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Allan Kardec - (1858) Instrucao Pratica Sobre as Manifestacoes Espiritas

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Allan Kardec - (1858) Instrucao Pratica Sobre as Manifestacoes Espiritas

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  • www.autoresespiritasclassicos.com

    Allan Kardec

    Instrues Prticas sobre as Manifestaes Espritas

    Exposio completa das condies necessrias comunicao com os Espritos e os meios de

    desenvolver nos mdiuns a faculdade medinica

    Ttulo do original francs: Instruction Pratique sur les Manifestations Spirites

  • Contedo resumido

    Esta , possivelmente, a obra menos conhecida de Kardec: um manual dedicado aos mdiuns.

    Lanada em 1858 (O Livro dos Espritos data de 1857), es-ta , em ordem cronolgica, a segunda obra esprita publicada pelo Codificador; um livro esquecido, depois da publicao de O Livro dos Mdiuns, que o substitura, segundo as palavras de Kardec.

    Todavia, Jean Meyer, sucessor de Allan Kardec na direo da Revista Esprita, redescobriu e publicou estas Instrues em 1923. E no mesmo ano Cairbar Schutel traduziu-as para o leitor brasileiro.

    Ambos, Meyer e Cairbar, perceberam no s o grande valor histrico deste pequeno livro, mas tambm a importncia do seu compacto e precioso vocabulrio esprita cerca de 160 verbetes , que foi, nos parece, a primeira tentativa nesse sentido, realiza-da pelo prprio Codificador.

    Instrues Prticas revela-se, portanto, um dos importantes documentos histricos que marcaram o incio do Movimento Esprita, alm de ser de grande utilidade o seu vocabulrio esprita como fonte de consulta.

  • Prefcio da Editora

    Esta obra , por ordem cronolgica, a segunda da Codificao Esprita. O Livro dos Espritos foi apresentado ao mundo em 1857. Instrues Prticas sobre as Manifestaes Espritas veio a lume no ano de 1858, o mesmo ano em que foi criada a Socie-dade Parisiense de Estudos Espritas e a Revista Esprita.

    Em agosto de 1860, referindo-se a estas Instrues Prticas, Kardec fazia seus leitores saberem que: Esta obra est inteira-mente esgotada e no ser reimpressa. Substitui-la- novo traba-lho, ora no prelo, que ser muito mais completo e diversamente planificado.

    Esse novo trabalho era nada menos do que O Livro dos Mdiuns, um perfeito tratado de parapsicologia editado com 100 anos de antecipao aos trabalhos do famoso Dr. Joseph B. Rhine.

    Em sua biografia de Allan Kardec, Henri Sausse menciona essa refuso ao escrever: O Livro dos Mdiuns fora precedido por uma obra menos extensa: Instrues Prticas sobre as Manifestaes Espritas. Quando a edio desse livro se esgotou, Allan Kardec substituiu-o por O Livro dos Mdiuns, que o vade-mcum de todos quantos desejam se entregar, com resul-tado, ao estudo do Espiritismo experimental.

    Assim sendo, o livro conheceu um nico lanamento sob a superviso direta de Kardec.

    Anos decorridos, todavia, encontrando-se frente da Casa dos Espritas, o dinmico e inesquecvel Jean Meyer julgou de bom alvitre relanar o pequeno livro. Uma segunda edio foi impressa em 1923, isto , 63 anos aps a sua publicao inicial. Lendo-o, Cairbar Schutel teve seu interesse despertado. Instru-es Prticas revelava-se um livro singelo, porm dotado de extraordinrio poder de sntese. No apenas um simples valor histrico motivava a sua reedio, porm bem mais do que isto: Schutel, como Meyer, homem de olhar agudo, capaz de devassar o futuro, antevia o momento dos Dicionrios, das Enciclop-dias de doutrina esprita. O pequeno volume continha a primeira

  • tentativa nesse sentido e era o Codificador, com sua prpria mo, quem redigia o primeiro Vocabulrio Esprita. Isso justificava plenamente a edio das Instrues Prticas.

    A esse respeito, Schutel carteou-se com Jean Meyer e deste veio-lhe no apenas o estmulo, mas a autorizao especial para a traduo da obra em lngua portuguesa. E no mesmo ano em que as Instrues ocupavam as vitrinas livreiras de Paris, Cairbar Schutel entregava-as ao leitor brasileiro.

    O lanamento das obras da Codificao no Brasil deve-se ao trabalho de dignos pioneiros e de respeitveis casas editoras; julgamos oportuno e justo oferecer de novo este livro j conside-rado raridade. E isto o fazemos com o simples e nico cuidado de atualizar-lhe a ortografia e burilar-lhe o texto.

    Wallace Leal V. Rodrigues

    Mato, maio de 1978.

  • Introduo

    Muitas pessoas nos tm pedido que lhes indiquemos as con-dies que devem preencher e a maneira como devem proceder para se tornarem mdiuns.

    A soluo deste problema mais complexa do que parece primeira vista, uma vez que depende de conhecimentos prelimi-nares necessariamente extensos. Para realizar experincias de fsica e de qumica faz-se necessrio, em primeiro lugar, conhe-cer a fsica e a qumica. As respostas que temos dado a essas pessoas no podem comportar explicaes incompatveis com os limites de uma correspondncia epistolar; por outro lado o tempo material no nos permite satisfazer a todos os consulentes; tudo isso determinou a publicao destas instrues, necessariamente mais completas do que tudo quanto poderamos escrever direta-mente.

    Ser um contra-senso pensar que se encontre nesta obra uma receita universal e infalvel para a formao de mdiuns. Embora cada pessoa tenha em si o germe das qualidades necessrias para se tornar mdium, estas qualidades se apresentam em graus muito diferentes e seu desenvolvimento depende de fatores que a ningum dado fazer nascer vontade.

    As regras da poesia, da pintura e da msica no fazem poetas, nem pintores, nem msicos daqueles que no possuem vocao; elas guiam no emprego das faculdades naturais. O mesmo se d relativamente ao nosso trabalho. Seu objetivo indicar os meios de desenvolver a faculdade medinica tanto quanto o permitam as disposies de cada pessoa e, sobretudo, quando essa faculda-de existe, orientar o seu emprego de maneira til.

    No este, entretanto, o nico fim que nos propusemos. Ao lado dos mdiuns propriamente ditos, existe a multido,

    que aumenta a cada dia, dos que se interessam pelas manifesta-es espritas. Guiar essas pessoas em suas pesquisas, assinalar-lhes os tropeos que podem e devem necessariamente encontrar em um terreno to novo, inici-las na maneira de se corresponde-rem com os espritos, indicar-lhes o meio de obterem boas

  • comunicaes, tal a rea que devemos abranger sob pena de realizarmos obra incompleta.

    No dever, portanto, causar estranheza ao leitor encontrar neste trabalho matrias que, primeira vista, possam parecer deslocadas de seu cmputo geral. A experincia provar sua utilidade. Depois de estudados com cuidado, melhor se compre-endero os fatos verificados na prtica medinica, e a linguagem de certos espritos parecer menos estranha. Como um compn-dio de instrues prticas, este livro no se dirige exclusivamente aos mdiuns, mas a todos os que esto em condies de ver e observar os fenmenos espritas.

    A cincia esprita se baseia, necessariamente, sobre a existn-cia dos espritos e sua interveno no mundo corporal. Este fato hoje admitido por um nmero to grande de pessoas, que seria suprfluo demonstr-lo. Sendo nosso objetivo guiar as pessoas que desejam se ocupar com as manifestaes, supomo-las sufici-entemente informadas tanto sobre esta questo quanto relativa-mente s verdades fundamentais que delas decorrem. Por esse motivo julgamos intil entrar em explicaes a tal respeito. Eis por que no as abordaremos e no procuraremos discutir as controvrsias, nem refutar as objees. Dirigimo-nos to-somente s pessoas convencidas ou dispostas a pesquisar com honestidade e boa f. Quanto s que nada conhecem do assunto, estas no encontraro aqui certas explicaes que poderiam talvez desejar, visto que consideramos como demonstrado o ponto de partida. Aos que contestam esse ponto de partida dire-mos: vede e observai quando se apresentar a ocasio. Se, apesar dos fatos e do raciocnio persistirdes em vossa incredulidade, consideraremos como perdido o tempo que gastaramos em querer tirar-vos de um erro no qual, sem dvida, vos comprazeis. Respeitamos vossa opinio, respeitai a nossa. Eis tudo quanto vos pedimos.

    Comearemos estas instrues pela exposio dos princpios gerais da doutrina.

