ISSN 0103-1538 1063

ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NOS MUNICÍPIOS DE CONCEIÇÃO DO COITÉ E VALENTE – BAHIA

Kleber Carvalho Lima¹, Flávia da Silva Costa², Jémison Mattos dos Santos³ e Maurílio Queirós

Nepomuceno – Geotrópicos/Universidade Estadual de Feira de Santana. (¹klebercvc@yahoo.com.br; ²fallgeo@yahoo.com.br; ³meugeografo@yahoo.com.br)

Resumo O estudo analítico da ocupação de áreas urbanas e rurais é imprescindível para compreendermos o processo de construção do espaço geográfico ao longo do tempo, bem como verificar os impactos ambientais negativos que ocorrem ou poderão ocorrer, suas causas e conseqüências, já que o solo deve ser entendido como organismo vivo e deve ser considerado devido a sua importância para as sociedades. O objetivo deste trabalho é analisar a evolução do uso e ocupação do solo nos municípios de Conceição do Coité e Valente e as implicações que essa evolução trouxe para o ambiente semi-árido local por serem considerados municípios que passaram por intensas transformações espaciais nas últimas décadas. Adotou-se o método de análise multitemporal definindo-se o período de 1970 a 2001. Foram realizadas: revisão bibliográfica, levantamento de dados estatísticos, elaboração dos mapas temáticos e dos mapas de uso e ocupação do solo para os anos de 1975 e 2001. Aplicou-se também a técnica do perfil integrado e do perfil geo-ambiental. Foram realizadas as visitas técnicas a campo e entrevistas com a população local. Para o ano de 1975 identificou-se as seguintes classes de uso do solo: cobertura vegetal, agricultura, solo exposto, área urbana e corpos d’água; com o predomínio das classes de agricultura e de cobertura vegetal nos dois municípios. Nas décadas de 1980 e 1990 houve crescimento significativo de áreas destinadas a pastagens devido ao declínio da cultura do sisal na região e redução nas áreas destinadas a lavouras. Para o ano de 2001, as classes de uso identificadas foram: vegetação densa e vegetação rasteira, mata ciliar, pastagens e lavouras, área urbana e corpos d’água. Houve neste ano o predomínio da classe de pastagens e lavouras sendo que sua distribuição espacial deveu-se em particular pelos fatores climáticos e pelo fator locacional. Palavras-chave: Uso e Ocupação do solo, Sisal, Deterioração Ambiental. MULTITEMPORAL ANALYSIS OF LAND USE AND OCCUPATION I N THE

CITIES OF CONCEIÇÃO DO COITÉ AND VALENTE – BAHIA

Abstract The analytical study of urban or country areas’ occupation is vital to understand the construction process of geographical space through time, as well as to verify environmental impacts that occur or may occur, its causes and consequences, since land may be understood as a living organism and must be taken under consideration due to its importance to societies. This aim of the present study is to analyse the evolution of land use and occupation on the cities of Conceição do Coité and Valente and the implications that this evolution brought to the local semi-arid environment, considering that these cities passed through huge spatial transformations in the last decades. The method adopted was the multitemporal analyses, limited to the period from 1970 to 2001. We made a bibliographic revision, statistical data survey, elaboration of thematic maps, and land use and land occupation maps for the years 1975 and 2001. We also applied the integrated

ISSN 0103-1538 1064

profile and geo-environmental techniques. We made field work for observation and local population interviews. For the year of 1975 we identified the following classes of land use: vegetation coverage, agriculture, exposed soil, urban area and water masses, with a predominant occurrence of agriculture and vegetation coverage classes in both cities. On the 1980 and 1990 decades, there was a significant raise on the area destined to cattle raising due to the decline in importance of the sisal tillage in the region, and hence, a reduction in area destined to agriculture. For the year of 2001, we identified the following classes: dense vegetation, grass vegetation, riparian forest, pasture and agriculture, urban area and water masses. In this year, the predominant class was pasture and agriculture, and its spatial distribution was related to climatic factors and location factor. Key-Words: Use and occupation soil, Agave, Environmental deterioration. 1. Introdução

O estudo analítico da ocupação de áreas urbanas e rurais é imprescindível para

compreendermos o processo de construção do espaço geográfico ao longo do tempo,

bem como verificar os impactos ambientais negativos que ocorrem ou poderão ocorrer,

suas causas e conseqüências, já que o solo deve ser entendido como organismo vivo e

deve ser considerado devido a sua importância para as sociedades.

