10
Proceedings of the 1 st Iberic Conference on Theoretical and Experimental Mechanics and Materials / 11 th National Congress on Experimental Mechanics. Porto/Portugal 4-7 November 2018. Ed. J.F. Silva Gomes. INEGI/FEUP (2018); ISBN: 978-989-20-8771-9; pp. 749-758. -749- ARTIGO REF: 7380 ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA TERMOGRAFIA POR INFRAVERMELHOS João Crisóstomo 1(*) , Cristina Pereira 2 , Eduarda Roque 1 , Luís Jorge 3 , Rui Pitarma 1 1 Unidade de Inv. para o Desenv. do Interior (UDI), Instituto Politécnico da Guarda, Guarda, Portugal 2 AEFHP, Avenida 25 de Abril, 6201-008 Covilhã, Portugal 3 Escola Superior de Tecnologia (EST), Instituto Politécnico de Castelo Branco, Castelo Branco, Portugal (*) Email: [email protected] RESUMO Com as mais recentes câmaras termográficas de alta definição conseguem-se obter imagens com uma elevada resolução e sensibilidade térmica. Esta técnica apresenta grandes potencialidades na inspeção de árvores. Os termogramas permitem identificar e diferenciar tecidos deteriorados e tecidos saudáveis e funcionais. Esta avaliação é muito difícil de ser obtida por outro método ou à vista desarmada. A termografia por infravermelhos (TIV) é muitas vezes apontada como uma técnica apenas capaz de distinguir padrões de cor que reproduzem temperaturas na superfície dos objetos observados. No caso das árvores, os tecidos condutores de seiva elaborada encontram-se praticamente na superfície da sua estrutura viva. A TIV permite observar a árvore como um todo funcional. Neste trabalho apresenta-se um caso de estudo com uma árvore pertencente à espécie Quercus pyrenaica. Realizou-se uma análise qualitativa do estado de salubridade da árvore e analisam-se os resultados enquadrando-os na investigação da área. Palavras-chave: TIV, inspeção de árvores, monitorização de árvores. INTRODUÇÃO Muitos autores procuram, através da leitura da temperatura superficial das árvores, relacionar a sua variação com a deterioração ou espaços ocos no interior das árvores. Esta correspondência é possível de obter através da TIV [1, 2, 3, 4]. A análise deve ser feita caso a caso e não procurar encontrar os mesmos valores de temperatura, ou os mesmos locais de deterioração e espaços ocos em diferentes espécimes da mesma espécie, mesmo que estejam afetados pela mesma patologia. Tratar-se-ia, de facto, de uma situação improvável, que dois espécimes, mesmo que da mesma espécie, afetados pela mesma patologia apresentassem deterioração ou cavidades nos mesmos locais, portanto a análise de cada árvore deve ser feita de forma individual, é claro que tendo como base de comparação algumas características comuns para a espécie (nomeadamente o padrão geral do súber) [1, 2, 3]. É desta forma que são analisados e avaliados os resultados de ensaios acústicos, tomográficos e ressonâncias magnéticas feitos ao Homem. Embora que possivelmente afetados pela mesma patologia, muito dificilmente ocorrerá, que a situação de resposta obtida, através das imagens, seja a mesma. Portanto, estes casos, tanto nas árvores [5], como no ser humano, não devem ser agrupados e tratados de forma estatística cega na assunção de que com os resultados obtidos se consigam obter conclusões quantitativas, características superficiais térmicas de uma dada patologia sejam encontradas para qualquer árvore da mesma espécie. Existem trabalhos

ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Proceedings of the 1st Iberic Conference on Theoretical and Experimental Mechanics and Materials /

11th National Congress on Experimental Mechanics. Porto/Portugal 4-7 November 2018.

Ed. J.F. Silva Gomes. INEGI/FEUP (2018); ISBN: 978-989-20-8771-9; pp. 749-758.

