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Viver e Aprenderna EscolaDominical
Phoebe M.Anderson
VIVER E APRENDER NA ESCOLADOMINICAL
Phoebe M. Anderson
Título original:
LIVING AND LEARNING IN THE CHURCH SCHOOL
TRANSLATED BY PERMISSION OF UNITED CHURCH PRESS FROM LIVING
AND LEARNING IN THE CHURCH SCHOOL . BY PHOEBE M. ANDERSON.
COPYRIGH © 1965. UNITED CHURCH PRESS.
Tradução e adaptação: Marianna Allan Peterson
Departamento Editorial
Editor: Luan Mendes de Barros
Revisão de Original: Nilza Mary Rosário
Revisão: Marília Schüller Ferreira Leão
Capa e ilustrações: Marta Cerqueira Leite Guerra
1986
IMPRENSA METODISTA
Avenida Senador Vergueiro. 1301
São Bernardo do Campo - SP
ÍNDICE
1 - Chamados para Ensinar ----------------------------------------------------- 7
2 - Participação --------------------------------------------------------------------17
3 - Criando um Grupo ------------------------------------------------------------27
4 - Método É Conteúdo ----------------------------------------------------------49
5 - Do Ensinar e do Aprender ------------------------------------------------- 61
6 - Mais sobre o Ensinar e o Aprender-------------------------------------- 73
7 - Compreendendo nossos Alunos e Alunas ----------------------------- 87
8 - Que faz um (a) Professor (a) da Escola Dominical ---------------- 103
CHAMADOS PARA ENSINAR
1.
CHAMADOS PARA ENSINAR
Nem todos são apóstolos, profetas, operadores de milagres.Alguns se dedicam ao ensino. Louvado seja Deus!
Ensinar, de certa forma assemelha-se a fazer um jardim. Nunca se tem um pedaço de
terra fértil, completamente a espera de boas sementes, que automaticamente produz plantas
totalmente. Pelo menos isso não me acontece.
Pelo contrário, ano após ano, eu me confronto com um canteiro que parece ter toda a
possibilidade de produzir lindas flores em grande quantidade, mas que até agora nunca as
produziu. Para falar a verdade, a terra é um pouco arenosa e tende a secar rapidamente; há
um tipo de erva daninha que não consigo controlar, e tem muita sombra; meus meninos jogam
futebol pertinho do jardim e não há cerca. Mas, mesmo assim, deve produzir bem mais do que
produz! Eu compro as melhores sementes, os mais eficientes adubos e cultivo a terra com
todo cuidado. Estou quase concluindo que as sementes simplesmente se recusam a crescer!
No entanto, vejo que a culpa não é das sementes, é minha, só minha. Ou eu não
entendo bem o meu canteiro, ou então estou trabalhando erradamente com as minhas
sementes. Assim, aquilo que sempre me parece fácil acaba não sendo.
Para um novato inexperiente, ensinar - tal qual fazer um jardim - não parece tão difícil.
O professor, no final das contas, só tem que descobrir material adequado, planejar um método
de apresentação e executar o trabalho. Por que se faz disse um problema tão grande?
A razão é que o ensino verdadeiro envolve mais do que conteúdo e método. Existem
outras duas considerações que em nossos currículos da Escola Dominical são discutidas
apenas ligeira e superficialmente ou - e isso é que geralmente acontece - nem notadas. E isso
é uma pena, pois a não ser que você conheça esses dois elementos profundamente, o melhor
e mais criativo plano de aula não dará resultado nenhum.
Esses aspectos absolutamente necessários ao processo de ensinar-aprender são os
alunos e você, o professor, o educador (a). É fácil compreender a razão porque, em geral, não
os consideramos: é por demais difícil descrever "alunos" e "professores".
O que quero dizer, claro, é que você e seus alunos são inteiramente diferentes de
qualquer outra classe de alunos e professor. São diferentes em tamanho, aparência, idade,
experiências, bens materiais, educação, dedicação, atitudes. Pense bem: mesmo se todos os
leitores desse livro fossem professores no nível primário de uma igreja urbana grande, da
mesma denominação evangélica, no Brasil, mesmo assim nenhuma classe estaria igual a
qualquer outra. Evidente!
O que ensinar (conteúdo) e como ensinar (método) podem ser registrados completa e
precisamente. Mas, quem são os professores e os alunos, seus pensamentos, sentimentos,
ações e motivações, e o modo pelo qual eles crescem e atingem a maturidade cristã. Esses
são assuntos que não se pode delinear. É um fato: você e seus alunos não podem ser
adequadamente descritos.
Mesmo assim, precisamos compreender que sabemos muito sobre você e seus alunos
e sobre o ensinar e o aprender. O que sabemos vem da sociologia, psicologia, educação e
teologia. Nesse livro tentarei descrever algumas das idéias contemporâneas nesses campos,
de maneira a ajudar você a melhor compreender o sentido de "ensinar" e o significado de ser
educador na Escola Dominical. O resultado, espero eu, será um livro que contenha boa
teologia, boa educação e bom senso.
Não pretendo tratar especificamente do conteúdo, nem tão pouco da metodologia na
Escola Dominical, a não ser que os princípios que me parecem vitais os questionem. O que
me interessa muito mais é você e seus alunos, como tais, seu relacionamento entre si e seu
trabalho em conjunto.
O (a) professor (a) educador (a) é a mola-mestra - o incentivo principal
Vamos começar com você. Você é o ponto chave do processo todo. Se o esforço no
campo de educação cristã nas igrejas evangélica jamais se tornar efetivo - como sabemos
que deve ser - você que ensina será o responsável. Os professores, educadores, são as
pessoas que podem transformar a Escola Dominical de um programa ineficiente em uma
experiência vital, sincera, vigorosa, dinâmica e significativa na vida do Cristão. A importância
do educador é decisiva.
Então, comecemos com você. Como é que você se sente a seu próprio respeito? A
respeito do trabalho que realiza na Escola Dominical? Você é confiante de que sabe o que
está fazendo e por que, e de que está trabalhando bem? Você se sente recompensado,
realizado no seu ensino?
Muitos de nós que ensinamos não podemos responder a tais perguntas com grande
confiança. A verdade é que não sabemos as respostas. Trabalhamos na esperança de algum
resultado, nada mais.
Freqüentemente nosso trabalho acaba sendo menos que perfeito. Não sabendo
melhorá-lo, minimizamos os problemas por afirmar que ensinar na Escola Dominical, em
todos os casos, não é muito importante. O professor não está no nível das oficiais da
Sociedade de Mulheres (braço direito do pastor), nem dos ecônomos que se responsabilizam
pelas finanças da igreja. Todo mundo sabe que ninguém aprende muito na Escola Dominical.
Mas... precisa-se de professores, nunca há número suficiente, e alguém tem que fazer o
trabalho. Se a igreja não insistisse tanto, é claro que não estaríamos ensinando. Deus sabe, e
nossos alunos também, que nós não nos sentimos muito competentes!
Conheço muito bem esse raciocínio porque, sendo professora, já passei por tudo isso.
E sei também que ensinar é um trabalho que jamais tem fim. Eu penso sobre minha classe
durante a semana inteira. Eu leio material extra, procuro projetos, planejo atividades,
descubro materiais áudio-visuais e, finalmente, faço um plano de aula. Chega o domingo, a
classe reúne-se. E bem antes de onze horas, já descobri que meu plano - tão lindo no papel -
não estava tão bom na sala de aula. Alguns dos meus alunos demonstraram interesse
superficial; para os outros estava maçante. Por que continuar? Que uma outra pessoa sofra
um pouco!
Chamado (a) para uma tarefa necessária
Sem dúvida alguém poderia fazer o trabalho, mas você foi chamado por Deus a fazê-lo.
Talvez ninguém saiba porque você foi chamado, ou porque você ouviu a voz divina. Mas você
está aqui, face a face com um trabalho que precisa ser feito, sentido ou até sabendo, que
você não é capaz de fazê-lo. Conheço bem esse pensamento: é minha posição exata ao
escrever esse livro!
Encontramo-nos na companhia dos fiéis. O trabalho de Deus sempre foi e sempre será
realizado por pessoas que se sentem incapazes de fazê-lo, incompetentes. Abraão saiu de
sua terra, deixou seus parentes e viajou para uma terra longínqua "sem saber para onde ia"
(Hb 11.8). Moisés argumentou com Deus que ele não poderia, de maneira alguma, voltar ao
Egito e confrontar o Faraó. "Nunca fui eloqüente... Sou pesado de boca e pesado de língua"
(Ex 4.10). Amós foi pastor, cultivador de sicômoros, por seu vestir, por seu agir, por seu falar
mal preparado a dirigir-se aos comerciantes sofisticados urbanos, aos prestamistas
financeiros, aos sacerdotes, aos adeptos elegantes; incapaz de dizer-Ihes que eram
inaceitáveis a Deus, que sua justiça hipócrita lhe era repugnante. Isaías falava bem. Era
charmoso. Foi educado com os príncipes e reis. Mas nada disso o preparou para falar em
nome de Deus, pois nada sabia do outro setor da sociedade de seus dias: os pobres eram-lhe
enigma. Ninguém o escutaria. Ninguém interessaria. Pelo contrário, seria zombado e vaiado.
Muitos dos eruditos de nossos dias acreditam que nem mesmo Jesus sabia o que
estava à sua frente, quando saiu da carpintaria de Nazaré e começou a ensinar. Seus amigos
e parentes não o consideravam grande coisa. "Não é este o filho de losé?", (Lc 4:22b) eles
perguntaram. E até mesmo mais tarde as pessoas que ouviam sua mensagem não lhe deram
muito valor por causa de sua história pessoal. "Porventura, pode sair alguma coisa boa de
Nazaré?" (Jo 1:46).
Os homens e mulheres que pregavam o Evangelho, nos anos após a morte e
ressurreição do Mestre, também não eram realmente capacitados para o trabalho. Eram
pessoas ordinárias, de todo tipo: pescadores, cobradores de impostos, um médico, um fariseu
recém-convertido, uma prostituta, alguns comerciantes, esposas e mães, gregos e judeus,
escravos e livres, ricos e pobres, estudantes e analfabetos, sábios e imprudentes. Ouviram a
chamada, "Ide... e ensinai" (Mt 28.19) e responderam-na.
O povo de Deus
Esses são os homens e mulheres na história do Cristianismo, de que fazemos parte.
Somos nós membros do "Povo de Deus", as pessoas que procuravam e procuram viver
segundo a vontade divina. Pouquíssimos de nós realmente nos sentimos bem sucedidos,
vitoriosos. É dificílimo diferenciar entre a vontade de Deus e a nossa própria vontade, mas
tentamos e temos que continuar tentando.
Quem é esse povo de Deus a quem nos unimos? Não são apenas pessoas antigas:
são também presentes, visíveis, vivas hoje. São os homens e mulheres que labutam no
mundo moderno para realizar a vontade de Jeová onde quer que estejam. São pessoas
comuns, de todos os tipos: sábios e imprudentes, ricos e pobres, negros e brancos, russos,
americanos e brasileiros, fazendeiros, médicos, carpinteiros, advogados, donas de casa,
comerciantes, balconistas, civis e militares, estudantes e professores.
Algumas dessas pessoas passaram por uma experiência dramática, semelhante à de
Paulo na estrada para Damasco, um momento em que viram claramente o que suas vidas
tinham sido e eram, e o que, com a ajuda de Deus, poderiam ser. Outros estão sendo nutridos
na fé desde seu nascimento e no presente estão apenas seguindo fielmente um caminho que
sempre se abria à sua frente. Ainda outros estão à procura da luz. Não experimentaram nem
a conversão dramática, nem a vida de crescimento e nutrição em Cristo. Mas se uniram a
companhia dos comprometidos e com esses estão prontos a trabalhar.
Nem todas essas pessoas trabalham na Igreja institucionalizada. Encontram-se em
movimentos em prol da paz, à procura da justiça econômica e social, no comércio, no
governo, no laboratório, nas profissões, nas artes; escritores, pintores, escultores, músicos,
dramaturgos; nas escolas e universidades, nas agências sociais, nos hospitais, trabalhando
nos cárceres, em casa...
Parece que Deus costuma chamar uma pessoa a fazer sua vontade bem antes que ela
esteja pronta a executá-la. Você responde à chamada a ensinar. Não quer fazer isso, não
está pronto, não se sente capacitado. E eis você aí, estudando, lendo, questionando,
preparando, ensinando. E aqui estou eu também, respondendo a uma chamada, tentando
descobrir algumas respostas, tentando estabelecer alguns entendimentos fundamentais para
ajudar você com a sua tarefa. Talvez nossas mentes e nossos espíritos possam se encontrar.
Queira Deus!
PARA VOCÊ PENSAR
1. O argumento entre Moisés e Deus a respeito da volta daquele ao Egito, a fim de libertar
Israel, é muito semelhante à luta pela qual passa muitos de nós ao decidir se devemos ou não
aceitar algum trabalho na igreja local. As desculpas de Moisés têm um som bem familiar:
Quem sou eu para fazer isso?
E, se o povo (meus alunos) perguntarem: "Quem te mandou aqui?”
Mas... eles não me ouvirão, nem vão me acreditar!
Não posso! Não consigo falar em público. Não tenho a capacidade para o trabalho.
Oh! Senhor, manda outra pessoa.
A história completa encontra-se em Êxodo, capítulos 3 e 4. Leia essa passagem com bastante
cuidado, pensando em você mesmo como professor (ou pastor, ou obreiro), pessoa chamada
por Deus.
2. Como pode você ter a certeza de que aquilo que você faz, ou planeja fazer, está de acordo
com a vontade de Deus para a sua vida? Leia Romanos, capítulo 8.
3. Em sua opinião, quais as qualidades mais importantes para um professor da Escola
Dominical?
PARTICIPAÇÃO
2.
PARTICIPAÇÃO
Uma pessoa tem que fazer parte de um grupo cristão
se vai alcançar a maturidade cristã.
Há uma palavra bem comum que tem um sentido todo especial que você precisa
conhecer. A palavra é participação. É um substantivo.
No sentido em que eu vou usá-la, a palavra "participação" freqüentemente significa
uma frase inteira: "A convicção de que pertence". Quer dizer associação íntima e significativa
pelo pensamento ou pelo sentimento. Não se refere a um ato como tal, nem tampouco a uma
série de atividades conjuntas. O que quer dizer é o sentimento afirmativo que você tem a
respeito de um relacionamento com outra pessoa ou grupo e aquilo que acontece em você
como resultado dessa associação. É coisa nitidamente interna.
Pense por um momento só sobre os grupos aos quais você pertence: a igreja, a classe
da Escola Dominical, a associação de professores, os pais e mestres da escola de seus filhos,
comissões, clube de mães, clube social, torcedores do Atlético, partido político, moradores de
seu bairro, estudantes de seu colégio, cidadãos de seu estado, o Brasil, sua família...
Em cada grupo do qual você participa você tem um sentimento particular a respeito de
si, a respeito de sua importância dentro do grupo, a respeito da importância do grupo na sua
vida, isto é, a respeito de sua participação. A razão porque sua participação é diferente em
cada grupo é que em cada um você tem uma experiência diferente de si mesmo.
Em alguns grupos, você considera-se valioso. Você contribui para os alvos do grupo;
você se sente compreendido, carinhosamente aceito. Quando precisa ausentar-se, você. acha
que deixa um vão no grupo. Quando erra, ou esquece de fazer algo importante, você tem a
certeza de que será perdoado. O grupo confia em você, acredita que quer fazer o melhor
possível, mesmo quando suas ações não são das melhores. O grupo lhe dá apoio, segurança,
base de ação. Uma família boa é esse tipo de grupo. A igreja deve ser.
Em outros grupos, sua participação é mais superficial. Você é membro do grupo porque
seu nome consta na lista dos sócios. Possivelmente paga uma mensalidade, ou até assiste a
algumas reuniões, mas não se envolve pessoalmente em suas ações e decisões. Este grupo
não importa muito em sua vida, não modifica sua maneira de viver, não influencia suas
atividades, nem realimente você o influencia. Os interesses primordiais do grupo não são suas
maiores preocupações, e os altos e baixos de sua vida pessoal não lhe importam muito. Seu
relacionamento é sempre cortez, gentil e bem superficial; sua participação é nominal. A vida
de muitas pessoas na Igreja é esta mesma.
A participação que interessa a nós, os professores da Escola Dominical, é o tipo
profundamente pessoal (o primeiro discutido acima) em contraste ao meramente nominal (o
segundo). Por quê? Porque o tipo de pessoa que cada um de nós é se determina pelos
grupos aos quais pertencemos mais profundamente.
A maioria de nós acredita, sem pensar muito no assunto, que nós mesmos escolhemos
nossas convicções, nossas atitudes políticas, sociais, religiosas, educacionais etc. De certa
forma é verdade! Claramente cada um de nós é responsável por suas altitudes e seu
comportamento.
Mas, em que base decide uma pessoa quem ela é? Ou, o que ela é? Vou dizer-lhe: em
primeiro lugar, por identificar-se, pelo menos em seu próprio pensamento, como membro de
um grupo específico. Todo mundo adota para si o ponto de vista de um grupo, as suas
atitudes, suas convicções, suas atividades. Em qualquer discussão, usamos os argumentos
de um grupo, se são conhecidos, porque esses são realmente nossos argumentos pessoais.
Se não os conhecemos, podemos pesquisar em livros, ou perguntar a algum conhecido para
descobrir a linha de pensamento do grupo. Mas quanto mais estreitos sejam os laços de
identificação de uma pessoa com um grupo, mais segura será ela em face de um ataque, seja
este físico ou ideológico.
A mais importante participação
Nossa primeira e mais importante participação se encontra na família. Para uma
criança, a família é o grupo cujas atitudes ela reflete, cujas atividades ela imita, cujos
argumentos ela utiliza em qualquer discussão com seus pares. De que maneira e por que
acontece isso?
Um nenê entra na sociedade humana sem qualquer sentido de si mesmo como sendo
separado ou diferente dos objetos ou das pessoas ao seu redor. Ao passo que alguém cuida
dele, dá-lhe comida, conforta-o, aprecia-o, ama-o. Ele responde com sorrisos, gargalhadas e
óbvio prazer. Seu regalo, por sua vez, regala a seus pais.
Continuam a cuidar dele constantemente com amor. Ele começa a depender de seus
pais e a confiar neles. Ao aprender a andar, procura-os para compartilhar suas alegrias e
dores, suas frustrações. Via de regra são compreensíveis, serviciais e prestimosos. Nessa
relação, o nenê começa a entender a si mesmo como sendo pessoa independente (isto é,
separado, diferente) dos pais, ao mesmo tempo em que lhes pertence como pessoa de valor
cujos sentimentos e desejos são levados em consideração, cujas idéias são respeitadas, e
cujas habilidades são cultivadas. Ama a sua família, como ela o ama e aceita, cada vez mais,
seus padrões, atitudes, preocupações e maneiras de agir.
Mas, o que acontece quando essa primeira participação de um menino ou menina é
incerta, errática, sem o amor e o perdão? A criança se torna insegura, duvidosa a respeito de
seu valor pessoal. Sente-se insignificante, rejeitada, incapaz de fazer as coisas,
impossibilitada de tomar decisões, receosa até de tentar, pois pode encarar o fracasso ou a
censura. Pode parecer quieta, deprimida, angustiada, numa fossa. Ou pode ser frívola,
inconstante, incooperativa, hostil. Severa rejeição por parte da família causa dor profunda e
hostilidade imensurável. Uma criança magoada e hostil está sempre cheia de medo e
desconfiança; não gosta de ninguém; rejeita a sociedade. Não raro demonstra sua rejeição
pelo roubo, vandalismo, uso de entorpecentes e até assassínio.
Mas isso não é necessariamente o fim. Uma pessoa hostil, magoada, defensiva, pode
salvar-se por participar, em nível profundo, de um novo grupo que a ama, aceita, ajuda e que
nela confia. Esse grupo bem poderia ser você e sua classe na Escola Dominical.
A participação verdadeira pode mudar pessoas!
A família é a primeira e a mais importante participação. A "panelinha" ou um clube na
escola, ou a classe na Escola Dominical normalmente é a segunda. Escoteiros ou
bandeirantes, o time de futebol, a sociedade de juvenis ou de jovens, o conjunto coral, todos
esses providenciam aquele sentido importante de participação que é imprescindível ao
desenvolvimento de crianças e jovens. Todas essas coisas exercem uma influência
incalculável no tipo de adultos que eles serão.
Sua participação importante
Adultos também precisam de participação no sentido em que estamos usando a
palavra. Você pertence a alguns grupos que lhe são necessários e proveitosos, embora seja
possível que você não os tenha considerado desta maneira. Por exemplo, é bem provável que
você tenha uma idéia bem definida sobre os favelados no Brasil. Seu ponto de vista é
fundamentalmente igual ao de um grupo maior com o qual, queira ou não, você se identifica:
os que ignoram o problema, procurando seu próprio bem financeiro; os que dão um real ao
mendigo na rua, ou doam suas roupas usadas a uma família necessitada; os que lamentam
que o número e a condição dos pobres no Brasil cresça cada vez mais e afirmam que o
governo deve "dar um jeitinho"; os que acham que a solução do problema seja maior
industrialização, que proporcionaria mais empregos, ou educação que permitiria que se
empregassem; os que oram pelos necessitados; os que organizam comunidade à procura de
direitos legais; os que dedicam seu tempo e seu esforço para tentar solucionar tais
problemas...
E bem possível que você nem perceba os grupos com os quais se identificou na
formação de suas atitudes sobre a economia brasileira. Portanto, talvez seja mais valioso
examinar com um pouco mais de cuidado aquilo que você faz no momento ou que estaria
pronto a fazer sobre o problema. Nessa base, é possível que você se entenda melhor. Pense!
