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O PROBLEMA MENTE-CÉREBRO E O INTERACIONISMO CARTESIANO How can the soul of man determine the spirits of the body, so as to produce voluntary actions (given that the soul is only a thinking substance) * (Elisabeth da Boêmia apud Kim, 2005. p. 73) A epígrafe, trazendo-nos a objeção da prin- cesa da Boêmia ao seu preceptor, serve aqui de manifestação do impasse entre teoria psicológica e filosófica versus prática médi- ca e científica na modernidade. Descartes, conhecedor da obra de Harvey e ele mes- mo engajado na dissecação de animais, em especial de seus cérebros, muito oportuna- mente para sua própria condição palacia- na e cortesã, não questionava os dogmas católicos que poderiam gerar anátemas, excomunhões de diversos níveis e mesmo a fogueira, como aconteceu com Giordano Bruno, caso conhecido e temido por Des- cartes a ponto de fazê-lo pe- dir a seus discípulos que pu- blicassem seu primeiro livro, um tratado sobre ótica que desafiava o geocentrismo, apenas postumamente. No entanto, o próprio Descartes poderia ser incluído no rol dos precursores da neuropsicologia pela via da relação en- tre filosofia psicológica e fisiologia (mes- mo que contingenciada pelos pressupostos ontológicos da noção de alma ainda vice- jante naquele então), como se pode notar pela seguinte citação de seu último livro, As paixões da alma: Enfim, sabe-se que todos esses movimen- tos dos músculos, assim como todos os sentidos, dependem dos nervos, que são como pequenos fios ou como pequenos tubos que procedem, todos, do cérebro, e contêm, como ele, certo ar ou vento muito sutil que chamamos espíritos animais [...] (Descartes, 1979, p. 229). Descartes entende que a relação do cérebro com o corpo e a mente é mediada por esses espíritos animais. Assim, sua posi- ção poderia ser considerada uma forma de interacionismo. No entanto, como se pode ver pela citação seguinte, na obra cartesia- na, ainda que à alma seja res- guardada uma natureza dis- tinta, a de res cogitans, coisa pensante, aos espíritos ani- mais é conferida uma condi- ção puramente material: [...] pois o que denomino aqui espíritos não são mais do que corpos e não têm qualquer outra pro- priedade, exceto a de serem corpos muito pequenos e se moverem muito depressa, Descartes entende que a rela- ção do cérebro com o corpo e a mente é mediada por esses espíritos animais. Assim, sua posição poderia ser conside- rada uma forma de interacio- nismo. * Como pode a alma do homem determinar / o humor do corpo, de modo a produzir / ações voluntárias (uma vez que a alma / é apenas uma substância pensante). 1 Aspectos históricos da neuropsicologia e o problema mente-cérebro DANIEL C. MOGRABI GABRIEL J. C. MOGRABI J. LANDEIRA-FERNANDEZ

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O PROBLEMA MENTE-CÉREBRO E O INTERACIONISMO CARTESIANO

How can the soul of man determine the spirits of the body, so as to produce voluntary actions (given that the soul is only a thinking substance)*

(Elisabeth da Boêmia apud Kim, 2005. p. 73)

A epígrafe, trazendo-nos a objeção da prin-cesa da Boêmia ao seu preceptor, serve aqui de manifestação do impasse entre teoria psicológica e filosófica versus prática médi-ca e científica na modernidade. Descartes, conhecedor da obra de Harvey e ele mes-mo engajado na dissecação de animais, em especial de seus cérebros, muito oportuna-mente para sua própria condição palacia-na e cortesã, não questionava os dogmas católicos que poderiam gerar anátemas, excomunhões de diversos níveis e mesmo a fogueira, como aconteceu com Giordano Bruno, caso conhecido e temido por Des-cartes a ponto de fazê-lo pe-dir a seus discípulos que pu-blicassem seu primeiro livro, um tratado sobre ótica que desafiava o geocentrismo, apenas postumamente. No entanto, o próprio Descartes

poderia ser incluído no rol dos precursores da neuropsicologia pela via da relação en-tre filosofia psicológica e fisiologia (mes-mo que contingenciada pelos pressupostos ontológicos da noção de alma ainda vice-jante naquele então), como se pode notar pela seguinte citação de seu último livro, As paixões da alma:

