63
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS O SIMBOLISMO DO MACROCOSMOS THIAGO DUARTE BAKARGY Campo Grande MS 2005

Bakargy; thiago duarte o simbolismo do macrocosmos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO

CURSO DE ARTES VISUAIS

O SIMBOLISMO DO MACROCOSMOS

THIAGO DUARTE BAKARGY

Campo Grande – MS 2005

Page 2: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

1

THIAGO DUARTE BAKARGY

O SIMBOLISMO DO MACROCOSMOS

Relatório apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a orientação da Profª. Msc. Marlei Sigrist.

Campo Grande – MS 2005

Page 3: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

2

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que de maneira direta ou indireta, me ajudaram na produção deste trabalho.

Page 4: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

3

RESUMO

Este trabalho irá mostrar todo o processo que percorri para a produção de uma

série de obras, baseada nos estudos e símbolos da Alquimia, que é uma técnica

milenar, nas pinturas do movimento artístico do final do século XIX conhecido como

Simbolismo e em algumas culturas antigas. O principal objetivo destas obras é

expressar conceitos encontrados na Alquimia. Foram utilizados também símbolos

provenientes das culturas do Egito Antigo e Viking, pois estes expressam conceitos

semelhantes aos primeiros. Para tanto, utilizei a técnica da pintura devido à

experiência própria e a facilidade de manuseio que esta técnica oferece. Escolhi

usar a tinta óleo e a tela como suporte, também devido a sua praticidade e

simplicidade para se trabalhar. Pude produzir as obras obtendo clareza e

objetividade, utilizando as leis da Gestalt na imagem, que tem como finalidade

adquirir harmonia nas composições. Por estas razões este trabalho irá apresentar

uma pequena pesquisa sobre a história da pintura, sobre a Gestalt utilizada na

produção de imagens, e a utilização dos símbolos como meio de expressão

humana, além de uma análise específica de cada obra da série.

Page 5: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

4

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO I – POSSIBILIDADES RACIONAIS DE CRIAÇÃO 6

1. História da pintura 7

2. Símbolo e Simbolismo 11

3. Gestalt na imagem 15

CAPÍTULO II – ANÁLISE DAS OBRAS 18

1. Caos 20

2. Início 22

3. Trevas 27

4. Luz 31

5. Terra 34

6. Água 37

7. Ar 40

8. Fogo 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS 45

BIBLIOGRAFIA 48

ARTIGOS DE INTERNET 50

ANEXOS 52

Page 6: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

5

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo expressar simbolicamente alguns conceitos da

Alquimia, principalmente o “Macrocosmos”, através da pintura. Tem como objetivo

também pesquisar questões de pintura, teorias da Gestalt aplicadas na produção de

imagens e diversos símbolos culturais ligados à temática. A partir destes estudos é

que pude produzir as obras de uma série de pinturas intitulada “O simbolismo do

Macrocosmos”. Estas pesquisas tiveram como metodologia a pesquisa bibliográfica,

com caráter qualitativo.

A importância deste trabalho está na produção de uma série de pinturas que

reúne os conceitos e questões apresentados nos objetivos acima, em forma de

pinturas que denotam clareza e harmonia.

O título: “O simbolismo do Macrocosmos”, foi escolhido porque o objetivo da

série de pinturas era expressar simbolicamente alguns conceitos da Alquimia,

principalmente o “Macrocosmos”. O nome “Macrocosmos” resume também as

diversas fontes de inspiração do trabalho, como o misticismo e o movimento artístico

Simbolismo.

A importância desse trabalho é fazer um resumo sobre os temas estudados, e

produzir uma série de pinturas que reúna os temas apresentados acima, em pinturas

que apresentem clareza e harmonia.

Para produzir a série, baseei-me nos trabalhos de Alquimistas como, por

exemplo, Athanasius Kircher (1602-1680) que produziu estudos e obras plásticas

que envolviam temas da Alquimia e deuses pagãos para ilustrar suas teorias.

Baseei-me também nos artistas do final do século XIX como, por exemplo, Odilon

Redon (1840-1916) e Gustave Moreau (1826-1898), que pintaram temas como

misticismo, mitologia clássica e dialogavam por meio de imagens simbólicas.

O trabalho está dividido em dois capítulos, o primeiro, dividido em três tópicos,

apresenta um resumo sobre as técnicas, teorias e fontes inspiradoras que

propiciaram a produção do trabalho de uma maneira racional, e o segundo mostra

uma análise de cada uma das oito obras produzidas, sob a ótica da Gestalt. Nos

anexos encontram-se textos que tratam resumidamente sobre alguns assuntos

citados ao longo do trabalho, que são: o Simbolismo, a Alquimia, a cultura egípcia e

a cultura viking.

Page 7: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

6

CAPÍTULO l POSSIBILIDADES RACIONAIS DE CRIAÇÃO

Este capítulo, dividido em três tópicos, apresenta resumos sobre as técnicas,

teorias e conceitos que proporcionaram a produção da série de pinturas de uma

maneira racional. O primeiro tópico trata da história da pintura, pois esta é a técnica

de expressão usada na série. Apresenta o surgimento desta, e como se

desenvolveu no decorrer dos séculos até alcançar os finais do século XIX, período

no qual ocorreu o movimento artístico Simbolismo, fonte de inspiração do meu

trabalho. O segundo tópico faz referência ao símbolo como meio de expressão, e

como a sua utilização foi importante para o desenvolvimento de diversas culturas, já

que a proposta da minha série de pinturas era apresentar conceitos por meio de

símbolos. O terceiro tópico resume a Gestalt aplicada à imagem e suas teorias, pois

estas foram utilizadas para que meu trabalho adquirisse melhor organização e

harmonia.

Page 8: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

7

1. A história da pintura

Para definir pintura recorro a Victorino (2005) que escreve:

Pintura é a atividade artística que consiste na aplicação de pigmentos

coloridos em um plano bidimensional, geralmente em uma superfície

previamente preparada para tal uso. A superfície de aplicação dos

pigmentos também pode variar, desde murais e paredes até as telas

próprias para pintura.

O autor explica, ainda, que a pintura pode ser usada para produção de imagens

de representação, tanto figurativas quanto abstratas. Existem também diversas

técnicas de pintura, com vários tipos de pigmentos e solventes. Há também as

pinturas murais, que são feitas em paredes, e o afresco, que é uma técnica realizada

nas paredes ou tetos enquanto o esboço ainda permanece úmido.

A técnica da pintura é muito antiga, de acordo com Heslewood (1994), as mais

antigas foram feitas por povos pré-históricos e estão espalhadas pelo mundo todo.

São geralmente figuras de animais caçados, como bisões, mamutes e peixes. Há

também formas geométricas ou manchas coloridas de difícil compreensão.

Segundo Victorino (2005), estas pinturas são chamadas de pinturas rupestres e

eram realizadas em rochas ou no interior de cavernas. Datam de aproximadamente

25.000 a.C. como é o caso em Altamira (Espanha) e Lascaux (França). Os povos

pré-históricos provavelmente acreditavam que estas pinturas poderiam trazer sorte

às caçadas, ou tinham caráter ritualístico.

Heslewood (1994) esclarece que estas pinturas eram primeiramente escavadas

na pedra, depois preenchidas com tintas produzidas de materiais da terra como

pedras e plantas, que davam as cores vermelho, preto e amarelo. Estas tintas eram

moídas até virarem pó, e gordura animal era usada para dar liquidez. Provavelmente

usavam pincéis de folhas, chumaços de pelos e também os dedos. Existem imagens

Page 9: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

8

rupestres nas quais o pintor colocava a mão sobre a pedra e em seguida soprava

tinta sobre ela.

Victorino (2005) cita que a cultura mais antiga que produziu um conjunto

considerável de obras de arte foi a egípcia, conforme suas palavras:

O conjunto de sua pintura, desenvolvido ao longo de três milênios,

refletiu as tradições da cultura em que esteve contextualizada através

das convenções iconográficas que marcavam o uso de imagens.

Essas convenções baseavam-se em signos visuais utilizados para a

representação de objetos e ações, o que tornava a obra bastante

acessível e compreensível.

Os gregos também contribuíram, em muito, para o avanço das técnicas da

pintura que, conforme Heslewood (1994), seus vasos mais antigos tinham padrões

geométricos simples que circulavam o vaso em faixas, e datam de 1100 a 800 a.C.

Com o tempo os vasos passaram a apresentar figuras mais ousadas como flores,

animais e pessoas. A cerâmica na Grécia Antiga (por volta de 700 a 400 a.C.)

apresentava figuras desenhadas em tinta preta sobre argila vermelha. Mais tarde

(530 a.C. em diante) passaram a usar a técnica da figura em vermelho e o fundo em

negro. Os pintores gregos pintavam figuras humanas de diversos ângulos. Gestos e

expressões mostravam os sentimentos das figuras, e futuros artistas imitaram aquilo

que os gregos alcançaram na pintura e escultura. Os romanos criariam mais tarde o

que chamamos de “natureza morta”, isto é, pinturas de vasos, potes, frutas e cestas.

Outra criação romana foram os “mosaicos”, que são pequenos pedaços de pedra

colorida embutidos de uma forma que crie figuras.

De acordo com Victorino (2005), o mosaico trata-se de um arranjo de pedaços

de vidros, pedras e cerâmicas adequados numa placa de plástico ou cimento

preparada para aderir estes materiais. Na Idade Média temos exemplos de mosaicos

mais famosos, nas igrejas cristãs e na arte bizantina. A pintura foi radicalmente

alterada com a chegada da era cristã, que passou a ter um estilo hierárquico e

estático, com algumas reminiscências da arte clássica.

Page 10: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

9

Segundo Heslewood (1994), a Idade Média é o período do século V ao XV.