Você aceitaria trabalhar na organização de uma comunidade em busca de direitos legais dos
moradores, ou você acha melhor que a comissão de ação social de sua igreja local tape o
buraco com doações de comida e roupa às famílias necessitadas? Você acha que o governo
tem que solucionar o problema econômico do Brasil, ou que existe algo que você pode e deve
fazer? Você gastaria seu tempo procurando emprego para alguém que não tem o necessário
para a vida, ou acha que seria mais válido a igreja orar por ele? Você pagaria, de seu próprio
bolso, escola para uma criança que, outrossim, ficaria analfabeta, ou acha que isso não é
problema seu porque, no final das contas, seu dinheiro nem dá para sua própria família? Você
lutaria contra o ódio e o preconceito com brigas, boicotes e legalismo, ou acha que o amor
pode ajudar? Você lideraria um movimento ativo em prol dos menos privilegiados em seu
bairro, ou acha mais importante pregar o Evangelho para ele? Você acha que a Igreja deve
cuidar dos seus, ou que sua tarefa é ajudar os que necessitam ajuda independente de sua
crença religiosa? Você acha que a ação social na Igreja Metodista pode e deve ser um fim em
si mesma, ou considera que não é válida se não leva à evangelização? Nenhuma dessas
indagações tem uma resposta certa ou errada. São apenas uma série de atividades e atitudes
que existem entre nós. Seu comportamento nesses casos seria típico de algum grupo de que
você participa e com o qual você se identifica.
A intensidade de seus sentimentos sobre os problemas acima levantados depende,
realmente, do sentimento dos grupos aos quais você pertence e de seu envolvimento na vida
do grupo. Se acontecer de você participar de dois grupos cujos pontos de vista são contrários,
você irá apoiar um e ignorar o outro, ou então irá reinterpretar e adaptar o pensamento de um
para que dê com o outro. Isto significa que lógica ou ilogicamente nós somos canazes de
aceitar pontos de vista contraditórios, sem parecermos completamente irracionais, pelo menos
para nós mesmos.
Ou, como outra ilustração, pensemos sobre um problema sério no mundo de hoje: a
paz mundial. Aqui também, cada um de nós se liga ao pensamento de algum grupo:- os
militares, os fabricantes de armas, a Igreja, a ONU, o governo brasileiro, todos esses têm
idéias diferentes sobre o governo russo e o governo americano, sobre a posição atual do
Brasil no mundo, sobre nossas virtudes e acomodações, sobre a política de autodefesa e a
política de desenvolvimento, sobre alianças e testes nucleares e, mais fundamentalmente
ainda, sobre a causa primária da confusão e desordem que caracteriza o mundo em que
vivemos.
Os grupos dos quais participamos nos influenciam
Seu pensamento e sua atuação sobre esses assuntos, e sobre todos os outros
também, reflete o ponto de vista de algum grupo que toca sua vida intimamente. Ou, mesmo
que você não tenha opinião, até essa virtude vem de um grupo, talvez os que se sentem tão
oprimidos pela vida que chegam a achar que nada se pode fazer para acertá-la, ou ainda
talvez aqueles cujo auto-interesse é predominante. Esta é uma verdade por várias razões.
1. Ninguém pode realizar suas próprias pesquisas em todos os setores da vida
moderna, que é por demais complexa. Para uma pessoa individualmente é impossível
encontrar material, separar os fatos das opiniões, interpretar inteligentemente o que acontece.
Mesmo que ela tivesse o tempo disponível para estudar profundamente um problema
qualquer, provavelmente não se sentiria competente para julgá-lo. Pelo menos isso acontece
à maioria de nós.
2. Rara é a pessoa que tem a coragem e a robustez de afirmar sozinha uma opinião ou
prática é por causa dela confrontar toda a sociedade. No entanto, podemos fazer afirmações e
resistir oposições se nos sentimos sustentados por outras pessoas em quem confiamos e de
quem dependemos. Este grupo pode ser pequeno; pode ser até separado da linha-tronco da
sociedade. Mas se o grupo tem um ponto de vista, uma devoção à causa, então, mesmo
estando sozinhos pensamos e agimos com segurança e confiança.
É possível que você esteja pensando que tal coisa não fosse necessária a Jesus.
Realmente talvez não tenha sido. Ele sentia o sustento e o amor divino a um ponto impossível
para nós, mesmo sendo nós seus discípulos dedicados e leais. Nós precisamos de um grupo
que nos sustente, que nos fortaleça, que nos dê discernimento e compreensão, da mesma
maneira em que os onze discípulos precisavam uns dos outros e que encontravam sua força
no apoio dos outros.
E o que tem isso a ver conosco, professores da Escola Dominical? É simples. Significa
que nossa tarefa não é, nem pode ser, transmitir um conteúdo encontrado em uma revista
fornecida pela Igreja. O que temos que fazer é ajudar cada um de nossos alunos - sejam
crianças, juvenis, jovens, ou adultos - a estabelecer uma participação importante, significante,
abrangente dentro da igreja. Os grupos aos quais pertencemos, dos quais participamos
verdadeiramente, intimamente, profundamente, emocionalmente, não apenas nominalmente,
estabelecem o que somos e o que sermos. Por experiências afetuosas, aceitáveis, positivas,
crescentes com um grupo, que você pode providenciar na Escola Dominical, a igreja pode se
transformar para seu aluno em uma participação importante para sua vida. Pode chegar a ser
o grupo cujos padrões, atitudes, estilo de vida são aceitos por ele como sendo dele, acima de
todos os outros. Agora. Como?
Como é que você pode transformar seus alunos em um grupo que providencia para
cada um de seus membros essa participação?
PARA VOCÊ PENSAR
1. Para que você possa compreender o poder e a influência de participação significante,
pense sobre ela em sua própria vida:
a) Escolha uma das suas convicções mais fortes. Pode ser um dogma cristão (os
milagres de Jesus, a criação do mundo, o nascimento de Cristo, ou qualquer outro); pode ser
uma idéia política (direitos humanos, brutalidade policial, democracia como forma de vida, ou
qualquer outra); pode ser uma convicção social (todos precisam de educação; a pobreza é
degradante; ou qualquer outra); ou ainda pode ser qualquer coisa que faça parte firme de
suas convicções pessoais. Certamente essa convicção não é somente SUA. Indique as
pessoas ou grupos que sustentam seu ponto de vista e que contribuíram para ele. De onde
você recebeu essa convicção?
b) Considere uma das suas participações significativas (Igreja, partido político, grupo
profissional, clube social). Até onde são as posições importantes do grupo suas posições
particulares?
2. O Apóstolo Paulo nos diz que um dos resultados de alcançar a maturidade como membro
do corpo de Cristo é que não estamos mais agitados de um lado para outro e levados ao
redor por todo vento de doutrina que passa. Leia Efésios 4:13,14. Compare essa idéia com o
item acima intitulado "Os grupos dos quais participamos nos influenciam”.
3. Em todos os sentidos, nossas ações revelam nossas participações. Capítulo 4 de Efésios
descreve a interação cristã, resultado de sermos membros uns dos outros. Leia esse capítulo
todo à luz das idéias expostas acima.
Criando um Grupo
3.
CRIANDO UM GRUPO
Classes na Escola Dominical não são necessariamente "grupos". Grupos nascem; são
criados. Conduzir o desenvolvimento de um grupo da concepção à maturidade exige
tempo e habilidade, compreensão por parte do professor, e a graça infinita de Deus.
Nenhuma assembléia de pessoas, reunida em uma sala, sob uma classificação
qualquer (por exemplo: o quarto ano, ou a junta dos ecônomos) pode ser entendida como
"grupo" a primeira vez que você a encontra. Pode ser uma coleção, como moedas raras em
um arquivo; pode ser um bando, como de pintinhos à procura da mãe-galinha; ou ainda, se já
tem um líder, pode ser uma tropa, como elefantes na floresta a seguir o mais poderoso
macho. Mas é bem provável que não seja um "grupo".
"Grupo", no sentido em que vou usar a palavra, significa mais que um número de
pessoas reunidas em um lugar. Quer dizer um número de pessoas reunidas em um lugar,
mas que funcionam como se fossem uma pessoa só. Meu conceito de grupo é semelhante à
descrição da igreja feita pelo Apóstolo Paulo: o corpo de Cristo. Todas as partes do corpo - os
olhos, os braços, as pernas, a cabeça - são necessárias ao corpo no cumprimento de sua
tarefa. Se qualquer parte do corpo não desempenhar sua função, o corpo leva desvantagem;
é debilitado; é menos eficaz.
Um grupo pode ser comparado ao corpo, os membros do grupo são as partes
funcionais dele. Se cada membro participar da vida do grupo, se cada membro tiver uma parte
e executar a sua função, e se os membros trabalharem em conjunto com interesse, solicitude
e amor mútuo, o grupo será vigoroso, vivo, forte. Se, ou quando, acontecer isso, sua classe
não será mais uma coleção de moedas raras, nem um bando de pintinhos a cricrilar, nem
tampouco uma tropa de elefantes que trombeteia na floresta. Será uma nova criação,
inimitável, singular, sem igual. O grupo estará ciente do período em que começou e como
(sua história), e irá dedicar tempo, pensamento e atividade à procura da solução das questões
fundamentais: o que fazer, como fazê-lo, e porque existe (seu destino). Igual a uma pessoa!
Classes na Escola Dominical freqüentemente não são grupos nesse sentido da palavra.
Os membros se ajuntam como indivíduos, não relacionados. Podem desenvolver entre si
algumas amizades, mas raramente sentem que os outros os consideram necessários, que os
outros deles dependem, que os outros os amam de verdade e que estão envolvidos
responsavelmente nas vidas dos outros.
A coleção, ou bando, ou tropa que você ensina pode ser dessa natureza: indivíduos e,
evidentemente determinados a assim permanecerem. Chegar a envolver os alunos no
processo de sua própria educação ou na vida conjunta ê um enorme problema. Em geral são
recipientes passivos de suas palavras sábias, receptáculos vazios à espera de saciação. O
problema, a mim me parece, é que as vasilhas estão tampadas por urna tela de arame bem
fininha. Somente as idéias menores e mais insignificantes conseguem passar. E são essas
que se contam em casa.
Alguns anos atrás, numa Escola Dominical de que fui professora, uma classe de
meninos primários se tornou grupo de verdade. Sua história começou quando os meninos se
separaram das outras crianças e "sua" classe se formou. (Não estou advogando a separação
das crianças de acordo com o sexo. Realmente educadores modernos opõem tal
procedimento). A atividade desses meninos na Escola Dominical estava bem coerente com
seu propósito e seus alvos: injetar algum interesse e estímulo numa hora maçante e chata,
por bagunça, confusão e desordem. Vários professores se feriram no processo. Tiveram
quatro mestres em um período de menos de seis meses. Todos vieram, tentaram, foram
derrotados e saíram. Com enorme júbilo, os meninos registraram a "contagem professorial"
como troféus atléticos, demonstrações de sucesso. Esses rapazes precisavam uns dos
outros, dependiam mutuamente uns dos outros, funcionavam perfeitamente como uma
unidade. Sem dúvida alguma, era um grupo. Só que seu grupo não era do tipo que um ou
uma superintendente desejaria!
Como é que se vive com os alunos e alunas em uma classe de maneira a formar dela
um significante grupo cristão? Mesmo com todos os nossos problemas de tempo, espaço,
material e tradição, o que pode o professor fazer para ou com sua classe de pessoas
distintas, diferentes, não relacionadas, que as leva a ser, em escala pequena, o arquétipo do
corpo de Cristo?
Felizmente, em nossos dias se sabe muito a respeito das causas da formação de
grupos, das razões e processos que as levam à permanência, e do papel do líder (educador
(a)) na vida do grupo. Se realmente queremos fazer da nossa classe uma comunidade cristã,
temos a possibilidade de trabalhar ativamente em prol desse alvo.
Tomando decisões conjuntas
Uma classe se torna grupo quando os membros conjuntamente tomam as decisões
sobre sua vida conjunta. Se a classe vai ter uma vida que é dela - singular, inigualável,
significativa, cristã - seus membros obrigatoriamente terão uma parte na determinação dessa
vida, na atribuição de vida ao grupo. Isto significa que uma coisa que você terá que fazer é ter
absoluta certeza de que você e seus alunos e alunas trabalham juntos ao fazer os planos e
tomam as decisões da classe.
Na maioria das revistas da Escola Dominical, a matéria a ser ensinada (e aprendida) se
divide em unidades. Essas, por sua vez, são divididas nas diferentes lições a serem
ministradas nos diferentes domingos, geralmente segundo o calendário. No principio de cada
lição, ou pelo menos de cada unidade, encontra-se uma declaração de objetivos, ou
propósitos, ou "aquilo que deverá acontecer". Essa afirmação é inteiramente necessária, pois
você precisa saber o que você quer conseguir, a fim de compreender o plano proposto para a
lição.
O que os escritores do currículo em geral omitem, porque não há maneira de incluí-Ia,
é uma declaração dos objetivos dos membros da classe: que é que eles precisam alcançar.
Por sua experiência, você deve reconhecer que se você tiver um alvo e os membros da classe
tiverem outro, a sessão não será produtiva. Para falar a verdade, é bem possível que essa
seja uma das principais razões para a insignificância de muito que a Escola Dominical faz.
Seus alunos e alunas - crianças, juvenis, jovens, adultos vêm à igreja cheios de
necessidades, de perguntas não respondidas, de coisas sobre as quais precisam de
esclarecimentos. Você vem à igreja com a cabeça cheia da lição para aquele dia. Você sabe o
que as pessoas vão aprender, mas elas não sabem. Provavelmente elas nem têm em mente
um propósito específico, pois não tiveram oportunidade de pensar, conversar e planejar
juntas. Você começa a lição. Dependendo de sua idade e desprendimento, os alunos e alunas
respondem de diferentes maneiras. As crianças talvez dêem atenção, talvez mexam nas
cadeiras, ou conversem, ou planejam entre si alguma malícia, ou façam comentários
"engraçadinhos". Os adultos talvez sentem-se ali silenciosos e indiferentes, desligando o
volume, não dando atenção. Geralmente o objetivo do professor prevalece. Nas semanas
seguintes o interesse diminui cada vez mais e a assistência cai.
Salvo no caso daqueles meninos! Eles eram uma classe que funcionava como grupo;
seu poder era bem maior e mais presentes que o de qualquer professor que lhes foi enviado,
mesmo o maior e mais viril deles. Enquanto não houve planejamento de objetivos, enquanto a
comunicação verdadeira entre professor e os meninos continuava inexistente, permaneceu o
conflito e derrota para o professor. Os objetivos dos meninos prevaleceram. Um outro troféu
se acrescentou a sua coleção. A perversidade crescia cada vez mais. E a assistência sempre
estava em 100%.
Um grupo possui vida própria. A vida é poder. O poder de qualquer grupo depende do
envolvimento e responsabilidade dos membros dele. Se cada membro sentir que tem uma voz
nos procedimentos e acontecimentos, provavelmente achará que os resultados são interesse
dele e, então, trabalhará, e muito, para ajudar o grupo a efetivar suas determinações.
Mas uma advertência precisa ser registrada aqui. Pedir opinião do grupo para uma lista
de "coisas que queremos aprender" nem sempre é participação nas decisões. Depende muito
do pensamento e experiência que alicerçam as opiniões dos alunos e alunas, da seriedade
com que eles e elas fazem suas contribuições à lista, e - mais importante ainda - da maneira
que você usa a lista depois de pronta. Se você a aproveita para ensinar quilo que de qualquer
modo você já pretendia ensinar, então método nada mais é que um truque manipulativo. Boas
coisas acontecem nas vidas de pessoas quando elas se tornam autoras de decisões. Além
disso, sabemos que se aprende com mais facilidade aquilo que se escolheu por si mesmo
aprender. Quando um aluno, uma aluna, dirige sua própria aprendizagem (por leitura, estudo,
experimentação ou observação) e descobre coisas por si mesmo, seu aprendizado tem valor.
Isto quer dizer que um aluno, uma aluna, que fizer parte de uma classe onde participa das
escolhas, das decisões, das ações, aprenderá muito mais do que se fosse somente ouvinte
passivo. E aquilo que aprende terá real valor para sua vida.
O primeiro princípio de vida de grupo, então, relaciona-se a um processo, isto é, à
maneira em que você e seus alunos e alunas trabalham juntos. O segundo será um dos
resultados do processo.
Compartilhando alvos comuns
Todo grupo deve ter um alvo. No entanto, geralmente os membros de uma classe da
Escola Dominical não possuem alvos ou objetivos em comum. Poderíamos dizer que o alvo
geral da Escola Dominical é aprender algo sobre cristianismo, sobre Jesus, sobre Deus e
sobre a Bíblia. O problema aqui está claro: o objetivo é demasiado abrangente e generalizado.
Uma só classe, de modo algum, se incumbe de realizá-lo com entusiasmo.
Um grupo necessita de um alvo específico, realizável. Deve ser um alvo que o grupo
compreenda, sobre o qual possa pensar, cujo progresso possa ser medido, e cuja
consumação ou realização os alunos e alunas poderão perceber. Tem que ser específico em
forma e em tempo.
O período de tempo que um grupo poderia gastar proveitosamente no alcance de um
determinado objetivo irá variar de acordo com a idade de seus membros. Crianças no primário
não conseguem sustentar seu interesse por mais de um mês ou, no máximo, seis semanas.
Juvenis e jovens podem trabalhar em um projeto durante três meses sem grandes problemas.
Adultos gastam anos planejando e trabalhando para alcançar um alvo.
Eis um exemplo: suponhamos que sua classe está estudando o Pai Nosso (qualquer
classe do terceiro ano para cima poderia se envolver nesse tipo de estudo). Estão procurando
o significado da frase, "Seja feita a tua vontade". Decidem que, como classe, deveriam tentar
fazer a vontade divina e, no fazer, descobrir seu sentido. Talvez decidam enviar cartões para
os doentes da congregação, ou fazer e levar-Ihes uns docinhos; talvez resolvam ajuntar,
consertar e preparar roupas para uma família ou para um bairro pobre; ou levantar dinheiro
para o projeto missionário do norte; ou pintar uma das salas da igreja; ou fazer equipamento
para o jardim da infância; ou criar e produzir uma dramatização baseada na idéia e apresentá-
la para uma outra classe ou para seus pais e mães. Adultos talvez participem de um programa
em prol dos necessitados da comunidade. As possibilidades para todas as idades são
incontáveis.
Não nos importa, no momento, o tipo de alvo que o grupo estabelece. O que importa,
isto sim, é que haja um alvo e que o grupo, decida o que se vai fazer. Você educador (a)
também faz parte do grupo.
Sabendo e fazendo
O problema agora é que sua revista da Escola Dominical deu um objetivo para sua
classe, e eu estou sugerindo outro. Mas pense! Está quase certo que o objetivo da revista
seja uma idéia, um conceito, uma atitude que você deve tentar implantar nas mentes de seus
alunos e que eles subseqüentemente deverão adotar para si. Os objetivos que eu descrevi
acima são coisas a fazer, atividades, que requerem corpos, mãos, pés, olhos, ouvidos e
mentes, todos trabalhando em conjunto, e que exigem a consideração do grupo e a sua
decisão. Contrário ao que se possa parecer, os dois objetivos não são opostos, mutuamente
exclusivos, ou antagônicos entre si. Para falar a verdade, andam de mãos dadas. São os dois
lados da mesma moeda. O objetivo "atividade” se torna a experiência concreta do objetivo
“idéia” que está na sua revista.
Imaginemos uma lição da unidade sobre a oração dominical. Na revista o propósito da
lição, "Seja Feita a Tua Vontade", poderia ser o seguinte: "Ajudar os alunos a compreenderem
a vontade de Deus para os seres humanos e a sentirem sua responsabilidade na realização
da vontade divina”. É muita coisa para uma lição só. Na hora da Escola Dominical você e seus
alunos, podem conversar sobre o assunto, ou podem ler sobre ele, mas não podem fazer algo
que demonstre as dificuldades, o preço e.as recompensas de tentar ardentemente realizar a
vontade de Deus na terra, a não ser que em conjunto vocês realmente tentem fazê-la.
Há um princípio de aprendizagem aqui. Pessoas de todas as idades aprendem melhor
aquilo que eles fazem ou experimentar. Aprendem um pouco menos daquilo que elas vêem e
ouvem (material audiovisual, histórias, gravuras, flanelógrafo). E aprendem bem menos ainda
daquilo que somente ouvem.
Omitir a "ação" da aprendizagem de seus alunos e gastar todo o tempo com as
"idéias", é fabricar uma moeda de uma só face. Tal moeda não terá valor nenhum no
comércio. Tal lição é igualmente inútil no processo de cultivar e desenvolver em seus alunos o
amor para com Deus e os homens, no mundo de todos os dias, na escola, no lar, no trabalho.
E, é esse nosso trabalho! Nada menos!
Principio número um
Um grupo sabe quem é e quais os seus propósitos bem
como a que é que ele se opõe.
Um grupo, como uma pessoa, realmente compreende a si na sua concepção daquilo
que não é, das coisas que ele combate. Um grupo, como um indivíduo, desenvolve sua
própria identidade tanto por descobrir quem é que ele contraria, isto é, os dessemelhantes,
quanto por descobrir quem ou que ele apóia, isto é, os semelhantes.
Seus alunos perceberão aquilo que os Cristãos apóiam e contariam por intermédio de
você. Precisam conhecer suas paixões, entusiasmos e convicções em todos os sentidos. Se
você passa todo o seu tempo com sua classe discutindo a lição, falando sobre os fatos e
idéias que você recebeu de uma revista, e que não revelam por que ou como essa discussão
tem para você um significado profundo e pessoal, você está abandonando uma oportunidade
ímpar e uma obrigação verdadeira no seu ensino. E você já sabe que tal ensino é também
inadequado de outras maneiras.
