Apostila Teatro Mm

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    SUMRIO

    ARTES CNICAS ........................................................................................

    Captulo I: Histria do Teatro .................................................................... 6

    Captulo II: Interpretao ......................................................................... 34

    ARTES TCNICAS

    Captulo III -Figurinos ............................................................................. 70

    Captulo IV- Adereos .......................................................................... 81

    Captulo V - Cenografia ........................................................................... 82

    Captulo VI - Iluminao .......................................................................... 86

    Captulo VII -Maquilagem .................................................................... 100

    Captulo VIII -Sonoplastia ou Sonorizao .......................................... 104

    MONTAGEM E PRODUO DE ESPETCULOS TEATRAIS

    Captulo IX - Montagem e produo de espetculos Teatrais ............... 106

    Captulo X - O Ator e o seu Espetculo ................................................ 150

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    ARTES CNICAS

    CAPTULO I A HISTRIA DO TEATRO

    PRIMRDIOS DO TEATRO

    Ao falarmos de Teatro, importante nos remetermos a sua origem para entendermos

    que o homem sempre esteve ligado, de alguma forma, representao ldica do seu

    cotidiano. Hoje existem algumas classificaes anteriores ao chamado Teatro greco-litrgico,

    palco de grandes inovaes na dramaturgia.Chama-se de Teatro Egpcio (sc. XXV a.C.) tudo o que se refere aos textos de

    SABACON, cujo foco central era a Deusa egpciaHorus. Fala-se, ento, de livros dos mortos e

    textos de sarcfagos, dando lies para fazer durante o dia e sendo enrolados em papiros

    nas urnas dos mortos. Mas, segundo Junito Brando, havia no Egito um teatro de feio

    litrgica com intenes religiosas definidas, mas de grande beleza. O antigo Egito conheceu,

    pois, dois gneros de manifestaes dramticas, desenvolvidas sobre planos diferentes e

    irredutveis um ao outro: a ao ritual e o drama religioso, distinguindo-se este pelos

    objetivos, pelo esprito, pelas intenes e processos. "Era realmente um teatro que

    reproduzia ao vivo, com personagens, gestos e palavras, os episdios que se desejavam

    evocar ou imaginar, e no uma sugesto por smbolos. Era um espetculo, no um mistrio".

    No Teatro Hindu, na ndia do Sc. XIV a.C., o teatro existente totalmente ligado

    religio e s histrias de aventuras dos deuses que eram verdadeiros heris destemidos,

    vencedores de demnios e que eram amados pelos pastores. Trata-se de representaes,

    imitaes, algo ldico. Neste teatro, atribui-se Brahma como autor e organizador do gnero

    dramtico, para complementar os Vedas criados. O Teatro chins, na terra de Buda,

    baseado nos mistrios tibetanos, falando da geografia local, peregrinaes, sofrimentos e

    tormentos deste. As representaes aconteciam nos mosteiros, campos e templos locais.

    Em Creta, tudo que foi encontrado relativo ao teatro foram dois edifcios

    construes bem semelhantes s gregas que indicam fortemente a presena do teatro na

    ilha.

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    O teatro Grego tem seus primrdios na liturgia, onde os mistrios eram encenados em

    trs graus de inclinao (purificao, consagrao e contemplao), falando sobre a vida

    ps-morte, baseado nos Mistrios de Elusis, rituais destinados a Demter , a terra-me.Ao voltar origem da Tragdia (tragos=bode; ode=canto; ia sufixo=tragoedia ou

    tragdia), impossvel no falar sobre o mito de Dionsio Deus do Vinho e do Teatro, filho

    de Zeus. Hera, esposa de Zeus, perseguiu Dionsio, pois este no era seu filho e no queria

    que este herdasse o poder de um deus. De acordo com a tradio, sua concepo ocorreu

    em Tebas, quando sua me, Smele, filha de Cadmo, o fundador da cidade, foi amada por

    Zeus que se disfarara de homem. A vingativa Hera, irm e esposa deste, adotou a aparncia

    da antiga ama-de-leite de Smele e se negou a acreditar que Zeus fosse o pai do filho que a

    princesa tebana esperava, a menos que esta convencesse o deus que o demonstrasse,

    apresentando-se diante dela com o seu verdadeiro aspecto. Smele, ento, preparou uma

    armadilha e o fez apresentar-se, ento, como realmente era. O brilho de Zeus, no entanto, a

    fez encolher at convert-la em nada.

    Desta forma, morrera carbonizada. Zeus pegou o corao de Dionsioe colocou-o na

    coxa at que ele nascesse. Depois, o deixou nas montanhas, lugar mido e sombrio onde

    vivia comninfas e stiros (homens-bode). Um dia, bebendo suco, Dionsiopegou um clice

    de ouro, espremeu a videira e deu origem ao vinho. Isso passou a ser uma festa: a Vindima,

    onde todos bebiam e cantavam at carem desfalecidos em homenagem a Dionsio(ou Baco,

    ou Iaco e ou Zagreu, seus diversos nomes).

    A Plis do Olimpo so crenas que conduziam as aes das pessoas e a busca da

    imortalidade que causava cimes nos deuses, j que levavam as pessoas a ultrapassar o

    Mtron, ou seus limites. Ao ultrapassar o Mtron, atravs do xtase e entusiasmo, chega-sea ao ner , conhecido como estgio de ator. Este estgio provoca a Hibris, uma espcie de

    violncia contra si mesmo quando se transforma em um personagem, j que assim, a pessoa

    renega o que sente para viver os sentimentos deste. Assim, cai-se num Nmesis o cime

    divino que causa obsesso provocando a cegueira da razo, conhecida como Ates. Sem

    razo, o indivduo provoca a Moira, o destino cego. Todo este processo de estgios falado

    para justificar aos homens que no se deve ultrapassar o M tron, ou manter-se no limite,

    para que se possa manter o controle de suas vidas. justamente essa transformao o

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    elemento fatorial da religio dionisaca, pois o homem, arrebatado pelo Deus, torna-se

    diferente do que ele no cotidiano. E, segundo Aristteles, somente a partir desta

    transformao que pode surgir a arte dramtica.

    O MILAGRE GREGO

    Antes de iniciar a trajetria do teatro a partir da tragdia, importante salientar que o

    sculo V a.C. foi a poca em que melhor se instalou uma democracia. Nesta poca, Atenas

    vivia ares de liberdade, o que impulsionou a busca pela razo, iniciada pelos

    questionamentos de Scrates, j que este tentava buscar fontes para explicar as razes

    humanas e sociais no mais pela natureza, mas pelo raciocnio, pela racionalizao do

    pensamento. Com isso, nascem grandes filsofos como Plato (428 a 347 a.C.) e Aristteles

    (384 a 322 a.C.), que daro continuidade s suas discusses, transformando a arte, a cincia

    e o agir poltico. Estas buscas nos so reafirmadas nas obras Antgona e dipo Rei, por

    exemplo, onde questionamentos sobre as atitudes de autoridades so justas e igualitrias ao

    povo.

    Plato, por sua vez, discutia a arte de representar, querendo que os poetas fossem

    banidos, dizendo que era a mimeses da mimeses, ou imitao da imitao e, por isso, no

    podia ser considerada original. Ao contrrio de Aristteles que afirmava a representao

    como legtima, pois, por poisis, tornava perfeito o que a natureza fez imperfeito. Para ele, a

    representao no imitava a vida como ela era, mas como deveria ser, de forma aprimorada,

    exemplificando com as abordagens morais de Sfocles (495 a 406 a.C.) e squilo (525 a 490

    a.C.).

    PROMETEU ACORRENTADO a nica da trilogia escrita por squilo sobre Prometeu,

    traz aspectos de justia, piedade e moral. A moral do personagem no abalada, pois este

    um heri que causa piedade e temor na platia. Seu foco principal a inteligncia. A razo

    chega aos homens atravs de novos questionamentos e saberes filosficos e humanos.

    Coloca a forma de governo ditatorial por terra, sob a forma de Jpiter, que cai do poder no

    final.

    ANTGONA e DIPO REI so peas escritas por Sfocles que retratam a moral e a

    liberdade, mostrando as pessoas como elas deviam ser, quais atitudes seriam justas e

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    cabveis tanto corte real quanto ao povo. Trata de temas como incesto, amor, culpa,

    orgulho e ainda sobre divindades e orculos, presentes na vida dos homens desta poca.

    Sfocles reduz a importncia do coro em suas peas e o maior vencedor dos concursostrgicos.

    A TRAGDIA

    A esttica de Aristteles primeiro terico da tragdia aponta os dois conceitos que

    definem o gnero: a mimese, ou imitao da palavra e do gesto, que para ser eficaz deve

    despertar no pblico os sentimentos de terror e piedade; e a catarse, efeito moral e

    purificador que proporciona o alvio desses sentimentos.

    Tragdia o gnero teatral em que se expressa o conflito entre a vontade humana,

    por um lado, e os desgnios inelutveis do destino, por outro. A rigor, o termo s se aplica

    tragdia grega ou clssica, cuja origem se confunde com o prprio teatro, mas por analogia

    tradicionalmente estendido literatura dramtica de vrias pocas, em que conflitos

    semelhantes so tratados. A tragdia surgiu na Grcia no final do sculo VI a.C. e esgotou-se

    em seu sentido genuno em menos de cem anos. Assim, quando no sculo IV Aristteles

    formulou a Potica, sua teoria da tragdia, o pensamento filosfico estava plenamente

    estabelecido e a tragdia no tinha mais lugar. Sucedeu historicamente epopia e poesia

    lrica e se extinguiu com o advento da filosofia.

    O momento histrico da tragdia corresponde a um estado particular de articulao

    entre o mito e a razo, em que essas categorias entram em conflito e preparam a vitria

    final do pensamento. Marca a transio do homem trgico, sujeito aos caprichos dos deuses,

    o homem descrito na mitologia e na poesia de Homero, para o homem dramtico ("drama"

    deriva de uma palavra grega que significa "ao") ou homem de ao, cidado poltico,

    descrito por Aristteles como senhor de sua vontade e responsvel por seus atos. A deciso

    trgica se d entre os desgnios dos deuses e os projetos ou as paixes dos homens. A

    tragdia, portanto, exprime o debate entre o passado mitolgico e o presente da polis, ou

    cidade.

