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Faculdade Integração Zona Oeste FIZO Alquimy Art Curso de Especialização em Arteterapia Pós-Graduação lato sensu A ARTETERAPIA NO DESPERTAR DAS POTENCIALIDADES CRIATIVAS DO IDOSO Maria Abadia dos Santos Marques Goiânia - Goiás 2007

ARTETERAPIA

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ARTETERAPIA

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  • Faculdade Integrao Zona Oeste FIZO

    Alquimy Art

    Curso de Especializao em Arteterapia

    Ps-Graduao lato sensu

    A ARTETERAPIA NO DESPERTAR DAS POTENCIALIDADES

    CRIATIVAS DO IDOSO

    Maria Abadia dos Santos Marques

    Goinia - Gois

    2007

  • MARIA ABADIA DOS SANTOS MARQUES

    A ARTETERAPIA NO DESPERTAR DAS POTENCIALIDADES

    CRIATIVAS DO IDOSO

    Monografia apresentada FIZO - Faculdade Integrao Zona

    Oeste, SP e ao Alquimy Art, SP, como parte dos requisitos para

    a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.

    Orientadora: Prof. Dra. Ana Cludia Afonso

    Valladares

    Goinia - GO

    2007

  • iii

    Faculdade Integrao Zona Oeste FIZO

    Alquimy Art

    A ARTETERAPIA NO DESPERTAR DAS POTENCIALIDADES

    CRIATIVAS DO IDOSO

    Monografia apresentada pela aluna Maria Abadia dos Santos Marques ao curso de

    Especializao em Arteterapia em __/__/2008 e recebendo a avaliao da Banca

    Examinadora constituda pelos professores:

    __________________________________________________________

    Prof. Dra. Ana Cludia Afonso Valladares, Orientadora

    __________________________________________________________

    Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especializao

    __________________________________________________________

    Prof. Esp. Flora Elisa Carvalho Fussi, Convidada

  • iv

    Aos meus colegas, grandes companheiros

    desta pequena jornada, que sempre estiveram

    unidos e auxiliando uns aos outros para

    melhor aprendizado.

    Aos meus Mestres, que deram tudo de si para

    me propiciar sabedoria conhecimento pessoal

    e profissional.

  • v

    Agradecimentos

    s professoras, que demonstraram dedicao

    e competncia em minha orientao,

    proporcionando-me um entusiasmo contnuo

    para melhor aproveitamento acadmico e,

    conseqentemente, melhorando meu

    aperfeioamento profissional.

    Aos meus amigos, familiares e aos que me

    acompanharam em todos os momentos,

    sempre me incentivando, em especial Flora.

  • vi

    Quem somos ns, quem cada um de ns seno uma combinatria de experincias, de

    informaes, de leituras, de imaginaes?

    Cada vida uma enciclopdia, uma

    biblioteca, um inventrio de objetos, uma

    amostragem de estilos, onde tudo pode ser

    continuamente remexido e reordenado de

    todas as maneiras possveis.

    Calvino, 1990

  • vii

    RESUMO

    O estudo realizado ressalta a importncia do desenvolvimento do potencial criativo na

    vida, principalmente do idoso, visto que no Brasil, ele ainda muito desvalorizado, e da

    observao dos efeitos da Arteterapia em um grupo de idosas em um centro Comunitrio

    de Goinia Gois. As oficinas criativas ocorriam semanalmente, no perodo de uma hora e

    trinta minutos, onde um grupo de idosas pode desfrutar dos materiais e das tcnicas

    expressivas. Concluiu-se, dentre outros resultados, que os idosos sob pesquisa tiveram um

    grande desenvolvimento pessoal, principalmente, quanto ao interelacionamento, ao se

    aplicar as tcnicas de arteterapia descritas neste estudo.

    Palavras-chave: Arteterapia, Idoso, Sade mental.

  • 8

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ETC - Continuum das Terapias Expressivas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geogrfico e Estatstica

  • 9

    SUMRIO

    Pgina

    AGRADECIMENTOS

    RESUMO

    LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

    SUMRIO

    I. INTRODUO 10

    II. ARTETERAPIA, NA COMPREENSO, NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PARADIGMAS 12

    III. EM BUSCA DE UMA NOVA FORMA DE UM ENVELHECIMENTO SAUDVEL 21

    IV. OBJETIVOS DO ESTUDO 24

    V. METODOLOGIA 25

    VI. ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS 28

    VII. CONSIDERAES FINAIS 55

    VIII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 56

  • 10

    I. Introduo

    A Arteterapia um processo arteteraputico que resgata o potencial criativo, ao abrir

    caminhos para o autoconhecimento, promovendo transformaes nas representaes

    familiares, sociais e culturais, e, conseqentemente, melhorando a qualidade da vida.

    Neste sentido, por meio do ateli arteteraputico e das tcnicas expressivas, o idoso

    pode resgatar sua auto-estima e despertar para uma nova fase de vida, de modo a

    envelhecer mais feliz.

    O objetivo da pesquisa com idosos nasceu da experincia pessoal e do desejo de que

    o idoso se redescubra para outras possibilidades e no entre no mundo da solido e do

    isolamento.

    No suficiente viver mais, o importante viver melhor, pois no interessa

    humanidade acrescentar anos vida, mas principalmente, acrescentar vida aos anos. (Maia

    Apud. SOUZA, 2005).

    Como o envelhecimento inevitvel na vida do ser humano, faz-se necessrio

    promover uma imagem positiva da velhice, a fim de que as pessoas aprendam a

    envelhecer, enxergando os benefcios da tranqilidade que advir do envelhecimento.

    O trabalho est organizado em quatro captulos: o captulo II aborda a Arteterapia, na

    compreenso e no desenvolvimento de novos paradigmas; o captulo III demonstra uma

    nova forma de busca de um envelhecimento saudvel; o captulo IV descreve os principais

    objetivos do estudo; o captulo V apresenta a metodologia adotada no estudo e, por fim, o

  • 11

    captulo V demonstra o resultado do estudo realizado com os idosos, utilizando-se da

    Arteterapia.

