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AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DO IDOSO

Avaliação Geriátrica Ampla (AGA): Casos Clínicos Comentados

COORDENADORAS

Renata Costa Fortes Adriana Haack

Ana Lúcia Ribeiro Salomon

1ª edição

Editora Sena Aires

2018

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A 945

Avaliação multidimensional do idoso: avaliação geriátrica ampla (AGA):

casos clínicos comentados / Adriana Haack...[ et al. ]; coordenadoras Renata Costa Fortes; Adriana Haak; Ana Lúcia R. Salomon. Diagramador Daniarly da Costa. Projeto Gráfico Jonas Rodrigo Gonçalves. Supervisão Cristilene Akiko Kimura Martins. – Valparaiso de Goiás: Sena Aires, 2018. 299 f. : il

ISBN: 978-85-94473-03-5 Livro eletrônico

Modo de acesso: www.senaaires.com.br

1. Medicina. 2. Saúde. 3. Nutrição. 4. Geriatria. I. Título.

CDU 616-053.9

Ficha catalográfica: Aparecida Godoi

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COORDENADORAS

Adriana Haack Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB)-DF. Mestre em Nutrição Humana pela UnB-DF. Especialista em Nutrição Clínica, Enteral e Parenteral, com Metodologia Teórica e Prática pelo Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral (GANEP). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Saúde Coletiva pela UnB-DF. Graduada em Nutrição pela UnB-DF. Licenciada em Nutrição e Biologia pela Universidade Católica de Brasília-DF. Nutricionista do Hospital Materno Infantil (HMIB) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Professora Titular e Orientadora do Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) da Escola Superior em Ciências da Saúde (ESCS) da SES-DF. Professora Titular da Universidade Paulista (UNIP), Campus Brasília-DF. Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Membro da Equipe Ambulatorial de Atendimento ao Fibrocístico. Membro da Equipe de Atendimento às Crianças Portadoras de Alergia Alimentar do HMIB. Membro do Conselho de Segurança Alimentar-CONSEA. Membro do Comitê Central de Promoção de Saúde do DF. Membro da Comissão de Padronização de Nutrição da SES-

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DF. Membro da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional Enteral do HMIB. Recebeu, como profissional de Nutrição, Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal pelos relevantes serviços prestados à comunidade do DF.

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB)-DF. Mestre em Nutrição Humana pela UnB-DF. Especialista em Nutrição Clínica Funcional pelo Centro Valéria Pascoal, Universidade Cruzeiro do Sul (UniCSul). Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral, pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Gestão de Instituições de Saúde pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduada em Nutrição pela UnB-DF. Nutricionista do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Coordenadora da Comissão de Residência Multiprofissional de Saúde e em Área Profissional de Saúde (COREMU) da SES-DF. Coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção ao Câncer da Escola Superior em Ciências da Saúde (ESCS/FEPECS). Professora Titular e Orientadora do Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da ESCS. Professora Titular da Universidade

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Paulista (UNIP), Campus Brasília-DF. Recebeu, como profissional de Nutrição, Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal pelos relevantes serviços prestados à comunidade do DF.

Renata Costa Fortes Doutora em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB)-DF. Mestre em Nutrição Humana pela UnB-DF. Especialista em Nutrição Clínica, Enteral e Parenteral, com Metodologia Teórica e Prática pelo Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral (GANEP). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Clínica e Terapêutica Nutricional pelo Instituto de Pesquisa Capacitação e Especialização (IPCE). Especialista em Nutrição Clinica (Programa de Residência) pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Tutora em Educação à Distância (EaD). Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)-MG. Nutricionista do Núcleo de Atenção Domiciliar (NRAD) da Região Centro-Norte da SES-DF. Preceptora do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da SES-DF. Professora Titular e Orientadora do Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) da Escola Superior em Ciências da Saúde (ESCS) da SES-DF. Professora Titular da Faculdade de Ciências e Educação Sena Aires (FACESA) de Valparaíso de Goiás. Professora

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Titular da Universidade Paulista (UNIP), Campus Brasília-DF. Coordenadora do Curso de Nutrição da UNIP-DF. Editora Chefe da Revista de Divulgação Científica Sena Aires (REVISA). Membro da Comissão de Padronização de Nutrição da SES- DF. Membro do Comitê de Avaliação de Projetos apoiados pelo Fomento FEPECS da SES-DF. Recebeu, como profissional de Nutrição, Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal pelos relevantes serviços prestados à comunidade do DF.

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COLABORADORES

Adriana Haack Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB)-DF. Mestre em Nutrição Humana pela UnB-DF. Especialista em Nutrição Clínica, Enteral e Parenteral, com Metodologia Teórica e Prática pelo Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral (GANEP). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Saúde Coletiva pela UnB-DF. Graduada em Nutrição pela UnB-DF.

Alexandra Rubim Camara Sete Mestre em Ciências para a Saúde pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)-DF. Especialista em Clínica Médica (modalidade: residência médica) pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Especialista em Endocrinologia (modalidade: residência médica) pela SES-DF. Graduada em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM).

Alfredo Nicodemos da Cruz Santana Doutor em Pneumologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Especialista em Clínica Médica pelo HCFMUSP. Especialista em Pneumologia pelo HCFMUSP. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará. Fellow da American College of Chest Physicians (FCCP).

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Ana Lúcia Ribeiro Salomon Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB)-DF. Mestre em Nutrição Humana pela UnB-DF. Especialista em Nutrição Clínica Funcional pelo Centro Valéria Pascoal, Universidade Cruzeiro do Sul (UniCSul). Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral, pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Gestão de Instituições de Saúde pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduada em Nutrição pela UnB-DF.

Antonio João Santiago Especialista em Clínica Médica (modalidade: residência médica) pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Caroline Soares Menezes Mestranda do curso de Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). Especialista em Nutrição Clínica, Enteral e Parenteral, com Metodologia Teórica e Prática pelo Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral (GANEP). Especialista em Nutrição e Estética pelo Instituto de Pesquisas Ensino e Gestão em Saúde (IPGS). Graduada em Nutrição pela Universidade Católica de Brasília.

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Cássia Regina de Aguiar Nery Luz Mestre em Ciências para a Saúde pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)-DF. Especialista em Nutricão Clínica Funcional pela Universidade Ibirapuera - Centro Valéria Paschoal de Educacão (2006). Especialista em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Graduada em Nutrição pela Universidade de Brasília (UnB).

Fabiana Amaral Abritta Mestre em Ciências para a Saúde pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)-DF. Especialista em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade de Brasília (UnB). Graduada em Fisioterapia pelas Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central. Licenciada em Educação Física pela UnB.

Jordana Queiroz Nunes Alves Mestranda do curso de Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). Especialista em Nutrição Clínica (modalidade: residência em área profissional de saúde) pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário de Brasília.

Karina Díaz Leyva de Oliveira Especialista em Nutrição Clínica pelo Programa de Residência em Nutrição Clínica do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Brasília-DF, Brasil. Graduada em Nutrição pela Universidade Paulista (UNIP), Campus Brasília-DF.

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Keilla Lima Sirqueira Especialista em Nutrição Clínica pelo Programa de Residência em Nutrição Clínica do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Especialista em Nutrição Clínica Funcional, Esportiva e Fitoterapia pela Faculdade Laboro. Graduada em Nutrição pela Universidade de Brasília (UnB).

Levy Aniceto Santana Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre em Ciências da Saúde pela UnB. Especialista em Diagnóstico e Terapia Mecânica (Método Mckenzie) pelo Mckenzie Institute International. Graduado em Fisioterapia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Luana Salles de Morais Girão Mestre em Ciências para a Saúde pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)-DF. Especialista em Fisioterapia Neurofuncional pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em Acupuntura pela Uni-saúde. Especialista em Gestão do Cuidado ao Paciente Crítico pelo Hospital Sírio Libanês (HSL). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Católica de Petrópolis.

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Luiz Guilherme Loivos de Azevedo Mestre em Ciências para a Saúde da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (FEPECS/SES-DF), Especialista em Gestão Pedagógica, Prótese Dentária, Implantodontia, Periodontia e Odontologia em Saúde Coletiva. Graduado em Odontologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Brasil.

Maria Rita Carvalho Garbi Novaes Pós-Doutora em Ética em Pesquisa Clínica pela Universidade do Chile. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre em Educação de Profissionais de Saúde pela Universidade de Maastrich, Holanda. Mestre em Química Orgânica pela Universidade de Brasília. Especialista em Terapia Nutricional pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE). Especialista em Farmácia Hospitalar pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar. Especialista em Farmácia Oncológica pela Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia. Especialista em Farmácia Clínica pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar. Graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

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Marta Simone Fabricio Tiago Vilarinho Mestranda do curso de Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). Especialista Multiprofissional em Saúde da Familia pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Educação Especial Inclusiva (UNIASSELVE). Possui graduação em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Raiane de Negreiros Oliveira Especialista em Nutrição Clínica pelo Programa de Residência em Nutrição Clínica do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Brasília-DF, Brasil. Graduada em Nutrição pela Universidade Paulista (UNIP), Campus Brasília-DF.

Renata Costa Fortes Doutora em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB)-DF. Mestre em Nutrição Humana pela UnB-DF. Especialista em Nutrição Clínica, Enteral e Parenteral pelo Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral (GANEP). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Clínica e Terapêutica Nutricional pelo Instituto de Pesquisa Capacitação e Especialização (IPCE). Especialista em Nutrição Clinica (Programa de Residência) pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)- MG.

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Vanessa Teles Felinto Mestranda do curso de Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). Especialista em Gastronomia e Saúde, pelo Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (UnB). Especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (UniCSul). Graduada em Nutrição pela Universidade Católica de Brasília.

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DEDICATÓRIA

Qualquer aprendizado tem sempre um início e nosso aprendizado é contínuo, compartilhado entre

os nossos pares, colegas de trabalho.

Nossos alunos são uma responsabilidade de vida e cada aluno, profissional do setor saúde que passa

em nossas vidas, é único e acrescenta novos conhecimentos, nos transforma.

Dedicamos esta obra aos nossos colegas de

profissão , servidores do setor de saúde que, como nós, estão em constante aprendizado para servir

melhor.

As autoras

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EPÍGRAFE

"Quando a velhice chegar, aceite-a, ame-

a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que

vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida

de um homem. Mesmo quando tenhas

alcançado o limite extremo dos anos,

estes ainda reservam prazeres."

(Sêneca)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade de alcançarmos o sonho dessa publicação;

Aos discentes do Mestrado Profissional em

Ciências para a Saúde da ESCS, que colaboraram com tanto empenho e carinho para a realização dos

relatos de caso;

Às residentes do Programa de Residência em Rede: Nutrição Clínica da SES-DF, que com

dedicação e amor, atenderam ao nosso chamado para colaborarem com este livro;

Especialmente aos pacientes que, com muito

carinho e alegria, compartilharam conosco suas histórias e nos permitiram fazer parte delas, de modo a construirmos juntos uma melhor saúde

pública para a nossa população;

Nossa eterna gratidão.

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APRESENTAÇÃO

Prezado(a) Leitor(a),

Este livro de apoio didático intitulado “Avaliação Geriátrica Ampla: Casos Clínicos Comentados” tem como propósito auxiliar os leitores na sistematização e na apropriação do conhecimento sobre a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), visto que a abordagem do ser humano deve ser holística. Ele está separado em 17 capítulos que descrevem a importância da aplicação da AGA em indivíduos idosos nas diversas situações e condições clínicas.

O Capítulo 1 aborda a transição demográfica e epidemiológica vivenciada pela sociedade brasileira, as implicações clínicas decorrentes do processo de envelhecimento e a atuação de uma equipe multiprofissional. E, no Capítulo 2, está descrita a importância de utilização da AGA. O processo de envelhecimento não se limita aos aspectos demográficos e, nesse sentido, surgem alguns questionamentos. A quem se deve a responsabilidade pelo cuidado global do idoso? Cada especialidade cuida de sua “parte” separadamente? O cuidado será mais completo se

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o idoso contar com uma equipe multiprofissional. Com esse propósito, profissionais da área de saúde tem utilizado a AGA para identificar a vulnerabilidade em idosos no intuito de direcionar o planejamento do cuidado e o acompanhamento em longo prazo.

Os Capítulos 3 a 16 relatam e comentam os casos clínicos conduzidos em idosos, de ambos os sexos, por meio da utilização da AGA aplicada por profissionais de distintas categorias. São descritas as diversas condições clínicas presentes em idosos, tais como: pré-fragilidade, fragilidade, vulnerabilidade, síndrome metabólica, osteodiscoartrose vertebral, osteopenia, dor lombar, hipotireoidismo, depressão, dentre outros agravos à saúde. Mostra-se, por meio desses relatos, a importância de uma avaliação completa, minuciosa e multiprofissional no cuidado aos idosos.

O Capítulo 17 descreve alguns significados dos conceitos mais usuais na prática clínica pela equipe multidisciplinar que assiste a pessoa idosa. Ao longo dos capítulos, discute-se o processo de envelhecimento, as alterações na capacidade funcional com o avançar dos anos, a possibilidade de déficits cognitivos que podem comprometer a qualidade de vida da população geriátrica, dentre outros aspectos.

Desejamos a todos(as) uma ótima e

enriquecedora leitura!

As autoras.

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SUMÁRIO

Apresentação .......................................................................... 18

Capítulo 1: Envelhecimento Populacional: uma transição demográfica e epidemiológica (Adriana Haack; Renata Costa Fortes) ..................................................................................... 21

Capítulo 2: Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) (Adriana Haack; Renata Costa Fortes) ............................................................... 28

Capítulo 3: Avaliação de um Paciente Pré-Frágil de 91 Anos de Idade (Luiz Guilherme Loivos de Azevedo; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Adriana Haack) .............. 35

Capítulo 4: Síndrome Metabólica em Idosa com Humor Deprimido (Cássia Regina de Aguiar Nery Luz; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Renata Costa Fortes; Adriana Haack 56

Capítulo 5: Vulnerabilidade e Fragilidade de uma Idosa Independente (Jordana Queiroz Nunes Alves; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Adriana Haack; Maria Rita Carvalho Garbi Novaes) .......................................................... 75

Capítulo 6: Capacidade Funcional de um Idoso com Osteodiscoartrose Vertebral (Marta Simone Fabrício Tiago Vilariho; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Levy Aniceto Santana). ........................................................... 94

Capítulo 7: Avaliação da Fragilidade em Idosa com Queixa de Dor Lombar (Luana Salles de Morais Girão; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Renata Costa Fortes; Levy Aniceto Santana 117

Capítulo 8: Avaliação Geriátrica Ampla em Idosa Hospitalizada após Colecistectomia Videolaparoscópica (Caroline Soares Menezes; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon) ............................................................................... 128

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Capítulo 9: Impacto dos Hábitos de Vida de um Idoso (Raiane de Negreiros Oliveira; Adriana Haack; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon) .................................................. 151

Capítulo 10: Desempenho dos Sistemas Funcionais de Um Idoso Hospitalizado (Karina Díaz Leyva de Oliveira; Renata Costa Fortes; Adriana Haack; Ana Lúcia Ribeiro Salomon)...167

Capítulo 11: Avaliação de Idosa Hospitalizada com Alto Risco de Vulnerabilidade e Fragilidade (Vanessa Teles Felinto; Adriana Haack; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon) ............................................................................... 189

Capítulo 12: Avaliação Geriátrica Ampla de Um Idoso Internado na Sala de Emergência em Um Hospital Público do Distrito Federal (Antonio João Santiago; Adriana Haack; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Renata Costa Fortes) ................................ 203

Capítulo 13: Delineamento do Estado Nutricional e Capacidade Funcional de um Idoso Hospitalizado (Alline Gonçalves Monteiro). .............................................................................. 219

Capítulo 14: Capacidade Funcional de uma Idosa Sedentária e Tabagista Diagnosticada com Litíase Vesicular (Keilla Lima Sirqueira). .............................................................................. 237

Capítulo 15: Avaliação de uma Idosa com Hipotireoidismo em um Ambulatório de Endocrinologista do Sistema Único de Saúde (Alexandra Rubim Camara Sete; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Alfredo Nicodemos da Cruz Santana). ............................................................................... 257

Capítulo 16: Avaliação Geriátrica Ampla, Autonomia e História de Quedas (Fabiana Amaral Abritta; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon; Ana Patrícia de Paula). ................... 268

Capítulo 17: Significados dos Conceitos Utilizados na Prática Clínica pela Equipe Multidisciplinar (Adriana Haack; Renata Costa Fortes; Ana Lúcia Ribeiro Salomon) ........................... 285

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Capítulo 1 – Envelhecimento Populacional: Uma Transição Demográfica e Epidemiológica

Adriana Haack

Renata Costa Fortes

A sociedade brasileira vem apresentando, nos últimos anos, mudanças em sua pirâmide etária devido à participação crescente da população idosa. O envelhecimento demográfico, no Brasil, surge principalmente das alterações na fecundidade, na taxa de mortalidade infantil, na mortalidade e na migração1-3.

A transição demográfica e epidemiológica trouxe importantes consequências para a atuação profissional em equipe. Do ponto de vista teórico, as alterações fisiológicas e as enfermidades cursam com uma dependência física, que deve ser evitada e, tal fato, demanda um aprofundamento dos níveis de prevenção e suporte. Devem ser estimuladas ações de integralidade à saúde do idoso, com a diversificação de cenários e capacitação multiprofissional em um modelo ampliado que estimule a autonomia, a saúde física e mental, assim como, intervenções baseadas em diagnóstico , terapêutica e reabilitação adequados.

O processo de transição demográfica impacta diretamente na chamada transição epidemiológica, que indica um importante crescimento das doenças crônicas não transmissíveis em todo o mundo e traz o desafio de como viver melhor, sem incapacidades e com boa

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qualidade de vida. O paradigma da capacidade funcional e a importância de que os anos conquistados a mais de vida possam ser livres de incapacidades contribuem com um envelhecimento mais ativo e com menores morbidades. Nesse sentido, tem grande importância o enfoque na promoção da saúde e na prevenção de doenças em uma população que está envelhecendo4. Mesmo na presença de comorbidades e diminuição da funcionalidade é possível identificar idosos que referem altos níveis de satisfação e boa qualidade de vida5.

O processo de envelhecimento não se resume aos aspectos demográficos. Sua complexidade exige que seja estudado por diversas disciplinas, principalmente equipes multidisciplinares, e sob múltiplos ângulos; o envelhecimento ativo e a atitude com a vida, a adaptação às fases tardias e a alta função cognitiva, mental e física. É um fenômeno que percorre toda a história da humanidade, mas apresenta características diferenciadas de acordo com a cultura e o conhecimento. E a quem se deve a responsabilidade pelo cuidado global deste idoso? Geriatra? Enfermeiro? Nutricionista? Farmacêutico? Odontólogo? Fisioterapeuta? Psicólogo? Ou cada especialidade cuida de sua “parte” separadamente? O cuidado será mais completo se o idoso contar com uma equipe articulada para acompanhar, interagir, resolver todas as necessidades e carências do idoso,

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abrangendo diferentes aspectos do envelhecimento.

Quando se pretende estabelecer ações e práticas em saúde para um idoso, é preciso considerar as variações individuais. A “alta função cognitiva, mental e física“ pode estar presente em um indivíduo idoso com 80 anos que realize trabalhos voluntários, pratique atividade física regularmente e tenha acesso aos serviços de saúde. No entanto, aos 60 anos, pode-se ter um idoso mais comprometido do que um idoso aos 80 anos, devido às condições de saúde e de elementos importantes como as relações familiares desfavoráveis e a falta de recursos financeiros que possibilitem o acesso às novas tecnologias e medicamentos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo para atingir esta visão de idoso dinâmico, atuante6. Define “envelhecimento ativo” como o processo de otimização de oportunidades para a saúde, participação e segurança, a fim de melhorar a qualidade de vida. Embora os indivíduos possam não ter controle sobre as experiências no início de vida como a pobreza ou baixa educação, as ações realizadas durante o resto da vida – “a atitude com a vida”, pode afetar a saúde no futuro, assim como, “as fases tardias” podem ser determinadas pelas experiências heterogêneas e novas estratégias para a obtenção de bem–estar e qualidade de vida5,7.

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A OMS também estabelece parâmetros diferenciados para o início do processo de envelhecimento. Entende, desde 1982, que, nos países mais ricos, o patamar começa aos 65 anos, enquanto, nos países em desenvolvimento, se inicia aos 60 anos8. O envelhecimento, portanto, embora se refira a determinada faixa etária, tem suas especificidades marcadas pela posição de classe social, pela cultura, condições socioeconômicas e de saúde individuais e/ou coletivas da região9.

É importante destacar que as tensões psicológicas e sociais podem também apressar as deteriorações associadas ao processo de envelhecimento. Percebe-se, no indivíduo que envelhece, uma interação maior entre os estados psicológicos e sociais refletidos na sua adaptação às mudanças. A habilidade pessoal de se envolver, de encontrar significado para viver, provavelmente influencia as transformações biológicas e de saúde que ocorrem no tempo da velhice. Assim, o envelhecimento é decisivamente afetado pelo estado de espírito, muito embora dele não dependa para se processar10.

No Brasil, as questões relativas ao envelhecimento e à geriatria começaram a ser pontuadas e estudadas mais recentemente e, por isso, são necessários instrumentos de avaliação geriátrica eficientes, completos, a custos razoáveis, cujo objetivo seja o diagnóstico precoce de problemas de saúde e a orientação aos serviços de apoio onde e quando forem necessários. Com esse

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propósito, muitos profissionais de saúde tem utilizado a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) para identificar indivíduos vulneráveis, com baixa sobrevida e com baixa capacidade funcional11,12.

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Referências

1. Laurenti R. Transição demográfica e transição epidemiológica. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE EPIDEMIOLOGIA. Epidemiologia e desigualdade social: os desafios do final do século, 1., 1990, Campinas, SP. Anais... Campinas: UNICAMP; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1990. p. 143-165. 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística( IBGE.) Projeção da população do Brasil por idade e sexo, 1980–2050: revisão 2008. Rio de Janeiro, 2008. Disponívelem:<http://www.ibge.gov.br/home/estatist ica/populacao/projecao_da_ populacao/2008/projecao.pdf>. Acesso em: 2 outubro 2016. 3. Vasconcelos AMN, Gomes MMF. Transição demográfica: a experiência brasileira. Epidemiol Serv Saúde 2012; 21 (4):539-48. 4. Achutti A, Azambuja MIR. Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: repercussões do modelo de atenção à saúde sobre a seguridade social. Ciênc saúde coletiva 2004; 9(4):833-40. 5. Lima AMM, Silva HS, Galhardoni R. Successful aging: paths for a construct and new frontiers. Interface – Comunic Saúde Educ 2008; 12(27):795-807. 6. Organização Mundial de Saúde (2002). Active aging: a policy framework. Geneva: OMS. 7. Azevedo MSA. O envelhecimento ativo e a qualidade de vida: uma revisão integrativa. [dissertação]. Porto : Escola Superior de Enfermagem do Porto;2015.

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8. Mazo GZ, Lopes MA, Benedetti TB. Atividade física e o idoso: concepção gerontológica. Porto Alegre: Sulina, 2001. 9. Organização Mundial de Saúde ( OMS) . Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan Americana de Saúde, 2005. 10. Leite RCBO. O idoso dependente em domicílio [tese]. Salvador: Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia; 1995. 11. Paixão CM, Reichenheim ME. Uma revisão sobre instrumentos de avaliação do estado funcional do idoso. Cadernos Saúde Pública 2005; 21 (1):7-19. 12. Costa EFA, Monego ET. Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Revista da UFG 2003; 5(2). Disponível em : www.proec.ufg.br . Acesso em: 05 agosto 2017.

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Capítulo 2 –Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)

Adriana Haack Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Ao considerar um indivíduo idoso, o profissional de saúde deve ter um olhar diferenciado, analisando sua saúde muito além da presença de morbidades como a hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito, dentre outras, mas por meio da preservação de autonomia e independência. A manutenção da capacidade decisória, bem como do autocuidado e de uma vida social, são elementos chave para a garantia da qualidade de vida na terceira idade1.

O envelhecimento é um processo que cursa com a redução da reserva homeostática, associada à diminuição da capacidade de resposta ao estresse, o que se relaciona à redução multissistêmica da reserva funcional, manifesta clinicamente pelo comprometimento de massa e função muscular1 (sarcopenia), sendo esta substituída por colágeno e gordura2, disfunção neuroendócina e alteração imune1.

A perda progressiva de massa muscular, aliada à rigidez tendinar, resultam na diminuição de força, tônus e velocidade de contração dos músculos, o que gera lentidão nos movimentos e na reação a estímulos. Como consequência, o idoso passa a apresentar modificações na marcha, além de ter seu centro de equilíbrio deslocado pela

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curvatura da coluna e redução na movimentação dos braços, o que pode ocasionar quedas. A cronicidade desta ocorrência pode evoluir para o comprometimento da independência, com início da síndrome do déficit no autocuidado2.

Observa-se que há uma complexidade inerente ao envelhecimento e esta é multifatorial. O idoso pode ser portador de alguma doença oculta e/ou apresentar múltiplas doenças (multimorbidades), demandando de elevada utilização de fármacos (polifarmácia). Pode ser ainda portador de fragilidade, além de ter maior probabilidade de morte seja por se apresentar no final da vida, seja por ser portador de doenças sem perspectiva de cura. Diante desse quadro, denota- se que a avaliação do indivíduo idoso deve, de igual forma, ser multidimensional, ao levar em consideração todos os aspectos que envolvem envelhecer com qualidade3.

O termo AGA começou a ser utilizado no final da década de 30 e é considerado uma avaliação de idosos que utiliza parâmetros de ordem multidimensional e interdisciplinar. O atendimento ao idoso requer uma abordagem abrangente e a AGA contempla um conjunto de informações sobre o status funcional, equilíbrio e mobilidade, função cognitiva, deficiências sensoriais, estado emocional, disponibilidade e adequação de suporte familiar e social, condições ambientais entre outros4.

A AGA tem como objetivo determinar as fragilidades do idoso, principalmente com relação à

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capacidade funcional, direcionando o planejamento do cuidado e o acompanhamento em longo prazo. Ela complementa o exame clínico tradicional, melhora a precisão diagnóstica e serve de guia para a escolha de medidas que visam restaurar e preservar a saúde4.

A AGA tem uma estrutura muito variável. Os seus componentes podem ser diferentes, dependendo da equipe que a aplica e do local onde é realizada, se em hospital, instituição de longa permanência, pronto-socorro ou ambulatório. Pode ser subdivida em dados de identificação, inventário de doenças e medicamentos, dimensão clínica e funcional e a avaliação final (Anexo A). Apesar de a diversidade, ela tem características próprias e constantes como o fato de ser sempre multidimensional e utilizar instrumentos (escalas e testes) para quantificar a capacidade funcional e avaliar parâmetros psicológicos e sociais. São dimensões e subdimensões da AGA5,6: - Estado funcional: a) Equilíbrio e mobilidade; b) Atividades da vida diária (AVD); c) Atividades instrumentais da vida diária (AIVD). - Condições médicas: a) Lista ou mapa de problemas; b) Comorbidades; c) Gravidade das doenças; c) Inventário de medicamentos; d) Deficiências sensoriais; e) Avaliação nutricional. - Funcionamento social: a) Disponibilidade e adequação de suporte familiar e social; b) Condições ambientais. - Saúde mental (cognição e humor): a) Função cognitiva; b) Rastreio para depressão.

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Na perspectiva mundial, o processo de envelhecimento brasileiro assume particular interesse pelo volume de população envolvida e pela intensidade com que ocorre. O perfil de saúde da população modificou-se: ao invés de processos agudos, que teriam um desfecho rápido para cura ou óbito, tornaram-se predominantes as doenças crônicas e suas complicações, que implicam aumento da utilização dos serviços de saúde e necessidade de capacitação profissional para o atendimento e acompanhamento7.

Infelizmente, as intervenções sobre as causas de morbimortalidade dos idosos são muitas vezes ineficazes ou insuficientes mesmo nas melhores circunstâncias7. O ser que envelhece, acometido por múltiplas enfermidades, deve ser investigado de forma holística. A avaliação geriátrica faz parte de um novo paradigma cujo foco primordial é a reabilitação de funções no intuito de minimizar as condições desfavoráveis e o alto custo para a atenção ao idoso8.

Em um estudo transversal e descritivo realizado com a participação de enfermeiros plantonistas no serviço de triagem de urgência e emergência, constatou-se que a AGA permite identificar problemas não diagnosticados e é de grande utilidade na decisão terapêutica, sendo imprescindível na triagem geriátrica9.

Estudos apontam que os critérios usados pela AGA são preditores de morbimortalidade9,10. Na oncogeriatria, a utilização da AGA pode influenciar as decisões utilizadas na terapêutica

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contra o câncer, visto que é capaz de detectar problemas não diagnosticados, além de melhorar o status funcional e, consequentemente, a sobrevida10.

O uso de instrumentos globais, o conhecimento multidimensional dos idosos pelos envolvidos no atendimento, ou seja, a avaliação da capacidade funcional em equipe pode auxiliar no diagnóstico de deficiências e incapacidades e deve ser aliada ao exame clínico tradicional. Nos próximos Capítulos serão apresentados diversos casos clínicos por meio da aplicação da AGA.

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Referências

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9. Assis EM de, Lucena KDT de, Luz NS et al. A utilização da avaliação geriátrica ampla por enfermeiros de um hospital de emergência. Rev enferm UFPE 2016; 10(12):4481-6. 10. Karnakis T. Oncogeriatria: uma revisão da avaliação geriátrica ampla nos pacientes com câncer. RBM 2011; volume 68. Edição Especial. Oncologia.

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Capítulo 3 – Avaliação de um Paciente Pré- Frágil de 91 Anos de Idade

Luiz Guilherme Loivos de Azevedo Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Adriana Haack

Resumo

A síndrome de fragilidade tem sido um preditor independente de mortalidade, morbidade, institucionalização, hospitalização e reinternações. Avaliações multidimensionais dos idosos têm sido propostas no sentido de identificar precocemente os quadros de fragilidade e pré-fragilidade, o que permite a busca por reversão ou postergação do quadro. Nesse relato de caso é apresentado o resultado da aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla em um paciente de 91 anos de idade. Após a realização de uma análise sistemática e multidimensional, a despeito da presença de fatores de risco como idade avançada, baixa escolaridade, mobilidade prejudicada e não ser casada, foi constatado que o paciente mantém-se ativo e com capacidade cognitiva preservada. Este relato pode servir como modelo exemplar para a coleta de experiências e para traçar estratégias no sentido de fundamentar análises dos diferentes

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subtipos de idosos e suas características biopsicossociais.

Palavras-chave: Idoso, fragilidade, avaliação geriátrica.

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Introdução

Com o declínio da mortalidade na década de 60 e a queda da fecundidade a partir dos anos 80, o Brasil tem experimentado uma rápida transição demográfica, produzindo uma pirâmide etária com

1 maior peso relativo para adultos e idosos . Essa transição vivida no país refletiu as mudanças na estrutura da população ocorridas em nível mundial e teve como causa o melhor controle dos riscos ambientais e a melhora nas intervenções

2,3 clínicas .

Com esse novo panorama, houve também a modificação do perfil de morbidade da população, e as doenças crônicas, juntamente com suas consequências, passaram a preponderar sobre os

4 processos patológicos agudos . Entretanto, para lidar com essa prevalência de doenças crônicas em um contingente aumentado de idosos, o sistema de saúde brasileiro foi impelido a buscar maior planejamento e qualidade da informação, para subsidiar planos de ação, servir na análise de riscos, definir as possíveis ações em saúde e, não menos importante, permitir uma estimativa de

5 custos de forma objetiva e racional .

A partir dessa necessidade, autores têm defendido a preferência pela utilização de uma avaliação geriátrica eficiente, a custos razoáveis, no intuito de diagnosticar precocemente problemas de saúde e auxiliar o planejamento

6 dos serviços de assistência . Para essa

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população, entretanto, uma avaliação física e um diagnóstico diferencial tradicional não são suficientes. A prática clínica geriátrica deve-se

6 preocupar com a qualidade de vida dos idosos , especialmente com aqueles considerados frágeis, pois possuem maior chance de adoecer

7 gravemente em razão da diminuição da resiliência biológica e queda da plasticidade comportamental; ambas compatíveis com o processo natural do envelhecimento.