Conheço uma professora do jardim de infância que é ornitologista amadora. Sabe muito
a respeito de pássaros e seus hábitos: o que eles comem, como fazem seus ninhos, suas
migrações anuais. Identifica um sem número de pássaros diferentes. Possui um entusiasmo
contagioso e um estoque infindo de histórias sobre pássaros que conhece. As crianças de sua
classe não aprendem fatos sobre pardais, andorinhas e bem-te-vis. Aprendem, isto sim, que
passarinhos são criaturas maravilhosas; que eles, seus ninhos e seus filhotes precisam de
nossa proteção. E esses alunos percebem o amor de Deus e seu cuidado com o mundo por
intermédio de uma professora que lhes demonstra seu próprio amor e cuidado para com os
pássaros e crianças. Ao mesmo tempo, desenvolve-se dentro das crianças sentimentos
fortíssimos contra qualquer coisa ou pessoa que dane ou destrua os pássaros.
Quando nosso filho mais velho cursava o sexto ano, ele teve um professor de estudos
sociais que veio a ser a pessoa mais discutida e mais citada da nossa casa. Sabia
inumeráveis fatos interessantes sobre uma variedade enorme de assuntos, desde a
integração racial à conservação da natureza, e ele compartilhava seu conhecimento com seus
alunos. Seus fatos freqüentemente se relacionavam com as notícias do dia, mas nunca se
encontravam nos jornais. O menino impressionou-se com o fato de haver coisas importantes
que os jornais não relatavam e ele sentiu imenso prazer em nos dizer o que aprendera. Em
pouco tempo meu marido e eu chegamos a compreender que esse professor revelava bem
mais que meros fatos. Revelava-se a si mesmo. Demonstrava claramente suas convicções,
suas crenças, suas oposições. Ele dedicava sua vida às coisas que iriam melhorar a vida de
todos os seres humanos, e opunha-se a qualquer coisa que viesse a empobrecer a vida
humana ou a terra boa e fértil.
Alfred North Whitehead uma vez disse que a educação deve incluir experiências
pessoais com a grandeza. Claro é que a educação cristã deve ter essa característica. Em
nossas igrejas, crianças e adultos precisam ver o poder do amor, a devoção à verdade, a
busca da vontade divina, incorporados ardentemente nas vidas de seus educadores e/ou
educadoras. Você pode ser um ornitologista, bancário, mãe, estudante, comerciante ou
zelador. Quem quer que seja, suas convicções cristãs a respeito da vida de hoje na sua
vizinhança e no mundo são importantíssimas. Revele-as!
Pratica número um
Sua classe deve tornar-se "GRUPO" com objetivos e
inimigos.
Seria proveitoso às crianças, jovens e adultos das nossas Escolas Dominicais
passarem um tempinho considerando o que está errado em nosso mundo (ou em sua
comunidade) e a maneira pela qual poderiam viver e trabalhar para retificar o erro, ou pelo
menos diminuí-lo. Talvez uma das razões por que nós adultos nos sintamos incapazes de
confrontar o mal que nos cerca seja porque nunca tenhamos tido experiência, nem tampouco
treinamento, em atacar o erro. Não aprendemos a expressar nossas convicções fortes e
nossos sentimentos profundos de maneira produtiva. Temos medo da censura; não queremos
ser "diferentes"; receamos a crítica; rejeitamos qualquer idéia de molestar o status quo
pacífico. Não sabemos confrontar ódio, desprezo, ameaça ou ataques pessoais.
Mas temos que nos lembrar de que nossa herança está cheia de relatórios de homens
e mulheres que enfrentaram o mal. Sabemos que Jesus nos mandou amar os inimigos,
retribuir o bem pelo mal, orar pelos que nos perseguem. Mas ele afirmou-se contra a injustiça,
a fraude, a virtuosidade excessiva, a hipocrisia. Ele resistiu às leis e práticas que criariam no
povo sentimentos de medo ou de culpa. Ele falou contra os fariseus e atacou seus
julgamentos, sem medo. Foi somente quando ele mesmo foi preso injustamente, acusado e
julgado, que não resistiu, nem ameaçou, nem desprezou seus acusadores. Ele nem replicava
ao seu ódio e desdém. Pelo contrário, perdoou até os que o mataram.
Temos os seus ensinamentos e o exemplo de sua vida, mas pouquíssimos de nós
sabemos viver do jeito que ele vivia. Não estamos treinados para esse tipo de batalha, nem
temos o espírito necessário. Um começo, mesmo pequeno, poderia partir das nossas classes
na igreja.
Os Cristãos nunca se interessavam pela opinião pública. Sempre lhes importava
somente fazer a vontade do Pai. Tem sido essa nossa vocação como Cristãos. Fazer a
vontade de Deus, todos os dias, em casa ou no trabalho, é o propósito mais importante de
nossas vidas. A encarnação do amor é o nosso poder e a nossa força.
Em algum lugar e em algum tempo, fazer a vontade de Deus há de criar oposição. Não
há meio de evitar isso, a não ser que nada façamos. Mas até fazer nada a respeito dos
problemas de raça ou de paz ou de pobreza ou de opressão realmente ajuda os
segregacionistas, ou os militares, ou os opressores. Não é possível permanecer neutro nesse
mundo. "Quem não está comigo está contra mim”.(Mt 12:30a)
Quando você e sua classe participam de uma discussão e descoberta das coisas
erradas e prejudiciais ao seu redor, há dois princípios que devem ser lembrados.
(1) Faça alguma coisa sobre o mal que descobriram. Nunca permita que seus alunos
participem emocionalmente no sofrimento, fome, pobreza, ou analfabetismo dos outros sem
ajudá-los a formular um plano, mesmo simples e superficial, de aliviá-los. Queremos que
nossos alunos vejam os erros e sintam que podem acertá-los. Se despertarmos seus
sentimentos contra algum mal ou sofrimento e se depois não providenciarmos meios para
expressarem o que sentem, no final das contas ficarão tão acostumados em ouvir o mal e em
viver ao seu lado que nada farão a respeito. Perderão sua sensibilidade humana ou então
nunca a desenvolverão.
(2) Crie ou projete um alvo definido (você em conjunto com sua classe) como sua
resposta ao mal, à dor, à perseguição, ao prejuízo, à opressão, isto é, ao "inimigo". Esse
inimigo comum e o alvo comum do grupo podem constituir maneiras negativas e positivas de
encarar uma situação. Por exemplo, talvez haja um hospital ou clínica na sua cidade onde
crianças passam dias longos e maçantes em tratamento, com poucas evidências de que
alguém as ama. Fazer, renovar, ou ajuntar brinquedos para elas poderia ser atividade positiva
de uma classe da Escola Dominical e ao mesmo tempo aliviar o sofrimento emocional de um
longo período de hospitalização.
Um inimigo comum sem um alvo comum não basta; não ajuda o grupo a crescer em
conjunto. A classe de meninos que citei anteriormente foi um grupo que tinha um inimigo
comum: seu professor. Assim que derrotaram o inimigo, perdeu-se seu propósito unificador, a
não ser que fizessem do novo professor seu novo inimigo. Felizmente seu sexto professor
uniu-se a eles na sua busca de interesse a atividade. Irrelevância e tédio tornaram-se o
inimigo comum e a classe veio a ser a mais produtiva e a mais positiva da Escola Dominical.
Princípio número dois
Um grupo tem experiências em conjunto por meio das quais seus
membros descobrem que necessitam uns dos outros: precisam
ficar juntos.
Dr. Ross Snyder conta uma experiência de sua esposa. A classe da qual ela era
professora fêz um piquenique. Caminhando para casa no fim do dia, o grupo, totalmente
desprevenido, pegou uma chuva forte. Que fim miserável para um dia feliz! Chegaram à igreja
ensopados, tremendo de frio, sapatos cheios d'água, parecendo e sentindo-se meio mortos.
Mas, por incrível que pareça, nas semanas seguintes, a chuva provou ser uma
experiência unificadora e valiosa. As crianças e sua professora juntas sofreram a perturbação,
o susto, o frio e depois os risos e histórias infindas sobre seu contratempo. Descobriram que
se conheciam uns aos outros de maneira antes impossível.
Você começa a conhecer e a compreender outra pessoa significativamente quando
compartilha com ela uma experiência importante. Quando juntos tiveram um prazer, ou
passaram por uma dificuldade, ou criaram alguma coisa, ou contribuíram para uma atividade
vívida, dramática ou importante, então se reconhece as coisas que são importantes na vida da
outra de maneira nova, mais verdadeira, menos superficial. Quando em conjunto vocês dão
risadas, ou em conjunto sentem-se desapontados, quando juntos vocês lutam contra um
problema difícil, ou desenvolvem uma atividade, quando lado a lado vocês traçam planos ou
celebram uma ocasião feliz, ou demonstram um processo à alguém, então juntos vocês
crescem. Desenvolve-se entre os dois laços de confiança, anseios e apreciações mútuas.
Você para as pessoas, e as pessoas para você, é mais do que nome. É uma vida calorenta,
respectiva, uma pessoa de que se pode depender e que merece sua consideração. Começam
a sentir que fazem parte uma da outra e que se precisam mutuamente.
Todos os membros do corpo de Cristo são necessários uns aos outros. Cada um
participa dos outros, e precisam pensar, trabalhar, agir, planejar e adorar juntos para que o
corpo (a igreja) se torne instrumento da vontade divina e fonte de seu amor na terra.
Prática número dois
Sua classe precisa tornar-se um grupo, cujos membros
precisam-se mutuamente, que participam uns dos outros.
A classe que você ensina é a parte do corpo de Cristo a qual seus alunos e alunas se
relacionam. É aqui, e provavelmente só aqui, que os alunos e alunas descobrem que ninguém
vive só, que trabalham em conjunto e que podem pensar, agir e trabalhar juntos com alegria e
satisfação.
Primeiramente, organize sua classe para que todos os seus membros tenham uma
função específica na vida do grupo. Uma possibilidade seria várias comissões responsáveis
para a sala de aula, membros, vida social, excursões, painel de avisos ou qualquer outra
atividade ou necessidade. A idade e o tamanho da classe, bem como o tipo de vida dos
participantes determinará o tipo de comissão, seu tamanho e a freqüência de suas reuniões. É
claro, no entanto, que essa não é a única possibilidade. O importante é que todos e todas
trabalhem.
Se vai usar comissões, organize-as na primeira semana do ano eclesiástico, permitindo
que os membros da classe escolham as suas áreas de trabalho. Reorganize as comissões
periodicamente: de mês em mês no caso de crianças pequenas; talvez duas vezes por ano no
departamento juvenil; de ano em ano nas classes de adultos. Tenha certeza de que cada
comissão tenha tarefas específicas, realizáveis por seus membros, e necessárias à vida do
grupo. Em classes de crianças, cada comissão precisa do auxílio de um adulto, a professora
ou uma mãe.
Além dessas comissões, crianças mais velhas, jovens e adultos podem eleger oficiais
que dirijam reuniões da classe e ajudem de maneiras específicas em projetos das classes.
Esses, como as comissões, devem ser trocados periodicamente.
Lembre-se de que é necessário que cada membro da classe saiba que tem uma parte
na vida e atividade do grupo e que sua contribuição, qualquer que for (idéias, sugestões,
exemplos, materiais ou ajuda de qualquer tipo) será recebida com respeito e apreciação. É
fácil perceber que você, educador (a), é a figura chave em tudo isso.
Em segundo lugar, é por demais importante que a classe, especialmente crianças,
tenha sucesso nos seus empreendimentos. Não precisam, nesse ponto de sua experiência,
enfrentar o fracasso.
Um educador deve compreender os efeitos de fracasso ou de sucesso na vida de uma
criança ou de um (a) jovem. Uma pessoa aceita bem a ruína, somente se já experimentou o
sucesso que compensa o fracasso. Quem passou por derrotas sucessivas chega a ponto de
não agüentar mais. Torna-se ansiosa e medrosa. Pensa de si mesmo em termos negativos.
Mas sua imagem de si mesma pode se transformar na base de experiências positivas. E
qualquer situação que lhe dá a oportunidade de contribuir positivamente a um
empreendimento de seu grupo diminuirá seu sentimento de culpa e derrota e lhe dará um
sentimento de seu valor pessoal.
Experiências não são meras ações: ao invés disso são o ajuntamento de pensamentos,
ações e sentimentos inter-relacionados na mesma ocasião. Da profundidade e intensidade
dos sentimentos que acompanham a ação e o pensamento surgem as convicções e atitudes
que identificam cada ser humano. Se desejarmos que nossos alunos e alunas se conheçam
mutuamente, ricos e pobres, sábios e tolos, bonitos e feios, brancos e negros, então teremos
que providenciar experiências que resultem nesse conhecimento: razões válidas para
pensarem dessa maneira, e atitudes positivas que demonstrem os sentimentos desejados.
Principio número três
Um grupo tem suas próprias maneiras de fazer as coisas, de realizar suas
atividades, seu próprio senso histórico, suas celebrações particulares.
Pense sobre qualquer organização que você conhece. Tem um nome, um lema ou
credo, uns símbolos, talvez uma farda ou bandeirola, um modelo para suas reuniões, tudo
isso desde o Banco do Brasil aos times (grandes e pequenos) de futebol. Pode ter cerimônias
especiais para a iniciação de novos membros, maneira particular de instalar novos oficiais,
prêmios para o reconhecimento de obreiros valiosos. Há uma declaração de seus propósitos à
qual os membros prometem sustentar e praticar.
Pessoas que não são membros podem facilmente identificar tais organizações. Pense
dos Escoteiros, ou dos Atleticanos, ou do Rotary Clube. Cada um desses se destaca na
comunidade onde vive por seus costumes e suas cerimônias bem como por suas convicções.
Cada um tem personalidade, identidade própria. Os membros sabem o que crêem e a que se
opõem.
Há razões importantes para credos, rituais, simbolismo. Grupos que não têm seus
símbolos, rituais, propósitos comuns, experiências conjuntas e ativas não permanecem. O ser
humano precisa de algo em que crê e para que trabalha; precisa de uma imagem ou ideal na
direção do qual pode crescer. Precisa de propósito ou alvo para o qual luta, e a experiência de
se unir com outros digna e significativamente nessa luta.
Para que um grupo possua alta disposição para o trabalho e paralelamente à
habilidade de agir, seus membros têm que ter o entendimento de sua história e a visão de seu
futuro. Não há outra coisa que leve pessoas a viverem produtiva e criativamente nos
problemas do presente. Compreender sua história resulta em discernimento dos eventos
presentes e confiança no futuro.
O povo das nossas igrejas, tanto as crianças quanto os adultos, nada sabe sobre a
história do povo de Deus. Os homens e mulheres de hoje não se identificam com as pessoas
da tradição judaico-cristã, e isto é uma grande pena. Essa linha esplêndida, da qual fazemos
parte, vez após vez se dedicou ao amor e justiça, à justiça para todo mundo, contra a
escravidão de qual· quer natureza. Em nome de Cristo, dedicados a fazer a vontade de Deus
num mundo indiferente e hostil, os Cristãos, desde Paulo, no Século I, até Alberto Schweitzer,
no Século XX, deram suas vidas no serviço aos outros homens.
Os Cristãos sabem que o amor divino pode triunfar sobre a dor, a injustiça, o mal.
Sabem que o propósito de suas vidas é fazer a vontade de Deus, estender seu amor, cuidado
e solicitude aos pobres, aos aflitos, aos que estão sós. Sua dedicação à tarefa não jorra de
um senso de dever, mas do amor, da alegria, da liberdade. Tiveram uma experiência do amor
de Deus tão grande que seu próprio amor transborda para a vida dos outros.
Um grupo, "um povo", celebra em estória, em canto, e em festividades a vida de seus
heróis e os grandes eventos de sua história. Como nação, celebramos as grandes datas de
nosso passado e os dias dedicados aos nossos heróis. Como Cristãos, observamos os
aniversários do nascimento, morte e ressurreição de Jesus. Tudo isso está ótimo. Mas não
basta. Muitas outras pessoas de nosso passado deveriam ser lembradas por cânticos,
orações, estórias, se é que queremos ser um povo forte, com um senso seguro da nossa
história e do nosso futuro.
Prática número três
Sua classe pode tornar-se um grupo com suas maneiras de
agir, seus rituais, seu senso de história, suas celebrações.
Sua Escola Dominical providencia essas experiências para seus alunos e alunas? A
maioria não o faz. Mas poder-se-ia fazê-lo.
A Escola Dominical na sua totalidade deveria ser um grupo organizado, ao qual
pertencem pessoas de todas as idades, desde as criancinhas aos anciãos. Poderia ter um
nome distinto. Cada departamento ou classe poderia ter seu próprio nome, seu emblema ou
símbolo, seu programa de atividades e estudos, suas maneiras de agir, seus cânticos, suas
ocasiões especiais. O conteúdo, atividade e experiências distintas de cada departamento
deveriam se relacionar uns aos outros e todos deveriam se derivar da história e das práticas
ou costumes da Igreja de Cristo.
Uma possível fonte de um senso da nossa história seria a adoração. Pensar no culto
como "celebração" é idéia estimulante. Pela oração e o cântico, pelas escrituras e a
meditação, podemos "celebrar" algum aspecto da vida da comunidade cristã ou algum evento
de nosso passado como o povo de Deus. Ou poderíamos refletir e regozijar na vida de um
dos grandes cristãos do passado ou do presente.
Biografias dos homens e mulheres cujas vidas demonstram convicção, dedicação e
serviço estimulam todos nós. Idéias e convicções tornam-se reais para crianças e adultos
quando as vemos andando na terra. A verdade, beleza, pureza, bondade, amor e coragem
encarnaram-se em Jesus com tal poder que os homens e mulheres compreenderam Deus de
maneira antes impossível. Recebemos nosso conhecimento e experiência da fé cristã por
intermédio de pessoas cristãs, aquelas que estão em nosso meio bem como as do passado.
Adoração, estudo bíblico, o estudo da história da igreja e nossa vida em conjunto, devem
todos contribuir para que saibamos que somos cercados por um grande grupo de
testemunhas, que viveram e estão vivendo com uma apaixonada devoção ao serviço de Deus
e dos seres humanos.
Princípios e práticas aplicadas a você
Você pertence significativamente a um grupo cristão?
Acabo de reler essa análise dos caminhos pelos quais você pode levar sua classe a se
transformar de uma coletânea a um grupo e comecei a indagar a mim mesma se você
realmente acredita nisso. Somente ler palavras em um livro levará você a conhecer, dentro de
seu coração, que tudo isso é fundamental, essencial, indispensável na educação cristã? Você
entende que tudo que você faz ou poderá fazer será inadequado e inútil se você não criar na
sua classe um companheirismo estreito? Talvez você possa compreender meu dilema. Não
confio no poder das palavras e idéias sozinhas; elas nunca vão modificar comportamento,
nem as minhas próprias palavras e idéias. Reconheço perfeitamente que se você já não teve
ou se não está tendo uma significativa experiência comunitária em um grupo cristão, você
nem poderá compreender o que estou querendo dizer. Não terá nenhuma reação emocional
às palavras nessas páginas e, se não puder sentir a verdade aqui, minha discussão
permanecerá meramente acadêmica, algo que poderia fazer se tivesse o tempo, a vontade, a
força e as condições favoráveis. Tal conclusão está longe do meu alvo.
Se você nunca teve a experiência feliz de participação profunda (veja o primeiro
capítulo desse livro), então deveria procurar tê-Ia. Muitas igrejas têm grupos pequenos
chamados por diferentes nomes, que se reúnem durante a semana na igreja ou nas casas
dos membros. São compostos de gente que cresce em suas convicções e interesses.
Converse com seu pastor sobre isso. Se sua igreja não tem tal grupo, quem sabe você possa
achar alguém que queira iniciar essa experiência junto a você.
Outras ocasiões que provavelmente providenciarão experiência de participação no
sentido que uso a palavra serão cursos de liderança, treinamento de obreiros, conferências e
congressos educacionais. Nesses, grupos sinceros adultos vivem, estudam e adoram em
conjunto por um período de treinamento.
Se você procurar o companheirismo do povo de Deus, o encontrará. E, achando-o,
verá seu trabalho na igreja como oportunidade de estender a comunidade, de espalhar as
Boas Novas. Seu ensino será conversar com as pessoas amigas sobre Deus; será viver e
trabalhar com elas de tal maneira que elas cheguem a conhecer Deus por intermédio de você.
Seus alunos e alunas se tornarão membros uns dos outros na comunidade cristã.
Vejamos, novamente, a pergunta que encaramos no fim do segundo capítulo. Como
você pode fazer de uma dúzia de alunos e alunas diferentes e dispersos um grupo amoroso,
que providencie para cada membro o senso profundo de "participação"? Até agora discutimos
o processo pelo qual a classe se torna grupo, e como é que sua vida em conjunto torna-se
cada vez mais significante ao passo que elas se vêem como parte da casa de Deus e
procuram fazer sua vontade. Ainda temos que pensar sobre o amor.
Será possível as pessoas na igreja crescerem no amor?
Para você pensar
1. É bem possível que todas as organizações ofereçam participação nominal a algumas
pessoas e participação, que é profundamente pessoal e significativa a outras. A razão se
encontra nos próprios membros. Algumas pessoas estão contentes em ser membros
nominais; não querem se envolver. Outras assumem responsabilidades quando se tornam
membros. Querem tomar parte ativa nos planos e decisões. Conhecem os alvos do grupo e
por esses trabalham.
Você poderá determinar o significado de sua participação em qualquer grupo se
perguntar a si mesmo quanto de si você dá. Quanto mais você der, mais significado o grupo
terá na sua vida. Pense sobre isso em termos de sua igreja, seu partido político, seu clube
social, sua escola.