    A palavra grega "tragdia" significa "canto do bode" e se refere possivelmente ao

    ritual em honra a Dionsio do qual, segundo Aristteles, o teatro se originou. Sua fonte o

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    Ditirambo, canto executado por um coro no qual se destaca o Corifeu. O rito a Dionsio, no

    qual se sacrificava um bode, ligava-se ao culto da fertilidade e ao ciclo vegetal, e, portanto,

    ao ciclo da vida humana. Esta condicionada pela sombra da morte e do desastre, emboraaberta, no rito dionisaco, possibilidade de ressurreio. As tragdias eram apresentadas

    ao pblico nas Grandes Dionisas, festivais realizados em Atenas a partir do sculo VI a.C. por

    iniciativa do tirano Psstrato. Tspis tido como o primeiro tragedigrafo, pois a ele se

    atribui a dramatizao dos Ditirambos, poemas narrativos cantados por um coro. O Corifeu,

    integrante destacado do coro, teria passado a dramatizar os versos que cantava e a esboar

    um dilogo com os demais integrantes.

    squilo, primeiro poeta trgico clssico do qual se conhecem vrias obras completas,

    manteve o predomnio do coro, mas introduziu um segundo ator alm do Corifeu, o que

    reforou a dramatizao. Sfocles, no sculo V, escreveu dilogos para um terceiro ator que,

    como os outros dois, podia desempenhar vrios papis mediante o tradicional recurso das

    mscaras. A sobriedade e a grandeza das tragdias de squilo e Sfocles foram atenuadas na

    obra de Eurpedes, o terceiro dos grandes trgicos clssicos, em favor da maior humanizao

    dos personagens. A partir do sculo IV a.C., a tragdia grega , j despojada de sua funocatrtica, tornou-se retrica e sobrecarregada, como sucederia mais tarde tambm com a

    tragdia romana, representada por autores como Lvio Andrnico e Sneca.

    Tragdia Moderna

    O gnero trgico ressurgiu na Inglaterra, nos sculos XVI e XVII, com autores comoChristopher Marlowe, que conferiu carter herico aos personagens, e como William

    Shakespeare, que expressou, de forma inigualvel, sua viso da capacidade humana de

    enfrentar as foras do destino em situaes extremas, embora se afastasse dos parmetros

    clssicos. No sculo de Ouro espanhol, a tragdia foi cultivada por grandes figuras da

    literatura, como Pedro Caldern de la Barca. A tragdia francesa, do sculo XVII, recuperou

    os modelos gregos e alcanou grande profundidade psicolgica com as obras de Corneille e

    Racine.

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    Uma nova espcie de tragdia surgiu no norte da Europa, no sculo XIX, com Ibsen,

    Strindberg e Tchekhov. Ao contrrio das anteriores, as peas foram escritas em prosa e os

    temas adaptados s inquietaes contemporneas.A despeito dos horrores da segunda guerra mundial, que poderiam ter inspirado o

    drama trgico, e das obras comoventes sobre a solido e da desolao do ser humano no

    teatro ps-guerra, a tendncia, no final do sculo XX, era considerar o gnero ultrapassado.

    O DRAMA SATRICO

    Mais antigo que a prpria Tragdia, o drama satrico passou a fazer parte dos

    concursos trgicos atravs de Prtinas, o primeiro autor de dramas satricos, em 490 a.C.

    Escreveu 32, dos quais todos se perderam na histria. Refere-se aos entoadores de

    Ditirambos, vestidos de bode (stiros). Foram estes dramas os responsveis pela instituio

    da tetralogia em detrimento trilogia, devolvendo tambm o xtase e entusiasmo de

    Dionsio ao povo, j que os sentimentos apareciam de forma mais amena e apresentava

    sempre um final triunfante, ou feliz. No drama satrico, o coro veste-se de homens-bode.

    Os Stiros, ento, vestiam uma malha e calo cor-da-pele, ornado na frente com um

    falo e atrs com uma calda, estavam geralmente descalos, enquanto os que representavam

    os nobres calavam botinas. Os demnios-bodes, como eram originalmente chamados,

    apresentavam barba ouriada, cabelos bagunados e levantados para trs, alm de

    possurem fronte larga e rugas na testa. Bem como na tragdia, o drama satrico era dividido

    entre partes cantadas e recitadas, sendo dois ou trs atores, representando dois episdios, o

    que faz ocorrer apenas um estsimo, descrito anteriormente na tragdia.

    A COMDIA

    Comdia Antiga

    De acordo com Aristteles, a comdia origina-se dos cantos flicos que

    acompanhavam os rituais ou Faloflias, uma espcie de procisso em que se carregava um

    falo em homenagem fertilidade, um smbolo de fecundao da terra. Estes eram os ritos

    principais das Dionsiasrurais ao lado dos Komis, cujo principal significado est ligado a um

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    bloco de festa em procisso, onde durante a noite, escoltavam um falo (komo + ode + ia =

    comdia). Jovens saam em posse de animais mortos durante a noite, solicitando donativos

    de casa em casa, movimentando as pessoas nas ruas. D-se a esse ritual a razo de muitasobras desta poca serem denominadas por animais, com "As Rs", "As Aves" e "Os peixes",

    de Aristfanes, nico autor da Comdia Antiga.

    Esta fase do teatro divide-se em trs partes: O gon, caracterizado pelo debate entre

    os atores e o coro, chamando a ateno do pblico para o assunto da pea; A Revista,

    apresentando vrias esquetes para se desenvolver o tema e o xodo; e, a Sada do Coro,

    porm, de forma diferente da Tragdia, que agora sai em forma de evolues. Inicialmente

    composto por 24 figurantes, o coro foi perdendo contingente, tendo seu nmero reduzidopara 8, 4 at a sua total extino. Sendo a comdia antiga descrita por uma grande farsa,

    tem como aliada para esta proposta uma vestimenta grotesca sempre igual: colante cor-da-

    pele, falso ventre, falo e ndegas, tentando aparentar nudez. A mscara ainda mais burlesca,

    adaptava, por vezes, barba e cabelo. Para completar, calavam sandlias comuns de correias

    entrelaadas.

    Comdia Nova

    A comdia antiga morre com Aristfanes, em poca de guerras peloponesas

    batalhas interminveis e na circunstncia da queda da Democracia ateniense , junto com a

    morte de Alexandre e a ascenso do imprio macednico ao poder. Tempos de grandes

    dificuldades, de desesperanas que enfraqueceram o povo e a economia. Com isso, a

    comdia passa a parodiar a vida cotidiana, colocando os Deuses em locais e situaes

    comuns, caracterizando o que se chamou de mdia comdia, antecedendo a Comdia Nova

    (336 a 250 a.C.) que trazia nova linguagem, agora requintada, inteligente e mais sutil, pois se

    apropriava do ambiente familiar tipicamente burgus e repleto de conflitos sociais.

    Menandro (342 a 291 a.C.) o autor mais conhecido deste momento do teatro,

    influenciando seus contemporneos Plauto e Terncio. Ao quebrar a estrutura da comdia

    antiga (agora com apenas um prlogo e sem o coro), carrega de pardias as suas obras,

    como "Omisntropo".

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    O TEATRO E O CRISTIANISMO

    O teatro chegou a ser considerado uma atividade pag por fora do Cristianismo, o

    que prejudicou muito o seu desenvolvimento. Paradoxalmente, foi a prpria Igreja que"ressuscitou" o teatro, na era da Idade Mdia, atravs de representaes da histria de

    Cristo.

    Enquanto isso, atores espanhis profissionais trabalhavam por conta prpria e

    recebiam patrocnio dos autores de comdia, atravs de festivais religiosos que eram

    realizados nas cortes da Espanha, com alta influncia herdada das encenaes italianas.

    BUFES

    Presentes na

    perodos monrquic

    eram pessoas, gera

    que podemos dizer

    lepra, ao ananism

    Diante disso, passa

    corte com suas ac

    envoltos sem que

    esses deboches eram tidos como entretenimento para todos. Com o tempo, estas pessoas,

    que eram assim o tempo todo e no apenas diante do Rei em determinados momentos,

    foram sendo utilizadas nos palcos por alguns personagens, influenciando os Clownse Zannis.

    Idade mdia, caracterizada por

    os, os bufes ou bobos da corte

    lmente, caricatas da sociedade, o

    que sofriam certa excluso, devido

    o ou outra caracterstica especial.

    ram a ter liberdade para alegrar a

    robacias e crticas ao Rei e seus

    houvesse punio. Pelo contrrio,

    MMICA

    Acredita-se que a mmica um recurso utilizado pelo homem

    desde os primrdios, antecedendo a comunicao verbal. E, utilizada

    sempre que no se consegue explicar atravs da linguagem de qualquer

    regio. Como foi falado anteriormente, a mmica era utilizada pelo coro

    em concursos trgicos durante a dana que executavam, sobretudo com

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    as mos. Assim definida, dana com as mos, um recurso utilizado na comdia Del Arte,

    nas apresentaes de Clownse em outras vertentes teatrais.

    O artista que elevou a mmica a uma forma de arte suprema, o poeta do silncio quefoi o artfice do renascimento da arte da pantomima, aps a Segunda Guerra Mundial,

    faleceu ontem. Considerado por muitos como o Picasso da Mmica, foi reconhecido pelas

    Naes Unidas que o elegeram, em 2002, "Embaixador da Boa Vontade para o

    Envelhecimento". O universalismo da sua mensagem foi capaz de unir platias separadas

    em todo o resto, durante anos a fio, com uma sensibilidade tocante. A figura frgil e bela do

    arlequim denunciou tenazmente o comodismo, o egosmo, a covardia, a mesquinhez, a

    misria e a prepotncia da espcie humana, elevando a mmica a patamares nunca antesatingidos, e erguendo bem alto a chama eterna e libertadora da expresso artstica.

    " A mmica uma arte que hipnotiza. uma linguagem universal, e assim como a

    msica, no conhece fronteiras nem nacionalidades , dizia ele. Se a gargalhada

    e as lgrimas so caractersticas da humanidade, ento todas as culturas esto

    mergulhadas na nossa arte .

    COMDIA DELARTE

    Surge na Itlia, no sculo XVI, e tem como base

    a mscara e o improviso. A maioria dos atores da poca

    era analfabeto, o que tornava o texto obsoleto. Assim,

    os que sabiam liam os textos e em cima dissomontavam as peas. Usava-se de artimanhas para

    aproximar a representao da realidade do local em

    que se apresentavam, pois ganhavam pblico viajando

    por diversos locais da Europa, sobretudo Frana e

    Itlia. Ao se utilizar de mmicas, poderiam ser

    entendidos por todos, j que encontravam pelo

    caminho vrios dialetos, os quais no sabiam falar. No

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    entanto, este era apenas um instrumento utilizado na falta de outro recurso.

    Estas companhias itinerantes ensaiavam tambm acrobacias que chamavam muita

    ateno do pblico, dando como caractersticas a agilidade e flexibilidade fsica dospersonagens, sobretudo dos Zannis, ou empregados. a primeira vez que aparece uma

    mulher atuando numa representao teatral. Com cenrios em perspectiva, dando iluso de

    fundo feito com carvo, as peas duravam cerca de 3 a 4 horas, surgindo da o famoso

    tomate jogado no palco como crtica do pblico, j que estes levavam seus lanches para as

    apresentaes.

    Os personagens da Comdia DelArte eram fixos e se diferenciavam atravs das

    mscaras. Os doutores ou patres vestiam mscaras que cobriam apenas a fronte e o nariz.Os enamorados usavam mscaras brancas com traos finos e sutis para dar um carter

    romntico aos apaixonados. J, os Zannisvestiam mscara preta ou marrom com verruga no

    lado direito da testa e traos grotescos, para dar um ar cmico e rude aos personagens, alm

    de usarem vestimentas feitas de sacos ou panos de cho.

    Carlo Gordoni, j no final do sculo XVIII, quando a Comdia DelArte entra em

    decadncia, apresenta textos caractersticos que no so mais considerados desta escola, o

    que desfigura esta arte.