  • 12

    II. A Arteterapia, na Compreenso e no Desenvolvimento de Novos

    Paradigmas

    De acordo com a AATA, Apud CHIESA, 2004, a Arteterapia est embasada na

    crena de que o processo criativo envolvido no fazer arte curativo. Criar arte e comunic-

    la um processo que realizado junto com o Arteterapeuta, permite a qualquer pessoa uma

    ampliao de sua conscincia.

    assim quando o individuo toma conscincia e enfrenta suas experincias

    traumticas com habilidades cognitivas fortificadas para poder desfrutar os prazeres da

    vida, que se confirma artisticamente. Porm, preciso que erradiquem a viso pessimista

    do envelhecimento, que com os avanos da cincia, uma alimentao balanceada e bem

    estar emocional, o idoso pode desfrutar desse momento da vida de forma produtiva.

    A criao um processo de construo contnuo, o qual se modifica com as

    experincias, sendo fortemente influenciado pela cultura.

    Para Fayga Ostrower (1989), a criatividade um potencial inerente ao homem, e a

    realizao desse potencial uma de suas necessidades, sendo que essas necessidades so

    internas e existenciais.

    Allessandrini (1994) se refere ao elemento criador, na aprendizagem, como um agente

    mobilizador da ao de transpor limites, que se encanta diante do imprevisto provocador da

    ao, no sentido de se enquanto processo encoberto e consciente, de autonomia na relao

    do interno com o externo. O homem vive o processo de transformao de seu potencial de

    criar, fazer, ser, aprender e renovar.

  • 13

    As transformaes so mudanas na natureza ou no estado de uma substncia para

    uma nova. Assim, a transformao pessoal se refere ao estado de estar consciente da

    prpria conscincia, ou seja, ampliam-se a percepo para uma nova viso das experincias

    vivenciadas, possibilitando mudanas de paradigmas.

    A criatividade pode ser denominada como a busca e a inveno de novos caminhos e

    metas, de novos estilos de trabalho, da relao de uma dinmica ativa e comunicativa de

    convivncia e de prazer, e de um novo estilo de liderana e de organizao que impulsiona

    a iluso coletiva para a auto-realizao. Neste sentido, libera o ser humano das opresses e

    represses, das dominaes sutis e das imposies manipulativas, as quais o impedem de

    ser ele mesmo autnomo e livre. uma viso de futuro idealizada para uma humanidade

    mais justa. Como fuga da repetio e da mesmice, a busca e a explorao do que no

    existe, a criao do que est por vir e a entrada em territrios desconhecidos. pensar com

    o crebro em sua totalidade e se expressar com todo o ser. (Prado, apud, SOUZA, 2005).

    A Arteterapia um processo teraputico que desperta o potencial criativo e

    amplia a percepo de si, ao promover mudanas na estrutura interna do prprio indivduo

    e nas relaes interpessoais.

    A Arteterapia utiliza os materiais expressivos, a arte e as tcnicas para promover

    transformaes e cura. Neste sentido, atua como agente facilitador e indutor do despertar

    inconsciente das qualidades escondidas. No processo, materiais e tcnicas expressivas

    fazem com que os contedos do inconsciente venham tona, possibilitando que esses

    contedos sejam trabalhados de forma mais leve, sem obrigar ou instigar a pessoa a reagir

    diante dos contedos emergidos. Porm, um trabalho criativo pode evocar sentimentos de

    uma situao problema, ou seja, de um trauma ou bloqueio, e permitir que esse sentimento

    ou energia seja depositado nesse trabalho, aliviando a tenso e libertando o indivduo do

  • 14

    problema, sem que este perceba qual trauma ou bloqueio est sendo trabalhado. Dessa

    forma, mesmo sem ter conscincia, o individuo vai se organizando e expressando o

    problema por meio da arte.

    No ateli teraputico, o indivduo entra em contato com as matrias expressivas, por

    meio da construo, ao realizar a comunicao do mundo interno com o externo e vice

    versa. A explorao dos materiais expressivos facilita e amplia o despertar para os nveis

    sensrio-motor, perceptual-afetivo e cognitivo-simblico, estando, segundo Chiesa (2004),

    o criativo presente em todos os nveis. Kagin e Lusebrink (1978) denominaram este estudo

    como Continuum das Terapias Expressivas (ETC), sendo composto por quatro nveis que

    representam quatro modalidades de interao com os materiais, os quais, teoricamente,

    refletem os diferentes modos de expresso humana.

    Os nveis so como anteriormente citados: sensrio-motor, perceptual-afetivo e

    cognitivo-simblico.

    Segundo Lusebrink e Kagin (1978), as caractersticas, e as manifestaes do ser

    humano diante da interao entre, os matrias artsticos, nos diferentes nveis do

    Continuum das Terapias Expressivas,

    O nvel cinestsico, est relacionado com o fazer e a explorao de determinados

    materiais artsticos, os gestos e os movimentos motores; que podem manifestar no

    individuo a hiperatividade, o afeto expresso como ao destrutiva; inabilidade de

    estabelecer uma pausa entre o impulso e ao; dificuldade em perceber as seqncias de

    suas prprias aes; persevera em aes cinticas. E pode ser vivenciado como perda de

    nimo.

  • 15

    Porm no Nvel Perceptual, a nfase na forma, nos elementos formais, imagens

    concretas; que podem provocar manifestao rgida na formao de imagens concretas e

    nas formas de percepo; partes parecem estar isoladas umas das outras; dificuldade em

    combinar detalhes com um todo; geometrizao de aspectos formais de expresso; falta de

    afeto ou afeto controlado.

    No Nvel Afetivo, o individuo tem a expresso dos sentimentos e Nvel Sensorial

    focaliza nas sensaes internas e nas exploraes tteis; manifesta-se a ansiedade,

    sensaes avassaladoras internas, sem componentes afetivos; acentuada morosidade pode

    se manifestar como fascinao com um nmero crescente de detalhes das sensaes ou

    percepes, ou disposies; enfatiza a cor; afeto avassalador, projeo do afeto no

    ambiente, imagens afetivas pode parecer alucinaes; formas distorcidas e ou falta de

    forma, cores intensas ou amarronzadas.