2. Leia 1 Coríntios 12:4-26. Aqui Paulo assemelha a igreja ao corpo de Cristo, ao corpo
humano. Uma classe da Escola Dominical, como parte do corpo de Cristo, deveria também
possuir o relacionamento de interdependência entre seus membros. Como pode você,
educador (a), ajudar para que tal relacionamento desenvolva-se?
3. As práticas descritas nesse capítulo são boa psicologia e boa didática. Mas se alguém lhe
perguntasse "Que tem isso com o Cristianismo?" Que é que você responderia?
4. Pense sobre as seguintes afirmações. Estão certas ou erradas?
a)Não se pode tornar cristão verdadeiro sozinho.
b)Não se pode tornar cristão verdadeiro apenas por sentar
e pensar sobre as crenças do cristianismo.
Se você concorda ou não concorda com as idéias, explique seu ponto de vista.
5. Planeje um culto para a idade com que você trabalha que seja "celebração" e
agradecimento por homens e mulheres de coragem.
6. Pense e anote sobre algumas experiências, por meio das quais os alunos de sua classe
possam chegar ao conhecimento de necessidade mútua e de participação mútua.
7. Pense sobre os males, as dores, as injustiças de sua comunidade. Lembre-se de que, por
mais pobres e necessitados que sejam seus alunos e alunas, sempre há alguém, por perto,
que tem problemas piores. Planeje maneiras concretas de você e seus alunos e alunas
começarem a aliviá-los.
MÉTODO É CONTEÚDO
4.
MÉTODO É CONTEÚDO
A maneira pela qual alguém aprende sobre Cristianismo faz
o Cristianismo verdadeiro ou falso para ele
Recentemente, ao ler o relatório de uma conferência sobre educação científica,
encontrei a seguinte afirmação:
"É mais fácil um homem aprender a física por comportar-se como físico do que de
qualquer outra maneira. Esta 'outra maneira' geralmente envolve o
conhecimento... por linguajem intermediária das conclusões de uma série de
questões intelectuais, ao invés de concentrar-se nas questões como tais”.
Os educadores científicos estão afirmando que uma pessoa na escola aprende a física
com mais facilidade por estar em uma situação onde ela tem que se comportar como física,
do que por sentar em uma carteira e estudar os relatórios das teorias e experiências de
outrem. Ela aprende por desenvolver a experiência, ela mesma, talvez imperfeita ou até
erradamente; ela não aprende por ler um livro que discute a experiência ou a descreve, nem
por ouvir sobre ela, e nem tampouco por assistir uma demonstração de seu professor (a):
A mim parece que essa afirmação se aplica igualmente ao nosso caso: aprender a ser
Cristão. Tenho a idéia de que em nossas igrejas, estamos gastando muito tempo na
"linguagem intermediária": discutindo o sentido de Cristianismo, aprendendo as conclusões de
outrem, ao invés de nos colocarmos em situações nas quais seria possível praticá-lo e
descobri-los por nós mesmos.
Para tornar-se Cristão, é imprescindível agir como Cristão. Crianças criadas em lares
cristãos, onde os familiares se comportam como Cristãos, provavelmente se tornarão Cristãos
adultos. Por outro lado, crianças cuja experiência principal dos Cristianismos foi ler, ouvir e
falar sobre credos e práticas, moralismos e ensinamentos podem crescer sabendo muito de
sua estrutura e pouco de sua vida. Podem saber o que diz o Cristianismo e revelar pouco
daquilo que Cristianismo faz, do pensamento e ação, do sentimento e emoção cristãos. E tão
impossível "aprender" Cristianismo (isto é, tornar-se Cristão) por estudar a linguagem
intermediária, quanto é impossível aprender a física (isto é, tornar-se físico) por esse caminho.
Mas, ensinar uma "linguagem intermediária" é bem mais fácil, mesmo que seja
maçante. Providenciar situações em que as crianças aprendam a viver o Cristianismo é muito
difícil. Freqüentemente não há em nossas igrejas atividades especificamente cristãs das quais
possam participar, nem existem sugestões nas revistas da Escola Dominical. Então? Que
faremos?
Oportunidades de agir Cristãmente
O que nós, os professores e professoras da Escola Dominical, precisamos fazer é
inventar, descobrir, ou até criar oportunidades pela atividade cristã no percurso do ano.
Quando sua classe está discutindo seus alvos, seu programa, seu projeto, suas atividades
para o verão, ou natal, ou a próxima unidade, precisará de sua ajuda, de suas sugestões. Eis
a sua chance! Sabendo que sua classe dentro em breve estará escolhendo alvos ou
planejando atividades, você terá que descobrir algumas possibilidades. Explique o que sabe,
exponha o que você descobriu, demonstre suas idéias.
Na subseqüente discussão, a classe pode considerar várias possibilidades, diferentes
projetos e diversas atividades. Então terá que determinar qual é o mais importante, qual é o
mais possível e por que deveria tentar qualquer um deles.
É possível que seu projeto até chegue a interessar ou estimular a imaginação da igreja
toda e a evocar uma resposta generalizada. Existem possibilidades no trabalho geral da Igreja
(o plano de missões, por exemplo) ou, ainda, no nível regional. Mas nesse momento da nossa
história, as maiores necessidades são as individuais ou comunitárias. Um projeto que estimula
o interesse de jovens e adultos, de crianças e velhos, demonstra dramaticamente que a
"participação" passa dos limites de idade ou de classe. Inclui a igreja toda. Melhor ainda, inclui
toda a Cristandade.
Este processo de considerar as necessidades humanas e determinar algo a respeito
delas é o verdadeiro comportamento cristão. Cristãos possuem ou deveriam possuir antenas
afinadas aos gritos de sofrimento, frio, fome, dor, no mundo em que Deus nos colocou. Não
respondem às necessidades humanas porque devem fazê-lo, mas porque têm que fazê-lo.
São formados nesse modelo: sua natureza é essa. As lágrimas de qualquer pessoa são as
nossas lágrimas; o sofrimento dela é o nosso sofrimento; sua aflição é nossa; sentimos sua
dor, isto porque ela é nossa irmã. Deus é pai dela e nosso. Somos da mesma família. O amor
com que Deus nos amou, nós o estendemos para ela. E assim testemunhamos o cuidado e o
amor divinos. Esta é uma maneira de comportar-nos como Cristãos.
Há outro caminho. Relaciona-se com nossas atitudes e ações uns para com os outros
em todos os momentos de todos os dias: o procedimento do pai e da mãe para com os filhos
e filhas e de filhos ou filhas para com seus pais; a atitude de marido para com esposa e dela
para com ele; a convivência de vizinhos, uns com os outros; as relações entre colegas de
serviço; a ação de professores (as) em relação a seus alunos e alunas e as que existem entre
alunos e alunas como tais. Relaciona-se com a maneira pela qual todos de nós, individual e
coletivamente tratamos aqueles que nos amam, bem como aqueles que não nos amam.
Veja só! Há uma maneira cristã de relacionar-se com todas as pessoas que vivem
nesse mundo; e há uma maneira não cristã. Nós vacilamos: às vezes agimos como Cristãos;
às vezes, não. Geralmente nem sabemos por quê.
Atitudes determinam comportamento
Nosso procedimento com outras pessoas é determinado por nossa "visão" delas, isto é,
a maneira que as enxergamos, nossos sentimentos e estima para com elas, e, ainda por
nossa "visão" de nós mesmos, se nos sentimos competentes, dignos, valiosos na vida delas.
Ambas as imagens ou percepções estão presentes e influenciam todas as relações humanas.
Vejamos: se você pensa que um velho que você conhece contribuiu muito para a
sociedade em que vivia, que possui a sabedoria de uma vida frutífera, e que essa sabedoria
pode ajudar a alguém na vida de hoje, você inevitavelmente o tratará de maneira a revelar
essa atitude. Ouvirá o que ele diz, pedirá dele conselhos; ajuda-lo-á a manter relação atual de
serviço e utilidade à sociedade de que faz parte. Mas se você sente que alguém de sessenta
e cinco anos já teve sua chance, que ele deve entregar o volante para outro e até ceder seu
lugar no carro para os mais novos, então você agirá para com ele de acordo com essas
convicções (embora seu comportamento possa não ser intencional). Tratamos as pessoas de
acordo com nossa avaliação delas.
E ainda, como é que você se vê em relação a este velho? Se você pensa que ele lhe
dá valor, que julga você competente e adequado, que ele aprecia as relações mútuas, então
sua tendência será estimá-lo, valorizá-lo. Por outro lado, se você se sente rejeitado, criticado,
dominado, inadequado no relacionamento, tenderá a subestimá-lo e a rejeitá-lo.
Fundamentamos nosso procedimento com os outros não somente em nossa avaliação deles,
mas igualmente em nossa avaliação de nós mesmos.
Ou, então, outro exemplo: uma criança de qualquer idade com quem você tem
convivência ou que você ensina. Se você (o pai ou a mãe dela, ou a avó, ou um professor)
percebe que a criança é cooperativa, alegre, obediente, estável, ela realiza suas expectativas
e com isso aumenta a idéia que você tem de si mesmo, em seus próprios olhos. Você deve
ser um "bom" pai, mãe ou avô, avó ou professor (a), porque você tem uma "boa" criança. O
relacionamento é totalmente satisfatório.
Mas, se você considera a criança rebelde, agressiva, difícil, um "problema", então ela
diminui a avaliação sua de si mesmo. Deve ser que você falhou de alguma maneira, em
algum tempo: no final das contas sua criança se comporta erradamente! Se nesse atual
momento, agora, hoje, você está envolvido nesse nível com alguma criança, tenho absoluta
certeza de que está se sentindo angustiado.
Em nossos relacionamentos, quaisquer que forem, nossas percepções e atitudes para
com a outra pessoa, criança, juvenil, jovem ou adulto, e para com nós mesmos resultará em
diferentes maneiras de lidar com os outros e de ensiná-los. Às vezes, sem querer,
estabelecemos um clima que produz resultados bem diferentes dos que esperávamos.
Aprendizagem pode ser negativa
Uma professora do departamento primário da minha igreja, Dona Isabel, ensinava à sua
classe a parábola do filho pródigo. A classe estava preparando uma dramatização da parábola
que seria apresentada aos pais e mães no Dia da Escola Dominical.
Tudo corria bem, dentro dos limites das crianças da classe, até chegar ao ponto onde o
pai correu para encontrar com seu filho que vinha chegando na distância. Joãozinho, que
tomava o papel do pai, não trabalhava bem. Dona Isabel, tentando ajudá-lo, conversou com
ele sobre os sentimentos do pai, as possíveis ações dele em tal situação, o que ele diria.
Tentaram a cena novamente. Piorou! Joãozinho essa vez interpretou a cena de maneira muito
exagerada: se tornou ridículo. O "filho pródigo" sorriu; o "filho mais velho" deu risadinhas
abafadas; as outras crianças caíram nas gargalhadas. Dona Isabel ficou aborrecida, embora
procurasse esconder seu sentimento. Se fosse apresentar a peça dessa maneira, que opinião
teriam os pais e mães sobre seu trabalho como professora? Conversou seriamente com os
alunos sobre a importância do empreendimento e a necessidade do esforço de cada um e de
todos. O último ensaio foi desastre total. Joãozinho fez tudo que pode para atrapalhar. Dona
Isabel tirou-o da peça, deu o papel para outro menino, e ensaiou com este em particular antes
da apresentação.
Joãozinho não apareceu na hora da apresentação. De fato, durante o restante do ano
veio à Escola Dominical pouquíssimas vezes. Sua mãe explicou que o menino parecia
precisar dormir. No final das contas, ele estava crescendo muito!
Jesus contou a parábola do filho pródigo para demonstrar o amor constante e o perdão
assegurado de Deus. Joãozinho aprendeu, quando trabalhava com a parábola, que sua
professora não o aceitava; portanto a igreja o rejeitava e, como resultado, até Deus não
gostava dele. Não teve experiências de amor, nem de compreensão, nem de perdão. João
realmente não conseguiu se colocar no lugar do pai - não pôde sentir seus sentimentos.
Tentou, mas não conseguiu. Sentiu-se tolo ao chorar no ombro de um outro rapaz e dar-lhe
beijos. E, sentindo-se tolo, comportou-se como tolo. As crianças todas perceberam o
problema, mas não podiam solucioná-lo. A professora parecia não compreender. Joãozinho
decidiu que a professora não gostava dele.
Diferentes pontos de vista
Nesse episódio, qual foi a visão que a professora tinha de Joãozinho? Qual foi sua
visão de si mesma? E como poderia ela ver os acontecimentos de maneira diferente?
Seria injusto dizer que Dona Isabel não gostava de Joãozinho ou que tinha qualquer
preconceito contra ele. Eu a conheci intimamente e nunca vi nenhuma evidência de antipatia
para com nenhum de seus alunos.
O fundamento do problema se encontra na interpretação dos sentimentos e ações de
um pai cujo filho era extravagante, desobediente e rebelde. Dona Isabel, sendo mãe, mais
velha, mais experiente que João, tinha na sua mente uma idéia do reencontro jubiloso e, ao
mesmo tempo, choroso. João era demasiadamente limitado por sua idade, sua experiência, e
por seu entendimento das palavras como tais. Ao mesmo tempo estava altamente consciente
da presença e possível crítica de seus colegas.
Dona Isabel não compreendia o que a história significava ou não significava a João. Ela
entendia seu pensamento particular e atribuía aos meninos do primário sua própria avaliação
da história. Compreendia a representação de Joãozinho como sendo frívola, descuidada ou
propositalmente absurda e imprudente.
E sua visão de si mesma? O fato de que o aluno não correspondia a suas expectativas
estava lhe ameaçando. Receava que os pais e mães julgassem a dramatização como sendo
sem importância, não possuindo valor. E então poderiam pensar que ela, a professora, fosse
pobre, fraca, sem recurso, sem valor. E como conseqüência poderiam concluir que a Escola
Dominical fosse pobre, desnecessária, que não mereceria o esforço por parte deles de
mandar as crianças todo domingo. Assim, havia muito em jogo nesse programa e como
resultado a professora sentia que tinha que se sair bem. Ela tinha suas normas, seus padrões.
João não os correspondeu. Como resultado, bondosamente, para o bem de todos, ela o
rejeitou. Querendo ensinar bem e impressionar os pais e mães do valor da Escola, e zelando
transmitir corretamente os fatos de uma história fictícia, a parábola, ela acabou ensinando
uma negação clara do significado verdadeiro da parábola. As crianças nada aprenderam
sobre o comportamento cristão.
Então? Que deveria fazer?
Em primeiro lugar, ela poderia, e deveria, tentar compreender os sentimentos de
Joãozinho ao representar seu papel. Ela não descobriu que João estava fazendo o melhor
possível nas circunstâncias de ensaio insuficiente e de compreensão limitada do filho pródigo.
Como professores (as) geralmente julgamos nosso trabalho como sendo o melhor possível
nas circunstâncias em que nos encontramos. Infelizmente não julgamos o trabalho dos alunos
e alunas pelo mesmo padrão.
Se ela tivesse respeitado Joãozinho como um membro responsável da classe, e se
tivesse aceitado sua representação como a melhor que ele poderia produzir, então restava a
ela descobrir por que o resultado estava tão diferente daquele que desejava. Seria possível
que, igual a João, todas as crianças se sentissem inapta? Para os alunos, a situação era
irreal?
Qual foi o problema nesse acontecimento? E como corrigir o erro? Primeiramente, não
tenho dúvidas de que uma atitude de aceitação e respeito para com as crianças, e um desejo
real de compreender o seu mundo produziria resultados muito diferentes no relacionamento
entre Dona Isabel e Joãozinho, entre João e seus colegas, e entre a professora e sua classe
em geral.
Coisinhas pequenas, tais como o "auxílio" que Dona Isabel prestou para João, não se
perdeu na classe. Alguns pensavam, "Que bom que não fui eu!" E resolveram em seus
corações nunca voluntariar-se para qualquer tarefa onde se encontrariam no lugar de João:
sozinho e sem defesa perante a professora. Outros pensavam, "Dona Isabel não deu nenhum
valor para Joãozinho. Concordo com ela: ele não tem valor mesmo. Então posso rir dele,
zombá-lo. Que bom! Hoje a classe está menos maçante que nos outros domingos”.O melhor
amigo de João e mais algumas crianças pensavam, "Dona Isabel é injusta e grosseira. Ela
está maltratando João. Não gosto dela”.
Dona Isabel errou de outra maneira ao usar a dramatização criativa para ensinar a
parábola do filho pródigo. A dramática criativa é uma maneira de envolver as crianças em uma
idéia ou experiência de tal maneira que elas descubram por si mesmas seus próprios
sentimentos, sentidos, e significados. Dona Isabel já descobrira o sentido da parábola, que lhe
parecia correto e ela tentou levar as crianças a demonstrarem suas idéias, ao invés de
descobrirem as suas próprias. Elogiou e apoiou as crianças que corresponderam as suas
expectativas, embora suas representações possam ter sido inautênticas, não resultados de
seus próprios sentimentos ou compreensão. O comportamento autêntico e honesto de João,
que demonstrava claramente sua falta completa de interesse e compreensão da idéia e do
fato do perdão, este para ela era indigno e desprezível. Para todos os efeitos ela aceitou e
elogiou o fingimento e a ostentação e rejeitou o sentimento honesto.
Qualquer relacionamento inicia-se limpo, sem impedimento, na estaca zero. Nossas
atitudes para com uma outra pessoa influenciam nosso relacionamento com ela, até mesmo
antes de falar uma palavra sequer, ou fazer uma só coisa. O que acontece depois influencia,
por sua vez, nossas atitudes para conosco mesmos. Aqueles que estimamos nos elevam. Se
você respeitar, apreciar, escutar, e compreender seus alunos, eles responderão de maneira a
aumentar sua própria confiança e habilidade. Aqueles que depreciamos nos diminuem. Se
você oferecer para a classe só um pouco de si, de seu tempo, de seu espírito, suas
convicções, sua compreensão, eles lhe devolverão menos ainda. E você, como resultado, se
sentirá cada vez menos adequado. Você se considerará somente um professor, e um que
nem é muito bom! No final das contas, a classe, que para seus alunos e alunas é a igreja, não
terá nenhuma importância para nenhum de vocês.
Método e Conteúdo
No final das contas, a maneira pela qual você ensina seus alunos e alunas na igreja
constituem o que você ensina-lhes. Se eles experimentarem o amor, compreensão, respeito e
perdão nas relações com você, irão compreender essas palavras em termos de
comportamento e sentimento. Irão associar um certo tipo de ação e emoção com a igreja e
com a palavra "cristão". Irão saber o que é a vida cristã. Tendo oportunidade de trabalhar e
brincar, de estudar e orar, de planejar e executar atividades em conjunto, cada vez mais irão
tratar uns aos outros com o respeito e consideração com que você os trata. As palavras do
Cristianismo, amor, reconciliação e perdão, terão um significado além do verbal, porque os
alunos experimentaram as palavras. Viram-nas em ação. Receberam de você o amor e o
perdão. Por sua vez passa-la-ão para adiante.
O amor é o método usado pelos Cristãos. Ao mesmo tempo o amor é o conteúdo da fé
que tentamos ensinar. Uma classe na Escola Dominical, um coral de crianças, um
acampamento de jovens, uma sociedade de mulheres, uma reunião da junta dos ecônomos, e
certamente um lar cristão, todos esses deverão ser fábricas que geram o amor e o exportam
para o mundo inteiro. Somente por ser Cristão, intimamente envolvido nesse amor, é que uma
pessoa aprenderá a ser Cristão. Para tornar-se Cristão, ou físico, é necessário viver como tal.
Respondemos assim à pergunta do capítulo anterior. É inteiramente possível em uma
classe na Escola Dominical que as crianças aprendam o amor, se é que têm um (a) educador
(a) que sabe demonstrar o amor por amar.
Para você pensar
1. Explique para um novo professor, em sua igreja, a maneira pela qual o método de ensino
se torna o conteúdo que está sem· do ensinado.
2. Procure ilustrações da afirmação "Aqueles que estimamos nos elevam; aqueles que
depreciamos nos diminuem”.Encontrará exemplos em todas as relações humanas: pais-filhos,
esposas-maridos, irmãos-irmãs, amigos-amigas, colegas no serviço, vizinhos entre si.
3. Às vezes é impossível nós estimarmos ou apreciarmos, ou gostarmos de uma pessoa. Por
quê? Que poderíamos fazer para solucionar tal problema?
DO ENSINAR E DO APRENDER
5.
DO ENSINAR E DO APRENDER
O que for realmente aprendido terá um significado profundamente pessoal.
É bem possível que o material que você está usando na Escola Dominical agora não
diga uma palavra sequer sobre a maneira de ensinar gente a amar a Deus e a amar uns aos
outros. Os objetivos das lições provavelmente sejam bem mais limitados e mais tangíveis.
Pois têm que ser assim!
Os cursos de estudo apresentados nas revistas da Escola Dominical compõem-se de
fatos e idéias sobre o Cristianismo. Falam da nossa herança judaica, da vida de Jesus, da
história da Igreja Cristã, da vida dos heróis da fé, e dos ensinos e doutrinas da Igreja. O
currículo inteiro, desde o Jardim da Infância até as lições para adultos, é feito para ajudar às
pessoas a crescerem em seu amor para com Deus, e na sua compreensão do amor dos
outros mediante suas experiências na Escola Dominical. O objetivo de qualquer série de
lições é um aspecto desse alvo abrangente, colocado em termos de idéias e conteúdo.