    CLOWN

    Este termo de origem camponesa, mas as razes

    esto na comdia grega e romana, alm das apresentaes daComdia DelArte atravs do Zanni . O Clown um

    personagem de caractersticas rsticas, simples e ingnuas,

    semelhante aos bufes da idade mdia, brincando com

    instituies e valores. O Clown assume, por inteiro, a sua

    identidade, pois est sempre acabando de descobrir-se e,

    portanto, mostrando suas fraquezas e barreiras entre ele e a

    sociedade urbana.

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    Ultrapassando as praas, os palcos e depois os cinemas, vrios personagens

    ganharam fama mundial, dentre eles Charles Chaplin, Hardy e Laurel em O Gordo e o

    Magro e outros que, revelando o lado pattico de si (e detodos) ganharam a sociedade desde ento. Uma pessoa ou

    no um clown, porque ela apresenta tais caractersticas alm

    do palco. Por isso, muitos personagens vieram de geraes de

    clowns, cresceram fazendo isso e ao longo de muitos anos,

    foram adquirindo capacidade de execut-lo com a simplicidade

    e, ao mesmo tempo, com toda a sua complexidade necessria.

    Ampliam-se os aspectos ingnuos e puros atravs de umprocesso doloroso de criao, pois o artista confronta consigo

    mesmo, revelando o que h de mais fraco e ridculo em si para

    rir e se fazer rir disso tudo. Mas, no podemos confundir: o

    clown no um palhao, ele no age com a inteno de nos fazer rir, ele nos faz rir pelas

    caractersticas grotescas que reconhecemos nele e que existem em ns, principalmente. Ele

    no representa, ele e, por isso, profundamente humano.

    SHAKESPEARE (1564 - 1613)

    Autor ingls designado como o maior autor de

    todos os tempos, viveu, entre 1564 a 1613, na Inglaterra

    e, durante boa parte desse tempo, escreveu inmerasobras diferenciadas, entre tragdias, comdias e histrias.

    Acredito que foi devido influncia de Scrates que

    Shakespeare ambientava em suas obras:

    questionamentos filosficos e psicolgicos, tentando fazer

    com que o pblico buscasse dentro de si as respostas para

    suas angstias, crises, dvidas e sentimentos fortes

    vividos pelos personagens, que antes lhe eram desconhecidos. Tal como o fez no

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    outros.

    existencialismo presente em Hamlet, o amor e o dio em Romeu e Julieta, o cime trgico

    de Otelo, a ambio e o poder em Macbeth e Ricardo III, a astcia e religio em Mercador de

    Veneza, entreSua obra tomou tamanha proporo por se utilizar de linguagem simples, porm com

    vocabulrio rico e diversificado, apresentando, claramente, o cuidado e o zelo que tinha por

    suas obras, de forma que no atingissem Rainha Elizabeth e nem a ningum diretamente, e

    que pudesse ser entendida por todos. O autor possui caractersticas fantasmagricas em

    muitas de suas obras, relevando aspectos sobrenaturais, em alta discusso em todos os

    aspectos sociais desde os primrdios da humanidade, tratada, por ele, de forma mais

    cmica. A crtica pode ser vista em todas as suas obras, sobretudo nas comdias. Noentanto, ao ambientar as obras distante da Inglaterra e pelo cuidado com a escrita, escapou

    de restries s suas obras e qualquer penalidade que pudesse sofrer ao criticar a corte e a

    sociedade. Devido a este fato muitas pessoas podem extrair diversas discusses sobre a

    poca em que viveu.

    Principais obras:

    Comdias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de vero, A Comdia dos

    Erros, Os dois fidalgos de Verona, Muito barulho por coisa nenhuma, Noite de

    reis, Medida por medida, Conto do Inverno, Cimbelino, Megera Domada e A

    Tempestade.

    - Tragdias: Tito Andrnico, Romeu e Julieta, Julio Csar, Macbeth, Antnio e

    Clepatra, Coriolano, Timon de Atenas, O Rei Lear, Otelo e Hamlet.

    - Dramas Histricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

    MOLIRE

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    Nascido em Paris, na Frana, em 1622, e batizado

    como Jean Baptiste Poquelin, viveu praticamente dentro da

    corte, j que seu pai era um funcionrio real. Assim, logocomeara a trabalhar para o Rei e observar aspectos que

    viria a acrescentar em suas obras posteriormente. Em 1643,

    fundou com sua amante Madelaine a Companhia Ilustre de

    Teatro (L'Illustre Thtre), que fechou, em 1645, por dvidas.

    Dvida estas que causaro a priso de Poquelin. No entanto,

    libertado, com a ajuda de seu pai, toma por pseudnimo o

    nome de Molire e vai para uma pequena cidade no sul da Frana. Viajar por muitascidades, onde ter contato com a Comdia DelArt.

    Em 1654, retorna Paris, mas, s em 1659, faz sucesso com As preciosas Ridculas

    e, em 1662, com Escola de Mulheres. A partir da, faz sucesso entre crticas burguesas,

    casa-se vrias vezes e tambm censurado. Morre, em 1673, em ocasio de apresentao

    da pea O Doente Imaginrio de sua autoria. A caracterstica marcante de Molire foi

    justamente ir de encontro ao classicismo francs que pregava regras para o teatro baseadas

    no aristotelismo, onde tudo dentro da pea deveria acontecer num prazo de 24 horas e no

    mesmo espao fsico. Molire considerado o pai da comdia de costumes, ou comdia

    burguesa, que vai criticar as atitudes da famlia dentro da sociedade burguesa, se utilizando

    de linguagem da prpria classe burguesa para critic-la. Esta sociedade se desfalecia em sua

    moral e costumes, como o machismo, a soberba e a cultura.

    A partir do sculo XVIII, acontecimentos como as Revolues Francesa eIndustrial, mudaram a estrutura de muitas peas, popularizando-as atravs de

    formas como o melodrama. Nessa poca, em todo o mundo, surgiram inovaes

    estruturais, como o elevador hidrulico, a iluminao a gs e eltrica (1881). Os

    cenrios e os figurinos comearam a ser melhor elaborados, visando transmitir

    maior realismo, e as sesses teatrais passaram a comportar somente uma pea.

    Diante de tal evoluo e complexidade estrutural, foi inevitvel o surgimento da

    figura do diretor.

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    O autor russo considerado um divisor de guas na

    por este autor, para engrandecer o trabalho de

    STANISLAVSKI (1863 1936)

    interpretao, propondo atos comedidos e realistas, onde o

    ator empresta suas experincias ao personagem. Segundo

    Stanislavski, at a pele do ator muda quando este executa

    uma ao de dentro para fora, ou seja, totalmente

    envolvido com o sentimento do personagem atravs da

    busca de uma situao prxima que pudesse ou fosse vivida

    pelo ator.

    Colher informaes, dentro do texto e pensar sobre

    a vida e situaes do personagem, so tcnicas ensinadas,

    percepo, onde o ator precisa fazer nascer

    um novo ser, criar a sua respirao, o seu corpo, a sua comunicao com o mundo e com as

    pessoas. Utiliza-se, assim, a tcnica do como se fosse eu. Atravs deste estudo, um

    personagem ser representado de formas diferentes por cada ator, j que aquele

    construdo de acordo com as vivncias deste.

    Alm disso, a concentrao um ponto muito importante para a transferncia de

    sentimentos. O ator deve agir com o inconsciente consciente, para que as aes se tornem

    orgnicas e, ao mesmo tempo, se esteja atento ao que acontece no palco. Ou seja, o ator

    deve ter conscincia cnica, principalmente, ao lidar com aes fsicas e contato com o outro

    em cena. Para isso, o ator deve conhecer seu prprio corpo, saber de seus limites, suas

    capacidades, deve ser um bom observador e eliminar clichs. Desta forma, o texto a

    ltima coisa em que o ator pega para fazer um papel, pois j que estudou a vida do

    personagem e ele j est impregnado em suas aes. O texto flui facilmente, visto que o

    subtexto fortemente expressado e pensado pelo ator.

    ANTON TCHKHOV (1860 1904)

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    Anton Pavlovitch Tchkhov (1860 - 1904), nasceu em Taganrog, na Ucrnia, ento

    pertencente Rssia tsarista, e foi o grande renovador do conto moderno. Seu estilo

    influenciou contistas de todo o mundo pela conciso da narrativa.Mdico de profisso, ele comeou a escrever em

    1880. Custou pouco tempo para ser conhecido como

    fenomenal dramaturgo, autor de "Tio Vnia", "Ivanov", "As

    trs irms" e "O jardim das cerejeiras", obras que so at

    hoje encenadas com grande sucesso. Seus textos foram

    publicados, primeiramente, na imprensa. Destacamos,

    entre eles, "A dama do cachorrinho", "A Estepe" e "A

    Noiva". Mais tarde, do cronista considerado apenas

    "engraado", revelou-se um escritor de um humor

    implacvel. Melancolicamente pessimista e aproveitando

    ao mximo todas as experincias humanas e sociais, Tchkhov foi o criador de uma escola

    literria que encontrou, mais tarde, mesmo nos pases ocidentais, enorme repercusso.

    A influncia do naturalismo no teatro, que se fazia sentir por toda a Europa, atingiu oseu expoente artstico na Rssia, em 1898, com a formao do Teatro Artstico de Moscou

    (mais tarde chamado de Teatro da Academia das Artes de Moscou). O seu nome tornou-se

    um sinnimo de Tchekhov, cujas peas, acerca da vida quotidiana da aristocracia possuidora

    de terras, adquiriram um delicado realismo potico que estava anos frente do seu tempo.

    Konstantin Stanislavski, o diretor do teatro, tornou-se, porventura, o mais importante

    terico da arte de representar do sculo XX.

    Seus livros mais conhecidos so: Contos e narrativas, Um duelo, A Estepe, A Minha

    Vida, A sala nmero seis, Uma histria sem importncia. Escreveu para o teatro, primeiro a

    farsa, depois o drama. Entre as suas peas, destacam-se: A Gaivota, Tio Vnia, As trs irms,

    O canto do cisne, Um trgico fora, Ivanov, etc. Um de seus contos mais conhecidos A

    dama do Cachorrinho, de 1899.

    Estudando a Obra:

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    In "Las lecciones de 'rgisseur' de Stanislavski", Nicolai M. Gorchakov, traduo em espanhol

    (sem o nome do tradutor), Ediciones Pueblos Unidos S.A., Montevidu, 1956, pgs. 45-48.

    Traduo de Roberto Mallet.

    Em 4 de setembro de 1924, Gorchakov comeando seus estudos no Teatro de

    Arte de Moscou, recm-formado como diretor pelo Estdio de Vakhtanghov,

    apresentou para Stanislavski a comdia A Batalha da Vida, direo de concluso

    de seu curso. Depois da apresentao, relata Gorchakov, Stanislavski teceu como

    introduo anlise propriamente dita do espetculo, os comentrios abaixo:

    Foi para mim uma grande alegria ver na boca do mestre consideraes sobre asquais venho insistindo muito nos ltimos anos. Tenho por certo que o

    entendimento e o comprometimento intelectual com o espetculo fator

    determinante para a qualidade da atuao. Roberto Mallet.