Nessa época, a Igreja cristã era muito poderosa e grandes igrejas foram construídas

na Europa Ocidental, e suas abóbadas eram decoradas com mosaicos. As paredes

eram freqüentemente decoradas com afrescos. Nesse período também houve a

necessidade entre as pessoas de criar imagens dos personagens da Bíblia que

fossem facilmente reconhecidos, como ícones.

A pintura passaria por mais alterações com a chegada da Renascença. O

motivo dessa mudança foi o fato de que os conceitos materialistas da classe

burguesa foram se infiltrando na representação pictórica, passando a possuir um

caráter mais objetivo. A pintura passou a ter uma organização espacial mais

coerente e equilibrada, sobretudo a partir do grande foco das artes européias de

então, a Itália. Surgiram grande nomes como Boticelli, Caracci, Ticiano,

Michelangelo. Victorino (2005).

A Renascença é o período entre o começo do século XV ao final do século XVI

e, conforme Heslewood (1994: 17),

A arte não era mais criada somente para louvar a Deus. As pessoas

deram a si mesmas uma nova importância no mundo [...] A natureza,

a aparência e os pensamentos das pessoas também foram

estudados.

Victorino (2005) esclarece que após a Renascença houve períodos

importantes, que ficaram conhecidos como Barroco, o Romantismo e o

Neoclassicismo. No Barroco algumas características são constantes, como o jogo de

luz e sombra. No século XVIII a França, mais precisamente Paris, passou a ser o

foco das atividades artísticas. Ao final desse século, surgiram pintores que,

influenciados pela Revolução Francesa, fundaram as bases para o surgimento do

Romantismo. Este caracterizou-se pela representação mais subjetiva e emocional

da realidade. Dentre estes artistas estavam Willian Blake e Eugene Delacroix. Já no

século XIX, os ideais estéticos e artísticos passaram a voltar-se novamente para a

natureza. A obra de arte tornou-se um instrumento de denúncia da realidade social,

Page 11: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

10

desafiando a estética romântica. Este foi o Neoclassicismo, e dentre seus grandes

artistas estava Gustave Courbet.

Depois do Neoclassicismo, houve alguns artistas que viriam a revolucionar a

arte mais uma vez. Dentre eles estavam Manet, Monet e Renoir, e o movimento que

surgiu de suas técnicas de pintura foi chamado de Impressionismo. Os

impressionistas tinham a intenção de captar as cores da imagem que desejavam

pintar, e passar para as obras sob a forma de machas ou “borrões”. O resultado

disso era uma pintura que parecia inacabada, e era isso que desejavam, pois

estavam mais preocupados com as cores, a luz e a sombra do que com a

representação do real. “Os impressionistas ajudaram os artistas a encarar as cores

como uma parte muito importante e mais excitante da pintura”. (Heslewood, 1994:

53).

De acordo com Victorino (2005), no inicio do século XIX, houve um grande

experimentalismo nas artes, desencadeado pelos mestres pós-impressionistas,

como Vincent Van Gogh. O Pós-impressionismo foi um movimento de vanguardas

artísticas que inicialmente teve Paris como centro, mas logo foi deflagrada por toda a

Europa e pelas Américas.

A partir dos meados do século XIX, surge o movimento conhecido como

Simbolismo (anexo 1), que viria a criar um estilo de pintura próximo do Romantismo.

Page 12: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

11

2. Símbolo e Simbolismo

O símbolo é a representação visível de uma realidade invisível, como cita

Oliveira (2003). Ainda segundo o autor, podemos reconhecer que não é só por

palavras que o homem pode expressar-se com clareza, por exemplo, numa cena

muda, perfeitamente inteligível (o cinema antigo, a mímica), ou numa representação

figurativa (caricatura, pintura, desenho, etc.). Podemos reconhecer o significado

destes símbolos pelas circunstancias históricas, culturais, psicológicas ou sociais. O

símbolo é próprio do ser humano.

Assim como a técnica da pintura, os símbolos estão presentes na vida dos

seres humanos desde os primórdios da civilização, quando tinham um meio de vida

caçador-coletor, como cita Grimassi (2001: 228):

Os homens foram provavelmente os primeiros a sigilar conceitos, o

rastro de um animal passou a simbolizar esse animal; ver esse

símbolo significava a possibilidade de ver o próprio animal (...).

Segundo Heslewood (1994), quando os homens primitivos registravam os fatos

e coisas materiais com o máximo de realidade possível, quando queriam exprimir a

palavra “bisão”, desenhavam um ou vários bisões, quando queriam exprimir a

palavra “caça”, desenhavam homens com lanças e animais. Desta forma criaram

símbolos que depois começaram a assumir mais simplicidade, até desenvolver o

sistema de escrita por meio da ideografia (representação das idéias por meio de

sinais que reproduzem objetos concretos). Segundo Pauluk (2004), a arqueologia

estabelece o surgimento dos primeiros indícios de utilização de um sistema linear de

escrita em 3.500 a.C., na região da Mesopotâmia, e o alfabeto que utilizamos

atualmente no mundo ocidental provém dos gregos.

Page 13: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

12

Os símbolos tiveram grande importância para as culturas mais antigas, como

por exemplo, na cultura egípcia, mesopotâmica, grega e viking. Também podemos

encontrar grande utilização dos símbolos na prática da Alquimia e no movimento

artístico conhecido como Simbolismo.

Segundo Ward, Cass, Contreras e Kinney (1993), os egípcios (anexo 3), em

suas pesquisas sobre os metais para produzir o ouro artificialmente, já utilizavam

símbolos para ocultar seus conhecimentos, além de utilizarem símbolos em sua

linguagem hieroglífica (Fig.1):

Fig. 1, Exemplo de hieróglifos egípcios.

Fonte: McDevitt (2005).

Os símbolos também foram sempre utilizados na técnica da Alquimia (anexo 2)

com a finalidade de tornar ocultos os seus escritos, como podemos observar nesta

figura, que contém símbolos alquímicos (Fig.2):

Fig. 2

Sem título

Autor: Giovanni Battista Nazari Il, 1564.

Data: 1564

Fonte: McLean (2005).

Page 14: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

13

Já os povos Vikings (anexo 4) utilizaram os símbolos para expressar seus

conceitos de caráter mágico em suas runas, que também eram usadas como um

alfabeto (Fig. 3):

Fig. 3, Exemplos de runas vikings.

Fonte: Bergoboy (2005).

Mais tarde no final do século XIX, no movimento artístico conhecido como

Simbolismo (anexo 1), os artistas também utilizaram os símbolos e figuras

simbólicas para expressar seus conceitos que eram baseados em conhecimentos da

Alquimia e misticismo, além de temas mitológicos (Fig.4):

Page 15: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

14

Fig.4

Título: Jasão

Autor: Gustave Moreau, 1865.

Dimensão: 204 cm x 115,5 cm.

Fonte: Pioch (2005).

Como podemos observar, os símbolos foram essenciais para o

desenvolvimento das expressões humanas, através deles é possível representar

idéias e conceitos de uma forma concisa. Por esta razão utilizei também os símbolos

em minhas obras para exprimir os conceitos desejados, de uma forma simples e

objetiva.

Page 16: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

15

3. Gestalt na imagem

Algumas noções de Gestalt são necessárias no presente trabalho, tendo em

vista que suas proposições são utilizadas na produção das obras finais.

De acordo com Gomes Filho (2004), a Gestalt é uma escola de psicologia

experimental, e seu precursor foi Von Ehrenfels, filósofo do fim do século XIX. Mais

tarde teve seu início mais efetivo por: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang

Kohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941). “O movimento gestaltista atuou

principalmente no campo da teoria da forma, com contribuição relevante aos estudos

da percepção, linguagem, inteligência, aprendizagem, memória, motivação, conduta

exploratória e dinâmica de grupos sociais”. (Gomes Filho, 2004: 18).

Segundo Fausto (1999), a Gestalt surgiu nas primeiras décadas do século XX,

em resposta ao atomismo psicológico, e defendia que o psicológico deve ser

observado como um todo, não em partes. No início havia duas correntes da gestalt,

os dualistas e os monistas. Os primeiros defendiam que existe uma percepção

mental que diferiria da sensorial. Assim, perceberíamos os elementos

separadamente e depois reuniríamos em nossa mente. Os dualistas não se

distanciaram muito do atomismo psicológico. Já os monistas, realmente romperam

com eles, acreditando que as partes dependem do todo, que é ele quem as

determina. O esquema da percepção seria basicamente: estímulos sensoriais,

forma, sensação. “Para os monistas, forma e matéria não são separáveis, os

elementos de uma forma não existem em si, singularmente, isso só seria possível

através de abstração”. (Fausto, 1999, internet).

Segundo Gomes Filho (2004), a partir de rigorosas experimentações, a Gestalt

vai sugerir respostas ao porquê de muitas formas agradarem mais do que outras.

Opõem-se ao subjetivismo, pois se apóia na fisiologia do sistema nervoso. Como

curiosidade cabe acrescentar que o termo Gestalt significa geralmente uma

integração de partes em oposição à soma do “todo”. É geralmente traduzido como

forma, estrutura ou figura.

Page 17: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

16

De acordo com Fausto (1999), a Gestalt não se mantém apenas nos limites da

psicologia, mas também na Física e na Filosofia.

A Gestalt aplica-se também na arte, pois Gomes Filho (2004) afirma que de

acordo com a Gestalt, a arte se funda no princípio da pregnância da forma; isto é, na

formação de imagens, os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual.

Também Fausto (1999) considera que somos bombardeados por estímulos

físicos o tempo todo, e para compreendemos, formamos organizações perceptuais.

Para a gestalt, quando vemos um carro em movimento, por exemplo, não

percebemos a distância e o movimento em fases, mas sim de uma só vez.

