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N° 2 – Dezembro de 2006 – Plantas:Plantas:Plantas:Plantas: Cimicifuga
As definições dos termos em itálico estão disponíveis em: www.ufrgs.br/boletimcimrs
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BOLETIM INFORMATBOLETIM INFORMATBOLETIM INFORMATBOLETIM INFORMATIIIIVO DO CIMVO DO CIMVO DO CIMVO DO CIM----RSRSRSRS
CIMICIFUGA
(Cimicifuga racemosa L)
(Black Cohosh, Cimicifuga1, Actaea racemosa
2)
Introdução
A cimicifuga é originária do oeste da
América do Norte. Sua raiz era utilizada pelos índios
para picadas de serpentes e para trabalho de parto. No
fim do século XIX, a planta foi utilizada para febre
reumática3.
O uso tem variado ao longo do tempo.
Atualmente, é utilizada para controlar os sintomas da
menopausa como alternativa à terapia de reposição
hormonal convencional1. É considerada como a
principal planta utilizada como “remédio” para
problemas da menopausa4. São utilizados extratos
secos de rizomas e raízes da planta.
No Brasil, esta planta faz parte da
composição de vários medicamentos fitoterápicos
como Tepemen (Abnat), Mencirax (Ativus),
Menocimed (Cimed), Tensiane (Greenfarma) e
Clifemim (Herbarium), dentre outros5. O extrato de
cimicifuga foi registrado com indicação para
tratamento dos sintomas do climatério6.
Composição e ação
O extrato de cimicifuga contém glicosídeos
triterpênicos (acteína, 27-deoxiacteína,
cimicifugosídeo2,4, cimiracenosídeo A2), flavonóides,
particularmente isoflavona formononetina2, ácidos
fenólicos (ácido fucinol), óleos voláteis, taninos,
ácido salicílico e ácido isoferúlico4. Os constituintes
formononetina (isoflavona) e o triterpeno 27-
deoxiacteína, são classificados como fitoestrogênios7.
Acredita-se que o efeito da cimicifuga é resultado do
complexo sinergismo dos componentes4.
O mecanismo de ação da cimicifuga não está
totalmente esclarecido, algumas publicações sugerem
ação sobre os receptores estrogênicos. Os efeitos
farmacológicos nos sintomas da menopausa são
justificados pela ação de feedback negativo nos
receptores de estrogênio α e β que irá reduzir os
níveis de hormônio luteinizante (LH). Esta redução é
responsável pelo abrandamento dos sintomas. As
pesquisas concentram-se, em sua maior parte, na
atividade estrogênica da planta8. É classificada como
modulador hormonal9.
Os fitoestoestrogênios presentes nos rizomas
possuem um leve efeito de ligação aos receptores de
estrogênio. O constituinte ácido isoferúlico apresenta
efeito antiinflamatório e diminui o espasmo
muscular. O ácido salicílico caracteriza as
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propriedades antiinflamatórias e analgésicas da
planta. Extratos padronizados (em glicosídeos
terpênicos)10 têm demonstrado melhorar sintomas da
menopausa e pré-menopausa em estudos clínicos.
Devido sua atividade antiinflamatória e
espasmolítica, a cimicifuga tem sido usada em
problemas reumáticos7.
Contra-indicações
É contra-indicado para pacientes com história
de tumor estrogênio dependente ou câncer
endometrial7, na gravidez e amamentação. Pode
causar nascimento prematuro quando administrado
em altas doses1.
Deve ser usado com cautela por pessoas
alérgicas ao ácido acetilsalicílico e a outros
salicilatos11.
Posologia e duração do tratamento
A dose diária para controlar sintomas da
menopausa pode variar de 40 a 80mg, administradas
na forma de comprimidos de 20mg, padronizados
para conter 1mg de 27-deoxiacteína12,11.
A apresentação também pode ser na forma de
rizomas (raízes) secos e tinturas, os quais também
devem estar padronizados11.
Os efeitos terapêuticos geralmente iniciam
após duas semanas, apresentando o efeito máximo
dentro de oito semanas1.
A duração do tratamento não deve ser
superior a seis meses12.