Até agora nesse livro, discutimos a maneira pela qual pessoas aprendem fatos. Um
Cristão que está crescendo na fé necessita saber alguns fatos sobre o povo e a fé de que faz
parte. Como podemos ensinar esses fatos e idéias de tal maneira que as pessoas aprendam,
ou melhor, de tal maneira a dar aos fatos significado na vida dessas pessoas, a fim de que
essas vidas tenham direção e propósito?
Não conheço nenhuma mágica que faça isso. Já experimentei muitos métodos com
diferentes idades de alunos. Alguns davam certo; outros não funcionavam. Um ano era
professora de trinta crianças do quinto e sexto anos. Um domingo de primavera fiz o melhor
que pude e, francamente, julguei que a lição estivesse muito boa. Querendo saber a opinião
dos alunos, perguntei ao meu filho que era membro da classe. Ele me olhou bem no olho e
me respondeu com agudeza e uma honestidade ingênua: "Bem, mamãe, você sabe como é.
Pode levar o cavalo à água, mas não pode forçá-lo a beber”.
É verdade! E eu sei que é verdade. Eu achava que meus "cavalos" estivessem
bebendo. Pelo menos um deles não estava!
Não é possível forçar alguém a aprender nada. Em tempos passados se pensava que
fosse possível. Quando minha mãe era criança, no princípio desse século, muitos professores
batiam nos alunos, ameaçavam-os, ridicularizavam as crianças e as depreciavam numa
tentativa de ensiná-las a ler, escrever e fazer contas. A punição forte não deu muito resultado.
As crianças geralmente saíram das escolas o mais cedo possível.
Cada indivíduo tem que aprender por si mesmo. O máximo que o educador pode fazer
é introduzir o problema ou a idéia, utilizando o maior número possível de estratagemas e toda
a labilidade que possui. Você procura envolver seus alunos e alunas em uma carreira a ser
corrida, da mesma maneira que eu procuro envolver você em um novo entendimento do
ensino da Escola Dominical. Você usa todos os métodos vívidos, ativos e interessantes, que
você possa inventar para descrever a carreira e o galardão no seu final. E então partem!
Alguns caem fora na primeira rodada. Outros – e isto é triste – nem entendem que há carreira.
Semanalmente pode parecer que estejam entrando na fileira, mas nunca tomam o primeiro
passo. Tornam-se espectadores da corrida do professor, não participantes de uma que é
deles.
Ou, pensando de outro modo, poderíamos assemelhar nosso ensino a um banquete
maravilhoso que você prepara. Você coloca na mesa as louças mais finas, os talheres mais
elegantes e enumeráveis pratos lindos e saborosos. Convida as pessoas presentes a se
servirem. Mas, mais do que isso você simplesmente não pode fazer. Cada um tem que
colocar no seu prato, de acordo com seu desejo pessoal, pouco ou muito da comida que você
preparou com tanto carinho. Se alguém não estiver com fome, ou se estiver passando mal e
por isso precisando apenas chá e torradas, talvez nem se aproxime da mesa. Possivelmente
saia da festa bem cedo. E, conhecendo o tipo de jantar que você serve, provavelmente nem
aceite convites futuros.
Isto nos leva novamente ao princípio discutido no Capítulo III. Uma pessoa aprende
melhor se ela tiver participado de algumas decisões reais e importantes a respeito do
conteúdo ou do método, ou de ambos. Se nós, educadores (as) conseguíssemos trabalhar
dessa maneira com nossos alunos e alunas, saberíamos nos preparar bem melhor para
nossas aulas. Reconheceríamos que certos pratos estão fortes demais ou muito exóticos para
convidados acostumados a uma dieta simples. Saberíamos que às vezes um cafezinho com
bolachas é bem mais apropriado do que um jantar elegante e prolongado.
O aprender é processo
Há um processo no aprendizado, um movimento que tem princípio, meio e fim. É bom
saber o processo para que saiba onde estão seus alunos e alunas na sua aprendizagem e
quais deveriam ser os próximos passos.
ENVOLVIMENTO é o primeiro passo no processo da aprendizagem. Isto significa que o
aprendiz participa ativamente na sua educação. Ele não apenas senta passivamente
enquanto o professor derrama palavras e idéias sobre ele, nem só brinca com lápis de cor, e
nem tampouco só fabrica um aviãozinho de papel. Ele pessoalmente está afetado; há algo
dele em jogo; ele quer saber.
É nessa primeira fase da aprendizagem que muito do nosso ensino fraqueja. Os alunos
e alunas não aceitam a responsabilidade por seu próprio desenvolvimento. Dizer-Ihes que
deveriam se colocar no processo geralmente não os leva a fazê-lo.
Como e por que as pessoas se envolvem? Por que é que uma classe qualquer, alguns
alunos e, alunas aprendem e, outros nada fazem? Eis algumas: das razões.
(1) As pessoas aprendem o que precisam aprender. O aprendizado preenche uma
necessidade identificada pelo aluno. O educador pode perceber que o aluno possui certas
carências, mas até que o aluno reconheça o fato, ele não participará ativamente da sua
aprendizagem. Rapazinhos do quinto ou sexto ano, que estudam uma matéria chamada
"Eletricidade", programada pelo governo numa tentativa de colocar nosso currículo escolar
mais perto da vida diária dos alunos, raramente sentem a necessidade de saber fazer uma
ligação elétrica ou de concertar uma luminária defeituosa. Nunca são chamados para acertar
problemas elétricos em suas casas. O problema é ainda maior porque "para aprender
eletricidade, precisa-se viver como eletricista", enquanto nossos professores estão usando a
"linguagem intermediaria". (Veja o capítulo 4) Esses mesmos rapazes, no entanto, alguns
anos depois, compram livros e revistas e consultam especialistas, ou até fazem cursos sobre
eletricidade porque nas suas próprias casas defeitos sempre se apresentam e um profissional
cobra muito para consertar. Agora sentem que precisam, e então procuram aprender.
Alunos e alunas que saem da escola sem completar seus cursos, geralmente o fazem
porque não percebem qualquer relação entre aquilo que a escola está ensinando e aquilo que
eles e elas precisam saber. Quase tudo que acontece na escola é irrelevante à sua vida atual
e possivelmente, ao seu futuro.
Se você está enfrentando o problema de conseguir interessar seus alunos e alunas nas
lições que está apresentando, seria vantagem parar e se perguntar: Será que eles e elas
acham que precisam disso? E até possível que nem você precisasse desse conhecimento até
que tivesse que apresentá-lo a sua classe!
(2) As pessoas aprendem o que lhes tem significado. Idéias ou fatos que explicam ou
interpretam experiências pessoais, observações enigmáticas, ou relações confusas, esses
serão buscados com interesse. Estudos das ciências naturais que utilizam demonstrações e
experiências sobre ar, água, metal, solo ou temperatura podem facilmente adquirir sentido
para alunos e alunas de qualquer idade. Mas é bem mais difícil trabalhar com uma classe no
estudo das parábolas de Jesus de modo a dar-Ihes significado no contexto em que os alunos
e alunas vivem. E parece-me quase impossível dar sentido em qualquer idade à memorização
dos livros da Bíblia!
Uma segunda pergunta que você deve fazer sobre seu ensino é esta: Qual significado
tem essa lição para meus alunos e alunas? São eles e elas capazes de perceberem nela
qualquer importância para suas vidas?
(3) As pessoas aprendem o que lhes é útil. O sistema métrico baseado em
relacionamentos entre dez, cem e mil, é realmente bem mais fácil do que o sistema que se
fundamenta em polegadas, jardas, milhas, libras e toneladas. Mas não é por isso que nossos
filhos aprendem-no com facilidade. O sistema métrico é o mais fácil para nós, porque o
usamos todos os dias. Nas partes do mundo onde o outro sistema é comumente empregado,
o métrico é considerado difícil e somente os cientistas aprendem-no. Para nossos alunos e
alunas, pelo contrário, o sistema inglês-americano é desnecessário alienado às suas vidas.
Se no segundo ciclo o aprendem, caso cair no vestibular, com igual facilidade o esquecem
logo depois, se é que podemos dizer que realmente o aprenderam.
(4) A maioria das pessoas aprende o que lhes é prazeroso e satisfatório. Quase todos
os nossos passatempos favoritos cabem aqui. Quem coleciona selos, ou faz renda, ou cultiva
orquídeas, ou toca instrumento, ou lê história, ou pinta quadros, ou cria lindas blusas de tricô,
está pronto a passar horas a fio a trabalhar duro no campo de seu interesse, porque esse
trabalho traz-lhe satisfação e prazer. Ao mesmo tempo, estuda a fim de aprender cada vez
mais sobre aquilo que faz, porque deseja o bem estar pessoal de poder trabalhar cada vez
melhor. Em muitas dessas atividades, a satisfação pessoal é a única recompensa pelo gasto
de tempo, força e dinheiro.
Não é fora de comum, crianças "aprenderem" algo, isto é, memorizarem coisas que vão
lembrar por mais ou menos tempo, tal como os nomes dos livros da Bíblia, a fim de ganhar a
aprovação e apoio dos adultos. O "aprender" como tal, talvez não tenha lhes dado prazer,
mas a sanção do adulto deu-Ihes.
A PELEJA é a parte dolorosa do processo de aprendizagem e o ato de observar,
experimentar, pensar, ler, pesquisar. O aluno ou aluna se envolveu no problema e agora está
tentando chegar a algumas conclusões. Quanto mais ele / ela trabalha, mais claro se torna o
problema e mais possíveis soluções ele / ela descobre, considera e abandona. Essa luta pode
durar dez minutos, um período de aula, um mês, ou a vida inteira. Depende do tamanho do
problema, bem como da idade, experiência e inteligência do aluno(a). A solução de um
problema de matemática pode ser encontrado em poucos minutos. A procura de um método
de curar o câncer já gastou a vida inteira de enumeráveis biólogos, patologistas, bioquímicos
e médicos.
Esse período de luta não se passa inevitavelmente à próxima etapa do processo
educativo. Se a pessoa encontrar uma idéia ou alguma informação que ataque ou questione
seu conceito de si mesma, ou suas crenças fundamentais, ou seu sistema pessoal de valores,
a peleja se intensificará. Poderá ela se tornar hostil, ou poderá defender seu próprio ponto de
vista. Ou ainda poderá largar tudo, afirmando que a idéia está completamente errada, ou que
não tem mais tempo de se dedicar a esse estudo. Em todo caso, ela vai sofrer e, no final das
contas, pode não aprender nada. E ela culpa o professor, ou a classe, ou a matéria da lição
como tal.
Aprender é realmente difícil: não devemos subestimá-la. Esse tempo de luta é período
de grandes tensões interiores, de transtorno, de atividade intensa, de avivamento profundo.
Onde não houver problema a ser solucionado, nenhuma habilidade será desenvolvida,
nenhum bem será acrescentado, nenhuma compreensão será possuída. Onde não há tensão,
não se aprende.
Espero, sinceramente, que você se encontre nesse momento na fase de peleja ao
aprender sobre o ensino. Não é que estou desejando-lhe o mal-estar. Muito pelo contrário,
estou me regozijando na nova vida que está à sua frente. É provável que você ainda não
esteja enxergando-a; a peleja sempre é assim! Mas coragem! Não estará para sempre preso
nesse ponto. O que você está sofrendo é o descontentamento divino e até os céus estão
aplaudindo. Escute!
DISCERNIMENTO é a parte do processo de aprendizagem quando a luz se acende,
quando tudo cai no seu lugar, quando finalmente você compreende. De repente toda a
confusão, seu questionamento constante e as meias-respostas que resultaram, se organizam
em novos relacionamentos mais sensatos. Você encontra uma chave que desencadeia os
mistérios; você percebe uma nova organização que une todas as informações anteriores em
um único conceito; de uma vez você vê todos os problemas (antes separados) com novos
olhos que traz uma solução. O conflito acaba.
O momento de discernimento é o momento mais emocionante do processo todo. Ao
mesmo tempo, ele se dirige imediatamente à fase final.
A VERIFICAÇÃO é o ato de testar seu discernimento. Você leva-o à prova; procura
saber se funciona; confere-o por meio de outros fatos conhecidos; determina se a solução que
você encontrou é uma que permanecerá, que agüentará, vez após vez, as contingências do
dia-a-dia.
Como funciona o processo de aprendizagem
Se o discernimento é bom, isto é, se satisfaz a você, está pronto para outro problema.
Se ele não agüenta a verificação, você volta à peleja e repete a segunda fase do processo.
Para ilustrar esse movimento da aprendizagem, tente solucionar esse problema
simples e trivial: faça de seis fósforos de cozinha quatro triângulos eqüilaterais.
Se você não percebe de imediato a solução, então já se envolveu no problema. Arranja
e rearranja os fósforos e o faz outra vez ainda. Você está lutando para descobrir uma solução.
Finalmente, de repente, você vê tudo em termos claros (ou então procura a solução no fim
desse capítulo). Testa sua solução e verifica que está certa. Então continua a ler o capítulo.
A conversão deve ser compreendida em termos do processo de aprendizagem. Pense
em Paulo, por exemplo. Quando ainda jovem, austero, rigoroso, obediente à lei, Saulo, de
alguma maneira se envolveu nos ensinos dos seguidores de Cristo. Alguns eruditos acham
que, ao presenciar o apedrejamento de Estevão, começou a sentir-se perturbado. De
qualquer modo, ele se influenciou profundamente pelos ensinos e pela vida dos discípulos. Na
realidade estes ofenderam-no; suas crenças mais firmes foram atacadas. Ele respondeu por
lutar com toda a sua força, e a peleja começou.
Quanto mais vigorosamente ele seguia e perseguia os Cristãos, mais tensão,
perturbação e confusão, sentia. Quanto mais dos ensinos deles Saulo aprendia, quanto mais
ele percebia sua maneira de viver e de morrer, mais fanático se tornou para preservar a
tradição estabelecida, que era seu próprio pensamento. Mas não se segura para sempre a
Verdade. Deus ainda está dirigindo. Indo a Damasco, soltando ameaças e assassínio,
possuindo ordens de prisão para os Cristãos daquela cidade, tudo de repente parou!
A Bíblia conta que nos dias que ficou cego, que não podia prosseguir sozinho. Alguém
o guiou à cidade onde passou três dias, cego, sem comer nem beber, na casa de um homem
chamado Judas. De Damasco se retirou para o deserto, longe da família, amigos, sinagoga,
lei, onde passou três anos.
Que é que estava fazendo durante esse tempo? Estava orando, pensando, estudando,
comparando os ensinos de Jesus ao pensamento farisaico em que fora nutrido.
Em algum dia durante esses anos, a luta terminou. O discernimento nasceu. Saulo
reconheceu que o chamado de Jesus Cristo que experimentara, estava certo e verdadeiro.
Esta era a vontade de Deus para a sua vida. Saulo se tornou Paulo e passou o restante de
sua vida testando e comprovando a verdade desse discernimento, de seu chamado.
A conversão é um aprendizado. Sabendo isso, você perceberá o papel importante que
você tem na vida de seus alunos e alunas.
Há outras descrições funcionais da aprendizagem que deverão ajudá-lo e que veremos
no próximo capítulo.
Para você pensar
1. E evidente que o trabalho da Escola Dominical deve ser duplo: ensinar sobre Cristianismo e
ensinar Cristianismo. Até onde seu trabalho, com sua classe, na sua igreja faz isso? Que
poderia você fazer para alcançar o duplo propósito?
2. Se pessoas aprendem fatos por meio de um processo definível, esse processo aplica-se a
uma parte da nossa tarefa: a de ensinar sobre Cristianismo. Envolvimento peleja,
discernimento, verificação têm que estar presente se as pessoas aprendem. Onde é que o
processo está falhando em sua classe?
3. Pense sobre sua conversão. Identifique as quatro fases (envolvimento, peleja,
discernimento, verificação) em sua própria experiência.
4. Se a conversão é um aprendizado, e se um dos alvos ou funções da Igreja é a conversão,
nossa tarefa como educadores (as) é evidente. Na sua classe, você está realizando esse
alvo? Se não, por quê?
CHAVE PARA A SOLUÇÃO DO PROBLEMA DOS FÓSFOROS: Pense em termos tri-
dimensionais. Tente a geometria sólida ao invés da plana. Faça uma pirâmide.
MAIS SOBRE O ENSINAR E O APRENDER
6.
MAIS SOBRE O ENSINAR E O APRENDER
A aprendizagem verdadeira ocorre quando umapessoa encontra as respostas a suas própriasquestões pessoais.
Há algumas descrições funcionais do processo do aprendizado que talvez ajudem você
nesse ponto de seu estudo.
Aprender é descobrir
Ensinar não é divulgar; aprender não é armazenar fatos, nem mesmo fatos cristãos. A
pessoa que realmente aprende é a pessoa que está à procura de alguma coisa. (Talvez seja
por isso que os professores geralmente aprendem mais do que seus alunos.) O aprender
verdadeiro consiste no encontrar respostas satisfatórias às questões reais do aluno, não do
professor, nem de ninguém mais. O que você aprende desse livro será aquilo que você quer
aprender, aquilo que você precisa aprender, nunca aquilo que eu, ou seu educador (caso
esteja usando o livro em um curso organizado de estudos) acha importante.
Ninguém aprenderá algo de grande significado na Escola Dominical, nem em outra
parte do programa da igreja, a não ser que esteja à procura de algo de grande significado. A
pessoa que aprende sempre tem alguma coisa em jogo; ela se dá à busca; ela se arrisca no
empreendimento; ela utiliza todas as suas habilidades, recursos, talentos, e imaginação para
alcançar seu alvo.
O trabalho do (a) educador (a), então, é ajudar seus alunos e alunas a: (1) esclarecer o
que precisam saber; (2) encontrar um método a ser usado na descoberta.
A classe, como grupo, tem que ter a oportunidade de tomar decisões reais em ambos
desses campos ou processos. Aprender é muito pessoal; nenhum (a) educador (a) pode
saber exatamente o que é importante para seus alunos e alunas. Porque compreende, em
termos gerais, as preocupações e as tarefas progressivas da idade que ele (a) ensina (criadas
por seu desenvolvimento físico, social, intelectual, moral e religioso) pode ajudar com certa
sabedoria na tarefa de estabelecer alvos e métodos para o aprendizado. Mas não pode tomar
as decisões sozinho.
Nem sempre pode o (a) educador (a) saber, mesmo estabelecidos os alvos e métodos,
o que os alunos e alunas irão aprender. Isto porque cada pessoa percebe um alvo ou um
problema diferentemente dos outros. Portanto, a aprendizagem é diferente, distinta para cada
aluno e aluna.
Se você realmente aceita essa descrição do aprendizado, e é bom saber de início que
a maioria dos teoristas no campo de educação a aceitam, então é bem possível que você
esteja cada vez mais preocupado sobre a maneira eficiente de fazer a apresentação da
matéria de sua revista. Sua luta intensifica-se.
Talvez você pense que as indagações ou problemas levantados na unidade atual são
do (a) escritor (a), do educador (a) não dos (as) alunos (as); que as respostas estão sendo
fornecidas, dadas gratuitamente, não descobertas; que o processo de aprendizagem implícito
no estudo é somente a cooperação passiva do aluno em atividades dirigidas pelo professor. E
você já sabe que esse processo nunca leva um ser humano a ser cidadão responsável em
uma democracia, nem tampouco Cristão ardente num mundo não cristão. Um programa
estereotipado que se desenvolve apenas pela submissão do aluno / aluna e a complacência
por parte do professor acaba desenvolvendo a submissão, a irresponsabilidade, a moleza de
conduta.
Examine sua unidade atual novamente. É possível que seu entendimento do conteúdo
se fundamente em suas idéias antigas sobre o processo de aprendizagem, sobre a maneira
pela qual as pessoas se tornam Cristãs. Se estudar a revista de novo agora, com idéias
diferentes sobre o aprender e o ensinar, e sobre o crescimento cristão, talvez descubra que a
matéria na revista é bem mais válida do que você pensou. Se não, utilize as idéias da revista
com seu novo entendimento e desenvolva, junto com seus alunos e alunas, claro, sua própria
apresentação. Irá comprovar, de uma vez e para sempre, que aprender é descoberta pessoal,
tanto para você, quanto também para seus alunos e alunas.
Aprender é organizar
Um problema no que chamamos de "educação" é que o aprendiz não consegue
perceber um relacionamento constante e construtivo no conteúdo vasto da matéria que
estuda, lê ou discute.
Sabemos que o conhecimento forma uma unidade; fatos têm que ser relacionados uns
aos outros. A matemática, por exemplo, é tão essencial para a música como a arte para as
ciências; a verdade, a beleza, a bondade fazem parte do conhecimento; nem um nem outro
existe à parte da vida.
As pessoas que ensinamos talvez não tenham um entendimento tão abrangente. Uma
das tarefas de quem está educando é ajudar os alunos e alunas a encontrarem ou
estabelecerem a estrutura em que o novo conhecimento irá caber. Esquecimento não é
realmente a não-lembrança, e sim a incapacidade de recordar ou de fazer voltar à mente fatos
conhecidos. O que se aprendeu não foi colocado em uma estrutura significativa, e assim
desapareceu da mente.
Muito do ensino na igreja e na escola é realizado sem pensar na estrutura em que
aquilo que se prende tem que caber. Que desperdício de tempo, esforço e dinheiro!
Memorizar fatos como tais ou só pelo exercício de memorização não tem nenhuma virtude!
Por exemplo: a Austrália, que é mais ou menos do tamanho do Brasil, tem uma
população de cerca de duas pessoas por quilômetro quadrado. O quilômetro quadrado em
São Paulo tem quase cinco mil pessoas. A população do Amazonas deve ser mais ou menos
igual à da Austrália.
