9
740 Francisco Roberto de Azevedo et al. Rev. Ceres, Viçosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011 RESUMO ABSTRACT Composition of entomofauna on the Araripe National Forest in different vegetation types and year seasons The occurrence of insects has great ecological significance and is related to environmental factors, food availability, and refuge. We assess the composition of the entomofauna in different vegetation types (cerrado, carrasco and humid forest), and seasons in the Araripe National Forest, Crato-CE, by weekly collections made in the dry season (September to December) and in the rainy season (April to July), through McPhail, pitfall and yellow tray traps. Many Coleoptera occur in the dry season, acting as pollinators, phytophagous, detritivore and decomposers of organic matter in the rainy season. Already, the Diptera is abundant in the rainy season, when fruit flies are found, decomposing animal carcasses, organic matter and predators. The Calliphoridae family predominate in the Cerrado, the Tachinidae in the Carrasco and Tephritidae in the Humid Forest. The Orthoptera Gryllidae predominate in the Humid Forest and the Hymenoptera Formicidae in the Carrasco and Cerrado in the dry season. Therefore, there is a satisfactory balance in the structure and functioning of the Araripe National Forest as each group plays an important ecological role on the vegetation, in the different seasons of the year. Key words: Biodiversity, indicators ecological, ecosystems, forest insects. Recebido para publicação em 11/03/2010 e aprovado em 10/11/2011 1 Engenheiro-Agrônomo, Doutor. Universidade Federal do Ceará, Campus Cariri, Av. Tenente Raimundo Rocha, s/n Bairro Universitário, 63.040-360, Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil. [email protected] (*autor correspondente) Graduandos em Agronomia. Universidade Federal do Ceará, Campus Cariri, Av. Tenente Raimundo Rocha, s/n Bairro Universitário, 63.040-360, Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil. [email protected]; [email protected] 3 Graduanda em Ciências Biológicas. Universidade Regional do Cariri, Rua Cel. Antônio Luis, 1161, 63.100-000, Pimenta, Crato, Ceará, Brasil. [email protected] Francisco Roberto de Azevedo 1 *, Maria Andréia Rodrigues de Moura 2 , Maria Solidade Barbosa Arrais 3 , Daniel Rodrigues Nere 2 Composição da entomofauna da Floresta Nacional do Araripe em diferentes vegetações e estações do ano A ocorrência de insetos tem grande significado ecológico e está relacionada com os fatores ambientais, disponibi- lidade de alimento e abrigo. Para avaliar a composição da entomofauna, em diferentes tipos de vegetação (Cerrado, Carrasco e Mata Úmida) e estações do ano na Floresta Nacional do Araripe, Crato, Ceará, nordeste brasileiro, foram realizadas coletas semanais na estação seca (setembro a dezembro) e chuvosa (abril a julho), por meio de armadilhas McPhail, de solo e bandejas amarelas. Os insetos da ordem Coleoptera são numerosos, na estação seca, agindo como polinizadores, fitófagos e detritívoros, além de decompositores de matéria orgânica, na estação chuvosa. Os Diptera são numerosos na estação chuvosa, quando são encontradas moscas frugívoras, decompositoras de carcaças de animais, de matéria orgânica e predadoras; os da família Calliphoridae predominam no Cerrado; da família Tachinidae, no Carrasco, e da Tephritidae, na Mata Úmida. Os Orthoptera Gryllidae predominam na Mata Úmida e os Hymenoptera Formicidae, no Carrasco e Cerrado na estação seca. Portanto, cada grupo de insetos desempenha um papel ecológico sobre as vegetações, nas diferentes estações do ano. Palavras-chave: biodiversidade, indicadores ecológicos, ecossistemas, insetos florestais.

Azevedo Et Al 2011

Embed Size (px)

DESCRIPTION

artigo sobre entomologia forense

Citation preview

  • 740 Francisco Roberto de Azevedo et al.

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    RESUMO

    ABSTRACT

    Composition of entomofauna on the Araripe National Forest in different vegetation typesand year seasons

    The occurrence of insects has great ecological significance and is related to environmental factors, food availability,and refuge. We assess the composition of the entomofauna in different vegetation types (cerrado, carrasco and humidforest), and seasons in the Araripe National Forest, Crato-CE, by weekly collections made in the dry season (Septemberto December) and in the rainy season (April to July), through McPhail, pitfall and yellow tray traps. Many Coleopteraoccur in the dry season, acting as pollinators, phytophagous, detritivore and decomposers of organic matter in therainy season. Already, the Diptera is abundant in the rainy season, when fruit flies are found, decomposing animalcarcasses, organic matter and predators. The Calliphoridae family predominate in the Cerrado, the Tachinidae in theCarrasco and Tephritidae in the Humid Forest. The Orthoptera Gryllidae predominate in the Humid Forest and theHymenoptera Formicidae in the Carrasco and Cerrado in the dry season. Therefore, there is a satisfactory balance inthe structure and functioning of the Araripe National Forest as each group plays an important ecological role on thevegetation, in the different seasons of the year.

    Key words: Biodiversity, indicators ecological, ecosystems, forest insects.

    Recebido para publicao em 11/03/2010 e aprovado em 10/11/20111 Engenheiro-Agrnomo, Doutor. Universidade Federal do Cear, Campus Cariri, Av. Tenente Raimundo Rocha, s/n Bairro Universitrio, 63.040-360, Juazeiro do Norte, Cear,Brasil. [email protected] (*autor correspondente)2 Graduandos em Agronomia. Universidade Federal do Cear, Campus Cariri, Av. Tenente Raimundo Rocha, s/n Bairro Universitrio, 63.040-360, Juazeiro do Norte, Cear, [email protected]; [email protected] Graduanda em Cincias Biolgicas. Universidade Regional do Cariri, Rua Cel. Antnio Luis, 1161, 63.100-000, Pimenta, Crato, Cear, Brasil. [email protected]

    Francisco Roberto de Azevedo1*, Maria Andria Rodrigues de Moura2, Maria Solidade Barbosa Arrais3,Daniel Rodrigues Nere2

    Composio da entomofauna da Floresta Nacional do Araripe emdiferentes vegetaes e estaes do ano

