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Classic Poetry Series Antônio Gonçalves Dias - poems - Publication Date: 2012 Publisher: Poemhunter.com - The World's Poetry Archive

Antônio Gonçalves Dias - poems - poemhunter.com´nio_goncalves_dias... · Antônio Gonçalves Dias was a Brazilian Romantic poet, ... Primeiros Cantos, in 1847. ... wrote the first

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  • Classic Poetry Series

    Antnio Gonalves Dias- poems -

    Publication Date: 2012

    Publisher:Poemhunter.com - The World's Poetry Archive

  • Antnio Gonalves Dias(10 August 1823 - 3November 1864) Antnio Gonalves Dias was a Brazilian Romantic poet, playwright and linguist. Amajor exponent of the Brazilian Romanticism and of the literary tradition knownas "Indianism", he is famous for writing the poem "Cano do exlio", arguablythe most well-known poem of the Brazilian literature, the short epic poem I-Juca-Pirama, and many other nationalist and patriotic poems that would later give himthe title of national poet of Brazil. He was also an avid researcher of the Brazilianindigenous languages and folklore. He is the patron of the 15th chair of the Brazilian Academy of Letters. Biography Antnio Gonalves Dias was born in Caxias on August 10, 1823, to PortugueseJoo Manuel Gonalves Dias and cafuza Vicncia Ferreira. After completing hisstudies in Latin, French and Philosophy, he went in 1838 to Portugal to earn adegree in Law at the University of Coimbra. There, he got in contact with theRomantic ideals and wrote his critically acclaimed poem "Cano do exlio". Hegraduated in 1845 and returned to Brazil in the same year. He goes to Rio deJaneiro, living there until 1854. There, he wrote the drama Leonor de Mendonain 1846 and his first poetry book, Primeiros Cantos, in 1847. In 1848, he wrote two more poetry books: Segundos Cantos and Sextilhas deFrei Anto. In 1849 he became professor of Latin and History at the ColgioPedro II. In 1851, he published his last poetry book, ltimos Cantos. In the sameyear, he travelled to Northern Brazil, planning to marry his lifelong love, 14-year-old Ana Amlia Ferreira do Vale, to whom he dedicated many of his most famouslove poems, such as "Seus olhos", "Leviana", "Palindia" and "Retratao".However, the girl's family did not allow the marriage because of Gonalves'mestizo descent. (This inspired his famous poem "Ainda uma vez adeus!".)Returning to Rio disappointed and with his heart broken, he married OlmpiaCarolina da Costa later on, having with her a stillborn daughter. During the period of 1854-1858, he went to Europe on special missions for theSecretary of Foreign Affairs. In 1856, at Leipzig, he published the three Cantospoetry books in one volume, wrote the first four cantos of the epic poem OsTimbiras (that he would leave unfinished) and also published a dictionary of theTupi language. Returning to Brazil, he founded the magazine Guanabara

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  • alongside Joaquim Manuel de Macedo and Manuel de Arajo Porto-alegre in1849, and went on expeditions to Negro and Madeira Rivers, as a member of theScientific Commission of Exploration. In 1862, he returned to Rio de Janeiro, butsoon went to Europe again, searching for a treatment to his diseases. In October1863, he went to Lisbon, where he translated Friedrich Schiller'sThe Bride of Messina and some poems by Heinrich Heine. After a short stay in France, he decided to return to Brazil in 1864, in the ship"Ville de Boulogne". However, the ship was wrecked on the shores of Guimares,Maranho. All the passengers but Dias survived the incident.

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  • Ainda Uma Vez Adeus I Enfim te vejo! enfim posso,Curvado a teus ps, dizer-te,Que no cessei de querer-te,Pesar de quanto sofri.Muito penei! Cruas nsias,Dos teus olhos afastado,Houveram-me acabrunhadoA no lembrar-me de ti! II Dum mundo a outro impelido,Derramei os meus lamentosNas surdas asas dos ventos,Do mar na crespa cerviz!Baldo, ludbrio da sorteEm terra estranha, entre gente,Que alheios males no sente,Nem se condi do infeliz! III Louco, aflito, a saciar-meDagravar minha ferida,Tomou-me tdio da vida,Passos da morte senti;Mas quase no passo extremo,No ltimo arcar da esprana,Tu me vieste lembrana:Quis viver mais e vivi! IV Vivi; pois Deus me guardavaPara este lugar e hora!Depois de tanto, senhora,Ver-te e falar-te outra vez;

