As Variedades Linguisticas

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    As variedades lingsticas

    as variedadeslingsticas

    Voc se lembra desta msica do grupo Mamonas Assassinas? Leia o texto:

    CHOPIS CENTIS

    Eu di um beijo nelaE chamei pra passear.A gente fomos no shoppingPra mode a gente lanchar.Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim.At que tava gostoso, mas eu prefiroaipim.

    Quanta gente,Quanta alegria,A minha felicidade um credirio nasCasas Bahia.

    Esse tal Chopis Centis muito legalzinho.Pra levar a namorada e dar unsrolezinho,Quando eu estou no trabalho,No vejo a hora de descer dos andaime.Pra pegar um cinema, ver SchwarznegerE tambm o Van Damme.

    (Dinho e Jlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas, 1995.)

    1. Nessa msica, o grupo intencionalmente explora uma variante lingstica. Para isso, cria uma per-sonagem que teria determinadas caractersticas de fala.a) No primeiro verso (linha) da cano, foi empregado di, em lugar de dei. Esse erro muito comum

    entre crianas que esto aprendendo a falar, porque h outros verbos na lngua com som parecido. Citedois outros casos de verbos que terminam em i quando queremos indicar um fato passado.

    b) No terceiro verso, temos uma construo que est em desacordo com a norma culta. Identifique-ae reescreva-a em lngua culta.

    2. Pouco sabemos sobre a pessoa que fala nessa msica, mas, por algumas pistas do texto, podemosimaginar. Na sua opinio, qual deve ser:a) o grau de escolaridade dela? c) a classe social a que ela pertence?b) a profisso? d) os filmes a que normalmente ela assiste?

    3. No 3o. verso da 3a. estrofe, empregada uma gria: uns rolezinho. Imagine o sentido dessa expres-so, a partir do contexto.

    4. Existem alguns termos na letra da msica que tambm podem nos dar pistas sobre a origem da pessoa quefala na msica: mode e aipim. Em que regio do pas esses termos so popularmente empregados?

    A gente foi... ou Ns fomos ao shopping. (Professor, mais importante aqui ressaltar a falta deconcordncia; se, contudo, achar conveniente, possvel lembrar tambm a impropriedade deregncia: ir a algum lugar, e no: ir em algum lugar.)

    uma pessoa de pouca ou nenhuma escolaridade.

    um pedreiro da construo civil; so cita-dos os andaimes.

    Provavelmente uma classe social pobre.

    Pelo nome dos atores citados, supe-se que goste de filmesde violncia.

    Provavelmente, dar umas voltas.

    So empregados popularmente na regio Nordeste do pas, onde aipim o mesmo que mandioca.

    Vi, li, dor-mi, ca, etc.

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    : Lin

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    PL-Miolo Gramtica 5-Aluno 8/9/06, 9:19 AM332

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    AS VARIEDADES LINGAS VARIEDADES LINGSTICAS NA CONSTRSTICAS NA CONSTRUO DO TEXTOO DO TEXTO

    Leia este poema, de Elias Jos:

    MODA CAIPIRA

    Para a Sonia Junqueira, pela parceria e amizade.

    U musquitu ca mutucanum cumbina.U musquitu pulai a mutuca impina.

    U patu ca patanum afina.U patu comi gramai a pata qu coisa fina.

    U gatu cum u ratuvivi numa eterna luita.U ratu vai cum queiju,vem um gatu i insurta.

    U galu ca galinhanum pareci casadu.A galinha vai atrais delii u galu sarta di ladu.

    U pavo ca pavoamais pareci mulqui.A pavoa passa rivae eli s abri u lqui.

    U macacu ca macacanum pareci qui si ama:ela pedi um abrau,ele d uma banana

    Eu mais oc cumbinaqui d gostu di v:eu iscrevu essas poesiai oc cuida di l

    (Cantos de encantamento. BeloHorizonte: Formato, 1996. p. 22.)

    1. Ao escrever esse poema, o autor no obedeceu s regras ortogrficas da lngua portuguesa.

    a) Leia o nome do poema e tire uma concluso: Por que, na sua opinio, o autor escreveu o textodesse modo? Porque ele procurou imitar o jeito de falar de um caipira.

    b) Qual o dialeto que o autor usou para escrever o poema?

