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Obras do autor publicadas pela Editora Record

Série Assassin’s CreedRenascençaIrmandade

A cruzada secreta

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Tradução deDomingos Demasi

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Bowden, OliverB782c

A cruzada secreta / Oliver Bowden; tradução deDomingos Demasi. – Rio de Janeiro: Galera Record,2012.

(Assassin’s creed; 3)

Tradução de: The Secret CrusadeISBN 978-85-01-40131-1

1. Assassinos - Ficção. 2. Ficção inglesa 3. Livroseletrônicos. I. Demas, Domingos. II.Título. III. Série.

12-5966

CDD: 823CDU: 821.111-3

Título original em inglês:

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Assassin’s Creed: The Secret Crusade

Copyright © 2012 Ubisoft Entertainment. Todos os direitosreservados.

Assassin’s Creed, Ubisoft e logo da Ubisoft são marcasregistradas de Ubisoft Entertainment nos Estados Unidos e/ou

em outros países.

Publicado mediante acordo com Penguin Books LTD.

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de

quaisquer meios. Os direitos morais do autor foramassegurados.

Composição de miolo: Abreu’s System

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da LínguaPortuguesa.

Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesasomente para o Brasil adquiridos pela

EDITORA RECORD LTDA.Rua Argentina 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.:

2585-2000que se reserva a propriedade literária desta tradução.

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Produzido no Brasil

ISBN 978-85-01-40131-1

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nossas promoções.

Atendimento e venda direta ao leitor:[email protected] ou (21) 2585-2002.

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Prólogo

O majestoso navio rangia e gemia; asvelas estavam abauladas, enfunadas pelovento. Há dias longe da terra, ele repartiao oceano em direção à grande cidade dooeste, levando uma carga preciosa: umhomem — um homem que a tripulaçãoconhecia apenas como o Mestre.

Estava entre eles agora, sozinho noconvés do castelo de proa, onde baixara ocapuz do manto para deixar que a água domar batesse no corpo, sentindo-a com orosto contra o vento. Ele fazia isso umavez por dia. Saía de sua cabine e subiapara caminhar pelo convés, escolhia um

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local para contemplar o mar, entãovoltava para baixo. Às vezes ficava noconvés do castelo de proa, às vezes noconvés do tombadilho. Sempre encarava omar cristado de branco.

Todos os dias a tripulação oobservava. Eles trabalhavam, chamandouns aos outros no convés e no cordame,cada qual com um serviço a fazerenquanto a todo momento furtavamolhares à figura solitária e pensativa. Eeles se perguntavam “Que tipo de homemera ele?”, “Que tipo de homem estava emmeio a eles?”.

Agora o estudavam discretamente,enquanto o homem se afastava dabalaustrada do convés e colocava ocapuz. Ele permaneceu ali por ummomento com a cabeça baixa, os braços

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soltos próximos ao corpo, enquanto atripulação o observava. Alguns talvez atémesmo tenham empalidecido quando elecaminhou ao longo do convés, passou poreles e voltou para sua cabine. E quando aporta se fechou às suas costas, cada umdos homens descobriu que estiveraprendendo a respiração.

Lá dentro, o Assassino voltou à suaescrivaninha e sentou-se, enchendo umataça de vinho antes de pegar um livro epuxá-lo em sua direção. Então o abriu. Ecomeçou a ler.

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P A R T E U M

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I

19 de junho de 1257

Maffeo e eu permanecemos em Masyaf econtinuaremos aqui por enquanto. Pelomenos até uma ou duas — como possodizer? — incertezas serem resolvidas.Enquanto isso, estamos sob as ordens doMestre, Altaïr Ibn-La’Ahad. Frustrado porceder o domínio dos nossos destinosdesse modo, principalmente para o líderda Ordem, o qual em sua idade avançadamaneja a ambiguidade com a mesmaprecisão cruel com que outrora manejavaespadas e adagas, eu pelo menos tenho o

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benefício de compartilhar de suashistórias. Maffeo, no entanto, não possuital vantagem e tem ficado cada vez maisinquieto. É compreensível. Está cansadode Masyaf. Não gosta de percorrer asencostas íngremes entre a fortaleza doAssassino e a aldeia abaixo, e o terrenomontanhoso é pouco atraente para ele.Maffeo diz que é um Polo, e após seismeses aqui, o desejo de viajar é como ochamado de uma mulher cheia de curvas:persuasivo e tentador demais para serignorado. Ele anseia por estufar as velas epartir para novas terras, deixando Masyafpara trás.

Falando muito francamente, suaimpaciência é um tormento sem o qualposso viver. Altaïr está à beira de fazerum pronunciamento. Posso sentir isso.

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Então, hoje declarei:— Maffeo, vou te contar uma história.Que modos os desse homem. Somos

realmente parentes?, pergunto a você. Eucomeço a duvidar. Pois, em vez dereceber essa notícia com um entusiasmoque claramente se justificaria, poderiajurar que o ouvi bufar (ou talvez devaacreditar que ele podia simplesmenteestar sem ar por causa do sol quente),antes de me pedir em um tom bastanteexasperado:

— Antes que me conte, Niccolò, vocêse importaria em me dizer do que se trata?

No entanto, continuei:— Essa é uma boa pergunta, irmão —

respondi, e pensei um pouco sobre oassunto enquanto seguíamos nossocaminho, subindo pela terrível encosta.

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Acima de nós a cidadela pairavasombriamente no promontório, como setivesse sido talhada no próprio calcário.Eu tinha decidido que queria o cenárioperfeito para contar minha história, e nãohavia lugar mais apropriado do que afortaleza de Masyaf. Um casteloimponente com muitas torres e cercadopor rios reluzentes, que ocupava umaposição de destaque diante damovimentada aldeia abaixo, oassentamento em um ponto alto dentro doVale do Orontes. Um oásis de paz. Umparaíso.

— Eu diria que é sobre conhecimento— decidi finalmente. — Assasseen, comosabe, representa “guardião” em árabe; osAssassinos são os guardiães dossegredos, e os segredos que guardam são

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de conhecimento, portanto, sim... — Semdúvida pareci muito satisfeito comigomesmo — É sobre conhecimento.

— Então receio ter um compromisso.— Ah?— Eu com certeza acolheria muito bem

uma distração dos meus estudos, Niccolò.Mas não desejo um aumento deles.

Sorri.— Certamente quer ouvir as histórias

que me foram contadas pelo Mestre.— Isso depende. O seu discurso faz

com que elas soem menos do queinteressantes. Sabe quando você diz quetenho tendência a gostar mais decrueldade nas histórias que você meconta?

— Sim.Maffeo deu um meio sorriso.

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— Bom, tem razão, tendo mesmo.— Então terá isso também. Afinal, são

os relatos do grande Altaïr Ibn-La’Ahad.Essa é a história da vida dele, irmão.Acredite em mim, não vão faltaracontecimentos, e muitos deles, vocêficará feliz em perceber, têmderramamento de sangue.

Agora tínhamos subido o antemuro paraa parte externa da fortaleza. Passamos porbaixo da arcada e atravessamos o postode guarda, subindo novamente ao irmosem direção ao castelo no interior. Adiantede nós estava a torre na qual ficava osaposentos de Altaïr. Por semanas eu ovisitei ali e passei incontáveis horas aoseu lado, extasiado, enquanto ele sesentava com as mãos entrelaçadas e oscotovelos sobre os braços da cadeira alta

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contando suas histórias, com os velhosolhos mal podendo ser vistos sob o capuz.E cada vez mais me dava conta de queaquelas histórias estavam sendo contadaspara mim com um propósito. Que, poralgum motivo, ainda incompreensível paramim, eu fora escolhido para ouvi-las.

Quando não contava as histórias, Altaïrrefletia entre livros e lembranças, àsvezes olhando fixamente por longas horaspara fora da janela da sua torre. Ele agoradevia estar lá, pensei, e enganchei opolegar sob a faixa do meu gorro, opuxando de volta e sombreando os olhospara enxergar a torre acima, não vendonada além da pedra descorada pelo sol.

— Temos uma audiência com ele? —Maffeo interrompeu meus pensamentos.

— Não, hoje não — respondi,

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apontando então para uma torre à nossadireita. — Vamos lá para cima...

Maffeo franziu a testa. A torre dedefesa era uma das mais altas da cidadela,e era alcançada por uma série devertiginosas escadas, muitas das quaisparecendo precisar de reparos. Mas euera insistente e enfiei a túnica no cinto,conduzindo em seguida Maffeo acimapara o primeiro nível, depois para oseguinte e finalmente ao topo. De láavistamos toda a zona rural. Quilômetrose quilômetros de terreno escarpado. Rioscomo veias. Agrupamentos de povoados.Olhamos para Masyaf: da fortaleza paraas edificações e os mercados da vastaaldeia lá embaixo, a paliçada de madeirada defesa externa e do estábulo.

— O quão alto estamos? — perguntou

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Maffeo, parecendo um pouco nauseado,sem dúvida consciente de estar sendoesmurrado pelo vento e de que agora ochão parecia muito, muito distante.

— Uns oitenta metros — respondi. —Alto o bastante para deixar os Assassinosfora do alcance de arqueiros inimigos...mas o bastante também para permitir quefaçam chover flechas e muito mais sobreeles.

Mostrei a ele as aberturas que noscercavam por todos os lados.

— Daqui, dos balestreiros, elespoderiam jogar pedras ou óleo sobre oinimigo, usando estas... — Plataformas demadeira se projetavam para fora e nosmovíamos agora por uma delas segurandoem apoios verticais de ambos os lados enos inclinando para olhar para baixo.

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Diretamente sob nós, a torre precipitava-se na borda do despenhadeiro. Ainda maisabaixo, estava o rio reluzente.

Com o sangue sendo drenado do rosto,Maffeo recuou para a segurança do chãoda torre. Eu ri, fazendo o mesmo (e noíntimo contente por fazer isso, já que eumesmo me sentia um pouco tonto eenjoado, verdade seja dita).

— E por que você nos trouxe até aqui?— perguntou Maffeo.

— É onde minha história começa —falei. — De mais de um jeito. Pois foidaqui que o vigia viu a força invasorapela primeira vez.

— Força invasora?— Sim. O exército de Salah Al’din,

também conhecido como Saladino. Eleveio fazer o cerco a Masyaf, para derrotar

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os Assassinos. Oitenta anos atrás, em umdia claro de agosto. Um dia muitoparecido com o de hoje...

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2

Primeiro, o vigia percebeu as aves.Um exército em movimento atrai

comedores de carniça. Principalmente dotipo que tem asas, que mergulha sobrequalquer resto deixado para trás: comida,dejetos e carcaças, tanto de cavalo quantohumana. Em seguida, ele viu a poeira. Eentão uma vasta mancha escura surgiu nohorizonte, projetando-se à frente aospoucos, tragando tudo que estava à vista.Um exército ocupa, rompe e destrói apaisagem; é uma besta-fera gigante efaminta que consome tudo em seu caminhoe, na maioria dos casos — como Salah

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Al’din estava bem ciente —, a mera visãodela era o bastante para levar o inimigo ase render.

Não dessa vez, porém. Não quandoseus inimigos eram os Assassinos.

Para a campanha, o líder sarracenoconvocara uma modesta força de dez milsoldados de infantaria, cavalaria eseguidores. Com eles, planejava esmagaros Assassinos, que já haviam cometidodois atentados à sua vida e certamente nãofracassariam uma terceira vez.Pretendendo levar a batalha para a portadeles, o sarraceno conduziu seu exércitopara as montanhas de An-Nusayriyah e àsnove cidadelas dos Assassinos que havialá.

Chegaram mensagens a Masyaf de queos homens de Salah Al’din tinham

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saqueado a zona rural, mas que nenhumdos fortes havia sucumbido. E que SalahAl’din estava a caminho de Masyaf com apretensão de conquistá-la e reivindicar acabeça do líder Assassino, Al Mualim.

Salah Al’din era considerado um líderbrando e imparcial, mas se enfurecia comos Assassinos tanto quanto se intimidava.Segundo os relatos, seu tio, ShihabAl’din, o aconselhou a oferecer umacordo de paz. Ter os Assassinos a seulado, e não contra, era o raciocínio deShihab. Mas o vingativo sultão não secomoveu, e foi assim que seu exércitofervilhou em direção a Masyaf em umradiante dia de agosto de 1176, e um vigiana torre de defesa da cidadela avistou asrevoadas de pássaros, as grandes nuvensde poeira e a mancha negra no horizonte, e

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levou uma corneta aos lábios, soando oalarme.

Depois de estocar suprimentos, apopulação da cidade se mudou para asegurança da cidadela, apinhando-se nospátios com os rostos marcados pelo medo,mas muitos deles montavam barracas paracontinuar a negociar. Enquanto isso, osAssassinos começaram a fortificar ocastelo, preparando-se para enfrentar oexército, observando a mancha seestender pela bela paisagem verde, agrande besta-fera alimentando-se doterreno, colonizando o horizonte.

Eles ouviram as cornetas, os tamborese címbalos. E em pouco tempoconseguiram distinguir as figuras àmedida que se materializavam domormaço: milhares delas, eles viram. A

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infantaria: lanceiros, arremessadores dedardos e arqueiros, armênios, núbios eárabes. A cavalaria: árabes, turcos emamelucos portando sabres, maças,lanças e espadas longas, alguns usandocotas de malha de ferro, outros, armadurasde couro. Viram as liteiras das mulheresda nobreza, os homens santos e osdesordenados seguidores na retaguarda:as famílias, as crianças e os escravos.Eles viram quando os guerreirosinvasores alcançaram a defesa externa e aincendiaram, e os estábulos também, comas cornetas ainda ressoando, os címbalosestrepitando. No interior da cidadela, asmulheres da aldeia começaram a chorar.Previam que suas casas seriam ospróximos alvos das tochas. Asedificações, porém, foram deixadas

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intocadas e, em vez disso, o exércitoparou na aldeia, dando pouca atenção aocastelo — ou assim parecia.

Não mandaram nenhum enviado,nenhuma mensagem; simplesmentemontaram acampamento. A maioria dastendas era negra, mas, no meio doacampamento, havia um punhado depavilhões maiores, os aposentos dogrande sultão Salah Al’din e de seusgenerais mais próximos. Ali, bandeirasbordadas esvoaçavam; as pontas dasestacas das tendas eram romãs douradas,e as coberturas dos pavilhões eram deseda colorida.

Na cidadela, os Assassinos meditavamsobre a tática do inimigo. Salah Al’dinatacaria a fortaleza ou tentaria matá-los defome? Com o cair da noite, tiveram a

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resposta. Abaixo deles, o exércitocomeçou a agir, reunindo os mecanismosde cerco. Fogueiras queimaram durante anoite toda. Os sons de serras e martelos seavolumavam nos ouvidos daqueles queguarneciam os bastiões da cidadela e atorre do Mestre, onde Al Mualimconvocou uma reunião com seus MestresAssassinos.

— Salah Al’din nos foi entregue —declarou Faheem al-Sayf, um MestreAssassino. — Esta é uma oportunidadeque não pode ser desperdiçada.

Al Mualim pensou. Olhou pela janelada torre, pensando no colorido pavilhãono qual Salah Al’din estava então sentadoplanejando sua queda — e a dosAssassinos. Pensou no grande exército dosultão e em como ele tinha devastado a

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zona rural. Como o sultão seria mais doque capaz de reunir uma tropa ainda maiorse sua campanha fracassasse.

Salah Al’din tinha um poderincomparável, meditou ele. Mas osAssassinos... eles tinham astúcia.

— Com Salah Al’din morto, osexércitos sarracenos irão ruir — afirmouFaheem.

Mas Al Mualim balançava a cabeça.— Creio que não. Shihab tomará seu

lugar.— Ele é metade do líder que Salah

Al’din é.— Então ele seria menos eficaz

repelindo os cristãos — rebateu AlMualim, bruscamente. Ele às vezes secansava dos modos manhosos de Faheem.— Desejamos ficar à mercê deles?

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Desejamos nos tornar a contragosto seusaliados contra o sultão? Somos osAssassinos, Faheem. Nosso propósito énosso. Não pertencemos a ninguém.

O silêncio caiu sobre o aposento deodor adocicado.

— Salah Al’din é tão cauteloso com agente quanto somos com ele — disseMualim, após uma reflexão. — Devemoscuidar para que ele se torne ainda maiscauteloso.

Na manhã seguinte, os sarracenosempurraram um aríete e uma torre decerco encosta principal acima. E,enquanto os arqueiros montados dosturcos abriam caminho, levando umachuva de flechas à cidadela, os soldadosatacavam as muralhas externas com suasarmas de cerco, sob fogo constante dos

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arqueiros Assassinos e com pedras e óleosendo despejados das torres de defesa.Aldeões se juntaram à batalha, atirando,dos bastiões, pedras nos inimigos eapagando os incêndios. Nos portõesprincipais, corajosos Assassinos faziamataques pelas portinholas, combatendo ainfantaria que tentava derrubá-los a fogo.O dia terminou com muitos mortos emambos os lados, mas com os sarracenosrecuando colina abaixo, acendendo suasfogueiras para a noite, consertando suasarmas de cerco e montando outras mais.

Naquela noite, houve uma intensaagitação no acampamento e, pela manhã, oenorme pavilhão de cores brilhantes dogrande Salah Al’din foi derrubado e elepartiu, levando consigo uma pequenatropa de guarda-costas.

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Logo depois, seu tio, Shihab Al’din,subiu a encosta para se dirigir ao Mestredos Assassinos.

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3

— Sua Majestade Salah Al’din recebeusua mensagem e agradece a você muitogentilmente por ela — bradou o enviado.— Ele tem um assunto para cuidar emoutro lugar e partiu, deixando instruçõespara que Sua Excelência Shihab Al’dinconduza as conversas.

O enviado estava parado ao lado docavalo de Shihab, com a mão em conchana boca para gritar para o Mestre e seusgenerais, que estavam reunidos na torre dedefesa.

Uma pequena tropa havia escalado acolina, mais ou menos duzentos homens e

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uma liteira carregada por núbios, nãomais do que a guarda de Shihab, quepermanecia montado no cavalo. Em seurosto havia uma expressão serena, comose não estivesse muito preocupado com oresultado das conversas. Ele vestia calçasbrancas largas, colete e faixa vermelhatorcida. Preso em seu enorme turbante deum branco ofuscante havia uma joiaresplandecente. Essa joia devia ter umnome ilustre, pensou Al Mualim, olhandopara baixo, do topo da torre, em direção aele. Deveria se chamar a Estrela de algoou a Rosa de alguma coisa. Os sarracenostinham o costume de nomear suasbugigangas.

— Comece — gritou Al Mualim,sorrindo enquanto pensava, Negócios emoutro lugar, e sua mente voltava para

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apenas poucas horas antes, quando umAssassino fora aos seus aposentos,tirando-o de um sono leve e chamando-o àsala do trono.

— Umar, seja bem-vindo — dissera AlMualim, envolvendo o corpo com omanto, sentindo nos ossos a friagem damanhãzinha.

— Mestre — respondera Umar, a vozbaixa e a cabeça curvada.

— Veio me falar da sua missão? —perguntara-lhe Al Mualim.

Ele acendeu uma lâmpada a óleo emuma corrente e então foi para sua cadeira,acomodando-se nela. Sombras moveram-se rapidamente pelo chão.

Umar confirmou com a cabeça. Haviasangue em sua manga, notou Al Mualim.

— A informação do nosso agente

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estava correta?— Estava, Mestre. Fui até o

acampamento deles e, exatamente comonos foi dito, o pavilhão espalhafatoso eraum disfarce. A tenda de Salah Al’dinficava perto, estava muito menos visível.

Al Mualim sorriu.— Excelente, excelente. E como foi

capaz de identificá-la?— Estava protegida, como o nosso

espião disse que estaria, com giz e carvãoespalhados em volta para que os meuspassos fossem ouvidos.

— E não foram?— Não, Mestre, eu consegui entrar na

tenda do sultão e deixar a pena, como foiinstruído a mim.

— E a carta?— Presa por uma adaga em seu catre.

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— E depois?— Rastejei para fora da tenda...— E?Houve uma pausa.— O sultão acordou e soou o alarme.

Mal consegui escapar vivo.Al Mualim apontou para a manga suja

de sangue de Umar.— E isso?— Fui forçado a cortar uma garganta

para fugir, Mestre.— Um guarda? — perguntou Al

Mualim, esperançoso.Umar balançou tristemente a cabeça.— Ele usava um turbante e uma roupa

de nobre.Diante disso, Al Mualim fechou os

olhos cansados e pesarosos.— Não havia outra opção?

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— Eu agi impulsivamente, Mestre.— Mas, fora isso, a missão foi bem-

sucedida?— Sim, Mestre.— Então veremos o que vai acontecer

— disse ele.O que aconteceu foi a saída de Salah

Al’din e a visita de Shihab. E, do alto desua torre, Al Mualim se permitiraacreditar que os Assassinos tinham levadoa melhor. Que seu plano funcionara. Amensagem dele alertara o sultão para queabandonasse sua campanha contra osAssassinos, pois a próxima adaga nãoseria enfiada no seu catre, mas na suagenitália. Apenas pelo fato de terem sidocapazes de deixá-la ali, mostrava aomonarca o quanto ele era realmentevulnerável; como sua grande força nada

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adiantava quando um único Assassinoconseguia descobrir suas armadilhas,superar seus guardas e facilmente entrardespercebido em sua tenda enquantodormia.

E talvez Salah Al’din gostasse mais desua genitália do que de continuar seguindoem uma desgastante guerra, longa e cara,contra um inimigo cujos interesses apenasraramente entraram em conflito com osseus. Portanto partira.

— Sua Majestade Salah Al’din aceitasua oferta de paz — disse o enviado.

Na torre, Al Mualim compartilhou umolhar divertido com Umar, que seencontrava a seu lado. Mais distante,estava Faheem, com a boca inexpressiva.

— Temos sua garantia de que nossaseita pode operar sem futuras hostilidades

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e interferências nas nossas atividades? —indagou Al Mualim.

— Desde que os interesses permitam,vocês têm essa garantia.

— Então aceito a oferta de SuaMajestade — bradou Al Mualim,contente. — Podem retirar seus homens deMasyaf. Talvez vocês sejam bondosos obastante para consertar a nossa paliçadaantes de partirem.

Nesse momento, Shihab olhouabruptamente para a torre acima e, apesarda grande distância, Al Mualim viu araiva flamejar nos olhos dele. Shihabcurvou-se sobre seu cavalo para falar como enviado, que ouviu, assentindo com acabeça, então pôs a mão em concha naboca de novo para mais uma vez se dirigiraos que estavam na torre.

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— Durante a entrega da mensagem, umdos generais de confiança de Salah Al’dinfoi morto. Sua Majestade exige reparação.A cabeça do culpado.

O sorriso deixou o rosto de Al Mualim.A seu lado, Umar ficou tenso.

Fez-se silêncio. Apenas o bufar doscavalos. O canto dos passarinhos. Todosesperavam para ouvir a resposta de AlMualim.

— Pode dizer ao sultão que rejeito essaexigência.

Shihab deu de ombros. Curvou-se parafalar com o enviado, que por sua vez sedirigiu a Al Mualim.

— Sua Excelência deseja informar que,a não ser que concorde com a exigência,uma tropa permanecerá aqui em Masyaf, eque nossa paciência é maior do que as

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suas provisões. Queria um acordo de pazem troca de nada? Permitiria que seupovo e seus soldados morressem defome? Tudo por causa da cabeça de umúnico Assassino? Sua Excelência esperaencarecidamente que não.

— Eu irei — cochichou Umar para AlMualim. — O erro foi meu. É justo que eupague por ele.

Al Mualim o ignorou.— Não abrirei mão da vida de um dos

meus homens — berrou para o enviado.— Então Sua Excelência lamenta sua

decisão e pede que testemunhe umaquestão que agora necessita de umasolução. Descobrimos a existência de umespião em nosso acampamento, e ele deveser executado.

Al Mualim prendeu a respiração

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quando os sarracenos arrastaram da liteirao agente dos Assassinos. Atrás dele veioum cepo de execução que dois núbioscolocaram no chão diante do cavalo deShihab.

O nome do espião era Ahmad. Tinhasido espancado. A cabeça — golpeada,ferida e suja de sangue — tombava sobreo peito enquanto ele era carregado para ocepo, arrastado sobre os joelhos ecolocado em cima dele com a gargantapara cima. O carrasco deu um passo àfrente: um turco carregando uma reluzentecimitarra que pousou no chão, apoiandoambas as mãos no cabo adornado comjoias. Os dois núbios seguraram os braçosde Ahmad; ele gemeu um pouco, e o somalcançou até os perplexos Assassinos noalto da torre de defesa.

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— Deixe seu homem tomar o lugar delee esta vida será poupada, e o tratado depaz, honrado — bradou o mensageiro. —Se ele não morrer, o cerco será iniciado eseu povo morrerá de fome.

Subitamente, Shihab ergueu a cabeçapara gritar.

— Quer isso em sua consciência, UmarIbn-La’Ahad?

Ao mesmo tempo, todos os Assassinosprenderam a respiração. Ahmad haviaconfessado. Sob tortura, é claro. Mashavia confessado.

Os ombros de Al Mualim baixaram.Umar estava fora de si.— Deixe-me ir — insistiu com Al

Mualim. — Por favor, Mestre.Abaixo deles, o carrasco deixou os pés

afastados. Com as duas mãos, ergueu a

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espada acima da cabeça. Ahmad puxousuas mãos fracamente das mãos que oimobilizavam. Sua garganta estavaesticada, oferecida à lâmina. Exceto pelalamúria dele, o promontório estavasilencioso.

— Sua última chance, Assassino —gritou Shihab.

A lâmina brilhou.— Mestre — implorou Umar —,

deixe-me ir.Al Mualim concordou com a cabeça.— Pare! — gritou Umar, que avançou

para uma plataforma da torre, berrandopara Shihab, abaixo. — Eu sou Umar Ibn-La’Ahad. É a minha vida que vocêsdevem tirar.

Houve uma onda de agitação entre asfileiras de sarracenos. Shirab sorriu,

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assentindo. Acenou para o carrasco, quese afastou, pousando mais uma vez suaespada no chão.

— Muito bem — falou para Umar. —Venha, tome seu lugar no cepo.

Umar virou-se para Al Mualim, queergueu a cabeça para fitá-lo com os olhosavermelhados.

— Mestre — disse Umar —, peço-lheum último favor. Que cuide de Altaïr.Aceite-o como seu aprendiz.

Al Mualim fez que sim com a cabeça.— Claro, Umar — disse ele. — Claro.Houve silêncio pela cidadela enquanto

Umar descia as escadarias da torre,depois desceu a encosta pelo antemuro,passou sob a arcada e foi até o portãoprincipal. Uma sentinela se adiantou paraabrir a portinhola, e Umar se curvou para

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passar por ela.Um grito surgiu atrás dele.— Pai.O som de pés correndo.Ele parou.— Pai.Ele ouviu a tensão na voz do filho e, ao

passar pelo portão, apertou os olhos paraevitar as lágrimas. A sentinela fechou oportão às suas costas.

Tiraram Ahmad do cepo, e Umar tentoudar um olhar tranquilizador para ele, maso espião não fez contato visual ao serarrastado para longe e jogado do lado defora da portinhola. Esta foi aberta e elefoi puxado para dentro. A portinholavoltou a se fechar. Braços agarraramUmar. Ele foi puxado para o cepo,estendido do mesmo modo como havia

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sido feito com Ahmad. Umar ofereceu agarganta e observou enquanto o carrascoassomava acima dele. Mais além docarrasco, o céu.

“Pai”, ele ouviu da cidadela, quando alâmina brilhante desceu cortando.

Dois dias depois, protegido pelaescuridão, Ahmad deixou a fortaleza. Namanhã seguinte, quando seudesaparecimento foi descoberto, houvequem se perguntasse como ele foi capazde deixar o filho sozinho — a mãe tinhamorrido da febre dois anos antes —,enquanto outros disseram que a vergonhafoi demais para ele, que foi por isso quefora forçado a partir.

A verdade era algo totalmentediferente.

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4

20 de junho de 1257

Esta manhã acordei com Maffeosacudindo meu ombro — nãoespecialmente com delicadeza, devoacrescentar. No entanto, sua insistênciafoi motivada pelo interesse na minhahistória. Eu deveria pelo menos agradecerpor isso.

— E aí? — perguntou ele.— E aí o quê? — Se pareci sonolento...

bem, é porque estava mesmo.— O que aconteceu com Ahmad?— Isso descobri muito depois, irmão.

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— Então me conta.Enquanto me sentava na cama, pensei

um pouco sobre a questão.— Acho melhor contar as histórias

exatamente como foram contadas paramim — falei finalmente. — Altaïr, apesarde estar mais velho, é um excelentecontador de histórias. Acho que devorepetir a narrativa dele. E o que contei avocê ontem tornou-se a parte principal doprimeiro encontro que tivemos. Umepisódio que aconteceu quando ele tinhaapenas 11 anos.

— Traumático para qualquer criança— refletiu Maffeo. — E a mãe dele?

— Morreu no parto.— Altaïr ficou órfão aos 11 anos?— Exatamente.— O que aconteceu com ele?

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— Bem, você sabe o que aconteceu.Ele se sentou na torre e...

— Não, quero dizer, o que aconteceucom ele depois?

— Isso também terá de esperar, irmão.Na vez seguinte em que me encontrei comAltaïr ele havia mudado o foco danarrativa para 15 anos à frente, para o diaem que se encontrou se arrastando porescuras catacumbas gotejantes sobJerusalém...

O ano era 1191, mais de três anos desdeque Salah Al’din e seus sarracenoshaviam conquistado Jerusalém. Emreação, os cristãos haviam rangido osdentes, batido os pés e taxado seu povo afim de obter fundos para a TerceiraCruzada — e, mais uma vez, homens em

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cota de malha de ferro haviam marchadosobre a Terra Santa e sitiado suascidades.

O rei Ricardo da Inglaterra, a quemchamavam de Coração de Leão — tãocruel quanto corajoso — tinhareconquistado Acre recentemente, mas seumaior desejo era retomar Jerusalém, umlugar sagrado. E nenhum local deJerusalém era mais sagrado do que oMonte do Templo e as ruínas do Templode Salomão; para onde Altaïr, Malik eKadar se arrastavam.

Eles se movimentavam depressa masfurtivamente, agarrados às laterais dostúneis, com suas botas macias malremexendo a areia. Altaïr ia à frente,Malik e Kadar poucos passos atrás.Todos estavam com os sentidos

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sintonizados com os arredores, com apulsação acelerando à medida que seaproximavam do Monte. As catacumbasacusavam completamente os milhares deanos que tinham. Altaïr podia ver areia epó escoando dos instáveis suportes demadeira, enquanto debaixo dos pés o soloera mole, de uma areia molhada com aágua que gotejava constantemente de cima— de alguma espécie de curso de águapróximo. O ar era espesso com o cheirode enxofre que vinha das lanternasensopadas de betume que se enfileiravamnas paredes dos túneis.

Altaïr foi o primeiro a ouvir osacerdote. Claro que foi. Ele era o líder, oMestre Assassino; suas habilidades erammaiores e seus sentidos, mais aguçados.Ele parou. Tocou a orelha, depois ergueu

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a mão, e os três ficaram imóveis, comoespectros na passagem. Quando Altaïrolhou para trás, estavam esperando suapróxima ordem. Os olhos de Kadarbrilhavam de expectativa; os de Malikestavam atentos e impassíveis.

Todos prenderam a respiração. Emvolta deles a água pingava, e Altaïr ouviuatentamente os murmúrios do sacerdote.

A falsa piedade cristã de umTemplário.

Então Altaïr colocou as mãos atrás dascostas e moveu o pulso para liberar sualâmina, sentindo a tração familiar nomecanismo do anel que usava no dedomínimo. Ele mantinha a lâmina em boacondição para que o ruído que fazia ao serliberada fosse quase inaudível, mas, porvia das dúvidas, seguiu o ritmo do

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gotejar.Plim... plim... plinc.Colocou os braços para a frente, e a

lâmina na mão esquerda brilhou com a luztremeluzente de tochas, sedenta porsangue.

A seguir, Altaïr encostou o corpocontra a parede do túnel e avançousorrateiramente, virando em uma pequenacurva até poder enxergar o sacerdoteajoelhado no túnel. Ele usava os mantosde um Templário, o que só podiasignificar que havia outros mais adiante,provavelmente em meio às ruínas doTemplo. Em busca do tesouro deles, semdúvida.

Seu coração se acelerou. Eraexatamente como havia imaginado. Que acidade, sob o controle de Salah Al’din,

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não ia parar os homens da cruz vermelha.Eles também tinham assuntos a cuidar noMonte. Que assuntos? Altaïr pretendiadescobrir, mas, primeiro...

Primeiro precisava cuidar dosacerdote.

Bem agachado, ele se aproximou dohomem ajoelhado, que rezava, alheio àaproximação da morte. Mudando seu pesopara o pé da frente e curvandoligeiramente o joelho, Altaïr ergueu alâmina com a mão recuada, pronta paraatacar.

— Espere! — sussurrou Malik atrásdele. — Deve haver outro meio... Este aínão precisa morrer.

Altaïr o ignorou. Com um movimentosuave, agarrou o ombro do sacerdote coma mão direita e, com a esquerda, enfiou a

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ponta da lâmina em sua nuca, fazendo umcorte entre o crânio e a primeira vértebrada coluna, que separou a espinha.

O sacerdote não teve tempo de gritar: amorte foi quase instantânea. Quase. Ocorpo se sacudiu e se retesou, mas Altaïro agarrou com firmeza, sentindo a vidadele se esvair enquanto o segurava comum dedo em sua carótida. Lentamente, ocorpo relaxou, e Altaïr deixou que elecaísse silenciosamente no chão, ondepermaneceu, espalhando uma poça desangue na areia.

Fora rápido, silencioso. Mas, quandorecolheu a lâmina, Altaïr viu o modocomo Malik o olhava e a acusação emseus olhos. Tudo o que pôde fazer foireprimir um riso de escárnio diante dafraqueza de Malik. O irmão de Malik,

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Kadar, por outro lado, até o momentoolhava para baixo, para o corpo dosacerdote, com um misto de admiração eassombro.

— Um excelente golpe — comentouele, esbaforido. — A sorte favorece sualâmina.

— Sorte, não — gabou-se Altaïr —,habilidade. Observe um pouco mais epoderá aprender alguma coisa.

Enquanto falava, observou Malikatentamente, vendo os olhos do Assassinobrilharem raivosamente; invejosos, semdúvida, do respeito que Kadar dedicava aAltaïr.

E então Malik dirigiu-se ao irmão.— Realmente. Ele o ensinará a

desconsiderar tudo o que o Mestre nosensinou.

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Altaïr riu outra vez.— E como você teria feito?— Eu não teria atraído atenção para

nós. Não teria tirado a vida de uminocente.

O Assassino suspirou.— Não importa o modo como

completamos a nossa tarefa, apenas queseja feita.

— Mas esse não é o modo... —começou Malik.

Altaïr dirigiu-lhe um olhar fixo.— Meu modo é melhor.Por um ou dois momentos os dois

homens se encararam. Mesmo no túnelescuro, frio e gotejante, Altaïr pôde sentira insolência e o ressentimento nos olhosde Malik. Precisaria ter cuidado com isso,ele sabia. Parecia que o jovem Malik era

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um inimigo em potencial.Se, porém, tinha a intenção de derrubar

Altaïr, Malik evidentemente decidiu queagora não era o momento certo para agir.

— Vou fazer um reconhecimento daárea adiante — disse ele. — Tente nãonos desonrar ainda mais.

Qualquer castigo por essainsubordinação em particular teria deesperar, decidiu Altaïr quando Malikpartiu, subindo pelo túnel em direção aoTemplo.

Kadar observou-o ir, então virou-separa Altaïr.

— Qual é a nossa missão? —perguntou. — Meu irmão não me dissenada, apenas que eu devia ficar honradopor ter sido convocado.

Altaïr olhou atentamente para o

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entusiasmado rapaz.— O Mestre acredita que os

Templários encontraram alguma coisa sobo Monte do Templo.

— Um tesouro? — encantou-se Kadar.— Não sei. O que importa é que o

Mestre considera essa coisa importante,ou não teria me pedido para recuperá-la.

Kadar assentiu e, diante de um aceno demão de Altaïr, correu para se juntar aoirmão, deixando-o sozinho no túnel. Eleolhou para baixo, meditando, diante docorpo do sacerdote, agora com umaauréola de sangue sobre a areia em voltada cabeça. Talvez Malik tivesse razão.Havia outros meios de silenciar osacerdote — ele não precisava termorrido. Mas Altaïr o matara porque...

Porque ele podia.

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Porque ele era Altaïr Ibn-La’Ahad,filho de um Assassino. O mais habilidosode todos da Ordem. Um MestreAssassino.

Ele partiu, chegando a uma série defossas. Uma névoa flutuava nasprofundezas dela, e ele saltou comfacilidade para a primeira viga mestra,pousando agilmente e agachando-se comoum gato. Respirava serenamente,desfrutando o próprio poder e preparofísico.

Saltou para a seguinte e a seguinte, echegou onde Malik e Kadar estavamparados à espera. Mas, em vez de sejuntar a eles, passou direto. O som de seuspés soou como um sussurro no chão, malremexendo a areia. Adiante havia umaescada alta e ele a alcançou em uma

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corrida, subindo rápida e silenciosamente,diminuindo a velocidade somente aoatingir o topo, onde parou, ouvindo efarejando o ar.

Então, muito lentamente, ergueu acabeça para ver uma câmara elevada, eali, como esperava, havia um guarda comas costas para ele, usando o traje de umTemplário: túnica acolchoada, perneiras,cota de malha, espada na cintura. Altaïr,silencioso e imóvel, o estudou por ummomento, observando sua postura, ainclinação dos ombros. Bom. Ele estavacansado e distraído. Seria fácil silenciá-lo.

Lentamente, Altaïr se abaixou até osolo, onde ficou agachado por ummomento, controlando a respiração eobservando o Templário com cuidado

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antes de se adiantar por trás dele,endireitando-se e erguendo as mãos: aesquerda, como uma garra; a direita,pronta para alcançar e silenciar o guarda.

Então atacou, destravando o mecanismono pulso para desengatar a lâmina, quesaltou no mesmo instante em que ele acravava na espinha do guarda e estendia amão direita para abafar o grito do homem.

Por um segundo permaneceram em umabraço macabro, Altaïr sentindo sob amão o escoar do amortecido grito final desua vítima. Então o guarda ia desabando eAltaïr o deitou delicadamente no chão,inclinando-se para tocar com leveza suaspálpebras. Ele fora castigado severamentepor ter falhado como vigia, pensou Altaïrao se endireitar, livrando-se do corpo esaindo dali para juntar-se a Malik e

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Kadar, que se arrastavam por baixo daarcada que estivera tão miseravelmentevigiada.

Uma vez do outro lado, encontraram-seno andar superior de uma ampla câmara e,por um momento, Altaïr parou paraabsorver aquilo, sentindo-se intimidadode repente. Aquela era a ruína do lendárioTemplo de Salomão, supostamenteconstruído em 960 a.C. pelo rei Salomão.Se Altaïr estivesse correto, agora estavamcontemplando do alto o maior aposento doTemplo, seu Santuário. Textos antigosfalam do Santuário como tendo suasparedes revestidas de cedro, querubinsesculpidos, palmeiras e flores abertasrealçadas com ouro, mas o Templo agoraera uma sombra do seu passado. Haviamsumido os enfeites de madeira, os

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querubins e os acabamentos em ouro —para onde foram, Altaïr podia apenasimaginar, embora tivesse algumas dúvidasde que os Templários haviam tido umaparticipação nisso. Porém, mesmodespido de seu dourado, ainda era umlocal de reverência e, a despeito de simesmo, Altaïr descobriu-se maravilhadoem vê-lo.

Atrás dele, seus dois companheirosestavam ainda mais boquiabertos.

— Ali... deve ser a Arca — disseMalik, apontando para o outro lado dacâmara.

— A Arca da Aliança — arfou Kadar,ao vê-la também.

Altaïr havia se recuperado e, olhandopara trás, viu os dois homens paradoscomo uma dupla de mercadores idiotas

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deslumbrados com a visão de bugigangasreluzentes. Arca da Aliança?

— Não sejam bobos — repreendeu-os.— Isso não existe. É só uma história.

Olhando adiante, porém, ele teve menoscerteza. De fato a caixa tinha todas aspropriedades da lendária Arca. Eraexatamente como os profetas sempre atinham descrito: toda blindada em ouro,com uma tampa dourada enfeitada com umquerubim e argolas para se enfiar asestacas que seriam usadas para carregá-la. E havia algo em relação a ela,constatou Altaïr. A Arca possuía umaaura...

Afastou os olhos, contra a vontade.Assuntos mais importantes precisavam daatenção dele, isto é, os homens que tinhamacabado de entrar no andar inferior, as

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botas esmagando o que algum dia tinhasido um assoalho com folhas de abeto,mas que agora era de pedra. Templários.E o líder já vociferava ordens.

— Quero isso passando pelo portãoantes do nascer do sol — disse a eles,sem dúvida referindo-se à Arca. —Quanto mais cedo a possuirmos, maiscedo poderemos voltar nossa atençãoàqueles chacais de Masyaf.

Ele falou com sotaque francês e, aoficar na luz, viram sua capa característica— a capa de Grão-Mestre Templário.

— Robert de Sablé — disse Altaïr. —Sua vida é minha.

Malik aproximou-se furiosamente.— Não. Fomos mandados para

recuperar o tesouro e lidar com Robertapenas se necessário.

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Altaïr, cansado dos constantes desafiosde Malik, virou-se para ele.

— Ele está entre nós e o tesouro —sussurrou raivosamente. — Eu diria que énecessário.

— Discrição, Altaïr — insistiu Malik.— Quer dizer covardia. Aquele homem

é o nosso maior inimigo... E aqui temosuma chance de nos livrar dele.

Ainda assim, Malik argumentou.— Você já infringiu dois princípios do

nosso Credo. Agora quer infringir oterceiro. Não comprometa a Irmandade.

Finalmente, Altaïr explodiu.— Eu sou seu superior. Em título e

habilidade. Você deveria saber que não ébom me questionar. — E, dito isso, virou-se, descendo rapidamente a primeiraescada até uma sacada mais embaixo,

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depois para o chão, onde caminhouconfiantemente a passos largos emdireção ao grupo de cavaleiros.

Eles o viram chegar e viraram-se paraenfrentá-lo, com as mãos nos cabos dasespadas e os queixos firmes. Altaïr sabiaque o observavam, olhavam o Assassinoque atravessava o chão na direção deles,com o rosto oculto pelo capuz, o manto ea faixa vermelha tremulando à sua volta, aespada na cintura e os cabos das espadascurtas à mostra sobre o ombro direito. Elereconhecia o medo que sentiam.

E ele, por sua vez, os observava,avaliando mentalmente cada homem: qualdeles era um espadachim destro, quallutava com a esquerda; quem era o maisveloz e quem seria o mais forte, prestandoatenção especial no líder.

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Robert de Sablé era o maior deles, omais forte. Sua cabeça era raspada, eestampados em seu rosto havia anos deexperiência, cada um deles tendocontribuído para a lenda que era, umcavaleiro tão famoso pela habilidade coma espada quanto pela crueldade edesumanidade. E isso Altaïr sabia acimade tudo: dos homens presentes ele era delonge o mais perigoso. Precisava serneutralizado primeiro.

Ouviu Malik e Kadar descerem asescadas e olhou de relance para trás a fimde ver se o seguiam. Kadar estavaengolindo em seco, nervoso, e os olhos deMalik evidenciavam desaprovação. OsTemplários ficaram ainda mais tensos aoverem mais dois Assassinos; o númeroagora estava mais equilibrado. Quatro

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deles cercaram De Sablé. Cada homemalerta. O ar denso de medo e expectativa.

— Esperem, Templários — exclamouAltaïr quando estava perto o bastante doscinco cavaleiros. Dirigiu-se a De Sablé,que estava com um leve sorriso nos lábiose as mãos soltas. Não como seuscompanheiros, prontos para o combate,mas relaxado, como se a presença dos trêsAssassinos significasse muito pouco paraele. Altaïr faria com que ele pagasse pelasua arrogância. — Vocês não são osúnicos com negócios aqui — acrescentou.

Os dois homens se avaliaram. Altaïrmovimentou a mão direita, como seestivesse prestes a segurar o cabo daespada que estava no cinto, querendomanter ali a atenção de De Sablé, quando,de fato, a morte cortaria suavemente vinda

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da esquerda. Sim, decidiu. Distraia-omovimentando a mão direita, ataque coma esquerda. Ao atacar Robert de Sablécom a lâmina, seus homens fugiriam,deixando que os Assassinos recuperassemo tesouro. Todos iriam comentar a grandevitória de Altaïr sobre o Grão-MestreTemplário. Malik — aquele covarde —seria silenciado, seu irmão ficarianovamente estupefato, e, na volta deles aMasyaf, os membros da Ordemvenerariam Altaïr. Al Mualim ohomenagearia pessoalmente, e o caminhodele para a posição de Mestre estariaassegurado.

Altaïr olhou nos olhos do oponente. Demodo imperceptível, flexionou a mãoesquerda, testando a tensão do mecanismoda lâmina. Ele estava pronto.

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— E o que é que você quer? —perguntou De Sablé, com o mesmo sorrisodespreocupado.

— Sangue — disse simplesmenteAltaïr, e atacou.

Com uma velocidade inumana, saltoupara De Sablé, ao mesmo tempo batendode leve na lâmina, simulando ummovimento com a mão direita e atacando,tão veloz e tão mortal como uma naja,com a esquerda.

O Grão-Mestre Templário, porém, eramais rápido e astuto do que ele haviaprevisto. Deteve o Assassino durante oataque, aparentemente com facilidade,tanto que Altaïr teve de parar onde estava,incapaz de se mexer, subjugado de repente— e de modo pavoroso — à impotência.

E, naquele momento, Altaïr se deu

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conta de que cometera um erro grave. Umerro fatal. Naquele momento, percebeuque não era De Sablé o arrogante: era elemesmo. De repente, não se sentiu maiscomo Altaïr, o Mestre Assassino. Sentiu-se como uma criança frágil e indefesa.Pior, uma criança vaidosa.

Debateu-se e descobriu que malconseguia se mexer, De Sablé continha-ofacilmente. Altaïr sentiu uma fortepunhalada de vergonha, pensando emMalik e Kadar vendo-o ser subjugado. Amão de De Sablé apertou sua garganta eele se viu ofegando em busca de arenquanto o Templário empurrava seurosto. Uma veia em sua testa latejava.

— Você não conhece as coisas nasquais se mete, Assassino. Vou poupar suavida apenas para que possa voltar ao seu

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Mestre e transmitir esta mensagem: aTerra Santa está perdida para ele e paravocê. Agora ele deve fugir, enquanto tema chance. Se ficar, todos vocês morrerão.

Altaïr sufocou e tossiu, enquanto oscantos de sua visão começavam adesaparecer. Lutava contra ainconsciência quando De Sablé o viroutão facilmente quanto se estivessemanuseando um recém-nascido e o jogouna direção da parede dos fundos dacâmara. Altaïr bateu com um estrondo porentre as antigas pedras e caiu no vestíbulodo outro lado, onde permaneceu aturdidopor um momento, ouvindo vigas caírem eas imensas colunas da câmara sedespedaçarem. Olhou para cima — e viuque a entrada para o Templo forabloqueada.

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Então ouviu gritos que vinham do outrolado.

— Homens. Às armas. Matem osAssassinos! — berrou De Sablé.

Ele se levantou com dificuldade edisparou para os escombros, tentandoencontrar uma passagem. Com vergonha eimpotência queimando-o, ouviu os gritosde Malik e Kadar, gritos de morte, e,finalmente, com a cabeça baixa, virou-see começou a caminhada para fora doTemplo, a jornada até Masyaf, para levara notícia ao Mestre.

A notícia de que havia fracassado. Queele, o grande Altaïr, tinha desonrado a simesmo e à Ordem.

Quando finalmente emergiu do interiordo Monte do Templo, o sol brilhava, eJerusalém fervilhava com vida. Mas

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Altaïr jamais havia se sentido tão sozinho.

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5

Altaïr chegou a Masyaf após umaexaustiva cavalgada de cinco dias,durante os quais tivera tempo mais do quesuficiente para refletir sobre seu fracasso.Assim, foi com o coração pesado quechegou aos portões, teve permissão doguarda para entrar e seguiu caminho emdireção aos estábulos.

Ao desmontar e, por fim, sentir osmúsculos relaxados, entregou o animal aocavalariço e depois parou no poço parabeber um pouco de água, primeiro dandopequenos goles, em seguida engolindo-ae, então, jogando-a sobre si mesmo,

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esfregando com gratidão o rosto sujo paralimpá-lo. Mas ainda sentia a sujeira daviagem no corpo. O manto pendia pesadoe imundo e ele desejou tomar um banhonas águas reluzentes de Masyaf, em umrecanto oculto do penhasco. Tudo o queele queria nesse momento era solidão.

Quando seguia pelos arredores daaldeia, seu olhar foi atraído para cima dascabanas dos estábulos e do movimentadomercado e para os sinuosos caminhos quelevavam aos bastiões da fortaleza dosAssassinos. Ali era onde a Ordemtreinava e vivia sob o comando de AlMualim, cujos aposentos ficavam nocentro das torres da cidadela bizantina.Ele costumava ser visto olhando pelajanela de sua torre, perdido empensamentos, e Altaïr o imaginou ali no

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momento, fitando a aldeia abaixo. Amesma aldeia agitada com vida, brilhandocom a luz do sol e movimentada comnegócios. Para a qual, dez dias antes,Altaïr, partindo para Jerusalém comMalik e Kadar, havia planejado voltarcomo um herói triunfante.

Ele nunca — nem em suas fantasiasmais sombrias — previra fracassar, e noentanto...

Um Assassino lhe acenou quando eleatravessou o mercado salpicado de sol, eele se recompôs, jogando os ombros paratrás e erguendo a cabeça, tentandotransparecer o grande Assassino quedeixara Masyaf, em vez do tolo de mãosvazias que havia retornado.

Era Rauf, e o coração de Altaïr seapertou ainda mais — se é que fosse

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possível, o que ele sinceramenteduvidava. De todas as pessoas parasaudá-lo em sua volta tinha de ser Rauf,que venerava Altaïr como um deus.Parecia até que o jovem estiveraesperando por ele, perdendo tempo juntoa uma fonte construída em um muro. Defato, ele agora o recebia com olhosarregalados e ansiosos, totalmenteignorante do fracasso que Altaïr sentia àsua volta.

— Altaïr... você voltou. — Ele estavaradiante, tão feliz ao vê-lo quanto umcãozinho ficaria.

Altaïr assentiu lentamente. Observou,atrás de Rauf, um mercador idoso serefrescar na nascente da fonte e depoissaudar uma mulher mais jovem, quechegou carregando um vaso decorado com

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gazelas. Ela o colocou sobre o muro baixoque cercava o poço e os dois começarama conversar; a mulher animada,gesticulando. Altaïr os invejou. A ambos.

— É bom ver que você está bem —continuou Rauf. — Imagino que suamissão tenha sido um sucesso, não?

Altaïr ignorou a pergunta, aindaobservando os dois na fonte. Tinhadificuldade em fazer contato visual comRauf.

— O Mestre está em sua torre? —perguntou finalmente, desviando o olharpara longe.

— Sim, está. — Rauf olhava-o de cantode olho, como se adivinhasse que haviaalgo errado com ele. — Enterrado emseus livros, como sempre. Sem dúvida,está esperando por você.

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— Obrigado, irmão.E, com isso, deixou Rauf e os aldeões

conversando no manancial e começou aseguir seu caminho, passando pelasbarracas cobertas e carroças de feno ebancos. Andou pelo calçamento, até osolo quente e poeirento se inclinarabruptamente para cima, a grama seca equebradiça pairando sob o sol. Todos oscaminhos levavam ao castelo.

Ele nunca se sentira tão mal à suasombra, e descobriu-se cerrando ospunhos ao atravessar o platô. Foi saudadopelos guardas quando se aproximou dafortaleza. As mãos deles estavam fixadasno cabo da espada; os olhos, vigilantes.

Então chegou à grande arcada quelevava ao antemuro, e mais uma vez seucoração ficou apertado ao avistar uma

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figura que reconheceu Abbas.Abbas estava embaixo de uma tocha

que afugentava o pouco de sombra quehavia no interior da arcada. Estavarecostado na áspera pedra negra, com acabeça descoberta, os braços cruzados e aespada na cintura. Altaïr parou e, porcerca de um momento, os dois homens seentreolharam enquanto aldeões passavampor eles, alheios à antiga inimizade queflorescia novamente entre os doisAssassinos. Em outros tempos, um sereferia ao outro como irmão. Mas essaépoca estava há muito no passado.

Abbas deu um breve e irônico sorriso.— Ah. Enfim ele voltou. — Olhou

intencionalmente por cima do ombro deAltaïr. — Onde estão os outros? Vocêcavalgou na frente, querendo ser o

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primeiro a chegar? Sei que não gosta decompartilhar a glória.

Altaïr não respondeu.— Silêncio é apenas outra forma de se

concordar com algo — acrescentouAbbas, ainda tentando incitá-lo... efazendo isso com toda a habilidade de umadolescente.

— Você não tem nada melhor parafazer? — suspirou Altaïr.

— Trago uma mensagem do Mestre.Ele espera por você na biblioteca —disse Abbas. E abriu caminho para Altaïrpassar. — É melhor se apressar. Semdúvida, você deve estar ansioso paralamber as botas dele.

— Mais uma palavra — retrucou Altaïr—, e enfiarei a minha lâmina na suagarganta.

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— Haverá muito tempo para issodepois, irmão — rebateu Abbas.

Altaïr empurrou-o com o ombro aopassar, então continuou pelo pátio e pelapraça de treinamento até a porta para atorre de Al Mualim. Soldados do corpode guarda curvaram a cabeça diante dele,oferecendo-lhe o respeito quelegitimamente merecia um MestreAssassino, e ele agradeceu sabendo queem breve — assim que a notícia seespalhasse — o respeito deles ficariaapenas na lembrança.

Antes, porém, tinha de dar a terrívelnotícia a Al Mualim, e subiu os degrausda torre em direção aos aposentos doMestre. Ali o ambiente era quente, e o arestava denso com seu habitual aromadoce. A poeira dançava nos raios de luz

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vindos da grande janela do lado maisdistante, onde se encontrava o Mestre,com as mãos entrelaçadas às costas. Seumestre. Seu mentor. Um homem que elevenerava acima de todos os outros.

Com quem havia falhado.Em um canto, os pombos-correio do

Mestre arrulhavam baixinho em sua gaiolae, em volta dele, havia livros emanuscritos, milhares de anos deliteratura e aprendizado dos Assassinos,tanto em prateleiras quanto amontoadosem pilhas vacilantes e empoeiradas. Osuntuoso manto de Al Mualim estendia-seà sua volta, os longos cabelos pousavamsobre os ombros, e ele estava, como dehábito, contemplativo.

— Mestre — disse Altaïr, quebrando opesado silêncio. Ele baixou a cabeça.

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Calado, Al Mualim virou-se e foi emdireção à sua escrivaninha; rolos depergaminho apinhavam o chão abaixodela. Ele encarou Altaïr com um olharfirme e penetrante. Sua boca, escondidapela barba grisalha, não denunciouqualquer emoção até, finalmente, falar,acenando para o pupilo.

— Aproxime-se. Conte-me de suamissão. Confio que tenha recuperado otesouro templário...

Altaïr sentiu uma gota de suor seguircaminho de sua testa rosto abaixo.

— Houve um problema, Mestre. Robertde Sablé não estava sozinho.

Al Mualim afastou a ideia com umgesto de mão.

— Quando alguma vez o nosso trabalhosaiu como o esperado? É a habilidade de

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nos adaptar que nos torna o que somos.— Desta vez, não foi suficiente.Al Mualim levou um momento para

absorver as palavras de Altaïr. Saiu detrás da escrivaninha e, quando falounovamente, sua voz foi severa.

— O que quer dizer?Altaïr se viu forçando a saída das

palavras.— Eu falhei.— O tesouro?— Perdido para nós.A atmosfera no aposento mudou.

Parecia tensa e crepitante como se fossequebradiça, e houve uma pausa antes deAl Mualim voltar a falar.

— E Robert?— Escapou.A palavra caiu como uma pedra no

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espaço escurecido.Então Al Mualim se aproximou de

Altaïr. Seu único olho bom reluzia deraiva, a voz apenas contida, a fúriapreenchendo todo o ambiente.

— Eu mandei você... meu melhorhomem... para realizar uma missão maisimportante do que qualquer outra que jásurgiu e você volta com nada além dealegações e desculpas?

— Eu...— Não fale. — A voz dele foi uma

chicotada. — Nem mais uma palavra.Não era isso que eu esperava.Precisaremos reunir outra força para...

— Eu lhe juro que o encontrarei... Euvou e... — começou Altaïr, que já estavadesesperado para encontrar novamente DeSablé. Dessa vez o resultado seria muito

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diferente.Agora Al Mualim olhava ao redor de si

mesmo, como se acabasse de se lembrarque, quando partira de Masyaf, Altaïr ofizera com dois companheiros.

— Onde estão Malik e Kadar? —interpelou-o.

Uma segunda gota de suor partiu datêmpora de Altaïr quando respondeu.

— Mortos.— Não — veio uma voz de trás deles

—, mortos não.Al Mualim e Altaïr viraram-se para ver

um fantasma.

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6

Malik estava parado na entrada dosaposentos do Mestre — parado eoscilando; uma figura ferida, exausta eencharcada de sangue. Seu manto, antesbranco, estava raiado de sanguecoagulado, a maior parte em volta dobraço esquerdo, que parecia seriamenteferido, pendendo inutilmente ao lado eencrostado com sangue escuro e seco.

Ao entrar, o ombro ferido declinou eele cambaleou ligeiramente. Mas, se ocorpo estava ferido, o espírito, por outrolado, certamente não estava: seus olhosqueimavam em um brilho de raiva e ódio

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— ódio que dirigiu a Altaïr com um olhartão intenso que tudo que este pôde fazerfoi não fugir.

— Eu pelo menos ainda estou vivo —grunhiu Malik, os olhos injetados etransbordando fúria enquanto encaravaAltaïr. Ele respirava com movimentoscurtos, debilitados. Os dentes à mostraestavam ensanguentados.

— E seu irmão? — perguntou AlMualim.

Malik sacudiu a cabeça.— Morto.Por um instante, seus olhos baixaram

para o chão de pedra. Então, como umasúbita explosão de raiva, levantou acabeça, estreitou os olhos e ergueu umdedo trêmulo para apontar para Altaïr.

— Por sua causa — sussurrou.

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— Robert jogou-me para fora dacâmara. — A desculpa de Altaïr pareceudébil, até mesmo para seus própriosouvidos . . . Principalmente para seuspróprios ouvidos. — Eu não tinha comovoltar. Não houve nada que eu pudessefazer...

— Porque não deu importância ao meualerta — bradou Malik, a voz rouca. —Tudo isso poderia ter sido evitado. E meuirmão... meu irmão ainda estaria vivo. Suaarrogância quase nos custou a vitóriahoje.

— Quase? — indagou Al Mualim,cautelosamente.

Acalmando-se, Malik concordou com acabeça, o espectro de um sorriso noslábios... um sorriso dirigido a Altaïr,pois, ao mesmo tempo, ele fez um gesto

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para outro Assassino, que se aproximoucarregando uma caixa em uma bandejadourada.

— Eu consegui o que seu favoritofalhou em encontrar — afirmou Malik.Sua voz era cansada e ele estava fraco,mas nada ia estragar seu momento detriunfo sobre Altaïr.

Ele sentiu seu mundo desabar, quandoMalik pousou a bandeja sobre a mesa deAl Mualim. A caixa estava coberta porrunas antigas e havia algo nelas — umaaura. Dentro, certamente, estava o tesouro.Tinha de estar. O tesouro que Altaïr foraincapaz de recuperar.

O olho bom de Al Mualim estavaarregalado e brilhando. Seus lábios,entreabertos, mostravam a língua queavançava pela boca. Ele estava extasiado

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com a visão da caixa e com o pensamentodo que havia dentro. De repente, houveuma agitação lá fora. Gritos. Péscorrendo. O inconfundível barulho de açocolidindo.

— Parece que retornei com mais doque o tesouro — refletiu Malik enquantoum mensageiro irrompia pelo aposento,esquecendo todo o protocolo eexclamava, esbaforido:

— Mestre, estamos sob ataque. Robertde Sablé montou um cerco à aldeia deMasyaf.

Al Mualim foi arrancado de seudevaneio, disposto a enfrentar De Sablé.

— Então ele está à procura de umabatalha, não é mesmo? Muito bem. Nãolhe negarei isso. Vá. Informe os outros. Afortaleza precisa estar preparada.

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Então ele se voltou para Altaïr, e seusolhos queimavam enquanto falava:

— Quanto a você, Altaïr, nossadiscussão terá de esperar. Você deve irpara a aldeia. Destrua os invasores.Expulse-os do nosso lar.

— Isso será feito — prometeu Altaïr,que não pôde evitar se sentir aliviado comaquela súbita reviravolta.

De algum modo, o ataque à aldeia erapreferível a ter de aguentar mais daquelahumilhação. Ele se desgraçara emJerusalém. Agora tinha a chance derecompensar.

Saltou da plataforma atrás dosaposentos do Mestre para o chão liso depedra e se afastou rapidamente da torre.Ao atravessar correndo o pátio detreinamento e passar pelo portão

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principal, ficou imaginando que se fossemorto agora isso talvez proporcionasse asalvação que desejava. Seria uma boamorte? Uma morte nobre e digna?

O suficiente para perdoá-lo?Sacou a espada. Os sons da batalha

agora estavam mais próximos. Podia verAssassinos e Templários combatendo noplanalto ao pé do castelo enquanto, maisembaixo da colina, os aldeões sedispersavam diante da força do ataque;corpos já recobriam as encostas.

Então ele foi atacado. Um cavaleirotemplário correu em sua direção,rosnando, e Altaïr girou, deixando osinstintos assumirem o controle, erguendo aespada para enfrentar o cristão, que seabateu sobre ele veloz e duramente, comsua espada larga batendo forte na lâmina

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de Altaïr com um ruído de aço. OAssassino, porém, estava firme, com ospés bem afastados e o alinhamento docorpo perfeito, de tal modo que o ataquedo Templário mal fez com que semexesse. Ele varreu para o lado a espadado outro, usando o peso da enorme espadalarga contra o cavaleiro, cujo braço seagitou inutilmente durante o brevemomento que Altaïr usou para dar umpasso à frente e enfiar sua lâmina nabarriga do homem.

O Templário tinha avançado contra eleconfiante de uma morte fácil. Fácil, comoa dos aldeões que ele já haviamassacrado. Mas se enganara. Com o açoainda nas entranhas, tossiu sangue, e seusolhos se arregalaram de dor e surpresaquando Altaïr empurrou a lâmina para

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cima, dividindo ao meio seu tronco. Elecaiu, e os intestinos se derramaram sobrea terra.

Agora Altaïr lutava com pura maldade,descarregando toda a sua frustração nosgolpes com a espada, como se pudessepagar pelos seus crimes com o sangue dosinimigos. O Templário seguinte trocougolpes, tentando resistir à medida queAltaïr o empurrava para trás. Sua posturainstantaneamente mudava de ataque paradefesa, e depois para a defesadesesperada, de modo que, mesmoenquanto aparava os golpes, elechoramingava na expectativa da própriamorte.

Altaïr simulou um golpe, girou, e sualâmina lampejou através da garganta docristão, que se abriu, cobrindo de sangue

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a parte da frente de seu uniforme,tingindo-o de uma cor tão vermelhaquanto a cruz em seu peito. Ele caiu dejoelhos e depois tombou para a frente, noinstante em que outro soldado correu paraAltaïr, com a luz do sol reluzindo em suaespada erguida. O Assassino se afastoupara o lado e enterrou a espada bem fundonas costas do homem, de modo que, porum segundo, seu corpo todo se retesouenquanto a lâmina cravava-se no peitoral,e a boca se abria em um grito silencioso àmedida que Altaïr o baixava para o chão eretirava a espada.

Dois soldados atacaram juntos,imaginando talvez que o número superiorsubjugaria Altaïr. Imaginaram isso semlevar em conta sua ira. Ele lutou, não coma habitual indiferença e frieza, mas com

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fogo no estômago. O fogo de um guerreiroque não se importa com a própriasegurança. O mais perigoso guerreiro detodos.

À sua volta, viu mais corpos dealdeões, derrubados pela espada dosagressores Templários, e sua iraaumentou, tornando os golpes de suaespada ainda mais cruéis. Dois outrossoldados caíram diante de sua lâmina eele os deixou se debatendo na terra.Agora, porém, cada vez mais cavaleirossurgiam. Aldeões e Assassinos corriamigualmente encosta acima, e Altaïr viuAbbas ordenando-lhes que retornassem aocastelo.

— Aumentem o ataque à fortaleza pagã— berrou um cavaleiro em resposta. Elecorria colina acima em direção a Altaïr, a

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espada brandindo enquanto transpassavauma mulher em fuga. — Vamos levar aluta aos Assassinos...

Altaïr empurrou a espada na gargantado cristão, cuja última palavra foi umgorgolejo.

Mas atrás dos aldeões e Assassinos quefugiam vinham mais Templários, e Altaïrhesitou na encosta, imaginando se aqueleseria o momento de seu ato final —morrer defendendo seu povo e fugindo davergonha a que estava preso.

Mas não. Não havia honra em umamorte desperdiçada, ele sabia, e juntou-seaos que retornavam à fortaleza, chegandoquando o portão era fechado. Então sevirou para ver a cena de carnificina láfora, a beleza de Masyaf maculada peloscorpos ensanguentados dos moradores,

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dos soldados e dos Assassinos.Olhou para si mesmo. Seu manto estava

salpicado de sangue templário, mas elecontinuava ileso.

— Altaïr! — O grito interrompeu seuspensamentos. Era Rauf novamente. —Venha.

Ele sentiu-se repentinamente cansado.— Aonde estamos indo?— Temos uma surpresa para os nossos

convidados. Faça o que eu fizer. Logoficará claro... — Rauf apontava acimadeles para os bastiões da fortaleza.

Altaïr embainhou a espada e o seguiupara o alto por uma série de escadas até ocume da torre, onde os líderes Assassinosestavam reunidos, Al Mualim entre eles.Atravessando o pavimento, olhou para oMestre, que o ignorou, a boca estava

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inexpressiva. Então Rauf indicou uma dastrês plataformas de madeira que pendiamno ar, convidando-o a tomar seu lugarnela. Ele fez isso, inspirando fundo antesde caminhar cuidadosamente até aextremidade.

Ele agora estava acima de Masyaf,capaz de olhar abaixo para o vale. Sentiuo ar correndo à sua volta; seu mantoesvoaçava e ele viu bandos de pássarosplanando e arremetendo em bolsões de arquente. Sentiu vertigem com a altura, e, noentanto, estava sem fôlego com oespetáculo: as colinas ondulantes docampo mescladas com o verdeexuberante; as águas tremeluzentes do rio;corpos agora como pequenas manchas nasencostas.

E Templários.

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O exército invasor havia se reunido noplanalto diante de uma torre de vigia,perto dos portões da fortaleza. À frenteestava Robert de Sablé, que agora seadiantava um pouco, olhando acima paraos bastiões onde se encontravam osAssassinos, e se dirigia a Al Mualim.

— Herege! — vociferou. — Devolva oque roubou de mim.

O tesouro. A mente de Altaïr vagueoumomentaneamente até a caixa sobre aescrivaninha de Al Mualim. Ela parecerabrilhar...

— Você não tem direito a ela, Robert— retrucou o Mestre, e sua voz ecooupelo vale. — Vá embora daqui antes queeu seja forçado a reduzir ainda mais suasfileiras de homens.

— Você está fazendo um jogo perigoso

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— rebateu De Sablé.— Eu lhe garanto que não é um jogo.— Que assim seja — foi a resposta.Havia algo no tom de sua voz que

Altaïr realmente não gostou. De Sablédirigiu-se a um de seus homens.

— Tragam o refém.Do meio da tropa, arrastaram o

Assassino. Estava amarrado eamordaçado e se contorcia para se livrardas amarras enquanto era puxadoviolentamente para a frente do grupo. Seusgritos abafados ergueram-se até ondeAltaïr estava na plataforma.

Então, sem cerimônia, De Sablé fez umsinal com a cabeça para um soldadopróximo. Este puxou o cabelo doassassino para que sua garganta ficasseexposta e pudesse passar sua lâmina por

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ela, abrindo-a e deixando que o corpocaísse sobre a grama.

Os Assassinos, observando, prenderama respiração.

De Sablé foi para perto do corpo edescansou um dos pés nas costas domoribundo, com os braços cruzados comoum gladiador triunfante. Houve ummurmúrio de aversão entre os Assassinosenquanto ele gritava acima para AlMualim.

— Sua aldeia está em ruínas e suasprovisões não são intermináveis. Quantotempo se passará até sua fortaleza serdestruída por dentro? Como seus homensse manterão disciplinados quando ospoços secarem e a comida deles acabar?— Ele mal conseguia disfarçar o tomexultante na voz.

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Mas, em resposta, Al Mualim manteve-se calmo.

— Meus homens não temem a morte,Robert. Eles lhe dão boas-vindas... e àsrecompensas que ela traz.

— Bom — bradou De Sablé. — Entãoeles as terão por toda a sua volta.

Ele estava com a razão, é claro. OsTemplários podiam manter o cerco deMasyaf e impedir que os Assassinosrecebessem provisões. Quanto tempoconseguiriam resistir até ficarem fracosdemais para que De Sablé pudesse atacarem segurança? Duas semanas? Um mês?Altaïr podia apenas ter a esperança deque, independentemente do plano de AlMualim, este seria o suficiente para pôrum fim ao impasse.

Como se tivesse lido seus pensamentos,

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Rauf sussurrou para ele de umaplataforma à esquerda:

— Siga-me. E sem hesitar.Um terceiro Assassino estava parado

mais adiante. Estavam escondidos de DeSablé e seus homens. Olhando para baixo,Altaïr viu montes de feno estrategicamentecolocados, o suficiente para amorteceruma queda. Ele começava a entender oque Rauf pretendia. Iam pular, sem seremvistos pelos Templários. Mas por quê?

O manto de Altaïr se agitava ao redorde seus joelhos. O som era tranquilizador,como ondas ou chuva. Olhou para baixo efirmou a respiração. Concentrou-se.Buscou equilíbrio em seu interior.

Ouviu Al Mualim e De Sablé trocandopalavras, mas não estava mais escutando;pensava somente no salto, preparando-se

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para ele. Fechou os olhos. Sentiu umagrande calma, uma paz interna.

— Agora — disse Rauf, que saltou,seguido pelo outro Assassino. E então foia vez de Altaïr.

Que saltou.O tempo parou enquanto ele caía, os

braços estendidos. Com o corpo relaxadoe graciosamente curvado no ar, sabia quealcançara uma espécie de perfeição —era como se tivesse saído do própriocorpo. Então pousou perfeitamente, ummonte de feno interrompendo sua queda.A de Rauf também. Mas não a do terceiroAssassino, cuja perna rompeu-se com oimpacto. Imediatamente, o homem gritou eRauf se aproximou para silenciá-lo, semquerer que os Templários o ouvissem:para a fuga funcionar, os cavaleiros

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precisavam acreditar que os três homenstinham pulado para a morte.

Rauf virou-se para Altaïr.— Vou ficar para trás e cuidar dele.

Você vai ter de ir sem nós. As cordas olevarão à armadilha. Solte-as de lá... Umachuva de morte cairá sobre nossosinimigos.

Claro. Agora Altaïr entendeu. Por ummomento, se perguntou como osAssassinos tinham sido capazes de montaruma armadilha sem que ele soubesse.Quantas outras facetas da Irmandade aindapermaneciam um segredo para ele?Agilmente, seguiu ao longo das cordaspelo abismo, voltando através da gargantaaté a face do penhasco atrás da torre devigia. Escalou em um impulso natural.Rápido e ágil, sentindo os músculos do

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braço zumbirem enquanto escalava cadavez mais e mais alto as paredes íngremesaté chegar ao topo da torre. Ali, sob astábuas do último andar, encontrou aarmadilha montada e pronta para sersolta: pesadas toras ensebadas, alinhadase empilhadas sobre uma plataformapendente.

De modo silencioso, foi até a beira,olhando abaixo para ver as fileirasreunidas dos Templários; um grandenúmero de costas para ele. Ali tambémhavia cordas prendendo a armadilha nolugar. Ele sacou a espada e, pela primeiravez em dias, sorriu.

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7

Mais tarde, os Assassinos estavamreunidos no pátio, ainda saboreando seutriunfo.

As toras haviam tombado da torre devigia sobre os cavaleiros embaixo. Amaior parte deles foi esmagada pelaprimeira onda, enquanto outros foramapanhados na segunda carga estocadaatrás da primeira. Apenas momentosantes, eles estiveram certos da vitória.Então seus corpos foram surrados, osmembros fraturados, a força inteiradesordenada. Robert de Sablé já ordenavaa seus homens que voltassem ao mesmo

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tempo que os arqueiros dos Assassinosaproveitavam a vantagem e faziam choverflechas sobre eles.

Agora, porém, Al Mualim mandava queos Assassinos fizessem silêncio esinalizava para que Altaïr se juntasse aele no púlpito que havia na entrada de suatorre. Seus olhos eram severos e, quandoo Assassino tomou seu lugar, Al Mualimgesticulou com a cabeça para que doisguardas se posicionassem de cada lado deAltaïr.

O silêncio substituiu as felicitações.Altaïr, de costas para os Assassinos,sentia todos os olhos sobre ele. Já deviamsaber o que acontecera em Jerusalém;Malik e Abbas teriam cuidado disso. Osesforços de Altaïr na batalha e o posterioracionamento da armadilha — nada disso

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contaria agora. Tudo que ele podiaesperar era que Al Mualim mostrassepiedade.

— Você fez bem em expulsar Robertdaqui — observou o Mestre, e foi combastante orgulho que ele disse isso. Obastante para Altaïr ter a esperança deque pudesse ser perdoado; de que seusatos posteriores a Jerusalém oredimissem. — A força dele estádestruída — continuou Al Mualim. — Vaidemorar muito até que ele volte a nosperturbar. Diga-me, você sabe por que foibem-sucedido?

Altaïr não disse nada. Seu coraçãomartelava.

— Você foi bem-sucedido porqueobedeceu — forçou Al Mualim. — Setivesse obedecido no Templo de Salomão,

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Altaïr, tudo isso teria sido evitado.Seu braço descreveu um círculo,

significando que abrangia o pátio e tudoque havia mais além, onde até agoracorpos de Assassinos, de Templários e dealdeões estavam sendo removidos.

— Eu fiz o que me foi pedido —afirmou Altaïr, tentando escolhercuidadosamente as palavras, masfracassando.

— Não! — vociferou o Mestre. Seusolhos pareciam chamas. — Você fez o quelhe agradou. Malik falou-me daarrogância que você demonstrou. Vocêdesconsiderou nossos métodos.

Os dois guardas de ambos os lados deAltaïr deram um passo adiante eseguraram seus braços. Os músculos delese tensionaram. Ele se preparou contra

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eles, mas não lutou.— O que está fazendo? — perguntou

cautelosamente.A cor voltou às faces de Al Mualim.— Há regras. Não somos nada se não

obedecemos ao Credo dos Assassinos. Hátrês princípios simples, que você pareceter esquecido. Vou lembrá-los a você. Oprimeiro e principal: detenha sua lâmina...

Ia ser uma repreensão. Altaïr relaxou,incapaz de manter o tom de resignação davoz, ao completar a frase de Al Mualim.

— Do corpo de um inocente. Eu sei.O estalo da palma de Al Mualim no

rosto de Altaïr ecoou na pedra do pátio.Altaïr sentiu a face queimar.

— E contenha sua língua, a não ser queeu lhe dê permissão para usá-la —vociferou Al Mualim. — Se está tão

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familiarizado com este princípio, por quematou o velho no interior do Templo? Eleera inocente. Não precisava morrer.

Altaïr ficou calado. O que ele poderiadizer? “Eu agi por impulso?” “Matar ovelho foi um ato de arrogância?”, talvez?

— Sua insolência não conhece limites— urrou Al Mualim. — Torne seucoração humilde, criança, ou juro que oarrancarei com minhas próprias mãos.

Ele fez uma pausa, os ombros subindo edescendo enquanto dominava a raiva.

— O segundo princípio é o que nos dáforça — continuou. — Invisibilidade.Deixar que as pessoas o encubram paraque você se torne mais um na multidão.Você se lembra? Porque, pelo que eusoube, você decidiu se expor, atraindoatenção antes de atacar.

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Altaïr continuou sem dizer nada. Sentiua vergonha se instalar no corpo.