    Embora possa parecer mais racional comear pela prtica, julgamos que, aqui, esse no o caso: h uma convico moral que s o raciocnio pode dar. Aqueles, pois, que tiverem adquiri-

  • do as primeiras noes pelo estudo da teoria compreendero melhor a necessidade de certos preceitos recomendados na prtica e mostraro, em relao a eles, disposies mais favor-veis. Conduzindo os indecisos para o terreno da realidade, espe-ramos destruir os preconceitos que podem prejudicar o resultado que se intenta alcanar; poupar os ensaios infrutferos, porque mal dirigidos ou dirigidos no sentido de obter o impossvel; e, enfim, combater as idias supersticiosas que tm sempre sua origem na noo falsa ou incompleta dos fenmenos.

    As manifestaes espritas so origem de uma multido de idias novas que no puderam encontrar representao na lin-guagem usual; elas tm sido expressas por analogia, como acon-tece no incio de toda cincia. Da a ambigidade dos vocbulos, origem de interminveis discusses. Com palavras claramente definidas e um vocbulo para cada coisa, torna-se mais fcil a mtua compreenso; se se discute, , ento, a respeito do fundo, no mais a respeito de forma.

    Foi para atingir tal objetivo e pr em ordem essas idias no-vas e ainda confusas, que nos dispusemos, em primeiro lugar, a inventariar todas as palavras que se referem, direta ou indireta-mente, doutrina esprita, oferecendo, a respeito delas, explica-es sucintas, porm suficientes para fixar as idias. A cincia esprita deve ter seu vocabulrio como todas as outras cincias. Para compreender uma cincia preciso, em primeiro lugar, compreender-lhe a terminologia; eis a primeira coisa que reco-mendamos queles que desejam realizar um estudo srio do Espiritismo. Seja qual for sua opinio anterior e pessoal sobre os diversos pontos da doutrina, podero, com conhecimento de causa, discuti-los. A organizao em ordem alfabtica permitir, por outro lado, recorrer mais facilmente s definies e s infor-maes que so a chave da abbada do edifcio e que serviro para refutar, em poucas palavras, certas crticas e evitar uma catadupa de perguntas.

    A especialidade do objetivo que nos propusemos indica os limites naturais desta obra. Tocando a cincia esprita todos os pontos da metafsica e da moral e por que no dizer! a maior parte dos conhecimentos humanos, no seria em um quadro to

  • restrito que poderamos ventilar todas as questes ou discutir todas as objees.

    Para os estudos complementares, indicamos O Livro dos Es-pritos e a Revista Esprita.1 No primeiro se encontrar a exposi-o completa e metdica da doutrina, tal qual a ditaram os pr-prios espritos, e na segunda, alm da relao e apreciao dos fatos, uma variedade de assuntos que s uma publicao peridi-ca comporta. A coleo desta revista constituir o repertrio mais completo sobre a matria, em seu trplice aspecto, histrico, dogmtico e crtico.

  • Vocabulrio Esprita

    Agnere (do gr, a, privativo e gine, geinomai, engendrar; o que no foi engendrado) variedade de apario tangvel; estado de certos Espritos que podem revestir, momentaneamente, as formas de uma pessoa viva a ponto de iludir completamente os observadores.

    Alma (do lat. anima, gr. anemos, sopro, emanao, ar) se-gundo uns, o princpio da vida material; segundo outros, o princpio da inteligncia, sem individualidade depois da morte. Conforme as diversas doutrinas religiosas, um ser imaterial, distinto, do qual o corpo no seno o invlucro. Sobrevive ao corpo e conserva a sua individualidade depois da morte.

    Esta diversidade de acepes dadas a uma mesma palavra uma fonte perptua de controvrsias, o que no se daria se cada idia tivesse sua representao nitidamente definida. Para evitar qualquer mal-entendido sobre o sentido que damos a esta pala-vra, chamaremos:

    Alma esprita, ou simplesmente alma o ser imaterial, dis-tinto e individual, unido ao corpo que lhe serve de invlu-cro temporrio, isto , o esprito em estado de encarnao, e que somente pertence espcie humana;

    Princpio vital o princpio geral da vida material, comum a todos os seres orgnicos, homens, animais e plantas; e alma vital o princpio vital individualizado em um ser qual-quer;

    Princpio intelectual o princpio geral da inteligncia co-mum aos homens e animais; e alma intelectual este mes-mo princpio individualizado.

    Alma universal nome que certos filsofos do ao princpio geral da vida e da inteligncia (v. Todo universal).

    Alucinao (do lat. hallucinatio, onis, erro, engano, aluci-nao) aparente percepo de objetos externos, no presentes no momento; iluso; devaneio. Os fenmenos espritas, que provm da emancipao da alma, provam que o que se qualifica

  • de alucinao , muitas vezes, uma percepo real anloga da dupla-vista, do sonambulismo ou xtase, provocada por um estado anormal, um efeito das faculdades da alma desprendida dos laos corpreos. Sem dvida ocorre, em certas circunstn-cias, uma verdadeira alucinao no sentido correlato ao termo. Mas a ignorncia e a pouca ateno que se tem dado, at o presente, a essas espcies de fenmenos fizeram considerar como uma iluso o que , freqentemente, uma viso real. Quando no se sabe explicar um fato psicolgico, acha-se mais simples classific-lo de alucinao.

    Anjo (do lat. angelus, gr. aggelos, mensageiro) segundo a idia vulgar, os anjos so seres intermedirios entre o homem e a divindade, por sua natureza e poder, e que podem manifestar-se, quer por avisos ocultos, quer de um modo visvel. Eles no foram criados perfeitos, pois a perfeio supe a infalibilidade e alguns dentre eles se revoltaram contra Deus. Diz-se: os bons e maus anjos, o anjo das trevas. Entretanto a idia mais geral, ligada a esta palavra, a da bondade e da suprema virtude.

    Segundo a doutrina esprita, os anjos no so seres parte e de uma natureza especial: so os Espritos da primeira ordem, isto , os que chegaram ao estado de puros Espritos depois de terem sofrido todas as provas.

    Nosso mundo no de toda a eternidade e, muito tempo antes que ele existisse, j Espritos haviam atingido esse grau supremo; os homens ento acreditaram que eles sempre foram assim.

    Apario fenmeno pelo qual os seres do mundo incorp-reo se manifestam vista.

    Apario vaporosa ou etrea a que impalpvel e inatin-gvel, e no oferece nenhuma resistncia ao toque;

    Apario tangvel ou estereolgica a que palpvel e apre-senta a consistncia de um corpo slido.

    A apario difere da viso por ocorrer no estado de viglia, atravs dos rgos visuais e enquanto o homem tem a plena conscincia de suas relaes com o mundo exterior. A viso d-se no estado de sono ou de xtase. Ocorre igualmente no estado de viglia, por efeito da segunda-vista. A apario registrada

  • pelos olhos do corpo; produz-se no prprio lugar em que nos encontramos; a viso tem por objeto coisas ausentes ou distantes, percebidas pela alma em seu estado de emancipao e quando as faculdades sensitivas esto mais ou menos suspensas (v. Lucidez, Clarividncia).

    Arcanjo anjo de uma ordem superior (v. Anjo). A palavra anjo um termo genrico que se aplica a todos os Espritos puros. Se admitirmos, relativamente aos anjos, diferentes graus de elevao, poderemos, para empregar termos conhecidos, design-los pelas palavras arcanjos e serafins.

    Ateu, Atesmo (do gr. atheos, composto de a, privativo, e de theos, Deus: sem Deus; que no cr em Deus) o Atesmo a negao absoluta da divindade. Todo aquele que cr na existn-cia de um ser supremo, quaisquer que sejam os atributos que lhe suponha e o culto que lhe renda, no ateu. Toda religio repou-sa necessariamente na crena em uma divindade. Esta crena pode ser mais ou menos esclarecida, mais ou menos conforme verdade; todavia uma religio atia um contra-senso.

    O Atesmo absoluto tem poucos proslitos, porque o senti-mento da divindade existe no corao do homem independente-mente de qualquer ensino. O atesmo e o Espiritismo so incom-patveis.

    Batedor (v. Esprito).

    Cu, no sentido de morada dos bem-aventurados (v. Para-so).

    Clarividncia propriedade inerente alma e que d a certas pessoas a faculdade de ver sem o auxlio dos rgos da viso (v. Lucidez).

    Classificao dos Espritos (v. Escala esprita).

    Comunicao esprita manifestao inteligente dos Espri-tos tendo por objeto uma troca contnua de pensamento entre eles e os homens. Distinguem-se em:

    Comunicaes frvolas as que se referem a assuntos fteis e sem importncia;

  • Comunicaes grosseiras as que se traduzem por expres-ses que ofendem a decncia;

    Comunicaes srias as que excluem a frivolidade, qual-quer que seja o assunto de que tratem;

    Comunicaes instrutivas as que tm por objeto principal um ensinamento dado pelos Espritos sobre as cincias, a moral, a filosofia, etc..