Enfim, sabe-se que todos esses movimen-tos dos músculos, assim como todos os sentidos, dependem dos nervos, que são como pequenos fios ou como pequenos tubos que procedem, todos, do cérebro, e contêm, como ele, certo ar ou vento muito sutil que chamamos espíritos animais [...] (Descartes, 1979, p. 229).

Descartes entende que a relação do cérebro com o corpo e a mente é mediada por esses espíritos animais. Assim, sua posi-ção poderia ser considerada uma forma de interacionismo. No entanto, como se pode ver pela citação seguinte, na obra cartesia-

na, ainda que à alma seja res-guardada uma natureza dis-tinta, a de res cogitans, coisa pensante, aos espíritos ani-mais é conferida uma condi-ção puramente material:

[...] pois o que denomino aqui espíritos não são mais do que

corpos e não têm qualquer outra pro-priedade, exceto a de serem corpos muito pequenos e se moverem muito depressa,

Descartes entende que a rela-ção do cérebro com o corpo e a mente é mediada por esses espíritos animais. Assim, sua posição poderia ser conside-rada uma forma de interacio-nismo.

* Como pode a alma do homem determinar / o humor do corpo, de modo a produzir / ações voluntárias (uma vez que a alma / é apenas uma substância pensante).

1Aspectos históricos da neuropsicologia

e o problema mente-cérebroDANIEL C. MOGRABI

GABRIEL J. C. MOGRABI J. LANDEIRA-FERNANDEZ

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assim como as partes da chama que sai de uma tocha; de sorte que não se detêm em nenhum lugar e, à medida que entram alguns nas cavidades do cérebro, também saem outros pelos poros existentes na sua substância, poros que os conduzem aos nervos e daí aos músculos, por meio dos quais movem o corpo em todas as diversas maneiras pelas quais esse pode ser movi-do [...] (Descartes, 1979, p. 230).

No entanto, de que ma-neira a interação entre alma e espíritos se daria? Descartes afirma que há uma diminuta glândula no meio do cérebro que perfaz o papel de locus principal da interação da alma com o cor-po pela via dos espíritos:

Concebamos, pois, que a alma tem a sua sede principal na pequena glândula que existe no meio do cérebro, de onde irradia para todo o resto do corpo, por intermédio dos espíritos, dos nervos e mesmo do sangue, que, participando das impressões dos espíritos, podem levá-los pelas artérias a todos os membros [...] (Descartes, 1979, p. 240).

A glândula mencionada é a pineal. A escolha de Descartes pela glândula pineal se dá por dois motivos: trata-se de uma es-trutura única e centralizada, em vez de du-pla e dividida em hemisférios, que, assim, por razões analógicas e quase geométricas, é vista pelo autor como a melhor candidata para ser um centro de unificação das repre-sentações e impressões. Numa carta a Mer-senne, datada de 24 de dezembro de 1640, Descartes (1979) afirma que o caráter de unicidade é também pertinente à glândula hipófise, mas que esta “não dispõe da mo-bilidade da pineal”, referindo-se ao fato de que a hipófise está presa à face superior do osso esfenoide por meio da sela túrcica (ou sela turca), uma pequena fosseta em forma

de sela árabe. É notável a ideia de que uma alteração do corpo na alma (ou mente) ou vice-versa dependa de um movimento, no sentido tradicional de deslocamento, ge-rado pela impulsão de espíritos. Além dis-so, mesmo que esse movimento pudesse se dar em pequenas dimensões, ele é concebi-do ainda de maneira extensa, vetorial e com todas as demais propriedades que possamos

atribuir à matéria condensa-da.

