As Políticas do Pós-Anarquismo

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As Políticas do Pós-Anarquismo

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    as polticas do ps-anarquismo

    saul newman*

    Recentemente, as polticas radicais vm enfrentan-do novos e numerosos desafios, dentre eles, a reemer-gncia do Estado agressivo e autoritrio, juntamentecom seus novos paradigmas de segurana e biopoltica.A guerra ao terror serve como mais um disfarce paralegitimar a reafirmao coercitiva do princpio de sobe-rania estatal, ultrapassando os limites tradicionais im-postos pelas instituies legais ou pelas polticas demo-crticas. Alm disso, h uma hegemonia dos projetosneo-liberais da globalizao capitalista, bem como o obs-curantismo ideolgico da chamada Terceira Via. O co-lapso do sistema comunista h quase duas dcadas pro-vocou uma profunda desiluso, que resultou num vcuoterico e poltico da esquerda radical, que tem desenvol-vido na Europa uma ineficiente oposio ascenso daextrema direita, assim como um insidioso e assustadorconservadorismo, cujas sombrias implicaes ideolgi-cas esto apenas comeando a se desdobrar.

    * Saul Newman pesquisador (ps-doutorado) e professor no Departamentode Cincias Polticas da University of Western Australia.

    verve, 9: 30-50, 2006

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    O momento anarquista

    Talvez devido ao desarranjo no qual a esquerda en-contra-se atualmente, tem-se articulado uma renova-o do interesse no anarquismo como uma alternativaradical possvel ao marxismo. De fato, o anarquismo foisempre uma espcie de terceira via entre liberalismoe marxismo, e agora, com o desencanto geral diante doliberalismo do livre mercado e com o socialismo centra-lizador, o apelo, ou pelo menos o interesse, pelo anar-quismo tende a crescer.

    Esse revival do anarquismo devido tambm proe-minncia do vagamente definido movimento anti-glo-balizao, que contesta a dominao da globalizao neo-liberal em todas as suas manifestaes da gannciacorporativa degradao ambiental e aos alimentosgeneticamente modificados. O movimento est alicer-ado numa ampla agenda de protestos, que incorporauma multido de diferentes assuntos e identidades po-lticas. Porm, o que testemunhamos uma nova for-ma de poltica radical, que fundamentalmente dife-rente de ambas as polticas de identidade particulariza-das que tm prevalecido nas sociedades liberais doocidente e no velho estilo de poltica marxista de lutasde classe. De um lado, o movimento anti-globalizaounifica diferentes identidades numa luta comum; e ain-da assim, esse campo comum no determinado deantemo ou baseado na priorizao dos interesses par-ticulares de classe. Ao contrrio, ele se articula de for-ma contingente no decorrer da prpria luta. O que tornaesse movimento radical a sua imprevisibilidade e in-determinao o modo pelo qual ligaes e conexesinesperadas so constitudas entre diferentes identida-des e entre grupos que de outra maneira teriam poucoem comum. Assim, enquanto este movimento uni-versal, no sentido de que ele evoca um horizonte eman-

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    cipador comum que constitui a identidade dos partici-pantes, ele rejeita a falsa universalidade das lutas mar-xistas, que negam a diferena e subordinam outras lu-tas ao papel central do proletariado ou, para ser maispreciso, ao papel de vanguarda do partido.

    a recusa das polticas hierrquicas e centralizado-ras, essa abertura a uma pluralidade de diferentes iden-tidades e lutas, que faz do movimento anti-globalizaoum movimento anarquista. Ele no se torna anarquistaapenas porque grupos anarquistas so proeminentes nomovimento, mas principalmente porque, mesmo nosendo conscientemente anarquista, incorpora formasanrquicas de poltica em sua estrutura e organizao1 que descentralizada, pluralista e democrtica assim como a sua poltica inclusiva. Da mesma formaque anarquistas clssicos como Bakunin e Kropotkininsistiram, em oposio aos marxistas, que uma lutarevolucionria no poderia ser confinada ou determi-nada pelos interesses de classe do proletariado indus-trial, e que tambm deveria estar aberta aos campone-ses, ao lumpen proletariado, aos intelectuais dclass,entre outros, o movimento contemporneo inclui umaampla gama de lutas, identidades e interesses sindi-catos, estudantes, ambientalistas, grupos indgenas,minoridades tnicas, pacifistas, entre outros.