    A ocorrncia de insetos tem grande significado ecolgico e est relacionada com os fatores ambientais, disponibi-lidade de alimento e abrigo. Para avaliar a composio da entomofauna, em diferentes tipos de vegetao (Cerrado,Carrasco e Mata mida) e estaes do ano na Floresta Nacional do Araripe, Crato, Cear, nordeste brasileiro, foramrealizadas coletas semanais na estao seca (setembro a dezembro) e chuvosa (abril a julho), por meio de armadilhasMcPhail, de solo e bandejas amarelas. Os insetos da ordem Coleoptera so numerosos, na estao seca, agindo comopolinizadores, fitfagos e detritvoros, alm de decompositores de matria orgnica, na estao chuvosa. Os Dipteraso numerosos na estao chuvosa, quando so encontradas moscas frugvoras, decompositoras de carcaas deanimais, de matria orgnica e predadoras; os da famlia Calliphoridae predominam no Cerrado; da famlia Tachinidae,no Carrasco, e da Tephritidae, na Mata mida. Os Orthoptera Gryllidae predominam na Mata mida e os HymenopteraFormicidae, no Carrasco e Cerrado na estao seca. Portanto, cada grupo de insetos desempenha um papel ecolgicosobre as vegetaes, nas diferentes estaes do ano.

    Palavras-chave: biodiversidade, indicadores ecolgicos, ecossistemas, insetos florestais.

  • 741Composio da entomofauna da Floresta Nacional do Araripe em diferentes vegetaes...

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    INTRODUOOs insetos desempenham papel importante nos

    ecossistemas terrestres, pois esto envolvidos na decom-posio de matria orgnica, na ciclagem de nutrientes,no fluxo de energia, na polinizao e na disperso de se-mentes, alm de serem reguladores de populaes de plan-tas, de animais e de outros organismos (Lopes, 2008). Onmero de espcies de insetos em um ecossistema oresultado de um equilbrio que envolve muitos fatores,como as limitaes ecolgicas de natureza fsica, qumicaou biolgica, sendo a vegetao determinante nabiodiversidade (Ricklefs, 2001).

    importante reconhecer a entomofauna de certas re-as para que haja um constante acompanhamento dos im-pactos da ao antrpica nessas comunidades, j que onmero de ordens, famlias e espcies de insetos diminuicom a elevao do nvel de antropizao do ambiente(Thomanzini & Thomanzini, 2002).

    Nas florestas tropicais, a grande maioria das espciesde insetos e de outros animais muito susceptvel a pro-cessos de extino, uma vez que ocorre em densidadespopulacionais muito baixas e participa de interaes eco-lgicas s vezes muito estreitas e complexas com outrasespcies. Muitos insetos so indicadores ecolgicos daqualidade e da degradao ambiental, por causa das vri-as funes que desempenham na natureza, da estreita re-lao com a heterogeneidade dos ecossistemas e proces-sos ecolgicos, bem como por seu alto grau de sensibili-dade s mudanas ambientais. Cada espcie responde deforma diferenciada a um distrbio, sendo fundamental,portanto, reconhecer a sua interao com as alteraesambientais, bem como reconhecer e entender a sua evolu-o, tanto em locais degradados como em estgio de re-cuperao.

    Os inventrios e a identificao de insetos nosecossistemas permitem as prevenes ou remediaes deimpactos nos diferentes ambientes. Isto caracteriza a im-portncia de estudos que identifiquem grupos de indica-dores ecolgicos potenciais. Assim, medida que ocor-rem o resgate da diversidade vegetal e o equilbrioambiental, tambm os insetos respondem em diversidadee densidade, cumprindo a sua funo indicadora (Wink etal., 2005).

    Este trabalho teve como objetivo avaliar a composi-o da entomofauna presente nas vegetaes de Matamida, Cerrado e Carrasco da Floresta Nacional doAraripe, localizada no extremo sul do Estado do Cear, naChapada do Araripe, durante as estaes seca e chuvosa.

    MATERIAL E MTODOSA pesquisa foi realizada na Floresta Nacional do

    Araripe (FLONA Araripe), em sua parte localizada na re-

    gio do Cariri cearense, municpio do Crato. Esta FLONApossui rea de 39.262,326 hectares, apresentando climatropical quente de seca, atenuado com estao chuvosano outono, mdia pluviomtrica de 1.000 mm anuais e tem-peratura oscilante entre 15 e 25 o C. A vegetao subpereniflia de matas midas, com transio no senti-do norte sul para o cerrado, cerrado e carrasco. O relevo tabular, medindo cerca de 180 quilmetros de compri-mento, no eixo leste/oeste, com uma variao de cerca 30a 70 quilmetros de largura, no eixo norte/sul, com altitu-de mnima de 840 e mxima de 920 metros. Suas coordena-das geogrficas so de 38o 30 a 40o 55 de longitude oestede Greenwich e de 7o 07 a 7o 49 de latitude sul.

    As coletas dos insetos foram realizadas, semanalmen-te, nos perodos de 18 de setembro a 4 de dezembro de2008 (estao seca), e de 2 de abril a 7 de julho de 2009(estao chuvosa), nas vegetaes de Mata mida, Car-rasco e Cerrado. A Mata mida constituda por vegeta-o lenhosa de mdio porte, com alguns elementos alcan-ando uma altura de 11 a 15 metros, fuste retilneo, ramifi-caes altas, apresentando um sub-bosque composto pelaregenerao natural, muito densa. O Carrasco formadopor uma vegetao arbrea-arbustiva de pequeno porte,densa, apresentando um xeromorfismo acentuado comespcies caduciflias que alcanam uma altura de 5 metros.O Cerrado formado por uma vegetao lenhosa maisesparsa de mdio porte, com altura mxima de 11 metros,composta por elementos com fustes retilneos e, ou tortu-osos, bastante ramificados, sub-bosque com pequena in-cidncia de regenerao natural (Lima et al., 1984). Nes-sas vegetaes, foram empregados trs mtodos de cole-ta de insetos, descritos a seguir.

    Armadilhas McPhailForam instaladas cinco armadilhas por cada tipo de

    vegetao, dispostas em duas fileiras de trs e duas arma-dilhas, espaadas de 30 m uma da outra (3.600m2 de reaamostrada), tendo, como atrativo alimentar, protenahidrolisada de milho a 5%. Em cada armadilha, foram usa-dos 400 ml da soluo do atrativo e elas foram instaladasdentro da copa das rvores e, ou, arbustos, em local som-breado e a uma altura mdia de 1,8 m do solo.