No entanto, não foram os arroubos de materialismo de Descartes recém-descri-tos que ficaram consagrados na história da filosofia, e sim o seu dualismo de substân-

cias: a ideia de que a realidade é cindida em dois mundos – um pensante; outro, exten-so e material. Assim, o imaterialismo e racio-nalismo se coadunavam em uma decisão fi-losófica clara de sobrepor a racionalidade da mente às paixões, devendo esta ser sua guia e determinante. Esses mesmos racionalismo e primazia do pensamento podem ser abstraí-dos da popularizada máxima cartesiana “co-gito ergo sum”. A existência é descoberta pe-la primazia epistemológica do pensamento, e o pensamento se configura como substância imaterial e inextensa. Até hoje sofremos in-fluências desse dualismo cartesiano, que se-gue reverberando em algumas das tendên-cias explicativas presentes no senso comum e mesmo no debate filosófico, menos afei-to à interdisciplinaridade com ciências em-píricas. Pode-se afirmar, inclusive, de acordo com Searle (1992), que o uso desse vocabu-lário antiquado condiciona o debate de tal forma espúria que muitos dos alegados pro-blemas filosóficos da relação mente-corpo seriam pseudoproblemas.

No trecho a seguir, será feito um ma-peamento de algumas das mais importan-tes correntes contemporâneas de análise do problema mente-cérebro. Não se pretende exibir em caráter exaustivo todas as corren-tes e suas subdivisões, mas apenas criar uma

É notável a ideia de que uma alteração do corpo na alma (ou mente) ou vice-versa depen-da de um movimento, no senti-do tradicional de deslocamen-to, gerado pela impulsão de es-píritos.

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possibilidade de entendimento das diferen-tes postulações no que concerne essa rela-ção para melhor compreensão da funda-mentação histórica da neuropsicologia.

ALGUMAS TESES CORRENTES SOBRE A RELAÇÃO MENTE-CÉREBRO

Raros são os dualistas de substâncias na contemporaneidade. A maioria das teorias filosóficas, na atualidade, re-pudia essa postura tida como ultrapassada diante de nos-so vigente quadro de referên-cias, tanto filosófico como científico. Ainda assim, exis-tem filósofos que, apelando para a noção de possibilidade lógica (ou, ainda, para a no-ção mais geral de possibilida-de metafísica), argumentam que não se pode em princípio excluir a pos-sibilidade de que haja uma substância não física que corresponda à natureza da mente ou de uma suposta alma.

No lado diametralmente oposto do espectro de posições sobre a relação mente--cérebro, encontra-se o eliminativismo ou materialismo eliminativo. Uma das princi-pais teses do eliminativismo é a de que a folk psychology (psicologia popular) trabalha com categorizações falsas, terminologias herdadas de um passado remoto que pre-cisam ser eliminadas para um progresso da compreensão da relação cérebro-mente. As-sim como a teoria do phlogiston foi supera-da cientificamente e tornada obsoleta pelas pesquisas empíricas em oxidação, também muitas classes de supostos estados mentais seriam apenas ilusões. Ainda que permane-çam em nosso vocabulário explicativo, esses entia non-gratia não possuiriam qualquer capacidade causal, nem sequer existiriam, tal como bruxas, almas, elán vital, etc. Entre as entidades mentais que essa linha de pen-samento pretende eliminar, encontram-se,

por exemplo, atitudes proposicionais: rela-ções entre conteúdos proposicionais e uma determinada postura mental com implica-ções práticas (p. ex., acreditar, desejar, espe-rar) (P. M. Churchland, 1981; P. S. Church-land, 1986). Também foi proposto por eliminativistas (Dennett, 1992) que a no-ção de qualia (sensações e experiências co-mo estados subjetivos qualitativos) poderia ter um caráter ilusório e não ter a existência que lhes é atribuída na psicologia popular.

Em sua grande maioria, po-sições eliminativistas enten-dem que uma neurociência em alto grau de maturidade e desenvolvimento irá substi-tuir essa terminologia da psi-cologia popular que se refe-riria a objetos não existentes por uma descrição científica de fato.

