ou ameaça à inte-gridade física, do próprio ou de outros,e cuja resposta envolve medo intenso,sentimento de falta de protecção ou ho-rror. Pela sua natureza repentina, ines-perada e indesejável e, paralelamente,pela sua não familiaridade, carácter in-controlável e frequentemente irreversí-vel, os acontecimentos traumáticosconstituem-se como experiências dechoque emocional, para as quais o indi-víduo não obteve preparação psicológi-ca prévia e, no seu imediato, não

percepciona os recursos necessários pa-ra lhes fazer face. Assim se compreendeque o confronto com estes acontecimen-tos possa gerar stress intenso e o eclodirde respostas emocionais negativas, co-mo seja, ansiedade e/ou humor depres-sivo e, inclusivamente, precipitarsintomatologia física significativa, assu-mindo-se que representem desafios sís-micos para os recursos adaptativos doindivíduo.

A literatura tem mostrado, contudo,que a exposição a um acontecimentotraumático não precipita necessaria-mente uma constelação significativa desintomas, ao ponto de se constituir co-mo uma perturbação psiquiátrica tal co-mo surge no DSM-IV, nomeadamente aPerturbação Pós-Stress Traumático.Pelo contrário, é frequente estimular aocorrência de profundas e significativastransformações no sistema de crençasdo indivíduo, sobretudo na forma comoele se vê a si e ao mundo. Assim, apósa vivência de um acontecimento trau-mático, embora o indivíduo possa pas-sar a avaliar o mundo como perigoso eimprevisível, perante o qual se senteimpotente e vulnerável, pode, paralela-mente, construir uma nova e mais valo-rizada percepção de si próprio, dos seusrecursos e da vida em geral.

No contexto das reacções psicoló-gicas aos acontecimentos adversos epotencialmente traumáticos, estapossibilidade de crescimento temvindo a ser designada na literaturacientífica por “DesenvolvimentoPós-Traumático” (DPT, tradução de

Posttraumatic Growth) que, segundoTedeschi e Calhoun, designa “a expe-riência de mudanças psicológicas po-sitivas que resultam dos esforçosempreendidos para lidar com as cir-cunstâncias de vida altamente amea-çadoras” (p.1). De acordo comTedeschi e Calhoun (2004), o DPT,em particular a expressão “desenvol-vimento” (tradução de growth), des-creve a experiência do indivíduo cujonível de adaptação após um eventotraumático, pelo menos em algumasáreas do seu funcionamento, é supe-rior ao anterior. Assim, refere-se amudanças percepcionadas pelos indi-víduos, que são mais do que a meracapacidade para resistir ou recuperarface a uma ocorrência traumática,envolvendo uma transformação psi-cológica que ultrapassa os níveis deadaptação anteriores. Desta forma,ao corresponder a mudanças sobretu-do de natureza qualitativa, compre-ende-se que a experiência de DPTnão seja, simplesmente, o regresso aoponto inicial, mas uma experiênciade melhoria do funcionamento psico-lógico, que muitas vezes se traduzem alterações profundas de vida ecom expressão comportamental bas-tante intensa.

Por outro lado, a opção pela desig-nação “pós-traumático” (tradução deposttraumatic) prende-se com o ca-rácter disruptivo e necessariamenteameaçador destas circunstâncias, cujapercepção negativa abala as estruturasde significado do indivíduo e assim os

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seus objectivos, crenças, expectativase formas de gestão emocional.Pretende-se, com esta designação, res-salvar que esta experiência não ocorrena sequência de um acontecimento destress minor ou como resultado doprocesso normal de desenvolvimentohumano. Também a expressão “trau-ma” é, segundo os autores, mais inclu-siva do que os critérios do DSM-IV,podendo abranger uma grande diversi-dade de situações, como por exemplo,situações de doença, perda, acidentes,entre outras.

Acrescentam ainda, Tedeschi eCalhoun (2004), que a experiência deDPT é simultaneamente um processoe um resultado. Isto porque ocorreconcomitantemente às tentativas ouesforços de adaptação às situações devida indutoras de elevados níveis destress e não como consequência dosacontecimentos por si só. O DPT é umfenómeno que, mais do que a exclusi-va integração dos novos dados nos es-quemas preexistentes (assimilação),requer um processo de transformaçãodas estruturas cognitivas anteriores,de forma a incorporar a nova informa-ção relacionada com a situação trau-mática (acomodação). Este processodesenrola-se à medida que o indiví-duo se envolve em estratégias para li-dar com as emoções negativasassociadas ao acontecimento e come-ça a processar cognitivamente a situa-ção traumática.

Por outro lado, é conceptualizadocomo um resultado, na medida em

que se traduz por mudanças psicológi-cas positivas ao nível da percepção desi próprio, das suas relações interpes-soais e filosofia de vida. Assim, doconfronto com a adversidade, é fre-quente os indivíduos extraírem umsentimento de maior força pessoal e,embora de forma aparentemente para-doxal, referirem, simultaneamente,um sentimento de maior vulnerabili-dade pessoal em consequência daconsciencialização da sua própriamortalidade e fragilidade perante a vi-da. Ainda no âmbito das mudanças aonível da percepção de si próprio, sa-lientam também os autores, umamaior abertura a novas possibilidadese um maior investimento em novosinteresses e actividades. Na esfera dosrelacionamentos interpessoais, é fre-quente o fortalecimento das relaçõesafectivas, que se tornam mais íntimase próximas, caracterizadas por maiorabertura e expressividade emocional.Também frequentes são as manifesta-ções de empatia e compaixão e os ges-tos altruístas e de dedicação aosoutros, sobretudo àqueles que atraves-sam situações semelhantes. Por últi-mo, relativamente à percepção de umanova filosofia de vida, as mudançassentidas expressam-se numa maiorapreciação da vida em geral, numanova hierarquização de prioridades eredefinição daquilo que é verdadeira-mente importante, num fortalecimen-to e/ou desenvolvimento em termosespirituais e existenciais e numamaior sabedoria acerca do significado

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e sentido da vida, para além da aquisi-ção de novos conhecimentos e com-petências. Estas transformações irãoreflectir-se em mudanças significati-vas nas respostas às interrogações‘Quem sou eu?‘ e ‘Qual é a história daminha vida?’.

Apesar de conceptualmente, e tam-bém de uma forma empírica, a expe-riência de desenvolvimento pessoal erelacional se relacionar com aspectosde bem-estar ou de adaptação psicos-social, alguns estudos, sobretudo denatureza transversal, não têm encon-trado qualquer associação entre oDPT e a adaptação psicológica. Muitoembora a controvérsia quanto ao seupotencial adaptativo, a possibilidadede desenvolvimento face a uma situa-ção adversa começa a ser amplamentereconhecida, sendo fundamental tê-laem consideração para uma melhorcompreensão da diversidade de trajec-tórias individuais.

No que se refere especificamente àavaliação da percepção de DPT, têmsido desenvolvidos diversos instru-mentos. Desses, o mais utilizado emcontextos de investigação e que mel-hores propriedades psicométricas temrevelado nos vários estudos de adapta-ção e validação internacional, tem sidoo Posttraumatic Growth Inventory(PTGI), desenvolvido por Tedeschi e

Calhoun. Este inventário de auto-res-posta avalia a percepção subjectiva demudanças psicológicas positivas emindivíduos que experienciaram acon-tecimentos vividos como traumáticos.É constituído por 21 itens de respostanuma escala tipo Likert de seis pontos,que varia desde ”Eu não experiencieiesta mudança como resultado do acon-tecimento negativo” a “Eu experiencieicompletamente esta mudança como re-sultado do acontecimento negativo”.Originalmente, organiza-se em cincofactores que correspondem às seguintesdimensões do DPT: “Força Pessoal”;“Novas Possibilidades”; “Relação comos Outros”; “Apreciação da Vida” e“Mudança Espiritual”. A pontuação fi-nal ao Inventário oscila entre 0 e 105,sendo que resultados mais elevados tra-duzem níveis superiores de DPT.