    Armadilhas de soloForam instaladas nove armadilhas de solo, em cada

    tipo de vegetao, dispostas em trs linhas paralelas, con-tendo trs armadilhas em cada linha, com espaamentosde 25 m na linha e 30 m entre as linhas (6.750m2 de reaamostrada). Elas foram confeccionadas com garrafas pls-ticas de dois litros cortadas ao meio e com 10 cm de di-metro e 15 cm de altura, mantendo-se sua abertura ao n-vel do solo. No interior de cada garrafa, foram colocados250 ml de uma soluo de formol a 10%, algumas gotas de

  • 742 Francisco Roberto de Azevedo et al.

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    detergente neutro e iscas de carne de frango em putrefa-o, penduradas acima da soluo de formol, enroladasem um pedao de organza e presas a um arame.

    Bandejas amarelasForam instaladas seis bandejas em cada tipo de vege-

    tao, dispostas em duas fileiras de trs bandejas cada,espaadas de 30 m uma da outra (3.600m2 de reaamostrada) e colocadas diretamente sobre o solo, con-tendo 500 ml de uma soluo de formol a 5% e algumasgotas de detergente neutro. Nas bordas das armadilhas,foram feitos orifcios onde foram colocadas telas finaspara que, em caso de chuva, o excesso de gua na bande-ja no levasse os insetos coletados.

    Coleta dos insetos nas armadilhasAs coletas dos insetos nas trs armadilhas foram fei-

    tas semanalmente, substituindo-se a soluo atrativa, assolues de formol, assim como a carne em putrefao.Para recolher os insetos das armadilhas com soluo l-quida, utilizou-se uma peneira de plstico de malha fina.Realizaram-se quatro coletas mensais em cada vegetao,com cada tipo de armadilha e em cada estao do ano,totalizando 16 coletas/estao, sendo, portanto, coletadoo ano inteiro. Os insetos coletados foram acondiciona-dos em recipientes plsticos de 100 ml contendo lcool70% e, em seguida, levados ao laboratrio de Entomologiada UFC, Campus Cariri, para triagem e identificao emnvel de Ordem e Famlia, utilizando-se chaves ilustradasde identificao (Buzzi, 2008; Triplehorn & Johnson, 2011).

    Anlise faunsticaCada vegetao foi considerada uma comunidade com

    caractersticas prprias, determinadas por meio dos se-guintes ndices faunsticos:

    Frequncia: pi = ni/N, em que ni o nmero de indi-vduos da espcie i e N o total de indivduos da amostra(Silveira Neto et al., 1976).

    Dominncia: LD = (1/S) x 100, em que LD o limite dedominncia e S o nmero total de famlias. As famliasforam classificadas em dominantes, quando os valores dafrequncia apresentaram-se superiores a esse limite, e,no dominantes, quando os valores foram inferiores(Sakagami & Laroca, 1971).

    Abundncia: Para calcular a abundncia, empregou-se uma medida de disperso, conforme Silveira Neto et al.(1976), por meio do clculo do intervalo de confiana (IC)das mdias das famlias, a 5% de probabilidade. Assim, asfamlias foram classificadas em raras, quando o nmerode indivduos foi menor que o limite inferior do IC; disper-sas, quando esse nmero ficou entre os limites inferioresdo IC; comuns, quando situado dentro do IC; abundan-tes, quando entre os limites superiores; e muito abundan-

    tes, quando o nmero de indivduos foi maior que o limitesuperior do IC.

    Constncia: C = p x 100/N, em que p o nmero decoletas com a famlia e N o nmero total de amostrastomadas (Silveira Neto et al., 1976). As famlias so classi-ficadas como constantes, quando esto presentes em maisde 50% das amostras; acessrias, quando presentes em25-50% das amostras; e acidentais, quando presentes emmenos de 25% das amostras.

    Riqueza: Refere-se abundncia numrica de umadeterminada famlia em uma comunidade e pode ser cal-culada pelo ndice de Menhinick (Whittaker, 1977):DMn = S/ N , em que S o nmero de famlias e N o deindivduos na comunidade.

    RESULTADOS E DISCUSSOInsetos coletados na estao seca

    Na estao seca, foram amostradas um total de 22 fa-mlias, pertencentes a sete ordens. A ordem Coleopterafoi a mais rica, com sete famlias, seguida da ordem Diptera,com quatro (Tabela 1). Dos 5.218 indivduos capturadosnessa estao, 35,61% foram encontrados na Mata mi-da, 33,17% no Carrasco e 31,22% no Cerrado.

    Os besouros possuem grande importncia ecolgica,auxiliando na percepo das condies ambientais locaisde uma fitofisionomia (Chung et al., 2000) e a sua diversi-dade est relacionada com a composio e a estrutura davegetao, revelando um mecanismo natural de atrao,abrigo e alimentao (Schorn, 2000). Estes insetosinteragem nos ecossistemas florestais por meio de asso-ciaes com frutos e, ou, sementes de espcies florestaisarbreas (Zidko, 2002).

    Os Hymenoptera, Hemiptera e Orthoptera apresenta-ram a mesma riqueza (trs famlias), enquanto as ordensBlattodea e Dermaptera foram s menos ricas, com ape-nas uma famlia cada.

    Na Mata mida, os ortpteros da famlia Gryllidaeforam os mais frequentes (23,47%), seguidos dosHymenoptera Formicidae (16%), Coleoptera Curculionidae(14%) e Diptera Tachinidae (14%). Todas essas famliasforam dominantes e muito abundantes. No entanto, asduas primeiras foram constantes, enquanto as duas lti-mas acessrias (Tabela 2).

    Essa vegetao, por apresentar um ambiente fechadoe com temperaturas amenas, certamente propiciou condi-es ideais para os grilos, graas a maior concentrao deserrapilheira e de matria orgnica. A fauna desses inse-tos pobre em espcies e sua abundncia relativamentebaixa em fragmentos de florestas (Sperber, 1999). Pertur-baes fsicas causam respostas rpidas na comunidadede grilos, podendo ser indicadores em uma escala local(Sperber et al., 2007).

  • 743Composio da entomofauna da Floresta Nacional do Araripe em diferentes vegetaes...

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    A estrutura das comunidades das formigas funda-mental em estudo de impacto ambiental, pois estas man-tm e restauram a qualidade do solo. Elas operam naredistribuio das partculas, dos nutrientes e da matriaorgnica, alm de melhorar a infiltrao de gua no solopelo aumento da porosidade e a aerao (Bruyn, 1999).So dominantes na maioria dos ecossistemas, estandopresentes nos mais diferentes habitats. Sua riqueza deespcies est correlacionada com o tipo e a variedade davegetao, sendo que o aumento na complexidade da ve-getao garante aumento na sua diversidade (Soares etal., 2001), condies essas encontradas na Mata mida.