Esses fatos são importantes se têm significado para você. Talvez se relacionem a um
entendimento da explosão demográfica no mundo de hoje; ou a um interesse e ansiedade
pelos problemas de nossas cidades prodigiosas, esquálidas, apertadas; ou a uma curiosidade
pessoal sobre Austrália; ou a uma viagem ao Amazonas, isto é, a alguma estrutura
organizada de significados em sua mente. Outrossim, não têm nenhum valor para você. Se
não relacionarem dessa maneira a outros conhecimentos ou interesses seus, se perderão e
não poderão ser recordados. Fatos e idéias serão aprendidos e repetidos somente se forem
compreendidos à luz de outros fatos e idéias já possuídos, isto é, se couberem dentro de uma
estrutura já constituída.
Pessoas podem, por repetição mecânica ou por memorização sem compreensão,
armazenar alguns fatos que, quando necessário podem ser produzidos e exibidos. Mas não
permanecem. Conhecimento armazenado, como peixe fresco, não perdura (Foi Alfred H.
Whitehead que disse isso! Como gostaria de ser autora da frase!).
O ensino na Escola Dominical que se focaliza em seleções da Bíblia, ou em palavras
soltas de Jesus, ou em episódios da história da Igreja, ou na vida nos tempos de Cristo,
freqüentemente não têm significado para a pessoa, além do fato como tal. O material não se
relaciona de maneira profundamente significativa à sua vida e suas preocupações. Talvez
nem possa relacionar-se! Se isto é verdade, é imprescindível que reconsideremos grandes
áreas do currículo das nossas Escolas Dominicais.
Aprender resulta em comportamento novo
Isto quer dizer que a pessoa usará o que ela aprendeu. Ela irá agir, ou pensar, ou falar
em termos novos por causa daquilo que aprendeu. O novo conhecimento lhe será importante
e modificador.
Coisas triviais talvez não: mas aprendizagem significativa há de mudar comportamento.
Aprender a fazer quatro triângulos eqüilaterais de seis fósforos de cozinha provavelmente teve
pouca influência em sua vida. Mas aprender algo pelo processo que leva gente a tornar cristã
terá que produzir efeito em seu comportamento como professor, como aluno, e como Cristão.
Comportamento modificado pode parecer critério inflexível para julgar se a pessoa
realmente aprendeu ou não, mas é a única meta correta. Moças em um curso de ciências
domésticas, numa universidade que eu conheço, estudavam no laboratório os efeitos na vida
de animais de cereais altamente refinados e beneficiados. Apascentados com milho, trigo,
aveia, e arroz sem o farelo e sem o germe, os animais enfraqueceram, adoeceram e
morreram. As moças aprenderam que o beneficiamento e polimento de cereais remove a
Vitamina B, que é necessária à vida e à saúde. Todas passaram em seus exames com boas
notas.
Durante e depois do estudo, a escolha de comida dessas mesmas moças no
restaurante da universidade e no supermercado vizinho foi fiscalizada ocultamente.
Descobriu-se que seus hábitos alimentares pessoais não mudaram. De manhã cedo,
rejeitaram cereais integrais e pão feito de trigo integral, não beneficiado. Escolheram pão
"branco", pão doce, ou pastelaria rica em calorias, pobre em sua contribuição à saúde. No
almoço e no jantar, escolheram arroz altamente beneficiado.
Essas moças aprenderam as respostas das perguntas que caíram nas provas, e
aprenderam bem. Não aprenderam o significado de seu trabalho no laboratório em termos de
sua própria saúde. Seu comportamento não mudou. Então não aprenderam em termos reais.
Saber as palavras de 1 João 4:20b, "Pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê,
não pode amar a Deus a quem não vê”, não é o conhecimento verdadeiro até que o
significado das palavras esteja demonstrado em comportamento de amor, interesse e
solicitude.
A questão é assoladora, mas tem que ser respondida: as experiências dos nossos
alunos e alunas da Escola Dominical produzem mudanças fundamentais e profundas em seu
comportamento? Tornam-se os alunos e alunas mais e mais ativos em seu amor para com
Deus e para com seus vizinhos?
Fatores que influenciam ao aprendizado
Existem vários fatores que influenciam o aprendizado e que os educadores precisam
conhecer.
RECOMPENSAS - Pais e professores sabem, desde há muito tempo, que crianças
farão muitas coisas para lhes agradar ou para evitar a dor e a desaprovação.
Conseqüentemente prêmios e punição são usados largamente e nem sempre sabiamente
como meios de aumentar aquilo que aprendem.
Recompensas, se usadas para tornar o aprendizado permanente, têm de ser
intrínsecas ao conhecimento: isto é, têm de surgir da aprendizagem corno tal. Aprender aquilo
que é útil, ou significativo, ou prazeroso, ou valioso ao aprendiz dá sua própria recompensa.
Prêmios extrínsecos (não partes integrais do conteúdo como tal) são subornos à busca
de comportamento. A motivação do processo depende do prêmio, do presente, da honra e da
pessoa que a confere. Quando não se dá mais o prêmio, o aluno / aluna deixa de aprender.
Ele(a) só voltará a estudar quando encontrar recompensa pessoal na aprendizagem como tal.
Elogios, louvores, encorajamento ajudarão o aluno, a aluna, especialmente se estiverem
paralelos ao processo de aprender. Ouvir o educador dizer "Certo", ou "Muito bem"
imediatamente depois de sua resposta ou tentativa é bem melhor que examinar o papel de um
teste, bem corrigido, uma semana depois de ser feito.
Usar medalha ou certificado, para premiar assistência perfeita ou quase-perfeita na
Escola Dominical, é prática tão universal que precisamos examiná-la em termos daquilo que
sabemos sobre o efeito de prêmios no processo da aprendizagem. (1) O prêmio aumenta o
valor da Escola Dominical para o aluno? (2) O prêmio reconhece e recompensa o
desenvolvimento no comportamento cristão, a habilidade de amar, de confiar em Deus e nos
outros, de perdoar? Em outras palavras, é o prêmio apropriado aos alvos da Escola
Dominical? A resposta em ambos os casos é não. Premiar assistência na Escola Dominical é
premiar comportamento exterior. Como tal é legalista, farisaico. O prêmio diz, "Porque você
trouxe seu corpo a esse lugar muitas vezes durante ° ano, nós o elogiamos”.Não importa se a
criança queria assistir, nem interessa em sua participação real enquanto presente. Isto é,
coloca importância demasiada na aparência exterior (obedecer à lei) e ignora por completo a
mente ou o espírito de quem está aprendendo. Implica em que estar fisicamente na igreja aos
domingos é o aspecto mais importante da vida cristã. Muitos Cristãos verdadeiros não
concordariam.
Ainda mais, premiar assistência é freqüentemente ilustração de injustiça: cria
problemas: sérios nas mentes das crianças e, não raro, de seus pais e mães. Premiar
freqüência assídua é sempre injusto na mente de alguém. Doença, atitude dos pais e mães,
imprevistos inevitáveis, todas essas coisas influenciam na assiduidade. Estar presente ou não
geralmente está além do controle da criança. Não é justo recompensar ou penalizá-la por algo
que ela não determinou.
O secretário da Escola Dominical que, a fim de ser justo, procura levar em conta todas
essas coisas já perdeu a batalha. Alguém vai ser prejudicado. É inevitável.
O CASTIGO. Eu pessoalmente não posso aceitar o uso de castigo para garantir a
aprendizagem na Escola Dominical. Muitas pessoas, felizmente, concordam comigo. Medo de
vergonha, ostracismo, ou dor (física ou mental) é motivação bem forte, mas não é muito
desejável. Removido o medo, a razão de aprender ou de agir da maneira proscrita
desaparece e o aluno está perdido. Não sabe o que fazer. Talvez não faça nada, ou então se
mergulha em uma hostilidade que o medo produziu.
No relacionamento de amor e confiança, que estamos tentando construir na Escola
Dominical, não há espaço para a vergonha, ostracismo, zombaria, desprezo, ou desrespeito
em nosso tratamento de alunos. Não se pode ensinar pessoas a amarem uns aos outros pelo
uso de ameaças e de medo. Pode forçar comportamento, mas não pode saber qual será seu
final.
Onde se encontra a excelência
Isto não quer dizer que classes na Escola Dominical não devam ter metas de atuação e
comportamento. Infelizmente, muitas delas não as têm, mas está errado. Uma razão porque
algumas escolas sofrem de comportamento imprudente e incorreto e de atividade intelectual
inaceitável, é que os alunos aprendem que podem agir como desejarem. Tal coisa é
deplorável. Muitas vezes tentamos controlar comportamento demolidor com exortações pias,
e sem sentido para as crianças, sobre a atuação correta na casa de Deus. Ao mesmo tempo,
desculpamos trabalho descuidado, indiferente, mal-feito, porque "os alunos não têm nada em
casa".
Uma razão entre muitas por essa falta de meta de comportamento e de esforço
honesto nas classes da Escola Dominical surge do trato concedido às crianças em nossas
igrejas. Não têm lugar responsável na vida da comunidade. Não se espera nada delas. Não
podem determinar seu próprio destino, nem as suas atividades na igreja. Não participam de
nenhuma decisão. Outra pessoa decide tudo. As crianças obedecem ordens, às vezes.
Se uma classe do Segundo Seguimento do primeiro grau para cima tiver uma vida de
grupo valiosa, os alunos e alunas terão prazer em estabelecer, com a ajuda do (a) educador
(a), metas para comportamento individual e regulamentos para a vida em conjunto.
Um grupo pode decidir se algum comportamento precisa reprovação, se algum trabalho
precisa ser refeito, se algum privilégio precisa ser negado. Tal punição se justifica. Surge
diretamente do trabalho descuidado ou do comportamento irresponsável e estes limitam a
vida do grupo. Não é castigo passageiro, nem vingativo. Realmente ajuda os alunos a
aprenderem a viver como membros responsáveis de uma sociedade. Mas cuidado: não
procura determinar regulamentos para a vida comunitária antes de ter uma vida em
comunidade.
Aprender a viver em relacionamento responsável com outras pessoas é sempre
anterior a tornar-se membro de uma sociedade que ama, que serve, que anda a segunda
milha, esses necessários à maturidade cristã. Alguns alunos, e alunas inclusive adultos,
nunca chegam à primeira etapa, quanto mais à segunda. Mas é nosso dever como
educadores (as) tentar levar nossos alunos, nossas alunas a respeitarem os outros, a levarem
os sentimentos dos outros em consideração, enfim a comportarem-se como membros
responsáveis de uma comunidade.
A importância daquilo que se aprende
Crianças, e todas as pessoas aprendem o que lhes parece importante o que é novo,
estimulante, valioso em seu parecer! É difícil admitir isso, mas acredito que seja a verdade:
muito do material atual que se apresenta nas Escolas Dominicais das nossa igrejas realmente
não é de importância fundamental aos problemas, vexames, temores e ansiedades dos
nossos alunos e alunas. Nós que os ensinamentos podemos pensar que tem valor, mas se as
pessoas não concordarem, então não terá. Seu julgamento prevalece nesse campo, porque
são elas que irão aprender ou não.
Uma prova disso, se é que precisamos de provas, é o fato que pouquíssimos
educadores realmente sabem onde estão os pontos dolorosos da vida de seus alunos e
alunas. Não é, por isso, humanamente possível ter certeza de que as atividades da classe os
remediem ou os ajudem, senão superficialmente.
Hoje em dia se ouve por todos os lados, universalmente, que as ciências e a
matemática são matérias escolares de primeira importância. Dizem que a criança necessita
imprescindivelmente um fundamento forte nesses assuntos. A maioria de nós, os adultos de
hoje, não têm tal fundamentação. Como resultado observamos as crianças de dez anos de
idade a lutar valiosamente e sucedidamente com a matemática nova, a nós incompreensível.
E ficamos maravilhados na presença de astronautas que viajam rotineiramente no universo
desconhecido, a nós inimaginável. Compreendemos que os dois assuntos se relacionam de
alguma maneira, e ouvimos falar, talvez até temamos, que serão por demais importantes no
mundo de amanhã. Isto somos forçados a aceitar.
Mas no mundo em que nós vivemos há pouquíssimas vozes a proclamarem que os
ensinos da igreja são importantes. Poucas pessoas acreditam que realmente o são: não tão
importantes quanto às ciências e a matemática; não tão valiosos que mereçam prioridade de
tempo, espaço, dinheiro e talento, nem na vida da própria igreja. Na maioria das nossas
igrejas não há quantia orçada para a educação cristã. Poucas pessoas entre nós têm a
coragem de dizer isso em voz alta, mas na verdade muitas acreditam que a salvação do
mundo e de nossas vidas em particular não virá da igreja, mas de algum outro lugar. E
mesmo dentro da igreja, com toda a sua ênfase na evangelização, ao falar sobre a salvação
de almas, é raro entender que essa é a tarefa primordial da Escola Dominical.
Mas essa opinião está errada, embora bem prevalecente. O mais completo
conhecimento da matemática, da ciência, ou de qualquer outra coisa não nos salvará. Nem o
programa de espaço. Nem os estudos nucleares. Somos o povo mais instruído, mais sagaz,
mais bem educado na história do mundo. Mas sobre toda a face da terra, o crime, o suicídio, o
divórcio, a delinqüência, o alcoolismo, a insanidade, o uso de entorpecentes são vergonhosos
e demasiadamente surpreendentes.
Saber muito não é necessariamente bom. Nenhum alcoólico, ladrão, adúltero ou
psicótico comporta-se de maneira deferente só porque sabe mais, seja no campo de
matemática, ciência, direito, fisiologia, psicologia, sociologia ou teologia. O problema
fundamental é ser, não saber.
Se não entendermos isso em nossas igrejas, se focalizarmos nossa atenção em
detalhes históricos e dogmas teológicos ao invés de viver a vida que Deus pretende para nós,
e que a Bíblia nos descreve, sem querer, estaremos reforçando a opinião geral de que a igreja
não tem muita importância para a vida do Século XX. Saber algo sobre os patriarcas judaicos,
ou a vida diária no tempo de Jesus, há de parecer menos significativo que a matemática ou a
ciência quando se começa a atribuir valores aos fatos em si.
Talvez, não seja possível dar à Escola Dominical uma importância tal que os alunos a
coloquem em primeiro lugar em suas vidas, acima de namorados, deveres de casa, provas,
profissão, casa, família, futebol ou passeios. Mas é possível, e disso tenho absoluta certeza,
tornar a vida experimentada na Escola Dominical tão importante que as pessoas a atribuam
prioridades altas. Tornar-se alguma coisa é muito mais empolgante que saber alguma coisa,
até mesmo a nova matemática ou a ciência do espaço.
"A finalidade do homem é a ação, não o pensamento, nem mesmo o pensamento mais
nobre”, disse Carlyle. Quando um ser humano ou uma nação encara afronta, agressão,
fraude, desapontamento, frustração, tristeza e dor, no final das coisas, quando tudo está
acabado, não importa o que ele sabe. Importa, isso sim, como ele age.
Saber amar os desgraçados e não amáveis; saber servir os que não merecem ser
servidos, ministrar a todos os seres em nome de Cristo é o único conhecimento em que a
igreja deveria se gastar. Por outro lado, não se deve poupar esforços, nem dinheiro, nem
inteligência, nem criatividade, nem nada mais debaixo do sol na promulgação desse
conhecimento. Ele exige o trabalho dedicado de pessoas sensitivas e devotas, equiparadas
dos melhores materiais de ensino, atribuídas dos horários mais atraentes, e sustentadas
inteligente e integralmente pela comunidade de cristãos dentro da igreja.
É esmagadora essa tarefa que Deus nos confiou, educadores e educadoras
inadequados, mal preparados, fracos de coração. É incompreensível sua confiança, talvez até
não muito sábia, em vista da nossa natureza.
Mas, não temos escolha! Fomos chamados. Temos que fazer o melhor possível.
Temos que comprovar que somos obreiros e obreiras fiéis e dedicados, não envergonhados
do evangelho, prontos a levar a mensagem cristã adiante.
PARA VOCÊ PENSAR
1. Que idéia ou fato ou experiência do Cristianismo é clara e indiscutivelmente relevante às
vidas de seus alunos e alunas?
2. Fundamentado nessa idéia, desenvolva um plano de ensino que irá envolver os alunos e
alunas no seu próprio aprendizado.
3. Como é que aquilo que sabemos agora sobre o processo de aprendizagem nos ajuda a
compreender o processo de se tornar Cristão?
4. Qual é o único conhecimento que a igreja deveria transmitir? Analise seu trabalho na igreja
em termos definidos e específicos. É isto que você está ensinando? Ou você está pondo sua
ênfase em outra coisa? Se em outra coisa, como poderia modificar seu programa para
atribuir-lhe as prioridades corretas.
COMPREENDENDO NOSSOS ALUNOS EALUNAS
7.
COMPREEDENDO NOSSOS ALUNOS E ALUNAS
Um aluno, uma aluna, é uma pessoa. E um educador,
uma educadora, é também uma pessoa. Sua comum
humanidade é o fundamento de seu relacionamento e de
toda a comunicação significati va entre eles.
Sobre a educação, existe entre nós várias meias-verdades. Pensamos em termos de
anos escolares, fatos aprendidos, livros estudados, cursos feitos, notas atribuídas. Falamos
de "completar os estudos", como se pudesse, ao terminar, começar a viver.
O problema desse tipo de raciocínio é sua visão do aprendizado como um processo de
adquirir fatos e do aprendiz como um receptáculo, que recebe e guarda os mesmos. Segue-se
desse ponto de vista que a revelação de fatos por parte do educador é o ensino. E, quando o
aluno demonstra que possui os mesmos fatos, dizemos que ele aprendeu. Mas não é
verdade.
A educação não é armazenar fatos em uma espécie de caixa grande ou pequena a
serem retirados se ou quando necessários. Diz Dr. Whitehead, e eu não consigo inventar
melhor analogia, que a educação é semelhante a alimentar a uma criança. Uma parte da
comida, aquela que ela precisa, torna-se parte da criança: altera-a; ela cresce. O resto, o
corpo rejeita.
Uma pessoa não é uma caixa. Pelo contrário é um organismo vivo, em crescimento e
mudança constantes, que luta e que pensa.
A primeira vez que ouvi alguém descrever "pessoa" como "organismo", lembrei-me de
uma gravura colorida de bactéria, muito ampliada, em um livro de medicina caseira na casa
de meus pais. O livro chama-se "Organismos que Causam Doenças - Bactérias".
A gravura mostrava umas coisinhas serpeantes, rastejantes, eriçadas, colantes, moles,
glutinosas, molhadas, gotejantes, enfim, horríveis. Não tinham um pinguinho de inteligência.
Quando pequena, eu os abominava, essas criaturas pálidas, lânguidas, amareladas, esses
monstros que rastejavam sem parar em um ferimento aberto.
No entanto, com uma fascinação, produto da minha revulsão, voltava, vez após vez, à
página daquele livro. Cada vez eu olhava a gravura com todo cuidado, estremecia, colocava o
livro em cima da mesa e examinava cuidadosamente meu mais novo machucado a fim de
verificar se já haviam me atacado.
Então, ao ouvir alguém chamar "gente" de "organismo", travei batalha silenciosa.
Certamente uma pessoa não é aquele tipo de ser!
Ah! Mas é. Não parece com os modelos de fotografia colorida, embora ela tenha
mostrado "organismos" muito variados; mas em sua essência uma pessoa comporta-se
exatamente da mesma maneira que eles.
Como é que um organismo se comporta? De maneira bem simples, é claro. (Mais tarde
eu troquei "organismo" por uma "ameba". E mais fácil, porque minhas emoções estão menos
envolvidas.) Um organismo faz o que faz a fim de se manter vivo. Quando sente fome, todo o
seu ser está faminto, e ele procura alimento. Quando se sente cansado, todo o seu ser está
exausto, e ele repousa. Quando enfrenta um ambiente inimigo ou hostil, ele ataca, ou resiste,
ou foge, novamente com todo o seu poder. Privado de condições necessárias à vida, ele
morre. Este é um organismo. Esta também é uma pessoa.
O comportamento de uma pessoa nada mais é que uma tentativa de se manter como
pessoa idônea e competente ou de elevar-se, de fortalecer ou aumentar sua competência,
sua aceitação, sua posição social.
Um ser humano não pode existir sozinho, sem relações com outros seres humanos.
Privado da companhia de outras pessoas, ele morre ou deixa de ser humano por perder seu
juízo. Relacionamento com outros é uma das condições necessárias à sobrevivência. Para
falar a verdade, a razão porque somos "humanos" é que fomos criados por seres humanos.
Sendo que nossa tarefa é ensinar gente, não arrumar caixotes, haverá vantagem em
verificar como essa visão organicista de pessoas nos ajuda a compreender seu
comportamento.
O comportamento é complexo
As pessoas, diferentes dos organismos unicelulares, são bastante complexas. Portanto,
o comportamento de nossos alunos e alunas não se explica em termos de inteligência,
percepção, maturidade emocional, desenvolvimento físico, medos ou desejos como tais,
individualmente. É verdade que nem se pode explicá-lo em termos da união de todos esses
fatores. Por ora não sabemos explicá-lo realmente.
No entanto, sabemos que todas as nossas experiências fazem parte de qualquer
determinado comportamento e influenciam tudo aquilo que aprendemos.
Pense sobre aqueles estudantes secundários que, talvez poucos deles, estarão
sentados nos bancos de uma das nossas igrejas domingo que vem. Se a lição tratar do amor
e perdão divinos, imagine como suas experiências individuais irão influenciar aquilo que cada
um ouve, pensa, diz ou deixa de dizer, aquilo que aprende.