No âmbito do estudo de validaçãodo Inventário, os autores construíram34 itens, a partir de uma extensa revi-são da literatura, que foram posterior-mente testados numa amostra de 604estudantes universitários, que vive-ram um acontecimento significativa-mente negativo nos cinco anosantecedentes. Neste estudo, onde fo-ram seleccionados os 21 itens finais,bem como delineada a sua estruturafactorial, o Inventário apresentoumuito boa consistência interna1

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1 Foram encontrados valores de alpha de Cronbach aceitáveis a bons para os cinco domínios doPosttraumatic Growth Inventory, nomeadamente α = .67 (Apreciação da Vida), α = .72 (ForçaPessoal), α = .84 (Novas Possibilidades) e α = .85 (Relação com os Outros e Mudança Espiritual).

(Alpha de Cronbach = .90) e estabili-dade temporal aceitável (r = .71).Também ao nível da validade de cons-tructo (que foi testada recorrendo àcomparação dos níveis de DPT, entreum grupo de sujeitos que no ano ante-rior tinha experienciado uma situaçãosignificativamente adversa e um gru-po que não revelou a ocorrência deacontecimentos de stress major) e davalidade concorrente (obtida atravésda medida da associação entre as di-mensões do Inventário e a avaliaçãosubjectiva do impacto do aconteci-mento como positivo ou negativo) fo-ram obtidos bons índices de validade.

Nos últimos anos, tem-se assistidoa uma proliferação de estudos de vali-dação do Posttraumatic GrowthInventory em diversas populações.Destes estudos têm resultado diferen-tes soluções factoriais, que de algumaforma são demonstrativas das especi-ficidades culturais do instrumento.Assim, por exemplo, na versãoBósnia, realizada com indivíduos re-fugiados e desalojados de Sarajevo (N= 201), foi encontrada uma estruturafactorial constituída por três factores;o mesmo acontece na versão espanho-la (realizada com 100 emigrantes lati-nos), embora estes factores nãocoincidam com os encontrados naversão Bósnia. Já nas versõesChinesa, com 188 sobreviventes decancro, e Japonesa, com 312 estudan-tes universitários, foram encontradasestruturas factoriais constituídas porquatro factores, embora diferentes en-

tre si. Já num estudo de validação comamostras de doentes coronários de na-cionalidade Americana e Inglesa (N =124), Sheikh e Marotta encontraramapenas dois factores de DPT. Apenas asversões Holandesa, realizada com 294sobreviventes de cancro, e Australiana,com 219 estudantes universitários,mantiveram uma estrutura semelhante àoriginal, constituída por cinco factores.Através de análise factorial confirmató-ria, num estudo recente de comparaçãoentre as estruturas factoriais doInventário encontradas em cinco mode-los diferentes, e com recurso a umaamostra de 926 sujeitos que experien-ciaram uma grande variedade de situa-ções traumáticas, Taku, Cann, Calhoune Tedeschi, verificaram que o melhormodelo explicativo reflecte, efectiva-mente, cinco dimensões de DPT.

O presente trabalho pretende apre-sentar os estudos psicométricos reali-zados com a versão portuguesa doInventário de Desenvolvimento Pós-Traumático (IDPT), numa amostra demulheres portuguesas com históriapessoal de cancro da mama. Num pri-meiro ponto serão expostos os resulta-dos relativos à análise da estruturafactorial do IDPT, sendo que poste-riormente serão apresentados os da-dos dos estudos de fidelidade e dadosadicionais relativos aos estudos da va-lidade de constructo. No âmbito des-tes estudos, e de acordo com osprocedimentos referidos pelos auto-res, será testado se o constructo medi-do pelo IDPT se reporta, de facto, a

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mudanças psicológicas positivas ex-perimentadas como consequência deum acontecimento significativamentenegativo ou, contrariamente, a umapercepção de melhoria progressiva,subjacente ao processo natural de des-envolvimento humano. Ainda de for-ma a imprimir um maior rigor àanálise da validade do IDPT, serãoexaminadas as relações existentes en-tre o conceito de DPT e um conjuntode características relacionadas com apercepção de bem-estar subjectivoque, teórica e conceptualmente, deve-rão associar-se às dimensões avalia-das pelo IDPT. Desta forma, éesperado que as mulheres que expe-rienciem mudanças positivas na per-cepção de si mesma e dos seusrecursos e competências, revelemtambém uma melhor auto-estima eum impacto positivo do cancro da ma-ma na sua percepção de força pessoal.Da mesma forma, a experiência deuma maior valorização e reapreciaçãoda vida, com novas possibilidades, in-teresses e desafios, deverá associar-sea um maior gosto pela vida, menorfrequência de sentimentos negativos,maior grau de participação em activi-dades de recreio e/ou lazer e a umaavaliação positiva do impacto dodiagnóstico de cancro da mama, ao ní-vel da sua apreciação da vida e do sur-gimento de novas oportunidades. Já apercepção de relações interpessoaisfortalecidas, deverá associar-se a umamaior satisfação com as relações so-ciais, a uma melhor percepção de

apoio social e a uma avaliação positi-va do impacto do cancro da mama aonível da relação com os outros. Por úl-timo, o fortalecimento a nível espiri-tual, deverá corresponder a umamelhor qualidade de vida em termosespirituais/existenciais, bem como auma percepção de impacto positivo aonível da esfera espiritual e das crençaspessoais. Já quando a experiência decancro da mama se repercute num im-pacto negativo nas diversas áreas davida da mulher, são previsíveis níveisinferiores de DPT.

MÉTODO

Amostra

A amostra foi constituída por 202mulheres diagnosticadas com cancro damama que foram seleccionadas de acor-do com os seguintes critérios: a) diag-nóstico estabelecido de cancro da mamab) idade igual ou superior a 18 anos; e c)capacidade de compreensão que permi-tisse o preenchimento autónomo do pro-tocolo. No que respeita ao recrutamentoda amostra, este decorreu durante o perí-odo em que as participantes se encontra-vam internadas na Unidade C doServiço de Ginecologia dos Hospitais daUniversidade de Coimbra (HUC) pararealização de cirurgia de reconstrução damama e, também, durante a realizaçãode tratamento de quimioterapia ou radio-terapia, no Hospital de Dia do Serviçode Ginecologia e no Serviço deRadioterapia dos HUC. Para além disso,

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foram também recrutadas utentes e vo-luntárias da sede do Movimento Vencere Viver do Núcleo Regional do Centroda Liga Portuguesa Contra o Cancro(MVV da LPCC), uma associação devoluntariado constituída por mulheresque tiveram cancro da mama e que pres-ta apoio a outras mulheres e famílias aviver a doença.

Exclusivamente para efeito compa-rativo na medida de DPT, relativa-

mente à amostra de mulheres comcancro da mama, foi recrutado umgrupo de referência, constituído por136 mulheres da população geral, queresponderam ao IDPT de acordo coma vivência pessoal de um aconteci-mento significativamente negativo noúltimo ano e meio.