-749-

ARTIGO REF: 7380

ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA TERMOGRAFIA POR INFRAVERMELHOS João Crisóstomo1(*), Cristina Pereira2, Eduarda Roque1, Luís Jorge3, Rui Pitarma1 1Unidade de Inv. para o Desenv. do Interior (UDI), Instituto Politécnico da Guarda, Guarda, Portugal 2AEFHP, Avenida 25 de Abril, 6201-008 Covilhã, Portugal 3Escola Superior de Tecnologia (EST), Instituto Politécnico de Castelo Branco, Castelo Branco, Portugal (*)

Email: [email protected] RESUMO

Com as mais recentes câmaras termográficas de alta definição conseguem-se obter imagens com uma elevada resolução e sensibilidade térmica. Esta técnica apresenta grandes potencialidades na inspeção de árvores. Os termogramas permitem identificar e diferenciar tecidos deteriorados e tecidos saudáveis e funcionais. Esta avaliação é muito difícil de ser obtida por outro método ou à vista desarmada. A termografia por infravermelhos (TIV) é muitas vezes apontada como uma técnica apenas capaz de distinguir padrões de cor que reproduzem temperaturas na superfície dos objetos observados. No caso das árvores, os tecidos condutores de seiva elaborada encontram-se praticamente na superfície da sua estrutura viva. A TIV permite observar a árvore como um todo funcional. Neste trabalho apresenta-se um caso de estudo com uma árvore pertencente à espécie Quercus pyrenaica. Realizou-se uma análise qualitativa do estado de salubridade da árvore e analisam-se os resultados enquadrando-os na investigação da área.

Palavras-chave: TIV, inspeção de árvores, monitorização de árvores.

INTRODUÇÃO

Muitos autores procuram, através da leitura da temperatura superficial das árvores, relacionar a sua variação com a deterioração ou espaços ocos no interior das árvores. Esta correspondência é possível de obter através da TIV [1, 2, 3, 4]. A análise deve ser feita caso a caso e não procurar encontrar os mesmos valores de temperatura, ou os mesmos locais de deterioração e espaços ocos em diferentes espécimes da mesma espécie, mesmo que estejam afetados pela mesma patologia. Tratar-se-ia, de facto, de uma situação improvável, que dois espécimes, mesmo que da mesma espécie, afetados pela mesma patologia apresentassem deterioração ou cavidades nos mesmos locais, portanto a análise de cada árvore deve ser feita de forma individual, é claro que tendo como base de comparação algumas características comuns para a espécie (nomeadamente o padrão geral do súber) [1, 2, 3]. É desta forma que são analisados e avaliados os resultados de ensaios acústicos, tomográficos e ressonâncias magnéticas feitos ao Homem. Embora que possivelmente afetados pela mesma patologia, muito dificilmente ocorrerá, que a situação de resposta obtida, através das imagens, seja a mesma. Portanto, estes casos, tanto nas árvores [5], como no ser humano, não devem ser agrupados e tratados de forma estatística cega na assunção de que com os resultados obtidos se consigam obter conclusões quantitativas, características superficiais térmicas de uma dada patologia sejam encontradas para qualquer árvore da mesma espécie. Existem trabalhos

Page 2: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Track-E: Civil and Structural Engineering Applications

-750-

realizados com diversos indivíduos da mesma espécie e afetados por diversas patologias que procuraram encontrar os mesmos padrões de cor que correspondem a valores de temperatura lidos na superfície das árvores [6]. São efetuadas várias leituras ao longo da altura de cada árvore e os resultados tratados de forma estatística tentando encontrar alguma relação entre os valores de temperatura aferidos em diferentes indivíduos. Diríamos que se trata de um processo completamente aleatório, a exceção será encontrar semelhanças. Nestas situações é óbvio que o coeficiente de correlação tem que ser quase nulo [6].

Uma abordagem quantitativa da termografia aplicada às árvores é proposta por [7, 8]. Neste estudo os autores apresentam preocupações e medidas tomadas para evitar erros no valor considerado para a emissividade na leitura da temperatura. No entanto, este parâmetro não é o único a atender na execução de leituras quantitativas, pois é necessário também ter em consideração o valor da temperatura aparente refletida ou reflexiva, que varia em função do ângulo utilizado entre a câmara e a superfície da árvore objeto de análise, e da direção da incidência da radiação proveniente do ambiente e dos raios solares.