    J no Nvel Cognitivo, est ligado as formulaes de conceitos, abstrao, auto-

    instrues verbais; no entanto o individuo pode apresentar esteretipos, insistncias em

    estruturas rgidas, ou imagens concretas, dificuldade em generalizar; anlise progressiva

    dos detalhes; perda de significado pessoal; abstrao como forma de distanciamento

    emocional.

    finalmente o Simblico, intuitivo na formao de conceitos, auto-orientados e

    abstrao, pensamento sinttico; h uma percepo simblica da realidade aliada a

    percepo fisionmica, uma identificao com o smbolo, ou seja, um simbolismo

    estereotipado e um simbolismo abstrato sem referenciais pessoais ou afetivos.

  • 16

    De acordo com Lusebrink e Kagin (1978), o nvel sensrio-motor a experincia do

    contato direto com o material artstico. primordial e permite que o indivduo se distancie

    de seus preconceitos, julgamentos e crticas limitantes do seu lado racionais.

    O nvel perceptual-afetivo o afastar-se fisicamente do contato direto com o material

    artstico.

    No nvel cognitivo-simblico, as informaes so processadas por meio de metforas

    e da formao de conceitos intuitivos. Esse nvel predominante no processamento de

    informaes novas, e/ou de mais de um sentido, ou em situaes de excesso de

    informaes. O processo de informaes tem natureza integral e diz respeito

    predominantemente ao si - mesmo. Essas informaes podem se referir s emoes,

    sensaes corporais, idealizaes e percepes espirituais.

    O criativo o quarto nvel. Considerado como a sntese dos outros trs nveis,

    responsvel pela integrao, transformao e expresso da experincia em novas formas.

    um nvel presente em todo o processo, sendo o desenvolvimento da criatividade diferente

    para cada pessoa.

    Para Jung, (2000), condicionamento humano e o comportamento no so

    constitudos somente pela sua histria individual e racial, mas, tambm, pelos seus alvos e

    aspiraes. O passado, como realidade, e o futuro, como possibilidades, comandam o

    comportamento presente. Parte-se do pressuposto que o ser humano nasceu com vrias

    predisposies, as quais foram herdadas de seus ancestrais.

    Portanto, Jung (2000), considera essas predisposies que vo interferir em suas

    condutas, alm de definir o que ele tiver conscincia e atuaro em seu prprio mundo de

    experincias vivenciadas.

  • 17

    Segundo Jung (2000), o individual de cada personalidade o resultado da interao

    de foras externas e internas, e de qual das funes est mais desenvolvida. Dessa forma,

    cada pessoa tem um tempo e uma reao diante dos acontecimentos e da vida. Ele ressalta

    que a comunicao entre as pessoas sempre lhe pareceu problema da maior importncia. E

    que o outro no to semelhante como se gostaria e apresentou sua contribuio a fim de

    que se possa melhor orientar dentro do quadro de referncia do outro. Essas diferenas,

    Jung, distinguiu, primeiramente, como extroverso e introverso. A primeira so aquelas

    pessoas que partem rpidos e confiantes ao encontro do objeto e a introverso aquelas que

    hesitam, recuam, como se o contato com o objeto lhe infundisse receio.

    Jung (2000), concluiu que essas diferenas dependiam da funo psquica que o

    indivduo usava preferencialmente para adaptar-se ao mundo exterior. E que so quatro

    funes de adaptao: a sensao, que refere ao um enfoque nas experincias diretas, na

    percepo de detalhes, de fatos concretos; o pensamento, relacionado com julgamentos que

    esclarecem o significado do objeto; o sentimento, orientado para o aspecto emocional da

    experincia, decide o valor que objeto tem para as pessoas; e a intuio, que uma forma

    de processar informaes em termos de experincia formada, objetivos futuros e processos

    inconscientes.

    Essas funes no so obrigatoriamente desenvolvidas de modo igualitrio. Uma das

    quatro funes mais desenvolvida que as outras e representa um papel predominante na

    conscincia denominada de funo superior ou principal. Uma das outras funes podem

    agir como auxiliar da funo superior, porm, a menos desenvolvida chamada de funo

    inferior. Essa funo considerada reprimida e inconsciente, alm de se expressar por

    meio de sonhos e fantasias.

  • 18

    Dentre os estudos de Jung, o sentimento se ope ao pensamento e a sensao se ope

    a intuio, ou seja, a pessoa pode ser reflexivo-sensitiva, sensitivo-reflexiva, intuitivo-

    sentimental e sentimental-intuitiva. Assim, formam-se os tipos psicolgicos: pensamento

    extrovertido, sentimento extrovertido, sensao extrovertida, intuio extrovertida,

    pensamento introvertido, sentimento introvertido e intuio introvertida.

    No Pensamento Extrovertido, a funo principal esta dirigida para o exterior e tende

    constantemente a estabelecer a ordem lgica e clara, entre as coisas concretas. Este tipo faz

    prevalecer seus pontos de vista, os quais coordenam de maneira rgida e impessoal, mas

    muitas vezes torna-se autoritrio. O ponto fraco desse tipo o sentimento, ou seja, a funo

    inferior, embora capas de afeies profundas tenham grandes dificuldades em express-lo.

    O Sentimento Extrovertido mantm adequada relao com os objetos exteriores, os

    quais vivem nos melhores termos com o seu mundo. acolhedor, afvel e irradia calor,

    alm de comunicativo que torna o indivduo deste tipo o centro de amigos numerosos. Esse

    tipo surpreende quando frmula julgamentos crticos extremamente duros e frios. Se o

    controle da funo superior falha surge desgaste, cansao e doena, e pensamentos

    negativos emergem, por terem o pensamento como a sua funo inferior.

    Sensao Extrovertida, compraz-se na apreciao sensorial das coisas. O importante

    para esse tipo a descrio minuciosa e exata dos objetos. eficiente e prtica, mas como

    a intuio sua funo inferior, acontece que o desdobramento de novas possibilidades no

    percebido.