Embora a definição de fragilidade ainda não seja um consenso na literatura, para fins didáticos, será considerado frágil todo idoso que apresente uma síndrome geriátrica envolvendo declínio das reservas de energia, desregulação neuroendócrina, rebaixamento da função imune e diminuição da resistência a estressores - características que, de modo geral, são resultantes do processo de envelhecimento fisiológico que se somarão ao conjunto de riscos à saúde e funcionalidade experimentados durante a vida.

Em consequência dessas perdas, um idoso frágil poderá apresentar anormalidades do equilíbrio e de marcha, condicionamento físico precário, confusão mental e incontinência fecal e/ou de urina, podendo piorar o funcionamento intelectual em suas atividades diárias, o que compromete sua motivação cotidiana, participação

2, 6-10 social e bem estar subjetivo . Estima-se que entre 10% e 27% da população acima de 65 anos

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8 é frágil e, entre indivíduos acima de 85 anos, a

8 prevalência de fragilidade chega a 45% .

Visando, portanto, garantir uma análise ampla do idoso, pesquisadores têm repensado o modelo de atendimento a essa população, propondo a utilização instrumentos, como a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) - composto por métodos de análise sistemática e que propõe um trabalho interdisciplinar, que permite um tratamento e monitoramento em longo prazo6.

As dimensões mais estudadas e utilizadas na AGA referem-se ao estado funcional, saúde mental e funcionamento social. No que tange a população idosa, a capacidade funcional tornou-se o novo paradigma de saúde; a dimensão base na avaliação geriátrica, uma vez que o declínio funcional, natural na senescência, poderá exigir

5,6 maior necessidade por assistência médica . Dentre os métodos habituais para se realizar uma avaliação funcional estruturada consistem a observação direta (testes de desempenho) e a utilização de questionários auto aplicados ou concebidos para entrevistas face a face, sistematizados por meio de uma série de

4,11 escalas .

Outros componentes da fragilidade são o 6,8,9

déficit cognitivo e a análise da marcha. Estudos confirmam a hipótese de que indivíduos não frágeis com baixo funcionamento cognitivo (< 21 no Mini Exame do Estado Mental ) teriam maior

12 risco de se tornarem frágeis ao longo de 10 anos .

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2 Lopes , por sua vez, encontrou associação entre a idade e o desempenho cognitivo, onde os mais velhos (entre 75 e 84 anos) apresentavam pior desempenho que os pacientes entre 65 e 74 anos de idade. A análise da marcha, por sua vez, tem como objetivo avaliar a mobilidade, transferência,

8-10 estabilidade da deambulação e domínio do meio onde está inserido.

O objetivo deste relato de caso foi apresentar e registrar a experiência da aplicação do AGA, juntamente com outros dois instrumentos de coleta, em um paciente muito idoso, além de discutir o processo de avaliação e os resultados obtidos.

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Métodos

Estudo exploratório, observacional, qualitativo, do tipo relato de caso, realizado em março de 2016, no âmbito domiciliar de um idoso, escolhido por conveniência para participar da pesquisa em questão. O acesso à residência do idoso foi mediado por uma agente comunitária de saúde.

A coleta de dados foi realizada por um único entrevistador por meio da aplicação de três questionários. O primeiro questionário teve como objetivo coletar as informações sociodemográficas; o segundo, (OHIP 14 - Oral Health Impact Profile13) identificar como as condições bucais interferem na qualidade de vida do paciente e; o terceiro e último, aplicar a AGA6.

Os resultados obtidos foram discutidos com base nos registros digitais da Bireme, PubMed, SciELO e Lilacs. Os descritores utilizados foram: idoso, fragilidade, avaliação geriátrica.

O idoso, após informações sobre os objetivos e os procedimentos do estudo, aceitou participar voluntariamente e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme estabelecido pela Resolução número 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.

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Relato de Caso

Paciente aposentado, do sexo masculino, solteiro, nascido em abril de 1925 (91 anos), residente no bairro do Areal, localizado na cidade de Águas Claras (DF). É o mais velho dentre três irmãos que moram na mesma residência - igualmente solteiros.

A coleta dos dados foi realizada na varanda da residência do idoso; ambiente semelhante a uma garagem, que fazia parte de uma casa térrea. Em mesa instalada permanentemente no local, havia vários livros de temática religiosa (cristã) e cadeiras de plástico.

Cabem aqui algumas observações sobre o cenário observado. Em parte da varanda haviam tijolos ordenadamente empilhados, juntamente com areia e materiais de reforma, os quais, segundo o entrevistado, foram organizados por ele e pelos irmãos e que seriam utilizados, também por eles próprios, em pequenos ajustes na estrutura da casa.

O paciente possue 1o grau incompleto (tendo estudado por apenas três anos). Atualmente não trabalha e vive de aposentadoria. Referiu não fumar (deixou o hábito há 30 anos), não ingere bebidas alcoólicas e não consume carne vermelha (deixou de consumir há mais de 40 anos ).

Quanto à percepção de saúde bucal, o mesmo afirmou que considerava sua condição boa, embora tenha ido ao dentista há mais de dois anos

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(na época procurou serviço pela presença de dor). Informou que nunca realizou tratamento odontológico regular, apenas tratamento para dores agudas.

O OHIP-1413 é um questionário validado no Brasil e que possui grande sensibilidade para detecção de insatisfações provocadas pelas condições bucais. O OHIP-1413 possui quatorze perguntas, organizadas duas a duas, distribuídas em sete dimensões conceituais: limitação funcional, dor, desconforto psicológico, inabilidade física, inabilidade psicológica, inabilidade social e limitação física (sensação de prejuízo).

O resultado do OHIP-14 13do paciente apresentou um somatório de valor perto de zero, indicando que o estado clínico da sua dentição não traz desconfortos em nenhuma das dimensões avaliadas. A despeito do estado clínico bucal do paciente foram evidenciados, durante a entrevista, a perda de alguns dentes, o desgaste acentuado em outros e a presença de restos radiculares.

A terceira parte da avaliação foi a AGA6. Os resultados obtidos com a AGA estão descritos no Quadro 2.1 e, após análise, constatou-se que o indivíduo não possuía vulnerabilidade.

A análise clínica do paciente revelou que o mesmo não possuía nenhuma doença ou necessidade por uso de medicamentos. Na análise da marcha (Timed up and go)6 o tempo excedeu 20s, caracterizando uma marcha alterada e um risco aumentado de queda.

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No Mini Exame do Estado Mental (MEEM)6, o paciente obteve 25 pontos, caracterizando uma boa pontuação apesar de sua baixa escolaridade. E, em relação à Escala de Depressão Geriátrica Abreviada, o paciente apresentou pontuação considerada normal, embora tenha mostrado alguma melancolia referindo que, por vezes, sentia que sua vida estava vazia em razão das muitas perdas de entes queridos (da mãe e de outros irmãos).

A Mini Avaliação Nutricional ( M A N ) 6 também mostrou pontuação compatível com a normalidade, sem apresentar risco de desnutrição.

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QUADRO 2.1 - RESULTADOS OBTIDOS COM A REALIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO GERIÁTRICA

AMPLA

Testes Resultado Interpretação

Índice de Vulnerabilidade 5 pontos (total de 40) Não vulnerável Escolaridade 1 - 4 anos Ocupação Aposentado

Renda Aposentadoria

Atividades Sociais Igreja, evangelização

Inventário de doenças Não possui doenças prévias

Dimensão clínica (visão) Usa corretores

Dimensão Clínica (audição) Audição normal

Dimensão Clínica (continência)

Continência fecal e urinária

Dimensão Clínica (sono) Sono normal Doenças osteoarticulares Dores no joelho esquerdo

Vacinação Em dia

Fumante Ex-fumante (parou há 32 anos)

Uso do Alcool Não bebe

Atividades físicas Apenas caminhadas (6 vezes por semana)

Durante a evangelização

Quedas nos últimos 12 meses Não houve

Time Up and Go Tempo > 20s - Marcha alterada, risco aumentado de quedas,

incapacidade funcional significativa.

ABVD 6 pontos Independente

MEEM 25 pontos Apto

Escala de depressão 1 ponto Normal

Estado Nutricional 28 pontos Nutrido

Suporte social 10 pontos Família altamente funcional

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Discussão

Reconhecer o fato de que a população está envelhecendo é necessário para que as autoridades responsáveis pelo planejamento das políticas de saúde possam analisar as possíveis estratégias para garantir a prevenção de agravos. Entretanto, é um consenso que todo o escopo de práticas destinadas à população idosa não deve se restringir apenas aos aspectos biológicos, devendo garantir uma atenção multidisciplinar, em busca de melhor qualidade de vida, saúde mental, construção de redes de suporte social e de adaptação as alterações

5 surgidas com o envelhecimento .

Nesse sentido, deve ser realizada pela equipe de saúde, uma avaliação ampla do idoso, que ultrapasse em qualidade a percepção do indivíduo obtida a partir de um exame clínico tradicional. Para esses pacientes, é necessária uma análise vertical, alcançando níveis biopsicossociais. Apenas dessa forma, o profissional de saúde estará apto a identificar doenças ocultas, multimorbidades, polifarmácia, perda funcional, depressão e/ou um quadro de fragilidade.

No caso em questão, a aplicação da AGA se mostrou especialmente valiosa, pois no primeiro contato, o aspecto do paciente transmitiu ao examinador uma ideia de extrema fragilidade, motivado pela análise informal da qualidade e do ritmo da marcha. Entretanto, após os resultados

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obtidos por cada uma das dimensões avaliadas pelo questionário, a imagem de fragilidade foi desfeita e ainda foi constatada ausência de fadiga, problemas de preensão, depressão e/ou insuficiência familiar.

Entretanto, na análise formal da velocidade de marcha, ficou confirmado um ritmo aquém ao considerado normal, colocando-o numa condição de pré-fragilidade, pelo aumento do risco de quedas e de perda de capacidade funcional. A partir dessas constatações, esse relato ressalta os quesitos que fizeram com que o paciente, apesar de todos os fatores de risco, se distanciasse do perfil comum a idosos debilitados e vulneráveis.

Das dimensões avaliadas, a primeira que tinha potencial para tornar vulnerável o paciente é a cognitiva, por possuir baixa escolaridade. Em

9 seu estudo, Neri registrou haver significativamente mais idosos frágeis entre os avaliados analfabetos e os sem escolaridade formal do que entre os que frequentaram escola e eram alfabetizados. Entretanto, mesmo com apenas três anos de escolaridade, o paciente lia a bíblia diariamente, além dos livros que usava numa atividade diária de evangelização, realizada pelas ruas por onde residia e, ao final da análise, foi muito bem avaliado.

Sabe-se que pacientes com pouca formação escolar, conseguem colocação no mercado de trabalho, ocupando vagas destinadas a atividades braçais. Os resultados da aplicação da AGA, nesse paciente, apontam que ele foi capaz de manter

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uma atividade diária e rotineira, que transcende a pujança física. A preservação da atividade cerebral do paciente provoca uma reflexão: o quanto o "tempo de escolaridade" pode servir como um dado frio para análise de um paciente? Nesse caso específico, observou-se que mais importante do que o tempo de estudo, foi a capacidade de o indivíduo fazer uso do pouco aprendizado obtido.

Quanto às Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs), apesar da baixa mobilidade, observou-se que o paciente possuía preservada a capacidade de levar uma vida independente e dentro da comunidade: realizando tarefas domésticas, fazendo compras e manuseando dinheiro. No paciente, essas capacidades estão bem preservadas, apesar da idade avançada. Sua única queixa foi uma dor no joelho, que criava dificuldades pra alguns movimentos, mas que não o impedia de realizar as atividades; mantendo-o ativo nas atribuições domésticas e naquelas que assumia fora do lar.

O papel social desempenhado pelo paciente também contribuiu para mantê-lo longe dos riscos de fragilidade. A ação evangelizadora cumpre um papel importante para o idoso avaliado; atribuindo um sentimento missionário ao seu dia a dia. Considerando sua marcante religiosidade, o papel exercido junto à comunidade, por certo, engendra motivação e um significado maior às suas ações diárias. Nesse caso, o engajamento religioso parece ter contribuído de forma significativa para garantir a participação contínua do indivíduo no

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seu meio social - entre pares e não pares, uma vez que a evangelização envolve o relacionamento com pessoas que não pertencem à sua comunidade religiosa; indo de acordo com os

3 achados de Nogueira et al que concluiu que “não participar de alguma obra social e não participar de eventos sociais” pode estar associado positivamente a uma pior autopercepção de saúde”.

Esse alto nível de envolvimento social, resultante de uma boa saúde, preserva a capacidade física e cognitiva, a motivação, a adaptação ao ambiente e as oportunidades de vivenciar novas experiências, em concordância ao

14 exposto por Pinto e Neri . A relação do paciente com os irmãos e, também, com a comunidade ainda garante um sentimento de pertencimento, permitindo um contato com diferentes fontes de satisfação, suporte social e funcional.

14 Pinto e Neri realizaram um estudo

visando identificar quais eram os fatores associados à baixa satisfação com a vida em idosos. Nele, foi encontrado que, em mulheres, a baixa satisfação esteve associada com doenças crônicas. Entretanto, os autores apontam para o fato de que em homens, as relações familiares são os domínios que mais afetam os níveis de satisfação. Esse dado é plausível com os resultados da AGA obtidos no presente estudo, em que um indivíduo solteiro e bem resolvido, vivendo experiências de bem estar na maior parte do tempo, só demonstrou alguma melancolia quando

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se reportou às perdas pessoais impostas pela própria longevidade - a morte de alguns familiares (mãe e irmãos).

O processo do envelhecimento é individual, ou seja, cada pessoa reage às mudanças e estabelece meios de equilíbrio de forma específica aos estímulos necessários. A saúde dos idosos é favorecida à medida que são realizadas tarefas do cotidiano tais como: uso de medicamentos (lembrar-se dos horários, doses, tipos de remédios), realização de atividades básicas como a preparação dos alimentos, organização e gestão do dinheiro, uso de transporte público, locomoção , tarefas domésticas, compras , uso de caixas eletrônicos, participação de grupos de convivência, cuidados com a saúde, dentre outras tarefas15.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que políticas de saúde na área de envelhecimento levem em consideração os determinantes de saúde ao longo de todo o curso de vida (sociais, econômicos, comportamentais, pessoais, culturais, além do ambiente físico e acesso a serviços). Dessa forma, a organização do sistema para uma eficiente atenção à população idosa afigura-se como um dos principais desafios que o setor saúde tem que enfrentar, o mais rápido possível16.

A desinformação, o preconceito e o desrespeito aos cidadãos da terceira idade, somam-se a precariedade de investimentos públicos para atendimento às necessidades específicas da população idosa, e mesmo de

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recursos humanos, tanto em quantidade como em qualidade. Os fatos e as evidências apontam urgência de mudanças no cuidado à população idosa. Os modelos vigentes se mostram inefi cientes e de alto custo. Assim, tornam-se necessários novos métodos de planejamento e gerência, pois a prestação dos cuidados reclama estruturas criativas e inovadoras, com propostas de ações diferenciadas, de modo que o sistema ganhe efi ciência e o idoso possa usufruir integralmente os anos proporcionados pelo avanço da ciência17.

Embora o nível de evidência de um relato de caso seja pequeno, os resultados encontrados por meio dessa análise mostraram concordância com parte da literatura e seu conteúdo deva ser analisado e utilizado em conjunto com outras evidências científicas de maior relevância. Os dados colhidos podem servir às equipes de saúde na compreensão das diferentes maneiras existentes de enfrentar o envelhecimento.

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Considerações finais

Após o registro da experiência da aplicação da AGA e dos outros instrumentos de coleta, há subsídios para afirmar que a utilização da AGA foi importante para construir um quadro real e imparcial da qualidade funcional do idoso.

A AGA, ao longo da aplicação, permitiu que a análise se afastasse de estereótipos e possibilitasse uma análise isenta de preconceitos. Frente a um indivíduo de 91 anos, com baixa escolaridade, solteiro e com mobilidade comprometida, o resultado da AGA mostrou que, apesar de todos os fatores de risco, era um idoso não vulnerável, funcional e com condições cognitivas preservadas.

Embora esse relato de caso se distancie da média de idosos com a mesma idade encontrada em outros estudos, ele permite analisar os fatores que o tornam uma exceção e o que pode ser instituído na vida de outros idosos para lhes garantir uma velhice igualmente saudável e ativa.

Mais importante do que julgar a cognição mensurando o tempo de escolaridade, é necessário analisar a capacidade existente no sujeito idoso e estimular a realização de atividades mentais criativas em detrimento das atividades braçais e de pouca exigência cerebral. Além disso, fica clara a necessidade de inserir o idoso em atividades capazes de motivá-lo e provocar um sentimento de pertencimento, fundamental para mantê-lo livre de quadros de

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apatia ou depressão e capaz de impulsioná-lo à manutenção do convívio social.

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Referências

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Capítulo 4 – Síndrome Metabólica em Idosa com Humor Deprimido

Cássia Regina de Aguiar Nery Luz Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Renata Costa Fortes Adriana Haack

Resumo

A aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é uma prática essencial no rastreamento e na identificação dos variados problemas que acometem o indivíduo idoso. A AGA pode detectar vários problemas sub ou não diagnosticados. Alguns critérios utilizados pela avaliação geriátrica ampla podem ser preditores de morbidade e mortalidade, influenciar nas decisões clínicas e ter um impacto positivo no prognóstico dos pacientes. É apresentado um estudo caso de paciente do sexo feminino, idosa, atendida no ambulatório de endocrinologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) em Brasília-DF. Após aplicação do Índice de Vulnerabilidade Clínico Funcional (IVCF) e da AGA foram detectados alguns marcadores de vulnerabilidade e fragilidade, além das comorbidades múltiplas e polifarmácia. Esses outros marcadores estão relacionados à cognição, humor, capacidade aeróbica e muscular, marcha e comunicação, o que coloca a paciente em uma classificação de risco para agravamento de sua

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saúde caso esses aspectos não sejam tratados de forma multidimensional e interdisciplinar.

Palavras-chave: Avaliação geriátrica, idoso fragilizado, qualidade de vida.

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Introdução

A saúde do indivíduo idoso está intimamente relacionada com a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo, sempre de forma independente e autônoma, mesmo que tenha doença. A análise das atividades de vida diária (AVDs) avalia o grau de autonomia e independência do indivíduo. A autonomia depende diretamente dos domínios funcionais chamados de cognição e o humor. Já a independência está relacionada à mobilidade e comunicação1.

A cognição é a capacidade mental de compreender e resolver os problemas do cotidiano. O humor é a motivação necessária para os processos mentais. A mobilidade é a capacidade de deslocamento do indivíduo e depende da postura/marcha, da capacidade aeróbica e da continência esfincteriana. E, finalmente, a comunicação é a capacidade de estabelecer relacionamento produtivo com o meio e depende de visão, audição e fala. A perda dessas funções resulta nas grandes síndromes geriátricas: incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade e incapacidade comunicativa. Acrescenta-se a essas síndromes a iatrogenia, que representa todo o malefício causado pelos profissionais da área de saúde; a incontinência esfincteriana que limita a participação social do indivíduo idoso; e a insuficiência familiar que é capaz de desencadear ou perpetuar a perda de

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autonomia e independência da pessoa idosa, totalizando assim os 7 “Is” da Geriatria1.

A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)2 determina as deficiências ou habilidades de idosos dos pontos de vista clínico, psicossocial e funcional; com o objetivo de formular um plano terapêutico e de acompanhamento, coordenado e integrado, em longo prazo, visando à recuperação e/ou manutenção da capacidade funcional. A AGA tem uma estrutura muito variável. Os seus componentes podem ser diferentes dependendo da equipe que a aplica e do local onde é realizada, se em hospital, instituição de longa permanência, pronto-socorro ou ambulatório.

A AGA também é capaz de avaliar aspectos referentes à fragilidade do indivíduo idoso. A síndrome da fragilidade tem impacto negativo sobre o processo de envelhecimento. Dentre as diversas definições sobre fragilidade, destaca-se o conceito que caracteriza essa síndrome pela presença de perda de peso não intencional, fraqueza muscular, fadiga, baixo nível de atividade física e diminuição da velocidade de marcha. Em países em desenvolvimento, a prevalência de fragilidade fica entre 26,7% e 42,6%3.

Em uma metanálise que comparou a Avaliação Geriátrica Ampla com o cuidado médico tradicional, observou-se que os pacientes que foram submetidos à AGA possuíam maiores chances de estarem vivos no domicílio após a alta, menores chances de receberem alta para Instituições de Longa Permanência e menores

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chances de morrerem ou apresentarem piora prognóstica4.

O objetivo desse Capítulo foi avaliar a importância da aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla para identificação de fragilidades e vulnerabilidades em um indivíduo idoso assistido em um hospital público do Distrito Federal.

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Métodos

Tratou-se de um relato de caso de uma paciente idosa acompanhada no ambulatório de endocrinologia do Hospital Regional da Asa Norte em Brasília (HRAN) do Distrito Federal em março de 2016. Essa paciente foi selecionada aleatoriamente, dentre os pacientes agendados para o atendimento clínico, no dia da coleta de dados. Ela assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após informações detalhadas sobre os objetivos e procedimentos do estudo que respeitou a Resolução número 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.

A primeira etapa da pesquisa consistiu em classificar a paciente em níveis de risco para declínio funcional. Para tanto, utilizou-se uma ferramenta denominada Índice de Vulnerabilidade Clínico Funcional (IVCF)5. Trata-se de um instrumento conciso, fácil de ser utilizado e que possui boa correlação com a AGA.

O IVCF5 avalia oito dimensões, a saber: 1) idade, 2) autopercepção da saúde, 3) atividades de vida diária (três AVD instrumentais e uma AVD básica), 4) cognição, 5) humor/comportamento, 6) mobilidade (alcance, preensão e pinça; capacidade aeróbica/muscular; marcha e continência esfincteriana), 7) comunicação (visão e audição) e 8) presença de comorbidades múltiplas, representada por polipatologia, polifarmácia e/ou internação recente.

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As perguntas do IVCF5 podem ser respondidas pelo indivíduo idoso ou por alguém que conviva com ele. É importante que as respostas sempre sejam confirmadas pelos cuidadores, pois, muitas vezes, a pessoa idosa com déficit cognitivo pode não perceber o problema e não apresentar queixa de memória ou de perda funcional nas atividades de vida diária. Cada pergunta recebe uma pontuação específica, de acordo com as respostas, somando-se, no total, 40 pontos. Além de essas perguntas, algumas medidas, como a circunferência da panturrilha (CP), a velocidade da marcha e o Índice de Massa Corporal (IMC), são incluídas para aumentar o valor preditivo do instrumento.

A pontuação do IVCF5 gera três classificações: de 0 a 6 pontos, indica baixa vulnerabilidade clínico-funcional, e não necessita de avaliação e acompanhamento especializados; de 7 a 14 pontos, verifica-se risco aumentado de vulnerabilidade, que vai apontar necessidade de avaliação mais ampla e atenção para identificação e tratamento apropriado de condições crônicas; com 15 ou mais pontos, considera-se alto risco de vulnerabilidade ou mesmo fragilidade instalada, que exigem avaliação ampliada, de preferência por equipe especializada em cuidado geriátrico- gerontológico e com suporte psicossocial.

Após o preenchimento do IVCF, foi aplicado o questionário da Avaliação Geriátrica Ampla2 cujas dimensões, subdimensões e síndromes avaliadas foram as apontadas no Quadro 1.

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Quadro 3.1. Componentes da Avaliação Geral Ampla (AGA)

Dimensão Subdimensão Síndromes geriátricas Testes utilizados

Dimensão Funcional

(mobilidade)

Equilíbrio e mobilidade; Atividades de vida diária; Atividades instrumentais

de vida diária

Instabilidade postural; Imobilidade; Incontinência esfincteriana

Timed up and go; Escala de Katz

para avaliação da atividades básicas

de vida diária

Dimensão mental (cognição e humor)

Função cognitiva; Rastreio para depressão

Incapacidade cognitiva

Mini exame do estado mental;

Escala de depressão geriátrica abreviada

Dimensão social Suporte familiar e social Insuficiência familiar Apgar familiar

Dimensão clínica e comunicação

Comorbidades; Medicações;

Deficiências sensoriais e do sono;

Avaliação nutricional; Fatores de risco

cardiovascular e uso de álcool;

Status vacinal

Incapacidade comunicativa;

Iatrogenia

Mini avaliação nutricional; Índice de

vulnerabilidade clínico funcional

Fonte: Costa & Monego2.

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Relato de Caso

Paciente do sexo feminino, 60 anos de idade, parda, casada, evangélica, com mais de oito anos de escolaridade, ocupação com trabalhos domésticos e atividades sociais em grupos de caridade. Ela reside em casa térrea própria, com marido e filhos, e a renda familiar provém do trabalho do esposo.

De acordo com o IVCF, a paciente obteve 23 pontos no questionário, tendo como classificação um alto risco de vulnerabilidade, o que exige uma avaliação mais ampliada. Nas oito dimensões avaliadas pelo IVCF, a paciente pontuou nos seguintes quesitos:

• Autopercepção da saúde regular ou ruim; • Atividades de vida diária com dificuldade no

que se refere a fazer compras e realizar pequenos trabalhos domésticos devido à sua saúde;

• Cognição prejudicada devido a esquecimentos que têm piorado nos últimos meses;

• Humor desanimado e sem interesse nas atividades anteriormente prazerosas;

• Mobilidade dificultosa devido à capacidade muscular reduzida (perda de peso não intencional de mais de 6kg nos últimos seis meses);

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• Duas quedas no último ano e dificuldade para caminhar para realizar atividades do cotidiano;

• Comunicação prejudicada por problemas de visão;

• Comorbidades múltiplas com cinco ou mais doenças crônicas e uso regular de cinco ou mais medicamentos diferentes diariamente.

A aplicação da AGA demonstrou os

seguintes resultados nas dimensões avaliadas:

Dimensão funcional: • Teste timed up and go normal. • Escala de Katz para atividades básicas de

vida diária normal (banho, vestir-se, higiene pessoal, transferência, continência e alimentação).

Dimensão mental:

• Cognição: pontuação normal para o Mini Exame do Estado Mental.

• Humor: apresentou depressão de acordo com a Escala de Depressão Geriátrica Abreviada.

Dimensão social:

• Suporte familiar e social: o Apgar familiar obteve escore sugestivo de uma família altamente funcional com suporte social adequado.

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Dimensão clínica e comunicação: • Paciente negou etilismo e tabagismo, não

praticava atividade física, referiu situação vacinal em dia, audição normal, continência urinária e fecal, não utilizava órteses nem próteses.

• Apresentava déficit visual (catarata nos dois olhos), apneia do sono em tratamento e as seguintes comorbidades: hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito tipo 2, dislipidemia, obesidade, artrose e reumatismo. Fazia uso de mais de cinco medicamentos para todas essas enfermidades, dentre eles, insulina NPH, Glifage XR®, losartana, anlodipino, atenolol, hidroclorotiazida, furosemida, espironolactona, cloridrato de clonidina, sinvastatina e ácido acetilsalicílico tamponado.

• A Mini Avaliação Nutricional (MAN) demonstrou risco de desnutrição. Apesar de a paciente apresentar IMC equivalente à obesidade, circunferências do braço e da panturrilha normais e consumo adequado de todos os grupos alimentares, houve perda ponderal involuntária intensa nos últimos meses e diminuição severa da ingestão alimentar por perda de apetite.

• Conforme a AGA, a idosa apresentou-se sem déficit cognitivo, apesar do humor deprimido e com suporte social adequado dependente. No entanto, encontrou-se frágil,

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dependente, com alto risco de queda e em risco nutricional. Os aspectos que justificaram essa classificação foram: múltiplas doenças, polifarmácia, déficit visual, mobilidade reduzida, baixo envolvimento social, depressão, sono prejudicado, perda ponderal intensa, perda de apetite.

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Discussão

A paciente foi admitida no ambulatório de endocrinologia para tratamento de diabetes melito, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia. Aparentemente, apresentava-se em bom estado geral, sem sinais ou sintomas clínicos relevantes. Com a aplicação da AGA, perceberam-se outras vulnerabilidades que apontaram para a necessidade de um cuidado amplo e multiprofissional, a fim de melhorar o prognóstico dessa paciente.

O estudo multicêntrico denominado FIBRA6, realizado com indivíduos idosos em sete cidades brasileiras, relacionou alguns fatores associados a baixa satisfação com a vida. Dentre eles, podem-se citar: possuir três ou mais doenças, problemas de memória e baixo envolvimento social. Por isso a intervenção nesses aspectos favorece a qualidade de vida dos idosos. A paciente desse relato de caso também apresentava múltiplas doenças e problemas de memória, que se contornados, podem melhorar a sua satisfação com a vida.

No estudo FIBRA6, 39% dos entrevistados apresentavam três ou mais doenças, 54,4% relataram problemas de memória, principalmente entre as mulheres, 24,2% possuíam baixo envolvimento social, principalmente entre idosos com mais de 80 anos, e 6,1% estavam insatisfeitos com a vida. O aumento da satisfação com a vida do indivíduo idoso passa não só pelo manejo das

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condições clínicas e funcionais, mas também pelo encorajamento à participação social.

Ainda em uma amostra da população do estudo FIBRA6, houve uma associação significativa entre fragilidade, percepção de saúde e satisfação global com a vida. A fragilidade também foi associada com múltiplas doenças e polifarmácia. Também houve associação entre fragilidade e depressão, o que pode estar vinculado à perda de peso e nível reduzido de atividade física3. Todos esses aspectos também foram notados nesse relato de caso, o que justifica a importância do controle das múltiplas doenças, redução da polifarmácia, adequação do estado nutricional e incentivo à atividade física, a fim de diminuir o grau de fragilidade da paciente.

A realização de uma boa entrevista e história clínica, a qual é parte essencial da AGA, ajuda a revelar vulnerabilidades subdetectadas em pacientes idosos. É possível, dessa forma, definir um tratamento mais efetivo na melhora da qualidade de vida dessa paciente, com objetivos específicos que atendam a todas as demandas a fim de prevenir agravamentos e/ou o desenvolvimento de síndromes geriátricas7.

Um estudo que analisou o conhecimento e a prática durante um processo de implementação da AGA descreveu que faltam pesquisas e evidências científicas sobre esse método de avaliação. Além disso, esse processo de implementação exige treinamento específico dos profissionais da área de saúde que vão aplicá-la8.

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Chama a atenção o fato de a paciente utilizar 4 medicamentos anti-hipertensivos em associação (um antagonista dos receptores de angiotensina, um bloqueador de canais de cálcio, um beta- bloqueador e um de ação central, com redução de fluxo adrenérgico), além de 3 diuréticos (hidroclorotiazida, furosemida e espironolactona). Gontijo et al ressaltam que anti-hipertensivos de baixo índice terapêutico, como a clonidina, são considerados inadequados para idosos, por causar hipotensão ortostática. O uso de múltiplos medicamentos favorece a ocorrência de eventos adversos e interações medicamentosas9. Os diuréticos, a exemplo da hidroclorotiazida apresentam efeitos adversos como hipotensão arterial, hipocalemia e arritmias, que podem levar a quedas e, consequentemente, às fraturas. A associação de anti-hipertensivos com diuréticos pode facilitar a ocorrência de quedas10, como relatado pela paciente. Nesse sentido, enfatiza-se a importância de um acompanhamento médico periódico, para avaliação de possíveis interações e redundâncias em prescrição.

As limitações desse relato de caso referem- se justamente aos aspectos relacionados à falta de prática e treinamento da entrevistadora, o que pode ter dificultado a abordagem correta e profunda das questões analisadas.

Uma pesquisa longitudinal avaliou os desfechos clínicos de um grupo de pacientes que recebeu cuidados baseados na AGA durante 24 a 31 meses em um ambulatório geriátrico.

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Comparando com o grupo que recebeu o tratamento convencional, observou-se que o grupo de intervenção apresentou uma expectativa maior de vida e um menor tempo de internação hospitalar. Os autores sugerem que a AGA deve ser utilizada de uma maneira mais extensiva para o tratamento das reais necessidades de indivíduos idosos11.