Efeitos indesejados
Em estudos clínicos, o único efeito adverso
relatado com freqüência significativa foi desconforto
gastrintestinal10. Em altas doses, pode causar tontura,
cefaléia, vertigem, náusea, vômito10, bradicardia e
hepatotoxicidade9.
Segundo publicação no site da ANVISA, a
Agência Européia para a Avaliação de Medicamentos
(EMEA) divulgou um alerta sobre a associação
potencial entre produtos fitoterápicos contendo
Cimicifuga racemosa e hepatotoxicidade5. O comitê
sobre produtos a base de plantas medicinais (HMPC)
avaliou 42 relatos de caso de hepatotoxicidade,
coletados a partir das autoridades nacionais européias
(34 casos) e da literatura (oito casos). Desses, apenas
16 casos foram considerados suficientemente
documentados para relacionar o uso da Cimicifuga
racemosa às deficiências hepáticas. Em quatro casos
(dois de hepatite autoimune, um de deficiência
hepática hepatocelular e um de insuficiência hepática
fulminante), havia uma associação temporal entre o
início do tratamento com cimicifuga e a ocorrência
de reação hepática5.
O paciente que utiliza produtos à base de
cimicifuga, deve estar atento ao desenvolvimento de
sinais e sintomas sugestivos de deficiência hepática,
tais como cansaço, perda de apetite, amarelamento da
pele e olhos, dor severa na parte superior do
estômago com náusea e vômito ou urina escurecida5.
Interações
A interação entre cimicifuga e ciclosporina
ou azatioprina é grave. A cimicifuga promove
antagonização do efeito de imunossupressão
promovido pela ciclosporina e azatioprina, ou seja,
ocorre uma imunoestimulação podendo levar à
rejeição em pacientes transplantados que fazem uso
desses fármacos9.
Deve ser usada com cautela associada a
outros agentes hipotensores, como betabloqueadores
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(metoprolol ou propanolol) e bloqueadores dos canais
de cálcio (diltiazem ou verapamil) 11.
Também é citada interação com tamoxifeno,
utilizado por mulheres em tratamento quimioterápico,
na tentativa de diminuir os calorões. No entanto, há
evidências, de que a atividade estrogênica da
cimicifuga possa estimular diretamente o crescimento
do câncer de mama e opor-se às ações do tamoxifeno,
o qual é um antagonista competitivo dos receptores
de estrogênio12.
De acordo com busca feita no site Pubmed14,
utilizando os termos “black cohosh and interactions”,
limitando a busca para revisões, foram encontrados
apenas 21 artigos. Esses estudos, apresentam apenas
relatos de possíveis interações, não tendo nenhum
estudo específico de alguma interação.
Revisão das Evidências
A terapia tradicional de reposição hormonal é
comumente utilizada no tratamento de sintomas
associados à menopausa e na prevenção de
osteoporose. No entanto, em decorrência dos efeitos
adversos, como doenças vasculares, aumento do risco
de câncer de mama e endométrio, tratamentos
alternativos à reposição hormonal têm sido
difundidos. Cerca de 80% de mulheres entre 45 e 60
anos buscam terapias alternativas, sem prescrição
médica, na forma de suplementos derivados de
plantas4, por exemplo de cimicifuga. Por essa razão,
diversos estudos têm sido desenvolvidos na tentativa
de avaliar eficácia, reações adversas e interações
relacionadas ao uso da cimicifuga.
De acordo com uma pesquisa feita na base de
dados Pubmed14, utilizando os termos “black
cohosh”, sem limitação de data, 238 artigos foram
encontrados, sendo o mais recente de 2006 e o mais
antigo de 1952. Limitando a busca apenas para
revisões ou ensaios clínicos randomizados, sem
limitação de data, foram encontrados 59 e 16 artigos,
respectivamente. Nenhuma metanálise foi
encontrada.
A maioria dos artigos de revisão aborda
aspectos que relacionam o uso da cimicifuga à sua
atividade estrogênica. É descrito que promove
diminuição dos diferentes sintomas da menopausa e
demais desordens ginecológicas. Dos 16 ensaios
clínicos randomizados, quatro deles não relacionam o
uso da cimicifuga à finalidade estrogênica, em outros
quatro ensaios clínicos, a cimicifuga está na forma de
associação; assim, os resultados obtidos nestes
ensaios, não estão relacionados exclusivamente às
propriedades da mesma, mas sim a ação sinérgica
com os demais constituintes.