— O terceiro e último princípio —acrescentou Al Mualim —, a pior detodas as suas traições: jamais comprometaa Irmandade. O significado deve seróbvio. Seus atos jamais devem nos causardanos... direta ou indiretamente.Entretanto, seu ato egoísta em Jerusalémcolocou todos nós em perigo. Pior do queisso, você atraiu o inimigo à nossa casa.Cada homem que perdemos hoje foi porsua causa.

Altaïr sentia-se incapaz de olhar para oMestre. Sua cabeça permanecera viradapara o lado, ainda sentindo o tapa. Mas,ao ouvir Al Mualim sacar a adaga, eleolhou.

— Sinto muito. Eu realmente sinto —

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disse Al Mualim. — Mas não possotolerar um traidor.

Não. Isso não. A morte de um traidornão.

Seus olhos arregalaram-se aoencararem a lâmina na mão do Mestre; amão que o guiara desde a infância.

— Não sou um traidor. — Eleconseguiu dizer.

— Seus atos indicam o contrário. E,portanto, não me deixa escolha. — AlMualim recuou a adaga. — Que a pazesteja com você, Altaïr — disse ele, e aenfiou na barriga de Altaïr.

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8

E assim foi. Por uns preciosos momentos,enquanto esteve morto, Altaïr esteve empaz.

Então... então estava voltando a si,recuperando gradualmente um senso de simesmo e de onde estava.

Ele estava de pé. Como podia estar depé? Seria isso a morte, a vida após amorte? Estaria ele no paraíso? Se fosse ocaso, parecia muito com os aposentos deAl Mualim. Não apenas isso, mas AlMualim estava presente. Aliás, paradodiante dele, observando-o com um olharincompreensível.

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— Estou vivo?As mãos de Altaïr foram para onde a

faca fora enfiada em sua barriga.Esperava encontrar um buraco dentado esentir a umidade do sangue, mas não havianada. Nada de ferimento, nada de sangue.Embora ele os tivesse visto. Sentido.Tinha sentido a dor...

Não tinha?— Mas vi você me esfaquear —

conseguiu dizer —, senti a morte meabraçar.

Al Mualim, por sua vez, eraimpassível.

— Você viu o que eu quis que vocêvisse. Então dormiu o sono da morte. Oútero. Para que pudesse despertar erenascer.

Altaïr afastou pensamentos nebulosos

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de sua mente.— Com que finalidade?— Você se lembra, Altaïr, pelo que os

Assassinos lutam?Ainda tentando se recompor,

respondeu:— Paz, em todas as coisas.— Sim. Em todas as coisas. Não basta

acabar com a violência que um homempratica contra o outro. Isso também serefere à paz interior. Não se pode ter umasem a outra.

— É o que dizem.Al Mualim balançou a cabeça, e a cor

das maçãs do rosto voltava à medida quelevantava a voz.

— Então é. Mas você, meu filho, nãoencontrou a paz interior. Ela se manifestade modos terríveis. Você é arrogante e

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excessivamente confiante. Carece deautocontrole e prudência.

— E o que vai acontecer comigo?— Eu deveria matá-lo pela dor que nos

causou. Malik acha que isso é apenasjusto... Sua vida em troca da do irmãodele.

Al Mualim fez uma pausa para permitirque Altaïr entendesse o total significadodaquele momento.

— Mas isso seria uma perda do meutempo e a de seus talentos.

Altaïr permitiu-se relaxar mais umpouco. Seria poupado. Poderia se redimir.

— Você foi destituído de suas posses— continuou Al Mualim. — E também deseu posto. Você é um aprendiz, umacriança, outra vez. Como no dia em queentrou para a Ordem. Estou lhe

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oferecendo uma chance de redenção. Teráde merecer seu caminho de volta para aOrdem.

Claro.— Suponho que você deva ter algo

planejado.— Primeiro precisa provar para mim

que se lembra de como é ser umAssassino. Um verdadeiro Assassino —disse Al Mualim.

— Então me mandaria tirar uma vida?— indagou Altaïr, sabendo que suapenalidade seria muito mais rigorosa.

— Não. Ainda não, pelo menos. Porenquanto, você vai se tornar novamenteum estudante.

— Não há necessidade disso. Sou umMestre Assassino.

— Você foi um Mestre Assassino.

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Outros rastreavam alvos para você. Masnão mais. De hoje em diante, você mesmoterá de rastreá-los.

— Se é esse seu desejo.— É.— Então me diga o que devo fazer.— Tenho aqui uma lista. Nove nomes

fazem parte dela. Nove homens queprecisam morrer. São causadores depestes. Fabricantes de guerras. Seu podere influência corrompem a terra... easseguram a continuação das Cruzadas.Você os encontrará. E os matará. Ao fazerisso, estará plantando as sementes da paz,tanto para a região quanto para si mesmo.Desse modo, talvez possa ser redimido.

Altaïr inspirou fundo e demoradamente.Isso ele poderia fazer. Isso ele queria —precisava — fazer.

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— Nove vidas em troca da minha —falou cautelosamente.

Al Mualim sorriu.— Uma oferta muito generosa, creio.

Tem alguma pergunta?— Por onde devo começar?— Vá a Damasco. Procure o

comerciante de mercado negro chamadoTamir. Que seja ele o primeiro a cair.

Al Mualim foi até a gaiola de seuspombos-correio, pegou um deles e oconteve delicadamente com a palma emconcha.

— Ao chegar, não deixe de visitar oBureau dos Assassinos. Vou despacharum pombo para informar o rafiq de suachegada. Fale com ele. Verá que temmuito a oferecer.

Ele abriu a mão e o pássaro

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desapareceu pela janela.— Se acha que isso é o melhor — disse

Altaïr.— Acho. Além disso, não pode iniciar

sua missão sem o consentimento dele.Altaïr reagiu.— Que absurdo é esse? Não preciso da

permissão dele. É uma perda de tempo.— É o preço que paga pelos erros que

cometeu — vociferou o Mestre. — Vocêagora responde não apenas a mim, mas atoda a Irmandade.

— Que assim seja — cedeu Altaïr,após uma pausa longa o bastante paracomunicar seu desgosto.

— Vá, então — ordenou Al Mualim. —Prove que ainda não está perdido paranós.

Ele fez uma pausa, então apanhou uma

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coisa debaixo da escrivaninha eempurrou-a na direção de Altaïr.

— Pegue — disse.Com prazer, Altaïr alcançou sua

lâmina, afivelando a braçadeira ao pulsoe enfiando no dedo mindinho a presilha desoltura. Testou o mecanismo, sentindo-senovamente um Assassino.

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9

Altaïr seguiu seu caminho por entre aspalmeiras e passou pelos estábulos emercadores do lado de fora dos muros dacidade até chegar aos imensos eimponentes portões de Damasco. Eleconhecia bem a cidade. A maior e maissagrada da Síria, que tinha sido o lar dedois de seus alvos no ano anterior. Eleergueu o olhar para a muralha em volta eseus bastiões. Podia ouvir a vida alidentro. Era como se a pedra vibrasse porcausa dela.

Primeiro, entrar. O sucesso da missãodependia de sua habilidade de se

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movimentar anonimamente pelas ruas.Uma recusa dos guardas não seria omelhor começo. Desmontou e amarrou ocavalo, estudando os portões, onde osguardas sarracenos estavam de vigia. Eleteria de tentar outro meio, mas isso eramais fácil de dizer do que fazer, poisDamasco era notoriamente segura, e seusmuros — olhou para cima mais uma vez,sentindo-se minúsculo — eram altosdemais e muito íngremes para seremescalados pelo lado de fora.

Então ele avistou um grupo deintelectuais e sorriu. Salah Al’dinincentivara os eruditos a visitaremDamasco para estudos — havia muitosmadraçais por toda a cidade — e, dessemodo, gozavam de privilégios especiais etinham permissão de andar à vontade por

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ela. Ele se aproximou e se juntou a eles,adotando uma postura de devoção aogrupo e, na companhia deles, passoufacilmente pelos guardas, deixando odeserto para trás ao entrar na grandecidade.

Lá, manteve a cabeça baixa, andandodepressa mas com cuidado pelas ruas, atéchegar a um minarete. Deu uma rápidaolhada em volta antes de saltar para umpeitoril, puxando o corpo para cima,encontrando mais apoios para as mãos napedra quente e escalando cada vez maisalto. Descobriu suas antigas habilidadesvoltarem, embora não estivesse semovimentando tão velozmente ou comtanta segurança quanto antes. Sentiu-asretornar. Não — despertar novamente. Ecom elas a velha sensação de alegria.

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Chegou então na ponta do minarete e alise agachou. Como uma ave de rapinaacima da cidade, olhando em volta de si,vendo as mesquitas abobadadas e ospontudos minaretes que interrompiam ummar desigual de telhados. Avistoumercados, pátios e santuários, assim comoa torre que marcava a posição do Bureaudos Assassinos.

Novamente, uma sensação de euforiapercorreu seu corpo. Esquecera o quantoas cidades pareciam bonitas vistas de umaaltura como aquela. Esquecera-se decomo se sentia, olhando para elas de seuspontos mais altos. Naqueles momentos,ele se sentia livre.

Al Mualim tinha razão. Havia anos queos alvos de Altaïr vinham sendolocalizados para ele. Diziam-lhe aonde e

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quando ir; seu serviço era matar, nadamais, nada menos. Não se dera contadisso, mas perdera a emoção do querealmente significava ser um Assassino,que não era banho de sangue e morte: eraum processo de descoberta interior.

Esticou-se um pouco adiante, olhandoas ruas estreitas abaixo. As pessoasestavam sendo chamadas para rezar e asmultidões estavam diminuindo. Vasculhouos toldos e telhados, à procura de umaaterrissagem macia, então viu uma carroçade feno. Fixando os olhos nela einspirando fundo, pôs-se de pé, sentindo abrisa e ouvindo sinos. Em seguida deu umpasso à frente, caindo graciosamente eacertando seu alvo. Não tão macio quantohavia esperado, talvez, porém mais segurodo que se arriscar a pousar em um toldo

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puído, capaz de se romper e derrubá-lo noamontoado da barraca abaixo. Ele prestouatenção, esperando até a rua ficar maissilenciosa, então pulou da carroça ecomeçou a seguir seu caminho para oBureau.

Alcançou-o pelo telhado, caindo em umátrio sombreado no qual tinia uma fonte.As plantas amorteceram os sons do ladode fora. Era como se tivesse alcançadooutro mundo. Concentrou-se e entrou.

O líder espreguiçava-se atrás de umbalcão. Ele se levantou quando oAssassino entrou.

— Altaïr. Que bom vê-lo. E inteiro.— Você também, amigo. — Altaïr

observou o homem, sem gostar muito doque viu. Principalmente porque ele tinhamodos insolentes, irônicos. Também não

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havia dúvida de que fora informado dasrecentes... dificuldades de Altaïr; e, pelojeito do homem, planejava se aproveitarao máximo do poder temporário que asituação lhe proporcionava.

Certamente, quando falou em seguida,foi com um sorriso malicioso que malpôde disfarçar.

— Sinto muito pelos seus problemas.— Não foi nada.O líder adotou um ar de falsa

preocupação.— Alguns de seus irmãos estiveram

aqui mais cedo...Certo. Era por isso que ele estava tão

bem informado, pensou Altaïr.— Se tivesse escutado as coisas que

disseram — continuou o líder alegremente—, você com certeza os mataria no ato.

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— Tudo bem — disse Altaïr.O líder sorriu.— É, você nunca foi de seguir o Credo,

não é mesmo?— Isso é tudo? — Altaïr sentiu vontade

de apagar com um tapa o sorriso do cãoinsolente. Isso, ou usar sua lâmina paraalargá-lo...

— Desculpe — disse o líder,enrubescendo —, às vezes, me descuido.Que assunto o traz a Damasco? — Eleempertigou-se um pouco, lembrando-sefinalmente de seu lugar.

— Um homem chamado Tamir —respondeu Altaïr. — Al Mualim discordado serviço que ele faz e pretendo acabarcom isso. Diga onde eu o encontro.

— Você vai ter de ir atrás dele.Altaïr se irritou.

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— Mas esse tipo de trabalho é melhordeixar para... — Deteve-se, lembrando-sedas ordens de Al Mualim. Ele devia sernovamente um aprendiz. Devia conduziras próprias investigações. Encontrar oalvo. Executar a matança. Ele assentiu,aceitando sua tarefa.

— Investigue pela cidade. Verifique oque Tamir planeja e onde ele trabalha. Apreparação faz o vitorioso — continuou olíder.

— Tudo bem, mas o que pode me falarsobre ele? — indagou Altaïr.

— Ele ganha a vida como comerciantedo mercado negro, portanto a região dosouk deverá ser seu destino.

— Suponho que queira que eu volteaqui depois de ter feito isso.

— Volte. Eu lhe darei o marcador de

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Al Mualim. E você nos dará a vida deTamir.

— Como queira.Contente por estar longe do inútil

Bureau, Altaïr seguiu seu caminho pelostelhados. Mais uma vez, inalou o ar dacidade quando parou para observar umarua estreita abaixo. Uma leve brisa faziaos toldos ondularem. Mulheres semovimentavam perto de uma barraca quevendia lustrosas lâmpadas a óleo,tagarelando freneticamente, e, não muitodistante, dois homens discutiam. Sobre oquê, Altaïr não conseguia escutar.

Voltou a atenção para o edifício dooutro lado, depois para os telhados maisdistantes. Dali podia ver a GrandeMesquita e o local dos Jardins Formais nosul, mas o que precisava encontrar era o...

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Ele o avistou, o imenso Souk al-Silaah— onde, de acordo com o líder, poderiacomeçar a investigar sobre Tamir. O lídersabia mais do que tinha revelado, é claro,mas tinha ordens expressas de não contara Altaïr. Ele entendia: o “aprendiz” tinhade aprender pelo modo difícil.

Altaïr deu dois passos para trás,balançou os braços para relaxá-los,inspirou fundo, e saltou.

Em segurança, do outro lado, agachou-se por um momento, ouvindo a conversavinda da viela abaixo. Observou um grupode guardas que passava, conduzindo umasno com uma carroça que vergava sob opeso de muitos barris empilhados.

— Abram caminho — ordenavam osguardas, empurrando cidadãos para forade seu caminho. — Abram caminho, pois

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temos suprimentos que seguirão para oPalácio do Vizir. Sua Excelência Abu’lNuqoud vai dar outra festa.

Os cidadãos que foram empurradospara o lado escondiam suas caretas dedescontentamento.

Altaïr observou os soldados passaremabaixo dele. Ouvira o nome de Abu’lNuqoud: o tal a quem chamavam de ReiMercador de Damasco. Os barris. Altaïrpodia estar enganado, mas eles pareciamconter vinho.

Não importava. O assunto de Altaïrestava em outra parte. Levantou-se e saiucorrendo, mal parando para saltar até oedifício seguinte e depois para o próximo,sentindo a cada salto uma nova onda depoder e força. Voltando a fazer o quesabia.

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Visto de cima, o souk era como umburaco irregular que fora perfurado nostelhados da cidade de modo que fossefácil de encontrar. Ele, que era o maiorcentro comercial de Damasco, ficava nocentro do distrito pobre no nordeste dacidade e era cercado por edificações debarro e madeira por todos os lados —Damasco tornava-se um pântano quandochovia —, e era uma colcha de retalhosde carroças, barracas e mesas demercadores. Odores agradáveis chegavamaté Altaïr em sua posição no alto:perfumes e óleos, especiarias e doces.Por toda a parte, fregueses, mercadores enegociantes tagarelavam ou semovimentavam rapidamente por entre asmultidões. As pessoas da cidade ouficavam paradas ou corriam de um lugar

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ao outro. Aparentemente, não havia meio-termo — não ali, pelo menos. Ele asobservou por algum tempo, então desceudo telhado e, misturando-se à multidão,prestou atenção.

Prestou atenção para ouvir umapalavra.

— Tamir.Os três mercadores estavam

amontoados na sombra, conversandocalmamente, mas fazendo todos os tiposde gestos agitados com as mãos. Forameles que disseram o nome, e Altaïrmovimentou-se pela lateral na direçãodeles, virando-se de costas e ouvindomentalmente a instrução de Al Mualim aofazer isso: “Nunca faça contato visual,pareça sempre ocupado e permaneçarelaxado.”

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— Ele convocou outra reunião — ouviuAltaïr, sem conseguir identificar qual doshomens estava falando. Quem era o “ele”de quem falavam? Tamir, provavelmente.Altaïr prestou atenção, memorizando olocal da reunião.

— O que é dessa vez? Outraadvertência? Outra execução?

— Não. Ele tem trabalho para nós.— O que significa que não seremos

pagos.— Ele abandonou o costume da guilda

dos mercadores. Agora faz o que lheagrada...

Começaram a debater um grandenegócio — o maior de todos os tempos,dissera um deles, à meia-voz — quando,de repente, pararam. Não muito distante,um orador com a barba preta aparada bem

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curta estava parado em um lugar, e agoraencarava os mercadores com olhossombrios, encapuzados. Olhosameaçadores.

Altaïr lançou um olhar furtivo de baixode seu capuz. Os três homens tinhamempalidecido. Um deles arrastou a terrado chão com a sandália; os outros doissaíram apressados, como se subitamentetivessem se lembrado de um compromissoimportante. O encontro tinha chegado aofim.

O orador. Talvez fosse um dos homensde Tamir. Evidentemente, o comerciantedo mercado negro governava o souk commão firme. Altaïr afastou-se quando ohomem começou a falar, angariando umaplateia.

— Ninguém conhece Tamir melhor do

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que eu — anunciou ele em voz alta. —Aproximem-se. Ouçam a história quetenho para contar. Sobre um príncipecomerciante sem par...

Justamente a história que Altaïr queriaouvir. Aproximou-se, disposto ainterpretar o papel de observadorinteressado. O mercado se aglomerou àsua volta.

— Foi pouco antes de Hattin —continuou o orador. — Os sarracenosestavam com pouca comida e precisandodesesperadamente de reabastecimento.Mas não havia socorro à vista. Tamir,naquele tempo, conduzia uma caravanaentre Damasco e Jerusalém. Os negócios,porém, andavam ruins. Aparentemente,não havia ninguém em Jerusalém quequisesse o que ele tinha: frutas e legumes

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das fazendas próximas. E, assim, Tamirpartiu, cavalgando para o norte epensando no que fazer com suasmercadorias. Em pouco tempo elas comcerteza apodreceriam. Esse seria o fimdesta história e da vida do pobre homem...Mas o destino planejava o contrário.

“Ao levar sua caravana para o norte,Tamir encontrou o líder sarraceno e seushomens famintos. Que grande sorte a deambos; cada qual tinha o que o outroqueria.

“Então Tamir entregou ao homem suacomida. E, quando a batalha terminou, olíder sarraceno providenciou para que omercador fosse pago mil vezes.

“Dizem que, se não fosse Tamir, oshomens de Salah Al’din teriam se voltadocontra ele. Pode ser que tenhamos

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ganhado a batalha graças a esse homem...Ele encerrou sua fala e deixou que a

plateia se dispersasse. Em seu rosto haviaum leve sorriso quando desceu daplataforma de volta para o mercado. Indotalvez a outra plataforma para fazer omesmo discurso exaltando Tamir. Altaïrseguiu-o, mantendo uma distância segura,mais uma vez ouvindo na cabeça aspalavras de seu tutor: “Ponha obstáculosentre você e sua presa. Nunca sejadescoberto por um olhar de relance paratrás.”

Essas habilidades; Altaïr adorava asensação que lhe causavam outra vez. Elegostava de ser capaz de se abstrair dobarulho do dia e se concentrar em suapresa. Então, abruptamente, ele parou.Adiante dele, o orador havia se chocado

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com uma mulher carregando um jarro, quese quebrara. Ela começou a protestar, amão estendida exigindo pagamento, masele torceu o lábio de forma cruel e ergueua mão para agredi-la. Altaïr sentiu-setensionar, mas ela se curvou, e ele sorriucom desdém, baixando a mão e seguindoem frente, chutando pedaços do jarroquebrado no caminho. Altaïr avançou epassou pela mulher, que agora estavaagachada na areia, chorando, praguejandoe recolhendo os cacos de seu pote.

Então o orador virou na esquina eAltaïr o seguiu. Estavam em uma vielaestreita, quase vazia, onde paredesescuras de barro se apertavam contra eles.Um atalho, provavelmente, para a próximaplataforma. Altaïr olhou para trás, emseguida deu alguns passos rápidos

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adiante, segurou o orador pelo ombro,girou-o e enfiou as pontas dos dedosembaixo de sua caixa torácica.

Instantaneamente, o orador se curvou,cambaleando para trás e ofegando, a bocamovendo-se como a de um peixe fora daágua. Altaïr deu uma olhada para ver senão havia testemunhas, então deu umpasso à frente, fez um giro e chutou oorador na garganta.

Ele caiu para trás desordenadamente,seu thawb enroscado nas pernas. Agorasuas mãos estavam onde Altaïr o haviachutado, e ele rolou na poeira. Sorrindo,Altaïr foi para adiante. Fácil, pensou ele.Tinha sido tão...

O orador movimentou-se com a rapidezde uma naja. Levantou-se e chutou,atingindo em cheio o peito de Altaïr.

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Surpreso, o Assassino cambaleou paratrás, enquanto o outro avançava, com aboca endurecida e os punhos agitando-se.Seus olhos brilharam ao perceber quehavia abalado Altaïr, que se desviou deum soco direto. O Assassino então notouque o orador tinha feito isso de propósito,pois o acertou no queixo com o outropunho.

Altaïr quase caiu, sentindo gosto desangue e praguejando contra si mesmo.Subestimara seu oponente. Erro deaprendiz. O orador olhou nervosamente àsua volta como se procurasse a melhorrota de fuga. Altaïr tentou esquecer a dordo rosto e avançou, mantendo os punhosbem altos para encontrar a têmpora doorador antes que conseguisse desviar dogolpe. Por alguns momentos, os dois

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trocaram socos no beco. O orador eramenor e mais rápido, e atingiu Altaïr bemem cima, na ponta do nariz. O Assassinovacilou, pestanejando para afastar aslágrimas que dividiam sua visão. Sentindoa vitória, o orador avançou, desferindosocos violentos. Altaïr pulou para o lado,baixou-se e arrastou os pés do oradorpara longe dele, derrubando-oruidosamente na areia enquanto arespiração tornava-se uma bufada ao cairde costas. Altaïr girou e caiu, afundando ojoelho diretamente na virilha do oponente.Sentiu-se gratificado ao ouvir um urroagonizante em resposta, então levantou-se,e os ombros subiram e descerampesadamente enquanto se recuperava. Oorador estremecia silenciosamente nochão, com a boca escancarada soltando

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um grito mudo e as mãos na virilha.Quando conseguiu ofegar com grandedificuldade, Altaïr se agachou, levando orosto para perto do dele.

— Você parece conhecer muita coisasobre Tamir — sibilou. — Diga-me o queele está planejando.

— Conheço apenas as histórias queconto — gemeu o orador. — Nada mais.

Altaïr pegou um punhado de terra edeixou que ela escorresse pelos seusdedos.

— Uma pena. Não há motivo paradeixá-lo viver, se não tem nada a oferecerem troca.

— Espere. Espere. — O orador ergueua mão trêmula. — Tem uma coisa...

— Continue.— Ele tem estado muito preocupado.

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Supervisiona a produção de muitas,muitas armas...

— E daí? Provavelmente para SalahAl’din. Isso não me ajuda. O que significaque não ajuda você... — Altaïr moveu obraço.

— Não. Espere. Ouça. — Os olhos doorador reviraram e brotou suor de suatesta. — Não são para Salah Al’din. Sãop a r a outra pessoa. Os emblemas queessas armas contêm são diferentes.Desconhecidos. Parece que Tamir apoiaoutro... Mas não sei quem .

Altaïr assentiu.— Isso é tudo? — perguntou.— Sim. É. Eu lhe contei tudo o que sei.— Então está na hora de você

descansar.— Não — começou o orador, mas

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ouviu-se um clique, que no beco soou tãoalto quanto uma louça de barroquebrando, quando Altaïr liberou sualâmina e a enfiou no esterno do orador,segurando o moribundo enquanto ele sedebatia, preso ao aço, o sangueespumando dos cantos da boca e os olhosembaçando. Uma morte rápida. Umamorte limpa.

Altaïr largou-o na areia, estendeu amão para fechar seus olhos e então selevantou. Sua lâmina deslizou de voltapara o lugar, e ele empurrou o corpo paratrás de uma pilha de barris fedorentos,depois virou-se e deixou o beco.

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10

— Altaïr. Bem-vindo. Bem-vindo.O líder deu um largo sorriso quando ele

entrou, e Altaïr observou-o por ummomento, vendo-o encolher-se um poucodiante de seu olhar. Carregaria ele ocheiro da morte? Talvez o líder do Bureauo tivesse sentido nele.

— Fiz o que pediu. Agora me dê o talmarcador.

— Primeiro o mais importante. Conte-me o que sabe.

Tendo recentemente tirado uma vida,Altaïr ponderou que seria insignificanteter mais uma acrescentada à sua contagem

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diária. Ele estava louco para colocar ohomem em seu devido lugar. Mas não.Tinha de interpretar seu papel, nãoimportava o quão de enigmático eleachava que aquilo fosse.

— Tamir manda no Souk al-Silaah —informou ele, pensando nos mercadoresconversando à meia-voz e no medo emseus rostos quando avistaram o orador deTamir. — Ele faz sua fortuna vendendoarmas e armaduras, e é apoiado pormuitos nesse empreendimento: ferreiros,comerciantes, financistas. É o principalnegociante da morte na terra.

O outro concordou com a cabeça, semter ouvido nada que já não soubesse.

— E você imaginou um meio de noslivrar dessa praga? — indagou comarrogância.

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— Foi marcada uma reunião no Soukal-Silaah para discutir uma vendaimportante. Dizem que é a maiornegociação já feita por Tamir. Ele vaiestar distraído com seu trabalho. Équando vou atacar.

— Seu plano parece bastanteconsistente. Permitirei que siga com ele.

Ele alcançou a parte de baixo daescrivaninha e apanhou o marcador de AlMualim. Uma pena de uma das adoradasaves do Mestre. Colocou-a sobre aescrivaninha entre eles.

— Que seja feito o desejo de AlMualim — disse ele, quando Altaïrapanhou a pena marcadora e a guardoucuidadosamente dentro do manto.

Logo após o sol nascer ele deixou oBureau e seguiu de volta para o Souk al-

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Silaah. Quando chegou ao mercado, todosos olhos pareciam estar em um pátiocerimonial rebaixado em seu centro.

Logo percebeu por quê: ali estava ocomerciante Tamir. Com dois carrancudosguarda-costas em sua retaguarda,comandava o pátio, assomando sobre umhomem trêmulo parado diante dele. Usavaum turbante quadriculado, túnica elegantee perneiras. Os dentes estavam expostossob um bigode escuro.

Enquanto caminhava pela parte externada multidão, Altaïr ficava de olho no queestava acontecendo. Mercadores tinhamsaído de trás de suas barracas paratambém assistir. Os damascenos que seapressavam entre destinos ou se perdiamem conversas haviam feito uma pausatemporária.

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— Se ao menos tivesse dado umaolhada... — alegou o homem encolhidodiante de Tamir.

— Seus cálculos não me interessam —vociferou Tamir. — Os números nãomudam nada. Seus homens falharam ematender à encomenda. O que significa quefalhei com o meu cliente.

Cliente, pensou Altaïr. Quem poderiaser?

O mercador engoliu em seco. Seusolhos seguiram para a multidão em buscade salvação. Não encontrou nenhuma. Osguardas do mercado permaneciam com aexpressão vazia e os olhos inexpressivos,enquanto os espectadores apenasobservavam, ansiosos. Altaïr estava comnojo de todos eles: dos abutresobservando, dos guardas que nada faziam.

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Acima de tudo, porém, de Tamir.— Precisamos de mais tempo —

pleiteou o mercador. Talvez ele tivesse sedado conta de que essa era a única chancede levar Tamir a ser misericordioso.

— Isso é desculpa de quem épreguiçoso ou incompetente — devolveuo atravessador. — Qual deles você é?

— Nenhum dos dois — retrucou omercador, torcendo as mãos.

— O que vejo é o contrário — afirmouTamir, que ergueu o pé para uma mureta eapoiou-se no joelho. — Agora, diga-me, oque pretende fazer para resolver essenosso problema? Essas armas sãonecessárias agora.

— Não vejo solução — gaguejou omercador. — Os homens trabalham dia enoite. Mas o seu... cliente exige demais. E

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o destino... É uma rota difícil.— Se você produzisse armas com a

mesma habilidade com que produzdesculpas — gargalhou Tamir. Atuandopara a plateia, ele foi recompensado comrisadinhas, provocada mais pelo medo doque pela qualidade do seu humor.

— Tenho feito tudo o que é possível —insistiu o homem mais velho. O suordescia livremente da faixa do turbante esua barba grisalha tremia.

— Isso não basta.— Então talvez você peça demais —

tentou o mercador.Foi um plano arriscado. O sorriso que

usara para agradar a multidão se apagoudo rosto de Tamir e ele dirigiu os olhosfrios para o velho.

— Demais? — disse ele, uma nova

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frieza na voz. — Eu dei tudo a você. Semmim, você ainda estaria encantandoserpentes em troca de uma moeda. Tudoque pedi como retribuição foi queexecutasse as ordens que lhe dei. E dizque peço demais?

Ele sacou a adaga, a lâmina cintilando.Os espectadores mudaram de posiçãodesconfortavelmente. Altaïr olhou para osguardas, que permaneciam com os braçoscruzados, os sabres nos cintos e os rostosinexpressivos. Ninguém no souk ousavase mexer; era como se um encanto tivessebaixado sobre todos eles.

Um som de medo escapou do mercador.Ele caiu de joelhos, erguendo as mãosunidas em súplica. O rosto estavamarcado com piedade; os olhos brilhavamcom lágrimas.

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Tamir olhou-o abaixo, uma criaturapatética ajoelhada diante dele, e cuspiu. Omercador pestanejou para livrar os olhosdo muco.

— Você ousa me difamar? — rugiuTamir.

— Paz, Tamir — choramingou o velho.— Não tive a intenção de insultá-lo.

— Então devia ter mantido a bocafechada — rosnou Tamir.

Altaïr podia ver a sede de sangue emseus olhos e sabia exatamente o que iaacontecer. Realmente, Tamir deu umgolpe no mercador com a ponta da adaga,abrindo em sua túnica um buracoinclinado na diagonal que imediatamentese manchou de vermelho. O mercadorajoelhado caiu de costas com um gritoagudo que atravessou todo o mercado.

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— Não! Pare! — guinchou.— Parar? — zombou Tamir. — Eu

apenas comecei. — Deu um passoadiante, enfiou a adaga bem fundo nabarriga do homem e o empurrou para ochão, onde ele gritou como um animalenquanto Tamir o esfaqueava novamente.— Você veio ao meu souk — gritou.

E esfaqueou.— Ficou diante de meus homens.Esfaqueou de novo. Uma quarta vez. O

barulho soando igual ao de carne sendoamaciada. O velho continuava berrando.

— E ousou me insultar?Facadas. Ele pontuou cada palavra

com uma estocada de sua adaga.— Você deve aprender o seu lugar.Mas agora o mercador havia parado de

berrar. Agora ele não era nada, apenas um

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cadáver agredido, ensanguentado eesparramado no pátio, com a cabeçajazendo em um ângulo esquisito. Um dosguarda-costas de Tamir avançou pararetirar o corpo.

— Não — ordenou Tamir, resfolegante.Secou a barba com as costas da mão. —Deixe aí. — Então virou-se para se dirigirà multidão. — Que isso sirva de liçãopara o resto de vocês. Pensem duas vezesantes de me dizerem que uma coisa nãopode ser feita. Agora voltem ao trabalho.

Deixando o corpo do velho onde estava— um cachorro interessado já começava afarejar ao redor —, os espectadoresretomaram o seu dia a dia, e a atividaden o souk cresceu gradualmente. Poucosmomentos depois, era como se nadativesse acontecido. Como se o velho

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tivesse sido esquecido.Mas não por Altaïr. Ele se viu abrindo

as mãos cerradas, soltando um demoradoe pesado suspiro, controlando e contendosua raiva. Baixou um pouco a cabeça, comos olhos escondidos sob o capuz, ecaminhou furtivamente por entre amultidão no encalço de Tamir, que seguiapelo mercado, com seus dois guarda-costas não muito atrás. Chegando maisperto, Altaïr ouviu-o falar com osmercadores, cada qual encarando-o comolhos arregalados, aterrorizados,concordando impetuosamente com tudoque lhes era dito.

— Não posso vender isso — vociferouTamir. — Derreta e tente novamente. E,se o resultado for do mesmo modoinsatisfatório, você é quem vai derreter

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depois.Olhos arregalados. Assentindo,

assentindo, assentindo.— Não entendo o que você faz durante

o dia todo. Sua barraca está cheia demercadorias. Sua bolsa deveria estarcheia de moedas. Por que não conseguevender essas coisas? Não é difícil. Talvezvocê não esteja se empenhando osuficiente. Precisa de motivação?

O mercador estava concordando com acabeça antes de perceber o que lhe estavasendo perguntado, e rapidamente mudoupara um igualmente enfático balançarnegativo da cabeça. Tamir avançou. Amultidão fervilhava à sua volta. Seusguarda-costas... Seria agora umaoportunidade? Com o mercado inteiroaterrorizado por Tamir, seus homens

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haviam baixado a guarda. Eles tinhamficado atrás de outra barraca, ondeexigiam mercadorias para presentear suasmulheres. Tamir tinha novas vítimas paraaterrorizar.

Altaïr deslizou entre ele e os doisguarda-costas. Tenso, sentiu no dedomindinho a resistência do mecanismo desua lâmina. Tamir estava de costas paraele, ainda insultando outro dono debarraca.

— Você me implorou para ter esselugar. Jurou que ninguém seria capaz de sesair tão bem quanto você. Eu devia...

Altaïr avançou, e — tique — a lâminasaltou para fora enquanto movia um braçoem volta de Tamir e usava o outro paraenfiar a arma bem fundo.

Tamir emitiu um som estrangulado, mas

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não gritou, e, por um segundo, se retorceuantes de amolecer. Sobre o ombro dele,Altaïr fez contato com os olhosarregalados do dono de barracaaterrorizado e viu o homem lutarinternamente sobre o que fazer: dar oalarme ou... O mercador deu as costas eafastou-se.

Altaïr baixou Tamir para o chão entreduas barracas, fora da vista dos doisguarda-costas, que permaneciamdistraídos.

Os olhos de Tamir tremularam.— Fique em paz — desejou Altaïr

gentilmente.— Você pagará por isso, Assassino —

disse Tamir com um som estridente. Umfilete de sangue escorreu de seu nariz. —Você e toda a sua espécie.

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— Parece que é você quem estápagando agora, meu amigo. Não vai maislucrar com o sofrimento.

Tamir soltou uma gargalhada áspera,fraca.

— Pensa que sou um reles mercador damorte sugando no seio da guerra? Um alvoestranho talvez? Por que eu, quando tantosoutros fazem a mesma coisa?

— Quer dizer que se acha diferente? —perguntou Altaïr.

— Ah, mas eu sou, pois sirvo a umacausa muito mais nobre do que a dosimples lucro. Exatamente como meusirmãos...

— Irmãos?Novamente Tamir riu, enfraquecido.— Ah... ele pensa que ajo sozinho. Eu

não passo de uma peça. Um homem com

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um papel a desempenhar. Você conheceráos outros muito em breve. Eles nãoaceitarão com delicadeza o que você fez.

— Ótimo. Estou ansioso para acabarcom a vida deles também.

— Quanta vaidade. Ela o destruirá,garoto — disse Tamir. E morreu.

— As pessoas precisam morrer para ascoisas mudarem — entoou Altaïr,fechando os olhos do homem.

Tirou a pena de Al Mualim de dentrodo manto e molhou-a com o sangue deTamir, então deu uma última olhada nosguarda-costas e foi embora,desaparecendo na multidão. Ele já erauma sombra quando ouviu atrás de si umgrito.

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Tamir, o primeiro dos nove: Al Mualimestava silenciosamente satisfeito, olhandoda pena suja de sangue sobre suaescrivaninha para Altaïr e elogiando-o,antes de dar a ele a próxima tarefa.

Altaïr baixou a cabeça emconcordância e deixou o Mestre. No diaseguinte, juntou seus suprimentos e partiunovamente, dessa vez para Acre — umacidade mantida tão fortemente pelosCruzados quanto o era Damasco sob oshomens de Salah Al’din. Uma cidadeferida pela guerra.

Acre fora conquistada com dificuldade.

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Os cristãos a retomaram após umprolongado e sangrento cerco que durouquase dois anos. Altaïr desempenhara seupapel, ajudando a impedir que a água dacidade fosse envenenada pelosTemplários.

Ele, porém, nada pudera fazer sobre oenvenenamento que de fato ocorrera:cadáveres na água tinham disseminadodoenças igualmente para muçulmanos ecristãos — tanto dentro quanto fora dosmuros da cidade. Os suprimentos haviamse esgotado e milhares tinhamsimplesmente morrido de fome. Entãomais Cruzados chegaram para construirmais máquinas, e seus ataques fizeramburacos nas muralhas da cidade. Ossarracenos tinham reagido por temposuficiente para poderem tapar as brechas,

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até o exército de Ricardo Coração deLeão simplesmente esgotar osmuçulmanos e estes se renderem. OsCruzados haviam avançado parareivindicar a cidade e tomar suaguarnição como refém.

Negociações entre Salah Al’din eRicardo pela libertação dos reféns haviamcomeçado, com seus pontos maisimportantes complicados por umdesacordo entre Ricardo e o francêsConrad de Montferrat, que não estavadisposto a entregar os reféns feitos pelasforças francesas.

Conrad voltara para Tiro; Ricardoestava a caminho de Jaffa, onde suastropas encontrariam as de Salah Al’din. Edeixado como encarregado estava o irmãode Conrad, William.

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William de Montferrat havia ordenadoque os reféns muçulmanos fossem mortos.Quase três mil foram decapitados.

E foi assim que Altaïr se viuconduzindo suas investigações em umacidade marcada pela sua história recente:de sítio, doença, fome, crueldade ederramamento de sangue. Uma cidadecujos habitantes conheciam muito bem osofrimento, cujos olhos escondiam dor ecujos ombros estavam curvados pelatristeza. Nas áreas pobres ele encontrou opior do sofrimento. Corpos envoltos emmusselina revestiam as ruas, enquantoembriaguez e violência predominavamnos portos. A única área da cidade quenão fedia a desespero e morte era odistrito da cadeia, no qual os Cruzadosestavam baseados — onde Ricardo tinha

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sua cidadela, e William, seus aposentos.Dali os Cruzados haviam declarado Acrea capital do Reino de Jerusalém e atinham usado para armazenar suprimentosantes de Ricardo partir na marcha paraJaffa, deixando William encarregado. Atéentão seu reinado havia simplesmenteexacerbado os problemas da cidade, osquais eram por demais evidentes — eafligiram Altaïr enquanto seguia pelasruas. Ele ficou contente em terminar suasinvestigações e ir para o Bureau dosAssassinos. Ali o líder, Jabal, arrulhavadelicadamente para um pombo quesegurava nas mãos. Ele ergueu a vistaquando Altaïr entrou no aposento.

— Ah, Altaïr — exclamou suavemente.— Um passarinho me contou que vocêfaria uma visita...

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Ele riu da própria piada, então abriu amão para soltar o pombo. Em vez de voar,o pássaro simplesmente pousou no balcão,onde estufou as penas do peito e passou acaminhar de um lado para o outro como semontasse guarda. Jabal observou-o,divertindo-se, depois se ajeitou noassento para dar atenção ao visitante.

— E quem é o pobre infeliz escolhidopor Al Mualim para experimentar sualâmina, Altaïr? — perguntou.

— Al Mualim ordenou a execução deGarnier de Naplouse.

Jabal assustou-se.— Grão-Mestre dos Cavaleiros

Hospitalários?Altaïr concordou lentamente.— Sim. E já decidi quando e como

atacar.

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— Então compartilhe seu conhecimentocomigo. — Jabal parecia impressionado,e com razão.

— Ele vive e trabalha no hospital daOrdem, a noroeste daqui. Há rumores deque são cometidas atrocidades dentro deseus muros — começou Altaïr.

Quando Altaïr lhe contou o que sabia,Jabal concordou em pensamento,refletindo sobre suas palavras eperguntando finalmente:

— Qual é o seu plano?— Garnier permanece principalmente

em seus aposentos, no interior do hospital,embora saia de vez em quando paraexaminar os pacientes. É quando ele fizersua ronda que atacarei.

— É claro que você já pensou bastantesobre isso. Dou permissão para você ir.

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— E, com isso, entregou a Altaïr a penamarcadora de Al Mualim. — Removaessa mancha de Acre, Altaïr. Talvez issoo ajude a se purificar.

Altaïr apanhou a pena marcadora, fitouJabal com um olhar maligno — cadaAssassino teria ficado ciente de suavergonha? — e partiu, seguindo seucaminho pelos telhados até avistar ohospital. Ali parou, recuperando o fôlegoe organizando os pensamentos enquantoolhava para a construção abaixo.

Altaïr dera a Jabal uma versão truncadade suas descobertas; escondera suaverdadeira sensação de repugnância dolíder do Bureau. Ele ficara sabendo queDe Naplouse era Grão-Mestre da Ordemdos Cavaleiros Hospitalários. Fundadaoriginalmente em Jerusalém — seu

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objetivo era fornecer cuidados aosperegrinos doentes —, os cavaleirostinham sua base em uma das áreas maisespoliadas de Acre.

E ali, de acordo com o que Altaïrdescobrira, De Naplouse fazia tudo menosfornecer cuidados.

No distrito hospitalário, ele ouvira doismembros da Ordem comentarem que oGrão-Mestre estava recusando cidadãoscomuns no hospital, e que as pessoasestavam prestes a se tornar violentas porcausa disso. Um deles disse que temia arepetição de um escândalo que haviaocorrido em Tiro.

— Que escândalo? — perguntara oamigo.

O homem inclinou-se para bem pertodo companheiro, para responder, e Altaïr

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foi forçado a aguçar a audição.— Garnier em outro tempo chamou

essa cidade de lar — dissera o homem —,mas foi exilado. Dizem que faziaexperiências com seus cidadãos.

Seu companheiro fizera uma cara denáusea.

— Que tipo de experiência?— Não conheço os detalhes, mas me

preocupo... Será que ele começounovamente? Será por isso que ele setranca na fortaleza dos Hospitalários?

Mais tarde, Altaïr leu um pergaminho quehavia furtado de um aliado de DeNaplouse. O Hospitalário, segundo leu,não tinha intenções de curar seuspacientes. Com fornecimento deindivíduos de Jerusalém, ele realizava

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experiências — experiências para um amodesconhecido — com o objetivo deinduzir determinados estados em suascobaias. E Tamir — o recém-falecidoTamir — tinha sido encarregado deconseguir armas para a operação.

Uma frase em particular na cartachamou sua atenção: Temos de nosempenhar para recuperar o que nos foitomado. O que significava aquilo?Meditando a respeito, ele continuou suasinvestigações. O Grão-Mestre, segundosoube, permitia que “loucos”perambulassem pelo terreno do hospital, eele descobriu os momentos em que osarqueiros que protegiam as passagensacima do hospital deixavam seus postos.Ficou sabendo que De Naplouse gostavade fazer suas rondas sem um guarda-

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costas e que era permitida passagemapenas a monges.

Então, em posse de todas asinformações de que precisava, Altaïrvisitara Jabal para apanhar o marcador deAl Mualim.

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Agora ele se movimentava ao redor de umprédio vizinho à fortaleza dosHospitalários. Como previra, havia umguarda e um arqueiro, e Altaïr observou-ocaminhar pela passagem, de vez emquando dirigindo o olhar para o pátioabaixo, mas fitando sobretudo para alémda linha do telhado. Altaïr olhou para osol. Devia estar perto agora, pensou,sorrindo consigo mesmo, quando, de fato,o arqueiro foi até uma escada e desceu.

Altaïr permaneceu abaixado. Pulou dotelhado para a passagem e a percorreu emsilêncio, mas a passos rápidos, até

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conseguir enxergar além da beirada para opátio lá embaixo. Era totalmente muradopor pedra sombria, cinzenta eameaçadora, com um poço em seu centro,mas, fora isso, não tinha adorno algum,bem diferente dos prédios normalmenteenfeitados e decorados de Acre. Aliestavam reunidos vários guardas vestidoscom casacos pretos e acolchoados dosCavaleiros Hospitalários, com a cruzbranca no peito, e havia também um grupode monges. Movimentando-se entre elesestavam o que pareciam pacientes,descalços e sem camisa. Pobresmiseráveis que vagavam por ali, com asexpressões vazias e os olhos vidrados.

Altaïr franziu a testa. Mesmo com apassagem desguarnecida, era impossíveldescer para o pátio sem ser visto. Ele foi

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até o muro da frente do hospital, parapoder ver a rua lá fora. Sobre pedradescorada pelo sol, habitantes doentes esuas famílias imploravam que os guardasos deixassem entrar. Outros, cujas menteshaviam sido perdidas, perambulavam nomeio da multidão, balançando os braçosno ar, berrando bobagens e obscenidades.

E ali — Altaïr sorriu ao vê-lo —estava um grupo de eruditos. Eles semovimentavam pela multidão como se elanão existisse, indiferentes ao sofrimento eao tumulto à sua volta. Pareciam ir emdireção ao hospital. Tirando vantagem dadesordem, Altaïr desceu para a rua semser notado, juntou-se ao grupo de eruditose baixou a cabeça para concentrar o olharno seu arrastar de pés. De vez em quando,arriscava um olhar de soslaio para checar

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a posição deles e, como havia esperado,seguiam mesmo em direção ao hospital,onde os guardas se afastaram para deixá-los entrar no pátio.

Altaïr mexeu o nariz. Se, por um lado, arua havia conservado o cheiro da cidade,de cozimento e perfumes e temperos, alihavia o fedor de sofrimento, de morte erestos humanos. De alguma parte —através de um conjunto de portas fechadas— vinha uma série de gritos de dor,seguido de um gemido baixo. Devia serdo hospital principal, pensou ele. O quepôde confirmar, quando, de repente, asportas foram lançadas para fora e umpaciente saiu correndo loucamente para opátio.

— Não! Socorro! Ajudem-me! —gritava ele. O rosto estava contorcido de

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medo, os olhos, arregalados. — Ajudem-me, por favor! Vocês precisam meajudar!

Atrás dele vinha um guarda. Tinha umolhar indolente, como se os músculos desuas pálpebras tivessem sido cortados.Ele correu atrás do louco fugitivo e oagarrou. Então, acompanhado por outroguarda, começou a socá-lo e chutá-lo atéque o louco foi dominado e posto dejoelhos.

Altaïr observava. Sentiu o queixo seretesar e os punhos se fecharem enquantoos guardas batiam no homem. Outrospacientes se aproximaram para ter umamelhor visão do espetáculo, olhando comexpressões que registravam apenas umleve interesse, balançando-seligeiramente.

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— Piedade! — urrou o louco, enquantochoviam socos sobre ele. — Imploro porpiedade. Já chega!

Ele parou. De repente sua dor foiesquecida quando as portas do hospital seabriram e dali surgiu um homem que sópoderia ser Garnier de Naplouse.

Ele era mais baixo do que Altaïresperava. Não usava barba e tinha cabelobranco cortado bem curto, olhos fundos euma boca cruel, virada para baixo, quelhe davam uma aparência cadavérica. Acruz branca dos Hospitalários estava emseus braços e ele carregava um crucifixopendurado no pescoço — mas, percebeuAltaïr, qualquer que fosse o Deus que elevenerava, este o tinha abandonado. Poisele também usava um avental. Um aventalsujo, manchado de sangue.

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Agora olhava sombriamente para olouco prostrado à sua frente, seguro porOlho Indolente e outro guarda, OlhoIndolente erguendo o punho para socá-lonovamente.

— Basta, meu filho — ordenou DeNaplouse. — Pedi que você trouxesse opaciente de volta, não que o matasse.

Olho Indolente baixou o punho comrelutância e De Naplouse foi mais adiante,aproximando-se do louco, que gemia etentava se soltar, como um animalapavorado.

De Naplouse sorriu, a severidadedesaparecendo.

— Pronto, pronto — disse ele ao louco,quase ternamente. — Tudo vai ficar bem.Dê sua mão.

O louco balançou a cabeça.

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— Não... não! Não me toque. De novonão...

De Naplouse enrugou a testa, como setivesse sido levemente ferido pela reaçãodo homem a ele.

— Expulse esse medo, ou nãoconseguirei ajudá-lo — disse elecalmamente.

— Me ajudar? Como ajudou os outros?Você tomou as almas deles. Mas não aminha. Não. Não terá a minha. Nunca,nunca, nunca... A minha não, a minha não,a minha não, a minha não...

A suavidade sumiu quando DeNaplouse esbofeteou o louco.

— Contenha-se — vociferou ele. Osolhos fundos rutilaram, e a cabeça dooutro baixou. — Você acha que isso medá prazer? Você acha que quero machucá-

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lo? Mas você não me dá escolha...De repente, o louco se soltou dos dois

guardas e tentou correr para o meio damultidão que observava.

— Cada palavra gentil é acompanhadadas costas de sua mão... — guinchou eleao passar perto de Altaïr enquanto os doisguardas corriam atrás. — É tudo mentira efraude. Ele não se contentará até todos securvarem a ele.

Olho Indolente agarrou-o e levou-o devolta para a frente de De Naplouse, ondeficou choramingando debaixo do olharfrio do Grão-Mestre.

— Você não devia ter feito isso —frisou De Naplouse, lentamente, e, depois,para Olho Indolente. — Leve-o de voltapara seus aposentos. Irei para lá assimque cuidar dos outros.

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— Não podem me manter aqui! —berrou o louco. — Vou fugir novamente.

De Naplouse parou.— Não, não vai — falou calmamente,

depois dirigiu-se a Olho Indolente: —Quebre as pernas dele. As duas.

Olho Indolente sorriu quando o loucotentou se livrar. Em seguida houve doisrepugnantes estalidos, como gravetossendo quebrados, quando o enormecavaleiro bateu o pé com força em umaperna, depois na outra. A vítima gritou, eAltaïr descobriu-se avançando, incapazde se conter, perturbado com a crueldadegratuita.

Então o momento havia passado: ohomem perdera a consciência — a dor,sem dúvida, fora demais para suportar —e os dois guardas o arrastavam dali. De

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Naplouse olhou para ele. A expressãocompassiva estava de volta ao seu rosto.

— Sinto muito, meu filho — disse ele,quase para si mesmo, antes de se dirigir àmultidão. — Vocês não têm nada melhorpara fazer? — bradou, e olhousombriamente para monges e pacientes,que lentamente começaram a se dispersar.Quando virou de costas para se juntar aeles, Altaïr viu De Naplouse esquadrinharcuidadosamente a multidão, como seprocurasse por alguém que teria sidoenviado para matá-lo.

Ótimo, pensou Altaïr ao ouvir a portado hospital se fechar, quando o Grão-Mestre deixou o pátio. Que ele tenhamedo. Que sinta um pouco do que eleinflige aos outros. A imagem o animou,enquanto se juntava aos eruditos, que

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atravessavam a segunda porta. Estalevava à ala principal, onde esteiras depalha pouco conseguiam esconder o fortecheiro desagradável de sofrimento erestos humanos. Altaïr tentou não ficarcom náusea, notando que vários eruditoslevavam o tecido de seus mantos até onariz para bloquear o fedor. Dali surgiamos gemidos e Altaïr viu camas de hospitalcontendo homens que gemiam eocasionalmente gritavam de dor.Mantendo a cabeça curvada, eleobservava por baixo do capuz, e viu DeNaplouse aproximar-se de uma cama naqual um homem muito magro estavadeitado, contido por tiras de couro.

— E como está se sentindo? —perguntou-lhe De Naplouse.

Cheio de dores, o paciente resfolegou:

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— O que você fez... comigo?— Ah, sim. A dor. Dói no início, não

vou mentir. É um pequeno preço pelo qualse tem de pagar. Com o tempo, você vaiconcordar.

O homem tentou levantar a cabeça dacama.

— Você é... um monstro...De Naplouse sorriu com indulgência.— Já fui chamado de coisa pior.Seguiu adiante, passando por uma jaula

de madeira que cercava outra cama eolhou para o... não, não era um paciente,Altaïr se deu conta. Aqueles pobresmiseráveis eram cobaias. Eramexperimentos. Novamente lutou paraconter a raiva. Olhou em volta. A maioriados guardas havia se reunido na outraextremidade da ala. Do mesmo modo

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como no pátio, vários pacientesdesorientados cambaleavam por ali, e eleviu o mesmo bando de monges, quepareciam prestar atenção em cadaafirmação de De Naplouse, ao mesmotempo que mantinham uma distânciarespeitosa, conversando entre si, enquantoo Grão-Mestre fazia sua ronda.

Se ele ia fazer aquilo — e ele iamesmo fazer aquilo —, então teria de serlogo.

Mas De Naplouse foi para outra cama,sorrindo para o homem deitado ali.

— Dizem que você agora consegueandar — disse ele afetuosamente. —Impressionante.

O homem parecia confuso.— Depois... de tanto tempo. Quase

esqueci... como.

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De Naplouse parecia contente...Contente de verdade.

— Isso é maravilhoso — afirmou DeNaplouse, radiante.

— Eu não... entendo. Por que meajudou?

— Porque ninguém mais seria capaz —respondeu De Naplouse, seguindo adiante.

— Eu devo minha vida a você — disseo homem da cama seguinte. — Estou àssuas ordens. Obrigado. Obrigado por melibertar.

— Obrigado por me deixar — retrucouDe Naplouse.

Altaïr hesitou por um instante. Estariaele enganado? De Naplouse não era ummonstro? Então rapidamente afastou suasdúvidas, pensando, em vez disso, nosgritos de agonia do louco quando

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quebraram suas pernas, nos pacientes semvida perambulando pelo hospital. Se aquihavia exemplos de cura, estes certamenteeram superados por atos de barbarismo.

Agora De Naplouse havia chegado àúltima cama da ala. Em pouco tempo eleiria embora e Altaïr perderia a chance.Decidido, o Assassino lançou um olharpara trás: os guardas continuavam no fimdo salão. Ele saiu do meio do grupo deeruditos, indo para trás de De Naplousequando o Grão-Mestre se curvou diantedo paciente.

Sua lâmina saltou adiante e Altaïrenfiou-a no alvo, alcançando De Naplousee abafando seu grito no momento em queele arqueava as costas com a dor. Quasedelicadamente, o Assassino baixou omédico para o chão.

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— Livre-se de seu fardo — sussurrou.De Naplouse pestanejou e olhou para

ele; bem no rosto de seu Assassino. Masnão havia medo naqueles olhosmoribundos: o que Altaïr viu foipreocupação.

— Ah... Eu agora descansarei, não? —disse ele. — O sono eterno me chama.Mas, antes de fechar os olhos, precisosaber... O que será das minhas crianças?

Crianças?— Você se refere às pessoas a quem

fez sofrer com suas experiências cruéis?— Altaïr não conseguia evitar o asco emsua voz. — Elas agora ficarão livres paravoltar para casa.

De Naplouse riu secamente.— Casas? Que casas? Os esgotos? Os

bordéis? As prisões de onde nós as

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tiramos?— Você pegou essas pessoas contra a

vontade delas — continuou Altaïr.— Sim. O pouco de vontade que ainda

lhes restava — arfou De Naplouse. —Você é mesmo tão ingênuo assim? Vocêsatisfaz uma criança em prantossimplesmente porque ela chora? “Mas euquero brincar com fogo, papai.” O quevocê diria? “Como queira”? Ah... Masentão você responderia pelas queimadurasdela.

— Estas pessoas não são crianças —rebateu Altaïr, querendo entender omoribundo —, são homens e mulheresadultos.

— No corpo, talvez. Mas não na mente.Que é o próprio dano que procuroconsertar. Admito que, sem o artefato, que

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vocês nos roubaram, meu progressodesacelerou. Mas existem as ervas.Misturas e extratos. Meus guardas sãoprova disso. Eram loucos antes de eudescobri-los e libertá-los das prisões desuas mentes. E, com minha morte, elesvoltarão a ser loucos...

— Acredita mesmo que estavaajudando essas pessoas?

De Naplouse sorriu, com a luzcomeçando a se apagar de seus olhos.

— Não é o que acredito. É o que sei.E morreu. Altaïr baixou a cabeça dele

para a pedra, apanhou a pena de AlMualim e passou-a no sangue.

— Que a morte não seja indelicada —sussurrou.

No mesmo momento, ouviu-se um gritosaído do meio dos monges que estavam

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próximos. Altaïr ergueu-se ao lado docorpo e viu os guardas dispararem pelaala em sua direção. Quando sacaram asespadas, ele deu um salto para cima ecorreu, indo em direção a uma portadistante, a qual, Altaïr esperavafervorosamente, levaria ao pátio.

A porta se abriu e ele ficou contente aover o pátio à sua frente.

Ficou, porém, menos contente, em verOlho Indolente, que obstruía a portaaberta com a espada de folha largadesembainhada...

Altaïr também desembainhou suaespada e, com a lâmina em um braço e aespada na outra mão, enfrentou OlhoIndolente com um som metálico de aço.Por um segundo, os dois homens ficaramnariz com nariz, e Altaïr pôde ver bem de

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perto a pele cicatrizada do olho docavaleiro. Então Olho Indolente recuou,golpeando à frente no mesmo instante eencontrando a espada de Altaïr, mas ohomem se recompôs tão rapidamente queo Assassino quase perdeu a defesa. Altaïrdeu um passo oscilante para trás,querendo deixar um espaço entre ele eOlho Indolente, que era melhorespadachim do que havia previsto.Também era enorme. Os tendões de seupescoço se salientavam, desenvolvidosdurante anos pelo manejo da espada defolha larga. Altaïr ouviu atrás de si osoutros guardas chegarem, mas elespararam diante de um sinal de OlhoIndolente.

— Deixem ele comigo — rosnou ogigantesco cavaleiro.

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Ele era arrogante, excessivamenteconfiante. Altaïr sorriu, saboreando aironia. Então avançou, e sua lâmina varreuacima. Sorrindo, Olho Indolente desviou ogolpe e grunhiu quando Altaïr saltou paraa esquerda dele, aproximando-se pelooutro lado — o lado de seu olho ruim, seuponto fraco — e cortando seu pescoço.

A garganta do cavaleiro abriu-se esangue brotou do ferimento enquanto elecaía de joelhos. De trás de Altaïr, houveum grito de surpresa, e ele então começoua correr, colidindo com uma porção deloucos que haviam se reunido paraobservar. Em seguida disparou pelo pátio,passando pelo poço e por baixo do arcopara Acre.

Parou, examinando minuciosamente alinha dos telhados. Logo depois, pulou

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por cima de uma barraca, e um furiosomercador sacudiu o punho no ar enquantoAltaïr escalava uma parede atrás dele ealcançava os telhados. Correndo esaltando, deixou para trás o hospitaltenebroso e misturou-se ao movimento dacidade, ainda meditando sobre as últimaspalavras de De Naplouse. O artefato doqual havia falado. Por um instante Altaïrpensou na caixa sobre a escrivaninha deAl Mualim, mas não. Que ligaçãopossível poderia ter o Hospitalário comaquilo?

Mas se não aquilo, então o quê?

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— Garnier de Naplouse está morto —anunciara ele a Al Mualim dias depois.

— Excelente. — O Mestre assentira emaprovação. — Não poderíamos teresperado um resultado mais agradável.

— Mesmo assim... — começara Altaïr.— O quê?— O médico insistiu que o trabalho que

fazia era nobre — dissera Altaïr. — E,olhando para trás, muitos daqueles queachei que fossem prisioneiros delepareciam agradecidos. Nem todos, mas osuficiente para me fazer pensar... Comoele conseguiu se transformar de inimigo

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em amigo?Al Mualim dera uma risadinha.— Líderes sempre encontrarão meios

de fazer com que outros os obedeçam. E éisso que torna essas pessoas líderes.Quando as palavras fracassam, eles usama moeda. Quando isso também nãoadianta, lançam mão de coisas maisbásicas: suborno, ameaça e outros tiposde trapaças. Existem plantas, Altaïr, ervasde terras distantes, que podem levar umhomem a perder os sentidos. O prazer quetrazem é tão grande que alguns homenspodem até mesmo se deixar escravizarpor elas.

Altaïr assentira, pensando nospacientes de olhos vidrados. No louco.

— Você acha então que aqueles homensestavam drogados? Envenenados?

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— Sim, se é exatamente como vocêdescreveu — disse Al Mualim. — Nossosinimigos me acusaram da mesma coisa.

Então ele dera a próxima missão aAltaïr, que ficou pensando em por que oMestre sorrira quando tinha dito a ele quecompletasse suas investigações e depoisse apresentasse ao rafiq do Bureau dosAssassinos em Jerusalém.

Agora, dirigindo-se ao Bureau,descobriu o motivo. Era porque o Mestrese divertia ao pensar em Altaïr cruzandomais uma vez seu caminho com o deMalik.

Quando Altaïr entrou, o Assassinolevantou-se de trás da escrivaninha. Porum momento, os dois se olharam, enenhum deles escondeu o desdém. Então,lentamente, Malik se virou, mostrando a

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Altaïr onde um dia ficava o seu braço.Altaïr empalideceu. Claro. Ferido na

luta com os homens de De Sablé, osmelhores cirurgiões de Masyaf nãohaviam conseguido salvar o braçoesquerdo de Malik — e, portanto, foramobrigados a amputá-lo.

Malik deu um sorriso rancoroso devitória, uma que custara um preço tão alto,e Altaïr lembrou-se de si mesmo.Lembrou-se de que não tinha motivos paratratar Malik de qualquer maneira a não sercom humildade e respeito. Baixou acabeça para reconhecer as perdas dooutro. Seu irmão. Seu braço. Sua posição.

— Segurança e paz, Malik — disse elefinalmente.

— Sua presença aqui me priva deambas — rebateu Malik. Ele, porém, tinha

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muitos motivos para tratar Altaïr comdesdém, e, evidentemente, pretendia fazerisso. — O que você quer?

— Al Mualim pediu...— Que você execute alguma tarefa

como um esforço para se redimir? —zombou Malik. — Está bem. Diga logo. Oque descobriu?

— O que sei é isso — começou Altaïr.— O alvo é Talal, que trafica vidashumanas, sequestrando cidadãos deJerusalém para vendê-los como escravos.Sua base é um armazém localizado nointerior do antemuro ao norte daqui.Enquanto conversamos, ele prepara aviagem de uma caravana. Atacarei quandoele estiver inspecionando sua mercadoria.Se eu conseguir evitar seus homens, opróprio Talal será um desafio

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insignificante.Malik entortou o lábio.— Desafio insignificante? Ouça a si

mesmo. Quanta arrogância.Em silêncio, Altaïr repreendeu-se.

Malik tinha razão. Ele pensou no oradorde Damasco a quem subestimara e quequase o superara.

— Já terminamos? — indagou ele, semnada revelar de seus pensamentos aMalik. — Está satisfeito com o quedescobri?

— Não — respondeu Malik, segurandoa pena de Al Mualim —, mas terá deservir.

Altaïr assentiu. Olhou para onde amanga de Malik pendia frouxa e esteveprestes a dizer uma coisa antes de se darconta de que não havia palavras que

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pudessem contornar seus fracassos. Elecustara demais a Malik para algum dia teresperanças de um perdão de sua parte.

Em vez disso, virou-se e deixou oBureau. Outro alvo iria sentir o beijo desua lâmina.

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Pouco depois, Altaïr entrava furtivamenteno armazém onde o carregamento estavasendo preparado, olhando em volta semgostar de nada do que encontrou.

Não havia guardas. Nem ajudantes.Deu dois passos adiante, então parou.

Não. No que estava pensando? Tudo emrelação ao armazém estava errado. Estavapara dar meia-volta e ir embora quandosubitamente a porta foi fechada e se ouviuo inconfundível som de uma trancaestrondeando ao se encaixar no lugar.

Ele praguejou e sacou a espada.Então avançou sorrateiramente, os

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sentidos gradualmente se adaptando àescuridão, à umidade, ao cheiro de tochase...

Algo mais. O cheiro de um rebanho queAltaïr achava ser mais humano do queanimal.

As escassas chamas das tochasiluminavam as paredes que seguiamescuras e lisas, e, de alguma parte, vinhao pinga-pinga de água. O som que ouviu aseguir foi um gemido baixo.

Com os olhos lentamente se adaptando,margeou à frente, vendo caixotes e barrise então... uma jaula. Aproximou-se dela— e quase recuou diante do que viu. Umhomem patético e trêmulo estava sentadocom as pernas contra o peito e observavaAltaïr com olhos lacrimejantes emelancólicos. Ele ergueu a mão trêmula.

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— Ajude-me — pediu.Então, por trás, Altaïr ouviu outro som

e, ao girar, viu um segundo homem. Eleestava suspenso na parede, com os punhose os tornozelos acorrentados. A cabeçapendia sobre o peito e o cabelo sujo caíasobre o rosto, mas os lábios pareciam semexer como se em uma prece.

Altaïr foi na direção dele. Então,ouvindo outra voz a seus pés, olhouabaixo e viu uma grade de ferro embutidano pavimento do chão do armazém.Olhando através dela encontrou o rostoamedrontado de outro escravo, com osdedos ossudos enfiados entre as barras,implorando a Altaïr. Além dele, noburaco, o Assassino avistou mais formasescuras, além de ouvir movimentos e maisvozes. Por um instante foi como se o

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aposento se enchesse com os apelos dosaprisionados.

— Me ajude, me ajude.Um insistente e suplicante som que o

fez querer tapar os ouvidos. Até derepente ouvir uma voz mais alta:

— Você não deveria ter vindo aqui,Assassino.

Talal, certamente.Altaïr virou-se na direção do som e viu

as sombras se movimentarem em umasacada acima dele. Arqueiros? Ficoutenso e agachou-se, a espada pronta,oferecendo o menor alvo possível.

Mas, se Talal o queria morto, Altaïr jáestaria morto àquela altura. Ele haviacaído direto na armadilha do mercador deescravos — o erro de um idiota, de umaprendiz —, porém, ela ainda não tinha se

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fechado por completo.— Mas você não é do tipo que escuta

— zombou Talal —, para não expor suaIrmandade.

Altaïr avançou sorrateiramente, aindatentando localizar Talal. Ele estava naparte de cima, isso era certo. Mas onde?

— Acha que eu não sabia que vocêestava aqui? — continuou a vozdesincorporada, com uma risadinha. —Fui informado de sua presença nomomento em que entrou nesta cidade,tamanho é o alcance do meu poder.

De baixo, ele ouviu soluços e baixou avista de relance para ver mais barras,mais rostos sujos marcados por lágrimasencarando-o do escuro.

— Me ajude... Me salve...Ali havia mais jaulas, mais escravos,

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agora homens e mulheres: mendigos,prostitutas, bêbados e loucos.

— Me ajude. Me ajude.— Então há escravos aqui — bradou

Altaïr —, mas onde estão os traficantesdeles?

Talal o ignorou.— Veja minha obra em toda a sua

glória — anunciou, e mais luzesreluziram, revelando mais rostosamedrontados e suplicantes.

Diante de Altaïr um segundo portão seabriu, dando acesso a outro ambiente. Elesubiu um lance de escada e entrou em umamplo espaço com uma sacada quepercorria todos os lados acima dele. Aliavistou figuras indistintas e ajustou aforça da mão que segurava a espada.

— E agora, traficante de escravos? —

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berrou.Talal tentava amedrontá-lo. Algumas

coisas davam medo em Altaïr, é verdade— mas nada do que o traficante deescravos fosse capaz de fazer, disso elesabia.

— Não me chame disso — gritou Talal.— Eu só quero ajudá-los. Como eumesmo fui ajudado.

Altaïr ainda conseguia ouvir os baixosgemidos dos escravos na câmara atrásdele. Duvidava de que eles considerassemaquilo uma ajuda.

— Não é bondade nenhuma deixar aspessoas presas dessa maneira — gritouele no escuro.

Talal, contudo, permanecia escondido.— Presas? Eu os mantenho em

segurança, preparando-os para a jornada

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que terão pela frente.— Que jornada? — zombou Altaïr. —

Isso é uma vida de servidão.— Você não sabe de nada. Foi

bobagem trazê-lo aqui. E pensar que sevocê visse poderia entender.

— Eu entendo muito bem. Você não temcoragem de me enfrentar. Prefere seesconder entre as sombras. Chega deconversa. Apareça.

— Ah... Então quer ver o homem que otrouxe aqui?

Altaïr ouviu um movimento na sacada.— Você não me trouxe aqui — bradou.

— Vim por conta própria.Uma gargalhada ecoou nas sacadas

acima dele.— Foi mesmo? — zombou Talal. —

Quem destrancou a porta? Desobstruiu o

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caminho? Você ergueu a espada apenascontra um único homem meu, não é? Não.Tudo isso eu que fiz para você.

Algo se movimentou no teto acima dasacada, lançando um jorro de luz sobre ochão de pedra.

— Vá então para a luz — gritou Talallá de cima —, e concederei um últimofavor a você.

Novamente, Altaïr disse a si mesmoque, se Talal o quisesse morto, seusarqueiros já o teriam enchido de flechas, efoi para a luz. Ao fazer isso, mascaradossurgiram das sombras da sacada, pulandopara baixo e cercando-o de modosilencioso. Eles o observavam comolhares indiferentes, as espadas ao lado eos peitos subindo e descendo.

Altaïr engoliu em seco. Havia seis

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deles. Não eram nenhum “desafioinsignificante”.

Então surgiram passadas acima e eleolhou para a sacada onde Talal havia sedeslocado da área semi-iluminada e agoraolhava-o abaixo. Ele usava uma túnicalistrada e um grosso cinturão. Sobre oombro havia um arco.

— Agora estou diante de você — disseele, abrindo os braços e sorrindo, comose desse boas-vindas calorosas a umconvidado à sua residência. — É isso quedeseja?

— Desça aqui — indicou Altaïr com aespada. — Vamos decidir isso com honra.

— Por que isso sempre precisa serobtido com violência? — retrucou Talal,soando quase decepcionado, antes deacrescentar: — Parece que não posso

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ajudá-lo, Assassino, pois você não querajudar a si mesmo. E não posso permitirque meu trabalho seja ameaçado. Não medeixa escolha: você deve morrer.

Acenou para seus homens.Que ergueram suas espadas.Então atacaram.Altaïr grunhiu e se viu rechaçando

golpes, dois de cada vez, empurrando-ospara trás e logo em seguida voltando aatenção para um terceiro. Os outrosesperavam sua vez. A estratégia deles,Altaïr logo percebeu, era atacá-lo empares.

Com isso ele conseguia lidar. Agarrouum deles, contente em ver seus olhos searregalarem chocados através da máscara,então o jogou para trás contra um quintohomem e os dois se chocaram contra um

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andaime que desabou, despedaçando-seem volta deles. Altaïr aproveitou avantagem e, perfurando com a ponta daespada, ouviu um grito e um chocalhar demorte que vinham do homem estatelado nochão.

Seus atacantes se reagruparam, olhandoum para o outro enquanto o cercavamlentamente. Voltou-se contra eles, espadaem punho, sorrindo, agora quase sedeleitando. Cinco deles, treinados,matadores mascarados, contra umAssassino solitário. Pensaram que Altaïrseria uma vítima fácil. Ele podia ver issoem seus rostos. Uma briga rápida depois enão estariam tão certos assim.

Ele escolheu um. Um velho truque quelhe foi ensinado por Al Mualim paraquando enfrentasse vários oponentes ao

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mesmo tempo.Altaïr fixou de propósito o olhar no

guarda diretamente à sua frente...Não ignore os outros, mas se

concentre em um deles. Torne-o seu alvo.Deixe que ele saiba que é o seu alvo.

Ele sorriu. O guarda se lastimou.Então liquide-o.Como uma cobra, Altaïr atacou,

avançando para o guarda, lento demaispara reagir — que olhou abaixo para alâmina de Altaïr quando ela foi enfiadaem seu peito, gemendo em seguidaenquanto caía de joelhos. Com um rasgarde carne, Altaïr retirou a espada e entãovoltou sua atenção ao homem seguinte.

Escolha um dos oponentes...O guarda parecia aterrorizado; agora

não era mais um matador, pois sua espada

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começou a tremer. Ele gritou algo em umdialeto que Altaïr não entendeu, entãoavançou desordenadamente, esperandolevar a luta para Altaïr, que se afastoupara o lado e talhou a barriga do homem,satisfeito em ver as entranhas reluzentessaírem, derramando-se pelo ferimento. Decima, a voz de Talal convencia seushomens a atacarem, enquanto outro caía eos dois restantes atacavam ao mesmotempo. Eles agora não pareciam tãointimidadores, com máscaras ou sem.Pareciam exatamente o que eram: homensamedrontados prestes a morrer.

Altaïr derrubou outro, sangueesguichando do pescoço. O último sevirou e fugiu, esperando encontrar abrigona sacada. Mas Altaïr embainhou aespada, empalmou duas facas de

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arremesso, que giraram, brilhando —uma, duas —, e atingiram as costas dofugitivo, fazendo com que ele caísse daescada. Não escaparia mais.

Altaïr ouviu passadas apressadasacima. Talal fugia. Curvando-se pararecuperar as facas, ele subiu a escada,chegando ao segundo andar a tempo dever Talal escalar uma segunda série dedegraus para o telhado.

O Assassino foi atrás dele, chegando aotopo do armazém por uma claraboia, bema tempo de recuar a cabeça quando umaflecha estalou, estremecendo na madeira aseu lado. Avistou o arqueiro em umtelhado distante, já armando uma segundaflecha, e saiu depressa da claraboia,rolando pelo telhado e arremessando duasfacas, ainda molhadas de sangue da vítima

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anterior.O arqueiro gritou e caiu, com uma faca

cravada no pescoço e a outra no peito.Mais além, Altaïr avistou Talaldisparando por uma ponte entre moradias,depois saltando para um andaime e sebalançando abaixo até a rua. Ali, esticouo pescoço, viu que Altaïr já o perseguia esaiu correndo.

O Assassino estava para alcançá-lo.Ele era rápido e, diferentemente de Talal,não estava olhando com frequência porcima do ombro para ver se estava sendoseguido. O que significava que nãoesbarrava em pedestres inesperados,assim como Talal: mulheres que gritavame o repreendiam, homens que praguejavame o empurravam de volta.

Tudo isso retardava seu progresso

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pelas ruas e pelos mercados, de modo queem pouco tempo perdera sua dianteira e,quando ele virou a cabeça, Altaïr viu obranco de seus olhos.

— Fuja agora — gritou Talal por cimado ombro —, enquanto ainda pode. Meusguardas logo estarão aqui.

Altaïr deu uma risadinha. E continuoucorrendo.

— Desista desta caçada e eu o deixareiviver — guinchou Talal.

Altaïr não disse uma palavra.Continuou a perseguição. Agilmente,costurou pelo meio da multidão,superando os obstáculos das mercadoriasque Talal jogava atrás de si para retardarseu perseguidor. Altaïr quase alcançavaTalal. A caçada estava praticamenteterminada.

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Adiante dele, Talal virou a cabeça maisuma vez, viu que a brecha estava sefechando e tentou apelar de novo paraAltaïr.

— Fique longe de mim e me ouça —berrou, com desespero na voz. — Talvezpossamos fazer um acordo.

Altaïr não disse nada, apenas ficouolhando enquanto Talal virava-senovamente. O traficante de escravosestava agora prestes a colidir com umamulher cujo rosto estava oculto por váriosfrascos. Nenhum dos dois olhava paraonde ia.

— Eu não fiz nada para você — gritouTalal, esquecendo-se talvez de que,apenas minutos antes, enviara seis homenspara matar Altaïr. — Por que insiste emme perse...

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A respiração deixou seu corpo em umrepente, houve um emaranhar de braços epernas e Talal desabou no chão com amulher dos frascos, cujos artigos seespatifaram em volta dos dois.

Ele tentou levantar, mas era lentodemais, e Altaïr já estava em cima dele.Clique. Assim que sua lâmina vorazapareceu, ele a afundou no homem, queestava ajoelhado à sua frente, o sangue jáesguichando do nariz e da boca. Ao ladodeles, a mulher dos frascos conseguiu selevantar, indignada e com o rostovermelho, disposta, a atacar Talal. Ao verAltaïr e sua lâmina, sem falar no sangueque escorria do homem, ela mudou deideia e saiu em disparada,choramingando. Outros os evitaram,sentindo que havia algo errado. Em

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Jerusalém, uma cidade acostumada aoconflito, os habitantes preferiam não pararpara observar a violência por medo de setornar parte dela.

Altaïr inclinou-se para perto de Talal.— Você agora não tem para onde fugir

— disse ele. — Divida seus segredoscomigo.

— Minha parte foi desempenhada,Assassino — retrucou Talal. — Airmandade não é tão fraca assim a pontode minha morte interromper o trabalhoque faz.

A mente de Altaïr voltou a Tamir. Estetambém, ao morrer, mencionara outros.