    Quanto Intuio Extrovertida, este tipo est sempre descobrindo novas

    possibilidades e o que ter melhor perspectiva para prosperar, no presente ou no futuro, ou

    seja, as coisas que ainda no assumiram formas no mundo real. As situaes estveis no

  • 19

    agradam esse tipo psicolgico, dentro das quais sentira com um prisioneiro, pois a funo

    principal o coloca sempre frente, e o seu ponto fraco que outros colheram os frutos que

    semeou. Sendo que a funo inferior, e como tal, tende a recuar do mundo exterior a seus

    problemas.

    Pensamento Introvertido, ao contrrio do extrovertido que se contenta em colocar

    uma ordem lgica entre as idias j existentes, se interessa pela produo de idias novas e

    busca originalidade. Diante dos problemas procura situar s idias, de modo a obter uma

    viso panormica da situao, considerando o que h de mais importante. Como o

    sentimento sua funo inferior, este tipo diz sim ou no, ama ou odeia. Seus sentimentos

    so fortes, genunos e se manifestam de modo primitivo.

    Sentimento Introvertido apresenta-se calmas, retradas e silenciosas. Seus

    sentimentos so finamente diferenciados, porm no expressam a sua intensidade. Quem

    os v com certo distanciamento, parecem frios e indiferentes, quando na verdade ocultam

    grandes sentimentos. O pensamento a sua funo inferior. Isso faz com que dentro de sua

    reserva, e de seu silncio torne-o vivo por vrios fatores em curso no mundo exterior.

    A Sensao Introvertida extremamente sensvel s impresses provenientes dos

    objetos. Essas impresses o atingem de maneira profunda, mas no transparecem em

    reaes que dem medida da repercusso que as qualidades sensoriais dos objetos

    determinam. Todos os detalhes so importantes para este tipo: como se possussem uma

    placa fotogrfica interna. Enquanto o tipo Sensao Extrovertido age sempre em perfeita

    sintonia com a realidade dentro do aqui agora, o tipo Sensao Introvertida surpreendera

    de sbito por um comportamento que corresponde intensidade das experincias internas

    sugeridas pelo objeto e no pelo valor do mesmo.

  • 20

    Na Intuio Introvertida o exterior o interessa muito pouco, pois a sua funo

    principal est voltada para o mundo interior. No entanto este tipo sensvel atmosfera

    dos lugares e s novas possibilidades que possam surgir, sem, contudo se sentir atrado.

    Assim, as mltiplas solicitaes da realidade externa, quando excessivas, chegam a ser

    vivenciadas por este tipo como algo torturante, pelo fato de a funo do real ser sua funo

    inferior.

    Tanto os diferentes nveis do Continuum das Terapias Expressivas quanto tipologia

    Junguiana valorizam a subjetividade de cada um, do-se a possibilidade de compreender

    melhor o processo de individualizao, e que as funes psquicas podem ser trabalhadas e

    se desenvolver.

  • 21

    III. Em Busca de Uma Nova Forma para um Envelhecimento Saudvel

    Como envelhecer um fato inevitvel, faz-se necessria uma preparao para que o

    envelhecimento ocorra de forma tranqila e saudvel.

    Envelhecer se deparar com mudanas fsicas orgnicas, porm preciso haver

    flexibilidade, poder de adaptao e uma grande disciplina, a fim de se manter energia e

    fora fsica, respeitando-se os limites impostos por essas mudanas.

    O homem que envelhece deveria saber que sua vida no est em ascenso nem

    em expanso, mas um processo interior inexorvel produz uma contrao da

    vida. Para o jovem constitui quase um pecado ou, pelo menos, um perigo ocupar-se demasiado consigo prprio, mas para o homem que envelhece dever

    e uma necessidade dedicar ateno sria ao seu prprio si - mesmo. Depois de haver esbanjado luz e calor sobre o mundo, o sol recolhe os seus raios para

    iluminar-se a si mesmo. (JUNG, 2000, p 349).

    De acordo com Jung (2000), o prprio idoso precisa dar ateno a si mesmo, ou seja,

    ter conscincia de sua atual condio, alimentando-se de forma saudvel e realizando

    atividades que proporcionam prazer e alegria. Dessa forma estar dando novo significado

    sua vida e estar em constante busca de seu bem estar.

    Como parte do desenvolvimento humano, a velhice o resultado dinmico de um

    processo global de modificaes progressivas e incessantes de uma vida. Depende tanto

    das condies genticas e orgnicas, com seus aspectos herdados e constitucionais, como

    das condies ambientais e culturais. (FRAIMAN, 1995).

    A populao idosa definida como aquela a partir dos 60 anos de idade. No Brasil,

    as estimativas para os prximos 43 anos indicam que a populao idosa com 60 anos ou

    mais deve aumentar em 47 milhes de pessoas, de acordo com dados e projees do IBGE

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

  • 22

    Na reflexo sobre velhice, Beauveoir (1990) relata a complexidade do

    envelhecimento e no o trata apenas como um fator biolgico, mas, tambm, como

    psicolgico e existencial, alm do papel da sociedade em relao ao idoso.

    A velhice um fenmeno biolgico, ou seja, o organismo do homem

    idoso apresenta certas singularidades, alm de acarretar conseqncias

    psicolgicas, na medida em que determinadas condutas so consideradas tpicas

    da idade avanada. Caracteriza-se por possuir dimenso existencial, como todas as situaes humanas: modifica a relao do homem no tempo e, portanto,

    seu relacionamento com o mundo e com sua prpria histria. Por outro lado, o

    homem nunca vive em estado natural, isto , seu estatuto lhe imposto tanto na

    velhice, como em todas as idades, pela sociedade a que pertence. A

    complexidade da questo devida estreita interdependncia desses pontos de

    vista. Sabe-se, hoje em dia, que considerar isoladamente os dados fisiolgicos e

    os fatos psicolgicos constitui uma abstrao, pois estes so interdependentes.

    O que denominado vida psquica de um indivduo s pode ser

    compreendida luz de uma situao existencial. Assim, tm repercusses no

    organismo e vice-versa, ou seja, o relacionamento como tempo sentido de

    maneiras diferentes, conforme esteja o corpo mais ou menos alquebrado.

    Finalmente, a sociedade determina o lugar e o papel do velho levando em conta

    suas idiossincrasias individuais, sua importncia e sua experincia.