Diante disso, o objetivo deste trabalho é analisar a evolução do uso e ocupação do

solo nos municípios de Conceição do Coité e Valente entre os anos de 1970 a 2001, por

serem considerados municípios que passaram por intensas transformações sócio-

espaciais. Tais transformações deveram-se especialmente ao fortalecimento, declínio e

retomada da cultura do sisal no referido período de tempo gerando diversas implicações

para o ambiente semi-árido através do uso intensivo do solo.

Levou-se em conta, além da cultura do sisal, outras variáveis como o avanço das

áreas de pastagens e de agricultura de subsistência.

2. Fundamentação teórico-conceitual

Para entendermos a dinâmica do uso e ocupação do solo nos municípios de

Conceição do Coité e Valente, deve-se compreender como as atividades que são

praticadas no espaço geográfico configuram o próprio espaço geográfico, entendido

nesse contexto como a atuação da sociedade na natureza através do trabalho.

Para Rosa (1989) apud Ferreira (2005) o uso do solo pode ser entendido como

forma pela qual o espaço é ocupado pelo homem. A referida ocupação pode ser

ISSN 0103-1538 1065

observada no intuito de verificar, mapear a ocorrência do mau uso do solo que poderá

incorrer em deterioração, além de processos como erosão intensa, compactação,

assoreamento, e demais tipos de desgastes no solo resultantes dessas ações

desordenadas sobre o espaço que poderão causar tais impactos negativos.

Sendo assim, o método da análise multitemporal “[...] permite que se tenha noção

do grau de atuação e desequilíbrios provocados por determinado padrão de ocupação

[...]” (Borges e Ramalho, 2007, p.01) numa determinada área e em um determinado

espaço de tempo.

Dentro da tônica do manejo inadequado dos solos, e baseados em Guerra e Marçal

(2007) pode-se dizer que, as atividades desenvolvidas no meio rural a partir da

ocupação deste espaço pelas sociedades (em particular a agricultura e pecuária) podem

ser as responsáveis diretas por transformações ocorridas na paisagem ressaltando-se que

a agricultura é a mais hostil forma de uso do solo. Quando praticada de forma

inadequada e abusiva, causa deterioração e/ou degradação ambiental.

Souza apud Sobrinho e Falcão (2006, p. 15) afirma que “os processos de uso e

ocupação da terra induzem, por conseqüência, à degradação progressiva dos solos e à

perda de produtividade das lavouras de subsistência na área do Semi-Árido”. Isso se

deve à fragilidade natural que as áreas sob influência deste regime climático estão

sujeitas - baixos e irregulares índices pluviométricos anuais, elevados índices de evapo-

transpiração, solos rasos e com alta concentração de sais, dentre outros fatores. Somado

às condições naturais, temos fatores de ordem econômica, como exemplo, uma

agricultura basicamente tradicional e de subsistência apoiada em técnicas de manejo

ultrapassadas, que causam forte pressão sobre os recursos naturais.

Se analisarmos o processo de colonização e ocupação das áreas secas do interior do

Nordeste brasileiro, veremos que tal processo se deu a partir da implantação e do

desenvolvimento da pecuária bovina (Ab’Sáber, 2003) sem serem levadas em conta a

aptidão natural da região para o desenvolvimento de tal atividade econômica. Assim, o

processo de exploração dos recursos naturais de forma irracional no domínio das

caatingas se desenvolveu há séculos atrás tornando tal domínio num dos mais

degradados domínios de natureza do Brasil (Araújo Filho in Sobrinho e Falcão, 2006).

Uma vez que os municípios de Conceição do Coité e Valente estão inseridos nesse

contexto, Moreira in Lage et al (2002, p. 25) afirma que “no sertão sisaleiro do Estado

da Bahia, as transformações ocorridas nas estruturas paisagísticas e nas formas de

ocupação do solo tornaram-se mais evidentes a partir de 1970 [...]”. Segundo o autor,

ISSN 0103-1538 1066

dois dos principais fatores que contribuíram para a dinâmica no uso do solo da região

foram: a cultura do sisal e as atividades agropecuárias.