— Que irmandade? — indagou.Talal conseguiu dar um sorriso.— Al Mualim não é o único com

projetos para a Terra Santa. E isso é tudo

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que conseguirá de mim.— Então acabamos aqui. Implore

perdão ao seu Deus.— Não existe nenhum Deus, Assassino

— gargalhou debilmente Talal. — E, sealguma vez tivesse existido, há muitotempo ele nos abandonou. Há muito tempoabandonou os homens e as mulheres quetomei em meus braços.

— O que quer dizer?— Mendigos. Prostitutas. Viciados.

Leprosos. Você os acha apropriados paraescravos? São inadequados para astarefas mais servis. Não... Eu os junteinão para vender, mas para salvar. Mesmoassim, você mataria a todos nós. Pornenhum outro motivo a não ser porque foipedido a você.

— Não — disse Altaïr, agora confuso.

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— Você lucra com a guerra. Com vidasperdidas e destruídas.

— Isso é o que você pensa, ignorantecomo é. Limitou sua mente, hein? Dizemque é o que a sua laia faz melhor. Vê aironia nisso tudo?

Altaïr o encarou. Era exatamente comohavia acontecido com De Naplouse. Aspalavras do moribundo ameaçavamsubverter tudo. Altaïr conhecia seu alvo;ou, pelo menos, pensava que conhecia.

— Não, ainda não, ao que parece. —Talal se permitiu um sorriso final dianteda evidente confusão de Altaïr. — Masvocê verá.

E, dito isso, morreu.Altaïr estendeu a mão para fechar seus

olhos, murmurando, “Sinto muito”, antesde molhar a pena marcadora com sangue.

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Depois se levantou e se perdeu no meioda multidão. O corpo de Talal manchava aareia atrás dele.

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Em suas viagens, Altaïr acampavapróximo a poços, piscinas naturais oufontes; qualquer lugar onde houvesse águae sombra de palmeiras, onde pudessedescansar e seu cavalo, solto, conseguissepastar. Geralmente era em um trecho deverde até onde a vista alcançava, portantohavia pouca chance do animal se perder.

Naquela noite, ele encontrou uma fonteque fora murada e abobadada para evitarque o deserto engolisse o precioso pontode água, e bebeu bastante. Depois, deitouno abrigo que arranjou, ouvindo o gotejardo outro lado da pedra toscamente cortada

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e pensando em Talal no momento que suavida se esvaiu. Seus pensamentosrecuaram ainda mais, aos cadáveres deseu passado. Uma vida pontilhada pelamorte.

Quando garoto, Altaïr a encontrara pelaprimeira vez durante o cerco. Assassinose sarracenos e, é claro, seu próprio pai,embora ele houvesse sidomisericordiosamente poupado dessavisão. Tinha, porém, ouvido a morte,ouvira a espada cair, seguida por umbaque surdo, e correu na direção daportinhola da entrada, querendo se juntarao pai, quando mãos o agarraram.

Ele tinha se contorcido, gritado:— Me larga! Me larga!— Não, menino.E Altaïr viu que era Ahmad, o agente

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cuja vida o pai de Altaïr havia trocadopela sua. E Altaïr olhou para ele, os olhosardendo de ódio, sem ligar se Ahmad forasalvo de sua provação exaurido eensanguentado e mal conseguindo se pôrde pé, sua alma ferida pela vergonha deter sucumbido ao interrogatório sarraceno.Altaïr apenas se importava com o fato deseu pai se entregar para morrer e...

— A culpa é sua! — gritara ele,contorcendo-se e livrando-se de Ahmad,que permanecia com a cabeça baixa,absorvendo as palavras do menino comose fossem socos. — A culpa é sua —exclamava novamente Altaïr.

Então se sentou sobre a gramaquebradiça, enterrando a cabeça nasmãos, desejando excluir o mundo. Apoucos passos dali, Ahmad, exausto e

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ferido, também se dobrara para o chão.Do lado de fora das muralhas da

cidadela, os sarracenos partiram,deixando para trás o corpo decapitado dopai de Altaïr para ser recuperado pelosAssassinos. Deixando feridas que nuncairiam cicatrizar.

Durante um tempo, Altaïr permaneceranos aposentos que dividira com o pai, quetinha as paredes de pedra cinzenta,esteiras no chão e uma escrivaninhasimples entre dois catres; um maior, outromenor. Ele mudara de camas: passara adormir na maior para poder sentir ocheiro do pai, e, às vezes, o imaginava noaposento, sentado à escrivaninha, lendo,rabiscando em um rolo de pergaminho, ouvoltando, tarde da noite, para repreendero filho por ainda estar acordado, para

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depois apagar a vela acesa com um soproantes de se deitar. Imaginação era tudoque o órfão Altaïr tinha no momento. Issoe as lembranças. Al Mualim dissera queele seria chamado no devido tempo, apósterem sido tomadas providências para seufuturo. Enquanto isso, o Mestre disseraque, se Altaïr precisasse de alguma coisa,deveria ir procurá-lo como seu mentor.

Ahmad, enquanto isso, fora pego pelafebre. Em algumas noites seus delírioseram ouvidos por toda a cidadela.Ocasionalmente, gritava como se de dor,em outras vezes, como se estivessedemente. Certa noite, gritava uma únicapalavra várias e várias vezes. Altaïr haviapulado da cama e ido à janela, achandoque o que ouvia era o nome do pai.

E era.

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— Umar. — Ouvir aquilo era como seresbofeteado. — Umar. — O berroparecia ecoar no pátio vazio abaixo. —Umar.

Não, não estava vazio. Observandomais atentamente, Altaïr conseguiudistinguir a figura de uma criança commais ou menos sua idade, parada comouma sentinela em meio à suave neblina doinício da manhã que ondulava pelo pátiode treinamento. Era Abbas. Altaïr mal oconhecia, só sabia que era Abbas Sofian,o filho de Ahmad Sofian. O meninoestivera parado ouvindo os delíriosdementes do pai, talvez rezando emsilêncio por ele, e Altaïr o observara peloespaço de tempo de algumas batidas docoração, descobrindo algo para admirarna sua vigília silenciosa. Então, deixou a

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cortina cair e voltou para a cama,colocando as mãos sobre os ouvidos paranão mais ouvir Ahmad chamar o nome dopai. Ele tentara respirar o cheiro que seupai deixara e percebeu que ele diminuíaaos poucos.

Disseram que a febre de Ahmadcessara no dia seguinte e que ele voltaraaos seus aposentos, mas era um homemdestruído. Altaïr ouvira dizer que elehavia ficado de cama, assistido porAbbas, que permanecera desse modo pordois dias.

Na noite seguinte, Altaïr foi acordadopor um som em seu quarto e ficou deitado,pestanejando, ouvindo alguém semovimentando por ali, pés que foram até aescrivaninha. Uma vela foi pousada eprojetou sombras na parede de pedra. Era

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seu pai, pensou, ainda meio adormecido.Seu pai havia voltado por ele, e Altaïr sesentou, sorrindo, pronto para lhe dar asboas-vindas e ser repreendido por estaracordado. Finalmente acordara de umsonho terrível no qual seu pai tinhamorrido e o deixado sozinho.

Mas o homem em seu quarto não eraseu pai. Era Ahmad.

Ele estava parado na porta,aparentando uma magreza intensa dentrode seu manto branco; o rosto tomado porum aspecto pálido. Tinha uma expressãodistante, quase pacífica, e sorriu umpouco quando Altaïr se sentou, como senão quisesse assustar o menino. Seusolhos, porém, eram buracos fundos eescuros, como se a dor tivesse queimadoa vida do interior deles. E, na mão,

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segurava uma adaga.— Sinto muito — disse ele, e estas

foram as únicas palavras que pronunciou,suas últimas, porque, no momentoseguinte, passou a adaga de lado a lado dagarganta, abrindo uma escancarada bocavermelha no pescoço.

O sangue escorreu pelo manto abaixo;borbulhas se formaram no ferimento dopescoço. A adaga caiu com um tinido nochão e ele sorriu ao deslizar de joelhos,com o olhar fixo em Altaïr, quepermanecia sentado, imóvel de medo,incapaz de desviar os olhos de Ahmadenquanto o sangue jorrava, esvaindo-sedele. Então o moribundo recuou,interrompendo enfim aquele olharmedonho quando sua cabeça caiu para olado, impedido de cair pela porta atrás. E,

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durante o tempo de algumas batidas docoração, permaneceu assim, um penitente,ajoelhado. Então caiu para a frente.

Altaïr não fazia ideia de quanto tempoficou sentado ali, soluçando baixinho eouvindo o sangue de Ahmad se espalharespessamente pela pedra. Enfim encontroucoragem para descer da cama, pegou avela e margeou com cuidado o horror quejazia no chão, sangrando. Puxou a portapara abri-la, choramingando quandoencostou no pé de Ahmad. Do lado defora do quarto, finalmente, correu. A velaapagou, mas ele não se importava. Correuaté alcançar Al Mualim.

— Você nunca deve contar isso paraninguém — pedira Al Mualim no diaseguinte.

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Altaïr havia recebido uma bebidaquente condimentada, depois passara oresto da noite nos aposentos do Mestre,onde dormira profundamente. O próprioMestre permanecera fora, cuidando docorpo de Ahmad. Isso foi comprovado nodia seguinte, quando Al Mualim voltoupara ele e sentou-se ao lado de sua cama.

— Diremos à Ordem que Ahmad partiu,protegido pela escuridão — disse ele. —Eles que tirem suas próprias conclusões.Não podemos permitir que Abbas sejamaculado com a vergonha do suicídio dopai. O que Ahmad fez é desonroso. Suadesgraça se espalharia para seus parentes.

— Mas e Abbas, Mestre? — perguntouAltaïr. — A verdade será contada a ele?

— Não, meu menino.— Mas ele deveria pelo menos saber

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que seu pai está...— Não, meu filho — repetiu Al

Mualim, a voz se erguendo. — Abbas nãoserá informado por ninguém, incluindovocê. Amanhã anunciarei que vocês serãoaprendizes na Ordem, que serão irmãosem tudo menos no sangue. Vocêsdividirão um alojamento. Treinarão ejantarão juntos. Como irmãos. Umprotegerá o outro. Cuidarão para quenenhum mal aconteça ao outro, nem físiconem por outros meios. Fui claro?

— Foi, Mestre.Mais tarde naquele dia, Altaïr foi

instalado em um aposento com Abbas. Umquarto escasso: dois catres, esteira, umapequena escrivaninha. Nenhum dos doismeninos gostou, mas Abbas disse quedeixaria aquilo em breve, quando seu pai

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retornasse. À noite ele se agitava e àsvezes o chamava no sono, enquanto, noleito ao lado, Altaïr permaneciaacordado, temeroso em dormir para ocaso de Ahmad lhe aparecer empesadelos.

E aconteceu. Desde então, Ahmadaparecera todas as noites para ele. Vinhacom uma adaga que reluzia à luz oscilanteda vela. Ele passava lentamente a lâminapela própria garganta, sorrindo ao fazerisso.

Altaïr acordou. O deserto estava frescoe ainda à sua volta. As palmeirasfarfalhavam ligeiramente na brisa e a águapingava atrás dele. Passou a mão pelatesta e se deu conta de que estiverasuando. Apoiou a cabeça outra vez, naesperança de dormir pelo menos até

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amanhecer.

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P A R T E D O I S

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— Você se saiu bem — elogiou AlMualim, no dia seguinte. — Três de novejá morreram, e por causa disso tem o meuagradecimento. — Seu sorriso se desfez.— Mas não descanse sobre os louros. Seutrabalho apenas começou.

— Estou às suas ordens, Mestre —disse Altaïr solenemente.

Estava exausto, mas grato por começara se redimir aos olhos de Al Mualim.Certamente ele vira uma mudança nosguardas. Se antes o olhavam com desdém,agora dirigiam um respeito relutante a ele.A notícia de seu sucesso havia chegado

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até eles, sem dúvida. Al Mualim opremiara também com o esboço de umsorriso e mandara que ele se sentasse.

O Mestre prosseguiu:— O rei Ricardo, encorajado pela

vitória em Acre, prepara-se para avançarpara o sul, por Jerusalém. Salah Al’dincom certeza está ciente disso, e portantoreúne seus homens diante da cidadelapartida de Arsuf.

Altaïr pensou em Salah Al’din e ficoutenso. Sua mente retornou àquele dia, aodia dos sarracenos nos portões dafortaleza...

— Quer então que eu mate ambos? —perguntou, saboreando a possibilidade depassar sua lâmina no líder sarraceno. —Terminar a guerra deles antes que comecede fato?

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— Não — vociferou Al Mualim,examinando-o tão cuidadosamente queAltaïr sentiu como se seus pensamentosestivessem sendo lidos. — Fazer issodispersaria suas forças... e sujeitaria oreino à sede de sangue de dez milguerreiros a esmo. Haverá muitos dias atése encontrarem e, enquanto marcharem,não lutarão. Você precisa se preocuparcom uma ameaça mais imediata: oshomens que fingem governar na ausênciadeles.

Altaïr assentiu. Deixou suas fantasiasde vingança para serem examinadas outrodia.

— Dê-me os nomes e eu lhe darei osangue.

— É o que farei. Abu’l Nuqoud, ohomem mais rico de Damasco. Majd

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Addin, regente de Jerusalém. William deMontferrat, senhor feudal de Acre.

Ele conhecia os nomes, é claro. Cadauma das cidades tinha a marca perniciosade seu líder.

— Quais são seus crimes? — quis sabeAltaïr. Imaginou se, como os outros,haveria mais desses crimes do queaparentava.

Al Mualim abriu os braços.— Ganância. Arrogância. O massacre

de inocentes. Ande por entre as pessoasdas cidades deles. Você aprenderá ossegredos de seus pecados. Sem dúvida,esses homens são obstáculos à paz quebuscamos.

— Então eles morrerão — afirmouAltaïr obedientemente.

— Retorne a mim com a queda de cada

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homem para que melhor possamosentender suas intenções — ordenou AlMualim. — E Altaïr, tome cuidado. Seutrabalho recente muito provavelmente tematraído a atenção dos guardas. Elesficarão muito mais desconfiados do queforam no passado.

De fato. Pois, dias depois, quandoAltaïr entrou no Bureau em Acre, Jabal ocumprimentou deste modo:

— A notícia de seus feitos se espalhou,Altaïr.

Ele assentiu.— Parece que é sincero em seu desejo

de se redimir.— Faço o que posso.— E, às vezes, o faz muito bem.

Suponho que é o trabalho que nos reúneaqui.

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— Sim. William de Montferrat é meualvo.

— Então o distrito da Cadeia é seudestino... Mas vá na ponta dos pés.Aquela parte da cidade é a sede dosaposentos particulares do rei Ricardo, evive sob forte vigilância.

— O que propriamente pode me dizersobre o homem?

— William foi nomeado regenteenquanto o rei lidera sua guerra. O povovê isso como uma escolha estranha, tendoem vista a história entre Ricardo e o filhode William, Conrad. Mas creio queRicardo tire partido disso.

— Tire partido como?Jabal sorriu.— Ricardo e Conrad não concordam na

maioria dos assuntos. Embora sejam

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civilizados o suficiente em público, hárumores de que cada um quer a desgraçado outro. E houve aquele assunto dossarracenos de Acre capturados... — Jabalbalançou a cabeça. — Comoconsequência, Conrad teve de retornar aTiro, e Ricardo forçou William apermanecer aqui como seu hóspede.

— Quer dizer, refém? — indagouAltaïr. Estava inclinado a concordar comJabal. De fato parecia um movimentointeligente da parte de Ricardo.

— Chame como quiser, a presença deWilliam deverá manter Conrad na linha.

— Onde sugere que comece minhabusca?

Jabal pensou.— Na cidadela de Ricardo, a sudoeste

daqui... Ou melhor, o mercado em frente a

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ela.— Muito bem. Não vou perturbá-lo

mais.— Não é problema nenhum — disse

Jabal, que voltou para seus pássaros,arrulhando suavemente para eles.

Jabal era um homem livre de muitaspreocupações, pensou Altaïr. Pelo menospor isso, ele o invejava.

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Jabal estava certo, pensou Altaïr ao seguirseu caminho pelas ruas quentes, apinhadasde gente e com forte cheiro de maresia atéo mercado da cidadela. Ali havia muitomais guardas por todos os lados, talvez odobro desde a última visita. Algunsusavam as cores dos Cruzados e armaduracompleta. No entanto, se ele sabia algosobre soldados era que eles gostavam defofocar e, quanto mais deles havia, maisindiscretos provavelmente eram. Ele seinstalou em um banco e ficou sentadocomo se admirasse a imponente cidadelacom seus galhardetes esvoaçantes, ou

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como se simplesmente esperasse o diapassar. Não muito distante, um artistatentava atrair uma plateia, então deu deombros e começou o espetáculo assimmesmo, jogando bolas coloridas no ar.Altaïr fingiu observá-lo, mas estavaouvindo uma conversa que acontecia maisadiante, uma dupla de Cruzadostagarelando como lavadeiras sobre ahabilidade de William com a espada.

Enquanto Altaïr observava, o olhar deum soldado foi atraído por um frade, umhomem alto usando um hábito marromcom capuz, que gesticulava discretamentepara ele. O soldado mexeu a cabeça quaseque imperceptivelmente, despediu-se docolega e saiu pelo meio do mercado.Observando por baixo do capuz, Altaïrlevantou-se e foi atrás, quando viu que os

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dois homens se encontraram e seafastaram da grande agitação paraconversar; Altaïr posicionou-se pertodeles, esforçando-se para ouvir o fradefalar.

— Talvez seja insensato seguirWilliam. Ele é velho e pensa muito em simesmo.

O soldado franziu os lábios.— Seu exército é grande. Precisaremos

dele. Vou visitar os outros irmãos porenquanto. Cuide para que tenham tudo deque precisem.

— Sim. Eles não podem cair —concordou o frade.

— Não tema. O Mestre tem um plano.Agora mesmo ele já prepara um meio detirar vantagem de nossas perdas, seacontecerem.

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Mestre? Admirou-se Altaïr. Irmãos?Exatamente a quem esses homensrespondem? Acre tinha mais camadas doque uma cebola.

— O que ele pretende? — indagou ofrade.

— Quanto menos você souber, melhor.Faça o que lhe foi instruído. Entregue estacarta ao Mestre.

Passou-a ao frade e Altaïr sorriu, jádobrando as pontas dos dedos. Levantou-se do banco e o seguiu. Um instantedepois o pergaminho era seu, e sentou-senovamente para lê-lo.

Mestre:O trabalho continua no distrito da cadeia

de Acre, embora estejamos preocupados com ahabilidade de William para conduzi-lo até ofim. Ele leva seus deveres um pouco a sério

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demais, e as pessoas talvez o rejeitem quandochegar a ocasião. Sem a ajuda do tesouro, malconseguiremos arcar com um levante, quantomais chamar o rei de volta do campo. Então oseu plano terá sido em vão. Não podemosreclamar o que foi roubado, a não ser que osdois lados estejam unidos. Talvez seja melhorvocê se preparar para outro tomar o lugardele — simplesmente como precaução. Estamospreocupados que o nosso homem no porto setorne cada vez mais instável. Ele já andadistanciando-se de si mesmo. E isso significaque não podemos confiar nele se William cair.Avise-nos o que pretende que executemos.Permanecemos sempre fiéis à causa.

Ele dobrou a carta e a enfiou dentro domanto. Algo para mostrar a Al Mualim,talvez. Pensando bem, talvez não. Atéentão Altaïr sentia que Al Mualim foramenos do que aberto com ele em relação aseus alvos. Talvez isso fosse parte de seu

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teste. Talvez.Um grupo de criados passou apressado.

O malabarista fazia sua arte; ele agorajuntara uma grande multidão. Não muitolonge, um orador havia tomado posição àsombra de uma árvore e discursava contrao rei Ricardo.

Em seguida, um homem jovem com abarba preta aparada bem curta queparecia simpático aos cidadãos quepassavam por ele prendeu a atenção deAltaïr, que ao mesmo tempo mantinha umolho em uma dupla de guardas municipaisposicionados a uma curta distância dali.

— William de Montferrat não liga nadapara o povo de Acre — dizia o homem.Altaïr segurou os passos para poderouvir, tomando cuidado para não atrair aatenção dele. — Enquanto morremos de

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fome, os homens sob seus cuidados nãopassam necessidades. Eles engordam comos frutos do nosso trabalho. Ele disse quenos trouxe aqui para reconstruir. Masagora, longe de casa e da graça de nossorei, seu verdadeiro plano se tornaevidente. Ele rouba nossos filhos,mandando-os para lutar contra um inimigoselvagem. Suas mortes são todasgarantidas. Nossas filhas são levadas paraservir seus soldados, roubadas de suavirtude. E ele nos recompensa commentiras e promessas vazias de umamanhã melhor... de uma terra abençoadapor Deus. E o agora? E o hoje? Porquanto tempo teremos de nos privardeles? Será isso a verdadeira obra deDeus... ou de um homem egoísta queprocura conquistar tudo? Reaja, povo de

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Acre. Junte-se a nós em nosso protesto.— Cale-se — berrou uma transeunte,

gesticulando na direção de guardas quepatrulhavam ao longo da rua, talvezcientes de que aquele agitador estava emação.

— Você é um idiota — concordououtro passante, rudemente. Ele deu ascostas com um gesto desdenhoso com amão. Ninguém em Acre queriatestemunhar a ira de William, ou assimparecia.

— Suas palavras o levarão à forca —sussurrou outro, que se retiroufurtivamente.

Altaïr observou o rebelde lançar umolhar precavido, então se enfiou namultidão e se juntou a outro homem ali.

— Quantos você conseguiu para a

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nossa causa? — perguntou.— Receio que todos estejam com muito

medo — respondeu seu companheiro. —Ninguém ligou para o chamado.

— Temos de continuar tentando.Encontrar outro mercado. Outra praça.Não podemos ser silenciados.

Com um último olhar para os soldadosatrás, eles seguiram adiante. Altaïrobservou-os ir embora, satisfeito por terdescoberto tudo que precisava sabersobre William de Montferrat.

Deu uma última olhada para a cidadela,assomando sobre a praça do mercado, opulsante coração negro de Acre. Ali,pensou, em alguma parte, estava seu alvoe, com William morto, o povo de Acreconheceria menos tirania, menos medo.Quanto mais cedo acontecesse, melhor.

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Estava na hora de voltar a visitar Jabal.O líder do Bureau estava, como

sempre, com um ânimo jovem. Seus olhoscintilaram ao cumprimentar Altaïr.

— Fiz o que me foi pedido — anunciouAltaïr. — Armei-me com conhecimento.Sei o que preciso fazer para alcançarMontferrat.

— Fale, então, e eu julgarei.— O bando de William é grande e

muitos homens o chamam de Mestre. Masnão faltam inimigos para ele. Ele e o reiRicardo não se dão.

Jabal ergueu uma sobrancelha.— É verdade. Nunca foram próximos.— Isso está a meu favor. A visita de

Ricardo o deixa perturbado. Assim que orei for embora, William vai se recolherem sua fortaleza para refletir. Ele se

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distrairá. E é quando atacarei.— Tem certeza disso?— Toda. E, se as coisas mudarem, me

adaptarei.— Então dou permissão para ir em

frente. Acabe com a vida de Montferratpara que possamos chamar esta cidade delivre. — Jabal entregou-lhe a pena.

— Voltarei quando o ato for executado— retrucou Altaïr.

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Altaïr retornou à cidadela, esperando queestivesse exatamente como a deixara. Masagora havia algo diferente — algo quedescobriu enquanto avançava pelas ruas edo qual se aproximou. Estava no ar.Empolgação. Expectativa. Ouviu rumoresrelativos à visita de Ricardo. Ele agoraestava na fortaleza, diziam os cidadãos;conversando com Montferrat.Aparentemente, o rei estava furioso comele por causa do tratamento dado aos trêsmil mantidos como reféns quando osCruzados retomaram a cidade.

Altaïr sentiu-se emocionado. A fama de

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Ricardo Coração de Leão o precedia. Suabravura. Sua crueldade. Por isso, vê-loem carne e osso...

Avançou pela praça do mercado. Amultidão era mais numerosa agora que anotícia de que Ricardo havia chegado seespalhara. Os cidadãos de Acre,independentemente das opiniões quetinham sobre o rei inglês, queriam vê-lo.

— Aí vem ele — sussurrou uma mulherali perto.

Altaïr sentiu-se carregado pelamultidão e, praticamente pela primeiravez desde que entrou na cidade, pôdelevantar a cabeça. As aglomerações eramseu disfarce e, de qualquer modo, osguardas estavam muito ocupados com aiminente chegada do rei para ter alguminteresse nele.

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Agora a multidão lançou-se adiante,levando Altaïr consigo. Ele se deixou sercircundado por corpos e carregado nadireção dos portões de pedra decorados,onde bandeiras dos Cruzados se agitavamna brisa, como se elas também estivessementusiasmadas para ver Ricardo. Nosportões, os soldados alertavam à multidãopara que recuasse, e quem estava na frentegritava para os que estavam atrásparassem de empurrar. No entanto, maiscidadãos chegavam, movendo-se nadireção da área elevada diante da entradaprincipal. Mais guardas formaram umescudo em torno dela. Alguns seguravamo cabo da espada. Outros brandiampiques, rosnando ameaçadoramente“Recuem” para a multidão desvairada equeixosa.

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De repente, houve uma grande agitaçãonos portões da fortaleza, os quais,rangendo, se ergueram. Altaïr esticou opescoço para ver, ouvindo primeiro oploc-ploc dos cascos dos cavalos, depoisavistando os elmos dos guarda-costas dorei. A seguir, a multidão estava seajoelhando, com Altaïr acompanhando-a,embora seus olhos estivessem fixos nachegada do rei.

Ricardo Coração de Leão vinhamontado em um esplêndido garanhãoadornado com seu uniforme, com osombros para trás e o queixo erguido. Seurosto estava abatido, como se carregasseas marcas de cada batalha, cada desertoatravessado, e seus olhos pareciamcansados, mas brilhavam. Em volta dele,os guarda-costas, também montados em

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seus cavalos e, caminhando a seu lado,havia outro homem; este, deduziu Altaïrpelos murmúrios das pessoas, eraWilliam de Montferrat. Ele era mais velhodo que o rei e não possuía seu tamanho epoder, mas havia nele uma certaagilidade. Altaïr percebeu que ele poderiamuito bem ser bastante habilidoso com aespada. Havia nele um ar de desprazer aocaminhar ao lado do rei, diminuto em suasombra e sem ligar para as pessoas que osrodeavam. Perdido em seus própriospensamentos.

— Três mil almas, William — dizia orei, alto o bastante para toda a praça domercado ouvir. — Disseram-me queforam mantidos como prisioneiros... Eusados como objetos de troca para alibertação de nossos homens.

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— Os sarracenos não teriam honradoseu lado do acordo — retrucouMontferrat. — Sabe que isso é verdade.Eu lhe fiz um favor.

Coração de Leão rosnou.— Ah, sim. Realmente um grande

favor. Agora nossos inimigos serão muitomais fortes em suas convicções. Lutarãocom mais afinco.

Pararam.— Eu conheço muito bem nossos

inimigos — afirmou Montferrat. — Elesnão serão encorajados, mas se encherãode medo.

Ricardo olhou-o com desdém.— Diga-me, por que conhece tão bem

as intenções de nossos inimigos? Você,que abandonou o campo de batalha parapraticar a política.

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De Montferrat engoliu em seco.— Eu fiz o que era certo. O que era

justo.— Você fez um juramento para apoiar a

obra de Deus, William. Mas não é issoque vejo aqui. Não. Eu vejo um homemque a pisoteia.

De Montferrat pareceu desconfortável.Então, agitando a mão em sua volta, comose para lembrar ao rei que seus súditosestavam ao alcance da voz, falou:

— Suas palavras são muitoindelicadas, meu soberano. Eu esperavajá merecer sua confiança no momento.

— Você é o regente de Acre, William,colocado para governar em meu lugar.Quanto mais confiança é necessária?Talvez você goste da minha coroa.

— Não está entendendo — disse

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Montferrat. E, sem querer perder a moraldiante da coroa, acrescentou: — Mas,pensando bem, sempre...

Ricardo olhou-o furiosamente.— Por mais que quisesse perder o meu

dia trocando palavras com você, tenhouma guerra para lutar. Continuaremos issoem outra ocasião.

— Então não serei eu que o deterei —disse educadamente Montferrat —, VossaGraça.

Ricardo forneceu a Montferrat umúltimo olhar furioso — um olhar paralembrar a um subalterno rebeldeexatamente quem usava a coroa —, entãopartiu, com seus homens atrás.

A multidão começou a se levantar eMontferrat virou-se para dizer algumacoisa para um de seus guardas. Altaïr se

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esforçou para ouvir.— Receio que não haverá lugar para

homens como ele no Novo Mundo. Mandeum aviso falando que quero falar com ossoldados. Precisamos nos assegurar deque todos estejam fazendo sua parte.Alerte-os de que qualquer negligênciaserá severamente punida. Não estoudisposto a perder meu tempo com issohoje. — Então virou-se para o resto deseus homens. — Sigam-me.

De repente, houve um forte movimentoem direção à fortaleza, não apenascausado pelos guardas de Montferrat, maspor mercadores, na esperança deconseguirem fregueses lá dentro. Altaïrjuntou-se a eles, agredido pelos seussacos de estopa, mas permanecendo noaperto e conseguindo se espremer pelos

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portões justamente no momento em que ossoldados da guarda assumiram o controlee os fecharam. Lá dentro, os mercadoresestavam sendo arrebanhados por soldadosirritados próximos ao portão, quequeriam, sem dúvida, expor suasmercadorias ali. Altaïr, porém, conseguiuavistar Montferrat seguindo seu caminhoao longo da muralha externa mais baixa,em direção à linha de defesa interna. Elese abaixou e se espremeu por uma brechaentre o muro e um prédio interno,prendendo a respiração, como seesperando ouvir um grito de um guardaperspicaz que o tivesse visto escapulirpor ali. Mas não havia nenhum. Olhoupara cima e ficou contente em ver apoiospara as mãos na superfície de arenito doprédio. Começou a escalar.

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Arqueiro.Claro. Altaïr ficara tão contente em se

esquivar das sentinelas lá embaixo que seesquecera de levar em conta os lá decima. Deu outro olhar furtivo além dabeirada do telhado, esperando que ohomem virasse de costas. Precisava deleno meio do telhado. Não queria que elecaísse na fortaleza e chamasse atenção.Quando o guarda chegou ao local certo,Altaïr atacou, e a faca arremessadabrilhou ao sol e depois se enterrou nascostas da sentinela. Ele grunhiu e caiu,felizmente não por cima da borda. EntãoAltaïr pulou para o telhado, mantendo-seagachado, e o atravessou, com um olho emum arqueiro mais adiante do conjunto deprédios, pronto para sumir de vista, seeste se virasse.

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Abaixo dele, De Montferratatravessava a fortaleza, gritando ordens einsultos a quem ousasse se aproximar.

Altaïr se aproximou do arqueiroseguinte. Uma faca arremessada depois, eo homem caía estatelado no telhado,morto. Ao passar por ele, Altaïr olhoupara baixo, mantendo-se agachado evendo o corpo parar de se contrair.

Um terceiro arqueiro. Altaïr livrou-sedele. Agora tinha o controle do telhado;tinha uma rota de fuga para quando a açãofosse executada. Tudo o que restava eraexecutá-la.

Abaixo dele, Montferrat passou atravésde uma série de portões internos e Altaïrobservou-o repreender o guarda poralguma infração leve ao fazer isso. Entãofoi para o pátio de um calabouço, talvez

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uma espécie de santuário interno para ele.Altaïr seguiu-o pela passarela superior.Mantinha-se fora de vista, mas ninguémolhou para cima. Não tinham necessidadedisso — ou era o que pensavam.

Agora De Montferrat tomou seu lugaratrás de uma mesa de um lado do pátio.

— Homens — dizia ele —, reúnam-seaqui. Ouçam bem minhas palavras.

Eles se posicionaram à sua volta, eAltaïr notou que, embora usassem omesmo uniforme, este era diferentedaquele dos que estavam na linha dedefesa do lado de fora. Esses homenseram mais grisalhos e pareciam maisendurecidos por batalhas. Se Altaïrestivesse certo, deviam ser a forçapessoal de De Montferrat. Ele não iacometer novamente o mesmo erro de

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achá-los um “desafio insignificante”.No pátio, De Montferrat continuou:— Eu vim de uma conversa com o rei e

a notícia é assombrosa. Somos acusadosde fracassar em nossos deveres. Ele nãoreconhece o valor de nossas contribuiçõesà causa.

— Que vergonha! — disse um doshomens.

— Ele não sabe de nada — vociferououtro.

— Paz. Paz. Contenham a língua —advertiu De Montferrat. — Sim, ele falafalsamente, mas não falta mérito em suaspalavras. Ao se dar uma volta por estapropriedade, é fácil encontrar falhas.Enxergar imperfeições. Receio quetenhamos ficado relaxados e preguiçosos.

Acima dele, Altaïr se permitiu um

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sorriso. O método de sua entrada foi umtestemunho de quão relaxados epreguiçosos os homens de De Montferrathaviam se tornado. E quanto aos seussemiadormecidos arqueiros...

— Por que diz isso? — indagou um doshomens de De Montferrat.

Mostraram-se indignados, todos eles.Altaïr usou o ruído que surgiu de repentepara se arrastar para o lado, querendo seposicionar acima de sua presa, movendo-se muito, muito cautelosamente em voltados muros do pátio. Agora conseguiaenxergar o que a maioria dos homensabaixo não conseguia. De uma porta dolado oposto do pátio, haviam surgido maisguardas arrastando dois homens. Estavamvestidos como cruzados, mas eramprisioneiros.

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— Eu vejo o modo como treinam —berrava De Montferrat lá embaixo. —Carecem de convicção e foco. Vocêsconversam e jogam. Tarefas que sãoconfiadas a vocês ficam incompletas ousão executadas pessimamente. Isso acabahoje. Não sofrerei mais degradação nasmãos de Ricardo. Enxerguem ou não, edeveriam enxergar, vocês são culpados.Vocês nos cobriram de vergonha.Habilidade e dedicação foram o que noslevou a conquistar Acre. E isso também éexigido para a mantermos. Eu tenho sidomuito tranquilo, ao que parece. Mas nãomais. Vocês treinarão mais arduamente ecom mais frequência. Se isso significarperder refeições, perder sono, assim será.E, se fracassarem nessas tarefas,aprenderão o verdadeiro significado de

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disciplina... Tragam os prisioneiros aqui.Altaïr chegara à sua posição sem ser

visto. Estava agora perto o bastante paraolhar abaixo a fim de ver a cabeça calvade De Montferrat e as gotas de saliva quevoavam de sua boca enquanto berravacom os homens. Se alguém que estivesselá embaixo olhasse para cima porqualquer motivo, Altaïr poderia serdescoberto, mas toda a atenção estavaagora na área diante da mesa de DeMontferrat, para onde os soldados tinhamsido arrastados, temerosos eenvergonhados.

— Se precisar usar algum de vocêscomo exemplo para garantir obediência— anunciou De Montferrat —, que assimseja. — Então dirigiu-se aos prisioneiros.— Vocês dois foram acusados de

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fornicação e bebedeira durante o serviço.O que dizem sobre essas acusações?

Das bocas úmidas saíram murmúrios deapelos e desculpas.

De Montferrat olhou-os, zangado.Então, com um gesto da mão, ordenou aexecução deles.

As gargantas dos dois foram cortadas eeles passaram seus últimos momentosobservando o próprio sangue esguicharsobre a pedra do pátio. De Montferrat osfitou gorgolejando e tremendo no chão,como peixes agonizantes.

— Negligência com o dever éinfeccioso — declarou ele, quase comtristeza. — Ela deve ser arrancada pelaraiz e destruída. Desse modo, talvezpossamos evitar que se espalhe.Entendido?

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— Sim, milorde. — Veio o murmúrioem resposta.

— Ótimo, ótimo — disse ele. — Entãovoltem ao serviço, com esse novopropósito na cabeça. Permaneçam fortes,permaneçam concentrados... e nóstriunfaremos. Vacilem, e se juntarãoàqueles homens. Estejam certos disso.Dispensados.

De Montferrat fez um sinal parasumirem de sua vista, o que alegrouAltaïr. Fora de vista era onde ele tambémqueria os homens. Ficou observandoenquanto De Montferrat começou avasculhar a papelada que estava sobre amesa, sibilando de irritação, com um mauhumor que claramente não tinha seesgotado. Altaïr rastejou para a frente, omáximo que ousava ficar na beira do

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telhado. Avistou os dois corpos, com osangue ainda escorrendo. Mais distante, amaioria dos homens parecia ter se reunidona entrada da masmorra ou estava saindopara a linha de defesa do lado de fora deonde Altaïr se encontrava, sem dúvidadispostos a se afastar o máximo possívelde De Montferrat.

Abaixo de Altaïr, De Montferratestalava a língua nos dentes emdesagrado, ainda chocalhando os papéis,incapaz de encontrar o que estavaprocurando. Gemeu quando um maçodeles escorregou da mesa para o chão.Prestes a chamar um ajudante, pensoumelhor e resolveu ele mesmo apanhá-los.É possível que tenha ouvido o clique dalâmina de Altaïr na fração de segundo emque ele saltou da passarela acima e a

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enterrou em seu pescoço.Logo a seguir, o Assassino estava

montado sobre o corpo do líder de Acre,com a mão sobre a boca dele para que nãoalertasse os demais no pátio. Ele tinhapoucos momentos, sabia, e sussurrou:

— Descanse agora. Seus esquemaschegaram ao fim.

— O que você sabe sobre o meutrabalho? — grasniu De Montferrat.

— Eu sei que iria matar Ricardo ereivindicar Acre para seu filho, Conrad.

— Para Conrad? Meu filho é umestúpido, incapaz de liderar sua tropa,quanto mais um reino. E Ricardo? Ele nãoé melhor, cego como é pela fé que tem noinsubstancial. Acre não pertence a nenhumdos dois.

— Então a quem?

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— A cidade pertence a seu povo.Altaïr lutou contra a agora familiar

sensação de seu mundo dando umaguinada inesperada.

— Como pode alegar que fala peloscidadãos? — perguntou. — Você rouboua comida deles. Disciplinou-os sempiedade. E os forçou a servirem a você.

— Tudo que fiz foi para prepará-lospara o Novo Mundo — replicou DeMontferrat, como se tais coisas devessemser óbvias a Altaïr. — Roubar a comidadeles? Não. Tomei posse dela para que,quando os tempos difíceis viessem,pudesse ser racionada de modoapropriado. Olhe em volta. Não existecrime em meu distrito... Exceto estecometido por você e sua laia. E quanto aorecrutamento? Eles não estão sendo

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treinados para lutar. Estão aprendendo osméritos da ordem e da disciplina. Essascoisas não são tão más.

— Não importa quão nobre acreditaque sejam suas intenções, seus atos foramcruéis e não podem continuar — afirmouAltaïr, apesar de se sentir menos certo doque pareceu.

— Veremos como são doces — disseDe Montferrat, desvanecendo rápido —os frutos do seu trabalho. Você não libertacidades, como acredita, mas as condena.E, no fim, terá apenas a si mesmo paraculpar. Você que fala em boas intenções...

Mas nunca terminou a frase.— Na morte, nos tornamos iguais —

disse Altaïr, manchando a pena.Ele escalou a parede atrás de si e foi

para a passarela, disparando pelo muro

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externo. Então saiu. Foi como se nuncativesse estado ali.

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19

Altaïr sentia o cansaço da missão. Estavaexausto e cada vez mais perturbado. Cadalonga cavalgada o exauria ainda mais,porém tinha ordem de visitar Al Mualimapós cada assassinato. E, em todas asocasiões, o Mestre era enigmático,exigindo detalhes dele, mas retendo muitacoisa.

Isso ficou demonstrado na ocasiãoseguinte em que se encontraram.

— Chegou a mim a notícia de seusucesso — disse Al Mualim. — Temminha gratidão, e a do reino. Livrar essascidades de seus líderes corruptos

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favorecerá sem dúvida a causa da paz.— Está mesmo certo disso? —

perguntou Altaïr. De sua parte, a certezaera cada vez menor.

— O modo pelo qual os homensgovernam se reflete em seu povo. Quandovocê limpa as cidades da corrupção, curaos corações e as mentes daqueles quevivem nela.

— Nossos inimigos discordariam —comentou Altaïr, com a mente voltadapara aqueles cujos olhos ele fechara.

— O que quer dizer?— Cada homem que matei me disse

palavras estranhas. Eles não mostraramarrependimento. Mesmo na morte,pareceram confiantes em seu sucesso.Embora não admitissem diretamente, háum laço que os une. Tenho certeza.

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Al Mualim observou-o com atenção.— Há uma diferença, Altaïr, entre a

verdade que nos é dita e a verdade quevemos. A maioria dos homens não seimporta em fazer a distinção. É maissimples desse modo. Mas, como umAssassino, é de sua natureza notar.Questionar.

— Então o que liga esses homens? —forçou Altaïr. O Mestre tinha as respostas,estava certo disso. Todas elas.

— Ah. Mas, como um Assassino,também é seu dever acalmar essespensamentos e confiar em seu Mestre.Pois não pode haver a paz verdadeira semordem. E ordem requer autoridade.

Altaïr não conseguiu conter a irritaçãona voz.

— Você fala em círculos, Mestre.

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Elogia-me por ser precavido e depoispede para que eu não seja. O quesignifica?

— A pergunta será respondida quandovocê não precisar mais fazê-la —respondeu Al Mualim, misteriosamente.

Altaïr pôde ver que não estavachegando a lugar nenhum.

— Suponho que tenha me chamado aquipara algo além de um discurso — disseele.

— Sim — concordou Al Mualim, econduziu-o mais uma vez a Damasco.Aquele a quem chamam de Abu’l Nuqoud.Ele seria o próximo a morrer. Antes,porém, teria de lidar com o impertinentelíder do Bureau...

— Altaïr, meu amigo. Bem-vindo. Bem-

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vindo. Veio buscar a vida de quem hoje?Altaïr franziu as sobrancelhas ao ver o

líder do Bureau de Damasco, insolentecomo sempre, mas não o suficiente paramotivar sua fúria. Era um talento e tantoque o homem tinha para avaliar tão bemessas coisas. Talvez, se tivesse sidocapaz de concentrar suas habilidades paraum uso melhor, ele não estaria passandoseus dias atrás de uma escrivaninha noBureau. Algum dia, talvez, Altaïr olembrasse desse fato. Enquanto isso, eletinha trabalho a executar. Um novo alvo.

— Seu nome é Abu’l Nuqoud —informou. — O que pode me falar sobreele?

— Oh, o Rei Mercador de Damasco —exclamou o líder, visivelmenteimpressionado. — O homem mais rico da

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cidade. Muito emocionante. Muitoperigoso. Invejo você, Altaïr. Bem... nãoa parte na qual foi derrotado e despido desua graduação... Mas invejo tudo o mais.Ah... exceto as coisas terríveis que osoutros Assassinos dizem de você. Mas,sim, fora o fracasso e o ódio, sim, foraessas coisas. Tenho muita inveja devocê...

Altaïr imaginou como seu pescoçopareceria com uma lâmina saindo dele.

— Não me importa o que os outrospensam ou dizem — rebateu ele. — Estouaqui para realizar um serviço. Portanto,pergunto novamente: o que pode me dizersobre o Rei Mercador?

— Apenas que ele deve ser um homemmuito ruim se Al Mualim mandou quevocê o visitasse. Ele se mantém isolado

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com sua própria gente, cercado pelorefinamento do distrito nobre destacidade. Um homem ocupado, semprecuidando de alguma coisa. Tenho certezade que, se você passar algum tempo emmeio à sua espécie, aprenderá tudo queprecisa saber sobre ele.

E foi exatamente o que Altaïr fez, indoà Mesquita Omayyad e ao Souk Sarouja,como também à cidadela de Salah Al’din,onde descobriu que Abu’l Nuqoud eraodiado pela população local, que eracorrupto e andara se apropriando dedinheiro público, muito do qual foradesviado para Jerusalém em pagamentospara William de Montferrat. (Altaïr sorriusobre isso.)

Passando o Madraçal al-Kallasah,encontrou eruditos discursando e esperava

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poder ouvir alguma coisa sobre Abu’lNuqoud. Não estavam falando sobre ele,mas, mesmo assim, Altaïr ficou por ali,perplexo com o que diziam.

— Cidadãos. Tragam seus escritos —dizia o primeiro. — Coloquem na pilhadiante de mim. Guardar um é pecado.Conheçam e aceitem a verdade de minhaspalavras. Livrem-se das mentiras e dacorrupção do passado.

Embora estivesse prestes a ir em frente,Altaïr continuou protelando. Havia algo arespeito daquilo. Livrem-se das mentirase da corrupção do passado. Teria issoalguma coisa a ver com a “nova ordem”sobre a qual ele continuava ouvindo falar?

Agora era outro erudito que falava:— Se realmente valorizam a paz, se

querem realmente ver o fim da guerra,

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desistam de seus livros, de seuspergaminhos, de seus manuscritos, poiseles alimentam as chamas da ignorância edo ódio.

Altaïr tinha ouvido o suficiente — enão gostado. Desistam de seus livros. Porquê?

Ele, porém, afastou isso da mente,continuando a se informar sobre o ReiMercador. Descobriu que Nuqoudraramente deixava seus aposentos.Contudo, ele os deixaria naquela mesmanoite para participar de uma festa da qualera o anfitrião — oferecida, diziammuitos, apenas para esfregar sua riquezapessoal nos narizes dos cidadãos.Ordenara até mesmo vinho — emcontravenção à sua fé — para o evento.Se este fosse parecido com as anteriores,

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seria a oportunidade de Altaïr para atacar.Ele ficara sabendo de um andaimedeixado do lado de fora da sacada dosaposentos de Abu’l Nuqoud. Era, decidiu,uma ocasião perfeita para ir a uma festa.

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20

As festividades já estavam acontecendoquando Altaïr contornou o pátio dopalácio, sentindo que podia ser facilmentenotado em seu manto, que parecia sujo esurrado comparado às vestes dos outrosconvidados. A maioria usava ornamentos,mantos com intrincados bordados feitoscom fios dispendiosos e, diferentementeda maioria dos residentes de Damasco,pareciam prósperos e bem alimentados,falando mais alto do que a música, rindoainda mais ruidosamente. Com certeza,não havia falta de comida e bebida.Criados se movimentavam entre os

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convidados oferecendo pão, azeitonas eiguarias em travessas douradas.

Altaïr olhou em volta. As dançarinaseram as únicas mulheres presentes: seisou sete delas, girando lentamente aos sonsd e al’ud e rebec tocados por músicoslocalizados abaixo da imponente sacada.O olhar do Assassino viajou até ondehavia um guarda com os braços cruzadosque olhava indiferentemente para asfutilidades. Aquele era o espaçoreservado de Abu’l, decidiu Altaïr. Defato, enquanto observava, o ritmo damúsica parecia aumentar, o al’ud quaseabafado pelo pesado rufar que começou aexcitar os presentes à festa, em umacrescente sensação de expectativa. Asdançarinas eram forçadas a apressar seusmovimentos e seus corpos brilhavam com

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o suor debaixo de seus transparentestrajes de seda, enquanto, em volta delas,os convidados erguiam as mãos,encorajando os tambores a um crescendoque se desenvolveu mais e mais até opróprio ar parecer vibrar — e, de repente,ali estava ele, acima de todos: Abu’lNuqoud.

Altaïr tinha ouvido terríveis descriçõesda aparência do homem. De suacorpulência — diziam que era do tamanhode três homens normais —, dos reluzentesadornos que sempre usava, do mantoextravagante e do turbante enfeitado comjoias, a maioria das quais Altaïr rejeitaracomo exageros de uma populaçãoressentida. Mas estava prestes a descobrirque os rumores haviam abrandado a figuradaquele homem. Sua cintura, joias e

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roupas eram maiores e mais extravagantesdo que qualquer coisa que Altaïr pudesseter imaginado. Ficou observando enquantoNuqoud estava parado, continuando amastigar qualquer que fosse a refeiçãoque andara desfrutando, com a gordurabrilhando em volta da boca. E, aopercorrer a extensão da sacada, olhandoabaixo para seus convidados, com a peledebaixo de seu queixo ondulandoenquanto ele acabava de engolir a comida,o manto abriu-se para expor o peito nu,uma enorme extensão de pele que brilhavade suor.

De repente, ele bateu palmas. A músicaparou, a conversa encerrou-se.

— Bem-vindos. Bem-vindos —anunciou. — Obrigado a todos por sejuntarem a mim nesta noite. Por favor,

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comam, bebam. Desfrutem os prazeresque tenho a oferecer.

Dito isso, fez um gesto com a mão, e afonte no centro do pátio brotou para avida, esguichando o que a princípio Altaïrpensou que fosse água colorida. Entãoseguiu-se uma agitação fora do normal eele se deu conta do que era: ocarregamento de vinho de que ouvirafalar. Estava ali. Enquanto observava,dois homens se aproximaram da fonte,mergulharam seus cálices no líquidoespumante e brindaram um ao outro antesde se afastarem apressados. Chegarammais convidados, mergulhando seuscálices, enquanto criados forneciamrecipientes a quem os quisesse. Era comose o Rei Mercador desejasse que cada umde seus convidados bebesse da fonte, e

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ele esperou até que o avanço diminuísseantes de prosseguir.

— Está tudo de acordo com o gosto devocês? — perguntou, com umasobrancelha erguida.

Claro que estava. Cálices foramlevantados e houve um clamor deaprovação, as línguas dos convidados sesoltando rapidamente sob a influência dovinho.

— Ótimo, ótimo. — Nuqoud sorriu,revelando restos de comida grudados nosdentes. — Alegra-me vê-los tão felizes.Porque estes são dias sombrios, meusamigos, e temos de desfrutar essarecompensa enquanto podemos.

Perto de Altaïr, os homens que haviambrindado retornaram de uma segundavisita à fonte de vinho e davam goles em

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seus cálices cheios, contendo risadinhasenquanto Nuqoud continuava.

— A guerra ameaça destruir todos nós.Salah Al’din luta bravamente pelo que eleacredita, e vocês sempre estiverampresentes para apoiá-lo sem questionar. Éa generosidade de vocês que permite quesua campanha continue.

Altaïr percebeu, embora certamentetivesse sido o único dos presentes nopátio a reparar, que as sacadas ao longode um dos lados começaram a se encherde guardas. Arqueiros.

Ali perto, os homens continuavambebendo seu vinho, quando Nuqoudcomeçou a falar novamente.

— Portanto, proponho um brinde —disse ele. — A vocês, meus caros amigos,que nos trouxeram para onde estamos

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hoje. Que lhes seja dado tudo o quemerecem.

— À sua saúde — veio o grito, aomesmo tempo que os participantes dafesta bebiam livremente de seus cálices.

— Quanta gentileza — dizia Nuquodacima deles. — Não esperava isso devocês. Vocês, que foram tão rápidos emme julgar, e tão cruelmente.

Sentindo uma mudança nele, a multidãoreagiu murmurando, confusa.

— Ora, não finjam ignorância. Vocêsconsideram que sou idiota? Que não ouçoas palavras que sussurram pelas minhascostas? Pois tenho ouvidos. E receio quenunca conseguirei esquecer. Mas não foipor isso que os chamei aqui esta noite.Não, desejo falar mais dessa guerra... E aparte de vocês nela.

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“Vocês doam suas moedas, o maisdepressa possível, sabendo muito bemque elas compram as mortes de milhares.Nem mesmo sabem por que lutamos. Pelasantidade da Terra Santa, diriam vocês.Ou por causa da inclinação maligna denossos inimigos. Mas essas são mentirasque contamos para nós mesmos.

“Não. Todo esse sofrimento nasce domedo e do ódio. Incomoda vocês que elessejam diferentes. Assim como incomodavocês que eu seja diferente.

O olhar de Altaïr seguiu para osarqueiros nas sacadas. Sentindo umapontada de inquietação, ele se afastoumais um pouco para observar as sacadasdo outro lado do pátio. Ali, também, osarqueiros haviam se enfileirado. Virou-se.Era a mesma coisa atrás. Eles não

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estavam armando seus arcos. Pelo menos,não por enquanto. Mas, se Altaïr estivessecerto, esse momento não demoraria muitopara chegar. E, quando chegasse, elesteriam a cobertura total de todo o pátio.Ele chegou mais para perto de um dosmuros circundantes. Não muito longe dali,um homem começou a engasgar e tossir,levando seu companheiro a ter acessos deriso.

— Compaixão. Piedade. Tolerância —continuou Nuqoud, da sacada. — Essaspalavras não significam nada para nenhumde vocês. Elas não significam nada paraos infiéis invasores que assolam nossaterra em busca de ouro e glória. Por issoeu digo basta. Já me comprometi comoutra causa. Uma causa que nos trará umNovo Mundo... no qual todos poderão

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viver lado a lado em paz.Ele fez uma pausa. Altaïr observou que

os arqueiros ficaram tensos. Estavamprestes a disparar. Ele pressionou o corpocontra o muro. O homem continuavatossindo. Agora tinha o corpo dobrado, orosto vermelho. Seu companheiro, queestava com uma aparência preocupada,passou então a tossir também.

— Uma pena que nenhum de vocêsviverá para vê-lo — encerrou Nuqoud.

Mais convidados começaram aengasgar. Alguns seguravam a barriga.Claro, pensou Altaïr. Veneno. Em voltadele, alguns convidados tinham caído dejoelhos. Ele viu um homem corpulentovestido com um manto douradoespumando, os olhos revirando nasórbitas, desabar no chão e ali ficar,

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morrendo. Os arqueiros agora já haviamarmado seus arcos. Pelo menos metadedos participantes da festa estava emespasmos de morte, mas havia muitos quenão haviam bebido vinho e corriam paraas saídas.

— Matem qualquer um que tentarescapar — ordenou o Rei Mercador, eseus arqueiros dispararam.

Deixando a carnificina para trás, Altaïrescalou o muro até a sacada e foisorrateiramente para trás de Nuqoud.Havia um guarda a seu lado, e Altaïr odespachou com um golpe de sua lâmina. Ohomem caiu, retorcendo-se, e a gargantaaberta começou a borrifar sangue pelosladrilhos da sacada. Nuqoud virou-se, viuAltaïr, e sua expressão mudou. Ao assistirao massacre abaixo, ele estivera sorrindo,

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desfrutando o espetáculo. Agora — Altaïrficou grato ao perceber — era apenasmedo o que ele sentia.

E, em seguida, dor, quando Altaïrmergulhou a lâmina em seu pescoço acimada clavícula.

— Por que fez isso? — ofegou oenorme homem, baixando para a pedralisa de sua sacada.

— Você roubou dinheiro daqueles quealega governar — disse Altaïr. — Você oenviou para algum propósitodesconhecido. Quero saber para onde elefoi e por quê.

Nuqoud escarneceu.— Olhe para mim. Minha própria

natureza é uma afronta às pessoas a quemgovernava. E estas vestes nobres poucomais fazem do que abafar seus gritos de

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ódio.— Então trata-se de uma questão de

vingança? — indagou Altaïr.— Não. Vingança não, mas da minha

consciência. Como poderia financiar umaguerra a serviço do mesmo Deus que mechama de abominação?

— Se não serve a Salah Al’din, então aquem?

Nudoud sorriu.— Na ocasião oportuna, você os

conhecerá. Creio, talvez, que já conheça.Mais uma vez intrigado, Altaïr

perguntou:— Então por que se esconder? E por

que esses atos sombrios?— É tão diferente do seu trabalho?

Você tira vidas de homens e mulheres,firme na convicção de que suas mortes

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servirão para melhorar a sorte daquelesdeixados para trás. Um mal menor paraum bem maior? Nós somos iguais.

— Não. — Altaïr negou com a cabeça.— Não temos qualquer semelhança.

— Ah... Mas vejo isso em seus olhos.Você duvida.

O fedor da morte estava em seu hálitoquando puxou Altaïr para mais perto dele.

— Você não pode nos deter —conseguiu dizer. — Teremos o nossoNovo Mundo...

E morreu, com um fino rio de sangueescorrendo de sua boca.

— Desfrute o silêncio — disse Altaïr,e mergulhou sua pena no sangue do ReiMercador.

Ele precisava ver Al Mualim, decidiu.O momento da incerteza terminara.

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21

— Venha, Altaïr. Quero ter notícias doseu progresso — disse Al Mualim.

— Fiz o que pediu — retrucou oAssassino.

— Ótimo. Ótimo. — Al Mualim olhou-o intensamente. — Sinto que sua menteestá em outro lugar. Diga o que pensa.

Era verdade. Altaïr pouco refletirasobre outra coisa na viagem de volta.Agora tinha a oportunidade de tirar aquiloda cabeça.

— Cada homem que mandou que eumatasse me falou palavras enigmáticas.Toda vez, vim a você e pedi respostas. E

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em todas, você me ofereceu apenasenigmas em troca. Mas já chega.

As sobrancelhas de Al Mualimdispararam para cima em surpresa —surpresa por Altaïr ter se dirigido a eledaquele modo.

— Quem é você para dizer que “jáchega”?

Altaïr engoliu em seco e firmou oqueixo.

— Sou eu quem executa osassassinatos. Se quiser que isso continue,terá de falar francamente comigo pelomenos uma vez.

— Vá com cuidado, Altaïr. Não gostodo seu tom de voz.

— E eu não gosto da sua farsa —rebateu Altaïr, mais alto do quepretendera.

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Al Mualim pareceu ter ficado chateado.— Tenho oferecido a você uma chance

de recuperar a honra perdida.— Não foi perdida — contrapôs Altaïr.

— Foi tirada. Por você. Então mandouque eu fosse buscá-la novamente, comoum maldito cachorro.

Agora o Mestre desembainhou aespada, e seus olhos faiscavam.

— Parece que terei de conseguir outro.Uma pena. Você demonstrou grandepotencial.

— Creio que, se você tivesse outro, jáo teria enviado há muito tempo —observou Altaïr, que ficou imaginando senão teria pressionado demais seu mentor,mas prosseguiu assim mesmo. — Vocêdisse que a resposta à minha perguntasurgiria quando eu não mais precisasse

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fazê-la. Portanto não perguntarei. Eu exijoque me diga qual é a ligação entre esseshomens.

Altaïr permaneceu parado, pronto parasentir a ponta da espada de Al Mualim,torcendo apenas para que o Mestre oconsiderasse valioso demais. Era umjogo, ele sabia.

Al Mualim também parecia considerara opção, sua espada hesitando, a luzrefletindo na lâmina. Então ele aembainhou e pareceu descontrair umpouco.

— O que diz é verdade — concedeufinalmente. — Esses homens estãoligados... por um juramento de sangue nãodiferente do nosso.

— Quem são eles?— Non nobis, Domine, non nobis —

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disse ele. Não a nós, Ó Senhor.— Templários... — concluiu Altaïr. É

claro.— Agora você percebe o verdadeiro

alcance de Robert de Sablé.— Todos esses homens... líderes de

cidades... comandantes de exércitos...— Todos prometeram aliança à causa

dele.— Suas obras não são para serem

vistas isoladamente, não é mesmo? —refletiu Altaïr. — Mas no todo... O queeles desejam?

— Conquista — respondeu Al Mualim,simplesmente. — Buscam a Terra Santa...Não em nome de Deus, mas para elesmesmos.

— E quanto a Ricardo? E SalahAl’din?

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— Qualquer um que se oponha aosTemplários será destruído. Saiba que elestêm os meios para fazer isso.

— Então eles têm de ser detidos —exclamou Altaïr com determinação. Sentiucomo se um grande peso tivesse sidoretirado dele.

— É por isso que fazemos o nossotrabalho, Altaïr. Para garantir um futurolivre de tais homens.

— Por que escondeu a verdade demim? — perguntou ele ao Mestre.

— Para que você mesmo descobrisse.Como qualquer missão, o conhecimentoprecede a ação. A informação aprendida émais valiosa do que a informaçãofornecida. Além disso... Seucomportamento não havia me inspiradomuita confiança.

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— Entendo. — Altaïr baixou a cabeça.— Altaïr, sua missão não mudou, mas

apenas o contexto interno de como você acompreende.

— E, armado com esse conhecimento,talvez eu entenda melhor os Templáriosque restam.

— Há mais alguma coisa que queirasaber? — disse Al Mualim, depois deconcordar com a afirmação do Assassino.

Altaïr solucionara o mistério dairmandade à qual seus alvos tinham sereferido. Havia, porém, mais uma coisa...

— E o tesouro que Malik recuperou doTemplo de Salomão? — indagou. —Robert parecia desesperado para tê-lo devolta.

— No devido tempo, Altaïr, tudo setornará claro — respondeu Al Mualim. —

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Do mesmo modo que o papel dosTemplários se revelou a você, o mesmoacontecerá com a natureza do tesourodeles. Por enquanto, console-se com ofato de o tesouro não estar nas mãosdeles, mas nas nossas.

Por um momento, Altaïr pensou empressioná-lo sobre o assunto, mas decidiucontra. Tivera sorte uma vez. Duvidavaque isso fosse acontecer novamente.

— Se esse é o seu desejo... — cedeuele.

— É.A atmosfera no ambiente ganhou ares

de descontração quando Altaïr virou-separa ir embora. Seu próximo destino eraJerusalém.

— Altaïr... antes de você ir?— Sim?

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— Como soube que eu não o mataria?— Verdade seja dita, Mestre, eu não

sabia.

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22

Estúpido Altaïr. Arrogante Altaïr. Eleestava enrascado. Majd Addin jazia mortoa seus pés, a madeira lentamente sendomanchada com seu sangue. Às suas costasestavam os acusados, amarrados a estacase pendendo delas, amorfos eensanguentados. A praça estava vazia deespectadores, mas não dos guardas deMajd Addin, que avançavam para cimadele. Aproximando-se da plataforma.Começando a subir os degraus de ambosos lados, ao mesmo tempo que oimpediam de saltar para a frente. Comolhares ferozes, lentamente o cercavam,

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com as espadas erguidas, e, se sentiammedo, não demonstravam. O fato de seulíder ter sido abatido publicamente porum Assassino no patíbulo do Muro dasLamentações de Jerusalém não lhescausara pânico e desordem como Altaïrhavia esperado. Não tinha feito com queficassem com um medo mortal doAssassino que agora estava diante deles,com sua lâmina pingando o sangue deAddin. Isso lhes dera determinação e anecessidade de cobrar vingança.

O que significava que as coisas nãotinham saído de acordo com o plano.

Exceto que... O primeiro guardadisparou à frente, rosnando. A missãodele era testar o vigor de Altaïr. OAssassino recuou, aparando os golpes daespada sarracena, e o som de aço ecoou

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na praça quase vazia. O guardapressionou adiante. Altaïr olhou derelance para trás, viu outros avançando erespondeu à investida, forçando osarraceno a recuar. Um, dois, ataque.Forçado rapidamente a se defender, oguarda tentou uma retirada, quase sechocando contra um dos corpos pendendodas estacas. Altaïr olhou para baixo e viusua chance, então avançou novamente,desferindo um ataque desvairado com aintenção de causar pânico ao oponente.Lâmina encontrou lâmina e, como seria dese esperar, o sarraceno foi forçado aostrancos para trás e para a poça de sanguena plataforma — no momento em queAltaïr pretendera. Ele tropeçou, perdeu oequilíbrio e, por um segundo, abriu suaguarda — dando tempo suficiente para

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Altaïr ultrapassar o braço do oponentecom a espada e o empalar no peito. Elegorgolejou. Morreu. Seu corpo escorregoupara a madeira, e Altaïr se preparou paraenfrentar atacantes, vendo agora dúvida etalvez medo em seus olhos. O vigor doAssassino fora devidamente testado edescobriram que isso não lhe faltava.

Ainda assim, porém, os guardas tinhama vantagem numérica, e certamente maisestariam a caminho, alertados pelaagitação. A notícia do ocorrido já seespalhara por toda a Jerusalém: que oregente da cidade fora morto em seupróprio cadafalso de execução; que seusguardas caíram em cima do Assassinoresponsável. Altaïr pensou na alegria deMalik diante da notícia.

Malik, contudo, parecera mudado

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quando Altaïr visitara o Bureau da últimavez. Não que acolhesse Altaïr de braçosabertos, mas, por outro lado, a hostilidadeaberta fora substituída por certo tédio, eele observara Altaïr com um franzido detesta e não um olhar fixo.

— Por que me perturba hoje? — Eledera um suspiro.

Grato por não ter de brigar, Altaïrhavia lhe revelado seu alvo: Majd Addin.

Malik assentira.— A ausência de Salah Al’din deixou a

cidade sem um líder adequado, e MajdAddin indicou a si mesmo para o papel.Ele consegue o que quer por meio deintimidação e medo. Ele não tem direitode fato ao posto.

— Isso acaba hoje — dissera Altaïr.— Você conclui depressa demais. Não

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é de um escravo que estamos falando. Elegoverna Jerusalém e vive bem protegidopor causa disso. Sugiro que planejecuidadosamente seu ataque. Informe-sesobre sua presa.

— Já fiz isso — garantira-lhe Altaïr.— Majd Addin vai realizar uma execuçãopública não muito longe daqui.Certamente estará bem protegido, mas nãoserá nada com que eu não consiga lidar.Eu sei o que fazer.

Malik escarnecera.— É por isso que para meus olhos você

continua sendo um aprendiz. Não podesaber de tudo. Só suspeitar. Você tem deesperar estar errado. Ter negligenciadoalgo. Antecipado, Altaïr. Quantas vezespreciso lembrar você disso?

— Como queira. Já terminamos?

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— Ainda não. Há mais uma coisa. Umdos homens que será executado é umirmão. Um de nós. Al Mualim deseja queele seja salvo. Não precisa se preocuparcom o resgate em si... Meus homenscuidarão disso. Mas precisa garantir queMajd Addin não tire a vida dele.

— Não lhe darei essa chance.Ao partir, Malik o advertira:— Não vá estragar tudo.E Altaïr havia zombado mentalmente do

alerta ao começar a caminhada ao Murodas Lamentações.

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23

Ao se aproximar do Muro, Altaïr viramultidões começando a se formar:homens, mulheres, crianças, cachorros,até mesmo gado. Todos seguiam pelasruas em volta da praça em direção aolocal público da execução.

Altaïr se juntara a eles e, ao passar poruma rua que se enchia com mais e maisespectadores ansiosos seguindo na mesmadireção, ouvira um pregoeiro alimentar oentusiasmo na atração seguinte; como sefosse preciso.

— Atenção — gritara o orador. —Majd Addin, o grande amado regente de

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Jerusalém, comparecerá à execução dolado oeste do Templo de Salomão. Éexigida a presença de todos os habitantessãos. Depressa! Venham e presenciem oque será feito de nossos inimigos.

Altaïr tivera uma ideia do que poderiaser. Esperava ser capaz de mudar oresultado.

Guardas no acesso à praça tentavamcontrolar o fluxo da multidão para seuinterior, empurrando algumas pessoaspara trás, deixando outras entrarem. Altaïrse mantivera recuado, observando asmassas moverem-se como redemoinhoperto da entrada. Outros corpos erampressionados contra o dele na rua.Crianças disparavam pelo meio daspernas dos espectadores, entrandosorrateiramente no local. Em seguida,

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Altaïr vira os eruditos, a multidão serepartindo para deixá-los passar; atémesmo os cachorros pareciam sentir areverência reservada aos homens santos.Altaïr ajeitara o manto, ajustara o capuz,esperara os eruditos passarem eescorregara para o meio deles. Ao fazerisso, sentira uma mão puxar sua manga,olhara para baixo e vira um meninoimundo observando-o com um olharesquisito. Ele grunhira e, aterrorizado, omenino saíra correndo.

Bem a tempo: eles tinham alcançado oportão, onde os guardas se separarampara permitir o ingresso dos eruditos, eAltaïr entrara na praça.

Havia muros de pedra bruta em todosos lados. Ao longo do lado mais distantehavia uma plataforma, e sobre ela uma

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série de estacas. Vazias, no momento, masnão por muito tempo. O regente deJerusalém, Majd Addin, estava sedirigindo ao palco. Com sua presença,houve uma agitação, e ergueu-se umagritaria da entrada, quando os guardasperderam o controle e os cidadãoscomeçaram a se precipitar. Altaïr foicarregado à frente pela onda, agora muitomais perto da plataforma e do temidoMajd Addin, que já estava à espreita nopalco esperando a praça se encher. Usavaum turbante branco e uma túnica compridaenfeitada com bordados. Movimentava-secomo se estivesse zangado. Como se seuequilíbrio tivesse acabado de abandonarseu corpo.

E tinha mesmo.— Silêncio! Eu exijo silêncio —

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rosnou ele.Com o espetáculo prestes a começar,

houve uma agitação final e Altaïr foi maisuma vez carregado à frente. Viu guardaspostados nas escadas de ambos os ladosda plataforma, dois em cada extremidade.Diante da plataforma, viu mais guardasque evitavam que a multidão subisse nocadafalso. Esticando o pescoço, localizououtros na periferia da praça. Estes, pelomenos, teriam dificuldade de semovimentar pelo meio da multidão, masisso só lhe daria alguns segundos para amatança e para se defender dos guardasmais próximos — dos quatro de cada ladoda plataforma, no mínimo. E talveztambém aqueles que estavam de guarda nosolo.

Conseguiria superar todos eles naquele

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espaço de tempo? Mais ou menos dezsarracenos leais? O Altaïr que atacaraRobert de Sablé no Monte do Templo nãoteria a menor dúvida. Agora, porém, eleera mais cauteloso. E sabia que tentarmatar imediatamente seria loucura. Umplano destinado ao fracasso.

Exatamente quando havia decididoesperar, os quatro prisioneiros foramlevados ao cadafalso e até as estacas,onde os guardas começaram a colocá-losno lugar. Em uma das pontas havia umamulher, com o rosto sujo e chorando. Aolado dela, dois homens vestidos comfarrapos. E, finalmente, o Assassino, coma cabeça baixa, obviamente derrotado. Amultidão vaiou seu desagrado.

— Povo de Jerusalém, ouça-me bem —bradou Majd Addin para silenciar a

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multidão, que se tornara animada com achegada dos prisioneiros. — Estou hojeaqui para dar um alerta. — Fez umapausa. — Há descontentes entre vocês.Eles plantam as sementes dodescontentamento, esperandodesencaminhá-los.

A multidão murmurou, agitando-se emvolta de Altaïr.

Addin continuou:— Digam-me, é isso o que desejam?

Chafurdar na falsidade e no pecado?Viver suas vidas no medo?

— Não — gritou um espectador atrásde Altaïr. Mas a atenção dele estavaconcentrada no Assassino, um colegamembro da Ordem.

Enquanto observava, um fioensanguentado de saliva escorreu da boca

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do homem para a madeira. Ele tentoulevantar a cabeça e Altaïr viu seu rosto derelance. Contusões roxas e vermelhas.Então sua cabeça baixou outra vez.

Majd Addin deu um sorriso torto esinistro. Seu rosto não estava acostumadoa sorrir.

— Então vocês querem agir? —perguntou amavelmente.

A multidão bramiu sua aprovação. Elesestavam ali para ver sangue; sabiam que oregente não deixaria sua sede insaciada.

— Guie-nos — exclamou uma voz,quando o bramido parou.

— Sua devoção me agrada — disseAddin, e virou-se para os prisioneiros,indicando-os com um movimento dobraço. — Esse mal precisa ser expurgado.Só então poderemos esperar ser

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redimidos.De repente, houve um distúrbio diante

da plataforma, uma voz berrando:— Isso não é justiça.Altaïr avistou um homem em trapos.

Ele gritava para Najd Addin:— Você distorce as palavras do

Profeta, que a paz esteja com ele.O homem tinha um companheiro,

também vestido com trapos, o qualigualmente repreendia a multidão.

— E todos vocês permanecemindolentes, como cúmplices desse crime.

Altaïr aproveitou a confusão para seaproximar mais. Precisava subir naplataforma em cuja extremidade estava oAssassino preso à estaca. Não poderiaarriscar que ele fosse usado como escudoou como refém.

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— Que Deus amaldiçoe todos vocês —berrou o primeiro homem, mas não tevequem o apoiasse. Não entre a multidão ecertamente não entre os guardas, que jáestavam avançando.

Vendo-os se aproximar, os doisagitadores fugiram, sacando adagas ebrandindo-as enquanto faziam uma fútilinvestida em direção à plataforma. Umdeles foi derrubado por um arqueiro. Osegundo viu-se perseguido por doisguardas, mas não viu um terceirosarraceno que abriu sua barriga com aespada.

Os dois ficaram no chão, moribundos, eMajd Addin apontou para eles.

— Viram como o mal de um homem seespalha para corromper outro? —esganiçou. A barba negra tremia de

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indignação. — Eles procuraram provocarmedo e dúvida em vocês. Mas eu osmanterei a salvo.

Então voltou-se aos pobres infelizes;que certamente deveriam estar rezandopara que o atentado à sua vida fosse bem-sucedido, mas, em vez disso, observavamcom os olhos arregalados e aterrorizadosenquanto ele desembainhava a espada.

— Aqui estão quatro cheios de pecado— berrou Addin, apontando primeiro paraa mulher, depois para cada um dosdemais. — A meretriz. O ladrão. Ojogador. O herege. Que o julgamento deDeus recaia sobre todos eles.

O herege. Esse era o Assassino. Altaïrendureceu-se e começou a se aproximardos degraus de um dos lados daplataforma, um olho em Addin enquanto

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este seguia primeiro para a mulher. Aprostituta. Incapaz de tirar os olhos daespada que Addin segurava — quasedespreocupadamente, pendendo a seu lado—, ela começou a chorarincontrolavelmente alto.

— Sedutora! — rugiu Addin, acimados soluços. — Súcubo. Puta. Ela temmuitos nomes, mas seu pecado permaneceo mesmo. Ela deu as costas aosensinamentos de nosso Profeta, que a pazesteja com ele. Corrompeu seu corpo paraavançar em sua posição. Cada homem queela tocou está para sempre manchado.

Em reação, a multidão vaiou. Altaïravançou mais alguns centímetros emdireção aos degraus da área elevada.Observou os guardas e viu que a atençãodeles estava em Addin. Bom.

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— Castigue-a — gritou um espectador.Addin os havia levado a um estado de

fúria a fim de justiça.— Ela deve pagar — concordou outro.A mulher parou de choramingar para

gritar para a multidão que ladrava peloseu sangue.

— Esse homem diz mentiras. Estouaqui hoje não porque deitei com outroshomens, pois não deitei. Ele pretende mematar porque não me deitei com ele.

Os olhos de Addin se incendiaram.— Mesmo agora, ao lhe ser oferecida

redenção, ela continua enganando. Rejeitaa salvação. Só há uma maneira de lidarcom isso.

Ela teve tempo de dizer “Não”enquanto a espada lampejou e ele enfiou-ana barriga da mulher. No momento de

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silêncio que se seguiu, ouviu-se o som deseu sangue espirrando nas tábuas daplataforma, antes de um “ooh” coletivoerguer-se da multidão, a qual foi mudandode lugar enquanto aqueles que estavamnas laterais e atrás tentavam conseguiruma visão melhor da mulher destripada.

Altaïr agora estava mais perto dosdegraus, mas o súbito movimento damultidão o deixara um pouco exposto.Aliviado, observou enquanto Addin seencaminhava para o próximo prisioneiro,que se lastimava, e os espectadores iamnovamente para trás, antecipando aexecução seguinte.

Addin apontou para o homem; umjogador, explicou. Um homem que nãoconseguiu se abster de substânciasinebriantes e apostas.

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— Vergonha — berrou a multidão. Eraela que estava inebriada, pensou Altaïr,enojado com sua ânsia por derramamentode sangue.

— Um jogo de azar me condena àmorte? — gritou o jogador, para ele umúltimo lance de dados. — Mostre-meonde está escrito isso. Não é o pecadoque corrompe a nossa cidade, mas você.

— Então diria às pessoas que éaceitável desafiar o desejo de nossoProfeta, que a paz esteja com ele? —contrapôs Addin. — E, se vamos ignoraresse ensinamento, o que será então deoutros? Onde isso acabará? Eu digo queacabará no caos. E, portanto, isso nãopode ser permitido.

Sua espada reluziu ao sol da tarde. Elea enfiou bem fundo na barriga do

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apostador, grunhindo ao empurrá-la paracima, abrindo um ferimento vertical nabarriga do homem e expondo suasentranhas. Encantada, a multidão gritouem um arremedo de repugnância, já seempurrando para o lado a fim de assistir àpróxima execução, levando Altaïr paramais perto da escada.

Addin passeou até o terceiroprisioneiro, sacudindo sangue da espada.

— Este homem — disse ele, apontandopara o trêmulo preso — apossou-se doque não é dele. De dinheiro obtido pelotrabalho de outro. Poderia ter pertencido aqualquer um de vocês. E, portanto, todosvocês poderiam ter sido assaltados. O quedizem disso?

— Foi um único dinar — alegou oacusado, implorando à multidão por

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piedade — encontrado no chão. Ele falacomo se eu tivesse cometido uma falta,como se o tivesse arrancado das mãos deoutro.