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  • Rever-me em teu rosto amigo,Pensar em quanto hei perdido,E este pranto doloridoDeixar correr a teus ps. V Mas que tens? No me conheces?De mim afastas teu rosto?Pois tanto pde o desgostoTransformar o rosto meu?Sei a aflio quanto pode,Sei quanto ela desfigura,E eu no vivi na ventura...Olha-me bem, que sou eu! VI Nenhuma voz me diriges!...Julgas-te acaso ofendida?Deste-me amor, e a vidaQue me darias bem sei;Mas lembrem-te aqueles ferosCoraes, que se meteramEntre ns; e se venceram,Mal sabes quanto lutei! VII Oh! se lutei!... mas deveraExpor-te em pblica praa,Como um alvo populaa,Um alvo aos dictrios seus!Devera, podia acasoTal sacrifcio aceitar-tePara no cabo pagar-te,Meus dias unindo aos teus? VIII Devera, sim; mas pensava,Que de mim tesquecerias,

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  • Que, sem mim, alegres diasTesperavam; e em favorDe minhas preces, contavaQue o bom Deus me aceitariaO meu quinho de alegriaPelo teu, quinho de dor! IX Que me enganei, ora o vejo;Nadam-te os olhos em pranto,Arfa-te o peito, e no entantoNem me podes encarar;Erro foi, mas no foi crime,No te esqueci, eu to juro:Sacrifiquei meu futuro,Vida e glria por te amar! X Tudo, tudo; e na misriaDum martrio prolongado,Lento, cruel, disfarado,Que eu nem a ti confiei;Ela feliz (me dizia)Seu descanso obra minha.Negou-me a sorte mesquinha...Perdoa, que me enganei! XI Tantos encantos me tinham,Tanta iluso me afagavaDe noite, quando acordava,De dia em sonhos talvez!Tudo isso agora onde pra?Onde a iluso dos meus sonhos?Tantos projetos risonhos,Tudo esse engano desfez! XII

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  • Enganei-me!... Horrendo caosNessas palavras se encerra,Quando do engano, quem erra.No pode voltar atrs!Amarga irriso! reflete:Quando eu gozar-te pudera,Mrtir quis ser, cuidei quera...E um louco fui, nada mais! XIII Louco, julguei adornar-meCom palmas dalta virtude!Que tinha eu bronco e rudeCo que se chama ideal?O meu eras tu, no outro;Stava em deixar minha vidaCorrer por ti conduzida,Pura, na ausncia do mal. XIV Pensar eu que o teu destinoLigado ao meu, outro fora,Pensar que te vejo agora,Por culpa minha, infeliz;Pensar que a tua venturaDeus ab eterno a fizera,No meu caminho a pusera...E eu! eu fui que a no quis! XV s doutro agora, e pra sempre!Eu a msero desterroVolto, chorando o meu erro,Quase descrendo dos cus!Di-te de mim, pois me encontrasEm tanta misria posto,Que a expresso deste desgostoSer um crime ante Deus!

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  • XVI Di-te de mim, que timploroPerdo, a teus ps curvado;Perdo!... de no ter ousadoViver contente e feliz!Perdo da minha misria,Da dor que me rala o peito,E se do mal que te hei feito,Tambm do mal que me fiz! XVII Adeus queu parto, senhora;Negou-me o fado inimigoPassar a vida contigo,Ter sepultura entre os meus;Negou-me nesta hora extrema,Por extrema despedida,Ouvir-te a voz comovidaSoluar um breve Adeus! XVIII Lers porm algum diaMeus versos dalma arrancados,Damargo pranto banhados,Com sangue escritos; e entoConfio que te comovas,Que a minha dor te apiadeQue chores, no de saudade,Nem de amor, de compaixo, Antnio Gonalves Dias

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  • I-Juca Pirama I No meio das tabas de amenos verdores,Cercadas de troncos cobertos de flores,Alteiam-se os tetos daltiva nao;So muitos seus filhos, nos nimos fortes,Temveis na guerra, que em densas coortesAssombram das matas a imensa extenso. So rudos, severos, sedentos de glria,J prlios incitam, j cantam vitria,J meigos atendem voz do cantor:So todos Timbiras, guerreiros valentes!Seu nome l voa na boca das gentes,Condo de prodgios, de glria e terror! As tribos vizinhas, sem foras, sem brio,As armas quebrando, lanando-as ao rio,O incenso aspiraram dos seus maracs:Medrosos das guerras que os fortes acendem,Custosos tributos ignavos l rendem,Aos duros guerreiros sujeitos na paz. No centro da taba se estende um terreiro,Onde ora se aduna o conclio guerreiroDa tribo senhora, das tribos servis:Os velhos sentados praticam doutrora,E os moos inquietos, que a festa enamora,Derramam-se em torno dum ndio infeliz. Quem ? ningum sabe: seu nome ignoto,Sua tribo no diz: de um povo remotoDescende por certo dum povo gentil;Assim l na Grcia ao escravo insulanoTornavam distinto do vil muulmanoAs linhas corretas do nobre perfil. Por casos de guerra caiu prisioneiroNas mos dos Timbiras: no extenso terreiro