Gomes Filho (2004: 19) cita que o que acontece no cérebro é diferente do que

acontece na retina, a excitação cerebral não se dá em pontos isolados, mas por

extensão, conforme suas palavras: “Não existe, na percepção da forma, um

processo posterior de associação das várias sensações. A primeira sensação já é de

forma, já é global e unificada”.

Ainda conforme o mesmo autor, não vemos aos poucos, mas sim de uma vez,

e nosso cérebro tem um dinamismo auto-regulador que, à procura de sua própria

estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados. É a partir

daí que surgem as teorias da Gestalt.

Segundo Fausto (1999), a maneira como a forma é apresentada, pode causar

diversos fenômenos como, por exemplo, a associação e o contraste. “O primeiro

destes princípios diz respeito a uma homogeneização das partes da forma a que

somos compelidos quando não há fronteiras entre elas, ou quando não as

percebemos”. (1999: internet).

Ainda segundo Fausto, o contraste se dá quando há diferença de luz entre as

áreas. A partir da associação e contraste, temos a impressão quando vemos uma

imagem, de que uma parte está mais próxima de nós, essa parte é chamada de

figura, e todo o resto de fundo.

Page 18: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

17

Gomes Filho (2004) cita as leis da Gestalt básicas, que são:

Unidades: Uma unidade pode ser consubstanciada num único

elemento, que se encerra em si mesmo, ou como parte de um

todo.

Segregação: Segregação significa a capacidade perceptiva de

separar, identificar, evidenciar ou destacar unidades formais em

um todo compositivo ou em partes deste todo.

Unificação: A unificação da forma consiste na igualdade ou

semelhança dos estímulos produzidos pelo campo visual, pelo

objeto.

Fechamento: As forças de organização da forma dirigem-se

espontaneamente para uma ordem espacial que tende para a

formação de unidades em todos fechados.

Continuidade: A boa continuidade, ou boa continuação, é a

impressão visual de como as partes se sucedem através da

organização perceptiva da forma de modo coerente, sem

quebras ou interrupções na sua fluidez visual.

Proximidade: Elementos ópticos próximos uns dos outros

tendem a ser vistos juntos e, por conseguinte, a constituírem um

todo ou unidades dentro do todo.

Semelhança: A igualdade de forma e de cor desperta também a

tendência de se construir unidades, isto é, de estabelecer

agrupamentos de partes semelhantes.

Pregnância da forma: Qualquer padrão de estímulo tende a ser

visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto

o permitam as condições dadas.

O mesmo autor afirma que, além destas leis da Gestalt, existem as categorias

conceituais fundamentais, que são a harmonia, a desarmonia, o equilíbrio,

desequilíbrio e contraste, que têm como objetivo, além de darem embasamento e

consistência às leis da Gestalt, concorrer também como poderosas forças de

organização formal nas estratégias compositivas.

Page 19: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

18

CAPÍTULO ll

ANÁLISE DAS OBRAS

Como um dos objetivos do trabalho era produzir uma série de oito obras que

expressassem os conceitos e idéias contidas na Alquimia, na cultura Viking e na

cultura do Egito Antigo, utilizando seus símbolos como elementos das composições,

decidi que a pintura era a técnica mais adequada, devido à experiência própria e a

facilidade que esta técnica oferece. Escolhi usar a tinta óleo e a tela como suporte,

também devido a sua facilidade e simplicidade para se trabalhar.

Entretanto, no decorrer do ano de 2002, havia decidido produzir a mesma série,

com a mesma temática, com a diferença de que as obras tinham uma estética

(estudo das condições e dos efeitos da criação artística) mais próxima do realismo, e

os conceitos muitas vezes eram representados por figuras de deuses de diversas

culturas, além dos símbolos, e assim foram produzidas sete obras (Fig. 1):

Page 20: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

19

Fig.1

Título: Água

Dimensão: 70 cm x 50 cm

Já no ano de 2005, percebi que poderia expressar as mesmas idéias e

conceitos utilizando uma estética mais simplificada e clara, e que está mais próxima

da arte contemporânea aos dias de hoje. Esta estética viria a apresentar apenas

símbolos, organizados de forma adequada, como apresento a seguir:

Page 21: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

20

1. Caos

A simbologia do Caos foi utilizada por diversos povos, e há milhares de anos.

Segundo Roob (1997), o alquimista Robert Fludd (1574-1637) teorizou sobre o

Caos, como sendo este a Prima Materia (anexo 2). Fludd ilustrou o Caos em sua

obra “Utriusque Cosmi, Vol. I”, de 1617, com uma imagem inteiramente negra.

Segundo Quesnel (1997: 2), o mito egípcio sobre o surgimento do universo

conta que “no princípio não havia nada, a não ser o Num – o oceano sem praias,

cujas ondas iam estourar na imensidão das trevas”.

Também na mitologia Viking podemos observar referências sobre o Caos, o

vazio antes da criação: “Contam os versos da Antiga Edda, [...] que no começo de

tudo havia apenas o nada, o vazio, obscuro e ilimitado, chamado Ginnungagap. Um

imenso abismo que precedeu a tudo...”. (Telles, 2002: 111).

Além destas, diversas outras religiões e doutrinas anunciam um vazio antes da

criação, incluindo o Gênesis da Bíblia Cristã.

Utilizando esta poética do vazio, do nada, produzi a obra intitulada “Caos” sem

elemento figurativo algum, apenas a cor preto em toda a obra, pois concluí que esta

seria a melhor maneira de expressar a idéia do vazio, já que o preto é considerado a

ausência de toda cor. (Fig.2):

Page 22: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

21

Fig. 2

Título: “Caos”

Dimensão: 70 cm X 50 cm

Page 23: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

22

2. Início

Em diversas mitologias, o ato ou ação que prossegue o Caos é a criação de

tudo, de todo o universo, em algumas vezes instantaneamente, outras em diversos

estágios. O símbolo usado na Alquimia para este ato de criação é geralmente o ovo,

como cita Roob (1997: 490): “O ovo é a prima materia caótica destruída na

putrefacção para que dela emane uma vida nova”. Roob conta, ainda, acerca de

uma figura do século XVI que segura um ovo: “O ovo que segura na outra mão

pretende mostrar como, a partir dos quatro elementos – a casca, a clara, a

membrana e a gema – surge no centro a quintessência: o pintainho ou o lapis”.

Roob (1997: 495).

No mito egípcio da criação do universo também podemos encontrar o ovo.

Segundo Quesnel (1997), do oceano sem praias conhecido como Num, emerge uma

pequena ilhota de areia e lama. Desta, emerge um ovo, de superfície lisa e perfeita.

De dentro dele surge o deus Rá, que delimita o universo.

McDevitt (2005), também se refere a Rá, que, em seu aspecto criador, teve

como símbolo o escaravelho egípcio, um besouro que faz pequenas bolas de fezes

de outros animais onde deposita seus ovos. Os egípcios acreditavam que o deus

Rá, neste caso também chamado de Khepera, havia trazido o Sol, rolando-o como o

escaravelho faz com as pequenas bolas.

Os Vikings também tinham a sua versão para a criação do universo, embora

um pouco diferente. Page (1999) cita que na mitologia Viking, de cada lado do

grande vazio conhecido como Ginnungagap, havia uma parte quente conhecida

como “Muspell”, e uma parte fria conhecida como “Niflheim”. Quando um rio

desaguou no Ginnungagap e congelou, formou um alicerce; e onde o quente e o frio

se encontravam o gelo começou a derreter, e suas gotas transformaram-se no

gigante Ymir. Este gigante daria origem a todas as formas de vida.

Observando o simbolismo do ovo, do escaravelho e das zonas contrárias,

Muspell (quente) e Niflheim (frio), utilizei estes conceitos para produzir a obra

intitulada “Início”. A preocupação que tive ao produzir a obra foi a obtenção da

Page 24: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

23

harmonia, de acordo com as leis da Gestalt, pois conforme Gomes Filho (2004: 51):

“A harmonia diz respeito à disposição formal bem organizada no todo ou entre as

partes de um todo. Na harmonia, predominam os fatores de equilíbrio, de ordem e

de regularidade visual inscritos no objeto ou na composição possibilitando,

geralmente, uma leitura simples e clara”.

Para a produção do fundo da obra, foram utilizadas as teorias da Gestalt sobre

o equilíbrio, simetria e sobre as cores que, novamente Gomes Filho (2004: 57) vai

nos dizer: “O equilíbrio é o estado no qual as forças, agindo sobre um corpo, se

compensam mutuamente. Ele é conseguido, na sua maneira mais simples, por meio

de duas forças de igual resistência que puxam em direções opostas”. Além disso, o

autor nos esclarece, ainda, que:

A simetria é um equilíbrio axial que pode acontecer em um, ou mais

de um eixo, nas posições: horizontal, vertical, diagonal ou inclinada. É

uma configuração que dá origem a formulações visuais iguais, ou

seja, as unidades de um lado são idênticas às do outro lado. Ou

ainda, dentro de um certo relativismo, pode-se considerar também

como equilíbrio simétrico lados opostos que, sem serem exatamente

iguais, guardem uma forte semelhança. Gomes Filho (2004: 59).

Portanto, as duas forças opostas que desejava expressar, o quente e o frio,

foram organizadas de forma que ficassem em equilíbrio e simetria, nas duas

extremidades opostas da tela, como pode ser observado no esboço, Fig.3.

Page 25: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

24

Fig. 3

Título: Inicio

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

Para causar o efeito de calor, que ocorre no lado esquerdo da imagem, e o

efeito de frio, no lado direito da imagem, foi utilizada a teoria da Gestalt a respeito da

cor:

A cor pode ser um elemento de peso, uma composição, por exemplo,

pode ser equilibrada ou desequilibrada, dentro de um espaço

bidimensional, pelo jogo das cores que nele atuem. O uso proposital,

por exemplo, do claro-escuro e de cores quentes-frias pode fazer com

que os objetos pareçam mais leves ou mais pesados, mais amenos ou

mais agressivos. A cor não só tem um significado universalmente

compartilhado através da experiência, como também tem um valor

independente informativo, através dos significados que se lhe

adicionam simbolicamente. Gomes Filho (2004: 65).