    (Quanto s modalidades de comunicaes, v. Sematologia, Tiptologia, Pneumatofonia, Pneumatografia, Psicofonia, Psico-grafia, Telegrafia humana).

    Crisaco aquele que est em um estado momentneo de cri-se produzida pela ao magntica. Esta circunstncia se oferece mais particularmente naqueles em que esse estado espontneo e acompanhado de uma superexcitao nervosa. Os crisacos gozam, em geral, de lucidez sonamblica ou da segunda-vista.

    Desta aquele que cr em Deus, sem admitir o culto exteri-or. Sem razo confunde-se s vezes desmo com atesmo (v. Ateu).

    Demnio (do lat. Daemo, feito do gr. Daimon, gnio, sorte, destino, manes) Daemones, tanto em grego como em latim, se diz de todos os seres incorpreos, bons ou maus, e que se supe terem conhecimentos e poder superiores aos dos homens. Nas lnguas modernas esta palavra geralmente tomada em m acepo, que se restringe aos gnios malfazejos. Segundo a crena vulgar os demnios so seres essencialmente maus por sua natureza. Os Espritos nos ensinam que Deus, sendo sobera-namente justo e bom, no pode ter criado seres voltados ao mal e desgraados por toda a eternidade. Segundo eles no h dem-nios na acepo absoluta e restrita desta palavra; h apenas Espritos imperfeitos, que podem, todos, aperfeioarem-se por seus esforos e por sua vontade. Os Espritos da nona classe seriam os verdadeiros demnios, se esta palavra no implicasse a idia de uma natureza perpetuamente m.

    Demnio familiar (v. Esprito familiar).

  • Demonologia, demonografia tratado da natureza e da in-fluncia dos demnios.

    Demonomancia (do gr. daimon e manteia, adivinhao) pretenso conhecimento do futuro pela inspirao dos demnios.

    Demonomania variedade de alienao mental que consiste em crer-se possudo pelo demnio.

    Diabo (do gr. Diabolos, delator, acusador, maldizente, calu-niador) segundo a crena vulgar, um ser real, um anjo rebel-de, chefe de todos os demnios, e que tem um poder bastante grande para lutar contra o prprio Deus. Ele conhece nossos pensamentos mais secretos, insufla todas as ms paixes e toma todas as formas para nos induzir ao mal. Conforme a doutrina dos espritos sobre os demnios, o diabo a personificao do mal; um ser alegrico, resumindo em si todas as paixes ms dos Espritos imperfeitos. Da mesma forma que os povos da antigidade davam s suas divindades alegricas atributos espe-ciais ao tempo uma foice de segar, uma ampulheta, asas e a figura de um ancio; fortuna uma venda sobre os olhos e uma roda sob um p, etc. , igualmente o diabo teve que ser represen-tado sob os traos caractersticos da baixeza de inclinaes. Os chifres e a cauda so os emblemas da bestialidade, isto , da brutalidade, das paixes animais.

    Deus inteligncia suprema, causa primria de todas as coi-sas. eterno, imutvel, imaterial, nico, todo poderoso, sobera-namente justo e bom, e infinito em todas as suas perfeies.

    Drades (v. Hamadrades).

    Duendes espritos travessos, espcies de trasgos, mais tra-quinas do que maus, que pertencem classe dos Espritos levia-nos (v. Trasgos).

    Emancipao da alma estado particular da vida humana durante o qual a alma, desprendendo-se de seus laos materiais, recupera algumas das suas faculdades de Esprito e entra mais facilmente em comunicao com os seres incorpreos. Este estado se manifesta principalmente pelo fenmeno dos sonhos,

  • da soniloquia, da dupla-vista, do sonambulismo natural ou magntico e do xtase (v. estas palavras).

    Encarnao estado dos Espritos que revestem um invlu-cro corporal. Diz-se: Esprito encarnado, em oposio a Esprito errante. Os Espritos so errantes no intervalo de suas diferentes encarnaes. A encarnao pode ocorrer na Terra ou em outro mundo.

    Erraticidade estado dos Espritos errantes, isto , no en-carnados, durante os intervalos de suas diversas existncias corpreas. A erraticidade no um sinal absoluto de inferiorida-de para os Espritos. H Espritos errantes de todas as classes, salvo os da primeira ordem ou puros espritos, que no tendo mais que sofrer encarnao, no podem ser considerados como errantes. Os Espritos errantes so felizes ou desgraados segun-do o grau de sua purificao. nesse estado que o Esprito, tendo despido o vu material do corpo, reconhece suas existn-cias anteriores e os erros que o afastam da perfeio e da felici-dade infinita. ento, igualmente, que ele escolhe novas provas, a fim de avanar mais depressa.2

    Esfera palavra pela qual certos Espritos designam os dife-rentes graus da escala esprita. Eles dizem que se chegou quinta ou sexta esfera, como outros dizem do quinto ou sexto cu. Pela maneira como se exprimem, poder-se-ia supor que a Terra

    Escala esprita quadro das diferentes ordens de Espritos, indicando os graus que eles tm de percorrer para chegar perfeio. Ela compreende trs ordens principais: os Espritos imperfeitos, os bons Espritos, os puros Espritos, subdivididos em nove classes caracterizadas pela progresso dos sentimentos morais e das idias intelectuais.

    Os prprios Espritos nos ensinam que eles pertencem a dife-rentes categorias, segundo o grau de sua purificao, mas nos dizem tambm que essas categorias no constituem espcies distintas e que todos os Espritos so chamados a percorr-las sucessivamente (v. as explicaes relativas ao carter de cada classe de Espritos no captulo especial).

  • um ponto central, cercado de esferas concntricas nas quais se realizam sucessivamente os diferentes graus de perfeio. Al-guns falam ainda da esfera do fogo, da esfera das estrelas, etc.. Como as mais simples noes astronmicas bastam para mostrar o absurdo de semelhante teoria, ela no pode provir seno, ou de uma falsa interpretao dos termos, ou de Espritos ainda muito atrasados, imbudos dos sistemas de Ptolomeu e Tycho-Brahe. Se um homem que julgais sbio sustenta uma teoria evidente-mente absurda, duvidais do seu saber; o mesmo deve ocorrer em relao aos Espritos. pela experincia que aprendemos a conhec-los. Estas expresses so viciosas, mesmo tomadas em sentido figurado, porque podem induzir em erro sobre o sentido verdadeiro pelo qual se deve entender a progresso dos Espritos (v. Reencarnao).

    Esprita o que se refere ao Espiritismo.3

    Espiritismo doutrina fundada sobre a crena na existncia dos Espritos e em sua comunicao com os homens.

    Espiritista aquele que adota a doutrina esprita.

    Esprito / Espritos (do lat. spritus, feito de spirare, soprar) no sentido especial da doutrina esprita, os Espritos so seres inteligentes da criao e povoam o Universo fora do mundo corpreo.4

    A natureza ntima dos Espritos nos desconhecida; eles mesmos no a podem definir, seja por ignorncia, seja pela insuficincia da nossa linguagem. Somos, a este respeito, como cegos de nascena em face da luz. Segundo o que eles nos di-zem, o Esprito no material no sentido vulgar da palavra, no tampouco imaterial em sentido absoluto, porque o Esprito alguma coisa e a imaterialidade absoluta seria o nada. O Esprito , pois, formado de uma substncia, mas da qual a matria gros-seira que impressiona nossos sentidos no pode dar-nos uma idia. Pode-se compar-lo a uma chama ou centelha cujo brilho varia segundo o grau de sua purificao. Pode tomar todas as espcies de formas por meio do perisprito de que est envolvido (v. Perisprito).

  • Esprito batedor o que revela sua presena batendo pan-cadas. Pertence s classes inferiores.

    Esprito elementar Esprito considerado em si mesmo e feita abstrao de seu perisprito ou invlucro semimaterial.5

    Esprito familiar Esprito que se liga a uma pessoa ou a uma famlia, quer para proteg-la, se bom, quer para prejudic-la, se mau. O Esprito familiar no precisa ser evocado; est sempre presente e responde instantaneamente ao apelo que se lhe faz. Muitas vezes manifesta sua presena por sinais sensveis.