A multidão, porém, não estava em umestado de espírito piedoso. Houve gritospelo sangue dele, os espectadores agoraem um furor.

— Hoje um dinar — guinchou Addin—, amanhã um cavalo. No dia seguinte, avida de outro homem. O objeto em si nãoé importante. O que importa é que vocêtomou o que não lhe pertencia. Se devopermitir tal comportamento, então outrospoderão acreditar que também têm odireito de tomar. Onde isso acabará?

Colocou-se diante do ladrão, cujosapelos finais foram interrompidos quandoAddin enfiou a lâmina em sua barriga.

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Agora ele voltaria a atenção aoAssassino. Altaïr precisava agir depressa.Tinha apenas alguns momentos. Baixandoa cabeça, começou a abrir caminho comos ombros pela horda de gente, tomando ocuidado de não parecer como se tivessealguma intenção em particular.Simplesmente como se quisesse chegar omais perto possível da parte da frente damultidão. Agora, Majd Addin tinhaalcançado o Assassino, caminhado atéele, agarrado seu cabelo e levantado suacabeça para mostrar à plateia.

— Este homem espalha mentiras epropagandas maliciosas — rugiumalignamente. — Ele só tem o assassinatoem mente. Envenena nossos pensamentosdo mesmo modo que envenena sua lâmina.Joga irmão contra irmão. Pai contra filho.

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É mais perigoso do que qualquer inimigoque enfrentamos. Ele é um Assassino.

Addin foi recompensado com o ofegarcoletivo da multidão. Altaïr agora jáhavia chegado aos degraus. Em volta dele,a aglomeração se agitava, espectadoresexcitados gritavam pelo golpe mortal.

— Destrua o descrente!— Mate-o!— Corte sua garganta!O Assassino, com a cabeça ainda

segurada por Addin, falou:— Matar-me não vai tornar vocês mais

seguros. Vejo o medo em seus olhos, ouçoo tremor em suas gargantas. Vocês têmmedo. Medo porque sabem que nossamensagem não pode ser silenciada.Porque sabem que não podemos serdetidos.

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Altaïr estava ao pé da escada.Permanecia ali como se tentasse umavisão melhor. Outros o tinham visto efaziam a mesma coisa. Os dois guardasque estavam em cima haviam ficadoextasiados com a ação, mas agoralentamente tornavam-se cientes do queacontecia. Um gritou para o outro e elesdesceram e começaram a mandar que oscidadãos saíssem, embora maisespectadores estivessem precipitando-seescada acima. Todos queriam ficar o maisperto possível da execução e seacotovelavam e empurravam, algunssendo forçados para fora dos degraus,incluindo um dos guardas furiosos. Altaïrusou a desordem para subir ainda mais atéficar a apenas poucos passos de Addin,que soltara a cabeça do Assassino e

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discursava para a multidão sobre sua“blasfêmia”. Sua “traição”.

Atrás de Altaïr, o tumulto continuava.Os dois guardas estavam totalmenteocupados. Adiante dele, Addin terminarade se dirigir à aglomeração, que foraconvenientemente insuflada e estavadesesperada para ver a última morte.Agora ele se voltou novamente para oprisioneiro, brandindo a espada com alâmina já manchada de vermelho, e foi emsua direção para o golpe mortal.

Então, como se alertado por algumsentido superior, ele parou, virou acabeça e olhou diretamente para Altaïr.

Por um momento, foi como se a praçase contraísse, como se a multidãodesordenada, os guardas, os condenados eos corpos não estivessem mais ali. E, ao

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olharem um para o outro, Altaïr viu surgirem Addin a percepção de que a morteestava próxima. Altaïr então agitou o dedomédio e a lâmina saltou para a frente, aomesmo tempo que ele se lançava adiante,puxando-o para trás e enfiando-a emAddin, o movimento todo durando menosdo que um piscar de olhos.

A multidão rugiu e gritou, sem saber oque fazer diante daquela súbitareviravolta. Addin pulou e se contorceu,enquanto sangue jorrava do ferimento emseu pescoço, mas Altaïr o manteve paradocom os joelhos, erguendo a lâmina.

— Seu trabalho aqui terminou — faloupara Addin, tenso, prestes a desferir ogolpe final. Em volta dele, haviapandemônio. Os guardas apenascomeçavam a perceber o que havia de

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errado e tentavam pelejar seu caminhopara a plataforma entre as pessoas empânico. Altaïr precisava terminar isso,depressa. Mas queria ouvir o que Addintinha a dizer.

— Não. Não. Ele apenas começou —disse Addin.

— Diga-me, qual é a sua parte nissotudo? Você pretende se defender, como osoutros, e explicar seus atos malignos?

— A irmandade queria a cidade. Euqueria poder. Houve... uma oportunidade.

— Uma oportunidade de assassinarinocentes — disse Altaïr. Ele podia ouviro som de pés correndo. As pessoas fugiamda praça.

— Não tão inocentes assim. Vozesdissidentes cortam fundo como o aço.Rompem a ordem. Nisso, eu concordo

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com a irmandade.— Você matou pessoas simplesmente

por pensarem diferente de você?— Claro que não... Eu as matei porque

podia. Porque era divertido. Vocêconhece a sensação de poder determinar odestino de outro homem? E viu como opovo aplaudia? Como ele me temia? Euera como um deus. Você teria feito omesmo, se pudesse. Quanto... poder.

— Um dia, talvez. Mas descobri o queacontece com aqueles que se erguemacima dos outros.

— E o que acontece?— Aqui. Deixe-me mostrar a você.Ele liquidou Addin, depois fechou os

olhos do tirano. Molhou a pena.— Toda alma deve provar a morte —

disse ele.

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Então levantou-se para enfrentar osguardas; exatamente quando um sinocomeçou a badalar.

Um sarraceno veio voando para cimade Altaïr e ele aparou seu golpe,grunhindo e empurrando o homem paratrás. Outros estavam subindo naplataforma, e ele viu-se enfrentando trêsao mesmo tempo. Um tombou berrandodiante de sua lâmina, outro deslizou nosangue escorregadio, caiu, e Altaïr acaboucom ele. Vendo uma chance, o Assassinopulou do cadafalso, ativando a lâmina eperfurando um guarda ao pousar, a espadado homem golpeando o estreito espaço.

Ele viu agora na praça sua únicapossibilidade de fuga e rechaçou maisdois atacantes ao se aproximar docaminho da entrada. Levou um corte e

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sentiu o sangue quente escorrer pelobraço; então, agarrando um espadachim,jogou-o no caminho do segundo. Ambosrolaram, berrando, na terra. Altaïrdisparou na direção da entrada, chegandolá no momento em que um trio desoldados vinha correndo por ela. Ele,porém, tinha o elemento surpresa;empalou um com a espada, talhando opescoço do segundo com a lâmina eempurrando os dois agonizantesmoribundos contra o terceiro.

Na entrada livre, olhou de relance paratrás e viu na plataforma os homens deMalik libertando o Assassino e levando-oembora, então avançou pela travessa,onde um quarto guarda aguardava, vindoadiante em um pique, gritando. Altaïrdesviou-se com um salto, agarrando a

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beirada de uma armação de madeira earremessando-se acima para a cobertura,sentindo os músculos trabalharem. Láembaixo houve um brado de frustração e,enquanto subia para o telhado, olhou derelance e avistou um punhado de soldadosseguindo-o. Para fazer com que parassem,matou um deles com uma faca dearremesso, depois correu pelos telhados,esperou até o sino parar de tocar, entãodesapareceu na multidão, ouvindo anotícia se espalhar pela cidade: umAssassino tinha matado o regente.

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24

Mas ainda havia algo que Altaïr precisavasaber.

E, com o último dos regentes da cidademorto, agora era o momento de perguntar.Ele endureceu ao ser conduzido, mais umavez, aos aposentos de Al Mualim.

— Entre, Altaïr. Espero que estejadescansado. Pronto para o restante deseus testes — disse o Mestre.

— Estou. Mas, antes, quero falar comvocê. Tenho perguntas...

Al Mualim demonstrou suadesaprovação ao erguer o queixo e franzirligeiramente os lábios. Sem dúvida,

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lembrava-se da última ocasião na qualAltaïr o pressionara por respostas. EAltaïr também, que decidira ser maiscauteloso dessa vez, realmenteinteressado em não ver o reaparecimentoda lâmina do Mestre.

— Pergunte, então — concedeu AlMualim. — Farei o melhor possível pararesponder.

Altaïr inspirou fundo.— O Rei Mercador de Damasco

assassinou os nobres que governavam suacidade. Em Jerusalém, Majd Addin usavao medo para forçar seu povo à submissão.Desconfio que William pretendiaassassinar Ricardo e tomar Acre com seussoldados. Era para esses homensajudarem seus líderes. Em vez disso,decidiram traí-los. O que eu não entendo é

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por quê.— A resposta não é óbvia? Os

Templários desejam o controle. Cadahomem, como você notou, queriareivindicar suas cidades em nome dosTemplários para que os própriosTemplários pudessem governar a TerraSanta e, eventualmente, mais além. Masnão obtiveram sucesso em sua missão.

— Por quê? — perguntou Altaïr.— Seus planos dependem do Tesouro

Templário... o Pedaço do Éden... Mas nósagora o possuímos. E, sem isso, eles nãotêm esperanças de realizar seus objetivos.

Claro, pensou Altaïr. Foi esse o item aoqual muitos de seus alvos se referiram.

— O que é esse tesouro? — quis saberele.

Al Mualim sorriu, então foi ao fundo de

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seu aposento, curvou-se e abriu um baú.Tirou dele uma caixa, retornou à suaescrivaninha e a colocou sobre ela.Mesmo sem olhar, Altaïr sabia o que era,mas, mesmo assim, seu olhar foi atraídopara ela — não, arrastado para ela. Era acaixa que Malik havia recuperado doTemplo e, assim como antes, ela pareciabrilhar, irradiar uma espécie de poder.Ele soubera o tempo todo, percebeu, queaquele era o tesouro do qual falavam.Seus olhos foram da caixa para AlMualim, que estivera observando suareação. O rosto do Mestre exibia umaexpressão indulgente, como se tivessevisto muitos se comportarem daquelamaneira. E soubesse que aquilo eraapenas o começo.

Alcançou a caixa e dela tirou um globo,

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mais ou menos do tamanho de doispunhos: um globo dourado com desenhode um mosaico que parecia pulsar comenergia, de modo que Altaïr se descobriuimaginando se seus olhos o estavamenganando. Se aquilo talvez estivesse...vivo de algum modo. Mas se distraiu. Emvez disso, sentiu o globo puxá-lo.

— Isso é... tentação — entoou AlMualim.

E subitamente, como uma vela apagadacom um sopro, o globo parou de pulsar.Sua aura sumiu. Sua atração subitamenteparou de existir. Era... apenas um globonovamente: um objeto antigo, belo a seumodo, mas, mesmo assim, uma merabugiganga.

— É apenas um pedaço de prata... —disse Altaïr.

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— Olhe para ele — insistiu Al Mualim.— Brilhou por um breve momento, mas

não há realmente nada de espetacular emrelação a ele — afirmou Altaïr. — O quesupostamente devo ver?

— Este “pedaço de prata” causou aexpulsão de Adão e Eva. Isto é a Maçã.Isto transformou cajados em cobras. Abriue fechou o Mar Vermelho. Éris usou issopara provocar a Guerra de Troia. E, comisso, um pobre carpinteiro transformouágua em vinho.

A Maçã, o Pedaço de Éden? Altaïrolhou o objeto com desconfiança.

— Tem uma aparência bastante comumpara todos esses poderes que você alega— observou. — Como funciona?

— Quem o possui comanda corações ementes de quem quer que olhe para ele...

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Quem quer que o “prove”, como dizem.— Então os homens de De Naplouse...

— disse Altaïr, pensando nas pobrescriaturas no hospital.

— Uma experiência. Ervas são usadaspara simular seus efeitos... Para estarempreparados para quando os possuírem.

Altaïr então entendeu.— Talal os forneceu. Tamir os

equipou. Estavam sendo preparados paraalguma coisa... Mas o quê?

— Guerra — falou Al Mualim,inflexível.

— E os outros... Os homens quegovernavam as cidades... Eles pretendiamganhar suas populações. Fazê-las gostardos homens de De Naplouse.

— Os cidadãos perfeitos. Os soldadosperfeitos. Um mundo perfeito.

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— Robert de Sablé jamais deverecuperar isso — disse Altaïr.

— Enquanto ele e seus irmãos viverem,eles tentarão — afirmou Al Mualim.

— Então eles devem ser destruídos.— E é isso o que eu tenho mandado

você fazer — sorriu Al Mualim. — Hámais dois Templários que precisam desua atenção — disse ele. — Um em Acre,conhecido como Sibrand. Outro emDamasco, chamado Jubair. Visite oslíderes do Bureau. Eles lhe darão maisinstruções.

— Como deseja — concordou Altaïr,baixando a cabeça.

— Seja rápido — sugeriu Al Mualim.— Sem dúvida Robert de Sablé estánervoso com nosso sucesso contínuo. Orestante de seus seguidores fará o

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possível para expor você. Sabem quevocê vai chegar: o homem do capuzbranco. Estarão à sua procura.

— Não me encontrarão. Sou apenasuma lâmina na multidão — disse Altaïr.

Al Mualim sorriu, mais uma vezorgulhoso de seu pupilo.

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25

Foi Al Mualim quem lhes ensinara oCredo, aos jovens Altaïr e Abbas. OMestre enchera suas jovens cabeças comos princípios da Ordem.

Todos os dias, após um desjejum depão ázimo e tâmaras, governantasrigorosas verificavam se eles tinham sidobem lavados e estavam bem-vestidos.Depois, com livros presos ao peito, elesse apressavam ao longo dos corredores,com as sandálias estalando nas pedras,conversando animadamente até chegaremà porta do gabinete do Mestre.

Ali seguiam um ritual. Ambos

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passavam a mão sobre a própria bocapara irem de um rosto alegre para umsério, o rosto que o Mestre esperava.Então um deles batia na porta. Por algumarazão, ambos gostavam de bater, por issofaziam um revezamento diário. Entãoesperavam que o Mestre os mandasseentrar. Lá dentro, sentavam-se com aspernas cruzadas sobre almofadas que AlMualim providenciara especialmente paraeles — uma para Altaïr e uma para seuirmão, Abbas.

Quando a tutela começara, elessentiram medo e insegurança; delesmesmos, um do outro e, em particular, deAl Mualim, que lhes ensinava pela manhãe à tarde, com um treinamento no pátio, edepois novamente à noite. Longas horaspassadas aprendendo os modos da Ordem,

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observando o Mestre caminhar pelogabinete com as mãos nas costas, parandode vez em quando para repreendê-los sepensasse que não estavam prestandoatenção. Ambos achavam desconcertanteo único olho de Al Mualim e às vezessentiam que estavam sendoconstantemente observados por ele. Atéque certa noite Abbas sussurrara noquarto deles:

— Ei, Altaïr?Altaïr virou-se para ele, surpreso.

Nenhum dos dois havia feito isso antes,começar a falar após as luzes terem sidoapagadas. Eles ficavam deitados emsilêncio, cada qual perdido em seuspensamentos. Até aquela noite. A luaestava cheia, e o lençol na janela delestinha um brilho branco, iluminando o

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quarto com um suave tom cinzento. Abbasestava deitado em seu lado, olhando paraAltaïr no dele, e, quando obteve a atençãodo outro menino, colocou a mão sobre umolho e disse, em uma imitação quaseperfeita de Al Mualim:

— Não somos nada, se não formos fiéisao Credo dos Assassinos.

Altaïr caiu na risada e, dali em diante,os dois se tornaram amigos. Então,quando Al Mualim os repreendia era porcausa do riso abafado que ele ouvia aovirar as costas. De repente, asgovernantas passaram a achar que seusdeveres não eram tão humildes ecomplacentes.

E Al Mualim lhes ensinou osprincípios. Os princípios que Altaïrnegligenciaria mais tarde na vida, a um

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custo quase fatal para ele. Al Mualim lhesdisse que os Assassinos não erammatadores indiscriminados, não como omundo em geral gostava de pensar, maseram incumbidos apenas do assassinatodos maus e dos corruptos. A missão delesera levar paz e estabilidade à Terra Santa,fomentar nela um código não de violênciae conflito, mas de pensamento econtemplação.

Ensinou-lhes a dominar seussentimentos e suas emoções, a ocultar suaposição e ser absorvidos pelo mundo emvolta deles, de modo a conseguirem semovimentar entre pessoas normais semserem detectados, como se fossemespaços em branco, fantasmas namultidão. Para as pessoas, o Assassinoprecisa ser uma espécie de magia que elas

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não entendem, disse ele, mas aquilo, comotoda mágica, era realidade dobrada àvontade do Assassino.

Ele lhes ensinou a proteger a Ordem otempo todo; que a Irmandade era “maisimportante do que você, Altaïr. É maisimportante do que você, Abbas. É maisimportante do que Masyaf e eu mesmo”.Portanto, a ação de um Assassino nuncadeveria causar dano à Ordem. OAssassino nunca deveria comprometer aIrmandade.

E, embora Altaïr certo dia tambémdesconsiderasse essa doutrina, não foi porfalta dos ensinamentos de Al Mualim. Elelhes ensinou que homens criaramfronteiras e declararam que tudo dentrodesses limites era “verdadeiro” e “real”,mas de fato eram perímetros falsos,

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impostos por aqueles que se presumiamlíderes. Ele lhes mostrou que os limites darealidade eram infinitamente mais amplosdo que a restrita imaginação dahumanidade era capaz de conceber, e queapenas alguns poucos conseguiamenxergar além desses limites — apenasuns poucos ousavam até mesmo questionarsua existência.

E esses eram os Assassinos.E porque os Assassinos eram capazes

de ver o mundo como realmente era, tudopara eles era possível — tudo erapermitido.

Todos os dias, à medida que Altaïr eAbbas aprendiam cada vez mais sobre aOrdem, eles se tornavam mais próximos.Passavam quase todos os dias juntos. Oque quer que Al Mualim lhes ensinasse, a

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realidade deles do dia a dia era de fatoinsatisfatória. Ela consistia em cada umdos dois, governantas, as aulas de AlMualim e uma sucessão de treinamentosde combate, cada qual com umaespecialidade diferente. E, longe de tudoser permitido, praticamente nada o era.Qualquer entretenimento eraprovidenciado pelos próprios meninos, eassim passavam longas horas conversandoquando deveriam estar estudando. Umassunto sobre o qual raramente falavamera seus pais. A princípio, Abbas falaraapenas de Ahmad voltar algum dia aMasyaf, mas, à medida que os meses setransformavam em anos, ele falava cadavez menos disso. Altaïr o via paradodiante da janela, observando o vale comos olhos brilhando. Então seu amigo

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começou a se retrair e se tornar menoscomunicativo. Não era mais de sorrir tãodepressa. Se antes ele passava horasconversando, agora, em vez disso, ficavaparado diante da janela.

Altaïr pensou: se ao menos elesoubesse. A dor de Abbas resplandeceriae se intensificaria, depois se fixaria emuma dor, justamente o que Altaïrvivenciara. A morte de seu pai lhe doíatodos os dias, mas pelo menos ele sabia.Essa era a diferença entre uma dorentorpecida e uma constante sensação dedesamparo.

Então, certa noite, após as velas teremsido apagadas, ele contou a Abbas.Cabisbaixo, lutando contra as lágrimas,ele contou a Abbas que Ahmad foi paraseus aposentos e ali tirara a própria vida,

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mas que Al Mualim decidira que eramelhor esconder esse fato da Irmandade.

— Para proteger você. Mas o Mestrenão tem presenciado em primeira mãoseus anseios. Eu também perdi meu pai, esei o que é isso. Sei que a dor diminuicom o tempo. Ao lhe contar isso, esperoestar ajudando você, meu amigo.

Abbas simplesmente pestanejou naescuridão, então virou-se na cama. Altaïrestivera pensando no tipo de reação quedeveria esperar de Abbas. Lágrimas?Raiva? Descrença? Ele havia sepreparado para todas elas. Até mesmotrancar Abbas e impedi-lo de ir até oMestre. O que não havia esperado eraesse... vazio. Esse silêncio.

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26

Altaïr estava em um telhado de Damascoolhando para seu próximo alvo abaixo.

O cheiro de combustão o deixavaenjoado. A visão também. De livrossendo queimados. Altaïr observava-osenrugar, enegrecer e queimar, pensandoem seu pai, que teria ficado desgostoso;Al Mualim também ficaria, quando lhecontasse. Queimar livros era uma afrontaao modo de vida dos Assassinos. Oaprendizado é conhecimento, econhecimento é liberdade e poder. Elesabia disso. De algum modo, haviaesquecido, mas soube disso mais uma vez.

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Mantinha-se longe da vista na beiradado telhado que dava para o pátio doMadraçal de Jubair, em Damasco. Fumaçase erguia na direção de onde ele estava,mas toda a atenção abaixo estavaconcentrada na fogueira, a qual tinhapilhas de livros, documentos e rolos depergaminho no centro. Na fogueira e emJubair al-Hakim, que se encontrava aliperto, vociferando ordens. Todos faziam oque ele mandava, exceto um, notou Altaïr.Aquele erudito mantinha-se afastado,fitando o fogo, e sua expressão fazia ospensamentos de Altaïr ecoar.

Jubair usava botas de couro, turbantepreto e tinha uma carranca permanente.Altaïr observava-o cuidadosamente: tinhaaprendido muito sobre ele. Jubair era oprincipal erudito de Damasco, mas apenas

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no nome, pois era um erudito incomumque insistia não na propagação doconhecimento, mas na sua destruição. Paraessa atividade, ele recrutara osacadêmicos da cidade, cuja presença eraincentivada por Salah Al’din.

E por que faziam isso, juntar e depoisdestruir aqueles documentos? Em nome dealgum “novo modo” ou “nova ordem” daqual Altaïr já ouvira falar. Exatamente noque implicava não estava claro. Ele sabia,porém, quem estava por trás daquilo. OsTemplários, e sua presa era um deles.

— Cada um dos textos desta cidadedeve ser destruído.

Abaixo dele, Jubair incitava seushomens com o zelo de um fanático. Seusajudantes eruditos corriam de um lado aooutro com braçadas de papéis que

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apanhavam de algum lugar escondido deAltaïr. Jogavam-nos nas chamas, quevicejavam e cresciam com cada novaremessa. Com o canto do olho, ele viu oerudito afastado se tornar cada vez maisagitado, até subitamente, como se nãoconseguisse mais se conter, saltar adiantepara enfrentar Jubair.

— Meu amigo, não deve fazer isso —pediu ele, seu tom jovial desmentindo suaóbvia aflição. — Há muito conhecimentonesses pergaminhos, colocados neles porum bom motivo pelos nossos ancestrais.

Jubair parou e encarou-o com evidentedesprezo.

— E que motivo foi esse? — rosnou.— Eles são faróis destinados a nos

orientar, nos salvar da escuridão que é aignorância — implorou o erudito. As

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chamas dançavam bem alto às suas costas.Vieram mais eruditos com braçadas delivros que depositaram na fogueira, algunslançando nervosos olhares de relancepara onde estavam Jubair e o homem quereclamava.

— Não. — Jubair deu um passo àfrente, forçando o opositor a recuar umpasso. — Esses pedaços de papéis estãocobertos de mentiras. Eles envenenamsuas mentes. E, enquanto existirem, vocêsnão podem esperar ver o mundo como eleé realmente.

Tentando desesperadamente serrazoável, o erudito ainda não conseguiaesconder a frustração.

— Como pode acusar essespergaminhos de serem armas? Sãoinstrumentos de saber.

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— Vocês se voltam a eles porrespostas e salvação. — Jubair deu outropasso adiante, e o manifestante, outro paratrás. — Vocês acreditam mais neles doque em vocês mesmos. Isso os tornafracos e estúpidos. Confiam em palavras.Pingos de tinta. Já pararam para pensarem quem os pôs ali? Ou por quê? Não.Simplesmente aceitam suas palavras semquestionar. E se essas palavras disseremfalsidades, como geralmente o fazem?Isso é perigoso.

O erudito pareceu confuso. Como sealguém estivesse lhe dizendo que pretoera branco, noite era dia.

— Você está errado — insistiu ele. —Esses textos oferecem a dádiva doconhecimento. Nós precisamos deles.

Jubair ficou contrariado.

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— Você ama seus preciosos escritos?Faria qualquer coisa por eles?

— Sim, faria. É claro.Jubair deu um sorriso. Um sorriso

cruel.— Então junte-se a eles.Plantando ambas as mãos no peito do

erudito, Jubair empurrou-o para trás, comforça. Por um segundo, ele meio quetombou. Seus olhos ficaram entãoarregalados de surpresa, e seus braços seagitaram loucamente, como se esperassevoar para se livrar da fogueira voraz.Então foi levado pelo ímpeto doempurrão, caindo nas chamas, debatendo-se em um leito de calor abrasador. Gritoue esperneou. Seu manto se incendiou. Porum momento, ele pareceu tentar apagar aschamas, as mangas da roupa já ardendo.

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Então os gritos pararam. E, contido nafumaça que se erguia até Altaïr, estava onauseante cheiro de carne humanaqueimando. Ele tapou o nariz. No pátioabaixo, os eruditos fizeram o mesmo.

Jubair dirigiu-se a eles:— Qualquer homem que fale como ele

falou é o mesmo que uma ameaça. Algumoutro de vocês deseja me desafiar?

Não houve resposta; olhos temerososobservavam por cima de mãos tapandonarizes.

— Ótimo — disse Jubair. — Suasordens são bastante simples. Vão pelacidade. Juntem quaisquer escritos quetenham restado e juntem-nos às pilhas nasruas. Após fazerem isso, enviaremos umacarroça para recolhê-los a fim de quesejam destruídos.

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Os eruditos partiram. E agora o pátioestava vazio. Uma bela área coberta demármore para sempre manchada pelaobscenidade do fogo. Jubair andou emvolta dele, olhando as chamas. De vez emquando, lançava um olhar nervoso à suavolta, e parecia escutar cuidadosamente.Mas, se ouvia alguma coisa, era o crepitardo fogo e o som de sua própriarespiração. Descontraiu um pouco, o quefez Altaïr sorrir. Jubair sabia que osAssassinos estavam vindo atrás dele.Achando-se mais esperto do que seuscarrascos, enviara chamarizes para asruas da cidade — chamarizes com seusguarda-costas mais confiáveis, para que afraude fosse completa. Altaïrmovimentou-se silenciosamente pelotelhado até ficar diretamente acima do

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queimador de livros, que pensava estar asalvo ali, trancado em seu madraçal.

Mas não estava. E ele havia executadoseu último subordinado, queimado seuúltimo livro.

Clique.Jubair olhou para cima e viu o

Assassino descer em sua direção, com alâmina estendida. Tarde demais, eletentou disparar para fora do caminho, masa lâmina penetrou no seu pescoço. Comum suspiro, desabou sobre o mármore.

Seus olhos piscavam intensamente.— Por que... Por que você fez isso?Altaïr olhou para o cadáver enegrecido

do erudito no fogo. Como a carne haviasido consumida do crânio, era como seele estivesse sorrindo.

— Os homens devem ser livres para

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fazer aquilo que acreditam — falou paraJubair. E retirou a lâmina de seu pescoço.O sangue pingou no mármore. — Vocênão tem o direito de castigar uma pessoapelo que ela pensa, não importa o quantodiscorde.

— Fazer o quê, então? — pronunciouofegantemente o moribundo.

— Você, dentre todos, deveria saber aresposta. Educá-los. Mostrar-lhes o certoe o errado. O conhecimento é que develibertá-los, não a força.

Jubair deu uma risadinha.— Eles não aprendem, presos a seus

modos como estão. Você é ingênuo empensar o contrário. Trata-se de umadoença, Assassino, para a qual só há umacura.

— Está enganado. E é por isso que tem

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que ser colocado para descansar.— Eu sou diferente daqueles preciosos

livros que você procura salvar? Umafonte de conhecimento da qual discorda?Mesmo assim, foi rápido em roubar minhavida.

— Um pequeno sacrifício para salvarmuitos. É necessário.

— Não são antigos pergaminhos queinspiram os Cruzados? Que enchem SalahAl’din e seus homens com um senso dejustificada fúria? Seus textos colocamoutros em perigo. Trazem morte em seurastro. Eu também estava fazendo umpequeno sacrifício. — Sorriu. — Poucoimporta agora. Sua ação está terminada. Ea minha também.

Ele morreu, seus olhos se fechando.Altaïr levantou-se. Olhou em volta do

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pátio, vendo nele beleza e feiura. Então,ouvindo passadas se aproximarem,desapareceu. Sobre os telhados e pelasruas. Misturando-se à cidade. Tornando-se apenas uma lâmina na multidão...

— Tenho uma pergunta para você — disseAl Mualim, quando voltaram a seencontrar. Ele havia devolvido todos osdireitos a Altaïr e, finalmente, oAssassino era novamente um MestreAssassino. Mesmo assim, era como se seumentor quisesse se certificar. Quisesse tercerteza de que Altaïr tinha aprendido.

— O que é a verdade?— Nós colocamos fé em nós mesmos

— retorquiu Altaïr, ansioso para agradá-lo, querendo lhe mostrar que haviamudado de fato. Que sua decisão de

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mostrar piedade fora a correta. — Vemoso mundo como ele realmente é, eesperamos que um dia toda a humanidadetalvez possa ver a mesma coisa.

— O que é o mundo, então?— Uma ilusão — respondeu Altaïr. —

Uma ilusão à qual podemos nos submeter,como faz a maioria, ou transcendê-la.

— E o que é transcender?— Reconhecer que leis se originam não

da divindade, mas da razão. Entendoagora que nosso Credo não nos manda serlivres. — E, de repente, ele realmenteentendeu. — Ele nos manda ser sensatos.

Até agora ele acreditara no Credo, massem saber seu verdadeiro significado. Eraum apelo para interrogar, aplicarpensamento, aprendizado e razão a todosos empreendimentos.

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Al Mualim assentiu.— Percebe agora por que os

Templários são uma ameaça?— Enquanto nós banimos a ilusão, eles

a usam como regra.— Sim. Para remodelar o mundo em

uma imagem mais agradável para eles.Foi por isso que mandei você roubar otesouro deles. É por isso que o mantenhotrancado. E é por isso que você os mata.Desde que apenas um sobreviva, eletambém desejará criar uma Nova OrdemMundial. Você deve agora procurarSibrand. Com sua morte, Robert de Sabléficará finalmente vulnerável.

— Isso será feito.— Que segurança e paz estejam com

você, Altaïr.

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27

Altaïr fez o que esperava ser uma últimaviagem a Acre — desfigurada pela guerra,sobre a qual pendia a permanentemortalha. Ali, realizou suas investigaçõese depois visitou Jabal no Bureau paraapanhar seu marcador. À menção do nomede Sibrand, Jabal assentiu sabiamente.

— Conheço o homem. Recentementenomeado líder dos Cavaleiros Teutônicos,ele reside no Quarteirão Veneziano edirige o porto de Acre.

— Já tomei conhecimento disso, e demuito mais.

Jabal ergueu impressionadas

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sobrancelhas.— Continue então.Altaïr contou-lhe como Sibrand havia

recrutado os navios do cais, com aintenção de montar um bloqueio. Mas nãopara evitar um ataque de Salah Al’din.Esse foi o aspecto mostrado. De acordocom o que Altaïr descobrira, Sibrandplanejava evitar que os homens deRicardo recebessem suprimentos. Issofazia perfeito sentido. Os Templáriosestavam traindo os seus. Aparentemente,tudo começava a se tornar claro para ele:a natureza do artefato roubado, aidentidade da Irmandade juntando todosos seus alvos, até mesmo seu derradeiroobjetivo. Ainda assim...

Havia uma sensação da qual ele nãoconseguia se livrar. Uma sensação de que,

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mesmo agora, a incerteza rodopiava à suavolta como a névoa do início da manhã.

— Dizem que Sibrand é consumidopelo medo, levado à loucura peloconhecimento de que sua morte seaproxima. Ele cerrou o distrito do cais, eagora se esconde lá, esperando a chegadade seu navio.

Jabal refletiu.— Isso torna as coisas perigosas. Fico

imaginando se ele soube de sua missão.— Os homens que matei, todos eles

estão ligados. Al Mualim me alertou que anotícia de meus feitos se espalhou entreeles.

— Fique atento, Altaïr — disse Jabal,entregando-lhe a pena.

— Claro, rafiq. Mas acho que issoagirá a meu favor. O medo o

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enfraquecerá.Ele se virou para ir embora, mas, ao

fazer isso, Jabal o chamou de volta.— Altaïr...— Sim?— Eu lhe devo desculpas.— Por quê?— Por duvidar de sua dedicação à

nossa causa.Altaïr pensou.— Não. Fui eu que errei. Acreditei que

estava acima do Credo. Você não me devenada.

— Como quiser, meu amigo. Vá emsegurança.

Altaïr foi até o cais, e deslizou pelocordão de isolamento de Sibrand tãofacilmente quanto respirava. Atrás deleerguiam-se as muralhas de Acre, em

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vários estados de dilapidação; adiantedele, o porto estava repleto de navios eplataformas, cascos e carcaças demadeira. Alguns eram barcos quefuncionavam, outros, do cerco, que foramdeixados para trás. Eles tinhamtransformado o mar azul cintilante em umoceano marrom de pedaços de naufrágios.

O cais de pedras cinzentas desbotadaspelo sol tinha sua própria cidade. Quemtrabalhava e vivia ali era gente do cais —eles tinham a aparência de gente do cais.Tinham modos tranquilos e rostosmarcados pela exposição ao tempo,acostumados a sorrir.

Mas não atualmente. Não sob ocomando de Sibrand, o Grão-Mestre dosCavaleiros Teutônicos. Ele não apenasordenara que a área fosse lacrada, como a

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enchera de guardas. O medo de serassassinado era como um vírus que seespalhara pelo seu exército. Grupos desoldados andavam pelo cais com olhoserrantes. Viviam tensos, a mãoconstantemente voando para o cabo daespada de folha larga. Estavam nervosos,suando debaixo de pesada cota de malhade ferro.

Percebendo um tumulto, Altaïr foi nadireção dele, vendo cidadãos e soldadosfazerem o mesmo. Um cavaleiro gritavacom um homem santo. Por perto, seuscompanheiros observavam, aflitos,enquanto trabalhadores do cais emercadores haviam se reunido paraassistir ao espetáculo.

— E-Está enganado, Mestre Sibrand.Eu jamais sugeri violência contra

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qualquer homem, e muito certamente nãocontra você.

Então aquele era Sibrand. Altaïrobservou o cabelo negro, a testa funda eos olhos ríspidos que pareciam girarloucamente, como os de um cãoenlouquecido pelo sol. Ele havia seequipado com todas as armas possíveis, eseus cinturões cediam sob o peso deespadas, adagas e facas. Atravessado nascostas estava seu arco longo, aljavas comflechas salientando acima do ombrodireito. Parecia exausto. Um homemaniquilado.

— É o que você diz — rebateu ele,cobrindo o padre de gotas de saliva —,mas ninguém aqui garantiria isso. O quedevo fazer a respeito?

— E-Eu levo uma vida simples, meu

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senhor, como todos os homens do clero.Não é de nosso feitio chamar a atençãopara nós mesmos.

— Talvez. — Ele fechou os olhos.Então estes se abriram de repente. — Outalvez eles não o conheçam porque não éum homem de Deus, mas um Assassino.

E, com isso, empurrou o padre paratrás, fazendo o velho cair dolorosamente edepois se arrastar para se pôr de joelhos.

— Nunca — insistiu ele.— Você usa o mesmo manto.O homem santo agora estava

desesperado.— Se eles se cobrem do mesmo modo

que nós, isso é apenas para provocarincerteza e medo. Não deve se deixarlevar.

— Está me chamando de covarde? —

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berrou Sibrand, a voz falhando. — Estádesafiando a minha autoridade? Está,talvez, querendo virar os meus próprioscavaleiros contra mim?

— Não. Não. N-Não entendo por queestá f-fazendo isso comigo... Não fiz nadade errado.

— Não me lembro de tê-lo acusado dequalquer mau procedimento, o que tornasua explosão um tanto estranha. É apresença da culpa que o força àconfissão?

— Mas não estou confessando nada —alegou o padre.

— Ah. Desafiador até o fim.O padre parecia horrorizado. Quanto

mais falava, pior ficava.— O que quer dizer com isso?Altaïr ficou observando enquanto uma

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sucessão de emoções percorria o rosto dovelho: medo, confusão, desespero,impotência.

— William e Garnier foram confiantesdemais. E por isso pagaram com a vida.Eu não cometerei o mesmo erro. Se vocêé de fato um homem de Deus, entãocertamente o Criador proverá por você.Que ele esteja em minha mão.

— Você enlouqueceu — bradou opadre. Virou-se para implorar aosespectadores. — Nenhum de vocês seapresentará para deter isto? Eleclaramente foi envenenado pelo própriomedo, forçado a ver inimigos onde não hánenhum.

Seus companheiros arrastaram os pésdesajeitadamente, mas nada disseram. Etambém os cidadãos, que olharam para ele

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impassíveis. O padre não era umAssassino, podiam ver isso, mas nãoimportava o que pensavam. Todosestavam simplesmente felizes por nãoserem o alvo da fúria de Sibrand.

— Parece que as pessoas compartilhamminha preocupação — declarou Sibrand.Ele desembainhou a espada. — O quefaço, faço por Acre.

O padre soltou um grito agudo quandoSibrand enfiou a espada nas suas tripas egirou-a, depois a retirou e a limpou. Ovelho debateu-se sobre o cais e entãomorreu. Os guardas de Sibrand pegaramseu corpo e o atiraram na água.

Sibrand viu-o ser levado.— Homens, fiquem vigilantes. Avisem

à guarda sobre qualquer atividadesuspeita. Duvido que tenhamos visto o

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último desses Assassinos. Canalhaspersistentes... Agora, voltem ao trabalho.

Altaïr observou enquanto ele e doisguarda-costas seguiram até um barco aremo. O corpo do padre se chocou contrao casco quando a embarcação foi baixada,depois passou a flutuar entre o entulho doporto. Altaïr olhou para o mar e avistouum navio maior mais além. Devia ser orefúgio de Sibrand, pensou ele. Seusolhos foram de volta para o esquife deSibrand. Pôde ver o cavaleiro esticando-se para vasculhar a água à sua volta. Àprocura de Assassinos. Sempre à procuradeles. Como se pudessem surgir da água àsua volta.

Que era exatamente o que ele iria fazer,decidiu Altaïr, indo até o casco de naviomais próximo e pulando para ele,

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facilmente atravessando barcos eplataformas até se aproximar do navio deSibrand. Ali o viu subir para o convésprincipal, e seus olhos vasculharam aágua em volta. Altaïr ouviu-o ordenar aosguardas que protegessem os convesesinferiores, depois seguiu para umaplataforma perto do navio.

Um vigia viu-o se aproximar e estavapara erguer seu arco quando Altaïr oacertou com uma faca de arremesso,amaldiçoando-se por não ter tido tempode preparar o abate. Dito e feito, em vezde cair silenciosamente sobre a madeirada plataforma, a sentinela caiu na águacom um estrondo.

Os olhos de Altaïr seguiramrapidamente para o convés do navioprincipal, onde Sibrand também ouvira o

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ruído, e já estava começando a entrar empânico.

— Eu sei que você está aí, Assassino— guinchou. Ele soltou o arco. — Porquanto tempo acha que vai conseguir seesconder? Tenho uma centena de homenspercorrendo o cais. Eles o encontrarão. E,quando o encontrarem, você sofrerá pelosseus pecados.

Altaïr abraçou a estrutura daplataforma, ficando fora de vista. A águalambia seus suportes. Fora isso, silêncio.Uma quietude quase fantasmagórica, quedevia enervar Sibrand tanto quantoagradava Altaïr.

— Apareça, covarde — insistiuSibrand. O medo estava em sua voz. —Enfrente-me e vamos acabar logo comisso.

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Tudo a seu tempo, pensou Altaïr.Sibrand disparou uma flecha para o nada,depois encaixou e disparou outra.

— Fiquem atentos, homens — gritouSibrand para os conveses inferiores. —Ele está em algum lugar aí fora.Encontrem-no. Acabem com sua vida.Ganhará uma promoção quem me trouxera cabeça do Assassino.

Altaïr saltou da plataforma para onavio, pousando com um leve baque surdoque pareceu ressoar em volta da área deáguas silenciosas. Esperou, grudado aocasco, ouvindo acima os berros de pânicode Sibrand. E começou a escalar. Esperouaté Sibrand ficar de costas e então puloupara o deque, ficando então a poucoscentímetros do Grão-Mestre dosCavaleiros Teutônicos, que vagava pelo

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convés, berrando ameaças para o marvazio, proferindo insultos e dando ordensa seus guardas, que se movimentavamapressadamente lá embaixo.

Sibrand era um homem morto, pensouAltaïr, enquanto se aproximavasorrateiramente pelas suas costas. Já tinhamorrido havia muito tempo por causa deseu próprio medo, embora fosse estúpidodemais para reconhecer isso.

— Por favor... não faça isso — disseele, ao dobrar para o convés com a lâminade Altaïr no pescoço.

— Está com medo? — perguntou oAssassino. E recolheu sua lâmina.

— Claro que estou — respondeuSibrand, como se se dirigisse a um idiota.

Altaïr pensou na insensibilidade deSibrand diante do padre.

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— Mas agora está seguro — disse ele—, segure-se nos braços do seu Deus...

Sibrand soltou uma ligeira risada.— Os seus irmãos não lhe ensinaram

nada? Eu sei o que me espera. Para todosnós.

— Se não é o seu Deus, então o quê?— Nada. Nada espera. E é isso que eu

temo.— Você não crê? — surpreendeu-se

Altaïr. Seria verdade? Sibrand não tinhafé? Em nenhum Deus?

— Como poderia, sabendo o que sei. Oque vi. Nosso tesouro foi a prova.

— Prova de quê?— De que esta vida é tudo que temos.— Demore-se mais um pouco, então —

exigiu Altaïr —, e me conte que papelvocê desempenhou.

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— Um bloqueio marítimo — disse-lheSibrand —, para evitar que reis e rainhasidiotas enviassem reforços. Assim que...Assim que... — Ele estava indo depressa.

— ...a Terra Santa fosse conquistada?— completou Altaïr.

Sibrand tossiu. Quando voltou a falar,os dentes expostos estavam cobertos desangue.

— Libertada, seu idiota. Da tirania dafé.

— Liberdade? Vocês agiam parasubjugar cidades. Controlar as mentes doshomens. Mataram todos que se opuserama vocês.

— Eu segui minhas ordens, acreditandona minha causa. O mesmo que você.

— Não tenha medo — disse Altaïr,fechando os olhos dele.

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— Estamos perto, Altaïr.Al Mualim saiu de trás de sua

escrivaninha, movimentando-se através deum duro raio de luz que brilhava pelajanela. Seus pombos arrulhavam contentesno calor da tarde, e havia aquele mesmocheiro suave no ar. Entretanto, apesar dodia — e embora Altaïr tivesse recuperadoseu posto e, mais importante, a confiançado Mestre —, ele ainda não conseguia sedescontrair totalmente.

— Robert de Sablé é agora tudo que seencontra entre nós e a vitória — continuouAl Mualim. — Sua boca dá as ordens. Suamão paga o ouro. Com ele morre oconhecimento do Tesouro Templário equalquer ameaça que ele possaapresentar.

— Ainda não entendo como um simples

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pedaço de tesouro pode causar tanto caos— disse Altaïr. Estivera meditando sobreas misteriosas palavras finais de Sibrand.Estivera pensando no globo, o Pedaço deÉden. Vivenciara em primeira mão suaestranha atração, é claro, mas certamenteaquilo tinha apenas o poder de ofuscar edistrair. Conseguiria de fato exercer umcontrole além daquele de qualquerornamento desejável? Tinha de admitirque achava a ideia fantasiosa.

Al Mualim assentiu lentamente, comose lesse seus pensamentos.

— O Pedaço de Éden é tentação emuma dada forma. Veja o que fez a Robert.Assim que provou seu poder, este oconsumiu. Ele não a via como uma armaperigosa que devia ser destruída, mas umaferramenta... Uma que o ajudaria a

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realizar a ambição de sua vida.— Então ele sonhava com poder?— Sim e não. Ele sonhava, ainda

sonha, como nós, com paz.— Mas é um homem que quer ver a

Terra Santa consumida por guerra...— Não, Altaïr — exclamou Al Mualim.

— Como não consegue enxergar, se foivocê quem abriu os meus olhos para isso?

— O que quer dizer? — Altaïr estavaintrigado.

— O que ele e seus seguidores querem?Um mundo no qual todos os homens sejamunidos. Não menosprezo seu objetivo. Euo compartilho. Mas discordo dos meios.Paz é algo para ser aprendido. Para serentendido. Para ser adotado, mas...

— Ele força isso. — Altaïr estavaconcordando com a cabeça. Entendendo.

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— E, no processo, nos priva de nossolivre-arbítrio — concordou Al Mualim.

— Estranho... pensar nele desse modo— comentou Altaïr.

— Nunca nutra ódio pelas suas vítimas,Altaïr. Tais pensamentos são um veneno eanuviam nosso julgamento.

— Então ele poderia não serconvencido? De encerrar essa missãolouca?

Al Mualim balançou a cabeça lenta etristemente.

— Eu falo com ele, a meu modo,através de você. O que foi cada morte senão uma mensagem? Mas ele tempreferido nos ignorar.

— Então só resta uma coisa a fazer.Finalmente Altaïr ia caçar De Sablé. A

ideia o emocionava, mas ele teve o

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cuidado de equilibrar isso com cautela.Não cometeria novamente o erro desubestimá-lo. Nem De Sablé, nemninguém.

— Jerusalém foi onde o enfrentou pelaprimeira vez. É onde o encontrará agora— disse Al Mualim, e soltou seu pássaro.— Vá, Altaïr. Está na hora de acabar comisso.

Altaïr partiu, descendo a escada até aporta da torre e saindo no pátio. Abbasestava sentado na cerca, e Altaïr sentiuseus olhos acompanhá-lo ao atravessar opátio. Então parou e se virou para encará-lo. Fizeram contato visual, e Altaïr estavapara dizer algo — não tinha certeza doquê —, mas achou melhor não fazê-lo.Havia uma missão à sua frente. Velhasferidas eram exatamente isso: velhas

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feridas. Inconscientemente, porém, suamão foi para a lateral do corpo.

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28

Na manhã seguinte após Altaïr ter contadoa Abbas a verdade sobre seu pai, ele semostrara ainda mais retraído, e nada queAltaïr pudesse dizer conseguiu tirá-lodaquele estado. Tomaram o desjejum emsilêncio, sujeitando-se, de mau humor, àsatenções de suas governantas, depoisforam para o gabinete de Al Mualim etomaram seus lugares no chão.

Se Al Mualim notara uma diferença emseus dois protegidos, ele nada disse.Talvez tivesse ficado particularmentecontente pelo fato de os meninos sedistraírem com menos facilidade naquele

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dia. Talvez ele simplesmente tivessesuposto que haviam discutido, comojovens eram inclinados a fazer.

Altaïr, contudo, permanecia perturbado,com a mente torturada. Por que Abbas nãodissera nada? Por que não reagiu ao quelhe contara?

Ele teria a resposta mais tarde, naqueledia, quando foram, como de costume, parao pátio de treinamento. Ali, praticaramespada juntos, lutando como sempre. Mashoje Abbas decidira que não queria usaras pequenas espadas de madeira com asquais lutavam normalmente, mas asespadas com as lâminas reluzentes com asquais planejavam se formar.

Labib, o instrutor deles, ficouencantado.

— Excelente, excelente — disse ele,

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batendo palmas —, mas, lembrem-se, nãose ganha nada tirando sangue. Por favor,não vamos incomodar os médicos. Seráum teste de controle e de astúcia comotambém de habilidade.

— Astúcia — disse Abbas. — Issocombina com você, Altaïr. É astuto etraiçoeiro.

Foram as primeiras palavras que eledirigiu a Altaïr durante o dia todo. E, aopronunciá-las, Abbas olhou-o com taldesprezo, com tal ódio, que Altaïr soubeque as coisas nunca seriam as mesmasentre os dois. Ele olhou para Labib,querendo lhe pedir, lhe implorar que nãopermitisse a disputa, mas este estavapulando todo contente a cerca quelimitava o quadrilátero de treinamento,saboreando a perspectiva de, finalmente,

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assistir a um combate adequado.Eles tomaram posição. Altaïr engoliu

em seco, Abbas o encarou firmemente.— Irmão — começou Altaïr —, o que

eu disse ontem à noite, eu...— Não me chame de irmão! — O

berro de Abbas ressoou em torno dopátio. Então ele saltou na direção deAltaïr com uma ferocidade que o meninonunca vira nele antes. Mas, embora seusdentes estivessem trincados, ele podia veras lágrimas que haviam se formado noscantos dos olhos do outro. Ele sabia queera mais do que simples raiva.

— Não, Abbas — gritou ele,defendendo-se desesperadamente.

Olhou à esquerda e viu o olharintrigado do instrutor. Ele claramente nãosabia direito o que fazer em relação à

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explosão de Abbas ou à súbita hostilidadeentre os dois. Altaïr viu mais doisAssassinos se aproximarem da área detreinamento, evidentemente tendo ouvidoo grito de Abbas. Rostos surgiram najanela da torre de defesa junto à entradada cidadela. Ele ficou imaginando se AlMualim estava olhando...

Abbas estocou adiante com a ponta daespada, forçando Altaïr a desviar para olado.

— Ora, Abbas... — repreendeu oLabib.

— Ele queria me matar, Mestre —berrou Altaïr.

— Não seja dramático, menino —disse o instrutor, embora não parecessemuito convincente. — Você podiaaprender com o desempenho do seu

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irmão.— Eu não sou — atacou Abbas. —

Irmão. — As palavras do menino forampontuadas com violentas estocadas daespada. — Dele.

— Contei aquilo para te ajudar —gritou Altaïr.

— Não — bradou Abbas. — Vocêmentiu. — Ele atacou novamente e houveum forte repique de aço. Altaïr viu-selançado para trás pela força, batendo nacerca e quase caindo de costas por cimadela. Mais Assassinos haviam chegado.Alguns olhavam preocupados, outrosqueriam se divertir.

— Defenda-se, Altaïr, defenda-se —rugia Labib, batendo alegremente as mãos.Altaïr ergueu a espada, devolvendo osgolpes de Abbas e forçando-o mais uma

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vez para o centro do quadrilátero.— Falei a verdade — sibilou ele ao se

aproximarem, e as lâminas das espadasdeslizaram uma na outra. — Eu lhe conteia verdade para acabar com o seusofrimento, do mesmo modo que eu teriagostado que o meu terminasse.

— Você mentiu para me envergonhar— rebateu Abbas, caindo para trás e seposicionando, agachado e com um braçojogado para trás, como lhes ensinaram,enquanto a lâmina da espada tremia.

— Não! — gritou Altaïr. Ele dançoupara trás quando Abbas investiu adiante.Mas, com um leve movimento do pulso,Abbas atingiu Altaïr com sua lâmina,abrindo um corte que despejou sanguequente pela lateral daquele que outrorachamara de irmão. Altaïr olhou de relance

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para Labib com olhos suplicantes, massua preocupação foi dispensada com umaceno. Ele passou a mão pelo lado docorpo e aproximou-se com os dedos sujosde sangue, que estendeu para Abbas.

— Pare com isso, Abbas — pediu. —Falei a verdade, na esperança de lhe darconsolo.

— Consolo — repetiu Abbas. Omenino agora falava para a multidão quese formara. — Para me consolar, ele mediz que meu pai se matou.

Houve um momento de silêncioperturbador. Altaïr olhou de Abbas paraaqueles que agora observavam, incapazde entender a reviravolta. O segredo queele jurara manter fora tornado público.

Olhou acima para a torre de AlMualim. Avistou o Mestre parado lá,

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observando, com as mãos nas costas euma expressão ilegível no rosto.

— Abbas — gritou Labib, notandofinalmente que havia algo errado —,Altaïr.

Os dois meninos lutadores, porém, oignoraram, e suas espadas se encontraramnovamente. Altaïr, com as dores doferimento, era forçado a se defender.

— Pensei... — começou ele.— Você pensou em me causar vergonha

— gritou Abbas.As lágrimas agora escorriam pelo seu

rosto, enquanto circundava Altaïr eavançava mais uma vez, agitandoloucamente a espada. Altaïr se agachou eencontrou um espaço entre o braço e ocorpo de Abbas. Golpeou, abrindo umferimento no braço esquerdo de Abbas,

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esperando que isso, pelo menos, o fizesseparar por tempo suficiente para que eletentasse explicar...

Mas Abbas guinchou. E, com um gritofinal de guerra, saltou na direção deAltaïr, que desviou da espadadescontrolada, usando o ombro parainterromper o impulso à frente de Abbas,de modo que agora os dois rolavam pelochão em uma confusão de terra e mantosensanguentados. Por um momento, eles seagarraram, então Altaïr sentiu uma dorterrível do lado do corpo quando Abbasenfiou o polegar no seu ferimento,aproveitando a oportunidade para setorcer, deslocando-se para cima de Altaïre prendendo-o ao solo. Do cinturão,puxou sua adaga e a colocou no pescoçode Altaïr. Seus olhos enlouquecidos

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estavam concentrados no oponente. Elesainda vertiam lágrimas. Ele respiravapesadamente por entre os dentestrincados.

— Abbas! — veio o grito, não de Labibou de qualquer outro que se aproximarapara observar. Veio da janela de AlMualim. — Largue imediatamente essafaca — rugiu ele, a voz trovejando nopátio.

Em resposta, Abbas soou pequeno edesesperado.

— Não até ele admitir.— Admitir o quê? — berrou Altaïr,

contorcendo-se, mas sendo mantido firme.Labib havia pulado a cerca.— Agora, Abbas — disse ele, com

mãos apaziguadoras estendidas. — Faça oque o Mestre diz.

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— Se você se aproximar mais, eu cortoele — grunhiu Abbas.

O instrutor parou.— Ele vai colocá-lo nas celas por

causa disso, Abbas. Não é assim que aOrdem se comporta. Olhe, aqui hácidadãos da aldeia. A notícia vai seespalhar.

— Não me importo — lamentou-seAbbas. — Ele precisa dizer isso. Precisadizer que falou uma mentira sobre meupai.

— Que mentira?— Ele disse que meu pai se matou. Que

ele foi aos aposentos de Altaïr para sedesculpar e então cortou a própriagarganta. Mas ele mentiu. Meu pai não sematou. Ele deixou a Irmandade. Esse foiseu pedido de desculpas. Vamos, diga que

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você mentiu. — Ele pressionou a ponta daadaga contra a garganta de Altaïr, tirandomais sangue.

— Abbas, pare com isso — urrou AlMualim de sua torre.

— Altaïr, você mentiu? — perguntouLabib.

Um silêncio envolveu o pátio detreinamento: todos esperavam a respostade Altaïr. Este olhou para Abbas.

— Sim — disse ele. — Eu menti.Abbas recuou, agachado, e fechou os

olhos bem apertados. Fosse qual fosse ador que o atingia, ela parecia atormentartodo o seu corpo, e, ao largar a adaga comum retinir no chão do quadrilátero, elecomeçou a soluçar. Ainda soluçavaquando Labib foi até ele e o agarrourudemente pelo braço, puxando-o para

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colocá-lo de pé e o entregando a umadupla de guardas, que se aproximaramcorrendo. Momentos depois, Altaïr foiigualmente agarrado. Ele também foilevado para as celas.

Posteriormente, Al Mualim decidiuque, após um mês no calabouço, elesretomariam seu treinamento. O crime deAbbas foi considerado o mais sério dosdois; fora ele quem permitira odescontrole de suas emoções e, ao fazê-lo, levou descrédito à Ordem. O castigofoi ter seu treinamento aumentado em umano. Ainda estaria no pátio de treinamentocom Labib quando Altaïr se tornasse umAssassino. A injustiça aumentou seu ódiopor Altaïr, o qual lentamente passou a verAbbas como uma figura amargurada,patética. Quando a cidadela esteve sob

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ataque, foi Altaïr quem salvou a vida deAl Mualim, sendo elevado a MestreAssassino. Nesse dia, Abbas cuspiu naterra diante dos pés de Altaïr, mas esteapenas olhou-o com desprezo. Abbas,decidiu ele, era fraco e ineficaz como ofora seu pai.

Talvez, olhando para trás, tivesse sidopor isso que ele fora contaminado pelaarrogância.

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29

Ao chegar novamente ao Bureau deJerusalém, Altaïr era um homem mudado.Não que tivesse cometido o erro depensar que sua viagem havia acabado —esse teria sido um engano cometido peloantigo Altaïr. Não, ele sabia que eraapenas o começo. Era como se Maliktambém sentisse isso. Algo mudara nochefe do Bureau quando Altaïr entrou.Havia uma nova deferência e uma novaharmonia entre eles.

— Segurança e paz, Altaïr — saudouele.

— Igualmente, irmão — respondeu

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Altaïr, e houve um momento encabuladoentre eles.

— Parece que o destino tem um modoestranho em relação às coisas...

Altaïr assentiu.— Então é verdade? Robert de Sablé

está em Jerusalém?— Vi pessoalmente os cavaleiros. — A

mão de Malik foi para seu coto, ondeantes ficava seu braço. Uma lembrança àmenção dos Templários.

— Só o infortúnio segue esse homem.Se ele está aqui, é porque pretendealguma maldade. Não darei chance paraque ele aja — disse Altaïr.

— Não deixe que a vingança encubraos seus pensamentos, irmão. Nós doissabemos que nada de bom pode resultardisso.

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Altaïr sorriu.— Não esqueci desse conselho. Você

nada tem a temer. Não procuro vingança,mas conhecimento.

Antes, ele teria dito tal coisa apenaspapagueando, sabendo o que os crédulosesperavam dele. Agora, de fato acreditavanisso.

Mais uma vez, Malik entendeu de algummodo.

— Realmente, você não é o homem queoutrora conheci — observou ele.

Altaïr concordou com a cabeça.— Meu trabalho me ensinou muitas

coisas. Revelou-me segredos. Mas aindahá peças desse quebra-cabeça que nãopossuo.

— O que quer dizer com isso?— Todos os homens que matei

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trabalhavam juntos, unidos por essehomem. Robert tem planos para esta terra.Disso tenho toda a certeza. Mas como epor quê? Quando e onde? Essas coisaspermanecem fora do alcance.

— Cruzados e sarracenos trabalhandojuntos? — perguntou-se Malik em vozalta.

— Eles não são isso, mas outra coisa.Templários.

— Os Templários são uma parte doexército cruzado — lembrou Malik,embora a pergunta estivesse escrita portodo o seu rosto: como poderiam serhomens do rei Ricardo se permaneciamem Jerusalém? Andando pelas ruas dacidade?

— Ou é nisso que querem que o reiRicardo acredite — supôs Altaïr. — Não.

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Sua única aliança é com Robert de Sablée alguma ideia maluca de que elesacabarão com a guerra.

— Você está tecendo uma estranhatrama.

— Você nem faz ideia, Malik...— Então me conte.Altaïr passou a contar a Malik o que

descobrira até então.— Robert e seus Templários estão pela

cidade. Vieram prestar suas homenagens aMajd Addin. Eles comparecerão aofuneral dele. O que significa que eutambém comparecerei.

— Por que os Templárioscompareceriam ao funeral de Majd?

— Ainda preciso adivinhar asverdadeiras intenções deles, mas tereiuma confissão a tempo. Os próprios

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cidadãos estão divididos. Muitos temempela própria vida. Mas outros insistemque eles estão aqui para negociar. Parafazer paz.

Ele pensou no orador que interrogara eque fora inflexível em afirmar que seusamos queriam um fim para a guerra. DeSablé, um cristão, iria ao funeral de MajdAddin, um muçulmano. Não seria essa aprova de que os Templários buscavamuma Terra Santa unida? Os cidadãos eramhostis à ideia de os Templários estarempresentes em Jerusalém. A ocupaçãocruzada ainda estava fresca em suasmentes. Não era surpreendente quehouvesse relatos de brigas entre Cruzadose sarracenos, que protestavam contra avisão de cavaleiros nas ruas. A cidadepermanecia sem ser convencida pelos

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oradores que insistiam que eles vieramem nome da paz.

— Paz? — indagou agora Malik.— Já lhe disse. Os outros que matei me

disseram isso.— Isso os tornaria nossos aliados.

Mesmo assim, nós os matamos.— Não se deixe enganar. Não somos

nada como esses homens. Apesar de seuobjetivo parecer nobre, os meios pelosquais eles o obtém não o são. Pelomenos... foi isso que Al Mualim me disse.

Ele ignorou o minúsculo verme dedúvida que escorregou para o fundo deseu estômago.

— Bem, e qual é o seu plano?— Vou comparecer ao funeral e

enfrentar Robert.— Quanto mais cedo, melhor —

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concordou Malik, entregando a pena aAltaïr. — Que a sorte favoreça sualâmina, irmão.

Altaïr pegou a pena marcadora.Engolindo em seco, ele falou:

— Malik... Antes de eu ir, tem umacoisa que preciso dizer.

— Então diga.— Eu fui um idiota.Malik soltou uma gargalhada seca.— Normalmente, eu não discutiria, mas

o que é isso? Do que está falando?— Todo esse tempo... nunca lhe disse

que sinto muito. O maldito orgulho. Vocêperdeu o braço por minha causa. PerdeuKadar. Teve todo o direito de ficarfurioso.

— Não aceito sua desculpa.— Eu entendo.

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— Não. Não entende. Não aceito suadesculpa porque você não é o mesmohomem que foi comigo ao Templo deSalomão, portanto você não tem nada doque se desculpar.

— Malik...— Talvez, se não tivesse sentido tanta

inveja de você, eu não tivesse sido tãodescuidado. A culpa também foi minha.

— Não diga isso.— Nós somos um. Do mesmo modo

como compartilhamos a glória de nossasvitórias, também devemos compartilhar ador de nossas derrotas. Desse modo nostornamos mais próximos. Mais fortes.

— Obrigado, irmão.

E foi assim que Altaïr se encontrou nocemitério, um pequeno terreno sem

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adornos, juntando-se a um escasso grupode Templários e civis que haviam sereunido em volta do túmulo de MajdAddin, o regente anterior da cidade.

O corpo foi banhado e envolto emmortalha e carregado em procissão,depois enterrado pelo seu lado direito e oburaco coberto. Membros da procissãoacrescentavam terra à cova. QuandoAltaïr entrou, um imã se adiantava paraproferir a oração fúnebre, e o silênciodescera sobre o campo santo. A maioriapermanecia com as mãos juntas à frentedo corpo e a cabeça baixa em respeito aomorto, portanto foi uma tarefa fácil paraAltaïr deslizar pelo meio da multidão afim de conseguir uma posição favorável.Para localizar seu alvo final. Aquele quecolocara Altaïr nesse caminho — cuja

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morte seria apenas a retribuição pelosofrimento que ele causara e do queacontecera em seu nome: Robert de Sablé.

Passando pelas fileiras de pessoas emluto, Altaïr se deu conta de que era aprimeira vez que se encontrava no funeralde um de seus alvos, e lançou um olhar emvolta para ver se havia por perto membroschorosos da família do morto, imaginandocomo ele, o matador, se sentiria ao sedeparar com a dor deles. Mas, se MajdAddin havia tido parentes próximos, estesou estavam ausentes ou mantinham ocultasua dor no meio da multidão. Não havianinguém à beira do túmulo a não ser o imãe...

Um pequeno grupo de Templários.Eles estavam diante de uma fonte

decorada com adornos instalada em um

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alto muro de arenito, três deles usavamarmadura e tinham elmos cobrindointeiramente o rosto; até mesmo o que seencontrava adiante dos outros dois, e quetambém usava capa. A inconfundível capado Grão-Mestre Templário.

No entanto... Altaïr pestanejou ao olharpara De Sablé. O cavaleiro, de algummodo, não era como ele se lembrava.Estaria sua memória lhe pregando umapeça? Teria Robert de Sablé assumidouma dimensão maior em sua cabeça portê-lo derrotado? Certamente ele pareciacarecer da estatura de que Altaïr selembrava. Onde estava também o restantede seus homens?

Agora o imã tinha começado a falar:— Estamos reunidos aqui para lamentar

a perda de nosso amado Majd Addin,

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levado cedo demais deste mundo. Sei quevocês sentem pesar e dor pela sua morte.Mas não deveriam. Pois, do mesmo modocomo todos nós somos trazidos do ventre,também devemos um dia partir destemundo. É apenas natural, como o nascer eo pôr do sol. Aproveitem este momentopara refletir sobre a vida dele eagradeçam por todo o bem que ele fez.Sabedores de que, um dia, vocês estarãonovamente com ele no paraíso.

Altaïr pelejou para ocultar seu asco. “Oamado Majd Addin”. O mesmo amadoMajd Addin que fora um traidor dossarracenos, que havia procurado corroer aconfiança que sentiam ao executarindiscriminadamente os cidadãos deJerusalém? Aquele amado Majd Addin?Não era de admirar que o público fosse

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tão escasso e a dor tão poucoevidenciada. Ele era tão amado quanto alepra.

O imã começou a conduzir as pessoaspara que fizessem uma prece.

— Ó Deus, abençoe Maomé, suafamília, seus companheiros, ómisericordioso e majestoso. Ó Deus, maismajestoso do que o descrevem, paz aosprofetas, bênçãos do Deus do Universo.

O olhar de Altaïr foi dele para DeSablé e seu guarda-costas. Uma piscadelado sol atraiu seu olhar, e ele ergueu avista para o muro atrás do trio decavaleiros, para os bastiões que haviamao longo do lado de fora do pátio. Foraum movimento o que ele havia notado?Talvez. Vários soldados templáriospoderiam facilmente se proteger nos

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bastiões.Olhou novamente de relance para os

três cavaleiros — Robert de Sablé, comose preparado para uma inspeção,oferecia-se como alvo. Sua compleição.Certamente, um tanto insignificante. Acapa. Parecia comprida demais.

Não. Altaïr abandonaria o assassinatoporque não havia como ignorar o seuinstinto. Ele não lhe dizia que havia algoerrado. Ele dizia que nada estava certo.Começou a recuar, no momento em que otom do imã mudou.

— Como sabem, esse homem foi mortopor Assassinos. Tentamos localizar essecriminoso, mas isso se mostrou difícil.Essas criaturas grudam-se às paredes efogem de qualquer um que os enfrente demodo justo.

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Altaïr gelou, percebendo que agora aarmadilha ia ser acionada. Tentou forçarcaminho mais rapidamente pela multidão.

— Mas hoje não — ouviu o imãexclamar —, pois parece que um deles seencontra entre nós. Ele zomba da gentecom sua presença e deve ser forçado apagar por isso.

De repente, a multidão em volta deAltaïr abriu-se, formando um círculo à suavolta. Ele virou-se, olhando para a beirado túmulo, onde o imã apontava — paraele. De Sablé e seus dois homensavançavam. A aglomeração em volta deAltaïr parecia enfurecida e se fechavapara abarcá-lo, sem deixar qualquer rotade fuga.

— Agarrem-no. Tragam-no para que ajustiça de Deus possa ser feita — bradou

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o imã.Com um movimento, Altaïr sacou a

espada e também ejetou a lâmina.Lembrou-se das palavras do Mestre:Escolha um.

Mas não foi preciso. As pessoas emluto podiam ter sido corajosas e MajdAddin podia ter sido amado, mas ninguémestava preparado para derramar sanguepara vingá-lo. Em pânico, a multidão serompeu, em fuga, tropeçando nos própriosmantos, e Altaïr aproveitou a súbitaconfusão para disparar para um lado,rompendo a linha de frente dosTemplários que avançava. O primeirodeles teve apenas o tempo de registrar queuma pessoa da multidão não estavafugindo, mas, em vez disso, avançando emsua direção, antes que a espada de Altaïr

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atravessasse sua cota de malha e suasentranhas e ele caísse.

Altaïr avistou uma porta aberta no muroe mais cavaleiros precipitando-se por ela.Pelo menos cinco. Ao mesmo tempo, veiouma chuva de flechas de cima, e umcavaleiro girou e caiu, a hastesalientando-se de seu pescoço. O olhar deAltaïr correu para os baluartes, onde eleviu arqueiros templários. Naquelemomento, a pontaria deles o haviafavorecido. Dificilmente teria tanta sortena próxima vez.

O segundo dos guarda-costas avançou eele o golpeou com a lâmina, talhando opescoço do homem e derrubando-o emmeio a um jorro de sangue. Virou-se paraDe Sablé, que avançava brandindo suaespada de folha larga, pesada o bastante

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para mandar Altaïr cambaleando paratrás, tendo sido capaz de apenas desviar ogolpe. Subitamente, surgiram reforços, eele passou a trocar golpes com três outroscavaleiros, todos com elmos cobrindotodo o rosto, e descobriu que agora estavaem cima do local final de descanso deMajd Addin. Não houve, porém, tempopara desfrutar o momento: de cima, veiooutra chuva de flechas e, para o prazer deAltaïr, um segundo cavaleiro foi flechado,gritando ao cair. Isso perturbou osTemplários restantes, e eles sedispersaram um pouco, menos por medode Altaïr do que de seus própriosarqueiros, justamente no momento em queDe Sablé começou a dar gritosesganiçados para os arqueiros pararem dedisparar em seus próprios homens.

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Nesse momento, Altaïr ficou tãosurpreso que quase abriu a guarda. O queele ouvira não foi o inconfundível timbrefrancês de Robert de Sablé, mas uma vozque certamente pertencia a uma mulher.Uma inglesa.

Por um momento, ele foi tomado desurpresa por uma mistura de aturdimento eadmiração. Essa... mulher, a substitutaenviada por De Sablé, lutava tãobravamente quanto qualquer homem emanejava a espada de folha larga tãohabilmente quanto qualquer cavaleiro comque ele havia se defrontado. Quem eraela? Um dos tenentes de De Sablé? Suaamante? Mantendo-se perto da proteçãodo muro, Altaïr derrubou outro doscavaleiros. Restava apenas um. Mais um ea substituta de De Sablé. Mas o último

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Templário tivera menos apetite para a lutado que ela, e morreu, trespassado pelaponta da espada do Assassino.

Agora apenas ele e ela trocavamgolpes, até Altaïr finalmente levar amelhor, enfiando a espada em seu ombro,enquanto varria suas pernas, fazendo-adesabar pesadamente no chão. Correndopara uma proteção, ele a arrastou juntopara que ambos ficassem fora da vista dosarqueiros. Então curvou-se sobre ela.Ainda usando o elmo, seu peito arfava.Sangue havia se espalhado pelo pescoço epelo ombro, mas ela sobreviveria, pensouAltaïr — isto é, se ele permitisse.

— Quero ver seus olhos antes de vocêmorrer — disse ele.

Tirou o elmo, e ficou ainda maissurpreso ao confrontar a verdade.

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— Creio que esperava outra pessoa —comentou ela, sorrindo um pouco.

Seu cabelo estava escondido pelocapuz da cota de malha que usava, masAltaïr ficou extasiado com seus olhos.Percebeu que havia determinação por trásdeles, porém também algo mais.Suavidade e leveza. E descobriu-seimaginando se suas óbvias habilidadescomo guerreira davam uma falsa ideia desua verdadeira natureza.

Mas — independente do conhecimentode combate que ela possuía — por que DeSablé mandaria essa mulher em seu lugar?Que habilidades especiais ela poderiater? Ele colocou sua espada no pescoçodela.

— Que feitiçaria é essa? — indagoucautelosamente.

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— Nós sabíamos que você viria —disse ela, ainda sorrindo. — Robertprecisava ter certeza de que ele teriatempo para fugir.

— Então ele fugiu?— Não podemos negar o seu sucesso.

Você destruiu os nossos planos. Primeiroo tesouro... depois nossos homens. Ocontrole da Terra Santa nos escapuliu...Mas ele viu uma oportunidade derecuperar o que havia sido roubado.Transformar suas vitórias em nossavantagem.

— Al Mualim ainda tem o tesouro e jáaniquilamos antes o seu exército —rebateu Altaïr. — Seja qual for o plano deRobert, ele fracassará novamente.

— Ah — fez ela. — Mas não é apenascontra os Templários que você lutará

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agora.Altaïr controlou-se.— Fale algo com sentido — exigiu.— Robert cavalga até Arsuf para

defender sua causa, que sarracenos eCruzados se unam contra os Assassinos.

— Isso jamais acontecerá. Eles não têmnenhum motivo para isso.

O sorriso dela se alargou.— Talvez não tivessem. Mas agora

você lhes deu um. Aliás, nove. Os corposque deixou para trás... As vítimas deambos os lados. Você tornou osAssassinos um inimigo em comum egarantiu a aniquilação de sua Ordeminteira. Muito bem.

— Nove não. Oito.— O que quer dizer?Ele afastou a espada do pescoço dela.

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— Você não era meu alvo. Não tirareisua vida. — Levantou-se. — Está livrepara ir. Mas não me siga.

— Não preciso — disse ela,levantando-se e colocando a mão sobre oferimento no ombro. — Você já está muitoatrasado...

— Veremos.Com um olhar de relance final para os

bastiões, onde arqueiros se apressavamem assumir novas posições, Altaïr saiuem disparada, deixando o cemitério vaziocom exceção de seus velhos e novoscadáveres — e a estranha, corajosa earrebatadora mulher.

— Era uma armadilha — exclamou paraMalik momentos depois, que foi o tempoque levara para ir do cemitério ao Bureau,

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em um percurso durante o qual sua mentetrabalhou furiosamente.

— Soube que o funeral se transformouem um caos... O que aconteceu?

— Robert de Sablé nunca esteve lá.Enviou outra pessoa em seu lugar. Estavaà minha espera...

— Você precisa ir até Al Mualim —sugeriu Malik com firmeza.

Sim, pensou Altaïr, precisava. Havianovamente, porém, aquela sensaçãoinsistente. A tal que lhe dizia que aindahavia mais mistério para descobrir. E porque pensava que isso, de algum modo,envolvia o Mestre?

— Não há tempo. Ela me disse aondeele foi. Quais são seus planos. Se euvoltar a Masyaf, talvez ele tenhasucesso... Então... receio que sejamos

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destruídos.— Nós já matamos a maioria de seus

homens. Ele não pode pensar emconseguir montar um ataque apropriado.Espere — falou Malik. — Você disse“ela”?

— Sim. Era uma mulher. Sei que éestranho. Mas isso fica para outraocasião. Por enquanto devemos nosconcentrar em Robert. Pode ser quetenhamos diminuído suas fileiras, mas ohomem é esperto. Ele vai pleitear seucaso junto a Ricardo e Salah Al’din. Parauni-los contra um inimigo comum...Contra nós.

— Você certamente está equivocado.Isso não faz sentido. Esses dois homensjamais iriam...

— Ah, iriam sim. E a culpa é nossa. Os

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homens que matei... homens de ambos oslados do conflito... homens importantespara ambos os líderes... O plano deRobert pode ser ambicioso, mas fazsentido. E pode dar certo.

— Olhe, irmão, as coisas mudaram.Vo c ê precisa voltar a Masyaf. Nãopodemos agir sem a permissão do Mestre.Isso poderia comprometer a Irmandade.Eu achei... Eu achei que você tinhaaprendido isso.

— Pare de se esconder atrás daspalavras, Malik. Você empunha o Credo eseus princípios como um escudo. Eleafasta as coisas da gente. Coisasimportantes. Foi você quem me disse quenunca podemos saber de nada, apenassuspeitar. Pois bem, suspeito que esseassunto com os Templários seja mais

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profundo. Quando acabar com Robert, ireia Masyaf para que possamos obterrespostas. Mas talvez você possa ir agora.

— Não posso deixar a cidade.— Então caminhe através de seu povo.

Procure aqueles que serviram aos tais quematei. Talvez enxergue algo que nãoconsegui.

— Não sei... Preciso pensar nisso.— Faça o que precisar, meu amigo.

Mas eu irei a Arsuf. Cada momento deminha demora significa mais um passoque nosso inimigo dá à minha frente.

Outra vez, ele infringira o Credo:involuntariamente ou não, ele colocara aOrdem em perigo.

— Tome cuidado, irmão.— Tomarei. Prometo.

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30

Os exércitos de Salah Al’din e RicardoCoração de Leão haviam se encontradoem Arsuf e, enquanto seguia para lá,Altaïr soube — pelo rumores ouvidos emoficinas de ferreiros e poços de águadurante o caminho — que, após uma sériede pequenos combates, a batalhacomeçara naquela manhã, quando osturcos de Salah Al’din haviam lançado umataque contra as fileiras dos Cruzados.