    Os besouros curculiondeos habitam toda a terra ondeexista vegetao terrestre e representam a maior famliado reino animal, com aproximadamente 62.000 espciesdescritas. Seu sucesso evolutivo est no fato de seremendofitfagos e suas larvas alimentam-se de uma gran-de variedade de estruturas das plantas (Oberprieler etal., 2007). Portanto, as espcies que vivem na Matamida podem estar associadas tanto s estruturasvegetativas, como s estruturas reprodutivas das plan-tas dessa vegetao.

    A maioria dos taquindeos so parasitides de lagar-tas de Lepidoptera ou larvas de Coleoptera, porm alguns

    atacam Hemiptera, Orthoptera e algumas outras ordens(Triplehorn & Jonnson, 2011). Como nessa vegetaohouve maior freqncia de insetos fitfagos como os gri-los e os bicudos, acredita-se que essas moscas desempe-nharam um papel importante nessa vegetao como regu-lador das populaes dos insetos.

    Os Diptera das famlias Drosophilidae e Muscidaeapresentaram frequncias de 8 e 6%, respectivamente.Foram muito abundantes, mas no dominaram nessa ve-getao. Apesar disso, esses insetos tm sua funo bio-lgica na decomposio da matria orgnica da Matamida, porque atuam sobre frutos fermentados e sobrecarcaas de animais silvestres, respectivamente.

    As baratas da famlia Blattidae, apesar de constantes,demonstraram baixa frequncia, no dominncia, e foramdispersas na vegetao. As chamadas baratas de madeiratambm so consideradas importantes na decomposiode rvores mortas cadas na mata. As demais famlias deinsetos capturados na estao seca e na Mata mida forammenos frequentes, no dominantes, dispersas e acessriasna vegetao e algumas estiveram ausentes (Tabela 2).

    No Carrasco, os insetos que mais se destacaram foramos Formicidae, com 21,37% de frequncia, seguido dosDrosophilidae (14,38%) e Curculionidae (10,57%), sendo

    Tabela 1. Nmero total de indivduos, por ordem e famlia, capturados na estao seca em trs vegetaes da Floresta Nacional doAraripe, Crato, Cear

    VegetaesMata mida Carrasco Cerrado Total

    Drosophilidae 144 249 317 710Muscidae 108 123 271 502Tachinidae 254 144 25 423

    Lonchaeidae 0 64 0 64Curculionidae 258 183 14 455

    Nitidulidae 74 18 117 209Scarabaeidae 14 92 7 113

    Coleoptera Chrysomelidae 10 30 4 44Staphylinidae 7 9 7 23

    Erotylidae 0 17 0 17Melyridae 14 0 0 14Formicidae 294 370 324 988

    Hymenoptera Vespidae 38 22 3 63Ichneumonidae 10 19 21 50

    Blattodea Blattidae 64 123 128 315Cicadellidae 0 81 269 350

    Hemiptera Cydnidae 45 62 11 118Pentatomidae 23 0 4 27

    Gryllidae 436 87 74 597Orthoptera Stenopelmatidae 12 18 7 37

    Acrididae 5 7 13 25Dermaptera Forficulidae 24 13 0 37Total 1.858 1.731 1.629 5.218

    Diptera

    Ordem Famlia

  • 744 Francisco Roberto de Azevedo et al.

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    que apenas as duas primeiras famlias foram dominantes econstantes, mas todas muito abundantes (Tabela 2). Comoessa vegetao uma transio da Mata mida, observa-se a ocorrncia de certas famlias com frequncias seme-lhantes s da vegetao anterior, como os Formicidae(16%) e Curculionidae (14%).

    Os Gryllidae e as cigarrinhas da famlia Cicadellidaeforam comuns e acessrias na vegetao do Carrasco,porm no dominaram e foram pouco frequentes. Nessavegetao, por haver menor concentrao de serrapilheira,desfavoreceu-se a ocorrncia dos grilos. Os Muscidae,Tachinidae, Blattidae e Scarabaeidae, apesar de muitoabundantes, tambm no dominaram, sendo as duas pri-meiras famlias de ocorrncia acessria, a terceira cons-tante e a ltima acidental (Tabela 2).

    Os besouros escarabedeos so importantes em estu-dos de fragmentos vegetais, pois se alimentam de fezes ecarcaas dos vertebrados (Thomanzini & Thomanzini,2000). Por terem natureza sedentria, esses colepterosso mais vulnerveis a mudanas ambientais (Kimberlinget al., 2001) e a sua distribuio local fortemente influen-ciada pela cobertura vegetal (Halter & Arellano, 2002);deste modo, esse grupo indicador ecolgico importantepor responder s diferenas estruturais entre fitofisiono-

    mias diferentes. Eles tambm so detritvoros, promoven-do a remoo e reingresso da matria orgnica no ciclo denutrientes, aumentando a aerao do solo e prolongandoa sua capacidade produtiva (Milhomem et al., 2003).

    As demais famlias apresentaram baixssimas frequn-cias e foram no dominantes, dispersas e de ocorrnciaacidental, na vegetao, e algumas estiveram ausentes(Tabela 2).

    No Cerrado, as famlias Formicidae e Drosophilidaeapresentaram frequncias semelhantes, com 19,89 e19,45%, respectivamente, seguidas de Muscidae (16,64%)e Cicadellidae (16,51%). Destas, todas foram dominantes,muito abundantes, mas somente as formigas foram cons-tantes; as outras famlias encontradas foram acessrias(Tabela 2).