    Espiritualismo crena na existncia de uma alma espiritu-al, imaterial, que conserva a sua individualidade depois da morte, abstrao feita da crena nos Espritos; o oposto do materia-lismo (v. Materialismo, Espiritismo). Todo aquele que cr que tudo em ns no matria espiritualista, mas no se segue da que admita a doutrina dos Espritos. Todo espiritista necessari-amente espiritualista, mas pode-se ser espiritualista sem ser espiritista; o materialista no uma nem outra coisa. Como so duas idias essencialmente distintas, era necessrio distingui-las por palavras diferentes, a fim de evitar qualquer equvoco. Mesmo para aqueles que consideram o Espiritismo como uma idia quimrica, faz-se ainda mister designar essa idia por uma palavra especial. Esta medida imprescindvel, tanto no que diz respeito s idias falsas quanto s verdadeiras, a fim de nos entendermos.6

    Expiao pena que sofrem os Espritos como punio das faltas cometidas durante a vida corporal. A expiao, sofrimento moral, ocorre no estado de erraticidade como o sofrimento fsico ocorre no estado corporal. As vicissitudes e os tormentos da vida

    Estereolgicas (do gr. streos, slido) aparies que adqui-rem as propriedades da matria resistente e tangvel. Diz-se por oposio s aparies vaporosas ou etreas, que so impalpveis. A apario estereolgica apresenta, temporariamente vista e ao toque as propriedades de um corpo vivo.

    Evocao (v. Invocao).

  • corporal so, ao mesmo tempo, provas para o futuro e expiao do passado.

    xtase (do gr. ekstasis, arrebatamento, arroubo de esprito; feito de existmi, tomar de espanto) paroxismo da emancipao da alma durante a vida corporal, de que resulta a suspenso momentnea das faculdades perceptivas e sensitivas dos rgos. Nesse estado a alma no se prende mais ao corpo seno por laos fracos, que ela procura romper; pertence mais ao mundo dos Espritos, que ela entrev, do que ao mundo material. O xtase , algumas vezes, natural e espontneo; pode tambm ser provoca-do pela ao magntica e, neste caso, um grau superior de sonambulismo.

    Fadas (do lat. fata) segundo a crena vulgar, as fadas so seres semimateriais, dotados de um poder sobre-humano. So boas ou ms, protetoras ou malfazejas; podem tornar-se, von-tade, visveis ou invisveis e assumir todas as espcies de formas. As fadas sucederam, na Idade Mdia e entre os povos modernos, as divindades subalternas dos antigos. Se separarmos suas hist-rias do maravilhoso com que lhes veste a imaginao dos poetas e a credulidade popular, encontraremos nelas todas as manifesta-es espritas de que somos testemunhas e que se produziram em todas as pocas; incontestavelmente aos fatos deste gnero que esta crena deve sua origem. Nas fadas que se diz presidirem ao nascimento de uma criana e segui-la no curso de sua vida, se reconhecem sem esforo os Espritos ou gnios familiares. Suas inclinaes mais ou menos boas e que so sempre o reflexo das paixes humanas colocam-nas, naturalmente, na categoria dos Espritos inferiores ou pouco adiantados (v. Politesmo).

    Feiticeiros (em francs sorcier, do lat. sors, sortis, sorte, des-tino, fado) se dizia, primitivamente, dos indivduos que se julgavam capazes de deitar sortes a algum e, por extenso, de todos aqueles aos quais se atribua um poder sobrenatural. Os fenmenos estranhos que se produzem sob a influncia de certos mdiuns provam que o poder atribudo aos feiticeiros repousa em uma realidade, mas da qual o charlatanismo tem abusado como abusa de tudo. Se em nosso sculo esclarecido h ainda

  • pessoas que atribuem esses fenmenos aos demnios, com maior razo tal se suporia nos tempos da ignorncia. Disso resultou que os indivduos que possuam, mesmo sem o saber, algumas das faculdades de nossos mdiuns, eram condenados ao fogo.

    Fludico oposto a slido. Qualificao dada aos Espritos por alguns escritores para caracterizar-lhes a natureza etrea. Diz-se os Espritos fludicos. Julgamos imprpria esta expresso, que apresenta, alm disso, uma espcie de pleonasmo, pouco mais ou menos como se dissssemos: ar gasoso. A palavra Esprito diz tudo. Ela encerra em si mesma sua prpria definio, desperta necessariamente a idia de uma coisa incorprea. Um Esprito que no fosse fludico no seria um Esprito. Esta pala-vra tem outro inconveniente, que o de assemelhar a natureza dos Espritos aos nossos fluidos materiais. Lembra demasiada-mente a idia de laboratrio.

    Fogo eterno a idia do fogo eterno, como um castigo, re-monta mais alta antigidade e se origina na crena dos povos que colocavam os infernos nas entranhas da Terra, cujo fogo central lhes era revelado pelos fenmenos geolgicos. Quando o homem adquiriu noes mais elevadas quanto natureza da alma, compreendeu que um ser imaterial no podia sofrer os danos de um fogo material; mas o fogo nem por isso deixou de permanecer como a configurao do mais cruel suplcio, e no se pode encontrar figura mais enrgica para pintar os sofrimentos morais da alma. neste sentido que o entende hoje a alta teolo-gia, nesse sentido, igualmente, que se diz: arder de amor, ser consumido pelo cime, pela ambio, etc..

    Gnio (do lat. genius, formado do grego gin, engendrar, produzir) neste sentido se diz que um homem capaz de criar ou de inventar coisas extraordinrias um homem de gnio. Na linguagem esprita gnio um sinnimo de Esprito. Diz-se indiferentemente: Esprito familiar e gnio familiar, bom e mau esprito, bom e mau gnio. A palavra Esprito encerra um sentido mais vago e menos circunscrito; o gnio uma espcie de perso-nificao de Esprito. Imaginamo-lo sob uma forma determinada, mais ou menos semelhante forma humana, porm vaporosa e

  • impalpvel, ora visvel, ora invisvel. Os gnios so os Espritos em suas relaes com os homens, atuando sobre eles por um poder oculto e superior.

    Gnio familiar (v. Esprito familiar).

    Gnomos (do gr. gmon, conhecedor, hbil, formado de gnos-ko, conhecer) gnios inteligentes que se supe habitarem o interior da Terra. Pelas qualidades que lhe so atribudas, perten-cem ordem dos Espritos imperfeitos e classe dos Espritos levianos.

    Hamadrade (do gr. ama, junto, e drs, carvalho; Drade, de drs, carvalho) ninfa dos bosques, segundo a mitologia pag. As drades eram ninfas imortais que presidiam s rvores em geral e que podiam vagar em liberdade em redor daquelas que lhes eram particularmente consagradas. A hamadrade no era imortal, nascia e morria com a rvore, cuja guarda lhe era confi-ada e que ela nunca podia abandonar. No duvidoso hoje que a idia das drades e hamadrades tenha sua origem em manifesta-es anlogas s de que somos testemunhas. Os antigos, que profetizavam tudo, divinizaram as inteligncias ocultas que se manifestavam na prpria substncia dos corpos. Para ns, as hamadrades no passam de espritos batedores.

    Iluminado qualificao dada a certos indivduos que se pretendem esclarecidos por Deus, de maneira particular, e que so considerados geralmente como visionrios ou doentes men-tais. Diz-se: a seita dos iluminados. Sob esta denominao foram confundidos todos os que recebem comunicaes inteligentes e espontneas da parte dos Espritos. Se neste nmero houve homens superexcitados por uma imaginao exaltada, conhece-se hoje a parte que se deve atribuir realidade.

    Instinto espcie de inteligncia rudimentar que dirige os seres vivos em suas aes, revelia de sua vontade e no interesse de sua conservao. O instinto torna-se inteligncia quando surge a deliberao. Pelo instinto age-se sem raciocinar; pela inteligncia raciocina-se antes de agir. No homem confundem-se freqentemente as idias instintivas com as idias intuitivas.

  • Estas ltimas so as que ele hauriu, quer no estado de esprito, quer nas existncias anteriores e das quais conserva uma vaga lembrana.

    Inteligncia faculdade de conceber, de compreender e ra-ciocinar. Seria injusto recusar aos animais uma espcie de inteli-gncia e acreditar que eles apenas seguem maquinalmente o impulso cego do instinto. A observao demonstra que, em muitos casos, eles agem de propsito deliberado e conforme as circunstncias; todavia essa inteligncia, por admirvel que seja, sempre limitada satisfao das necessidades materiais, ao passo que a do homem lhe permite elevar-se acima da condio de Humanidade. A linha de demarcao entre os animais e o homem traada pelo conhecimento que a este dado ter, do Ser Supremo (v. Instinto).

    Intuio (v. Instinto, Tendncias inatas).

    Invisvel nome com que algumas pessoas designam os Es-pritos em suas manifestaes. Esta denominao no nos parece feliz, em primeiro lugar porque se invisibilidade para ns o estado normal dos Espritos, sabe-se que ela no absoluta, visto que eles podem aparecer-nos; em segundo lugar, esta qualifica-o nada tem que caracterize essencialmente os Espritos. Ela se aplica, igualmente, a todos os corpos inertes que no impressio-nam o sentido da viso. A palavra Esprito tem, por si mesma, uma significao que desperta a idia de um ser inteligente e incorpreo. Notemos ainda que falando de um determinado Esprito, o de Fnelon, por exemplo, dir-se-: foi o Esprito de Fnelon que disse tal coisa, e no que foi o Invisvel de Fnelon. sempre prejudicial clareza e pureza da linguagem desviar as palavras de sua acepo prpria.