Cavalgando em direção a ela, contra ofluxo de campesinos aflitos querendoescapar do massacre, Altaïr avistoucolunas de fumaça no horizonte. Ao se

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aproximar mais, conseguiu distinguirsoldados em combate na planície distante.Aglomerações deles; imensos bandosescuros à distância. Enxergou uma faixade milhares de homens avançandodepressa a cavalo em ataque ao inimigo,mas Altaïr estava muito distante parasaber se a investida era sarracena oucruzada. Mais próximo, conseguiu ver asarmações de madeira de máquinas deguerra e pelo menos uma pegando fogo.Então conseguiu distinguir os altoscrucifixos de madeira dos cristãos, ascruzes imensas em cima de plataformassobre rodas que a infantaria empurrava àfrente e as bandeiras dos sarracenos e asdos Cruzados. O céu escurecia com achuva de flechas disparadas pelosarqueiros de cada lado. Viu cavaleiros

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montados portando piques e bandos desarracenos a cavalo realizandodevastadoras incursões nas fileiras doscruzados.

Conseguia ouvir o tamborilar de cascosna planície e o constante estrépito doscímbalos, tambores, gongos e trombetassarracenos. Podia ouvir o ruído dabatalha: o incessante e envolvente barulhoda gritaria dos vivos, dos brados dosmoribundos, o pronunciado matraquear deaço contra aço e o deplorável relinchar decavalos feridos. Agora começava aencontrar animais sem cavaleiros ecorpos, sarracenos e Cruzados, com osmembros esticados sobre a terra ousentados mortos apoiados em árvores.

Altaïr freou sua montaria — bem atempo, pois subitamente começaram a

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surgir arqueiros sarracenos de trás dalinha das árvores a alguma distância deonde ele estava. Saltou do cavalo e roloupara fora da pista principal, protegendo-se atrás de uma carroça virada. Haviatalvez uma centena deles. Elesatravessaram correndo a pista até asárvores do outro lado. Movimentavam-secom rapidez e iam abaixados. Moviam-seda maneira como o fazem os soldadosquando avançam furtivamente porterritório mantido por inimigo.

Altaïr levantou-se e também disparoupara o meio das árvores, seguindo osarqueiros a uma distância segura.Perseguiu-os por alguns quilômetros, e ossons da batalha, suas vibrações, foramficando cada vez mais fortes, atéchegarem a uma elevação. Agora se

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achavam acima da batalha principal, queseguia com intensidade abaixo deles, e,por um momento, o próprio tamanho delao deixou sem fôlego. Por toda a parte — oquanto alcançava a vista — havia homens,corpos, máquinas e cavalos.

Do mesmo modo como no Cerco deAcre, ele viu-se no meio de um feroz eselvagem conflito sem um lado parachamar de seu. O que ele tinha era aOrdem. O que ele tinha era uma missãopara protegê-la, de deter a fera que,involuntariamente, soltara para destruí-la.

Por toda a sua volta na elevaçãotambém havia corpos, como se já tivessehavido uma batalha pouco tempo antes. Ehouvera, é claro: quem quer quedominasse a elevação tinha a vantagem daaltura, portanto era provável que ela fosse

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brutalmente disputada. De fato, aochegarem ao cume, os sarracenos foramrecebidos pela infantaria e pelosarqueiros cruzados, e ergueu-se umagrande gritaria de ambos os lados. Oshomens de Salah Al’din tinham oelemento surpresa e, portanto, a vantagem,e a primeira onda de ataque deixou oscorpos de cavaleiros em seu rastro, algunscaindo da elevação para a ebulição daguerra lá embaixo. Mas, enquanto Altaïrse mantinha agachado, observando, osCruzados conseguiram se reagrupar, e ocombate começou seriamente.

Seguir ao longo da elevação era o meiomais seguro de ir para trás das linhascruzadas, onde Ricardo Coração de Leãoestaria posicionado. E alcançá-lo era aúnica esperança que Altaïr tinha de deter

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Robert de Sablé. Ele aproximou-se dabatalha e começou a se movimentar para aesquerda, deixando um amplo espaçoentre ele e os combatentes. Chegou até umcruzado que estava agachado sobre avegetação rasteira, observando a batalha echoramingando, e logo o deixou, correndoadiante.

De repente, houve um grito, então doisCruzados se aproximaram do seucaminho. Ele parou, cruzou os braços atéos ombros, desembainhando a espada comuma das mãos e sacando uma faca com aoutra. Um dos batedores foi abatido e elese dirigiu ao outro. E o havia derrubadoquando percebeu que não eram batedores.Eram sentinelas.

Ainda contemplando a batalha do alto,descobriu que estava na ponta de uma

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colina. A alguma distância dali conseguiaver o estandarte de Ricardo Coração deLeão e achou ter vislumbrado o própriorei, montado em seu inconfundível corcel,com sua flamejante barba laranja e seucabelo reluzente ao sol da tarde. Masagora chegava mais infantaria deretaguarda e ele se viu cercado porcavaleiros, cota de malha de ferrochocalhando, as espadas erguidas e osolhos com um brilho para batalha sob oselmos.

A missão deles era proteger seusoberano; a de Altaïr, alcançá-lo. Porlongos momentos, a batalha foi intensa.Altaïr dançava e corria, às vezes abrindopara si um caminho, a espadaensanguentada brilhando, às vezes capazde dar uma longa arremetida, chegando

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agora mais perto de onde conseguia verRicardo. O rei estava em uma clareira.Havia desmontado, atento à agitação quese aproximava, e seus guarda-costas maispróximos formavam um círculo à suavolta, tornando-o um alvo menor.

Ainda lutando, com a espada ainda seagitando, os homens caindo a seus pés, omanto manchado de sangue cruzado,Altaïr livrou-se de um ataque e foi capazde avançar. Viu os tenentes do reisacarem as espadas, com os olhos ferozesdebaixo dos elmos. Também viu arqueirosse movimentando acima das grandespedras ali em volta, na esperança deencontrar uma posição mais elevada paraacertar o intruso.

— Um momento — exclamou Altaïr.Agora, a apenas poucos metros, ele olhou

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o rei Ricardo nos olhos, mesmo com seushomens avançando. — Venho conversarcom você, e não atacar.

O rei vestia seu vermelho régio e, nopeito, um leão dourado bordado. Era oúnico homem entre eles não assolado pormedo ou pânico e permanecia totalmentecalmo no centro da batalha. Ele ergueu obraço e seus homens detiveram o avanço,fazendo a batalha extinguir-se em uminstante. Altaïr ficou grato em ver oshomens que o atacavam recuarem algunspassos, dando-lhe espaço finalmente.Baixou o braço com a espada. Aorecuperar o fôlego, seus ombros subiram edesceram pesadamente e percebeu quetodos os olhos estavam sobre ele. Cadaponta de espada estava apontada parasuas entranhas pelos homens que o

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atacavam; cada arqueiro o tinha na mira.Uma palavra de Ricardo e ele cairia.

Em vez disso, Ricardo falou:— Oferece então os termos da

rendição? Já não era sem tempo.— Não. Não está entendendo —

rebateu Altaïr. — Foi Al Mualim quemme mandou, e não Salah Al’din.

O rei pareceu sombrio.— Assassino? O que significa isso? E

seja rápido. — Os homens avançaram umpouco. Os arqueiros ficaram tensos.

— Há um traidor em seu meio — disseAltaïr.

— E ele o contratou para me matar? —exclamou o rei. — Veio se vangloriarantes de atacar? Não serei alcançado tãofacilmente.

— Não é você quem eu vim matar. Mas

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ele.— Fale, então, para que eu possa julgar

a verdade. — O rei Ricardo acenou com acabeça para Altaïr avançar. — Quem éesse traidor?

— Robert de Sablé.As sobrancelhas de Ricardo ergueram-

se em surpresa.— Meu tenente?— Sua intenção é trair — falou Altaïr

calmamente. Ele tentava escolher aspalavras com cuidado, em um desesperopara não ser mal interpretado. Precisavaque o rei acreditasse nele.

— Não é isso que ele diz — retrucouRicardo. — Ele procura vingança contraseu povo por causa da destruição quecausaram em Acre. E estou inclinado aapoiá-lo. Alguns dos meus melhores

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homens foram mortos por alguns de vocês.Bem... Robert de Sablé já conseguira a

atenção do rei. Altaïr inspirou fundo. Oque estava para dizer poderia significarsua morte imediata.

— Fui eu quem os matou. E por umbom motivo. — Ricardo ficou vermelho,mas Altaïr insistiu. — Ouça-me. Williamde Montferrat. Ele pretendia usar seussoldados para tomar Acre à força. Garnierde Naplouse. Usava suas habilidades paradoutrinar e controlar quem quer queresistisse. Sibrand. Pretendia bloquear osportos, evitando que seu reino fornecesseajuda. Eles o traíram. E recebiam ordensde Robert.

— Espera que eu acredite nessahistória grotesca? — disse o Coração deLeão.

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— Conheceu esses homens melhor doque eu. Está de fato surpreso em tomarconhecimento das intenções maléficasdeles?

Ricardo pareceu pensar por ummomento, então dirigiu-se a um doshomens parados a seu lado, que usava umelmo que lhe cobria completamente orosto.

— Isso é verdade? — perguntou.O cavaleiro tirou o elmo e, dessa vez,

era realmente Robert de Sablé. Altaïrolhou-o com visível repugnância,lembrando-se de seus crimes. Aquelehomem tinha mandado uma mulher comoseu substituto.

Por um instante, os dois se encararam.Era a primeira vez que se encontravamdesde a luta embaixo do Monte do

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Templo. Ainda ofegante, Altaïr cerrou ospunhos. De Sablé deu um sorriso afetado,com o lábio torto, então virou-se paraRicardo.

— Meu soberano... — disse ele, em umtom exasperado. — É um Assassino queestá diante de nós. Essas criaturas sãomestres em manipulação. Claro que não éverdade.

— Não tenho motivos para enganar —vociferou Altaïr.

— Ah, mas tem sim — retrucou DeSablé. — Receia o que acontecerá à suapequena fortaleza. Conseguirá ela resistiràs forças combinadas dos exércitossarraceno e cruzado? — E deu um sorrisolargo, como se já imaginasse a queda deMasyaf.

— Minha preocupação é com o povo

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da Terra Santa — contrapôs Altaïr. — Seeu tiver que me sacrificar para que hajapaz, que assim seja.

Ricardo estivera observando-os comuma expressão preocupada.

— É um ponto estranho esse a quechegamos. Cada um acusando o outro...

— Não há realmente tempo para isso— disse De Sablé. — Preciso partir parame encontrar com Salah Al’din e recrutarsua ajuda. Quanto mais demorarmos, maisdifícil será. — Fez menção de ir,esperando, sem dúvida, que o assuntoestivesse encerrado.

— Espere, Robert — pediu Ricardo.— Seus olhos foram de De Sablé paraAltaïr e voltaram.

Com um tom de frustração, De Sablévociferou:

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— Por quê? O que pretende? Não mediga que acredita nele. — Ele apontoupara Altaïr, que podia ver nos olhos deDe Sablé que talvez o rei tivesse suasdúvidas. Talvez até mesmo estivesseinclinado a acreditar na palavra de umAssassino em vez de na do Templário.Altaïr prendeu a respiração.

— É uma decisão difícil — respondeuo rei. — Uma decisão que não possotomar sozinho. Preciso deixar isso nasmãos de alguém mais sábio do que eu.

— Obrigado.— Não, Robert, não você.— Quem então?— O Senhor. — Ele sorriu, como se

estivesse satisfeito por ter tomado adecisão certa. — Que isso seja decididoem um combate. Certamente Deus ficará

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do lado daquele cuja causa é honrada.Altaïr observou Robert com cuidado,

notou a expressão que passou pelo rostodo Templário. De Sablé sem dúvidalembrava-se da última vez que seencontraram, quando ele havia superadofacilmente Altaïr.

O Assassino se lembrava do mesmoencontro. Estava dizendo a si mesmo queagora era um guerreiro diferente: daúltima vez, ficara em desvantagem porcausa da arrogância, e, por esse motivo,fora derrotado com tanta facilidade.Tentava não se lembrar da grande forçado cavaleiro. Do modo como ele haviaagarrado e jogado Altaïr para longe com amesma facilidade que faria com um sacode trigo.

De Sablé, porém, se lembrava disso, e

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virou-se para o rei, baixando a cabeça emobediência.

— Se esse é o seu desejo — disse.— É.— Que assim seja. Às armas,

Assassino.O rei e seus ajudantes diretos ficaram

de um lado, enquanto os membrosrestantes dos guarda-costas formaram umcírculo em volta de Altaïr e do sorridenteDe Sablé. Diferentemente de Altaïr, elenão estava exausto pela batalha. Usavaarmadura, ao passo que Altaïr vestiaapenas um manto. Ele não sofrera oscortes e as pancadas que Altaïr receberana luta para chegar à clareira. Ele tambémsabia disso. Ao vestir as manoplas daarmadura e um dos homens se aproximarpara ajudá-lo com o elmo, ele sabia que

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tinha todo tipo de vantagem.— Bem — disse ele, em tom de

zombaria —, vamos nos enfrentarnovamente. Esperemos dessa vez quevocê ofereça um desafio maior.

— Não sou o homem que vocêenfrentou no interior do Templo —retrucou Altaïr, erguendo a espada. Oestrondear da grande batalha de Arsufagora parecia distante; o mundo haviaencolhido para apenas aquele círculo.Apenas ele e De Sablé.

— Para mim, você parece o mesmo —disse De Sablé.

Então ergueu a espada para mostrá-la aAltaïr. Em resposta, o Assassino fez omesmo. Os dois permaneceram parados,Robert de Sablé com o peso apoiadosobre o pé recuado, evidentemente

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esperando que Altaïr avançasse primeiro.O Assassino, porém, impôs a primeira

surpresa do duelo, permanecendo imóvel,à espera do ataque de De Sablé.

— As aparências enganam — disse ele.— Verdade. Verdade — concordou De

Sablé, com um sorriso irônico e,exatamente no segundo seguinte, atacou,atingindo forte com a espada.

O Assassino bloqueou o golpe. A forçado ataque de De Sablé quase arrancou aespada de sua mão, mas ele o aparou e odesviou para o lado, tentando encontrarum espaço na guarda de De Sablé. Aespada de folha larga do Templário tinhatrês vezes o peso de sua espada e, emboraos cavaleiros fossem famosos por suadedicação ao treinamento com a espada enormalmente tivessem a força para

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competir, eles, contudo, eram mais lentos.De Sablé podia ser mais arrasador em seuataque, porém jamais conseguiria ser tãorápido.

Era desse modo que Altaïr conseguiriaderrotá-lo. Seu erro anterior fora permitirque De Sablé usasse suas vantagens. Suaforça agora era negá-las a ele.

Ainda confiante, De Sablé pressionou.— Assim que isto terminar, Masyaf

cairá — murmurou ele, com a poderosalâmina passando tão perto que Altaïrouviu-a zunir em seu ouvido.

— Meus irmãos são mais fortes do queimagina — rebateu.

O aço de ambos se chocou novamente.— Saberemos a verdade disso muito

em breve — sorriu De Sablé.Mas Altaïr dançava. Defendia-se e

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aparava e desviava, fazendo cortes em DeSablé, abrindo talhos na cota de malha,acertando dois ou três golpes atordoantesno elmo do cavaleiro. Então De Sablérecuou para recuperar a força, imaginandoque então Altaïr talvez não fosse tão fácilde matar quanto ele imaginara.

— Ah. Então a criança aprendeu a usaruma lâmina.

— Pratiquei bastante. Seus homens meajudaram.

— Eles foram sacrificados a serviço deuma causa maior.

— Como você será.De Sablé deu um salto à frente,

manejando a espada larga e quasearrancando a lâmina da mão de Altaïr.Mas o Assassino curvou-se e girou ocorpo em um movimento natural,

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golpeando de volta com o cabo de suaarma, de modo que De Sablé cambaleoupara trás. Ele bufou e só não caiu no chãoporque foi impedido pelos cavaleiros queformavam o círculo, os quais oendireitaram para que pudesse selevantar, cheio de irritação, furioso erespirando pesadamente.

— O tempo para esse jogo terminou!— berrou, como se dizer isso bem altopudesse de algum modo se tornar verdade,e deu um salto à frente, mas agora nem umpouco fatal. Só o que possuía de fatal erasua cega esperança.

— Já acabou faz tempo — disse Altaïr.Ele sentiu uma calma profunda, sabendoagora que era um autêntico Assassino.Que derrotaria De Sablé com o cérebrotanto quanto com a força. E, quando De

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Sablé pressionou mais uma vez à frente,em um ataque dessa vez mais imperfeito,mais desesperado, Altaïr o aparou comfacilidade.

— Não sei de onde vem sua força... —ofegou De Sablé. — Algum truque? Oualguma droga?

— Foi o que disse seu rei. A honrasempre triunfa sobre a ganância.

— Minha causa é honrada! — gritouDe Sablé, agora grunhindo enquantoerguia a espada, com uma lentidão quasedolorosa.

Altaïr olhou os rostos dos homens.Podia vê-los esperando que ele desferisseo golpe mortal.

E foi o que fez. Enfiando a espadadiretamente através do centro da cruzvermelha que De Sablé usava, rompendo

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a cota de malha do cavaleiro e perfurandoseu peito.

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De Sablé arfou. Os olhos se arregalaram ea boca se escancarou enquanto suas mãosseguravam a lâmina que o haviaempalado, mesmo quando Altaïr a retirou.Uma mancha vermelha espalhou-se pelatúnica, e ele cambaleou, então desabousobre os joelhos. Sua espada caiu e osbraços penderam.

De imediato, os olhos de Altaïr forampara os homens que formavam um círculoem volta dos dois. Ele meio que esperavaque o atacassem ao verem o Grão-MestreTemplário morrer. Mas permaneceramparados. Mais adiante deles, Altaïr viu o

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rei Ricardo, com o queixo inclinado comose o rumo dos acontecimentos tivessefeito muito mais do que despertar suacuriosidade.

Agora Altaïr estava curvado sobre DeSablé, apoiando-o com um dos braços edeitando-o no chão.

— Acabou-se então. Seus planos, assimcomo você, foram postos para descansar.

Em resposta, De Sablé riu secamente.— Você nada sabe de planos — falou.

— Você não passa de um fantoche. Ele otraiu, rapaz. Do mesmo modo como metraiu.

— Fale algo que faça sentido,Templário — sibilou Altaïr —, ou nãofale nada. — E lançou um olhar furtivopara os homens do círculo. Elespermaneciam impassíveis.

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— Ele mandou que você matasse novehomens, não foi? — frisou De Sablé. —Os nove que guardavam o segredo doTesouro.

Eram sempre nove que tinham essamissão, uma responsabilidade passadaatravés de gerações de Templários. Quaseuma centena de anos antes, os CavaleirosTemplários haviam se formado e tornadoo Monte do Templo sua base. Haviam seunido para proteger aqueles que faziam aperegrinação aos santuários maissagrados e levavam suas vidas comomonges guerreiros — ou era o que elesafirmavam. Mas, como todos os maiscrédulos sabiam, os Templários tinhammuito mais em mente do que peregrinosindefesos. Aliás, procuravam o tesouro eas relíquias sagradas no interior do

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Templo de Salomão. Nove, sempre,tinham a missão de encontrá-los, e novefinalmente haviam conseguido: De Sablé,Tamir, De Naplouse, Talal, DeMontferrat, Majd Addin, Jubair, Sibrand,Abu’l Nuqoud. Os nove que sabiam. Asnove vítimas.

— E daí? — perguntou Altaïr comcuidado. Refletidamente.

— Não foram nove que encontraram otesouro, Assassino — sorriu De Sablé,enquanto sua força vital rapidamente seperdia. — Não foram nove, mas dez.

— Um décimo? Ninguém que conhece osegredo deve viver. Diga-me seu nome.

— Ah, mas você o conhece muito bem.E duvido muito que tire a vida dele com amesma disposição que tirou a minha.

— Quem? — perguntou Altaïr, mas ele

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já sabia. Entendia agora o que o vinhaperturbando. O único mistério que lhehavia escapado.

— É seu mestre — disse De Sablé. —Al Mualim.

— Mas ele não é um Templário —alegou Altaïr, ainda sem querer acreditar.Embora soubesse em seu coração que eraverdade. Al Mualim, que o havia criadoquase como seu filho. Que o haviatreinado e instruído. Ele também o haviatraído.

— Você nunca se perguntou como elesabia tanto? — inquiriu De Sablé,enquanto Altaïr sentia ser abandonado deseu mundo. — Onde nos achar, quantoséramos, o que esperávamos alcançar?

— Ele é o Mestre dos Assassinos... —protestou Altaïr, ainda sem querer

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acreditar. Mas... parecia que o mistériofinalmente fora solucionado. Era verdade.Ele quase caiu na risada. Tudo que elesabia era uma ilusão.

— Oui. Mestre das mentiras —conseguiu dizer De Sablé. — Você e eusomos apenas mais dois peões em seuimportante jogo. E agora... com a minhamorte, só resta você. Acha que ele vaideixá-lo viver... sabendo o que sabe?

— Não tenho interesse no Tesouro —retrucou Altaïr.

— Ah... Mas ele tem. A única diferençaentre seu mestre e mim é que ele não quiscompartilhar...

— Não...— Irônico, não? Que eu... seu maior

inimigo... o tivesse mantido em segurança.Mas agora você tira minha vida... e, no

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processo, termina com a sua.Altaïr inspirou fundo, ainda tentando

entender o que tinha acontecido. Sentiuuma torrente de emoções: raiva, dor,solidão.

Então estendeu uma das mãos e fechouas pálpebras de De Sablé.

— Nem sempre encontramos as coisasque procuramos — entoou, e depois selevantou e se preparou para enfrentar amorte, se fosse a vontade dos cruzados.Talvez até mesmo desejando que fosse.

— Um bom combate, Assassino —veio a exclamação à sua direita, e elevirou-se para ver Ricardo caminhando atéo círculo, que se rompeu para deixá-lopassar. — Parece que Deus favoreceu suacausa neste dia.

— Deus nada tem a ver com isso. Fui

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um melhor combatente.— Ah. Pode não acreditar nele, mas

parece que ele acredita em você. Antes deir, tenho uma pergunta a fazer.

— Faça-a, então — disse Altaïr. Derepente, sentia-se exausto. Ansiava pordeitar à sombra de uma palmeira: dormir,desaparecer. Até mesmo morrer.

— Por quê? Por que viajar toda essadistância, arriscar sua vida milhares devezes, tudo para matar um único homem?

— Ele ameaçava os meus irmãos e oque representamos.

— Ah. Vingança, então?Altaïr olhou para o corpo de Robert de

Sablé no chão e percebeu que, não, avingança não estivera em sua mentequando o matara. Fizera o que fizera pelaOrdem. Ele deu voz aos seus

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pensamentos.— Não. Vingança, não. Justiça. Para

que possa haver paz.— É por isso que luta? — indagou

Ricardo, com as sobrancelhas erguidas.— Paz? Não vê a contradição?

Ele abriu o braço em volta da área,fazendo um gesto para apresentar abatalha que ainda continuava intensaabaixo deles: corpos espalhados pelaclareira e, finalmente, o cadáver deRobert de Sablé.

— Com alguns homens, não dá para seargumentar.

— Como aquele maluco do SalahAl’din — suspirou Ricardo.

Altaïr olhou para ele. Viu um reihonesto e justo.

— Creio que ele gostaria de ver o fim

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desta guerra tanto quanto você.— Ouvi dizer isso, mas nunca vi.— Mesmo que ele não diga, isso é o

que as pessoas querem — disse-lheAltaïr. — Tanto sarracenos quantoCruzados.

— As pessoas não sabem o quequerem. É por isso que recorrem ahomens como nós.

— Então cabe a homens como vocêfazerem o que é certo.

Ricardo bufou.— Disparate. Nós chegamos ao mundo

chutando e berrando. Violentos einstáveis. Não conseguimos evitar.

— Não. Nós somos o que decidimosser.

Ricardo sorriu pesarosamente.— Sua espécie... sempre jogando com

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as palavras.— Falo a verdade — disse Altaïr. —

Não há qualquer truque no que digo.— Saberemos muito em breve. Mas

receio que você não consiga o que desejaneste dia. Mesmo agora aquele bárbaroSalah Al’din avança para cima dos meushomens e preciso cuidar deles. Mastalvez, tendo visto o quanto é vulnerável,ele reconsidere seus atos. Sim. Dentro dealgum tempo, o que procura pode serpossível.

— Você não está mais seguro do queele — observou Altaïr. — Não esqueçaisso. Os homens que deixou para trás paragovernar em seu lugar não pretendem lheservir por mais tempo do que onecessário.

— Sim, sim. Estou bem ciente disso.

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— Então devo me despedir — disseAltaïr. — Meu mestre e eu temos muito oque discutir. Parece que até mesmo ele écapaz de falhar.

Ricardo assentiu.— Ele é apenas humano. Como todos

nós. E você também.— Que segurança e paz estejam com

você — desejou Altaïr, e partiu, com ospensamentos direcionados para Masyaf.Sua beleza parecia maculada pelo quedescobrira sobre Al Mualim. Eleprecisava ir para casa. Precisava ajeitaras coisas.

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Masyaf não estava como quando adeixara: isso se tornou bem claro nomomento em que chegou aos estábulos. Oscavalos pateavam e relinchavam, mas nãohavia cavalariços para cuidar deles oureceber a montaria de Altaïr. Eleapressou-se pelos portões principaisabertos e entrou no pátio, onde o silêncioo atingiu, na completa ausência nãoapenas de som, mas de atmosfera. Ali osol pelejava para brilhar, dando à aldeiaum obscurecido matiz cinzento. Pássarosnão mais cantavam. A fonte não mais tiniae nada havia do burburinho da vida diária.

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As barracas estavam montadas, mas nãohavia aldeões apressados de um lado aoutro, falando animadamente ou fazendoescambo. Não havia ruídos de animais.Apenas um sinistro... nada.

Ele ergueu a vista para a colina emdireção à cidadela, não vendo ninguém.Como sempre, imaginou se Al Mualimnão estava em sua torre, olhando para ele.Então seus olhos foram atraídos por umafigura solitária que vinha em sua direção.Um aldeão.

— O que aconteceu aqui? — exigiuAltaïr.

— Foram ver o Mestre — disse oaldeão. Aquilo soou como um cântico. Ummantra. Seus olhos estavam vidrados e umfio de baba escorria da boca. Altaïr jávira aquele olhar antes. Ele o vira nos

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rostos daqueles escravizados por Garnierde Naplouse. Ou loucos; assim pensou naocasião. Eles tinham aquele olhar vazio edesligado.

— Foram os Templários? — perguntouAltaïr. — Eles atacaram novamente?

— Eles seguiram o caminho —respondeu o homem.

— Que caminho? Do que está falando?— Em direção à luz — entoou o

homem. Sua voz havia adotado um ritmomonótono.

— Fale algo com sentido — pediuAltaïr.

— Só há o que o Mestre nos mostra.Essa é a verdade.

— Você enlouqueceu — clamou Altaïr.— Você também percorrerá o caminho

ou morrerá. Assim ordena o Mestre.

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Al Mualim, pensou Altaïr. Então eraverdade. Era tudo verdade. Ele foratraído. Nada era verdadeiro.

— O que ele fez a você? — indagou aoaldeão.

— Louvado seja o Mestre, pois ele nosconduziu à luz...

Altaïr saiu correndo, deixando ohomem para trás, uma figura solitária nadeserta praça do mercado. Correu encostaacima, chegou ao planalto e ali encontrouum grupo de Assassinos esperando porele, com as espadas desembainhadas.

Ele desembainhou a sua, sabendo quenão conseguiria usá-la. Pelo menos nãopara matar. Aqueles Assassinos, emborapretendessem matá-lo, tinham sofridolavagem cerebral para fazê-lo. Matá-losviolentaria um dos princípios. Ele estava

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cansado de infringir o Credo. Nunca fariaisso novamente. Mas...

Com olhares mortais, eles seaproximaram.

Estariam em transe como os outros?Isso explicaria a lentidão de seusmovimentos? Ele curvou o ombro e osatacou, derrubando o primeiro. Outro oagarrou, mas ele segurou o manto doAssassino, pegou o quanto pôde pelopunho e o girou, derrubando mais dois deseus agressores para abrir uma brechapela qual conseguiu escapar.

Então, de cima, ouviu seu nome serchamado. Malik estava parado nopromontório perto do acesso à fortaleza.Com ele, estavam Jabal, de Acre, e maisdois Assassinos que ele não conhecia.Descobriu-se examinando-os. Eles

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também teriam sofrido lavagem cerebral?Teriam sido drogados? O que quer quefosse, era o que Al Mualim estavafazendo?

Mas não. Malik acenava com o braçobom, e, embora Altaïr nunca tivesseimaginado que um dia pudesse ficar felizem vê-lo, esse dia havia chegado.

— Altaïr. Aqui em cima.— Você escolheu uma ótima ocasião

para chegar — falou Altaïr, sorrindo.— Assim parece.— Proteja-se bem, amigo — observou

Altaïr. — Al Mualim nos traiu. — Eleestava preparado para a descrença, atémesmo para a ira de Malik, que confiavae reverenciava Al Mualim,condescendendo tudo com relação a ele.Mas Malik meramente assentiu com

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tristeza.— Traiu também seus aliados

Templários — disse ele.— Como sabe?— Após termos conversado, voltei às

ruínas sob o Templo de Salomão. Robertmantivera um diário. Recheou suaspáginas com revelações. O que li neledespedaçou meu coração... Mas issotambém abriu os meus olhos. Você tinharazão, Altaïr. O nosso Mestre nos usou otempo todo. Nossa intenção não era salvara Terra Santa, mas entregá-la a ele. Eledeve ser detido.

— Tome cuidado, Malik — advertiuAltaïr. — O que ele fez aos outros, setiver chance, fará conosco. Precisa ficarlonge dele.

— O que você propõe? O braço com

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que uso a espada continua forte e os meushomens permanecem fiéis. Seria um erronão sermos usados.

— Distraia então esses escravizados.Ataque a fortaleza pela retaguarda. Seconseguir afastar a atenção deles de mim,talvez eu consiga alcançar Al Mualim.

— Farei o que pede.— Os homens que enfrentamos... suas

mentes não lhes pertencem. Se puderevitar matá-los...

— Sim. Embora ele tenha infringido osprincípios do Credo, não significa quetambém tenhamos de infringi-los. Farei oque puder.

— É tudo que peço — retrucou Altaïr.Malik virou-se para deixá-lo.— Segurança e paz, meu amigo —

disse Altaïr.

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Malik sorriu ironicamente.— Sua presença aqui protegerá a nós

dois.Altaïr percorreu rapidamente o

antemuro até o pátio principal e descobriupor que não houvera aldeões na praça domercado. Estavam todos ali, aglomeradosno pátio, enchendo-o. Certamente a aldeiainteira. Perambulavam por ali a esmo,embora mal conseguissem levantar acabeça. Enquanto observava, Altaïr viuum homem e uma mulher colidirem, e amulher caiu, direto e pesadamente sobre otraseiro. Nenhum dos dois, porém, se deuconta. Sem surpresa, sem dor, semdesculpa ou palavras raivosas. O homemcambaleou um pouco e então foi emfrente. A mulher permaneceu sentada,ignorada pelos demais aldeões.

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Cautelosamente, Altaïr avançou porentre eles em direção à torre, afetado pelosilêncio, ouvindo apenas o som de pés searrastando e o estranho murmúrio.

— O desejo de Mestre tem de serobedecido — ouviu ele.

— Ó Al Mualim. Guie-nos. Ordene-nos.

— O mundo será purificado. Nóscomeçaremos de novo.

A nova ordem, pensou ele, ditada pelosCavaleiros Templários, sim, mas por umTemplário acima de tudo. Al Mualim.

Ele chegou ao corredor de entrada datorre, onde não havia guardas para saudá-lo. Apenas a mesma sensação de arespesso, vazio. Como se uma névoainvisível pairasse sobre todo o complexo.Olhando acima, viu que o portão de ferro

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batido estava aberto. O portão que levavaao pátio e aos jardins nos fundos da torre.Nesgas de luz pareciam pender no ar juntoao portal, como se acenassem para quefosse adiante, mas ele hesitava, sabendoque, atravessando-o, cairia nas mãos deAl Mualim. Entretanto, se o Mestre oquisesse morto, ele com certeza já estaria.Desembainhou a espada e subiu a escada,percebendo que instintivamente pensavaem Al Mualim como “o Mestre”, quandoele não era mais seu mestre. Deixara deser no momento em que Altaïr descobriraque Al Mualim era Templário. Ele agoraera seu inimigo.

Altaïr parou na entrada do jardim.Inspirou fundo. Não fazia ideia do quehavia do outro lado, mas só havia ummeio de descobrir.

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33

Estava escuro no jardim. Altaïr conseguiaouvir o leve balbuciar de um córrego e ocalmante cascatear de uma queda-d’água,mas, fora isso, o ar estava parado. Chegoua um terraço de mármore, uma superfícielisa debaixo de suas botas. Então olhouem volta, semicerrando os olhos naescuridão de modo que pôde ver formasirregulares de árvores e pavilhõessalpicados à sua volta.

De repente, ouviu um ruído atrás de si.O portão se fechou com uma batida ehouve um retinir como se um ferrolhotivesse sido fechado por mãos invisíveis.

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Altaïr girou. Seus olhos ergueram-se eele viu Al Mualim parado na sacada desua biblioteca, olhando-o de cima.Segurava algo: o Tesouro tirado do Montedo Templo, o Pedaço de Éden. Elebrilhava com um poder que tingia AlMualim de um laranja-escuro, que seintensificava enquanto Altaïr observava.

De repente, o Assassino foi dominadopor uma dor incrível. Gritou — edescobriu que estava sendo erguido dochão, preso por um tremeluzente cone deluz intensa controlado pela mão estendidade Al Mualim. A Maçã palpitava comoum músculo flexionando e enrijecendo.

— O que está acontecendo? — bradouAltaïr, sem defesa diante do domínio doartefato, paralisado por ele.

— Então o aluno voltou — disse Al

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Mualim, calmamente. Falou com a certezade um vencedor.

— Eu nunca fui de fugir — rebateuAltaïr, desafiador.

Al Mualim deu uma gargalhada. Nadadaquilo — nada de nada — pareciaperturbá-lo.

— Também nunca foi de obedecer —observou ele.

— É por causa disso que continuo vivo.— Altaïr lutava contra suas amarrasinvisíveis. Em reação, a Maçã pulsava, ea luz parecia pressioná-lo, imobilizando-oainda mais.

— O que farei com você? — AlMualim sorriu.

— Solte-me — berrou Altaïr. Ele nãotinha facas de arremesso, mas, livre deseus grilhões, conseguiria alcançar o

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velho com alguns saltos. Al Mualim teriaalguns momentos finais para admirar suashabilidades de escalada antes de Altaïrenfiar a lâmina em suas entranhas.

— Oh, Altaïr. Ouço ódio em sua voz —comentou Al Mualim. — Sinto seu calor.Soltá-lo? Isso seria imprudente.

— Por que está fazendo isso? —perguntou Altaïr.

Al Mualim pareceu refletir.— Houve um tempo em que eu

acreditei. Sabia disso? Eu achava queexistia um Deus. Um Deus que nos amavae nos protegia, que enviou profetas paranos guiar e nos consolar. Que fez milagrespara nos lembrar de seu poder.

— O que mudou?— Encontrei provas.— Provas de quê?

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— De que é tudo uma ilusão.E, com um gesto de mão, libertou Altaïr

da prisão de luz. Ele pensou que ia cair,mas logo percebeu que nunca estevesuspenso. Confuso, olhou em volta de simesmo, sentindo uma nova mudança naatmosfera, o crescimento da pressão quesentia nos tímpanos, como nos momentosantes de uma tempestade. Acima dele, nasacada da biblioteca, Al Mualim erguia aMaçã acima da cabeça, entoando algumacoisa.

— Venham. Destruam o traidor.Mandem-no embora deste mundo.

De repente surgiram figuras em volta deAltaïr, rosnando, com os dentes à mostra,prontas para o combate. Figuras que elereconhecia, mas que a princípio achoudifícil de identificar. Então conseguiu:

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eram seus nove alvos, suas nove vítimasque retornavam da outra vida para esta.

Viu Garnier de Naplouse, que estava depé, usando o avental sujo de sangue, coma espada na mão, olhando para Altaïr comolhos compassivos. Viu Tamir, quesegurava a adaga, e os olhos cintilavamcom intenção maldosa, e Talal, com oarco sobre o ombro e a espada na mão.William de Montferrat, que sorriaperversamente, sacou a arma e a depôs,esperando sua vez antes do ataque. Abu’lNuqoud e Majd Addin estavam presentes,assim como Jubair, Sibrand e, finalmente,Robert de Sablé.

Todos seus alvos, mandados emboradeste mundo por Altaïr e convocados devolta por Al Mualim para que tivessemsua vingança.

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E eles atacaram.Majd Addin teve o prazer de ser

despachado primeiro, outra vez. Abu’lNuqoud estava tão gordo e cômico em suaforma ressuscitada como tinha sido daprimeira vez. Afundou de joelhos dianteda ponta da espada de Altaïr, mas, em vezde permanecer no chão, desapareceu,deixando atrás de si apenas umaperturbação no ar, uma ondulação deespaço interrompido. Talal, DeMontferrat, Sibrand e De Sablé eram oscombatentes mais habilidosos e, portanto,recuaram, deixando que os mais fracosentre eles fossem primeiro, esperando quecansassem Altaïr. O Assassino arremeteudo pátio de mármore e saltou da saliência,pousando em um segundo quadrado demármore decorado, que tinha uma queda-

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d’água perto. Os alvos o seguiram. Tamirmorreu gritando por causa de um, doiscortes da espada de Altaïr. O Assassinonada sentiu. Nenhum remorso. Nemmesmo satisfação de ver os homens sendomortos merecidamente uma segunda vez.De Naplouse desapareceu, assim comooutros, quando sua garganta foi cortada.Jubair caiu. Agarrou Talal, e os dois seseguraram antes que Altaïr enfiasse aespada bem fundo em sua barriga, e eletambém passou a ser nada além de umaausência. Montferrat foi o próximo a ir.Sibrand o seguiu, depois De Sablé, atémais uma vez Altaïr ficar sozinho nojardim com Al Mualim.

— Enfrente-me — ordenou Altaïr,prendendo a respiração. O suor escorriapor seu corpo, mas ele sabia que a batalha

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estava longe de acabar. Ela apenas haviacomeçado. — Ou tem medo?

Al Mualim riu.— Já enfrentei mil homens, todos

superiores a você. E todos foram mortos...pelas minhas mãos.

Com a agilidade e o vigor físicocamuflando sua idade, ele pulou dasacada, pousando, agachado, não muitodistante de Altaïr. Continuava segurando aMaçã. Estendeu-a como se a ofertasse aAltaïr, e o rosto dele foi banhado pela sualuz.

— Eu não tenho medo — disse AlMualim.

— Prove — desafiou Altaïr, sabendoque Al Mualim perceberia a manobra, quetinha o intuito de trazer o traidor paramais perto.

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Mas, se percebeu — e certamente o fez—, ele não estava mais ligando para nada.Ele estava certo. Não tinha medo porquepossuía a Maçã, que ardia, ainda maisbrilhante. Ofuscante. A área toda estavailuminada, então, com a mesma rapidez,voltou a escurecer. Enquanto sua vista seajustava, Altaïr viu cópias de Al Mualimaparecerem, como se geradas do interiordo próprio corpo do Mestre.

Ele ficou tenso. Imaginou se aquelascópias, como as outras contra as quaisacabara de lutar, seriam inferiores,versões mais fracas do original.

— Do que eu poderia ter medo? — AlMualim agora zombava dele. (Ótimo. Queele zombe. Que fique descuidado.) —Veja o poder que controlo.

As cópias foram para Altaïr e, mais

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uma vez, ele estava lutando. Mais umavez, o jardim vibrou com o repique de açose chocando — e, à medida que caíramdiante da espada de Altaïr, as cópiasdesapareceram. Até ele estar novamentesozinho com Al Mualim.

Ele parou, tentando recuperar o fôlego,agora se sentindo exausto, e, mais umavez, foi envolvido pelo poder da Maçã,que cintilava e pulsava na mão de AlMualim.

— Quer dizer suas últimas palavras?— perguntou Al Mualim.

— Você mentiu para mim — disseAltaïr. — Chamou de sujo o objetivo deDe Sablé... quando o tempo todo o seutambém era.

— Eu nunca fui mesmo bom emcompartilhar — observou Al Mualim,

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quase pesaroso.— Você não terá sucesso. Outros

encontrarão forças para se opor a você.Diante disso, Al Mualim suspirou

ruidosamente.— É por isso que, enquanto os homens

mantiverem o livre-arbítrio, não podehaver paz.

— Eu matei o último homem que disseisso.

Al Mualim riu.— Palavras corajosas, garoto. Mas

apenas palavras.— Então deixe-me ir. Colocarei as

palavras em ação.Agora a mente de Altaïr disparava

enquanto procurava algo para dizer queprovocasse o descuido de Al Mualim.

— Diga-me, Mestre, por que não faz

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comigo o que fez com os outrosAssassinos? Por que permite que minhamente se mantenha como é?

— O que você é e o que faz estãofortemente entrelaçados. Para tirar umadessas coisas de você, eu me privaria daoutra. E aqueles Templários tinham demorrer. — Suspirou. — A verdade é quetentei. No meu gabinete, quando lhemostrei o Tesouro... Mas você não é comoos outros. Você enxergou através dailusão.

A mente de Altaïr retornou à tarde emque Al Mualim lhe mostrou o Tesouro. Naocasião, sentira sua sedução, é verdade,mas resistira à tentação. Ficou imaginandose seria capaz de fazer isso tãoindefinidamente. Os poderes traiçoeirosdo artefato pareciam agir em todos que

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entravam em contato com eles. Até mesmoAl Mualim, a quem outrora ele haviaidolatrado, que fora um pai para ele etinha sido um homem bom, justo e honestoe moderado, preocupado apenas com obem-estar da Ordem e daqueles que aserviam — também fora corrompido. Obrilho da Maçã lançava em seu rosto umanuance espectral. Ela fizera o mesmo comsua alma.

— Ilusão? — disse Altaïr, aindapensando naquela tarde.

Al Mualim riu.— Tudo não foi mais do que ilusão.

Este Tesouro Templário. Este Pedaço doÉden. Esta Palavra de Deus. Entendeagora? O Mar Vermelho nunca se abriu.Água nunca virou vinho. Não foram asmaquinações de Éris que geraram a

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Guerra de Troia, mas isto... — Ergueu aMaçã. — Ilusões... todas elas.

— O que você planeja não é menosilusão — insistiu Altaïr. — Forçarhomens a segui-lo contra a vontade.

— É menos real do que os fantasmasque os sarracenos e os cruzados seguemagora? Aqueles deuses covardes que seafastam deste mundo em que homenspodem matar uns aos outros em seu nome?Eles já vivem no meio de uma ilusão. Euestou apenas fornecendo outra a eles. Umailusão que exige menos sangue.

— Pelo menos eles escolhem essesfantasmas — argumentou Altaïr.

— Escolhem mesmo? Exceto o heregeou aquele que eventualmente seconverteu?

— Isso não é certo — disparou Altaïr.

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— Ah. Agora a lógica o abandonou. Emseu lugar, você adota a emoção. Estoudecepcionado.

— O que deve ser feito então?— Você não me segue e eu não posso

forçá-lo.— E você se recusa a desistir desse

plano maligno.— Parece, então, que estamos em um

impasse.— Não. Estamos em um final —

corrigiu Altaïr, e talvez Al Mualimestivesse certo, pois ele se descobriucombatendo uma onda de emoções. Detraição e tristeza e algo que de início nãoconseguiu identificar, mas o fez emseguida. Solidão.

Al Mualim desembainhou a espada.— Sentirei sua falta, Altaïr. Você foi

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de longe o meu melhor aluno.Altaïr observou os anos abandonarem

Al Mualim enquanto este se posicionava,preparando sua espada e forçando oAssassino a fazer o mesmo. Deslizou parao lado, testando a guarda de Altaïr, e estepercebeu que nunca o vira se movimentarcom tanta rapidez. O Al Mualim que eleconhecia avançava lentamente, caminhavasem pressa pelo pátio, com lentos eamplos gestos. Este se movimentava comoum espadachim — que investe à frentegolpeando com a espada. Então, quandoAltaïr se defendeu, ele ajustou o ataquepara uma estocada. Altaïr foi forçado aficar na ponta dos pés, com o braçocurvado enquanto trazia de volta a espadapara desviar a ofensiva de Al Mualim. Omovimento o deixou desequilibrado e,

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com a guarda à esquerda desprotegida, AlMualim percebeu a chance e avançou comum rápido segundo golpe que encontrouseu alvo.

Altaïr retraiu-se, sentindo o sangueescorrer do ferimento no quadril, mas nãoousou olhar. Não conseguia tirar por umsegundo os olhos de Al Mualim. Aocontrário dele, Al Mualim sorria. Umsorriso que dizia que ele tinha dado umalição no jovem aluno. Deu um passo parao lado, então simulou um ataque, seguindoprimeiro um caminho, depois o outro,esperando pegar Altaïr desprevenido.

Lutando contra a dor e a fadiga, Altaïravançou, tomando a iniciativa do ataque, eficou contente em ver que pegou AlMualim de surpresa. Mas, apesar de terfeito contato — ele achou que fez —, o

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Mestre pareceu deslizar para longe, comose fosse transportado.

— Cego, Altaïr — comentou AlMualim com uma risadinha. — Cego étudo o que você sempre foi. É tudo o quesempre será. — Novamente, ele atacou.

Altaïr foi lento demais para reagir atempo, então sentiu a lâmina de AlMualim talhar seu braço e gritou de dor.Não conseguiria aguentar muito maisdaquilo. Era como se a energia fossesendo extraída dele devagar. A Maçã,seus ferimentos, a exaustão: tudo secombinando aos poucos, mas certamente oincapacitando. Se não conseguisse logoreverter a batalha, enfrentaria a derrota.

O velho, porém, estava deixando aMaçã torná-lo descuidado. Mesmoenquanto ele tripudiava, Altaïr dançou

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adiante e atacou novamente, e a ponta daespada atingiu o alvo, tirando sangue. AlMualim gritou de dor e voltou a setransportar, grunhindo e desferindo suaofensiva seguinte. Fingindo um ataque àesquerda, ele girou, manejando a espadapara um golpe de revés.Desesperadamente, Altaïr o aparou, masquase foi jogado para trás cambaleando e,por alguns momentos, os dois trocaramgolpes. O ataque acabou quando AlMualim se abaixou, atacando acima ecortando o rosto de Altaïr, depois seafastou oscilando antes que o Assassinoconseguisse reagir.

Altaïr desferiu um contra-ataque e AlMualim se transportou. Mas, quandoreapareceu, Altaïr notou que ele pareciamais fatigado e, quando atacou, pareceu

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um pouco mais descuidado. Menosdisciplinado.

Então Altaïr avançou, cortando com sualâmina, forçando o Mestre a se transportare se materializar vários centímetrosadiante. Altaïr notou uma nova curvaturaem seus ombros, e sentia a cabeça pesada.A Maçã sugava sua força, mas não estariafazendo o mesmo com seu manipulador?Al Mualim sabia disso? O quanto o velhoentendia a Maçã? Seu poder era tãogrande que Altaïr duvidava que fossepossível conhecê-lo verdadeiramente.

Bem. Ele tinha de forçar Al Mualim ausá-lo e, desse modo, exaurir sua própriaenergia. Com um berro, ele saltou à frente,brandindo contra Al Mualim, cujos olhosse arregalaram, surpresos com a súbitaveemência da aproximação de Altaïr. Ele

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se transportou. Altaïr o alcançou nomomento em que reapareceu, e o rosto deAl Mualim agora denunciava raiva —frustração com o fato de as regras deconfronto terem mudado, necessitando deespaço para se ajustar.

Dessa vez, ele se materializou maisdistante. Estava dando certo: ele pareceuainda mais cansado. Mas estavapreparado para o ataque indisciplinado deAltaïr, recompensando o Assassino comoutro braço sangrando. Mas em nadasuficientemente sério para detê-lo: ohomem mais jovem investiu contra ele denovo, forçando Al Mualim a setransportar. Pela última vez.

Quando reapareceu, cambaleouligeiramente, e Altaïr pôde perceber quesentia a espada pesada demais para

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segurá-la. Ao erguer a cabeça para olharpara Altaïr, este viu em seus olhos que elesabia que a Maçã havia exaurido suaforça e que Altaïr tinha notado.

Então, quando ele iniciou o ataque coma espada e saltou, enfiando-a bem fundoem Al Mualim, com um rugido que eraparte vitória e parte dor, talvez ospensamentos finais de Al Mualimtivessem sido de orgulho de seu ex-aluno.

— Impossível — arfou, quando Altaïrmontou em cima dele. — O aluno nãoderrota o professor.

Altaïr baixou a cabeça, sentindolágrimas queimarem suas maçãs do rosto.

— Pois é, você venceu. Vá e reclamesua recompensa.

A Maçã havia rolado da mão estendidade Al Mualim. Estava parada sobre o

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mármore. Esperando.— Você tinha fogo nas mãos, velho —

disse Altaïr. — Isso deveria ter sidodestruído.

— Destruir a única coisa capaz deacabar com as Cruzadas e criar a pazverdadeira? — gargalhou Al Mualim. —Nunca.

— Então eu o farei — afirmou Altaïr.— É o que veremos — riu Al Mualim.Altaïr encarava a Maçã, achando difícil

desviar o olhar. Delicadamente, pousou acabeça de Al Mualim sobre a pedra, ovelho homem agora se apagando maisdepressa, levantou-se e foi em direção aela.

Apanhou-a.Foi como se ganhasse vida em sua mão.

Como se um imenso raio de energia

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fluísse dela e a iluminasse e viajasse peloseu braço em direção ao peito. Ele sentiuum grande inchaço, que foi incômodo aprincípio, depois sentiu uma provisão devida, anulando a dor da batalha,enchendo-o com poder. A Maçã vibrava eparecia pulsar, e Altaïr passou a verimagens. Imagens incríveis,incompreensíveis. Viu o que pareciamcidades, vastas cidades reluzentes, comtorres e fortalezas, como se fossem demilhares de anos atrás. Depois viumáquinas e ferramentas, mecanismosestranhos. Entendeu que pertenciam a umfuturo ainda não escrito, em que algunsdos aparelhos davam grande alegria àspessoas, ao passo que outros significavamapenas morte e destruição. A quantidade ea intensidade das imagens o deixaram sem

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fôlego. Então a Maçã foi rodeada por umhalo de luz que se espalhou externamenteaté Altaïr perceber que estava olhandopara um globo, um imenso globo, quependia no ar parado do jardim, girandolentamente e irradiando uma cálida luzdourada.

Ele ficou extasiado por aquilo.Maravilhado. Era um mapa, notou, comsímbolos estranhos — uma escrita que elenão entendia.

Atrás de si, ouviu Al Mualim falando:— Dediquei meu coração a conhecer a

sabedoria, e a conhecer a loucura e ainsensatez. Percebi que isso também eracorrer atrás do vento. Pois em muitasabedoria há muita dor, e aquele queaumenta o conhecimento aumenta a dor.

Nesse momento, Malik e seus homens

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entraram correndo no jardim. Malolharam para o corpo de Al Mualim,hipnotizados pela Maçã. À distância,Altaïr conseguia ouvir gritos. Qualquerque fosse o encanto que fora lançadosobre Masyaf, estava quebrado.

Ele se preparou para arremessar aMaçã contra a pedra, ainda incapaz deafastar os olhos da imagem rodopiante,encontrando dificuldade em fazer o braçoobedecer à ordem do cérebro.

— Destrua-a! — gritou Al Mualim. —Destrua isso como disse que faria!

A mão de Altaïr tremeu. Seus músculosse recusavam a obedecer às ordens docérebro.

— Não... Não posso... — disse ele.— Sim, você pode, Altaïr — ofegou Al

Mualim. — Você pode. Mas não vai. —

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E, com isso, morreu.Altaïr ergueu a vista do corpo de seu

mentor e viu Malik e seus homens, naexpectativa, olhando-o — esperando porliderança e orientação.

Altaïr agora era o Mestre.

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P A R T E T R Ê S

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23 de junho de 1257

Sentado à sombra, em segurança, longe dodebilitante calor da praça do mercado deMasyaf, Maffeo me perguntou:

— O jardim de Al Mualim. Fica nomesmo terreno onde está situada abiblioteca dele?

— Sim. Altaïr decidiu que era o localapropriado a ser usado para cuidar eguardar sua obra... Milhares de diáriosrepletos com o aprendizado Assassino, oconhecimento obtido da Maçã.

— Então ele não a destruiu?

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— Não destruiu o quê?Maffeo suspirou.— A Maçã.— Não.— Não na ocasião nem nunca?— Irmão, por favor, não apresse a

conclusão da história. Não, Altaïr nãodestruiu a Maçã logo depois. Porque eletinha de subjugar a rebelião que surgiuinstantes após a morte de Al Mualim.

— Houve uma rebelião?— Sim. Houve uma grande confusão

como resultado imediato da morte de AlMualim. Houve muitos da Ordem quepermaneceram fiéis a Al Mualim. Ou nãoficaram a par da traição do Mestre ou serecusaram a aceitar a verdade, mas, paraeles, Altaïr estava ensaiando um golpe etinha de ser detido. Sem dúvida, foram

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incentivados a isso por certas vozes àmargem.

— Abbas?Dei uma risada.— Sem dúvida. Embora seja possível

imaginar apenas um pouco do conflitointerno de Abbas diante da reviravoltados acontecimentos. Seu ressentimentocom Al Mualim era tão forte, se não maisforte, do que seu ressentimento comAltaïr.

— E Altaïr sufocou a rebelião?— Claro. E fez isso permanecendo fiel

ao Credo, dando ordem a Malik e aos queele comandava para que nenhum dosrebeldes fosse ferido, que nem um sóhomem fosse morto ou punido. Após tercontido os rebeldes, não houverepresálias. Em vez disso, ele usou a

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retórica para mostrar o caminho a eles,convencendo-os primeiramente da culpade Al Mualim e depois de sua própriaadequação para liderar a Irmandade.Fazendo isso, assegurou a conquista doamor, da fé e da lealdade deles. Aprimeira missão que teve como novo líderda Ordem foi uma demonstração dospróprios princípios que visava introduzir.Trouxe a Irmandade de volta da beira doabismo ao lhe mostrar o caminho.

“Com isso resolvido, ele voltou suaatenção ao diário. Nele, escreveu ideiassobre a Ordem, sua responsabilidade comela, até mesmo sobre a estranha mulherque encontrou no cemitério. Que o tinha...Mais de uma vez Altaïr escrevera apalavra: “cativado”. Mas depois sedeteve e mudou-a para “interessado”. Sem

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dúvida ela permaneceu em seuspensamentos.

“Acima de tudo, ele escreveu sobre aMaçã. Costumava carregá-la consigo. Ànoite, quando escrevia em seu diário, elapermanecia em um suporte a seu lado, e,quando a olhava, sentia uma misturaconfusa de emoções: raiva por ela tercorrompido aquele que ele tinha tidocomo pai, que fora um grande Assassino emesmo um homem maior ainda; medodela, pois havia vivenciado seu poder dedar e de tirar; e assombro.

“‘Se há alguma coisa boa que possa serencontrada nesse artefato, eu adescobrirei’, escreveu ele, rabiscandocom a pena. ‘Mas, se for apenas capaz deinspirar maldade e desespero, esperopossuir a força para destruí-lo.’

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Sim, ele afirmou no diário que destruiriao Pedaço do Éden se não contivessenenhum bem para a humanidade. Foramessas as palavras que ele escreveu.Entretanto, Altaïr se perguntava de quemodo encontraria a força para destruir aMaçã se e quando chegasse a ocasião.

O fato era que, quem quer que apossuísse, controlava um enorme poder, eos Templários iriam querer que essepoder lhes pertencesse. Além disso, ele seperguntava: os Templários estariamcaçando outros artefatos? Teriam seapossado deles? Após a morte de Robertde Sablé, ele sabia que os Templárioshaviam se consolidado no porto de Acre.Deveria atacá-los ali? Estavadeterminado a não deixar que ninguémmais possuísse a Maçã, ou qualquer

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artefato parecido.Ninguém além dele.Altaïr meditou em seus aposentos,

talvez por um período longo demais, atése preocupar com o fato de que estavadando tempo para que o inimigo sereagrupasse. Chamou Malik e Jabal,colocando o primeiro como comandantetemporário da Ordem e informando aosegundo que eles iriam imediatamenteliderar um pelotão montado até o porto deAcre, para desencadear uma ofensiva àfortaleza templária, arrancar o mal pelaraiz.

Partiram logo depois e, assim que ofizeram, Altaïr notou Abbas parado emuma porta de acesso do castelo, olhando-omalignamente. Os acontecimentos recentesnada tinham feito para cegar a lâmina do

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ódio que sentia; ela havia sido amoladaaté ganhar um fio maléfico.

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A noite caía sobre o porto de Acre. Oancoradouro de pedra cinzenta banhava-sede laranja, e o restante do sol pintava omar de vermelho-sangue enquanto sumiano horizonte. A água lambia com força asamuradas e os paredões, mas, fora isso, oancoradouro estava deserto,estranhamente deserto.

Ou... pelo menos esse estava. Enquantoo observava e se intrigava com a ausênciade soldados templários — em fortecontraste com a última vez em queestivera ali, quando os homens de Sibrandestavam por toda a parte, como pulgas em

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um cão —, Altaïr concluiu que deviamestar do outro lado das docas, e suapreocupação cresceu. Ele havia demoradodemais para tomar uma decisão. Iria pagarpor isso?

O cais, porém, não estava totalmentevazio. Altaïr ouviu o som de passadas seaproximando e de conversa baixa. Ergueua mão e, atrás dele, seu grupo parou,tornando-se sombras imóveis naescuridão. Ele seguiu sorrateiramente aolongo do muro do cais até conseguir vê-los, contente em notar que haviam seseparado. O primeiro estava agora quasediretamente abaixo dele, segurando umatocha e vasculhando os recantos e asfendas da úmida parede do porto. Altaïrficou imaginando se os pensamentos deleestavam em casa, na Inglaterra ou na

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França e na família que tinha lá, elastimou o fato de ter de matá-lo. Aosaltar de modo silencioso do muro,pousando sobre o homem e enfiandoprofundamente a lâmina nele, Altaïrdesejou que houvesse outra maneira.

— Mon Dieu — suspirou o guarda aomorrer, e Altaïr se levantou.

Adiante, o segundo soldadomovimentava-se ao longo das pedrasúmidas das docas, iluminando ao seuredor com a tocha que pingava piche,tentando afugentar as sombras eencolhendo-se a cada som. Tinhacomeçado a tremer de medo. A corrida deum rato fez com que ele desse um pulo, evirou-se rapidamente, com a tochaerguida, sem enxergar nada.

Seguiu em frente, examinando a

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escuridão, olhando para trás para ocompanheiro... Oh, meu Deus, onde eleestá? Há pouco estava bem ali. Os doistinham chegado juntos às docas. Agoranão havia sinal — nem som dele. Oguarda começou a se agitar de medo.Ouviu um gemido e se deu conta de quevinha dele mesmo. Então, de trás, veio umruído e ele se virou rapidamente, bem atempo de ver a morte conseguir encalçá-lo...

Por um ou dois momentos, Altaïr ficousobre o guarda, prestando atenção emreforços. Mas não veio nenhum, e então,ao se levantar, os outros Assassinos seaproximaram, saltando do muro echegando ao cais, vestidos com mantosbrancos, assim como ele, e observandocom os olhos escurecidos por baixo dos

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capuzes. Sem praticamente fazer um ruído,eles se espalharam depois de Altaïr darordens em voz baixa e indicar para que semovimentassem silenciosa e rapidamenteao longo do cais. Alguns guardas dosTemplários chegaram correndo e foramdevidamente detidos, com Altaïr passandopor eles, deixando a luta para seu grupo, ealcançando um muro. A preocupação ocorroía: ele calculara muito mal o tempodo ataque — os Templários já estavam acaminho. Uma sentinela tentou detê-lo,mas, com um golpe da lâmina de Altaïr,ele caiu, e o sangue espirrou de seupescoço. O Assassino usou o corpo comotrampolim, saltando até o topo do muro docais e agachando ali, olhando para a docavizinha, depois para o mar.

Seus temores se concretizaram. Ele

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havia esperado demais. À sua frente, emum mar Mediterrâneo dourado com a luzesmorecida do sol, havia uma pequenaesquadra de navios dos Templários.Altaïr praguejou e seguiu rapidamente aolongo do cais até o coração das docas.Ainda podia ouvir, atrás dele, os sons dabatalha de seus homens contra osreforços. A evacuação templáriacontinuava, mas ele teve a impressão deque o motivo da partida deles podia estarno interior da própria fortaleza.Cuidadosa, rápida e silenciosamente,seguiu caminho para lá, um lugar sombriosituado acima das docas, livrando-se sempiedade de alguns guardas que encontrouno caminho, desejando interromper a fugado inimigo tanto quanto desejava sabersua intenção.

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Dentro, a pedra cinzenta absorvia osom das passadas que ele dava.Templários se distinguiam pela suaausência ali. O local já dava a impressãode vazio e fora de uso. Subiu assimmesmo os degraus de pedra até chegar auma sacada, e ali ouviu vozes: trêspessoas em meio a uma acaloradaconversa. Reconheceu uma voz emparticular ao tomar posição atrás de umacoluna para espreitar. Estiveraimaginando se algum dia voltaria a ouvi-la. Parou de imaginar.

Era a mulher do cemitério emJerusalém. A corajosa leoa que agiracomo substituta de De Sablé. Ela seencontrava com dois outros templários e,pelo seu tom, estava descontente.

— Onde estão meus navios, soldados?

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— vociferou. — Disseram-me quehaveria outra esquadra de oito.

Altaïr olhou adiante. Os naviostemplários eram silhuetas no horizonte.

— Sinto muito, Maria, mas isso foi omelhor que pudemos fazer — respondeuum dos soldados.

Maria. Altaïr saboreou seu nomeenquanto admirava a firmeza de seuqueixo, os olhos que brilhavam com vidae fogo. Pôde notar nela, mais uma vez,aquela qualidade — como se mantivesseguardada a maior parte de seu verdadeirocaráter.

— Como pretendem levar o restante denós para Chipre? — perguntava ela.

Ora, por que os Templários estariam setransferindo para Chipre?

— Peço perdão, mas seria melhor se

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você permanecesse em Acre — observouo soldado.

Ela ficou alerta de repente.— O que significa isso? Uma ameaça?

— perguntou.— É um alerta apropriado — retrucou

o cavaleiro. — Armand Bouchart agora éo Grão-Mestre e ele não a tem em altaconsideração.

Armand Bouchart, observou Altaïr.Então foi ele que assumiu o lugar de DeSablé.

No centro da sacada, Maria secontrolou.

— Ora, seu insolente... — Ela sedeteve. — Muito bem. Encontrarei meupróprio caminho até Limassol.

— Sim, milady — disse o soldado,fazendo uma reverência.

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Eles se foram, deixando Maria sozinhana sacada, onde Altaïr se divertiu aoouvi-la falar consigo mesma.

— Maldição... Eu estava a um passo daordem de cavaleiros. Agora sou poucomais do que uma mercenária.

Ele avançou em direção a ela. O quequer que sentisse pela mulher — e sentiaalguma coisa, disso tinha certeza —, eleprecisava falar para ela. Ouvindo-o seaproximar, ela girou o corpo e oreconheceu no mesmo instante.

— Ora — disse ela —, é o homem quepoupou o meu pescoço, mas roubou aminha vida.

Altaïr não teve tempo de imaginar oque ela quis dizer porque, em um lampejo,tão rápido quanto um raio, ela sacou aespada e foi em sua direção, atacando-o

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com uma velocidade, habilidade ecoragem que voltaram a impressioná-lo.Ela trocou as mãos que manejavam aespada e girou para atacá-lo em seu ladofraco; Altaïr teve de se movimentardepressa para se defender. Ela era boa,melhor do que alguns dos homens sob oseu comando e, por alguns momentos,trocaram golpes, a sacada ressoando otinir e o estrépito do aço, pontilhadospelos gritos de esforço que ela dava.

Altaïr olhou de relance para trás a fimde se certificar de que não havia reforçoschegando. Mas, pensando bem, claro quenão chegariam. Seu pessoal a deixara paratrás. Claramente, sua proximidade com DeSablé não lhe garantira qualquer benefíciovindo da parte do substituto dele.

E lutaram. Por um piscar de olhos, ela

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o manteve com as costas contra abalaustrada, com o mar escuro acima deseus ombros e, pelo mesmo espaço detempo, ele imaginou que ela seria capazde derrotá-lo, e que amarga ironia seria.Mas o desespero dela para vencer deixou-a descuidada e Altaïr conseguiu ir para afrente, finalmente girando os pés echutando-a por baixo, em seguidalançando-se sobre ela com a lâminaparada em sua garganta.

— Voltou para acabar comigo? —perguntou ela desafiadoramente, mas elepodia ver medo em seus olhos.

— Ainda não — respondeu, emboramantivesse a lâmina onde estava. —Quero informações. Por que osTemplários estão velejando para Chipre?

Ela sorriu.

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— Tem sido uma guerra longa e suja,Assassino. Todos merecem uma folga.

Ele reprimiu um sorriso.— Quanto mais você me contar, mais

viverá. Portanto, te pergunto outra vez,por que a retirada para Chipre?

— Que retirada? O rei Ricardoquebrou uma trégua com Salah Al’din, e asua Ordem está sem líder, não é mesmo?Assim que recuperarmos o Pedaço doÉden, é você quem vai fugir.

Altaïr assentiu, compreensivamente. Etambém por saber que havia muita coisasobre a Ordem que os Templáriosachavam que sabiam, mas não sabiam. Aprimeira delas era que os Assassinostinham um líder, a segunda era que nãotinham o hábito de fugir de Templários.Ele se levantou e a colocou de pé.

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Encarando-o, ela sacudiu a poeira docorpo.

— A Maçã está bem escondida —informou a ela, lembrando que, de fato,não estava. Continuava em seusaposentos.

— Altaïr, reflita cuidadosamente sobresuas opções. Os Templários pagariam umalto preço por essa relíquia.

— Eles já pagaram, não foi mesmo? —comentou Altaïr, levando-a consigo.

Momentos depois, ele se reunia comseus Assassinos, após a batalha no caishaver terminado e terem se apossado doporto de Acre. Entre eles estava Jabal,que ergueu as sobrancelhas ao surgimentode Maria e acenou para dois Assassinosque a levassem dali, antes de se juntar aAltaïr.

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— O que está acontecendo em Chiprepara interessar aos Templários? —refletiu Altaïr, enquanto caminhavam. Jáhavia decidido o próximo destino deles enão havia tempo a perder.

— Guerra civil talvez? — arriscouJabal, com as palmas estendidas. — Oimperador deles, Isaac Comneno,resolveu comprar uma briga com o reiRicardo muitos meses atrás, e agoraapodrece em uma masmorra templária.

Altaïr pensou.— Uma pena. Isaac era tão facilmente

manipulável, muito disposto a aceitar umsuborno.

Pararam nos degraus do cais, e Mariapassou por eles ao ser levada, com oqueixo erguido.

— Esses dias estão no passado —

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lembrou Jabal. — Agora a ilha pertenceaos Templários, comprada do rei por umasoma irrisória.

— Esse não é o tipo de governo quequeremos incentivar. Temos algumcontato lá? — perguntou Altaïr.

— Um em Limassol. Um homemchamado Alexander.

— Mande uma mensagem para ele —ordenou Altaïr. — Diga para que meespere daqui a cerca de uma semana.

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Ele navegou sozinho para Chipre —embora não propriamente sozinho. LevouMaria. Dissera a Jabal que poderia usá-lacomo isca para os Templários, masescreveu em seu diário que gostava de tê-la por perto. Era assim, tão simples e tãocomplicado. Houvera muito poucasmulheres na vida de Altaïr. Aquelas quedividiram a cama com ele haviam feitopouco mais do que satisfazer umanecessidade, e ainda teria de encontraruma mulher capaz de agitar aquelessentimentos que se encontravam acima dacintura. Teria encontrado agora? Rabiscou

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a pergunta em seu diário.Chegando a Limassol, descobriram que

os Templários haviam de fato ocupado ailha. Como sempre, o porto estava tomadopela luz laranja do sol, e o arenitobrilhava com ela. As águas azuisresplandeciam, e as gaivotas planavam emergulhavam sobre suas cabeças em umaalgazarra constante. Por toda a parte,porém, havia as cruzes vermelhas dosTemplários, e soldados atentos vigiandouma população de má vontade. Esta viviaagora sob a mão de ferro dos Templários,sua ilha vendida diante de seus narizespor um rei cujo direito a ela era, namelhor das hipóteses, frágil. A maiorparte seguia com suas vidas; tinham bocasa alimentar. Algumas almas corajosas,porém, haviam formado uma Resistência.

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Eram estes, os mais solidários à missãode Altaïr, que ele planejava encontrar.

Desceu do navio e seguiu ao longo docais. Com ele, ia Maria, com as mãosamarradas. Ele cuidara para que elaremovesse quaisquer vestígios que aidentificassem como uma cruzadatemplária e, para todos os efeitos, era suaescrava. Essa situação, é claro, aenfurecia, e ela não demorou a revelarisso, resmungando ao passarem pelo cais,que se encontrava mais silencioso do queesperavam. Particularmente, Altaïr sedivertia com o desconforto dela.

— E se eu começar a gritar? —perguntou ela por entre os dentestrincados.

Altaïr deu uma risadinha.— As pessoas taparão os ouvidos e

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irão em frente. Elas já viram escravosinfelizes.

Mas que pessoas? O cais estavaestranhamente vazio e, ao saírem para asruas secundárias, também encontraram asestradas desertas. De repente, um homemsaiu de um beco diante deles, vestido comum manto surrado e um turbante. Barrissem uso e caixotes vazios estavamespalhados por ali e ouvia-se águapingando em alguma parte. Estavamsozinhos, Altaïr se deu conta, quando maisdois homens saíram de outros becos emvolta.

— O porto é zona proibida — anunciouo primeiro homem. — Mostre o rosto.

— Não há nada debaixo desse capuz, anão ser um velho Assassino feio —rosnou Altaïr, e levantou a cabeça para

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olhar para o homem.O assaltante abriu um sorriso, não era

mais uma ameaça.— Altaïr.— Alexander — exclamou Altaïr —,

você recebeu minha mensagem.— Supus que fosse uma armadilha

templária. Quem é a mulher? — ExaminouMaria de cima a baixo, com um faiscarnos olhos.

— Isca templária — explicou Altaïr.— Ela era de De Sablé. Infelizmente, éum fardo.

Maria cravou os olhos nele: se olharmatasse, este o teria torturado cruelmenteantes.

— Podemos cuidar dela para você,Altaïr — ofereceu Alexander. — Temosum abrigo secreto.

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Ela praguejou contra as almas podresdos dois enquanto seguiam para a casa,usando uma linguagem grosseira para umainglesa.

Altaïr perguntou a Alexander por quehavia tão pouca gente nas ruas.

— Parece uma cidade-fantasma, não?As pessoas têm receio de sair de casa pormedo de infringir alguma nova leiobscura.

Altaïr pensou.— Os Templários nunca estiveram

interessados em governar. Ficoimaginando por que estariam agora.

Alexander assentia. Enquantocaminhavam, passaram por dois soldados,que olharam para eles de modo suspeito.Altaïr pressionou o corpo contra o deMaria para dar passagem. Mas ela não

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cedeu, e ele ficou imaginando se isso nãoteria algo a ver com o fato de Maria tersido abandonada por seus própriosaliados em Acre. Ou talvez... Não.Afastou esse pensamento da mente.

Chegaram ao abrigo: um armazémabandonado que Alexander haviatransformado em base. Havia um depósitofechado com porta gradeada de madeira,mas deixaram que Maria ficasse, porenquanto, do lado de fora. Altaïr checou acorda nos punhos dela, correndo o dedoentre o fio e o braço para se certificar deque ela estivesse confortável. Ela entãolhe deu um olhar que só poderia serdescrito como de agradecido desdém.

— Não suponho que esteja aqui parafazer caridade — disse Alexander, apósse instalarem. — Posso perguntar o

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motivo?Altaïr queria agir depressa — queria

seguir imediatamente para a basetemplária —, mas devia uma explicaçãoao cipriota.

— É uma história complicada, maspode ser facilmente resumida: osTemplários têm acesso ao conhecimento ea armas muito mais mortais do quequalquer um é capaz de imaginar. Planejomudar isso. Uma dessas armas está emnossas mãos. Um dispositivo com ahabilidade de deformar as mentes doshomens. Se os Templários possuem maiscoisas deste tipo, eu quero saber.

Maria falou por trás deles:— E certamente podemos confiar que

os Assassinos deem um uso melhor àMaçã, o Pedaço do Éden...

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Altaïr conteve um sorriso, mas ignorou-a, perguntando a Alexander:

— Onde os Templários estão entocadosagora?

— No Castelo de Limassol, mas estãoexpandindo seu alcance.

Isso tinha de ser detido, pensou Altaïr.— E como posso entrar lá? — indagou.Alexander lhe falou de Osman, um

Templário simpatizante da ResistênciaCipriota.

— Mate o capitão da guarda —sugeriu. — Com ele morto, é provávelque Osman seja promovido para o posto.E, se isso acontecer, bem, você poderáentrar sem problemas.

— É um começo — disse Altaïr.Ao se movimentar pelas ruas da cidade,

ele ficou admirado com o quanto estava

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silenciosa. Enquanto caminhava, pensavaem Maria e na Maçã. Ele a trouxeraconsigo, é claro — ficara na cabine deseu navio. Teria sido imprudente, talvez,trazer o Tesouro e deixá-lo tão perto doinimigo? Somente o tempo diria.

No mercado, ele avistou o capitão daguarda templária, que gentilmentefacilitara sua localização ao usar umatúnica vermelha sobre a cota de malha eter o aspecto imperioso de um rei. Altaïrolhou em volta, vendo outros guardas nasproximidades. Baixou a cabeça, semchamar a atenção para si, evitando o olharde um guarda que o observava comapertados olhos suspeitos. Ao passar,pareceu ser um erudito para quem o visse.Então, muito cautelosamente, começou afazer a volta, manobrando para se colocar

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por trás do capitão, que permanecia dooutro lado da alameda, vociferandoordens para seus homens. Fora o capitão eagora seu matador, a alameda estavavazia.

Altaïr tirou a faca de arremesso dabainha em seu ombro, então, com umasacudida do punho, soltou-a. O capitãodeslizou para o chão de pedra com umlongo gemido e, quando os guardaschegaram correndo, Altaïr já tinhaseguido por um beco ao lado e secamuflava pelas ruas secundárias vazias.Missão cumprida. Foi então em busca deOsman, exatamente como Alexander haviainstruído.

Furtivo e rápido, atravessou ostelhados da cidade descorada pelo solcom passos velozes como os de um gato,

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por entre as vigas de madeira, até sepegar contemplando um pátio do alto. Láembaixo estava Osman. Apesar deTemplário, simpatizava com osAssassinos, e Altaïr esperou para queestivesse sozinho antes de descer para opátio.

Quando Altaïr desceu, Osman olhoudele para o muro acima dos dois, depois,de volta a ele, observando seu visitantecom diversão. No mínimo, tivera altaconsideração pelo modo furtivo doAssassino.

— Saudações, Osman — disse Altaïr.— Alexander envia seus respeitos, edeseja à sua avó um jubiloso aniversário.

Osman deu uma gargalhada.— Que a querida senhora descanse em

paz. Bem, em que posso ajudá-lo, amigo?

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— Pode me dizer por que osTemplários compraram Chipre? Seriapara montar outro esquema de coleta deimpostos?

— Não tenho uma graduação alta osuficiente para confirmar essa informação,mas ouvi uma conversa sobre algumaespécie de arquivo — explicou Osman, aoolhar à esquerda e depois à direita. Sefosse visto conversando com Altaïr,certamente seria condenado a morrer napraça do mercado.

— Um arquivo? Interessante. E quem éo Templário mais graduado em Limassol?

— Um cavaleiro chamado Frederick, oVermelho. Treina soldados no Castelo deLimassol. Um verdadeiro brutamontes.

Altaïr assentiu.— Com o capitão da guarda do castelo

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morto, o que seria preciso para que euentrasse?

— Supondo que eu seja nomeado parao posto dele, poderia inventar umadesculpa para reduzir as turmas desentinelas do castelo. Isso serviria?

— Farei com que sirva — disse Altaïr.As coisas progrediam rapidamente.

— Osman está tomando as providências— informou ele depois a Alexander,quando retornou ao abrigo. Enquantoestivera fora, Maria passara a maior partedo dia no depósito onde era mantida.Alexander recebera uma série de insultose gracejos. A fúria dela crescia cada vezmais quando ele lhe pedira que osrepetisse, pois era fã de sua dicçãoinglesa. Agora, porém, ela tivera

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permissão de sair para comer e estavasentada em uma instável cadeira demadeira, encarando Altaïr e Alexander,que conversavam, e disparando olharesfuriosos para qualquer outro membro daResistência que por acaso passasse porali.