    Reciprocamente, o indivduo condicionado pela atitude prtica e ideolgica da

    sociedade o seu respeito, de modo que uma descrio analtica dos diversos

    aspectos da velhice possa no ser suficiente. Cada idoso reage sobre todos os

    outros e por eles afetado. O aprendizado deve decorrer do movimento

    indefinido desta circularidade (BEAUVEOIR, 1990 p.156).

    Como o envelhecimento inevitvel na vida do ser humano, faz-se necessrio

    promover uma imagem positiva da velhice, a fim de que as pessoas Percebe-se, ento, o

    quo cruel ainda o papel da sociedade na fase idosa do ser humano, em funo da

    extrema valorizao do jovem. Isso faz com que o prprio idoso se desvalorize. Ao se

    isolar, ele cria sua excluso, o que o impede de lutar por seus direitos e garantir que este

    envelhea com dignidade e qualidade de vida.

    Aprender a envelhecer, enxergando os benefcios da experincia de vida e us-las em

    pro do envelhecimento.

    O idoso tem o privilgio de sentir o quo vida longa e o quanto foi e importante

    viver... Velho quem perdeu a jovialidade... A idade causa degenerescncia das clulas...

    A velhice causa degenerescncia do esprito... Voc idoso quando indaga se vale a pena...

  • 23

    Voc velho quando, sem pensar, responde que no... Voc idoso quando sonha... Voc

    velho quando apenas dorme... Voc idoso quando ainda aprende... Voc velho quando

    j nem ensina... Voc idoso quando exercita... Voc velho quando apenas descansa...

    Voc idoso quando ainda sente amor... Voc velho quando no sente mais do que

    cimes e passividade... Para o idoso o dia de hoje o primeiro do resto de sua vida... Para

    o velho todos os dias parecem o ltimo da longa jornada... Para o idoso o calendrio est

    repleto de amanhs... Para o velho o calendrio s tem ontens... (Nascimento apud

    SOUZA, 2005).

    O objetivo da pesquisa com idosos nasceu da experincia pessoal e do desejo de que

    o idoso se redescubra para outras possibilidades e no entre no mundo da solido e do

    isolamento. Por meio do ateli arteteraputico e das tcnicas expressivas, o idoso pode

    resgatar sua auto-estima e despertar para uma nova fase de vida, de modo a ser mais feliz.

  • 24

    IV. Objetivo

    Este estudo tem como objetivo analisar os efeitos da utilizao da Arteterapia junto a

    um grupo de idosas.

  • 25

    V. Metodologia

    O material de anlise de dados est embasado na pesquisa construtivista e na

    metodologia retrodutiva de Garcia (2002) em que so utilizados a observao participativa

    e os relatrios preparados em ateli arteteraputico, realizados nas oficinas criativas com

    um grupo de idosos.

    O trabalho foi realizado no Centro de Comunitrio de Goinia-Gois, uma

    instituio filantrpica, onde so atendidas, crianas, adolescentes adultos e a melhor

    idade, ou seja, a comunidade em geral. Essa instituio oferece cursos de informtica,

    bordado, pintura em tecido, ginstica, yga e aulas de reforo.

    A estrutura do local onde era realizado o ateli arteteraputico contou com um

    espao amplo, com mesas, cadeiras, pia e ventilador. A iluminao era de boa qualidade e

    o salo bem arejado, o que propiciou um excelente ambiente para desenvolvimento dos

    trabalhos.

    A pesquisa foi autorizada pela Diretoria da instituio e pelos participantes, inclusive

    quanto utilizao de imagens e falas durante as sesses de Arteterapia, assegurando o seu

    anonimato.

    Foi um grupo de quinze senhoras da melhor idade do Centro Comunitrio, com

    idades entre 61 a 76 anos. Dentre as quinze, somente oito foram escolhidas para o estudo.

    Os nomes utilizados so fictcios, pois os verdadeiros foram resguardados.

  • 26

    Os encontros aconteceram, semanalmente, em grupo, com durao mdia de uma hora e

    trinta minutos. O grupo trabalhado estava previamente formado, pois este participa de

    outras atividades na Instituio.

    Prepararam-se relatrios em cada um dos encontros, na seqncia dos atendimentos e

    das produes imagticas e fotografadas, e no final efetuou-se uma entrevista semi-aberta.

    As tcnicas utilizadas nas sesses de Arteterapia permearam vrios ativadores

    criativos, a exemplo da sensibilizao, da imaginao dirigida, do relaxamento e das

    linguagens literrias, verbais, corporais, musicais, plsticas e artsticas, utilizando-a para

    trabalhar a rigidez, as perdas e os bloqueios dos idosos, na medida em que esta desenvolve

    o potencial criativo para proporcionar uma vida melhor na melhor idade.

    Objetiva-se, tambm, avaliar o que os trabalhos realizados em ateli arteteraputico

    podem despertar no idoso, desenvolvendo-se a criatividade na ao do fazer, ser e criar,

    que pode manter a energia vital, ou seja, como a Arteterapia pode possibilitar ao idoso o

    prazer de viver. Delinear-se- quais, dentro do redescobrir, so os aspectos importantes

    para que o idoso se sinta produtivo e, principalmente, vivo.

    A Arteterapia um caminho que pode conduzir o idoso ao despertar da energia do si

    mesmo e da essncia da vida de forma criativa, ao potencializar a criatividade adormecida

    no ser humano.

    Finalmente, demonstrar-se como o ateli Arteteraputico pode ajudar o idoso, por

    meio da ao do criar e da arte de redescobrir suas potencialidades, retornando, nessa

    inevitvel fase da vida, alegria de viver.

  • 27

    Os encontros objetivaram a criao de vnculo entre facilitadora e grupo. Ao

    trabalhar a consolidao do vnculo, conheceu-se um pouco da historia de vida de cada um

    dos participantes: o despertar do criativo, o tato e a percepo do corpo, a integrao e o

    criativo por meio de sensibilizao. Participou-se da integrao e confraternizao de natal

    de todos os participantes, da auto-avaliao e do fechamento do ano.

    No inicio do primeiro semestre de 2007, trabalhou-se com o restabelecimento do

    vnculo e procurou-se aprofundar um pouco mais na histria de vida das participantes.