Ainda sobre o espaço de produção do sisal, Silva in Lage et al (2002, p.81)

considera que: “correspondem aos ecossistemas mais frágeis e, consequentemente, mais

susceptíveis de sofrer processos de alteração e degradação ambiental, causados pelas

ações antrópicas”.

3. Metodologia

Como forma de análise da região em estudo adotou-se o método da análise

multitemporal, onde se delimitou o período de tempo entre o ano de 1970 e o ano de

2001.

A partir de então se realizou: revisão bibliográfica, levantamento cartográfico e

levantamento de dados estatísticos (agricultura, pecuária, população e uso das terras)

junto a órgãos estaduais e federais.

Elaboraram-se os mapas temáticos (Geológico, Geomorfológico, Solos, Vegetação,

Hidrológico) através da cartografia analógica do Projeto Radam Brasil e da base digital

do SRH – 2003. Os mesmos foram gerados através do software Arcview GIS 3.2.

Confeccionou-se o mapa de uso do solo e cobertura vegetal para o ano de 1975

através da compilação de cartas topográficas (AutoCAD Map 2000i) - Folhas Santa

Luz, Gavião, Serrinha e Pintadas, em escala 1:100 000 (SUDENE, 1975). Elaborou-se o

mapa de uso e ocupação do solo para o ano de 2001 a partir da imagem de satélite

(LANDSAT TM-7/ cena 216_68, 2001 / bandas R5, G4, B3). Os municípios foram

delimitados na imagem de satélite através da base digital do SRH - 2003.

Aplicou-se a técnica do perfil integrado utilizada por Lima, et al. (2007) e adaptou-

se o perfil geo-ambiental utilizado de Levighin e Viadana apud Gerardi (2003).

Visando confirmar/validar os dados obtidos em gabinete através da literatura e da

imagem de satélite frente à situação real da área, realizaram-se visitas técnicas a campo,

bem como entrevistas com a população local.

4. Caracterização Geoambiental

ISSN 0103-1538 1067

Os municípios de Conceição do Coité e Valente fazem parte da Região Nordeste da

Bahia, inseridos no Território do Sisal do Estado da Bahia (Figura 1). Possuem área de

832 Km2 e 546 Km² respectivamente, distando 210 km e 238 km de Salvador.

Apresentam coordenadas geográficas de 11º 33’ S e 39º 17’ W (Conceição do Coité) e

11°25’ S e 39°28’ W (Valente).

Figura 1: Localização da área em estudo no Território do Sisal do Estado da Bahia.

4.1 Meio Físico

A tipologia climática da região é Tropical Semi-Árida, com temperatura média

anual em torno de 23,4ºC (máxima 28,3ºC e mínima de 19,4ºC) e pluviosidade marcada

pela irregularidade na distribuição das chuvas durante o ano, sendo o período chuvoso

entre Novembro e Janeiro (média anual entre 500 a 800 mm), conforme figuras 02 e 03.

Assim, o risco de estiagem nos dois municípios é elevado fazendo com que os mesmos

estejam inseridos no Polígono das Secas. Fato que também pode ser constatado pelo

Índice de Aridez apresentado para ambos os municípios: Valente com 59,0 e Conceição

do Coité com 55,0 (SEI, 1999).

ISSN 0103-1538 1068

(2) (3)

Figuras 2 e 3: Diagrama Ombrotérmico para os municípios de Conceição do Coité e Valente respectivamente.

Através do mapa de solos da região, verifica-se em Conceição do Coité a ocorrência

de Planossolos, Neossolos Regolíticos e Neossolos Litólicos Eutróficos. No município

de Valente há ocorrência de Planossolos e Neossolos Regolíticos (Figura 4).

Na perspectiva geográfica o solo está associado às características da vegetação,

relevo, rochas, clima, bem como a significação que o mesmo possui para o desempenho

econômico de uma região. Então ele é um dos fatores determinantes para produção do

espaço geográfico que, agregado a demais fatores, os supracitados, representa uma

integração das ações e reações do meio físico, sendo uma relação sistêmica, tendo como

principal agente transformador o homem.

Figura 4: Mapa de solos para os municípios de Conceição do Coité e Valente.