    Ps-marxistas como Ernesto Laclau e Chantal Mou-ffe argumentam que o horizonte poltico radical j no mais dominado pelo proletariado e sua luta contra o ca-pitalismo. Eles apontam para uma srie de novos movi-mentos sociais e identidades negros, feministas,minorias tnicas e sexuais que no cabem mais nacategoria marxista de luta de classe: O denominadorcomum entre eles provm da sua diferenciao com aluta dos trabalhadores, considerada como luta de clas-ses.2 Classe, portanto, no mais a categoria central

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    pela qual a subjetividade poltica radical definida. Almdisso, as lutas polticas contemporneas no so maisdeterminadas pela luta contra o capitalismo, mas apon-tam para novos espaos de dominao e destacam no-vas arenas de antagonismo racismo, privatizao,vigilncia no trabalho, burocratizao, entre outros.Segundo Laclau e Mouffe, esses novos movimentos so-ciais tm sido fundamentalmente lutas contra a domi-nao, mais do que meramente explorao econmica,como iria supor o paradigma marxista: A sua novidadese explicita no fato de que eles questionam as novasformas de subordinao.3 Isto significa que so lutasanti-autoritrias lutas que contestam a falta de reci-procidade em relaes particulares de poder. Nesse caso,a explorao econmica seria vista como parte de umaproblemtica mais ampla de dominao que inclui-ria tambm formas sexuais e culturais de subordina-o. Neste sentido, se poderia dizer que as lutas e osantagonismos apontam para um momento anarquista napoltica contempornea.

    De acordo com os ps-marxistas, as condies polti-cas contemporneas j no podem ser explicadas a par-tir das categorias tericas e paradigmas centrais para ateoria marxista. O marxismo era conceitualmente li-mitado pelo essencialismo de classe e determinismoeconmico, que teve o efeito de reduzir o poltico a umespao estritamente determinado pela economia capi-talista e pela emergncia dialtica do que era visto comoo sujeito universal emancipador. Por assim dizer, omarxismo foi incapaz de entender o poltico como umcampo completamente autnomo, especfico e contin-gente, considerando-o sempre como um efeito super-estrutural das estruturas econmicas e de classe. As-sim, a anlise da poltica estava subordinada anlisedo capitalismo. Em decorrncia disso, o marxismo sim-plesmente no possui nenhuma bagagem terica em

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    lutas polticas que no se baseiem na noo de classe eque no estejam focadas em questes econmicas. A fa-lha catastrfica do projeto marxista e seu pice en-contrado na massiva perpetuao e centralizao do po-der e autoridade estatais mostrou que ele negligen-ciou a importncia e especificidade do mbito poltico.Em contrapartida, ps-marxistas contemporneos afir-mam a primazia do poltico, percebendo-o como um cam-po autnomo que, em vez de ser determinado por umadinmica de classe e pelos trabalhos da economia capi-talista, radicalmente contingente e indeterminado.

    ento surpreendente que a teoria ps-marxista notenha reconhecido a contribuio crucial do anarquis-mo clssico em conceituar um campo poltico completa-mente autnomo. Certamente, a nfase na primaziae especificidade da poltica que caracteriza o anarquis-mo e o distingue do marxismo. O anarquismo ofereceuuma crtica socialista radical do marxismo, expondo suafragilidade terica sobre a questo do poder do Estado.Diferente do marxismo, que enxergava o poder polticocomo uma derivao da posio de classe, anarquistascomo Mikhail Bakunin insistiram que o Estado deveriaser visto como o principal impedimento revoluo so-cialista, e que ele opressivo independente da sua for-ma ou da classe que o controla: Eles (marxistas) noentendem que o despotismo no reside na forma do Es-tado, mas no prprio princpio do Estado e do poder polti-co.4 Em outras palavras, a dominao existe na prpriaestrutura e lgica do Estado ele constitui um espaoautnomo ou campo de poder que deve ser destrudo comoo primeiro ato da revoluo. Os anarquistas acredita-vam que a negligncia de Marx dessa questo teria con-seqncias desastrosas para as polticas revolucionri-as uma previso comprovada com exatido pela revo-luo bolchevista. Para os anarquistas, o poder polticocentralizado no poderia ser facilmente superado e es-

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    tava sempre em perigo de ser reafirmado se no fosseespecificamente combatido. Assim, a inovao tericado anarquismo reside em levar a anlise do poder paraalm do paradigma de reducionismo econmico do mar-xismo, apontando tambm a outros espaos de autori-dade e dominao que foram negligenciados pela teoriamarxista por exemplo, a Igreja, a famlia, as estrutu-ras patriarcais, a lei, a tecnologia, assim como a estru-tura e hierarquia do prprio Partido Revolucionrio mar-xista.5 O anarquismo ofereceu novos instrumentos paraa anlise do poder poltico e, assim, ampliou o espao dopoltico como um campo especfico da luta revolucion-ria e antagonismos, que no poderiam mais se subordi-nar s preocupaes puramente econmicas.