Apesar de ainda não haver evidências científicas suficientes sobre a AGA, é notório o quanto um olhar mais amplo, crítico e individualizado sobre a saúde dos idosos, é capaz de detectar aspectos importantes de vulnerabilidade desses indivíduos. No caso desse relato, inicialmente a paciente apresentava-se em bom estado geral e sem vulnerabilidades aparentes. No entanto, verificou-se a necessidade de tratamento específico não só para as comorbidades presentes, mas também para os aspectos relacionados ao humor, estado nutricional e visão, os quais se não tratados podem agravar o estado de saúde.

Todos esses aspectos foram repassados aos profissionais que assistem essa paciente, em especial, à equipe médica que, por sua vez, tomou as providências necessárias.

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Conclusão

Constatou-se, nesse relato de caso, a importância da realização de uma Avaliação Geriátrica Ampla englobando todas as dimensões relacionadas às síndromes geriátricas. Essa avaliação visa identificar e tratar, precocemente, marcadores de vulnerabilidade clínico-funcional e fragilidade. Esses podem agravar o estado de saúde do indivíduo idoso gerando um envelhecimento não saudável e dependente.

A AGA apresenta benefícios potenciais para o indivíduo idoso. Dentre eles, pode-se citar: melhora a precisão diagnóstica; determina o grau e a extensão da incapacidade motora, mental e psíquica; permite uma avaliação de risco funcional e nutricional; serve de guia para a escolha de medidas que visam restaurar e preservar a saúde (farmacoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicoterapia); identifica fatores que predispõem à iatrogenia e permite estabelecer medidas para sua prevenção; estabelece parâmetros para o acompanhamento do paciente; serve de orientação para mudanças e adaptações no ambiente em que o paciente vive; estabelece critérios para a indicação de internação hospitalar ou em instituição de longa permanência.

O caso se destaca por demonstrar a importância da aplicação precoce da AGA e a realização de uma profunda e completa entrevista de história clínica para avaliação adequada de pacientes idosos.

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Capítulo 5 – Vulnerabilidade e Fragilidade de uma Idosa Independente

Jordana Queiroz Nunes Alves Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Adriana Haack

Maria Rita Carvalho Garbi Novaes

Resumo

Os idosos são vítimas de condições multifatoriais que decorrem de efeitos cumulativos de limitação em múltiplos sistemas, tornando-os mais vulneráveis. A fragilidade, síndrome clínica geriátrica, torna o idoso mais suscetível a efeitos adversos e por isso a avaliação do idoso requer uma atenção multidimensional e disciplinar. Neste contexto, insere-se a Avaliação Geriátrica Ampla, processo de diagnóstico e de direcionamento terapêutico do idoso já que esta população específica possui condições peculiares, que podem ser despercebidas ou mal dimensionadas se utilizado um método de avaliação clínica padrão. Trata-se de um relato de um caso clínico de uma mulher idosa, submetida à Avaliação Geriátrica Ampla, com a finalidade de se avaliar as múltiplas dimensões de saúde, rastreando-se a vulnerabilidade e a fragilidade. Os dados apontaram que a paciente em questão apresentava um grau de vulnerabilidade e pré-fragilidade, apesar de manter-se independente, não possuir

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déficit cognitivo, risco nutricional/desnutrição e além de apresentar um adequado suporte familiar. O envelhecimento é um processo contínuo, inevitável e frequentemente associado à redução da capacidade funcional, acúmulo de desabilidades crônicas e doenças, fazendo com que estratégias inovadoras precisem ser colocadas em prática, a fim de se melhorar a qualidade de vida da população idosa.

Palavras-chave: Avaliação geriátrica, idoso fragilizado, qualidade de vida, envelhecimento.

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Introdução

Devido ao aumento da expectativa de vida a população mundial está envelhecendo, resultado tanto dos avanços na medicina e tecnológicos, quanto da redução das taxas de natalidade e mortalidade observadas atualmente¹. No Brasil e demais países da América Latina esta mudança do perfil demográfico se deu de forma rápida, não acompanhada de melhorias na qualidade de vida dos idosos².

Segundo Santos et al², o contingente de idosos era de aproximadamente 810 milhões. Projeta-se um aumento para 1 bilhão em menos de 10 anos e que este número duplique até 2050, alcançando 2 bilhões de idosos no mundo, sendo que no Brasil, 1 em cada 10 brasileiros tem mais de 60 anos de idade. Estima-se que em 2050 esta proporção seja de 1:5.

O envelhecimento é um processo contínuo, inevitável, estando frequentemente associado à redução da capacidade funcional, ao acúmulo de desabilidades crônicas e doenças, fazendo com que estratégias inovadoras precisem ser colocadas em prática, a fim de se reduzir a prevalência de doenças relacionadas à idade, de melhorar ou manter a qualidade de vida desta população – um problema socioeconômico e desafiador para a saúde pública, já que este aumento da expectativa de vida trouxe ainda o desafio de equilibrar a morbidade, a qualidade de vida e o acesso aos cuidados de saúde¹.

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Os idosos são vítimas de condições multifatoriais que decorrem de efeitos cumulativos de limitação em múltiplos sistemas, tornando-os mais vulneráveis³. A fragilidade, síndrome clínica geriátrica, caracterizada por perda ponderal não intencional, fadiga, baixa funcionalidade, baixa força de preensão e redução da velocidade de marcha, torna o idoso mais suscetível a efeitos adversos, tais como: morte, incapacidade, hospitalização, vulnerabilidade, maior predisposição a doenças crônicas, anorexia, sarcopenia, osteopenia e alterações na saúde mental. A presença de um ou dois destes critérios ou de três ou mais são indicativos de pré-fragilidade e fragilidade, respectivamente³.

Por isso, a avaliação do idoso deve ser multidimensional, englobando a anamnese e exame físico completo, avaliação da capacidade funcional, avaliação de risco e estado nutricional, incontinência urinária, constipação intestinal, condições emocionais, função cognitiva, sono, equilíbrio e mobilidade, osteoporose e quedas, condições ambientais, imunização, suporte familiar, rastreamento de câncer e solicitação de exames complementares4.

Neste contexto, insere-se a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), que consiste em um processo de diagnóstico e de direcionamento terapêutico multidisciplinar do idoso, tendo em vista que esta população específica possui condições peculiares, que podem ser despercebidas ou mal

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dimensionadas se utilizado um método de avaliação clínica padrão4.

O objetivo do presente relato é avaliar na prática clínica todas as principais dimensões da saúde do idoso, determinando os riscos de agravos, vulnerabilidade e/ou fragilidade.

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Métodos

Trata-se de um relato de um caso clínico de uma mulher idosa, submetida à AGA, com a finalidade de se avaliar as múltiplas dimensões da saúde do idoso, rastreando-se a vulnerabilidade e a fragilidade.

Os dados foram obtidos por meio da aplicação do questionário da AGA, disponível na íntegra no site da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), realizada em um tempo aproximado de 1h no dia 4 de março de 2016, no ambulatório de diabetes do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Brasília, Distrito Federal, Brasil, hospital que pertence ao Sistema Único de Saúde (SUS).

O consentimento em participar do estudo foi solicitado e obtido, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pela paciente, após a exposição dos objetivos e o esclarecimento de que a participação seria de caráter voluntário, sigiloso e anônimo, conforme estabelece a Resolução número 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.

Para a análise e discussão dos dados coletados foram selecionados artigos científicos publicados nos últimos cinco anos, disponíveis na íntegra, nos idiomas inglês ou português, nas bases de dados MEDLINE e Lilacs e na biblioteca eletrônica SciELO.

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A busca dos artigos foi realizada utilizando- se as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DesCS), criados pela Biblioteca Virtual em Saúde e desenvolvido a partir do Medical Subject Headings (MeSH) da U.S. National Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Utilizaram-se os seguintes descritores: “avaliação geriátrica”, “idoso fragilizado”, “qualidade de vida” e, “envelhecimento”.

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Relato de Caso

Paciente, sexo feminino, 62 anos de idade, em acompanhamento no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) devido a diagnóstico de pré-diabetes e à presença de comorbidades associadas. A paciente é divorciada, trabalhou na área de Ciências da Computação, atualmente aposentada e sem outra ocupação. Possui três fontes de renda (pensão, aposentadoria e aluguel), reside em Brasília-DF, mora sozinha e em apartamento próprio. Possui hábitos de vida saudáveis, nega distúrbios relacionados ao sono, realiza dança de salão duas vezes por semana e hidroginástica três vezes por semana – atividades momentaneamente interrompidas em virtude de uma cirurgia ocular. Nega tabagismo e etilismo.

Antes da aplicação do questionário da AGA, a paciente foi pesada, teve sua estatura, circunferência do braço e da panturrilha aferidas. O peso aferido foi de 93,4kg, a estatura de 1,70m, a circunferência da panturrilha de 49cm e a circunferência do braço de 33,5cm. Segundo o índice de massa corporal (IMC) proposto para a faixa etária, a paciente encontrava-se com excesso de peso.

Após tais aferições, iniciou-se a AGA com a aplicação do Índice de Vulnerabilidade Clínico- funcional-20 (IVCF-20), que consiste no passo inicial da avaliação do idoso, por meio do qual se

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identificam os idosos que mais se beneficiariam da AGA e níveis de risco para o declínio funcional.

O IVCF-20 avalia oito dimensões: a idade, a autopercepção da saúde, as atividades de vida diárias (AVD) – básica e instrumental, a cognição, o humor/comportamento, a mobilidade, a comunicação e a presença de comorbidades múltiplas – polipatologias, polifarmácia ou internação recente. Na aplicação desta ferramenta foram detectadas alterações na velocidade de marcha (superior a 5 segundos e com auxilio de uma bengala), no trato urinário (incontinência urinária) e a paciente referiu a utilização regular de mais de cinco medicações e a presença de condições crônicas: obesidade, pré-diabetes, hipertensão arterial sistêmica, artrose e dislipidemia.

Após o rastreio e a confirmação da vulnerabilidade, iniciou-se a aplicação do questionário da AGA. Um dos componentes do questionário é o inventário de doenças prévias e medicamentos referenciais, para norteio das condutas. Esta ferramenta é fundamental já que é comum a presença de uma ou mais doenças e comorbidades associadas, o que torna as intervenções terapêuticas mais complexas. Outra importância da aplicação deste questionário é o fato de que a utilização regular de mais de cinco medicamentos indica o aumento do risco de efeitos adversos relacionados a fármacos5.

A paciente relatou o uso regular de treze medicações distintas e contínuas, prescritas por um

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único médico, da especialidade de Geriatria – Losartana Potássica, Puran t4, Pantoprazol, Carbonato de cálcio, vitamina D, Alendronato de sódio, Glifage XR, Atorvastatina, Nortriptilina, Carbamazepina, Propranolol, Tibolona e Muvinlax.

Para a dimensão do estado funcional – a capacidade de gerir a própria vida e de autocuidado, foram utilizados o teste de avaliação da marcha e mobilidade – “teste do levantar e andar” (Timed up and go), que consiste na medida de tempo gasto para levantar de uma cadeira, percorrer uma distancia de 3m e retornar, e a escala de atividades básicas de vida diária (ABVDs), proposta por Katz et al (1970), composta de perguntas relacionadas ao grau de dependência para alimenta-se e realizar atividades relacionadas a higiene pessoal e capacidade de controle da urina e fezes.

O resultado do teste de avaliação de marcha foi 11,75 segundos, resultado alterado, podendo caracterizar a senescência, uma incapacidade prévia ou fragilidade já instalada. Já na escala de ABVDs a paciente apresentou alteração apenas em relação ao controle da urina, obtendo um resultado compatível com independência para exercer atividades básicas do dia a dia4.

Para a dimensão relacionada à cognição e humor, conjunto de capacidades mentais que, se alteradas, podem prejudicar ou impedir o idoso de gerir a própria vida, foi realizado o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), que consistem em uma série de perguntas abertas para avaliação da saúde

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mental e a escala de depressão geriátrica abreviada, baseada na escala de depressão geriátrica de Yesavage, utilizada já que a depressão pode acarretar prejuízos à cognição4. Não foram encontradas alterações nos exames supracitados.

Em relação à dimensão do estado nutricional, realizou-se inicialmente a triagem nutricional – resultado compatível com ausência de risco nutricional, e realizada posteriormente a Mini Avaliação Nutricional (MAN), que também retratou a ausência de desnutrição ou risco de desnutrição. Entretanto, vale ressaltar que, apesar de a ausência de desnutrição, a paciente apresenta outros distúrbios relacionados ao estado nutricional: a obesidade e outras comorbidades associadas, que podem estar relacionadas a uma pior qualidade de vida, risco cardiovascular aumentado e doenças osteoarticulares. Tanto o baixo peso quanto o excesso de peso possuem efeitos negativos para a saúde geral do indivíduo idoso6.

Na dimensão de suporte social, no âmbito familiar, um dos principais determinantes da saúde do idoso, verificou-se o suporte social ao idoso por meio do questionário APGAR. Baseado na experiência do idoso com seus relacionamentos mais próximos evidenciou-se que a família da paciente é altamente funcional.

Os resultados referentes aos testes aplicados nas múltiplas dimensões da avaliação do idoso, bem como a compatibilidade diagnóstica podem estão descritos no Quadro 4.1.

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QUADRO 4.1 - SÍNTESE DOS RESULTADOS DOS TESTES APLICADOS NAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO DA IDOSA E,

DIAGNÓSTICOS COMPATÍVEIS

DIMENSÃO AVALIADA E TESTE REALIZADO

RESULTADO DIAGNÓSTICO

Índice de vulnerabilidade clínico-funcional (IVCF-20)

8 pontos no total

9,1s na velocidade de marcha Incontinência urinária Presença de DCNT Polifarmácia

Risco aumentado de vulnerabilidade, necessidade de avaliação ampla e atenção para identificação e tratamento das condições crônicas

AGA – Inventário de doenças prévias e medicamentos referenciais

13 medicamentos utilizados de forma contínua – polifarmácia Presença de DCNT

Iatrogenia Pior qualidade de vida

AGA – Dimensão clínica

Incontinência urinaria Correção visual Uso de órtese Doença osteoarticular Polifarmácia

Pior qualidade de vida, pior prognóstico, risco potencial de iatrogenia

AGA – Dimensão funcional

11,75s na Avaliação de marcha e mobilidade (Timed up and go)

ABVDs (Escala de Katz et al)

Associação com a senescência, incapacidade prévia ou fragilidade Independência para ABVDs

AGA – Cognição 28 pontos no MEEM Escala de depressão geriátrica abreviada

Sem alterações cognitivas Ausência de alterações de humor/depressão

AGA – Nutrição Triagem – Sem risco nutricional MAN – Estado nutricional normal

Estado nutricional normal (MAN), entretanto apresenta excesso de peso segundo a faixa de IMC específica para idoso

AGA – Suporte social APGAR familiar Família altamente funcional

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Discussão

Segundo Elsawy & Higgins4, a AGA é um instrumento multidimensional e multidisciplinar, para avaliação da saúde física, mental e circunstâncias socioambientais, sendo indicada na identificação de um problema potencial à saúde do idoso. Essa ferramenta difere de outras avaliações clínicas por incluir domínios não médicos em seu conteúdo, o que torna a avaliação do idoso ampla e multidisciplinar. É importante também por avaliar a capacidade funcional e a qualidade de vida nesta população.

Por meio da pontuação gerada no IVCF-20, verificou-se que a paciente apresenta um risco aumentado de vulnerabilidade, apontando uma necessidade de atenção minuciosa, visando a identificação e o tratamento apropriados das condições crônicas.

Em relação à dimensão funcional, no teste de velocidade de marcha, a paciente apresentou redução na velocidade, estando associada ao aumento do risco de quedas e pior prognóstico4. Entretanto, vale ressaltar que a normalidade do teste é com tempo inferior a 10 segundos e que a paciente realizou o teste com auxílio de uma bengala, por ter artrose, e o tempo gasto no percurso foi de 11,75 segundos, valor próximo ao de referência de normalidade.

De acordo com a escala de avaliação funcional, proposta por Katz et al (1970), a paciente mostrou-se independente para exercer as ABVDs,

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estando apta para exercer seu autocuidado, o que representa um ponto positivo em relação a sua autonomia e independência, ainda que ela apresente esta redução na velocidade da marcha. Outra medida também útil na avaliação da capacidade funcional, risco de quedas e estado nutricional é a circunferência da panturrilha, que neste caso mostrou-se dentro do valor de referência para a normalidade (superior a 31cm).

A paciente referiu perda involuntária de urina – incontinência urinária, uma condição comum e que possui repercussões negativas na qualidade de vida do longevo. Dentre as repercussões da perda urinária incontrolável, destacam-se: o desconforto, a perda de autoconfiança, o isolamento social, a depressão, o maior risco de infecções urinárias e de lesões por pressão, levando a alterações no estilo e qualidade de vida. A saúde física, o bem estar mental, as condições sociais e os custos com a assistência à saúde podem ser também afetados na presença da incontinência urinária. É importante salientar que o envelhecimento por si não gera incontinência7.

Apesar de a ausência de desnutrição, a paciente apresenta obesidade e comorbidades associadas, que podem estar relacionadas a uma pior qualidade de vida. O índice de massa corporal (IMC) é também um parâmetro útil na avaliação nutricional do idoso. Tanto o baixo peso (IMC inferior a 22kg/m²) quanto o excesso de peso (IMC superior a 27kg/m²) possuem efeitos negativos para

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a saúde geral, sendo considerados fatores de risco potencial para a deterioração da saúde geral.

Segundo Santos2, a população brasileira, nas ultimas décadas, vem passando por transformações no perfil sociodemográfico, caracterizado pelo envelhecimento populacional e aumento das doenças crônicas não transmissíveis, o que traz impactos no sistema público de saúde, uma vez que estas doenças são degenerativas e muitas vezes incapacitantes. A alta prevalência de agravos e doenças crônicas não transmissíveis como sobrepeso e obesidade, nesta população, corrobora com maiores ricos de diabetes melito tipo II, hipertensão arterial sistêmica e doenças cardiovasculares. A maior prevalência detectada se dá em idosos do sexo feminino, na faixa etária entre 60 e 69 anos e a relação com renda e escolaridade ainda são controversos na literatura8.

No Brasil, a prevalência de idosos com excesso de peso é de 45,15%, segundo relatório do Sistema de Vigilância Alimentar Nutricional (SISVAN) de 2014. Na literatura, a prevalência varia entre as populações distintas e entre os diferentes critérios adotados para o diagnóstico do sobrepeso e da obesidade8.

Com relação à polifarmácia, esta se caracteriza pela automedicação excessiva, além da prescrição médica, e pela utilização de cinco ou mais medicamentos, que aumentam os riscos de efeitos adversos4. O uso de múltiplos fármacos é a principal forma de iatrogenia no idoso e comumente observa-se a prescrição de vários medicamentos,

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geralmente prescritos por médicos distintos e com efeitos adversos diferentes5. Cerca de 30% das internações hospitalares e problemas preveníveis como quedas e confusões mentais decorrem de efeitos adversos de medicamentos4. A paciente nega automedicação, sendo que todas as medicações que foram referidas pela paciente foram prescritas por um único médico e a paciente não apresenta alteração cognitiva e não apresentou queda no último ano.

De acordo com os dados coletados por meio do questionário da AGA, a paciente apresenta um grau de vulnerabilidade, detectado pela ferramenta IVCF-20, e encontra-se pré-frágil, tendo em vista que foi detectada alteração da velocidade de marcha, um dos critérios para identificação da fragilidade em idosos, além da presença de doenças cônicas não transmissíveis, incontinência urinária e polifarmácia, que corroboram com uma pior qualidade de vida e piores desfechos. Entretanto, a paciente é independente, não possui déficit cognitivo, risco nutricional/desnutrição, além de apresentar um adequado suporte familiar, o que sugere maiores chances de desfechos clínicos favoráveis.

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Conclusão

Muitas condições são peculiares em indivíduos longevos e estas podem ser mal interpretadas caso não sejam adotadas avaliações voltadas a esta população e suas necessidades específicas. A AGA determina as deficiências e a incapacidades do idoso, visando o melhor acompanhamento e planejamento do cuidado, além de identificar populações de risco e direcionar investimentos em qualidade de vida, norteando ações e políticas públicas de saúde.

O envelhecimento é um processo complexo e pluridimensional. Frente a grande demanda atual de idosos no sistema de saúde público e a escassez de profissionais especializados e capacitados, a implementação de um questionário multidisciplinar e dimensional representa uma tentativa de êxito e de resolutividade na prestação dos serviços de saúde.

O apoio familiar e a inclusão de profissionais de diversas áreas, juntamente com uma devida continuidade do processo de atenção à saúde, proporcionam bem-estar e qualidade de vida para o idoso, contribuindo para a promoção de um envelhecimento saudável.

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Capítulo 6 – Capacidade Funcional de um Idoso com Osteodiscoartrose Vertebral

Marta Simone Fabricio Tiago Vilarinho Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Levy Aniceto Santana

Resumo

O envelhecimento das populações é um dos mais importantes desafios para a saúde pública con- temporânea, no qual surgem as múltiplas condições crônicas que podem levar à incapacidade funcional do idoso. O objetivo deste estudo de caso foi apontar os indicadores da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) que apresentam melhor capacidade preditiva de estudo da Capacidade Funcional (CF) em idosos, por ser um instrumento mais completo e global. Aplicou-se a AGA em um paciente idoso do ambulatório de fisioterapia do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) - DF. A avaliação final do idoso apresentou os seguintes resultados: idoso independente; não frágil; baixo risco de quedas, sem déficit cognitivo, sem risco nutricional e adequado suporte familiar. Uma das propostas deste estudo é a implementação da AGA no ambulatório de Fisioterapia do HRSM como instrumento de conduta terapêutica, favorecendo um enriquecimento de dados, norteando o

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atendimento para obtenção de resultados quantificados e acompanhamento da evolução dos pacientes por meio das dimensões clínicas e funcionais, permitindo-lhes um envelhecimento bem-sucedido com visão multidisciplinar.

Palavras-chave: Avaliação geriátrica, fisioterapia, limitação da mobilidade.

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Introdução

O envelhecimento das populações é um dos mais importantes desafios para a saúde pública contemporânea. É um fenômeno mundial, especialmente nos países em desenvolvimento como o Brasil, onde o envelhecimento ocorre em um ambiente de grande desigualdade social, mostrando-se de forma rápida e acentuada1,2.

Junto ao envelhecimento surgem as múltiplas condições crônicas e os desgastes de vários sistemas funcionais, o que pode levar à incapacidade funcional1. Essa perda da Capacidade Funcional (CF) acarreta diminuição da qualidade de vida dos idosos e declínio físico e mental, ocasionando maior risco para eventos, como a queda, associada não apenas a fatores intrínsecos, mas também extrínsecos e ambientais, ou seja, a partir da interação do indivíduo que executa as atividades específicas em determinado ambiente2,3.

A saúde do idoso está estritamente relacionada com a sua funcionalidade global, definida como a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo. O idoso é considerado saudável quando é capaz de funcionar sozinho, de forma independente e autônoma, mesmo que tenha doenças. Desta forma, resgata-se o conceito de saúde estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como sendo o mais completo bem- estar biopsicossocial-cultural-espiritual, e não simplesmente a ausência de doenças. Essa

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capacidade de funcionar sozinho é avaliada por meio da análise das atividades de vida diária (AVDs), que são tarefas do cotidiano realizadas pelo paciente4.

As AVDs avaliam o grau de autonomia e independência do indivíduo. A autonomia é a capacidade individual de decisão e comando sobre as suas ações, estabelecendo e seguindo as próprias regras. Significa capacidade para decidir e depende diretamente da cognição e do humor. A independência refere-se à capacidade de realizar algo com os próprios meios. Significa execução e depende diretamente de mobilidade e comunicação. Portanto, a saúde do idoso é determinada pelo funcionamento harmonioso de quatro domínios funcionais: cognição, humor, mobilidade e comunicação4.

Para isso, além do conhecimento das condições de saúde dessa população, devem-se conhecer, também, quais são as alterações decorrentes do processo de envelhecimento para que os profissionais da saúde possam atuar assistindo e prevenindo de forma a diminuir os riscos de possíveis consequências causadas por essas mudanças2.

Diante do exposto, o objetivo deste relato de caso foi apontar os indicadores da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) que apresentam melhor capacidade preditiva de avaliação da capacidade funcional, por ser um instrumento mais completo e global. E, inserir a AGA no serviço de fisioterapia do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) - DF

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como rotina de avaliação e acompanhamento da evolução dos pacientes por meio das dimensões clínica e funcional, o que permitirá um envelhecimento bem-sucedido com visão multidisciplinar.

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Métodos

Estudo de caso do tipo exploratório, transversal e descritivo, realizado em um paciente idoso, com diagnóstico clínico de osteodiscoartrose vertebral, gonartrose e esporão de calcâneo atendido no ambulatório de Fisioterapia do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) - DF no período de 26/01/2016 a 11/03/2016.

Aplicou-se, para coleta de dados, o instrumento da AGA. Este é subdividido em três partes, a saber:

1ª) Triagem contendo dados sobre a identificação do paciente (nome, idade, sexo, grau de escolaridade, situação conjugal, ocupação, renda, local de residência, religião, atividades sociais e informações acerca do inventário de doenças prévias e medicamentos);

2ª) Dimensão clínica (Quadro 5.1) e; 3ª) Dimensão funcional (Quadro 5.1).

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Quadro 5.1 – Dimensões Clínica e Funcional da Avaliação Geral Ampla (AGA)

DIMENSÃO CLÍNICA

Visão Situação Vacinal Fumante

Audição Uso de próteses e / ou órteses Alcoolismo

Sono Quedas nos últimos 12 meses Doenças cardiovasculares e osteoarticulares

Polifarmácia Pratica de atividade física Continência Fecal e / ou Urinária

DIMENSÃO FUNCIONAL Estado Funcional - Equilíbrio e mobilidade;

- Teste do levantar e andar (TUG); - Atividades básicas de vida diária (AVDs): escala de Katz; - Escala de Barthel para avaliação funcional;

- Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) Cognição - Minimexame do Estado Mental (MEEM);

- Fluência verbal (categoria semântica); -Teste do desenho do relógio.

Humor - Escala de depressão geriátrica de Yasevage Estado Nutricional Mini avaliação nutricional de Guigóz (MAN) Suporte Familiar - APGAR da Família e dos amigos.

Para avaliar a CF foram utilizadas as informações por meio da aplicação do Teste Levante e Ande cronometrado (Timed “Up and Go” test - TUG), amplamente utilizado em práticas clínicas e para avaliação da mobilidade de idosos. O TUG baseia-se na avaliação das capacidades motoras do paciente, sendo quantificada a habilidade da transição de sentado para de pé, o caminhar em linha reta por 3 metros, o giro de 180º e a passagem de em pé para sentado5.

Também foram utilizadas as Escalas de Katz e de Barthel, para Atividades Básicas da Vida

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Diária – ABVDs - (tomar banho, alimentar-se, deitar e levantar da cama, ir ao banheiro, vestir-se e controlar esfíncteres), consideradas atividades funcionais. As atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) foram avaliadas utilizando-se o questionário de Pfeffer. Na entrevista, o idoso foi interrogado sobre a presença de dificuldades ou necessidade de ajuda com cada atividade. O idoso foi considerado como independente caso não relatasse a necessidade de ajuda para realizar alguma ABVD e AIVD e, dependente, quando referisse necessidade de ajuda em, pelo menos, uma das atividades de cada dimensão6.

Para a realização deste relato de caso, obedeceu-se aos princípios éticos dispostos na Resolução número 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. O paciente foi abordado, aleatoriamente, na sessão de fisioterapia, com consentimento do profissional que o atendia e do próprio paciente. Após explicações sobre os objetivos do estudo e os fins da pesquisa, o idoso assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram garantidos, ao sujeito de pesquisa, o sigilo e o anonimato das informações.

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Relato de Caso

Paciente, sexo masculino, 75 anos de idade, natural do estado do Ceará, residente na região de Santa Maria - DF há mais de 35 anos. Procurou a equipe de fisioterapia do HRSM devido uma queda de aproximadamente dois metros de altura, havia mais ou menos três anos.

No início do tratamento, apresentou queixa inicial de dor em região da coluna cervical que irradiava para os membros superiores e mãos, com consequente fraqueza muscular e risco de queda. Possuía diagnósticos clínicos de osteodiscoartrose vertebral, gonartrose e esporão de calcâneo. Os exames complementares mostraram osteofitose por toda região lombar, e com Raio X de região lombar e cervical (19/11/2014) evidenciando diminuição dos espaços articulares. Realizou atendimento fisioterapêutico entre 26 de janeiro a 11 de março de 2016.

Ao exame físico, o paciente se mostrou lúcido, comunicativo, com marcha independente e sem dispositivos auxiliares. A avaliação fisioterapêutica e os resultados dos testes realizados inicialmente pela fisioterapeuta do setor de fisioterapia do ambulatório do HRSM em 26 de janeiro de 2016 estão descritos no Quadro 5.2.

O paciente ainda reclamou de dor na coluna cervical que irradiava para os ombros, com cãibras nas mãos, região lombar e dores nos joelhos, devido à artrose com relato de solado dos pés quentes. Há, aproximadamente, dois anos ingeriu

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algo que gerou infecção intestinal, ficando internado por seis dias, desenvolvendo “prisão de ventre” e sem urinar, necessitando de sonda vesical, com consequente transtorno físico e psicológico. Fez biopsia da região da próstata, sem constatar anormalidades e relatou uso de polifarmácia.

Quadro 5.2. Avaliação Fisioterapêutica e os

Respectivos Resultados

AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA RESULTADOS

Sensibilidade: tátil, térmica e dolorosa; Tônus muscular (Escala de Ashworth); Sem sinal clônus muscular; Coordenação index-nariz e index- index.

Normal

Reflexo: triciptal, biciptal e patelar; Hiperreflexia Equilíbrio Romberg e Romberg sensibilizado;

Leve alteração

Cinético-postural; estereognosia e baragnosia;

Sem alteração

Coordenação: Calcanhar-joelho e com disdiadococinesia; Análise da Marcha: sem dissociação das cinturas e ombro esquerdo elevado.

Alterados.

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O diagnóstico fisioterapêutico apresentou encurtamento muscular de membros superiores, membros inferiores e tronco; diminuição da força muscular global; déficit de equilíbrio e de marcha. Os objetivos da fisioterapia foram aumentar a força muscular global, melhorar o equilíbrio e a marcha.

Ao aplicar a AGA realizada no dia 26/02/2016, o paciente informou, na primeira parte do questionário, os seguintes dados: nome, sexo, idade, situação conjugal casado, moradia com a esposa em uma casa térrea e própria, quatro filhos, 15 netos e cinco bisnetos. Em relação ao grau de escolaridade era analfabeto, porém independente para as AVDs, não necessitava de auxílio para andar de transporte público, reconhecia os números e nomes dos ônibus, sabia olhar as horas no relógio e geria bem as finanças familiares. Era aposentado, recebia um salário mínimo por mês, não praticava atividades sociais na comunidade, era evangélico e praticava atividade física quatro vezes por semana.

Ao analisar a dimensão clínica, segunda parte da AGA, o paciente relatou déficit visual com uso de óculos. Negou déficit auditivo, incontinência fecal e urinária. Relatou sono normal, em média 06 horas por noite e com cochilos diurnos. Referiu situação vacinal atualizada e que fazia uso de polifarmácia com seis medicamentos/dia.

O paciente negou, nos últimos 12 meses, quedas, doenças cardíacas, diabetes melito, tabagismo e alcoolismo. Sem uso de órtese ou próteses. Relatou que faria uma viagem de um mês

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com a esposa para a cidade natal, após alta da fisioterapia. Gostava de atividades de dança, mostrando bom humor durante a avaliação.

Na terceira parte da AGA, dimensão funcional, o idoso avaliado apresentou equilíbrio e mobilidade com risco baixo de quedas, relatando uma única queda havia aproximadamente três anos, sem novos episódios. O estado funcional (Quadro 5.3) encontrava-se dentro das normalidades, com boa independência funcional.