ISSN 0103-1538 1069

Condicionada às características climáticas e edáficas encontramos a vegetação do

tipo caatinga arbórea aberta com palmeiras, recobrindo as formas aplainadas do

Pediplano Sertanejo.

Tal modelado desenvolveu-se a partir da relação entre o clima Semi-Árido e rochas

do tipo granito-gnaisses, diatexitos, biotita-gnaisse, conglomerados/brechas, anfibolitos,

gnaisses charnockíticos, gnaisses e rochas ultrabásicas.

Os dois municípios são drenados pelas bacias hidrográficas do Rio Paraguaçu e do

Rio Itapicuru. São bacias cujos canais principais são perenes e a maior parte dos seus

afluentes é intermitente, a exemplo do Rio Tocós e Riacho Salgado.

4.2 Os municípios de Conceição do Coité e Valente e a cultura do sisal

O sisal (Agave Sisalana) foi introduzido na Bahia por volta de 1903 em caráter

experimental sendo cultivado com fins econômicos a partir de 1939/40 onde se

espalhou pelo interior do estado chegando até os municípios de Conceição do Coité e

Valente. A partir da implantação de diversos campos de cultivo do sisal na região a

estrutura sócio-econômica passou a ser altamente dependente dessa cultura agrícola

sendo a região denominada por alguns de “Sisalândia”, o coração da produção do “Ouro

Verde” do sertão. “Trata-se de uma típica região primário-exportadora, apoiada em uma

tradicional commodity”. (Silva e Silva, 2003, p.133).

Na década de 1970 a queda no valor da fibra do sisal, devido à concorrência com as

fibras sintéticas, fez com que houvesse o abandono de diversos campos de sisal e

conseqüente declínio da produção. A tendência prolongou-se pelas décadas de 1980 e

1990 havendo uma tímida retomada na área plantada no início do Século XXI (Figura

5).

Tal fato deve-se ao aumento do preço da fibra do sisal no mercado internacional,

bem como do surgimento de indústrias locais de transformação da fibra em artigos

derivados. Tais produtos são, em grande parte, exportados para países europeus e para

os Estados Unidos.

ISSN 0103-1538 1070

Figura 5: Gráfico de área plantada com sisal (ha) nos municípios de Conceição do Coité e Valente – de 1968 a 1970 e 1993 a 2003.

5. O uso e ocupação do solo em Conceição do Coité e Valente.

Identificaram-se cinco classes de uso do solo para o ano de 1975, como pode ser

visualizado na figura 6. Foram elas:

Agricultura: ocupou mais de 50% da área total, principalmente próximo às áreas

urbanas, aos povoados e ao longo de algumas estradas e caminhos vicinais. A principal

prática agrícola era o cultivo do sisal, desenvolvido em pequenas e médias propriedades.

Cobertura Vegetal: apresentou-se como manchas, bastante espaçadas nos 02

municípios, tendendo a uma maior concentração na porção norte de Conceição do Coité.

Solo exposto: encontrou-se disperso por toda a área, havendo expressiva ocorrência

nas proximidades do Rio Jacuípe em Conceição do Coité e na porção sul de Valente.

Área urbana: a área urbana de Valente encontra-se na porção centro-sul do seu

município e apresentou população de 3.515 habitantes em 1975. Conceição do Coité

apresentou população urbana de 7.735 habitantes no mesmo ano, estando à mesma

localizada na porção central do município.

Corpos d’água: representados pelos açudes Valente, Baixa do Governo, Bela Vista

e Pedreira, respectivamente.

Na década de 1980 observou-se através dos dados estatísticos (Figuras 7 e 8) uma

redução nas áreas ocupadas com agricultura (principalmente o sisal) e expressivo

aumento nas áreas de pastos. Já entre os anos de 1995/1996 as áreas de pastagem

ocupavam mais da metade da área dos municípios seguindo-se as áreas destinadas à

lavoura (culturas de subsistência como feijão e mandioca) (Figuras 9 e 10).

ISSN 0103-1538 1071

Segundo Moreira in Lage et al (2002) um dos fatores que favoreceram a expansão

das áreas destinadas às pastagens e o pequeno aumento das áreas recobertas por

vegetação na década de 1990 foi o abandono de diversas parcelas de sisal, passando as

mesmas a se constituírem como áreas de reconquista de vegetação ou áreas onde o sisal

foi retirado para dar espaço aos novos pastos para a criação de gado.