Page 26: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

25

Portando, foram utilizadas cores consideradas quentes como o vermelho e o

amarelo do lado esquerdo, e cores consideradas frias como o azul claro e o azul

escuro do lado direito. A maneira como as pinceladas foram aplicadas na obra

também tiveram importância, traços que lembram fogo para expressar calor e traços

que lembram cubos de gelo para expressar o frio.

Na produção do esboço, porém, ocorreu um fato que precisou ser modificado

na efetivação da obra, que foi o encontro das cores quentes com as cores frias, que

resultaram na cor verde (Fig3). A solução foi evitar que as cores se misturassem.

Quanto aos elementos ou unidades, que no caso representam um escaravelho

e um ovo, foram posicionados também em locais que provocam a simetria, pois o

peso dos dois se equivale. Desta maneira foi possível alcançar a harmonia na

totalidade da imagem (Fig.4).

Page 27: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

26

Fig. 4

Título: Inicio

Dimensão: 70 cm x 50 cm

Page 28: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

27

3. Trevas

Segundo Roob (1997), o alquimista Jacob Böhme (1575-1624), teorizou que

todas as coisas criadas tiveram origem na luz e nas trevas. Teorizou também que

todas as coisas têm dois pólos, duas forças que se atraem e se repelem, mas ao

mesmo tempo ambas são uma coisa só. Se não existissem estas energias, todas as

coisas seriam “Nada”, e permaneceriam imutáveis.

Estas forças contrárias foram sempre representadas por diversas doutrinas,

com nomes diferentes como “o bem e o mal”, “Deus e o Diabo”, “Yin e Yang”.

No antigo Egito, segundo Marucci (2001), a luta do bem e do mal era

representada pela batalha de Horus, deus da luz, contra seu tio Set, deus das

trevas.

Para os Vikings, como cita Telles (2002), a equivalente batalha entre o bem e o

mal é travada pelos deuses Aesir e Vanir, contra o deus Loki, este, astuto e

malicioso, causou incontáveis prejuízos aos outros deuses e foi responsável pela

morte do deus Balder, do Sol e da fertilidade.

Para representar estes lados opostos, os quais preferi identificar como “Luz e

Trevas”, produzi duas obras que contêm elementos destes dois conceitos. A obra

intitulada “Trevas” é composta por um símbolo das trevas criado de acordo com as

teorias de Jacob Böhme (Roob, 1997: 255), o símbolo egípcio do deus Set (Vendel:

2005) e o símbolo Viking de Loki (Roesdahl, 2005: 41).

Para expressar as trevas, ou ausência de luz, foi produzida uma obra

basicamente com cores escuras, que se aproximam do preto, como o azul da

Prússia e um marrom escuro. Como pode ser observado no esboço (Fig.5), o fundo

da tela ficou praticamente negro, e os elementos foram pintados em tons de azul,

para não expressar luminosidade, de acordo com os princípios da Gestalt sobre a

cor.

Page 29: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

28

Fig. 5

Título: Trevas

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

Para a produção desta obra, foram observados além dos conceitos da Gestalt

de equilíbrio e simetria, os conceitos da ordem e regularidade, como cita Gomes

Filho (2004: 52, 53):

A harmonia por ordem acontece quando se produz concordâncias e

uniformidades entre as unidades que se compõem as partes do objeto

ou o próprio objeto como um todo. A obtenção da harmonia por

regularidade consiste em favorecer a uniformidade de elementos no

desenvolvimento de uma ordem tal em que não se permitam

irregularidades, desvios ou desalinhamentos e, na qual, o objeto ou

composição alcance um estado absolutamente nivelado em termos de

equilíbrio visual.

A melhor maneira encontrada para agrupar os elementos foi localizar o símbolo

mais complexo da obra no centro, de tamanho maior, outro no canto superior direito

e outro no canto inferior esquerdo, formando uma diagonal, que é contrária a

diagonal formada pelos elementos contidos na obra intitulada “Luz”, que é

Page 30: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

29

considerada a obra oposta. As cores do fundo também se localizam de uma maneira

que não proporcione a sensação de vazio em nenhum local da obra.

Ao analisar o esboço (Fig.5), foi constatado que seria necessário adicionar

cores um pouco mais claras, pois a obra estava com pouco contraste que, segundo

a Gestalt, “a importância e o significado do contraste começa no nível básico da

visão através da presença ou ausência da luz. É a força que torna visível as

estratégias da composição visual”. Gomes Filho (2004: 62).

Também foi observado no esboço que os elementos haviam sido pintados

como linhas, causando um pouco de discrepância em relação às outras obras, que

tinham como linguagem principal as manchas. Apenas após estas observações foi

possível reformular e produzir uma obra (Fig. 6) que alcançasse os objetivos

propostos inicialmente.

Page 31: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

30

Fig. 6

Título: Trevas

Dimensão: 70 cm x 50 cm

Page 32: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

31

4. Luz

Na Alquimia a contraparte das trevas, a luz, sempre foi símbolo do divino e da

criação. Segundo Roob (1997), a luz foi tratada por Jacob Böhme (1575-1624) como

o amor, e relacionada com o planeta Vênus. O autor explica que, para Fludd (1574-

1637) o deus criador repartiu as trevas do Caos primordial, nos três elementos

divinos originais, a “Luz”, a “Escuridão” e as “Águas espirituais”. A Luz seria a fonte

inesgotável de todas as coisas, que surge nas trevas no início da criação.

Na mitologia egípcia, encontramos o deus da luz, Horus, como sendo a face

benigna e o deus das trevas, Set, como sendo a face maligna de uma luta travada

entre deuses. De acordo com Scott (2004), Horus era o deus da lei, da guerra, do

Sol, dos homens jovens e dos faraós. Era identificado por um falcão ou por um

homem com cabeça de falcão.

O deus da luz viking, Balder, segundo Page (1999), era também associado à

bondade, fertilidade, ao Sol, beleza e à alegria. A runa viking associada à Balder é

chamada de Dagaz, e que também significa transcendência, dia, ou luz solar.

Para produzir a obra intitulada “Luz”, foram utilizados três elementos ou

unidades, que são: o símbolo da luz usado por Fludd em 1617 em sua obra

“Utrisque Cosmi, Vol. I” (Roob, 1999: 105), o símbolo do deus-falcão egípcio Horus

(Scott, 2004) e a runa viking Dagaz (Telles, 2002: 81).

Para expressar o conceito de luz, a obra de mesmo nome teve o fundo colorido

por uma imensa área branca. Porém, como se pode observar no esboço (Fig.7), o

fundo e também os elementos da composição não foram coloridos quase

inteiramente de branco, pois segundo a teoria da Gestalt de luz e tom, não é

possível dar brilho e clareza numa imagem sem diferença de contrastes, como cita

Gomes Filho (2004: 64): “O contraste por luz e tom baseia-se nas sucessivas

oposições de claro-escuro. (...) Um mesmo tom muda seu valor conforme outro que

se lhe associe, dentro de certas relações contextuais”.

Page 33: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

32

Fig. 7

Titulo: Luz

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

Então, para produzir um efeito de brilho e luz desejado, o fundo e os elementos

foram coloridos com o branco, o amarelo puro e o amarelo misturado com sua cor

complementar, o roxo, causando contraste.

A localização dos elementos foram escolhidas com intenção de conseguir a

harmonia de acordo com as leis da Gestalt. Para isso, o elemento de maior

complexidade foi localizado no centro da obra, de tamanho maior, outro localizado

em cima do lado esquerdo, e outro em baixo, do lado direito. Desta maneira eles

formam uma diagonal contrária à encontrada em sua obra oposta, intitulada

“Trevas”. As cores do fundo também se localizam de uma maneira que não

proporcione a sensação de vazio em nenhum local da obra (Fig.8):

Page 34: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

33

Fig. 8

Título: Luz

Dimensão: 70 cm x 50 cm

Page 35: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

34

5. Terra

No decorrer dos séculos, muitos símbolos foram criados pelos alquimistas, pois

tinham a intenção de que seus estudos e teorias fossem ocultas, e para conhecê-los

era necessário conhecer estes códigos. Os símbolos são inúmeros, pois cada

alquimista tinha a sua linguagem, mas alguns destes símbolos eram usados em

comum entre eles, como por exemplo, símbolos que denominavam os metais

usados no processo alquímico.

McLean (2005) oferece uma lista de códigos alquímicos que foi produzida por

H.T. Scheffer em 1775, em sua obra “Chemiske forelasninga”. Desta lista derivam os

símbolos alquímicos que utilizei na produção das obras intituladas “Terra”, “Água”,

“Ar” e “Fogo”, que representam os quatro elementos.

Segundo Roob (1997), os quatro elementos têm uma ordem de pureza, na qual

a terra encontra-se como o elemento mais denso e menos puro, conforme afirma:“O

estado ideal e definitivo da matéria é atingido quando os elementos são ordenados

segundo os graus da sua densidade: (do interior para o exterior) Terra, Água, Ar e

Fogo”. (Ibidem: 106). E também: “A graduação dos elementos por ordem crescente

de pureza – terra, água, ar e fogo...” (Ibidem: 110).

No mito egípcio da criação, também encontramos uma informação que diz

respeito à terra, mais precisamente ao deus da terra denominado “Geb”: “Rá

imediatamente se dedicou à tarefa de dar à luz seus filhos e, desse modo, criar e

ordenar o mundo. Assim, surgiram Geb, deus da Terra, e sua irmã Nut, deusa do

céu”. Quesnel (1997: 2).

Dos Vikings havia, de acordo com Knight (2003), a existência uma runa que era

associada à terra, chamada “Ingwas”, e que também era sinônimo de fertilidade.