A utilização de cimicifuga por mulheres
sobreviventes ao câncer de mama e que fazem uso de
tamoxifeno, é bastante comum, devido à presença de
constantes calorões. Para avaliar a eficácia de
cimicifuga em terapia combinada (tamoxifeno e
cimicifuga), dois ensaios clínicos foram realizados.
Um deles acompanhou 136 mulheres, com idade
entre 35 e 52 anos, em um período de 12 meses,
apresentando resultado satisfatório na diminuição do
número e intensidade dos calorões, na terapia
combinada, quando comparada ao uso do tamoxifeno
isolado15. No entanto, o outro ensaio clínico, com 85
pacientes, em uso de tamoxifeno, em terapia
combinada com placebo ou cimicifuga, mostrou que
a cimicifuga não seria mais efetiva que o placebo, em
terapia combinada16 (Fig. 1).
Os demais seis ensaios clínicos avaliaram a
atividade da cimicifuga isolada frente aos sintomas
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da menopausa. Destes, um ensaio, em que
participaram 132 mulheres, não mostrou evidências
que a cimicifuga tenha diminuído mais os calorões
que o placebo17; no entanto, outros três ensaios, com
mesmo objetivo, mostraram resultado favorável à
cimicifuga18,19,20 (Fig. 1). Outro ensaio comparou a
eficácia da cimicifuga a estrógenos conjugados e
placebo no metabolismo ósseo e sintomas da
menopausa, demonstrando equivalência entre a
cimicifuga e estrógenos conjugados21 (Fig. 1). Nappi
et al. verificaram que a cimicifuga é capaz de
diminuir calorões, problemas vasomotores, depressão
e ansiedade, assim como o estradiol transdérmico em
baixas doses22.
De acordo com os ensaios clínicos acima
mencionados, os resultados sobre a eficácia da
cimicifuga ainda são bastante contraditórios. São
necessários mais estudos comparativos, em relação à
terapia de reposição hormonal convencional. Estudos
de toxicidade também são necessários visto que não
foram feitas avaliações de longo prazo.
Autor Duração do tratamento
Pacientes Tratamento
Controle / experimental Resultado
Hernadez Munoz et al., 200315
12 meses 136 mulheres Tamoxifeno / tamoxifeno + cimicifuga ↓ a intensidade dos calorões
Jacobson et al., 200116
2 meses 85 mulheres Tamoxifeno+placebo/tamoxifeno+cimicifuga Não ocorreu diminuição dos
calorões
Pockaj et. al., 200617
4 meses 132 mulheres Placebo / cimicifuga Não foi melhor que o placebo na
diminuição dos calorões
Frei -
Kleiner et al., 200518
3 meses 122 mulheres Placebo / cimicifuga ↓ os sintomas da menopausa, principalmente os calorões
Osmers et al., 200519
3 meses 304 mulheres Placebo / cimicifuga ↓ os sintomas da menopausa
Liske et al.,
200220 6 meses ----
Cimicifuga com dose normalmente usada / dose mais elevada de cimicifuga
A dose padrão promove ↓ nos sintomas da menopausa, a dose mais elevada não é mais efetiva
Wuttke et al., 200321
3 meses 62 mulheres Placebo, estrógenos conjugados / cimicifuga
Equivalência entre a cimicifuga e estrógenos conjugados nos
sintomas da menopausa e metabolismo ósseo
Nappi et al., 200522
3 meses 64 mulheres Estradiol transdérmico / cimicifuga
↓ calorões, problemas vasomotores, depressão e
ansiedade, da mesma forma que o estradiol transdérmico em
baixas doses Fig. 1- Ensaios clínicos que avaliam a atividade da cimicifuga frente aos sintomas da menopausa.
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Elaborado pela acadêmica de Farmácia Tatiane Araujo de Castro.
Revisado por Farm. Aline Lins Camargo, Farm. Isabela Heineck e Farm. Maria Isabel Fischer.