    Especificadas as contribuies do anarquismo pol-tica radical e, particularmente, sua proximidade teri-ca aos projetos ps-marxistas atuais, houve um estra-nho silncio sobre essa tradio revolucionria por par-te das teorias radicais contemporneas. Entretanto, importante notar que assim como a teoria contempor-nea deveria considerar a interveno do anarquismo, oprprio anarquismo poderia se beneficiar significativa-mente se incorporasse perspectivas tericas contem-porneas, particularmente quelas derivadas da anli-se do discurso, da psicanlise e do ps-estruturalismo.Talvez ns poderamos afirmar que o anarquismo hojese d mais pela prtica do que pela teoria, apesar, claro, das intervenes de diversos pensadores anarquis-tas modernos influentes, como Noam Chomsky, JohnZerzan and Murray Bookchin.6 J chamei a ateno paraa anarquia em ao que vemos nos novos movimentossociais que caracterizam o nosso campo poltico. No en-tanto, as prprias condies que possibilitaram a emer-gncia do momento anarquista a pluralizao das lu-tas, subjetividades e espaos de poder so tambm ascondies que evidenciam as contradies centrais e

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    limites da teoria anarquista, cujos alicerces ainda es-to no paradigma do Iluminismo humanista, com suasnoes essencialistas do ser humano racional e sua fpositivista na cincia e na objetividade histrica dasleis. Assim como o marxismo estava politicamente li-mitado por suas prprias categorias de classe e deter-minismo econmico, bem como por sua viso dialticado desenvolvimento histrico, pode-se dizer que o anar-quismo tambm est limitado por suas amarras episte-molgicas no discurso essencialista e racionalista doIluminismo humanista.

    Novos paradigmas sociais: ps-estruturalismo e an-lise do discurso

    O paradigma do Iluminismo humanista tem sido subs-titudo pelo paradigma da ps- modernidade, que pode servisto como uma perspectiva crtica no discurso da moder-nidade uma descrena em metanarrativas, como afir-mou Jean- Franois Lyotard.7 Em outras palavras, a con-dio ps-moderna questiona precisamente a universali-dade e o absolutismo dos alicerces racionais e moraisderivados do Iluminismo. Ela desmascara as prprias idi-as que no questionamos mais nossa f na cincia, porexemplo evidenciando sua natureza arbitrria e a ma-neira com que foram construdas pela excluso violentade outros discursos e perspectivas. O ps-modernismo tam-bm questiona as idias essencialistas sobre a subjetivi-dade e a sociedade a convico de que h uma verdadecentral e imutvel na base de nossa identidade e de nossaexistncia social, uma verdade que s pode ser reveladauma vez que as mistificaes irracionais da religio ou daideologia forem descartadas. Em vez disso, o ps-moder-nismo enfatiza a natureza mutante e contingente da iden-tidade a multiplicidade de maneiras pelas quais ela podeser experimentada e entendida. Alm disso, a histria pode

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    ser vista, sob a perspectiva ps-moderna, como uma sriede contingncias e acidentes desordenados, sem origemou propsito, diferente da histria entendida como desdo-bramento da lgica racional e da verdade essencial, comona dialtica. Assim, o ps-modernismo enfatiza a instabi-lidade e a pluralidade de identidades, a natureza constru-da da realidade social, a incomensurvel diferena, a con-tingncia da histria.

    H atualmente diversas estratgias tericas crticasque tratam das questes da ps-modernidade, e que euacredito ter implicaes cruciais para as polticas radi-cais hoje. Tais estratgias incluiriam o ps-estruturalis-mo, a anlise do discurso e o ps-marxismo. Elas deri-vam de uma variedade de diferentes campos em filosofia,teoria poltica, estudos culturais, esttica e psicanlise,que ainda compartilham de uma maneira geral um en-tendimento discursivo sobre a realidade social. Por assimdizer, elas entendem as identidades sociais e polticas comoconstrudas por meio de relaes de discurso e de poder,que no tm significado inteligvel fora deste contexto. Almdisso, tais perspectivas vo alm de um entendimentoestrutural determinista do mundo, apontando para a in-determinao da prpria estrutura, assim como para assuas mltiplas formas de articulao. Existem diversasproblematizaes tericas importantes que podem ser de-senhadas aqui, que so no somente centrais para o campopoltico contemporneo, como tambm tm implicaesimportantes para o prprio anarquismo.