Quadro 5.3. Estado Funcional

ESTADO FUNCIONAL O Teste do levantar e andar – TUG

Normal com <9s

Atividades básicas de vida diária (AVDs): Katz

Independente

Escala de Barthel para avaliação funcional

Independente total

Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs)

Independente

Questionário de Pfeffer para atividades funcionais

Normal

Ainda se mostraram com resultados satisfatórios os domínios: Cognição, Humor, Estado Nutricional e o Suporte Familiar. Ao avaliar a Cognição, o paciente se apresentou dentro da normalidade, apesar de o baixo nível de

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escolaridade. Utilizou-se o instrumento de avaliação MEEM com escore obtido de 22 pontos de um total de 30 pontos, dentro da normalidade para o grau de escolaridade. O teste de fluência verbal também apresentou resultado satisfatório. O Teste do desenho do relógio foi outro instrumento desenvolvido para avaliar o domínio da cognição, obtendo-se 4 pontos, com pequenos erros espaciais com dígitos e horas corretos.

O domínio do Humor foi avaliado por meio da Escala de depressão geriátrica abreviada de Yasevage apresentando resultado normal com zero (0) ponto. Uma pontuação acima de 04 sugere o diagnóstico de depressão maior, com necessidade de avaliação especializada. Já o Estado Nutricional do paciente mostrou ausência de risco nutricional, sendo avaliado por meio da mini avaliação nutricional de Guigóz (MAN). Logo, o idoso foi classificado como nutrido e apresentou 28 pontos, num total de 30 pontos. O escore menor ou igual a 17 pontos sugere que o paciente esteja desnutrido e, entre 17 e 23,5 pontos com risco de desnutrição.

O Suporte Familiar se mostrou adequado, pois apesar de o paciente não morar com os filhos, relatou que não se sentia sozinho, pois sempre recebia visitas ou contatos telefônicos, e residia perto de dois filhos. O paciente apresentou um APGAR da família e dos amigos com 8 pontos, caracterizando boa funcionalidade familiar. Altos índices do APGAR demonstram maior capacidade de adaptação da família à nova situação possível e prováveis mudanças de papéis, enquanto um baixo

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índice pode representar um ambiente estressante, de baixa adaptabilidade à nova situação. Escore de 0 a 4 representa elevada disfunção familiar, já escores de 5 a 6, moderada disfunção familiar.

Paciente independente sem cuidador e sem acompanhante. Antes da aplicação da AGA, o paciente foi submetido à avaliação do Índice de Vulnerabilidade Clinico-funcional – 20 (IVCF-20) para verificação do grau de fragilidade, obtendo 5 pontos, de um total de 40 pontos. Quanto maior o escore, maior a vulnerabilidade.

A Avaliação Final da AGA classificou o paciente em independente, não frágil, baixo risco de quedas, sem déficit cognitivo, sem risco nutricional e adequado suporte familiar. O paciente ainda foi aconselhado a procurar um serviço de odontologia, devido à dentição inadequada, acompanhar adequadamente a pressão arterial e o diabetes melito, continuar com a prática de atividade física e alimentação saudável.

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Discussão

Há várias alterações estruturais associadas ao processo de envelhecimento, que incluem as mudanças em componentes físicos como força muscular, equilíbrio, entre outros. Dentre as principais alterações musculares, uma das mais graves é a diminuição da força. Tendo em vista que as incapacidades funcionais têm como causa primordial o enfraquecimento muscular, exercícios que promovam aumento na força são imprescindíveis para a melhoria ou manutenção da qualidade de vida dessa população2.

A realização de exercícios físicos pode prevenir e/ou amenizar não só o enfraquecimento, mas também o encurtamento muscular, melhorando, assim, a CF dos idosos. As medidas de mobilidade fazem parte, também, da avaliação do declínio funcional ou em tarefas básicas de cuidados pessoais e em tarefas mais complexas, necessárias para viver independente na comunidade2.

O paciente foi submetido à 11 sessões de fisioterapia que tinha como objetivo fortalecimento global e melhora do equilíbrio. Como mostrado na terceira parte da AGA, o paciente apresentou equilíbrio e mobilidade com risco baixo de quedas, sem novos episódios nos últimos 12 meses. Portanto, o Estado Funcional, apresentou-se dentro das normalidades com boa independência funcional. A avaliação da independência funcional mostrou satisfatórios resultados. A escala de Katz,

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por meio do autorrelato e considerando a dependência, é o indicador mais utilizado na avaliação da CF, considerando que não se refere apenas a dimensão física, permitindo uma visão ampla do indivíduo6.

O TUG foi desenvolvido para uso na prática clínica como uma medida de resultado para avaliar mobilidade básica ou funcional, ou equilíbrio dinâmico em adultos. Sendo um teste clinicamente útil para monitorar mudanças ao longo do tempo. Por não exigir equipamentos ou treinamentos especiais dos avaliadores, torna-se prático e rápido para avaliação do risco de quedas em adultos5. Ao realizar o TUG apresentou resultado de 09 segundos, tempo considerado normal, pois tem que ser até 10 segundos. Paciente com tempo de 10 a 20 segundos demonstra fragilidade, já tempo superior a 20 segundos configura incapacidade funcional significativa, aumentando o risco de quedas.

No presente estudo, verificou-se boa condição de independência para AIVD’s e ABVD’s, achado superior aos encontrados em outros estudos que utilizaram escala e instrumentos semelhantes. Observou-se, ainda, que o paciente apresentou menos doenças crônicas que outros idosos da mesma faixa etária, encontrados na literatura. Esse achado é bastante animador, pois foi mostrado que a presença de doenças é um dos principais agravantes para incapacidade em idosos, assim como uma condição nutricional inadequada

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pode favorecer o acometimento de um número maior de doenças crônicas ou vice-versa6.

O MEEM, elaborado por Folstein et al. (1975), é um dos testes mais utilizados em estudos no mundo, pois permite avaliar a função cognitiva e rastrear quadros demenciais, sendo composto por diversas questões, agrupadas em sete categorias que avaliam funções cognitivas específicas. No Brasil, o MEEM sugere que os pontos de corte sejam 13 para analfabetos (não sabe ler e escrever), 18 para escolaridade faixa/média (1º grau completo/2º grau completo) e 26 para alta escolaridade (superior completo)8. O Teste do Relógio, também avalia o cognitivo, é um instrumento de fácil aplicação, econômico, confiável e válido para o diagnóstico de demências, principalmente quando é usado concomitantemente a outros testes de avaliação cognitiva. Envolve três tarefas: desenhar o relógio, indicar as horas e a leitura destas, sendo que o indivíduo deve registrar os números e os ponteiros indicando 11h10 em um círculo pré-desenhado8.

Considerando o nível de escolaridade baixo do paciente deste estudo, os resultados obtidos pela aplicação do MEEM e do Teste do Relógio (Figuras 5.1 e 5.2), apontam para baixo risco de déficit cognitivo, e também mostram uma boa relação com a CF, por ser um paciente independente.

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Figura 5.1 – Miniexame do Estado Mental

(MEEM)

Figura 5.2 – Teste do Relógio.

Em relação ao Estado Nutricional, o paciente obteve ausência de risco nutricional, sendo classificado como nutrido e apresentou 28 pontos pela classificação da MAN. O perímetro da panturrilha é o indicador antropométrico mais sensível em idosos para indicar alterações de massa magra que ocorrem com o envelhecimento. Nesse sentido, realizou-se a medição da circunferência de braço (CB) e a circunferência da

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panturrilha (CP), obtendo-se os seguintes resultados, respectivamente, 32cm e 39cm. Esses resultados foram satisfatórios, visto que os dados da CB tinham que estar acima de 22cm e a CP acima de 31cm. Ao analisar o IMC, obteve-se 23,1 kg/m2. Apesar de a dentição prejudicada, o paciente apresentava adequada nutrição e baixo risco nutricional 9. (Inseri Referência)

Em relação ao IVCF-20, encontraram-se ótimos resultados com 5 pontos dentre pontuação total de 40 pontos. Esse questionário é composto por vinte questões de fácil e rápida aplicação, avaliando idade, autopercepção da saúde, atividades de vida diária, cognição, humor, mobilidade, comunicação e comorbidades múltiplas. O referido questionário pode ser aplicado por qualquer profissional da equipe de saúde da família10. (Inseri Referência)

Apesar de não evidenciar um idoso frágil e vulnerável para a idade, o paciente apresentou dentição prejudicada, que pode levar a um problema na alimentação gerando dificuldades alimentares e com isso vindo a ter incapacidade funcional. O reconhecimento de que os idosos não somente podem, mas também desejam receber informações relacionadas ao cuidado com sua saúde, é essencial para ajudá-los a envelhecer de forma saudável e junto de suas famílias. O paciente foi aconselhado a procurar um serviço de odontologia.

Todos os domínios como: Cognição, Humor, Estado Nutricional e o Suporte Familiar, se

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mostraram com resultados satisfatórios, dentro da normalidade. Os resultados da AGA indicam que o idoso é independente, não frágil, com baixo risco de quedas, sem déficit cognitivo, sem risco nutricional e adequado suporte familiar.

Há necessidade de uma compreensão mais abrangente das alterações advindas do processo de envelhecimento que conduzem a tais alterações, no interesse de se apontarem ações de prevenção. A obtenção de dados de caracterização da quali- dade de vida e bem-estar dos idosos, sob o ponto de vista dos próprios, é um dado que pode ser fundamental para dinamizar medidas adequadas a essa população, que permitam o alcançar de um envelhecimento bem-sucedido.

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Conclusão

O desenvolvimento deste relato de caso instigou uma reflexão sobre as práticas necessárias ao enfrentamento das incapacidades funcionais do idoso e de como avaliá-lo de forma holística por meio da atuação do fisioterapeuta e de outros profissionais da saúde engajados em um atendimento multidisciplinar.

Portanto, uma das propostas deste estudo é a implementação da AGA no ambulatório de Fisioterapia do HRSM como instrumento de conduta fisioterapêutica, pois favorece um enriquecimento de dados, norteia o atendimento para obtenção de resultados quantificados, além de permitir o acompanhamento da evolução dos pacientes por meio das dimensões clínica e funcional, o que favorece um envelhecimento saudável e bem-sucedido.

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Referências

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9. Guigoz Y, Vellas B, Garry PJ. Assessing the nutritional status of the elderly: The Mini Nutritional Assessment as part of the geriatric evaluation. Nutrition reviews 1996; 54(1): S59. 10. Moraes EN, Carmo JA, Moraes FL, Azevedo RS, Machado CJ, Montilla DER. Índice de Vulnerabilidade Clínico Funcional-20 (IVCF-20): reconhecimento rápido do idoso frágil. Revista de Saúde Pública 2016; 50:81.

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Capítulo 7 – Avaliação da Fragilidade em Idosa com Queixa de Dor Lombar

Luana Salles de Morais Girão Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Renata Costa Fortes Levy Aniceto Santana

Resumo

Idosos, em idade avançada, tendem a ter aumento no grau de dependência, fragilidade e diminuição da mobilidade e funcionalidade. O objetivo deste relato de caso foi avaliar o grau de fragilidade, mobilidade, dependência, cognição, vulnerabilidade, polifarmácia, humor e funcionamento familiar em uma idosa com idade avançada. Os dados foram obtidos por meio de questionário e do teste físico. Observou-se que é possível atingir os oitenta e nove anos, com um bom estado de funcionalidade e mobilidade, apesar da existência de limitações inerentes à idade.

Palavras-chave: Envelhecimento, idoso fragilizado, dependência.

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Introdução

O Brasil está em contínuo processo de transformações devido ao aumento do envelhecimento populacional e à diminuição da taxa de fecundidade1. Observa-se, nesse sentido, elevada prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, o que representa um grande desafio às políticas públicas2,3.

As doenças cônicas não transmissíveis, em idosos, associadas a outras comorbidades implicam em baixa qualidade de vida, dependência, hospitalizações, aumento do risco de eventos adversos por medicamentos, limitações funcionais, e até a morte1-3.

O idoso saudável caracteriza-se por gozar de saúde suficiente para ter independência e autonomia pessoal; ou seja, por possuir um completo bem estar biopsicossocial-cultural- espiritual, e não a ausência de doenças4.

Porém, aproximadamente, 35% dos indivíduos com idade acima de 65 anos têm alguma fragilidade, sendo que essa porcentagem aumenta para 42% em idosos na faixa etária superior a 70 anos5.

A síndrome de fragilidade é uma consequência do envelhecimento relacionada ao processo da doença crônica. Ela envolve declínio das reservas de energia, rebaixamento da função imunitária, diminuição da resistência a situações de estresse e desregulação neuroendócrina, como consequência de processos normativos fisiológicos

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de envelhecimento, associados aos riscos atuais e acumulados à saúde e a funcionalidade, implicando em quadro de vulnerabilidade5,7.

Os indivíduos frágeis são caracterizados por idosos susceptíveis aos desfechos de saúde como sarcopenia, osteopenia, déficits cognitivos, incapacidades funcionais, diminuição da velocidade de marcha, predisposição a doenças crônicas e hospitalizações6,7.

O idoso que apresenta três ou mais desses componentes é caracterizado como idoso frágil, e aqueles que possuem um ou dois componentes apresentam um estado de pré-fragilidade, com risco para desenvolver a síndrome8.

A diminuição da capacidade de reestabelecer o equilíbrio biológico e a plasticidade comportamental compatíveis com o envelhecimento e com a fragilidade, acarretam aumento da perda da funcionalidade física, intelectual, da motivação, do bem-estar e da participação social7.

O objetivo do presente relato de caso foi avaliar o grau de fragilidade, a mobilidade, a dependência, a cognição, a vulnerabilidade, a polifarmácia, o humor e o funcionamento familiar em uma idosa com idade avançada.

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Métodos

Tratou-se de um relato de caso de uma idosa, com idade avançada, acompanhada no mês de março de 2016, em um consultório particular de Fisioterapia, na cidade de Brasília-DF. Os dados quanto à vulnerabilidade, polifarmácia, independência nas Atividades de Vida Diária (AVDs), mobilidade, cognição, humor, estado nutricional e funcionalidade familiar foram obtidos por meio de um questionário e do teste físico, orientados na Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)9. A paciente assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual concordou em participar voluntariamente, após informações sobre todos os procedimentos da pesquisa. Seguiu-se a Resolução número 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde que garante o sigilo e o anonimato das informações referentes aos sujeitos de pesquisa, dentre outras determinações.

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Relato de Caso

Paciente, do sexo feminino, com 89 anos de idade, apresentando queixas de dor lombar com irradiação para membro inferior esquerdo, postura curvada para frente, com perda da agilidade e dificuldade quanto a função de calçar-se sozinha.

Apresentava claudicação intermitente e progressiva há dois meses, com semblante entristecido pela dor, bem como limitação consequente a esse sintoma.

O exame radiológico mostrou diminuição dos espaços intervertebrais, osteófitos marginais em toda a extensão da coluna lombar, e leve desvio lateral da coluna lombar à esquerda.

Ao exame físico, apresentou grande encurtamento de cadeia muscular posterior, adutores dos membros inferiores, e cadeia ântero- interna dos membros superiores, e consequente diminuição da mobilidade de forma global.

Referiu residir com o companheiro havia 47 anos, não possuir filhos, ter uma alimentação saudável e variada, em pequenas quantidades, e ingerir uma taça de vinho tinto diariamente desde jovem.

A paciente vinha sendo tratada com sessões de reeducação postural global, técnicas de alongamentos, fortalecimento muscular, e orientada quanto à posição correta para dormir, sentar-se e algumas posições de mobilidade, além da importância de realizar atividade física de forma adequada.

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Os resultados obtidos por meio da Avaliação Geriátrica Ampla9 estão descritos no Quadro 6.1.

Quadro 6.1- Resultados da Avaliação Geriátrica

Ampla (AGA)

Ação Instrumento Pontuação Classificação Vulnerabilidade Índice de Vulnerabilidade

clinico-funcional-20 (IVCF-20)

11 pontos 7 – 14 = Risco aumentado

Polifarmácia Inventário de doenças prévias e medicamentos referenciais

01 medicação Não é considerado Polifarmácia

Independência Katz 6 pontos Independência para AVDs

Mobilidade Timed up and go (TUG) 19 segundos 10 a 20 segundos = associado a senescência, incapacidade prévia ou fragilidade

Cognição Mini exame do estado mental e Teste do relógio de Shulman

24 pontos e 4 pontos

= ou > 19 = Apto e Pequenos erros espaciais com dígitos e horas corretas

Humor Escala de Depressão Geriátrica abreviada

1 ponto = ou < 5 pontos = Normal

Nutrição Mini Avaliação Nutricional (MAN)

12 pontos 12 pontos ou mais = Normal

Funcionalidade familiar

APGAR familiar 9 pontos > 6 = Leve disfunção

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Discussão

A síndrome da fragilidade está associada à incapacidade funcional e às comorbidades, porém, nem todo indivíduo frágil é incapaz ou apresenta comorbidades e vice-versa10.

Para cada uma das ações avaliadas nesse relato de caso foi usado um questionário ou teste específico. Para o índice de vulnerabilidade clinico funcional foi usado o IVCF-20 e dentro de sua pontuação foi classificada como risco aumentado de vulnerabilidade9. Inseri referência

A idosa fazia uso de apenas uma medicação para desordens articulares e, com isso, não pode ser considerada em uso de polifarmácia. Apresentou pontuação de independência para a realização das AVDs por meio da escala de avaliação funcional Katz9. Inseri referência

Para avaliar a mobilidade foi usado o Teste funcional Timed up and go (TUG), o qual obteve pontuação associada à senescência, incapacidade prévia ou fragilidade9. Inseri referência

Quanto à cognição foram utilizados dois testes, o Teste do Relógio de Shulman, e o Mini exame de estado mental (Minimental), ambos com resultados que sugerem aptidão e normalidade nas funções cognitivas9. Inseri referência

A Escala de Depressão Geriátrica abreviada foi usada para avaliação do humor, com pontuação dentro da normalidade. A Mini Avaliação Nutricional (MAN) avaliou o estado nutricional da paciente, e

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também trouxe resultados positivos, sem riscos nutricionais9. Inseri referência

Finalizou-se com APGAR familiar, avaliação do funcionamento familiar, no qual foi obtida pontuação compatível com leve disfunção. Tal classificação se deve ao fato de a paciente ter familiares que moram distantes, e com isso não se sentia satisfeita com o tempo que passam juntos9. Inseri referência.

Apesar de 89 anos de idade, os testes mostraram que a idosa foi considerada como independente, sem déficit cognitivo, humor normal, sem risco nutricional, com suporte social adequado, não fazia uso de medicações em excesso. Sua limitação foi identificada quanto à mobilidade, por diminuição da massa muscular, e velocidade da marcha. Salienta-se que os exercícios físicos são benéficos para os idosos nessa condição de saúde6.

O tratamento fisioterapêutico tem apresentado resultados significativos nessa população, levando ao melhor desempenho na realização das AVDs, ao aumentando da amplitude de movimento, melhora na velocidade da marcha, melhora do equilíbrio, redução no número de quedas e melhora do bem-estar geral6.

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Conclusão

Os testes revelaram, neste relato de caso, início de declínio da mobilidade, com risco aumentado de vulnerabilidade, o que sugere a necessidade de identificação e tratamento, podendo ser classificada como idosa pré-frágil.

Para tanto, deve-se ressaltar a importância dos testes e dos serviços de assistência à população idosa, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como porta de entrada a Atenção Básica de Saúde.

Tais medidas e suporte assistencial podem proporcionar um envelhecimento de qualidade à crescente população idosa e minimizar os efeitos sobre a saúde do idoso quando a fragilidade está presente.

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Referências

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8. Remor CB, Bós AJG, Werlang MC. Características relacionadas ao perfil de fragilidade no idoso. Sci Med 2011; 21(3):107-12. 9. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Avaliação Geriátrica Ampla. [Acesso em 10 mar. 2016]. Disponível em: http://www.sbgg.org.br/profissionais/arquivo/AGA- SBGG-livre.pdf. 10. Lourenço RA. A síndrome de fragilidade no idoso: marcadores clínicos e biológicos. Rev Hosp Univ Pedro Hernesto. 2008, Ano 7.

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Capítulo 8 – Avaliação Geriátrica Ampla em Idosa Hospitalizada após Colecistectomia Videolaparoscópica

Caroline Soares Menezes Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Adriana Haack

Resumo

A fragilidade é um importante problema de saúde pública e prediz complicações futuras. Países em desenvolvimento apresentam taxas de prevalência de fragilidade bem maiores do que países desenvolvidos. A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é uma ferramenta de rastreio geriátrico que avalia aspectos da saúde física e mental, cognição e as circunstâncias socioambientais e psicossociais para auxiliar no processo diagnóstico e no direcionamento terapêutico de idosos. Relata-se a AGA de uma paciente internada na clínica cirúrgica de um hospital público do Distrito Federal após uma colecistectomia por videolaparoscopia. A AGA identificou risco aumentado de vulnerabilidade (11 pontos no Índice de Vulnerabilidade Clínico- Funcional), o que apontou a necessidade de aplicar a avaliação completa. Na dimensão clínica apresentou alterações por referir incontinência urinária há cinco anos, insônia e sedentarismo há

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dois anos. Na funcionalidade, pelo índice de Katz, foi classificada como independente, entretanto em relação à avaliação da marcha e da mobilidade, apresentou uma anormalidade moderada. A cognição apresentou-se levemente alterada com base no teste do desenho do relógio e na escala de depressão geriátrica de Yesavage abreviada. A paciente apontou para um diagnóstico de depressão, apresentando uma pontuação de 5 e, apresentou um estado nutricional comprometido com risco de desnutrição pela Mini Avaliação Nutricional (MAN). Resultado adequado na avaliação do suporte social, apresentando 10 pontos no APGAR familiar. A AGA identificou-a como independente, porém frágil, com alto risco de quedas, com possível déficit cognitivo, com presença de risco nutricional e com suporte social adequado. Concluiu-se que a AGA é uma importante ferramenta de saúde pública para identificação da fragilidade muitas vezes precocemente, permitindo intervenções individualizadas com o objetivo de prevenir e promover a saúde do idoso.

Palavras-chave: Avaliação geriátrica, fragilidade, geriatria, vulnerabilidade.

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Introdução

A fragilidade é um importante problema de saúde pública, visto que idosos fragilizados apresentam sinais e sintomas que são preditores de complicações futuras (quedas, incapacidade, hospitalizações e mortalidade). A fragilidade é uma síndrome clínica que envolve múltiplas dimensões e está relacionada com a idade, uma vez que o envelhecimento pode acarretar uma maior vulnerabilidade a fatores internos e externos, pela inabilidade do organismo do idoso em manter a homeostase1.

A fragilidade é diagnosticada quando se encontram três a cinco caraterísticas fenotípicas, tais como: pouca energia, locomoção lentificada, reduzida atividade física, reduzida força manual e a perda de peso não intencional. É considerada uma pré-fragilidade a presença de uma ou duas destas caraterísticas fenotípicas2.

A prevalência de idosos fragilizados em países em desenvolvimento como o Brasil varia de 30% a 48% para mulheres e 21% a 35% para homens. Taxas bem elevadas em relação às observadas na Europa e nos Estados Unidos da América o que é associado às frequentes condições desfavoráveis de saúde, econômicas e sociais 1,3.

Nesse contexto, ressalta-se a importância de um instrumento de rastreamento geriátrico, como a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), para auxilio no processo diagnóstico e direcionamento terapêutico.

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A AGA utiliza escalas e questionários validados para avaliar a capacidade funcional e qualidade de vida do idoso. Aspectos da saúde física e mental, cognição e as circunstâncias sócio-ambientais e psicossociais são avaliados, com o objetivo de planejar o cuidado geriátrico e o acompanhamento em longo prazo4.

O objetivo do presente estudo foi relatar o caso de uma paciente internada em um hospital público do Distrito Federal na qual foi aplicada a AGA e discutir os aspectos relacionados à fragilidade da paciente.

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Métodos

Trata-se de um relato de caso de uma paciente idosa que estava internada na Clínica Cirúrgica de um hospital público , em março de 2016. No momento da entrevista foram garantidos à paciente o sigilo e o anonimato das informações, o detalhamento sobre os objetivos e os procedimentos utilizados, a orientação de que não haveria nenhum ônus ou dano ao seu tratamento, a garantia de participação voluntária e concordância mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Durante toda a pesquisa respeitou-se a Resolução número 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde (CNS/MS).

Realizou-se para classificação da vulnerabilidade o Índice de Vulnerabilidade Clínico- Funcional (IVCF). O IVCF avalia oito dimensões: a idade; a autopercepção da saúde; as atividades de vida diária (AVD), sendo três AVD instrumentais e uma AVD básica; a cognição; o humor/comportamento; a mobilidade (alcance, preensão e pinça; capacidade aeróbica/muscular; marcha e continência esfincteriana); a comunicação (visão e audição); e a presença de comorbidades múltiplas, representada por múltiplas enfermidades, polifarmácia e/ou internação recente4.

De acordo com o desempenho do idoso, cada pergunta recebe uma pontuação específica, totalizando 40 pontos. Para aumentar o valor preditivo do instrumento, acrescenta-se a

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circunferência da panturrilha, a velocidade da marcha e o peso/índice de massa corporal. A pontuação gera três classificações: de 0 a 6 pontos, o idoso tem provavelmente baixa vulnerabilidade clínico-funcional, e não necessita de avaliação e acompanhamento especializados; de 7 a 14 pontos, verifica-se risco aumentado de vulnerabilidade, que vai apontar necessidade de avaliação mais ampla; com 15 ou mais pontos, considera-se alto risco de vulnerabilidade ou mesmo fragilidade instalada, que exigem avaliação ampliada, de preferência por equipe especializada em cuidado geriátrico/gerontológico e com suporte psicossocial4,5.

Na identificação avaliam-se: situação conjugal; o local de residência; a escolaridade; as fontes de renda; as medidas para acesso; a aderência aos tratamentos; aspectos religiosos; e atividades sócias. Quanto à dimensão clínica, questiona-se sobre: a visão; a audição; a continência urinária e fecal; a qualidade do sono; a presença de doenças cardiovasculares e orteoarticulares; o uso de órteses e próteses; a situação vacinal; a ocorrência de quedas nos últimos 12 meses; o uso de polifarmácia; o hábito de fumar e beber; e a prática de atividade física. Em relação aos diagnósticos e medicamentos, pergunta-se sobre a presença de doenças, o uso de medicações. Nesse inventário indaga-se como o medicamento é utilizado e por quanto tempo4,5.

Para avaliar o estado funcional foi utilizado o Índice de Katz – Escala de Atividades de Vida

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Diária6 e os testes de avaliação da marcha e da mobilidade. A Escala de AVD avalia a dependência do idoso quanto: ao hábito de banhar-se e vestir-se; à necessidade de assistência para alimentação, higiene pessoal e transferência (deitar, sentar, levantar); e autocontrole do intestino e bexiga (continência). Uma pontuação 6 indica que o idoso é independente, 4 pontos indica uma dependência parcial, já uma pontuação igual ou inferior a 2 implica na necessidade de assistência, indicando uma dependência importante6. Em relação à avaliação da marcha e mobilidade, utilizou-se velocidade da marcha7 e o teste Timed up and go8. Na velocidade da marcha foi medido o tempo para se percorrer uma linha reta em passo usual (distancia de 2 a 15 metros). É considerada uma velocidade alterada quando é abaixo de 0,74m/s7. No teste Timed up and go foi medido o tempo para levantar-se de uma cadeira e andar 3 metros, virar- se, retornar até a cadeira e sentar-se novamente. Um tempo menor que 10s é normal, entre 10 a 20s é associado a incapacidade prévia ou fragilidade e um tempo maior que 20s é uma marcha alterada, com risco aumentado para quedas e incapacidade funcional significativa8.

Para a avaliação da cognição foi aplicado o teste do desenho do relógio. Nesse teste o paciente deve desenhar um relógio com todos os números e marcando 11 horas e 1 minuto e o grau déficit cognitivo é observado quanto melhor a pontuação. Um relógio perfeito recebe uma pontuação de 5 pontos; para pequenos erros espaciais com dígitos

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e hora correta são 4 pontos; uma distribuição visuo- espacial correta com marcação errada da hora configura 3 pontos; já 2 pontos são dados para uma desorganização visuo-espacial moderada que leva a uma marcação de hora incorreta, perseveração, confusão esquerda-direita, números faltando, números repetidos, sem ponteiros ou com ponteiros em excesso; recebe 1 pontos o desenho que tem algo a ver com um relógio mas com desorganização visuo-espacial grave; 0 pontos são dados para uma inabilidade absoluta para representar o relógio9.

A avaliação do humor foi feita pela escala de depressão geriátrica de Yesavage abreviada. Nessa escala uma pontuação acima de 4 sugere o diagnóstico de depressão maior. São feitas quinze perguntas (autopercepção e conhecimento) e o paciente recebe 1 ponto cada vez que afirma uma pergunta de aspectos negativos ou nega aspectos positivos. Pergunta-se a respeito: da satisfação com a vida; abandono do interesse e da atividade; o sentimento de vazio; a frequência de aborrecimentos; o tempo de bom-humor; o medo de acontecimentos ruins; a tempo de felicidade; a esperança; o isolamento; memora em comparação com outras pessoas; de gostar de estar vivo; sentimento de inutilidade; disposição; comparação com outras pessoas10.

Para realização da avaliação do estado nutricional, utilizou-se a Mini Avaliação Nutricional (MAN). Esta avaliação foi projetada e validada para fornecer uma única e rápida avaliação do estado

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nutricional de pacientes idosos. A MAN pode ser realizada em um curto período de tempo e avaliar o risco de desnutrição. Este instrumento é composto por 2 partes (triagem nutricional e avaliação global), a primeira o paciente recebe 0 a 3 pontos em cada uma das 6 perguntas, caso tenha uma pontuação de 12 pontos ou mais é considerado normal (desnecessário continuar a avaliação), já se receber 11 pontos ou menos existe possibilidade de desnutrição e a avaliação global deve ser realizada). A triagem avalia: diminuição da ingestão alimentar devido a perda de apetite, problemas digestivos ou dificuldade para mastigar ou deglutir; Perda de peso nos últimos meses; Mobilidade; presença de algum estresse psicológico ou doença aguda nos últimos três meses; presença de problemas neuropsicológicos; e o Índice de massa corpórea. A avaliação global analisa: a residência; uso de medicações; presença de lesões de pele; quantidade de refeições por dia; a frequência de alimentos; quantidade de frutas e hortaliças; quantidade de líquidos por dia; modo de se alimentar; autopercepção nutricional; comparação da sua saúde com outras pessoas; perímetro braquial e da perna. Por fim, sua classificação é feita pelo escore do somatório a pontuação da triagem e da avaliação global. Um total de escore > 23,5 é considerado bem nutrido, entre 17 e 23,5, risco de má nutrição e < 17, desnutrido11.

Para a avaliação do suporte social foi utilizado o modelo da SBGG com aplicação do APGAR familiar - avaliação do funcionamento

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familiar. Avalia-se a experiência do idoso com seus relacionamentos mais próximos. O acrônimo APGAR, significa Adaptação (“adaptation”), Participação (“partneship”), Crescimento (“growth”), Afeição (“affection”) e Resolução (“resolution”). O paciente assinala uma das três escolhas, as quais têm a seguinte pontuação: 2 pontos para "Quase sempre", 1 ponto para "Às vezes", e 0 para "Raramente". Os pontos para cada uma das cinco questões são totalizados. O resultado de 7 a 10 sugere uma família altamente funcional. O resultado de 4 a 6 sugere uma família moderadamente disfuncional. O resultado de 0 a 3 sugere uma família gravemente disfuncional12.

O critério de seleção para o estudo foi de um paciente idoso que estivesse internado em alguma das clínicas do hospital, sendo realizado sorteio dentre aqueles aptos pelos critérios de inclusão e não excluídos. Os critérios de inclusão utilizados foram pacientes com idade igual ou superior a 60 anos ,com cuidador presente, que deambulasse, estivesse consciente, com alimentação via oral e respiração espontânea. Como critérios de exclusão utilizou-se a presença de doenças neurológicas e/ou demenciais diagnosticadas, doenças pulmonares e cardiológicas em estágio avançado; pacientes em cuidados paliativos ou com prognóstico reservado; pacientes com fraturas; pré e pós-operatório que limitem a deambulação e/ou restrinjam a significantemente a alimentação.

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Relato de Caso

Paciente, sexo feminino, 68 anos de idade, feoderma, viúva (há 3 anos), ensino fundamental incompleto (estudou até a 4a série), copeira aposentada sem outra ocupação, renda advinda da aposentadoria, residente no Gama-DF, com uma filha e natural de São João Batista-MA. Estava internada na Clínica Cirúrgica de um hospital público após uma colecistectomia por videolaparoscopia. Foi aplicada a AGA com a paciente na enfermaria, acompanhada de sua filha e o tempo utilizado para preenchimento completo da avaliação foi de 1 hora e 30 minutos.