Figura 6: Mapa de uso do solo e cobertura vegetal para os municípios de Conceição do Coité e Valente - 1975.

ISSN 0103-1538 1072

(7) (8)

Figuras 7 e 8: Área com utilização das terras nos municípios de Conceição do Coité e Valente no ano de 1985, respectivamente.

(9) (10)

Figuras 9 e 10: Área com utilização das terras nos municípios de Conceição do Coité e Valente entre os anos de 1995/1996, respectivamente.

Através da imagem do satélite Landsat TM-7 (Figuras 11 e 12), pôde-se observar a

disposição geoespacial das classes identificadas para o ano de 2001. Foram identificadas

a partir da imagem, as seguintes classes gerais:

Vegetação densa e vegetação rasteira: em Conceição do Coité concentrou-se no

extremo norte do município com ocorrência moderada também na porção leste. A

vegetação menos densa ocupou faixas na porção central e algumas porções a noroeste

do município. Em Valente as áreas com vegetação densa espacializaram-se em forma

de pequenas manchas dispersas por todo o município. As áreas com vegetação menos

ISSN 0103-1538 1073

densa concentraram-se principalmente no setor norte, porém presente de forma bastante

fragmentada também nas porções leste e noroeste.

Mata ciliar: encontrou-se presente nos córregos situados na parte sudeste e na borda

leste do município de Conceição do Coité (microbacia do Rio Tocós); em Valente esta

classe ocupou uma área bastante reduzida ao longo dos riachos que drenam o município

(uma vez que a maior parte desses riachos cortava áreas ocupadas por pastagens). Um

dos fatores que ocasionou a retirada da mata ciliar em áreas de pasto era facilitar o

acesso do rebanho bovino aos córregos para obterem água para beber, principalmente,

nos períodos de estiagem, bem como o desconhecimento de sua importância ambiental

por parte expressiva da população, constatado pela explanação de um ribeirinho: “

Tiramos a mata para limpar a beira do rio”.

Áreas de pastagens e lavouras: em Conceição do Coité ocupou sumariamente o eixo

leste-oeste, porém notou-se sua forte concentração no norte e nordeste do município.

Em Valente ocupou densamente a porção central e a porção sudeste. Constatou-se a

expansão das áreas destinadas para tais atividades em relação às décadas anteriores nos

municípios em questão.

Solo exposto: concentrou-se na parte sul de Conceição do Coité, enquanto em

Valente na parte leste do município.

Áreas urbanas: Verificou-se que a área urbana de Valente apresentou uma leve

expansão em 2001 nas direções oeste e leste obtendo uma população em torno de 9.511

hab. em 2000 (SEI, 2001). Já em Conceição do Coité notou-se o aumento significativo

da área de sua sede, registrando população urbana de 28.026 hab. em 2000 (SEI, 2001).

Corpos d’água: Visualmente a partir da imagem de satélite esta classe não sofreu

alterações significativas em relação ao ano de 1975, onde foram encontrados os mesmos

alvos (açudes: Valente, Baixa do Governo, Bela Vista e Pedreira). Todavia, constatou-

se no trabalho campo que os mesmos sofrem forte pressão ambiental devido à

urbanização, bem como ao desenvolvimento de atividades socioeconômicas em seu

entorno, ocasionando assoreamento, redução do espelho d’água e perda da qualidade

das águas.

O que pôde ser verificado para o ano de 2001 comparando com 1975 é que as

atividades agropecuárias, de maneira geral, se intensificaram. Em destaque, têm-se as

áreas de pastagem e o aumento das áreas de solo exposto, que foi observado através da

visualização das classes de uso na imagem de satélite.

ISSN 0103-1538 1074

Figura 11: Imagem do Satélite Landsat TM-7 para o município de Conceição do Coité com suas respectivas classes de uso do solo (composição colorida R5, G4, B3).

Figura 12: Imagem do Satélite Landsat TM-7 para o município de Valente com suas respectivas classes de uso do solo (composição colorida R5, G4, B3).