— Excelente. E agora? — perguntouAlexander.

— Vamos lhe dar algum tempo —respondeu Altaïr. Virou-se para Maria. —Ele também me falou sobre o arquivotemplário. Você já ouviu falar nisso?

— Claro — afirmou Maria. — É ondeguardamos nossas roupas de baixo.

Altaïr ficou desanimado. Virando-se devolta a Alexander, falou:

— Chipre seria um bom local paraproteger tanto conhecimento quanto armas.

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Com a estratégia correta, é uma ilha fácilde defender.

Levantou-se. Osman agora já teria tidotempo de reduzir a vigilância nos murosdo castelo. Estava na hora de se infiltrar.

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Pouco tempo depois, Altaïr se encontravano pátio do Castelo de Limassol, prontopara se infiltrar. Escondido sob assombras, olhava acima para a impedidamuralha de pedra, observando osarqueiros que a vigiavam e marcando otempo dos movimentos dos homens nosbastiões.

Ficou contente ao notar que haviapoucos homens: Osman fizera bem o seutrabalho. A fortaleza não estavacompletamente vulnerável, mas Altaïrconseguiria entrar. E isso era tudo de queprecisava.

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Escalou uma parede para os bastiões,depois entrou sorrateiramente no castelo.Um guarda gritou e caiu com uma dasfacas de arremesso de Altaïr no pescoço.Outro ouviu a agitação e chegou correndoao longo da entrada para então encontrar alâmina do Assassino. Altaïr baixou oguarda para a pedra, pousou o pé em suascostas e puxou a espada, que pingousangue no chão. Depois continuou ocaminho pelo castelo pouco habitado,livrando-se dos guardas quando osencontrava. Osman fora realmenteeficiente em seu trabalho. Não apenasencontrara menos guardas na muralhacomo também parecia haver uma ausênciade homens na parte de dentro. Altaïrignorou a incerteza que o agitava. Apontada de inquietação.

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Continuou subindo e subindo,adentrando cada vez mais nos setoresinternos do castelo, até chegar a umasacada com vista para um enorme pátioque era usado como centro detreinamento.

Ali avistou Frederick, o Vermelho; umgigante barbudo que observava um dueloentre dois de seus homens. Vê-lo fezAltaïr sorrir. O genial espião Osman tinharazão. Frederick, o Vermelho, era de fatoum brutamontes.

— Sem piedade, homens — rugia ele.— Esta é uma ilha de pagãossupersticiosos. Lembrem-se, eles nãoquerem vocês aqui, não gostam de vocês,não entendem a verdadeira sabedoria dacausa de vocês, e estão tramando o tempotodo para expulsá-los. Fiquem alerta e

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não confiem em ninguém.Vestidos com armadura completa, os

dois cavaleiros lutavam, e o som de suasespadas ressoava pelo pátio. Mantendo-sefora de vista na sacada acima, Altaïrouvia o líder templário incentivá-los.

— Procurem as aberturas na armadurado oponente. Ataquem com força. Deixemas comemorações para a taberna.

Então Altaïr se levantou e deu um passoacima para a muralha, tendo plena visãodos três homens no pátio de treinamento láembaixo. Estes continuaram com aatenção focada na batalha. Ele calculou aaltura de onde estava até a pedra embaixo,então inspirou fundo, estendeu os braços epulou.

Com uma suave batida surda, pousoudiretamente atrás de Frederick, o

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Vermelho, com os joelhos curvados e osbraços estendidos para se equilibrar. Olíder barbudo se virou no momento emque Altaïr se endireitava. Com os olhosinflamados, ele rugiu:

— Um Assassino em Chipre? Ora, ora.Com que facilidade vocês da ralé seadaptam. Vou pôr um fim no...

Nem terminou a frase. Altaïr, que quisolhar nos olhos do Templário antes dedesferir o golpe mortal, ejetou a lâmina ecortou o pescoço dele com um sómovimento, a ação toda tendo durado uminstante. Com um som curto eestrangulado, Frederick, o Vermelho,desabou, tendo no pescoço um largoburaco vermelho, e seu sangue passou ainundar a pedra à sua volta, fazendo jus aseu nome.

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Por um segundo, seus homens ficaramem silêncio, e seus elmos puderam privá-los de qualquer emoção, de modo queAltaïr pôde apenas imaginar os olhareschocados atrás do aço. Então eles serecuperaram, e atacaram. Altaïr enfiou alâmina através da fenda do visor doprimeiro. Atrás do elmo houve umagoniado ruído sufocante e o sanguejorrou do visor enquanto o espadachimcaía. Nisso, o segundo dos dois duelistasatacou, manejando a espada de folhalarga, mais torcendo do que esperandoencontrar seu alvo. O Assassino desviou-se facilmente para o lado, ao mesmotempo que espalmou uma faca dearremesso, girando o corpo e, em umúnico movimento para cima, enfiando afaca por baixo do peitoral do cavaleiro.

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Com o fim da batalha e os três corposcaídos no chão de pedra, Altaïr olhou emvolta do pátio, recuperando o fôlego. Ocastelo, habitado por tão pouca gente,tinha suas vantagens, pensou ele. Retornouà sacada, saindo do mesmo modo comohavia entrado. Em seu caminho de volta, aimportuna voz da dúvida ficou mais alta.A maior parte dos corpos pelos quaispassara era daqueles que ele haviadeixado mais cedo, inalterados, e nãohavia mais nenhuma sentinela por ali.Nenhuma. Onde estava todo mundo?

Recebeu a resposta logo após terdeixado a fortaleza e seguido seu caminhopelos telhados em direção ao abrigo, jáansiando por um descanso e talvez umcombate verbal com Maria. Talvez atémesmo uma conversa com ela. Tudo que

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conseguira tirar de Maria era saber da suaorigem inglesa, que tinha sido camareirade De Sablé (exatamente o que issosignificava, Altaïr não perguntara) e quese envolvera com as Cruzadas após umincidente em casa, na Inglaterra. Isso ohavia intrigado. Esperava descobrir embreve o que tinha acontecido a ela.

De repente, ele avistou fumaça, umagrossa coluna escurecendo o céu.

E vinha do abrigo.Seu coração martelava à medida que

chegava mais perto. Viu soldadoscruzados montando guarda e contendoqualquer um que tentasse se aproximar doprédio, que estava em chamas. Línguas defogo vinham das janelas e da porta,densos anéis de fumaça preta coroavam otelhado. Era por isso que o castelo de

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Frederick estivera tão pouco vigiado.A primeira preocupação de Altaïr não

foi com a segurança da Ordem, deAlexander ou de qualquer outro membroda Resistência que pudesse estar ládentro. Sua primeira preocupação foi comMaria.

A fúria tomou conta dele. Seu pulsoclicou e ejetou a lâmina. Em ummovimento, ele saltou do teto e enfrentouos dois guardas templários lá embaixo. Oprimeiro morreu gritando, o segundo tevetempo de virar, com olhos arregalados,surpresos, enquanto a lâmina de Altaïrabria sua garganta. O grito elevou-se emais soldados vieram correndo, mas oAssassino os enfrentou, desesperado paraalcançar o abrigo, sem saber se Mariaestava presa lá dentro, talvez morrendo

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sufocada. Teria sido deixada no depósito?Estaria lá agora, socando a porta,ofegando por ar no ambiente repleto defumaça? Se fosse o caso, ele só conseguiacomeçar a imaginar o terror que elaestava sentindo. Mais guardas templáriosavançaram para ele, as pontas de suasespadas ansiando por sangue. E ele lutou.Combateu-os com facas de arremesso eespada até ficar exausto. A rua estavaapinhada de corpos de Templários,sangrando na terra. E agora ele corria nadireção do abrigo incendiado, chamandoseu nome.

— Maria!Não houve resposta.Mais Templários se aproximavam.

Com o coração pesado, Altaïr fugiu paraos telhados, para ali fazer uma avaliação

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e planejar a ação seguinte.

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Sua ação seguinte acabou sendo umarealidade imposta. Sentado bem alto emuma torre à sombra de um sino, Altaïrpercebeu o movimento nas ruas, que antesestavam tão vazias. As pessoas deixavamsuas casas. Ele não fazia ideia aonde iam,mas decidiu que queria saber.

Sem dúvida, com a fumaça ainda seelevando dos restos queimados do abrigo,os Templários estavam se mobilizando.Altaïr usou os telhados para seguir oshabitantes que iam para a praça. Viu aexpressão em seus rostos e ouviu suasconversas. Eram de vingança e

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represálias. Mais de uma vez ouviu onome de Armand Bouchart. Diziam queele acabara de chegar à ilha. E tinha umatemida reputação. Uma reputação cruel.

Altaïr estava prestes a vê-la em ação,mas, por um tempo, ficou feliz em verMaria na aglomeração, viva e ilesa. Ela ialadeada por dois cavaleiros templários namultidão que se formava — pelaaparência, tinha sido feita prisioneira,embora não estivesse amarrada. Comotodos os demais na praça, a atenção delaestava concentrada nos degraus dacatedral.

Ele a manteve em sua linha de visão,ficando fora de vista em um telhado quedava para a praça, observando enquantoOsman tomava posição nos degraus,parando ligeiramente em um lado, pronto

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para a entrada do novo líder templário,que saiu a passos largos e se juntou a ele.

Bouchart, assim como De Sablé, seuantecessor, parecia ter sido escolhidotanto pela formidável aparência quantopela habilidade de liderança. Usavaarmadura completa, mas parecia forte eágil embaixo dela. Não tinha barba epossuía grossas sobrancelhas quepareciam fazer sombras nos olhos. Asmaçãs do rosto, encovadas, davam a eleuma aparência repugnante.

— Um assassinato infame abalou minhaordem — bradou ele, em uma voz queexigia a atenção de toda a praça. — Oprezado Frederick, o Vermelho... foimorto. Ele, que serviu com honra a Deus eao povo de Chipre, pagou tributo à lâminade um criminoso. Quem entre vocês me

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entregará o responsável por isso?Nada veio da multidão, a não ser o

ruído de constrangidos pés se arrastando.Os olhos de Altaïr voltaram paraBouchart, que estava sombrio.

— Covardes — rugiu. — Não medeixam escolha a não ser eu mesmoeliminar esse criminoso. Por isso,concedo imunidade aos meus homens atéessa investigação ser concluída.

Altaïr viu Osman mudardesconfortavelmente de posição. Emgeral, seu rosto tinha um ar vivaz, mas nãoagora. Parecia preocupado ao seaproximar para falar com o líder.

— Bouchart, os cidadãos já estãoinquietos. Talvez essa não seja a melhorideia.

Bouchart estava virado para outro lado,

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por isso talvez Osman não tenha visto orosto dele ganhar uma expressão furiosa eterrível. Bouchart não estava acostumadoa ter suas ordens questionadas: isso eraclaro. Se considerava isso insubordinaçãoou não...

Em um único movimento, eledesembainhou a espada e a enfiou nabarriga de Osman.

Com um grito que ecoou em volta dapraça atônita, o capitão se curvou sobre ochão de pedra, levando as mãos à barriga.Debateu-se brevemente nos degraus atémorrer, e a agitação de sua morte foiensurdecedora em meio ao silêncio queenvolveu a multidão, abalada. Altaïr secontraiu. Não conhecera Osman, é claro,mas gostara do que percebera dele. Outrohomem bom morrera desnecessariamente.

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Bouchart se abaixou e limpou a espadana manga da túnica de Osman.

— Se mais alguém tiver algumaobjeção, convido a se apresentar.

O corpo de Osman balançouligeiramente e um braço relaxou e ficoupendurado sobre o degrau. Os olhos,incapazes de enxergar, encaravam o céu.

Não houve objeções.De repente, ouviu-se um grito de Maria,

que havia se libertado de seus captores.Ela correu para os degraus e jogou-se dejoelhos diante do líder.

— Armand Bouchart — exclamou.Embora ele sorrisse ao reconhecê-la,

não foi o sorriso de amigos seencontrando.

— Ah — ironizou ele —, uma antigacolega. — E recolocou a espada no cinto.

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— Bouchart — disse Maria —, umAssassino veio para Chipre. Conseguiescapar, mas ele não deve estar muitolonge.

De onde estava, no alto, o coração deAltaïr se abateu. Ele tinha esperanças deque... Não. Antes de tudo, ela eratemplária. Sempre seria. Sua lealdade erapara com eles.

— Ora, Maria — comentou Bouchart,animado —, isso seria a sua segunda fugamiraculosa dos Assassinos, não? Uma vezquando De Sablé era o alvo; e agora aqui,na minha ilha.

Altaïr notou incompreensão unir-se aopânico no rosto de Maria.

— Não estou do lado dos Assassinos,Bouchart — rebateu ela. — Por favor,ouça.

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— De Sablé era um coitado e fraco devontade. O versículo setenta estabelecidopelo Regulamento Templário proíbeexpressamente a associação commulheres... Pois é por meio das mulheresque o diabo tece sua teia mais forte. DeSablé ignorou esse princípio e pagou coma vida.

— Como ousa? — retrucou ela e, adespeito de si mesmo, Altaïr sorriu.

Qualquer medo que Maria vivenciavaera sempre de curta duração.

— Toquei em um nervo, não foi? —rugiu Bouchart, divertindo-se consigomesmo. Em seguida: — Prendam-na.

Com isso, encerrou-se a reunião.Bouchart virou-se e foi embora, deixandopara trás o corpo de Osman, com olhosvidrados, sobre os degraus. Maria foi

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amarrada e depois arrastada dali.Os olhos de Altaïr foram da figura de

Bouchart, que se afastava, para Maria. Eleestava dividido, tentando decidir o quefaria a seguir. Bouchart estava perto.Poderia não ter uma chance dessas outravez. Atacá-lo quando menos esperava.

Mas, por outro lado... Maria.Desceu do telhado e seguiu os homens

que a levavam da Praça da Catedral,provavelmente em direção à cadeia.Manteve-se a uma distância segura. Então,quando viraram em uma rua maistranquila, ele atacou.

Momentos depois, os dois guardasestavam mortos, e Altaïr se aproximavade Maria, para onde ela fora empurrada,tendo as mãos ainda amarradas, lutandopara se pôr de pé. Estendeu-lhe a mão e

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ela afastou-se abruptamente.— Tire as mãos de mim — vociferou.

— Eles me consideram traidora por suacausa.

Altaïr sorriu com indulgência, emboraela tivesse alertado Bouchart sobre suapresença.

— Não passo de uma desculpaconveniente para sua ira, Maria. OsTemplários são seus verdadeirosinimigos.

Ela dirigiu um olhar furioso para ele.— Eu o matarei quando tiver uma

chance.— Se tiver uma chance... Mas então

nunca descobrirá a Maçã, o Pedaço doÉden. E qual é atualmente a maiorpredileção dos Templários? Minhacabeça ou o artefato?

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Maria fitou-o com os olhossemicerrados, percebendo que o que eledizia fazia sentido. Ela pareceudescontrair.

Por enquanto.Muito depois, encontraram Alexander

de novo. O rosto dele revelavapreocupação ao falar com Altaïr.

— A despeito de sua bravata, Bouchartobviamente levou a sério o alerta deMaria. — Ao dizer isso, lançou um olhartão furioso para Maria que, por maisincrível que pudesse parecer, a deixousem fala. — Minhas fontes me dizem que,após destruir o nosso abrigo, ele zarpouimediatamente para Kyrenia.

Altaïr franziu a testa.— Que pena. Eu esperava me encontrar

com ele. — Mesmo assim, ainda

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planejava encontrá-lo. — Qual é rotamais rápida para lá? — perguntou.

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Viajaram como um monge e suaacompanhante, autorizados a encontrar umespaço no porão de carga do navio.Ocasionalmente, membros da tripulaçãodesciam do convés principal e também seaninhavam para dormir ali, peidando eroncando, pouco ligando para os doisestranhos. Enquanto Maria dormia, Altaïrencontrou um caixote, abriu o diário etirou a Maçã de um embrulho que traziano manto.

Livre do material que a protegia, elareluziu, e ele a observou por um momento.Então escreveu: “Estou lutando para tirar

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algum sentido da Maçã, o Pedaço doÉden; saber sua função e seu propósito.Mas posso afirmar com certeza que suaorigem não é divina. Não... é umaferramenta... uma máquina deextraordinária precisão. Que espécie dehomens eram esses que trouxeram essamaravilha para o mundo?”

Houve um ruído atrás dele. Em uminstante, apanhou a Maçã e cobriu-a maisuma vez, escondendo-a no manto. EraMaria, mexendo-se ao despertar. Elefechou o diário, passou por cima doscorpos adormecidos de dois tripulantes eatravessou o porão até onde ela estava,sentada com as costas apoiadas em umapilha de caixas de madeira, tremendo defrio e bocejando. Ela apoiou os joelhos nopeito, observando Altaïr enquanto ele se

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sentava no assoalho a seu lado. Os olhosde Maria eram ilegíveis. Por ummomento, os dois ouviram o ranger donavio, o ir e vir do mar no casco. Nenhumdeles tinha certeza se era dia ou noite, ouhá quanto tempo estavam velejando.

— Como veio parar aqui? —perguntou-lhe Altaïr.

— Não se lembra, homem santo? —respondeu ela maliciosamente. — Vocême trouxe para cá. — Sussurrou: — Sousua companheira.

Altaïr limpou a garganta.— Refiro-me à Cidade Sagrada. Nas

Cruzadas.— Eu deveria estar em casa, com o

colo repleto de crochê e de olho nojardineiro?

— Não é o que as inglesas fazem?

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— Não esta aqui. Sou o que na minhafamília chamam de incomum. Crescipreferindo as brincadeiras de meninos.Bonecas não eram para mim, para ogrande e contínuo aborrecimento dos meuspais — continuou, irritada. — Eucostumava arrancar suas cabeças.

— Dos seus pais?Ela riu.— Das minhas bonecas. Por isso, é

claro, eles faziam tudo que podiam parame tornar menos rude, e, no meuaniversário de 18 anos, me deram umpresente especial.

— E qual foi?— Um marido.Ele se assustou.— Você é casada?— Fui. O nome dele era Peter, e ele era

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uma companhia muito agradável, masapenas...

— O quê?— Bem, era só isso. Apenas... muito

agradável. Nada mais.— Ou seja, não servia muito para

acompanhar você na diversão.— Em nada. Meu marido ideal teria de

aceitar esses aspectos do meu caráter quemeus pais queriam extirpar. Caçaríamos eiríamos atrás de falcões juntos. Ele meinstruiria em esportes e combate e meimpregnaria de erudição. Mas ele não feznada disso. Nós nos mudamos para a sededa família dele, Hallaton Hall, emLeicestershire, onde, como castelã,esperava-se que eu coordenasse a equipede empregados, supervisionasse osassuntos domésticos e, é claro, desse

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herdeiros a eles. Pelo menos três. Depreferência, dois meninos e uma menina,nessa ordem. Mas fracassei emcorresponder às expectativas deles, domesmo modo que, miseravelmente, elefracassou em corresponder às minhas. Aúnica coisa com que eu me importavamenos do que a hierarquia e a política daequipe de empregados era cuidar decrianças, e especialmente do parto, quevem antes disso. Após quatro anos deengano, fui embora. Felizmente, o bispode Leicester era um amigo íntimo dovelho lorde Hallaton, que conseguiu umaanulação, em vez de correr o risco de queesta moça tola e impetuosa causasse maisconstrangimento à família. Passei a ser, éclaro, persona non grata em HallatonHall; aliás, em todo o Leicestershire. E,

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ao voltar para casa, a situação não eramelhor. Hallaton exigira de volta o dotepago pela noiva, mas meu pai já o tinhagasto. No fim das contas, decidi que eramelhor para todo mundo se eu fosseembora, por isso fugi para as Cruzadas.

— Como enfermeira?— Não, como soldado.— Mas você é...— Sim, experiente em me disfarçar de

homem. Eu não o enganei naquele dia, nocemitério?

— Eu sabia que você não era De Sablé,mas...

— Não achou que eu fosse mulher. Estávendo? Anos me passando por rudefinalmente valeram a pena.

— E De Sablé? Ele se enganou?Altaïr percebeu, em vez de ver, a

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tristeza em seu sorriso.— De início gostei de Robert — disse

ela suavemente. — Ele certamente viumais do meu potencial do que Peter. Mas,é claro, ele também viu de que modo eupoderia ser explorada. E não demoroumuito para fazer isso. — Suspirou. — Foiapropriado você ter matado Robert —afirmou. — Não era um homem bom e foiindigno de quaisquer sentimentos que tivepor ele.

— Foi ele quem lhe deu isso? —perguntou Altaïr, após um momento,apontando para a mão dela, para a pedrapreciosa que brilhava ali.

Maria olhou-a e franziu a testa, quasecomo se tivesse esquecido que a usava.

— Sim. Foi um presente dele, quandome deixou sob sua proteção. Isto é tudo

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que resta dos meus laços com osTemplários.

Seguiu-se um silêncio deconstrangimento, que finalmente foiquebrado por Altaïr.

— Você estudou filosofia, Maria? —começou ele.

Ela o olhou, indecisa.— Li fragmentos... nada mais.— O filósofo Empédocles proclamava

que toda a vida na Terra começou deforma simples, em formas rudimentares:mãos sem braços, cabeças sem corpos,olhos sem rostos. Acreditava que todasessas formas primitivas se combinaram,muito gradualmente, ao longo do tempo,para criar toda a variedade de vida quevemos diante de nós. Interessante?

Ela só faltou bocejar.

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— Você sabe o quanto isso pareceridículo?

— Sei... Mas me conforto com oconselho do filósofo Al Kindi: não sedeve ter medo de ideias, não importa suafonte. E nunca devemos temer a verdade,mesmo quando ela nos magoa.

— Não vejo sentido em suasdivagações. — Ela riu baixinho,parecendo sonolenta e afetuosa.

Talvez ele a tivesse julgado mal.Talvez ela não estivesse pronta paraaprender. Mas então soou um sino, o sinalde que haviam aportado em Kyrenia.Levantaram-se.

Altaïr tentou novamente.— Apenas uma mente livre de

impedimentos é capaz de compreender abeleza caótica do mundo. Esse é o nosso

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maior trunfo.— Mas o caos é algo a ser louvado? A

desordem é uma virtude? — perguntouela, e algo nele foi estimulado com aindagação. Talvez, afinal de contas, elafosse receptiva ao conhecimento superior.

— Sim, isso nos apresenta desafios —alegou ele —, mas a liberdade possibilitarecompensas maiores do que a alternativa.A ordem e a paz que os Templáriosprocuram requerem servidão e prisão.

— Hum — fez ela. — Conheço essasensação...

Ele sentiu certa proximidade com elaao chegarem aos degraus que levavam aoconvés superior, e se deu conta de que eraexatamente a mesma sensação de queandara à procura desde quando seencontraram. Agora ele a sentiu, e gostou.

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Queria que continuasse. Mesmo assim,teria de tomar cuidado. Ela já não lhedissera que planejava matá-lo? Sualealdade aos Templários tinha sidopartida, mas isso não queria dizer que elativesse, de uma hora para outra, adotadoos modos dos Assassinos. Pelo que elepodia perceber, os modos dela eram os deMaria.

Portanto, faltava ter provas disso.Na escada, ela sorriu e estendeu as

mãos, e ele olhou com desconfiança. Mashavia possibilidade de ela subir com asmãos amarradas e, de qualquer modo, elesestavam viajando com piratas: emborapiratas fossem notoriamente carentes deética, até mesmo eles poderiam sesurpreender com um monge que mantinhasua companheira amarrada. Os dois que

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tinham estado dormindo, agora se punhamde pé, bocejando, coçando a virilha elançando olhares para a dupla do outrolado do porão. Dissimuladamente, Altaïracionou sua lâmina e cortou a corda dospunhos de Maria. Ela lhe lançou um olharde agradecimento antes de começar asubir os degraus.

Então ele ouviu algo. Um murmúrio.Foi mais alertado pelo tom do que peloque estava sendo dito. Sem parecer óbvio,prestou atenção. Como havia imaginado,os dois piratas conversavam sobre ele.

— Eu sabia que era ele — falou umdeles em um som estridente. — Eu lhedisse.

Altaïr podia sentir os olhos deles emsuas costas.

— Aposto como os Templários

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pagariam uma bela recompensa por essesdois.

Silenciosamente, o Assassinopraguejou. Se estivesse certo, precisarianovamente de sua lâmina a qualquermomento...

Ouviu o som de cimitarras sendosacadas.

...agora!Altaïr girou para enfrentar os dois,

enquanto sua companheira decidia seguiro “modo Maria” e correr para aliberdade, chutando-o com o pé direito eenviando-o cambaleante contra a lateraldo porão, a dor incendiando seu rosto.

Havia dor também dentro dele. Um tipodiferente de dor.

E ela se foi, desaparecendo noquadrado de luz do sol da porta do porão.

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Altaïr praguejou novamente, mas dessavez em voz alta, e endireitou-se paraenfrentar o ataque. O primeiro piratasorriu quando ele se aproximou, semdúvida pensando no prêmio — o vinho eas mulheres que compraria após recebê-lo.

Altaïr enfiou a espada no esterno dohomem e ele parou de sorrir, deslizandofacilmente para fora da lâmina. Isso deuao segundo uma pausa para pensar e eleparou. Semicerrou os olhos e ficoumudando a arma de mãos. Altaïr sorriupara ele e bateu o pé, contente em vê-lo seretrair em resposta.

Ótimo, pensou. Gostava que seuspiratas mercenários tivessem um pouco demedo antes de morrer.

E ele morreu. Os olhos do pirata se

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reviraram quando Altaïr enfiou a espadana lateral do corpo dele, em seguida apuxou rapidamente para a frente, abrindoum enorme talho no flanco enquanto opirata caía no chão, juntando-se a seucolega. Então o Assassino subiu a escadae piscou com a luz do sol ao sair para oconvés principal, lançando olhares paratodos os lados à procura da fugitiva.Piratas, alertados pela súbita presença deMaria, vieram correndo. Houve um gritoquando viram Altaïr e se deram conta detudo. Ele disparou pelo convés, agachou-se por baixo do cordame, depois desceucom agilidade pela prancha e saiu nasdocas de Kyrenia, procurandodesesperadamente um lugar para seesconder até deixar a ameaça passar.

Então, pensou, furioso, iria procurar

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Maria. Dessa vez não deixaria que elaescapasse.

Olhou em volta. Outra cidade dominadapelos Templários. Ela reluzia sob o sol.De qualquer maneira, era bonita demaispara estar nas mãos do inimigo.

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Pelo menos não foi difícil encontrarMaria. Os problemas a perseguiam comoratos no porão de um navio. Como era deesperar, quando Altaïr voltou a cruzar seucaminho, cadáveres de piratas estavamespalhados a seus pés e três homenslocais estavam parados nas proximidades,limpando o sangue de suas espadas erecuperando o fôlego após a batalha.Ficaram tensos quando Altaïr apareceu, eele ergueu as mãos em um gesto de boa-féenquanto assimilava a cena: Maria, oshomens, os mortos.

Mais uma vez, ao que parecia, ela

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tivera sorte em escapar.— Pensei que nunca mais a veria —

disse ele, com os braços aindalevantados.

Ela tinha o dom de se recusar a sesurpreender em qualquer eventualidade.

— Se ao menos eu tivesse essa sorte...Ele franziu a testa para ela, depois

voltou-se para um dos cipriotas, queaparentemente era o líder.

— Qual é o seu assunto com essamulher? Você é um lacaio dosTemplários?

— Não, senhor — gaguejou o homem.Ele permanecia com a espadadesembainhada, e as mãos de Altaïrestavam vazias, mas, mesmo assim, ocipriota reconhecia um guerreirohabilidoso ao ver um. — Os piratas a

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atacaram e eu tive de ajudar. Mas não soulacaio. Detesto os Templários.

— Entendo. Você não está sozinho —retrucou Altaïr.

O homem assentiu com gratidão,reconhecendo que estavam do mesmolado.

— Meu nome é Markos, senhor.Ajudarei no que puder, se isso significarlivrar meu país desses Cruzados.

Excelente, pensou Altaïr.— Então preciso que mantenham essa

mulher em segurança até eu voltar.Preciso encontrar alguém antes que osTemplários o façam.

— Passaremos o dia todo no porto. Elaficará segura aqui conosco — disseMarkos e, mais uma vez, Maria ficouresmungando enquanto os homens a

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levavam embora.Ela ficará bem, pensou Altaïr,

observando-os se afastar. Maria passou odia entre dois robustos cipriotas, olhandoo mundo passar no porto de Kyrenia:havia maneiras melhores de gastaralgumas horas, mas também havia muitopiores. Pelo menos ele sabia que elaestava em segurança enquanto seencontrava com o contato da Resistênciade Alexander, o Barnabé de quem haviamlhe falado.

Encontrou-o no abrigo secreto, quefazia as vezes de depósito de grãos. Aoentrar, Altaïr chamou cautelosamente, masnada ouviu, apenas o corre-corre decamundongos e os sons distantes da rua.Então apareceu um homem do meio dossacos. Tinha uma barba escura e

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vigilantes olhos negros, e se apresentoucomo Barnabé. Quando Altaïr lheperguntou se o abrigo tinha uma área quepodia ser usada como cela, ele sorriugentilmente e garantiu a ele que tinha, masentão ficou indeciso, indo primeiro atéuma porta, que abriu e fechou, depois auma segunda, através da qual deu umaolhada antes de anunciar que a sala desecagem possuía uma área fechada quepodia ser usada como cela.

— Ando seguindo Armand Bouchart —contou Altaïr a Barnabé momentos depois,quando os dois se encontravam sentadossobre sacos de grãos no depósito.

— Ah... Bouchart está em Kyrenia? —perguntou o membro da Resistência. —Provavelmente visitando seus prisioneirosem Buffavento.

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— Essa é uma prisão perto daqui?— Sim, é um castelo. Um dia foi

residência de uma rica fidalga cipriota,até os Templários tomarem suapropriedade.

Altaïr franziu a testa diante da ganânciadeles.

— Pode me levar até lá?— Bem... posso fazer mais do que isso.

Posso colocá-lo lá dentro, sem que osguardas nem pisquem os olhos. Mas,antes, precisa fazer uma coisa para mim.Para a Resistência.

— Um pedido familiar — disse Altaïr.— O que é?

— Temos um traidor em nosso meio —explicou tristemente Barnabé.

O traidor era um mercador chamadoJonas e, após Barnabé lhe fornecer os

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detalhes suficientes, Altaïr localizou-o emum anfiteatro no centro da cidade. Deacordo com Barnabé, Jonas forneciasegredos aos Templários. Altaïrobservou-o por um momento,encontrando-se com outro comerciante,parecendo a todo mundo como qualqueroutro negociante. Então, quando se viroupara ir embora, o Assassino o seguiu doanfiteatro até as ruas secundárias, notandoque, aos poucos, o mercador foipercebendo que estava sendo seguido.Lançava cada vez mais olhares frequentespara trás, para Altaïr, com os olhos cadavez mais arregalados e maisamedrontados. De repente, ele disparouem uma corrida, e Altaïr seguiuperseguindo-o, contente por ver Jonasentrar em um beco.

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Aumentou a velocidade e correu atrásda presa.

O beco estava vazio.Altaïr parou, olhou para trás, checando

se não estava sendo visto e — clique —soltou a lâmina. Deu dois passos à frentepara ficar no mesmo nível de uma grandee instável pilha de caixotes, que oscilavaligeiramente. Curvou-se um pouco eenfiou a lâmina em um caixote. A madeiralascou e ouviu-se um grito. A pilhadesabou sobre Altaïr, que teve de seapoiar para não perder o equilíbrio.

Ele, porém, manteve-se parado. E,quando a madeira se acomodou à suavolta, ele relaxou, olhando ao longo dalinha de seu braço estendido, para ondeJonas estava espetado pela sua lâmina, osangue lentamente se espalhando do

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ferimento em seu pescoço. Aindaagachado para se esconder, o comercianteera uma figura desesperada, patética. E,embora soubesse que se tratava de umtraidor e que as informações que dera aosTemplários tinham sem dúvida sidousadas para matar, capturar e torturarmembros da Resistência, Altaïr sentiupena dele, tanto que removeu a lâminadelicadamente, empurrando para os ladosos restos dos caixotes para que pudessedeitá-lo e se debruçar sobre ele.

Escorria sangue do ferimento dopescoço.

— O que significa isso? — ofegouJonas. — Um Assassino? Salah Al’dintambém tem seus olhos sobre a pobreChipre?

— Os Assassinos não têm ligações com

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os sarracenos. Nosso negócio é só nosso.Jonas tossiu, revelando dentes

ensanguentados.— Seja qual for o caso, a notícia de sua

presença se espalhou. O Touro colocouum prêmio pela sua cabeça... E pelacabeça da mulher que o acompanha.

Altaïr olhou a vida dele sangrando parafora do corpo.

— Eu valho mais e mais a cada dia —comentou, e desferiu o golpe mortal.

Quando se levantou, não foi com asatisfação de um serviço bem-feito, mascom a terrível sensação de que havia algoerrado. O Touro que Jonas mencionara.Independente de quem fosse, era leal aArmand Bouchart e sabia da presença deAltaïr e de Maria em Kyrenia. Era aquiloa fonte da inquietação de Altaïr?

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Pegou o caminho dos telhados,pretendendo encontrar Markos e Maria deimediato.

— Bem, Maria, parece que há um bompreço pelas nossas cabeças — anunciouAltaïr quando a encontrou. Comoimaginara, ela estava sentada em umbanco de pedra entre Markos e outromembro da Resistência, exibindo aqueleolhar furioso ao qual ele já estava seacostumando.

— Um preço? Maldito Bouchart.Provavelmente, ele acha que sou suaaprendiz.

— Alguém chamado de Touro mandouseus homens atrás de nós.

Maria deu um salto como se tivessesido ferroada.

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— O Touro? Então deram a essefanático uma paróquia só dele?

— É amigo seu? — perguntou Altaïr,com uma careta.

— Ao contrário. Ele se chama Moloch.É um fanfarrão religioso com cada braçoparecendo troncos de árvores.

Altaïr virou-se para Markos.— Você conhece o abrigo da

Resistência no distrito dos comuns?— Sei onde fica, mas nunca entrei lá —

falou Markos, dando de ombros. — Souapenas um soldado da Resistência.

Altaïr pensou e então disse:— Não posso ser visto com Maria,

portanto você terá de levá-la. Mantenha-afora de vista, e me encontre lá quandoestiverem em segurança.

— Conheço alguns becos e túneis

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escuros.— Pode levar mais tempo, mas a

levaremos para lá sã e salva.Voltaram separados para o abrigo,

Altaïr chegando primeiro. Barnabé haviaespalhado sacos de grãos pelo chão eestivera relaxando, mas se pôs de péassim que Altaïr entrou, contendo umbocejo, como se tivesse despertado deuma soneca.

— Acabei de saber que alguémencontrou o corpo do pobre Jonas —disse ele, com um tom de sarcasmo navoz. — Que desperdício, não? — Elimpou uns grãos de seu manto.

— Você o conhecia melhor do que eu— retrucou Altaïr. — Tenho certeza deque ele sabia do risco de trabalhar paraambos os lados. — Olhou atentamente

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para Barnabé, notando o sorriso irônicoem seu rosto.

Altaïr não sentia prazer com a morte —nenhuma morte — e tinha tendência aolhar desfavoravelmente a quem sentia,fosse Templário, Assassino ou daResistência. Por um lado, Barnabé eraaliado. Por outro... Se havia uma coisaque Altaïr sabia era confiar em seusinstintos e seus instintos agora oimportunavam; uma pequena e silenciosaperturbação, mas, ainda assim, insistente.

Barnabé prosseguiu:— Sim... infelizmente, isso complicou

as coisas. Jonas era um cipriotarespeitado, e sua morte causou alvoroçoperto da antiga igreja. O público estáfaminto por vingança, e o Touro dirá a eleque você foi o responsável. Você pode

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perder o apoio da Resistência.O quê? Altaïr o encarou, incapaz de

acreditar no que acabara de ouvir. Aqueletal instinto: mudou de perturbação paracompleto tormento.

— Mas Jonas era um traidor daResistência. Eles não sabiam?

— Receio que não muitos deles —admitiu Barnabé. — A Resistência estámuito espalhada.

— Bem, você terá a chance de dizer aeles pessoalmente — ponderou Altaïr. —Alguns homens estão vindo para cá agora.

— Está trazendo gente para cá? —Barnabé pareceu preocupado. — Genteem quem pode confiar?

— Agora já não tenho mais certeza deem quem posso confiar — concluiu Altaïr—, mas vale o risco. Neste momento,

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preciso ver pessoalmente esse alvoroço.— Quanto ao nosso acordo, verei o que

posso fazer para levá-lo para perto deBouchart. Um acordo é um acordo, não?— disse Barnabé, e sorriu novamente.

Altaïr não ligou para aquele sorriso. Acada vez que o via, gostava menos dele.

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Altaïr fez uma visita à igreja, e seucoração se apertou diante da agitação.Guardas templários haviam formado umcordão de isolamento e estavam contendocidadãos revoltosos, que haviam sidoimpedidos de sair da área em volta daigreja e destruíam tudo à vista. Caixotes ebarris tinham sido lascados e haviafogueiras espalhadas pelas ruas. Barracasque ladeavam as ruas haviam sidoatacadas e destruídas, e o cheiro deprodutos pisoteados se misturava ao dafumaça. Alguns homens formaram grupose entoavam palavras de ordem ao ritmo de

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tambores e do constante ribombar decímbalos, tentando romper a linha doscavaleiros templários, que os observavamatentamente de trás de barreirasimprovisadas, carroças e barracasviradas. De vez em quando, pequenospelotões de soldados faziam curtas ecruéis investidas contra a multidão,arrastando homens que esperneavam egritavam, agredindo-os com o cabo daespada ou jogando-os para trás dabarreira para serem levados para as celas— não que esses ataques fizessem algumacoisa para amedrontar os revoltosos ouaplacar sua fúria.

Altaïr observava tudo do alto,agachado na beirada de um telhado,sentindo desespero. Algo saíra errado.Algo saíra terrivelmente errado. E se o

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Touro decidisse fazer uma declaraçãoindicando-o como o assassino, então ascoisas ficariam ainda piores.

Ele tomou uma decisão. O Touro tinhade morrer.

Quando chegou de volta ao abrigo,procurou em vão por Barnabé, que nãoestava em nenhum lugar à vista. EntãoAltaïr teve certeza de que errara aoconfiar nele e praguejou contra si mesmo.Ele ouvira o seu instinto. Só que não osuficiente.

Markos, porém, estava lá, assim comoMaria, que fora colocada na cela, umlocal mais resistente do que a prisãoimprovisada que usavam em Limassol. Aporta entre a sala de secagem e o depósitoestava aberta para que pudessem verMaria: ela estava sentada atrás de barras

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com as costas apoiadas na parede, de vezem quando chutava os juncos espalhadospelo chão e olhava o que se passava comuma expressão pesarosa, sarcástica.Altaïr observou-a, lembrando-se de todoproblema que ela havia causado.

Ele soube que ela, Markos e váriosoutros membros da Resistência haviamchegado ao abrigo e o encontraram vazio.Barnabé tinha sumido quando chegaramlá. Muito conveniente, pensou Altaïr.

— O que está acontecendo lá fora? —perguntou Markos. — A cidade estátumultuada. Vi muita confusão.

— As pessoas estão protestando contraa morte de um cidadão, um homemchamado Jonas. Ouviu falar nele?

— Meu pai o conhecia bem. Era umhomem bom. Como ele morreu?

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O coração de Altaïr ficou ainda maisapertado e ele percebeu que evitavaencarar Markos, então respondeu:

— Bravamente. Escute, Markos, ascoisas se complicaram. Antes deencontrar Bouchart, preciso eliminar oTouro e acabar com essa violência.

— Você adora um caos, Altaïr —gritou a mulher de sua cela.

Ele gostou do modo como seu nomesoou na boca de Maria.

— O Touro é um homem responsávelpela submissão de milhares. Poucos vãolamentar a perda dele.

Ela se aproximou.— E você propõe entrar em Kantara,

esfaqueá-lo e sair sem ser notado? Ele secerca de adoradores dedicados. — Suavoz ecoou na prisão de pedra.

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— Kantara... Isso fica a leste? —indagou Altaïr, aproveitando a sugestãoimprudente.

— Sim, e é muito bem defendido...Você verá por si mesmo.

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Altaïr realmente viu por si mesmo. OCastelo de Kantara era protegido porsoldados cruzados e fanáticos de Moloch.Depois de escalar a muralha e atravessaros bastiões, ele parou ocasionalmentepara ouvi-los conversar, juntando aospoucos os pedaços de informação sobre ohomem a quem chamavam de Touro.Descobriu que era um religioso radicalque atraía seguidores, fanáticos quetrabalhavam como seus guarda-costas,como criados ou que andavam pelas ruasde Kyrenia divulgando a palavra de Deus.Ele era ligado aos Templários. Sua

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dedicação ao líder deles, Bouchart, tinhaquase a devoção de sua fé religiosa, e oCastelo de Kantara era sua cidadelapessoal, dado a ele, supostamente, pelosTemplários. Era conhecido por gastar amaior parte de seu tempo em adoração, nacapela do castelo.

Que era onde Altaïr esperava encontrá-lo.

Movendo-se pela fortaleza, viu tantofanáticos quanto guardas. Os fanáticospareciam... Bem, exatamente comoesperava que fanáticos parecessem:nervosos, olhos arregalados e ardorosos.Eram desdenhados abertamente pelosguardas cristãos que patrulhavam emduplas e que claramente os achavaminferiores a eles para permanecerem nocastelo. Quando Altaïr se enfiou em um

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recanto, dois deles passaram, umreclamando para o outro.

— Por que os Templários toleram esselouco? O Touro e seus fanáticos são maisperigosos dos que os habitantes deChipre.

— Os Templários têm seus motivos —respondeu o outro. — Sabe, é muito maisfácil para eles governarem porprocuração.

— Creio que sim. Mas quanto tempoisso vai durar? O Touro e os Templáriosnão têm exatamente a mesma opinião noquesito fé.

— Ah, quanto menos você falar sobreisso, melhor — retrucou o outro.

Altaïr deixou que passassem e seguiuem frente. Enquanto andava, o corredor iaescurecendo. Maria dissera que o castelo

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era bem protegido, e certamente era, sevocê pretendesse reunir um exército eatacar sua muralha. Para um Assassinosolitário, porém, entrar na fortalezaescondido era uma missão fácil.Principalmente se você fosse o Mestre. Sevocê fosse Altaïr.

Agora ele se encontrava em um vastosalão de banquete. Na extremidade opostahavia dois guardas, e ele apanhou duasfacas de arremesso. Jogou-as: um, dois.Em questão de segundos, os dois homensestavam se contorcendo no chão de pedrae Altaïr passou sobre eles, sabendo queagora estava perto, que Moloch não deviaestar longe.

Não estava. Altaïr chegou ao queparecia um beco sem saída e virou-se,checando atrás de si — por que aquele

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estava sendo vigiado? Então viu umalçapão. Curvando-se até ele, ouviu, entãosorriu. Ele havia encontrado o Touro.

Muito delicadamente, levantou a tampado alçapão e desceu para as vigas do tetoabaixo. Estava no suporte do local deadoração do castelo, um enorme salãovazio iluminado pelo fogo de um grandebraseiro perto do altar.

Ajoelhado diante do fogo, cuidandodele, estava Moloch.

A descrição que Maria fizera dele foraexata. Era um brutamontes: calvo, combigode curvado para baixo, peito nuexceto por um medalhão, e com os braçosparecendo troncos, como ela descrevera.O suor brilhava em seu corpo enquantoatiçava o fogo, entoando um encanto quesoava mais como um grunhido do que algo

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religioso. Absorto em seu trabalho, elenão se afastava do fogo, não desviava avista dele, banhando o rosto com o calordas chamas, alheio a qualquer outra coisano ambiente, até mesmo — eespecialmente — a seu matador.

Ótimo. Moloch parecia forte,facilmente mais poderoso do que Altaïr,que não tinha qualquer desejo de enfrentá-lo em combate. Ele não apenas tinha avantagem muscular, mas dizia-se quemanejava uma arma do tipo de um martelometeoro, com um peso mortal preso a umacorrente. Dizia-se que usava a arma comuma precisão infalível, e era impiedosocom ela.

Portanto, não. Altaïr não tinha qualquerdesejo de enfrentá-lo em combate. Essateria de ser uma morte furtiva. Rápida,

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limpa e silenciosa.Sem qualquer ruído, Altaïr percorreu as

vigas, depois caiu silenciosamente nocentro do salão atrás de Moloch. Estavaum pouquinho mais afastado do que eleteria gostado, e prendeu a respiração,tenso. Se Moloch o tivesse ouvido...

Mas não. O brutamontes continuavaocupado com o braseiro. Altaïr deu algunspassos à frente. Em silêncio, armou alâmina e a levantou. Uma luz laranjadançou no aço. O Touro estava agora a umpiscar de olhos da morte. Altaïr abaixou-se ligeiramente, os músculos das pernasse flexionando, então saltou, com a lâminaprestes a golpear.

Ele estava em pleno ar quando Molochse virou, muito mais rápido do que seutamanho teria possibilitado. Ao mesmo

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tempo, sorriu, e Altaïr se deu conta de queo brutamontes soubera o tempo todo queele estava ali; que simplesmente deixara oAssassino se aproximar. Então Altaïr foipego por aqueles braços imensos e sentiuuma mão ir para sua garganta e apertar.

Por alguns instantes, foi mantidodaquele modo, Moloch erguendo-o no arcom uma das mãos, como se fosse umtroféu a ser exibido na escadaria docastelo, e ele sufocava enquanto sedebatia. Seus pés chutavam o ar e as mãosarranhavam a manopla de Moloch,tentando desesperadamente soltar o apertodo monstro. Sua visão começou a anuviar,a escuridão se aproximando. Sentiu quecomeçava a perder a consciência. EntãoMoloch o jogou para trás e ele seestatelou no chão da capela. Sua cabeça

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quicou dolorosamente no pavimento, e eleficou imaginando por que lhe tinha sidopermitido viver.

Porque o Touro queria mais diversão.Ele havia apanhado seu martelo meteoroe, com um único giro sobre a cabeça,jogou-o contra Altaïr, que conseguiuapenas rolar para o lado quando eledesceu, esmagador, abrindo uma craterano pavimento e cobrindo-o com cacos depedra.

Cambaleante, Altaïr colocou-se de pé,tonto e sacudindo a cabeça para clareá-la.Sacou a espada. Lâmina em uma mão,espada na outra. No momento em que searremessou para o lado, o Tourorecuperou o martelo e o lançounovamente.

Ele causou um estrondo em uma coluna

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ao lado de Altaïr, que mais uma vez foiatingido por uma chuva de fragmentos depedra. Com o martelo de Moloch parado,Altaïr teve uma chance e disparou,investindo com a lâmina e a espada. Noentanto, mais rápido do que pareciapossível, Moloch tinha recuperado acorrente e a segurava com ambas as mãos,bloqueando a espada de Altaïr. Então elegirou novamente o martelo e fez com queo Assassino caísse de novo à procura desegurança.

Altaïr pensou em Al Mualim — o AlMualim que o treinara, e não o traidor noqual se tornara. Pensou em Labib e emseus outros tutores habilidosos com aespada. Inspirou fundo e recuou, indo parao lado, circundando Moloch.

O Touro o seguiu, sabendo que deixara

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o Assassino preocupado. Quando elesorriu, revelou a boca cheia de dentesirregulares e enegrecidos, a maior partegasta e reduzida a tocos podres. Do fundode sua garganta veio um ruído, quandoAltaïr se aproximou na tentativa de fazercom que Moloch lançasse o martelo. OAssassino tivera uma ideia. Era uma boaideia, mas tinha uma falha. Seria fatal, sedesse errado. Ele precisava que o Tourojogasse o martelo — mas todas as vezesem que isso acontecera, a arma tinhapassado perigosamente perto de abrir umburaco no crânio de Altaïr.

Ele veio. Girando no ar. Quebrando apedra. Altaïr conseguiu apenas um saltopara o lado, mas, ao pousar, em vez deprocurar proteção, partiu em direção aomartelo. Ele pisou no peso e correu pela

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corrente esticada na direção do monstro.Moloch parou de sorrir. Teve um

segundo para captar a visão do ágilAssassino correndo pela corda bamba desua corrente antes de a espada perfurar afrente de sua garganta e sair na nuca. Eleemitiu um som a meio caminho entre umgrito e um sufocamento, a espadaatravessando o pescoço e saindo pelooutro lado, quando Altaïr largou o cabo egirou para montar nos ombros do Touro,enfiando a lâmina bem fundo na espinhado homem. Mesmo assim, o Touro reagiue Altaïr viu-se tentando proteger sua vida.Com a mão livre, agarrou a corrente epuxou-a para enrolá-la no pescoço de suavítima, grunhindo com o esforço de ter depuxá-la com força. Moloch girou e forçouo corpo para trás, e Altaïr percebeu que

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ele manobrava em direção ao fogo.Sentiu o calor nas costas e redobrou o

esforço. O animal não morria. Sentiu ocheiro de alguma coisa queimando — abainha do seu manto! Gritando de dor epor causa do esforço, ele puxou com forçaa corrente com uma das mãos, enfiandoainda mais fundo a espada com a outra,até que, finalmente, algo cedeu, umaúltima força de vida estalou dentro deMoloch. Altaïr estava montado em seusombros sendo pinoteado quando o animalcaiu no chão, onde permaneceu,respirando pesadamente, com o sangueespesso escorrendo pela pedra, morrendolentamente.

Finalmente, sua respiração parou.Altaïr soltou um demorado suspiro de

alívio. Moloch não seria capaz de voltar

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as pessoas contra a Resistência. Seureinado tirânico tinha acabado. Noentanto, não pôde evitar se perguntar oque poderia substituí-lo.

Ele teria sua resposta muito em breve.

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43

Maria se foi. Levada pelos Cruzados.Enquanto Altaïr lutava no Castelo deKantara, soldados haviam atacado oabrigo e, apesar da batalha, tinham levadoalguns prisioneiros, entre eles Maria.

Markos, um dos poucos que haviamescapado de ser capturado, estava lá parareceber o Assassino, com a preocupaçãoestampada em seu rosto, afligindo-seenquanto balbuciava.

— Altaïr, fomos atacados. Tentamosreagir, mas... não adiantou. — Entãobaixou os olhos, envergonhado.

Ou estaria fingindo?

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Altaïr olhou para a porta da sala desecagem. Estava aberta. Mais além dela, aporta da cela com barras também estavaaberta, e ele a imaginou ali, observando-ocom seus olhos amendoados, as costasapoiadas na parede e as botas remexendoos juncos jogados sobre o chão de pedra.

Balançou a cabeça para se livrar daimagem. Havia muito mais em jogo do queos sentimentos pela inglesa: não deveriapensar nela antes de se preocupar com aOrdem. Mas... pensou.

— Quis detê-los — dizia Markos —,mas tive de me esconder. Eram muitos.

Altaïr olhou-o bruscamente. Agora quesabia da duplicidade de Barnabé, relutavaem confiar em qualquer um.

— A culpa não foi sua — disse. — OsTemplários são espertos.

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— Ouvi falar que eles controlam opoder de um Oráculo Sombrio emBuffavento. Deve ter sido por isso quenos encontraram.

Teria sido assim? Altaïr pensou noassunto. Certamente os Templáriospareciam conhecer todos os movimentosdeles. Mas talvez isso tivesse menos a vercom um oráculo e mais com o fato de quea Resistência estava infestada de espiõesTemplários.

— É uma teoria curiosa — afirmou ele,alerta para o fato de que Markos poderiaestar tentando iludi-lo de propósito. —Mas desconfio de que foi Barnabé quemlhes deu a informação.

Markos assustou-se.— Barnabé? Como é possível?

Barnabé, o líder da Resistência, foi

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executado no dia anterior à sua chegada.Claro. Altaïr praguejou contra si

mesmo. Houvera um Barnabé que era lealà Resistência, mas os Templários ohaviam substituído por um homem seu —um falso Barnabé. Pensou em Jonas,executado por ele, seguindo a ordem doespião, e desejou algum dia podercompensar isso. Jonas não mereciamorrer.

Altaïr deixou o distrito do porto,descobriu onde os prisioneiros estavamsendo mantidos e passou despercebidopelos guardas para encontrá-losapinhados em uma cela apertada, imunda.

— Obrigado, senhor, que Deus oabençoe — desejou um deles quandoAltaïr abriu a porta para que saísse. Tinhaa mesma expressão de gratidão que os

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demais. Altaïr nem desejava pensar noque os Templários haviam planejado paraeles.

Vasculhou a cela em vão atrás deMaria...

— Havia uma mulher com vocês,quando foram levados?

— Uma mulher? Sim, até Shalim, ofilho do Touro, levá-la emboraacorrentada. Ela não saiu daquitranquilamente.

Não, pensou Altaïr. Ir tranquilamentenão era o estilo de Maria. Mas quem eraesse filho, Shalim? Teria ele assumido oreinado tirânico do Touro?

Foi assim que Altaïr se viu escalando amuralha da fortaleza de Buffavento,seguindo depois para o castelo, e então

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descendo para as suas escuras, úmidas egotejantes profundezas, onde a pedra tinhaum brilho preto, onde as luzes das tochasbruxuleantes mal penetravam na escuridãoproibida e onde cada passo ecoava ehavia uma goteira d’água constante. Seriaali que os Templários mantinham seufamoso oráculo? Ele esperava que sim.Tudo que sabia até agora é que estavamsempre um passo à frente dele. O que querque tivessem planejando, ele sabia quenão ia gostar: não gostou da ideia doarquivo sobre o qual continuava ouvindofalar, ou que estivessem sempre pertodemais para esmagar a Resistência.Qualquer coisa que pudesse fazer paradeter o avanço deles tinha de ser feito. E,se isso significasse uma caça às bruxas,então que assim fosse.

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Agora, margeando ao longo doscorredores no interior do castelo, ele sedescobriu aproximando-se do que supunhaser a masmorra. Atrás dele jaziam oscorpos de dois guardas com os quaishavia se deparado no caminho, amboscom as gargantas cortadas; os cadáveresestavam escondidos da vista. Exatamentecomo no Castelo de Moloch, ele foracapaz de seguir caminho até o núcleousando uma mistura de dissimulação ematança. Então ouviu vozes, uma dasquais reconheceu de imediato. Era a deBouchart.

Estava conversando com um homem dooutro lado de um portão de aço pontilhadode ferrugem.

— Quer dizer que a garota fugiu outravez, hein? — vociferou o Templário.

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O outro homem vestia um suntuosomanto revestido de pele.

— Em um momento, ela estavaacorrentada, no seguinte, tinha sumido...

— Não me insulte, Shalim. Seu fracopor mulheres é bem conhecido. Vocêdeixou-a sem ser vigiada e ela foiembora.

— Eu a encontrarei, Grão-Mestre.Prometo.

Então aquele era Shalim. Altaïr prestouuma atenção especial nele, ligeiramentesatisfeito. Nada nele — a aparência,compleição e com certeza as roupas —lembrava o pai, Moloch.

— Faça isso depressa — esbravejouBouchart —, antes que ela conduza oAssassino diretamente ao arquivo.

Shalim virou-se para ir embora, mas

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Bouchart o deteve.— E, Shalim, providencie para que isto

seja entregue a Alexander em Limassol.Entregou a Shalim um saco, que o outro

homem segurou demonstrando concordar.Altaïr sentiu os dentes trincarem. EntãoAlexander também trabalhava para osTemplários. O inimigo parecia ter umamão em tudo.

Agora, porém, os dois homens tinhamido embora, e Altaïr retomou seu avançoem direção à cela do Oráculo. Incapaz deatravessar o portão, escalou uma sacada eseguiu caminho dando a volta por fora dafortaleza, depois desceu novamente atéchegar à masmorra. Mais guardas caíramdiante de sua lâmina. Em breve os corposseriam descobertos e seria dado um alertageral. Precisava agir depressa.

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Todavia, parecia que os guardas tinhamo bastante com o que se contentar. Altaïrconseguiu ouvir gritos e um bate-boca àmedida que se aproximava do que achavaser a masmorra. Ao chegar ao fim de umtúnel que dava para o que aparentementeera uma área de cadeia, percebeu que eraali aonde Bouchart tinha ido, pois era alique estava de novo, falando com umguarda. Eles estavam do outro lado deuma partição com barras, do lado de forade uma fileira de portas de celas.

Bem, pensou Altaïr, pelo menos tinhaencontrado a masmorra. Agachou-se forade vista em uma alcova no túnel. Comgritos agudos ao fundo, ouviu Bouchartperguntar:

— O que está havendo?— É a louca, senhor — respondeu o

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guarda, aumentando a voz para ser ouvidono meio do ruído. — Está agitada. Doisdos guardas estão feridos.

— Deixe que ela se divirta — disseBouchart sorrindo. — Ela já cumpriu seupropósito.

Mais uma vez, Altaïr descobriu que ocaminho entre ele e Bouchart estavabloqueado. Ele teria gostado muito de teracabado com aquilo ali, mesmo com oguarda presente: achava que podiadominar primeiro o homem, depois cuidarde Bouchart. Mas não era para ser. Emvez disso, foi forçado a observar,frustrado, enquanto Bouchart e o guarda seafastavam, deixando a área deserta. Saiudo esconderijo e foi até a partição,achando um portão trancado. Dedoshábeis agiram no mecanismo. Então

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atravessou e caminhou na direção da portada cela do Oráculo. O grito dela agora eramais alto e mais perturbador, e Altaïrengoliu em seco. Não tinha medo denenhum homem. Mas aquilo não era umhomem. Aquilo era algo completamentediferente. Ele se viu tendo de acalmar osnervos enquanto agia na segundafechadura. Quando a porta se abriu, com aqueixa aguda de dobradiças enferrujadas,o coração martelava.

A cela dela era ampla, do tamanho deum salão de banquete — um imenso salãode banquete sobre o qual pairava o mantoda morte e da decadência, com névoaondulante e o que pareciam ser pedaçosde folhagem entre as colunas, como se oexterior estivesse se intrometendo paraum dia reclamá-lo na totalidade.

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Quando seus olhos se acostumaram àstrevas, ele olhou para ela, mas nada viu,apenas ouviu seu guinchar infernal. Issofez com que os pelos dos braços seeriçassem e ele conteve um arrepioenquanto adentrava mais em sua... cela?

Aquilo era mais como um covil.De repente, silêncio. Seus sentidos

formigaram. Ele jogava a espada de umamão para a outra, enquanto os olhosvasculhavam o ambiente escuro, maliluminado.

— Sangue pagão — veio em uma voz...Uma voz em uma entoação monótonasaída diretamente de um pesadelo. Altaïrvirou-se na direção do som, mas elesurgiu novamente e pareceu ter se movido.— Eu sei seu nome, pecador — cacarejouela. — Eu sei por que está aqui. Deus guia

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minhas garras. Deus me concede forçapara quebrar seus ossos.

Altaïr só teve tempo para pensar,Garras? Teria ela realmente... Elaapareceu, rodopiando como um turbilhão,surgindo das trevas, cabelo negrochicoteando à sua volta, gritando ao semostrar. O que ela tinha não erampropriamente garras: eram unhas longas,afiadas — e igualmente mortais. Altaïr asouviu sibilar ao cortarem o ar diante deseu rosto. Ele pulou para trás. Então elarastejou como um felino, olhando para elee rosnando. Ele estava surpreso: tinhaesperado uma velha decrépita, mas aquelamulher... tinha expressão nobre. Claro.Era a mulher de quem Barnabé lhe falara,que vivera antes no castelo. Ela era joveme um dia fora atraente. Mas, o que quer

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que fosse que os Templários tivessemfeito a ela, o encarceramentoaparentemente a deixara louca. Soubedisso quando ela riu, não parecendo derepente tão nobre ao revelar fileiras dedentes podres e a língua que ameaçavasair da boca. Dando uma risadinha, elaatacou outra vez.

Eles lutaram, o Oráculo atacandocegamente, agitando as unhas, cortandoAltaïr várias vezes e arrancando sangue.Ele se mantinha à distância, avançandoapenas para desferir contra-ataques, atéfinalmente conseguir dominá-la e segurá-la contra uma coluna. Tentava contê-ladesesperadamente — queria conversar,convencê-la —, mas ela se debatia comoum animal selvagem, mesmo quando ele aempurrou para o chão e montou sobre seu

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corpo, segurando a lâmina em seupescoço enquanto ela se agitava comviolência, murmurando:

— Glória de Deus. Sou seuinstrumento. O carrasco de Deus. Nãotemo dor nem morte.

— Um dia você foi uma cipriota —disse-lhe Altaïr, lutando para contê-la. —Uma fidalga respeitada. Que segredosrevelou a esses demônios?

Saberia ela que, ajudando osTemplários, estaria traindo seu própriopovo? Teria ainda bom-senso suficientepara entender isso?

— Não sem objetivo eu lido na miséria— estridulou ela, ficando imóvel derepente. — Por ordem de Deus, eu sou seuinstrumento.

Não, pensou ele. Não tinha. Sua mente

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se fora.— O que quer que os Templários

tenham feito a você, milady, fizeramerrado — observou ele. — Desculpe-mepor isto.

Foi um ato de misericórdia. Ele amatou e depois foi embora daquele lugarterrível.

Mais tarde, de volta ao abrigo, abriu seudiário e escreveu:

Por que nossos instintos insistem na violência?Tenho estudado as interações entre diferentesespécies. O desejo inato de sobrevivênciaparece exigir a morte do outro. Por que elesnão conseguem se dar as mãos? Muitosacreditam que o mundo foi criado por meio daobra de um poder divino — mas vejo apenasos desígnios de um louco, propenso a celebrara morte, a destruição e o desespero.

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Refletiu também sobre a Maçã:

Quem eram Aqueles Que Vieram Antes? O queos trouxe aqui? O que os expulsou? O que sãoesses artefatos? Mensagens em uma garrafa?Ferramentas deixadas para trás para nosajudar e nos guiar? Ou lutamos pelo controleda sua recusa, dando um propósito e umsignificado divinos a pouco mais do quebrinquedos jogados fora?

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44

Altaïr decidiu seguir Shalim. Agoraambos caçavam Maria, e Altaïr queria tercerteza de estar por perto se ele aencontrasse primeiro.

Não que, no momento, Shalim estivesseprocurando com afinco. Markos dissera aAltaïr que tudo que Shalim tinha emcomum com o pai era o fato de que serviaaos Templários e tinha um temperamentoviolento. Em lugar do fervor religioso,tinha um gosto por vinho e apreciava acompanhia de prostitutas. Seguindo-o,Altaïr viu-o se dedicar aos dois. Manteveuma distância segura enquanto Shalim e

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dois de seus guarda-costas espreitavam asruas de Kyrenia como um trio depequenos déspotas, repreendendocidadãos e comerciantes raivosamente,abusando deles, tomando mercadorias edinheiro como preparativo para umavisita que fariam a algum lugar.

A um bordel, aparentemente. Altaïrobservou enquanto Shalim e os homens seaproximavam de uma porta onde umbêbado acariciava uma das meretrizeslocais. O homem era burro demais ouestava embriagado demais parareconhecer que Shalim estava de péssimohumor, pois ergueu seu cantil de couro emsaudação ao tirano, gritando: “Um brinde,Shalim.”

Shalim não interrompeu o passo.Enterrou a mão aberta na cara do bêbado,

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de modo que sua cabeça quicou na paredeatrás dele com o ruído de uma pancadasurda. O cantil de couro caiu e o homemdeslizou parede abaixo até sentar, acabeça balançando, o cabelo misturado asangue. Com o mesmo movimento, Shalimagarrou a prostituta pelo braço.

Ela resistiu.— Shalim, não. Por favor, não.Ele, porém, já a arrastava, olhando

atrás por cima do ombro e chamando osdois acompanhantes.

— Divirtam-se, homens. E tragamalgumas mulheres para mim, quandoacabarem.

Altaïr já vira o suficiente. Shalim nãoestava procurando Maria, isso era certo, eprovavelmente não a encontrariaseguindo-o aonde quer que fosse com sua

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prostituta: cama ou taberna, sem dúvida.Em vez disso, retornou ao distrito do

mercado, onde Markos caminhava semrumo por entre as barracas, com as mãosàs costas, esperando notícias de Altaïr.

— Preciso chegar perto de Shalim —disse a Markos quando voltaram para asombra, parecendo a todo mundo doisnegociantes passando algum tempo longedo sol quente.

— Se ele é tão estúpido quanto éinsolente, talvez eu consiga arrancaralguns segredos dele.

— Fale com um dos monges perto dacatedral. — Markos deu uma risadinha.— O estilo de vida caprichoso de Shalimexige confissões frequentes.

E foi na catedral que Altaïr encontrouum banco embaixo de um toldo pendente e

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sentou-se, observando o mundo passar,esperando até um solitário mongebeneditino passar por ele, inclinando acabeça em cumprimento. Altaïr retribuiu ogesto, depois disse em voz baixa para quesomente o monge conseguisse ouvir.

— Não o perturba, irmão, sofrer ospecados de um homem tão depravadoquanto Shalim?

O monge parou. Olhou para um lado edepois para o outro. Então para Altaïr.

— Sim, perturba — sussurrou —, masopor-se a ele significa morte. OsTemplários têm muita coisa em jogo aqui.

— Refere-se ao arquivo? — perguntouAltaïr. — Sabe me dizer onde ele está?

Altaïr tinha ouvido falar nesse arquivo.Talvez ele tivesse a chave para asatividades dos Templários. Mas o monge

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estava balançando a cabeça e seguindoadiante, quando, de repente, uma pequenaagitação irrompeu. Era Shalim, Altaïr viucom um sobressalto. Estava subindo paraum púlpito. Não estava mais com aprostituta e parecia muito menos bêbadodo que estivera antes.

— Homens e mulheres de Chipre —anunciou, enquanto a plateia se formava—, Armand Bouchart envia suas bênçãos,mas alertando duramente que todos quefomentarem a desordem com o apoio daResistência serão presos e castigados.Aqueles que buscarem a ordem e aharmonia e prestarem obediência aoSenhor, por meio do bom serviço, gozarãoda caridade de Bouchart. Agora, vamostrabalhar juntos, como irmãos, ereconstruir o que o ódio e a raiva

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destruíram.Isso foi muito estranho, pensou Altaïr.

Shalim parecia descansado erejuvenescido, e não como Altaïresperaria que ele aparecesse, tendo emvista as recentes atividades. AqueleShalim tivera todo o jeito de um homemque planejava passar o resto de seus diasna bebida e na promiscuidade. Este? Eraum homem diferente — não apenas naaparência, mas nos modos, na conduta e, ajulgar pelo conteúdo de seu discurso, emsua filosofia inteira. E, também, esteShalim não tinha consigo guarda-costas.Esse Shalim o Assassino conseguiriasuperar facilmente, talvez em um dosbecos da avenida principal de Kyrenia.

Quando Shalim desceu da plataforma epartiu, deixando a catedral atrás de si e

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caminhando pelas ruas douradas, Altaïrpassou a persegui-lo.

Não tinha certeza de quanto tempotinham andado, quando, de repente, ogigantesco Castelo de St. Hilarionapareceu diante deles e Altaïr viu queShalim se dirigia para seu interior. Semdúvida, ao chegar aos imensos portões docastelo, ele entrou por um postigo,sumindo de vista. Altaïr praguejou.Perdera seu alvo. Contudo, o castelo erauma colmeia em atividade e, naquelemomento, os portões se abriram, ambos oslados recuando para permitir a passagemde um palanquim carregado por quatrohomens. Estava claramente vazio — elesconseguiam se movimentar com rapidez—, e Altaïr os seguiu até o portosalpicado pelo sol, onde pousaram a

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carga e ficaram à espera, com os braçoscruzados.

Altaïr também esperou. Sentou-se emuma mureta do porto e, com os cotovelossobre os joelhos, observou o palanquim eos criados à espera, os mercadores, ospescadores, os belos navios sacudindodelicadamente no marulho, os cascosbatendo contra o muro do porto. Um grupode pescadores lutando com uma enormerede parou de súbito, então ele olhouadiante para um dos navios e sorriu.Altaïr seguiu o olhar deles e viu umgrande número de mulheres surgirem, deseda e chiffon de cortesãs, e seguiremcaminho para o porto com passosdelicados. Os pescadores olharammaliciosamente e algumas lavadeirasfizeram um ar de desaprovação quando

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elas atravessaram as docas, com ascabeças erguidas, sabendo exatamente aatenção que atraíam. Altaïr as observou.

Entre elas, estava Maria.Estava vestida como cortesã. Seu

coração levitou ao vê-la. Mas o que elaestava fazendo? Escapara das garras deShalim só para voltar para o perigo, ouera o que parecia. Ela e as outrasmulheres subiram a bordo do palanquim.Os criados esperaram que todasembarcassem, depois o ergueram evoltaram com ele, carregando-o muitomais lentamente do que antes, cadahomem curvado sob o peso, saindo doporto e, se Altaïr estava certo, em direçãoao Castelo de St. Hilarion, onde, semdúvida, Shalim já esfregava as mãos dealegria.

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Altaïr virou-se para seguir, escalando aparede de um prédio próximo, depoisseguindo caminho pelos telhados, saltandode um para o outro, pelo rastro do veículoque ia abaixo dele. Ao se aproximar doportão do castelo, ele esperou, agachado.Então, calculando a sincronia do salto,caiu em cima do telhado do palanquim.

Tump.O palanquim balançou quando os

homens embaixo se adaptaram ao novopeso. Altaïr havia arriscado o fato de elesserem tão tiranizados a ponto de sequerolharem para cima — e acertara.Simplesmente ombrearam o peso extra eseguiram em frente. E, se as cortesãs nointerior haviam notado, também nãodisseram nada, e a procissão atravessouem segurança o limiar do castelo e foi até

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um pátio. Altaïr olhou em volta, avistandoarqueiros nos bastiões. A qualquermomento ele seria notado. Saltou e seescondeu atrás de uma mureta,observando quando Maria foi tirada dotransporte e levada por uma escolta,deixando o pátio por uma portinhola.

Ele escalou o telhado acima de umadependência externa. Teria de dar umalonga volta para poder entrar. Mas de umacoisa ele sabia. Agora que a encontraranão ia perdê-la novamente.

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45

Maria foi conduzida a uma ampla eescaldante sacada para conhecer oproprietário do Castelo de St. Hilarion.Um deles, pelo menos. Sem que Altaïrsoubesse, Shalim tinha um irmão gêmeo,Shahar. Havia sido Shahar quem Altaïrtinha visto pronunciando o discurso sobrecaridade, fato que teria respondido àpergunta do Assassino sobre como umhomem que passara a noite bebendo e comprostitutas podia parecer tão revigoradono dia seguinte.

Maria, por outro lado, conhecia ambose, embora fossem idênticos, sabia como

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diferenciá-los. Dos dois, Shalim tinhaolhos escuros e ostentava a aparência deum homem com seu estilo de vida; Shaharparecia o mais jovem dos dois. Agora eradele de quem ela se aproximava. Elevirou para vê-la e se iluminou, sorrindo,enquanto ela atravessava a sacada em suadireção, resplandecente na roupa decortesã, suficientemente cativante paraatrair o olhar de um homem.

— Não esperava vê-la de novo. —Olhou-a maliciosamente. — Em queposso ajudá-la, raposinha?

Ele passou por ela de volta à sala.— Não estou aqui para ser elogiada —

disparou Maria, apesar das aparênciasdizerem o contrário. — Quero respostas.

Ela o seguiu e, quando chegaram à sala,ele a olhou, desnorteado mas lascivo.

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Maria ignorou seu olhar. Precisava ouvirpessoalmente o que Altaïr havia lhecontado.

— Ah? — disse Shahar.— É verdade o que ouvi dizer —

insistiu ela —, que os Templários queremusar a Maçã, o Pedaço do Éden, para omal? Não para instruir as pessoas, maspara subjugá-las?

Ele sorriu com indulgência, como setivesse que explicar as coisas para umacriança adorável, mas ignorante.

— As pessoas estão confusas, Maria.São cordeiros implorando para seremguiados. E é isso que oferecemos: umavida simples, livre de preocupações.

— Mas a nossa Ordem foi criada paraproteger as pessoas — persistiu —, e nãopara roubá-las de sua liberdade.

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Shahar torceu o lábio.— Os Templários não se importam com

liberdade, Maria. Nós buscamos ordem,nada mais.

Ele caminhava em sua direção. Ela deuum passo para trás.

— Ordem? Ou escravidão?A voz de Shahar adotara um tom mais

sombrio quando respondeu:— Pode chamar como quiser, minha

cara...Ele a alcançou, e suas intenções —

suas óbvias intenções — foraminterrompidas por Altaïr, que surgiu nasala. Shahar girou, exclamando,“Assassino!”. Agarrou Maria pelosombros e jogou-a no chão; ela caiudolorosamente. Altaïr decidiu fazer ovalentão pagar por aquilo.

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— Minhas desculpas, Shalim, pelaintromissão — disse ele.

Shahar sorriu.— Ah, está procurando Shalim? Tenho

certeza de que meu irmão ficaria feliz emse juntar a nós.

De cima, veio um ruído; Altaïr ergueu avista para uma galeria por onde Shalim seaproximava, sorrindo. Então dois guardasentraram pela porta aberta, prontos parase lançar sobre Maria, que, estando agorade pé, rodopiou, tirou a espada da bainhade um dos guardas e usou-a contra ele.

O sujeito gritou e caiu no instante emque ela girou e, apoiando-se em um dosjoelhos, golpeou outra vez, livrando-se dooutro. No mesmo instante, Shalim saltouda galeria, parando no meio da sala,próximo ao irmão. Altaïr teve alguns

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segundos para vê-los lado a lado, e ficouimpressionado com como os dois separeciam. A seu lado estava Maria, com arecém-adquirida espada pingando sanguee os ombros se movimentando, os doiscontra os gêmeos. Altaïr sentiu o peito seencher de algo que era parte orgulho eparte uma coisa à qual ele preferia nãodar nome.

— Dois deles — disse ele —, e nósdois.

Mais uma vez, porém, Maria causouuma surpresa. Em vez de lutar a seu lado,ela simplesmente produziu um som dedesprezo e se arremessou pela portadeixada aberta pelos guardas. Altaïr teveum ou dois instantes para pensar se deviasegui-la, mas os gêmeos o atacaram e eleestava lutando pela vida contra dois

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habilidosos espadachins.A luta foi demorada e brutal, e os

gêmeos começaram com confiança, certosde que logo derrubariam o Assassino.Afinal, havia dois deles e ambos eramexperientes com uma espada; estavamcertos de que o cansariam. Altaïr, porém,lutava com um excesso de raiva e defrustração. Não sabia mais quem eraamigo e quem era inimigo. Fora traído —homens que supostamente eram amigoshaviam se revelado inimigos. Aqueles queachava que poderiam se tornar amigos —ou mais do que amigos — tinhamrejeitado a mão de amizade que lhesoferecera. Ele sabia apenas que combatiauma guerra na qual havia mais coisas emjogo do que ele imaginava, envolvendopoderes e ideologias que ainda precisaria

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compreender. Tinha de continuar lutando,manter-se em combate, até chegar ao fim.

E, quando os corpos abatidos dosgêmeos finalmente jaziam a seus pés e eleviu os braços e as pernas dos mortos emângulos errados, torcidos, os olhosarregalados, Altaïr não sentiu qualquerprazer ou gratificação com a vitória.Simplesmente sacudiu fora o sangue daespada, enfiou-a na bainha e seguiu para asacada. Atrás de si, ouviu mais guardaschegando quando subiu na balaustradacom os braços estendidos. Abaixo dele,havia uma carroça, e pulou dentro dela,desaparecendo na cidade.

Mais tarde, quando voltou ao abrigo,Markos estava lá para recebê-lo, ansiosopara ouvir a história do falecimento dosirmãos. Em volta deles, membros da

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Resistência se abraçavam, felizes com anotícia. Finalmente a Resistência poderiarecuperar o controle de Kyrenia. E, seconseguisse, era certo que haveriaesperança para toda a ilha.

Markos, radiante, lhe disse:— Está acontecendo, Altaïr. Os portos

estão se esvaziando de navios dosTemplários. Kyrenia será livre. Talveztoda a região de Chipre.

Altaïr sorriu, incentivado pela alegrianos olhos de Markos.

— Sejam cautelosos — aconselhou.Lembrou-se de que não estava nem

perto de descobrir a localização doarquivo. A partida dos Templários lhedizia alguma coisa.

— Eles não deixariam seu arquivodesprotegido — supôs —, portanto não

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está aqui.Markos pensou.— A maioria dos navios que partiram

daqui voltou para Limassol. Poderia estarlá?

Altaïr concordou com a cabeça.— Obrigado, Markos. Você tem

servido muito bem ao país.— Vá com Deus, Altaïr.Mais tarde, o Assassino foi até um

navio que o levaria a Limassol. Ali,esperava desemaranhar o mistério dasintenções dos Templários e arrancar averdade sobre Alexander.