No Quadro 1 são apresentadas ascaracterísticas sociodemográficas daamostra.

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Quadro 1. Caracterização sociodemográfica da amostra

Cancro damama N = 202

Populaçãogeral N = 136 t/ χχ²

n % n %

Idade

20-39 anos40-59 anos> 60 anos

1213647

6.269.724.1

426428

31.347.820.9

37.375***

M = 53.1(DP = 9.1)

M = 48.0(DP = 16.7)

3.237***

Estado civil

SolteiraCasada / União de factoSeparada / DivorciadaViúva

131551320

6.576.76.49.9

19972

18

14.071.31.5

13.2

10.500*

Habilitações literárias

1º Ciclo do Ensino Básico2º e 3º Ciclos do Ensino BásicoEnsino SecundárioEnsino Universitário e Pós-graduado

69423553

34.721.117.626.6

39342336

29.525.817.427.3

1.401

Situação Profissional

EmpregadaDesempregada/Doméstica/Baixa médicaReformada

814371

41.522.136.4

843417

62.225.212.6

24.132***

Nota. Em ambos os grupos algumas variáveis apresentam informação em falta.*p < .05. **p < .01.***p < .001.

Como se pode verificar no Quadro1, a amostra foi constituída sobretudopor mulheres na faixa etária dos 40 aos59 anos de idade, que se encontravamcasadas ou a viver em união de facto,cujas habilitações literárias correspon-diam ao ensino básico (1º, 2º ou 3º ci-clos) e que profissionalmente seencontravam empregadas. Embora estepadrão de resultados se verifique tam-bém no grupo de mulheres da popula-ção geral, apenas no que respeita àshabilitações literárias os grupos mostra-ram ter uma distribuição homogénea.

No que respeita à caracterizaçãoclínica do grupo de mulheres diagnos-ticadas com cancro da mama, no mo-mento de participação no estudo 104mulheres (51.5%) encontravam-se arealizar tratamento para o cancro damama (quimioterapia ou radioterapia)e 98 mulheres (48.5%) encontravam-se numa situação clínica indicadora deremissão total da doença, não estandoa realizar qualquer tratamento adju-vante de quimioterapia ou radiotera-pia, há pelo menos cinco meses. Éimportante realçar que, destas, 37 mul-heres encontravam-se a realizar cirur-gia de reconstrução da mama. Agrande maioria das mulheres foi diag-nosticada com Carcinoma DuctalInvasivo (75.4%), foi submetida amastectomia (64.3%) e não realizouesvaziamento dos gânglios linfáticosaxilares (57.8%). O protocolo de trata-mento adjuvante a que foram sujeitasem 38.6% dos casos, incluiu apenasquimioterapia; em 18.1%, apenas ra-

dioterapia; e em 31.3% das situações,quimioterapia em combinação com ra-dioterapia, sendo que apenas uma mi-noria não realizou qualquer tratamentoadjuvante (9.6%). Nesta amostra,constata-se que 20.1% das mulherestinha já vivido uma recorrência da do-ença. Quanto ao tempo decorrido des-de o diagnóstico de cancro da mama, agrande maioria das mulheres teve con-hecimento da doença no último ano(46.4%), ainda que um número signi-ficativo de mulheres tenha sido diag-nosticada entre os 12 e 60 mesesantecedentes (22.1%) ou há mais de60 meses (31.5%).

Já no que respeita ao grupo de mul-heres da população geral, 33.8%referiram ter experienciado umacontecimento significativamenteadverso no último ano e meio,correspondendo, na sua maioria, asituações de perda ou morte de umelemento significativo (50%); pro-blema de saúde/doença (21.7%);desemprego/instabilidade profis-sional (13.0%); acidente (8.7%); eoutros tipos de situações não espe-cificadas (6.5%).

Instrumentos

O protocolo de avaliação foi cons-tituído pelos seguintes instrumentos:

1.Questionário de informação socio-demográfica e clínica: Questionárioconstruído pelos investigadores deforma a obter informação relativa às

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características sociodemográficas(idade, estado civil, habilitações li-terárias e situação profissional ac-tual) e também informação clínica(dados relacionados com a doençae os tratamentos). 2.Escala de avaliação subjectivado impacto da situação adversa:Conjunto de cinco questões desen-volvidas pelos investigadores noâmbito desta investigação. Estasquestões avaliam cinco áreas dofuncionamento psicológico, quecorrespondem aos cinco domíniosapresentados na versão original doInventário. Assim, é questionadoaos sujeitos “Que tipo de impactotem tido o diagnóstico de cancroda mama em diferentes áreas dasua vida, nomeadamente ao nível(1) do seu relacionamento com osoutros; (2) da sua espiritualidadeou crenças pessoais; (3) da suaapreciação da vida; (4) do surgi-mento de novas oportunidades (ex.profissionais, actividades de lazer,novos interesses, etc.) e (5) da suapercepção de força pessoal?”. Ossujeitos respondem ao tipo de im-pacto percebido numa escala tipoLikert de cinco pontos, que oscilaentre “muito negativo” e “muitopositivo”.3. Inventário de Desenvolvimento Pós-Traumático (IDPT, The PosttraumaticGrowth Inventory) : (Tedeschi &Calhoun, 1996). Este inventário éconstituído por 21 itens, que ex-pressam mudanças psicológicas

positivas ocorridas após um aconte-cimento adverso. Na versão original,estes itens organizam-se em cincodomínios de DPT: Apreciação daVida; Novas Possibilidades; ForçaPessoal; Relacionamento com osOutros; e Mudança Espiritual.No presente estudo, e com a devidaautorização dos autores, foi utiliza-da a tradução portuguesa realizadapor M. G. Pereira e R. Teixeira noâmbito de uma investigação a deco-rrer na Universidade do Minho. Noentanto, devido ao facto da amostradeste estudo ter sido constituída porum grupo específico de mulherescom cancro da mama, a instruçãofoi reformulada para a seguinte:“Determinados acontecimentos crí-ticos de vida, como por exemplo, odiagnóstico e tratamento de umadoença, a perda de um filho, umaborto não desejado, um acidente,entre outros, implicam um conjuntode mudanças significativas. De se-guida, são apresentadas váriasafirmações que reflectem mudan-ças que poderão ter ocorrido nasua vida desde que tomou conheci-mento da sua doença. Cada afirma-ção corresponde a uma possívelmudança na sua vida. Para cadauma, deverá assinalar a respostaque melhor traduza o grau em queexperienciou essa mesma mudança. Já no grupo de mulheres da popula-ção geral, sendo desconhecido àpartida a ocorrência de um aconte-cimento adverso, foi introduzida