As observações feitas às árvores para determinação da temperatura, muitas vezes são feitas contra a incidência da luz solar, ou para superfícies da árvore no momento em que estas estão a ser iluminadas pelo sol, neste caso as diferenças de temperatura referem-se à temperatura vinda do sol direto e não se relacionam com as propriedades do material ou seus defeitos. Neste caso, as zonas de sombra ou menos iluminadas exibirão valores de temperatura mais baixos, dando ideia que aí a árvore está deteriorada [1, 2, 3]. Para a prática da termografia é essencial existir um forte contraste térmico entre o objeto a observar e o ambiente ou os objetos que o rodeiam. Terá que existir diferença entre o poder radiativo do ambiente e o objeto em análise [9].

Podemos referir ainda outros casos em que a árvore é fragmentada em porções, nas quais são abertas perfurações ou orifícios no interior do caule, de forma a simular deterioração. Estas porções de caule são vedados nas extremidades, de forma a manter o teor de água. Estas amostras são observadas pela termografia, e também nestes casos, é difícil detetar os orifícios ou as larvas introduzidas no seu interior. Um troço de caule com o mesmo teor de água que a madeira viva, não é madeira viva, pois não existe circulação de seiva, isto é muito diferente da observação da estrutura viva - a árvore [10, 11].

Existem casos, nomeadamente em Portugal, distrito de Santarém, concelho de Abrantes, freguesia Mouriscas e local de Cascalhos, a Oliveira de Mouchão, a árvore com o estatuto de monumental, mais antiga de Portugal, com 3350 anos, com um perímetro na base de 11,2m e perímetro à altura do peito de 6,5m e uma altura do tronco até aos primeiros ramos de 3,2m [12] e cujo interior está oco, no entanto continua a produzir fruto [13]. Devido à idade que possui, já enfrentou e resistiu a ventos fortes e não é pelo facto de se encontrar oca que deixa de parecer saudável e apresentar condições para viver mais anos. Nas árvores dicotiledóneas, como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos, o seu interior, cerne, é constituído principalmente por células mortas.

Neste trabalho apresenta-se um caso de estudo com uma árvore pertencente à espécie Quercus

pyrenaica. Realizou-se uma análise qualitativa do estado de salubridade da árvore e analisam-se os resultados enquadrando-os na investigação da área.

Page 3: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Proceedings TEMM2018 / CNME2018

-751-

MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS

Para a determinação das condições atmosféricas utilizou-se um humidímetro (Figura 1) com termohigrómetro FLIR MR 176, com o qual se aferiu a temperatura atmosférica e a humidade relativa do ar [14].

Fig. 1 - Humidímetro FLIR MR 176.

A câmara termográfica (Figura 2) utilizada, no estudo, é da marca FLIR, modelo T1030sc. O detetor é do tipo FPA (Focal Plane Array), microbolómetro não arrefecido, campo de 17µm. Esta opera na banda espetral de 7,5-14µm, tendo sensibilidade térmica inferior a 0,02ºC, para 30ºC (86ºF). Os termogramas obtidos têm uma resolução de 1024x768 HD (786 432 pixéis). A precisão, a 25ºC, é de +1ºC ou +1%, para temperatura do objeto desde 5ºC a 150ºC. A lente utilizada é de 28º, com FOV (Campo de Visão) 28ºx21º (36mm) e número F 1,2. A termocâmara possui ainda funções de bussola e GPS, cujos dados aferidos podem ser apresentados nos termogramas [7].

A distância mínima de focagem é de 0,4m, para a lente padrão de 28º, a qual pode ser manual, automática ou automática contínua. Pode ser usado o Zoom digital contínuo de 1 a 8x. Apresenta um écran de 800x480 pixéis, capacitivo tátil, onde, de forma rápida e simples, podem ser dadas instruções à máquina [7].

Fig. 2 - Termocâmara FLIR T1030sc.

Os softwares utilizados, para tratamento dos termogramas, foram FLIR Tools+ e o ResearchIR Max 4 [15, 16].