Meditou sobre isso durante a travessia,escrevendo em seu diário:

Lembro-me do meu momento de fraqueza, daminha confiança abalada pelas palavras de AlMualim. Ele, que fora como um pai, revelou-se

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ser meu maior inimigo. Apenas a mais brevecentelha de dúvida foi tudo o que ele precisoupara entrar de forma sorrateira em minhamente com aquele dispositivo. Mas conquisteiseus fantasmas, recuperei minhaautoconfiança e o mandei embora destemundo.

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Limassol continuava igual a quando ele adeixara, repleta de cavaleiros e soldadostemplários, um povo ressentidocomportando-se como normal, com umdescontentamento em seus rostos,enquanto continuavam levando a vida.

Sem perda de tempo, Altaïr localizou onovo abrigo da Resistência, um armazémabandonado, e entrou, determinado aconfrontar Alexander com o que tinhadescoberto na conversa que ouvira entreBouchart e Shalim. Mas, ao entrar noprédio, foi Alexander quem reagiu a ele.

— Para trás, traidor. Você traiu a

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Resistência e vendeu a nossa causa.Esteve agindo esse tempo todo comBouchart?

Altaïr estava preparado para oconfronto com Alexander, talvez atémesmo para enfrentá-lo em um combate,mas a visão do membro da Resistência emtal estado o acalmou, fez com quepensasse que havia interpretado mal o quevira. Mesmo assim, permaneceucauteloso.

— Eu ia perguntar o mesmo de você,Alexander. Ouvi Bouchart pronunciar seunome. Ele lhe entregou um pacote, nãofoi?

Semicerrando os olhos, Alexanderassentiu. A mobília no abrigo era escassa,mas havia uma mesa próxima e, sobre ela,um pequeno saco que Altaïr vira Bouchart

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entregar a Shalim em Kyrenia.— Sim — confirmou Alexander —, a

cabeça do pobre Barnabé em um saco dejuta.

Altaïr aproximou-se da coisa. Puxou ocordão que fechava o saco, o material dointerior caiu e revelou ser uma cabeçadecapitada, mas...

— Não foi esse o homem que seencontrou comigo em Kyrenia —contestou Altaïr, olhando tristemente paraa cabeça cortada. Esta começara adescolorir e exalar um cheiro forte,desagradável. Os olhos estavamsemicerrados, a boca pendendoligeiramente aberta, a língua visível nointerior.

— O quê? — surpreendeu-seAlexander.

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— O verdadeiro Barnabé tinha sidoassassinado antes de eu chegar esubstituído por um agente templário quecausou muito dano antes de desaparecer— explicou Altaïr.

— Que Deus nos ajude. Os Templáriostambém foram igualmente brutais aqui,com capitães percorrendo o mercado, osportos e a praça da Catedral, prendendotodos que consideravam convenientes.

— Não se desespere — disse Altaïr.— Kyrenia já se livrou dos Templários.Nós os expulsaremos também deLimassol.

— Você precisa tomar cuidado. Apropaganda templária virou alguns dosmeus homens contra você, e muitos outrosestão desconfiados.

— Obrigado pelo aviso.

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Altaïr conduziu uma busca infrutíferapela cidade atrás de Bouchart, mas,quando voltou para compartilhar comAlexander a má notícia, encontrou oabrigo vazio, exceto por um bilhete.Estava sobre a mesa e ele o apanhou.Alexander queria encontrá-lo no castelo.Pelo menos era o que dizia o bilhete.

Ele pensou. Já tinha visto a letra deAlexander? Acreditava que não. Dequalquer modo, o homem do Bureaupoderia tê-lo coagido a escrever obilhete.

Ao seguir para o lugar do encontro,todos os seus instintos lhe diziam quepodia ser uma armadilha, e foi com ocoração apertado que encontrou um corpono pátio onde eles deveriam se encontrar.

Não, pensou.

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Imediatamente, olhou em volta. Osbastiões que cercavam o pátio estavamdesertos. Aliás, a área toda estava maisquieta do que ele esperava. Ajoelhou-seao lado do corpo, seus temoresconcretizados quando o virou e viu osolhos sem vida de Alexander olhando-ode volta.

Então, de cima, veio uma voz, e ele selevantou, girando para avistar uma figuranos bastiões que davam vista para o pátio.Com a visão ofuscada pelo sol, eleprotegeu os olhos com a mão, ainda semconseguir distinguir o rosto do homem queestava parado lá. Seria Bouchart?Independentemente de quem fosse, usava acruz vermelha dos Cruzados e se mantinhade pé com as pernas ligeiramenteafastadas e as mãos nos quadris; cada

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centímetro seu era como o de um heróiconquistador.

O cavaleiro apontou para o cadáver deAlexander. Sua voz era irônica.

— Um amigo seu?Altaïr esperava em breve fazê-lo pagar

pelo escárnio. Agora o homem mudavaligeiramente de posição e Altaïrfinalmente conseguiu vê-lo com clareza.Era o espião. O tal que em Kyreniadissera se chamar Barnabé — que eraresponsável por ter matado o verdadeiroBarnabé. Outro homem bom morto. Altaïresperava fazer com que ele pagasse porisso também. Seus punhos se fecharam eos músculos das mandíbulas saltaram. Porenquanto, porém, o espião o mantinha emdesvantagem.

— Você — gritou ele acima. — Não

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sei o seu nome.— O que foi que eu lhe disse em

Kyrenia? — perguntou com uma risadinhao cavaleiro... O espião. — Barnabé, nãofoi?

De repente, uma forte gritaria começou;Altaïr se virou e viu um grupo decidadãos entrar no pátio. Fora enganado.O espião havia espalhado mentiras contraele. Agora Altaïr estava levando a culpapelo assassinato de Alexander, e amultidão fora conduzida para chegar nomomento exato. Era uma armadilha e eletinha caído direitinho, apesar do instintoter dito a ele que fosse cauteloso.

Novamente, praguejou contra si mesmo.Olhou em volta. As paredes de arenitoassomavam sobre ele. Uma série depassos o levaria até os bastiões, mas, lá

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no topo, havia o espião, rindo de orelha aorelha, desfrutando o espetáculo queestava para começar de fato à medida queos cidadãos iam depressa em direção aAltaïr, enraivecidos, com umanecessidade de vingança e de justiçaardendo nos olhos.

— Eis o traidor!— Amarrem-no!— Você pagará pelos seus crimes!Altaïr manteve-se parado. O primeiro

impulso foi puxar a espada, mas não: nãopoderia matar nenhum cidadão. Fazer issodestruiria qualquer confiança quetivessem na Resistência ou nosAssassinos. Tudo que podia fazer eradeclarar sua inocência. Mas não dariapara argumentar com aquelas pessoas.Procurou desesperadamente uma resposta.

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E a encontrou.A Maçã.Foi como se ela o chamasse. De

repente, ele ficou ciente da presença delana mochila às suas costas, então tirou-a ea manteve de frente para a multidão.

Não fazia ideia do que tentava fazercom aquilo e não tinha certeza do queaconteceria. Sentiu que a Maçã entenderiasua intenção. Mas era apenas umasensação. Uma percepção. Um instinto.

E ela entendeu. Pulsou e brilhou emsuas mãos. Emitiu uma estranha luztransparente que pareceu se instalar emvolta da multidão, imediatamentepacificada, congelada no mesmo lugar.Altaïr viu o espião templário recuar,chocado. Sentiu-se todo-poderoso por uminstante, e, naquele momento, reconheceu

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não apenas a sedutora fascinação da Maçãe a força divina que conferia, mas oterrível perigo que ela continha — nasmãos daqueles que a usariam para o mal,é claro, mas também com ele. Até mesmoAltaïr não era imune à sua tentação. Usou-a naquele momento, mas prometeu a simesmo que jamais voltaria a usá-la, pelomenos não por motivos como aquele.

Então dirigiu-se à multidão.— Armand Bouchart é o homem

responsável pela miséria de vocês —exclamou. — Ele contratou esse homempara envenenar a Resistência contra simesma. Vão embora daqui e reúnam seushomens. Chipre será novamente de vocês.

Por mais ou menos um momento, eleimaginou se aquilo tinha ou nãofuncionado. Quando baixasse a Maçã, a

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multidão furiosa simplesmente retomariao linchamento? Mas ele a baixou, e amultidão não o atacou. As palavrasfizeram com que as pessoas mudassem deopinião. As palavras as tinhamconvencido. Sem mais cerimônia, elasviraram e saíram do pátio, deixando-o tãorapidamente quanto tinham chegado, masdominadas, até mesmo arrependidas.

Mais uma vez, o pátio estava vazio e,durante alguns segundos, Altaïr olhou aMaçã em sua mão, observou-a esmorecer,sentindo admiração por ela, com medodela, atraído por ela. Então guardou-a emsegurança, no momento em que o espiãocomentou:

— Um brinquedo e tanto esse que temaí. Você se importaria em emprestá-lo?

Altaïr tinha certeza de uma coisa: o

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Templário teria de tirar a Maçã de seucadáver. Sacou a espada, pronto para ocombate, enquanto o Templário sorria,antecipando a luta adiante, prestes adescer do bastião, quando...

Parou.E o sorriso escorreu de seu rosto como

óleo derramado.Uma lâmina salientava-se de seu peito.

O sangue brotou da túnica branca,misturando-se com o vermelho da cruzque ele usava. Olhou abaixo para simesmo, confuso, como se perguntando deque modo a arma tinha chegado ali.Abaixo dele, no pátio, Altaïr seperguntava a mesma coisa. Então oTemplário oscilou e Altaïr viu uma figuraatrás dele. Uma figura que reconheceu:Maria.

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Ela sorriu, empurrou o espião adiantepara o muro do pátio e deixou que caíssepesadamente no chão lá embaixo. Paradaali, com a espada pingando sangue, elasorriu para Altaïr, sacudiu-a, depoisrecolocou-a na bainha.

— Então — disse ela —, você tinha aMaçã o tempo todo.

Ele confirmou com a cabeça.— E agora você viu que tipo de arma

poderia se tornar em mãos erradas.— Não sei se chamaria suas mãos de

certas.— Não. Tem razão. Vou destruí-la...

Ou escondê-la. Até poder encontrar oarquivo, não sei dizer.

— Bem, não procure mais — declarouela. — Você está parado sobre ele.

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47

Nesse instante, houve um grito alto na viade acesso ao pátio e um grupo desoldados dos Templários entrou correndo,com olhos perigosos brilhando atrás dosvisores das armaduras.

Lá de cima, Maria chamou:— Por aqui... depressa!Ela se virou e disparou pelos bastiões

até uma porta. Altaïr estava para segui-laquando os três homens o atacaram, e elepraguejou, enfrentando-os com um repicarde aço, perdendo Maria de vista outravez.

Eles eram habilidosos e haviam

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treinado muito — tinham músculos nopescoço para provar —, mas mesmo trêscavaleiros não eram páreo para oAssassino, que dançou agilmente em voltadeles até os três caírem mortos a seus pés.

Olhou para cima. Os bastiões estavamvazios. Havia apenas o corpo do espiãotemplário no topo dos degraus e nenhumsinal de Maria. Subiu os degraus aospulos, parando um instante para olharabaixo para o morto. Se o serviço de umagente era causar um racha no inimigo,então esse fizera bem seu trabalho; quaselevara as pessoas a se voltarem contra aResistência, entregando-as nas mãos dosTemplários — que não planejavaminstruí-las, mas subjugá-las e controlá-las.

Altaïr correu, chegando à porta naextremidade. Aquela, então, era a entrada

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para o prédio que abrigava o arquivo.Entrou.

A porta se fechou ruidosamente às suascostas. Ele se viu em uma passagem quecorria ao longo da parede de um poçocavernoso que levava para baixo. Tochaspenduradas forneciam uma escassailuminação, lançando sombras dançantesnas cruzes templárias que decoravam asparedes. Havia silêncio.

Mas, nem tanto.Vindos de algum lugar distante lá

embaixo, ele podia ouvir gritos. Guardas,talvez, alertados da presença de... Maria?Um espírito livre como o dela jamaispoderia aderir a ideologias templárias.Ela agora era uma traidora. Havia agidoao modo dos Assassinos: matara umTemplário e mostrara a um Assassino a

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localização do arquivo. Eles a matariamno ato. Embora, é claro, pelo que ele viradela em um combate, isso fosse mais fácilde dizer do que de fazer.

Ele começou a descer, seguindo pelosdegraus escuros, ocasionalmente saltandosobre brechas na obra de pedra talhadacaindo aos pedaços, até atingir umacâmara com chão arenoso. Chegando paraencontrá-lo havia três guardas, e elelivrou-se do primeiro com uma facaarremessada de imediato, driblou osegundo e enfiou a espada no pescoço dohomem. Jogou o corpo sobre o terceiro,que caiu, e, quando os dois atingiram ochão, Altaïr acabou com eles.Investigando mais profundamente, ouviuágua corrente e se descobriu sobre umaponte que passava entre duas quedas-

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d’água. O som foi suficiente para abafar oruído de sua chegada dos dois guardas naextremidade oposta da ponte. Despachou-os com dois golpes de espada.

Deixou-os para trás, continuando adescer até o interior da... biblioteca.Agora ele viu estantes de livros, salasrepletas delas. Era isso. Ele estava lá.Não tinha certeza do que esperava, mashavia menos livros e artefatos do queimaginara. Isso comporia o famosoarquivo de que ouvira falar?

Mas não tinha tempo para parar einspecionar a descoberta. Conseguia ouvirvozes, o som percussivo de espadas sechocando: dois combatentes, um dos quaisera inconfundivelmente feminino.

Adiante, um enorme arco estavadecorado em seu ponto mais alto com a

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cruz templária. Passou por ele e entrou emuma ampla câmara, com uma áreacerimonial no centro circundada por umemaranhado de colunas de pedra. Ali nomeio estavam Bouchart e Maria, lutando.Ela estava contendo o Templário, masapenas por pouco tempo, pois, quandoAltaïr entrou na câmara, ele a golpeou eela caiu sobre o chão de pedra, berrandode dor.

Bouchart deu-lhe um olhar indiferente,já se virando para encarar Altaïr, que nãofizera nenhum som ao entrar na câmara.

— O insensato imperador Comneno —anunciou o Templário, desdenhando doantigo líder cipriota — era um idiota, masera o nosso idiota. Por quase uma década,atuamos sem interferência nesta ilha.Nosso arquivo era o segredo mais bem

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guardado de Chipre. Infelizmente, mesmoos planos mais bem-feitos não foramimunes à idiotice de Isaac.

Por quase uma década, pensou Altaïr.Mas então... Ele deu um passo à frente,olhando de Bouchart para Maria.

— Ele irritou o rei Ricardo e trouxe oinglês perigosamente para perto demais. Éisso?

Como Bouchart não fez qualquermovimento para detê-lo, Altaïr atravessoua área e curvou-se sobre Maria. Ergueuseu rosto, procurando sinais de vida.

Bouchart falava, desfrutando o som desua própria voz.

— Felizmente, convencemos Ricardo anos vender a ilha. Foi a única maneira dedesviar sua atenção.

Os olhos dela tremularam. Gemeu.

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Viva. Suspirando aliviado, Altaïr pousoudelicadamente a cabeça dela sobre apedra e levantou-se para enfrentarBouchart, que o estivera observando comum sorriso indulgente.

— Compraram o que já controlavam...— rebateu Altaïr. Ele agora entendia. OsTemplários haviam comprado Chipre dorei Ricardo para evitar que o arquivodeles fosse descoberto. Não admirava quetivessem sido tão agressivos em persegui-lo assim que chegou à ilha.

Bouchart confirmou que ele estavacerto.

— E olhe aonde isso nos trouxe. Desdequando você chegou e enfiou o nariz emmuitos cantos escuros, o arquivo nãoestava em segurança.

— Gostaria de dizer que sinto muito.

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Mas sou inclinado a obter o que quero —rebateu Altaïr, parecendo confiante, massabendo que algo não estava muito certo.

Sem dúvida, Bouchart estava sorrindo.— Ora, não será desta vez, Assassino.

Não agora. Nosso pequeno desvio paraKyrenia nos deu tempo suficiente paradesmontar o arquivo e transferi-lo.

Claro. Não era o arquivo escasso queele vira na descida. Eram os restosindesejáveis de um arquivo. Eles ohaviam despistado com os assuntos emKyrenia e usaram a oportunidade paratransferi-lo.

— Vocês não estavam embarcandoartefatos para Chipre, mas tirando-osdaqui — concluiu Altaïr, quando tudo setornou claro.

— Exatamente — concordou Bouchart,

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com um cumprimento de cabeça. — Masnem tudo teve de ir... Creio quedeixaremos você aqui.

Bouchart saltou à frente, dando umgolpe com a espada, e Altaïr o desviou. OTemplário estava disposto e aparavagolpes, sustentando seu ataque, e Altaïrfoi forçado a recuar o pé de apoio,defendendo uma série de investidas egolpes cortantes. Bouchart era habilidoso,isso era certo. Também era veloz,confiando mais na graça e no trabalho dospés do que na força bruta que a maioriados Cruzados usava em uma luta deespadas. Mas esperava vencer, e vencerrapidamente. Seu desespero em conquistaro Assassino levava-o a esquecer asexigências físicas da luta, de modo queAltaïr se defendia, deixando-o se

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aproximar, e absorvia os ataques e, de vezem quando, fazia seus própriosmovimentos ofensivos, abrindoferimentos. Um corte aqui, um arranhãoali. O sangue começou a escorrer porbaixo da cota de malha de Bouchart, quependia pesadamente em seu corpo.

Enquanto combatia, Altaïr pensou emMaria e naqueles que morreram porordem dos Templários, mas deteve essasmemórias, transformando-as em desejo devingança. Em vez disso, deixou que elaslhe dessem determinação. O sorrisosumira do rosto de Bouchart e, enquantoAltaïr permanecia em silêncio, o Grão-Mestre Templário grunhia de exaustão —e de frustração. Os movimentos de suaespada eram menos coordenados efracassavam em encontrar seu alvo. Suor

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e sangue brotavam dele. Seus dentesestavam expostos.

Altaïr abriu mais ferimentos, cortando-o na testa, de modo que o sangue corriapara seus olhos e ele passava a manoplapelo rosto para limpá-lo. Agora Bouchartmal conseguia levantar a espada; o corpoestava curvado, as pernas bêbadas e osombros pesados enquanto lutava paratomar fôlego, apertando os olhos atravésde uma máscara de sangue para encontraro Assassino, enxergando apenas sombrase formas. Ele agora era um homemderrotado. O que significava que era umhomem morto.

Altaïr não brincou com ele. Esperou aténão haver mais perigo. Até ter certeza deque a fraqueza de Bouchart não erafingida.

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Então avançou para cima dele.Bouchart caiu no chão e Altaïr

ajoelhou-se a seu lado. O Templário oolhou, e Altaïr viu respeito em seus olhos.

— Ah. Você é uma... uma honra para oseu Credo — ofegou Bouchart.

— E você se desviou do seu.— Não me desviei... Eu o expandi. O

mundo é mais complicado do que amaioria ousa admitir. E se você,Assassino... Se você souber mais do quecomo matar, talvez entenda isso.

Altaïr franziu a testa.— Guarde para si mesmo seu discurso

sobre virtude. E morra sabendo que eununca deixarei a Maçã, o Pedaço do Éden,cair em outras mãos além das minhas.

Ao dizer isso, ele sentiu um calor nascostas, como se ela tivesse despertado.

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Bouchart sorriu ironicamente.— Mantenha-a próxima, Altaïr.

Chegará à mesma conclusão que nós... nodevido tempo...

E morreu. Altaïr estendeu a mão parafechar os olhos de Bouchart no momentoem que o prédio sacudiu e ele foi atingidopor uma chuva de escombros. Disparo decanhão. Os Templários estavambombardeando o arquivo. Isso fazia todoo sentido. Não queriam deixar nada paratrás.

Ele se arrastou até Maria e colocou-ade pé. Por um momento, trocaram olhares,e algum sentimento velado passou entreeles. Em seguida ela puxou o braço dele eo conduziu para fora da enorme câmara nomomento em que foi sacudida por maisdisparos de canhão. Altaïr virou-se a

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tempo de ver duas das belas colunas seespatifarem e caírem, grandes alas depedra se despedaçando no chão. Então elepassou a seguir Maria enquanto ela corria,saltando dois degraus por vez enquantosubiam de volta pelo poço do arquivodestruído. Este foi abalado por outraexplosão, e alvenaria desabou sobre apassagem, mas eles continuaram correndo,mantendo a cabeça abaixada atéalcançarem a saída.

Os degraus tinham sido destruídos eAltaïr os escalou, arrastando Maria atrásde si até uma plataforma. Forçaram ocaminho adiante até saírem para a luz dodia, enquanto o bombardeio prosseguia eo prédio parecia desabar, forçando-os asaltar para a segurança. E alipermaneceram por algum tempo,

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respirando ar puro, contentes por estaremvivos.

* * *

Mais tarde, quando os navios dosTemplários tinham partido, levando comeles o restante do precioso arquivo, Altaïre Maria caminhavam sob a luz esmaecidano porto de Limassol, ambos perdidos empensamentos.

— Tudo pelo que trabalhei na TerraSanta, não quero mais — disse Maria,após uma longa pausa. — E tudo de queabri mão para me juntar aos Templários...Fico imaginando aonde foi tudo isso, e sedevo tentar encontrar novamente.

— Vai voltar para a Inglaterra? —perguntou Altaïr.

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— Não... Já estou muito longe de casa,continuarei para leste. Para a Índia,talvez. Ou até cair pela beira maisdistante da Terra... E você?

Altaïr pensou, desfrutando aproximidade entre eles.

— Por um longo tempo, sob as ordensde Al Mualim, pensei que minha vidativesse atingido o limite, e que meu únicodever era mostrar aos outros o mesmoprecipício que eu havia descoberto.

— Já senti a mesma coisa— concordouela.

Ele tirou a Maçã da mochila e ficousegurando-a para examiná-la.

— Por mais terrível que este artefatoseja, ele contém maravilhas... Gostaria deentendê-lo da melhor maneira possível.

— Você caminha sobre uma linha

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tênue, Altaïr.Ele assentiu lentamente.— Eu sei. Mas fui estragado pela

curiosidade, Maria. Quero conhecer asmelhores mentes, explorar as bibliotecasdo mundo, e aprender todos os segredosda natureza e do universo.

— Tudo em uma única existência? Éum pouco ambicioso...

Ele deu uma risadinha.— Quem pode dizer? Pode ser que

apenas uma vida seja o bastante.— Talvez. E aonde você irá primeiro?Olhou para ela, sorrindo, sabendo

apenas que a queria pelo resto de suajornada.

— Leste... — disse ele.

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P A R T E Q U A T R O

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48

15 de julho de 1257

Maffeo tem o hábito de às vezes me olharde modo estranho. É como se eleacreditasse que não estou dando a eletodas as informações necessárias. E temfeito isso várias vezes durante nossassessões de narração de história. Querobservando o mundo passar nomovimentado mercado de Masyaf, querdesfrutando as correntes de ar fresco nascatacumbas embaixo da cidadela oucaminhando ao longo dos bastiões, vendoos pássaros rodar e mergulhar nos vales,

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de vez em quando ele me olha como sedissesse: “O que você não está mecontando, Niccolò?”

Bem, a resposta, claro, é nada,independente da minha constante suspeitade que a história finalmente vai nosenvolver de alguma maneira, que estousendo informado sobre essas coisas poralgum motivo. Isso envolveria a Maçã?Ou talvez os diários dele? Ou o códex, olivro no qual ele concentrou suasdescobertas mais significativas?

Mesmo assim, Maffeo me fixa com oOlhar.

— E?— E o quê, irmão?— Altaïr e Maria foram para leste?— Maffeo, Maria é a mãe de Darim, o

cavalheiro que nos convidou para vir

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aqui.Observei Maffeo virar a cabeça para o

sol e fechar os olhos, deixando que eleesquentasse seu rosto enquanto absorviaessa informação. Tenho certeza de quetentava conciliar a imagem do Darim queconhecíamos, um homem na casa dos 60anos com o rosto gasto pela exposição aotempo para provar isso, com alguém queteve uma mãe — uma mãe como Maria.

Deixei-o refletir, sorrindoindulgentemente. Do mesmo modo comoMaffeo me importunava com perguntasdurante a história, é claro que euimportunara o Mestre, se bem que commuito mais deferência.

— Onde está a Maçã agora? — euperguntara a ele certa vez.

Para ser honesto, eu secretamente

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esperara que em algum momento ele aexibiria. Afinal, ele falara nela comtermos muito reverenciosos, mesmo àsvezes parecendo amedrontado.Naturalmente, eu esperara vê-la. Talvezpara entender seu fascínio.

O triste foi que isso não aconteceu. Elerecebeu minha pergunta com uma série deruídos impacientes. Eu não deveria meocupar com pensamentos sobre a Maçã,ele alertara, mexendo o dedo. Em vezdisso, deveria me ocupar com o códex.Pois naquelas páginas estavam o segredoda Maçã, disse ele, mas livres dos efeitosmaléficos do artefato.

O códex. Sim, eu decidira, era o códexque se revelaria significativo no futuro.Significativo até mesmo no meu futuro.

Mas, de qualquer forma: de volta aqui e

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agora, observei Maffeo meditar sobre ofato de que Darim era filho de Altaïr eMaria; que, após o início adverso,primeiro havia surgido respeito entre adupla, depois atração, amizade, amor e...

— Casamento? — completou Maffeo?— Ela e Altaïr se casaram?

— Certamente. Uns dois anos após osacontecimentos que descrevi, eles secasaram em Limassol. A cerimônia foirealizada lá com certo grau de respeitoaos cipriotas que haviam oferecido a ilhacomo base para os Assassinos, tornando-auma fortaleza-chave para a Ordem.Acredito que Markos foi um convidado dehonra, e um brinde, de certo modoirônico, foi feito aos piratas, os quais,inadvertidamente, tinham sidoresponsáveis por apresentá-lo a Altaïr e

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Maria. Logo após a cerimônia, oAssassino e sua esposa voltaram paraMasyaf, onde nasceu Darim, o filho deles.

— O único filho?— Não. Dois anos após o nascimento

de Darim, Maria deu à luz outro, Sef,irmão de Darim.

— E o que foi feito dele, irmão?— Tudo a seu tempo, irmão. Tudo a seu

tempo. Por enquanto, basta dizer que esserepresentou principalmente um períodopacífico e frutífero para o Mestre. Ele falapouco nisso, como se fosse preciosodemais para trazer à luz, mas grande parteestá registrada no códex. O tempo todo,ele estava fazendo novas descobertas erecebendo novas revelações.

— Tais como?— Ele as registrou em seus diários. Ali

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você pode ver não apenas compostos paranovos venenos Assassinos, mas tambémpara remédios. Descrições de conquistasainda por vir e catástrofes ainda poracontecer; projetos para armaduras e paranovas lâminas ocultas, inclusive uma quedispara projéteis. Ele meditou sobre anatureza da fé e sobre os primórdios dahumanidade, forjada no caos, a ordemimposta não por um ser supremo, maspelo homem.

Maffeo pareceu chocado.— “Forjada no caos, a ordem imposta

não por um ser supremo...”— As questões Assassinas sempre

tratavam da fé — falei, não sem um traçode pomposidade. — Mesmo a deleprópria.

— Como assim?

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— Bem, o Mestre escreveu sobre ascontradições e as ironias dos Assassinos.Como buscam a paz, mas usam a violênciae a matança como forma de obtê-la. Comoprocuram abrir a mente dos homens, masexigem obediência a um mestre. OAssassino ensina os perigos de seacreditar cegamente em fé estabelecida,mas exige que os seguidores da Ordemsigam inquestionavelmente o Credo.

“Ele também escreveu sobre AquelesQue Vieram Antes, os membros daprimeira civilização, que deixaram paratrás os artefatos caçados igualmente porTemplários e Assassinos.

— E a Maçã é um deles?— Exatamente. Algo de imenso poder.

Disputado pelos Cavaleiros Templários.As experiências dele em Chipre haviam

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lhe mostrado que os Templários, em vezde tentar obter o controle pelos meiosnormais, optaram pelos subterfúgios comoestratégia. Altaïr concluiu que essetambém deveria ser o modo dosAssassinos.

“A Ordem não deveria mais construirgrandes fortalezas e executardispendiosos rituais. Estes, decidiu, nãoeram o que um Assassino fazia. O que fazum Assassino é sua adesão ao Credo. Pormais irônico que seja, isso originalmenteteve o apoio de Al Mualim. Umaideologia que desafiasse as doutrinasestabelecidas. Uma ideologia queincentivasse os acólitos a irem além delesmesmos e tornarem possível o impossível.Foram esses princípios que Altaïrdesenvolveu e levou consigo nos anos que

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passou viajando pela Terra Santa,firmando a Ordem e instilando os valoresque aprendera como um Assassino.Somente em Constantinopla suastentativas de promover o estilo Assassinofracassaram. Ali, em 1204, ocorreramgrandes revoltas quando o povo selevantou contra o imperador bizantinoAlexius, e não muito após os Cruzadosterem invadido a cidade e iniciado osaque. Em meio a tal tumulto constante,Altaïr foi incapaz de pôr em prática seusplanos e foi embora. Esse tornou-se um deseus poucos fracassos durante aquela era.

“Gozado; quando me contou isso, eleme deu um olhar estranho.

— Porque nosso lar é Constantinopla?— Talvez. Terei de pensar nesse

assunto depois. É possível que o chamado

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para virmos de Constantinopla e atentativa dele de estabelecer lá uma guildanão tenha relação...

— O único fracasso dele, você disse?— Certamente. De todos os outros

modos, Altaïr fez mais para promover aOrdem do que praticamente qualquer líderantes dele. Apenas o predomínio deGengis Khan evitou a continuidade de suaobra.

— Como assim?— Cerca de quarenta anos atrás, Altaïr

escreveu sobre isso em seu códex. Comouma onda escura erguia-se no leste. Umexército de tal tamanho e poder que omundo todo ficou prontamentepreocupado.

— Ele se referia ao Império Mongol?— perguntou Maffeo. — A ascensão de

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Gengis Khan?— Exatamente — respondi. — Darim

estava com 20 e poucos anos e era umperfeito arqueiro, e foi por isso que Altaïrpegou Maria e o filho e partiu de Masyaf.

— Para enfrentar Khan?— Altaïr desconfiava que o avanço de

Gengis Khan estaria sendo ajudado poroutro artefato, semelhante à Maçã. Talveza Espada. Ele precisava determinar se eraesse o caso, além de deter a inexorávelmarcha de Khan.

— Como ficou Masyaf?— Altaïr deixou Malik como

encarregado em seu lugar. Tambémdeixou Sef para trás, para ajudar a cuidardos negócios. Na ocasião, Sef tinhamulher e duas filhas jovens; Darim nãotinha filhos, e eles ficaram fora por muito

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tempo.— Quanto tempo?— Ele ficou fora por dez anos, irmão, e

quando retornou a Masyaf, tudo lá haviamudado. Nada seria como antes. Querouvir a respeito?

— Por favor, continue.

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À distância tudo parecia bem em Masyaf.Nenhum deles — nem Altaïr, Maria ouDarim — fazia qualquer ideia do queestava por vir.

Altaïr e Maria cavalgavam um poucoadiante, lado a lado, como era de suapreferência, felizes por estarem um com ooutro e contentes por estarem no campo devisão de casa, cada ondulação com oritmo lento e constante de seus cavalos.Ambos cavalgavam empertigados eorgulhosos na sela a despeito da longa eárdua jornada. Podiam estar avançadosnos anos — ambos estavam na metade da

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casa dos 60 anos —, mas isso não faziacom que fossem vistos com posturarelaxada. Contudo, vinham lentamente:suas montarias foram escolhidas pelaforça e pela resistência, e não pelavelocidade, e presos a cada uma delasestava um asno carregado comsuprimentos.

Atrás deles vinha Darim, que herdaraos olhos brilhantes e dançantes de suamãe, a cor e a estrutura corporal do pai, ea impulsividade de ambos. Ele gostaria degalopar à frente e subir as encostas daaldeia até a cidade para anunciar a voltade seus pais, mas, em vez disso, trotavahumildemente atrás, respeitando o desejodo pai de uma modesta volta ao lar. Devez em quando, afugentava as moscas dorosto com o cabo do chicote e pensava

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que um galope teria sido o método maiseficaz de se livrar delas. Imaginava seeles estavam sendo observados dospináculos da fortaleza, de sua torre dedefesa.

Passando os estábulos, atravessaram oportão de madeira e entraram no mercado,achando-o inalterado. Chegaram à aldeia,onde crianças correram animadas emvolta deles pedindo guloseimas —crianças novas demais para conhecerem oMestre. Aldeões mais velhos, porém, oreconheceram, e Altaïr notou queobservavam atentamente o grupo, não comares de boas-vindas, mas com cautela.Rostos viraram quando eles tentavamfazer contato visual. A aflição apertou ocorpo deles.

Agora uma figura que ele conhecia se

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aproximava, encontrando-os no pé daencosta para a cidadela. Swami. Umaprendiz, quando ele partiu, um daquelesque tinham gosto pelo combate, mas não osuficiente para o aprendizado. Eleconseguira uma cicatriz naquele intervalode dez anos, que enrugava quando ele ria,um largo sorriso que ia até quase pertodos olhos. Talvez já estivesse pensandonas aulas que teria de aturar com Altaïr,agora que ele voltara.

Mas ele as aturaria, pensou Altaïr, oolhar passando por Swami e indo aocastelo, onde uma enorme bandeiraostentando a marca dos Assassinosbalançava com a brisa. Ele haviadecretado a retirada da bandeira: osAssassinos estavam se livrando de taisemblemas vazios. Mas, evidentemente,

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Malik decidira que ela deveria ficarhasteada. Ele seria outro que teria deaturar no futuro alguns ensinamentos.

— Altaïr — disse Swami com umcurvar da cabeça, e Altaïr decidiu ignorara falha do homem em se dirigir a eleusando seu título correto. Pelo menos porenquanto. — Que agradável vê-lo. Esperoque suas viagens tenham sido frutíferas.

— Enviei mensagens — lembrouAltaïr, inclinando-se à frente em sua sela.Darim foi para o outro lado dele, de modoque os três formaram uma linha, olhandoabaixo para Swami. — A Ordem não foiinformada do meu progresso?

Swami sorriu subservientemente.— Claro, claro. Perguntei apenas por

cortesia.— Esperava ser recebido por Rauf —

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disse Altaïr. — Ele está mais acostumadoa atender minhas necessidades.

— Ah, pobre Rauf. — Swami olhoupara o chão, pensativo.

— Há algo errado?— Receio que Rauf tenha morrido da

febre em anos passados.— Por que não fui informado?Diante disso, Swami simplesmente deu

de ombros. Um dar de ombros insolente,como se ele não soubesse e nem ligasse.

Altaïr enrugou os lábios, decidindo quealguém tinha alguma explicação a dar,desde que não fosse aquele patife.

— Então vamos. Nossos aposentosestão prontos?

Swami baixou novamente a cabeça.— Receio que não, Altaïr. Até você

poder ser acomodado, pediram-me que o

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levasse a uma residência do ladoocidental da fortaleza.

Altaïr olhou primeiro para Darim, quetinha a testa franzida, depois para Maria,que o fitava com olhos que diziamCuidado. Alguma coisa não estava certa.

— Está bem — disse Altaïrcautelosamente, e eles desmontaram.

Swami gesticulou para alguns criados,que se adiantaram para pegar os cavalos,e todos iniciaram a subida até o portão dacidadela. Ali os guardas inclinaram acabeça rapidamente, como se, tal como osaldeões, quisessem evitar o olhar deAltaïr, mas, em vez de seguirem acimapara o antemuro, Swami conduziu-os paradar a volta pelo lado de fora da linha dedefesa interna. Altaïr olhou os muros dacidadela estendendo-se nas alturas acima

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deles, querendo ver o coração da Ordem,sentindo a irritação aumentar — masalgum instinto lhe disse para aguardar suaoportunidade. Quando chegaram àresidência, esta era um prédio baixoafundado na pedra, com um pequeno arcocomo entrada e degraus levando abaixo aum vestíbulo. A mobília era escassa e nãohavia empregados para recebê-los. Altaïrestava acostumado a acomodaçõesmodestas — aliás, ele as exigia —, masaqui em Masyaf, como Mestre Assassino,esperava que seus alojamentos fossem natorre do Mestre ou equivalente.

Indignado, virou-se, prestes a protestarcom Swami, que permanecia no vestíbulocom o mesmo sorriso obsequioso norosto, quando Maria agarrou seu braço e oapertou, impedindo-o.

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— Onde está Sef? — perguntou ela aSwami. Maria sorria agradavelmente, masAltaïr sabia que ela detestava Swami.Detestava-o com todas as fibras de seuser. — Eu gostaria que Sef viesse aquiimediatamente, por favor.

Swami pareceu aflito.— Lamento por Sef não estar aqui. Ele

teve de viajar para Alamut.— E a família dele?— Está em sua companhia.Maria lançou um olhar preocupado

para Altaïr.— Que assunto meu irmão foi tratar em

Alamut? — indagou rispidamente Darim,ainda mais desconcertado do que seuspais por causa dos apertados aposentos.

— Infelizmente, não sei — respondeuSwami.

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Altaïr inspirou fundo e aproximou-sedele. A cicatriz do mensageiro não seenrugava mais, pois o sorriso bajuladorhavia se esvaído de seu rosto. Talvez elede repente tivesse se lembrado de queaquele era Altaïr, o Mestre, cujahabilidade em batalha só era igualadapela sua impetuosidade na sala de aula.

— Informe a Malik imediatamente quequero vê-lo — grunhiu Altaïr. — Diga-lheque tem algumas explicações a dar.

Swami engoliu em seco, torcendo asmãos um tanto teatralmente.

— Malik está na prisão, Mestre.Altaïr sobressaltou-se.— Na prisão? Por quê?— Não tenho liberdade para dizer,

Mestre. Foi convocada uma reunião doConselho para amanhã de manhã.

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— Conselho?— Com Malik preso, foi formado um

Conselho para supervisionar a Ordem, deacordo com o estatuto da Irmandade.

Isso era verdade, mas, mesmo assim,Altaïr abateu-se.

— E quem é o presidente?— Abbas — respondeu Swami.Altaïr olhou para Maria, cujos olhos

agora revelavam uma preocupação real.Estendeu a mão para segurar o braço dele.

— E quando eu encontro esseConselho? — perguntou Altaïr. Sua vozera calma, desmentindo a tempestade emseu estômago.

— Amanhã, o Conselho gostaria deouvir o relato de sua viagem e notificá-losobre os acontecimentos da Ordem.

— E, depois disso, o Conselho será

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dissolvido — falou Altaïr com firmeza.— Diga ao Conselho que nós oencontraremos ao nascer do sol. Diga-lheque consultem os estatutos. O Mestrevoltou e deseja reassumir a liderança.

Swami fez uma reverência e saiu.A família esperou até ele sumir antes

de deixar aflorar os verdadeirossentimentos, quando Altaïr se dirigiu aDarim e, com urgência na voz, disse-lhe:

— Cavalgue até Alamut. Traga Sef devolta. Sua presença é necessária aquiimediatamente.

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50

No dia seguinte, Altaïr e Maria sepreparavam para seguir o caminho daresidência até a torre principal, quandoforam interceptados por Swami, queinsistiu em conduzi-los pessoalmenteatravés do antemuro. Ao contornarem omuro, Altaïr ficou imaginando por que nãoouvia o ruído habitual de exercícios coma espada e de treinamento que vinha dooutro lado. Ao chegarem ao pátio, ele tevea resposta.

Era porque não havia exercícios comespada ou treinamentos. Agora estavaquase deserto onde antes as áreas internas

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da cidadela tinham vibrado com atividadee vida, ecoando o repicar metálico degolpes de espadas, os gritos e osxingamentos dos instrutores. Ele olhou emvolta para as torres que os contemplavamlá de cima, e viu janelas pretas. Guardasnos bastiões olharam abaixo impassíveispara eles. O local de iluminação etreinamento — o pouco de conhecimentoAssassino que ele deixara — haviadesaparecido. O humor de Altaïr piorouainda mais quando começou a se dirigir àtorre principal, mas, em vez disso, Swamio encaminhou aos degraus que levavamacima, à sala de defesa, e, depois, aosalão principal.

Ali, o Conselho estava reunido. Dezhomens sentavam-se em lados opostos deuma mesa com Abbas na cabeceira, dois

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assentos vazios para Altaïr e Maria:cadeiras de madeira com espaldar alto.Eles se sentaram e, pela primeira vezdesde que entraram no ambiente, Altaïrolhou para Abbas, seu velho antagonista.Viu nele algo além de fraqueza eressentimento. Viu um rival. E, pelaprimeira vez desde a noite em que Ahmadfora a seu quarto para tirar a própria vida,ele não mais se compadeceu de Abbas.

Altaïr olhou em volta para o resto damesa. Exatamente como havia imaginado,o novo Conselho era formado na maioriapor membros indecisos e coniventes daOrdem. Aqueles que Altaïr teria preferidoexpulsar. Aparentemente, todos haviamaderido ao Conselho ou foram recrutadospor Abbas. Característico deles eraFarim, o pai de Swami, que o observava

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por baixo de sobrancelhas encapuzadas,com o queixo enfiado no peito. Seu amplopeito. Eles engordaram, pensou Altaïr,desdenhosamente.

— Bem-vindo, Altaïr — exclamouAbbas. — Tenho certeza de que falo portodos quando digo que estou ansioso paraouvir suas façanhas no leste.

Maria inclinou-se à frente para sedirigir a ele.

— Antes de contarmos alguma coisasobre nossas viagens, Abbas,gostaríamos, por favor, de algumasrespostas. Deixamos Masyaf em boaordem. Aparentemente, aqueles padrõesforam relaxados.

— Nós deixamos Masyaf em boaordem? — sorriu Abbas, embora sem terolhado para Maria. Não tirara os olhos de

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Altaïr. Os dois se encaravam através damesa com evidente hostilidade. —Quando deixaram a Irmandade, se bem melembro, havia apenas um Mestre. Agoraparece que temos dois.

— Cuidado com sua insolência, Abbas,para ela não lhe custar caro.

— Minha insolência? — gargalhouAbbas. — Altaïr, por favor, diga à infielque, de agora em diante, ela não poderáfalar, a não ser quando um membro doConselho se dirigir a ela.

Com um grito de raiva, Altaïr levantou-se da cadeira, que deslizou para trás etombou sobre a pedra. Sua mão estava nocabo da espada, mas dois guardas seaproximaram com as espadasdesembainhadas.

— Guardas, tomem a arma dele —

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ordenou Abbas. — Ficará mais à vontadesem ela, Altaïr. Você está usando sualâmina?

Altaïr estendeu os braços quando umguarda se aproximou para tomar suaespada. As mangas da roupa desceram enão revelaram qualquer lâmina oculta.

— Agora podemos começar — disseAbbas. — Por favor, não desperdice maiso nosso tempo. Atualize-nos sobre suamissão para neutralizar Khan.

— Só depois que você me disser o queaconteceu com Malik — grunhiu Altaïr.

Abbas deu de ombros e ergueu assobrancelhas, como se dissesse queestavam em um impasse, e estavammesmo, pois, aparentemente, nenhum dosdois homens parecia disposto a ceder.Com um grunhido de irritação, Altaïr

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iniciou sua história, em vez de prolongaro impedimento. Relatou as viagens àPérsia, Índia e Mongólia, onde ele, Mariae Darim haviam se unido ao AssassinoQulan Gal, e contou como haviam viajadoaté Xia, a província próxima a Xing-ging,que havia sido sitiada pelo exércitomongol, na expansão inexorável doimpério de Khan. Ali, disse ele, Altaïr eQulan Gal fizeram o planejamento de seinfiltrar no acampamento mongol. Dizia-se que Khan também estava lá.

— Darim encontrou um ponto deobservação não muito longe doacampamento e, armado com seu arco,vigiaria Qulan Gal e a mim enquantoseguíssemos pelas barracas. Oacampamento estava fortemente guardadoe contávamos com ele para abater

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qualquer guarda que alertássemos ou queparecesse que pudesse dar o alarme. —Altaïr olhou em volta da mesa com um ardesafiador. — E ele executouadmiravelmente esse dever.

— Tal pai, tal filho — comentouAbbas, com mais do que uma insinuaçãode escárnio na voz.

— Talvez não — rebateu Altaïrcalmamente. — Pois eu quase me tornei oresponsável por alertar os mongóis danossa presença.

— Ah — fez Abbas. — Ele não éinfalível.

— Ninguém é — retrucou Altaïr —,muito menos eu, e permiti que um soldadoinimigo caísse sobre mim. Ele me feriuantes que Qulan Gal conseguisse matá-lo.

— Está ficando velho, Altaïr? —

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zombou Abbas.— Todos estão, Abbas — respondeu

Altaïr. — E eu estaria morto se Qulan Galnão tivesse conseguido me tirar doacampamento e me levar para um localseguro. Sua ação salvou a minha vida. —Olhou cuidadosamente para Abbas. —Qulan Gal voltou ao acampamento.Primeiro, formulou um plano com Darimpara tirar Khan de sua barraca.Percebendo o perigo, Khan tentou escapara cavalo, mas foi derrubado por QulanGal e abatido por um disparo de Darim.

— Não há dúvida sobre sua habilidadecomo arqueiro — sorriu Abbas. —Deduzo que o mandou para longe, talvezpara Alamut?

Altaïr surpreendeu-se. Aparentemente,Abbas sabia de tudo.

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— Ele deixou a cidade por ordemminha. Se para Alamut ou não, não direi.

— Para procurar Sef em Alamut,talvez? — insistiu Abbas. Dirigiu-se aSwami. — Você disse a eles que Sefestava lá, espero.

— Como me foi instruído, Mestre —respondeu Swami.

Altaïr sentia agora nas entranhas algopior do que preocupação. Algo que podiaser medo. Sentiu isso também em Maria: orosto dela estava descorado e aflito.

— Diga o que tem a dizer, Abbas —falou.

— Ou o quê, Altaïr?— Ou meu primeiro ato, quando

reassumir a liderança, será jogá-lo emuma masmorra.

— Para eu me juntar a Malik, talvez?

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— Duvido que Malik pertença à prisão— vociferou Altaïr. — De que crime eleé acusado?

— De assassinato — sorriuafetadamente Abbas.

Foi como se o mundo batesse na mesa.— Assassinato de quem? — indagou

Maria.E a resposta, quando veio, pareceu ter

sido dada de longe, muito longe.— De Sef. Malik matou seu filho.A cabeça de Maria tombou sobre as

mãos.— Não! — Altaïr ouviu alguém dizer,

então se deu conta de que sua própria vozhavia falado.

— Sinto muito, Altaïr — disse Abbas,falando como se recitasse algo decorado.— Sinto muito que tenham retornado para

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ouvir essa notícia trágica, e posso dizerque falo por todos deste Conselho quandoofereço minha solidariedade a você e àsua família. Mas, até certas questõesserem resolvidas, não será possível vocêreassumir a liderança da Ordem.

Altaïr ainda tentava desembaraçar aconfusão de emoções em sua cabeça,ciente da presença de Maria a seu lado,soluçando.

— O quê? — disse ele. Então maisalto: — O quê?

— Neste momento, você está exposto auma situação difícil — afirmou Abbas —,portanto tomei a decisão de que o controleda Ordem continua com o Conselho.

Altaïr tremeu de raiva.— Eu sou o Mestre desta Ordem,

Abbas. Exijo que a liderança seja

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devolvida a mim, de acordo com osestatutos da Irmandade. Eles determinamque seja devolvida a mim. — Ele agoraestava aos berros.

— Não determinam. — Abbas sorriu.— Não mais.

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51

Mais tarde, Altaïr e Maria estavamsentados em sua residência, aconchegadosem um banco de pedra, calados, quase naescuridão. Haviam passado anosdormindo em desertos, mas nunca tinhamse sentido tão isolados e solitários quantonaquele momento. Angustiavam-se porsuas indignas condições; angustiavam-sepor Masyaf ter sido negligenciada em suaausência; afligiam-se pela família de Sef epor Darim.

Mas, acima de tudo, sofriam por causade Sef.

Ele fora morto com uma facada em sua

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cama, disseram, apenas duas semanasantes; não houvera tempo de enviar umamensagem para Altaïr. A faca foidescoberta nos aposentos de Malik. Estefora visto por um Assassino, mais cedo,no mesmo dia, discutindo com Sef. Onome do Assassino que ouvira adiscussão ainda era desconhecido deAltaïr, mas, independentemente de quemfosse, informara que tinha ouvido Sef eMalik discutirem sobre a liderança daOrdem, com Malik afirmando quepretendia se manter como líder depois queAltaïr retornasse.

— Aparentemente, foi a notícia de suavolta que desencadeou a desavença —tripudiara Abbas, deleitando-se com oolhar embaçado de Altaïr e o chorosilencioso de Maria.

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Ouviram Sef ameaçar revelar os planosde Malik para Altaïr, por isso Malik omatou. Essa era a teoria.

A seu lado, a cabeça metida no peito eas pernas recuadas, Maria ainda soluçava.Altaïr alisou seu cabelo e a embalou atéela se aquietar. Então ele observou assombras projetadas pela luz do fogo,tremeluzindo e dançando na parede depedra amarela, ouvindo os grilos lá fora eo ocasional esmagar das passadas dosguardas.

Pouco depois, Maria acordou com umsalto. Altaïr também se sobressaltou —ele também estivera cochilando,aquietado pelas chamas trepidantes. Elase sentou, tremendo, puxou o cobertor eapertou-o em volta do corpo.

— O que vamos fazer, meu amor? —

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perguntou.— Malik — disse ele simplesmente.

Estava encarando a parede com olhosinexpressivos e falou como se não tivesseouvido a pergunta.

— O que tem ele?— Quando éramos mais jovens. A

missão no Monte do Templo. Meus atoslhe causaram uma grande dor.

— Mas você aprendeu — disse ela. —E Malik soube disso. Naquele dia nasceuum novo Altaïr, que levou a Ordem àmagnificência.

Altaïr fez um som de descrédito.— Magnificência? Mesmo?— Não agora, meu amor — disse ela.

— Talvez não agora, mas você pode levá-la de volta ao que foi antes de tudo isso.Você é o único capaz de conseguir isso.

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Abbas não. — Maria pronunciou o nomedele como se tivesse provado algoespecialmente desagradável. — Nãoalgum Conselho. Você. Altaïr. O Altaïrque vi servir à Ordem por mais de trintaanos. O Altaïr que nasceu naquele dia.

— Isso custou a Malik o seu irmão —lembrou Altaïr. — E também o seu braço.

— Ele o perdoou e, desde a derrota deAl Mualim, tem servido como seu tenentede confiança.

— Teria sido uma fachada? —perguntou Altaïr, a voz baixa. Podia ver aprópria sombra na parede, escura eagourenta.

Ela se desvencilhou dele.— O que está dizendo?— Talvez Malik tenha nutrido ódio de

mim todos esses anos — sugeriu ele. —

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Talvez Malik tenha secretamentecobiçado a liderança, e Sef tenhadescoberto isso.

— Sim, e talvez cresçam asas em mimà noite e eu voe — gracejou Maria. —Quem você acha que realmente nutre ódiopor você, Altaïr? Não é Malik. É Abbas.

— A faca foi encontrada na cama deMalik — alegou Altaïr.

— Colocada lá, é claro, paraincriminá-lo, por Abbas ou por alguém aseu serviço. Eu não ficaria nem um poucosurpresa se Swami fosse o homemresponsável por isso. E onde está oAssassino que ouviu Malik e Sefdiscutirem? Quando será apresentado?Quando nos encontrarmos com ele, seráque descobriremos que é um aliado deAbbas? Talvez filho de outro membro do

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Conselho? E o pobre Rauf? Ficoimaginando se ele morreu realmente defebre. Você deveria se envergonhar, porduvidar de Malik, quando tudo isso émuito obviamente obra de Abbas.

— Eu, me envergonhar? — virou-secontra Maria, e ela retraiu-se. Lá fora, osgrilos pararam sua algazarra como se paraouvi-los discutir. — Eu me envergonharpor duvidar de Malik? Não tenhoexperiências passadas daqueles que euamava se voltarem contra mim, e pormotivos muito mais frágeis do que Malikteve? Eu amava Abbas como a um irmão etentei ser direito com ele. Al Mualim traiua Ordem toda, mas fora a mim que elehavia tomado como filho. Eu meenvergonhar por desconfiar? Confiar foi aminha maior desgraça. Confiar nas

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pessoas erradas.Olhou-a com firmeza e ela estreitou os

olhos.— Você precisa destruir a Maçã, Altaïr

— disse. — Ela está prejudicando a suamente. Uma coisa é ter a mente aberta.Outra coisa é ter uma mente tão aberta queos pássaros conseguem cagar nela.

Ele a olhou.— Não sei se seria assim que eu

definiria a coisa — observou ele com umsorriso triste se formando.

— Talvez não, mas mesmo assim.— Preciso descobrir, Maria — disse

ele. — Preciso ter certeza.

Altaïr estava ciente de que os dois eramvigiados, mas era um Assassino econhecia Masyaf melhor do que ninguém,

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por isso não foi difícil deixar aresidência, subir a linha de defesa internae agachar-se nas sombras dos bastiões atéos guardas passarem. Ele controlava arespiração. Ainda era veloz e ágil. Aindaconseguia escalar muros. Mas...

Talvez não com a mesma facilidade deantes. Era melhor lembrar-se disso. Oferimento que sofrera no acampamento deGengis Khan também o retardara. Seriatolice superestimar suas própriashabilidades e se ver metido em encrencapor causa disso, deitado de costas comouma barata moribunda, ouvindo guardasse aproximarem porque calculara mal umsalto. Descansou um pouco antes decontinuar ao longo dos bastiões, seguindodo lado oeste da cidadela para ocomplexo da torre sul. Permanecendo

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longe dos guardas durante o caminho,chegou à torre e desceu para o chão. Foiaté os depósitos de grãos, onde localizouum lance de degraus de pedras que levavaa uma série de túneis arqueados abaixo.

Ali, parou e escutou, com as costascoladas à parede. Ouviu água correndo aolongo de pequenos córregos que seguiampelo túnel. As masmorras da Ordem nãoficavam muito longe, e eram tão raramenteusadas que seriam mantidas comodespensas se não fosse pela umidade.Altaïr esperava que Malik fosse seu únicoocupante.

Seguiu sorrateiramente adiante atéconseguir avistar o guarda. Este estavasentado no túnel com as costas apoiadascontra uma parede lateral do bloco decelas, a cabeça bamba de sono. Altaïr

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estava a alguma distância das celas, e nãoas tinha nem mesmo em seu campo visual,portanto não sabia dizer exatamente o queo guarda estava vigiando. Descobriu-seao mesmo tempo indignado e aliviadopelo desleixo do homem — e logo tornou-se claro por que ele estava sentado tãodistante.

Era o fedor. Das três celas, somente ado meio estava trancada, e Altaïr foi atéela. Não tinha certeza do que esperava verdo outro lado das barras, mas estava certodo que conseguia cheirar, e levantou amão para o nariz.

Malik estava enroscado sobre os juncosque haviam sido espalhados sobre a pedra— e nada faziam para absorver a urina.Estava vestido com trapos, parecendo ummendigo. Estava bem magro e, através da

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camisa esfarrapada, Altaïr podia ver asmarcas de suas costelas. As maçãs dorosto eram afiados afloramentos em seurosto; o cabelo estava comprido, e abarba, grande demais.

Estava naquela cela havia muito maisdo que um mês. Isso era certo.

Ao olhar para Malik, os punhos deAltaïr se apertaram. Planejava falar comele para descobrir a verdade, mas averdade estava ali nas costelas salientes enas roupas em farrapos. Há quanto tempoestava preso? Tempo suficiente para umamensagem ter sido enviada para Altaïr eMaria. Há quanto tempo Sef estavamorto? Altaïr preferia não pensar nisso.Tudo que sabia era que Malik nãopassaria mais nenhum momento ali.

Quando o guarda abriu os olhos foi

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para ver Altaïr parado à sua frente. Então,para ele, as luzes se apagaram. Quandodespertou depois, descobriu-se preso nointerior da cela fedendo a mijo, gritandoinutilmente por socorro, com Malik eAltaïr sumidos havia muito tempo.

— Consegue andar, meu amigo? —perguntara Altaïr.

Malik olhara para ele com olhosembaçados. Toda a dor estava naquelesolhos. Quando finalmente conseguirafocalizá-los em Altaïr, um ar de gratidão ealívio surgira em seu rosto, tão sinceroque, se ainda restava a menor dúvida namente de Altaïr, ela foi banidaimediatamente.

— Por você, eu consigo andar —respondeu Malik, e tentou um sorriso.

Mas, ao seguirem o caminho de volta

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ao longo do túnel, logo ficara claro queMalik não tinha forças para caminhar. Emvez disso, Altaïr havia pegado seu braçobom, o colocado em volta dos ombros ecarregado o velho amigo pelos degraus datorre. Depois atravessara os bastiões efinalmente descera o muro do ladoocidental da cidadela, evitando osguardas ao longo do caminho. Por fimchegaram de volta à residência. Altaïrolhou para um lado e para o outro antes delevá-lo para dentro.

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Deitaram Malik em um catre e Mariasentou-se a seu lado, dando-lhe goles deuma caneca.

— Obrigado — ofegou. Seus olhoshaviam clareado um pouco. Ele selevantou da cama, parecendodesconfortável com a presença de Maria,como se achasse desonroso ser cuidadopor ela.

— O que aconteceu com Sef? —perguntou Altaïr. Com os três em seuinterior, o quarto ficava pequeno. Naquelahora, tornara-se menor ainda, parecendoque se fechava sobre eles.

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— Foi assassinado — declarou Malik.— Dois anos atrás, Abbas encenou seugolpe. Mandou matar Sef, depois colocoua arma do crime no meu quarto. OutroAssassino jurou ter ouvido Sef e eudiscutindo, e Abbas levou a Ordem àconclusão de que eu era responsável peloassassinato de Sef.

Altaïr e Maria se entreolharam. O filhodeles estava morto havia dois anos. OAssassino sentiu a raiva ferver dentro desi e se esforçou para controlá-la — paracontrolar o impulso de se virar, sair doquarto, ir à fortaleza e furar Abbas, vê-loimplorar por piedade e sangrar até amorte.

Maria pôs a mão em seu braço,sentindo e compartilhando sua dor.

— Sinto muito — desculpou-se Malik.

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— Não consegui enviar uma mensagem,pois estava na prisão. Além disso, Abbascontrola toda a comunicação para dentro epara fora da fortaleza. Sem dúvida,durante o meu encarceramento, ocupou-seem mudar outras práticas para benefíciopróprio.

— Sim, mudou — confirmou Altaïr. —Aparentemente, tem quem o apoie noConselho.

— Lamento, Altaïr — disse Malik. —Eu deveria ter antecipado os planos deAbbas. Durante anos após sua partida, eleagiu para me arruinar. Eu não fazia ideiade que ele conseguira reunir tanto apoio.Isso não teria acontecido a um líder forte.Não teria acontecido com você.

— Não se atormente. Descanse, meuamigo — pediu Altaïr, e fez um sinal para

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Maria.Os dois se sentaram no aposento ao

lado: Maria no banco de pedra, Altaïr emuma cadeira de encosto alto.

— Sabe o que você tem de fazer? —perguntou Maria.

— Tenho de destruir Abbas —respondeu Altaïr.

— Mas não por motivo de vingança,meu amor — insistiu ela, olhando bemfundo em seus olhos. — Pela Ordem. Pelobem da Irmandade. Para trazê-la de voltae torná-la novamente grande. Se puderfazer isso, e se conseguir deixar que issoassuma a prioridade sobre seuspensamentos de vingança, a Ordem oamará como um pai que mostra o caminhoverdadeiro. Se você se deixar cegar pelaraiva e pela emoção, como vai esperar

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que eles o escutem, quando lhes ensinarque o caminho é outro?

— Tem razão — concordou ele, apósuma pausa. — Então como vamosproceder?

— Precisamos enfrentar Abbas.Precisamos contestar a acusação feitacontra o matador do seu filho. A Ordemterá de aceitar isso, e Abbas será forçadoa se responsabilizar.

— Será a palavra de Malik contra a deAbbas e seu agente, quem quer que seja.

— Uma raposa como Abbas? Seuagente, imagino, deve ser ainda menosconfiável. A Irmandade acreditará emvocê, meu amor. Vai querer acreditar emvocê. Você é o grande Altaïr. Seconseguir resistir ao seu desejo devingança, se puder tomar a Ordem de

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volta por meios honestos, não ilícitos,então as fundações que estabelecer serãoainda mais fortes.

— Vou procurar Abbas agora —comunicou Altaïr, levantando-se.

Checaram para ver se Malik estavadormindo, depois saíram, levando umatocha. Com a neblina do início de manhãrodopiando a seus pés, caminharamdepressa em volta do lado de fora dalinha de defesa interna e então até oportão principal. Atrás deles estavam asencostas de Masyaf, a aldeia ainda vazia esilenciosa, prestes a despertar de seusono. Um guarda Assassino sonolentoolhou-os, insolente em sua indiferença, eAltaïr descobriu-se combatendo sua raiva,mas passaram pelo homem, subiram oantemuro e foram para o pátio principal.

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Soou um sino.Altaïr não conhecia aquele sinal.

Ergueu sua tocha e olhou em volta, o sinocontinuando a tocar. Então notoumovimentos no interior das torres quedavam vista para o pátio. Maria apressou-o e eles chegaram aos degraus quelevavam à plataforma do lado de fora datorre do Mestre. Agora Altaïr virou-se eviu que Assassinos de túnicas brancasportando tochas flamejantes entravam nopátio atrás deles, convocados pelo sino,que parou subitamente.

— Quero falar com Abbas — disseAltaïr ao guarda à porta da torre, a vozalta e calma no sinistro silêncio.

Maria olhou para trás e, ao ouvir aforte inspiração dela, Altaïr se virou.Engoliu em seco. Os Assassinos estavam

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se agrupando. Todos olhavam para ele eMaria. Por um momento, ele pensou queestivessem em alguma espécie de transe,mas não. A Maçã estava com ele, enfiadaem segurança dentro de seu manto, eadormecida. Aqueles homens estavamesperando.

O quê? Altaïr teve a sensação de queem breve teria a resposta.

Agora a porta da torre se abriu e Abbasparou diante deles.

Altaïr sentiu a Maçã — era quase comose uma pessoa estivesse cutucando-o nascostas. Talvez ela estivesse lembrando-ode sua presença.

Abbas caminhou a passos largos até aplataforma.

— Expliquem, por favor, por queinvadiram as celas da Ordem.

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Ele se dirigia mais à multidão do que aAltaïr e Maria. Altaïr olhou de relancepara trás e viu que o pátio estava lotado.As tochas dos Assassinos eram comobolas de fogo no escuro.

Então Abbas queria desacreditá-lodiante da Ordem. Mas Maria estivera coma razão — ele era um incapaz. Tudo queAbbas havia conseguido era acelerar suaqueda.

— Eu pretendo descobrir a verdadesobre meu filho — afirmou Altaïr.

— É mesmo? — sorriu Abbas. — Temcerteza de que não foi uma justa vingança?

Swami tinha chegado. Subiu os degrauspara a plataforma. Trazia algo em um sacode juta, que passou para Abbas, o qualassentiu. Altaïr olhou cauteloso para osaco com o coração martelando. O de

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Maria também martelava.Abbas examinou dentro do saco e fez

um olhar fingido de preocupação com oque estava em seu interior. Então, com umar teatral, enfiou a mão no saco e paroupor um momento para desfrutar o frissonde antecipação que percorria a plateiacomo um arrepio.

— Pobre Malik — disse ele, e puxouuma cabeça decepada: a pele do pescoçoestava denteada e pingava sangue fresco,os olhos tinham revirado e a línguasalientava-se ligeiramente.

— Não! — Altaïr avançou, e Abbassinalizou para os guardas, que correramadiante, agarrando Altaïr e Maria,desarmando-o e prendendo suas mãos nascostas.

Abbas largou a cabeça de volta no saco

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e jogou-o para o lado.— Swami ouviu você e a infiel

planejando a morte de Malik. Que penanão termos conseguido chegar a Malik atempo de evitá-la.

— Não! — berrou Altaïr. — Mentiras!Eu jamais mataria Malik. — Empurrandoos guardas que o seguravam, ele apontoupara Swami. — Ele está mentindo.

— O guarda da prisão também estámentindo? — indagou Abbas. — O tal queviu você arrastar Malik para fora da cela?Por que não o matou ali mesmo, Altaïr?Queria fazê-lo sofrer? Sua esposa inglesaquis fazer seus próprios cortesvingativos?

Altaïr debateu-se.— Porque eu não o matei — gritou. —

Eu soube por ele que foi você quem

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ordenou a morte de Sef.Então, subitamente, ele soube. Olhou

para Swami e viu seu escárnio, e soubeque ele tinha matado Sef. Sentiu a Maçãem suas costas. Com ela, poderia dizimaro pátio. Matar cada cão traiçoeiro ali nomeio. Todos sentiriam sua fúria.

Mas não. Ele prometera nunca usá-lacom raiva. Prometera a Maria que nãodeixaria seus pensamentos seremanuviados pela vingança.

— Foi você quem infringiu o Credo,Altaïr — acusou Abbas. — E não eu.Você é inadequado para liderar a Ordem.Portanto, eu mesmo assumo a liderança.

— Não pode fazer isso — zombouAltaïr.

— Posso sim. — Abbas desceu daplataforma, aproximou-se de Maria e

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puxou-a para si.Com o mesmo movimento, sacou uma

adaga e a colocou no pescoço dela. Mariafechou a cara e se contorceu, xingando-o,até ele furar seu pescoço, tirando sangue eacalmando-a. Ela sustentou o olhar deAltaïr acima do braço de Abbas,enviando-lhe mensagens com os olhos,sabendo que a Maçã o estaria chamando.Maria também percebera que Swami tinhamatado Sef. Do mesmo modo como Altaïr,ela ansiava por retaliação. Seus olhossuplicavam para ele manter a calma.

— Onde está a Maçã, Altaïr? —perguntou Abbas. — Mostre-me, ouabrirei uma nova boca nesta infiel.

— Ouviram isso? — gritou Altaïr porcima do ombro para os Assassinos. —Ouviram que ele planeja tomar a

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liderança? Ele quer a Maçã não para abriras mentes, mas para controlá-las.

Ela agora queimava as costas dele.— Diga-me agora, Altaïr — repetiu

Abbas.Enfiou ainda mais a adaga e Altaïr

reconheceu a faca. Esta pertencera ao paide Abbas. Foi a adaga que Ahmad tinhausado para cortar a própria garganta noquarto de Altaïr uma vida inteira atrás. Eagora estava sendo enfiada em Maria.

Ele lutou para se controlar. Abbaspuxou Maria ao longo da plataforma,apelando à multidão:

— Devemos confiar em Altaïr com oPedaço do Éden? — perguntou a eles. Emresposta, veio um murmúrio semcompromisso. — Altaïr, que exercita otemperamento em vez do bom-senso? Ele

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não deveria ser obrigado a entregá-la semtermos de recorrer a isto?

Altaïr esticou o pescoço para ver acimado ombro. Os Assassinos mudavam deposição desconfortavelmente, falandoentre si, ainda chocados com a reviravoltados acontecimentos. Os olhos dele forampara o saco de aniagem, depois paraSwami. Altaïr notou que havia sangue nasroupas dele, como se tivesse sido atingidopor um esguicho: do sangue de Malik.Altaïr ficou imaginando se ele tinhasorrido quando esfaqueara Sef.

— Você pode tê-la — bradou Altaïr.— Você pode ter a Maçã.

— Não, Altaïr — gritou Maria.— Onde está ela? — perguntou Abbas.

Ele permanecia na extremidade daplataforma.

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— Está comigo — informou Altaïr.Abbas pareceu preocupado. Puxou

Maria mais para perto, usando-a comoescudo. Corria sangue de onde ele a haviafurado com a faca. A um gesto de cabeçade Abbas, os guardas soltaram Altaïr, queapanhou a Maçã, tirando-a de dentro domanto.

Swami estendeu a mão para ela. Tocou-a.

Então, bem baixinho, para que apenasAltaïr conseguisse ouvir, ele revelou:

— Eu disse para Sef que foi você quemordenou sua morte. Ele morreuacreditando que seu próprio pai o traiu.

A Maçã estava brilhando, e Altaïr nãoconseguiu se controlar. Swami, com umadas mãos na Maçã, de repente ficourígido, com os olhos bem arregalados.

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A seguir sua cabeça tombou para umlado, o corpo se deslocando eestremecendo como se operado por umaforça interna. A boca se abriu, mas nãosaiu qualquer palavra. O interior de suaboca tinha um brilho dourado. A língua seagitava dentro dela. Então, forçado pelaMaçã, ele se afastou, e todos observaramenquanto suas mãos foram até o rosto ecomeçaram a arrancar a carne de lá,abrindo profundas valas com as unhas.Escorreu sangue da pele agredida, mas elecontinuava flagelando a si mesmo, comose estivesse socando massa, rasgando apele da bochecha, arrancando um longopedaço dela, e torcendo uma orelha, atéela ficar pendurada do lado do rosto.

Altaïr sentiu o poder atravessar seucorpo, como se saltasse da Maçã e se

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espalhasse como uma doença pelas suasveias. Como se ela se alimentasse de seuódio e de sua necessidade de vingança, edepois fluísse da Maçã para Swami.Sentiu tudo isso como uma requintadamistura de prazer e dor que ameaçavaerguê-lo do solo — que fazia sua cabeçase sentir como se pudesse se dilatar eexplodir, uma sensação ao mesmo tempomaravilhosa e terrível.

Tão maravilhosa e terrível que nãoouviu Maria gritar para ele.

Nem percebeu que ela se livrara deAbbas e estava correndo pela plataformaem direção a ele.

Ao mesmo tempo, Swami havia tiradosua adaga da bainha e a usava em simesmo, cortando-se furiosamente, comgolpes extensos, abrindo ferimentos no

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rosto e no corpo, retalhando-se, enquantoMaria os alcançava, tentandodesesperadamente fazer com que Altaïrparasse de usar a Maçã. Altaïr teve umsegundo para ver o que ia acontecer, masera tarde demais para evitar. Viu a adagade Swami lampejar, e Maria, com agarganta exposta, subitamente rodandopara longe com sangue brotando dopescoço. Curvou-se sobre o chão demadeira, os braços jogados para os lados.Ela respirou uma vez. Enquanto o sanguese espalhava rapidamente à sua volta,seus ombros se ergueram com umdemorado, dissonante ofegar, e uma dasmãos estremecidas golpeou o suporte demadeira da plataforma.

Ao mesmo tempo, Swami desabou, suaespada estrepitando no chão. A Maçã

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brilhou intensamente uma vez, depoisobscureceu. Altaïr caiu de joelhos ao ladode Maria, segurando-a pelos ombros evirando-a.

Ela olhou para ele. Suas pálpebrastremeram.

— Seja forte — disse ela. E morreu.O pátio estava silencioso. Tudo que se

conseguia ouvir era Altaïr soluçandoenquanto puxava Maria em um abraço, umhomem arrasado.

Ele ouviu Abbas ordenar:— Homens. Peguem-no.Então levantou-se. Através dos olhos

cobertos de lágrimas, viu Assassinoscorrerem para a plataforma. Em seusrostos havia medo. Ele ainda segurava aMaçã. A multidão estava transtornada. Amaioria havia sacado a espada, embora

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todos soubessem que aço era inútil contraa Maçã, mas isso era melhor do que fugir.De repente, o impulso era forte, quaseincontrolável, de usar a Maçã paradestruir tudo que ele conseguisse ver,inclusive a si mesmo, porque Mariaestava morta em suas mãos e ela haviasido a sua luz. Em um momento — em umofuscante lampejo de ira — ele destruírao que mais tinha de precioso.

Os Assassinos pararam. Altaïr usaria aMaçã? Ele conseguia ver a pergunta emseus olhos.

— Peguem-no! — guinchou Abbas, eeles se aproximaram cautelosamente.

Em volta de Altaïr, os Assassinospareciam incertos se o atacariam ou não,então ele correu.

— Arqueiros! — berrou Abbas, e os

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soldados armaram seus arcos enquantoAltaïr corria para fora do pátio.

Choveram flechas à sua volta, umadelas cortando sua perna. Da esquerda eda direita, vieram correndo maisAssassinos, os mantos ondeando, espadaserguidas. Talvez agora tivessem deduzidoque Altaïr não usaria a Maçã uma segundavez e saltaram de muros e balaustradaspara se juntar à perseguição. Escapando,Altaïr chegou a um arco e o encontroubloqueado. Virou-se, voltou correndo epassou por entre dois Assassinos quevinham em perseguição, um deles girandoa espada e abrindo um ferimento em seubraço. Ele gritou de dor, mas continuoucorrendo, sabendo que poderiam tê-loacertado; ele os surpreendera, mas elesficaram com medo de atacá-lo — ou

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relutaram em fazê-lo.Virou-se novamente, dessa vez

seguindo para a torre de defesa. Nela,conseguiu avistar arqueiros fazendo mira,e Altaïr sabia que eles eram os melhores.Treinados pelo melhor. Nunca erravam.Não com o tempo que tinham para mirar edisparar.

Só que ele sabia quando disparariam.Sabia que levavam o tempo de um piscarde olhos para encontrar o alvo e umsegundo piscar para se firmar e inspirar,então...

Disparar.Ele deu uma guinada e rolou. Uma

salva de flechas bateu ruidosamente nochão de onde ele acabara de sair, quasetodas errando-o, menos uma. Um dosarqueiros havia checado sua mira, e a

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flecha havia arranhado a bochecha deAltaïr. O sangue escorreu por seu rostoquando ele alcançou a escada, correndoacima e chegando ao primeiro nível, ondeum surpreso arqueiro estava tremendo emvez de sacar sua espada. Altaïr empurrou-o para fora de onde estava, no alto, e eledeu uma cambalhota até o chão láembaixo. Sobreviveu.

Agora Altaïr arrastou-se acima pelasegunda escada. Sentia dores. Sangravamuito. Chegou ao topo da torre da qualsaltara havia uma vida, desgraçado entãocomo agora. Mancou até a plataforma e,enquanto homens subiam para o topo datorre à suas costas, ele abriu os braços.

E saltou.

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10 de agosto de 1257

Altaïr pretende que nós espalhemos apalavra do Assassino, é esse seu plano. Enão apenas espalhar a palavra, masestabelecer uma Ordem no Ocidente.

Envergonho-me de ter demorado tantotempo para executar isso, mas agora que ofiz, tudo parece claro: para nós(especificamente para mim, ao queparece), ele está confiando no espírito daIrmandade. Está passando a tocha paranós.

Tivemos notícia de que os mongóis,

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sedentos por guerra, estão se aproximandoda aldeia, e ele acha que devemos partirantes que se iniciem as hostilidades.Maffeo, é claro, parece estimulado pelaideia de presenciar a ação e eu tenho asensação de que preferiria queficássemos. E sua antiga sede de correr omundo? Tudo é passado. Aparentemente,nossos papéis estão invertidos, pois agorasou eu que quero partir. Ou sou maiscovarde do que ele, ou tenho uma ideiamais realista do que é um guerra sombria,pois concordo com Altaïr. Masyaf sobsítio não é um lugar para nós.

Na verdade, estou pronto para partir,venha ou não o grupo de saqueadoresmongóis. Anseio por casa, por aquelasnoites quentes. Sinto falta da minhafamília: minha mulher e meu filho, Marco.

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Ele fará 3 anos dentro de poucos meses eestou dolorosamente ciente de que vimuito pouco de seus primeiros anos. Perdiseus primeiros passos, suas primeiraspalavras.

Em suma, sinto que nosso período emMasyaf atingiu seu fim natural. Alémdisso, o Mestre disse que quer nos ver.Há uma coisa, diz ele, que precisa nos darem uma cerimônia que gostaria de realizarcom outros Assassinos presentes. Trata-sede algo, diz ele, que precisa ser mantidoem segurança, longe das mãos deinimigos: mongóis ou Templários. É aisso, creio, que suas histórias têm levado,e tenho minhas suspeitas do que deve seressa coisa preciosa. Veremos.

Enquanto isso, Maffeo está impacientepara ouvir o resto da minha história, agora

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tão perto de sua conclusão. Ele fez carafeia quando lhe informei que planejavaavançar a narrativa no tempo, do momentoem que Altaïr saltou dos bastiões dacidadela, um homem humilhado edestruído, até um período cerca de vinteanos depois, e não para Masyaf, mas a umponto do deserto a dois dias de viagem...

...para uma planície interminável aocrepúsculo, aparentemente vazia, a nãoser por um homem sobre um cavaloconduzindo outro cavalo, o segundo,rocinante e carregado com cântaros ecobertores.