Voltando a outro lado do espectro de posições, mais comuns são aqueles que defendem alguma versão de dualismo de propriedades. Eles entendem que propriedades mentais não podem, em princípio, ser reduzidas às propriedades fí-sicas ou cerebrais; no entanto, acreditam que os componentes últimos da realida-de sejam todos de natureza física, diferen-temente dos dualistas de substâncias. Entre os dualistas de propriedades, poderíamos distinguir dois grupos majoritários de po-sições: aqueles que acreditam em causação mental, ou seja, que é possível que proprie-dades mentais tenham poder causal nesse mundo constituído de uma substância fí-sica; e os epifenomenalistas – aqueles que acreditam que propriedades mentais se-riam epifenômenos e, assim, desprovidas de qualquer papel causal (Jackson, 1982).

Além das tendências teóricas já descri-tas, existem várias formas mais ou menos redutivas de fisicalismo ou materialismo. Por redutivo, entende-se, aqui, a capaci dade de uma teoria explicar predicados mentais em termos de predicados neurais ou criar

Existem filósofos que, apelan-do para a noção de possibili-dade lógica (ou, ainda, para a noção mais geral de possibili-dade metafísica), argumentam que não se pode em princípio excluir a possibilidade de que haja uma substância não física que corresponda à natureza da mente ou de uma suposta alma.

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reduções interteóricas do vocabulário ex-plicativo mental em termos de um voca-bulário neural por via de leis de ponte, ou, ainda, funcionalizar propriedades mentais em termos de sua estrutura causal física. Além dessas posições, existem teorias iden-titárias que defendem a ideia de que pro-cessos mentais seriam idênticos a processos neurais. Além de outras variantes, as teo-rias identitárias podem ser classificadas em duas famílias de posições: a identidade de tipo (Lewis, 1966) e a identidade de ocor-rência (token) (Kim, 1966). No primeiro ca-so, cria-se uma identidade estável entre um tipo mental e um tipo físico. No entanto, o argumento da múltipla realizabilidade (Fo-dor, 1974; Putnam 1967) – a defesa da pos-sibilidade de que um estado mental (funcio-nal) possa ser realizado por diversos estados cerebrais – coloca o argumento da identi-dade de tipo em maus len-çóis. No caso da identi dade de ocorrência, esse problema parece estar, pelo menos, mi-tigado, já que as identidades se dariam entre ocorrências individuais de estados cere-brais e mentais. Muitos fun-cionalistas acabam por ade-rir a essa posição, visto que visões mais algorítmicas de funcionalismo acreditam que uma função pode ser instan-ciada, por exemplo, tanto in silico como in vivo. Assim, para tal linha de argumentação, o suporte material que sustenta o algoritmo não faria grande diferença. Como será co-mentado a seguir, tal postura pode até ser entendida como uma forma de dua lismo, já que a mente pode ser vista como uma es-trutura meramente formal.

Mais promissoras são as pesquisas in-terdisciplinares que coadunam filosofia da mente e da ciência com neuropsicologia, neurociência e ciência cognitiva, entenden-do que qualquer capacidade mental deve ter

um correlato neural. A ideia de correlatos neurais pode ter várias versões e variações; entretanto, algumas dessas versões não se comprometem com uma postura necessa-riamente identitária, o que é uma vanta-gem. Trata-se, aqui, de encontrar o conjun-to mínimo de eventos e processos cerebrais que possa ser correlacionado a uma capa-cidade mental como seu substrato neural. Variações dessa ideia se dispõem funda-mentalmente em um eixo no qual postu-ras mais localizacionistas (Zeki et al., 1991) ou globalistas/conexionistas (Baars, 1988; Mesulam, 2012) são postuladas. Por loca-lizacionismo, entende-se, aqui, o poder de imputar a áreas bem determinadas do cére-bro capacidades distintas e específicas. Por globalismo/conexionismo, considera-se a possibilidade de que as correlações sejam estabelecidas entre capacidades funcionais e

áreas em interação e reverbe-ração informativa, como será abordado mais adiante neste mesmo capítulo. Entende-se aqui que a fidelidade respon-sável ao projeto de uma neu-ropsicologia há de congre-gar o entendimento dessas propriedades sistêmicas que emergem da interação com-plexa entre diferentes níveis de processamento de infor-mação em áreas distintas do

cérebro, sem, no entanto, perder de vista a especificidade inerente a cada parte ou sub-sistema constituinte do sistema. Essa dupla vinculação da neuropsicologia será discuti-da nas duas seções seguintes.