    A) A opacidade do social. O campo scio-poltico ca-racterizado por mltiplas camadas de articulaes, an-tagonismos e dissimulao ideolgica. Ao invs da exis-tncia de uma verdade social objetiva para alm dainterpretao e da ideologia, h somente o antagonis-mo das articulaes conflituosas do social, que deri-vam do princpio althusseriano (originalmente freudi-

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    ano) de sobredeterminao segundo o qual os signifi-cados nunca so totalmente fixados, possibilitando aemergncia de uma pluralidade de interpretaes sim-blicas. Slavoj Zizek elabora um interessante exemplodesta operao discursiva por meio da anlise de ClaudeLvi-Strauss sobre integrantes da tribo Winnebago esuas diferentes percepes sobre a localizao espaci-al de suas construes. A tribo divide-se em dois gru-pos aqueles que esto em cima e aqueles que estoembaixo. Pediram para um indivduo de cada grupodesenhar a planta de sua vila na areia ou num papel.O resultado deste estudo apontava diferenas radicaisentre as representaes de cada grupo. Aqueles queesto em cima desenharam a aldeia como um grupode crculos concntricos dentro de crculos, com umgrupo de crculos no meio e crculos satlites arranja-dos ao redor destes. Este esboo corresponderia ima-gem conservadora-corporativa da sociedade sustentadapela classe superior. Enquanto aqueles que esto em-baixo tambm desenharam a vila como um crculo,porm explicitamente dividido por uma linha em duasmetades antagnicas correspondendo, assim, vi-so revolucionrio-antagonista das classes inferiores.Zizek comenta: a diviso entre as duas percepes re-lativas implica uma referncia oculta a uma constan-te no a objetiva e real disposio das construes,mas um ncleo traumtico, um antagonismo funda-mental que os habitantes da aldeia foram incapazesde simbolizar, de considerar, de internalizar, de reali-zar um desequilbrio nas relaes sociais que impe-diu a comunidade de se organizar de forma harmni-ca.8

    De acordo com este argumento, seria impossvel sus-tentar a noo anarquista de objetividade social ou to-talidade. H sempre um antagonismo no nvel de repre-sentao social que enfraquece a consistncia simbli-

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    ca desta totalidade. As diferentes perspectivas e as in-terpretaes conflituosas do social no poderiam ser vis-tas como meros resultados de uma distoro ideolgica,que impedem o sujeito de capturar a verdade da socie-dade. Isto indica que as diferenas nas interpretaessociais este incomensurvel campo de antagonismos a prpria verdade da sociedade. Em outras palavras,a distoro aqui explicitada no est no nvel da ideolo-gia, mas no nvel da prpria realidade social.

    B) A indeterminao do sujeito. Assim como a identi-dade do social pode ser vista como indeterminada, a iden-tidade do sujeito tambm pode. Isso deriva de uma sriede diferentes abordagens tericas. Ps-estruturalistascomo Gilles Deleuze e Felix Guattari procuraram abor-dar a subjetividade como um campo de imanncia e devirque permite a emergncia de uma pluralidade de dife-renas, no como uma identidade fixa e estvel. A su-posta unidade do sujeito desestabilizada por meio dasconexes heterogneas formadas com outras identida-des sociais ou assemblages.9 Uma abordagem distintasobre a questo da subjetividade pode ser encontradana psicanlise lacaniana, na qual a identidade do su-jeito sempre deficiente ou incompleta devido au-sncia do que Jacques Lacan chama de object petit a oobjeto perdido do desejo. Esta ausncia na identidade tambm registrada na ordem simblica externa por meioda qual o sujeito entendido. O sujeito busca o reco-nhecimento de si por meio da interao com a estrutu-ra da lngua; no entanto, esta estrutura em si mesmadeficiente, j que existe um certo elemento o Real que escapa simbolizao.10 Fica claro nestas duas abor-dagens que o sujeito j no pode ser visto como umaidentidade completa, inteira e confinada a si mesmafixada numa essncia ao contrrio, sua identidade instvel e contingente. Portanto, a poltica no pode maisestar baseada inteiramente em reivindicaes racio-

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    nais de identidades estveis, ou na afirmao revoluci-onria de uma essncia humana fundamental. Pelo con-trrio, as identidades polticas so indeterminadas e con-tingentes e podem dar vazo a uma pluralidade delutas diferentes e freqentemente antagnicas sobrecomo essa identidade deve ser definida. Tal abordagemquestiona claramente o entendimento anarquista dasubjetividade, como baseada numa essncia humanauniversal com caractersticas morais e racionais.11