    2. Compare as palavras abaixo. As da coluna da esquerda esto escritasde acordo com as regras ortogrficas, e as da coluna da direita estoescritas conforme aparecem no poema.

    mosquito musquitupato paturato ratu

    a) Quais dessas palavras lembram mais o nosso jeito de falar?b) Conclua: Nosso jeito de falar sempre corresponde ao modo como as palavras so escritas?

    No; a correspondncia no exata.

    O dialeto caipira. Professor: Alguns aspectos so prprios de diversas variedades no padro; outros, porm, comoriva, sarta, insurta, so prprios do dialeto caipira.

    As palavras do lado direito.Professor: Sugerimos cha-mar a ateno dos alunospara o fato de que quase to-dos os brasileiros falammusquitu, patu, ratu.Nesse caso, o autor procu-rou trazer elementos da ora-lidade para a escrita.

    Portu

    gus

    : Lin

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    Transforma-se em i.

    Transforma-se em r.

    Professor: Aproveite para comentar que o eu lrico escolhe comparaes com animais pelofato de, supostamente, os animais fazerem parte de seu universo.

    Professor: Comente com os alunos a lgica da variedade no padro. A noo de plural dada por essas;logo, o plural de poesia seria s um reforo. Como as variedades populares buscam a economia, poesia ficano singular.

    Professor: Sugerimos abrir o debate na classe. Lembre aos alunos que a grafia da lngua portuguesa no Brasil est ligada s origens histricas da lngua (palavras que seoriginam do grego, do latim, de lnguas indgenas e africanas) e da influncia de imigraes mais recentes: japoneses, italianos, libaneses, etc.

    A falta de concordncia em essas poesia.

    A namorada ou a mulher amada do eu lrico.

    3. Compare em cada par de palavras abaixo as da esquerda com as da direita e tire concluses sobre asdiferenas entre oralidade e escrita.

    mosquito musquitu parece pareci insulta insurtacombina cumbina come comi salta sartacomer cum dele deli

    a) O que acontece com a vogal o de slabas tonas (fracas), como em mosquito, quando a palavra falada? Transforma-se em u.

    b) O que acontece com a vogal e da slaba final das palavras, como em parece, quando ela falada?

    c) O que acontece com a letra l anterior ltima slaba, como em insulta, quando ela falada?d) Dessas mudanas, quais so as tpicas do dialeto caipira? insurta, sartae) Por que existem essas diferenas entre oralidade e escrita, na sua opinio?

    4. Observe este trecho do poema:

    eu iscrevu essas poesia

    a) Alm da grafia da palavra iscrevu, esse trecho apresenta outra variao em relao lnguapadro. Qual ela?

    b) Apesar dessa variao, podemos entender que o trecho se refere a uma nica poesia ou a mais deuma? Como possvel saber isso?

    5. Na ltima estrofe do poema, o eu lrico se dirige a outra pessoa e compara seu relacionamento comela ao relacionamento de vrios animais.

    a) Quem essa pessoa?b) O que o eu lrico pretende provar com essas comparaes?

    1. No poema de Elias Jos, voc viu de que modo um caipira faria uma declarao de amor usando seudialeto. As grias relacionadas a seguir pertencem a todas as tribos, isto , a todos os grupos sociaisde hoje. Coloque-se no papel de um skatista, de um surfista, de um metaleiro, etc. e escreva umapequena declarao de amor pessoa amada, utilizando algumas dessas grias. Se quiser, acrescenteoutras. Quando terminar, leia a declarao para a classe e divirta-se com a dos colegas.

    animal: pessoa muito legal ou agressiva.avio: mulher bonita.comer pelas beiradas: chegar de mansinho.crescer o olho: cobiar alguma coisa.dar um gs: fazer alguma coisa rapidamente.dar um rol: dar uma volta, passear.do bem: algum que confivel.

    ficar: namorar sem compromisso.firmeza: pessoa legal.jaburu: mulher feia.maneiro: algo bem interessante.mina: menina, garota.tigro: garoto bonito, esperto.

    Que eles podem se dar bem, melhor do que os animais.

    Portu

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