A paciente foi classificada com risco de vulnerabilidade aumentado pelo IVCF, o que aponta a necessidade de uma avaliação mais ampla e de identificação e tratamento de condições crônicas (Quadro 7.1). Na dimensão clínica, a paciente relatou normalidade da visão e audição, referiu incontinência urinária há 5 anos e insônia. Situação vacinal adequada. Negou etilismo e tabagismo. Negou outras doenças e uso medicamentoso em domicílio. Referiu não fazer atividade física há 2 anos (Quadro 7.1).

Na funcionalidade pelo índice de Katz foi classificada como independente, possuía habilidade para desempenhar tarefas cotidianas, visto que apresentou apenas alteração no controle esfincteriano urinário, relatando “acidentes urinários ocasionais”. Já em relação à avaliação da marcha e

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da mobilidade, apresentou uma anormalidade moderada (Quadro 7.1).

Cognição levemente alterada com base no teste do desenho do relógio, no qual a paciente desenhou algo a ver com o relógio, mas com desorganização visuo-espacial grave, mostrando-se muito irritada com a aplicação deste teste (Figura 7.1).

FIGURA 7.1 - DESENHO DO TESTE DO RELÓGIO REALIZADO PELA PACIENTE

De acordo com a escala de depressão geriátrica de Yesavage abreviada, a paciente aponta para um diagnóstico de depressão. Ela se aborrece com frequência, não se sente de bom humor e feliz a maior parte do tempo, prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas, não se sente cheia de energia, não possui muitas atividades sociais além de ir a igreja todos os domingos (Quadro 7.1).

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QUADRO 7.1 – RESULTADOS DA AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA)

Ferramenta Resultado Pontuação

IVCF Perda ponderal Marcha Continência esfincteriana Comorbidades múltiplas

Risco de vulnerabilidade aumentada 10kg (6 meses) 2 quedas (ultimo ano) Incontinência urinária Internação recente (últimos 6 meses)

11 pontos 2 pontos 2 pontos 2 pontos 4 pontos

Dimensão clínica Visão Audição Continência urinária/fecal Sono Doenças cardiovasculares Doenças osteoarticulares Uso de órteses Uso de próteses Situação vacinal Fumo Álcool Atividade física

Normal Normal Incontinência urinária (há 5 anos) Insônia

Não Não Não Não Adequada Não fumante Não bebe Sedentária há 2 anos

- - - - - - - - - - - -

Índice de Katz Banho Vestir-se Higiene pessoal Transferência Continência Alimentação

Independente Não precisa de assistência Não precisa de assistência Não precisa de assistência Não precisa de assistência Acidentes urinários ocasionais Não precisa de assistência

5 pontos 1 ponto 1 ponto 1 ponto 1 ponto -

1 ponto

Marcha e Mobilidade Velocidade de marcha Time up and go

Anormalidade moderada Alterada (0,25m/s) < 0,74m/s Incapacidade prévia ou fragilidade (18s)

Escala de Yesavage Depressão 5 pontos APGAR familiar Altamente funcional 10 pontos

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A paciente apresentou um estado nutricional comprometido com risco de desnutrição pela MAN. Na parte inicial da triagem apresentou possibilidade de desnutrição e necessidade de continuar a avalição com um escore de 7 pontos e na avaliação global obteve 14 pontos, sendo assim um escore total de 21 pontos.

Dados antropométricos: peso aferido 73.6kg, estatura referida de 1.54m, IMC: 31kg/m2, CB: 31 cm (lado direito) e CP: 37 cm (lado direito). Paciente relatou se alimentar sozinha sem dificuldade, apesar da diminuição moderada da ingestão devido perda de apetite associada a uma perda ponderal de 10 kg nos últimos 6 meses.

Referiu ter uma mobilidade normal e ter tido uma doença aguda nos últimos 3 meses. Apresentou depressão leve, reside em casa própria, não utiliza medicamentos e não apresenta lesões na pele ou escaras.

Possuía uma alimentação fracionada em 3 refeições ao dia, apresentando um consumo diário de frutas (2 porções), de vegetais (1 porção) e de carne, peixe ou frango. Não consumia leite e derivados devido intolerância à lactose. Relatou um consumo de líquidos de mais de 5 copos por dia. Acreditava não ter problemas nutricionais e não sabe comparar sua saúde com a de outras pessoas da mesma idade.

Resultado adequado na avaliação do suporte social, apresentando 10 pontos no APGAR familiar sendo assim sua família classificada como uma altamente funcional (Quadro 7.1).

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Discussão

Para identificar o idoso que mais se beneficiaria com a aplicação da AGA é utilizado o IVCF, que é a estratificação de níveis de risco para declínio funcional. A paciente apresentou uma pontuação intermediária no IVCF, o que indicou um risco aumentado de vulnerabilidade, e que indica a necessidade de uma avaliação mais ampla e atenção para identificação e tratamento apropriado de condições crônicas5. A AGA identificou a idosa do estudo como independente, porém frágil, com alto risco de quedas, com possível déficit cognitivo, com presença de risco nutricional e com suporte social adequado4.

As características sociodemográficas da entrevistada assemelham-se com as encontradas em estudo realizado no Brasil13, em que a predominância de fragilidade ocorreu em idosos, do sexo feminino, com baixa escolaridade e baixo nível socioeconômico. Prevalências que decorrem do fato das mulheres terem uma maior expectativa de vida e um menor índice de massa muscular, que pode estar associada a menores níveis hormonais. A baixa escolaridade, associada a um baixo nível socioeconômico, afeta diretamente o estilo de vida e pode aumentar a exposição à riscos a saúde, o que potencializa a condição física de fragilidade14.

A paciente já estava internada no momento da entrevista e relatou que quatro meses antes havia sido internada na clinica cirúrgica do pronto socorro do HRC-DF, momento em que foi

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diagnosticada com coletitíase e recebeu alta para agendamento de cirurgia eletiva (colecistectomia por videolaparoscopia). Enfermidade de alta prevalência na faixa etária maior de 60 anos, sexo feminino e com diagnóstico de obesidade15.

A paciente apresentou uma significativa perda ponderal não intencional (12% em 6 meses) o que contribuiu para sua vulnerabilidade e fragilidade, apesar de ser um componente menos frequente em pessoas que se tornam frágeis14. O emagrecimento normalmente é resultante de uma desregulação energética com causas multifatoriais, como alterações neuroendócrinas e musculoesqueléticas, desnutrição, inflamação e doenças que comprometem células musculares e assim diminuem a massa muscular, ou seja, promovem o catabolismo13.

No caso em questão, a perda de peso também pode ser multifatorial. As queixas principais da coletitíase (náuseas, vômitos, cólicas e má digestão) podem ocasionar importante inapetência e ser um ponto significativo para perda ponderal15. A anorexia fisiológica do envelhecimento também pode contribuir com este emagrecimento e está relacionada a uma diminuição do paladar (redução da sensibilidade para os gostos primários, especialmente, doce e salgado) e olfato, xerostomia, depressão e isolamento social16.

A importante perda de peso da paciente indicou uma perda de massa muscular, que está correlacionada a um risco para desnutrição e um diagnóstico de obesidade sarcopênica. A própria

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fisiologia do idoso contribui para uma diminuição da força muscular, baixa tolerância ao exercício e redução da velocidade da marcha, fadiga, assim como redução da capacidade para realizar as atividades de vida diária e maior risco de quedas14. A sarcopenia relaciona-se a uma perda da massa muscular especialmente os membros inferiores, comprometendo assim a amplitude dos movimentos, colaborando para a incapacidade funcional13. A sarcopenia da paciente pode está acentuada pelo sedentarismo que intensifica a disfunção musculoesquelética e por ser do sexo feminino, porque terá menores níveis de testosterona e de hormônio do crescimento14.

Em relação à velocidade da marcha, existe uma possível interferência do procedimento cirúrgico. O dia da entrevista era o primeiro dia de pós-operatório da paciente, apesar de ser uma cirurgia de baixa intervenção (videolaparoscopia) e baixo risco de complicações15, contudo pode ter afetado a velocidade de caminhada. A obesidade da entrevistada também pode colaborar para uma velocidade de marcha diminuída13.

A fragilidade da paciente também se apresentou pela incontinência urinária, que acomete cerca de 20% das mulheres e 10% dos homens com mais de 60 anos de idade. Fato que pode ser justificado por modificações funcionais e estruturais no sistema urinário, previsíveis com o avanço da idade e que levam ao declínio funcional. A obesidade e a mobilidade (> velocidade da

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marcha) também podem ter agravado este desconforto13.

A insônia na geriatria possui altas taxas de prevalência, sendo o dobro em relação a adultos jovens, mas normalmente não é uma enfermidade específica, é sim um sintoma de múltiplas enfermidades. E, no caso da paciente entrevistada, o quadro de insônia pode estar associado ao sedentarismo, ao quadro depressivo e à obesidade13.

No teste do relógio, a paciente apresentou uma pontuação indicativa de déficit cognitivo, contudo alguns autores consideram que o Teste do Relógio deve ser associado a outros testes de avaliação, não sendo usado como único critério diagnóstico da função cognitiva9. Tanto o baixo desempenho verificado no teste como a resistência em realizá-lo podem estar associados à baixa escolaridade e a depressão, uma vez que para compreensão e leitura das horas é necessário o conhecimento dos números e para execução do teste é importante concentração, resiliência e boa vontade13.

De acordo com a avaliação de humor, a paciente apresentou pontuação indicativa de depressão. Os sintomas depressivos estão associados significativamente a uma pior autopercepção de saúde. O estudo indica que mais de 20% dos idosos são depressivos e que a maior média de sintomas depressivos é apresentada em mulheres e pessoas idosas6. Fatores que aumentam o isolamento social podem agravar este

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quadro da paciente, como ser aposentada e não ter outras atividades, a incontinência urinária, trauma psicológico pós queda e ser viúva14.

Como plano de ação para a paciente foi feito o encaminhamento para diversas especialidades como geriatra, ginecologista, psicólogo e psiquiatra. Foi elaborado um plano de acompanhamento nutricional em âmbito hospitalar, como adequação da dieta para melhor aceitação associada a suplementos hipercalóricos e hiperprotéicos e para um acompanhamento em longo prazo foi feito o encaminhamento para a nutricionista do Centro de saúde mais próximo do domicílio. A paciente também foi orientada a procurar um professor de educação física para a implementação de um programa de exercícios que melhore a força muscular e o equilíbrio, orientado de forma individualizada.

Como limitação do estudo pode-se citar a falta de experiência do avaliador nas ferramentas e testes, exceto a MAN. Outra limitação é a pouca aplicabilidade da AGA em pacientes internados, devido o tempo de aplicação e a possível interferência de fatores hospitalares nos resultados. Nesse contexto, ressalta-se a necessidade e importância do desenvolvimento de uma avaliação geriátrica adaptada para pacientes idosos internados.

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Conclusão

A AGA é fundamental para identificação da fragilidade (muitas vezes de forma precoce) - permite intervenções individualizadas que tem como objetivo de mudar/ prevenir ou amenizar desfechos clínicos adversos e negativos. Serve de guia para a escolha de medidas que visam restaurar e preservar a saúde (farmacoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicoterapia, nutrição), sendo assim, uma importante ferramenta de saúde pública, visto que atua na prevenção e na promoção da saúde do idoso. A implementação da AGA na prática clínica dos serviços da SES-DF será de grande importância para uma melhor avaliação e acompanhamento da pessoa idosa.

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Capítulo 9 – Impacto dos Hábitos de Vida de um Idoso

Raiane de Negreiros Oliveira Adriana Haack

Renata Costa Fortes Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Resumo

Objetivo: Verificar o estado nutricional, o histórico clínico, o ambiente psicossocial, a independência para as atividades do cotidiano e a presença de fragilidade no idoso. Método: Relato de caso realizado com idosa de 67 anos. Utilizou-se a ferramenta Avaliação Geriátrica Ampla. Resultados: A paciente apresentou uma dimensão funcional normal, independência para as atividades de vida diária, cognição normal, ausência de depressão, família altamente funcional, suporte social adequado, com presença de sobrepeso (Índice de Massa Corpórea de 33,87 kg\m²), sedentária, portadora de hipercolesterolemia, hipertensão arterial sistêmica e glaucoma. Presença de polifarmácia e ausência de fragilidade como resultado final da Avaliação Geriátrica Ampla. Conclusão: A ausência de limitações de saúde são aspectos importantes para o idoso não se tornar frágil. O uso de múltiplos medicamentos deve ser monitorado continuamente e aspectos como os hábitos alimentares, além da prática de atividades

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física podem proteger contra a síndrome da fragilidade na idosa.

Palavras-chave: Idoso, fragilidade, geriatria, saúde, estado nutricional.

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Introdução

O envelhecimento é um processo que engloba todos os seres humanos e caracteriza-se por ser irreversível e progressivo, com modificações nos aspectos biológicos e psicossociais. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)1 revelaram que, em 2000, havia 14.536.029 pessoas com 60 anos ou mais contra 10.722.705 em 19912. Segundo a Organização das Nações Unidas, em 2025, terão 1100 bilhões de idosos no mundo e, em 2050, o número de idosos será maior que o número de jovens3.

É perceptível que na etapa do envelhecimento há redução da força muscular, presença de fadiga, alteração da marcha, perda de apetite e redução da perda de peso, o que reflete na redução de força muscular, da função física e equilíbrio, resultando no maior risco de quedas, perda da independência, maior susceptibilidade para depressão e alteração significativa da composição corporal. E quando se aborda a diferença entre os sexos, é importante ressaltar que as mulheres, possivelmente, possuem maior sobrevida devido aos cuidados com a saúde2.

Os eventos supracitados ocorridos na terceira idade estão dentro do contexto da fragilidade, destacando-se: perda de peso não intencional, fadiga, redução da capacidade física para realizar as atividades diárias, lentidão e perda dos vínculos sociais4.

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O presente estudo teve como objetivo verificar o estado nutricional, o histórico clínico, o ambiente psicossocial, a independência para as atividades do cotidiano e a presença de fragilidade no idoso, tendo como finalidade observar os resultados e detectar as limitações presentes e as implicações na vida do idoso.

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Métodos

Relato de caso exploratório e observacional realizado em março de 2016 por meio da aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), após determinados critérios de seleção. Considerou-se elegível para o estudo a idade igual ou superior a 60 anos e, como critérios de exclusão, não estar em uma condição metabólica especial, internado ou com alguma limitação psicomotora.

Para a realização da AGA foram aplicados os seguintes formulários: Índice de Vulnerabilidade Clínico-funcional-205, teste Timed up and go6, Escalas de Avaliação Funcional Atividades de Vida Diária (Katz)7, Mini exame do estado mental (MEEM)8, Escala de Depressão Geriátrica abreviada9, Mini Avaliação Nutricional10 e Adaptação, Participação, Crescimento, Aferição e Resolução (APGAR) familiar – avaliação do funcionamento familiar11. Para obter a antropometria foi utilizado uma balança digital, um estadiômetro e uma fita métrica, das respectivas marcas: Compact®, Unicom® e Golife®.

Os formulários foram aplicados por meio de uma entrevista presencial realizada por uma nutricionista apta a aplicar os instrumentos. A idosa foi instruída sobre a realização da antropometria ( uso de roupas leves, retirada de sapatos e posicionamento do corpo).Na pesagem foi instruído que a paciente se posicionasse sobre a balança previamente calibrada, com os dois pés apoiados e o peso distribuído entre ambos, e por fim, a

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circunferência da panturrilha (CP) que foi feita do lado direito na área mais larga da panturrilha.

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Relato de Caso

Paciente, 67 anos de idade, sexo feminino, viúva, sem ocupação, pensionista, residente em casa de alvenaria,térrea, com uma neta e religião evangélica. Relatou que a única atividade social era ir à igreja. Atualmente não se encontra hospitalizada ou em atendimento ambulatorial.

A paciente utilizava óculos devido a um déficit visual, e foram registradas doenças como hipertensão arterial sistêmica (HAS), hipercolesterolemia e glaucoma. A idosa possuía controle das eliminações fisiológicas, não tinha distúrbio do sono e usava prótese dentária.

Relatou ter as seguintes vacinas em dia: febre amarela e tétano, porém, não lembrava as datas de vacinação e nem das demais vacinas. Fazia uso de 5 medicamentos diariamente, sendo três para HAS, um para glaucoma e outro para hipercolesterolemia.

Ao analisar os hábitos de vida, constatou-se que a paciente não fazia uso de bebidas alcoólicas, não fumava, não fazia atividade física, não possuía cuidador, realizava todas as atividades diárias como fazer compras, controlar o dinheiro, tomar banho, lavar louça, arrumar a casa e fazer limpeza leve, sem ajuda e limitações.

A avaliação antropométrica revelou que a paciente possuía um peso atual de 75,2 kg, estatura equivalente a 1.49 m, Índice de Massa Corpórea (IMC) de 33,87 kg/m² (sobrepeso, segundo Lipschitz12), circunferência da panturrilha

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de 38,5 cm. A triagem nutricional por meio da Mini Avaliação Nutricional10 foi aplicada e pontuou-se 12 pontos (ausência de risco nutricional).

Após aplicar o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20)5 foi possível verificar que a paciente não se encontrava vulnerável. A dimensão funcional foi medida por meio do teste Timed up and go6 e a paciente apresentou um tempo <10 segundos, sendo considerado normal.

Na Escala de Avaliação Funcional Atividades Básicas de Vida Diária – KATZ7, a paciente obteve 6 pontos, o que significa independência nas atividades do cotidiano. No mini exame do estado mental (MEEM)8 a pontuação foi de 22 pontos, sendo considerada normal para a escolaridade, sem comprometimento da cognição, além do humor normal.

Realizou-se um ponto na Escala de Depressão Geriátrica9, mostrando que o estado depressivo estava ausente. O APGAR familiar - avaliação do funcionamento familiar11 demonstrou que a família é altamente funcional (10 pontos), inferindo que há um suporte social adequado.

Os resultados obtidos por meio da AGA estão sumarizados no Quadro 8.1.

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QUADRO 8.1 – RESULTADOS DA AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA)

Resultados da Avaliação Geriátrica Ampla – AGA

Índice de Vulnerabilidade

Clínico-Funcional-20 (IVCF-20)5

5 pontos Não se encontra vulnerável

Teste Timed up and go6

Tempo <10 segundos

Normal

Escalas de Avaliação Funcional Atividades

Básicas de Vida Diária – Katz7

6 pontos Independência para as atividades

básicas de vida diária

Mini exame do estado mental

(MEEM)8

22 pontos Pontuação normal para a

escolaridade Escala de Depressão Geriátrica abreviada9

1 ponto Ausência de depressão

Mini Avaliação Nutricional (Triagem)10

12 pontos Ausência de risco nutricional

APGAR familiar – avaliação do

funcionamento familiar11

10 pontos Suporte social altamente funcional

Avaliação Final Independente

Baixo risco de quedas Sem risco nutricional

Após a AGA, pode-se inferir que a paciente é independente, não frágil, com baixo risco de

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quedas, sem déficit cognitivo, sem risco nutricional e possui um suporte social adequado.

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Discussão

Envelhecer não significa adoecer, mas representa algumas condições em que o idoso é submetido, como, solidão e depressão, que comprometem, por exemplo, a independência e a autonomia, com repercussões negativas sobre a saúde e o bem-estar.

A solidão se faz mais presente nessa fase da vida, devido à perda dos vínculos sociais, profissionais, conjugais e familiares13. Leite14 realizou um estudo com a participação de 77 idosos residentes em domicilio e observou que 85% avaliaram a relação com a família como ótima ou boa. O autor concluiu que a figura da família tem uma grande influência na segurança emocional do idoso. Para Neri & Freiri15 a religiosidade é fonte de bem-estar espiritual e contribui para o envelhecimento com saúde e com a satisfação com a vida.

São notórios os agravos à saúde em idosos, com consequente aumento da demanda no setor de saúde. Destaca-se, nesse sentido, o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis, como, hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito tipo 2, obesidade, doenças cardíacas, entre outras enfermidades causadas por maus hábitos alimentares e de estilo de vida, com comprometimento da capacidade funcional16.

O uso de polifarmácia é muito comum entre os idosos. No estudo de Salmaso et al17, averiguou-

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se que 50% das idosas utilizavam 4,77 medicamentos continuamente e a outra metade fazia uso de mais de 5 medicamentos por dia2,14,18.

Outro estudo encontrou resultados semelhantes aos obtidos neste relato de caso em relação à MAN; ou seja, classificou poucos idosos com desnutrição, visto que a maioria não apresentou risco nutricional e tinha excesso de peso, provavelmente em decorrência do padrão alimentar e sedentarismo14.

A síndrome da fragilidade está evidente na população idosa e associa-se a condições clínicas provocadas pelo processo do envelhecimento, provocando risco de quedas, hospitalização, incapacidade, institucionalização e morte19.

Como limitação deste estudo, pode-se citar o roteiro extenso dos instrumentos aplicados na AGA e o consequente tempo que se leva para aplicá-los, resultando na impaciência e cansaço do sujeito de pesquisa e em uma possível inviabilidade em alguns serviços devido a esses fatores. Porém, apesar de essas limitações, a AGA é um instrumento útil, válido e confiável por avaliar de forma holística o paciente idoso por meio de uma análise multidisciplinar.

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Conclusão

Os resultados obtidos por meio da AGA, no presente relato de caso, foram favoráveis, comprovando a ausência de fragilidade. É importante citar que o uso dos medicamentos deve ser monitorado e que os hábitos alimentares devem ser revistos no intuito de melhorar a composição corporal, além da prática de atividades físicas. Isto repercutirá em benefícios à saúde, além de bem estar geral e qualidade nutricional, prevenindo contra a síndrome da fragilidade.

A utilização da AGA é útil para identificar o risco de perda da funcionalidade, guiar escolhas para o cuidado com a saúde, identificar indivíduos em risco, guiar medidas que promovem qualidade de vida e planejamento de políticas e estratégias públicas que auxiliam na funcionalidade do idoso. Com a utilização desses métodos por profissionais de saúde é possível identificar com maior precisão os pacientes que tem risco de quedas, hospitalização, institucionalização e morte.

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Capítulo 10 – Desempenho dos Sistemas Funcionais de Um Idoso Hospitalizado

Karina Díaz Leyva de Oliveira Renata Costa Fortes

Adriana Haack Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Resumo

Objetivo: Avaliar a capacidade funcional e o desempenho dos sistemas funcionais de um idoso hospitalizado para realizar o diagnóstico precoce de problemas que afetam a independência e autonomia. Métodos: Estudo observacional do tipo relato de caso, realizado no Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília-DF. Foi aplicado o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 e a Avaliação Geriátrica Ampla, que compreende instrumentos como: Índice de Katz, Escala de Lawton/Brody, Questionário de Pfeffer, Índice de Barthel, Teste de avaliação da mobilidade, Miniexame do Estado Mental, Teste do desenho do relógio, Escala de depressão de Yesavage, Mini Avaliação Nutricional e o Apgar da família. Resultados: O idoso apresentou-se fragilizado, com dependência parcial para as atividades básicas e independência nas atividades instrumentais da vida diária, cognição comprometida, sem depressão, com risco de desnutrição e suporte familiar adequado. Conclusão: Os resultados revelam a importância

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de utilizar instrumentos de avaliação geriátrica na identificação de problemas na saúde física e mental do idoso, permitindo o desenvolvimento de estratégias de promoção à saúde, prevenção aos agravos e reabilitação, em face das perdas funcionais desta população.

Palavras-chave: Geriatria, saúde do idoso, idoso fragilizado, estado nutricional.

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Introdução

Declínios e incapacidades funcionais acompanham o processo de envelhecimento que, ao longo do tempo, limitam o exercício da independência e da autonomia do idoso, seja por imobilidade, incontinência esfincteriana, instabilidade postural, incapacidade cognitiva, restrições comunicativas e outros processos degenerativos1.

Logo, as limitações que ocorrem durante o processo de senescência e, principalmente, de senilidade podem contribuir para o surgimento de problemas interacionais e de relacionamento familiar, podendo ocasionar o isolamento social do idoso e até abandono por parte da família1.

A fragilidade é uma síndrome clínica multifatorial, caracterizada pela maior vulnerabilidade e alteração do estado fisiológico, resultando em desregulação dos múltiplos sistemas fisiológicos. Os marcadores desse processo estão relacionados com o avanço da idade, o declínio da massa corporal magra, da força e da resistência muscular, mobilidade, equilíbrio, nível de atividade física e função cognitiva2.

A avaliação do idoso eficiente e completa é de suma importância. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a capacidade funcional e o desempenho dos sistemas funcionais de um idoso hospitalizado para realizar o diagnóstico precoce de problemas que afetam sua independência e autonomia.

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Métodos

Trata-se de um estudo observacional do tipo relato de caso, realizado no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Brasília-DF, em março de 2016. O local escolhido foi o pronto socorro da clínica médica do referido hospital. Esta clínica é composta por uma unidade de cuidados semi-intensivos (seis leitos), um quarto para isolamento (um leito) e quatro enfermarias (80 leitos).

A escolha do paciente ocorreu de forma aleatória dentre os pacientes internados em uma destas enfermarias que atendeu os seguintes critérios de inclusão: ser idoso (≥ 60 anos) e possuir condições para compreender e responder à entrevista e/ou a presença de um familiar ou cuidador capaz de auxiliar nas respostas. Os critérios de exclusão foram: presença de doença neurológica (como doença de Parkinson e acidente vascular encefálico) e/ou de déficit de compreensão que limitasse a execução dos movimentos por meio de comandos verbais.

A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) foi aplicada para analisar a dimensão funcional, a cognição, o humor, o estado nutricional e o suporte social3. Para identificar se o idoso se beneficiaria da AGA foi realizado o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20) que avalia oito dimensões: idade, autopercepção da saúde, incapacidades funcionais, cognição, humor, mobilidade, comunicação e comorbidades múltiplas. De acordo com o desempenho do idoso,

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cada questão recebe uma pontuação específica, no total de 40 pontos e gera três classificações: de 0 a 6 pontos, o idoso provavelmente tem baixa vulnerabilidade clínico-funcional; de 7 a 14 pontos, verifica-se risco elevado de vulnerabilidade; com 15 ou mais pontos, considera-se alto risco de vulnerabilidade ou fragilidade instalada4.

A avaliação da capacidade funcional, habilidade de viver independentemente e de realizar o autocuidado, é determinada pela atuação do idoso nas atividades básicas (ABVDs) e instrumentais (AIVDs) da vida diária, sendo examinada por meio de ferramentas padronizadas. Para avaliar a ABVD foi utilizado o índice de Katz, que analisa a independência em seis atividades: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, movimentar-se, ser continente e alimentar-se. Por meio da entrevista e da observação, o pesquisador pontua cada atividade, numa escala de três pontos de independência. Por último, atribui-se uma das oito pontuações finais5:

A) Independente em todas as funções; B) Independente em todas as funções,

exceto uma; C) Independente em todas as funções,

exceto lavar-se e outra função; D) Independente em todas as funções,

exceto lavar-se, vestir-se e outra função; E) Independente em todas as funções,

exceto lavar-se, vestir-se, utilizar o sanitário e outra função;

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F) Independente em todas as funções, exceto lavar-se, vestir-se, utilizar o sanitário, mobilizar-se e outra função;

G) Dependente em todas as funções e; Outro) dependente em pelo menos duas

funções, mas não classificável como C, D, E ou F. As AIVDs podem ser avaliadas pelo índice

de Lawton-Brody e pelo questionário de Pfeffer. O Lawton-Brody identifica oito funções: capacidade para preparar refeições, responsabilidade pela própria medicação, fazer compras, usar o telefone, controlar o dinheiro ou finanças, cuidar da casa, lavar a roupa e usar meios de transporte. Até oito pontos, o indivíduo é classificado como independente5. O questionário de Pfeffer avalia atividades instrumentais de vida diária como compreender o meio onde vive, cozinhar, controlar finanças pessoais, entre outros. O instrumento apresenta dez questões e em cada questão, o idoso pode obter de 0 a 3 pontos, totalizando um máximo de 30 pontos. A pontuação maior ou igual a cinco pontos já caracteriza o idoso como dependente2.

O Índice de Barthel avalia a independência funcional em atividades de autocuidado como: higiene pessoal, controle dos esfíncteres vesical e intestinal, independência no banheiro, alimentar-se, vestir-se, transferência de cadeira para cama, marcha, capacidade de subir escadas6.

A mobilidade foi analisada por meio do teste Timed up and go, que consiste em dar uma ordem ao idoso, sentado em uma cadeira, de levantar e

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caminhar três metros para frente até uma marca no piso, girar 180º e retornar, sentando-se na cadeira. O tempo dispendido é medido com cronômetro a partir da ordem de "vá". Valores de tempo de menos de 10 segundos sugerem mobilidade normal; entre 11 e 20 segundos, boa mobilidade; de 21 a 30 segundos, mobilidade regular e acima de 30 segundos, mobilidade prejudicada7,8.

O Miniexame do Estado Mental (MEEM) tem como objetivo avaliar funções cognitivas específicas como: memória imediata, orientação temporal, cálculo, orientação espacial, atenção, evocação e linguagem. O escore do MEEM pode variar de um mínimo de 0 pontos, o qual indica o maior grau de comprometimento cognitivo dos indivíduos, até um total máximo de 30 pontos, o qual, por sua vez, corresponde a melhor capacidade cognitiva9. Também foi aplicado o teste do desenho do relógio para avaliar a função cognitiva e disfunções executivas, que podem preceder os distúrbios de memória nas demências. O desenho do relógio consiste em um círculo pré- desenhado no qual o examinando deve colocar os números e os ponteiros indicando 11h10min. Para fazer a classificação e a pontuação do teste, são analisados erros em relação ao desenho da face do relógio, dos números, dos ponteiros e dos espaços entre os números10.

A depressão foi avaliada pela Escala de depressão de Yesavage, versão reduzida (GDS- 15), que possui 15 perguntas negativo-afirmativas, sento contado um ponto para cada resposta do

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paciente que corresponder em negrito. Escores de 11 a 15 caracterizam depressão grave; de 6 a 10, depressão moderada e de 0 a 5, ausência de depressão11.

A Mini Avaliação Nutricional (MAN) foi usada para avaliar o estado nutricional. Esta ferramenta compreende dezoito itens agrupados em cinco categorias: triagem, avaliação antropométrica (peso, estatura, e perda de peso); avaliação geral (estilo de vida, uso de medicamentos, mobilidade); avaliação dietética (número de refeições, ingestão de alimentos, autonomia para comer sozinho) e a auto avaliação (percepção da saúde e do estado nutricional). A classificação é feita por meio do somatório de pontos de acordo com cada resposta do questionário, ao final pode-se classificar o paciente em: Normal (12 pontos ou mais na triagem); Desnutrido (<17 pontos); Risco de desnutrição (17 a 23,5 pontos) e Estado Nutricional Normal (>23,5 pontos)12.

Para a avaliação da funcionalidade de famílias com idosos foi aplicado o APGAR de Família, instrumento preconizado pelo Ministério da Saúde. O APGAR de Família é formado por cinco questões e as opções de respostas são: sempre (2), algumas vezes (1) e nunca (0). A pontuação total varia de 0 a 10, com a classificação de 0 a 4, elevada disfunção familiar; de 5 a 6, moderada disfunção familiar; e de 7 a 10, boa funcionalidade familiar13.

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Relato de Caso

Paciente, 67 anos de idade, sexo masculino, estudou até a quarta série, em união estável, aposentado e comerciante, mora em casa térrea, frequenta igreja evangélica, ex-fumante há 10 anos, não ingere bebidas alcoólicas e não pratica atividade física. Relatou perda ponderal involuntária de 6,0kg no último mês, sem alteração na quantidade de alimentos ingeridos.

Foi internado em 24 de fevereiro de 2016 no Pronto de Socorro do HRAN, devido à presença de celulite em coxa esquerda após sete dias de aplicação de medicamento intramuscular. Realizou exame de imagem que revelou diagnóstico de abscesso no local. Após dez dias de internação foi feita a drenagem de abscesso, com alta hospitalar em 11 de março de 2016, após 16 dias de internação.