    Alguns padres de variao espacial e temporal j fo-ram descritos para as comunidades de drosofildeos doCerrado brasileiro (Tidon, 2006), mas os mecanismos res-ponsveis por esses padres ainda so pouco conheci-dos. Essas moscas so conhecidas por se alimentarem emuma ampla variedade de substratos orgnicos, incluindofrutos em decomposio, flores e fungos, entre outros(Shorrocks, 1974). Como no Cerrado Caririense existe umagrande diversidade de frutos silvestres, como o pequi

    Tabela 2. Anlise faunstica das famlias de insetos capturados na estao seca em trs vegetaes da Floresta Nacional do Araripe,Crato, Cear

    VegetaesFamlias Mata mida Carrasco Cerrado

    F (%) D A C (%) F (%) D A C (%) F (%) D A C (%)Formicidae 16,00 D ma 66,67c 21,37 D ma 66,66c 19,89 D ma 66,67cDrosophilidae 8,00 nd ma 8,33ac 14,38 D ma 55c 19,45 D ma 26,67aGryllidae 23,47 D ma 75c 5,03 nd c 41,67a 4,54 nd d 52aMuscidae 6,00 nd ma 7,54ac 7,11 nd ma 8,33ac 16,64 D ma 57,33aCurculionidae 14,00 D ma 33,33a 10,57 nd ma 25a 0,86 o o oTachinidae 14,00 D ma 25a 8,32 nd ma 41,67a 1,53 nd d 55cCicadellidae o o o o 4,68 nd c 33,33a 16,51 D ma 33,33aBlattidae 3,44 nd d 66,67c 7,11 nd ma 66,67c 8,00 nd ma 66,67cNitidulidae 4,00 nd d 8,33ac 1,04 nd d 8,33ac 7,18 nd ma 66,67cCydnidae 2,42 nd d 5,33ac 3,58 nd d 8,33ac 0,67 nd d 25acScarabaeidae 1,00 o o o 5,31 nd ma 8,33ac 0,43 o o oLonchaeidae o o o o o 3,70 nd d 7,5ac 0,10 o oVespidae 2,05 nd d 8,33ac 1,27 nd d 5,5ac 0,18 o o oIchneumonidae 0,54 o o o 1,10 nd d 50c 1,30 nd d 8,33acChrysomelidae 0,54 o o o 1,73 nd d ac 0,25 o o oForficulidae 1,29 nd d 8,33ac 0,75 o o o 0,45 o o oStenopelmatidae 0,65 o o o 1,04 nd d ac 0,43 o o oPentatomidae 1,24 nd d 8,33ac o o o o 0,25 o o oAcrididae 0,27 o o o o o o o 1,00 nd d 8,33acStaphylinidae 0,38 o o o 1,0 nd d 8,33ac 0,43 o o oErotylidae o o o o 0,98 nd d 7,5ac o o o oMelyridae 0,75 nd d 8,33ac o o o o o o o oF = Frequncia; D = Dominncia: D = dominante; nd = no dominante; A = Abundncia: c = comum; d = dispersa; ma = muito abundante;C = Constncia: c = constante; a = acessria; ac = acidental; o = sem ocorrncia.

  • 745Composio da entomofauna da Floresta Nacional do Araripe em diferentes vegetaes...

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    (Caryocar brasiliense Cambess.), a seriguela (Spondiaspurpurea L.), o caj (Spondias lutea L.), o ara (Psidiumaraca Raddi), a mangaba (Hancornia speciosa Gomes), ojuazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), a carnaba (Coperniciaprunifera (Mill.) H.E. Moore), o maracuj (Passifloraedulis Sims) e outras, isso faz com que esses insetos te-nham grande importncia na ciclagem de nutrientes, nes-sa vegetao, na estao seca.

    Por seu hbito fitossuccvoro, as cigarrinhas repre-sentam um grupo com grande potencial para estudos re-lacionados biodiversidade florestal e como indicadorasdas alteraes na composio vegetal (Coelho & Silva,2003). Esses insetos preferem habitat constitudo porvegetaes baixas (Vaz et al., 2009) e, provavelmente, pelofato da vegetao do Cerrado apresentar plantas maisbaixas, essa condio propiciou maior atividade de voodessas cigarrinhas entre as plantas e maior captura nasbandejas, quando comparado com a do Carrasco e a daMata mida.

    Os Blattidae e os colepteros Nitidulidae mantiveram-se com frequncias acima de 7%, foram constantes e mui-to abundantes na vegetao de Cerrado, porm no domi-naram. Os nitiduldeos so os principais polinizadores dasanonceas cultivadas, como a pinha e graviola (Nadel &Pea, 1994), e a maioria dos autores descreve essa famlia

    como uma das mais frequentes na polinizao de palmei-ras (Kchmeister et al., 1998). Alm de anonceas silves-tres, ocorrem tambm palmeiras na FLONA Araripe. Adisperso e a polinizao so processos ecolgicos es-tratgicos em comunidades florestais; seu estudo temgrande importncia no entendimento das variveis en-volvidas na organizao da comunidade (Yamamoto, 2001).Portanto, esses insetos tm um papel importante napolinizao das plantas da vegetao do Cerradocaririense.

    As moscas da famlia Tachinidae ocorreram de forma aces-sria nessa vegetao, enquanto os percevejos Cydnidae,os himenpteros Ichneumonidae e os gafanhotos Acrididae,de forma acidental, apresentando-se todos com baixafrequncia, no dominncia e disperso nessa vegetao.As demais famlias estiveram ausentes (Tabela 2).

    Insetos coletados na estao chuvosaNa estao chuvosa, foram amostradas um total de 21

    famlias, pertencentes, tambm, a sete ordens. Nessa es-tao, a ordem Diptera foi a mais rica, com seis famlias,seguida das Coleoptera e Hymenoptera, com quatro fam-lias cada. As Hemiptera e Orthoptera apresentaram a mes-ma riqueza (trs famlias), enquanto as Blattodea eDermaptera foram as menos ricas, com apenas uma famlia

    Tabela 3. Nmero total de indivduos, por ordem e famlia, capturados na estao chuvosa em trs vegetaes da Floresta Nacionaldo Araripe, Crato, Cear

    VegetaesMata mida Carrasco Cerrado Total

    Calliphoridae 808 2.138 10.910 13.856Tachinidae 0 5.463 4.292 9.755

    Sarcophagidae 277 982 2.067 3.326Tephritidae 2.182 46 4 2.232

    Stratiomyidae 0 0 1.605 1.605Drosophilidae 0 109 36 145

    Scolytidae 784 0 0 784Chrysomelidae 1 0 110 111Curculionidae 8 8 63 79

    Carabidae 0 0 28 28Formicidae 407 321 188 916

    Ichneumonidae 127 76 2 205Sphecidae 0 0 49 49Scoliidae 0 0 47 47

    Blattodea Blattidae 451 172 297 920Cicadellidae 87 204 116 407

    Hemiptera Reduvidae 1 6 7 14Cercopidae 0 0 11 11Gryllidae 389 46 227 662

    Stenopelmatidae 0 0 62 62Dermaptera Forficulidae 44 10 1 55

    5.610 9.591 20.122 35.323

    Ordem Famlia

    Diptera

    Coleoptera

    Hymenoptera

    Orthoptera

  • 746 Francisco Roberto de Azevedo et al.