ISSN 0103-1538 1075

Por meio da construção e análise dos perfis integrados (Figuras13 e 14) se constatou

que não existiu, de forma direta, correlação entre as formas de uso e ocupação do solo e

as características naturais dos municípios (geologia, geomorfologia e solos). Logo,

afirma-se que a ocorrência em maior escala das classes de pastagens e lavouras em

determinadas áreas dos municípios esteve diretamente associada ao fator locacional, ou

seja, quanto maior era à distância dos núcleos urbanos, povoados e estradas; menor foi à

intensidade de interferência humana. Além disso, evidenciou-se também que o

desenvolvimento das atividades agropecuárias se fez sem critérios técnicos, pois as

áreas foram ocupadas desde o topo ate as áreas rebaixadas do modelado (veja Fig.13

abaixo: destaque para o setor sudoeste da bacia do Rio Jacuipe). Fato que ocasiona

deterioração das terras e, por conseguinte, perda de produtividade gerando

deseconomias para os municípios em questão.

Figura 13: Perfil integrado do município de Conceição do Coité.

Figura 14: Perfil integrado do município de Valente.

ISSN 0103-1538 1076

A expansão das atividades agropastoris se deu através da retirada em larga escala da

cobertura vegetal seguida pela prática das queimadas, o que faz intensificar os efeitos do

clima Semi-Árido no sertão. Este é, portanto, um efeito de causa e conseqüência

conjunta que pode acentuar as condições de semi-aridez nos municípios em questão por

conta das ações antrópicas inadequadas em áreas de plantio.

Através da análise dos mapas, dos dados estatísticos e dos perfis integrados, bem

como a visita a campo afirma-se que trata de uma área em acelerado e/ou intenso

processo de deterioração ambiental, ainda mais que sua dinâmica espacial esteve

bastante relacionada com as intensas flutuações econômicas de uma cultura agrícola e

do avanço das áreas destinadas à criação de gado.

Os expressivos setores municipais supracitados onde foram materializados os solos

expostos, as pastagens e a vegetação de menor densidade mereceram atenção especial

em relação aos impactos no ambiente. Posteriormente aos períodos de seca, as chuvas,

geralmente, caem em regime de torrentes acentuando o efeito “splash” sobre os solos

pouco desenvolvidos da região, intensificando os processos erosivos.

Tal deterioração dos solos pode induzem a ocorrência de processos de

desertificação. A desertificação ocorre em áreas Áridas e/ou Semi-Áridas onde o uso do

solo se dá de forma intensa e através de práticas inadequadas de manejo. Alguns estudos

abrangendo tal temática no município de Valente estão sendo desenvolvidos pela equipe

do GEOTRÓPICOS (Laboratório de Estudos da Dinâmica e Gestão do Ambiente

Tropical/UEFS).

Faz-se necessário o estudo mais detalhado não apenas dos municípios em foco, mas

também de todo o Território do Sisal do Estado da Bahia, uma vez que se trata de uma

região em estágio avançado do processo de deterioração ambiental. É público e notório

o descaso da maioria dos governantes, bem como certo desinteresse de algumas

instituições de pesquisas, no tocante a desenvolverem meios/projetos concretos e de

baixo custo para atenuar os efeitos negativos que as atividades econômicas têm causado

paulatinamente, bem como orientar a população para a adoção de práticas de manejo

sustentáveis.

Contudo, a fase final de aprofundamento da pesquisa ocorrerá com as composições

de Imagens Landsat TM-7 da área em estudo que serão analisadas no sistema de

processamento digital de imagens no ENVI e ERDAS. O processo de interpretação

digital da referida imagem Landsat começará com a análise das melhores combinações

de bandas espectrais para o estudo do uso e ocupação do solo. Em seqüência, far-se-á o

ISSN 0103-1538 1077

processo de registro da imagem Landsat. Aplicar-se-á diferentes técnicas de

processamento digital de imagens que serão utilizadas com o objetivo de realçar e

classificar feições nas imagens Landsat.

Para a realização do processo de retificação da imagem Landsat TM-7, busca-se

identificar pontos de controle bem distribuídos sobre a imagem da área em foco e obter

seus homólogos através de levantamentos com o Sistema de Posicionamento Global -

GPS. Será utilizado um receptor diferencial da marca TRIMBLE com precisão nominal

de 1 � 2 ppm. A identificação dos pontos de controle será auxiliada por levantamento

com o GARMIN GPS -12XL (GPS de navegação e precisão nominal de 100 metros).