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uma questão antecedente de respos-ta fechada Sim/Não: “No últimoano e meio, considera ter ocorridona sua vida um acontecimento sig-nificativamente negativo ao pontode influenciar marcadamente a suavida? (Por exemplo: doença, perdade alguém significativo, desempre-go, acidente, assalto, entre ou-tros)”. Esta questão inicial foiseguida pela seguinte instrução:“De seguida, são apresentadas váriasafirmações que reflectem mudançasque poderão ter ocorrido na sua vidana sequência do acontecimento nega-tivo que indicou. Cada afirmação co-rresponde a uma possível mudançana sua vida. Em cada uma deverá as-sinalar a resposta que melhor traduzao grau em que experienciou essa mes-ma mudança. No caso de considerarque neste período de tempo não oco-rreu nenhum acontecimento significa-tivamente negativo, deverá, namesma, para cada afirmação, indicaro grau em que a cada mudança se tem(ou não) reflectido na sua vida no úl-timo ano e meio”.Todas as participantes responderamao Inventário de acordo com umaescala que oscila entre 0 “Eu nãoexperienciei esta mudança como re-sultado do acontecimento (da min-ha doença)” e 5 “Eu experiencieicompletamente esta mudança comoresultado do acontecimento (daminha doença)”. De forma a testar a compreensibili-dade e adequação dos itens e das

respectivas instruções em ambos osgrupos, cada uma das versões doInventário foi previamente admi-nistrada a um pequeno grupo demulheres com cancro da mama ede mulheres da população geral.4. Versão breve do instrumento deavaliação da Qualidade de Vida daOrganização Mundial de Saúde(WHOQoL-Bref, World HealthOrganization Quality of Life) (TheWHOQOL Group, 1998; versãoportuguesa: Vaz Serra et al., 2006).Este instrumento é constituído por26 questões, que permitem umaavaliação genérica, multidimensio-nal e multicultural da percepçãosubjectiva de qualidade de vida. OWHOQoL-Bref comporta uma fa-ceta geral de avaliação de qualidadede vida e de percepção geral de sa-úde, e 24 facetas específicas. Estasavaliam aspectos particulares dequalidade de vida e organizam-seem 4 domínios: Físico, Psicológico,Relações Sociais e Ambiente.No presente trabalho, e para efeitosde estudo da validade convergentedo IDPT, foram apenas tomadas emconsideração as seguintes facetas:“sentimentos positivos” (“Até queponto gosta da vida?”); “sentimen-tos negativos” (“Com que frequên-cia tem sentimentos negativos, taiscomo tristeza, desespero, ansieda-de ou depressão?”); “auto-estima”(“Até que ponto está satisfeito con-sigo próprio?”); “espiritualidade /religião / crenças pessoais” (“Em

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que medida sente que a sua vidatem sentido?”) - domínio Psicológico- “relações pessoais” (“Até que pon-to está satisfeito com as suas relaçõ-es pessoais?”); “suporte social”(”Até que ponto está satisfeito com oapoio que recebe dos seus amigos?”)- domínio Relações Sociais - e, porúltimo, a faceta “participação em/eoportunidade de recreio/lazer” (”Emque medida tem oportunidade pararealizar actividades de lazer?”) - do-mínio Ambiente.

Procedimento

As participantes foram pessoal-mente contactadas pelos investigado-res, de forma a se proceder àapresentação e esclarecimento dos ob-jectivos do estudo. Às mulheres quevoluntariamente aceitaram participar,foi-lhes entregue um envelope que in-cluía o protocolo de avaliação e o con-sentimento informado, no qual eramexplicitados os objectivos do estudo eo papel das participantes, bem comogarantida a confidencialidade das res-postas. Depois de preenchido o proto-colo, este era entregue pessoalmenteaos investigadores ou, em caso de im-possibilidade, via correio.

Análises Estatísticas

O tratamento estatístico dos dadosfoi realizado recorrendo ao pacote es-tatístico SPSS, versão 15.0. Para adescrição dos dados de caracterização

da amostra, foram calculadas as esta-tísticas descritivas, nomeadamentemédias e desvios-padrão, para as va-riáveis contínuas, e cálculo das fre-quências simples e relativas, para asvariáveis categoriais. Para a análisedas diferenças entre as característicassociodemográficas dos grupos, foramutilizados o teste do Qui-quadrado e oteste t-student. Com intuito de estudara estrutura factorial do IDPT numaamostra de mulheres com cancro damama, foi realizada uma análise fac-torial exploratória com recurso ao mé-todo Componentes Principais, comrotação ortogonal tipo Varimax, tendosido retidos os factores cujo valor pró-prio (eigenvalue) fosse igual ou supe-rior a 1 e os itens com saturação, empelo menos um factor, igual ou supe-rior a 0.4. Para a análise da consistên-cia interna, foram calculados oscoeficientes alpha de Cronbach e debipartição Split-half. Além disso, fo-ram também calculados os coeficien-tes de correlação item-total, item-totalcorrigido e alpha de Cronbach ex-cluindo o item. No âmbito dos estudosda validade de constructo, recorreu-seainda aos coeficientes de correlaçõesde Pearson e à análise de variânciamultivariada (MANOVA), utilizando-se o teste Post-hoc de Bonferroni, deforma a analisar as diferenças de mé-dias nas várias dimensões do IDPT,entre diferentes grupos. Para testar ascorrelações entre as várias subescalasdo IDPT e os níveis de impacto da ex-periência de cancro da mama (variável

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categorial) foram criados duas variá-veis dummy para cada uma das cincoáreas do funcionamento psicológico(impacto positivo vs impacto negativo).

RESULTADOS

Em seguida, são apresentados osresultados relativos ao estudo da es-trutura factorial do IDPT, da fiabilida-de (particularmente da consistênciainterna dos itens) e por último, da va-lidade de constructo.

Análise Factorial Exploratória

De forma a conhecer as dimensõessubjacentes às 21 questões que consti-tuem o IDPT, foi realizada uma análisefactorial exploratória com utilizaçãodo método Componentes Principais,seguida de rotação ortogonal tipoVarimax, não se determinando previa-mente o número de factores a reter. Osresultados obtidos através de análisespreliminares realizadas, nomeadamen-te o índice Keiser-Meyer-Olkin (KMO= .911) e o teste de esfericidade deBartlett (Bartlett(210) = 2588.410; p =.000), confirmam a adequação da aná-lise factorial na amostra considerada.

No Quadro 2, são apresentados osresultados obtidos na análise factorialem componentes principais, nomea-damente os valores próprios (eigenva-lues), a percentagem de variânciaexplicada e as saturações de cada itemnos respectivos factores.

Os resultados indicam uma soluçãoconstituída por 4 factores, com valorpróprio (eigenvalue) superior a 1 (cri-tério de Kaiser). Esta estrutura é co-rroborada pela representação gráficascree plot, que apresenta uma distri-buição dos itens em 4 factores dife-renciáveis acima do ponto deinflexão. Na sua totalidade, a soluçãoobtida é explicativa de 65.5% da va-riância total do instrumento, sendo oFactor 1 explicativo de 45.1% da va-riância e os restantes 3 factores, de8.3% (Factor 2), 6.7% (Factor 3) e5.2% (Factor 4). Para além de todosos itens apresentarem uma saturaçãoigual ou superior a .4 em pelo menosum factor, é relevante verificar que agrande maioria satura acima de.6, oque é abonatório da validade da solu-ção factorial encontrada.