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  • Assola-se o teto, que o teve em priso;Convidam-se as tribos dos seus arredores,Cuidosos se incumbem do vaso das cores,Dos vrios aprestos da honrosa funo. Acerva-se a lenha da vasta fogueira,Entesa-se a corda de embira ligeira,Adorna-se a maa com penas gentis:A custo, entre as vagas do povo da aldeiaCaminha o Timbira, que a turba rodeia,Garboso nas plumas de vrio matiz. Entanto as mulheres com leda trigana,Afeitas ao rito da brbara usana,O ndio j querem cativo acabar:A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,Brilhante enduape no corpo lhe cingem,Sombreia-lhe a fronte gentil canitar. II Em fundos vasos dalvacenta argila ferve o cauim;Enchem-se as copas, o prazer comea, reina o festim.O prisioneiro, cuja morte anseiam, sentado est,O prisioneiro, que outro sol no ocaso jamais ver! A dura corda, que lhe enlaa o colo, mostra-lhe o fimDa vida escura, que ser mais breve do que o festim!Contudo os olhos dignbil pranto secos esto;Mudos os lbios no descerram queixas do corao. Mas um martrio, que encobrir no pode, em rugas fazA mentirosa placidez do rosto na fronte audaz!Que tens, guerreiro? Que temor te assalta no passo horrendo?Honra das tabas que nascer te viram, folga morrendo. Folga morrendo; porque alm dos Andes revive o forte,Que soube ufano contrastar os medos da fria morte.Rasteira grama, exposta ao sol, chuva, l murcha e pende:Somente ao tronco, que devassa os ares, o raio ofende! Que foi? Tup mandou que ele casse, como viveu;

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  • E o caador que o avistou prostrado esmoreceu!Que temes, guerreiro? Alm dos Andes revive o forte,Que soube ufano contrastar os medos da fria morte. III Em larga roda de novis guerreirosLedo caminha o festival Timbira,A quem do sacrifcio cabe as honras.Na fronte o canitar sacode em ondas,O enduape na cinta se embalana,Na destra mo sopesa a ivirapeme,Orgulhoso e pujante. Ao menor passo Colar dalvo marfim, insgnia dhonra,Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,Como que por feitio no sabidoEncantadas ali as almas grandesDos vencidos Tapuias, inda choremSerem glria e braso d'imigos feros. Eis-me aqui, diz ao ndio prisioneiro;Pois que fraco, e sem tribo, e sem famlia,As nossas matas devassaste ousado,Morrers morte vil da mo de um forte. Vem a terreiro o msero contrrio;Do colo cinta a muurana desce:Dize-nos quem s, teus feitos canta,Ou se mais te apraz, defende-te. ComeaO ndio, que ao redor derrama os olhos,Com triste voz que os nimos comove. IV Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi:Sou filho das selvas,Nas selvas cresci;Guerreiros, descendoDa tribo Tupi.

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  • Da tribo pujante,Que agora anda errantePor fado inconstante,Guerreiros, nasci;Sou bravo, sou forte,Sou filho do Norte;Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi. J vi cruas brigas,De tribos imigas,E as duras fadigasDa guerra provei;Nas ondas mendacesSenti pelas facesOs silvos fugacesDos ventos que amei. Andei longes terras,Lidei cruas guerras,Vaguei pelas serrasDos vis Aimors;Vi lutas de bravos,Vi fortes escravos!De estranhos ignavosCalcados aos ps. E os campos talados,E os arcos quebrados,E os piagas coitadosJ sem maracs;E os meigos cantores,Servindo a senhores,Que vinham traidores,Com mostras de paz Aos golpes do imigoMeu ltimo amigo,Sem lar, sem abrigoCaiu junto a mi!Com plcido rosto,Sereno e composto,

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  • O acerbo desgostoComigo sofri. Meu pai a meu ladoJ cego e quebrado,De penas ralado,Firmava-se em mi:Ns ambos, mesquinhos,Por nvios caminhos,Cobertos despinhosChegamos aqui! O velho no entantoSofrendo j tantoDe fome e quebranto,S quria morrer!No mais me contenho,Nas matas me embrenho,Das frechas que tenhoMe quero valer. Ento, forasteiro,Ca prisioneiroDe um troo guerreiroCom que me encontrei:O cru dessossegoDo pai fraco e cego,Enquanto no chego,Qual seja dizei! Eu era o seu guiaNa noite sombria,A s alegriaQue Deus lhe deixou:Em mim se apoiava,Em mim se firmava,Em mim descansava,Que filho lhe sou. Ao velho coitadoDe penas ralado,J cego e quebrado,