A árvore analisada neste estudo é da espécie Quercus pyrenaica Willd, vulgarmente conhecido por Carvalho-Negral, Carvalho-das-Beiras ou ainda Carvalho-Pardo, espécie autóctone na Península Ibérica [17]. Existe em substratos ácidos, preferencialmente com origem granítica e xistosa, nas zonas montanhosas do interior, em regiões de clima continental. É uma árvore com capacidade de produzir rebentos a partir da base do tronco,

Page 4: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Track-E: Civil and Structural Engineering Applications

-752-

podendo também brotar a partir das raízes. Árvore caducifólia e marcescente nos indivíduos imaturos. O seu tronco é direito com casca cinzenta, baça e gretada em placas [18]. O exemplar em estudo (Figura 3) é constituído por três troncos que surgem do mesmo colo, possuindo um DAP de Sul para Norte, respetivamente de, 19,7cm, 16,9cm e 16,9cm. O DAP (Diâmetro à Altura do Peito foi determinado a 1,3m de altura). Com uma altura de aproximadamente 10m.

Fig. 3 - Fotografia do Carvalho-Negral (Sul à esquerda da foto).

Com o intuito de inspecionar esta árvore utiliza-se a termografia na sua variante passiva, isto é, na vertente qualitativa em que a fonte de calor é o ambiente, nomeadamente o sol. Esta técnica de diagnóstico. não destrutiva e de não contato, por isso considerada não invasiva, avalia a temperatura superficial da árvore, baseada na radiação emitida, na gama dos infravermelhos, quando estes se encontram acima dos 0 graus absolutos [19, 20, 21, 22]. A irregularidade do padrão térmico na superfície da árvore dará indicação da existência de defeitos, vazios ou deterioração da madeira, uma vez que o calor se move das zonas mais quentes para as mais frias. Ao encontrar deterioração, vazios ou defeitos, o calor não é transmitido de igual modo [1, 2, 3, 5, 23].

Page 5: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Proceedings TEMM2018 / CNME2018

-753-

METODOLOGIA

A árvore em estudo foi observada através da câmara termográfica da FLIR, em diferentes períodos do dia, sujeita à incidência direta da radiação solar e à noite sem incidência da radiação solar.

Conjuntamente com a inspeção termográfica, na qual se obtêm os termogramas, fizeram-se também fotografias para auxílio da inspeção visual, bem como a interpretação dos termogramas.

Os termogramas obtidos foram tratados com os softwares da FLIR através dos quais foram posicionados pontos em diferentes locais dos caules da árvore.

Os Spots que foram colocados nos dois termogramas obtidos, estão posicionados nos mesmos locais da árvore (aproximadamente).

Procedeu-se posteriormente à análise dos padrões térmicos de forma a aferir o estado de salubridade do espécime em observação.

Foram aferidos os valores de temperatura atmosférica e humidade relativa do ar, no momento da obtenção de cada termograma, através do humidímetro com termohigrómetro da FLIR. Também foi tida em consideração a distância a que a termocâmara se encontrava da árvore.

Para a inspeção de árvores numa abordagem qualitativa, embora tenha relevância a grandeza do valor da emissividade utilizado, este parâmetro, a ser introduzido na câmara aquando da realização dos termogramas ou a introduzir nos softwares de tratamento de termogramas, não é preponderante quando se trata de uma abordagem qualitativa, em que o que interessa não é o valor exato da temperatura medido, mas a diferença entre os valores obtidos de temperatura para diferentes pontos, aferidos com a mesma emissividade e temperatura refletida inserida. Ainda assim, é importante selecionar um valor para a emissividade que seja relativo à superfície do elemento em estudo, ou seja, como a madeira e a sua casca são materiais pouco reflexivos, logo possuem elevada emissividade, pelo que se escolheu um valor também elevado. Neste caso foi utilizado o valor de 0,95. Note-se que, neste caso, não é relevante a definição de um valor exato para a emissividade, uma vez que na inspeção de árvores não está em causa o valor obtido para a temperatura da superfície. Importa sim, inspecionar toda a árvore com o mesmo valor de emissividade e temperatura refletida ou reflexiva e ter em consideração as diferenças de temperatura lidas ou obtidas para a superfície em análise, as quais são reproduzidas por diferenças nos padrões térmicos de cor. Ou seja, começa-se por uma abordagem qualitativa e passa-se para uma abordagem quantitativa, no que diz respeito à comparação entre valores aferidos. Para a diferença de valores obtidos, entre os pontos da superfície, reproduzidos pelos padrões térmicos, importa saber, quantitativamente, quais as diferenças encontradas para caules com o mesmo diâmetro aproximado.