    "A fim de que eu possa falar a vocs com toda franqueza", comeou

    Stanislavski, "tm que responder-me seguinte questo: quantas vezes

    gostariam de representar essa pea?" Sua pergunta surpreendeu-nos a todos, e

    por isso no sabamos como responder. "Sei que vocs gostam dessa pea",

    continuou, "pois j a representaram muitas vezes com xito. Eu tambm gosto

    dela. O diretor analisou-a com acerto. H muitos momentos comoventes e cheios

    de sinceridade na atuao individual de vocs. Vocs merecem represent-la.

    Mas estou interessado em saber quantas vezes gostariam de faz-lo. Quantos

    anos? Pretendem que a mantenhamos no repertrio do Teatro de Arte de

    Moscou? Sentimo-nos numa sinuca. Alguns de ns at comearam a rir por puro

    desconcerto. Nossos sonhos no tinham ido to longe.

    Eu disse: "S espervamos que ela pudesse ser mantida durante uma

    temporada".

    "Isso mau", replicou Stanislavski. "O artista deve trabalhar com a inteno de

    que sua criao perdure. Vamos, digam-me, gostariam de representar essa pea

    duzentas vezes?"

    "Claro que sim, disse Constantin Serguievich."

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    "E fariam alguns sacrifcios para tanto?"

    Embora a pergunta tenha sido formulada em um tom clido e afetuoso,

    percebemos a sua seriedade e instintivamente permanecemos em silncio. At oator mais jovem e inexperiente sabe quo fatal pode ser sua resposta. Mas,

    sendo eu o mais velho da companhia, e sabendo que a questo dos "sacrifcios"

    era dirigida a mim, em minha condio de diretor, compreendi que tinha que

    falar.

    "Peo-lhe que no se incomode conosco por no respondermos sua pergunta

    imediatamente, Constantin Serguievich", eu disse. "Voc provavelmente nos

    compreende melhor do que ns mesmos. Diga-nos, por favor, o que precisamos

    fazer para melhorar nossa atuao e conservar a pea no repertrio o maior

    tempo possvel."

    "Esto todos de acordo com Gorchakov?", perguntou Stanislavski. Logo

    continuou: "No conheo vocs muito bem. Encontramo-nos pela primeira vez ao

    redor da mesa de trabalho e no quero pr a perder o comeo de suas carreiras

    de artistas. Prometo-lhes que a pea ser representada e que vocs estaro nela,

    mas no imediatamente.

    Respondemos unanimemente que faramos tudo o que ele achasse que

    devamos fazer.

    "Tratem de no ter que lamentar essa deciso dentro de uma hora", respondeu

    com certa ironia.

    Logo continuou: "Perderei muito pouco tempo em analisar os mritos de sua

    atuao. Por favor, no me levem a mal. O tempo breve de agora at omomento em que a pea deve ser apresentada de novo. Todos vocs

    compreenderam bem o autor, e o diretor conduziu com acerto o trabalho de

    criao dos personagens de Dickens. Vocs permaneceram fiis ao tema da obra

    e, por isso, a trama e a idia ficaram claros para a platia. Trabalhando em

    consonncia com o diretor, encontraram o ritmo adequado e resolveram seus

    problemas de atuao com sinceridade e entusiasmo. A atuao de vocs estava

    inspirada por uma devoo juvenil. Isso chega ao pblico, encanta-o e faz com

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    que passe por alto os defeitos. Vocs tm defeitos? Creio que sim, mas no

    esto conscientes deles. No os sentem... pelo menos ainda no. Minha tarefa

    consiste em apont-los, convencer-lhes de que tm que combat-los, livrar-se dealguns e transformar outros em benefcios. O principal defeito sua juventude.

    Estranham que lhe diga isso? No conseguem seguir o fio de meu pensamento?

    Vou me explicar.

    A juventude uma maravilha se vocs puderem conserv-la sempre, mas isto

    difcil de se fazer. claro que me refiro juventude interior. No h uma s

    mulher de idade madura entre vocs. Nessa montagem, mesmo os papis de

    ancios so representados por atores jovens. Se essa mulher de idade madura de

    que eu falava estivesse sentada entre ns, ns a ouviramos suspirar

    profundamente e com simpatia em resposta s minhas palavras.

    "Bem, agora analisemos o que significa ser jovem em cena. Isto no tem nada a

    ver com maquiagens nem com a maneira de se vestir. Conhecemos muitos

    exemplos em que os figurinos mais coloridos e a maquiagem mais juvenil s

    contriburam para pr em maior evidncia a idade do ator. Ao mesmo tempo,

    sabemos que um ator ou atriz maduros podem desempenhar um papel juvenil

    sem a ajuda de maquiagem ou de figurinos chamativos, desde que ele ou ela

    conheam o segredo da juventude teatral. Vocs devem estar surpresos agora,

    perguntando-se qual o sentido de falar-lhes isto sendo vocs jovens, e justamente

    quando acabo de elogi-los pelo frescor de sua representao. Digo isto agora

    porque vocs no tm a menor idia de quo rpido vocs e sua atuao podem

    envelhecer sem que sequer se dem conta disso.

    "A primeira coisa essencial para conservar jovem uma representao",

    continuou, " manter viva a idia da pea. Ela a razo pela qual o dramaturgo a

    concebeu, e a razo pela qual vocs decidiram represent-la. No se pode nem

    se deve atuar em cena, no se pode nem se deve produzir uma pea pelo prazer

    de represent-la ou simplesmente de produzi-la. Vocs tm que sentir-se

    comovidos em sua profisso. Tm que am-la com devoo e apaixonadamente,

    no por si mesma, no por seus lauris, no pelo prazer e o deleite que lhes d

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    como artistas. Tm que amar a profisso que escolheram, porque ela lhes d a

    oportunidade de comunicar idias que so importantes e necessrias para o

    pblico. Porque lhes oferece a oportunidade de, atravs das idias que vocsdramatizam e atravs dos caracteres que personificam educar o pblico e

    convert-lo em membros da sociedade mais sensveis, mais sbios, mais teis e

    melhores. Eis aqui um problema imenso para o teatro, especialmente em nossos

    tempos, quando muitssimas pessoas vm pela primeira vez ao teatro. Se esse

    pblico novo v e ouve as respostas para seus problemas, aprender a amar o

    teatro e o aceitar como uma coisa prpria. Portanto, o primeiro passo para

    conservar a juventude teatral responder claramente para si mesmo pergunta:Por que represento esta pea?

    "Hoje vocs sabiam o propsito que os levava representao. Queriam

    impressionar-me como atores. Cumpriram seu propsito. Quando vocs fizeram

    sua representao na Escola Vakhtanghov, tambm conheciam o propsito:

    queriam ser reconhecidos como atores maiores de idade, j graduados.

    Cumpriram este propsito tambm. Mas o que foi suficiente ontem, o que foi

    suficiente hoje, no o ser amanh, quando apresentarem a pea para o pblico

    em geral. importante para os espectadores que os pensamentos e a vida deles

    estimulem vocs e que os pensamentos que enchem a vida da cena estimulem-

    nos. Ao pblico importa a idia do autor, a apresentao e a interpretao que

    vocs faam dela como artistas de teatro. A idia tem sempre que ser vital e

    importante para o pblico de hoje, e necessrio que vocs sejam capazes de

    reproduzi-la com um tom verdadeiro. Devem manter viva a idia e ser inspirados

    por ela em cada representao. Este o nico caminho para conservar a

    juventude na representao e ao mesmo tempo a juventude de vocs como

    atores. E verdadeiro trabalho de criao da idia da pea (insisto na palavra

    verdadeiro) exige do artista amplo e variado conhecimento, constante

    autodisciplina, a subordinao de seus gostos e hbitos pessoais s exigncias da

    idia, e algumas vezes tambm certos sacrifcios."

    BERTOL BRECHT (1898 1956)

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    Mdico alemo, que vivenciou as duas grandes

    guerras mundiais, a destruio da Alemanha e o

    nazismo, leva ao teatro peas focadas em cima demensagens de cunho social a fim de modificar as

    pessoas, neste momento, banalizadas pelas condies

    de crise. Ao contrrio de Stanislavski, Brecht nega a

    catarse, fazendo o pblico se manter consciente

    diante da pea para que possa ser tocado pela

    mensagem. Desnuda, ento, toda concepo teatral

    vigente, mostrando as razes que encadearam asemoes dos personagens e deixando claro que um ator est se fazendo personagem em

    determinado momento ali no palco. Por isso, suas peas so narrativas, ou de cunho pico,

    assim chamado na literatura.

    A finalidade de Brecht em seu teatro incomodar, para assim gerar discusso e

    promover a reflexo entre as pessoas, atravs do distanciamento dos personagens.

    O ator mantm-se frio para no se envolver com a histria do personagem, o que considerado por muitos, mais difcil do que se envolver. A quebra da quarta parede outra

    caracterstica de Brecht, onde o ator comunica-se diretamente com o pblico. Com

    influncias do pensamento marxista, os atores envolvidos neste tipo de teatro faziam

    denncias, crticas e questionamentos sobre os aspectos vigentes de sua poca e sobre o

    capitalismo. O ator, ento, deve estar a favor de suas ideologias, no pode ter medo da

    censura e deve estar envolvido com esta abordagem, porque precisa acreditar nesse

    trabalho que faz a fim de convencer as pessoas, atravs das mensagens lanadas. EmAquele que diz sim e aquele que diz no, o autor toca sobre o poder de mudana, o poder

    da palavra diante das opes e situaes tradicionais que nos so impostas. s vezes,

    trabalha sob metforas, caracterizando perodos menos radicais de sua escrita, no se

    preocupando com o ritmo, ao contrrio de Stanislavski, que propunha o mtodo das aes

    fsicas na preocupao com o ritmo da cena.

    GROTOWSKI (1933 1999)

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    A proposta deste autor para o teatro baseava-se no

    aquecimento, no cansao fsico, pois segundo a sua teoriado cansao, o ator fica menos resistente fsica e

    emocionalmente s emoes e aos sentimentos a ser

    experimentados dentro do personagem. Tendo, assim,

    maior predisposio a ser comandado, torna-se susceptvel,

    quebrando barreiras.

    Utilizando a teoria das reaes biolgicas, prega que

    o corpo precisa saber seus limites, onde o ator capaz defazer o que d vontade, e conhecer o corpo de forma no esttica, no regrada. Conhecido

    como um teatro experimental, sensorial e biolgico, torna-se mais visual/corporal do que

    verbal.

    Tambm, prega o mtodo das aes fsicas, mas prope o estudo dos personagens

    atravs da via negativa, ou seja, ao invs de propor o que o personagem ou faz, define-se o

    que ele no , no faz e no gosta. Sem dvida, esta uma concepo mais ampla, digamos

    que aprimora a tcnica de Stanislavski, pois abstrai os dados, amplia as opes. O teatro de

    Grotowski faz com que a platia interaja atravs de reaes biolgicas.

    um teatro pobre, eliminando tudo que no necessrio cena, podendo at

    transformar objetos em cena a fim de reduzir os elementos a serem utilizados. No entanto,

    seu pblico se torna cada vez mais escasso devidos s condies de sensibilidade propostas

    por ele.