    Invocao (do lat. in, em, e vocare, chamar) e evocao (do lat. vocare e e ou ex, de, fora de) estas duas palavras no so sinnimos perfeitos, embora tenham a mesma raiz, vocare: chamar. um erro empreg-las uma pela outra. Evocar cha-mar, fazer vir a si, fazer aparecer por cerimnias mgicas, por encantamentos. Evocar almas, Espritos, sombras. Os necroman-tes pretendiam evocar as almas dos mortos (acad.). Entre os

  • antigos, evocar era fazer sarem as almas dos infernos para faz-las vir aos viso. Invocar chamar a si ou em seu socorro um poder superior ou sobrenatural. Invoca-se Deus pela prece. Na religio catlica invocam-se os Santos. Toda prece uma invo-cao. A invocao est no pensamento; a evocao um ato. Na invocao o ser ao qual nos dirigimos nos ouve; na evocao ele sai do lugar em que estava para vir a ns e manifestar sua pre-sena. A invocao no dirigida seno aos seres que supomos bastante elevados para nos assistir. Evocam-se tanto os Espritos inferiores como os superiores. Moiss proibiu, sob pena de morte, evocar as almas dos mortos, prtica sacrlega em uso entre os cananeus. O 22 captulo do II Livro dos Reis fala da evocao da sombra de Samuel pela pitonisa.

    A arte das evocaes, como se v, remonta mais alta anti-gidade. encontrada em todas as pocas e em todos os povos. Outrora a evocao era acompanhada de prticas msticas, ou porque os evocadores as julgassem necessrias ou, o que mais provvel, para se atriburem o prestgio de um poder superior. Hoje se sabe que o poder de evocar no um privilgio, que ele pertence a toda gente e que as cerimnias mgicas, em geral, no passavam de um vo aparato.

    Segundo os povos antigos, todas as almas evocadas ou eram errantes ou vinham dos infernos, que compreendiam, como se sabe, tanto os Campos Elseos como o Trtaro; a essa idia no se ligava nenhuma interpretao m. Na linguagem moderna, tendo-se restringido a significao da palavra inferno morada dos rprobos, disso resultou que a idia da invocao se ligou, para certas pessoas, de maus Espritos ou de demnios. Entre-tanto essa crena cai medida que se adquire um conhecimento mais aprofundado dos fatos; tambm ela a menos espalhada entre todos os que crem na realidade das manifestaes espri-tas: ela no poderia prevalecer diante da experincia e de um raciocnio isento de preconceitos.

    Lares (v. Manes, Penates).

    Livre arbtrio liberdade moral do homem; faculdade que ele tem de se guiar pela sua vontade na realizao de seus atos.

  • Os Espritos nos ensinam que a alterao das faculdades mentais, por uma causa acidental ou natural, o nico caso em que o homem fica privado de seu livre arbtrio. Fora disto sempre senhor de fazer ou de no fazer. Ele goza desta liberdade no estado de Esprito, e em virtude desta faculdade que escolhe livremente a existncia e as provas que julga prprias para seu progresso; ele a conserva no estado corporal, a fim de poder lutar contra essas mesmas provas. Os Espritos que ensinam esta doutrina no podem ser maus Espritos (v. Fatalidade).

    Lucidez, clarividncia faculdade de ver sem o auxlio dos rgos da viso. uma faculdade inerente prpria natureza da alma ou do Esprito, e que reside em todo o seu ser; eis por que em todos os casos em que h emancipao da alma, o homem tem percepes independentes dos sentidos. No estado corporal normal, a faculdade de ver limitada pelos rgos materiais; desprendida desse obstculo, ela no mais circunscrita, esten-de-se por toda parte onde a alma exerce sua ao; tal a causa da viso distncia de que gozam certos sonmbulos. Eles se vem no prprio local que observam e descrevem, ainda que este se situe mil lguas distncia, visto que, se o corpo no se acha acol, a alma, em realidade, ali se encontra. Pode-se, pois, dizer que o sonmbulo v pelos olhos da alma.

    A palavra clarividncia mais geral; lucidez diz-se mais par-ticularmente da clarividncia sonamblica. Um sonmbulo mais ou menos lcido, conforme a emancipao da alma mais ou menos completa.

    Magia, mago (do gr. magos, judicioso-sbio, formado de mageia, conhecimento profundo da natureza, de que se fez mago, sacerdote, sbio e filsofo entre os antigos persas) a magia, em sua origem, era a cincia dos sbios; todos os que conheciam a astrologia, que se gabavam de predizer o futuro, que faziam coisas extraordinrias e incompreensveis para o vulgo, eram apelidados magos. O abuso e o charlatanismo desa-creditaram a magia; entretanto os fenmenos que hoje reprodu-zimos pelo magnetismo, pelo sonambulismo e pelo Espiritismo provam que a magia no era uma arte puramente quimrica e que

  • entre muitos absurdos nela havia, seguramente, fenmenos bem reais. A vulgarizao desses fenmenos teve como efeito destruir o prestgio daqueles que os operavam outrora, sob o vu do segredo, e abusavam da credulidade atribuindo-se um pretenso poder sobrenatural. Graas a essa vulgarizao, sabemos hoje que nada existe de sobrenatural neste mundo e que certas coisas parecem derrogar as leis da natureza apenas porque no lhes conhecemos as causas.

    Magnetismo animal (do gr. e do lat. magnes, m) assim chamado por analogia com o magnetismo mineral. Tendo a experincia demonstrado que esta analogia no existe, ou apenas aparente, esta denominao deixa de ser exata. Todavia, como est consagrada por um uso universal, e como, alm disso, o epteto que se lhe acrescenta no permite equvoco, haveria mais inconvenincia do que utilidade em mudar este nome. Algumas pessoas substituem-na pela palavra Mesmerismo; entretanto esta expresso at agora no prevaleceu.

    O magnetismo animal pode ser assim definido: ao recproca de dois seres vivos por intermdio de um agente especial chama-do fluido magntico.

    Magnetizador, magnetista esta ltima palavra emprega-da por algumas pessoas para designar os adeptos do magnetismo, os que crem em seus efeitos. O magnetizador o prtico, o que exerce; o magnetista o terico. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador, mas no se pode ser magnetizador sem ser magne-tista. Esta distino parece-nos til e lgica.

    Manes (do lat. manere, ficar, segundo uns; de manes, mani-um, feito de manus, bom, segundo outros) na mitologia romana e etrusca, os manes eram as almas ou as sombras dos mortos. Os povos antigos tinham grande respeito aos manes de seus antepas-sados, que julgavam poder apaziguar por meio de sacrifcios. Imaginavam-nos sob sua forma humana, porm vaporosa e invisvel, vagando em redor dos prprios tmulos ou das pr-prias habitaes e visitando suas famlias. Quem no reconhece-ria nesses manes os Espritos sob o invlucro semimaterial do

  • perisprito, e que eles mesmos nos dizem estarem entre ns sob a forma que tinham durante a vida? (v. Penates).

    Manifestao ato pelo qual um Esprito revela sua presen-a. As manifestaes so:

    Ocultas quando no tm nada de ostensivo e o Esprito se limita a agir sobre o pensamento;

    Patentes quando so apreciveis pelos sentidos; Fsicas quando se traduzem por fenmenos materiais, tais

    como rudos, movimento e deslocamento de objetos; Inteligentes quando revelam um pensamento (v. Comuni-

    cao); Espontneas quando so independentes da vontade e ocor-

    rem sem que nenhum Esprito seja chamado; Provocadas quando so efeito da vontade, do desejo ou de

    uma evocao determinada; Aparentes quando o Esprito se faz visvel vista (v. Apa-

    rio).

    Materialismo sistema dos que pensam que tudo matria no homem e que, assim, nada sobrevive nele aps a destruio do corpo. Parece-nos intil refutar este ponto de vista, que, alm do mais, opinio pessoal de certos indivduos e em parte algu-ma foi erigido em doutrina.7

    Medianimidade faculdade dos mdiuns. As palavras medi-unidade e medianimidade so muitas vezes empregadas indife-rentemente. Se quisermos fazer uma distino, poder-se- dizer que mediunidade tem um sentido mais geral e medianimidade

    Se se pode demonstrar a existncia da alma pelo raciocnio, as manifestaes espritas dela oferecem as provas mais patentes; por meio dessas manifestaes assisti-mos de mil maneiras diferentes a todas as peripcias da vida de alm-tmulo. O materialismo, que se baseia apenas na negao, no pode fazer face evidncia dos fatos; eis por que a doutrina esprita tantas vezes triunfa sobre aqueles mesmos que mais resistiram a todos os outros argumentos. Sua vulgarizao o meio mais poderoso para extirpar esta chaga das sociedades civilizadas.