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  • Que resta? - Morrer.Enquanto descreveO giro to breveDa vida que teve,Deixa-me viver! No vil, no ignavo,Mas forte, mas bravo,Serei vosso escravo:Aqui virei ter.Guerreiros, no coroDo pranto que choro;Se a vida deploro,Tambm sei morrer. V Soltai-o! diz o chefe. Pasma a turba;Os guerreiros murmuram: mal ouviram,Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!Brada segunda vez com voz mais alta,Afrouxam-se as prises, a embira cede,A custo, sim; mas cede: o estranho salvo, Timbira, diz o ndio enternecido,Solto apenas dos ns que o seguravam:s um guerreiro ilustre, um grande chefe,Tu que assim do meu mal te comoveste,Nem sofres que, transposta a natureza,Com olhos onde a luz j no cintila,Chore a morte do filho o pai cansado,Que somente por seu na voz conhece. s livre; parte. E voltarei. Debalde. Sim, voltarei, morto meu pai. No voltes! bem feliz, se existe, em que no veja,Que filho tem, qual chora: s livre; parte! Acaso tu supes que me acobardo,

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  • Que receio morrer! s livre; parte! Ora no partirei; quero provar-teQue um filho dos Tupis vive com honra,E com honra maior, se acaso vencem,Da morte o passo glorioso afronta. Mentiste, que um Tupi no chora nunca,E tu choraste!... parte; no queremosCom carne vil enfraquecer os fortes.Sobresteve o Tupi: - arfando em ondasO rebater do corao se ouviaPrecipite. - Do rosto afogueadoGlidas bagas de suor corriam:Talvez que o assaltava um pensamento...J no... que na enlutada fantasia,Um pesar, um martrio ao mesmo tempo,Do velho pai a moribunda imagemQuase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! ingrato!Curvado o colo, taciturno e frio,Espectro dhomem, penetrou no bosque! VI Filho meu, onde ests? Ao vosso lado;Aqui vos trago provises: tomai-as,As vossas foras restaurar perdidas,E a caminho, e j! Tardaste muito! No era nado o sol, quando partiste,E frouxo o seu calor j sinto agora! Sim, demorei-me a divagar sem rumo,Perdi-me nestas matas intrincadas,Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;Convm partir, e j!

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  • Que novos malesNos resta de sofrer? que novas dores,No outro fado pior Tup nos guarda? As setas da aflio j se esgotaram,Nem para novo golpe espao intactoEm nossos corpos resta. Mas tu tremes Talvez do af da caa... Oh filho caroUm qu misterioso aqui me fala,Aqui no corao; piedosa fraudeSer por certo, que no mentes nunca!No conheces temor, e agora temes?Vejo e sei: Tup que nos aflige,E contra o seu querer no valem brios.Partamos!... E com mo trmula, incertaProcura o filho, tateando as trevasDa sua noite lgubre e medonha.Sentindo o acre odor das frescas tintas,Uma idia fatal correu-lhe mente...Do filho os membros glidos apalpa,E a dolorosa maciez das plumasConhece estremecendo: foge, volta,encontra sob as mos o duro crnio,Despido ento do natural ornato!...Recua aflito e pvido, cobrindos mos ambas os olhos fulminados,Como que teme ainda o triste velhoDe ver, no mais cruel, porm mais clara,Daquele excio grande a imagem vivaAnte os olhos do corpo afigurada.No era que a verdade conhecesseInteira e to cruel qual tinha sido;Mas que funesto azar correra o filho,Ele o via; ele o tinha ali presente;E era de repetir-se a cada instante.A dor passada, a previso futuraE o presente to negro, ali os tinha;Ali no corao se concentrava,

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  • Era num ponto s, mas era a morte! Tu prisioneiro, tu? Vs o dissesses. Dos ndios? Sim. De que nao? Timbiras E a muurana funeral rompeste,Dos falsos manits quebraste a maa... Nada fiz... aqui estou. Nada! Emudecem; Curto instante depois prossegue o velho: Tu s valente, bem o sei; confesso,Fizeste-o, certo, ou j no foras vivo! Nada fiz; mas souberam da existnciaDe um pobre velho, que em mim s vivia... E depois?... Eis-me aqui. Fica essa taba? Na direo do sol, quando transmonta. Longe? No muito.