    O TEATRO NO BRASIL

    Do sculo XVII ao incio do sculo XIX, o teatro marcadamente colonial, fortemente

    influenciado pelo teatro portugus. Os primeiros textos como o Auto da festa de S.

    Loureno, do padre Jos de Anchieta, so escritos pelos jesutas de Piratininga, numa

    mistura de espanhol, portugus e tupi-guarani. Visam a catequese e so encenados pelos

    indgenas. Em Minas Gerais, durante o sculo XVIII, atores portugueses visitam Vila Rica. A

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    estavam preparadas para exercer as funes que lhe cabiam. Tudo isso de forma engraada

    e simples. Na pea O Novio, o tema mais tocado a ambio, as trapaas e dribles que se

    realizam para chegar ao poder e usa-se, mais uma vez, um tema de casamento e dote paratratar o assunto, mais uma vez agradando pela forma descontrada que coloca os fatos. O

    autor, no entanto, morreu prematuramente de tuberculose, aos 33 anos.

    Peas

    O Juiz de Paz na Roa,comdia em 1 ato (1838, primeira representao)

    Itaminda ou O guerreiro de Tup, drama (1839)

    A famlia e a festa na roa, comdia em 1 ato (1840, primeira representao)

    Vitiza ou O Nero de Espanha(1841) O Judas no sbado de aleluia, comdia em 1 ato (1844, primeira representao)

    O namorador ou A noite de So Joo, comdia em 1 ato (1845)

    Os trs mdicos (1845)

    A barriga do meu tio (1846)

    Os cimes de um pedestre ou O terrvel capito do mato (1846)

    As desgraas de uma criana (1846)

    O diletante (1846)

    Os meirinhos(1846)

    Um segredo de estado (1846)

    O caixeiro da taverna (1847)

    Os irmos das almas (1847)

    Quem casa quer casa , provrbio em 1 ato (1847)

    O Novio,comdia em 3 atos (1853)

    Os dois ou O ingls maquinista (1871)

    SCULO XX

    O teatro do sculo XX se caracteriza pelo ecletismo e quebra de tradies, tanto

    no "design" cnico e na direo teatral, quanto na infra-estrutura e nos estilos de

    interpretao. Podemos dizer, sob esse prisma, que o dramaturgo alemo Bertolt

    Brecht foi o maior inovador do chamado teatro moderno. Hoje, o teatro

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    .

    contemporneo abriga, sem preconceitos, tanto as tradies realistas como as

    no-realistas.

    NELSON RODRIGUES (1912 1980)

    Um pernambucano que veio ao Rio de Janeiro aos 4 anos de idade e se formou em

    jornalismo. Foi um jornalista muito considerado na sociedade carioca. um retrato

    demasiado simples para quem escreveu tantas e to fortes peas de teatro. As peas de

    Nelson acrescentaram um tom muito psicolgico aos personagens criados sua imagem, ou

    de sua experincia de vida, se podemos assim dizer. A Mulher Sem Pecadofoi sua primeira

    obra, mas foi Vestido de Noiva o grande estouro teatral. Nesta se valeu de flashback , cenas

    entrecortadas, sem seqncia temporal e alucinaes onde mostra a quantidade e os efeitos

    de desejos reprimidos de uma pessoa, explicando as

    contradies presentes na vida em sociedade atravs

    de atitudes tomadas.

    Com uma viso realista de seus textos, Nelson

    apresenta exageros aos defeitos e sentimentos,

    trazendo aos palcos cariocas a iluminao, cenografia

    e direo geral

    A vida foi cruel com Nelson Rodrigues. Aos 17

    anos, perdeu o irmo Roberto, assassinado aos 21

    anos. Dois meses depois da tragdia, morreu o pai,

    Mrio Rodrigues. Por causa da tuberculose, Nelson

    internou-se diversas vezes. Uma lcera lhe causava

    dores terrveis e uma hemorragia intra-ocular o deixou parcialmente cego. Joffre, o irmo

    mais novo, morreu vtima da tuberculose, aos 21 anos. Perdeu o irmo Paulinho num

    desabamento. O filho Nelsinho ficou preso durante sete anos durante o regime militar. A

    filha Daniela nasceu cega, surda e muda.

    Todas as tragdias da vida ele transformou em peas de teatro, contos, crnicas e

    romances. Machista, tarado e reacionrio. Chamem-no do que quiser, ele sempre ser o pai

    da moderna dramaturgia brasileira. Abriu caminho para o uso coloquial da lngua e

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    inovaes na temtica dos textos teatrais. Colocou no palco, pela primeira vez, a vida

    cotidiana do subrbio carioca. A obra vasta: escreveu 17 peas, centenas de contos e nove

    romances. Alm disso, fantico torcedor do Fluminense, foi um dos maiores cronistasesportivos de todos os tempos.

    Quando Nelson Rodrigues tinha trs anos, a me, dona Maria Esther, recebeu em

    casa uma vizinha enfurecida: "Este seu filho Nelson um tarado! Peguei-o tentando beijar

    minha filhinha!" Nelson no sabia, mas ainda seria chamado de tarado centenas de vezes.

    Como jornalista trabalhou em todos os grandes jornais do Rio de Janeiro. Impressionava pela

    capacidade de criar histrias fantsticas sobre os fatos mais corriqueiros. Simples

    atropelamentos viravam assassinatos passionais e coisas do gnero. Comeou cedo, aos 13anos e meio j era reprter policial do jornal A Crtica, que o pai fundou no Rio de Janeiro

    logo que chegou do Recife, em 1915, onde Nelson nasceu, em 23 de agosto de 1912.

    Na Aldeia Campista, subrbio carioca, o garoto no levava uma vida como a dos

    outros de sua idade. Passava horas observando a movimentao dos vizinhos para saber

    quem eram os adlteros. O dinheiro que ganhava na redao ele gastava nos prostbulos da

    regio do Mangue. Embora fosse notavelmente inteligente, foi expulso do colgio na

    segunda srie do ginsio. A alegao dos diretores era: rebeldia. Nelson no passava uma

    aula sequer sem questionar os professores e dava opinio sobre tudo o que ensinavam. Ele

    seria assim at o fim da vida, inquieto, questionador e irreverente.

    Escrevia como um louco. Chegava sempre atrasado na redao, mas bastava sentar

    mquina de escrever para em poucos minutos produzir os folhetins que ruborizavam as

    donas de casa das dcadas de 40 e 50. A revolucionria pea Vestido de noiva, de 1943, ele

    fez em seis dias. Depois do sucesso da montagem de Ziembinski, mentia que levara meses

    trabalhando em cima do texto. Talvez porque, se dissesse a verdade, ningum acreditaria.

    Para alguns, um conservador asqueroso que o Brasil deveria colocar no paredo de

    fuzilamento; para outros, simplesmente um gnio. Alm das obras escandalosas, o escritor

    ainda dava declaraes do tipo "mulher tem que ser burra", "adoro visitar cemitrios" e

    "nem toda a mulher gosta de apanhar, s as normais". verdade que jamais batera em

    algum. Porm, logo que casou com Elza escondido dos pais dela, que tambm o

    consideravam um depravado , em 1940, pediu a ela que deixasse de ser secretria para

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    ficar cuidando da casa. Embora tivesse vrias amantes, foi um marido dedicado, at a

    separao, 22 anos depois. S no trocava nenhum Fla-Flu,no Maracan, pelos programas

    familiares de domingo.Nelson morreu, em 21 de dezembro de 1980, aos 68 anos, depois de sobreviver a

    sete paradas cardacas. Sucumbiu a uma trombose e s insuficincias respiratria e

    circulatria. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura, realmente,

    minha tica ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornogrfico.

    A CONTESTAO NO TEATRO BRASILEIRO E O SURGIMENTO DE NOVOS AUTORES EGRUPOS

    Em 1948, o industrial italiano Franco Zampari funda, em So Paulo, o Teatro

    Brasileiro de Comdia (TBC), marco na histria do teatro brasileiro. A posio de

    preponderncia que ocupa deve-se incorporao de novos talentos: Ndia Lcia, Paulo

    Autran, Cacilda Becker, Srgio Cardoso, e importao dos diretores italianos Luciano Salce

    e Adolfo Celli, que ajudam a formar os brasileiros Flvio Rangel e Antunes Filho.

    Com o sucesso em So Paulo, o TBC abre uma filial no Rio de Janeiro.

    As companhias de Eva Todor, Maria Della Costa, Dulcina e Odilon, Procpio e Bibi

    Ferreira so contratadas para excursionar em Portugal e suas colnias. Os problemas criados

    por uma estrutura grande e onerosa, a morte de Franco Zampari e cises entre os membros

    do elenco fazem com que, ao longo da dcada de 50, o TBC se desmembre nos grupos de:

    Tnia Carreiro, Paulo Autran e Margarida Rey, dirigido por Adolfo Celli; de Cacilda Becker, o

    marido Walmor Chagas e a irm Cleyde Yconis, dirigido por Ziembinski; o Teatro dos Sete,

    de Fernanda Montenegro, talo Rossi e Srgio Brito; e o de Srgio Cardoso e Ndia Lcia.

    A partir do final dos anos 50, a orientao do TBC de dar prioridade a textos

    estrangeiros e importar encenadores europeus, acusada de ser culturalmente colonizada

    por uma nova gerao de atores e diretores que prefere textos nacionais e montagens

    simples.

    Cresce a preocupao social, e diversos grupos encaram o teatro como ferramenta

    poltica capaz de contribuir para mudanas na realidade brasileira. No Teatro de Arena, o

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    palco circular aumenta a intimidade entre a platia e os atores, onde encenam novos

    dramaturgos como: Augusto Boal em ''Marido magro, mulher chata ''; Gianfrancesco

    Guarnieri em ''Eles no usam black-tie'' ; Oduvaldo Vianna Filho em ''Chapetuba Futebol Clube'' (faz tambm musicais como Arena conta Zumbi, que projeta Paulo Jos e Dina

    Staf).

    Trabalho semelhante o de Jos Celso Martinez Correa no Grupo Oficina, tambm

    de So Paulo: alm de montar ''Os pequenos burgueses'' , de Gorki, ''Galileu, Galilei'' , de

    Brecht, e ''Andorra' ', de Max Frisch, redescobre ''O rei da vela'', escrito em 1934 por Oswald

    de Andrade, mas proibido pelo Estado Novo; e cria ''Roda viva'', do msico Chico Buarque de

    Holanda. Chico havia feito a trilha sonora para ''Vida e morte Severina'' , auto de Natalnordestino, de Joo Cabral de Melo Neto, montado pelo Teatro da Universidade Catlica de

    So Paulo (Tuca) e premiado no Festival Internacional de Teatro de Nancy, na Frana.

    Os passos do Arena, de conotaes nitidamente polticas, so seguidos pelo Grupo

    Opinio, do Rio de Janeiro. Seu maior sucesso ''Se correr o bicho pega, se ficar o bicho

    come'' , de Oduvaldo Vianna Filho.