O paciente referiu perdas urinárias ocasionais e sem controle, que começaram junto com a celulite e permaneceu durante a internação. Relatou ser portador de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) há 18 anos e Diabetes Mellitos (DM) há 15 anos.

Em relação à medicação relatou utilizar Metformina XR, Insulina NPH e Regular para controle do DM; Captopril, Furosemida, Anlodipino e Carvedilol para controle da HAS e AAS para prevenção de eventos cardiovasculares.

Apresentava déficit visual, em uso de corretores, audição normal e sem distúrbio do sono.

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Desconhecia situação vacinal, não se lembrando da data da última vacina que recebeu. Relatou duas quedas no último ano, porém não soube explicar os motivos.

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Discussão

O Ministério de Saúde e a Organização Mundial de Saúde recomendam o uso de instrumentos multidimensionais na avaliação de idosos14. O IVCF-20 apontou que o idoso apresentava alto risco de vulnerabilidade (20 pontos). As variáveis que contribuíram para esta classificação foram: a impossibilidade de tomar banho sozinho, o humor, a marcha, a continência esfincteriana e as comorbidades múltiplas. Os resultados da avaliação da capacidade funcional do idoso encontram-se no Quadro 9.1.

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QUADRO 9.1. AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSO HOSPITALIZADO,

BRASÍLIA-DF, 2016.

Instrumento de avaliação

Escores Classificação

Índice de Katz 4 Dependência parcial nas ABVDs

Índice de Lawton- Brody

8 Independente

Questionário de Pfeffer

3 Independente

Índice de Barthel 90 Dependência leve Teste Timed up and

go 23

segundos Mobilidade regular

Miniexame do Estado Mental

28,5 Capacidade cognitiva normal para a escolaridade

Desenho do relógio 2 Comprometido Escala de

depressão de Yesavage

4 Ausência de depressão

Mini Avaliação Nutricional

19,5 Risco de desnutrição

APGAR de Família 7 Boa funcionalidade familiar

O paciente avaliado apresentou dependência parcial nas atividades básicas de vida diária devido à impossibilidade de tomar banho sozinho e à falta de controle da urina. Estudo realizado no Rio de Janeiro revelou que 64 (68,81%) dos idosos apresentavam independência completa, 26 (27,96%) dependência parcial e três (3,23%) dependência total. Foram encontrados menor

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número de idosos independentes no item higiene pessoal e continência5. Pesquisa realizada em Montes Claros-MG, em Institutos de Longa Permanência (ILP), encontrou dependência parcial em apenas 15,2% dos idosos e quase a metade (44,8%) apresentava dependência no componente continência. A incontinência pode influenciar negativamente na qualidade de vida dos idosos, pois causa problemas atribuídos a alterações de relacionamento sexual, pessoal, social, psicológicas, físicas e econômicas15.

Nas atividades instrumentais da vida diária, após a aplicação do índice de Lawton⁄ Brody e o questionário de Pfeffer, o idoso foi classificado como independente. Pesquisa utilizando o índice de Lawton/Brody, realizada no Rio de Janeiro, encontrou que 29,03% dos idosos eram independentes para realizar as AIVDs. O uso de medicamentos na dose e nos horários corretos foi o item com menor pontuação5. Outro estudo, realizado no ambulatório de um hospital em São Paulo, encontrou valor de 29,03% de idosos independentes16. Estudo realizado com 88 idosos no estado de São Paulo, usando o questionário de Pfeffer, mostrou que 52% dos idosos eram dependentes e que a dificuldade do desempenho de atividades instrumentais de vida diária era maior do que nas atividades básicas de vida diária2. Frequentemente, as dificuldades para realizar as AIVD precedem o registro de déficit nas AVD, por isso a importância de mecanismos de seguimento

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capazes de detectar de forma precoce este tipo de incapacidade2,16.

Segundo o Índice de Barthel, o idoso avaliado apresentou dependência leve. Os itens com alterações foram sistema urinário (acidente ocasional) e transferência (pouca ajuda). Estudo realizado em Florianópolis-SC, em 2010, mostrou uma predominância de dependência leve (61,2%) nos idosos estudados6. Em pesquisa realizada no município de Jequié-BA, 71,6% apresentam algum comprometimento de sua capacidade funcional17.

A mobilidade do idoso, avaliada por meio do Teste Timed up and GO, foi regular. O resultado do teste teve influencia do quadro clínico do idoso, pois na data da avaliação fazia três dias que o abscesso na perna tinha sido drenado. Em estudo realizado com idosos frequentadores de um ambulatório de Geriatria, 16,76% apresentavam mobilidade regular8, já em pacientes internados na Clínica Médica de um hospital em Pará, o desempenho médio foi de 21,82 segundos7.

Segundo o MEEM, o idoso apresentou um escore de 28,5 pontos, com excelente raciocínio para cálculo e maior dificuldade em escrever a frase. Isto pode ser explicado pelo fato do idoso ser comerciante e aplicar, constantemente cálculos. Já a dificuldade na escrita pode ser explicada pela baixa escolaridade. Estudo realizado em idosos hospitalizados encontrou uma média de 18,14 pontos no MEEM7. Em pesquisa realizada em ambulatório a média de pontos alcançada pelos homens foi de 25,28 e 24,51 pontos pelas

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mulheres9. Outro estudo realizado em ambulatório encontrou valor similar: 25.78 pontos como média18.

FIGURA 9.1. DESENHO DO PENTÁGONO COM INTERSEÇÃO REALIZADO DURANTE O

MINIEXAME DO ESTADO MENTAL.

O teste do desenho do relógio mostrou-se alterado (Figura 9.2). O idoso avaliado apresentou desorganização visuo-espacial moderada, confusão esquerda-direita e números repetidos, sendo classificado como desempenho comprometido. Araújo et al10 aplicaram este teste em 125 idosos e somente 30 (24%) receberam pontuação dentro da normalidade. Em uma pesquisa19 realizada em São Paulo com idosos residentes no domicílio, constatou-se que 92% foram reprovados no teste do relógio.

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FIGURA 9.2. DESENHO DO TESTE DO RELÓGIO.

A escala de depressão de Yesavage não mostrou alterações. Entretanto alguns fatores podem ter influenciado neste resultado como: o local da entrevista, o estado de saúde dos demais pacientes internados, acompanhamento contínuo dos familiares e recebimento de cuidados diários pela equipe do hospital. Estudo realizado anteriormente em Brasília, em ILP, revelou que 51% dos idosos não apresentavam sintomas de depressão, semelhante a resultado encontrado em outro estudo nacional que verificou a ausência de

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sintomas de depressão em 49% dos idosos institucionalizados20.

O idoso encontrava-se, segundo a MAN, em risco de desnutrição. Algumas alterações encontradas foram: perda involuntária de peso recente (8,2% em um mês), Índice de Massa Corporal de 21,87 kg⁄ m² e circunferência da panturrilha inferior a 31 cm (28 cm). Nas últimas duas semanas o peso não sofreu alteração, pois tinha sido prescrito, pela nutricionista do setor, o uso de suplemento nutricional hipercalórico e hiperprotéico, que junto com a dieta supria as necessidades energéticas do idoso. Estudo realizado numa cidade da região Norte do Rio Grande do Sul mostrou que 24 (80%) dos idosos institucionalizados estavam em risco de desnutrição12. Outra pesquisa, realizada em hospital de alta complexidade, verificou que dos homens internados 61,74% encontravam-se na mesma classificação21.

O suporte social foi avaliado por meio do APGAR familiar, sendo classificado como boa funcionalidade familiar. Pesquisa realizada em Fortaleza mostrou que 81,6% dos idosos apresentavam boa funcionalidade familiar13. Santos e Pavarini22 relataram que a maioria dos idosos (82%) possuía boa funcionalidade familiar.

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Conclusão

No momento da avaliação, o idoso apresentava-se frágil, dependente para as ABVD, com mobilidade regular, função cognitiva comprometida, em risco nutricional e com adequado suporte social.

A família recebeu algumas orientações como investigar a perda involuntária de peso e a incontinência urinária. Também foi recomendado incluir o idoso em algum grupo com interesses semelhantes, para evitar o isolamento social. O acompanhamento nutricional neste caso era necessário, para corrigir o risco de desnutrição e os problemas que a acompanham.

Os resultados revelam a importância de utilizar instrumentos de avaliação geriátrica na identificação de problemas na saúde física e mental do idoso, permitindo o desenvolvimento de estratégias de promoção à saúde, prevenção aos agravos e reabilitação, em face das perdas funcionais desta população.

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Capítulo 11 – Avaliação de Idosa Hospitalizada com Alto Risco de Vulnerabilidade e Fragilidade

Vanessa Teles Felinto Adriana Haack

Renata Costa Fortes Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Resumo

A população brasileira vem passando por um envelhecimento, fato que reflete na situação de saúde do país, sendo comum em idosos a presença da síndrome da fragilidade. Nessa perspectiva, torna-se importante a adoção de métodos de triagem e avaliação que identifiquem idosos que sejam ou estejam em risco de ser acometidos por essa síndrome, para que assim, intervenções mais efetivas sejam utilizadas. Uma avaliação que se mostra eficiente em dar uma visão global e completa da situação de saúde do idoso é a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), que é um instrumento de avaliação multidimensional, multidisciplinar, que avalia a capacidade funcional, a saúde física, cognitiva e mental, além das circunstâncias socioambientais. O objetivo deste estudo foi avaliar a importância do uso da AGA na atenção a uma idosa internada em um hospital público do Distrito Federal.

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Palavras-chave: Idoso, avaliação geriátrica, fragilidade.

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Introdução

A população brasileira vem passando por um crescimento na expectativa de vida, sendo demonstrado aumento significativo no número de idosos, comprovado pelo Censo Demográfico Nacional, realizado em 2010, que indicou que o número de pessoas com 60 anos ou mais superava 20 milhões. Esse envelhecimento populacional reflete diretamente nas condições de saúde, morbidade e limitações funcionais¹,².

Na população geriátrica é comum encontrar idosos em situação de fragilidade, que tem por definição ser uma síndrome geriátrica comum, importante, e caracterizada por redução das reservas fisiológicas e orgânicas, associadas à idade, levando a uma maior vulnerabilidade a situações adversas à saúde³. Sendo assim, métodos que promovam a identificação de indivíduos idosos que são frágeis ou em risco de se tornarem frágeis, com posterior avaliação e intervenção adequadas, constituem-se como pontos fundamentais para a determinação dos melhores e mais efetivos cuidados da qualidade de vida para a população idosa4.

Um método que se mostra capaz de identificar se um idoso encontra-se frágil ou em risco de desenvolver fragilidade é a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)5, que é um instrumento de avaliação multidimensional, multidisciplinar, que avalia a capacidade funcional, saúde física, cognitiva e mental, além das circunstâncias

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socioambientais. Constitui-se de uma extensa revisão da prescrição de medicamentos e suplementos vitamínicos e fitoterápicos, bem como do estado imunitário do idoso. A coleta de todas essas informações auxilia no diagnóstico de doenças, no desenvolvimento do tratamento e planos de acompanhamento individualizado, em longo prazo, direcionado às necessidades de cada idoso.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a importância do uso da AGA na atenção a uma idosa internada em um hospital público do Distrito Federal, de forma a demonstrar a importância desse instrumento de avaliação multidisciplinar, bem como na definição de um plano terapêutico mais adequado e no momento oportuno.

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Métodos

Relato de caso clínico realizado com paciente idosa, 78 anos , internada na Clínica Cirúrgica do Hospital Regional da Ceilândia (HRC), Distrito Federal, para cirurgia ginecológica de baixo risco (histerectomia). A avaliação da paciente foi realizada um dia após o pós-cirúrgico no mês de março de 2016.

Para a realização do relato de caso clínico foram utilizados dados como sexo, idade, peso, estatura, além de dados da história social e ambiental, clínica e nutricional da paciente. A paciente foi pesada em balança digital e altura segmentar medida com fita métrica, sendo o índice de massa corporal (IMC) calculado, posteriormente, pela fórmula: peso (kg) dividido pela estatura ao quadrado (metros).

Os outros dados foram obtidos a partir da aplicação de questionários contidos na AGA5 e de informações fornecidas pela própria paciente. Essa avaliação depende da colaboração do avaliado ou do acompanhante, a participação foi voluntária e o paciente assinou o Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE, após informações detalhadas sobre os procedimentos da pesquisa. Seguiu-se a Resolução número 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde que garante o sigilo e o anonimato do sujeito de pesquisa, dentre outras deliberações.

A AGA5 é um método de avaliação multidimensional, frequentemente interdisciplinar e

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tem por objetivo determinar a presença de fragilidade ou risco para desenvolvê-la, por meio da identificação das deficiências e incapacidades apresentadas pelo idoso. O objetivo da AGA é o planejamento do cuidado ao idoso e de acompanhamento em longo prazo. Inicialmente, aplica-se o Índice de Vulnerabilidade que traça a necessidade (ou não) de que o idoso seja submetido à AGA. Para uma pontuação acima de 7 (sete), recomenda-se que o idoso seja submetido à uma avaliação mais completa, a AGA. Esse método consiste na avaliação da dimensão clínica (história clínica e inventário de medicamentos) e funcional (estado funcional, cognição, humor, estado nutricional e suporte social) do idoso, por meio da aplicação de questionários/avaliações definidas para cada dimensão.

Nesse relato, aplicou-se a AGA5 com as seguintes avaliações: a. Dimensão clínica, inventário de doenças prévias e medicamentos referenciais; b. Índice de Katz (Escala de Atividade de Vida Diária); c. Teste Timed up and go (mobilidade); d. Teste do Relógio (Cognição); e. Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (humor); f. Apgar Familiar (Suporte Social); g. Mini Avaliação Nutricional (estado nutricional). A partir do resultado obtido em cada teste, pôde-se ter uma visão mais global de todas as dimensões do paciente, identificar a presença de fragilidade ou o risco de fragilidade, e traçar um tratamento mais efetivo.

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Relato de Caso

Paciente, 78 anos de idade, sexo feminino, feoderma, do lar, divorciada, alfabetizada, nascida em Palmeiras-PB e procedente da Ceilândia-DF. Pelo Índice de Vulnerabilidade, constatou-se escore 16, que representa alto risco de Vulnerabilidade/Fragilidade Instalada.

Ao avaliar a dimensão clínica, a paciente apresentou déficit visual (miopia), audição normal, continência fecal e urinária, sedentarismo, distúrbio do sono (insônia), doenças cardiovasculares e osteoarticulares e uso de prótese dentária.

Paciente internada para procedimento cirúrgico de baixo risco (histerectomia). Foi avaliada no pós-cirúrgico, no qual já se encontrava lúcida, orientada e deambulando. Histórico de doenças prévias de diabetes melito (DM), hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia, osteoporose e cardiopatia. Paciente apresentando polifarmácia6, em uso crônico de Carvedilol, Losartana e AAS (todos há mais de cinco anos), Diamicron e Metformina (há mais de três anos), Omeprazol (há mais de dois anos), Indopamida e Sinvastatina (há um ano).

Na avaliação da dimensão funcional, os seguintes resultados foram observados (Quadro 10.1).

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Quadro 10.1 – RESULTADO DAS AVALIAÇÕES DA DIMENSÃO FUNCIONAL DA PACIENTE

IDOSA

TESTE / INDICE

ESCORE O QUE INDICA

Indíce de Katz (Escala de atividade de vida diária)

6 Idosa independente

Teste de timed up and go (mobilidade)

Tempo de 13 segundos

Senescência, incapacidade prévia ou fragilidade

Teste do Relógio (cognição)

1 Desorganização visuo- espacial grave

Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (humor)

1 Normalidade

Apgar Familiar (suporte social)

10 Família altamente funcional e suporte social adequado

Mini Avaliação Nutricional (estado nutricional)

Triagem = 12 Estado nutricional dentro da normalidade

As doenças apresentadas pela paciente são semelhantes aos dados encontrados em outros estudos com idosos. Em um estudo realizado por

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Campolina et al7, com coleta de dados de 2.143 idosos residentes em São Paulo, encontrou-se que 56,6% apresentavam HAS, 40,4% doença articular, 18,9% doenças cardíacas e 18,7% DM.

Como demonstrado no Quadro 10.1, a paciente apresentou resultados satisfatórios, dentro do padrão de normalidade, quando avaliada por meio do índice de Katz, da Escala de Depressão Geriátrica Abreviada, do Apgar Familiar e da MAN.

A paciente faz uso de polifarmácia, que se caracteriza pelo consumo concomitante de cinco ou mais medicamentos diários, justificado pelo número de doenças crônicas apresentadas. Um dos principais malefícios da polifarmácia é o aumento do risco de reações adversas a medicamentos (RAM), alterações do trato gastrintestinal, interações medicamentosas, que se associam diretamente à maior morbimortalidade entre os idosos.

Em um estudo transversal, realizado com 418 idosos da comunidade em Goiânia-GO, encontrou-se que do total de idosos na faixa etária da paciente em questão (n=67), 25% estavam em uso de polifarmácia, fato que gera preocupação quanto à saúde da população idosa6. O acompanhamento pelo geriatra se faz importante para que possíveis ajustes nas doses e nas quantidades de medicamentos sejam realizados, evitando-se as intercorrências causadas pela polifarmácia.

No Teste timed up and go, a paciente apresentou o tempo de 13 segundos, resultado que

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está associado à senescência, incapacidade prévia ou fragilidade. Esse teste apresenta a capacidade de avaliar a situação de mobilidade e equilíbrio no paciente, pois cria um risco de queda propiciado pelos atos de levantar, caminhar, girar o corpo e sentar-se, movimentos esses que são requeridos sua realização. No entanto, a avaliação foi realizada no pós operatório e o momento pode ter comprometido a mobilidade. Resultados mostrados por Bretan et al8, indicam escores entre 10 e 19 segundos em 63% dos idosos pesquisados. O fato de a paciente ser sedentária favorece o resultado encontrado.

Em relação ao Teste do Relógio, o resultado da paciente indicou desorganização visuo-espacial grave (Figura 10.1). Esse teste consiste em um círculo pré-traçado, onde o paciente deverá desenhar um relógio completo, com números e ponteiros, marcando 11h10. Avalia a função cognitiva e disfunções executivas, que podem preceder os distúrbios de memória nas demências. Resultado semelhante ao da paciente foi encontrado por Araujo et al9, estudo que mostrou que 51% dos idosos avaliados apresentaram grau de anormalidade nesse teste. Porém, vale ressaltar que a paciente faz uso regular de óculos para correção da miopia e, no momento do teste, estava sem os óculos, gerando um possível viés no resultado encontrado.

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FIGURA 10.1 – TESTE DO RELÓGIO FEITO PELA PACIENTE DO ESTUDO

A paciente mostrou-se muito ativa e sem nenhuma necessidade especial quando avaliada de maneira superficial. A partir da aplicação da AGA, identificaram-se alterações nas funções de mobilidade e cognição que talvez não fossem possíveis caso esse instrumento não tivesse sido utilizado. Contudo, em relação à cognição, deve-se considerar o fato de a paciente ser somente alfabetizada, o que influencia diretamente nesse parâmetro.

Diante dos resultados, um encaminhamento a um serviço de atividades voltadas ao idoso, visando melhorias nos padrões de mobilidade, força, reserva e cognição foi necessário e adotado para auxiliar no envelhecimento saudável, autônomo e produtivo.

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Conclusão

A AGA se mostrou como uma ferramenta que permite a identificação e a avaliação do estado global do paciente idoso, resultando num plano de tratamento mais eficaz e que pode ser traçado não só na presença da doença, mas também para a manutenção e recuperação da capacidade funcional desse idoso.

Por ser de utilização interdisciplinar e de fácil aplicação, permite que não só os médicos, mas todos os profissionais (nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, odontólogos, dentre outros) envolvidos no serviço de saúde, possam se utilizar dessa ferramenta como meio de melhoria do serviço e do seguimento de pacientes idosos.

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Referências

1. Valerio MP, Novaes FV, Ramos LR. Efeito de duas intervenções visando o aumento do nível de atividade física de idosos inativos no tempo de lazer. Rev Bras Ativ Fis Saúde 2014; 19(6):765-73. 2. Lana LD, Schneider, RH. Síndrome de fragilidade no idoso: uma revisão narrativa. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol 2014; 17(3):673-80. 3. Cesari M, Demougeot L, Boccalon H, Guyonnet S, Van Kan GA, Vellas B, et al. A self- reported screening tool for detecting community- dwelling older persons with frailty syndrome in the absence of mobility disability: the find questionnaire. PLOS ONE 2014; 9(7):1-7. 4. Chen X, Mao G, Leng SX. Frailty syndrome: an overview. Clinical Interventions in Aging 2014; 9: 433–441. 5. Elsawy B, Higgins KE. The Geriatric Assessment. American Family Physician 2011; 83(1):48-56. 6. Silveira EA, Dalastra L, Pagotto V. Polifarmácia, doenças crônicas e marcadores nutricionais em idosos. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(4): 818-29. 7. Campolina AG, Adami F, Santos JLF, Lebrão ML. A transição de saúde e as mudanças na expectativa de vida saudável da população idosa: possíveis impactos da prevenção de doenças crônicas. Cad. Saúde Pública 2013; 29(6):1217-29. 8. Bretan O, Silva Júnior JE, Ribeiro OR, Corrente JE. Risco de queda em idosos da comunidade: avaliação com o teste Timed up and go. Braz J Otorhinolaryngol 2013; 79(1):18-21.

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9. Araujo CCR, Silveira C, Simas JPN, Zappelini A, Parcias SR, Guimarães ACA. Aspectos cognitivos e nível de atividade física de idosos. Saúde (Santa Maria) 2015; 41(2):193-202.

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Capítulo 12 – Avaliação Geriátrica Ampla de Um Idoso Internado na Sala de Emergência em Um Hospital Público do Distrito Federal

Antonio João Santiago Adriana Haack

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Renata Costa Fortes

Resumo

O envelhecimento populacional segue em ritmo inversamente proporcional à capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em prestar um serviço de qualidade aos idosos. No Brasil, observa-se uma necessidade de evolução no acolhimento, na avaliação de risco nutricional e na fragilidade nos idosos admitidos nos serviços de urgência e emergência. A avaliação do estado nutricional, a vulnerabilidade e a fragilidade, em idosos internados em salas de emergência, têm um papel crucial no prognóstico desses pacientes, pois sua detecção pode predizer uma evolução adversa após a alta do setor de emergência. O acompanhamento direcionado, multidisciplinar, com equipes bem treinadas, durante e após a internação hospitalar, é imprescindível para melhorar o prognóstico e a qualidade de vida da população idosa, além de otimizar o estado nutricional, o grau de fragilidade e, consequentemente, reduzir o número de internações e o impacto no orçamento

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destinado à saúde. O presente estudo tem como finalidade avaliar a aplicabilidade e interpretação da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) por meio de um relato de caso conduzido em um paciente internado, em uma sala de emergência, de um hospital público do Distrito Federal.

Palavras-chave: Idoso, fragilidade, nutrição, sala de emergência.

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Introdução

A população brasileira, assim como a mundial, apresenta um crescimento exponencial na prevalência de idosos. Entretanto, no Brasil, observa-se que o investimento na assistência ao idoso não tem aumentado na mesma proporção e, ainda, encontra-se insuficiente diante desta realidade, inclusive no que tange ao atendimento às urgências e emergências1,2.

Atualmente, em Brasília, no Distrito Federal, os adultos acima de 65 anos, correspondem a aproximadamente 6,5% de uma população de quase três milhões de pessoas, e em 2030 irá corresponder a quase 12% de 3.7 milhões de habitantes, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE3.

Os gastos na assistência ao idoso, que almeja ter acesso ao sistema de saúde complementar ou privado, refletem diretamente no custo mensal que as empresas repassam aos seus clientes, que de tão elevado, inviabiliza, na maioria das vezes, uma adesão mesmo na vigência de um poder aquisitivo diferenciado.

O modelo de saúde vigente no Brasil apresenta inúmeras dificuldades, uma delas, inclusive, publicada no Diário Oficial da União4:

“Um dos problemas contemporâneos centrais da crise dos modelos de atenção à saúde consiste no enfrentamento das condições

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crônicas na mesma lógica das condições agudas, ou seja, por meio de tecnologias destinadas a responder aos momentos agudos dos agravos - normalmente momentos de agudização das condições crônicas, autopercebidos pelas pessoas, através da atenção à demanda espontânea, principalmente, em unidades de pronto atendimento ou de internações hospitalares de urgência ou emergência”.

Em alguns países como a Inglaterra, por exemplo, já existem Unidades de Emergência especializadas em idosos, com equipes capacitadas em avaliar a fragilidade concomitantemente à avaliação da doença que motivou o atendimento médico de urgência ou emergência. A importância em acessar o nível de fragilidade do idoso admitido no departamento de emergência, repercutirá na sua evolução durante a internação, se houver, bem como nos cuidados após a alta hospitalar, cuidados esses que, quando bem direcionados, poderão diminuir a morbimortalidade dessa significativa parcela da população(5) .

É mister que, ao acessar o sistema de saúde, o idoso possa ser avaliado em diversos domínios, conduzido de forma multidisciplinar e que, com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida, se individualize um acompanhamento adequado.

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Muito se discute hoje em dia, qual seria a maneira mais apropriada de se avaliar um idoso ao adentrar um serviço de urgência e emergência, a fim de determinar sua vulnerabilidade e nortear as atitudes da equipe de saúde que o atende. Nessas circunstâncias, o tempo, a gravidade do quadro clínico, o preparo da equipe, bem como a organização e estrutura do local e a própria fragilidade do idoso, são fatores limitantes.

O uso de uma Avaliação Geriátrica Ampla - AGA(6) , torna-se inviável, em grande na maioria dos atendimentos emergenciais, pois muitos pacientes encontram-se em risco de morte e, possivelmente, permanecerão dessa forma na fase inicial da internação. Quando é aplicada a AGA, no contexto de urgência e emergência, muitas das vezes sua interpretação será com grande atraso em relação às condutas diagnósticas e terapêuticas e , dessa forma, com menor contribuição durante o processo de atendimento ao idoso frágil (6) .

Defini-se fragilidade como uma síndrome clínica na qual três ou mais dos seguintes critérios estão presentes: perda involuntária de peso ( 10 libras ou 4,5Kg nos últimos 12 meses ) , fadiga auto-reportada , fraqueza ( força de preensão ) , velocidade de caminhada lenta e baixa atividade física(8) .

O objetivo desse relato foi verificar a aplicabilidade e descrever o resultado do índice de vulnerabilidade e da AGA em um idoso de 69 anos, internado em uma unidade de emergência de um hospital público de Brasília - Distrito Federal. Foram

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analisados o grau de fragilidade,dependência, cognição, vulnerabilidade, presença de polifarmácia, humor, funcionamento familiar, risco de demência e risco nutricional.

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Métodos

A busca de dados foi realizada através de uma revisão na literatura sobre o assunto, através de consulta às bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Medline, LILACS, Scielo e Pubmed. Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e Medical Subject Headings (MeSH) nos idiomas português: idoso, sala de emergência, fragilidade e nutrição e inglês: elderly , emergency room, emergency department, frailty e nutrition.

Trata-se de um relato de caso realizado com

um paciente de 69 anos, avaliado em uma sala de emergência(denominada Box de emergência ), com

6 leitos para pacientes graves, classificados como vermelhos pela classificação de Manchester(9),

localizada no Hospital Regional da Asa Norte, hospital da rede pública de saúde de Brasília,

Distrito Federal. Foram utilizados questionários e escalas para avaliar vulnerabilidade, polifarmácia,

independência nas Atividades de Vida Diária (AVDs), cognição, humor, estado nutricional e

funcionalidade familiar, que em conjunto correspondem a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA).

O paciente foi convidado a participar do presente estudo no segundo dia de internação hospitalar

com apresentação e concordância com o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), após

confirmar sua estabilidade clínica. O processo foi concluído em 2 dias, em 1h e 30min, sendo

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30min no primeiro dia e 60min no segundo dia de avaliação.

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Relato de Caso

Paciente, 69 anos de idade, sexo masculino, leucoderma, casado, pai de 3 filhos, reside com a esposa e uma filha no Distrito Federal (DF), com escolaridade de nível médio completo, comerciante do ramo de tintas e carimbos, internado no Box de emergência do Hospital Regional da Asa Norte ( HRAN ).

Trata-se de paciente idoso com história de melena (sinal clínico indicativo de hemorragia digestiva alta) há 10 dias, que logo na admissão, necessitou de suporte clínico no Box de Emergência por apresentar quadro de hipotensão arterial sistêmica associada a choque hipovolêmico, anemia, hiporexia e perda ponderal acentuada nos últimos 30 dias.

Para cada um dos parâmetros propostos para serem avaliados foi utilizado um teste ou questionário específico. Para avaliar a vulnerabilidade foi utilizado o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional – 20 (IVCF-20) (6) e o paciente foi classificado com vulnerabilidade moderada (pré-frágil). As comorbidades presentes e o tempo de diagnóstico foram, respectivamente: Hipertensão arterial sistêmica (HAS), 10 anos ; Doença de Parkinson ( DP), 8 anos ; Hipotireoidismo (HT) , 2 anos ; Fibrilação atrial crônica (FAC), 2 anos .

Foi constatada a presença e uso regular de polifarmácia, com uso de 5 medicamentos, consequência de suas múltiplas patologias, a saber

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: Losartana potássica ( HAS ) , Levodopa e Amantadina ( DP ), Levotiroxina sódica ( HT ) e Propafenona ( FAC ).Foi informado perda de peso acentuada, nos últimos 2 meses, de 8Kg. Seu peso no dia da avaliação era de 62Kg e peso anterior de 70Kg ( perda de 11,5% ). Sua altura informada foi de 1,64m, com índice de massa corporal (IMC) calculado de 23,05 Kg/m2. Circunferência das panturrilhas de 31,5cm bilateralmente (limítrofe para sarcopenia, valor de referência = 31cm ) e circunferência dos braços de 26cm ( direito ) e 26,5cm (esquerdo).

Ao aplicar a Mini Avaliação Nutricional (10) foi identificado risco de desnutrição (9 pontos na triagem e 10 pontos na avaliação global, totalizando um escore de 19 pontos).

O paciente relatou um episódio de queda nos últimos 12 meses, e possui boa audição (não utiliza uso de aparelho auditivo) e visão (com uso de lentes corretivas). A cobertura vacinal , com exceção de vacina antipneumocócica, encontrava- se atualizada.

Quanto a mobilidade, para avaliar o estado funcional, não foi aplicado o Teste Timed up and go (6), uma vez a que, apesar do paciente ser considerado clinicamente estável em repouso, não pode ser descartado o risco de queda devido a hipotensão postural, passível de ocorrer durante a sua realização. Usou-se a avaliação de preensão (subjetivamente pela informação do paciente e objetivamente solicitando apertar a mão do examinador), elevação e movimento de pinça dos

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membros superiores, satisfatórios à beira do leito, porém, pontuou negativamente, na avaliação subjetiva da marcha.

Foram aplicados o Mini exame de estado mental (MME) (6) e o Teste do Relógio de Shulman (6) que evidenciaram cognição preservada (Pontuação de 27 e 15, respectivamente). A Escala de Depressão Geriátrica (GDS) (6) abreviada foi aplicada e não houve indícios de depressão ( Pontuação 4). Foi considerado independente (completa autonomia) para as atividades básicas de vida diária através da escala de avaliação funcional de Katz(6).O suporte social e familiar foi investigado através do APGAR familiar(6) , que evidenciou uma família altamente funcional.

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Discussão

O processo de AGA em um idoso internado em uma sala de emergência, demonstrou-se efetivo, no caso de um paciente consciente, orientado e colaborativo, porém de realização morosa e complexa para um ambiente onde o processo de tomada de decisão necessita de agilidade. Há ainda que se considerar que, nesse ambiente, existe alta incidência de pacientes idosos, com alteração do nível de consciência, em coma e/ou com necessidade de sedação e analgesia associados à ventilação mecânica.

No caso em relato, através da AGA, constatamos grau moderado de vulnerabilidade em um idoso classificado como pré-frágil, em uso de polifarmácia devido a alta incidência de comorbidades, em risco nutricional em evolução, fatores que colaboraram, associados ao seu agravo ( hemorragia digestiva alta ), para que fosse admitido no Box de emergência logo no início de sua internação, mesmo que ainda apresentasse autonomia funcional e ausência de déficit cognitivo e sensorial ( visual e auditivo ).