Então, para produzir a obra intitulada “Terra”, foi utilizado o símbolo alquímico

da terra encontrado na lista de Scheffer (McLean, 2005) o símbolo do deus egípcio

Geb (Vendel, 2005) e a runa Viking chamada Ingwas. Knight (2003: 158).

Page 36: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

35

A obra apresenta cores quentes, principalmente o vermelho, pois esta foi a

melhor maneira encontrada para expressar a temática “terra”, pois segundo Gomes

Filho (2004, 65), “A cor não só tem um significado universalmente compartilhado

através da experiência, como também tem um valor independente informativo,

através dos significados que se lhe adicionam simbolicamente”. Além da cor, a

maneira como as pinceladas foram aplicadas sobre a tela, tiveram a intenção de

provocar a impressão de terra, como pode ser observado no esboço (Fig.: 9):

Fig. 9

Título: Terra

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

A localização dos elementos foi escolhida com intenção de conseguir a

harmonia de acordo com as leis da Gestalt. Para isso, o elemento de maior

complexidade foi localizado no centro da obra, de tamanho maior, outro localizado

em cima do lado esquerdo, e outro em baixo, do lado direito. Desta maneira eles

formam uma diagonal contrária à encontrada em sua obra oposta, intitulada “Ar”. As

cores do fundo também se localizam de uma maneira que não proporcione a

sensação de vazio em nenhum local da obra (Fig.10):

Page 37: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

36

Fig. 10

Título: Terra

Dimensão: 70 cm x 50 cm

Page 38: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

37

6. Água

Na Alquimia, o elemento “Água” fica em segundo lugar como o elemento mais

denso, conforme esclarece Roob (1997).

Para a produção da obra “Água”, o símbolo alquímico utilizado também se

encontra na lista de Scheffer (McLean, 2005). Nos hieróglifos egípcios, havia um

caractere que significava “água”, além de significar a consoante “n” (Marucci, 2001:

68). Este hieróglifo foi utilizado como elemento da obra “Água”.

O terceiro elemento usado na obra provém das runas Vikings, segundo Telles

(2002), está associada à água e ao fluxo.

A cor mais utilizada na obra foi o azul, mas com adição de cores que tornam

esta cor mais clara ou mais escura, como por exemplo, sua cor complementar, o

laranja. O motivo de utilizar o azul foi a sua associação com a idéia de água, e as

cores adicionais foram usadas para provocar o efeito de contraste, de acordo com

as teorias da Gestalt. As pinceladas também foram aplicadas na tela de uma

maneira que expressasse fluxo e liquidez, características da água, como se pode

observar no esboço (fig.11):

Page 39: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

38

Fig. 11

Título: Água

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

Ao produzir o esboço, tive a intenção de expressar a idéia de água adicionando

a cor verde em algumas áreas do fundo, mas o resultado não atingiu o objetivo, pois

as áreas verdes aparentaram estar fora de sintonia com o resto da obra. A solução

foi eliminar as áreas totalmente verdes, e apenas misturar uma pequena quantidade

da cor amarelo com a cor azul, criando uma cor “azul-esverdeada” (Fig.12):

Page 40: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

39

Fig. 12

Título: Água

Dimensão:70 cm x 50 cm

Como se pode observar, ao produzir o esboço (Fig.11), os elementos foram

representados por linhas em algumas partes, fugindo da proposta, que era a de

aparência de manchas. Isso foi corrigido na produção da obra em tela (Fig.12).

A localização dos elementos foi escolhida com intenção de conseguir a

harmonia de acordo com as leis da Gestalt. Para isso, o elemento de maior

complexidade foi localizado no centro da obra, de tamanho maior, outro localizado

em cima do lado esquerdo, e outro em baixo, do lado direito. Desta maneira eles

formam uma diagonal contrária à encontrada em sua obra oposta, intitulada “Fogo”.

As cores do fundo também se localizam de uma maneira que não proporcione a

sensação de vazio em nenhum local da obra (Fig.12).

Page 41: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

40

7. Ar

Para pensar a obra “Ar”, fui buscar na Alquimia este elemento estudado por

Roob (1997), que diz ficar em terceiro lugar como o elemento mais denso, cujo

símbolo alquímico utilizado também se encontra na lista de Scheffer (McLean,

2005).

Já, o símbolo utilizado no Egito Antigo para representar o ar, ou o sopro, era a

“vela”, segundo Budge (2002). Este símbolo foi um dos elementos utilizados na obra

“Ar”.

O terceiro elemento usado na obra foi a runa Viking “Ansuz”, que segundo

Telles (2002), simbolizava o ar, o vento, e os sons da natureza.

As cores mais utilizadas nesta obra foram o branco e o azul, para expressar a

idéia de ar, de leveza e suavidade, de acordo com as teorias da Gestalt. As

pinceladas foram aplicadas com a intenção de provocar a sensação de leveza,

tomando a aparência de nuvens no céu, como se pode observar no esboço (fig.13).

Fig. 13

Título: Ar

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

Page 42: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

41

Ao produzir o esboço, foi observado que o elemento que ocupa o centro da

obra, que deve ser a área de maior destaque para que possa haver harmonia,

apresentava uma área de cor branca muito grande causando a impressão de vazio

(Fig.13). A solução encontrada foi adicionar pinceladas com a cor azul-claro (Fig.14).

Fig. 14

Título: Ar

Dimensão: 70 cm x 50 cm

A localização dos elementos foi escolhida com intenção de conseguir a

harmonia de acordo com as leis da Gestalt. Para isso, o elemento de maior

complexidade foi localizado no centro da obra, de tamanho maior, outro localizado

em cima do lado direito, e outro em baixo, do lado esquerdo. Desta maneira eles

formam uma diagonal contrária à encontrada em sua obra oposta, intitulada “Terra”.

As cores do fundo também se localizam de uma maneira que não proporcione a

sensação de vazio em nenhum local da obra (Fig.14).

Page 43: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

42

8. Fogo

O fogo, segundo Roob (2005), na Alquimia seria o elemento mais puro e menos

denso.

Para a produção da obra “Fogo”, o símbolo alquímico utilizado também se

encontra na lista de Scheffer (McLean, 2005).

O símbolo utilizado no Egito Antigo para representar o fogo, ou o calor, era o

“braseiro”, segundo McDevitt (2005). Este símbolo foi um dos elementos utilizados

em minha obra intitulada “Fogo”.

O terceiro elemento usado na obra foi a runa Viking “Kano”, que segundo Telles

(2002), simbolizava o fogo, Sol e tocha.

As cores mais utilizadas na obra foram o amarelo, o vermelho e o laranja (Fig.

15), cores que são associadas a idéia de fogo, pois “A cor não só tem um significado

universalmente compartilhado através da experiência, como também tem um valor

independente informativo, através dos significados que se lhe adicionam

simbolicamente”. Gomes Filho (2004: 65).

Page 44: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

43

Fig. 15

Título: Fogo

Dimensão: 42 cm x 29,7 cm

A localização dos elementos foi escolhida com intenção de conseguir a

harmonia de acordo com as leis da Gestalt. Para isso, o elemento de maior

complexidade foi localizado no centro da obra, de tamanho maior, outro localizado

em cima do lado direito, e outro em baixo, do lado esquerdo. Desta maneira eles

formam uma diagonal contrária à encontrada em sua obra oposta, intitulada “Água”.

As cores do fundo também se localizam de uma maneira que não proporcione a

sensação de vazio em nenhum local da obra. (Fig.16).

Page 45: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

44

Fig. 16

Título: Fogo

Dimensão:70 cm x 50 cm

Page 46: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos apresentar considerações finais a respeito da temática das obras

produzidas no decorrer deste trabalho, e também sobre a estética destas. Os

conceitos encontrados nas obras são basicamente encontrados na Alquimia. Dentre

estes conceitos, podemos encontrar discussões sobre a criação do universo e sobre

a formação deste a partir de elementos primordiais, entre outros, os quais cada autor

alquimista deixava seus relatos. Para representar estas idéias, os próprios

alquimistas criaram símbolos iconográficos, alguns, muitos utilizados em comum

entre eles.

A cultura egípcia da Antiguidade, e a cultura Viking, que durou de 800 a 1100

D. C., também possuíam símbolos para expressar conceitos semelhantes, e que

também foram utilizados na temática das minhas obras. Os egípcios acreditavam em

lendas e deuses associados à criação do universo e seu governo, e a partir destes,

criaram um alfabeto, os hieróglifos, no qual cada caractere simboliza uma idéia ou

um conceito, além de um som gramatical. Os Vikings possuíam uma linguagem

semelhante, baseada em seus deuses e pensamentos, denominada “runas”.

Portanto, busquei os símbolos utilizados na Alquimia e nas culturas egípcia e

viking, para compor as obras de uma série de pinturas, que tiveram as teorias

alquímicas como conteúdo poético. Seriam no total oito obras, porque esta

quantidade se mostrou suficiente para ilustrar os conceitos desejados. Como foi

apresentado no capitulo II, decidi que a pintura era a técnica mais adequada para

produzir as obras, devido à experiência que obtive com a pintura no decorrer dos

anos e a facilidade e simplicidade que esta técnica oferece. Dentre as maneiras de

se trabalhar com a pintura, escolhi usar a tinta óleo e a tela como suporte, devido à

facilidade de se adquirir estes materiais e a sua facilidade e simplicidade para se

trabalhar.

Page 47: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

46

Como também foi apresentado no capitulo II, no decorrer do ano de 2002 havia

decidido produzir uma série de pinturas com a mesma temática e com o mesmo

número de obras, porém estas apresentavam características próximas do realismo,

e ilustravam, além dos símbolos, figuras de deuses das culturas egípcia, grega,

viking e celta, além das teorias da Alquimia. Foram produzidas sete obras desta

maneira.