    C) A cumplicidade do sujeito no poder. O status do su-jeito ainda problematizado pelo seu envolvimento emrelaes de poder e discurso. Este problema foi extensa-mente explorado por Michel Foucault, que revelou umamirade de possibilidades pelas quais a subjetividade construda por meio de regimes discursivos e prticasde poder-saber. De fato, a forma pela qual nos enxerga-mos como sujeitos auto-reflexivos, com caractersticase capacidades particulares, est ligada nossa cumpli-cidade com as relaes e prticas de poder que freqen-temente nos dominam. Isto questiona a noo do sujei-to humano autnomo e racional e o seu status em umapoltica radical de emancipao. Segundo Foucault, ohomem que nos descrito, o qual somos convidados alibertar, j em si mesmo o efeito de uma sujeiomuito mais profunda que ele mesmo.12 Isto traz diver-sas implicaes ao anarquismo. Em primeiro lugar, emvez de haver um sujeito cuja essncia humana natural reprimida pelo poder como acreditavam os anar-quistas essa forma de subjetividade na realidadeum efeito do poder. Assim, essa subjetividade foi produ-zida de tal forma que ela se v possuindo uma essnciareprimida de tal forma que a sua liberao simult-nea continuidade da sua dominao. Em segundo lu-gar, a figura discursiva do sujeito humano universal,central ao anarquismo, em si mesma um mecanismode dominao, focada na normalizao do indivduo e na

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    excluso das formas de subjetividade que no se encai-xam nela. Esta dominao foi desmascarada por MaxStirner, que demonstrou que a figura humanista dohomem era na realidade uma imagem invertida deDeus, e desempenhava a mesma operao ideolgicade oprimir o indivduo e negar a diferena.

    D) A viso genealgica da histria. A viso da histriacomo desdobramento de uma lei fundamental aquirejeitada, em favor de uma perspectiva que enfatiza asrupturas, as interrupes e descontinuidades. A hist-ria vista como uma srie de antagonismos e multipli-cidades, em vez da articulao de uma lgica universal,como encontramos na dialtica hegeliana, por exem-plo. Segundo Foucault, no h segredos essenciais ouatemporais para a histria, mas meramente perigo-sos jogos de dominao13. Foucault entendia a genealo-gia nietzscheana como um projeto de desmascaramen-to dos conflitos e dos antagonismos, a guerra silencia-da que travada por trs do vu da histria. O papel dogenealogista , portanto, despertar, por debaixo da for-ma de instituies e legislaes, o passado esquecidodas lutas reais, das vitrias e derrotas encobertas, dosangue que secou nos cdigos da lei.14 As instituies,prticas e leis que contemporizamos ou percebemoscomo naturais ou inevitveis, condensam violentas lu-tas e antagonismos que foram reprimidos. Segundo Ja-cques Derrida, a autoridade da lei baseada em umgesto fundador da violncia que tem sido negada. A leideve ser fundada sobre algo que antecede sua existn-cia e, portanto, sua fundao por definio ilegal. Osegredo da existncia da lei deve, conseqentemente,ser algum tipo de ilegalidade rejeitada, um crime ou atode violncia original que concebe o corpo da lei e que seencontra agora escondido nas suas estruturas simbli-cas.15 Em outras palavras, as instituies e identidadespolticas devem ser entendidas como procedncias pol-

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    ticas por assim dizer, antagnicas e no de origensnaturais. Tais origens polticas tm sido reprimidas nosentido psicanaltico isto , foram re-alocadas e nocompletamente eliminadas, e podem ser reativadas se osignificado destas instituies e discursos for contesta-do.16 Ao mesmo tempo em que o anarquismo comparti-lharia deste compromisso desconstrutivo com a autori-dade poltica ele rejeitava a teoria do contrato socialdo Estado, por exemplo ele ainda se submete a umaviso dialtica da histria. O desenvolvimento social epoltico visto como sendo determinado pelo desdobra-mento de uma essncia social racional e de leis hist-ricas e naturais imutveis. O problema que se essasleis imutveis determinam as condies da luta revo-lucionria, sobra pouco espao para entender o polticocomo indeterminado e contingente. Alm disso, a crti-ca genealgica tambm poderia se estender s institui-es naturais e s relaes que os anarquistas perce-bem como opostas ordem do poder poltico. Isto ocorreporque a genealogia enxerga a histria como um cho-que de representaes e um antagonismo de foras, nasquais relaes de poder so inevitveis. Assim, qualqueridentidade, estrutura ou instituio so desestabiliza-das mesmo aquelas que possam existir em uma soci-edade anarquista ps-revolucionria.

    Estas quatro problemticas, centrais s anlises ps-estruturalista e de discurso, tm implicaes fundamen-tais para a teoria anarquista: se o anarquismo preten-de ser teoricamente efetivo na atualidade, se almeja secomprometer inteiramente com as lutas e identidadespolticas contemporneas dever abdicar das estrutu-ras do Iluminismo humanista no qual est articulado com seus discursos essencialistas, suas percepespositivistas das relaes sociais e viso dialtica da his-tria. Dever, ao contrrio, afirmar inteiramente a con-tingncia da histria, a indeterminao da identidade

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    e a natureza antagonista das relaes sociais e polti-cas. Em outras palavras, o anarquismo dever seguirseu discernimento sobre a autonomia da dimenso po-ltica e suas implicaes lgicas e perceber o polticocomo um campo aberto de indeterminao, antagonis-mo e contingncia, sem as garantias da reconciliaodialtica e da harmonia social.