Considerando como critério de re-tenção de itens, saturações superioresa .40, constata-se que a grande maio-ria dos itens satura apenas num factor,à excepção dos itens 14, 4, 20, 9 e 17,que apresentam pesos superiores a .40em dois ou mais factores. Assim sen-do, o critério de inclusão de um itemnum determinado factor, para além deter sido baseado num critério estatísti-co, mais concretamente no valor maiselevado de saturação, teve tambémem conta o seu significado conceptuale teórico. Desta forma, optou-se pelamanutenção dos itens nos factores cu-ja carga factorial fosse superior, ex-ceptuando os itens 16, 4, e 17 que,

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Quadro 2. Análise em componentes principais com rotação Varimax -Extracção de 4 factores

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F1 F2 F3 F4

Est

ud

o or

igin

al -

Fac

tor

10. Sei que consigo lidar melhor com as dificuldades. .852 3

12. Consigo aceitar o resultado das coisas de forma melhor. .739 3

11. Consigo fazer coisas melhores com a minha vida. .730 2

19. Descobri que sou mais forte do que pensava ser. .605 3

13. Consigo apreciar melhor cada dia. .566 5

16. Dedico-me mais às minhas relações. .437 .367 1

1. Mudei as minhas prioridades sobre o que é importante na vida. .789 5

2. Tenho uma apreciação maior pelo valor da minha própria vida. .764 5

3. Desenvolvi novos interesses. .722 2

7. Estabeleci um novo rumo para a minha vida. .676 2

14. Existem outras oportunidades que não teriam existido antes. .567 .409 2

4. Sinto que posso contar mais comigo próprio. .506 .507 3

6. Tenho uma ideia mais clara de que posso contar com as pessoas em tempos de dificuldade

.775 1

21. Aceito melhor necessitar dos outros. .683 1

8. Sinto-me mais próximo das outras pessoas .665 1

20. Aprendi bastante sobre como as pessoas são maravilhosas. .490 .563 1

9. Estou mais disponível para demonstrar as minhas emoções. .454 .459 .464 1

17. É mais provável que tente mudar coisas que precisam de mudança.

.423 .460 2

18. Tenho uma maior fé religiosa. .852 4

5. Tenho uma melhor compreensão dos assuntos espirituais. .773 4

15. Tenho mais compaixão para com os outros. .651 1

Valor próprio (eigenvalue) 9.481 1.753 1.412 1.102

%Variância explicada 45.1 8.3 6.7 5.2

% Total de variância explicada 65.5

Nota. A disposição dos itens respeita a carga factorial e não a ordem com que cada item surgeno IDPT.

F1 - Percepção de Recursos e Competências Pessoais; F2 - Novas Possibilidades e Valorizaçãoda Vida; F3 - Fortalecimentos das Relações Interpessoais; F4 - Desenvolvimento Espiritual.

1 - Relacionamento com os Outros; 2 - Novas Possibilidades; 3 - Força Pessoal; 4 - MudançaEspiritual; 5 - Apreciação da Vida.

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embora com saturações superioresnos factores 1, 2 e 3, respectivamente,foi considerado que representariammelhor as dimensões avaliadas nofactor 3, no caso do item 16; no factor1, no caso do item 4; e no factor 2, nocaso do item 17. Embora a saturaçãodo item 16 no factor 3 seja menor doque .40 (.367), a alteração deste itemmostrou contribuir para um aumentoda consistência interna neste novofactor (facto que também se verificourelativamente aos restantes doisitens). Este facto permitiu-nos, por-tanto, optar com maior segurança pelanão manutenção no factor com maiorpeso factorial.

Assim sendo, o primeiro factor doIDPT é constituído pelos itens 4, 10, 11,12, 13 e 19 e foi denominado Percepçãode Recursos e Competências Pessoais(F1). Como se pode verificar, engloba ositens que segundo a versão original sedistribuem pelos factores Força Pessoal(item 4, 10, 12 e 19), NovasPossibilidades (item 11) e Apreciação daVida (item 13). O segundo factor, consti-tuído pelos itens 1, 2, 3, 7, 14 e 17, foiapelidado Novas Possibilidades eValorização da Vida (F2) e engloba itensque na versão de Tedeschi e Calhoun,constituem os factores Apreciação daVida (itens 1 e 2) e Novas Possibilidades(itens 3, 7, 14 e 17). Já o factor 3, com-preende os itens 6, 8, 9, 16, 20 e 21 e foidesignado Fortalecimento das RelaçõesInterpessoais (F3). Contrariamente aosanteriores factores, esta dimensão mos-trou-se bastante consistente com a subes-

cala Relacionamento com os Outros daversão original, englobando os mesmositens, à excepção do item 15. Por último,o factor Desenvolvimento Espiritual(F4), que inclui os itens 5, 15 e 18. Estefactor mantém-se também muito próxi-mo da subescala Mudança Espiritual daversão original, contando no entanto,com a inclusão do item 15 “Tenho maiscompaixão para com os outros”.

Estudo da Fidelidade

Para avaliar a fidelidade do IDPT,foi analisada a sua consistência inter-na através da determinação do alphade Cronbach e dos coeficientes de bi-partição Split-half, para o total doInventário e para cada uma das suassubescalas (Quadro 3).

Como se observa, o coeficiente al-pha de Cronbach encontrado para oresultado Total na amostra em estudoé de .937, o que é um indicador de umgrau muito bom de consistência inter-na. Também no que respeita a cadauma das subescalas, os índices de fi-delidade obtidos situam-se entre .8 e.9, o que revela a boa consistência doIDPT. Os valores do coeficiente split-half atestam no mesmo sentido.

No que respeita ao grupo da popula-ção geral, foi encontrado um coeficientealpha de Cronbach = .963 para o resulta-do Total de DPT e α = .924 para a su-bescala Percepção de Recursos eCompetências Pessoais; α = .885 para asubescala Novas Possibilidades eValorização da Vida; α = .910; para a su-

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Quadro 3. Consistência interna do Inventário de Desenvolvimento Pós-Traumático - Total e subescalas

Quadro 4: Estudo dos itens do Inventário de Desenvolvimento Pós-Traumático

Factores doIDPT

Nº itensMédia (Desvio-

padrão)Alpha deCronbach

Coeficiente de bipartição (Split-half)

F1 6 19.90 (6.58) .874 .885

F2 6 16.77 (7.26) .858 .786

F3 6 19.82 (6.44) .857 .824

F4 3 9.61 (4.15) .810 .808

Total 21 66.10 (20.82) .937 .898

bescala Fortalecimentos das RelaçõesInterpessoais; e por último, α = .781 paraa subescala Desenvolvimento Espiritual.

De forma a aprofundar o estudo dositens do IDPT, foi também calculado o

coeficiente de correlação entre cadaitem e o total de cada subescala a quepertence, o coeficiente de correlaçãoitem-total corrigido e ainda o alpha deCronbach excluindo o item (Quadro 4).

Nota. F1 - Percepção de Recursos e Competências Pessoais; F2 - Novas Possibilidades eValorização da Vida; F3 - Fortalecimentos das Relações Interpessoais; F4 - Desenvolvimento Espiritual.

***p < .001.

Factores doIDPT

ItensMédia (Desvio-

padrão)CorrelaçãoItem-Total

Correlação Item-Total Corrigida

Alpha de Cronbachexcluindo o item

Percepção deRecursos eCompetênciasPessoais

4 2.98 (1.53) .748*** .614 .86410 3.41 (1.37) .830*** .744 .84011 2.86 (1.50) .838*** .746 .83912 3.15 (1.39) .860*** .785 .83313 3.48 (1.43) .789*** .682 .85119 4.02 (1.17) .623*** .494 .879

NovasPossibilidades eValorização daVida

1 2.96 (1.63) .728*** .591 .8452 3.70 (1.46) .742*** .628 .8383 2.56 (1.62) .807*** .704 .8247 2.56 (1.64) .843*** .754 .81414 2.06 (1.61) .752*** .627 .83817 2.94 (1.52) .716*** .587 .845

Fortalecimentosdas RelaçõesInterpessoais

6 3.73 (1.22) .616*** .477 .8608 3.11 (1.40) .827*** .735 .8169 3.00 (1.56) .790*** .666 .82916 3.06 (1.49) .760*** .631 .83620 3.56 (1.33) .758*** .646 .83321 3.35 (1.42) .818*** .721 .818