Entretanto, no ano de 2005, percebi que esta estética era sempre utilizada em

diversos meios de expressão, e que era possível expressar as mesmas idéias e

conceitos utilizando apenas símbolos e cores organizados de uma forma adequada.

Esta estética é mais simplificada e clara, e está mais próxima da arte

contemporânea.

Também no ano de 2005, houve a alteração na escolha das culturas que iria

usar nas obras. Percebi que seria melhor descartar a utilização das culturas celta e

grega, por alguns motivos. Primeiramente, seria desnecessário, porque apenas com

as teorias da Alquimia e das culturas egípcia e viking seria possível apresentar toda

a temática desejada. E também porque o trabalho seria alongado, tornando-se muito

extenso, pelo fato de que as culturas grega e celta possuem uma grande quantidade

de dados e informações que deveriam ser expostos. Há também o fato de que estas

culturas não possuem (ou pelo menos não encontrei em minhas fontes de pesquisa)

símbolos iconográficos que expressem os conceitos desejados.

Acerca da produção prática e das obras prontas, existem algumas

considerações a serem feitas. O que pude notar enquanto produzia as telas e

pesquisava sobre as teorias da Gestalt, foi o fato de que eu já utilizava as leis de

equilíbrio, simetria, regularidade, de ordem e de cores, de uma forma inconsciente,

para conseguir o efeito e a sensação de harmonia nas obras. Porém, com o estudo

da Gestalt pude compreender o porquê das formas agradarem mais em

determinadas posições do que em outras. Por exemplo, percebi que durante a

produção das obras seria melhor posicionar os elementos de maior complexidade no

centro das telas, em maior dimensão, obtendo maior clareza nos detalhes, buscando

obedecer à lei da simetria. Também pude perceber que quando utilizamos as

manchas como meio de expressão em algumas obras, devemos ter o cuidado de

Page 48: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

47

manter esta mesma linguagem em todas as outras, para que a série adquira

uniformidade e contigüidade, conforme a lei da ordem da Gestalt. Dessa forma as

obras foram produzidas e alcançaram os objetivos desejados.

Page 49: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

48

BIBLIOGRAFIA BAINES, John. O mundo Egípcio, Deuses, templos e faraós. Rio de Janeiro/RJ: Del prado, 1996. BALAKIAN, Anna. O Simbolismo. São Paulo/SP: Perspectiva, 2000. BELLOWS, Henry Adams. The Poetic Edda. Nova York: Princeton University Press, 1936. BIMBENET, Jerôme. Senhores do mar. História Viva. São Paulo/SP: Duetto, N° 16, 28-29, 2005. BUDGE, E. A. Wallis, O livro egípcio dos mortos. 4ª ed. São Paulo/SP: Pensamento, 2000. CASS, Patti H. Segredos dos Alquimistas. Segredos dos Alquimistas. Rio de Janeiro/RJ: Abril Livros, 1996. COCKREN, Archibald. Alchemy rediscovered and restored. Filadélfia: Sacred-texts, 1941. CONTRERAS, Constance. Segredos dos Alquimistas. Rio de Janeiro/RJ: Abril Livros, 1996. DILLMANN, François-Xavier. Contos de heróis e divindades. História Viva. São Paulo/SP: Duetto, N° 16, 46-49, 2005. GIBSON, Michael. Simbolismo. Germânia: Taschen, 1999. GILCHRIST, Cherry. Elementos da Alquimia. Rio de Janeiro/RJ: Ediouro, 1993. GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto. 6ª ed. São Paulo/SP: Escrituras, 2004. GRIMASSI, Raven. Os mistérios wiccanos. 2ª ed. São Paulo/SP: Gaia, 2001. HESLEWOOD, Juliet. História da pintura ocidental. Rio de Janeiro/RJ: Salamandra, 1994. KINNEY, Christian D. Segredos dos Alquimistas. Rio de Janeiro/RJ: Abril Livros, 1996. KNIGHT, Sirona. Explorando o druidismo celta, magias e rituais antigos para o fortalecimento pessoal. São Paulo/SP: Madras, 2003. LAMBSPRINCK, Abraham. Tratado da Pedra Filosofal de Lambsprinck. São Paulo/SP: Ibrasa, 1996.

Page 50: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

49

LIMA, Oliveira. História da civilização. São Paulo/SP: Melhoramentos, 1963. MAGNO, Alberto. Iniciação à Alquimia. 2ª ed. Rio de Janeiro/RJ: Nova Era,2000. MAIER, Michael. Atalanta fugiens. Inglaterra: British Library, 1617. MÁLEK, Jaromír. O mundo Egípcio, Deuses, templos e faraós. Rio de Janeiro/RJ: Del prado, 1996. MARIN, Jean-Yves. A onda vermelha do norte. História Viva. São Paulo/SP: Duetto, N° 16, 32-33, 2005. MARUCCI, Liege Maria de Souza. A arte no Egito. Egitomania. São Paulo/SP: Planeta, N° 1, 8-13, 2001. _____________________________. A vida depois da morte. Egitomania. São Paulo/SP: Planeta, N° 1, 4-7, 2001. _____________________________. O “alfabeto” egípcio. Egitomania. São Paulo/SP: Planeta, N° 4, 66-67, 2001. _____________________________. Egito, o dom do Nilo. Egitomania. São Paulo/SP: Planeta, N° 8, 141-145, 2001. _____________________________. A Pedra de Roseta. Egitomania. São Paulo/SP: Planeta, N° 8, 146-147, 2001. PAGE, R.I. Mitos nórdicos. São Paulo/SP: Centauro, 1999. PRIETO, Claudiney. Todas as deusas do mundo. São Paulo/SP: Gaia, 2000. QUESNEL, Alain. O Egito, Mitos e lendas. 3ª ed. São Paulo/SP: Ática, 1997. ROESDAHL, Else. O dia-a-dia dos gigantes do gelo. História Viva. São Paulo/SP: Duetto, N° 16, 36-41, 2005. ROOB, Alexander. Alquimia e Misticismo. Itália: Taschen, 1997. STURLSON, Snorri. The Prose Edda. Nova York: The American-Scandinavian Foundation, 1916. TELLES, Gilda. Runas, o alfabeto mágico dos Vikings. São Paulo/SP: Madras, 2002. TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum. 5ª ed. São Paulo/SP: Hemus. WARD, Elizabeth. Segredos dos Alquimistas. Rio de Janeiro/RJ: Abril Livros, 1996. WATKINS, Renée. A estratégia dos invasores. História Viva. São Paulo/SP: Duetto, N° 16, 34-35, 2005.

Page 51: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

50

ARTIGOS DE INTERNET BERGOBOY, Cecília. Runas. <www.runas.tripod.com.ar/que.html>, acessado em 21/10/05. BOGUSLAWSKI, Alexander. Mikhail Aleksandrovich Vrubel (1856-1910). <www.rollins.edu/Foreign_Lang>, acessado em 21/10/05. CLARE, John D. Vikings. <geocities.yahoo.com.br/clivert75>, acessado em 21/10/05. COELHO, Jacinto do Prado. Simbolismo. <www.faroldasletras.no.sapo.pt>, acessado em 21/10/05. DAMJANOVIC, Vladimir. Symbolism. <www.huntfor.com/index.htm>, acessado em 21/10/05. FAUSTO, Juliana. Gestalt. <www.tiagoteixeira.com.br>, acessado em 21/10/05. GONZAGA, Sergius. Simbolismo. <educaterra.terra.com.br/literatura>, acessado em 21/10/05. HOWE, Jeffery. A Symbolism Glossary. <www.bc.edu/bc_org/avp/cas/artmuseum>, acessado em 21/10/05. KINNAER, Jacques. The history of ancient Egypt. <www.ancient-egypt.org>, acessado em 21/10/05. LIMA, Naiacy de Souza. Stéphane Mallarmé. < www.beatrix.pro.br>, acessado em 21/10/05. LUCOT, Yves-Marie. Ele comandava o céu por cima dos telhados... Paul Verlaine. <www.france.org.br/abr/label>, acessado em 21/10/05. MCDEVITT, April. The Symbols. <www.egyptianmyths.net>, acessado em 21/10/05. MCLEAN, Adam. Alchemical and chemical symbols used by Scheele (18th Cent). <levity.com/alchemy>, acessado em 21/10/05. MORAIS, Frederico. Simbolismo. <www.itaucultural.org.br>, acessado em 21/10/05. MOURÃO, José Augusto. Alquimia e religião: No cruzamento do visível e do invisível. <www.triplov.com>, acessado em 21/10/05. NIERI, Paulo. Charles Baudelaire. <geocities.yahoo.com.br/edterranova>, acessado em 21/10/05.

Page 52: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

51

OLIVEIRA, Marcelo João Soares. O Símbolo e o Ex-Voto em Canindé. <www.pucsp.br/rever/rv3_2003/>, acessado em 21/10/05. PAULUK, Marcel. Um novo olhar sobre a escrita: A contribuição das Ciências Cognitivas e da Semiótica para o desenvolvimento de uma Ciência da Escrita. <geocities.yahoo.com.br/cienciasecognicao>, acessado em 21/10/05. PETRINUS, Rubellus. A Alquimia. <pwp.netcabo.pt/r.petrinus>, acessado em 21/10/05. PIOCH, Nicolas. Artist Index. <www.ibiblio.org/wm>, acessado em 21/10/05. SCOTT, David C. Gods and Mythology of Ancient Egypt. <www.touregypt.net>, acessado em 21/10/05. VENDEL, Ottar. 112 Egyptian gods. <www.nemo.nu/ibisportal/0egyptintro>, acessado em 21/10/05. VICTORINO, Paulo. Pintura. <www.pitoresco.com.br>, acessado em 21/10/05.