Por se tratar em primeira instância de uma análise qualitativa, também não é importante o valor da temperatura aparente refletida, pelo que foi considerado para cada termograma, um valor igual ao valor da temperatura atmosférica do momento em que foi realizado cada termograma.

Pode estar a cometer-se um erro, mas trata-se de um erro sistemático que afeta de igual forma todos os pontos no mesmo termograma.

Page 6: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Track-E: Civil and Structural Engineering Applications

-754-

TESTES E RESULTADOS

Os termogramas e fotografia foram obtidos em diferentes períodos do mesmo dia, no final de janeiro, no inverno do hemisfério Norte. Na Figura 4, apresenta-se um termograma e correspondente fotografia obtidos às 14h, na Figura 5, apresenta-se o termograma da mesma árvore, mas à noite, às 21h e 45m, aproximadamente da mesma vista.

Fig. 4 - Fotografia e termograma do Carvalho-Negral obtidos às 14h com incidência da luz solar

direta e sombra.

Na fotografia da Figura 4, à esquerda pode ver-se a incidência direta da luz solar e zonas de sombra. No termograma correspondente podemos ver no tronco à esquerda o Spot 1, ao sol, com 32,5ºC e à sombra o Spot 2 com 18ºC. O Spot 3 à direita em baixo corresponde a um antigo tronco cortado que já se encontra sem vida com 12ºC, podemos ver ainda mais acima o Spot 4 que está à sombra com 15ºC, posicionado num ramo com diâmetro maior do que o ramo onde está o Spot 5, este apresenta-se ao sol com temperatura de 23,5ºC.

Fig. 5 - Termograma do Carvalho-Negral obtido às 21h45m à noite (4h após o pôr-do-sol).

No termograma da Figura 5, 4h após o pôr-do-sol, podemos ver no tronco à esquerda o Spot 1 com 8,5ºC e o Spot 2 no tronco central com 8ºC. O Spot 3 à direita em baixo corresponde a um antigo tronco cortado que já se encontra sem vida com 3ºC, podemos ver ainda mais acima o Spot 4 com 6ºC que está posicionado num ramo com diâmetro maior do que o ramo onde está o Spot 5 com 4,5ºC.

Spot 1

Spot 2

Spot 3

Spot 4

Spot 5

Page 7: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Proceedings TEMM2018 / CNME2018

-755-

ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

O termograma da Figura 4 foi obtido nas seguintes condições: Emissividade de 0,95, Temperatura Refletida de 20ºC, Distância da Câmara à Árvore de 5m, Temperatura Atmosférica de 20ºC e Humidade Relativa de 50%.

A escala de temperaturas utilizada situa-se no intervalo entre os 10ºC e os 35ºC.

O termograma da Figura 5 foi obtido nas seguintes condições: Emissividade de 0,95, Temperatura Refletida de 10ºC, Distância da Câmara à Árvore de 5m, Temperatura Atmosférica de 10ºC e Humidade Relativa de 70%.

A escala de temperaturas utilizada situa-se no intervalo entre os 0ºC e os 10ºC.

A palete de cores utilizada nos dois casos foi a Rainbow.

As figuras foram obtidas num dia de sol em que o Pôr-do-sol ocorreu às 17h e 35m, não existia precipitação há mais de uma semana.

Os termogramas e fotografia são ilustrativos de aspetos a ter em conta na observação termográfica. Podemos observar que no termograma da Figura 4, os pontos das partes expostas à luz solar direta, Spot 1 e Spot 5 apresentam valores de temperatura superiores aos valores da temperatura atmosférica enquanto que os pontos à sombra apresentam valores de temperatura inferiores aos da temperatura atmosférica.

No termograma da Figura 5, todos os valores de temperatura aferidos são inferiores ao valor da temperatura atmosférica.

Os padrões de cor observados nos dois termogramas têm aspeto diferente. Os diversos padrões de cor correspondentes a diferentes temperaturas no termograma da Figura 4 não podem ser confundidos com deterioração, pois resultam da existência de luz solar ou sombra. Na Figura 5 podemos ver uma distribuição de temperaturas homogénea, encontrando apenas diferentes tonalidades correspondentes a diferenças de temperatura maiores em caules de diferente diâmetro ou entre os caules e a parte da madeira sem vida pelo que indicia salubridade.