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  • Tens razo: partamos. E quereis ir?... Na direo do ocaso. VII Por amor de um triste velho,Que ao termo fatal j chega,Vs, guerreiros, concedessesA vida a um prisioneiro.Ao to nobre vos honra,Nem to alta cortesiaVi eu jamais praticadaEntre os Tupis e mas foramSenhores em gentileza. Eu porm nunca vencido,Nem os combates por armasNem por nobreza nos atos;Aqui venho, e o filho trago.Vs o dizeis prisioneiro,Seja assim como dizeis;Manda! vir a lenha, o fogo,A maa do sacrifcioE a muurana ligeira:Em tudo o rito se cumpra!E quando eu for s na terra,Certo acharei entre os vossos,Que to gentis se revelam,Algum que meus passos guie;Algum, que vendo o meu peitoCoberto de cicatrizes,Tomando a vez de meu filho,De haver-me por pai se ufane!" Mas o chefe dos Timbiras,Os sobrolhos encrespando,Ao velho Tupi guerreiroResponde com torvo acento:

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  • Nada farei do que dizes: teu filho imbele e fraco!Aviltaria o triunfoDa mais guerreira das tribosDerramar seu ignbil sangue:Ele chorou de cobarde;Ns outros, fortes Timbiras,S de heris fazemos pasto. Do velho Tupi guerreiroA surda voz na gargantaFaz ouvir uns sons confusos,Como os rugidos de um tigre,Que pouco a pouco se assanha! VIII Tu choraste em presena da morte?Na presena de estranhos choraste?No descende o cobarde do forte;Pois choraste, meu filho no s!Possas tu, descendente malditoDe uma tribo de nobres guerreiros,Implorando cruis forasteiros,Seres presa de vis Aimors. Possas tu, isolado na terra,Sem arrimo e sem ptria vagando,Rejeitado da morte na guerra,Rejeitado dos homens na paz,Ser das gentes o espectro execrado;No encontres amor nas mulheres,Teus amigos, se amigos tiveres,Tenham alma inconstante e falaz! No encontres doura no dia,Nem as cores da aurora te ameiguem,E entre as larvas da noite sombriaNunca possas descanso gozar:No encontres um tronco, uma pedra,Posta ao sol, posta s chuvas e aos ventos,Padecendo os maiores tormentos,Onde possas a fronte pousar.

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  • Que a teus passos a relva se torre;Murchem prados, a flor desfalea,E o regato que lmpido corre,Mais te acenda o vesano furor;Suas guas depressa se tornem,Ao contacto dos lbios sedentos,Lago impuro de vermes nojentos,Donde festas como asco e terror! Sempre o cu, como um teto incendido,Creste e punja teus membros malditosE o oceano de p denegridoSeja a terra ao ignavo tupi!Miservel, faminto, sedento,Manits lhe no falem nos sonhos,E do horror os espectros medonhosTraga sempre o cobarde aps si. Um amigo no tenhas piedosoQue o teu corpo na terra embalsame,Pondo em vaso dargila cuidosoArco e frecha e tacape a teus ps!S maldito, e sozinho na terra;Pois que a tanta vileza chegaste,Que em presena da morte choraste,Tu, cobarde, meu filho no s. IX Isto dizendo, o meserando velhoA quem Tup tamanha dor, tal fadoJ nos confins da vida reservara,Vai com trmulo p, com as mos j friasDa sua noite escura as densas trevasPalpando. - Alarma! alarma! - O velho para.O grito que escutou voz do filho,Voz de guerra que ouviu j tantas vezesNoutra quadra melhor. - Alarma! alarma! Esse momento s vale apagar-lheOs to compridos transes, as angstias,Que o frio corao lhe atormentaram

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  • De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.Ele que em tanta dor se contivera,Tomado pelo sbito contraste,Desfaz-se agora em pranto copioso,Que o exaurido corao remoa. A taba se alborota, os golpes descem,Gritos, imprecaes profundas soam,Emaranhada a multido braveja,Revolve-se, enovela-se confusa,E mais revolta em mor furor se acende.E os sons dos golpes que incessantes fervem.Vozes, gemidos, estertor de morteVo longe pelas ermas serraniasDa humana tempestade propagandoQuantas vagas de povo enfurecidoContra um rochedo vivo se quebravam. Era ele, o Tupi; nem fora justoQue a fama dos Tupis - o nome, a glria,Aturado labor de tantos anos,Derradeiro braso da raa extinta,De um jacto e por um s se aniquilasse. Basta! clama o chefe dos Timbiras, Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,E para o sacrifcio mister foras. -O guerreiro parou, caiu nos braosDo velho pai, que o cinge contra o peito,Com lgrimas de jbilo bradando:Este, sim, que meu filho muito amado! E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,Corram livres as lgrimas que choro,Estas lgrimas, sim, que no desonram. X Um velho Timbira, coberto de glria,guardou a memriaDo moo guerreiro, do velho Tupi!