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    Tabela 4. Anlise faunstica das famlias de insetos capturados na estao chuvosa em trs vegetaes da Floresta Nacional doAraripe, Crato, Cear

    VegetaesFamlias Mata mida Carrasco Cerrado

    F(%) D A C(%) F(%) D A C(%) F(%) D A C(%)Calliphoridae 14,40 D ma 58,33c 22,30 D ma 58,33c 54,22 D ma 58,33cTachinidae o o o o 57,00 D ma 51c 21,33 D ma 25aSarcophagidae 5,00 Nd d ac 10,54 D ma 58,33c 10,27 D ma 25aTephritidae 39,00 D ma 25a 0,50 nd d 25a 0,02 nd d 33,33aStratiomyidae o o o o o o o o 8,00 D ma 8,33acBlattidae 8,04 D ma 66,67c 1,80 nd d 66,67c 1,48 nd d 66,67cFormicidae 7,30 D ma 66,67c 3,34 nd d 58,33c 0,93 nd d 58,33cScolytidae 14,00 D ma 27a o o o o o o o oGryllidae 7,00 nd d 66,67c 0,50 nd d 50a 1,13 nd d 58,33cCicadellidae 1,60 nd d 33,33a 2,13 nd d 33,33a 0,58 nd d 33,33aIchneumonidae 2,30 nd d 8,33ac 0,80 nd d 33,33a o o o oDrosophilidae o o o o 1,14 nd d 58,33c 0,18 nd d 41,67aChrysomelidae 0,02 nd d 25a o o o o 0,55 nd d 25aCurculionidae 0,14 nd d 66,67c 0,10 nd d 58,33c 0,31 nd d 50aStenopelmatidae o o o o o o o o 0,31 nd d 33,33aForficulidae 0,80 nd d 25a 0,10 nd d 25a o o o oSphecidae o o o o o o o o 0,24 nd d 8,33acScoliidae o o o o o o o o 0,23 nd d 8,33acCarabidae o o o o o o o o 0,14 nd d 8,33acReduvidae 0,02 nd d 8,33ac 0,01 nd d 8,33ac 0,03 nd d 8,33acCercopidae 0,42 o o o o o o o 0,05 nd d 8,33acF = Frequncia; D = Dominncia: d = dominante; nd = no dominante; A = Abundncia: c = comum; d = dispersa; ma = muito abundante; C= Constncia: c = constante; a = acessria; ac = acidental; o = sem ocorrncia.

    cada (Tabela 3). Dos 35.323 indivduos capturados nessaestao, 56,97% foram encontrados no Cerrado, 27,15%no Carrasco e 15,88% na Mata mida.

    No Cerrado, a famlia mais frequente foi Calliphoridae(54,22%), constante na vegetao, seguida de Tachinidae(21,33%) e Sarcophagidae (10,27%), de ocorrncias aces-srias. Elas tambm foram dominantes e muito abundan-tes nessa vegetao, assim como, os Stratiomyidae, masde ocorrncia acidental (Tabela 4).

    Os insetos necrfagos, como as moscas califordeas esarcofagdeas, so os primeiros a chegarem s carcaasdos animais para a realizao de oviposies e alimenta-o dos adultos, minutos aps a morte (Smith, 1986), per-manecendo na carcaa ao longo dos estdios de decom-posio (Catts & Goff, 1992). Como no Cerrado existe umagrande diversidade de animais silvestres mortos, de sumaimportncia a presena dessas famlias para a ciclagem deenergia na vegetao.

    Os dpteros Tachinidae, por serem parasitoides, de-sempenham importante papel no equilbrio de populaesde insetos fitfagos nessa vegetao. Paschoalini et al.(2004), ao realizarem estudo no Parque Estadual do RioDoce, Estado de Minas Gerais, utilizando armadilhamalaise, em condies do cerrado, coletaram um total de25.298 indivduos, pertencentes a 27 famlias, sendo que

    uma das mais frequentes foram Tachinidae, com 11,68%do total.

    As larvas de moscas Stratiomyidae esto associadas decomposio de matria orgnica vegetal (Pujol-Luz etal., 2004). Rozkosny (1982) verificou o mesmo em adultosde espcies europeias, geralmente encontradas em vege-tao rasteira, como no Cerrado. Nesta famlia, encontram-se larvas coprfagas e sarconecrofitfagas, com partici-pao no processo de reciclagem da matria orgnica ve-getal. Da sua importncia no Cerrado e na estao chu-vosa, juntamente com os decompositores de matria or-gnica animal.

    As famlias Blattidae, Formicidae e Gryllidae foramconstantes, mas no dominaram e foram dispersas na ve-getao. J as famlias Cicadellidae, Drosophilidae,Chrysomelidae, Curculionidae e Stenopelmatidae ocorre-ram de forma acessria nessa vegetao, enquanto as fa-mlias Sphecidae, Scoliidae, Carabidae, Reduvidae eCercopidae ocorreram de forma acidental e todas, tam-bm, no dominaram e foram dispersas na vegetao.

    No Carrasco, a famlia mais frequente foi Tachinidae(57%), seguida de Calliphoridae (22,30%) e Sarcophagidae(10,54%). Elas tambm foram dominantes, muito abundan-tes e constantes na vegetao do carrasco (Tabela 4).Observou-se nessa vegetao grande surto de carrapa-

  • 747Composio da entomofauna da Floresta Nacional do Araripe em diferentes vegetaes...

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    tos na estao chuvosa. Provavelmente, a maiorfrequncia desses parasitoides deva-se a essa grandeocorrncia do aracndeo, promovendo assim, um equil-brio populacional pelo inimigo natural. J a presena dasmoscas califordeas e sarcofagdeas deve-se a grande di-versidade de animais silvestres mortos nessa vegetao,as quais so de suma importncia para a ciclagem de ener-gia no ecossistema do carrasco.

    Os Formicidae, Blattidae, Drosophilidae e Curculionidae,apesar de apresentarem baixa frequncia, foram constan-tes na vegetao do Carrasco, mas no dominaram e fo-ram dispersos na vegetao; porm, desempenham im-portante papel na incorporao e ciclagem de matria or-gnica no solo. Como nessa vegetao existiam frutos emfermentao e rvores mortas, esses insetos tm um pa-pel ecolgico muito importante para esse ecossistema.