DesenvolvimentoEspiritual

5 3.07 (1.64) .845*** .645 .75415 3.32 (1.53) .803*** .590 .80718 3.22 (1.71) .903*** .752 .637

Da leitura do Quadro 4, pode veri-ficar-se que todos os itens mantêm co-rrelações bastante elevadas eestatisticamente significativas com ototal de cada subescala a que perten-cem, situando-se entre .616 e .903, oque corresponde a uma associaçãobastante forte. Refira-se que, apesarde não se apresentarem os resultados,esta associação mostrou ser tambémmais forte para a subescala a que per-tencem, do que para qualquer outrasubescala. Paralelamente, as correla-ções item-total corrigido situam-se nasua quase totalidade acima de .50, oque indica uma boa homogeneidadedos itens e que estes são capazes deisoladamente, representar de formaadequada o constructo que cada su-bescala pretende medir. À excepçãodos itens 6 e 19, o valor de alpha deCronbach de cada subescala excluin-do o item é sempre inferior ao respec-tivo alpha global, indicando que todosos itens contribuem positivamente pa-ra a consistência interna de cada umadas dimensões do IDPT.

Estudo da Validade

Para o estabelecimento da validadede constructo, para além da análisefactorial, foi calculada a matriz de co-rrelações entre as subescalas, e entrecada uma das subescalas e o resultadoTotal do IDPT (Quadro 5). Os resulta-dos mostram que todas as subescalasdo IDPT apresentam entre si correlaçõ-es moderadas e estatisticamente signi-

ficativas, situando-se entre .49 e .70.Para além disso, correlações igualmen-te significativas mas manifestamentemais elevadas, foram encontradas naassociação entre cada subescala e o re-sultado Total de DPT, o que mostra quetodos os factores contribuem para aavaliação de um mesmo constructo,nomeadamente a experiência de mu-danças psicológicas positivas.

Por outro lado, à semelhança do pro-cedimento utilizado pelos autores daversão original para testar a validade deconstructo, e simultaneamente, a capaci-dade do IDPT para diferenciar grupos deindivíduos com características distintas(validade discriminante), foram testadasas diferenças nas respostas aoInventário, entre as mulheres da amostraem estudo e dois grupos de mulheres dapopulação geral: um grupo que referiuter vivido um acontecimento potencial-mente traumático no último ano e meio,e um grupo de mulheres que referiu nãoter experienciado qualquer tipo de acon-tecimento desta natureza (Quadro 6).

A comparação de médias entre osgrupos resultou em diferenças estatis-ticamente significativas em todas assubescalas, e igualmente no resultadoTotal de DPT, entre o grupo de mulhe-res com cancro da mama e o grupo quenão experienciou um acontecimentotraumático, assim como entre este últi-mo e o grupo de mulheres da popula-ção geral que viveu uma situaçãoadversa. Estes resultados sugerem queo instrumento mede, efectivamente, oconstructo teórico subjacente, que se

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Quadro 5. Correlações entre as subescalas e o resultado Total doInventário de Desenvolvimento Pós-Traumático

Quadro 6. Comparações de médias entre o grupo de mulheres com cancroda mama e dois grupos de mulheres da população geral “com e sem

vivência de um acontecimento traumático” nas subescalas e no resultadoTotal do Inventário de Desenvolvimento Pós-Traumático

Novas Possibilidadee Valorização da

Vida (F2)

Fortalecimento dasRelações

Interpessoais (F3)

DesenvolvimentoEspiritual (F4)

Total

F1 .664*** .700*** .551*** .874**

F2 .677** .487*** .865***

F3 .617*** .890***

F4 .734***

Nota. F1 - Percepção de Recursos e Competências Pessoais; F2 - Novas Possibilidades eValorização da Vida; F3 - Fortalecimentos das Relações Interpessoais; F4 - Desenvolvimento Espiritual.

**p < .01. ***p < .001.

IDPTCancro damama (1) n = 200

População geral

Fa Post-hocBonferroni

Com acont.Traumático(2) n = 46

Sem acont.traumático (3)

n = 90

F1 19.9 (6.6) 17.0 (8.4) 13.5 (8.2) 24.417***1>2,3 2>3

F2 16.8 (7.3) 15.4 (7.6) 11.3 (8.0) 16.907***1>3 2>3

F3 19.8 (6.4) 16.7 (7.7) 12.6 (7.8) 33.727***1>2,3 2>3

F4 9.6 (4.2) 8.9 (4.2) 6.5 (4.1) 17.590***1>32>3

Total 66.1 (20.8) 58.0 (25.3) 43.8 (25.7) 29.745***1>3 2>3

Nota. aMANOVA (Pillais´ Trace = .182, F(2, 335) = 8.312, p < .001, η2 = .091). (1) grupo de mulheres com cancro da mama. (2) grupo de mulheres da população geral com

vivência de um acontecimento traumático. (3) grupo de mulheres da população geral sem vivênciade um acontecimento traumático.

F1 - Percepção de Recursos e Competências Pessoais; F2 - Novas Possibilidades e Valorizaçãoda Vida; F3 - Fortalecimentos das Relações Interpessoais; F4 - Desenvolvimento Espiritual.

***p < .001.

prende com a percepção de mudançaspsicológicas positivas ocorridas no se-guimento de vivências traumáticas, enão a experiência de melhoria pessoale relacional decorrente do processonatural de desenvolvimento humano.

Paralelamente, diferenças encon-tradas ao nível dos factores Percepçãode Recursos e Competências Pessoaise Fortalecimentos das RelaçõesInterpessoais, favoráveis para o grupode mulheres com cancro da mama, re-lativamente ao grupo de mulheres queviveu outro tipo de acontecimento,são também reveladores da capacida-de do IDPT para discriminar grupos desujeitos que, em virtude de terem vivi-do diferentes ocorrências traumáticas,supõe-se que apresentem resultadosdistintos num determinado momento.

Ainda no âmbito dos estudos de valida-de, e de forma a averiguar se o DPT se as-socia a outras variáveis que a literatura temevidenciado como estando conceptual-mente associadas (validade convergente),foram calculados os coeficientes de corre-lação entre as subescalas do IDPT e algu-mas facetas da qualidade de vida. Noquadro 7 são apresentadas as correlaçõescom as facetas do domínio Psicológico,“sentimentos positivos”, “sentimentos ne-gativos”, “auto-estima” e “espiritualidade /religião / crenças pessoais”; as facetas dodomínio Relações Sociais, “relações pes-soais” e “suporte social” e a faceta do do-mínio Ambiente, “participação em/eoportunidade de recreio/lazer”.

Os resultados mostram que a su-bescala Percepção de Recursos e

Competências Pessoais, mantém as-sociações positivas significativascom a faceta “auto-estima”. Alémdisso, associa-se significativamentecom as restantes facetas considera-das. Da mesma forma, a subescalaNovas Possibilidades e Valorizaçãoda Vida associa-se positivamentecom as facetas “sentimentos positi-vos” e “participação em/e oportuni-dade de actividades de recreio e/oulazer”. Simultaneamente, correlaciona-sepositivamente com as facetas “auto-esti-ma”, “espiritualidade / religião / crençaspessoais” e “relações pessoais”. Já a di-mensão Fortalecimento das RelaçõesInterpessoais, revelou correlacionar-se aum nível estatisticamente significativocom as facetas “relações pessoais” e “su-porte social”. Para além disso, associou-se também às restantes facetas, comexcepção da relativa a “sentimentos ne-gativos”. No que respeita à dimensãoDesenvolvimento Espiritual, e contra-riando a nossa hipótese, esta não se asso-ciou a um nível significativo comqualquer faceta da qualidade de vida.Finalmente, o resultado Total de DPTrevelou associações positivas com to-das as facetas consideradas mas a as-sociação com a faceta “sentimentosnegativos” não é mais uma vez signi-ficativa. É interessante notar que estafaceta apenas mostrou correlacionar-se significativa e positivamente como factor Percepção de Recursos eCompetências Pessoais.