  • um sentido mais restrito. Ex.: Ele possui o dom da mediunidade: a medianimidade mecnica (v. Mediunidade).

    Mdium (do lat. mdium, meio, intermedirio) pessoa aces-svel influncia dos Espritos e mais ou menos dotado da faculdade de receber e transmitir suas comunicaes. Para os Espritos, o mdium um intermedirio; um agente ou um instrumento mais ou menos cmodo, segundo a natureza ou o grau da faculdade medinica. Esta faculdade depende de uma disposio orgnica especial, susceptvel de desenvolvimento. Distinguem-se diversas variedades de mdiuns segundo sua aptido particular para tal ou tal modo de transmisso, ou tal ou tal gnero de comunicao.

    Mdiuns de influncia fsica aqueles que tm o poder de provocar manifestaes ostensivas. Compreendem as variedades seguintes:

    Mdiuns motores os que provocam o movimento e o deslo-camento dos objetos;

    Mdiuns tiptolgicos os que provocam rudos, pancadas ou batidas;

    Mdiuns de apario os que provocam as aparies (v. Apario)

    Entre os mdiuns de influncia fsica distinguem-se: Mdiuns naturais aqueles que produzem fenmenos espon-

    taneamente e sem nenhuma participao de sua vontade; Mdiuns facultativos aqueles que tm o poder de provoc-

    los por ato da vontade.

    Mdiuns de influncias morais os que so mais especial-mente aptos a receber e transmitir comunicaes inteligentes; distinguem-se, segundo sua aptido especial, em:

    Mdiuns escreventes ou psicgrafos os que tm a faculda-de de escrever sob influncia dos Espritos (v. Psicografia);

    Mdiuns pneumatgrafos os que tm a faculdade de obter a escrita direta dos Espritos (v. Pneumatografia);

    Mdiuns desenhadores os que desenham sob a influncia dos espritos;8

  • Mdiuns falantes os que transmitem pela palavra o que os mdiuns escreventes transmitem pela escrita;

    Mdiuns comunicadores pessoas que tm o poder de de-senvolver nos outros, por sua vontade, a faculdade de es-crever, sejam ou no, elas mesmas, mdiuns escreventes;

    Mdiuns inspirados pessoas que, quer em estado normal, quer em estado de xtase, recebem, pelo pensamento, co-municaes ocultas, estranhas s suas idias preconcebidas;

    Mdiuns de pressentimento pessoas que, em certas circuns-tncias, tm uma vaga intuio do que vai ocorrer no futu-ro;

    Mdiuns videntes pessoas que tm a faculdade da segunda-vista ou a de ver os espritos (v. Vista);

    Mdiuns sensitivos ou impressionveis pessoas suscept-veis de sentir a presena dos espritos por uma vaga impres-so que elas no podem explicar. Esta variedade no tem carter bem delimitado; todos os mdiuns so, necessaria-mente, impressionveis; a impressionabilidade , assim, an-tes uma qualidade geral do que especial. a faculdade ru-dimentar indispensvel ao desenvolvimento de todas as ou-tras; ela difere da impressionabilidade puramente fsica e nervosa, com a qual no se deve confundi-la.

    Mediunato misso providencial dos mdiuns. Esta palavra foi criada pelos Espritos.

    Mediunidade [do lat. mdium, meio, intermedirio, -(i)dade] 1. Faculdade que a quase totalidade das pessoas possuem, umas mais outras menos, de sentir a influncia ou ensejarem a comunicao dos Espritos. Raros so os que no possuem rudimentos de mediunidade. 2. Em alguns, essa faculdade ostensiva e necessita ser disciplinada, educada; em outros, permanece latente, podendo manifestar-se episdica e eventual-mente (v. Medianimidade).

    Metempsicose (do gr. meta, mudana, en, em, e psych, al-ma) transmigrao da alma de um corpo para outro. O dogma da metempsicose de origem indiana. Da ndia esta crena

  • passou para o Egito, de onde, mais tarde, Pitgoras a importou para a Grcia. Os discpulos deste filsofo ensinavam que o Esprito, quando est liberto dos laos do corpo, segue para o imprio dos mortos, onde permanece espera, em um estado intermedirio, de durao mais ou menos longa. Em seguida vai animar outros corpos de homens ou de animais, at que transcor-ra o tempo de sua purificao e ele possa retornar fonte da vida. O dogma da metempsicose, como se v, baseia-se na individualidade e na imortalidade da alma; encontra-se nele a doutrina dos espritos sobre a reencarnao; o estado intermedi-rio, de durao mais ou menos longa, entre as diferentes existn-cias, outra coisa no seno o estado de erraticidade no qual se encontram os Espritos entre duas encarnaes. H, entretanto, entre a metempsicose indiana e a doutrina da reencarnao, tal qual nos ensinada hoje em dia, uma diferena capital; em primeiro lugar, a metempsicose admite a transmigrao da alma para o corpo dos animais, o que seria uma degradao; em segundo lugar, esta transmigrao no se opera seno na Terra. Os Espritos dizem-nos, ao contrrio, que a reencarnao um progresso incessante, que o homem um ser cuja alma nada tem de comum com a alma dos animais, que as diferentes existncias podem realizar-se, quer na Terra, quer, por uma lei progressiva, em um mundo de ordem superior, e isto, como diz Pitgoras, at que haja transcorrido o tempo da purificao.

    Mitologia (do gr. mythos, fbula, e logos, discurso) histria fabulosa das divindades pags. Compreende-se igualmente sob este nome a histria de todos os seres extra-humanos que, sob diversas denominaes, sucederam aos deuses pagos da Idade Mdia; assim que temos a mitologia escandinava, teutnica, cltica, escocesa, irlandesa, etc..

    Morte aniquilamento das foras vitais do corpo pelo esgo-tamento dos rgos. Ficando o corpo privado do princpio da vida orgnica, a alma se desprende dela e entra no mundo dos Espritos.

    Mundo corporal conjunto de seres inteligentes que tm um corpo material.

  • Mundo esprita ou mundo dos Espritos conjunto de seres inteligentes despidos de seu invlucro corpreo. O mundo espri-ta um mundo normal, primitivo, preexistente e sobrevivente a tudo. O estado corporal , para os Espritos, transitrio e passa-geiro. Eles mudam de invlucro como ns mudamos de roupas; abandonam o que se estragou como pomos de lado um traje velho ou imprestvel.

    Necromancia (do gr. nekros, morte, e mantia, adivinhao) arte de evocar as almas dos mortos para obter delas revelaes. Por extenso, esta palavra foi aplicada a todos os meios de adivinhao e qualifica-se de necromante quem quer que faa profisso de dizer o futuro. Isto depende, sem dvida, de ter sido a necromancia, na verdadeira acepo da palavra, um dos primei-ros meios empregados para esse fim; em segundo lugar ao fato de serem as almas dos mortos, na crena vulgar, os principais agentes nos outros meios de adivinhao, tais como a quiroman-cia, adivinhao pela inspirao da mo, a cartomancia, etc.. O abuso e o charlatanismo desacreditaram a necromancia, assim como a magia.

    Noctmbulo, Noctambulismo (do lat. nox, noctis, a noite, e ambulare, marchar, passear) aquele que marcha ou passeia durante a noite, dormindo; sinnimo de sonmbulo. Esta ltima palavra prefervel, visto que noctmbulo e noctambulismo no implicam, de modo algum, a idia de sono.

    Orculo (do lat. os, oris, a boca) resposta dos deuses, se-gundo as crenas pags, s questes que lhes eram dirigidas. A denominao justifica-se pelo fato de as respostas serem geral-mente transmitidas pela boca das Pitonisas (v. esta palavra). Por extenso, orculo se dizia ao mesmo tempo da resposta, da pessoa que a pronunciava, assim como os dos diversos meios empregados para conhecer o futuro. Todo fenmeno extraordin-rio, prprio para impressionar a imaginao, era julgado como a expresso da vontade dos deuses e se tornava orculo. Os sacer-dotes pagos, que no desprezavam nenhuma ocasio de explorar a credulidade, faziam-se seus intrpretes e consagravam a este fim, com solenidades, templos onde os fiis vinham depositar

  • suas ofertas na esperana ilusria de conhecer o futuro. A crena nos orculos teve evidentemente sua origem nas comunicaes espritas que o charlatanismo, a cupidez e o amor do domnio tinham cercado de prestgio, e que vemos hoje em toda a sua simplicidade.