  • 28

    VI. ANLISE E RESULTADOS

    No primeiro encontro realizado objetivou-se a apresentao das facilitadoras, a

    formao do vnculo, a promoo da integrao e o despertar da imaginao e da

    criatividade. Realizou-se um trabalho de sensibilizao, ou seja, de preparao para a

    sesso de Arteterapia, que inclui, dentre outros procedimentos, relaxamento e imaginao

    dirigida.

    Aps a fase de sensibilizao a facilitadora entregou uma folha de papel e solicitou

    aos participantes que a amassassem o mximo possvel. Em seguida, pediu para que

    tentassem faz-la voltar sua forma original. Dessa forma, a facilitadora levou-os s

    reflexes, ao comparar a folha amassada s suas vidas e aos acontecimentos que deixaram

    marcas. Ressaltou-se que, mesmo amassados como a folha, no se pode mudar os

    acontecimentos do passado e que, apesar de tudo todos permaneciam inteiros e tinham

    grandes possibilidades de ressignificao.

    Na seqncia, foi solicitado para que construssem um objeto da preferncia de cada

    um, usando a tcnica da dobradura1. Cada participante realizou sua construo e, em

    seguida, o primeiro contou uma pequena histria, utilizando o objeto construdo.

    Seqencialmente, o prximo continuava o que o anterior havia iniciado e agregava a sua

    criao do outro, dando continuidade histria.

    O objetivo deste encontro foi o fortalecimento do vnculo, a fim de conhecer um

    pouco mais o grupo.

    1 Segundo Coutinho (2005), a dobradura uma tcnica que trabalha a coordenao motora fina, a aquisio

    de controle sobre as aes e a estimulao gestual. Promove, tambm, a busca por novas formas, desenvolve

    a concentrao e o raciocnio, alm do imaginrio e a histria.

  • 29

    Aps a sensibilizao, comeou-se pela facilitadora com a dinmica de contar a

    histria do prprio nome. Assim, cada um se apresentava e contava a histria do seu nome.

    Depois, realizou-se a construo da escrita, o recorte e a colagem do mesmo, para

    posteriormente trabalharem artisticamente em cima do nome, solicitando-se que cada um

    usasse livremente a sua criatividade.

    Neste encontro percebeu-se certa agitao e nervosismo, quando foram apresentados

    os materiais que seriam utilizados, como tintas guache, fitas, lpis de cor, cola colorida e

    relevo, canetinhas, papel A4, gliter, barbante, l de vrias cores, giz de cera, tesoura e

    pincel. Alguns participantes reclamaram que deveriam ter aprendido a fazer isso quando

    jovens, outros quando crianas, outros que agora com a idade atual no conseguiriam

    utilizar esses materiais.

    Explanou-se para o grupo que na Arteterapia no h certo ou errado, e que o intuito

    era despertar o que h de melhor internamente, que muitas vezes fica escondido ou nunca

    houve a oportunidade de experimentao e de desenvolvimento. Assim, era para se realizar

    a construo sem medos e sem se preocupar com o resultado final. Caso no gostassem do

    resultado, o trabalho poderia ser refeito.

    Na medida em que iam se envolvendo com o trabalho, os participantes foram

    relaxando e se entregando ao trabalho, o que resultou em um produto de excelente

    qualidade. No fechamento eles puderam expressar o que estavam sentindo e por meio da

    fala. A alegria estava estampada na face de cada integrante do grupo.

    Para Valladares (2001, p.13), a colagem ou recorte ajudam na organizao de

    estruturas, por meio da juno e articulao de formas prontas, diferentemente, a

    organizao especial simblica, reparadora e de baixo custo.

  • 30

    Na seqncia algumas das produes do grupo.

  • 31

    Com o decorrer do trabalho, aumentou-se o conhecimento e a intimidade com o

    grupo de idosas, aferindo-se que a maioria era viva ou divorciada. Somente uma das

    participantes vivia com o marido, apresentando, porm, uma histria de vida triste e de

    muito sofrimento. Entretanto, todas que ali estavam, haviam enfrentado perdas pessoais

    muito significativas para elas, a exemplo de perda do marido ou dos filhos.

    Trabalhou-se vrios outros encontros utilizando-se de colagem e recortes, sempre

    com materiais diferentes, a exemplo de recortes de revistas, papis de vrias texturas e

    cores, cordo, sementes de vrias qualidades, cola, cola relevo e tesoura.

  • 32

    De acordo com Valladares & Carvalho (2006), o desenho objetiva a forma, a

    preciso e o desenvolvimento da ateno, da concentrao, da coordenao viso-motora e

    espacial. Tambm caracteriza o pensamento, a escrita a memria, alm de relacionar o

    movimento e o reconhecimento do objeto com a funo ordenadora.

  • 33

    Quando foram trabalhadas leituras de textos e reflexes sobre o mesmo, pediu-se s

    participantes que desenhassem a parte que mais lhe haviam agradado. No decorrer das

    primeiras sesses percebeu-se que as idosas participavam de forma intensa nas reflexes

  • 34

    do texto, porm, quando eram entregues folhas em branco, as expresses do rosto se

    alteravam completamente. Comeavam a reclamar que no tinham aptido para desenho e

    que no conseguiriam isso era observado em todo o grupo.

    Dessa forma, utilizou-se de encorajamento, ao mostrar que no importa a

    construo em si, mais sim o que ela representa para o seu criador. Caso elas no

    quisessem desenhar, poderiam usar o giz de cera e riscar a folha sem se preocupar com o

    resultado, para depois comentar com as colegas o que significavam os riscos. Aps os

    primeiros riscos foram surgindo construes lindssimas, o que causou encantamento a

    todos.

    No fechamento, vrias expresses surgiram, a exemplo de: jamais pensei que daria

    conta, o meu ficou lindo!; fiquei muito satisfeita!; no comeo achei que o meu fosse

    ficar o mais feio, mais ficou lindo!.