De forma a testar a validade convergen-te do IDPT, para além destas associações,

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foram ainda testadas as correlações comos níveis de impacto da experiência decancro da mama nas cinco áreas do fun-

cionamento psicológico, avaliados pelaEscala de avaliação subjectiva do impac-to da situação adversa (Quadro 8).

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Quadro 7. Correlações entre as dimensões do Inventário deDesenvolvimento Pós-Traumático e as facetas da qualidade de vida

Qualidade de VidaDesenvolvimento pós-traumático

F1 F2 F3 F4 TotalD. Psicológico

Sentimentos positivos .364*** .282*** .312*** .108 .332***Sentimentos negativos .184** .042 .105 -.088 .088Auto-estima .328*** .160* .253*** .042 .247***Espiritualidade / crenças pessoais .403*** .262*** .345*** .095 .346***

D. Relações SociaisRelações pessoais .285*** .169* .290*** .087 .257***Suporte Social .140* .085 .223** .017 .147*

D. Ambiente

Participação em / e oportunidade derecreio/lazer

.258*** .162* .215** -.044 .196**

Nota. F1 - Percepção de Recursos e Competências Pessoais; F2 - Novas Possibilidades eValorização da Vida; F3 - Fortalecimentos das Relações Interpessoais; F4 - Desenvolvimento Espiritual.

*p < .05. **p < .01.***p < .001.

Nota. F1 - Percepção de Recursos e Competências Pessoais; F2 - Novas Possibilidades eValorização da Vida; F3 - Fortalecimentos das Relações Interpessoais; F4 - Desenvolvimento Espiritual.

a Para o impacto positivo: 0 - impacto nulo, 1 - impacto positivo; b Para o impacto negativo: 0 -impacto nulo, 1 - impacto negativo.

*p < .05. **p < .01.***p < .001.

Impacto do acontecimento adverso

Desenvolvimento pós-traumáticoF1 F2 F3 F4 Total

Relação com os outros – imp.+ a .266*** .193* .298*** .163* .280***Relação com os outros – imp.- b -.137 -.080 -.136 -.064 -.128Espiritualidade – imp.+ a .300*** .194* .249*** .501*** .341***Espiritualidade – imp.- b -.186* .000 -.114 -.179* -.130Apreciação da vida – imp.+ a .386*** .217** .280*** .145 .314***Apreciação da vida – imp.- b -.205** -.039 -.054 -.028 -.100Novas oportunidades – imp.+ a .245** .244** .199* .236** .272***Novas oportunidades – imp.- b -.178* -.113 -.188* -.047 -.164*Força pessoal – imp.+ a .437*** .118 .301*** .179* .319***Força pessoal – imp.- b -.187* .015 -.112 -.041 -.097

Quadro 8: Correlações entre as dimensões do Inventário deDesenvolvimento Pós-Traumático e os índices de impacto do

acontecimento adverso em cinco áreas do funcionamento psicológico

No Quadro 8, verifica-se que quan-do a experiência de cancro da mama éavaliada como tendo tido um impactopositivo, ao nível das várias áreas dofuncionamento psicológico considera-das, tal associa-se com níveis mais ele-vados de DPT. Assim, a subescala doIDPT, Percepção de Recursos eCompetências Pessoais, apresenta as-sociações positivas com o item percep-ção de impacto positivo ao nível daForça Pessoal; a subescala Novas pos-sibilidades e Valorização da Vida, comos itens percepção de impacto positivoao nível da Apreciação da Vida e surgi-mento de Novas Oportunidades; a su-bescala Fortalecimento das RelaçõesInterpessoais, com o item percepção deimpacto positivo ao nível das Relaçãocom os Outros; e por último, a subesca-la Desenvolvimento Espiritual associa-se positivamente a uma percepção deimpacto positivo do cancro da mama aonível da Espiritualidade e CrençasPessoais.

Já quando a experiência de cancroda mama é percepcionada como tendotido um impacto negativo, as associa-ções com as várias subescalas do IDPTsão negativas na sua quase totalidade emaioritariamente não significativas.

DISCUSSÃO

O presente trabalho teve como ob-jectivo o estudo das características psi-cométricas do Posttraumatic GrowthInventory numa amostra de mulheresda população portuguesa com história

pessoal de cancro da mama. Emboraos resultados obtidos não repliquem aestrutura factorial original, parecempermitir-nos concluir pela existênciade boas características psicométricas,legitimando a sua utilização em con-texto clínico e de investigação.

Efectivamente, a solução factorialencontrada é constituída por quatro fac-tores que na sua totalidade são respon-sáveis por 65.5% da variabilidade dasrespostas ao Inventário, e que englo-bam os itens das cinco subescalas pro-postas no estudo original, responsáveispor uma percentagem de variabilidadeidêntica à por nós encontrada (62%).

Recorrendo a um critério estatístico,mas tendo igualmente em conta o sig-nificado conceptual e teórico de cadaitem, foi considerado que o primeirofactor do IDPT, constituído por seisitens, reflecte um conjunto de mudan-ças positivas na percepção de si mesmoe dos seus recursos e competências.Assim, este factor que alude a umamaior auto-percepção de competênciana condução da vida, de maior forçapessoal e resistência face à adversidadee de maior capacidade de aceitação deresultados negativos, foi denominadoPercepção de Recursos e CompetênciasPessoais.

Já o segundo factor, NovasPossibilidades e Valorização da Vida,é igualmente constituído por seis itensque espelham mudanças que se mani-festam numa nova conceptualizaçãoda vida, fortemente mais valorizada eapreciada, numa nova hierarquização

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de prioridades e numa maior aberturaà mudança, bem como a novos inte-resses e possibilidades de vida.

O terceiro factor, designadoFortalecimento das Relações Inter-pessoais, é demonstrativo de mu-danças que se traduzem numarevalorização e reaproximação emrelação aos outros significativos,numa maior consciencialização danecessidade de apoio e de ser apoia-do e numa maior disponibilidade pa-ra a partilha de afectos e emoções.

Por último, o factor DesenvolvimentoEspiritual, constituído por três questõ-es indiciadoras do incremento de umaatitude mais empática, altruísta e soli-dária para com os outros.

À semelhança dos dados do presenteestudo, também noutros estudos inter-nacionais de validação do IDPT, foramencontradas estruturas factoriais dife-rentes da original. A título ilustrativo,num estudo de validação Chinesa, reali-zado com 188 sobreviventes de cancro,através de uma análise factorial confir-matória, foi encontrada e corroboradauma estrutura constituída por quatrofactores que, segundo os autores, reflec-tem as dimensões pessoal, interpessoal,existencial e espiritual. Embora a orga-nização dos itens pelos respectivos fac-tores seja relativamente diferente daaqui apresentada, as dimensões subja-centes à validação Chinesa mostram-sesemelhantes às dimensões encontradasno presente estudo.