A execução da AGA em setores de emergência é possível, conforme observado, e esta de acordo com a literatura. Sua execução em tempo hábil requer equipe altamente qualificada para que se possa influenciar o processo de tomada de decisões ainda na fase hiperaguda e aguda da doença, culminando em significativa colaboração para melhora do desfecho após a alta ;

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redução das reinternações, melhora cognitiva e da qualidade de vida, além de diminuir a mortalidade e minimizar custos. (5)

É imperativo o rápido reconhecimento e a resposta para a fragilidade, porém, ainda existem muitas barreiras para que seja viável no setor de emergência, tais como: complexidade dos métodos para uso, e sua demora na execução; a interpretação equivocada de que a fragilidade deve ser vista como natural ao processo de envelhecimento e a falta de protocolos para detectar a fragilidade com uma melhor aplicabilidade nos setores de emergência.(7)

Já existem algumas propostas para identificar com maior celeridade o idoso frágil atendido em departamentos de emergência, tais como a Identification of Seniors At Risk (ISAR) que é uma ferramenta de triagem, composta por seis questões de auto-relato sobre a dependência funcional (pré-morbidade e aguda), hospitalização recente , prejuízo da memória e da visão, e polimedicação.(2, 11)

Foram fatores limitantes desse relato de caso: tempo disponível para aplicação da AGA(executante médico plantonista responsável por outros pacientes) , falta de equipamento dinamômetro e pouca habilidade na aplicação do questionário.

Não houve conflito de interesses no presente relato de caso.

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Conclusão

A longevidade traz consigo o processo crônico de vulnerabilidade e fragilidade, que associado a um agravo, pode aumentar a chance de uma internação hospitalar, e nos casos mais graves, iniciar a mesma já em um setor de atendimento a urgências e emergências.

A identificação precoce, da vulnerabilidade e fragilidade do idoso, independente do método utilizado, é condição de suma importância para o planejamento terapêutico multidisciplinar durante e após a internação hospitalar. Comprovadamente, é medida que otimiza o tratamento e determina maior probabilidade de sucesso no prognóstico dos pacientes, com redução da morbidade, reinternações e mortalidade, e consequente queda de custos em tratamentos de média e alta complexidade.

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Capítulo 13 – Delineamento do Estado Nutricional e Capacidade Funcional de um Idoso Hospitalizado

Alline Gonçalves Monteiro

Resumo

Objetivo: Delinear o estado nutricional e a capacidade funcional de um idoso internado em uma unidade hospitalar do Distrito Federal. Métodos: Relato de caso, transversal, observacional, realizado em um hospital público do Distrito Federal. Houve assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Aplicou- se o Índice de Katz, a Escala de Lawton-Brody, a Mini Avaliação Nutricional, o Teste de preensão palmar e o Teste do desenho do relógio. Resultados: O idoso mostrou-se independente para as atividades básicas e na execução das atividades instrumentais da vida diária, cognição parcialmente comprometida, com risco de desnutrição e baixa força de preensão palmar. Conclusão: O idoso está passível de risco nutricional e agravos como perda da capacidade cognitivo-funcional. Os resultados demonstraram a necessidade de utilização de diferentes aferições para avaliar a pessoa na senilidade e a importância da atuação da equipe multidisciplinar no acompanhamento de indivíduos idosos.

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Palavras-chave: Geriatria, saúde do idoso, hospitalização, estado nutricional, triagem nutricional.

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Introdução

A expectativa de vida mundial vem crescendo nas últimas décadas e o panorama brasileiro encontra-se em consonância com as estatísticas globais. Dados epidemiológicos apontam que, em 2012, os idosos equivaliam a 11,5% da população global, ao passo que, o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), em 2010, apontou que a população idosa representava uma parcela de 10,5% da sociedade1-2.

Concomitantemente ao envelhecimento etário, é possível evidenciar gradual declínio na capacidade cognitivo-funcional do idoso longevo, podendo este leva-lo a inaptidão na execução de atividades cotidianas, tais como tomar banho, se vestir, comer, se locomover. Neste momento, ratifica-se a dependência funcional, que é caracterizada pela perda da capacidade do idoso de cuidar e responder por si próprio³.

A morbimortalidade do indivíduo idoso é diretamente influenciada pelo seu estado nutricional. É sabido que o processo de envelhecimento está associado a um maior risco de desnutrição por múltiplas causas, como por exemplo, presença de doenças crônicas, redução da ingestão alimentar, alterações fisiológicas e sociais associadas à alimentação4-5.

A avalição da capacidade funcional, no que tange a habilidade em atuar nas atividades básicas (ABVDs) e instrumentais (AIVDs) da vida diária,

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presume o nível de dependência e independência do idoso. Tais parâmetros são examinados por meio de instrumentos padronizados, propostos por índice de Katz e pelo índice de Lawton-Brody, respectivamente6-7.

Avaliar clinicamente e funcionalmente o idoso é essencial no diagnóstico e na decisão da conduta a ser tomada para melhor qualidade de vida. Deste modo, este estudo teve como objetivo realizar a avaliação nutricional e funcional de um idoso internado em um hospital público do Distrito Federal.

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Métodos

Tratou-se de um relato de caso, transversal e observacional realizado em uma enfermaria do pronto-socorro de um hospital público do Distrito Federal no dia 14 de outubro de 2016. A escolha do idoso para descrição do caso ocorreu de maneira aleatória, dentre os que possuíam os seguintes quesitos de inclusão: idade igual ou superior a 60 anos de idade, capacidade de relatar as informações a serem coletadas; habilidade de compreensão e assinatura voluntária do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após informações detalhadas sobre o objetivo e os procedimentos do estudo. Os critérios de exclusão incluíam alterações neurológicas ou funcionais que impedissem a correta resposta e execução das ferramentas aplicadas.

Para avaliação do estado nutricional, aplicou- se a Mini Avaliação Nutricional (MAN). Esta ferramenta é separada em cinco categorias, que totalizam dezoito itens avaliados, sendo eles: triagem, avaliação antropométrica (peso, estatura, e perda de peso); avaliação geral (estilo de vida, uso de medicamentos, mobilidade); avaliação dietética (número de refeições, ingestão de alimentos, autonomia para comer sozinho) e a auto-avaliação (percepção da saúde e do estado nutricional). Com a somatória dos pontos obtidos em cada uma das cinco categorias é possível classificar o estado nutricional do idoso em: Normal (12 pontos ou mais na triagem); Desnutrido (<17 pontos); Risco de

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desnutrição (17 a 23,5 pontos) e Estado Nutricional Normal (>23,5 pontos)8.

As atividades básicas de vida diária (ABVDs) refletem as ações que indicam autocuidado, tais como vestir-se, fazer higiene, alimenta-se. Em contrapartida, as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) relacionam-se com atividade de cuidado do ambiente, tais como atividades domiciliares, controle de finanças e medicamentos e uso de transporte pessoal ou público9.

Para avaliar a capacidade funcional relacionada às ABVDs, aplicou- o índice de Katz, que por sua vez, possui como objetivo verificar independência em seis atividades cotidianas, sendo elas: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, movimentar-se, ser continente e alimentar-se. Ao passo que o entrevistador questiona o indivíduo, ele também o avalia e atribui pontuações de zero a três para cada item. Por fim, avalia-se uma das oitos categorias (de A a G) de classificação de independência: A) independente em todas as funções; B) independente em todas as funções, exceto uma; C) independente em todas as funções exceto lavar-se e outra função; D) independente em todas as funções exceto lavar-se, vestir-se e outra função; E) independente em todas as funções exceto lavar-se, vestir-se, utilizar o sanitário e outra função; F) Independente em todas as funções exceto lavar-se, vestir-se, utilizar o sanitário, mobilizar-se e outra função; G) dependente em todas as funções e outra) dependente em pelo

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menos duas funções, mas não classificável como C, D, E ou F9.

Para avaliar a capacidade de viver independente relacionada às AIVDs, utilizou-se o índice de Lawton-Brody, que por sua vez, é um instrumento que identifica oito funções, sendo estas destinas entre os sexos. Ao sexo feminino, atribuem-se as seguintes funções: capacidade para utilizar o telefone, fazer compras, preparar refeições, cuidar da casa, lavar a roupa, modo de transporte, responsabilidade pela própria medicação e habilidade para lidar com o dinheiro. Ao sexo masculino, excluem-se as funções de preparar alimentos, cuidar da casa e lavar a roupa. Assim sendo, o pesquisador questiona o idoso quanto às atividades citadas e avalia-as em: Consegue sem ajuda, com ajuda parcial, não consegue. Por fim, para classificação, atribui-se a pontuação de zero (dependente) até oito (independente) para as mulheres e de zero a cinco para os homens9.

Para avaliar a força de preensão palmar, utilizou-se o dinamômetro Hydraulic Hand Dynamometer, modelo SH5001, Grip Sehan®. A dinamometria foi realizada no membro superior dominante do idoso. Realizaram-se três avaliações, com intervalo de 1 minuto entre elas. Os resultados em quilograma-força (kgf) foram registrados e a média das três aferições foi considerada como a força de preensão palmar do individuo10.

Para avaliar capacidade cognitiva, utilizou-se o Teste do Desenho do Relógio, no qual foi

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solicitado ao idoso que desenhasse um relógio com todos os números e marcando 11h10. A avaliação dar-se pelas seguintes pontuações: 0) Inabilidade absoluta para representar o relógio; 1) O desenho tem algo a ver com um relógio, mas com desorganização visuo-espacial grave; 2) Desorganização visuo-espacial moderada, que leva a uma marcação de hora incorreta, perseveração, confusão esquerda-direita, números faltando, números repetidos, sem ponteiros, com ponteiros em excesso; 3) Distribuição visuo-espacial correta, com marcação de hora errada; 4)Pequenos erros espaciais com dígitos e horas corretos; 5) Relógio perfeito11.

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Relato de Caso

Paciente, sexo masculino, 81 anos de idade, casado, católico, ensino fundamental incompleto, natural de Correntina-BA e procedente de Posse- GO. Buscou atendimento hospitalar no pronto socorro da Unidade de Cirurgia Geral (UCG) com queixa dor abdominal progressiva há aproximadamente 20 dias, associada à hematêmese e hiporexia.

À história da doença pregressa, evidenciou- se quadro de diabetes melito (DM), hipertensão arterial sistêmica (HAS), diverticulite complicada, e trombose de veias ilíacas. Em domicílio, fazia uso das seguintes medicações: Hidroclorotiazida 25 mg (1 vez ao dia), Carvedilol 6,25 mg (1 vez ao dia), Glifage 500mg (1 vez ao dia) e Marevan (1 vez ao dia – 2 comprimidos), Ácido acetil-salicilico (1 vez ao dia).

Ao exame físico, no momento da admissão, encontrava-se em bom estado geral, hidratado, eupineico, sem edemas e emagrecido. Ao controle pressólico durante a internação, observou-se variação entre: 120-160/90-80 mmHg aferidos diariamente durante 5 dias consecutivos.

Durante a internação na UCG, apresentou melhora nas dores abdominais e afastou-se o diagnóstico de diverticulite através de tomografia computadorizada. Houve elevação das escórias nitrogenadas (Creatinina 4,34mg/dL e Ureia 130 mg/dL e Clearance de creatinina 16,67).

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No 9º dia de internação hospitalar, o paciente foi encaminhado ao pronto socorro da Unidade de Clínica Médica (UCM) para avaliação da Equipe de Nefrologia e alteração nas dosagens de anticoagulante. Ao parecer da Equipe de Nefrologia, paciente apresentava Doença Renal Crônica agudizada (DRCa) de etiologia desconhecida. Foram solicitados a ultrassonografia renal, a gasometria, o controle de diurese e descartou-se a necessidade de diálise. Paciente aguardando resultados de exames complementares para seguimento terapêutico.

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Discussão

A avaliação completa, multifatorial e de custo acessível aos serviços de saúde é primordial para a tomada de decisões na assistência ao idoso.

No que tange a escala de Katz para avalição das ABVDs, o idoso entrevistado apresentou-se capaz de realizar plenamente o autocuidado, portanto, classificado em letra A (independente em todas as funções). Estudo realizado com 119 idosos em Goiânia-GO identificou independência em 57,9% da amostra12. Pesquisa realizada no Rio de Janeiro evidenciou que um percentual de 68,8% dos idosos da amostra apresentava independência completa9. Em Santa Cruz-RN, a pesquisa realizada com 111 idosos apontou um quantitativo ainda maior de idosos independentes, segundo o mesmo método, com total de 88,3%13.

Quando aplicado o índice de Lawton-Brody, o indivíduo desta pesquisa apresentou pontuação igual a 5, portanto, mostrou-se novamente independente para realização das atividades instrumentais. O idoso identificou-se como necessidade de ajuda parcial da cônjuge para tomar medicamentos nos horários corretos. Tais dados corroboram com o apresentado na pesquisa realizada no Rio de Janeiro, na qual aproximadamente 29% dos idosos se apresentaram como independentes para realização das AIVDs e o controle medicamentoso como o item de maior citação em dependência9.

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Outro estudo apresentou dados de independência em aproximadamente 28% dos idosos, sendo o controle medicamentoso a atividade dita como incapaz em 14% da amostra13. Quando questionado quanto aos itens de atividades ditas como femininas, o idoso relatou total dependência da cônjuge nestas ações, corroborando com o possível viés que tais itens poderiam apresentar quando aplicados ao sexo masculino. Possivelmente, a não realização de atividades como arrumar a casa, preparar as refeições e lavar roupa não correlaciona-se com incapacidade funcional, mas sim com contexto social de inserção desta pessoa

No que corresponde ao estado nutricional avaliado pela MAN, o idoso apresentou 7 pontos na triagem, portanto, havia possibilidade de desnutrição. Na sessão seguinte de avaliação global, apresentou 10 dos 16 possíveis pontos atribuídos a esta porção. Totalizou-se, portanto, 17 pontos na MAN, o que lhe culminou em risco de desnutrição. Os principais pontos alterados foram: Perda referida de 14 Kg nos últimos meses, Índice de massa corporal (IMC) igual a 21,8 Kg/m², ingestão de líquidos inferior a três copos por dia, circunferência do braço (CB) 26 cm e circunferência da panturrilha (CP) de 33 cm. O risco de desnutrição neste paciente pode estar relacionado ao número de reinternações por longo período que este apresentou nos últimos meses, já que, é evidenciado na literatura que a desnutrição é prevalente em idosos hospitalizados14-15. Ao

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avaliarmos apenas o IMC do idoso em uma classificação específica para esta faixa etária e amplamente utilizada em triagens hospitalares, este seria diagnosticado com baixo peso16.

No que diz respeito à força de preensão palmar, a média de valores de três aferições consecutivas, com intervalo de um minuto entre elas foi de 17,83 Kgf. Estudo realizado com 136 idosos ativos em Florianópolis-RS evidenciou uma média de 35,2±9,0 Kgf no grupo do sexo masculino, utilizando a mão direita17. Outro estudo conduzido com 19 idosos em Alagoas mostrou uma média de 25,21±6,25Kgf para indivíduos do sexo masculino18. Já um estudo conduzido em uma ala geriátrica hospitalar mostrou índices inferiores aos citados anteriormente, com média de 11,96±6,71Kgf19. Possivelmente o último estudo se assemelha ao valor encontrado no idoso, avaliado nesta pesquisa, por ambos tratarem do indivíduo em ambiente intrahospitalar, sendo, portanto, a caracterização populacional semelhante.

Relativo ao TDR, paciente demostrou conhecimento acerca do objeto relógio, sua funcionalidade e sua lógica, porém, ao ser solicitado que o desenhasse, demonstrou desorganização visuo-espacial, com falta de sequência e repetição numeral, bem como os ponteiros não marcaram o horário conforme solicitado, conforme explanado na figura 27.1. Comparativamente a outro estudo realizado com população de 125 idosos de Santa Catarina-RS,

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76% apresentaram desempenho insatisfatório, em congruência ao evidenciado neste indivíduo20.

Figura 12.1. Desenho realizado pelo idoso no Teste do desenho do relógio.

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Conclusão

O idoso avaliado possuía independência para realização das atividades cotidianas e instrumentais. Mostrou-se orientado, comunicativo e capaz de compreender os questionamentos realizados pelo pesquisador. Apresentava-se em risco nutricional, com perda de peso involuntária recente significativa e necessidade de intervenção da equipe de nutrição.

No ambiente intra-hospitalar, é de suma importância o acompanhamento do idoso pela equipe multidisciplinar, com aplicação de variáveis ferramentas para o correto diagnóstico e tomada de decisão quanto a melhor conduta naquele indivíduo.

Finalmente, é possível concluir que o passar dos anos é uma marcha inexorável, mas havendo interação da senilidade com saúde física e mental, a qualidade de vida torna-se consequência cotidiana.

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Capítulo 14 – Capacidade Funcional de uma Idosa Sedentária e Tabagista Diagnosticada com Litíase Vesicular

Keilla Lima Sirqueira

Resumo

Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar e analisar a capacidade funcional, o funcionamento de sistemas e diagnosticar a existência e o grau de dependência de um idoso hospitalizado. Métodos: Estudo observacional, do tipo relato de caso, conduzido em um paciente idoso internado na Clínica Cirúrgica do Hospital Regional da Asa Norte, Brasília – DF. Foram aplicados o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 e a Avaliação Geriátrica Ampla, a partir do Índice de Katz, Escala de Lawton-Brody, Questionário de Pfeffer, Testes de avaliação de motilidade, estado mental, humor e depressão, entre outros. Resultados: O idoso apresentou independência (ou baixo grau de dependência) aos testes avaliadores das atividades básicas e instrumentais da vida diária, sem depressão, com boa capacidade de cognição e em risco nutricional, com suporte familiar adequado. Conclusão: A partir do instrumento aplicado foi possível detectar indícios de vulnerabilidade e característicos de risco nutricional na idosa

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avaliada. Dessa forma, vale ressaltar a importância da avaliação adequada e do cuidado com o idoso por meio da atuação de profissionais de saúde na atenção hospitalar, tendo em vista a qualidade de vida da pessoa idosa.

Palavras-chave: Saúde do idoso, geriatria, estado nutricional e hospitalização.

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Introdução

O envelhecimento é um processo natural, fisiológico e irreversível que engloba alterações metabólicas, psicológicas, culturais dentre outras dimensões do ser humano. São progressivas as alterações morfológicas também que culminam em modificações nos padrões de capacidade funcional e no estilo de vida dos idosos¹.

É comum observar entre os idosos a redução de qualidade de vida e da sobrevida em detrimento da redução da capacidade funcional e das diversas alterações biopsicossociais. É sabido que para esta faixa etária o grau de incapacidade aumenta de 30% a 50% em indivíduos com mais de 85 anos de idade².

Quando se considera indivíduos geriátricos, em situação de hospitalização, o risco de acometimento funcional, do estado nutricional e clínico geral do paciente é ainda mais elevado. Isso pode ser justificado, pelo fato de que dentre todas as alterações típicas da idade, surgem os sintomas como hiporexia, perda ponderal involuntária, aumento da dependência, dentre outros, formando um ciclo vicioso em que um sintoma exacerba outro, podendo piorar gradualmente o estado nutricional e geral do indivíduo³.

Considerando a relevância e a importância da avaliação adequada do idoso, este estudo teve como objetivo avaliar e analisar capacidade funcional, o funcionamento de sistemas e

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diagnosticar a existência e o grau de dependência de um idoso hospitalizado.

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Métodos

Estudo observacional do tipo relato de caso, realizado no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Brasília-DF, em 16 de outubro de 2016. O local escolhido foi o Pronto de Socorro da Clínica Cirúrgica do referido hospital. Esta clínica é composta por uma sala de medicação e curativos, unidade de observação (10 leitos) enfermaria masculina e outra feminina (10 leitos).

A escolha do indivíduo ocorreu de forma aleatória dentre os pacientes internados, obedecendo aos critérios de inclusão, sendo estes: ser idoso (> 60 anos), estar em condições plenas de compreender e responder aos questionários aplicados ou apresentar cuidador, acompanhante ou familiar capaz de responder. Dentre os critérios de exclusão, incluiu-se: incapacidade psicomotora, presença de doença neurológica comprometedora, déficit de atenção e compreensão, execução limitada de movimentos e de comunicação verbal.

Foi realizada a aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)4, com o objetivo de avaliar a capacidade funcional, grau de cognição, humor, estado nutricional do indivíduo e também suporte social ao mesmo. Foi aplicado o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20)5, este considera idade, autopercepção da saúde, capacidade/incapacidade funcional, mobilidade, comunicação, humor, cognição e comorbidades múltiplas. Este teste pode somar a pontuação máxima de 40 pontos, com três graus de

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classificação, sendo estes: Baixa vulnerabilidade clínico-funcional (0 a 6 pontos); Risco elevado de vulnerabilidade (7 a 14 pontos) e Alto risco de vulnerabilidade ou fragilidade instalada ( ≥ 15 pontos).

Para avaliar a capacidade funcional e de autocuidado considera-se o grau de dependência para a realização de Atividades Básicas (ABVDs) e Instrumentais (AIVDs) de vida diária baseada em questionários validados. Para se avaliar a ABVD, utilizou-se o questionário de adaptado ao índice de Katz, uma vez que este engloba a independência do idoso para higiene pessoal, vestir-se, ir ao banheiro, deambular, ser continente e se alimentar. A coleta de informações inerentes a este questionário ocorreu por meio de entrevista e observação do pesquisador quanto a cada um dos itens, classificando, baseada na pontuação final em: Independente em todas as funções (A); Independente em todas as funções, exceto uma (B); Independente em todas as funções exceto lavar-se e outra função (C); Independente em todas as funções exceto lavar-se, vestir-se e outra função (D); Independente em todas as funções exceto lavar-se, vestir-se, utilizar o sanitário e outra função (E); Independente em todas as funções exceto lavar-se, vestir-se, utilizar o sanitário, mobilizar-se e outra função (F); Dependente em todas as funções (G)6.

Por sua vez, para avaliar as AIVDs, utilizou- se o índice de Lawton-Brody, que avalia capacidade de preparar refeições, manusear a

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própria medicação, fazer compras, utilizar o telefone, controlar finanças, cuidar da casa, lavar roupa e utilizar meios de transporte, gerando um escore de até 8 pontos, no qual o paciente é classificado como independente6. Também foi utilizado o questionário de Pfeffer, que por sua vez avalia itens relacionados à consciência do ambiente domiciliar e espacial, capacidade de cozinhar e outros itens relacionados ao cotidiano, neste questionário a pontuação máxima é de 30 pontos, onde a soma igual ou superior a 5 pontos já classifica o idoso como dependente7.

Para avaliar a mobilidade, o teste utilizado foi o Timed up and go, neste teste é orientado ao paciente que levante e caminhe em passos seguros pela distância de três metros, gire em 180° e retorne ao ponto inicial, e se sente na cadeira ao comando “vá”. A classificação de mobilidade é feita com base no tempo que o idoso demora para realizar completamente o teste, onde tempo inferir a 10 segundo classifica em mobilidade normal; de 11 a 20 segunda em boa mobilidade e acima de 30 segundos em mobilidade prejudicada8,9.

Também foi aplicado o Miniexame do Estado Mental (MEEM), que avalia a capacidade de cálculo, memória imediata, orientação temporal e espacial, evocação e linguagem. O escore resultante varia de 0 a 30 pontos, em que quanto maior o escore final, melhor a capacidade cognitiva do idoso10. Associado ao MEEM, ainda em se tratando de avaliação cognitiva, memória e outros fatores relacionados, aplicou-se também o teste do

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relógio, neste foi solicitado ao idoso que coloque os números e os ponteiros indicando 11h30min. Feito o desenho analisou-se a presença de erros quanto a distribuição dos números, direção dos ponteiros e espaço entre os números11.

Para avaliar depressão foi utilizada a escala de depressão de Yesavage versão reduzida (GDS- 15), composta por quinze itens de resposta objetiva, ou seja, sim ou não, onde cada pergunta pode representar até um ponto, ao final da aplicação deste, a soma da pontuação do indivíduo classifica-o em depressão grave (11 a 15), depressão moderada (6 a 10) ou ausência de depressão (0 a 5)12.

Para a avaliação do estado nutricional, utilizou-se a Mini Avaliação Nutricional (MAN)13, sendo esta comporta por 18 itens que abrangem triagem, avaliação antropométrica, estado geral, situação dietética e auto avaliação. A classificação ébaseadano somatório das respostas ao questionário, podendo classificar o idos em: Normal (12 pontos ou mais na triagem); Desnutrido (<17 pontos); Risco de desnutrição (17 a 23,5 pontos) e Estado Nutricional Normal (>23,5 pontos).

Por fim, foi utilizado o APGAR14 de Família para avaliar a funcionalidade familiar, sendo este composto por cinco questões com opções padrão de respostas (sempre - 2, algumas vezes - 1 e nunca - 0). Para a classificação final, considera-se a soma da pontuação de todas as respostas, onde o resultado é seccionado em escalas, sendo elas de 0 a 4 (elevada disfunção familiar); de 5 a 6 (

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moderada disfunção familiar0; e de 7 a 10 (boa funcionalidade familiar).

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Relato de Caso

Paciente, 63 anos de idade, sexo feminino, com ensino fundamental incompleto, divorciada, aposentada, sem outra ocupação, mora em casa térrea de alvenaria e com acesso a saneamento básico e água tratada, frequenta igreja católica, tabagista com consumo médio de oito cigarros por dia com início da prática há cerca de 20 anos.

Negou etilismo, afirmou sedentarismo, negou perda ponderal recente, porém referiu redução da ingestão alimentar domiciliar na semana anterior a hospitalização. Admitida em 15 de outubro de 2016 no Pronto de Socorro da Clínica Cirúrgica do HRAN, com hiporexia, dor abdominal em epigastro associada vômitos.

Realizou ecografia que evidenciou litíase vesicular sem sinal de colecistite. Negou comorbidade e uso crônico de medicamentos, durante a internação apresentou uso de analgésico e antieméticos. Apresentava déficit visual leve, em uso de corretores, audição normal e sem distúrbio do sono. Desconhecia situação vacinal, não se lembrando da data da última vacina que recebeu. Relatou apenas uma queda no último ano em piso molhado.

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Discussão

Considerando a importância da avaliação extensa do idoso, foi aplicado o Questionário de Avaliação Geriátrica Ampla da Sociedade Brasileira de Geriatria. O IVCF-20 apontou que a idosa apresentava baixo risco de vulnerabilidade, equivalente ao resultado de 0 ponto, compatível com dependência. No Quadro 13.1 estão descritas as classificações da paciente quanto aos testes aplicados.

Quadro 13.1. Avaliação da capacidade funcional de idosa hospitalizada com letíase vesicular.

Brasília-DF, 2016. Instrumento de

avaliação Classificação

Índice de Katz Independêncial nas ABVDs Questionário de Pfeffer Independente

Índice de Barthel Dependência leve Teste Timed up and go Mobilidade regular Miniexame do Estado

Mental Capacidade cognitiva normal para

a escolaridade Desenho do relógio Regular

Escala de depressão de Yesavage

Ausência de depressão

Mini Avaliação Nutricional

Risco de desnutrição

APGAR de Família Boa funcionalidade familiar

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A paciente apresentou independência para as ABVDs, uma vez que relatou executar as atividades de higiene pessoal, auto cuidado, alimentação, capacidade de locomoção e outros critérios cm funcionalidade preservada, e com capacidade de execução autônoma. Nesta questão, a paciente se enquadra com os achados descritos em literatura, uma vez que estudos mostram que mais de 50% dos idosos não apresentam nenhum grau de dependência6,16.

Para avaliar as AIVDs foi aplicado questionário de Pfeffer, com resultado de independência, pois a paciente relatou necessidade de ajuda apenas para preparar comida, afirmando independências para todos os demais itens questionados. Em relação ao índice de Barthel, Reis et al15 descreveram que existe a predominância da classificação em dependência leve (>60%), assim como encontrado no presente relato de caso.

A avaliação da mobilidade, baseada no Teste Timed up and GO teve como resultado satisfatório, uma vez que a idosa executou ao comando sem dificuldades aparentes finalizando de forma plena o que lhe foi solicitado. O fato de estar em período de recuperação, e com melhora do quadro geral favorece o resultado, com menor influência de viés de sintomas do trato gastrointestinal, ou menos astenia ou redução da capacidade funcional, sendo então o resultado

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encontrado compatível com a realidade habitual da paciente.

Mediante a aplicação MEEM, a paciente apresentou com resultado, capacidade compatível com a idade (escore 28) apresentando escore baixo na execução de cálculos e de escrita, também nos itens relacionados à memória, entretanto, este resultado era esperado, considerando que a paciente possuía apenas seis anos de escolaridade10,18. Na Figura 13.1 encontra-se o desenho do pentágono com interseção realizado durante o MEEM.

Figura 13.1. Desenho do pentágono com

interseção.

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No teste do relógio, demonstrado na Figura 13.2, a paciente apresentou sequenciamento correto dos números, com disfunção da distribuição de espaço entre os números ao lado direito e esquerdo, fez a indicação dos ponteiros corretamente, conforme o horário solicitado, sem deixar de preencher ou repetir qualquer número. A idosa em questão apresenta-se melhor que a média de indivíduos comparados a sua faixa etária, uma vez que, conforme descrito por Araújo et al11, menos de um quarto dos entrevistados apresentou pontuação satisfatória, assim como também descrito por Leonard et al17, onde cerca de 90% dos indivíduos foram reprovados neste teste.

Figura 13.2. Desenho do teste do relógio.

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A escala de depressão de Yesavage não mostrou alterações, somando a pontuação final de apenas 3 pontos. O resultado pode ter sido influenciado por diversos fatores, com a ausência de privacidade, a situação de hospitalização, a presença de outros doentes próximos e o local de aplicação do questionário, assim como também o constrangimento pessoal. Apesar do viés, o resultado pode ser considerada como semelhante ao de estudo, que demonstrou que mais de 50% dos idosos, de fato, não apresentam sinais de depressão19.

A idosa foi classificada com em risco de desnutrição, com escore final de 21,5. Ao item de triagem, a mesma negou redução da ingestão, pois apesar de ser internada com hiporexia recente, com analgesia a paciente recobrou o apetite ao padrão habitual; relatou perda ponderal entre um e dois quilos; mobilidade normal; presença de estresse psicológico ou doença aguda nos últimos três meses, porém sem problemas psicológicos. Ao IMC a mesma apresenta valor superior a 23kg/m², somando ponsto, se fazendo necessária a complementação d questionário.

Em relação aos itens questionados na parte de Avaliação Global da MAN. A paciente referiu viver em casa própria, utilizar menos de três medicamentos por dia e não possuir lesões de pele ou escaras, também referiu realizar no mínimo três refeições por dia com padrão variado de alimentos; ingestão hídrica adequada. Quando questionada se acreditava possuir algum problema nutricional a

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paciente não soube responder, assim com também sua percepção quanto aos demais indivíduos de sua idade. Apresentou circunferência do braço igual a 31 cm e circunferência da panturrilha igual a 34 cm. O resultado encontrado é semelhante ao descrito em literatura, onde foi evidenciado que cerda de 80% dos idosos apresenta risco de desnutrição13.

O suporte social foi avaliado por meio do APGAR familiar, com classificação de boa funcionalidade familiar, resultado também compatível com a literatura, onde foi descrito que mais de 805 dos pacientes apresentam boa funcionalidade familiar14.

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Conclusão

A idosa apresentou alguns itens de vulnerabilidade e característicos de risco nutricional. Além disso, manteve as capacidades funcional, motora e cognitiva preservadas, e compatíveis ao grau de instrução, bom aporte familiar e boa condição geral.

Considerando a extensão deste modelo de avaliação, vale ressaltar a importância da orientação do profissional de saúde, de forma que a atenção hospitalar seja feita adequadamente, levando-se em consideração todas as dimensões associadas à qualidade de vida da população idosa.

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Capítulo 15 – Avaliação de uma Idosa com Hipotireoidismo e Osteopenia Assistida em um Ambulatório de Endocrinologia do Sistema Único de Saúde.