À distância, o cavaleiro parecia umnegociante com seus artigos, e, de perto,exatamente o que era, suando debaixo doturbante: um negociante muito cansado e

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digno chamado Mukhlis.Então, quando avistou o poço ao longe,

Mukhlis soube que tinha de deitar edescansar. Esperava chegar em casa semparar, mas não tinha escolha: estavaexausto. Muitas vezes, durante a viagem, oritmo do cavalo o tinha embalado e elesentira o queixo comprimir o peito, osolhos piscarem e se fecharem. Ficou cadavez mais difícil resistir ao sono. Cada vezque o movimento da viagem o acalentavaem direção ao sono, uma nova batalha eratravada entre coração e cabeça. Suagarganta estava ressecada. O mantopendia pesado sobre ele. Cada osso emúsculo do corpo zuniam de fadiga. Aideia de molhar os lábios e deitar com seuthawb puxado em volta do corpo porapenas algumas horas talvez, o suficiente

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para recobrar um pouco de energia antesde retomar a viagem de volta para casaem Masyaf — bem, a ideia era quasedemais para ele.

O que o fazia hesitar, porém, o que lhedava medo de parar era o rumor que tinhaouvido — o rumor de bandidos noexterior, ladrões que atacavamnegociantes, levavam as mercadorias ecortavam suas gargantas, um bando desalteadores liderados por um criminosochamado Fahad, cuja legendáriabrutalidade só era rivalizada pela de seufilho, Bayhas.

Bayhas, diziam, pendurava suas vítimaspelos pés antes de cortá-las da gargantaaté a barriga e deixar que morressemlentamente, os cães selvagens regalando-se com suas entranhas penduradas. Bayhas

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fazia isso e dava risadas.Mukhlis gostava de suas entranhas

dentro do corpo. Nem tinha qualquerdesejo de entregar todas as suas possesmundanas a bandidos. Afinal, as coisasem Masyaf estavam difíceis e se tornandocada vez mais difíceis. Os aldeões eramforçados a pagar uma coleta cada vezmais alta ao castelo no promontório —disseram-lhe que o custo para proteger acomunidade estava aumentando; o Mestreera impiedoso na exigência de taxas daspessoas e, geralmente, enviava grupos deAssassinos encosta abaixo para forçá-losa pagar. Aquele que se recusavaprovavelmente era agredido, depoismandado para fora do portão para vagarlá fora, na esperança de ser aceito poroutro povoado, ou ficar à mercê dos

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bandidos que tornaram as planíciesrochosas em volta de Masyaf seu lar epareciam cada vez mais audaciosos emseus ataques contra viajantes.Antigamente, os Assassinos — ou, pelomenos, a ameaça deles — mantinham asrotas de comércio seguras.Aparentemente, não mais.

Portanto, se voltasse para casa sem umcentavo, incapaz de pagar os dízimos queAbbas exigia dos aldeões mercadores e ascoletas que impunha às pessoas, Mukhlispoderia ver a si mesmo e à sua famíliaexpulsos da aldeia: ele, a esposa Aalia ea filha Nada.

Mukhlis pensava em tudo isso ao seaproximar do poço, ainda indeciso sedeveria ou não parar.

Havia um cavalo parado debaixo da

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grande figueira que se espalhava acima dopoço, uma imensa copa convidativa desombra fresca e abrigo. Estavadesamarrado, mas o cobertor em suascostas mostrava que pertencia a alguém,provavelmente a um colega viajante queparara para beber água, preencher seuscantis ou, talvez, como Mukhlis, pousar acabeça e descansar. Mesmo assim,Mukhlis ficou nervoso ao se aproximar dopoço. Sua montaria sentiu a proximidadede água e relinchou agradecidamente, eMukhlis teve de freá-la para evitar quefosse trotando até o poço, onde agora eleviu alguém enroscado, dormindo. Eledormia com a cabeça sobre a mochila, omanto enrolado sobre o corpo, o capuzlevantado e os braços cruzados sobre opeito. Pouco de seu rosto era visível, mas

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Mukhlis viu uma pele morena desgastadapelo tempo, enrugada e com cicatrizes.Era um homem velho, no fim da casa dos70 anos ou no início da dos 80.Fascinado, Mukhlis estudou o rosto dodorminhoco — então os olhos abriram-sede repente.

Mukhlis recuou um pouco, surpreso eamedrontado. Os olhos do velho eramaguçados e vigilantes. Ele permaneceutotalmente imóvel e Mukhlis percebeuque, embora ele próprio fosse muito maisnovo, o estranho não se deixou intimidarpor sua presença.

— Sinto muito se o perturbei, senhor —disse Mukhlis, inclinando a cabeça, a vozvacilando ligeiramente. O estranho nadadisse, apenas observou Mukhlisdesmontar, depois levar seu cavalo até o

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poço e pegar o balde de couro para queele pudesse beber. Por mais um momento,o único som foi a suave batida do baldena parede do poço enquanto a água erarecolhida, e depois o ruído do cavalobebendo. Mukhlis também bebeu. Deu umpequeno gole, depois engoliu a água,molhando a barba e lavando o rosto.Encheu seus cantis e levou água para osegundo cavalo, amarrando os dois.Quando olhou novamente para o estranho,ele tinha adormecido outra vez. Tudo quehavia mudado nele era que não estavamais com os braços cruzados. Em vezdisso, estavam perto da cabeça, pousadossobre a mochila que usava comotravesseiro. Mukhlis tirou um cobertor desua própria mochila, encontrou um lugardo outro lado do poço e deitou-se para

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dormir.Quanto tempo depois ele ouviu

movimento e abriu os olhos embaçadospara ver uma pessoa de pé a seu lado?Uma pessoa iluminada pelos primeirosraios do sol matinal, o cabelo e a barbanegros rebeldes e desgrenhados, brinco deouro em uma orelha, e dando um largo emaldoso sorriso. Mukhlis tentou secolocar de pé, mas o homem agachou-secom uma adaga reluzente indo direto parao seu pescoço, de modo que o negocianteficou paralisado de medo, um soluçoescapando de seus lábios.

— Eu sou Bayhas — apresentou-se ohomem, ainda sorrindo. — Sou o últimorosto que você verá.

— Não — choramingou Mukhlis, masBayhas já estava puxando-o para colocá-

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lo de pé, e então o comerciante viu que obandido tinha dois companheiros, quetiravam todas as mercadorias de seuscavalos e as transferiam para seuspróprios animais.

Ele procurou pelo velho que estavadormindo, mas este não estava mais lá,embora Mukhlis pudesse ver seu cavalo.Já o teriam matado? Estaria caído com agarganta cortada?

— Corda — pediu Bayhas. Aindamantinha a adaga na garganta de Mukhlis,quando um de seus comparsas jogou-lheum rolo de corda. Assim como Bayhas,ele se vestia de preto e tinha a barbadesgrenhada, o cabelo coberto por umkeffiyeh. Em suas costas, havia um arcolongo. O terceiro homem usava o cabelocomprido, sem barba, tinha uma larga

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cimitarra no cinto e estava ocupado emvasculhar os fardos de Mukhlis, jogandona areia os objetos indesejados.

— Não — gritou Mukhlis, vendo umapedra pintada cair no chão.

O objeto lhe fora dado pela sua filhacomo presente de boa sorte no dia em queele partiu, e a visão da pedra ser jogadafora por um assaltante foi demais para ele.Livrou-se das mãos de Bayhas e correupara o Cabelo Comprido, que se preparoupara recebê-lo com um sorriso,derrubando-o depois com um violentosoco na traqueia. Os três ladrões deramestrondosas gargalhadas enquanto Mukhlisdebatia-se e sufocava no chão.

— O que foi? — gracejou CabeloComprido, curvando-se sobre ele. Viupara onde Mukhlis estava olhando,

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apanhou a pedra e leu as palavras queNada havia pintado. “Boa sorte, papai”.— Foi isto? Foi isto que fez você ficar tãobravo de repente, papai?

Mukhlis estendeu a mão para a pedra,desesperado para recuperá-la, mas, comuma pancada, Cabelo Comprido afastousua mão com desdém, em seguidaesfregou a pedra no traseiro — rindo maisainda porque Mukhlis urrava deindignação — e jogou-a no poço.

— Plop — zombou.— Seu... — começou Mukhlis. —

Seu...— Amarre as pernas dele — ouviu às

suas costas. Bayhas jogou a corda paraCabelo Comprido e se aproximou,agachou-se e colocou a ponta da facaperto do globo ocular de Mukhlis.

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— Aonde estava indo, papai?— Para Damasco — mentiu Mukhlis.Bayhas cortou sua bochecha com a faca

e ele berrou de dor.— Aonde estava indo, papai —

interrogou novamente.— A roupa dele é de Masyaf — disse

Cabelo Comprido, que amarrava a cordanas pernas de Mukhlis.

— Masyaf, hein? — repetiu Bayhas. —Antigamente, vocês podiam contar com osAssassinos como apoio, mas não mais.Que tal uma visita à aldeia? Pode ser quea gente encontre uma viúva aflitaprecisando de consolo. O que diz, papai?Depois de acabarmos com você.

Cabelo Comprido então se levantou ejogou a ponta da corda por cima de umgalho da figueira, pegando-a de volta para

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que Mukhlis pudesse ser içado. Seumundo virou de cabeça para baixo. Elechoramingou quando Cabelo Compridoamarrou a ponta da corda no arco dopoço, mantendo-o lá. Agora Bayhas seaproximou e o girou. Ele virou e viu oarqueiro parado a alguns metros dali,virando o corpo para trás de tanto rir.Bayhas e Cabelo Comprido chegarammais perto e riram também. Bayhasinclinou-se para ele.

Ainda girando, ele viu o muro do poçopassar; girou novamente e viu os trêsladrões, Cabelo Comprido, Bayhas, oterceiro homem e...

Um par de pernas surgiu da árvore atrásdo terceiro homem.

Mas Mukhlis continuou rodando e omuro do poço surgiu novamente. Girou,

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agora mais devagar, para a parte dafrente, onde os três ladrões ignoravam quehavia outro homem entre eles, parado logoatrás. Um homem cujo rosto estava quasetodo oculto pelo capuz do manto queusava, a cabeça ligeiramente abaixada, osbraços estendidos, quase como em umasúplica. O velho.

— Parem — disse o velho. Assimcomo o rosto, a voz estava gasta pelotempo.

Todos os três assaltantes se virarampara encará-lo, tensos, prontos pararetalhar o intruso.

E os três começaram a dar risadinhas.— O que é isso? — riu Bayhas. — Um

idoso veio estragar nossa diversão? O queplaneja fazer, velho? Nos entediar até amorte com suas histórias dos velhos

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tempos? Peidar na nossa frente?Seus dois companheiros riram.— Desçam ele daí — ordenou o velho,

apontando para onde Makhlis aindapendia de cabeça para baixo, balançandona corda. — Imediatamente.

— E por que eu faria isso? —perguntou Bayhas.

— Porque eu estou mandando — disseo velho com a voz rouca.

— E quem é você para exigir isso demim?

O velho agitou a mão.Clique.

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O arqueiro apanhou seu arco, mas comdois passos Altaïr o alcançou, desferindosua lâmina em um amplo arco que abriu opescoço do homem, cortou o arco no meioe encurtou seu gorro com apenas um corte.Houve um leve estrépito quando o arco dobandido caiu no chão, seguido por umbaque surdo quando seu corpo se juntou aele.

Altaïr — que não combatia por duasdécadas — ficou parado com os ombrosarquejando, observando Bayhas e CabeloComprido, suas expressões mudando deescárnio para cautela. A seus pés, o

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arqueiro se contorcia e gorgolejava, seusangue empapando a areia. Sem tirar osolhos de Bayhas e Cabelo Comprido,Altaïr apoiou-se sobre um dos joelhos eenfiou a lâmina nele, silenciando-o. Elesabia que agora o medo era sua grandearma. Aqueles homens tinham juventude evelocidade a seu lado. Eram selvagens eimpiedosos, acostumados com a morte.Altaïr tinha experiência. Esperava queisso fosse o bastante.

Cabelo Comprido e Bayhas trocaramum olhar. Eles não estavam mais sorrindo.Por um momento, o único som em volta dopoço era o suave ranger da corda no galhoda figueira, Mukhlis observando tudo decabeça para baixo. Seus braços nãoestavam amarrados e ele ficou imaginandose tentaria se soltar, mas achou melhor

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não atrair atenção para si mesmo.Os dois salteadores se afastaram um do

outro na tentativa de flanquear Altaïr, queobservou o espaço que se abriu entre eles,revelando o comerciante pendurado decabeça para baixo. Cabelo Compridojogava a cimitarra de uma mão para aoutra com um leve som de palmada.Bayhas mordia o interior da bochecha.

Cabelo Comprido deu um passoadiante, golpeando com a cimitarra. O arpareceu vibrar com o som de açoreverberando quando Altaïr o deteve comsua lâmina, varrendo com o braço paradesviar a cimitarra, sentindo os músculosreclamarem. Se os ladrões fizessemataques curtos, ele não tinha certeza dequanto tempo conseguiria durar. Era umvelho. Velhos cuidavam de jardins ou

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passavam as tardes meditando em seusgabinetes, lendo e pensando naqueles queamaram e perderam: não se envolviam emlutas de espada. Principalmente nãofaziam isso quando estavam emdesvantagem numérica em relação aoponentes mais jovens. Ele estocou nadireção de Bayhas, querendo evitar que olíder o flanqueasse, e isso deu certo —mas Bayhas arremessou-se perto obastante com a adaga para cortar Altaïr nopeito, abrindo um ferimento, o primeiro atirar sangue do oponente. Altaïr atacoupor sua vez, e eles se chocaram, trocandogolpes, mas dando a Cabelo Comprido achance de se aproximar antes que Altaïr opudesse repelir. Cabelo Compridogolpeou desenfreadamente com sualâmina, abrindo um grande corte na perna

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de Altaïr.Grande. Profundo. Esguichou sangue, e

Altaïr quase tropeçou. Mancou para olado, tentando ficar junto ao poço para terde se defender apenas pela frente. Quandochegou lá, ficou com o muro do poço aseu lado, e, atrás dele, o comerciantependurado.

— Tenha força — ouviu o negociantefalar baixinho —, e saiba que, aconteça oque acontecer, você terá a minha gratidãoe o meu amor, seja nesta vida ou napróxima.

Altaïr assentiu, mas não se virou, emvez disso, observava os dois bandidos àsua frente. A visão de Altaïr sangrando ostinha alegrado e, encorajados, avançaramcom mais golpes, investidas pungentes.Altaïr repeliu três ofensivas, conseguindo

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novos ferimentos, agora sangrando muito,mancando, sem fôlego. O medo não eramais a sua arma. Essa vantagem tinha sidoperdida. Tudo que possuía agora eramhabilidades e instintos havia muito tempoadormecidos, e sua mente recuou atéalgumas de suas maiores batalhas:superando os homens de Talal, vencendoMoloch, derrotando os cavaleirostemplários no cemitério de Jerusalém. Oguerreiro que havia travado essas batalhasteria cortado e matado aqueles em doissegundos.

Aquele guerreiro, porém, viveu nopassado. Envelhecera. A dor e asegregação o tinham enfraquecido.Passara vinte anos pranteando Maria,obcecado com a Maçã. Suas habilidadesde combate, por maiores que fossem,

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foram deixadas para definhar e,aparentemente, morrer.

Sentiu sangue nas botas. Suas mãosestavam pegajosas por causa dele.Oscilava loucamente com a espada, nemtanto para se defender quanto para tentarafastar os atacantes. Pensou em suamochila, segura na figueira: a Maçãestava dentro dela. Pegar a Maçã o fariasair como vencedor, mas ela estava longedemais e, de qualquer modo, havia juradonunca mais voltar a usá-la; ele a deixarana árvore exatamente por isso, paramanter a tentação fora do alcance. Mas averdade era que, se conseguisse alcançá-la, ele teria de usá-la agora, em vez demorrer daquele modo e entregar ocomerciante para eles, certamentecondenando-o a uma morte mais dolorosa

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e torturante por causa dos seus atos.Sim, ele teria usado a Maçã, porque

estava perdido. E ele se deu conta de quehavia deixado que eles o virassemnovamente. Cabelo Comprido avançoupara ele da periferia de sua visão, e gritoucom o esforço de desviar seu golpe,enfrentando suas aparadas de golpe cominvestidas — um, dois, três —,encontrando um caminho por baixo daguarda de Altaïr e cortando seu flancooutra vez, um golpe profundo que sangroumuito, de imediato. Era melhor morrerdaquela maneira, pensou, do que se renderhumildemente. Era melhor morrer lutando.

Cabelo Comprido agora avançou ehouve outra colisão de espadas. Altaïr foiferido de novo, dessa vez na perna boa.Caiu de joelhos, os braços pendendo, a

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espada inútil nada ferindo a não ser areia.Cabelo Comprido deu um passo

adiante, mas Bayhas o deteve.— Deixe-o para mim — ordenou.Vagamente, Altaïr descobriu-se

pensando em outra época, mil vidas atrás,quando seu oponente dissera a mesmacoisa, e como, naquela ocasião, fizera ocavaleiro pagar pela sua arrogância.Aquela satisfação lhe seria negada destavez, pois Bayhas vinha na direção deAltaïr, que estava ajoelhado, oscilando ederrotado, no chão, a cabeça pendendo.Tentou ordenar às suas pernas que selevantassem, mas elas não obedeceram.Tentou erguer a mão com a espada, masnão conseguiu. Viu a adaga vindo em suadireção e conseguiu levantar a cabeça altoo bastante para ver os dentes trincados de

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Bayhas, seu brinco de ouro brilhando aosol...

Então o comerciante, de cabeça parabaixo, deu um pinote, balançou e abraçouBayhas por trás, momentaneamenteimpedindo seu progresso. Com um fortegrito, uma eclosão final de esforço,energia tirada ele não sabia de onde,Altaïr levantou-se com um impulso, aespada cortando a barriga de Bayhas,abrindo um corte vertical que terminouquase em sua garganta. Ao mesmo tempo,Mukhlis havia agarrado a adaga poucoantes de ela cair pelos dedos afrouxadosde Bayhas, dando um impulso para cima ecortando a corda que o prendia. Caiu,batendo dolorosamente o lado do corpono muro do poço, mas conseguiu se pôr depé e ficou lado a lado com seu salvador.

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Altaïr estava curvado, o corpo quasetodo dobrado, morrendo a seus pés. Masergueu a espada e fitou com os olhosestreitados Cabelo Comprido, o qual viu-se repentinamente em desvantagemnumérica e desanimado. Em vez de atacar,recuou até alcançar um cavalo. Sem tiraros olhos de Altaïr e Mukhlis, montou. Obandido os encarou e eles o encararam devolta. Então, significativamente, passouum dedo pela garganta e foi emboracavalgando.

— Obrigado — disse Muklis paraAltaïr, ofegante, mas o Assassino nãorespondeu. Ele tinha desabado,inconsciente, na areia.

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Foi na semana seguinte que chegou oenviado do líder dos salteadores. Aspessoas da aldeia observaram-noatravessar cavalgando o município e pelascolinas que levavam à cidadela. Era umdos homens de Fahad, disseram, e os maissensatos entre eles achavam que sabiam anatureza de seu assunto na fortaleza. Doisdias antes, homens de Fahad tinham ido àaldeia com a notícia da oferta de umarecompensa para quem identificasse ohomem que havia matado o filho deFahad, Bayhas. Ele fora ajudado por umnegociante de Masyaf, disseram, e não

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seria causado qualquer dano aonegociante que indicasse o cão quecovardemente havia retalhado o amadofilho do líder dos salteadores. Os aldeõestinham balançado as cabeças e retornadoaos seus afazeres, e os homens tinhamvoltado de mãos abanando, resmungandosombrias ameaças sobre seu planejadoretorno.

E assim foi, disseram os fofoqueiros —pelo menos, aquele foi um precursor. Nemmesmo Fahad ousaria enviar homens àaldeia que desfrutava a proteção dosAssassinos: ele teria de pedir permissãoao Mestre. Nem mesmo Fahad ousariafazer o pedido a Altaïr ou Al Mualim, masAbbas era outra questão. Abbas era fracoe podia ser comprado.

Então o enviado retornou. Na viagem

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de ida, ele parecera sério, emboradesdenhoso dos aldeões que oobservavam passar, mas agora olhava-oscom um sorriso afetado e passava o dedopela garganta.

— Parece que o Mestre deu suaaprovação para Fahad vir à aldeia —comentou Mukhlis, tarde daquela noite,depois que as velas queimaram. Eleestava sentado ao lado da cama doestranho, falando mais para si mesmo doque para o homem deitado, que não haviarecobrado a consciência desde a batalhano poço. Posteriormente, Mukhlisconseguira colocá-lo na sela de seusegundo cavalo e trazê-lo para Masyafpara que pudesse ser tratado. Aalia eNada haviam cuidado dele e, por trêsdias, se perguntaram se ele viveria ou

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morreria. A perda de sangue o deixarapálido como a névoa e deitado na cama— Aalia e Mukhlis haviam cedido a suapara ele —, a aparência quase serena,como um cadáver, como se a qualquermomento pudesse partir do mundo. Noterceiro dia, sua cor começou a melhorar.Aalia comunicara isso a Mukhlis quandoeste voltara do mercado, e ele tomara seulugar habitual em uma cadeira ao lado dacama para falar com seu salvador, naesperança de reanimá-lo. Ele tinhaadotado o hábito de relatar como fora seudia, ocasionalmente falando de coisassignificativas na esperança de despertar oinconsciente do paciente e trazê-lo devolta.

— Abbas deu seu preço, ao que parece— disse ele agora. Olhou de lado para o

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estranho, que estava deitado de costas, osferimentos sarando normalmente, eficando mais forte a cada dia. — OMestre Altaïr teria morrido a permitir talcoisa — falou.

Inclinou-se à frente, observandocuidadosamente a figura na cama.

— O Mestre, Altaïr Ibn-La’Ahad.Pela primeira vez desde que fora

trazido à casa de Mukhlis, os olhos doestranho tremeluziram e se abriram.

Era a reação que ele esperava, mas,mesmo assim, foi apanhado de surpresa,observando enquanto a vista nublada dopaciente recuperava sua luz.

— É você, não é? — sussurrou Mukhlisquando o estranho piscou, então voltou oolhar para ele. — Você é ele, não é? Vocêé Altaïr.

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Altaïr confirmou com a cabeça.Lágrimas formigaram nos olhos deMukhlis e ele baixou da cadeira para ochão de pedra, segurando uma das mãosde Altaïr nas suas.

— Você voltou para nós — disse eleentre soluços. — Você veio nos salvar. —Houve uma pausa. — Você veio nossalvar?

— Vocês precisam ser salvos? —perguntou Altaïr.

— Precisamos. Era sua intenção vir aMasyaf quando nos encontramos?

Altaïr pensou.— Quando deixei Alamut, era

inevitável que eu viesse parar aqui. Aúnica pergunta era quando.

— Você estava em Alamut?— Nesses últimos vinte anos, mais ou

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menos.— Eles disseram que você estava

morto. Que, na manhã em que Mariamorreu, você se jogou da torre dacidadela.

— Eu me joguei da torre da cidadela— disse Altaïr sorrindo sombriamente —,mas sobrevivi. Caí no rio que passa forada cidade. Por sorte, Darim estava lá. Elevoltava de uma viagem a Alamut, ondeencontrara a viúva e as duas filhas de Sef.Ele me salvou e me levou para elas.

— Eles disseram que você estavamorto — repetiu Mukhlis.

— Eles?Mukhlis abanou a mão, querendo

indicar a cidadela.— Os Assassinos.— Convinha a eles dizer isso, mas

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sabiam que eu não estava.Soltou a mão das de Mukhlis, ergueu-se

para se sentar, girando as pernas para forada cama. Olhou para os pés, para a velhapele enrugada. Cada milímetro de seucorpo vibrava de dor, mas ele se sentia...melhor. Puxou o capuz para a cabeça,gostando da sensação e sentindo o cheiroda roupa limpa.

Colocou a mão no rosto e sentiu que abarba fora cuidada. Não longe daliestavam suas botas e, na mesinha ao ladoda cama, viu o mecanismo de sua lâmina,seu novo desenho atualizado pela Maçã.Parecia impossivelmente avançado, e elepensou nos outros desenhos que haviadescoberto. Precisou da ajuda de umferreiro para fazer os objetos. Mas,antes...

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— Minha mochila? — perguntou aMukhlis, que tinha se colocado de pé. —Onde está minha mochila?

Sem falar, Mukhlis apontou para ondeela se encontrava, no chão de pedra àcabeceira da cama, e Altaïr olhou derelance para sua forma familiar.

— Você olhou dentro dela? — indagou.Mukhlis negou de modo firme com a

cabeça, e Altaïr examinou-o com osolhos. Então, acreditando nele,descontraiu e alcançou as botas,calçando-as, e tremendo ao fazê-lo.

— Quero lhe agradecer por ter cuidadode mim — disse ele. — Se não fossevocê, eu teria morrido no poço.

Fazendo pouco caso, Mukhlis retomouseu assento.

— Minha mulher e minha filha

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cuidaram de você, e sou eu que devo lheagradecer. Você me salvou de uma mortehorrível nas mãos daqueles bandidos. —Inclinou-se à frente. — Sua maneira deagir foi como a de Altaïr Ibn-La’Ahad dalenda. Contei para todo mundo.

— As pessoas sabem que estou aqui?Mukhlis abriu os braços.— Claro. A aldeia toda conhece a

história do herói que me livrou das mãosda morte. Todos acreditam que era você.

— E o que faz com que eles pensemisso? — perguntou Altaïr.

Mukhlis nada disse. Em vez disso,indicou com o queixo a mesinha baixaonde reluzia inerte o mecanismo dalâmina, afiado e lubrificado.

Altaïr refletiu.— Você lhes falou sobre a lâmina?

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Mukhlis pensou.— Bem, falei — disse ele —, é claro.

Por quê?— A notícia chegará à cidadela. Eles

virão atrás de mim.— Eles não serão os únicos —

insinuou Mukhlis, pesaroso.— O que quer dizer?— Hoje mais cedo, um mensageiro do

pai do homem que você matou visitou afortaleza.

— E quem era o homem que matei?— Um assassino cruel chamado

Bayhas.— E seu pai?— Fahad, líder de um bando de

assaltantes que perambulam pelo deserto.Dizem que está acampado a dois ou trêsdias a cavalo daqui. Foi de lá que veio o

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mensageiro. Dizem que foi pedirpermissão ao Mestre para vir à aldeia ecaçar o matador.

— O Mestre? — indagou Altaïr. —Abbas?

Mukhlis confirmou com a cabeça.— Ofereceram uma recompensa pelo

matador, mas os aldeões a rejeitaram.Abbas talvez não tenha sido tão firmeassim.

— Quer dizer que as pessoas têm bomcoração — concluiu Altaïr —, mas seulíder não.

— Sábias palavras raramentepronunciadas — concordou Mukhlis. —Ele toma nosso dinheiro e não dá nada emtroca, e quando antes a cidadela era ocoração da comunidade e do qualprovinha força, orientação...

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— E proteção — completou Altaïr comum meio sorriso.

— Isso também — aquiesceu Mukhlis.— Todas essas coisas se foram com você,Altaïr, e foram substituídas por...corrupção e paranoia. Dizem que Abbasfoi forçado a subjugar uma rebeliãodepois que você partiu, uma rebelião deAssassinos leais a você e a Malik; que elemandou matar os cabeças; que ele teme arepetição da insurreição. A paranoia delefaz com que permaneça em sua torre dia enoite, imaginando tramas e mandandomatar aqueles que acha serem osresponsáveis. Os princípios da Ordemestão se desintegrando em volta dele, domesmo modo como certamente a própriafortaleza se encontra dilapidada. Dizemque ele tem um sonho recorrente. Que um

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dia Altaïr Ibn-La’Ahad volta do exílio emAlamut com... — Fez uma pausa, olhou desoslaio para Altaïr e depois para amochila — ...com um artefato capaz dederrotá-lo... Existe tal coisa? Vocêplaneja um ataque?

— Mesmo se houvesse, não será umartefato que derrotará Abbas. É a crença,a crença em nós mesmos e no Credo queconseguirá isso.

— A fé de quem, Altaïr?Altaïr abanou o braço.— De vocês. Do povo e dos

Assassinos.— E como você vai recuperá-la? —

perguntou Mukhlis.— Pelo exemplo — respondeu Altaïr

—, um pouco de cada vez.No dia seguinte, Altaïr foi à aldeia,

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onde começou não apenas a pregar omodo dos Assassinos, mas a demonstrá-lo.

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Tinha havido lutas nas quais Altaïrprecisara intervir, disputas entrecomerciantes que haviam requisitado suamoderação, discussões sobre terras entrevizinhos, mas nenhuma fora tão espinhosacomo a de duas mulheres que pareciambrigar por um homem. O homem emquestão, Aaron, estava sentado em umbanco na sombra, curvado de vergonhaenquanto as duas mulheres discutiam.Mukhlis, que tinha ido à aldeia com Altaïrpara cuidar de seus negócios, tentavainterceder, enquanto Altaïr permaneciaafastado, os braços cruzados, esperando

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pacientemente por uma pausa nashostilidades para poder falar com eles.Ele já havia decidido o que dizer: Aaron,naquela instância, teria de exercer,gostasse ou não, seu livre-arbítrio. Averdadeira preocupação de Altaïr estavacom o garoto, cuja febre já havia semanifestado e a quem ele haviaadministrado a poção; a receita, é claro,obtida por meio da Maçã.

Ou com o cesteiro que estava criandonovas ferramentas para ele, comespecificações fornecidas por Altaïr, queas transcrevera da Maçã.

Ou com o ferreiro, que havia posto osolhos nos desenhos que Altaïr lhe dera,observando-os de cabeça para baixo eolhando-os de soslaio. Depois oscolocara sobre uma mesa para que Altaïr

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pudesse indicar exatamente o queprecisava ser forjado. Em breve, oAssassino teria novo equipamento; novasarmas, de um tipo nunca visto.

Ou com o homem que o andaravigiando esses últimos dias, que oacompanhara como uma sombra,permanecendo fora de vista, ou assim elepensava. Altaïr o descobriraimediatamente, é claro. Notara suapostura, soubera que era um Assassino.

Isso tivera de acontecer, é claro. Abbasteria enviado seus agentes à aldeia parasaber sobre o estranho que lutava com alâmina oculta do Assassino. Abbascertamente chegaria à conclusão de queAltaïr voltara para recuperar a Ordem.Talvez esperasse que os bandidosmatassem Altaïr por ele; talvez enviasse

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um homem encosta abaixo para matá-lo.Talvez essa sombra fosse o Assassino deAltaïr.

As mulheres continuavam discutindo.Mukhlis falou, com o canto da boca:

— Mestre, parece que me enganei.Essas mulheres não estão discutindo sobrequem deveria ficar com o infeliz Aaron,mas quem deveria levá-lo.

Altaïr deu uma risada.— Minha decisão continua a mesma —

disse ele, lançando um olhar divertidopara onde Aaron estava sentado roendo asunhas. — Cabe ao jovem decidir seupróprio destino. — Olhou furtivamentepara seu espreitador, que estava sentado àsombra das árvores, o manto cor de lamaenvolto no corpo, olhando para o mundocomo um aldeão sonolento.

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Para Mukhlis, ele disse:— Voltarei logo. A conversa deles está

me dando sede.Virou-se e deixou o pequeno grupo,

alguns dos quais estavam se preparandopara segui-lo, quando Mukhlis,discretamente, acenou para que voltassem.

Altaïr sentiu, em vez de ver, suasombra também se levantar, seguindo-oenquanto caminhava para uma praça e afonte em seu centro. Ali, curvou-se,bebeu, e pôs-se de pé, fingindo olhar aaldeia lá embaixo. Então...

— Está bem — disse ele ao homem quesabia estar parado atrás dele. — Se vaime matar, é melhor fazer isso agora.

— Vai simplesmente deixar?Altaïr deu uma risadinha— Não passei minha vida percorrendo

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o caminho de um guerreiro para me deixarapanhar por um jovem filhote em umafonte.

— Você me ouviu?— Claro que ouvi. Ouvi você se

aproximar tão dissimuladamente quantoum elefante e notei que você privilegiaseu lado esquerdo. Se atacar, eu memovimentarei pela direita para enfrentarseu lado mais fraco.

— Eu não anteciparia isso?— Bem, isso dependeria do alvo. Você

faria isso, é claro, conhecendo bem seualvo e estando a par de suas habilidadesde combate.

— Eu sei que este aqui teminsuperáveis habilidades de combate,Altaïr Ibn-La’Ahad.

— É mesmo? Você não devia passar de

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uma criança quando chamei Masyaf deminha pela última vez.

Agora Altaïr virou-se para encarar oestranho, que tirou o capuz para revelar orosto de um homem jovem, talvez com 20anos, a barba negra. Ele tinha um formatode queixo e olhos que Altaïr reconheceu.

— Eu fui — disse o rapaz. — Eu fui umrenascido.

— Então não foi doutrinado contramim? — perguntou Altaïr, projetando oqueixo na direção da cidadela nopromontório acima deles. Ela permaneciaagachada ali como se os observasse.

— Alguns são mais facilmentedoutrinados do que outros — comentou orapaz. — Há muitos que permaneceramfiéis aos códigos antigos, e esse número émaior à medida que os efeitos perniciosos

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dos novos modos se tornam maisevidentes. Eu, porém, tenho mais motivosdo que a maioria para permanecer fiel.

Os dois Assassinos continuaram cara acara diante da fonte, e Altaïr teve asensação de seu mundo balançar umpouco. De repente, sentiu como se fossedesfalecer.

— Qual é o seu nome? — perguntou, esua voz soou estranha aos própriosouvidos.

— Tenho dois nomes — explicou orapaz. — O nome pelo qual sou conhecidoda maioria da Ordem, que é Tazim. Mastenho outro nome, meu nome de batismo,que me foi dado pela minha mãe emhomenagem a meu pai. Ele morreu quandoeu era apenas um bebê, morto por ordemde Abbas. O nome dele era...

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— Malik. — Altaïr prendeu arespiração e avançou, lágrimasformigando em seus olhos quando segurouo rapaz pelos ombros. — Meu menino! —exclamou. — Eu devia ter adivinhado.Você tem os olhos do seu pai. — Soltouuma risada. — Não estou tão certo quantoà sua dissimulação, mas... você possui oespírito dele. Eu não sabia... Nunca soubeque ele tinha um filho.

— Minha mãe foi mandada para longedaqui, logo após ele ser preso. Quandoatingi a juventude, voltei para me juntar àOrdem.

— Para buscar vingança?— Ocasionalmente, talvez. O que

melhor estiver de acordo com a memóriadela. Agora que você chegou, vejo amaneira.

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Altaïr colocou as mãos sobre seusombros, conduziu-o para longe da fonte, eeles atravessaram a praça, conversandointensamente.

— Que tal as suas habilidades decombate? — perguntou ao jovem Malik.

— Sob o comando de Abbas, essascoisas foram negligenciadas, mas tenhotreinado. No entanto, o conhecimentoAssassino mal avançou nos últimos vinteanos.

Altaïr deu uma risadinha.— Não aqui, talvez. Mas aqui. —

Altaïr bateu do lado da cabeça. — Aqui oaprendizado Assassino aumentou dezvezes mais. Tenho essas coisas paramostrar à Ordem. Planos. Estratégias.Projetos de novas armas. Neste momento,o ferreiro da aldeia as está forjando para

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mim.Respeitosamente, aldeões afastaram-se

do caminho deles. Todos agora sabiam arespeito de Altaïr, e aqui, pelo menos nocontraforte da fortaleza, ele eranovamente o Mestre.

— E você diz que há outros no casteloleais a mim? — indagou Altaïr.

— Há tantos que odeiam Abbas quantoos que o servem. Mais até, agora queinformei que vi você na aldeia. A notíciade que o grande Altaïr voltou está seespalhando de forma lenta, mas segura.

— Ótimo — disse Altaïr. — E essesque me apoiam podem ser convencidos ase agrupar para que possamos marcharcontra o castelo?

O jovem Malik parou e olhou paraAltaïr, semicerrando os olhos como se

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para verificar se o velho não estavabrincando. Então abriu um sorriso.

— Você pretende fazer isso. Vocêpretende mesmo fazer. Quando?

— Em breve o salteador Fahad traráseus homens para a aldeia — respondeu.— Precisamos estar no controle antes queisso aconteça.

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Na manhã seguinte, ao raiar do dia,Mukhlis, Aalia e Nada foram de casa emcasa, informando às pessoas que o Mestremarcharia colina acima. Animados com aexpectativa, o povo se reuniu no mercado,formando pequenos grupos ou sentadosnos muros baixos. Após algum tempo,Altaïr juntou-se a eles. Usava o mantobranco e uma faixa na cintura. Quemolhasse mais de perto, veria em seu dedoo anel do mecanismo de pulso. Foi para ocentro da praça, Mukhlis a seu lado, umconfiável tenente, e esperou.

O que Maria teria lhe dito agora?,

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pensou Altaïr enquanto esperava. O jovemMalik: Altaïr confiara neleimediatamente. Depositara tanta fé norapaz que, se fosse um traidor, seriamelhor que Altaïr estivesse morto, e seusplanos de retomar a Ordem pareceriamnada mais do que enganosas fantasias deum velho. Pensou naqueles em quemconfiara antes e que o haviam traído.Teria Maria aconselhado cautela agora?Teria ela lhe dito que ele era imprudenteem ser tão incondicional diante de provastão escassas? Ou lhe teria dito, como o fezcerta vez, “Confie nos seus instintos,Altaïr. Os ensinamentos de Al Mualim lhederam sabedoria; a traição dele o colocouno caminho da maturidade”.

Ah, e agora sou muito mais sábio, meuamor, ele disse em pensamento para ela

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— para o fragmento dela que ele mantinhaa salvo em sua memória.

Altaïr sabia que ela teria aprovado oque ele fizera com a Maçã, os anos quepassara espremendo seu sumo,aprendendo com ela. Não teria aprovadoa culpa que ele carregara por sua morte; avergonha que sentiu ao deixar que seusatos fossem guiados pela raiva. Não, elanão teria aprovado isso. O que ela teriadito? Aquela expressão inglesa que usava:“Mantenha-se firme.”

Ele quase gargalhou ao se lembrardisso. Mantenha-se firme. No final, elese manteve, é claro, mas havia levadoanos para conseguir isso — anos odiandoa Maçã, odiando a própria imagem dela,até mesmo pensar nela, o poder malignoque permanecia adormecido no interior do

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eterno mosaico liso de sua casca. Ele afitava, meditando durante horas,revivendo a dor que ela lhe trouxera.

Negligenciadas, incapazes de suportaro peso do sofrimento de Altaïr, a esposade Sef e as duas filhas tinham partido. Elerecebera a notícia de que elas haviam seinstalado em Alexandria. Um ano depois,Darim também partira, impelido peloremorso de seu pai e sua obsessão com aMaçã. Viajara para França e Inglaterra afim de alertar os líderes de lá que osmongóis estavam avançando. Deixadosozinho, o tormento de Altaïr haviapiorado. Ele passaria longas noitesfitando a Maçã, como se ele e ela fossemdois adversários prestes a guerrear —como se, no caso de que dormisse oumesmo tirasse os olhos da Maçã, ela

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pudesse atacá-lo.No final, ele pensara naquela noite no

jardim em Masyaf, em seu mentor AlMualim abatido sobre o mármore doterraço, a queda-d’água correndo aofundo. Lembrou-se de segurar a Maçãpela primeira vez e sentir que provinhadela algo que não era maligno, masbenigno. As imagens que ela haviaproduzido. Estranhos desenhos futuristasde culturas distantes retiradas de seuspróprios tempo e espaço, além da esferade seu conhecimento. Naquela noite nojardim ele compreendera instintivamentesua capacidade para o bem. Desde então,porém, ela só mostrara seus aspectosmalignos, mas aquela importantesabedoria estava ali em algum lugar. Foranecessário ser localizada e persuadida

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para sair. Fora necessário um agente parasua liberação — e Altaïr conseguiracontrolar mais uma vez o seu poder.

Antes ele tinha sido consumido pelador por causa de Al Mualim. Agora eraconsumido pela dor por causa de suafamília. Talvez a Maçã tivesse de tirarprimeiro para então dar.

Qualquer que fosse a resposta, seusestudos haviam começado, e diário apósdiário era preenchido: página após páginade filosofia, ideologia, projetos,desenhos, esquemas, memórias. Velasincontáveis queimavam enquanto elerabiscava febrilmente, parando apenaspara ir ao banheiro. Por dias a fio eleescrevia, então por dias a fio ele deixavasua escrivaninha, cavalgava sozinho parafora de Alamut, em incumbências da

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Maçã, colhendo ingredientes, juntandosuprimentos. Certa vez, o Pedaço do Édenaté mesmo o direcionara a uma série deartefatos que ele apanhou e escondeu, semrevelar a ninguém sua natureza ou seuparadeiro.

Não tinha deixado o lamento de lado, éclaro. Ainda se culpava pela morte deMaria, mas tirara disso uma lição. Sentiaagora um tipo mais puro de pesar: umanseio por Maria e por Sef, uma dor quenão parecia deixá-lo, que em um dia eratão afiada e aguda como uma lâminafazendo milhares de cortes em seucoração, e no outro era uma sensaçãonauseante e vazia, como se uma avedoente tentasse abrir as asas dentro de seuestômago.

Às vezes, porém, sorria, pois achava

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que Maria teria aprovado o fato de elechorar por ela. Isso teria agradado aquelaparte dela que permanecera sendo umamimada fidalga inglesa, que era tãocompetente em fixar um homem com umolhar arrogante quanto em derrotá-lo emcombate, seus destruidores comentáriosmordazes tão cortantes quanto sua lâmina.E, é claro, ela teria aprovado que elefinalmente tivesse conseguido se manterfirme, porém, mais do que tudo, ela teriaaprovado o que ele estava fazendo agora:pegando seu conhecimento e aprendizadoe levando-os de volta para a Ordem. Seráque ele sabia que, tendo terminado seuexílio, seguira de volta para Masyaf poresse motivo? Ainda não tinha certeza.Tudo que sabia era que, uma vez aqui, nãohavia outra opção. Visitara o local onde a

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haviam enterrado; a lápide do túmulo deMalik não estava distante, cuidada pelojovem Malik. Altaïr se dera conta de queMaria, Sef e Malik, sua mãe e seu pai, eaté mesmo Al Mualim, estavam todosperdidos para sempre. A Irmandade, noentanto, ele poderia tomar de volta.

Mas apenas se o jovem Malik fosse tãobom quanto sua palavra. E, parado ali,sentindo a excitação e a expectativa damultidão como um peso que deviasuportar nas costas, Mukhlis pairando aliperto, ele começou a imaginar. Com osolhos fixos na cidade, esperou o portão seabrir e os homens aparecerem. Malikdissera que seriam pelo menos vinte,todos apoiando Altaïr com o mesmofervor que ele. Vinte guerreiros e, com oapoio do povo, Altaïr achava que seria o

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suficiente para superar trinta ou quarentaAssassinos ainda leais a Abbas.

Imaginou se Abbas estava agora lá emcima, na torre do Mestre, olhando desoslaio para ver o que estava acontecendolá embaixo. Esperava que sim.

Por toda a sua vida, Altaïr se recusaraa encontrar gratificação na morte de outro;mas Abbas? A despeito da pena quesentia dele, havia as mortes de Sef, Malike Maria para serem levadas em conta;também havia a destruição da Ordem porcausa dele. Altaïr prometera a si mesmoque não teria prazer — nem mesmosatisfação — com a morte de Abbas.

Mas teria prazer e satisfação naausência de Abbas, depois que o tivessematado. Conseguiria se permitir isso.

Mas apenas se o portão se abrisse e

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todos os seus aliados aparecessem. Emvolta dele, as aglomerações começavam aficar inquietas. Sentia a confiança e asegurança com as quais havia acordadolentamente diminuírem.

Então tomou conhecimento de umburburinho entre os aldeões e seus olhosforam do portão do castelo — aindafirmemente fechado — para a praça. Umhomem de branco pareceu se materializarna multidão. Um homem que caminhoupara Altaïr de cabeça baixa, então tirou ocapuz e riu para ele. Era o jovem Malik.E, atrás dele, vinham outros. Todos, comoele, surgindo da multidão como setivessem ficado visíveis de repente. A seulado, Mukhlis engoliu em seco. A praçaestava, de uma hora para outra, repleta dehomens com mantos brancos. Altaïr

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começou a rir. Surpresa, alívio e alegrianaquela risada, enquanto cada homem seaproximava dele, inclinava a cabeça emrespeito, mostrando-lhe lâmina ou arco oufaca de arremesso. Mostrando-lhelealdade.

Altaïr apoiou nos ombros do jovemMalik e seus olhos brilharam.

— Retiro o que disse — retratou-se. —Você e todos os seus homens... Suadissimulação é incomparável.

Sorrindo, Malik baixou a cabeça.— Mestre, temos de partir

imediatamente. Abbas logo ficará cienteda nossa ausência.

— Que assim seja — disse Altaïr, esubiu no muro baixo da fonte para acenarpara Mukhlis, que veio em sua ajuda.

Então se dirigiu à multidão:

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— Por tempo demais o castelo nacolina tem sido um local sombrio eamedrontador, e hoje espero torná-lonovamente um farol luminoso... com aajuda de vocês. — Houve um murmúriobaixo de aprovação e Altaïr o silenciou.— O que não faremos, porém, é saudar anossa nova alvorada por meio de umacortina de sangue Assassino. Aqueles quepermaneceram fiéis a Abbas são nossosinimigos hoje, mas amanhã serão nossoscompanheiros. A amizade deles só podeser conquistada se nossa vitória formisericordiosa. Matar apenas se forabsolutamente necessário. Viemos trazerpaz a Masyaf, e não morte.

Com isso, desceu da mureta e caminhoupara a praça, os Assassinos e aldeõesseguindo atrás dele. Os Assassinos

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cobriram a cabeça com o capuz. Pareciamseveros e decididos. As pessoas vinhammais atrás: emocionadas, nervosas,receosas. Muita coisa dependia desseresultado.

Altaïr subiu a encosta em que, quandocriança, ele havia corrido para cima epara baixo; ele e Abbas juntos. ComoAssassino, correra de cima a baixo,treinando, ou por demandas do Mestre,partindo para uma missão ou retornandode uma. Agora sentia a idade nos ossos,pelejando um pouco encosta acima, masseguindo em frente.

Um pequeno grupo de pessoas leais aAbbas os encontrou na colina, uma missãode reconhecimento enviada para testar oânimo deles. A princípio, os homens queestavam com Altaïr pareceram relutantes

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em atacá-los: afinal de contas, eramcolegas com quem tinham vivido etreinado. Amigos lutaram uns contra osoutros; sem dúvida, se a luta continuasse,membros de uma mesma família poderiamficar cara a cara. Por longos momentos, ogrupo de reconhecimento mais numeroso eos adeptos de Altaïr se enfrentaram. Ogrupo de batedores tinha a vantagem deestar em terreno mais alto, mas, fora isso,eram como ovelhas mandadas para omatadouro.

Os olhos de Altaïr foram para ondepodia ver o cume da torre do Mestre.Abbas, com certeza, seria capaz de vê-loagora. Devia ter visto as pessoas subindoa colina na direção dele. Os olhos deAltaïr foram da cidadela para osbatedores, enviados à luta em nome de seu

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mestre corrupto.— Não deve haver matança — repetiu

Altaïr para seus homens, e Malik assentiu.Um dos batedores sorriu de um modo

sórdido.— Então você não irá longe, velho.Ele avançou com a espada girando na

direção de Altaïr, talvez esperandoacabar com a rebelião na raiz: matarAltaïr e deter a revolta.

Na duração de um bater de asas de umbeija-flor, o Assassino rodopiara para selivrar do ataque, sacara a espada econtivera o impulso diante do corpo doatacante, agarrando-o por trás.

O batedor deixou a espada cair aosentir a lâmina de Altaïr em sua garganta,e choramingou.

— Não haverá matança, em nome deste

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velho — murmurou Altaïr no ouvido dobatedor, e o empurrou para Malik, que oagarrou e deu um golpe para derrubá-lono chão. Os outros do grupo dereconhecimento se aproximaram, mas commenos entusiasmo, sem ânimo para a luta.Todos eles se deixaram capturar; empouco tempo, estavam presos ouinconscientes.

Altaïr observou a breve luta. Olhoupara a mão onde a espada do batedorfizera um corte e, discretamente, limpou osangue. Você foi lento, pensou. Dapróxima vez, deixe a luta para os maisjovens.

Ainda assim, esperou que Abbasestivesse olhando. Agora, homens sereuniam nos bastiões. Esperou tambémque eles tivessem visto os acontecimentos

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na colina: o grupo de reconhecimentotratado piedosamente.

Continuaram encosta acima, chegandoao planalto no momento em que finalmentefoi aberto o portão da fortaleza. MasAssassinos precipitaram-se por ele,berrando e prontos para a luta.

Atrás de si, Altaïr ouviu os aldeõesgritarem e se espalharem, embora Mukhlisos encorajasse a ficar. Altaïr virou-separa vê-lo jogar as mãos para cima, masele não podia culpar as pessoas por suafalta de determinação. Todas conheciam aterrível selvageria dos Assassinos. Semdúvida, nunca tinham visto dois bandosopostos de Assassinos lutar, nem queriamver. O que viram foi Assassinossaqueadores passar urrando pelosportões, com os dentes trincados, as

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espadas lampejantes e as botasmartelando a relva. Elas viram osseguidores de Altaïr agachados e tensos,preparando-se para a ação. E elas seabrigaram, algumas correndo em busca deproteção atrás da torre de vigia, outrasrecuando colina abaixo. Houve uma fortegritaria e o estrondo de aço quando osdois lados se encontraram. Altaïr tinhaMalik como guarda-costas, e mantinha umolho nos bastiões enquanto a batalhaseguia furiosa — os bastiões ondeestavam os arqueiros, talvez uns dezdeles. Se disparassem, a batalhacertamente estaria perdida.

Então ele viu Abbas.E Abbas o viu.Por um momento, os dois comandantes

se olharam. Abbas nos bastiões, Altaïr lá

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embaixo — forte e silencioso como umarocha, enquanto a batalha acontecia à suavolta —, os melhores amigos de infânciaque haviam se tornado amarguradosinimigos. Então o momento foi quebradoquando Abbas gritou para os arqueirosdispararem. Altaïr viu incerteza em seusrostos quando ergueram os arcos.

— Ninguém deve morrer — berrouAltaïr, pedindo aos seus próprios homens,sabendo que a maneira de conquistar asimpatia dos arqueiros era pelo exemplo.

Abbas estava preparado para sacrificarAssassinos; Altaïr não, e tudo que elepodia fazer era esperar que os coraçõesdos arqueiros fossem sinceros. Rezoupara que seus seguidores mostrassem queestavam se contendo, que não davammotivo para os arqueiros dispararem. Viu

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um dos seus homens cair, urrando, com agarganta aberta, e de imediato oAssassino responsável passou a atacaroutro.

— Aquele — ordenou a Malik,apontando na direção da batalha. —Pegue-o, Malik, mas eu lhe peço que sejapiedoso.

Malik juntou-se à batalha e o Assassinoleal a Abbas foi empurrado para trás aoser golpeado nas pernas. Quando seuoponente caiu, Malik montou nele edesferiu não um golpe mortal, mas umapancada com o cabo da espada que deixouo outro sem sentidos.

Altaïr olhou novamente para osbastiões. Viu dois dos arqueiros baixaremos arcos, balançando a cabeça. Viu Abbaspegar uma adaga — a adaga de seu pai —

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e ameaçar os homens com ela, mas outravez eles balançaram a cabeça, baixaramos arcos e colocaram as mãos nos cabosde suas espadas. Abbas girou, gritandopara os arqueiros ao longo dos bastiõesatrás dele, ordenando-lhes que abatessemos desertores. Mas eles também baixaramos arcos, e o coração de Altaïr disparou.Agora incitou seus homens a avançarempara o portão. A batalha ainda continuava,mas os Assassinos leais a Abbas aospoucos tomavam conhecimento do que sepassava nos bastiões. Mesmo enquantolutavam, trocavam olhares de incerteza e,um por um, recuaram, abandonando ocombate, largando as espadas, erguendoos braços, rendendo-se. O caminho estavalivre para o grupo de Altaïr avançar parao castelo.

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Altaïr conduziu seus homens ao portãoe bateu com o punho na portinhola. Atrásdele, reuniram-se os Assassinos — e osaldeões também estavam voltando, demodo que o planalto ficou cheio. Do outrolado do portão do castelo havia umaestranha tranquilidade. O silêncio baixousobre o pessoal de Altaïr, e o ar estalavade expectativa, até que, de repente,trancas foram puxadas e o grande portãodo castelo foi escancarado, aberto pelosguardas, que largaram as espadas ecurvaram as cabeças em deferência aAltaïr.

Ele assentiu em resposta, atravessou asoleira por baixo do arco e cruzou o pátioaté a torre do Mestre. Atrás dele vinha seupovo, que se espalhou e se instalou nasmargens do pátio. Arqueiros desceram as

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escadas dos bastiões para se juntar àspessoas, e viam-se os rostos de famílias ecriados voltados para as vidraças dasjanelas das torres que davam vista para oterreno. Todos queriam presenciar oretorno de Altaïr, ver seu confronto comAbbas.

Ele subiu os degraus para a plataforma,depois foi para o saguão de entrada. Maisà frente dele, Abbas se encontrava naescada, com o rosto sombrio e esgotado,dominado pelo desespero e pela derrota,como uma febre.

— Acabou-se, Abbas — gritou Altaïr.— Ordene aos que ainda são leais a vocêque se rendam.

Abbas riu.— Nunca.Nesse momento, a torre se abriu e os

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últimos dos que ainda eram leais a Abbassaíram das áreas laterais do castelo parao saguão: mais ou menos uma dúzia deAssassinos e criados. Alguns tinham olhosnervosos, espantados. Outros eramferozes e determinados. A batalha aindanão havia terminado.

— Mande seus homens suspenderem aofensiva — ordenou Altaïr. Ele giroumetade do corpo para indicar o pátio ondea multidão estava reunida. — Você nãotem possibilidade de vencer.

— Estou defendendo a cidadela, Altaïr— disse Abbas —, até o último homem.Você não teria feito o mesmo?

— Eu teria defendido a Ordem, Abbas— vociferou Altaïr. — Em vez disso,você sacrificou tudo que era importantepara nós. Sacrificou a minha mulher e o

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meu filho no altar do seu próprio rancor...da sua negação vazia de aceitar averdade.

— Está se referindo ao meu pai? Àsmentiras que contou sobre ele?

— Não é por isso que estamos aqui?Não foi o manancial de seu ódio queescorreu através dos anos e envenenou atodos?

Abbas tremia. Os nós dos dedosestavam brancos na balaustrada dasacada.

— Meu pai deixou a Ordem — afirmouele. — Ele jamais teria se matado.

— Ele se matou, Abbas. Ele se matoucom a adaga que você guarda escondidano manto. Seu pai se matou porque tinhamais honra do que você jamais terá, eporque não queria que sentissem pena

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dele. Não queria que sentissem pena delecomo sentirão de você, como todossentirão enquanto você estiverapodrecendo na masmorra do castelo.

— Nunca! — rosnou Abbas, e apontouum dedo trêmulo para Altaïr. — Vocêalega que é capaz de retomar a Ordemsem a perda da vida de um Assassino.Vejamos você tentar. Matem-no.

E, de repente, os homens no saguãoavançaram como uma onda até que...

O som de uma explosão ecoou nosaguão e silenciou todo mundo — amultidão no pátio, os Assassinos, o grupoleal a Abbas. Todos olharam chocadospara Altaïr, que permanecia com o braçolevantado como se apontasse para Abbas— como se tivesse acionado sua lâminana direção da escada. Mas, em vez de uma

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lâmina, em seu punho havia um anel defumaça.

Da escada, veio um curto gritoestrangulado, e todos viram Abbas olharabaixo para seu peito, onde uma pequenamancha de sangue em seu manto seespalhava gradualmente. Seus olhosestavam arregalados por causa do choque.O queixo sacudia como se tentasse formarpalavras que não saíam.

Os Assassinos favoráveis a Abbastinham parado. Olhavam boquiabertospara Altaïr, que movimentou o braço,apontando para eles, de modo que agorapodiam ver o mecanismo de pulso que eleusava.

Era apenas um tiro, e ele o tinha usado,mas não sabiam disso. Ninguém jamaisvira tal arma. Apenas uns poucos sabiam

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de sua existência. E, ao vê-la virada emsua direção, o grupo de Abbas se curvou.Eles largaram as espadas. Passaram porAltaïr e pela porta da torre e se juntaram àmultidão, com os braços erguidos emrendição, ao mesmo tempo que Abbas selançava para a frente, rolando pela escadae pousando com um desagradável baquesurdo no saguão abaixo.

Altaïr agachou-se junto a ele. Abbasestava deitado, respirando comdificuldade, com um dos braçosposicionados em um ângulo estranho,como se tivesse se quebrado na queda, e afrente do manto molhada de sangue.Restavam-lhe alguns momentos.

— Você quer que eu lhe peça perdão?— perguntou a Altaïr. E sorriu, parecendosubitamente esquelético. — Por ter tirado

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sua mulher e seu filho de você?— Abbas, por favor, não deixe que

suas últimas palavras sejam malignas.Abbas produziu um curto som de

escárnio.— Ainda tenta ser virtuoso. — Ele

levantou um pouco a cabeça. — Foi vocêquem deu o primeiro golpe, Altaïr. Tireisua mulher e seu filho, mas só depois desuas mentiras terem tirado muito mais demim.

— Não eram mentiras — disse Altaïr.— Durante todos esses anos, você nuncaduvidou?

Abbas retraiu o corpo e apertou osolhos de dor. Após uma pausa, disse:

— Alguma vez, Altaïr, imaginou sehavia outro mundo? Dentro de momentos,saberei com certeza. E, se há, encontrarei

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meu pai, e nós dois estaremos lá pararecebê-lo quando chegar a sua hora.Então... então não haverá qualquerdúvida.

Ele tossiu e gorgolejou, e uma bolha desangue se formou em sua boca. Altaïrolhou em seus olhos e nada viu do meninoórfão que um dia conhecera, nada viu domelhor amigo que um dia tivera. Tudo queviu foi uma criatura desfigurada que havialhe custado tanto.

E, quando Abbas morreu, Altaïr se deuconta de que já não o odiava nem sentiapena dele. Não sentiu nada — nada, a nãoser alívio por Abbas não estar mais nomundo.

Dois dias depois, o assaltante Fahadapareceu com sete de seus homens a

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cavalo e foi recebido no portão da aldeiapor um grupo de Assassinos liderados porAltaïr. Eles foram parados nos limites dapraça do mercado, confrontados por umafileira de homens usando mantos brancos.Alguns permaneceram com os braçoscruzados, outros com as mãos nos arcosou no cabo da espada.

— Então é verdade. O grande AltaïrIbn-La’Ahad retomou o controle deMasyaf — observou Fahad. Ele pareciapreocupado.

Altaïr inclinou a cabeça, sim.Fahad assentiu lentamente, como se

meditasse sobre esse fato.— Eu tinha um acordo com o seu

antecessor — explicou ele por fim. —Paguei-lhe uma grande soma para poderentrar em Masyaf.

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— O que você acaba de fazer — disseAltaïr afavelmente.

— Ah, sim, mas receio que por ummotivo específico — retrucou Fahad, comum sorriso anuviado, e mudou um poucode posição na sela. — Estou aqui paraencontrar o assassino do meu filho.

— O que você acaba de fazer —repetiu Altaïr, não menos afavelmente.

O sorriso anuviado sumiu aos poucosdo rosto de Fahad.

— Entendo — disse ele. Inclinou-se àfrente. — E qual de vocês é ele? — Seusolhos seguiram ao longo da fila deAssassinos.

— Você não tem nenhuma testemunhaque possa identificar o assassino de seufilho? — perguntou Altaïr. — Ela nãopode apontar o culpado entre nós?

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— Eu tinha — suspirou Fahadpesarosamente —, mas a mãe do meufilho mandou arrancar seus olhos.

— Ah — fez Altaïr. — Bem, ele eramesmo um covarde. Talvez você seconsole com o fato de que ele fez muitopouco para proteger seu filho ou, aliás,para vingá-lo depois que ele foi morto.Assim que teve de enfrentar dois velhosem vez de um, ele botou o rabo entre aspernas e fugiu.

Fahad abateu-se.— Você?Altaïr confirmou com a cabeça.— Seu filho morreu como viveu,

Fahad. Ele adorava infligir dor.— Uma característica que herdou da

mãe.— Ah.

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— E, consequentemente, ela insiste queseu nome seja vingado.

— Então não resta mais nada a dizer —concluiu Altaïr. — A não ser que pretendafazer sua tentativa neste exato momento,esperarei você com seu exército.

Fahad pareceu preocupado.— Pretende deixar que eu vá embora?

Sem arqueiros para me impedir? Sabendoque voltarei com uma força para esmagá-lo?

— Se eu o matar, terei de combater aira de sua mulher — sorriu Altaïr —, e,além disso, tenho a impressão de quemudará de ideia sobre atacar Masyafquando voltar ao seu acampamento.

— E por que eu faria isso?Altaïr sorriu.— Fahad, se fôssemos guerrear,

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nenhum de nós cederia. Nós doiscolocaríamos em jogo muito mais do quemereceria a dor. Minha comunidade seriaarrasada, talvez de modo irreparável...Mas a sua também seria.

Fahad pareceu meditar.— Cabe a mim, certamente, decidir o

preço da dor.— Não faz muito tempo eu perdi meu

próprio filho — contou Altaïr —, porcausa disso, estive perto de perder o meupovo. Percebi que era um preço altodemais para pagar, mesmo pelo meu filho.Se pegar em armas contra nós, você searrisca a tamanha perda. Tenho certeza deque os valores de sua comunidade diferemmuito dos da minha, mas são realmentetão prezados quanto são tãorelutantemente rendidos.

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Fahad assentiu.— Você tem uma cabeça mais sensata

do que seu antecessor, Altaïr. Muito doque diz faz sentido, e certamente refletireisobre isso durante a viagem de volta.Também me empenharei em explicar issoà minha mulher. — Pegou as rédeas evirou o cavalo para ir embora. — Boasorte, Assassino — disse ele.

— Pelo jeito, será você que precisaráde sorte.

O assaltante deu outro de seus sorrisostortos e pesarosos, e partiu. Altaïr deuuma risadinha e olhou para a cidade nopromontório.

Havia muito trabalho a fazer.

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58

12 de agosto de 1257

Pois bem. Ficou tarde demais paraescaparmos de Masyaf antes de osmongóis chegarem. Aliás, eles tinhamchegado. Como resultado, partimos paraConstantinopla em questão de horas eestou rabiscando estas palavras enquantonossas posses são retiradas por ajudantespara serem carregadas nas carroças. E seMaffeo pensa que aquele olhar cortante,que insiste em lançar na minha direção,será o bastante para eu pousar a pena edar uma mão, ele está enganado. Sei agora

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que estas palavras serão de vitalimportância para futuros Assassinos. Elasprecisam ser escritas imediatamente.

É apenas um pequeno grupo de guerra,foi o que nos disseram. Mas a forçaprincipal não está muito distante.Enquanto isso, o grupo queraparentemente fazer seu nome e temlançado pequenos mas ferozes ataques,escalando a muralha da aldeia e lutandonos bastiões antes de recuar. Conheçomuito pouco da arte da guerra, graças aDeus, mas me ocorre que esses curtosataques podem ser uma maneira de julgarnossa força, ou a falta dela. E me perguntose o Mestre se arrependerá de sua decisãode enfraquecer a cidadela pondo osAssassinos em debandada. Apenas doiscurtos anos, nenhum mero grupo pequeno

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de guerra teria chegado a dez passos docastelo sem cair vítima dos arqueirosAssassinos, ou diante das lâminas dosdefensores.

Quando tomou de Abbas o controle daOrdem, a primeira determinação de Altaïrfoi mandar buscar seus diários: a obra doMestre seria um dos pilares dareconstrução da Ordem, essencial parafornecer os alicerces para cessar adeterioração em Masyaf. Sob o reinocorrupto de Abbas, eles nada tinham dashabilidades ou do treinamento dosantigos: a Irmandade era Assassinaapenas no nome. A primeira missão deAltaïr foi restaurar a disciplina que haviasido perdida. Mais uma vez, o pátio detreinamento ecoou com o estrépito do açoe os gritos dos instrutores. Por essa

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época, nenhum mongol teria ousadoatacar.

Mas, assim que a Irmandade forarestaurada em nome e reputação, Altaïrdecidiu que a base em Masyaf não deveriamais existir e retirou o escudo Assassinodo mastro. Eles passariam a agir no meiodas pessoas e não acima delas. O filho deAltaïr, Darim, chegou a sua casa emMasyaf para encontrar poucos Assassinosrestantes, a maioria ocupada naconstrução da biblioteca do Mestre.Quando ficou pronta, Darim foidespachado para Constantinopla a fim delocalizar meu irmão e a mim.

O que nos leva à nossa entrada nahistória, cerca de oitenta anos após tercomeçado.

— Mas ainda não acabou, eu sinto isso

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— comentou Maffeo.Ele estava parado à minha espera.

Iríamos ver o Mestre no pátio principal.Pelo que seria certamente a última vez,seguimos nosso caminho pela fortaleza atéo pátio, conduzidos pelo fieladministrador de Altaïr, Mukhlis.

Ao chegarmos, pensei: Que cenas eleviu, esse pátio. Foi aqui onde Altaïr viuAbbas, parado na calda da noite, ansiandopelo pai morto. Foi aqui que os doishaviam brigado e se tornado inimigos;onde Altaïr fora humilhado diante daOrdem por Al Mualim; onde Maria tinhamorrido, Abbas também.

Nada disso teria sido perdido paraAltaïr, que reunira a maioria dosAssassinos para ouvir o que ele tinha adizer. Darim estava entre eles, com seu

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arco, e o jovem Malik também, e Mukhlis,que se posicionou ao lado do Mestre naplataforma do lado de fora de sua torre.Nervos se agitavam como mariposas nomeu estômago e me peguei respirando empequenas porções irregulares para tentarcontrolá-las, achando desconcertante obarulho de fundo da batalha. Os mongóis,aparentemente, tinham escolhido aquelemomento para desferir outro de seusataques ao castelo, talvez cientes de queas defesas estavam enfraquecidas duranteum curto período.

— Irmãos — disse Altaïr, paradodiante de nós —, nosso tempo juntos serábreve, eu sei. Mas tenho fé que esse códexresponderá a qualquer pergunta que aindaprecisem fazer.

Peguei-o e virei-o em minhas mãos,

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com grande reverência. Ele continha ospensamentos mais importantes do Mestre,extraídos de décadas de estudo da Maçã.

— Altaïr — falei, mal conseguindoformar as palavras —, este presente é...inestimável. Grazie.

A um sinal de Altaïr, Mukhlis deu umpasso à frente com um pequeno saco queentregou ao Mestre.

— Aonde vocês irão a seguir? —perguntou Altaïr.

— A Constantinopla, por um tempo.Podemos montar uma guilda lá, antes deretornarmos a Veneza.

Ele deu uma risadinha.— Seu filho Marco deve estar ansioso

para ouvir as histórias malucas do pai.— Ele é um pouco novo para tais

histórias. Mas, em breve, sì. — Eu sorri.

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Entregou-me o saco e senti váriosobjetos pesados se movimentarem dentrodele.

— Um último favor, Niccolò. Leveestas com você, e guarde-as bem.Esconda-as, se for preciso.

Ergui as sobrancelhas, implicitamentepedindo sua permissão para abrir o saco,e ele concordou com a cabeça. Olheidentro dele, então enfiei a mão e retireiuma pedra, uma das cinco: assim como asoutras, tinha um buraco no meio.

— Artefatos? — perguntei. Fiqueiimaginando se eram os artefatos que elehavia encontrado durante seu exílio emAlamut.

— Um tipo — disse o Mestre. — Sãochaves, cada qual contendo umamensagem.

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— Uma mensagem para quem?— Eu gostaria de saber — confessou

Altaïr.Um Assassino chegou correndo ao

pátio e falou com Darim, que se adiantou.— Papai. Uma vanguarda de mongóis

conseguiu avançar. A aldeia foi arrasada.Altaïr assentiu.— Niccolò, Maffeo. Meu filho os

escoltará para atravessarem a pior parteda batalha. Assim que chegarem ao vale,sigam seu caminho até encontrarem umapequena aldeia. Seus cavalos e suasprovisões estão lá à espera. Vão emsegurança e permaneçam alerta.

— Igualmente, Mestre. Cuide-se.Ele sorriu.— Vou pensar nisso.E, assim, o Mestre se foi, já bradando

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ordens para os Assassinos. Fiqueiimaginando se voltaria a vê-lo, ao levar osaco ao ombro com as estranhas pedras eao segurar o inestimável códex bemapertado. Da ocasião, lembro-me de umaimpressão de corpos, de gritaria e dobarulho de aço enquanto éramos levadosàs pressas a um outro lugar, seguro, e alime apertei em um canto para escreverestas palavras, enquanto a batalha sedesenrolava furiosamente lá fora — mas éhora de ir embora. Só posso rezar paraque possamos escapar com vida.

De algum modo, creio queescaparemos. Tenho confiança nosAssassinos. Só espero ser merecedor daconfiança de Altaïr. Sobre isso, somente otempo dirá.

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1º de janeiro de 1258

O primeiro dia de um novo ano, e é comum misto de emoções que limpo o pó dacapa do meu diário e inicio uma páginaem branco, sem saber ao certo se esteregistro marca um novo início ou agecomo um pós-escrito à história que oprecede. Talvez caiba a você, leitor,decidir.

A primeira notícia que tenho paracomunicar transmito com o coraçãopesado. Perdemos o códex. Aquele quenos foi dado por Altaïr no dia de nossapartida, confiado aos nossos cuidados,está nas mãos do inimigo. Sempre sereitorturado pelo momento em que eu, caídona areia, chorando e sangrando, vi o pódos cascos do grupo de ataque dos

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mongóis levantar, e um deles carregando amochila de couro na qual eu mantinha ocódex, com a alça então cortada. Doisdias fora de Masyaf, com nossa segurançagarantida — ou assim parecia —, e eleshaviam atacado.

Maffeo e eu escapamos com nossasvidas apenas por um triz e nosconsolamos um pouco com o fato de quenosso tempo passado com o Mestre nosdera, se não o aprendizado que pudemoster tirado do códex, a faculdade deprocurar e interpretar o conhecimento pornós mesmos. Decidimos que em breveteríamos de ir ao leste e recuperá-lo (e,desse modo, infelizmente, retardandominha oportunidade de voltar mais cedo aVeneza e ver meu filho Marco), mastínhamos de cuidar primeiro dos negócios

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em Constantinopla, pois havia muito quefazer por lá. À nossa frente havia pelomenos dois anos de trabalho, que seriammuito mais exigentes sem a sabedoria docódex para nos guiar. Mesmo assim,decidimos que, sim, havíamos perdido olivro, mas em nossas cabeças e em nossoscorações éramos Assassinos, e faríamosbom uso da nossa experiência e do nossoconhecimento recém-adquiridos. Dessemodo, já havíamos escolhido o local donosso posto comercial, uma curtacaminhada para noroeste da Basílica deSanta Sofia, onde pretendíamos fornecermercadorias da mais alta qualidade (éclaro!). Enquanto isso, começaríamos aespalhar e disseminar o credo dosAssassinos, como nos comprometemos afazer.

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E ao mesmo tempo que começamos oprocesso de estabelecer a nova guilda,também nos ocupamos em esconder ascinco pedras que nos foram dadas porAltaïr. As chaves. Guarde-as bem, disseraele, ou as esconda. Após nossasexperiências com os mongóis, decidimosque as chaves deveriam ser escondidas,por isso nos dedicamos a ocultá-las emConstantinopla e próximo a ela.Pretendemos esconder hoje a última,portanto, quando você estiver lendo isto,todas as cinco chaves estarão emsegurança, escondidas dos Templários,para um Assassino do futuro encontrar.

Seja quem for.

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Epílogo

Acima dele, no convés, o Assassino ouviuos sons da agitação, o familiar tamborilarde pés que acompanha a aproximação deterra, o barulho dos membros datripulação correndo de seus postos para aproa, subindo no cordame ou soltandocabos, protegendo os olhos para enxergarlonge e com dificuldade os portostremeluzentes em direção dos quaisestavam velejando, antecipando aventurasà frente.

O Assassino também tinha aventuraspor vir. Claro, as suas provavelmenteseriam bem diferentes das escapadas

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afetuosas imaginadas pela tripulação, asquais, sem dúvida, consistiam, sobretudo,em visitas às tavernas e da companhia deprostitutas. O Assassino quase invejava asimplicidade dos empreendimentos deles.Sua missão seria muito mais complicada.

Ele fechou os diários de Niccolò eempurrou o livro sobre a escrivaninha, eseus dedos percorreram a capaenvelhecida, meditando sobre o queacabara de aprender. O significado totaldaquilo, sabia, levaria tempo para setornar conhecido. E em seguida,inspirando fundo, levantou-se, vestiu omanto, prendeu o mecanismo da lâmina nopulso e colocou o capuz.

Então, abriu a escotilha de seusalojamentos para subir até o convés, ondetambém protegeu os olhos para vislumbrar

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o porto enquanto o navio cortava a águacintilante que seguia para lá, já avistandoas pessoas reunidas para lhes dar as boas-vindas.

Ezio tinha chegado à cidade grande. Eleestava em Constantinopla.

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Lista de Personagens

Niccolò Polo: o narradorMaffeo Polo

Os AssassinosAltaïr Ibn-La’AhadMaria: sua mulher (nascida Thorpe)Darim e Sef: seus filhosAl Mualim: o MestreFaheem al-SayfUmar Ibn-La’Ahad: pai de AltaïrAbbas SofianAhmad Sofian: pai de AbbasMalik Al-SayfTazim: filho de Malik, também conhecido

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como MalikKadar: irmão de MalikRaufJabalLabibSwamiFarim

Aldeões de MasyafMukhlis; sua mulher, Aalia; e a filha,

Nada

Os CruzadosRicardo I da Inglaterra, o “Coração de

Leão”Salah Al’din: sultão dos sarracenosShihab Al’din: seu filho

Os Nove Alvos de Altaïr

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Tamir: comerciante do mercado negroAbu’l Nuqoud: o Rei Mercador de

DamascoGarnier de Naplouse: Grão-Mestre dos

Cavaleiros HospitaláriosTalal: negociante de escravosMajd Addin: regente de JerusalémWilliam de Montferrat: senhor de AcreSibrand: Grão-Mestre dos Cavaleiros

TeutônicosJubair al-Hakim: principal erudito de

DamascoRobert de Sablé: Grão-Mestre dos

Cavaleiros Templários

Em ChipreOsman: capitão da cidadela de LimassolFrederick, o Vermelho: graduado

cavaleiro templário de Limassol

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Armand Bouchart: sucessor de Robert deSablé

Markos: da ResistênciaBarnabé: da ResistênciaBarnabé: impostorJonas: um mercadorMoloch: “O Touro”Shalim e Shahar: filhos de Moloch

Os BandidosFahadBayhasCabelo Comprido

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Agradecimentos

Agradecimentos especiais a:

Yves GuillemotJean GuesdonCorey MayDarby McDevittJeffrey YohalemMatt Turner

E também a:

Alain CorreLaurent DetocSébastien Puel

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Geoffroy SardinXavier GuilbertTommy FrançoisCecile RusseilChristele JaladyDepartamento Jurídico da UbisoftCharlie PattersonChris MarcusEtienne AllonierMaria LoretoAlex ClarkeAlice ShepherdAndrew HolmesClémence DeleuzeGuillaume Carmona

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Este e-book foi desenvolvido em formato ePub pelaDistribuidora Record de Serviços de Imprensa S. A.

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A cruzada secreta – Assassin’s Creedvol. 3

Sobre o livro• http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=26275

Sobre o autor• http://www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=6276

Livros do autor• http://www.record.com.br/autor_livros.asp?id_autor=6276

Página do livro no Skoob• http://www.skoob.com.br/livro/198105

Página na Wikipédia sobre o autor• http://en.wikipedia.org/wiki/Anton_Gill

Matéria sobre a adaptação da série em filme

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• http://oglobo.globo.com/megazine/game-assassins-creed-vai-virar-filme-com-michael-fassbender-5427311

Portal Wiki sobre a série Assassin’s Creed (jogose livros)

• http://assassinscreed.wikia.com/wiki/Assassin%27s_Creed_Wiki

Resenha do primeiro livro da série Assassin’sCreed: Renascença

• http://www.lendonasentrelinhas.com.br/2011/08/assassins-creed-renascenca-oliver.html

Resenha do segundo livro da série Assassin’sCreed: Irmandade

• http://www.feedyourhead.com.br/2012/07/resenha-assassins-creed-irmandade.html

Site do jogo Assassin’s Creed• http://assassinscreed.ubi.com/ac3/en-US/index.aspx

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Table of ContentsObras do autor publicadas pela Editora

RecordRostoCréditosPrólogoPARTE UM

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PARTE DOIS16171819202122232425262728

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PARTE TRÊS34353637383940414243444546

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47PARTE QUATRO

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EpílogoLista de PersonagensAgradecimentosColofãoSaiba mais