    A problemtica do ps-anarquismo

    O ps-anarquismo pode ser visto como a tentativa derevisar a teoria anarquista desprendida das abordagensessencialistas e dialticas, por meio da elaborao eaplicao de pensamentos provenientes do ps-estrutu-ralismo e da anlise do discurso. Este exerccio servepara destacar o que h de inovador e importante no anar-quismo precisamente a teorizao da autonomia e aespecificidade do domnio poltico, assim como a crticadesconstrutiva da autoridade poltica. So estes aspec-tos cruciais da teoria anarquista que devem ser evi-denciados, e cujas implicaes devem ser exploradas.Eles devem ser desprendidos das condies espistemo-lgicas que os criaram, mas que atualmente o restrin-gem. O ps-anarquismo atua por meio de uma operaode resgate no anarquismo clssico, extraindo seus prin-cpios centrais sobre a autonomia poltica e explora assuas implicaes nas polticas radicais contemporne-as.

    O mpeto desta interveno ps-anarquista surgiu domeu entendimento de que a teoria anarquista era innuce ps-estruturalista, assim como o ps-estruturalis-mo era in nuce anarquista. Assim, o anarquismo permi-tiu, como eu havia argumentado, a teorizao da auto-nomia do poltico com seus mltiplos espaos de domi-nao e poder, bem como em suas mltiplas identidades

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    e espaos de resistncias (Estado, Igreja, famlia, estru-tura patriarcal etc.), que vo alm da estrutura do redu-cionismo econmico do marxismo. No entanto, tais ino-vaes tericas esto limitadas pelas condies episte-molgicas do tempo as idias essencialistas sobre asubjetividade, as vises deterministas da histria e odiscurso racional do Iluminismo.

    O ps-estruturalismo , pelo menos no que se refere sua orientao poltica, fundamentalmente anarquistas particularmente seu projeto desconstrutivo de desmas-carar e desestabilizar a autoridade das instituies, con-testando as prticas de poder que so dominantes e ex-cludentes. O problema do ps-estruturalismo residia nofato de que ele demandava um comprometimento com aspolticas anti-autoritrias e ao mesmo tempo no pos-sua contedos tico-polticos explcitos, nem tampoucoelaborava uma explicao adequada da individualidade.O problema central de Foucault, por exemplo, estava noquestionamento: se o sujeito construdo por meio dediscursos e relaes de poder que o dominam, como exa-tamente ele resiste dominao? Portanto, a premissada aproximao do anarquismo com o ps-estruturalis-mo, est na maneira como cada um deles evidencia elida com os problemas tericos do outro. A intervenodo ps-estruturalismo na teoria anarquista, por exem-plo, evidenciou uma lacuna terica o anarquismo noreconhecia as relaes de poder ocultas e os autorita-rismos potenciais, presentes nas identidades essenci-alistas, e estruturas discursivas e epistemolgicas, quecompunham as bases de sua crtica autoridade. E ainterveno anarquista na teoria ps-estruturalista, deoutro lado, exps suas abordagens ticas e polticas su-perficiais e, particularmente, suas ambigidades emexplicar as agncias e resistncias no contexto das in-desejadas relaes de poder.

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    Esses problemas tericos esto situados em torno daquesto do poder, do lugar e do fora. Foi evidenciado queenquanto o anarquismo clssico era capaz de teorizar,no sujeito revolucionrio essencial, uma identidade oulugar de resistncia fora da ordem do poder, este sujeitoencontrava-se, nas anlises subseqentes, emaranha-do nas prprias relaes de poder que contestava. Aomesmo tempo, o ps-estruturalismo, enquanto expunhaprecisamente tal cumplicidade entre sujeito e poder eradeixado sem um ponto terico de partida um fora pelo qual poderia criticar o poder. Deste modo a perplexi-dade terica que eu procurei abordar em From Bakuninto Lacan, referia-se ao fato de que precisamos entenderque no h uma sada essencialista ao poder nenhumcampo slido ontolgico ou epistemolgico que v almda ordem do poder. As polticas radicais precisam, noentanto, de uma dimenso terica exterior ao poder e deuma noo de agenciamento radical que no seja total-mente determinada pelo poder. Ao explorar a emergn-cia dessa contradio, eu descobri duas interrupes epis-temolgicas centrais no pensamento poltico radical. Aprimeira foi encontrada na crtica ao Iluminismo huma-nista elaborada por Stirner, que compuseram as basestericas para as intervenes ps-estruturalistas, arti-culadas dentro da prpria tradio anarquista. A segun-da emergiu da teoria lacaniana, cujas implicaes foramalm dos limites conceituais do ps-estruturalismo,17 queapontou para as deficincias presentes nas estruturasde poder e linguagem, e para a possibilidade de uma no-o de agenciamento radicalmente indeterminada, evi-denciada por meio desta lacuna.