Alexandra Rubim Camara Sete Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Alfredo Nicodemos da Cruz Santana

Resumo

A avaliação clínica de um paciente deve ser individualizada, considerando-se cada ciclo vital, de tal forma a evitar que condições peculiares passem despercebidas quando uma avaliação padronizada é instituída. É possivel identificar, por meio de alguns instrumentos, situações de vulnerabilidade e fragilidade em idosos, o que possibilita o acompanhamento e o tratamento adequados. O objetivo deste relato de caso foi avaliar uma paciente de 60 anos de idade, com diagnóstico de hipotireoidismo e osteopenia, assistida no Ambulatório de Endocrinologia de um hospital público de Brasília - Distrito Federal, utilizando-se a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA).

Palavras chave: Idoso, fragilidade, vulnerabilidade.

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Introdução

O envelhecimento populacional é uma das maiores conquistas da humanidade, mas também um grande desafio para os governos e para as sociedades. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos passará de 13,9 milhões para 28,3 milhões, de 2000 a 2020, respectivamente, chegando a 64 milhões em 20501.

A saúde do idoso está relacionada à funcionalidade global; ou seja, à capacidade de o idoso gerenciar a própria vida, mesmo na presença de injúrias ou agravos à saúde2. Logo, o envelhecimento é caracterizado por modificações funcionais, bioquímicas e psicológicas, dinâmicas e progressivas, em que a presença de doenças, a perda da capacidade de adaptação ao ambiente e as perdas sociais potencializam a vulnerabilidade e a fragilidade da população idosa3.

A fragilidade pode predispor o idoso a desfechos desfavoráveis à saúde, como quedas, institucionalização, hospitalização, reinternações, incapacidade e morte3,4. Estima-se que, entre as pessoas que vivem na comunidade, 10% a 25% com idade superior a 65 anos e 46% acima dos 85 anos sejam frágeis5.

A população idosa saudável representa 80% dos indivíduos com 60 anos ou mais, considerando- se a funcionalidade e cognição. Apesar de a presença de morbidades, observa-se nesses idosos uma adequada manutenção da funcionalidade em

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relação ao meio ambiente e um relacionamento produtivo com os familiares e com a própria sociedade. Sendo assim, esses idosos necessitam, principalmente, de cuidados preventivos6.

A aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)7 permite avaliar as deficiências e as incapacidades de um idoso, visto que se trata de uma ferramenta multidimensional, com foco de atuação multidisciplinar direcionado ao planejamento do cuidado e acompanhamento em longo prazo da população geriátrica.

O objetivo deste relato de caso foi avaliar uma paciente de 60 anos de idade, com hipotireoidismo e osteopenia, assistida no Ambulatório de Endocrinologia de um hospital público de Brasília - Distrito Federal, utilizando-se a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA).

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Métodos

Inicialmente, realizou-se uma busca na literatura de artigos científicos indexados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Pubmed/Medline (National Library of Medicine) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), sobre o tema em questão. Os descritores em ciências da saúde (DeCS), nos idiomas português (idoso, fragilidade e vulnerabilidade) e inglês (elderly, frailty and vulnerability) foram utilizados como estratégias de busca.

Posteriormente, prosseguiu-se ao relato de caso que foi conduzido em uma paciente de 60 anos de idade, entrevistada em um consultório no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), um hospital escola da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), em Brasília – DF, Brasil.

A paciente foi convidada a participar do presente relato de caso em fevereiro de 2016, após explicações minuciosas sobre os objetivos do estudo e os procedimentos utilizados. Ela confirmou a participação voluntária e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram garantidos o sigilo e anonimato de suas informações, dentre outros direitos, respeitando a Resolução número 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério de Saúde.

Como instrumentos de coleta de dados, utilizaram-se os questionários e as escalas para avaliação de vulnerabilidade, polifarmácia,

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independência nas Atividades de Vida Diária (AVDs), mobilidade, cognição, humor, estado nutricional e funcionalidade familiar por meio da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)7.

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Relato de Caso

Paciente, 60 anos de idade, sexo feminino, assistida no Ambulatório de Endocrinologia do HRAN por diagnóstico clínico de hipotireoidismo e osteopenia. Solteira, professora de educação física aposentada, porém continuava trabalhando como corretora de imóveis. Morava sozinha em um apartamento, possuía hábitos de vida saudáveis, fazia atividade física diariamente, tinha bom padrão alimentar e participava de atividades sociais. Negou tabagismo e etilismo.

Para cada um dos parâmetros propostos para serem avaliados, utilizou-se um teste ou questionário específico. Para avaliar a vulnerabilidade foi utilizado o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional – 20 (IVCF-20)7 que considerou a paciente não vulnerável.

A paciente fazia uso de apenas uma medicação, não apresentou episódios de quedas nos últimos 12 meses, tinha boa acuidade visual e auditiva. A cobertura vacinal não estava completa e a idosa referiu perda involuntária de urina havia 1 (um) ano.

O Teste Timed up and go7 foi aplicado para avaliar o estado funcional tendo como resultado um tempo normal. Em relação à cognição, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM)7 e o Teste do Relógio de Shulman7 demonstraram preservação cognitiva. Da mesma forma, a Escala de Depressão Geriátrica abreviada7 não revelou indícios de depressão.

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Quanto à avaliação nutricional, não foi detectado risco nutricional por meio da Mini avaliação nutricional (MAN)7. Porém, optou-se por prosseguir com a avaliação global, sendo confirmado estado nutricional satisfatório.

A idosa foi considerada independente para as atividades básicas de vida diária por meio da escala de avaliação functional de Katz7. E, para avaliar o suporte social, foi utilizado o APGAR familiar7, sendo demonstrado que a paciente possuía uma família altamente funcional.

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Discussão

O fato de o paciente idoso poder apresentar morbidades como hipertensão arterial, incontinência urinária, hipercolesterolemia, artropatias e outras não o impossilbilita de ser funcionalmente adequado ao seu meio, relacionando-se com seus familiares e com a sociedade de uma maneira produtiva6.

A paciente avaliada apresentou competência em todos os testes avaliados, pois era ativa, participava de atividades sociais e tinha bom convívio familiar. Entretanto, já apresentava um indício de vulnerabilidade que, se não tratado precocemente, poderia torná-la frágil no decorrer de alguns anos. Esse fato motivou a realizar uma avaliação mais abrangente.

Cabe ressaltar que os idosos quando perdem as funções de autonomia, independência, cognição, comunicação e mobilidade ficam expostos às grandes síndromes geriátricas. Dentre essas, a incontinência urinária é capaz de interferir na independência do indivíduo e na sua mobilidade. O indivíduo com incontinência esfincteriana é limitado na sua participação social o que pode gerar um grau de fragilidade2.

A incontinência urinária é definida como a queixa de qualquer perda de urina de forma involuntária. Sua prevalência aumenta com a idade, podendo variar de 12,2% para 20,9% em mulheres entre 60 e 64 anos e com pelo menos 85 anos de idade respectivamente. Em idosos que vivem em

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domicílio a prevalência é de 15% a 30%. Em 50% das mulheres observa-se a incontinência de estresse que é a perda de urina sincrônica ao esforço, tosse ou espirro2.

Logo, nos pacientes geriátricos a incontinência urinária permanence sub diagnosticada e subtratada. Uma possível justificativa encontra-se na crença de que tal condição é inerente ao avançar da idade. A AGA permite que sintomas não valorizados pelo paciente ou pelo próprio médico sejam abordados e com isso, uma vez positivos, possam ser tratados de forma adequada.

A saúde do idoso é o resultado da interação entre saúde física e mental, autonomia, suporte familiar, independência econômica e integração social. O índice de vulnerabilidade e a AGA são instrumentos que permitem ao profissional de saúde identificar quais idosos merecem uma atenção diferenciada.

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Conclusão

A atenção primária em saúde constitui a porta de entrada preferencial do paciente no Sistema Único de Saúde e deveria ser capaz de realizar uma busca ativa dos pacientes em risco de vulnerabilidade. Por meio da aplicação da AGA, os agentes comunitários poderiam rastrear os idosos em risco para otimizar o início dos cuidados multiprofissionais a essa população crescente, vulnerável e frágil.

Observou-se, neste relato de caso, que a idosa avaliada apresentava um resultado positivo em todos os quesitos analisados, visto que era ativa, participava de atividades sociais e tinha um bom convívio familiar, mesmo diante do hipotireoidismo e da osteopenia que integravam o seu quadro clínico. Logo, torna-se imprescindível a aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla, pois permite identificar os idosos em risco cognitivo, funcional, nutricional, dentre outros, de forma mais abrangente e multidisciplinar.

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Referências

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Capítulo 16 – Avaliação Geriátrica Ampla, Autonomia e História de Quedas

Fabiana Amaral Abritta Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon Ana Patrícia de Paula

Resumo

A Avaliação Geriátrica Ampla é multidimensional, capaz de identificar as deficiências e as incapacidades apresentadas pelo idoso, visando o planejamento do cuidado e o acompanhamento em longo prazo. O objetivo do presente estudo foi realizar a avaliação geriátrica ampla em uma paciente idosa da comunidade e discutir os principais achados. Trata-se de um relato de caso, em que os dados foram coletados por meio de questionários e testes físicos, em ambiente comunitário, em Brasília-DF. Os resultados da avaliação evidenciaram que a paciente é considerada não frágil. Porém, apresenta Hipertensão Arterial Sistêmica e história de duas ou mais quedas nos últimos doze meses. Instrumentos como os utilizados neste estudo permitem avaliar de forma ampla e eficiente as condições de saúde de uma pessoa idosa e são indispensáveis para qualquer profissional de saúde na condução terapêutica do paciente. As ações voltadas para diminuir o risco de quedas necessitam de uma

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abordagem multidimensional, que é possível por meio da ação integrada de uma equipe. As políticas destinadas à população idosa devem considerar a capacidade funcional e a necessidade de autonomia, estimulando a prevenção, o cuidado e a atenção integral à saúde.

Palavras chave: Avaliação geriátrica, fragilidade, hipertensão, acidentes por quedas.

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Introdução

O aumento da população idosa ocorre mundialmente e, no Brasil, as mudanças vêm acontecendo de modo bastante acelerado. Várias projeções sinalizam que, em 2020, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, com um contingente maior do que 30 milhões de pessoas1.

Em decorrência da alteração do perfil demográfico, aumentará a prevalência de doenças crônicas, mais frequentes neste grupo etário, fazendo com que os programas governamentais de saúde e previdência enfatizem a melhora do estado funcional e o bem-estar, ao invés da cura e sobrevivência. Este fato implica em modificações relativas a treinamento e recursos materiais. Torna- se cada vez mais indispensável realizar uma avaliação geriátrica eficiente, completa e de baixo custo2.

A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) começou a ser utilizada no final da década de trinta, no Reino Unido, baseada no trabalho da médica britânica Marjory Warren3. É uma avaliação multidimensional e interdisciplinar; possui como objetivo verificar as deficiências e as incapacidades apresentadas pelo idoso, visando o planejamento do cuidado e o acompanhamento em longo prazo. Ela faz parte do processo clínico padrão, mas enfatiza a avaliação da capacidade funcional e da qualidade de vida4. A AGA envolve processos de

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diagnóstico e, por vezes, de direcionamento terapêutico do idoso3.

O aumento no número de doenças crônicas está relacionado com maior incapacidade funcional. O comprometimento da capacidade funcional do idoso tem implicações importantes para a família, para a comunidade, para o sistema de saúde e para a vida do próprio idoso, uma vez que a incapacidade ocasiona maior vulnerabilidade e dependência na velhice, contribuindo para a diminuição do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos5.

Um estudo americano prospectivo, o Cardiovascular Health Study (CHS), definiu critérios que fazem parte da definição operacional de fragilidade, considerada como síndrome geriátrica. No CHS, que envolveu idosos residentes na comunidade, 6,3% dos participantes foram classificados como frágeis, 45,3% como pré-frágeis e 48,3% como não frágeis. Dos idosos classificados como frágeis 28% sofreram quedas, contra 15% dos não frágeis6. No Brasil, cerca de 30% dos idosos sofrem quedas ao menos uma vez ao ano7.

A cada dia aumenta o número de pacientes idosos que dependem de alguma forma de medicamentos para doenças crônicas e/ou para melhoria da sua qualidade de vida. É possível observar, nas salas de emergência, uma grande quantidade de pacientes acima de 60 anos que já sofreram algum tipo de queda e/ou fratura e tomam fármacos de uso contínuo8.

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Atualmente, o nível de independência funcional e autonomia podem ser considerados como os principais indicadores das condições de saúde da pessoa idosa, havendo ou não a presença de doenças. A instabilidade postural, caracterizada pela dificuldade de equilíbrio do idoso, tem importância por estar diretamente relacionada ao surgimento de quedas e ao potencial de causar dependência, seja por sequelas físicas ou por prejuízo emocional, como o medo de cair9.

A identificação de fatores associados às quedas em idosos pode contribuir para o esclarecimento quanto aos fenômenos causais, possibilitando desenvolver medidas preventivas precoces de forma individual e para a população idosa. Nesse contexto, o objetivo do presente relato de caso foi discutir os principais achados, em uma paciente idosa da comunidade, por meio da aplicação da AGA.

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Métodos

Tratou-se de um relato de caso de uma paciente idosa que foi realizado no mês de fevereiro de 2016, em um ambiente comunitário, localizado em Brasília - Distrito Federal por meio de aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla10, que considera as dimensões clínica e funcional, com o objetivo de identificar a fragilidade.

Após as informações sobre os objetivos da pesquisa e os procedimentos utilizados, a paciente assinou de forma voluntária o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual concordou em participar do estudo, podendo desistir a qualquer momento, sem prejuízos.

Toda a pesquisa respeitou a Resolução número 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde (MS) que garante o sigilo e o anonimato dos sujeitos de pesquisa, dentre outras providências.

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Relato de Caso

Paciente, sexo feminino, 67 anos de idade, branca, separada, professora aposentada, residia com dois filhos e dois netos em Brasília-DF. Tinha diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS); não possuia histórico pregresso de outras enfermidades, etilismo e tabagismo. Não possuia outra ocupação profissional, tendo renda proveniente de sua aposentadoria. Residia em casa térrea, era católica e participava de atividades sociais, principalmente relacionadas à igreja que frequentava.

Para controle da pressão arterial, a paciente fazia uso do medicamento de nome comercial Diovan 80, um bloqueador do receptor da angiotensina II, uma vez ao dia, havia aproximadamente três anos. Fazia uso também de cápsulas de Ômega 3 e de Vitamina D com cálcio havia um ano; referia ter Osteopenia.

A paciente não relatava déficits visuais e auditivos, nem incontinências. Referia não ter distúrbios de sono e ter sido vacinada contra Influenza, pela última vez, em 2013. Não se lembrava de quando tomou vacina contra tétano e febre amarela. Relatou que praticava atividade física (hidroginástica) três vezes por semana e que apresentou três quedas nos últimos doze meses.

Na primeira etapa da AGA, foi verificado o índice de vulnerabilidade clínico-funcional da paciente. Foram avaliadas oito dimensões: a idade, a autopercepção da saúde, as atividades de vida

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diária (três AVD instrumentais – AIVD - e uma AVD básica), a cognição, o humor/comportamento, a mobilidade (alcance, preensão e pinça; capacidade aeróbica/muscular; marcha e continência esfincteriana), a comunicação (visão e audição) e a presença de comorbidades múltiplas, representada por polipatologia, polifarmácia e/ou internação recente.

Cada pergunta dessa etapa recebe uma pontuação específica, de acordo com o desempenho do idoso, no total de 40 pontos. A pontuação obtida na avaliação da paciente (2 pontos) encontrou-se na classificação que considera que o idoso tem provavelmente baixa vulnerabilidade clínico-funcional, e não necessita de avaliação e acompanhamento especializados.

Essa pontuação foi encontrada, pois a paciente considerou ter ótima saúde e referiu não ter deixado de realizar suas AVD por condição física ou de saúde. Também não apresentou alterações de cognição, humor, mobilidade e comunicação. O único achado não considerado normal foi a paciente ter referido duas ou mais quedas nos últimos doze meses.

Apesar de a paciente não ter sido considerada vulnerável, foi dada continuidade à AGA. Para avaliação funcional, verificaram-se atividades desempenhadas para o autocuidado e não foram encontradas alterações funcionais nas AVD básicas. Em relação à cognição, foram avaliadas: atenção, função executiva da memória, linguagem, gnosia, praxia, função visuoespacial,

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sendo obtido resultado normal. Para rastreamento de depressão, a paciente respondeu a quinze perguntas, sem atingir pontuação compatível com resultado alterado.

Para identificar risco ou comprometimento nutricional, o principal parâmetro antropométrico utilizado na avaliação foi o índice de massa corporal, obtido dividindo-se o peso corporal (kg) pela estatura ao quadrado (m²). O valor encontrado na avaliação foi 26 kg/m², estando dentro do intervalo considerado normal para idosos (entre 22 e 27kg/m²)11.

Outra medida utilizada para avaliar, não somente o estado nutricional, mas também a capacidade funcional e o risco de quedas é a circunferência da panturrilha. Valores inferiores a 31 cm indicam sarcopenia, risco de incapacidade funcional e de queda12. O resultado da medida da circunferência da paciente foi 40 cm. Além desta medida, foi realizada avaliação de mobilidade e marcha, que também estão relacionadas ao risco de quedas. Não foram encontradas alterações.

Na avaliação do grau de suporte social, verificou-se a experiência da idosa com seus relacionamentos mais próximos. O resultado encontrado sugeriu um suporte familiar altamente funcional.

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Discussão

Os resultados da AGA evidenciaram que a paciente é considerada não frágil. Porém, apresenta HAS e relatou ter sofrido duas ou mais quedas nos últimos doze meses.

Um estudo sobre a prevalência de hipertensão no Brasil, de base populacional, em adultos, demonstrou que cerca de 20% dos adultos apresentam hipertensão, sem distinção por sexo, mas com tendência de aumento com a idade13.

Os resultados de um estudo com idosos residentes no Município de São Paulo demonstraram que as doenças crônicas apresentam uma forte influência na capacidade funcional do idoso. A presença de hipertensão arterial aumenta em 39% a chance de o idoso ser dependente nas AIVD5. A paciente avaliada não referiu dificuldades em suas AIVD.

A paciente referiu ter sofrido duas ou mais quedas nos últimos doze meses. Os fatores relacionados às quedas de idosos são múltiplos e comumente classificados em intrínsecos e extrínsecos ao individuo. Os fatores intrínsecos incluem alterações fisiológicas do envelhecimento, doenças e consumo de medicamentos. Os fatores extrínsecos envolvem os dependentes de obstáculos ambientais que não podem ser transpostos pelo idoso, ou situações sociais de risco9.

Entre os fatores que têm sido associados ao aumento do risco de quedas e fraturas em idosos

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está o uso de fármacos causando sonolência, alterando o equilíbrio, tônus muscular e/ou hipotensão, principalmente a hipotensão ortostática. Por exemplo, os agentes antihipertensivos, que podem causar hipotensão postural14. A paciente fazia uso contínuo deste tipo de medicamento havia três anos. As reações adversas a medicamentos, embora constituam importante problema de saúde pública, não costumam ser adequadamente valorizadas e, com frequência, nem são diagnosticadas15.

Em um estudo realizado com 4003 idosos residentes na abrangência de Unidades Básicas de Saúde, em sete estados do Brasil, aproximadamente 70% da amostra referiram a necessidade de utilização de pelo menos um medicamento continuamente. Em ambos os sexos, houve relação direta entre o número de medicamentos referidos para o uso contínuo e a ocorrência de quedas. A prevalência de quedas encontrada na amostra de idosos foi de 34,8%. A prevalência por sexo encontrada foi 26,5% nos homens e 40,1% nas mulheres16.

Em um estudo de seguimento de dois anos, com uma coorte de 1.667 idosos residentes na comunidade, no município de São Paulo, 30,9% dos idosos afirmaram ter caído no ano anterior ao primeiro inquérito e, desses, 10,8% relataram duas ou mais quedas7. As variáveis presentes no modelo final que aumentaram a chance de queda de forma independente e significativa foram: ser mulher, ter história prévia de fratura, ter dificuldade na

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execução das atividades físicas e referir visão ruim ou péssima. Não foram contemplados no estudo fatores de risco ambientais e comportamentais, que também têm papel importante no contexto das quedas. No caso da paciente avaliada, somente a variável sexo feminino correspondeu ao resultado do estudo.

Uma chance maior de queda para o sexo feminino tem sido demonstrada em vários estudos. Porém, as possíveis causas desse fenômeno permanecem ainda pouco esclarecidas. Uma provável causa é que o sexo feminino poderia conferir um risco maior de fragilidade pelo fato de que a quantidade de massa magra e de força muscular é menor do que nos homens da mesma idade7.

Foi realizado um estudo com 83 idosas, em ambiente comunitário, consideradas independentes e autônomas. Destas, 51,8% relataram ter sofrido queda no último ano. As participantes foram submetidas a testes de equilíbrio e este se apresentou como o maior preditor de quedas nesta população9.

A idosa avaliada relatou praticar hidroginástica três vezes por semana. Idosos que praticam atividade física tendem a ser mais saudáveis quando comparado aos sedentários. É importante delimitar o tipo, a frequência e a intensidade das atividades físicas praticadas, incluindo as aeróbicas, de flexibilidade, fortalecimento muscular e equilíbrio17. O incentivo à prática de atividades físicas para o idoso sedentário

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deve ser sempre feito, adaptadas às condições crônicas, à funcionalidade e às necessidades de cada indivíduo.

Atualmente, as avaliações tendem a ser menos completas e mais direcionadas a um problema específico devido às exigências de uma prática clínica de atendimento a muitos pacientes em um mesmo período. Quando muitos aspectos são apresentados, deve-se considerar o uso de uma avaliação ampla que demanda acompanhamento em várias consultas5, o que possibilita uma visão global do paciente e um direcionamento de conduta mais apropriado.

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Conclusão

O envelhecimento populacional e o consequente aumento da ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis geram a necessidade de preparação dos serviços de saúde, incluindo a formação e capacitação de profissionais para o atendimento a esta população. Não somente os especialistas devem verificar a situação de saúde do idoso. Instrumentos como os utilizados neste estudo permitem avaliar de forma ampla e eficiente as condições de saúde de uma pessoa idosa e são indispensáveis para qualquer profissional de saúde na condução terapêutica do paciente.

As quedas de idosos são atualmente uma preocupação, pela frequência e pelas consequências em relação à qualidade de vida. O presente estudo demonstrou uma paciente idosa autônoma e independente, porém com história de quedas, o que poderia ter levado à incapacidade funcional. As ações voltadas para diminuir o risco de quedas necessitam de uma abordagem multidimensional, que é possível por meio da ação integrada de uma equipe. Sugere-se que é possível diminuir a ocorrência de quedas com cuidados como: revisão de medicações; atividade física orientada e direcionada às necessidades do indivíduo, como melhora da força muscular e do equilíbrio; orientações para promoção da segurança no domicílio e fora dele.

Apesar de o crescente interesse por esta faixa etária, existe um descompasso entre a rapidez

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em que está ocorrendo a transição demográfica e epidemiológica e as ações de atenção à saúde. O que acontece hoje é ter que arcar com o ônus de situações que poderiam ser prevenidas. As políticas destinadas à população idosa devem considerar a capacidade funcional, a necessidade de autonomia, de participação, de cuidado, de autosatisfação. E, especialmente, devem estimular a prevenção, o cuidado e a atenção integral à saúde.

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Referências

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Capítulo 17 - Significados dos Conceitos Utilizados na Prática Clínica pela Equipe Multidisciplinar

Adriana Haack Renata Costa Fortes

Ana Lúcia Ribeiro Salomon

Letra A

• Afagia: impossibilidade de o indivíduo deglutir.

• Afasia: impossibilidade de falar ou entender a palavra que está sendo falada.

• Agnosia: alteração na capacidade de reconhecimento de objetos, pessoas, sons e formas.

• Apeplexia: perda súbita dos sentidos, com aumento da temperatura corpórea, mas sem hemiplegia. É esse o termo mesmo? Ou Apoplexia?

• Apraxia: incapacidade de realização de movimentos motores, mesmo quando os músculos estão íntegros.

• Aptialismo: deficiência ou ausência de secreção salivar.

• Astasia: incapacidade de permanecer em pé, em detrimento da falta de coordenação motora.

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• Ataxia: incapacidade de coordenar os músculos e a locomoção.

• Atividades instrumentais de vida diária (AVD instrumental): referem-se às tarefas necessárias para o cuidado com seu domicílio ou atividades domésticas.

• Atividades avançadas de vida diária (AVD avançada): referem-se às atividades produtivas, recreativas e sociais.

• Autonomia: capacidade individual de decisão e comando sobre as ações (autogoverno), estabelecendo e seguindo as próprias convicções.

Letra C

• Capacidade funcional do idoso: ausência

de dificuldades no desempenho de determinados gestos e atividades da vida cotidiana.

• Comorbidades: presença simultânea, no mesmo indivíduo, de três ou mais doenças, com base em critérios diagnósticos.

• Comprometimento: é o aspecto orgânico representado pela perda e/ou alteração da estrutura ou funções quer sejam psicológicas ou fisiológicas.

• Condição crônica de saúde: termo que engloba as circunstâncias ou condições na saúde das pessoas que exigem resposta dos sistemas de atenção à saúde, mas nem

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sempre são patológicas ou definidas como doenças.

Letra D

• O declínio cognitivo leve (DCL) ou

comprometimento cognitivo leve (CCL) trata- se de um declínio da memória maior do que o esperado para idade, mas que interfere pouco nas atividades de vida diária. Como esquecer o nome das pessoas que não convive no dia-a-dia, deixar de dar o recado que lhe foi pedido, ira ao supermercado e não trazer o que havia proposto comprar, etc. Pessoas com DCL podem permanecer estáveis, mas mais da metade dos casos evolui para uma demência dentro de cinco anos.

• Declínio funcional iminente: síndrome caracterizada pela presença de condições crônicas de saúde preditoras de desfechosclínicos negativos ou adversos (dependência funcional, institucionalização, hospitalização e morte). Essas condições incluem a presença de polipatologia, polifarmácia, sarcopenia, internação recente e risco sociofamiliar elevado.

• Declínio funcional estabelecido: presença de incapacidade funcional ou dependência, com consequente restrição da participação social.

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• Deficiências: disfunções, anormalidades ou problemas nas funções ou estruturas do corpo.

• Demência: refere-se a um grupo de sintomas associados com disfunções neurocognitivas como défits de aprendizagem, memória, tomada de decisões e de linguagem.

• Delirium: estado confusional agudo, correspondendo a uma alteração cognitiva de início agudo e curso flutuante, que envolve distúrbios da consciência, atenção, orientação, memória, pensamento, percepção e comportamento.

• Dinapenia: perda da força e potência muscular, independente da massa muscular.

Letra E

• Envelhecimento ativo: otimização das

oportunidades de saúde, participação e segurança, com o intuito de melhorar a qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento. O termo “envelhecimento ativo” procura transmitir uma mensagem mais abrangente do que “envelhecimento saudável”. Ele busca reconhecer outros fatores que afetam o modo como os indivíduos e as populações envelhecem, além dos cuidados com a saúde.

• Envelhecimento bem-sucedido (Successful aging): termo utilizado para

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identificar idosos que envelheceram livres de comorbidades e sem apresentar nenhum tipo de declínio funcional na cognição, humor, mobilidade e comunicação.

• Expectativa de vida saudável: expressão utilizada como sinônimo de “expectativa de vida sem incapacidades físicas”.

Letra F

• Falência orgânica múltipla (Failure to

thrive): termo utilizado para descrever a síndrome de declínio funcional global caracterizada pela presença cumulativa de fragilidade física (perda de peso, subnutrição e sarcopenia) incapacidade cognitiva (demência, depressão e/ou delirium) e dependência funcional avançada.

• Fragilidade: redução da reserva homeostática e/ou da capacidade de adaptação às agressões biopsicossociais e, consequentemente, maior vulnerabilidade ao declínio funcional.

• Fragilização: é o processo dinâmico de redução da capacidade funcional e aumento progressivo da vulnerabilidade, culminando com o declínio funcional estabelecido.

• Funções Executivas Superiores:

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Letra G

• Geriatria: é o ramo da medicina relacionado ao estudo, à prevenção e ao tratamento de enfermidades e da incapacidade em idades avançadas.

• Gerontologia: que é o estudo do envelhecimento em si; ou seja, dos fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados ao processo de envelhecimento humano.

Letra H

• Hipoprosexia: trata-se de uma redução global na atenção, perda da capacidade de concentração.

Letra I

• Idoso: Que ou quem tem muitos anos de

vida (idade avançada). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pessoa com idade ≥ 60 anos nos países em desenvolvimento e ≥ 65 anos nos países desenvolvidos.

• Incapacidade: termo que inclui deficiências, limitação de atividades ou restrição na participação social.

• Independência: capacidade individual de executar algo com os próprios meios, sem ajuda de outra pessoa.

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Letra L

• Limitação funcional (limitação das atividades): diz respeito às dificuldades que um indivíduo pode encontrar na execução de atividades com lentificação global, mas sem restrição ou impedimento no desempenho das tarefas do cotidiano.

• Longevidade: representa os anos vividos (duração da vida), especialmente acima da média populacional.

Letra M

• Multimorbidade: ver Polipatologia.

Letra P

• Polifarmácia: uso regular e concomitante de

cinco ou mais medicamentos por dia para condições crônicas diferentes.

• Polipatologia: presença de cinco ou mais diagnósticos de condições crônicas de saúde acometendo sistemas fisiológicos diferentes.

Letra Q

• Qualidade de vida: é fortemente

determinada pela habilidade de o indivíduo manter a autonomia e a independência à medida que envelhece. Segundo a OMS (1994), é “a percepção que o indivíduo tem

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de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, seu estado psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação com características proeminentes no ambiente”.

Letra R

• Restrição da participação social: perda da

autonomia e/ ou independência.

Letra S

• Sarcopenia: síndrome clínica caracterizada pela perda progressiva e generalizada da massa muscular esquelética e função muscular.

• Senescência: processo de envelhecimento normal (envelhecimento usual).

• Senescência imunológica: envelhecimento do sistema de defesa imunitário do ser humano.

• Senilidade: processo de envelhecimento patológico.

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• Síndrome da fragilidade (Frailty): síndrome geriátrica, de natureza multifatorial, caracterizada pela diminuição das reservas de energia e resistência reduzida aos estressores, condições essas que resultam do declínio cumulativo dos sistemas fisiológicos.

Letra V

• Velhice: estado ou condição de velho

(idoso). • Vitalidade: capacidade individual de

resistência aos agentes agressores internos e externos, também conhecida como reserva homeostática.

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ANEXO

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ANEXO A

AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA

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1-Paixão CM, Reichenheim ME. Uma revisão sobre instrumentos de avaliação do estado funcional do idoso. Cadernos Saúde Pública 2005: 21(1):7-19. 2-Costa EFA, Monego ET . Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Revista da UFG 2003; 5(2). Disponível em : www.proec.ufg.br . Acesso em: 18 dezembro 2016. 3-Teste do levantar e andar GUG – Podsiadlo D, Richardson S. The timed “Up” & “Go” : a test of basic funcitonal mobility for frail elderly person. J Am Geriatr Soc 1991; 39 (2) : 142-48. 4- Escala de Barthel - Mahoney FI, Barthel DW. Functional evaluation: the Barthel Index. Md State Med J. 1965;14:61-5. 5-Pfeffer RI, Kurosaki TT, Harrah CH Jr, Chance JM, Filos S. Measurement of functional activities in olderadults in the community. J Gerontol. 1982; 37 (3): 323-9. 6-Mini exame do estado mental - Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. Mini-Mental State: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiat Res 1975;12:189-198. 7-Teste do desenho do relógio- Aprahamian , Martinelli JE, Cecato JF, Izbicki R, Yassuda MS. . Can the CAMCOG be a good cognitive test for patients with Alzheimer’s disease with low levels of education? International Psychogeriatrics 2011; 23(1) 96-101. 8-Yesavage JA, Brink TL Rose TL et al. Development and validation of a geriatric depression screening scale: a preliminary report. J Psychiat Res 1983;17:37-49. 9-Guigoz Y, Vellas B, Garry PJ. Mini Nutritional Assessment: pratical assessment tool for granding nutritional state of elderly patients. Facts and Research in Gerontology. 1994; 4(2): 15-59.

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