    J os Gryllidae, Cicadellidae, Ichneumonidae eForficulidae ocorreram de forma acessria e, os Reduvidae,de forma acidental, mas todos no dominaram e foramdispersos na vegetao. As demais famlias estiveramausentes (Tabela 4).

    Na Mata mida, destacaram-se os Tephritidae, comuma frequncia de 39% (Tabela 4). Provavelmente, nessavegetao e na estao chuvosa tenham surgido maisfrutos hospedeiros silvestres do que nas outras vegeta-es, j que nessa famlia, encontram-se as chamadasmoscas-das-frutas, insetos frugvoros, atacando um gran-de nmero de frutos hospedeiros, cultivados e silvestres.No entorno da FLONA, os produtores familiares cultivamfrutas tropicais, dentre as quais se destaca a goiaba. Deacordo com Azevedo et al. (2010), as espcies Anastrephazenildae, A. obliqua, A. fraterculus, A. sororcula eCeratitis capitata so comuns no municpio do Crato,atacando no somente essa fruta, mais outras da regiodo Cariri.

    Em seguida a essa famlia, tm-se os Calliphoridae(14,40%) e Scolytidae (14 %). A maior ocorrncia dosescolitdeos deve-se a um maior nmero de rvores mor-tas nessa vegetao, j que algumas espcies contribuemna reciclagem de plantas mortas e a presena de espciesde Scolytidae est se tornando relativamente comum emplantaes florestais e sua importncia e abundncia tmaumentado nos ltimos anos (Flechtmann et al., 2001).Essa captura dos escolitdeos provavelmente ocorreudurante o voo para um novo hospedeiro, para constituirnova gerao. De acordo com Flechtmann (1995), o est-mulo para iniciar e permanecer em voo governado pelatemperatura, umidade relativa do ar e precipitao pluvial.Essas condies timas de sobrevivncia e desenvolvi-mento dos insetos provavelmente foram encontradas naMata mida durante a estao chuvosa. Essas famliasforam dominantes e muito abundantes, mas somente osCalliphoridae foram constantes na vegetao.

    Os Blattidae e Formicidae tambm foram dominantes,muito abundantes e constantes nessa vegetao. Essesinsetos tm importante papel na incorporao e ciclagemde matria orgnica no solo, j que nessa vegetao exis-te grande concentrao de serrapilheira no solo e a umi-dade da estao chuvosa favorece esse processo ecol-gico. Para faunas de formigas locais em florestas tropi-cais, at 50% podem estar associadas serrapilheira(Delabie & Fowler, 1995); aproximadamente 62% de todasas espcies descritas no mundo habitam o solo e, ou, aserrapilheira (Wall & Moore, 1999).

    Os Gryllidae e Curculionidae foram constantes, en-quanto os Cicadellidae, Chrysomelidae e Forficulidae ocor-reram de forma acessria e os Sarcophagidae,Ichneumonidae e Reduvidae, acidentalmente, mas todosno dominaram e foram dispersos na vegetao. Os gri-los, nessa poca do ano e na Mata mida, no ocorreramcom maior frequncia como na estao seca porque, pro-vavelmente, a ao das gotas de chuva reduziu a ativida-de desses insetos na vegetao, reduzindo a sua capturanas armadilhas de solo e, ou, bandejas. O mesmo pode terocorrido com os curculiondeos.

    CONCLUSES Os insetos da ordem Coleoptera so numerosos na

    estao seca, agindo como polinizadores de frutas(Nitidulidae), fitfagos (Curculionidae) e detritvoros(Scarabaeidae), alm de decompositores de matria org-nica na estao chuvosa.

    Os Diptera so numerosos na estao chuvosa, atu-ando no sistema ecolgico as moscas frugvoras(Drosophilidae e Tephritidae), decompositoras de carca-as de animais (Calliphoridae e Sarcophagidae) e de mat-ria orgnica (Stratiomyidae) e predadoras (Tachinidae).

    Os Gryllidae predominam na Mata mida e osFormicidae no Carrasco e Cerrado da estao seca.

    Os Calliphoridae predominam no Cerrado, osTachinidae no Carrasco e os Tephritidae na Mata mida,na estao chuvosa.

    Apesar de alguns txons no predominarem, cada umdesempenha importante papel ecolgico sobre as vegeta-es, nas estaes do ano.

    AGRADECIMENTOS Chefe do IBAMA, Vernica Maria Figueiredo, pela

    disponibilizao das reas para a realizao das coletasna Floresta Nacional do Araripe. Ao analista ambientalCarlos Leal Filho, pelo acompanhamento da pesquisa nes-sas reas, e ao voluntrio Sr. Chico, pelo auxlio na insta-lao das armadilhas e na coleta dos insetos no campo.

  • 748 Francisco Roberto de Azevedo et al.

    Rev. Ceres, Viosa, v. 58, n.6, p. 740-748, nov/dez, 2011

    REFERNCIASAzevedo FR, Guimares JA, Simplcio AAF & Santos HR (2010)

    Anlise faunstica e flutuao populacional de moscas-das-frutas(Diptera:Tephritidae) em pomares comerciais de goiaba na regiodo Cariri cearense. Arquivos do Instituto Biolgico, 77:33-41.

    Bruyn LAL (1999) Ants as bioindicators of soil function in ruralenvironments. Agriculture, Ecosystems and Environment,74:425-441.

    Buzzi ZJ (2008) Entomologia didtica. 4 ed. Curitiba, EditoraUFPR. 348p.

    Catts EP & Goff ML (1992) Forensic entomology in criminalinvestigations. Annual Review of Entomology, 37:253-272.

    Chung AYC, Eggleton P, Speight MR, Hammond PM & Chey VK(2000) The diversity of beetle assemblages in different habitattypes in Sabah, Malaysia. Bulletin of Entomological Research,90:475-496.

    Coelho LBN & Silva ER (2003) Flutuao populacional de Agalliaincongrua Oman, 1938 (Hemiptera: Cicadellidae) em Viosa,Minas Gerais, Brasil. Biota Neotropica, 3:1-8.

    Delabie JHC & Fowler HG (1995) Soil and litter cryptic ant assemblagesof Bahian cocoa plantations. Pedobiologia, 39:423-433.

    Flechtmann CAH (1995) Scolytidae em reflorestamentos compinheiros tropicais. Piracicaba, IPEF. 201p.