Os resultados relativos ao estudoda fidelidade do IDPT são bastante

bons. Efectivamente, os valores deconsistência interna obtidos, tanto pa-ra o resultado Total de DPT como pa-ra as respectivas quatro dimensões,são suficientemente elevados, indi-cando, o conjunto dos resultados, aboa robustez do Inventário. Do mes-mo modo, as análises levados a cabo apropósito dos estudos de validade, no-meadamente no que se refere às eleva-das associações entre as váriasdimensões e o Total do IDPT, bem co-mo à comparação dos níveis de desen-volvimento pessoal e relacional, entrea amostra em estudo e um grupo demulheres que não referiu ter experien-ciado no último ano e meio um acon-tecimento significativamente negativoao ponto de influenciar marcadamentea sua vida, permitem-nos reiterar quetodos os itens incluídos no IDPT con-vergem na avaliação de um mesmoconstructo, que se refere a mudançaspsicológicas positivas experimentadascomo consequência de um aconteci-mento significativamente negativo.Desta forma, pode então afirmar-seque esta experiência não correspondea uma percepção de maturação psico-lógica subjacente ao processo norma-tivo de desenvolvimento humano, umdos aspectos mais controversos nacompreensão do fenómeno de DPT.

Os resultados dos estudos realiza-dos no âmbito da validade discrimi-nante do IDPT, mais concretamente,as diferenças significativas observa-das entre as mulheres diagnosticadascom cancro da mama, relativamente

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às mulheres da população geral comoutros tipos de acontecimentos adver-sos (nas subescalas Percepção deRecursos e Competências Pessoais eFortalecimentos das Relações Inter-pessoais) e de ambos os grupos, rela-tivamente às mulheres que nãoreferiram ter vivido um acontecimen-to traumático (em todas as dimensõesdo IDPT), confirmam o potencial doIDPT para reflectir diferenças entreindivíduos, ou populações de indiví-duos, que se supõe serem diferentesnum determinado momento, em virtu-de de terem (ou não) vivido diferentesocorrências traumáticas. Na medidaem que só os acontecimentos que des-afiam, contradizem ou, até mesmo,anulam o sistemas de crenças dos in-divíduos obrigam a um processamen-to cognitivo precursor da experiênciade mudanças positivas, consideramosque estes resultados se constituem co-mo contributos adicionais para o estu-do da validade de constructo, aomostrarem que quanto mais ameaça-dor é o acontecimento para a vida esuposições básicas dos indivíduos,maior é a experiência de DPT.

Ainda no âmbito dos estudos devalidade, o teste das associações entreas várias dimensões do IDPT e outrasvariáveis conceptualmente associadasà experiência de mudanças psicológi-cas positivas, permitiu demonstrar avalidade convergente do IDPT, evi-denciando, simultaneamente, o signi-ficado adaptativo da experiência dedesenvolvimento pessoal e relacional,

pelo menos em algumas áreas da qua-lidade de vida. No que respeita à di-mensão Desenvolvimento Espiritual,contrariamente ao que seria de esperar,esta não revelou correlacionar-se comnenhuma das facetas em estudo, nome-adamente com a faceta “espiritualidade/ religião / crenças pessoais”. Este re-sultado poderá relacionar-se com even-tuais diferenças entre esta dimensãoespiritual do IDPT, e a facetaEspiritualidade do WHOQoL-Bref,que avalia uma dimensão mais existen-cial da experiência humana. Por outrolado, a faceta da qualidade de vida “sen-timentos negativos” mostrou associaçõ-es positivas com a subescala Percepçãode Recursos e Competências Pessoais, oque, embora à partida possa parecer pa-radoxal, corrobora a literatura científica,que tem chamado a atenção para a pos-sibilidade do DPT poder coexistir comalguns sinais de mal-estar psicológico,cuja manutenção se constitui como umpré-requisito para a experiência de DPT.

Também as correlações significati-vas encontradas entre as várias di-mensões do Inventário, com os itensda escala de avaliação subjectiva doimpacto do acontecimento adverso(que correspondem aos cinco domí-nios de DPT propostos por Tedeschi eCalhoun ), parecem-nos permitir cer-tificar a validade convergente. Assim,quando a experiência de cancro damama é avaliada como tendo tido umimpacto positivo ao nível das váriasáreas do funcionamento psicológicoconsideradas, são encontrados níveis

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mais elevados de DPT, sendo que aum impacto negativo do cancro damama se associa uma menor expe-riência de DPT.

Por tudo isto, consideramos que oIDPT constitui-se como um instru-mento de grande utilidade permitindoavaliar, com precisão e rapidez, a per-cepção de mudanças psicológicas po-sitivas após a vivência de umacontecimento adverso ou potencial-mente traumático. Para além disso,tem a vantagem de ser flexível ao pon-to de poder ser administrado em con-textos clínicos e de investigação, tantoem amostras seleccionadas a partir desituações específicas e previamenteidentificadas como traumáticas, comoem amostras da população geral, semo investigador ter à partida conheci-mento da ocorrência de algum aconte-cimento vivido como traumático.

Ainda que também se possa consti-tuir como uma medida útil de algunsaspectos da adaptação psicológica, nocontexto da resposta a situações trau-máticas, o IDPT não deve ser utiliza-do de forma isolada na despistagemde necessidades de intervenção. Pode,contudo, ser um recurso importante naidentificação de indivíduos que co-rram riscos de perturbações de adap-tação crónicas e no estabelecimentodos objectivos específicos de inter-venção, dirigidos às necessidades sin-gulares de cada indivíduo.

Embora este estudo se revista decarácter inovador, ao focar a avaliaçãoda possibilidade de ocorrência de mu-

danças positivas após uma situação vi-vida como traumática, reveste-se de al-gumas limitações, nomeadamente, anão inclusão de uma amostra do sexomasculino e a sua natureza transversal,não contemplando a avaliação da esta-bilidade / mudança da experiência deDPT. Para além disso, neste estudo nãoforam testadas possíveis diferenças aonível da intensidade do DPT, consoantea fase da doença em que a mulher seencontra (tratamentos vs sobrevivên-cia), sendo importante que estudos fu-turos tenham em linha de conta asparticularidades das diferentes etapasda trajectória da doença. Paralelamente,será importante relacionar as respostasao IDPT com outras medidas psicológi-cas, nomeadamente de personalidade,psicopatologia, recursos de coping e,especialmente, com medidas qualitati-vas. Por outro lado, dever-se-ão desen-volver estudos noutras amostras desujeitos que experienciaram outros ti-pos de situações adversas, sobretudo dedesenho longitudinal, de forma a com-preender continuidades e mudanças noque se refere à percepção de mudançaspositivas, no simples decorrer do tem-po, por um lado, e à medida que outrosacontecimentos adversos possam oco-rrer na vida dos sujeitos, por outro.

CONCLUSÃO

Nos últimos anos, um grande nú-mero de investigações tem mostradoque apenas uma pequena percentagemde pessoas expostas à adversidade

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AGRADECIMENTO

Os autores agradecem ao Professor Doutor Mário Rodrigues Simões(Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra)as sugestões dadas no âmbito dos estudos de validação do IDPT.

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Em proeminente expansão emcontexto clínico e de investigação,sobretudo a nível internacional, aconceptualização de um aconteci-mento negativo como uma oportuni-dade de mudança para trajectóriasmais adaptativas, parece ser indispen-sável para uma melhor compreensãoda diversidade humana, pelo que nosparece urgente estimular o desenvol-vimento de estudos e propostas de in-tervenção que a contemplem.

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