Page 53: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

52

ANEXOS

Anexo 1 – O Movimento Simbolismo

Segundo Gibson (1999), o Simbolismo foi um movimento que aconteceu na

literatura, pintura e teatro e que surge em meados do século XIX. Adquire o nome na

França, criado por Jean Moréas no suplemento literário de “Le Figaro”, de 18 de

setembro de 1886. Os poetas simbolistas eram chamados de “poetas decadentes”,

mas para Moréas o termo simbolista era uma descrição mais própria. Mas o

Simbolismo não nasceu em 1886, esta foi apenas a data da nomeação de algo que

até ali não fora mais do que uma disposição ou estado metal mal definido, mas que já

estava a vigor a pelo menos vinte anos, com os trabalhos de Gustave Moreau (1826-

1898).

De acordo com Morais (1991), os simbolistas buscavam uma beleza ideal e

intocada, e repudiavam o materialismo extremado, identificando-se com a natureza, a

religião, o ocultismo, espiritismo e conhecimento rosacruziano. Buscam inspiração na

Bíblia e na mitologia, e a mulher é tema recorrente em suas obras.

Damjanovic (2005) cita que o movimento Simbolismo é considerado uma

continuação da tradição Romântica e uma reação contra o Realismo. O termo

Simbolismo significa o sistemático uso de símbolos ou convenções para expressar

um significado alegórico.

A arte simbolista, é até certo ponto romântica, às vezes é alegórica, assemelha-

se aos sonhos ou a o fantástico e por vezes alcança as zonas remotas descritas por

Freud nas suas explorações do inconsciente. Seus antecessores são figuras como

Fuseli, Goya ou Willian Blake, mas não podemos esquecer os românticos Novalis,

Hoffmann e Victor Hugo. A posição solipsista (vida na solidão) dos simbolistas é pré-

figurada no Romantismo, até certo ponto, mas ambos são movimentos distintos, pois

os simbolistas não tinham uma adoração tão grande pela natureza, como os

românticos. A “Decadência” significava uma rejeição ao progresso, e foi a grande

questão da era do Simbolismo.

Page 54: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

53

Segundo Coelho (1979), os poetas simbolistas reviviam o gosto romântico do

vago, do nebuloso, da sinestesia (relação subjetiva que se estabelece

espontaneamente entre uma percepção e outra que pertença ao domínio de um

sentido diferente) do impalpável, utilizavam da paisagem esfumada e melancólica,

tinham uma visão pessimista da existência, cuja efemeridade é dolorosamente

sentida. Utilizavam também a temática do tédio e da desilusão, distanciando-se do

real, repudiavam o lirismo e confissão direta, ao modo romântico, expansivo e

oratório. Os poetas simbolistas mais citados são geralmente Baudelaire, Rimbaud,

Verlaine, Mallarmé, Laforge, Régnier e Samain. Estes buscavam inspiração muitas

vezes em escritores românticos e místicos como Willian Blake e Swedenborg.

Segundo Gonzaga (2005), o Simbolismo era uma reação contra as concepções

cientificas da classe dominante, representadas na literatura pelo fatalismo naturalista

e pelo rigor parnasiano. Os poetas simbolistas experimentavam, à maneira dos

românticos, um mal estar na cultura e realidade, mergulhando no irracional e

descobrindo um universo etéreo e luminoso de sensações evanescentes. É uma

poesia pura, não racionalizada, hermética, que usa imagens e não conceitos. Os

primeiros indícios do movimento encontram-se em Baudelaire, cuja obra máxima, “As

flores do mal”, antecipa certas perspectivas simbolistas.

A pintura simbolista também tem seus grandes nomes na França. Segundo

Victorino (2005), os pintores simbolistas expressavam por meio de imagens, um forte

misticismo e referências ao oculto que eram desenvolvidos pelos poetas simbolistas

em suas linguagens. Confiavam mais na linha e na cor, para expressar idéias e na

sugestão de algo ao invés de sua forma explicita.

De acordo com Gibson (1999) um pintor pode ser designado simbolista por

razões formais, pelo conteúdo de suas obras ou por estes dois motivos ao mesmo

tempo. Puvis de Chavannes (1824-1898), por exemplo, produziu obras com cores e

temas insípidos, que possuíam uma organização do espaço formal e simplificada, e

com grandes planos de cor. Podemos descrevê-lo como simbolista apenas por que

uma representação do mundo de uma maneira naturalista e ilusória não era sua

primeira preocupação. Mais tarde Paul Gauguin (1848-1903) desenvolveu este estilo.

Page 55: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

54

Podemos concluir que o Simbolismo tende a incluir todos os artistas que não

estavam preocupados em representar o mundo de uma forma realista.

Gibson (1999) cita ainda que os simbolistas mais convincentes são os que

podem ser classificados como tal, tanto pela maneira de pintar quanto pelo conteúdo

das obras, como por exemplo, Gustave Moreau (1826-1898).

Segundo Pioch (2002), Moreau foi um dos iniciadores da pintura simbolista. Foi

pupilo de Chassériau e influenciado pelo seu romantismo exótico, mas depois partiu

para um estilo próprio distintivo na temática e na técnica. Preferiu pintar imagens

místicas sobre civilizações antigas e mitologias, que possuíam um sensualismo

extraordinário e aparência de jóias.

Um outro pintor simbolista de grande destaque foi Odilon Redon (1840-1916).

Segundo Gibson (1999), Redon mantinha-se fora de tendências ou movimentos. Seu

trabalho é rico e enigmático, e imbuído de uma passividade melancólica. Seu

trabalho se encaixa perfeitamente no Simbolismo, noturno, outonal, e lunar, ao invés

de solares, particularmente nos seus primeiros trabalhos, pois só mais tarde admitiu a

luz do dia.

Segundo Gonzaga (2005), no Brasil, o movimento Simbolismo na literatura

ocorre à margem do sistema cultural dominante. Seus principais focos são no

Paraná, Santa Catarina e no rio Grande do Sul. Desta região destacam-se Eduardo

Guimarães e Emiliano Perneta. Podemos citar também Alphonsus de Guimarães,

que produziu textos em Minas Gerais, João da Cruz e Sousa (1861-1898), que

emigra de Florianópolis para o Rio de Janeiro.

Segundo Morais (1991) os pintores brasileiros simbolistas que se destacaram

foram Eliseu Visconti (1866-1944), Carlos Oswald (1882-1971), Lucílio de

Albuquerque (1877-1939) e Hélios Seelinger (1878-1965).

Page 56: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

55

Anexo 2 – Alquimia

Várias hipóteses podem ser encontradas sobre a origem da palavra Alquimia.

Segundo Magno (2000), a palavra Alquimia em árabe é Ul-Khemi, ou Al-Kímia, e

significa “química da natureza”. Deriva da palavra grega chemeia, ou chumos, que

significa “suco extraído de uma planta”.

Segundo Ward, Cass, Contreras e Kinney (1993) a Alquimia surgiu da procura

por uma fórmula que transformasse os metais mais comuns como o mercúrio em

ouro, e mais tarde se uniria à filosofia.

De acordo com os mesmos autores, o ouro já era retirado de minas no Egito há

cerca de cinco mil anos. Os egípcios na Antiguidade já conheciam as técnicas de

refinar o ouro e misturá-lo com outros metais para torná-lo mais duro. Estas

experiências com metais foram o início da Alquimia prática, a que deseja criar o

ouro. Ainda segundo os autores, a Alquimia já era praticada na China por volta de II

a.C. Lá, a Arte Divina misturava aspirações espirituais com práticas físicas

pragmáticas. Os alquimistas chineses procuravam a imortalidade, ao invés do ouro.

Mourão (2002) cita que os escritos alquímicos eram inicialmente apenas

receitas técnicas a que se juntavam aforismos sobre os princípios da transmutação e

o dogma da matéria primeira, que passavam de pais a filhos no Egito. Como eram

preciosas se tornaram apanágios divinos associadas a Hermes, Thoth, Ísis e Osíris,

ou a reais como Cleópatra.

A união dos textos egípcios sobre a transmutação dos metais com a filosofia,

aconteceu devido aos gregos, como afirmam Ward, Cass, Contreras e Kinney

(1993). Séculos antes do nascimento de Cristo, os primeiros filósofos ocidentais

questionavam a natureza das coisas, nas cidades de língua grega da Jônia, na Ásia

Menor.

Page 57: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

56

Esse impulso de questionamento chegou ao auge em Atenas; durante

os séculos V e VI a.C., nas obras de Sócrates, Platão e –

particularmente Aristóteles, que realizou o primeiro estudo sistemático

dos fenômenos naturais. (Ward, Cass, Contreras, Kinney, 1993, 18,

19).

Ainda segundo os autores, estas idéias alcançaram o Egito, onde se juntaram

também com crenças ocultistas orientais. Neste período, a cidade no delta do Nilo,

Alexandria, foi um centro cultural e intelectual. As visões filosóficas dos gregos

uniram-se as práticas egípcias, dando à luz a Alquimia. Os filósofos gregos como

Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso, começaram a crer que se o universo era todo

unificado, então tudo nele deveria ser constituído por uma matéria adjacente.

Demócrito, que viveu no século V a.C. sugeriu que tudo era composto por partículas

minúsculas que chamou de átomos, isto é, “indivisível”.

Segundo Roob (1997), Platão teorizou o conceito de “Macrocosmos”, no qual

universo é composto por astros, e foi criado a partir do Um supremo, o Bem.

Demócrito criou em contrapartida, o conceito de microcosmos, a estrutura tripartida

do pequeno universo, o homem, corpo, alma e espírito.

Os filósofos e alquimistas começaram a teorizar que o universo era composto

não de apenas um tipo de átomo, mas sim de quatro. Roob (1997) cita esta teoria

remonta à Empedocles, que os designa pelas “quatro raízes de todas as coisas”,

pois Aristóteles, no século VI a.C, acreditava que os átomos tinham quatro

qualidades, seco, frio, humidade e calor, formando assim os quatro elementos.