    Assim, o ps-anarquismo no tanto um programapoltico coerente, mas uma problematizao anti-auto-ritria que emerge genealogicamente ou seja, pormeio de uma srie de conflitos tericos ou contradies a partir de uma abordagem ps-estruturalista do

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    anarquismo ou, na realidade, de uma abordagem anar-quista do ps-estruturalismo. No entanto, o ps-anar-quismo tambm implica uma ampla estratgia de ques-tionamento e contestao das relaes de poder e hie-rarquia, e de revelao de espaos de dominao eantagonismo previamente ocultos. Neste sentido, o ps-anarquismo pode ser entendido como um projeto tico-poltico inacabado de desconstruo da autoridade. Des-te modo, o que o distingue do anarquismo clssico que ele uma poltica no-essencialista. Isto significaque o ps-anarquismo no depende mais de uma iden-tidade essencial de resistncia, e no est mais anco-rado nas epistemologias do Iluminismo ou nas garan-tias ontolgicas do discurso humanista. Ao contrrio,sua ontologia constitutivamente aberta a outra, eassume um horizonte radical vazio e indeterminado,que pode incluir um pluralidade de diferentes lutaspolticas e identidades. Em outras palavras, o ps-anar-quismo um anti-autoritarismo que resiste ao poten-cial totalizante de um discurso ou identidade fecha-dos. Contudo, isto no significa que o ps-anarquismono tenha limites ou contedo tico, que podem tersuas bases em princpios emancipadores tradicionaisde liberdade e igualdade princpios cuja naturezaincondicional e irredutvel foi afirmada pelos anarquis-tas clssicos. No entanto, importante ressaltar quetais princpios no esto mais ancorados em uma iden-tidade fechada, mas tornam-se significantes vazios18que esto abertos a diversas articulaes decididas deforma contingente no decorrer da luta.

    Novos desafios: biopoltica e o sujeito

    Atualmente, um dos desafios centrais s polticasradicais encontra-se na deformao do Estado-Nao uma deformao que exibe paradoxalmente sua verda-

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    Polticas do ps-anarquismo

    deira face. Segundo Giorgio Agamben, a lgica da sobe-rania alm da lei, e a lgica da biopoltica, se cruzaramna forma do Estado moderno. Deste modo, a prerrogati-va do Estado regular, monitorar e policiar a sade bio-lgica de sua populao. Conforme afirmou Agamben,esta funo produz um tipo particular de subjetividade a qual ele denomina homo saccer , definido pela for-ma de vida nua, ou vida biolgica despida de sua sig-nificao poltica e simblica, assim como pelo princ-pio de assassinato legal ou assassinato com impunida-de.19 Um exemplo paradigmtico dessa condio seria asubjetividade do refugiado e os campos de refugiados queproliferam por toda parte. Dentro destes campos, umanova forma arbitrria de poder exercida diretamentesobre a vida nua do detento. Em outras palavras, o corpodo refugiado, que foi despido de todos os seus direitoslegais e polticos, torna-se o alvo da aplicao da sobera-nia do biopoder. No entanto, o refugiado meramenteemblemtico do status biopoltico ao qual estamos todossendo reduzidos progressivamente. Certamente, istoaponta para um novo antagonismo que tem se reveladocentral poltica.20 Uma crtica ps-anarquista seriaprecisamente direcionada a esta ligao entre poder ebiologia. No suficiente afirmar os direitos humanosdo sujeito contra as incurses do poder. preciso exa-minar de forma crtica a maneira pela qual certas sub-jetividades humanas so construdas como condutoresdo poder.

    O vocabulrio conceitual para analisar estas novasformas de poder e subjetividade no estava disponvelao anarquismo clssico. No entanto, mesmo nesse novoparadigma de poder subjetivador, o compromisso tico epoltico de questionamento da autoridade do anarquis-mo clssico, assim como sua anlise sobre a soberaniado Estado que foram alm das explicaes de classe so ainda hoje relevantes. O ps-anarquismo ino-

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    vador precisamente porque combina o que crucial nateoria anarquista com uma crtica ps-estruturalista/analtico-discursiva do essencialismo. O resultado umprojeto poltico aberto e anti-autoritrio para o futuro.

    Traduo do ingls por Andr Degenszajn e OliviaGoulart.