  • 35

  • 36

    No primeiro encontro, quando se ofereceu tinta, pincel e papel, registrou-se uma

    total rejeio, apesar de utilizarem a tinta para pintar caixas de madeira e de papelo. No

    entanto, as idosas pediram lpis de cor ou giz de cera, pois eram os materiais por elas

    preferidos. Ao final do trabalho, convidou-se as idosas para se arriscarem em algumas

    pinceladas, porm, apenas duas aceitaram o desafio. Nos prximos encontros, continuou-se

    com a insero de outros materiais, sempre na tentativa de aguar o interesse do grupo.

    A pintura lida com o sentimento, emoo e sensao, aflora a sensibilidade, invoca

    o gesto e a intuio, e, ainda, objetiva a coordenao motora fina e viso-motora e a

    discriminao visual (wexler apud VALLADARES, 2007, p. 36 37).

    Seguem abaixo, as primeiras construes com tinta realizadas pelo grupo de idosas.

  • 37

    Continuao das primeiras construes do grupo com tinta.

  • 38

    Continuao das primeiras construes do grupo com tinta.

  • 39

    Continuao das primeiras construes do grupo com tinta.

  • 40

    Continuao das primeiras construes do grupo com tinta.

    Quando iniciados os trabalhos com tinta, percebeu-se grande dificuldade em

    algumas participantes, principalmente naquelas que gostavam de perfeio. Porm nessas

    sesses, em que foram utilizadas a tinta, foi onde ocorreu o maior nmero de descobertas,

    quando elas perceberam a sua rigidez e o quanto sofria, por desejarem as coisas da mesma

    forma.

    Durante as oficinas criativas, as idosas demonstravam muito receio em lidar com

    alguns dos materiais expressivos. Por outro lado, outras justificavam que estariam velhas

    demais para aprender. Essas reaes e atitudes diante dos materiais expressivos esto no

    estudo do ETC e da tipologia junguiana, que possibilitaram uma maior compreenso por

    parte do Arteterapeuta.

  • 41

    No entanto, o encorajamento era suficiente: a Arteterapia no tem certo ou errado

    e que elas podiam experimentar e construir os seus trabalhos sem se preocupar com os

    resultados, pois estes poderiam ser reconstrudos sem quaisquer medos ou represses.

    Assim aos poucos o medo foi desaparecendo, e as habilidades foram aparecendo, e a

    mudanas aconteceram no s nas relaes mais tambm nas expresses corporais, aquelas

    que no incio chegavam com ombros cados, cabisbaixas, triste ou at mesmo sem nimo.

    Nessas, as mudanas foram evidentes. Ento no ultimo encontro efetuou-se uma pequena

    entrevista com as seguintes perguntas: o que a Arteterapia para voc? O que ela

    despertou? E se houve mudanas?

    Segundo Gui. (65 anos): Para mim a Arteterapia uma abertura, na mente. Ouvir,

    aprender eu gosto muito, muito bom na vida das pessoas uma higiene mental, na cabea.

    Despertou muitas coisas boas, ajuda a entender as pessoas; o ser humano no tem limites:

    ajuda na descoberta da capacidade, que a gente da conta sim.

    Para J (76 anos), A Arteterapia muito valiosa na vida, e para o ser humano,

    porque descobri coisas muito valiosas para melhorar a nossa prpria vida, junto com as

    outras pessoas, e melhora muito a convivncia com o ser humano, saber respeitar e

    compreender a cada um. A gente aprende a ver e a valorizar cada um. Eu adorei, foi

    timo.

    Para mim a Arteterapia muito importante, para o corao, para a alegria, eu era

    muito estressada, hoje estou mais tranqila, aprendi a ouvir os outros melhor. At com meu

    netinho, eu mudei muito, o tempo muito curto, em todos os sentidos: no meu lar, no

    grupo de terceira idade. Estou mais calma, foi bom, muito bom. Ani, 67 anos.

    Eu achei maravilhoso, uma recriao na cabea da gente. Ela desperta muita

    coisa boa, alegria no corao. Tive, eu mudei muito, estou mais alegre, meu corao estou

  • 42

    mais calmo e feliz, gosto de vir e fazer as coisas bonitas. Eu gostei de tudo e aprende

    muito, Mad. 60 anos.

    A Arteterapia distrai a mente, trabalha com a cabea, distrai. Ela despertou a

    curiosidade. Vejo que eu dou conta, e que posso fazer as coisas. Ouo, bastante, eu estou

    mais calma, era muito nervosa com os problemas, a gente esquece. muito bom, Li. 65

    anos.

    A Arteterapia tima, desperta tudo de bom, mudanas muitas, estou mais

    tranqila, parece que no nem eu. Eu adoro, Ju. R.74 anos.

    A Arteterapia tudo. um passa tempo, uma distrao, um descanso para a

    cabea, esquece os problemas e nem v as horas passar. a coisa mais maravilhosa que

    aconteceu, uma ddiva de Deus, Ag. 76 anos.

    E um jeito que a gente distrai, aprende muitas coisas depois de velha, despertou a

    alegria, esqueo os problemas, concentro em coisas boas. Muita coisa mudou. Fazer as

    coisas, que antes eu no fazia nada, Lis. 67 anos.

    Assim por meio da fala, das construes artsticas e do comportamento observado

    em ateli Arteteraputico podemos comprovar as mudanas efetivas que a Arteterapia

    promoveu na vida das idosas.

    A reestruturao das perdas; a diminuio da ansiedade; a integrao, o amor ao

    prximo, e o sentimento; a coordenao, a reestruturao, a audio, o ritmo, a percepo

    do som, a descontrao e a criatividade; o encontro com as origens, e o autoconhecimento;

    a percepo de si mesmo, e do outro; a auto-estima; a importao do criativo, e o

    desligamento da facilitadora.

    No decorrer das sesses os resultas foram gradativamente surgindo, algumas

    tiveram mais dificuldade em estarem se percebendo, Gui. foi a que mais demorou em

    estar se percebendo, quando ocorreu a descoberta, ela comparou e o efeito da Arteterapia

  • 43

    em sua vida. eu comparo a Arteterapia a minha vida como uma estrada que estava tudo

    tampado e a Arteterapia destampa, vai limpando, abrindo caminho, deixando tudo muito

    claro na minha cabea Segue uma seqncia dos trabalhos que mostra o

    desenvolvimento de Gui., ela tem, escolaridade ensino mdio, viva, trs filhos, quatro

    netos, atualmente vive sozinha. Segue abaixo as produes de Gui.