O Spot 3, no toco, embora com diâmetro maior que qualquer dos outros caules, é o que apresenta uma temperatura inferior em virtude de ser constituído por madeira não viva, pelo facto de não circular seiva e do seu teor em água ser muito menor.

Os caules de menor diâmetro, como é o caso do Spot 5, mais acima na árvore, aquecem e arrefecem mais rapidamente, portanto às 14h este ponto apresenta uma temperatura superior ao Spot 4 e às 21h 45m acontece o contrário.

Existem diferenças ténues que se detetam nos termogramas, numa observação mais pormenorizada, que resultam ou do padrão da casca, ou de “feridas” de podas ou ainda de vegetação epífita, como musgos e líquenes, manchas com temperaturas ligeiramente inferiores às adjacentes, em qualquer um destes casos não se deve confundir com deterioração.

Page 8: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Track-E: Civil and Structural Engineering Applications

-756-

Não tendo ocorrido precipitação recente, o campo de temperatura nos termogramas não apresenta erro devido a este fator.

A inspeção termográfica deve ser acompanhada pelo registo fotográfico pois este auxilia na inspeção visual (VTA), facilitando a interpretação dos resultados dos termogramas e, assim, também contribui para que se aplique o menor número de vezes possível métodos invasivos [24].

CONCLUSÃO

A termografia por infravermelhos é uma técnica expedita e não invasiva que apresenta grandes potencialidades na inspeção de árvores. Permite o diagnóstico precoce de danos, mesmo aqueles que ainda não são visualmente percetíveis. Como em qualquer outra técnica, a sua correta aplicação exige um conhecimento multidisciplinar e aprofundado dos fenómenos em causa, designadamente o domínio dos parâmetros físicos, técnicos e fisiológicos do problema.

Neste estudo apresentou-se uma análise qualitativa do estado de salubridade de uma árvore pertencente à espécie Quercus pyrenaica, salientando-se os diversos parâmetros biofísicos do problema. Embora ainda numa fase preliminar, este estudo visa aprofundar a aplicação da técnica à manutenção avançada de árvores, levando em consideração o processo de autodefesa (CODIT) que as árvores desenvolvem. Pretende-se, assim, que através da termografia e da aplicação de outras metodologias, resultem, quando necessário, propostas de intervenção que privilegiem a sustentabilidade, beneficiando, em simultâneo, a economia e a natureza.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho está enquadrado nas atividades do projeto “TreeM - Advanced Monitoring & Maintenance of Trees” N. º 023831, 02/SAICT/2016, co-financiado por CENTRO 2020 e FCT em Portugal 2020 e fundos estruturais UE-FEDER.

REFERÊNCIAS

[1]-G. Catena, A New Application of Thermography, Atti della Fondazione Giorgio Ronchi 45(6), 1990, p. 947-952.

[2]-A. Catena, Thermography Reveals Hidden Tree Decay, Arboricultural Journal 27(1), 2003, p. 27-42.

[3]-A. Catena and G. Catena, Overview of Thermal Imaging for Tree Assessment, Arboricultural Journal 30, 2008, p. 259-270.

[4]-FLIR, Assessing Tree Health With Infrared, Application Story, http://www.flirmedia.com/ MMC/THG/Brochures/T559239/T559239_EN.pdf (Consultado em 28/04/2018).

Page 9: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Proceedings TEMM2018 / CNME2018

-757-

[5]-C. L. Goh, R. A. Rahim, M. H. F. Rahiman, M. T. M. Talib and Z. C. Tee, Sensing Wood Decay in Standing Trees: A Review, Sensors and Actuators A: Physical 269, 2018, p. 276-282.

[6]-D. C. Burcham, Eng-Choon Leong, Yok-King Fong and Puay-Yok Tan, An evaluation of internal defects and their effect on trunk surface temperature in Casuarina equisetifolia L. (Casuarinaceae), Arboriculture and Urban Forestry 27(1), 2012, p. 277-286.