    Paraso (do gr. paradeizos, jardim, vergel) morada dos bem-aventurados. Os antigos o colocavam na parte dos infernos chamada Campos Elseos (v. Inferno). Os povos modernos situam-no nas regies elevadas do espao. Esta palavra sin-nimo de Cu, tomado na mesma acepo, com a diferena de que a palavra Cu se liga a uma idia de beatitude infinita, ao passo que a palavra paraso mais circunscrita e lembra gozos um pouco mais materiais. Diz-se ainda subir ao Cu, descer ao Inferno. Estas opinies so fundadas na crena primitiva, fruto da ignorncia, de que o universo constitudo de esferas concn-tricas, cujo centro ocupado pela Terra; nessas esferas, cha-madas Cus, que se colocou a morada dos justos; da a expresso 5 e 6 cu para designar os diversos graus de beatitude. Mas, depois disto a cincia dirigiu seu olhar investigador at as pro-fundezas etreas. Ela nos mostra o espao universal sem limites, semeado de um nmero infinito de globos, entre os quais circula o nosso, ao qual nenhum lugar de distino foi designado, e sem que haja, para ele, alto ou baixo. O sbio que no v, em nenhu-ma parte, nem onde lhe haviam indicado, o Cu, mas to-somente o espao infinito e mundos inumerveis; que no encon-tra nas entranhas da Terra, em lugar do Inferno, seno as cama-das geolgicas nas quais sua formao est inscrita em caracteres irrefragveis, ps-se a duvidar do Cu e do Inferno, e da negao absoluta havia apenas um passo. A doutrina ensinada pelos Espritos superiores est de acordo com a cincia. Ela no tem mais nada que fira a razo e esteja em contradio com os conhecimentos exatos. Ela mostra-nos a morada dos bons, no em local fechado, ou nessas pretensas esferas de que a ignorn-cia tinha cercado nosso globo, mas por toda parte onde h bons Espritos, no espao para os que so errantes, nos mundos mais perfeitos para os que esto encarnados: a est o Paraso Terres-tre, ali esto os Campos Elseos, cuja idia primitiva vem do

  • conhecimento intuitivo que havia sido dado ao homem desse estado de coisas, e que sua ignorncia e seus preconceitos redu-ziram a mesquinhas propores. Ela nos mostra os maus encon-trando o castigo de seus erros em sua prpria imperfeio, em seus sofrimentos morais, na presena inevitvel de suas vtimas, castigo mais horrvel do que as torturas fsicas incompatveis com a doutrina da imaterialidade da alma; ela no-lo mostra expiando os seus erros pelas tribulaes de novas existncias corporais, que realizam em mundos imperfeitos, e no em um lugar de eternos suplcios de onde a esperana foi para sempre banida. A est o Inferno. Quantos homens nos tm dito: Se nos tivessem ensinado isto desde a nossa infncia, nunca teramos duvidado!

    A experincia nos mostra que os Espritos no so suficien-temente desmaterializados, esto ainda sob o imprio das idias e dos preconceitos da existncia corporal: aqueles que, em suas comunicaes, empregam uma linguagem de acordo com as idias cujo erro material est demonstrado provam com isso mesmo sua ignorncia e sua inferioridade.

    Penas eternas os Espritos superiores nos ensinam que s o bem eterno, porque a essncia de Deus, e que o mal ter um fim. Por conseqncia deste princpio, combatem a doutrina da eternidade das penas como contrria idia que Deus nos d de sua justia e de sua bondade. Mas a luz no se faz para os Espri-tos seno proporcionalmente sua elevao: nas classes inferio-res suas idias so ainda obscurecidas pela matria; o futuro para eles est coberto por um vu. No vem seno o presente. Esto na posio de um homem que sobe uma montanha: no fundo do vale a neblina e as voltas do caminho limitam-lhe a vista; -lhe preciso chegar ao cimo para descortinar todo o horizonte, avaliar o caminho que fez e o que lhe resta fazer. Os Espritos imperfei-tos, no divisando o termo de seus sofrimentos, julgam sofrer sempre, e esse pensamento mesmo um castigo para eles. Se, pois, certos Espritos nos falam de penas eternas, porque eles prprios crem nelas em conseqncia de sua inferioridade.

  • Penates (do lat. penitus, interior, que est dentro; formado de penus, lugar retirado, escondido) deuses domsticos dos anti-gos, assim chamados porque os colocavam no lugar mais retira-do da casa. Lares (do nome da ninfa Lara, porque os julgavam filhos dessa ninfa e de Mercrio) eram, como os penates, deuses ou gnios domsticos, com a diferena de que os penates eram, em sua origem, os manes dos antepassados, cujas imagens se guardavam em um lugar secreto, ao abrigo da profanao. Os lares, gnios benfazejos, protetores das famlias e das casas, eram considerados como hereditrios, pois que, uma vez ligados a uma famlia, continuavam a proteger-lhe os descendentes. No somente cada indivduo, cada famlia, cada casa tinha seus lares particulares, mas os havia tambm para as cidades, aldeias, ruas, edifcios pblicos, etc., que eram colocados sob a invocao de tais ou tais lares, como so, entre os catlicos, sob a de tal ou tal santo padroeiro.

    Os lares e os penates, cujo culto se pode dizer que era univer-sal, embora sob nomes diferentes, no eram seno os Espritos familiares cuja existncia hoje nos revelada; mas os antigos faziam deles deuses aos quais a superstio erigia altares, ao passo que, para ns, so simplesmente Espritos que animaram homens como ns, algumas vezes nossos parentes e nossos amigos, e que se ligam a ns por simpatia (v. Politesmo).

    Perisprito (de peri, em redor, e spiritus, esprito) invlu-cro semimaterial do Esprito depois da sua separao do corpo. O Esprito o tira do mundo em que se acha e o troca ao passar de um a outro; ele mais ou menos sutil ou grosseiro, segundo a natureza de cada globo. O perisprito pode tomar todas as formas vontade do Esprito; ordinariamente ele assume a imagem que este tinha em sua ltima existncia corporal.

    Embora de natureza etrea, a substncia do perisprito sus-ceptvel de certas modificaes que a tornam perceptvel nossa vista. o que se d nas aparies. Ela pode at, por sua unio com o fluido de certas pessoas, tornar-se temporariamente tang-vel, isto , oferecer ao toque a resistncia de um corpo slido, como se v nas aparies estereolgicas ou palpveis.

  • A natureza ntima do perisprito no ainda conhecida; mas poder-se-ia supor que a matria do corpo composta de uma parte slida e grosseira e de uma parte sutil e etrea; que s a primeira sofre a decomposio produzida pela morte, ao passo que a segunda persiste e segue o esprito. O esprito teria, assim, um duplo invlucro; a morte apenas o despojaria do mais gros-seiro; o segundo, que constitui o perisprito, conservaria o tipo e a forma da primeira, da qual ele como a sombra; mas sua natureza essencialmente vaporosa permite ao esprito modificar esta forma sua vontade, torn-la visvel ou invisvel, palpvel ou impalpvel.

    O perisprito , para o esprito, o que o perisperma para o germe do fruto. A amndoa, despojada do seu invlucro lenhoso, encerra o germe sob o invlucro delicado do perisperma.

    Ptia, Pitonisa sacerdotisa de Apolo Ptio, em Delfos, as-sim chamada por causa da serpente Pito que Apolo havia mata-do. A Ptia dava os orculos, mas como eles nem sempre eram inteligveis, os sacerdotes se encarregavam de interpret-los segundo as circunstncias (v. Sibila).

    Pneumatofonia (de pneuma e de phon, som ou voz) co-municao verbal e direta dos Espritos sem o auxlio dos rgos da voz. Som ou voz que eles fazem ouvir no vago do ar e que parece ressoar em nossos ouvidos (v. Psicofonia).

    Nota: No empregamos a palavra pneumatologia, porque ela j tem uma acepo cientfica determinada e, ainda, porque esta palavra seria imprpria quando no se trata de sons vagos, no articulados.9

    Politesmo (do gr. polus, vrios, e thos, Deus) religio que admite vrios deuses. Entre os povos antigos a palavra deus revela a idia de poder; para eles todo poder superior ao vulgar era um deus. Mesmo os homens que haviam feito grandes coisas se tornavam deuses para eles. Manifestando-se os Espritos por

    Pneumatografia (do gr. pneuma, ar, sopro, vento, esprito, e grafo, eu escrevo) escrita direta dos Espritos sem auxlio da mo do mdium (v. Psicografia).