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  • E noite, nas tabas, se algum duvidavado que ele contava,Dizia prudente: - Meninos, eu vi!Eu vi o brioso no largo terreirocantar prisioneiroSeu canto de morte, que nunca esqueci:Valente, como era, chorou sem ter pejo;parece que o vejo,Que o tenho nesthora diante de mim. Eu disse comigo: Que infmia descravo!Pois no, era um bravo;Valente e brioso, como ele, no vi!E f que vos digo: parece-me encantoQue quem chorou tanto,Tivesse a coragem que tinha o Tupi! Assim o Timbira, coberto de glria,guardava a memriaDo moo guerreiro, do velho Tupi.E noite nas tabas, se algum duvidavado que ele contava,Tomava prudente: Meninos, eu vi! Antnio Gonalves Dias

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  • Minha Terra! Quanto grato em terra estranhaSob um cu menos querido,Entre feies estrangeiras,Ver um rosto conhecido; Ouvir a ptria linguagemDo bero balbuciada,Recordar sabidos casosSaudosos da terra amada! E em tristes seres dinverno,Tendo a face contra o lar,Lembrar o sol que j vimos,E o nosso ameno luar! Certo grato; mais sentidoSe nos bate o corao,Que para a ptria nos voa,Pra onde os nossos esto! Depois de girar no mundoComo barco em crespo mar,Amiga praia nos chamaL no horizonte a brilhar. E vendo os vales e os montesE a ptria que Deus nos deu,Possamos dizer contentes:Tudo isto que vejo meu! Meu este sol que me aclara,Minha esta brisa, estes cus:Estas praias, bosques, fontes,Eu os conheo so meus! Mais os amo quando volte,Pois do que por fora vi,A mais querer minha terra,E minha gente aprendi.

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  • Antnio Gonalves Dias

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  • O Soldado Espanhol I O cu era azul, to meigo e to brando,E a terra era a noiva que bem se arreavaQue a mente exultava, mais longe escutandoO mar a quebrar-se na praia arenosa. O cu era azul, e na cor semelhavaVestido sem ndoa de pura donzela;E a terra era a noiva que bem se arreavaDe flores, matizes; mas vria, mas bela. Ela era brilhante,Qual raio do sol;E ele arrogante,De sangue espanhol. E o espanhol muito amavaA virgem mimosa e bela;Ela amante, ele zelosoDos amores da donzela;Ele to nobre e folgandoDe chamar-se escravo dela! E ele disse: Vs o cu? E ela disse: Vejo, sim;Mais polido que o polidoDo meu vu azul cetim. Torna-lhe ele... (oh! quanto docePassar-se uma noite assim!) Por entre os vidros pintadosDigreja antiga, a luzirNo vs luz? Vejo. E no sentesDe a veres, meigo sentir? doce ver entre as sombrasA luz do templo a luzir! E o mar, alm, preguioso

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  • No vs tu em calmaria? belo o mar; porm sinto,S de o ver, melancolia. Que mais o teu rosto enfeitaQue um sorriso de alegria. E eu tambm acho em ser tristeDo que alegre, mais prazer;Sou triste, quando em ti penso,Que s me falta morrer;Mesmo a tua voz saudosaVem minha alma entristecer. E eu sou feliz, como agora,Quando me falas assim;Sou feliz quando se riemOs lbios teus de carmim;Quando dizes que me adoras,Eu sinto o cu dentro em mim. s tu s meu Deus, meu tudo.s tu s meu puro amar,s tu s que o pranto podesDos meus olhos enxugar. Com ela repete o amante: s tu s meu puro amar! E o cu era azul, to meigo e to brandoE a terra to erma, to s, to saudosaQue a mente exultava, mais longe escutandoO mar a quebrar-se na praia arenosa! II E o espanhol viril, nobre e formoso,No bandolimSeus amores dizia mavioso,Cantando assim: J me vou por mar em foraDaqui longe a mover guerra,J me vou, deixando tudo,

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  • Meus amores, minha terra. J me vou lidar em guerras,Vou-me ndia Ocidental;Hei de ter novos amores...De guerras... no temas ai. No chores, no, to coitada,No chores por teu deixar;No chores que assim me custaO pranto meu sofrear. No chores! - sou como o CidPartindo para a campanha;No ceifarei tantos louros,Mas terei pena tamanha. E a amante que assim o viaPartir-se to desditoso, Vai, mas volta; lhe dizia:Volta, sim, vitorioso. Como o Cid, oh! crua sorte!No me vou nesta campanhaGuerrear contra o crescente,Porm sim contra os dEspanha! No me aterram; porm sintoCerrar-se o meu corao,Sinto deixar-te, meu anjo,Meu prazer, minha afeio. Como doce o romper dalva,-me doce o teu sorrir,Doce e puro, qual destrelaDe noite o meigo luzir. Eram meus teus pensamentos,Teu prazer minha alegria,Doirada fonte d'encantos,Fonte da minha poesia.