Aristóteles acreditava que estes elementos poderiam ser transmutados pelo homem,

e que o quinto elemento, a subtil quintessencia, só se encontra no céu superior do

fogo divino.

Segundo Ward, Cass, Contreras e Kinney (1993), Aristóteles teorizou que havia

um elemento mais básico que os quatro elementos, a terra, a água, o ar e o fogo.

Esta substância viria a ser conhecida como prima materia, ou matéria primordial. O

filósofo citou que a prima materia não era de fato material, mas poderia vir a ser, se

uma ou mais qualidades elementares fossem-lhe impostas.

Page 58: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

57

De acordo com Gilchrist (1993), Os alquimistas precisavam inicialmente

encontrar a prima materia de Aristóteles para ao longo do processo a qual

chamaram de “Opus Magnum” (Obra Maior) produzirem a Pedra Filosofal, também

conhecida como Elixir ou Tintura.

Segundo Magno (2000), uma das maiores dificuldades que a Alquimia

apresenta é identificar esta prima materia, pois recebeu uma multidão de nomes e

nos textos e alegorias alquímicas a parte inicial da Obra Maior é muitas vezes

omitida. Quando tratam da prima materia, diz-se que tem um corpo imperfeito, uma

alma constante e uma cor penetrante.

Segundo Ward, Cass, Contreras e Kinney (1993) alguns alquimistas afirmaram

que esta substância primordial era o mercúrio, outros que era o enxofre. Mas

praticamente todos os alquimistas tinham sua própria opinião, e quase nunca

revelavam suas idéias quanto a isso. O processo que era feito ao longo da Obra

Maior também era muito variado, tanto em número de etapas quanto em

características das mesmas.

Os textos e ilustrações alquímicas nunca informam conceitos e idéias de uma

maneira direta, mas geralmente por meio de uma linguagem simbólica, como afirma

Roob (1997):

A literatura alquimista desenvolve, através dos seus representantes

mais ilustres, uma linguagem de grande riqueza sugestiva pelo

recurso a alegorias, homofonias e jogos de palavras (...). (Roob, 1997,

11).

Gilchrist (1993) cita que o principal meio de expressão da Alquimia é o emprego

de símbolos mitológicos. Estes são veículos perfeitos para transmitir informação que

possa ser interpretada tanto em plano material quanto espiritual.

Page 59: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

58

Anexo 3 – A cultura egípcia

Kinnaer (2004) afirma que a civilização do Antigo Egito é o resultado de uma

evolução feita em alguns séculos antes da escrita. Por volta de 3000 a.C. dirigidos

por inovações tecnológicas e crescimento da população, esta civilização emergiu da

pré-história.

Os inigualáveis monumentos e as obras de arte egípcias da época dos faraós

são um legado importante para a humanidade. Segundo Marucci (2001) estas obras

nos dão informações acerca de sua maneira de pensar e esta arte permaneceu

quase inalterada durante todo o período faraônico.

Os sistemas de construção expressam, pelo uso da linha e de ângulos

retos, o conceito de equilíbrio que o meio geográfico em que viviam

lhes inspirava. (Marucci: 2001: 8).

Marucci (2001) cita ainda que os baixos relevos, a escultura e as pinturas dos

túmulos, que representavam o morto, indicam que os egípcios acreditavam numa

vida após a morte. As formas artísticas tinham mestria na realização e abundância

de obras.

De acordo com Baines e Málek (1996), as formas de arte figurativa egípcia

adquiriram caráter inconfundível por volta do inicio do período clássico. A arte

decorativa e funcional, tais como manufatura de vasos de pedra, esculturas em

marfim, mobiliário e trabalho em geral, eram muito homogêneos, e a arquitetura

evoluía rapidamente continuando a desenvolver-se com o domínio de novos

materiais e novas formas.

Marucci (2001) fala-nos sobre as expressões de arte mais comuns no Egito

Antigo. Existiam dois tipos de relevo, o oco, ou inciso, e o baixo-relevo. As paredes

dos túmulos continham geralmente pinturas e relevos pintados que evocavam a vida

do morto. Os contornos das figuras eram marcados com linhas escuras. A escultura

oferecia um amplo repertório de temas em alguns casos eram abrupadas três

figuras. Os templos eram muitas vezes constituídos de capelas, pilones e pátios.

Page 60: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

59

Baines e Málek afirmam que a maneira de representação das figuras nas

pinturas e relevos, eram diferentes da maneira usada na arte ocidental. Não se

baseava em nenhum dos princípios de perspectiva, o escorço e a opção de um

único ponto de vista para todo o quadro. Em vez disso as figuras assemelhava-se a

diagramas daquilo que representam, cujo objetivo era transmitir a informação.

Quesnel (1997) cita que segundo a mitologia egípcia, os hieróglifos foram

inventados pelo deus Thoth, o deus da sabedoria, e esse conhecimento passado

aos seres humanos. Os hieróglifos eram a escrita dos egípcios, e constituíram um

mistério durante muito tempo. A utilização e aprendizagem dos hieróglifos eram

reservadas no Egito Antigo apenas aos escribas.

Segundo Lima (1963) a escrita egípcia era parte gráfica e parte simbólica, e

haviam três maneiras de serem usadas:

Os egípcios tinham três formas: a hieroglífica, usada nas inscrições

monumentais esculpidas ou pintadas; a hierática, que era uma

simplificação da primeira, usada nos papiros que eram registradas

suas histórias (...) e a demótica ou popular, que era uma maior

simplificação da segunda. (Lima: 1963: 49).

Segundo Marucci (2001) a escrita egípcia tem muitos signos, então os

egiptólogos adaptaram 24 deles para formarem o equivalente ao nosso alfabeto. A

escrita egípcia se formou a partir dos “ideogramas”, isto é, símbolos gráficos daquilo

que era visto, como por exemplo, as margens de um rio quando se queria escrever

“água”, ou um desenho de uma boca quando se queria escrever “boca”. Mais tarde

desenvolveram-se os “fonogramas”, que são símbolos que exprimem o valor

fonético, como por exemplo, o som “r”.

Page 61: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

60

Anexo 4 – A cultura Viking

Segundo Clare (2005), os Vikings eram povos que viviam na Escandinávia

durante o período de 800 a 1100 depois de cristo. Saqueavam, conquistavam e

colonizavam terras cada vez mais além de suas fronteiras, e ficaram conhecidos

pelas suas habilidades nas batalhas, na construção e na utilização de navios.

Os Vikings não eram uma nação, mas sim vários clãs, e havia muitas regiões

diferentes, cada uma com seu regente próprio, embora a mesma língua (o

escandinavo arcaico) fosse falada em toda a Escandinávia. Gradualmente, durante

os tempos Vikings, os três reinos que formam a moderna Escandinávia - Noruega,

Suécia e Dinamarca - foram formados. (Clare, 2005).

A maior parte do conhecimento que temos sobre a mitologia Viking, segundo

Page (1999), tem origem nas esculturas ou miniaturas feitas por eles, ou em textos

da Escandinávia medieval de uma era posterior, com problemas de deturpação e

impressão que estas fontes trazem consigo. Dentre estes textos, os mais

importantes são a Edda poética, a Edda em prosa e o Verso Skáldico.

Unificando o conhecimento que adquirimos nestes textos, nas estatuetas, e nos

desenhos inscritos em pedras ou instrumentos, podemos ter idéia de como era a

mitologia Viking, e sua religião. Esta última consistia em crenças como o politeísmo,

a vida após a morte e em seres sobrenaturais.

Como vários outros povos da mesma época, a prática do xamanismo era

utilizada, principalmente pelas mulheres, embora exista um mito onde Odin, o

principal deus Viking, revela ser um adepto dessa técnica. O xamanismo, segundo

Grimassi (2001) é uma prática que envolve o êxtase, metamorfose animal e

abandonar o corpo em forma espiritual.

Os primeiros xamãs eram em sua maioria mulheres, que durante a

rotina diária de colheita e preparo de alimentos, aprenderam os

segredos das ervas. (Grimassi: 2001: 28).

Page 62: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

61

Como foi dito acima, a maioria das informações que temos sobre a cultura

viking foi escrita depois de sua era. Mas há uma série de inscrições em pedra ou em

objetos utilitários, que segundo Dillmann (2005), são encontrados na Dinamarca, na

Noruega, na Suécia e nas Ilhas Britânicas, que foram feitas exclusivamente pelos

vikings. Estas inscrições foram feitas com o alfabeto que conhecemos como “runas”.

Desde antes do final do século VIII, em que se viram as primeiras

incursões nórdicas contra a Europa ocidental, os escandinavos

dispunham de um sistema gráfico original, e escrita rúnica. (Dillmann:

2005: 46).

Segundo Telles (2002), era comum aos vikings o ato de gravar runas em

enormes lápides de pedra, para homenagear heróis ou cultuar a memória de seus

antepassados. As inscrições mais antigas datam de III e IV depois de Cristo, e foram

encontradas na Dinamarca.

De acordo com Dillmann (2005), haviam 24 runas no inicio de sua utilização e

depois esse número diminuiu para 16. Elas eram utilizadas também para fins

profanos ou sagrados, incluindo sortilégios, encantamentos e invocações a

divindades, e ainda para celebrar a memória de um morto.

Telles (2002) afirma que de acordo com a Edda poética, as runas foram

inicialmente descobertas pelo deus Odin, e que os guerreiros gravavam em suas

armas as runas invocativas da vitória, coragem e proteção.

Reverenciadas pelos vikings como chave dos mistérios do homem e

da natureza, as Runas – que significam “secreto” – eram usadas pelos

sacerdotes para a Magia e em rituais de oferendas e demandas.

(Telles: 2002: 17).

Page 63: Bakargy; thiago duarte   o simbolismo do macrocosmos

62