Roberto acaba de descobrir que seu pai é adúltero e que o é durante muito tempo: tem
duas famílias. Ele começa a compreender a dor e a amargura de sua mãe e a penetrar as
tentativas triviais e superficiais por parte de ambos a se manterem exteriormente
circunspectos, especialmente aos olhos da igreja de que fazem parte ativa. Como resultado, o
rapaz despreza seus pais; torna-se cínico no que se diz respeito a honestidade, o bem, a
virtude, o amor.
Patrícia, filha única de uma divorciada, nunca se sentia aceita pelos seus colegas, nem
na Escola Dominical que assiste desde pequena. Recentemente passa muito tempo com um
grupo que a compreende. Mas hoje ela começa a temer que esteja grávida.
José é o caçula da família em que os irmãos todos estão casados. Ele considera seus
colegas na igreja muito juvenis, ingênuos, não realmente interessantes. Seus interesses
principais são: namoradas, festas, esportes.
George, cuja paixão é escotismo, apesar de ser ele um dos mais velhos da classe, tem
a opinião de que perder tempo em vir à igreja é atividade razoável e aceitável, somente se os
escoteiros não estiverem realizando acampamento, ou se sua família não pretende ir ao sítio,
ou se ele não tem outra coisa mais interessante a fazer.
Marta é filha de judia e de católico romano, ambos renunciaram sua religião. Seu pai e
mãe pensam que não faz mal a menina assistir à Igreja Protestante com seus amigos. Não
lhe trará nenhum prejuízo. Não querem que ela se comprometa com a igreja, mas acham que
não há perigo, pois acham que o Protestantismo não exige constância nem dedicação
verdadeira. Aliás, é por isso que permitem sua assistência.
Marcelo sofre de enxaquecas. É um rapaz tenso, de aparência atormentada. Quando
ele era criança, sua mãe era sempre doente. A fim de aliviá-la do barulho e confusão de um
menino hiper-ativo, os médicos receitavam para ele tranqüilizantes e barbitúricos, que ele
tomava constantemente. Seu pai é rígido, inflexível, compulsivamente virtuoso; nunca perde
um domingo na igreja e insiste que Marcelo o acompanhe. Marcelo lhe é desapontamento.
Joana é filha de dois assistentes sociais. Ela sabe de primeira mão os efeitos da
pobreza e do preconceito social.
João é pequeno, fisicamente imaturo, quieto. Tem dois irmãos mais velhos, que já
conseguiram muito na vida: gozam de posição social e financeira bem alta.
Rosa e Maria são amigas que sempre andam juntas. Moram na mesma vizinhança; são
colegas de escola. Participam da mesma "panelinha". São as únicas negras nessa classe.
Augusto é solitário. É filho de um físico que é ateísta. Esse jovem raramente assiste a
Escola Dominical.
Pode você perceber que as respostas variadas desses jovens a uma lição comum
sobre o amor e o perdão de Deus não dependeriam inteiramente do seu entendimento
intelectual da idéia? O comportamento é por demais complexo.
O comportamento é causado
Uma pessoa faz o que faz como resposta à situação em que se encontra. Seu
comportamento está sempre coerente com sua avaliação ou percepção de circunstâncias
concretas. Se o comportamento de uma outra pessoa parece-lhe estranho, resposta
exagerada, ou irreal ao conhecimento em pauta, a explicação é simples: você não percebe a
situação como ela a percebe. Se percebesse, se você sentisse como ela sente, você poderia
compreender o que ela faz.
Para compreender comportamento, a chave é percepção. Pense de novo sobre
quaisquer dois dos alunos ou alunas acima descritos. É impossível que tenham a mesma
resposta à lição. Não ouvirão as mesmas palavras, não terão os mesmos sentimentos, não
chegarão aos mesmos entendimentos. Trarão para a classe experiências bem variadas,
percepções muito diferentes da vida, do amor, da verdade, da beleza, do bem, da bondade.
Agirão sobre pressões diferentes, desesperos diferentes. O que aprenderão será aquilo que
fala às suas experiências, aquilo que aumenta suas compreensões, aquilo que clarifica suas
perplexidades, aquilo que cabe dentro de suas percepções.
Não é muito difícil compreender que falta de comunicação entre duas pessoas pode
resultar de uma falta mútua de compreensão de percepções. Uma experiência minha, há anos
atrás, com uma classe de quinto ano primário é uma ilustração inacabável na minha mente.
O horário da classe era de onze às doze. Algumas das crianças chegavam às dez
horas para uma hora de atividades livres e variadas antes de entrarmos no templo para
assistirmos a primeira parte do culto, depois do qual, de volta à sala de aula, realizávamos
nosso estudo. Em uma determinada manhã todo mundo estava bem animado. Estavam ativos
demais, seu comportamento descontrolado e descontrolável. Enfim mandei parar os jogos e
brincadeiras e pedi que todos sentassem quietos um pouco antes de irmos ao templo.
Comecei a imaginar o que aconteceria depois dos 15 minutos no culto.
Nesse momento, chegaram na porta duas meninas atraentes, bem vestidas, calmas,
quietas. Claramente eram gêmeas.
"É este o quinto ano?" Uma delas perguntou.
"Sim”, respondi. "Vocês vão fazer parte da nossa classe?"
"Vamos”.Tocou onze horas.
"Agora vamos passar alguns minutos no templo, assistindo a primeira parte do culto. Ao
voltar, farei a sua matrícula e as apresentarei à classe. Querem sentar comigo na igreja?”
Elas queriam, mas hesitaram. Então, a que falava mais perguntou: "É este o tipo de
Escola Dominical onde estuda e lê livros, ou aqui se faz o que quer?”
Eu acabara de passar uma hora com um grupo de meninos que faziam o que queriam.
Não entendia a atividade daquela manhã como sendo muito produtiva. Entusiasmada,
respondi com toda a pressa: "Nessa escola nós lemos livros e estudamos. Temos livros de
consulta, Bíblias, hinários, mapas e cartazes. Às vezes trabalhamos em grupos pequenos; às
vezes sozinhos. Fazemos outras coisas também, mas essa é a escola da nossa igreja”.
Enfatizei bem as palavras "escola" e "igreja".
Elas não tiveram tempo de responder. Saímos da sala às pressas, para o templo.
De volta à sala, dei a cada menina um formulário de matricula adotado por nossa igreja.
Apresentei-as à classe. A aula prosseguiu como eu havia planejado; discussão do tema do
dia, relatórios, trabalho com mapas; aprendemos um novo hino do hinário e começamos uns
cartazes. O tempo foi passando. O culto terminou lá na igreja; tivemos que parar.
Fui pessoalmente me despedir das gêmeas. Pegando suas matrículas, me senti
chocada ao ver sua maneira inadequada de preenchê-las.
Essas meninas não sabiam escrever os nomes de seus pais; a rua onde moravam
estava escrita erradamente; o número do telefone estava no lugar errado; colocaram o dia do
nascimento, mas não o ano. Quando perguntei, disseram que não sabiam. Não colocaram
nada no lugar de "ano escolar". Perguntei por quê.
"Estamos numa nova classe este ano. É classe especial que reúne no porão. Não nos
chamam de classe ou de” ano escolar “. Não usamos aqueles livros difíceis que os outros
alunos da escola usam”.
"Ah! Sim! Bem, nossos livros pareciam difíceis para vocês?"
"Sim. Oh, sim!" Responderam.
Despedi-me delas cordialmente e me sentei abatida. Cortadinhas! Sua pergunta sobre
o tipo de escola que a nossa era, realmente queria dizer "Estaremos aceitas aqui? Seremos
sucedidas nesse ambiente?" Para mim a sua pergunta tinha sido, "Essa escola é disciplinada
ou caótica?" Eu respondi à indagação da minha percepção de seu significado. Elas
entenderam da manha resposta que esse não era lugar delas. Não poderiam participar desse
tipo de escola.
Comportamento é propositado
O comportamento é complexo; o comportamento é causado; e o comportamento é
propositado, intencional, tem um fim em vista. Temos boas razões para aquilo que fazemos e
falamos. Nosso comportamento talvez não pareça correto nem inteligente às pessoas ao
nosso redor, mas sempre tem um propósito, preenche uma finalidade, suaviza uma
ansiedade, defende ou protege a nós mesmos. È possível que decidamos depois que a
percepção estava incompleta, o comportamento impetuoso; mas na hora de agir, fazemos o
que parece certo ou que sentimos estar correto.
Li em algum lugar sobre uma professora que, aceitando as afirmações acima, mudou
os verbos na frase "Ele faria melhor se quisesse" para ser "Ele quereria melhor se pudesse”.
Ela quer dizer que um aluno não é teimoso, preguiçoso, rebelde, não cooperativo só porque
quer. Ele é o que é, e age como age porque esta é a melhor maneira que descobriu até agora
de se comportar nas circunstâncias restritas, mas variadas de sua vida.
A criança que resolve suas frustrações por perder a calma em cólera excessiva está
apenas fazendo aquilo que descobriu ser o comportamento mais efetivo possível. O
bisbilhoteiro está procurando afirmar seu valor, meio incerto, por denunciar ou diminuir o valor
de outrem. O aluno dissidente que não quer cooperar, talvez esteja tentando, por sua
contrariedade e crueldade, estabelecer sua própria independência e status como pessoa
importante. O aluno que está sempre pronto a trabalhar, que tem o hábito de se oferecer para
a execução de qualquer tarefa, pode estar à procura de aceitação tanto de colegas como de
professores. Em cada um desses casos, e nos inumeráveis outros, o comportamento de uma
pessoa está coerente com sua percepção da situação e, ao mesmo tempo realiza seus
propósitos pessoais.
Embora, talvez não pareça, nosso comportamento sempre procura manter nossa
integridade ou elevar nosso próprio ser. Isto quer dizer que todas as pessoas lutam para
afirmar a si mesmas o fato de que têm valor. Se não conseguirem, desenvolvem doenças
mentais ou nervosas, ou se suicidam, ou se tornam alcoólatras, ou incapacitados de tomarem
decisões. Mas nunca abandonam a luta. Enquanto viverem, procuram ser aceitos como
integralmente valiosos.
Um dos nossos pecados, os "bons", é diminuir o valor de outrem. Criticamos seus
esforços; avaliamo-no na base de perfeição absoluta, ou comparamo-no com seu irmão mais
velho que foi aluno melhor, modelar: citamos seu nome como exemplo de fracasso ou de
desapontamento, tudo isso com as melhores intenções. Estamos tentando aperfeiçoar seu
comportamento. Geralmente não conseguimos fazê-lo. Ao invés de ajudar, despersona-
Iizamo-no, transformamo-no em menos-que-gente.
Doutor Arthur Jersild e Doutor Daniel Prescott são dois educadores que se interessam
profundamente pela relação entre a consciência de si por parte de uma criança, seu senso de
auto-suficiência, de valor pessoal e sua aceitação do processo educacional. Colecionaram
inumeráveis dados e estudaram muitas crianças em busca de entendimento da relação entre
a visão que uma criança tem de si e seu comportamento e aprendizagem na escola.
Descobriram que são intimamente ligados: uma criança que tem opinião baixa de si mesma é
pobre como aluno e geralmente é problema quanto ao seu comportamento.
Eles documentam o que a experiência prática de outros também descobriu: isto é, que
a escola freqüentemente dá à criança um sentimento profundo e forte de sua insignificância e
deficiência. Quando o resultado de vários anos escolares é somente a convicção que ela não.
Tem grande importância e que não sabe fazer nada adequadamente, esta criança entra na
vida adulta sem confiança, sem coragem e sem o gosto picante necessários ao sucesso.
Se nós, que ensinamos na igreja, conseguirmos dar aos nossos alunos e alunas um
senso profundo e permanente de seu próprio valor e a sensação de pertencer
significativamente a uma comunidade em que eles importam para os outros, teremos
realizado um trabalho importantíssimo.
Mas querer isso é pedir muito. Um professor sozinho não o consegue; nem o
conseguem todos os professores e obreiros da Escola Dominical trabalhando em conjunto. O
necessário será a contribuição ardentemente cristã e a colaboração íntima de toda a
comunidade da fé que, por meio de seu trabalho em conjunto, de sua adoração e de seu amor
ao próximo constroem a auto-aceitação e o autovalor.
Se sua igreja não é tal comunidade, e muitas não a são, então você terá que fazer o
melhor que pode, utilizando todo o seu esforço pessoal e todo o sustento que encontrar ao
seu redor. Talvez exista mais de ambos do que você imagina.
Cada pessoa procura respostas a três perguntas
São vários as idades e estágios na vida humana e cada um tem suas tarefas
específicas de desenvolvimento, aprendizado e adaptação. A criança pequena está
aprendendo a cuidar de si em um mundo habitado por muitas crianças e adultos; mais tarde,
no meio da escola primária, ela se preocupa com o certo e o errado, a justiça e a
imparcialidade. O pré-adolescente precisa fazer parte de uma "panelinha" a fim de se
estabelecer entre seus colegas; o adolescente procura independência de adultos e
relacionamento satisfatório com o sexo oposto. Os jovens encaram problemas de casamento,
família e profissão. Os adultos levantam questões sobre a direção de suas vidas e o valor
último daquilo que fazem. Os velhos precisam encontrar meios de serviço continuo e de
utilizar suas competências, bem como um senso de segurança.
Embora sejam diferentes as tarefas intelectuais e sociais de cada estágio da vida, atrás
de todas elas existe uma busca ou procura fundamental. Do berço ao cemitério o problema é
o mesmo. O cenário muda; as pessoas em papéis secundários são diferentes; mas sempre,
enquanto tem vida, o ser humano procura saber três coisas: Quem sou eu? Quem é você?
Qual a natureza desse mundo?
Verifique a verdade dessas indagações em sua própria vida. Você pode ser uma
esposa ou um marido, um pai ou mãe; você tem alguma profissão ou executa algum trabalho
em casa ou na comunidade; você ensina, mais ou menos bem, alguma classe em alguma
Escola Dominical; você é cidadão ou cidadã deste país e participa dos direitos e
responsabilidades dessa cidadania. Você tem uma certa altura, um peso conhecido, uma
aparência física, um nome, uma idade. Assim você se descreve.
Quem sou eu?
Mas a primeira pergunta é mais profunda do que essas estatísticas vitais. Também
quer dizer: "Será que sou importante para alguém? Qual é meu valor verdadeiro como
esposo, esposa, pai, mãe, professor, professora, cidadão, cidadã? Alguém realimente precisa
de mim? Eu posso fazer alguma contribuição valiosa à vida ao meu redor? Quando eu morrer,
o mundo será melhor porque eu passei por aqui?
Todo ser humano, mesmo que pense superficialmente, finalmente confronta essas
indagações sobre o valor e significado de suas atividades diárias. Finalmente todas as suas
questões se focalizam em uma: Por que estou aqui? Que é o sentido, o propósito da minha
vida?
Vez após vez cada ser humano estabelece suas próprias respostas individuais. Todas
as experiências da vida - por dentro e por fora da igreja fornecem partes da resposta. E a
resposta constantemente se sujeita a revisão porque a vida de todo ser humano está em
constante mudança.
Quem é você?
Essa segunda pergunta, na verdade, faz parte da primeira e a ela faz uma contribuição.
Porque todo ser humano só existe quando em relacionamento com outros, quem eu sou
depende em parte de quem você é. Se você é meu filho, eu sou seu pai (ou mãe). Se você é
meu aluno (ou aluna), eu sou sua professora; se você é meu vizinho, eu também sou seu; se
você é meu colega, eu também; se você é meu namorado, também eu.
Cada um de nós em relacionamento contribui ao autoconhecimento e ao valor do outro.
"O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é tristeza de sua mãe”.(Provérbios 10:1)
Um aluno (ou aluna) habilidoso cria uma idéia de competência no seu educador (ou
educadora); um educador (a) competente cria idéia de sucesso em seu aluno, em sua aluna.
Todos os seres humanos pensam sobre as pessoas ao seu redor. Que tipo de pessoa
você é? Como vai me encarar? Qual será sua opinião de mim? Estou seguro? Terei sucesso
nesse relacionamento? A criança encontra suas primeiras respostas na relação com sua mãe.
Quando chega à idade escolar, faz as mesmas indagações sobre seus colegas e seu
professor. Ouve-se as respostas; sente-se sua presença em toda sua experiência de
crescimento. As percepções recebidas nesses encontros tornam-se verdades na vida. Depois
de adulto, raramente ocorrem mudanças radicais em nossa estimativa de nosso próprio valor
(Quem sou eu?) nem em nosso senso de apreciação e confiança nos outros (Quem é você?)
Experimente isso a próxima vez que você se encontrar em um novo grupo pequeno,
face a face com outras pessoas em relação nova, talvez uma reunião de comissão, ou um
grupo social. E lembre-se que esta experiência é freqüente na meninice e na adolescência,
quando o indivíduo está à procura de convivência com novas pessoas. Todo o tempo que
você está com esse grupo, você está se perguntando: "Quem sou eu?" e "Quem é você?" não
é? E todo o tempo você está encontrando respostas no relacionamento que desenvolve.
Qual a natureza do mundo?
Como é o caso com as primeiras indagações, a terceira tem respostas variadas nas
diferentes fases da vida.
Aos três anos, a criança pensa: Minha boneca se acorda durante a noite? Onde foi o
gelo que estava no meu copo? Por que mamãe ficou tão zangada?
Aos nove anos, ela quer saber o que está certo e errado. Por que ele ganhou uma bola
e eu não o ganhei? Por que alguns meninos roubam as coisas dos outros? Por que algumas
pessoas parecem odiar outras?
Quando chega aos quinze anos, ela questiona o velho ditado, "O crime não vale a
pena", e é cético sobre a virtude e a bondade. Talvez essas sejam apenas idéias quadradas
sobre comportamento da velha geração, quem sabe não verdadeiras?
As indagações mudam ao passo que a vida se transforma. Crises pessoais, tristeza,
dor, desapontamento; crises nacionais, violência, assassínio, inflação, pobreza; crises
internacionais, discórdia, terrorismo, bombas nucleares, viagens no espaço; todas essas
geram questões. A virtude compensa? Merece essa nação de que faço parte, todos os seus
problemas, as dificuldades da vida diária, a violência, a mortalidade infantil? Estamos
colhendo o que semeamos no mundo de hoje?
Os homens dividem o átomo e voam à lua, mas ainda não compreendem o universo.
Existe um Poder, uma Mente, um Espírito, um Criador atrás dessa criação magnífica e
incompreensível? Se existe, será que ele ainda a está controlando?
Meu Deus! Que tenho que fazer para me salvar?
Todo ser humano procura. Nem todo ser humano encontra.
Você e seu aluno / aluna
Todas essas indagações que estão no centro da vida de todos os seres formam o
tecido conectivo entre as pessoas e seus mestres. Agora você sabe o que seu aluno, o que
sua aluna, precisa saber. Você sabe o que lhe é importante, vital. Você sabe quais as
experiências que o aquecerão, que o afirmarão, que o restaurarão, que o chamarão para uma
vida criativa. Você sabe que seu comportamento reflete ao mesmo tempo, as respostas por
ele já encontradas e aquelas que ainda está procurando.
Você sabe isso com total exatidão, porque você é, ao mesmo tempo, ser humano e
educador (a) deles. Se, em algum ponto de sua vida, você mudou para uma nova cidade, ou
matriculou-se em uma nova escola, ou passou para um novo emprego, ou uniu-se a uma
nova igreja, você aprendeu que aceitação superficial é realmente rejeição. As pessoas
querem "pertencer". Se você já sofreu um medo sem nome, ou uma tristeza profunda, você
aprendeu que encorajamento volúvel não ajuda. Precisa que alguém lhe segure a mão ou
demonstre amizade verdadeira, amizade que ama e sustenta. Se você encarou seriamente
um fracasso e conseguiu passar pela experiência, você reconhece a raiva, o desespero e a
paralisia que resulta. Você aprendeu que, se o fracasso foi inevitável, você precisou de
alguém que lhe ajudasse a interpretá-lo e a crescer por causa dele.
As experiências que você teve, terão seus alunos e alunas também. Podem estar
exteriormente diferentes, em seus detalhes, variados; mas os sentimentos que criam, você os
conhece bem. Medo é medo, tenha você quatro anos ou quarenta. E amor é sempre amor.
Ensinar é comunhão entre pessoas. É possível somente em um clima de aceitação,
confiança e respeito escrupuloso pelo valor da outra pessoa.
Não nos é possível colocar coisas no aluno, como em um caixote, e o mandar pelo
mundo afora, pedindo a Deus que ele tenha o que precise nas horas de crise. O que ele
precisa é simples: saber que é o filho de Deus e que tem uma missão na terra. Será esse o
assunto do próximo capítulo.
PARA VOCÊ PENSAR
1.Quando e em quais circunstâncias requer o comportamento complexo, causado e
proposital, a disciplina?
2. Que se deve conseguir pela disciplina? Cite exemplos.
3. Eis algumas perguntas que poderão ajudar você, a saber, até onde um ato disciplinar
ajudou seu aluno:
a)Como resultado do acontecimento, o relacionamento entre meu aluno e eu foi
fortalecido?
b)No ato de disciplina, o valor pessoal do aluno foi afirmado?
c)Se ele se encontra em outra situação semelhante a essa que criou a necessidade de
disciplina, ele irá querer minha presença e ajuda?
4. Sabendo agora o processo que leva pessoas a se tornarem cristãs, quais as razões
verdadeiras para a memorização de passagens bíblicas e o aprendizado de histórias da
Bíblia?
5. Procure compreender algum comportamento questionável, talvez irritante, por parte de seu
esposo, colega, aluno ou filho, por procurar imaginar a percepção dele na situação em que
agiu.
6. Leia novamente as secções desse capítulo intituladas "O Comportamento é complexo", "O
comportamento é causado" e "O Comportamento é propositado". À luz das idéias aqui
apresentadas, como explicar o êxodo grande dos jovens das nossas igrejas?