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  • Vou-me longe, e o peito levoRasgado de acerba dor,Mas comigo vo teus votos,Teus encantos, teu amor! J me vou lidar em guerras,Vou-me ndia Ocidental;Hei de ter novos amores...De guerras... no temas ai. Esta era a cano que acompanhavaNo bandolim,To triste, que triste no choravaDizendo assim. III Quero, pajens, selado o ginete,Quero em punho nebris e falco,Qu promessa de grande caadaFresca aurora damigo vero. Quero tudo luzindo, brilhante Curta espada e venblo e punhal,Ces e galgos farejem dianteLeve odor de sanhudo animal. E ai do gamo que eu vir na coutada,Cora, onagro, que eu primo avistar!Que o venblo nos ares voandoLhe h de o salto no meio quebrar. Eia, avante! dizia folgandoO fidalgo mancebo, louo: Ea, avante! e j todos galopamTrs do moo, soberbo infano. E partem, qual do arco arranca e voaNos amplos ares, mais veloz que a vista,A plmea seta da entesada corda.Longe o eco reboa; j mais fraco,Mais fraco ainda, pelos ares voa.

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  • Dos ces dbios o latir se escuta apenas,Dos ginetes tropel, rinchar distanteQue em lufadas o vento traz por vezes.J som nenhum se escuta... Qu! latidoDe ces, incerto, ao longe? No, foi ventoNa torre castel batendo acaso,Nas seteiras acaso sibilandoDo castelo feudal, deserto agora. IV J o sol se escondeu; cobre a terraBelo manto de frouxo luar;E o ginete, que esporas atracam,Nitre e corre sem nunca parar. Da coutada nas nvias ramagensVai sozinho o mancebo infano;Vai sozinho, afanoso trotandoSem temores, sem pajens, sem co. Companheiros da caa h perdido,H perdido no aceso caar;H perdido, e no sente receioDe sozinho, nas sombras trotar. Corno ebmeo embocou muitas vezes,Muitas vezes de si deu sinal;Bebe atento a resposta, e no ouveOutro som responder-lhe; lnda mal! E o ginete que esporas atracam,Nitre e corre sem nunca parar;J o sol se escondeu, cobre a terraBelo manto de frouxo luar. V Silncio grato da noiteQuebram sons duma cano,Que vai dos lbios de um anjoDo que escuta ao corao.

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  • Dizia a letra mimosaSaudades de muito amar;E o infano enleado,Atento, ps-se a escutar. Era encantos voz to doce,Incentivo essa ternura,Gerava delcias nalmaSonhar dhav-la a ventura. Queixosa cantava a esposaDo guerreiro que partiu,Largos anos so passados,Missiva dele no viu... Parou!... escutando ao pertoResponder-lhe outra cano!...Era terna a voz que ouvia,Lisonjeira do infano: Tenho castelo soberboNum monte, que beija um rio,De terra tenho no DoiroJeiras cem de lavradio; Tenho lindas haquenias,Tenho pajens e matilha,Tenho os melhores ginetesDos ginetes de Sevilha; Tenho punhal, tenho espadaDalfageme alta feitura,Tenho lana, tenho adaga,Tenho completa armadura. Tenho fragatas que cingemDos mares a linfa clara,Que vo preando piratasPelas rochas de Megara. Dou-te o castelo soberbo

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  • E as terras do frtil Doiro,Dou-te ginetes e pajensE a espada de pomo doiro. Dera a completa armaduraE os meus barcos dalto-mar,Que nas rochas de MegaraVo piratas cativar. Fala de amores teu canto,Fala de acesa paixo...Ah! senhora, quem tiveraDos agrados teus condo! Eu sou mancebo, sou Nobre,Sou nobre moo infano;Assim pudesse o meu cantoAlgemar-te o corao, Dona, que eu dera tudoPor vencer-te essa iseno! Atenta escutava a esposaDo guerreiro que partiu,Largos anos so passados,Missiva dele no viu;Mas da letra que escutavaDelcias n'alma sentiu. VI E noutra noite saudosaBem junto dela sentado,Cantava brandas endechasO gardingo namorado . Careo de ti, meu anjo,Careo do teu amor,Como da gota dorvalhoCarece no prado a flor. Prazeres que eu nem sonhavaTeu amor me fez gozar;

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  • Ah! que no queiras, senhora,Minha dita rematar. O teu marido j morto,Notcia dele no soa;Pois desta gente guerreiraBastos ceifa a morte toa. Ventura me fora ver-teNos lbios teus um sorriso,Delcias me fora amar-te,Gozar-te meu paraso. Sinto aflio, quando choras;Se te ris, sinto prazer;Se te ausentas, fico triste,Que s me falta morrer. Careo de ti, meu ardo,Careo do teu amor,Como da gota dorvalhoCarece no prado a flor. VII Era noite hibernal; girava dentroDa casa do guerreiro o riso, a dana,E reflexos de luz, e sons, e vozes,E deleite, e prazer: e fora a chuva,A escurido, a tempestade, e o vento,Rugindo solto, indmito e terrvelEntre o negror do cu e o horror da terra.Na geral confuso os cus e a terraHorrenda simpatia alimentavam. Ferve dentro o prazer, reina o sorriso,E fora a tiritar, fria, medonha,Marcha a vingana pressurosa e torva:Traz na destra o punhal, no peito a raiva,Nas faces palidez, nos olhos morte.O infano extremoso enchia rasaA taa de licor mimoso e velho,