    Notas1. Ver a discusso elaborada por David Graeber a respeito de algumas destasestruturas anarquistas e formas de organizao em The New Anarchists.New Left Review 13 (Jan/Feb 2002): 61-73.2. Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. Hegemony and socialist strategy: towards aradical democratic politics. London, Verso, 2001. p. 159.3. Idem, p. 160.4. Mikhail Bakunin. Political philosophy: scientific anarchism (Organizado por G. P.Maximoff). London, Free Press of Glencoe. p. 221.5. Ver Murray Bookchin. Remaking society Montreal, Black Rose Books, 1989. p.188.6. As duas ltimas permanecem resistentes ao ps-estruturalismo e ps-moder-nismo. Ver, por exemplo, John Zerzan. The catastrophe of postmodernism.In Anarchy: A Journal of Desire Armed, Fall 1991, pp. 16-25.7. Ver Jean-Francois Lyotard. The postmodern condition: a report on knowledge. Tra-duo de Geoff Bennington e Brian Massumi. Manchester, Manchester Uni-versity Press, 1984.8. Ver Judith Butler, Ernesto Laclau e Slavoj Zizek. Contingency, hegemony, univer-sality: contemporary dialogues on the left. London, Verso, pp. 112-113.9. Ver Gilles Deleuze e Felix Guattari. Anti-oedipus: capitalism and schizophrenia.Traduo de R. Hurley. New York, Viking Press, 1972. p. 58.10. Para uma discusso aprofundada das implicaes polticas da abordagemlacaniana sobre a identidade, ver Yannis Stavrakakis. Lacan and the political.London, Routledge, 1999. pp 40-70.11. Piotr Kropotkin, por exemplo, acreditava no instinto natural de sociabilida-de no homem, que constitua as bases para relaes ticas, enquanto Bakuninargumentava que a moralidade e a racionalidade do sujeito emergia do seu

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    desenvolvimento natural. Ver, respectivamente, Peter Kropotkin. Ethics: originand development. Traduo de L.S Friedland. New York, Tudor, 1947; e Baku-nin. Political philosophy, op cit., pp. 152-157.12. Michel Foucault. Discipline and punish: the birth of the prison. Traduo de A.Sheridan. Penguin, London, 1991. p. 30.13. Michel Foucault. Nietzsche, genealogy, history in (Paul Rabinow org.) TheFoucault reader. New York, Pantheon, 1984. 76-100. p. 83.14. Michel Foucault. War in the filigree of peace: course summary Traduode I. Mcleod in Oxford Literary Review 4, no. 2 (1976): 15-19. pp. 17-18.15. Ver Jacques Derrida. Force of law: the mystical foundation of authority in(Drucilla Cornell et al orgs.) Deconstruction and the possibility of justice. NewYork, Routledge, 1992, pp. 3-67.16. Ver Jacob Torfing. New theories of discourse: Laclau, Mouffe and Zizek. Oxford,Blackwell, 1999.17. A questo de que Lacan possa ser visto como um ps-estruturalista levantaum ponto central de discusso entre pensadores como Laclau e Zizek, j queambos so fortemente influenciados pela teoria lacaniana. Ver Butler et al, op.cit.18. Esta noo de significante vazio central na teoria lacaniana da articulaohegemnica. Ver Judith Butler et al, op. cit.. Ver Ernesto Laclau. Why doempty signifiers matter to politics? in (Jeffrey Weeks org.) The lesser evil and thegreater good: the theory and politics of social diversity. Concord, Rivers Oram Press,1994. pp. 167-178.19. Ver Giorgio Agamben. Homo sacer : sovereign power and bare life. Traduo deDaniel Heller-Roazen. Stanford, Stanford University Press, 1995.20. Segundo Agamben: A inovao das polticas assurgentes que esta no sermais uma luta pela conquista ou do controle do Estado, mas uma disputa entreEstado e no-Estado (humanidade)... Giorgio Agamben. The coming communi-ty, Traduo de Michael Hardt. Minneapolis, University of Minnesota Press,1993. p. 84.

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    RESUMO

    O anarquismo apresentado como pensamento radical que, naatualidade, potencializa e permeia o movimento anti-globalizao.Entretanto, justamente nesta atualidade que o anarquismo en-contra as limitaes que o acompanham desde o sculo XIX. Im-porta, ento, problematizar o anarquismo, aproximando-o e con-frontando-o ao ps-estruturalismo e aos limites do iluminismo.

    Palavras-chave: anarquismo, ps-estruturalismo, ps-anarquismo

    ABSTRACT

    Anarchism is presented as a radical thought that currently poten-tializes and permeates the anti-globalization movement. However,it is exactly in this actuality that anarchism finds the limitationsthat are following it since the 19th Century. Then, it is critical toproblematize the actuality of anarchism, bringing it closer to andconfronting it to poststructuralism and to the limits of Enlighten-ment.

    Keywords: anarchism, poststructuralism, postanarchism.

    Indicado para publicao em 8 de maro de 2004.