[7]-FLIR, T10xx series User´s Guide, FLIR Systems, 2016.

[8]-M. Spencer, Applying Infrared Thermography for the Purpose of Identifying Concealed Wood Framing Member Type and Subsurface Anomalies with Intended Application Towards Historic Structures, Lexington, Kentucky, National Center for Preservation Technology and Training - Technology Serving the Future of America´s Heritage, 2008, http://ncptt.nps.gov/wp-content/uploads/2008-06.pdf (Consultado em 28/04/2018).

[9]-G. Holst, Common Sense Approch to Thermal Imaging, Spie Optical Engineering Press, 2000.

[10]-D. C. Burcham, Eng-Choon Leong and Yok-King Fong, Passive Infrared Camera Measurements Demonstrate Modest Effect of Mechanically Induced Internal Voids on Dracaena fragrans Stem Temperature, Urban Forestry & Urban Greening 11, 2012, p. 169-178.

[11]-N. Hoffmann, T. Schroder, F. Schluter and P. Meinlschmidt, Potential of Infrared Thermography to Detect Insect Stages and Defects in Young Trees, Journal Für Kulturpflanzen, 65 (9), 2013, p. 337-346.

[12]-J.L.P.C. Lousada, Declaração KNJ1-478, UTAD, 2016, http://www2.icnf.pt/portal/f lorestas/aip/aip-monum-pt (Consultado em 28/04/2018).

[13]-C. Dias, Oliveira mais Antiga de Portugal Nasceu há 3350 Anos, Jornal Público, 2017, https://www.publico.pt/2017/02/25/local/noticia/oliveira-mais-antiga-de-portugal-nasceu-ha-3350-anos-1762952 (Consultado em 28/04/2018).

[14]-FLIR, Humidímetro MR 176 User´s Guide, FLIR Systems, 2016.

[15]-FLIR, Tools+ User´s Guide, FLIR Systems, 2016.

[16]-FLIR, ResearchIR 4 User´s Guide, FLIR Systems, 2016.

[17]-C. J. Humphries, J.R. Press, D.A. Sutton, I. Garrard, T. Hayward and D. More, Guia Fapas Árvores de Portugal e Europa, Fapas, 2005.

[18]-https://gulbenkian.pt/jardim/garden-flora/carvalho-negral/ (Consultado em 28/04/2018).

[19]-J. Crisóstomo, Contribuição para Análise de Manifestações Patológicas em Madeira na Construção com Recurso à Termografia - Determinação da Emissividade de algumas Espécies de Madeira Empregues em Portugal, ESTCB/IPCB, 2014.

Page 10: ANÁLISE DA SALUBRIDADE DE ÁRVORES ATRAVÉS DA …tem2/Proceedings_TEMM2018/data/... · 2018-09-18 · como é o caso desta Olea europaea, os tecidos condutores da seiva são periféricos,

Track-E: Civil and Structural Engineering Applications

-758-

[20]-J. Crisóstomo, R. Pitarma and L. Jorge, Emissividade de Amostras de Pinus pinaster - Contribuição para Avaliação por Termografia IV, Proceedings ICEUBI 2013.

[21]-R. Pitarma, J. Crisóstomo and L. Jorge, Determinação da Emissividade de Materiais com Recurso a Software de Imagem, Proceedings CISTI 2015.

[22]-R. Pitarma, J. Crisóstomo and L. Jorge, Analysis of Materials Emissivity Based on Image Software, Proceedings WCIST 2016, p. 749-757.

[23]-M. Bellett-Travers and S. Morris, The Relationship Between Surface Temperature and Radial Wood Thickness of Twelve Trees Harvested in Nottinghamshire, Arboricultural Journal 33 (1), 2010, p. 15-26.

[24]-C. Mattheck and H. Breloer, Field Guide For Visual Tree Assessment (VTA), Arboricultural Journal: The International, Journal of Urban Forestry, 18(1), 1994, p. 1-23.

[25]-B. R. Fraedrich, Compartmentalization Of Decay In Trees, Technical Report, Bartlett Tree Research Laboratories. https://www.bartlett.com/resources/technical-reports/Compart mentalization-Of-Decay-In-Trees (Consultado em 28/04/2018).