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  • Da usana ao brinde convidando a todosEm honra da esposada: noiva! exclama E a porta range e cede, e franca e livreIntroduz o tufo, e um vulto assomaAltivo e colossal. Em honra, brada,Do esposo deslembrado! e a taa empunhaMas antes que o licor chegasse aos lbios,Desmaiada e por terra jaz a esposa,E a destra do infano maneja o ferro,Por que to grande afronta lave o sangue,Pouco, bem pouco para injria tanta.Debalde o fez, que lhe golfeja o sangueDampla ferida no sinistro lado,E ao p da esposa o assassino surgeCoo sangrento punhal na destra alado. A flor purprea que matiza o prado,Se o vento da manh lhe entorna o clix,Perde aroma talvez; porm mais beloColorido lhe vem do sol nos raios,As fagueiras feies daquele rostoAssim foram tambm; no foi do tempoFatal o perpassar s faces lindas. Nota-lhe ele as feies, nota-lhe os lbios,Os curtos lbios que lhe deram vida,Longa vida de amor em longos beijos,Qual jamais no provou; e as iras todasDos zelos vingadores descansaramNo peito de sofrer cansado e cheio,Cheio qual na praia fica a esponja,Quando a vaga do mar passou sobre ela. Num relance fugiu, minaz no vulto:Como o raio que luz um breve instante,Sobre a terra baixou, deixando a morte. Antnio Gonalves Dias

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  • Seus Olhos Seus olhos to negros, to belos, to puros,De vivo luzir,Estrelas incertas, que as guas dormentesDo mar vo ferir; Seus olhos to negros, to belos, to puros,Tm meiga expresso,Mais doce que a brisa, mais doce que o nautaDe noite cantando, mais doce que a frautaQuebrando a solido, Seus olhos to negros, to belos, to puros,De vivo luzir,So meigos infantes, gentis, engraadosBrincando a sorrir. So meigos infantes, brincando, saltandoEm jogo infantil,Inquietos, travessos; causando tormento,Com beijos nos pagam a dor de um momento,Com modo gentil. Seus olhos to negros, to belos, to puros,Assim que so;s vezes luzindo, serenos, tranqilos,s vezes vulco! s vezes, oh! sim, derramam to fraco,To frouxo brilhar,Que a mim me parece que o ar lhes falece,E os olhos to meigos, que o pranto umedeceMe fazem chorar. Assim lindo infante, que dorme tranqilo,Desperta a chorar;E mudo e sisudo, cismando mil coisas,No pensa a pensar. Nas almas to puras da virgem, do infante,

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  • s vezes do cuCai doce harmonia duma Harpa celeste,Um vago desejo; e a mente se vesteDe pranto coum vu. Quer sejam saudades, quer sejam desejosDa ptria melhor;Eu amo seus olhos que choram em causaUm pranto sem dor. Eu amo seus olhos to negros, to puros,De vivo fulgor;Seus olhos que exprimem to doce harmonia,Que falam de amores com tanta poesia,Com tanto pudor. Seus olhos to negros, to belos, to puros,Assim que so;Eu amo esses olhos que falam de amoresCom tanta paixo. Antnio Gonalves Dias

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  • Soneto Pensas tu, bela Anarda, que os poetasVivem dar, de perfumes, d'ambrosia?Que vagando por mares dharmoniaSo melhores que as prprias borboletas? No creias que eles sejam to patetas.Isso bom, muito bom mas em poesia,So contos com que a velha o sono criaNo menino que engorda a comer petas! Talvez mesmo que algum desses brejeirosTe diga que assim , que os dessa genteNo so l dos heris mais verdadeiros. Eu que sou pecador, que indiferenteNo me julgo ao que toca aos meus parceiros,Julgo um beijo sem fim cousa excelente. Antnio Gonalves Dias

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  • The Song Of Exile My homeland has many palm-treesand the thrush-song fills its air;no bird here can sing as wellas the birds sing over there. We have fields more full of flowersand a starrier sky above,we have woods more full of lifeand a life more full of love. Lonely night-time meditationsplease me more when I am there;my homeland has many palm-treesand the thrush-song fills its air. Such delights as my land offersAre not found here nor elsewhere;lonely night-time meditationsplease me more when I am there;My homeland has many palm-treesand the thrush-song fills its air. Don't allow me, God, to diewithout getting back to whereI belong, without enjoyingthe delights found only there,without seeing all those palm-trees,hearing thrush-songs fill the air. Antnio Gonalves Dias

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