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7/31/2019 Balada Do Enterrado Vivo - Vinícius de Moraes
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Balada do enterrado vivoVinícius de Moraes
Na mais medonha das trevas
Acabei de despertar Soterrado sob um túmulo.De nada chego a lembrar Sinto meu corpo pesar Como se fosse de chumbo. Não posso me levantar Debalde tentei clamar Aos habitantes do mundo.Tenho um minuto de vidaEm breve estará perdidaQuando eu quiser respirar.
Meu caixão me prende os braços.Enorme, a tampa fechadaRoça-me quase a cabeça.Se ao menos a escuridão Não estivesse tão espessa!Se eu conseguisse fincar Os joelhos nessa tampaE os sete palmos de terraDo fundo à campa rasgar!Se um som eu chegasse a ouvir No oco deste caixão
Que não fosse esse soturnoBater do meu coração!Se eu conseguisse esticar Os braços num repelãoInda rasgassem-me a carneOs ossos que restarão!Se eu pudesse me virar As omoplatas romper Na fúria de uma evasãoOu se eu pudesse sorrir Ou de ódio me estrangular
E de outra morte morrer!Mas só me resta esperar Suster a respiraçãoSentindo o sangue subir-meComo a lava de um vulcãoEnquanto a terra me esmagaO caixão me oprime os membrosA gravata me asfixia
E um lenço me cerra os dentes!
Não há como me mover E este lenço desatar Não há como desmanchar O laço que os pés me prende!Bate, bate, mão aflita No fundo deste caixãoMarca a angústia dos segundosQue sem ar se extinguirão!Lutai, pés espavoridosPresos num nó de cordãoQue acima, os homens passando
Não ouvem vossa aflição!Raspa, cara enlouquecidaContra a lenha da prisãoPesando sobre teus olhosHá sete palmos de chão!Corre mente desvairadaSem consolo e sem perdãoQue nem a prece te ocorreÀ louca imaginação!Busca o ar que se te finda Na caverna do pulmão
O pouco que tens aindaTe há de erguer na convulsãoQue romperá teu sepulcroE os sete palmos de chão: Não te restassem por cimaSetecentos de amplidão!