  • 44

  • 45

  • 46

    A pintura da casa e o abstrato, foi o primeiro contato com a tinta, nesta sesso

    pretendia-se usar tinta porem todas rejeitara e pediram giz de cera. H convite das

    facilitadoras apenas duas das participantes ousou a experimentar tinta.

    Na sesso seguinte ao construir o borro de tinta, Gui. ficou chocada, no seguiu

    as instrues, colocou a tinta no papel criando forma, e quando fez a impresso ficou

    extremamente incomodada com o resultado, e descobriu que foi a nica que no se

    permitiu que a gua dessa forma a tinta, no papel. Neste dia Gui. ficou inconformada, e

    desse hoje a ficha caiu, gostaria muito que se pudessem repetir esse trabalho.

  • 47

    Primeira construo de Gui., com tinta.

    Segue abaixo, a segunda construo de Gui.

  • 48

    Ela relatou que est mais aberta para ouvir os outros e percebeu o quanto sofria por

    coisas sem importncia, vivia brigando com os meus netos porque a mesa de centro tinha

    que permanecer em cima da linha da divisria do piso, e cobrava muito dos meus filhos,

    que moram fora e queria que as pessoas fizessem as coisas da minha maneira, hoje eu sou

    mais feliz, minha convivncia com meus filhos e com meus netos, melhorou muito no

    cobrou mais a presena dos filhos que mora em outra cidade, sinto que ainda posso fazer

    muita coisa boa.

    Li. compareceu ao ateli arteteraputico estava muito triste como os filhos e

    relatou que: meus filhos esto todos velhos e vive dando trabalho, que no ajuda em casa,

    e no faz nada direito. Ela tem 65, separada, vive com os trs filhos e um neto,

    escolaridade nenhuma.

    A seqncia seguinte so os trabalhos realizados por Li. No inicio ela chegava

    sempre muito tmida, e reclamava que no estava boa, tinha muita dificuldade para

    escolher as cores, figura que iam trabalhar com colagem, solicitava sempre a ajuda das

    facilitadoras, ou das colegas, para usar os matrias. E no final dizia o meu ficou muito

    sem graa. Hoje o meu est muito papagaiado..

  • 49

    Continuao das produes de Li.

    Aps os trabalhos com colagem os desenhos de Li. Ampliam-se, e ela sente mais

    segura na escolha das cores e ou dos materiais utilizado nas oficinas criativas. Na

    seqncia as suas construes.

  • 50

    Para Jung (2000) a criao imaginada, possibilita uma reorganizao criativa,

    abrindo caminhos, onde a sensibilidade pode unir-se racionalidade, formando outros

    caminhos possveis a vida humana. A criao com sua linguagem e o sentido de orientao

    dela desprendido, possibilita o resgate do sentido de viver por meio da imagem criada.

    Quando iniciou os trabalhos com tinta Li. se soltou e ficou a vontade ao fazer o

    borro de tinta, fez suas escolhas sozinha estava segura e confiante.

  • 51

    A primeira produo com tinta de Li.

    Li. ficou encantada com o resultado de sua construo, e o efeito do seu trabalho

    repercutiu em todo o grupo provocando reflexes nos participantes: eu nunca imaginei

    que est baguna de tinta, com gua ficassem to lindo o meu que fiz todo certinho

    ficou horrvel, s agora entendi.

    Abaixo segue uma seqncia das construes de Li.; os borres de tinta e suas

    impresses.

  • 52

    Li. estava radiante com o efeito de seu trabalho, e contagiou todo grupo.

    Continuao das produes de Li.

  • 53

    Ela parecia uma outra pessoa, confiante decidida na hora de escolher as tinta, fez

    tudo sem solicitar ajuda e s parou porque as folhas acabaram.

    Esta figura mostra a construo de uma mandala coletiva.

  • 54

    Momento de reflexes e fechamento do trabalho com o grupo.

    Produo do trabalho que finalizou o estudo com o grupo de idosas.

    As sesses so sempre finalizadas com um fechamento aps um momento de

    reflexo, onde as participantes expressam os seus sentimentos, suas alegrias, suas dores e

    suas conquistas. Assim cada uma das participantes finalizou o nosso ultimo encontro com

    as seguintes palavras: vida nova, esperana e sade, gratido, amizade, alegria

    amor e paz, animo, felicidade, inesquecvel, unio, maravilhoso, prazer,

    lembranas, esperana de uma vida melhor.

  • 55

    VII. Consideraes Finais

    Por meio das oficinas criativas, a arteterapeuta trabalhou a conscientizao da

    necessidade de uma velhice saudvel, a flexibilidade, a aceitao das limitaes e, dentro

    de suas possibilidades, estarem sempre ativos. Enfatizou-se a ressignificao de suas

    perdas, a fim de que o idoso possa de forma criativa, melhorar a sua qualidade de vida, no

    intuito de se sentir valorizado e socialmente integrado.

    Acredito que por meio das tipologias Junguiana, h uma compreenso melhor do

    ser humano, de seus comportamentos, sentimentos, e atitude diante dos acontecimentos

    vivenciados, e da importncia do elemento criativo nas oficinas, facilita ao arteterapeuta, a

    aceitao, e a compreenso do outro, sem julgamentos, ou cobranas.

    Outro fator que considero importante nos mtodos e tcnicas em Arteterapia o

    ETC, que estudou a utilizao dos materiais expressivos e das reaes individuais diante

    dos deferentes nveis.

    Conclui-se que a Arteterapia tem um poder transformador e que conseguimos os

    objetivos teraputicos desejados, conscientizado as idosas de suas potencialidades

    criativas, promovendo, e resgatando a alegria de viver, e a descobertas de que ainda

    podem ser teis produtivas.

  • 56

    Referncias Bibliogrficas

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    Associao Brasileira de Psicopedagogia. So Paulo, v. 13 n. 28, p. 23-24, 1994

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    interpretativa de suas produes. 2007. .222 f. Tese (Doutorado) Escola de

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  • 57

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