    No final da dcada de 60, novo impulso dramaturgia realista dado por Plnio

    Marcos em ''Dois perdidos numa noite suja'' e ''Navalha na carne'' . Outros autores

    importantes so Brulio Pedroso de ''O fardo'' e Lauro Csar Muniz de''O santo milagroso'' .

    Gianfrancesco Guarnieri (1934) nasce em Milo. Participa da criao do Teatro de

    Arena. ''Eles no usam black-tie'' histria de uma famlia de operrios durante uma greve e

    suas diferentes posies polticas um marco do teatro de temtica social. Junto com

    Augusto Boal monta ''Arena conta Zumbi'' , onde so usadas tcnicas do teatro brechtiano.

    Entre suas peas destacam-se tambm ''Um grito parado no ar'' e ''Ponto de partida'' .

    Trabalha como ator de cinema (Eles no usam black-tie e Gaijin) e de novelas.

    Plnio Marcos (1935) nasce em Santos, filho de um bancrio, abandona cedo a escola.

    Trabalha em diversas profisses como: operrio, camel, jogador de futebol e ator. Em

    1967, explode com ''Dois perdidos numa noite suja'' e ''Navalha na carne'' , peas que

    retratam a vida dos marginais da sociedade. Sua temtica realista e linguagem agressiva

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    chocam parte do pblico e fazem com que suas peas sejam freqentemente censuradas.

    Aps dez anos sem publicar, lana ''A dana final'' , em 1994. Vive da venda direta de seus

    livros e da leitura de tar.

    Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) nasce em So Paulo. Filho do dramaturgo

    Oduvaldo Vianna, torna-se conhecido como Vianinha. um dos fundadores do Teatro de

    Arena e do Grupo Opinio. Suas peas ''Chapetuba F.C. '' , ''Se ficar o bicho pega, se correr o

    bicho come'' , ''Longa noite de cristal'' , ''Papa Highirte'' e ''Rasga corao'' o transformam

    num dos mais importantes dramaturgos brasileiros. ''Rasga corao'' , sntese do teatro

    brasileiro de seu tempo, fica censurada por cinco anos durante o regime militar e s montada em 1979, aps sua morte.

    A maior concluso a se tomar que a vida de uma pessoa baseia-se no que ela

    vive e nas suas experincias em sociedade que movem o seu psicolgico. Com um

    autor, bem como com qualquer artista, no diferente. As leis que regem a sua

    atualidade e a histria que o levou at ali fortemente rebuscada em suas

    atitudes e, principalmente, em suas obras. A histria e a literatura so irms,

    visto que, quem escreve capaz de reconhecer no momento em que vive o que

    acontece na realidade e o que deveria acontecer.

    Desta maneira, ele tenta remoldar a realidade de forma a ficar mais sustentvel

    o peso da responsabilidade de cada um. A capacidade intelectual nos permite

    fazer da vida um molde para a arte, ao passo que esta se torna uma espcie de

    cria mais evoluda que o criador. A vida tem passado, presente e futuro e o teatro

    tambm tem e preciso conhecer o passado, analisar o presente e prever o

    futuro. Desta forma se cria a arte e se recria a vida.

    Oduvaldo Viana Filho

    CAPTULO II INTERPRETAO

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    Nesse captulo passaremos por tcnicas, jogos, ensaios e exerccios para a criao de

    personagens e desenvolvimento criativo e tcnico-profissional do ator. Muitos so os

    mtodos de interpretao, como pudemos ver nas diversas Escolas e diretores teatrais aolongo da histria mundial. Vamos conhecer todos eles e nos aprofundar no mtodo e

    tcnicas de Viola Spolin.

    A VOZ DO ATOR

    TTULO: CORPOREIDADE DAVOZ: ASPECTOS DO TRABALHO VOCAL PARA O ATOR.

    PUBLICADO EM:

    ALEIXO, F ERNANDO. C ORPOREIDADE DAV OZ - O T EATROT RANSCENDE - N. 12. BLUMENAU ,

    FURB, DIVISO DE P ROMOESC ULTURAIS , 2003.

    ALEIXO, F ERNANDO. C ORPOREIDADE DAV OZ : ASPECTOS DO TRABALHO VOZ DO ATOR. C ADERNOS

    DAP S-GRADUAO , IA / UNICAMP, ANO6, V OL. 1, 2002.

    Resumo:

    A voz, quando entendida como corpo, ou seja, como um processo da ao das

    diferentes esferas de organicidade (aspectos musculares, ossatura, sentidos, afetividade,

    memria, etc.), adquiri propriedade que reconhece a complexidade e as sutilezas

    particulares de sua criao. No mbito do trabalho do ator, tal entendimento possibilitar

    uma reflexo a cerca de possibilidades vocais no trabalho criativo, que por sua vez, permite

    sistematizar um processo voltado ao aperfeioamento tcnico.

    Apresentamos a seguir, algumas referncias que norteiam as prticas da pesquisa.

    O processo de desenvolvimento tcnico vocal para o ator envolve aspectos amplos, pois o

    fenmeno da vocalidade no teatro aplicao dos recursos vocais no processo criativo , se

    estrutura a partir de fundamentos fisiolgicos, culturais e poticos (tcnicas e linguagens).

    No centro deste processo, o ator o executor do cdigo vocal e, por isso, concentra em si,

    naturalmente, o contedo a ser expresso, como os meios materiais da comunicao oral.

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    No estudo da ressonncia, contexto do corpo-sonoro, podemos considerar algumas

    definies tcnicas sobre ressonncia. No dicionrio, ressonncia definida como a

    propriedade ou qualidade do que ressonante; fenmeno fsico pelo qual o ar de umacavidade suscetvel de vibrar com freqncia determinada, por influncia de um corpo

    sonoro, produzindo reforo de vibraes. J, num enfoque da fonoaudiologia, ressonncia

    considerada como sendo o "uso adequado de algumas cavidades sseas supra e

    infraglticas, que com a vibrao do ar vo permitir uma maior projeo vocal".

    Respeitando essas informaes para o trabalho, as atividades, desta etapa, podero ser

    encaminhadas a partir das diretrizes apontadas por Grotowski, com relao ressonncia no

    trabalho vocal do ator:

    "(...) Para cada situao, e para a sua interpretao pela voz, pode-se tentar

    encontrar a ressonncia apropriada. Isto se aplica ao treinamento, mas no ao

    preparo do papel. Os exerccios e o trabalho criativo no devem se misturar. (...)

    Meu princpio bsico o seguinte: no pense no instrumento vocal, no pense

    nas palavras, mas reaja - reaja com o corpo. O corpo o primeiro vibrador, a

    primeira caixa de ressonncia"

    O corpo humano, segundo Klaus Vianna, permite uma variedade infinita de movimentos

    que brotam de impulsos interiores e, se exteriorizam atravs do gesto, compondo uma

    relao ntima com o ritmo, o espao, o desenho das emoes, dos sentimentos e das

    intenes.

    Tal afirmao, permite-nos experimentar, no trabalho do corpo-sonoro com o estudo

    das ressonncias, os impulsos corporais geradores de aes vocais.

    Com isso, o exerccio vocal com palavras e textos ganha uma dimenso sensvel de

    sonoridades corporais. Quanto a essa referncia, Peter Brook apresenta, tomando como

    exemplo a produo de Shakespeare, a seguinte afirmao:

    "As palavras de Shakespeare so documentao das palavras que ele queria que

    fossem faladas, palavras destinadas a sair em forma de sons, dos lbios de gente

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    viva, com um tanto de entonao, de pausa, de ritmo e gesto que deviam fazer

    parte integrante de significado verbal. Uma palavra no comea sendo uma

    palavra - o produto final iniciado com um impulso, estimulado por atitude ecomportamento, por sua vez ditados pela necessidade de expresso".

    Ainda, em relao ao trabalho vocal do ator, temos algumas preciosas referncias

    deixadas por pesquisadores teatrais da modernidade. Para aprofundarmos um pouco mais

    neste tema, apresentaremos, resumidamente, alguns conceitos apontados por Stanislavski,

    Artaud, Brecht e Grotowski.

    REFERNCIAS DOS CONCEITOS DE STANISLAVSKI EM RELAO VOZ

    O aspecto primeiro do estudo da voz, considerado no sistema de Stanislavski, a

    necessidade de treinamento sistemtico do instrumental do ator como forma de conquistar

    um controle sobre o aparato fsico e vocal.

    Neste sentido, o aparelho vocal deve receber um tratamento que o torne capaz de,

    quando na relao com o texto, quando na relao com a personagem, quando na relao

    com a cena, "reproduzir instantnea e exatamente sentimentos delicadssimos e quase

    intangveis, com grande sensibilidade e o mais diretamente possvel..

    Reconhece que o ator no deve recorrer aos costumeiros procedimentos banais:

    "E quanto mais contedo espiritual e sentimento eu punha na frase, tanto mais

    pesado e sem sentido ficava o texto e mais inexeqvel a tarefa. Criava-se uma

    situao de violncia que, como sempre, me levava a me autoviolentar e

    contorcer-me em espasmos. A respirao fugia, a voz amortecida e rouca, seu

    diapaso se reduzia a umas cinco notas, diminua a sua fora. Em vez de cantar a

    voz batia. Tentando dar-lhe mais sonoridade, eu recorria involuntariamente aos

    costumeiros procedimentos banais dos atores, ou seja, ao falso pathos , s

    cadncias vocais, s fiorituras."

    Trata-se de sua proposta de formao, de um procedimento tcnico que busca

    desenvolver o potencial expressivo do aparelho vocal a partir de estudos de elementos

    como a dico, o canto, as entonaes, o tempo-ritmo no falar, etc.. A apreciao de

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    Stanislavski sobre as atividades tcnicas do canto lrico refora a importncia de exerccios

    para colocao da respirao e do som e, acrescenta a necessidade da procura de melhores

    mtodos para o desenvolvimento da fala a partir do aprofundamento da musicalidade daspalavras:

    "A Fala msica. o texto de um papel ou uma pea uma melodia, uma pera

    ou uma sinfonia. A pronunciao no palco uma arte to difcil como cantar,

    exige treino e uma tcnica raiando pela virtuosidade. Quando um ator com voz

    bem trabalhada e magnfica tcnica vocal diz as palavras de seu papel, sou

    completamente transportado por sua suprema arte. Se ele for rtmico, sou

    involuntariamente envolvido pelo ritmo e tom de sua fala, ela me comove. Se ele

    prprio penetra fundo na alma das palavras do seu papel, carrega-me com ele

    aos lugares secretos da composio do dramaturgo, bem como aos da sua

    prpria alma. Quando um ator acrescenta o vvido ornamento do som quele

    contedo vivo das palavras, faz-me vislumbrar com uma viso interior as

    imagens que amoldou com sua prpria imaginao criadora"

    Afirma que s depois de ter compreendido que as letras so apenas smbolos de sons

    e exigem a execuo de seu contedo, que se viu confrontado com o problema de

    aprender essas formas sonoras a fim de melhor preencher o contedo. Stanislavski

    estabelece fundamentos precisos sobre como desenvolver a voz do ator a partir da busca da

    sensao das palavras:

    "No basta que o prprio ator sinta prazer com o som de sua fala, ele deve

    tambm tornar possvel ao pblico presente no teatro ouvir e compreender o que

    quer que merea a sua ateno. As palavras e a entonao devem chegar aos

    seus ouvidos sem esforos. Isso requer muita habilidade. Quando a adquiri,

    compreendi o que chamamos a sensao das palavras. (...) Todo ator deve-se

    assenhorear de uma excelente dico e pronunciamento, deve sentir no

    somente as frases e as palavras, mas tambm cada slaba, cada letra"

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    A partir dessas consideraes, possvel observar a consistncia do processo de

    estruturao de um sistema de abordagem para o treinamento da voz. Ainda que haja

    explcita a opo por uma esttica determinada, com um forte acento na palavra, pode-severificar que o objetivo o desenvolvimento da produo da voz e da possibilidade de

    criao da fala em diferentes contextos e estilos:

    "Sua funo (fala), transmitir por meio de palavras quer os sentimentos

    exaltados do estilo trgico, quer a fala simples, ntima, graciosa, do drama e da

    comdia (...). Em cena, a funo da palavra a de despertar toda sorte de

    sentimentos, desejos, pensamentos, imagens interiores, sensaes visuais,auditivas e outras, no ator, em seus comparsas e - por intermdio deles,

    conjuntamente no pblico."