    Flechtmann CAH, Ottati ALT & Berisford CW (2001) Ambrosiaand bark beetles (Scolytidae: Coleoptera) in pine and eucalyptstands in southern Brazil. Forest Ecology and Management,142:183-191.

    Halter G & Arellano L (2002) Response of dung beetle diversityto humanin duced changes in a tropical landscape. Biotropica,34:144-154.

    Kimberling DN, Karr JR & Fore LS (2001) Measuring humandisturbance using terrestrial invertebrates in the shrub-steppe ofeastern Washington (USA). Ecological Indicators, 19:63-81.

    Kchmeister H, Webber AC, Silberbauer-Gottsberger I &Gottsberger G (1998) A polinizao e sua relao com atermognese em espcies de Arecaceae e Annonaceae da Ama-znia Central. Acta Amaznica, 28:217-245.

    Lima MF, Lima FAM & Teixeira MMS (1984) Mapeamento edemarcao definitiva da Floresta Nacional do Araripe, Cear,Brasil. Cincia Agronmica, 15:59-69.

    Lopes BGC (2008) Levantamento da entomofauna bioindicadorada qualidade ambiental em diferentes reas do alto Jequitinhonha-Minas Gerais. Monografia de graduao, Escola AgrotcnicaFederal de Inconfidentes, Inconfidentes, 47p.

    Milhomem MS, Mello FZV & Diniz IR (2003) Tcnicas de coletade besouros copronecrfagos no Cerrado. Pesquisa AgropecuriaBrasileira, 38:1249-1256.

    Nadel H & Pea JE (1994) Identity, behavior, and efficacy of nitidulidbeetles (Coleoptera: Nitidulidae) pollinating commercial Annonaspecies in Florida. Environmental Entomology, 23:878-886.

    Oberprieler RG, Marvaldi AE & Anderson RS (2007) Weevils,weevils, weevils every where. Zootaxa, 1668:1-766.

    Paschoalini EL, Fontonelle JC, Castro FS, Carvalho CS, CostaILL, Almeida JC, Sillotto H & Martins RP (2004) Variaoanual e estacional no nmero de indivduos de famlias de Diptera(Brachycera e Cychlorrapha) usando Malaise. In: CongressoBrasileiro de Zoologia Braslia, Braslia. Anais, UNB. p.97.

    Pujol-Luz JR, Xerez R & Viana GG (2004) Descrio do pupriode Raphiocera armata (wiedemann) (Diptera, Stratiomyidae)da Ilha da Marambaia, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileirade Zoologia, 21:995-999.

    Ricklefs RE (2001) A economia da natureza. 5a ed. Rio de Janeiro,Guanabara Koogan. 470p.

    Rozkosny R (1982) A biosystematic study of the EuropeanStratiomyidae (Diptera). Sries Entomolgica, 21:1-401.

    Sakagami SF & Laroca S (1971) Relative abundance, phenologyand flower visits of apid bees in Eastern Paran, South Brazil(Hym., Apidae). Konty, 39:213-230.

    Silveira Neto S, Nakano O, Bardin D & Vila Nova NA (1976)Manual de ecologia dos insetos. So Paulo, Agronmica Ceres.420p.

    Soares IMF, Gomes DS & Santos AA (2001) Influncia da compo-sio florstica na diversidade de formigas (Hymenoptera:Formicidae) na Serra da Jibia-BA. In: 15 Encontro deMirmecologia, Londrina, Resumos, IAPAR, p.331-332.

    Schorn LA (2000) Fatores que afetam a produo de sementes(Curso de manejo e conservao de sementes de espcies arbreasda Mata Atlntica Regio Sul), 1. Blumenau. 47p.

    Shorrocks B (1974) Niche parameters in domestic species ofDrosophila. Journal of Natural History, 8:215-222.

    Smith KGV (1986) A manual of forensic entomology. Ithaca,USA, Cornell University Press. 205p.

    Sperber CF (1999) Por que h mais espcies de grilo (Orthoptera:Grylloidea) em fragmentos florestais maiores? Dissertao deMestrado. Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 295p.

    Sperber CF, Soares LGS & Pereira MR (2007) Litter disturbanceand trap spatial positioning affects number of capturedindividuals and genera of crickets (Orthoptera: Grylloidea).Journal of Orthoptera Research, 16:1-7.

    Thomanzini MJ & Thomanzini APBW (2000) A fragmentaoflorestal e a diversidade de insetos nas florestas tropicais mi-das. Rio Branco, EMBRAPA Acre, 21p. (Circular Tcnica, 57).

    Thomanzini MJ & Thomanzini APBW (2002) Levantamento deinsetos e anlise entomofaunstica em floresta, capoeira e pas-tagem no Sudeste Acreano. Rio Branco, EMBRAPA Acre. 41p.(Circular Tcnica, 35).

    Tidon R (2006) Relationships between drosophilids (Diptera,Drosophilidae) and the environment in two contrasting tropi-cal vegetations. Biological Journal of the Linnean Society,87:233-247.

    Triplehorn CA & Johnson NF (2011) Estudo dos insetos. SoPaulo, Cengage Learning. 809p.

    Vaz VVA, Dummel K, Nunes MR, Gantes ML, Oliveira EA, Car-rasco DS & Zardo CML (2009) Comparao de Cicadellidae(Hemiptera; Auchenorrhyncha) em duas ilhas com diferentescomposies florsticas, situadas no esturio da laguna lagoa dospatos, RS, Brasil. In: 9 Congresso de Ecologia do Brasil, SoLoureno Minas Gerais, Anais, CD-ROM.

    Wall DH & Moore JC (1999) Interactions underground. BioScience,49:109-107.

    Whittaker RH (1977) Evolution of species diversity in landcommunities. Evolutionary Biology, 10:1-67.

    Wink C, Guedes JVC, Fagundes CK & Rovedder AP (2005) Insetosedficos como indicadores da qualidade ambiental. Revista deCincias Agroveterinrias, 4:60-71.

    Yamamoto LF (2001) Florstica e sndromes de polinizao edisperso em um fragmento de floresta estacional semidecduamontana, Municpio de Pedreira, Estado de So Paulo. Disser-tao de Mestrado. Universidade de Campinas, Campinas, 83p.

    Zidko A (2002) Colepteros (Insecta) associados s estruturasreprodutivas de espcies florestais arbreas nativas no Estadode So Paulo. Dissertao de Mestrado, Escola Superior de Agri-cultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 35p.