O MÉTODO ANATOMOCLÍNICO E O SURGIMENTO DA NEUROPSICOLOGIA

Ainda que não seja possível determinar o exato surgimento de uma disciplina com-plexa como a neuropsicologia, um de seus

A fidelidade responsável ao projeto de uma neuropsicolo-gia há de congregar o enten-dimento dessas propriedades sistêmicas que emergem da interação complexa entre di-ferentes níveis de processa-mento de informação em áreas distintas do cérebro, sem, no entanto, perder de vista a es-pecificidade inerente a cada parte ou subsistema consti-tuinte do sistema.

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atos de fundação pode ser considerado o trabalho de Pierre Paul Broca (1824-1880) na localização de um centro dedicado pa-ra produção da fala no cérebro. Em meio à controvérsia sobre a localização das funções cerebrais – que persistia desde a Antiguida-de, mas havia ganhado força a partir do sé-culo XVII –, Broca faz uma breve comuni-cação, em 1861, no Boletim da Sociedade de Antropologia (que na época discutia temas tão diversos quanto arqueologia, mitologia, anatomia e psicologia), sobre o caso de um paciente com um compro-metimento específico na ca-pacidade de produção de fa-la, em meio a um quadro de relativa preservação cogniti-va (Sagan, 1979). Essa publi-cação é acompanhada de ou-tra, mais extensa, no Boletim da Sociedade Anatômica, também em 1861. O paciente, Sr. Leborgne, havia “perdido o uso da pa-lavra” e era incapaz de “pronunciar mais do que uma sílaba, que ele repetia duas vezes seguidas” (tan tan) (Broca, 1861). Leborgne morreu pouco tempo depois do exame clí-nico, e sua autópsia revelou uma lesão espe-cífica no giro frontal inferior esquerdo. Bro-ca (1861) conclui em seu relato que “[...] tudo permite crer que, neste caso específico, a lesão do lobo frontal foi a causa da perda da palavra [...]”. O quadro clínico específico de perda de produção da fala e o giro fron-tal inferior se tornaram epônimos de Broca, sendo chamados, respectivamente, de afasia de Broca e área de Broca.

Broca (1891) utilizava em seus estudos o método anatomoclínico, o esteio da neu-rologia científica no final do século XIX. Es-se método consistia em um exame em dois estágios com o intuito de vincular sinais clí-nicos a padrões de alteração cerebral (Goetz, 2010). O primeiro estágio dessa abordagem dedicava-se a um exame clínico em profun-didade, acompanhando o paciente ao longo de um extenso período de tempo, ao passo

que o segundo estágio, após a morte do pa-ciente, envolvia a necropsia do cérebro e da medula espinal (Goetz, 2010). Assim, o mé-todo permitia vincular dados clínicos com informações sobre neuroanatomia, suge-rindo uma potencial relação de causalida-de entre esses dois fatores e possibilitando a classificação de doenças neurológicas a par-tir de achados anatômicos.

Desde a descoberta de Broca (1891), evidências crescentes indicaram uma cor-relação entre disfunções cognitivas ou qua-

dros clínicos específicos com padrões de lesões cerebrais. Por exemplo, amparado na casuística de centenas de ex--combatentes da Primei-ra Guerra Mundial, Kleist (1934) desenvolve, na déca-

da de 1930, um mapa de localização cere-bral relativamente preciso, sugerindo com-prometimentos específicos que o dano focal ao cérebro traz.