    A maestria do bem falar implica no excelente preparo fsico e no entendimento de

    que uma palavra no apenas um som, uma evocao de imagens e de significados. Para

    Stanislavski, o ator quando estiver em intercmbio verbal em cena, deve falar menos para o

    ouvido do que para a vista.

    Depreende-se, tambm, deste sistema de abordagem, que o ator deve compreender bem

    a linguagem trabalhada para encaminhamento da criao verbal. Nessa perspectiva, esta

    criao da fala se insere no conjunto de elementos tcnicos sugeridos para a caracterizao

    interna e externa da personagem.

    Para Stanislavski o ator deve procurar estar sempre de "bem com a voz", pois como

    afirma:

    "Estar de bem com a voz uma beno no s para a prima-dona, mas tambm

    para o artista dramtico. Sentir que temos o poder de dirigir nossos sons,

    comandar sua obedincia, saber que eles forosamente transmitiro os menores

    detalhes, modulaes, matizes da nossa criatividade."

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    REFERNCIAS DOS CONCEITOS DE ARTAUD EM RELAO VOZ

    "Abandonando as utilizaes ocidentais da palavra, ela [a linguagem de teatro]

    faz sortilgios com as palavras. Ela empurra a voz. Utiliza vibraes e qualidadesda voz. Marca ritmos alucinados. Martela sons. Procura exaltar, entorpecer,

    encantar, estancar a sensibilidade. (Antonin Artaud - "Le Thtre de La Cruaut,

    premier manifeste").

    Artaud formula, no incio do sculo XX, alguns conceitos com relao voz que a

    consideram um instrumento musical a servio de um novo teatro. No estudo tcnico A

    Encenao e a Metafsica, Artaud aponta seu manifesto contra o teatro essencialmente

    dialogado e construdo por uma dramaturgia:

    "(...) como que o teatro ocidental no enxerga o teatro sob outro aspecto que

    no o do teatro dialogado? (...) o dilogo, coisa escrita e falada, no pertence

    especificamente cena, pertence ao livro."

    No seu entender, a voz deve, atravs de qualidades e vibraes de sons no

    habituais, comunicar a sensibilidade do espectador, pois a cena um lugar fsico e concreto

    que necessita ser preenchido com a sua linguagem concreta. Esta linguagem, segundo

    Artaud, consiste em tudo que ocupa a cena, tudo aquilo que pode manifestar e exprimir-se

    materialmente numa cena.

    Neste sentido, necessria a explorao de toda a plenitude e materializao fsica

    da voz, tendo como princpio as vibraes, as modulaes, as evolues e os diferentes

    registros vocais. Deste modo, as palavras devem assumir, na interpretao, outros

    significados com base na sonoridade e movimento da voz.

    Essa amplitude vocal, a ser conquistada, assenta-se no desenvolvimento das

    potencialidades corporais do ator. No estudo tcnico, um atletismo afetivo, Artaud fala da

    necessidade do ator de tomar conscincia de uma "espcie de musculatura afetiva" que

    corresponda s localizaes fsicas dos sentimentos.

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    deve relatar o personagem ao pblico. O ator sempre deve ir alm do

    personagem e do seu horizonte estrito. Porque desse modo, ele mantm a sua

    identidade prpria de ator, e, concomitantemente mostra a identidade do personagem, com a qual no se mistura. Alm disso, o ator assume ainda outra

    'mudana de funo' quando canta. Estritamente proibido passar do nvel da

    fala para o do canto como se nada tivesse acontecido. (...) Melhor, existem trs

    nveis: o falar sbrio, o falar elevado e o canto, e tais nveis devem permanecer

    separados, sem que suscitem a impresso de uma passagem natural de um para

    o outro. E aqui tambm, quando canta, o ator no pode ser cantor, mas deve

    mostrar s-lo, esse afastamento do contedo sentimental se faz pelo recurso agestos, que so por assim dizer os costumes e os hbitos do corpo.

    O percurso artstico de Brecht conta com momentos de diferentes caractersticas

    que, em um movimento progressivo, vai estabelecer uma concepo da "representao

    pica". Entre outras determinantes deste estilo de representao, a fala ganha outro

    estatuto dentro da comunicao teatral. Sobretudo, se vista com o olhar da escola realista.

    Neste sentido, ao afirmar a inter-relao do gesto e da fala na construo da

    representao, Brecht delimita que no trabalho de formao do ator deve constar um

    preciso estudo corporal e vocal.

    Com referncia ao tratamento da fala e do canto na interpretao, Brecht aponta

    procedimentos precisos para o ator. Pode-se observar, em suas teorias, uma preocupao

    clara em fornecer indicaes de como o ator pode se defrontar com seus textos. John Willet

    aponta alguns aspectos:

    "Outro mtodo era fazer que cada ator usasse o seu prprio dialeto local nos

    ensaios de modo que o texto conservasse certo frescor, embora o seu contedo

    fosse familiar. Ainda outro mtodo era fazer o ator mudar o tempo do verbo em

    seu papel, acrescentar 'disse o homem', 'disse ela', no final de cada fala, ou

    tentar dizer e imaginar cada frase em termos de 'no... mas', para deixar claro

    que cada frase tem sua alternativa no falada ('dialtica'). Tudo isso eram outras

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    tantas ajudas para a compreenso do ator, refletindo a concepo brechtiana de

    'como se deve ensaiar um papel; isto , escutando cuidadosamente quando o

    prprio est falando e tomando francamente acessveis platia ascaractersticas humanas que observamos em ns prprios."

    Quanto ao canto, elemento fundamental em sua composio dramatrgica, Brecht

    acrescenta:

    "Nada existe de mais revoltante que o ator que finge no ter percebido que saiu

    do nvel da fala corrente e comeou a cantar. Os trs nveis - fala corrente, fala

    grandiloqente e canto - devem manter-se sempre distintos... Quanto melodia,

    no deve obedecer-lhe cegamente: existe uma espcie de fala contra-a-msica

    que pode ter poderosos efeitos; os resultados de uma obstinada e incorruptvel

    sobriedade que independente de msica e ritmo."

    A profundidade da obra de Brecht e a consistncia dos seus princpios estticos

    exigem cuidados especficos queles que pretendem mergulhar em seu universo. Sua

    dramaturgia construda por elementos tcnicos organizados e orientados em direo a um

    fim preciso.

    Deste modo, com relao aos aspectos fundamentais em relao voz, a maneira

    mais indicada para uma aproximao de anlise tcnica de sua obra , talvez, no se apegar

    em indicaes localizadas no tempo e direcionadas a atores que vivenciaram outros padres

    estticos. Mas, sim, procurar compreender seu conceito sobre o teatro e a posio deste

    num campo de foras econmicas e sociais.

    REFERNCIAS DOS CONCEITOS DE GROTOWSKI EM RELAO VOZ

    "O meio, o esprito da poca, a mentalidade, tudo pode constituir srio obstculo

    para a formao de uma boa voz. O erro mais elementar, e que necessita da mais

    urgente correo, a super-tenso da voz, unicamente porque as pessoas se

    esquecem de falar com o corpo." Jerzy Grotowski

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    O trabalho de Grotowski, realizado atravs de pesquisa e estruturao da formao

    de atores, marcado, principalmente, por dois momentos. O primeiro estgio das

    pesquisas, quando no conjunto de atividades desenvolvidas na "busca de um teatro pobre",oferece procedimentos precisos e sistematizados para o desenvolvimento do material

    criativo do ator.

    O estudo da tcnica da voz, como parte do treinamento do ator, rene uma srie de

    exerccios voltados para o aprimoramento do instrumental vocal:

    "Ateno especial deve ser prestada ao poder da emisso da voz de modo que oespectador no apenas escute a voz do ator perfeitamente, mas seja penetrado

    por ela como se fosse estereofnica."

    Neste sentido, Grotowski considera de fundamental importncia o desenvolvimento de

    uma tcnica de respirao necessria para um bom poder de emisso vocal. Tambm, a

    explorao da amplificao do som por caixas de ressonncia fisiolgicas.

    Na busca da fora e do desimpedimento da coluna de ar que sai para a emisso do

    som, Grotowski aconselha ao ator ter um cuidado especial com a abertura da laringe,

    quando se fala e respira. Pois, o fechamento da laringe impede uma emisso correta do ar,

    prejudicando o uso da voz.

    O trabalho das caixas de ressonncia objetiva o aumento do poder de emisso do

    som. Trata-se de potencializar partes especficas do corpo como um amplificador da voz:

    "Na realidade, h um nmero quase infinito de caixas de ressonncia,

    dependendo do controle que o ator exerce sobre seu instrumental fsico. (...) A

    possibilidade mais frutfera est no uso de todo o corpo como caixa de

    ressonncia. Isto obtido pelo uso simultneo das ressonncias do peito e da

    cabea."

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    Segundo Grotowski, a coluna de ar utilizada na amplificao da voz necessita de uma

    base (base da voz). Portanto, o ator deve aprender a encontrar internamente a base para

    esta coluna de ar.

    Com relao impostao da voz, percebe-se uma preocupao pedaggica por

    parte de Grotowski. Preocupao esta, quanto aos melhores procedimentos que relacionem

    os exerccios de impostao s necessidades do ator quando no tratamento da potica da

    fala:

    "H duas maneiras diferentes de impostar a voz, uma para atores e outra paracantores, j que seus objetivos so bastante diferentes. (...) As escolas de teatro

    muitas vezes cometem o engano de ensinar o futuro ator a impostar sua voz para

    cantar. A razo disso que muitas vezes os professores so ex-cantores de pera

    e, freqentemente, um instrumento musical (o piano) usado para acompanhar

    os exerccios vocais."