QUE FAZ UM (A) PROFESSOR (A) DA ESCOLA
DOMINICAL?
8.
QUE FAZ UM (A) PROFESSOR (A) DA ESCOLA DOMINICAL?
A função principal do (a) professor (a) da Escola Dominical não é difundir
informação, nem tampouco declarar a lei moral. É amar os filhos de Deus.
Tratar as pessoas: velhos, crianças, homens, mulheres, colegas, vizinhos, alunos,
alunas - de maneira cristã é coisa de todos os dias, de todas as horas. B mais do que ser
agradável, agir com boas maneiras. Não é camada superficial. Jorra de uma convicção interior
sobre as pessoas e seu valor e sobre o significado verdadeiro da vida. Boas maneiras se
aprendem de um livro. Convicções cristãs, não!
Suas convicções sobre as pessoas e seu valor e sobre o significado de sua própria vida
encontram-se bem no centro de todo seu ensino. Sua maneira de lidar com seus alunos e
alunas, o tipo de lição e experiência que você planeja junto com eles, a quantidade de tempo
e esforço que você expende no relacionamento, tudo isso revela suas convicções. É possível
que você nunca tenha colocado seu pensamento em palavras, mas mesmo assim, você se
comporta em termos de seus próprios valores.
Esse assunto, o valor e o sentido da vida humana, em termos tradicionais da Igreja
chama-se "a doutrina do ser humano". Talvez você nunca tenha imaginado que você possui
uma doutrina, mas possui, sim; e você vive de acordo com ela. B claro que eu não posso
descrever-lhe sua própria doutrina, mas posso, isso sim, esboçar a doutrina cristã, e você
pode compará-la com eu pensamento particular.
A doutrina cristã do ser humano
Todos os seres humanos são irmãos.
Essa tem que ser a verdade. Segundo nosso conhecimento as origens da espécie, os
seres humanos possuem parentesco comum. Toda vida humana começa da mesma maneira
e cresce da mesma maneira. As variações entre nós, em tamanho e aparência, são
semelhantes às variações em qualquer outra espécie. Produzem interesse e brilhantismo;
mas nenhuma característica por si mesma, nem altura, nem tamanho da testa, nem figura da
cabeça, nem cor da pele, nem formato do nariz, nenhuma dessas se demonstra superior a
todas as outras.
Deus é nosso Pai.
O Cristão afirma que a fonte da vida, de toda a vida, da criação inteira, é Deus. O plano
ordenado, a sistemática, a dependebilidade e inter-relação complexa entre a vida, a água, o ar
e o solo, indicam um Poder imensurável e incompreensível. O universo não poderia ter
surgido por acaso. Deus é o poder criativo. Criou tudo. É o Pai de tudo.
Deus também é amor.
Ele está conosco, dentro de nós e em nosso meio. Deus é o tecido das nossas vidas, o
conectivo entre nós, que nos sustenta, nos segura, nos guarda, nos fortalece, nos restaura,
nos redime. É o amor entre os seres que no final das contas tem valor, que merece a
dedicação real das nossas vidas. Devoção inabalável é expansão do amor, verdade, justiça; é
a adoração verdadeira de Deus e o amor verdadeiro do vizinho. Deus não está "lá em cima",
nem "lá adiante", nem "lá no outro mundo". Seu reino está entre nós, agora.
Os seres humanos, todos os seres humanos, são formados na imagem de Deus.
Isto quer dizer que cada homem é único, diferente, sem par; não pode ser copiado.
Semelhante a Deus, ele é mente e espírito, inteligência e vontade. Ninguém pode medir os
limites de sua capacidade e esforço, nem ele mesmo. Ele tem um valor indeterminável: é
imensuravelmente precioso. Você o é; eu também. Também o são o adulto teimoso e a
criança desobediente. Uma pessoa, qualquer pessoa na face da terra, é mais importante do
que qualquer outra coisa nesse mundo.
É bem difícil acreditar nisso. Os jornais diariamente nos contam estórias de pessoas
que deliberadamente causaram angustia, sofrimento, e até a morte de outros, a seus irmãos.
Devemos valorizar tais pessoas?
Sim, devemos. Elas, como nós, são filhas de Deus. Deus nos chamou para ministrar a
elas, para levar-Ihes à redenção. Não nos é necessário apoiar a sua conduta. De fato temos o
direito, e até o dever, de nos proteger de sua influência e dos danos que causam. Mas como
pessoas, seu valor é inestimável. São filhos e filhas de Deus como nós somos.
A consumação da vida humana encontra-se no serviço aos outros.
Viver cada dia de maneira repleta, com cálice transbordando, usando total e
integralmente a inteligência e criatividade, somente se faz no serviço aos outros seres. Ao
amá-los, ao ajudá-ios, ao procurá-los, ao lutar por seus direitos e sustentá-los em seus
problemas, ao encontrá-los em sua solidão e regozijar com eles em suas felicidades, ao
ensiná-Ios. É assim que você encontra o significado e o propósito de sua própria vida. Jesus
ensinou essa verdade. É preservado na frase paradoxal: "Quem quiser salvar a sua vida,
perdê-la-á; e quem perder a sua vida por minha causa, acha-la-á". (Mateus 16:25)
Por que é que procurar o bem dos outros providencia na vida da gente a satisfação
verdadeira e o significado pleno? Confesso que não sei. Só sei que é verdade. As pessoas
que se dão em serviço aos outros são mais humanas, mais calorosas, mais incansáveis, mais
responsáveis, e mais encantadoras que as que procuram em primeiro lugar seu próprio bem,
e poder, e glória. É uma das leis infalíveis do universo, tão segura quanto a lei da gravidade.
É fácil ver que a doutrina cristã do ser humano diz muito sobre nossos relacionamentos
com outras pessoas. Descreve, por implicação, a maneira em que o homem deve tratar de
sua esposa, seus filhos e filhas, seus colegas, seus alunos e alunas. Não podemos desprezar,
ignorar, humilhar, desvalorizar, censurar, dominar, rejeitar, ou de outra maneira ferir qualquer
ser humano. Por quê? Porque ele é filho de Deus, sagrado e precioso.
A doutrina cristã do ser humano diz que cada ser (e seu filho) é de inestimável valor, e
que, portanto deve ser valorizado, ajudado e servido. O zelador da igreja e seu filho, o
presidente do banco e seu filho, o ladrão e seu filho, os menos privilegiados e os mais ricos,
os graciosos e os rudes, os afetuosos e os hostis, homens e mulheres, todos são iguais aos
olhos divinos. Todos precisam de nosso cuidado e amor. Dá-Ihes isso é a vontade de Deus.
Fazer isso é adorá-lo em espírito e em verdade.
Que é o amor cristão?
Então, cuidar, ajudar, servir a alguém é amá-lo. B pena que só temos uma palavra
"amor" para descrever muitas relações bem diferentes entre vários tipos de pessoas. B uma
palavra que em nossos dias está manchada pelo mal uso e estragada pelo uso excessivo.
Mas, é a única palavra que temos, de modo que precisamos compreendê-la. Que quer
dizer amar uns aos outros? Podemos usar outras palavras para descrever o amor?
Amar a alguém significa que seu bem estar me importa a ponto de eu agir a seu favor.
B dar-lhe meu tempo, esforço, dinheiro, habilidade, informação, ajuda e assistência, sem
limites e sem reservas. É responsabilizar-me por sua saúde, sua segurança, seu bem-estar
pessoal. Amar alguém exige mais do que escrever-lhe uma carta, ou comprar-lhe um
presente, ou levantar-lhe uma oferta. Significa dar a si mesmo para ele.
Amar alguém significa fazer o que o afirma como pessoa, digna e valiosa: talvez ouvi-lo
ou respeitá-lo; talvez chorar com ele ou regozijar em suas felicidades; talvez ajudá-lo a fazer o
que ele tem que fazer. Ele pode precisar de um amigo, de uma amiga, ou assumir uma
responsabilidade, ou conquistar um medo, ou confessar um erro, ou afirmar sua posição, ou
expressar sua ira, ou adquirir uma habilidade. Se eu o amo, estou pronto a me colocar a seu
lado. Noutros momentos, amá-Io significa não fazer nada que sufoca sua responsabilidade, ou
sua independência, que diminui seu conceito de si, que inibe sua liberdade de escolha, que
obstrui seu crescimento, que reduz seu sentido de autovalor.
Não é difícil perceber que para amar um outro é necessário perceber o mundo de seu
ponto de vista, compreender as pressões, tensões e experiências dele e participar de seus
sentimentos.
A marca do comportamento cristão é a habilidade de amar assim, amar até os não-
amáveis.
Onde enfraquecemos?
Infelizmente, nem sempre é possível tratar as pessoas de maneira a afirmar seu valor,
mesmo quando as amamos profundamente. Dominamos nossos filhos e filhas, tomamos
decisões em seu lugar, rimos com seus medos, desprezamos seus amigos, rejeitamos seus
sentimentos fortes. Brigamos com nosso esposo (ou esposa), presumimos superficialmente,
não sentimos suas tensões, suas esperanças, seus desapontamentos.
Por quê?
A razão é que somos, nós todos, inadequados e inseguros. Não temos certeza de
quem nós somos; não estamos totalmente convencidos de nosso crescimento; tememos não
ser bons maridos ou esposas, pais ou filhos, professores, obreiros ou trabalhadores. Não
amamos a nós mesmos, nem confiamos em nós mesmos, nem nos estimamos.
Mas deveríamos fazê-lo. Nossa doutrina cristã do ser humano nos diz que TODOS os
seres têm valor - e "todos" inclui a nós também. Muitas vezes esquecemos disso. No entanto,
é fato que lembrar desse fato não irá solucionar todos os nossos relacionamentos
problemáticos.
Como resolvê-los, então? E claro que a fim de melhorar as coisas, alguém tem que
mudar. Mas a única mudança que você pode controlar está em você mesmo. Então... é aí que
tem que começar. Se você pode se compreender, pode mudar. E mudar a si mesmo
transformará todas as suas relações com os outros.
Freqüentemente, ao invés de agir para com ou junto a uma pessoa, nos reagimos
contra ela. Não conseguimos compreender que o comportamento de qualquer determinada
pessoa em qualquer determinado tempo é a sua resposta, a melhor que ela pode inventar,
àquilo que está acontecendo. Esse comportamento pode nos ferir, pode destruir nosso plano
de aula, pode contrariar nosso conceito do certo e errado, pode reduzir nossa própria auto -
estima. Como resultado, reagimos. Cortamos o relacionamento, retiramos nosso amor,
mandamos a criança para casa, fazemos careta, saímos para a rua, brigamos com toda força,
ou oramos, dependendo das circunstâncias.
Em qualquer hora que atacamos outra pessoa, quando nos enchemos de sentimentos
fortes de ira, estamos realmente mal satisfeitos conosco mesmo. Sentimo-nos frustrados, não
amados, inaceitáveis, não sucedidos nos relacionamento em pauta. Quando isso acontece,
morre nossa capacidade de amar os outros sem interesse altruísta. Sempre reagimos com um
espírito de vingança.
Se você aprender a distinguir entre sua ação e sua reação, estará começando a
compreender a si mesmo.
É verdade que um adulto é responsável por sua própria conduta, sua vida, sua
personalidade, seu caráter, quem é agora e quem está se tornando. É também verdade que
uma meninice sem o calor humano e sem o cuidado amoroso determina o tipo de adulto que
será. O comportamento de seus alunos e alunas é a resposta à experiência total de suas
vidas. Quer dizer que você, educador (a), não precisa se sentir ameaçado ou julgar que
fracassou só porque o aluno, ou aluna, não se comporta da maneira que você deseja. Você
talvez não seja responsável por uma atividade determinada em tempo determinado.
Qual é a responsabilidade do (a) educador (a)?
Mesmo assim, você é responsável pelo bem estar dos seus alunos e alunas. Você foi
chamado a ministrar a eles em nome de Cristo, sem limites, a fim de que eles se tornem as
pessoas completas, amáveis, e criativas que devem ser: fortes, sensíveis, sensitivas,
calorentas, confiantes, seguras, sem medo, rancor ou hostilidade.
Você exerce esse ministério pela maneira em que você relaciona-se com eles. Você
oferece a eles o amor - seu amor e o amor divino.
O resultado de ser amado e valorizado por outra pessoa é que, por esse meio se chega
a amar e valorizar a si mesmo. Isso, por sua vez, o libera para amar e valorizar os outros.
Ninguém, persistentemente, todos os dias, procura o bem-estar de outrem a não ser
que esteja confiante de seu próprio valor. Se um pai (ou mãe) ou professor (ou professora) se
sente bem sobre seu trabalho, se reconhece que o futuro apresentará alegrias e problemas,
se não procura seu próprio bem, mas o bem do filho (ou filha), ou do aluno (ou aluna), então
ele é capaz de aceitar a indiferença e a rebeldia, o desdém e a desobediência como sinais de
um autojulgamento de insuficiência e não como ameaça à sua própria competência e
dignidade. Poder se comportar dessa maneira em um relacionamento com outro é a marca de
maturidade cristã.
No percurso desses meses em que estive escrevendo esse livro, indaguei-me
repetidamente se a boa teologia e a boa educação que lhes prometi no primeiro capítulo
realmente têm sentido para você. Você compreende o que escrevi? Você aceita? Você
acredita? Você pode praticar?
Acostumando-nos a novas idéias
Idéias novas, como sapatos, têm que ser usadas para acostumarmos a elas. I: só
depois de um certo tempo de uso que ficam confortáveis, especialmente se seu modelo é
novo. Na educação cristã que lhes descrevi nesse livro você talvez leve tempo para se sentir
bem.
Talvez você não saiba trabalhar com seus alunos e alunas a fim de estabelecer alvos
ou objetivos para sua vida conjunta na Escola Dominical, Educadores (as) freqüentemente
não gostam dos objetivos estabelecidos pelos alunos e alunas, ou se sentem inseguros
quando não podem prever o futuro imediato. Ou, caso os alunos e alunas participem da
determinação do conteúdo das lições, você pode indagar a si mesmo quando ou como você
vai apresentar "a lição", e ainda, que fará se eles perguntarem algo sobre a Bíblia ou a
doutrina que você não sabe responder.
Porque você não compreende bem o processo, é possível que esteja questionando a
necessidade de fazer de sua classe um grupo ativo. E até pode achar impossível fazer isso.
As questões que você está levantando, suas hesitações a aceitar as novas idéias não
me parecem superficiais ou sem importância. São atitudes que influenciarão seu ensino, e,
portanto teremos que considerá-las.
Mas, primeiro, procuremos alguma perspectiva.
O que você quer fazer na Escola Dominical é ajudar pessoas a se tornarem Cristãs.
Esse também é o alvo do pastor. t a razão de ser da Igreja e de todo o seu trabalho.
Há outras definições dos alvos da Igreja. Richard Neibur diz que a Igreja procura o
crescimento entre os seres humanos do amor para com Deus e o vizinho. Outros dizem que a
Igreja existe para testemunhar o evangelho, ou para evangelizar.
Mas, quaisquer que sejam as palavras que usamos, permanece de pé o fato de que se
seus alunos e alunas vão tornar-se Cristãos profundamente dedicados, terão que fazer mais
do que ouvir ou falar sobre Cristianismo. Terão que experimentar o viver cristãmente em uma
fraternidade de Cristãos que trabalhem e estudem em conjunto. Uma maneira de garantir isso
é criar de sua classe um grupo interativo, uma igrejinha dentro da igreja.
A igreja que age somente por causa de manobras pastorais é uma igreja fraca; uma
classe que só fizer o que o professor mandar, será classe fraca. Nenhuma, nem outra fará
contribuição verdadeira à vida dos participantes. Os membros terão moral baixo e pouca fé.
Cristãos verdadeiros são pessoas que tomam decisões, correm riscos, encaram dificuldades,
agem.
Seu grupo-classe irá agir, e você nem sempre saberá qual a próxima questão, ou idéia,
ou decisão, ou bobagem. Porque você acredita que os alunos e alunas possuem valor e
dignidade, que precisam pensar por si mesmos e crescer sozinhos, você continuará a manter
com eles um relacionamento honesto, aberto, confiante. Levantará questões, providenciará
informação, exercerá julgamentos, compartilhará seus entusiasmos, revelará suas
convicções. Quando você não souber a resposta, dirá que não sabe. E, em seguida, ajudará a
classe ou a pessoa a descobrir uma maneira de encontrar a resposta que precisa.
É verdade que alguns dias você talvez abandone a lição da revista da Escola
Dominical. Não será culpa sua, nem da comissão de currículo, nem do autor da série.
Realmente não será culpa de ninguém. Não há "culpa".
Ninguém pode descrever em detalhe o próximo passo imprescindível ao crescimento
cristão de outra pessoa. O melhor que os escritores de currículo podem fazer é desenvolver
cursos de estudo apropriados às diferentes idades da Igreja no tempo em que vivemos. Não
podem adivinhar as necessidades e interesses de uma classe determinada, composta de
alunos determinados, em um tempo e lugar determinados. Isso, somente você pode
determinar. É você que terá que combinar as vidas dos seus alunos e alunas com as
interpretações e discernimentos oferecidos pela revista. Para tal você precisa olhar o
conteúdo todo antes de começar, porque sua classe pode levantar no princípio questões que
os escritores levantaram somente no fim.
Esse livro tem sido uma descrição de um método de educação cristã, uma maneira
pela qual educadores (as) e alunos (as) possam viver em conjunto, como cristãos. Uma
pessoa não pode se tornar Cristã sozinha, do mesmo jeito que não pode se tornar humana
sozinha. Nem pode seu aluno ou aluna permanecer Cristão sozinho. O Cristianismo é uma
vida, uma vida de relacionamentos, de serviço, de andar a segunda milha, de dar mais do que
se pede ou se merece ou se espera.
Como um conjunto de crenças, o Cristianismo pode ser ensinado mais ou menos como
ensinamos história, geografia ou matemática. Como meio de vida, o Cristianismo só pode ser
aprendido dentro de uma comunidade cristã, pela convivência cristã.
Você pode até perder um pouco de sua autoconfiança ao reconhecer que precisa criar
uma pequena comunidade cristã, talvez sozinho. Você queria que alguém o ajudasse. Com
dois, quem sabe, iria melhor. Se alguém ajudar, talvez seja mais fácil.
Então, arranje um co-professor. Entre nós, até agora, dois professores para uma classe
só é idéia não muito experimentada. Mas tente. Vê se encontra alguém na igreja que quer
formar uma equipe, algum amigo ou amiga compatível que compreende seu ponto de vista e
que compartilha suas convicções e seus anseios. Trabalhem os dois juntos.
Uma coisa precisa sempre lembrar: você mesmo nem sempre pode julgar corretamente
seu sucesso nem seu fracasso.
No meu tempo de segundo grau numa cidadezinha bem no interior, eu assisti fielmente
a Escola Dominical de uma Igreja Protestante em uma comunidade de classe média-baixa.
Meu professor era tipógrafo de um jornal diário: era homem de convicções profundas, mas
capacidade verbal muito limitada. Até o belo dia de hoje não me lembro de nada que ele nos
disse. Mas jamais me esquecerei o esforço imenso que exerceu para dizê-lo. No percurso da
hora da classe, suava cada vez mais. Antes do fim da aula sua camisa e seu lenço ficavam
ensopados de suor. Senti grande compaixão por ele, ao lado de uma tremenda admiração por
sua iniciativa e esforço. Foi completamente evidente a todos os seus alunos e alunas que este
homem levava a sério a importância da Escola Dominical.
Sr. Pedro foi nosso professor por apenas dois anos. Deixou-nos, ele mesmo o disse,
porque reconhecia que não era bom professor.
Não tenho a mínima idéia de quem o substituiu. Alguém deve ter ensinado a classe,
talvez o pastor enquanto procuravam outra pessoa. Sei que continuei a assistir, pois a Escola
Dominical era hábito forte em minha vida. Mas não me lembro de ninguém mais que me
ensinou, nem de nada que foi dito na classe.
A minha única lembrança do departamento de jovens é o suado Sr. Pedro, que nos
ensinou porque tinha convicções profundíssimas e que nos largou porque se achava
incompetente. Este homem dedicado, zeloso, apaixonado, sincero, era mais convincente e
bem mais competente do que ele mesmo imaginava.
Não estamos sós
Há um poder que trabalha em nós e por meio de nós e muito além de nós. Permanece
depois do nosso tempo e sua força excede a nossa. Não é limitado por nossas imperfeições e
nossas insuficiências; é só limitado por nossa indiferença.
Somos gratos ao Espírito Santo por sua participação na luta, ao nosso lado.
Precisamos dele e dependemos dele. Mas não devemos nem podemos contar com ele para
fazer aquilo que nós mesmos podemos e devemos fazer. Alguém disse que temos que
trabalhar como se o estabelecimento de seu reino dependesse unicamente de nós e orar
como se dependesse unicamente dele.
Não estamos sozinhos em nosso trabalho. Inumeráveis homens e mulheres que não
conhecemos e que provavelmente nunca encontraremos estão trabalhando como nós e
conosco, fazendo o que podem onde quer que estejam. Inumeráveis outros viveram antes do
nosso tempo; ainda outros continuarão depois de nós. Este é o percurso da história do povo
de Deus.
"Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de
testemunhas, desembaraçando-nos de todo o peso e do pecado que tensamente nos assedia,
corramos com perseverança a carreira que nos está proposta”.(Hebreus 12:1)
PARA VOCÊ PENSAR
1.O que diz a doutrina cristã do ser humano, por implicação, sobre relações familiares:
esposa-marido, pai-filho, irmão-irmã?
2. Medite sobre:
- O sentido e funcionamento do amor: 1 Coríntios 13 e 1 João 4:7-21
- Você foi escolhido: João 15:12-17
- A grande comissão: Mateus 28:16-20