O conhecimento sobre a localização de funções cerebrais ganharia novo impulso a partir dos estudos de Wilder Penfield, na década de 1950, que, em seu trabalho com cirurgias de pacientes epilépticos utilizando o procedimento Montreal, estabeleceu por meio de estimulação elétrica um detalhado mapa de processamento sensorial (Jasper & Penfield, 1954). Na segunda metade do sé-culo XX, evidências de estudos de lesão, mo-delos animais, medições em células únicas e, mais recentemente, pesquisas utilizando neuroimagem acumularam-se para indicar de forma inequívoca a especialização de re-giões cerebrais em termos de processamen-to de informação. Tais dados, no entanto, são complementados por perspectivas cone-xionistas e por um gra dual refinamento do conceito de localização cerebral. Esses pon-tos são discutidos nas seções seguintes deste capítulo, a partir da biografia e das ideias de um dos precursores da neuropsicologia, Ale-xander Romanovich Luria.

Desde a descoberta de Broca, evidências crescentes indica-ram uma correlação entre dis-funções cognitivas ou quadros clínicos específicos com pa-drões de lesões cerebrais.

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LURIA, O CONCEITO DE SISTEMA E A INSTANCIAÇÃO DA CULTURA NO CÉREBRO

Alexander Romanovich Luria nasceu em 1902, na cidade russa de Kazan, em uma fa-mília judia formada por profissionais libe-rais. Seu pai era um médico especializado em doenças gastrintestinais, e sua mãe era dentista – algo pouco comum na época. Sua formação é marcada por grande ecletismo, graduando-se primeiro em ciências sociais pela Universidade de Kazan; entrou no cur-so no ano seguinte à Revolução Russa, pa-ra posteriormente formar-se em medicina pela Universidade de Moscou. Ao longo de seu percurso acadêmico, filiou-se a diver-sas teorias. No início de sua formação, nos anos 1920, estudou psicanálise, traduzindo Freud para o russo e fundando a Associação Psicanalítica de Kazan. Em 1924, conheceu Lev S. Vygotsky e Aleksei N. Leon tiev, jun-to aos quais estabeleceu os fundamentos de uma psicologia que considerasse a in-teração entre fatores individuais e elemen-tos sociais/culturais. Ocorreram, em segui-da, na década de 1930, suas excursões à Ásia Menor, em que realizou estudos sobre a in-fluência de fatores como escolaridade na cognição e linguagem. Também são des-sa época seus estudos com gêmeos, quando tentou elucidar a relação entre fatores gené-ticos e culturais. Durante a Segunda Guer-ra Mundial, trabalhou em um hospital para ex-combatentes, estendendo seu conheci-mento sobre pacientes com lesões cerebrais adquiridas. Na década de 1950, em virtude de uma onda de antissemitis-mo, afastou-se do Departa-mento de Neurocirurgia, de-dicando-se a estudos sobre crianças com déficits cogni-tivos e atrasos de desenvol-vimento. Ao final dessa dé-cada, retornou ao trabalho com pacientes neurológicos, passando os últimos anos de sua carreira refinando seu arsenal clínico.

Morreu aos 77 anos, vítima de problemas cardíacos.

Luria foi não apenas um dos funda-dores da neuropsicologia contemporânea, mas também teve papel proeminente no desenvolvimento da psicologia histórico--cultural. Em função dessa dupla vincula-ção, Luria tinha uma perspectiva privilegia-da sobre a relação entre biologia e cultura. Para ele, a dissociação entre psicologia so-cial e individual era uma falácia teórica, e o desenvolvimento e funcionamento do cére-bro se davam a partir de complexas intera-ções entre fatores biológicos e sociais (Lu-ria, 1976). Essa posição encontra ecos em tendências contemporâneas da neurociên-cia, que sugerem que, na medida em que os humanos fazem parte de uma espécie alta-mente social, nosso desenvolvimento bio-lógico não pode ser dissociado da influên-cia da interação social. Isso é indicado, por exemplo, por proponentes da hipótese do cérebro social, que sugerem que deman-das impostas pela estrutura social comple-xa da ordem dos primatas foram um dos fa-tores determinantes na evolução do cérebro (Dunbar, 1998).