    O universo imaginrio do ator , conjuntamente, trabalhado no treinamento. Com os

    exerccios orgnicos, possvel a explorao, a partir de uma pesquisa individual, dos

    aparelhos respiratrio e vocal, em relao s vrias exigncias de um papel. fundamental,

    portanto, que o ator trabalhando a imaginao vocal aprenda a enriquecer suas faculdades

    criativas e desenvolver a habilidade de falar em registros que no so os seus naturais.

    Como forma de aprimoramento da produo do material vocal do ator, a dico

    um elemento primordial que deve ser trabalhada sistematicamente. No exerccio do ator,

    afirma Grotowski, cada papel necessita de um tipo de dico diferente e, mesmo dentro da

    estrutura do mesmo papel, as possibilidades oferecidas pelas modificaes de dico, de

    acordo com as circunstncias e situaes, devem ser exploradas ao mximo.

    Grotowski determina procedimentos prticos, constituintes de uma tcnica de

    pronncia provedora de um modelo de abordagem do texto quando na criao e na

    representao:

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    "A capacidade de manipular frases importante e necessria na representao.

    A frase uma unidade integral, emocional e lgica, que pode ser mantida por

    uma nica onda expiratria e meldica...".

    So fornecidas orientaes de como pesquisar e aplicar precisamente na criao,

    elementos como: o ritmo, o acento tnico, a respirao e a pausa na declamao das frases.

    No pesquisas mais recentes desenvolvidas por Grotowski, no que diz respeito ao

    trabalho vocal, verifica-se um acento mais forte na investigao da ao vocal atravs de

    cantos antigos:

    "Trabalhamos sobre aes ligadas aos antigos cantos vibratrios, os cantos que

    serviram no passado a propsitos rituais e que tem, portanto um impacto direto

    sobre - como se diz - a cabea, o corao e o corpo dos 'atuantes'. Cantos que

    fazem passar de uma energia vital a uma energia mais sutil."

    Com referncia ao contedo desenvolvido neste perodo das pesquisas de Grotowski

    "A Arte como Veculo" ou "A Objetividade do Ritual" os materiais de aproximao dos

    contedos abordados so raros e, ainda, pouco acessveis. Qualquer afirmao em relao a

    essas investigaes perigosa pela fragilidade das informaes. Sabe-se, portanto, de

    referncias contidas em um livro publicado por Thomas Richards "Travailler Avec

    Grotowski sur les actions physques" ator pesquisador do Work Center Grotowski. Alm,

    de algumas publicaes de artigos e entrevistas feitas por Grotowski.

    Para possveis questionamentos, com relao aos conceitos inferidos de suas

    pesquisas, Grotowski argumenta com uma prtica reconhecidamente eficiente e

    transformadora da arte do ator. Ainda sobre a voz, aconselha que todo ator recomece

    periodicamente tudo de novo, aprendendo a respirar, a pronunciar e a usar suas caixas de

    ressonncia, para constante adaptao tcnica da voz em relao s modificaes

    estruturais do corpo.

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    Exerccio Dirio do ator

    Seqncia de alongamento, relaxamento, respirao, ressonncia, sonorizao e articulao.

    RELAXAMENTO ERESPIRAO

    O corpo deve estar da seguinte forma: ombros relaxados, quadril encaixado, braos soltos,

    peito aberto, pernas abertas semi-flexionadas e ps paralelos. Esteja atento respirao

    para que ela seja diafragmtica e no peitoral.

    1) Espreguiar o corpo na ponta dos ps, elevando o lado direito do corpo e depois olado esquerdo, como se desejasse pegar algo no ar.

    2) Fazer movimento com a cabea: sim e no 4 vezes.

    3) Girar a cabea para a esquerda e para a direita 4 vezes.

    4) Elevar os ombros at as orelhas, inspirando, soltar o corpo liberando um bocejo e

    ficando de ccoras. Subir desenrolando a coluna em 8 tempos. Repetir o movimento de

    elevar os ombros e desenrolar a coluna ao subir em 4 tempos, depois em 2 e 1. medida

    que desenrola a coluna, a respirao segue o mesmo tempo, inspira pelo nariz em 8, 4, 2, 1

    tempos e expira devagar pela boca.

    Objetivo: Relaxar boa parte do corpo, no somente as reas de tenso como os ombros e o

    pescoo, entre outros e trabalhar coordenao fono-respiratria.

    SONORIZAO

    Fazer o som TRU enquanto gira o brao para frente e para trs. Um brao aps o outro.

    Corpo em posio zero, ps firmes apoiados no cho, colocar a perna oposta ao brao que

    ser rotacionado frente para dar base e equilbrio. Na proporo que aumenta a

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    velocidade do movimento giratrio do brao, aumenta a intensidade do som TRU, ficando

    mais agudo. Quando a velocidade menor o som fica grave.

    Objetivo: Alm de aquecer as cordas vocais, este exerccio, combinado ao do brao, irriga os

    vasos sanguneos das mos, tornando-as mais belas, fortalecendo o brao pra trabalhos que

    exijam movimentos mais fortes ou de impacto.

    RESSONNCIA

    Corpo em posio zero; Humming combinado com vogais bem articuladas. preciso sentir

    os lbios vibrarem.Objetivo: Ampliar a projeo da voz.

    ARTICULAO

    Repetir CLA vrias vezes bem articulado, em vrias velocidades.

    Objetivo: Trabalhar articulao que melhorar a dico.

    O TEATRO - ESPORTE

    Teatro-Esporte um formato competitivo de improvisao teatral, onde duas ou

    mais equipes disputam entre si, improvisando histrias e cenas atravs de jogos pr-

    determinados e com sugestes dadas pela platia. Estas histrias so pontuadas pelos juzes

    e pelo voto do pblico que escolhe a histria preferida entre as realizadas pelas duas

    equipes. Assim, uma partida de Teatro-Esporte uma seqncia de jogos de improvisao,

    que ao seu final verifica-se a pontuao e se determina o vencedor.

    1 - Quem Keith Johnstone?

    Keith Johnstone comeou a formular suas teorias sobre criatividade e

    espontaneidade enquanto crescia na Inglaterra, mais tarde passou a ensinar sua tcnica na

    universidade de Calgary.

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    Ele sentia que o teatro havia se tornado pretensioso, o que seria, para ele, a principal

    causa do afastamento das pessoas comuns das peas em cartaz. Johnstone queria levar o

    teatro para o povo que freqenta arenas de esporte, do futebol ao boxe, a mesma audinciapara quem Shakespeare escrevia suas peas, em seu tempo. Johnstone decidiu criar uma

    tcnica que combina elementos de ambas as atividades: teatro e esporte: O Teatro Esporte.

    Os aparatos e a pompa do esporte foram ento adaptados ao contexto de um teatro

    de improviso, times competem por pontos dados por juzes, e a platia seria estimulada a

    torcer pelas boas cenas e zombarem das ruins. Atravs do Teatro Esporte, as idias de

    Johnstone tm influenciado (direta ou indiretamente) a maioria dos grandes grupos de

    improviso pelo mundo. Seus livros Impro, e Impro para Contadores de Histrias (Impro for storytellers), foram traduzidos em muitas lnguas (menos em portugus, o que uma pena).

    Keith produz oficinas de improvisao para uma variedade de grupos de atores de

    teatro, aos " Doutores da alegria" e a psicoterapeutas. A partir de novembro 1998, Keith

    ofereceu oficinas em So Francisco, Brisbane, Sydney, Seattle, Viena, Dinamarca, Alemanha,

    Sucia, Londres, Hong Kong, Austin (Texas) e Tokio. Fundou o grupoTheatre Machine

    improvisation, o instituto internacional de Teatro esporte e foi o Co-fundador do " teatro dos

    alces perdidos de Calgary". (Calgary's Loose Moose Theatre).

    Existem regras para tudo, e especialmente na vida, existem excees para todas as

    coisas, e como eu digo a todos os jogadores que treino, cada regra que lhes apresento, pode

    ser eventualmente quebrada. Mas, dito isso, existem algumas regras que um improvisador

    deve seguir para garantir o sucesso de suas cenas todas s vezes. Mesmo sabendo que elas

    podem eventualmente ser quebradas, mantenha o esprito dessas regras sempre intacto em

    seu corao. Fazendo isto, eu prometo que suas cenas vo melhorar e apresentar resultados

    mais ricos.

    1. Sempre comece cada cena com mmicas. A primeira pessoa que entra em cena deve

    criar o ambiente atravs da mmica.

    A mmica cria o ambiente e o contexto onde o personagem se insere. Ela diz se o

    personagem est com fome, sozinho, feliz, triste. Ela diz onde ele/ela est e de onde

    veio. Existem muitas coisas que voc pode demonstrar, simplesmente abrindo uma

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    porta de geladeira e tirando de dentro alguma lata ou qualquer outra coisa, o que

    nos leva regra de nmero 2.

    2. No descreva com palavras a ao que voc est fazendo. Nunca, de jeito nenhum,nem que a vaca tussa! Falar sobre a ao no conduz a lugar nenhum e no tem

    nenhuma importncia para acena em si. Voc pode falar sobre o que est na sua

    mo, mas no precisa dizer a ningum o que voc est fazendo. Deixe que os outros

    descubram atravs da sua mmica. Isso adiciona tambm uma maior complexidade s

    relaes entre os atores no palco. Nunca diga a ningum que voc est pintando uma

    cerca, apenas realize a ao. A platia ir adorar perceber qual a ao que est

    acontecendo em cena, sem ser tratada como um bando de idiotas. Faa-os

    parecerem gnios e eles o amaro.

    3. No pergunte. Transforme as perguntas em afirmaes e leve a cena para frente.

    Perguntas so desnecessrias e criam momentos de transio na cena. Perguntas

    sempre animam algum a ser o engraadinho, ou fora os personagens

    descreverem na cena o que est por vir. Perguntas no levam a nada. Ao tocar a

    pergunta: Voc poderia me passar essa caneta agora? por: Me d esta caneta j,

    voc cria tenso e empurra a cena para ao. A pergunta atrasa esta ao e

    freqentemente cai em um jogo de perguntas, no qual a cena fica presa e no vai a

    lugar nenhum.

    4. Os personagens devem sempre se conhecer h mais de cinco anos, nunca menos.

    Sim, vocs so melhores amigos desde que eram fetos!

    Cenas de transio so dolorosas de assistir, e no h nenhuma possibilidade da

    audincia prestar ateno em tais cenas.

    Quando os personagens j conviveram em muitas situaes passadas, e tratam um

    ao outro como conhecidos outra histria. A platia gosta de ver esta relao que

    desperta interesse, envolvente. Quantas cenas relevantes podem ocorrer entre um

    garoto e um vendedor que acabaram de se conhecer? Muito poucas e muitas dessas

    idias so encheo de lingia sem sentindo. Quando um conhece ao outro por

    cinco anos ou mais, naturalmente j existe uma base e uma histria em comum na

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    qual uma cena poder ser construda. Siga essas regras e a platia pensar que voc

    um gnio.

    2 - Glossrio de Termos do Impro

    ACEITAR Aceitar as ofertas feitas pelos outros jogadores para que a cena avance; AMPLIAR Pegar uma idia e torn-la o tema central da cena; ATRIBUIR Passar atributos/caractersticas para o persona