As dívidas das universidades

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  • 7/31/2019 As dvidas das universidades

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    As dvidas das universidadesEditorial do jornal O Estado de S. PauloPublicado em 08/6/2012 (p.A3)

    A incluso de "penduricalhos" em medidas provisrias (MPs) continua sendopraticada de forma acintosa pelo governo. O enxerto mais recente deve-se ministra de Relaes Institucionais, Ideli Salvatti, que acolheu em nome do governoa proposta formulada pelo deputado Jernimo Goergen (PP-RS), de incluir nocorpo da MP 559/12 um artigo que permite a renegociao das dvidas de 500universidades pblicas, privadas, confessionais, comunitrias e filantrpicas com ogoverno federal. Com o endosso da ministra, o relator Pedro Uczai (PT-SC) redigius pressas o texto do "penduricalho".

    A MP 559/12, que dever ser votada hoje tarde, nada tem a ver com o tema daeducao. Foi baixada para autorizar a Eletrobrs a adquirir o controle acionrio

    da Celg Distribuio S.A. - uma antiga subsidiria da Centrais Eltricas de Gois. Aincluso do penduricalho atende a uma reivindicao de instituies de ensinosuperior de todo o Pas, especialmente as do Estado do Rio Grande do Sul, que vmamargando vultosos prejuzos.

    Uma delas a Universidade da Regio da Campanha (Urcamp). Outra aUniversidade Luterana do Brasil (Ulbra). Como no conseguiram saldarsuasdvidas tributrias e previdencirias com a Unio, elas no podem assinarconvnios com o Programa Universidade para Todos (ProUni). Em vigor desde2005, esse programa permite que as universidades confessionais, comunitrias e

    privadas ofeream bolsas de estudo parciais e integrais, em troca da iseno dealguns tributos. Por terem se expandido sem maior planejamento, essasinstituies acabaram enfrentando problemas de escala - e o ProUni foi decisivopara mant-las em funcionamento.

    "Das 64 universidades comunitrias em todo o Pas, 60% tm dvidasprevidencirias e tributrias com a Unio", diz Jorge Framil, procurador jurdico daUrcamp. A dvida da instituio de R$ 147 milhes - o que corresponde a quase odobro de seu valor patrimonial. O dbito da Ulbra de R$ 2,5 bilhes, segundo ogoverno federal. A dvida da Universidade de Passo Fundo ultrapassa R$ 400milhes. Pelas contas da Unio, os dbitos tributrios e previdencirios das 500

    universidades pblicas, privadas, comunitrias, confessionais e filantrpicas doPas totalizam mais de R$ 15 bilhes.

    Pela proposta do deputado Jernimo Goergen, essas instituies pagariam apenas10% desse valor - cerca de R$ 1,5 bilho. Elas teriam o prazo de 15 anos para fazero pagamento e esse valor seria corrigido anualmente pela Selic. Alm disso, asuniversidades devedoras teriam uma carncia de um ano at o primeiropagamento.

    Mesmo recebendo uma parte nfima do que tem direito, o governo aceitou fornecer

    imediatamente a todas essas universidades uma certido negativa de dbito, a fimde que elas possam se inscrever no ProUni, cujo prazo vence na prxima semana.

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    Com a certido negativa, as universidades tambm podero pleitear recursos doFundo de Financiamento Estudantil (Fies). Pelo acordo firmado com o governo,elas se comprometeriam a oferecer cerca de 300 mil bolsas de estudo durante 15anos, em troca do abatimento de 90% de seus dbitos tributrios eprevidencirios. "As universidades sairo da asfixia para um cenrio em que tero

    alunos e recursos movimentando a vida acadmica", diz o relator Pedro Uczai.

    Ao justificar essa renncia tributria e previdenciria, por meio do velhoexpediente da incluso de um "penduricalho" na MP 559/12, o governo alegou queo acordo recebeu pareceres favorveis dos Ministrios da Educao e da Fazenda eda Casa Civil. Mas, entre as beneficiadas, esto instituies particulares com capitalaberto em bolsas de valores e universidades confessionais que h muito temporecebem vultosos repasses de verbas oficiais, sob as mais variadas justificativas.Por isso, a justificativa de que o acordo ir favorecer estudantes pobres e alunosegressos da rede pblica de ensino mdio no se sustenta. O expediente usadopara abater em 90% a dvida das universidades e o envolvimento deparlamentares da base aliada nas negociaes deixam claro quem, de fato, saiulucrando com o acordo.