Uma das ideias essenciais da abor-dagem de Luria é a noção de que vínculos funcionais entre regiões cerebrais são cons-truídos historicamente. Por exemplo, áreas responsáveis pela linguagem se tornam fun-cionalmente conectadas a regiões vincula-das ao processamento visual e motor a par-tir da invenção da escrita (Luria, 1976). Essa perspectiva é particularmente relevante na

medida em que relativiza a ideia de um cérebro humano trans-histórico (cérebros da idade de pedra) (Cosmides & Tooby, 1994), considerando que a escrita surgiu em tor-no de 3.500 anos atrás (Kra-

mer, 1981) e, portanto, tem uma história muito curta em contraste com as primeiras evidências de humanos anatomicamente

Uma das ideias essenciais da abor dagem de Luria é a noção de que vínculos funcionais entre regiões cerebrais são construí-dos historicamente.

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modernos, com no mínimo 100 mil anos (Stringer, 2012). Com base na visão de Lu-ria, podemos especular como são formadas as conexões entre as áreas do cérebro hu-mano a partir da estimulação e do ambien-te providos na sociedade contemporânea.

Um conceito fundamental dentro da perspectiva luriana, que ressitua a questão da localização cerebral, é o de sistema fun-cional. Luria (1976) promove uma descons-trução da ideia de função ao sugerir que, em suas formas complexas, esta não pode ser atribuída a um único órgão ou tecido. Dando o exemplo da respiração, ele afir-ma que não se trata de uma função ape-nas do pulmão, sendo executada por um sistema completo, que inclui diversos ór-gãos e um aparato muscular amplo. A no-ção de sistema sugere um alto grau de plas-ticidade e compensação entre as suas partes. Atendo-se ainda ao exemplo da respiração, Luria indica como os músculos intercos-tais são recrutados para compensar casos em que há atividade deficiente do diafrag-ma. Modalidades complexas de cognição seriam, segundo ele, um exemplo privilegiado de funcionamento sistêmi-co, com diferentes áreas ce-rebrais trabalhando em con-certo para sua consecução. Luria identifica três siste-mas com base em contribui-ções funcionais específicas: uma unidade de sono-vigília, uma de processamento sensorial e armaze-namento de informação e uma de regula-ção e monitoramento de atividades (Luria, 1976). Ainda que essas unidades funcionais possam ser situadas em diferentes substra-tos neurais (respectivamente, no tronco ce-rebral, nos córtices occipital, parietal e tem-poral e no córtex pré-frontal), o conceito de sistema pressupõe a ideia de que tais regiões cumprem funções amplas e que diferentes componentes de cada unidade compensam

a atividade de outros em casos de dano ce-rebral. Assim, essa perspectiva é particular-mente frutífera para pensar implicações clí-nicas e o aspecto qualitativo de sintomas neurológicos.

TRAZENDO A NEUROPSICOLOGIA PARA O SÉCULO XXI

Em que pese o impacto da obra de Luria na formação da neuropsicologia como disci-plina, alguns de seus insights não foram ple-namente incorporados por autores que o seguiram. De forma geral, a neuropsicolo-gia ainda hoje subscreve a um campo con-ceitual em descompasso com algumas das vias mais frutíferas para se pensar a rela-ção entre funcionamento mental e cerebral. Por exemplo, a noção de modularidade, um dos pilares da abordagem neuropsicológica, vem sendo relativizada diante de achados empíricos novos. Especificamente, o au-mento de estudos sobre conectividade es-

trutural, funcional e efetiva entre regiões cerebrais (Me-sulam, 2012) sugere que, ain-da que a especialização fun-cional de regiões cerebrais seja inegável, é somente da interação entre áreas que funções complexas podem emergir. Além disso, paradig-mas recentes para o entendi-mento do funcionamento ce-

rebral calcam-se em modelos dinâmicos, em que o processamento de informação, mesmo em níveis básicos, é influenciado por processos de ordem superior (Fris-ton, 2010). Um exemplo privilegiado dessas perspectivas é o estudo da consciência, que ganhou nova força a partir da adoção dos conceitos de conectividade (Tononi, 2007) e predição probabilística (Friston, 2010).