Também será utilizado o Programa GPSsurvey para o tratamento dos dados. As

coordenadas geodésicas relativas a estes pontos serão repassadas para o ERDAS no

editor GCP (grupo de pontos de controle). Utilizará o método de reamostragem "vizinho

mais próximo" e a imagem será georeferenciada para o sistema de projeção UTM pelo

datum SAD69.

Sendo assim, analisarão-se as diferentes combinações de bandas visando identificar

preliminarmente os diferentes usos, bem como definir as melhores composições de

bandas espectrais da imagem Landsat para a caracterização multitemporal dos

municípios de Conceição do Coité e Valente.

Referências Bibliográficas

AB’SÁBER, A.N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.

São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

ACCIOLY, L.J. de O.; HUETE, A.R.; BATCHILY, K. Using mixture analysis for soil

information extraction from an AVIRIS scene at the Walnut Gulch Experimental

Watershed-Arizona. In. Anais do IX Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,

Santos-SP, 1998. Publicado em CD-ROM.

BORGES, J.P. e RAMALHO, M.F. de J.L. Análise Multi-temporal de uso e

ocupação na bacia hidrográfica do Rio Pirangi - RN: com vista no diagnóstico

ambiental. In: Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. 12, 2007. Anais.

Natal, 2007. CD-ROM.

BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL : folhas SC. 24/25

Aracaju/Recife: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, uso potencial da terra.

Rio de Janeiro, 1983.

ISSN 0103-1538 1078

CROSTA, A. P. Processamento Digital de Imagens de Sensoriamento remoto,

IG/UNICAMP. SP: Campinas, 1992. 170p.

FERREIRA, A.B, SANTOS, C.R, BRITO, J.L. S, e ROSA, R. Análise comparativa do

uso e ocupação do solo da área de influência da Usina Hidrelétrica Capim Branco I

a partir de técnicas de geoprocessamento. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento

Remoto. 12, 2005. Anais. Goiânia, 2005, INPE. CD-ROM.

GUERRA, A.J.T. e MARÇAL, M. dos S. Geomorfologia ambiental. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 2006.

JENSEN, J.R. Introductory Digital Image Processing: a Remote Sensing

Perspective. Englewood Cliffs. New Jersey: Prentice-Hall, 1986, 486p.

LAGE, C.S, ARGOLO, J.L. e SILVA, M.A. da (orgs) O sisal baiano: entre natureza e

sociedade: uma visão multidisciplinar. Salvador: UFBA/IGEO/DGEO, 2002.

LEVIGHIN, S.C. e VIADANA, A.G. A aplicação dos perfis geo-ambientais em

setores da cidade de Rio Claro (SP). In GERARDI, L.H. de O. (org.) Ambientes:

estudos de Geografia. Rio Claro: PPGG – UNESP, 2003.

LIMA, K.C, SANTOS, J.M. dos e PITIÁ, A.M.A. Caracterização Geoambiental da

Bacia Hidrográfica do Rio Bom Sucesso, Região Nordeste da Bahia. In: Simpósio

Brasileiro de Geografia Física Aplicada. 12, 2007. Anais. Natal, 2007. CD-ROM.

NOVO, E. M. Sensoriamento remoto: princípios e aplicações. São Paulo. Edgard

Blucher, 1989, 307p.

SEI. Anuário Estatístico da Bahia. Salvador: Sei, 2001.

SEI. Balanço Hídrico do Estado da Bahia. Salvador: Sei, 1999.

SILVA, O. R. R. da; BELTRÃO, N. E. de M. O Agronegócio do Sisal no Brasil.

Brasília: Embrapa-SPI; Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999.

SILVA, S.B. de M. e, SILVA, B. - C. N. Estudos sobre globalização, território e

Bahia. Salvador: UFBA - Mestrado em Geografia/DGEO, 2003.

SOBRINHO, J.F. e FALCÃO, C.L. da C. (orgs.) Semi-árido: diversidades,

fragilidades e potencialidades. Sobral: Sobral Gráfica, 2006.