Paralelamente, as últimas décadas trou-xeram um gradual abandono da metáfora da

O aumento de estudos sobre conectividade estrutural, fun-cional e efetiva entre regiões cerebrais (Mesulam, 2012) su-gere que, ainda que a espe-cialização funcional de regi-ões cerebrais seja inegável, é somente da interação entre áreas que funções complexas podem emergir.

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mente como um computador. Fundamental para a discussão promovida neste capítulo, o cognitivismo estrito sugeria que a mente funcionaria tal como um software, que po-deria ser instalado em diferentes suportes, não importando as características do hard-ware (i. e., o corpo e o cérebro) no qual fun-cionava. Essa perspectiva, considerada ad extremum, cai em uma posição dualista, em que a mente é um conjunto de regras for-mais que pode ser instanciado independen-temente de sua base orgânica (Searle, 1980). Em oposição a essa perspec-tiva, acompanha-se a incor-poração nas neurociências de um paradigma biológico que considera todos os processos cognitivos como calcados em uma base material (o cére-bro) e motivados em última instância por questões referentes à adaptação do organis-mo. De um ponto de vista clínico, a adesão da neuropsicologia a esse paradigma bioló-gico enfatiza o caráter adaptativo dos sinto-mas e respostas de pacientes neurológicos, em vez de considerá-los meramente expres-sões de déficits.

Além dessas questões de ordem teóri-ca, uma neuropsicologia para o século XXI precisa reinventar-se metodologicamente. Estudos de lesão formaram o cerne da abor-dagem neuropsicológica ao longo do sécu-lo XX. Nas últimas décadas, os campos mais amplos da neurologia clínica e das neuro-ciências cognitivas beneficiaram-se de ino-vações técnicas, como procedimentos de neuroimagem de alta resolução espacial (p. ex., fMRI, PET, DTI). Essas técnicas possibi-litam evitar as limitações associadas com es-tudos de lesão, como, por exemplo, o fato de que raramente o dano cerebral está limita-do a áreas corticais específicas e a dificulda-de em determinar as habilidades pré-mór-bidas de pacientes (Fotopoulou, 2013).

Além disso, essas técnicas permi-tem de forma mais eficaz a investigação de objetos de estudo que tradicionalmente

foram excluídos da neurociência cogniti-va, em parte por dificuldades metodoló-gicas. O estudo da emoção em humanos é um exemplo princeps dessa mudança. Uma explo ração científica da emoção é compli-cada pelo fato de que estados emocionais são subjetivos e acessados de forma privi-legiada a partir de uma perspectiva de pri-meira pessoa. Ainda que essa limitação não se aplique a aspectos comportamentais da emoção (p. ex., expressões faciais), o estudo objetivo de sentimentos e estados internos

ganhou novo impulso com técnicas de imagem (Ekman, 1992). As evidências conver-gentes sobre o processamen-to emocional em humanos e a extensa litera tura sobre mo-delos animais e estudos com-

parados fizeram emergir nas últimas dé-cadas o campo das neurociências afetivas (Panksepp, 2004).

Diante desse panorama, um dos desa-fios atuais da neuropsicologia é acompanhar os últimos desenvolvimentos do campo mais amplo das neurociências, encampando posi-ções que possam revitalizar seus métodos e teorias. Ao mesmo tempo, a neuropsicologia, amparada na vasta riqueza de seus dados clí-nicos, pode informar produções futuras nas neurociências. Sendo assim, esse desafio de-ve ser encarado com otimismo.

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Uma exploração científica da emoção é complicada pelo fato de que estados emocionais são subjetivos e acessados de for-ma privilegiada a partir de uma perspectiva de primeira pessoa.

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