  • efeitos que lhes pareciam sobrenaturais, eram a seus olhos outras tantas divindades, entre as quais impossvel deixar de reconhe-cer os Espritos de todos os graus, desde os Espritos batedores at os Espritos superiores. Nos deuses de forma humana, que se transportavam atravs do espao, mudavam de forma e se torna-vam visveis ou invisveis vontade, reconhecem-se todas as propriedades do perisprito. Pelas paixes que lhes emprestavam, reconhecemos os Espritos ainda no desmaterializados. Nos manes, lares e penates, reconhecemos nossos Espritos familia-res, nossos gnios tutelares. O conhecimento das manifestaes espritas , pois, a fonte do politesmo. Todavia, desde a mais alta antigidade os homens esclarecidos deram a esses pretensos deuses seu devido valor e neles reconheceram criaturas de um Deus supremo, soberano e senhor do mundo. Confirmando a doutrina da unidade de Deus e iluminando os homens com a sublime moral do Evangelho, assinalou o Cristianismo uma nova era na marcha progressiva da Humanidade. Entretanto, como os Espritos no cessavam de manifestar-se, em lugar de deuses, os homens fizeram deles gnios e fadas.

    Possesso segundo a idia ligada a essa palavra, o possesso aquele no qual um demnio veio alojar-se. O demnio o possui; isso significa que o demnio apoderou-se-lhe do corpo (v. Demnio). Tomando o demnio no em sua acepo vulgar, mas no sentido de Esprito mau, Esprito impuro, Esprito malfazejo, Esprito imperfeito, tratar-se-ia de saber se um Esprito dessa natureza ou outro qualquer pode eleger domiclio no corpo de um homem conjuntamente com o que nele est encarnado, ou a ele se substituindo. Poder-se-ia perguntar que destino toma, neste ltimo caso, a alma assim expulsa. A doutrina esprita diz que o Esprito unido ao corpo no pode dele ser separado definitiva-mente seno pela morte; que outro Esprito no pode colocar-se em seu lugar nem unir-se ao corpo simultaneamente com ele; mas ela diz tambm que um Esprito imperfeito pode ligar-se ao Esprito encarnado, assenhorear-se dele, dominar-lhe o pensa-mento, obrig-lo, se ele no tem fora para resistir-lhe, a fazer tal coisa, a agir em tal sentido; ele o constrange, por assim dizer, sob sua influncia. Assim, no h possesso no sentido absoluto

  • da palavra, h subjugao; no se trata de desalojar um Esprito mau, mas, para servirmo-nos de uma comparao material, de faz-lo largar a presa, o que sempre podemos fazer quando o desejamos seriamente; mas h pessoas que se comprazem numa dependncia que lhes lisonjeia os gostos e os desejos.

    A superstio vulgar atribui possesso do demnio certas doenas que no tm outra causa seno uma alterao dos r-gos. Esta crena era muito difundida entre os judeus. Para eles, curar essas doenas era expelir os demnios. Qualquer que seja a causa da doena, contanto que a cura se d, isto nada tira do poder daquele que a opera. Jesus e seus discpulos podiam, pois, dizer que expeliam os demnios, para se servirem da linguagem usual. Falando de outra maneira, no teriam sido compreendidos, nem, talvez, mesmo acreditados. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido atribudo s palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas quando se considera apenas a forma.

    Prece a prece uma invocao e, em certos casos, uma e-vocao, pela qual chamamos a ns tal ou tal Esprito. Quando dirigida a Deus, ele nos envia seus mensageiros, os Bons Espri-tos. A prece no pode revogar os decretos da Providncia; mas por ela os bons Espritos podem vir em nosso auxlio, quer para dar-nos a fora moral que nos falta, quer para sugerir-nos os pensamentos necessrios; da vem o alvio que experimentamos quando oramos com fervor. Da vem tambm o alvio que expe-rimentam os Espritos sofredores quando oramos por eles; eles mesmos pedem essas preces sob a forma que lhes familiar e que est mais em relao com as idias que conservaram de sua existncia corporal; mas a razo, de acordo nisto com os Espri-tos, nos diz que a prece dos lbios uma frmula v quando dela o corao no toma parte.

    Provas vicissitudes da vida corporal pelas quais os Espri-tos se purificam segundo a maneira pela qual as suportam. Segundo a doutrina esprita, o Esprito desprendido do corpo, reconhecendo sua imperfeio, escolhe ele prprio, por ato de seu livre arbtrio, o gnero de provas que julga mais prprio ao

  • seu adiantamento e que sofrer em sua nova existncia. Se ele escolhe uma prova acima de suas foras, sucumbe, e seu adian-tamento retarda.

    Psicografia (do gr. psych, borboleta, alma, e graph, eu es-crevo) transmisso do pensamento dos Espritos por meio da escrita, pela mo de um mdium. No mdium escrevente a mo o instrumento, mas sua alma, ou o esprito nele encarnado o intermedirio ou o intrprete do Esprito estranho que se comu-nica; na pneumatografia, o Esprito estranho mesmo quem escreve, sem intermedirio (v. Pneumatografia).

    Psicografia imediata ou direta quando o prprio mdium escreve pegando o lpis como para a escrita ordinria;

    Psicografia mediata ou indireta quando o lpis adaptado a um objeto qualquer que serve, de certo modo, de apndice mo, como uma cesta, uma prancheta, etc..

    Psicologia dissertao sobre a alma; cincia que trata da natureza da alma. Esta palavra seria para o mdium falante o que a psicografia para o mdium escrevente, isto , a transmisso do pensamento dos Espritos pela voz de um mdium. Todavia, como ela j tem uma acepo consagrada e bem definida, no convm dar-lhe outra (v. Psicofonia).

    Psicofonia (do gr. psych, alma e phon, som ou voz) transmisso do pensamento dos Espritos pela voz de um m-dium falante.

    Pureza absoluta estado dos Espritos da primeira ordem ou puros espritos: os que percorreram todos os graus da escala e no tm que sofrer mais encarnao.

    Purgatrio (do lat. purgatorium, efeito de purgare, purgar; raiz purus, puro, que se deriva do gr. pyr, pyrus, fogo, antigo emblema da purificao) lugar de expiao temporria, segun-do a Igreja Catlica, para as almas que tm ainda que purificar-se de algumas manchas. A Igreja no define de um modo preciso o lugar onde se acha o Purgatrio. Ela o coloca em toda parte, no espao, talvez ao nosso lado. Ela no se explica mais claramente sobre a natureza das penas ali sofridas; so sofrimentos mais

  • morais do que fsicos. H, entretanto, fogo, mas a alta teologia reconhece que esta palavra deve ser tomada em sentido figurado e como emblema de purificao. O ensino dos Espritos muito mais explcito a este respeito; eles rejeitam, e verdade, o dogma da eternidade das penas (v. Inferno, penas eternas), mas admi-tem uma expiao temporria, mais ou menos longa, que no outra coisa, salvo o nome, seno o purgatrio. Esta expiao se realiza pelos sofrimentos morais da alma no estado errante; os Espritos errantes esto por toda parte: no espao, ao nosso lado, como diz a Igreja. A Igreja admite no purgatrio certas penas fsicas; a doutrina esprita diz que o Esprito se purifica, se purga de suas impurezas em suas existncias corporais; os sofrimentos e as tribulaes da vida so as expiaes e as provas pelas quais eles se elevam, de onde resulta que aqui na Terra estamos em pleno purgatrio. O que a doutrina catlica deixa no vago, os Espritos precisam, fazem-nos tocar com o dedo e ver com os olhos. Os Espritos que sofrem podem, pois, dizer que esto no purgatrio, para servirem-se da nossa linguagem. Se, em razo de sua inferioridade moral, no lhes dado ver o termo de seus sofrimentos, eles diro que esto no Inferno (v. Inferno).

    A Igreja admite a eficcia das preces pelas almas do purgat-rio. Os Espritos dizem-nos que pela prece chamamos os bons Espritos, que do aos fracos a fora moral que lhes falta para suportar suas provas. Os Espritos sofredores podem pedir preces sem que haja nisto contradio com a doutrina esprita; ora, conforme o que conhecemos dos diferentes graus dos Espritos, compreendemos que eles podem pedi-las segundo a forma que lhes era familiar durante a vida (v. Prece).

    A Igreja no admite seno uma existncia corporal, depois da qual a sorte do homem irrevogavelmente fixada por toda a eternidade. Os Espritos nos dizem que uma s existncia, cuja durao, muitas vezes abreviada pelos acidentes, no passa de um ponto na eternidade, no basta alma para purificar-se completamente, e que Deus, em sua justia, no condena sem remisso aquele de quem no dependeu, muitas vezes, ser con-venientemente instrudo sobre o bem, para pratic-lo. Sua dou-trina deixa alma a faculdade de realizar, em uma srie de

  • existncias, o que ela no pode realizar em uma s: a est a diferena. Mas, se se escrutassem com cuidado todos os princ-pios dogmticos, e se se levasse sempre em conta a parte que deve ser tomada em sentido figurado, muitas contradies apa-rentes desapareceriam.

    Reencarnao volta dos Espritos vida corporal. A reen-carnao pode dar-se imediatamente depois da morte, ou aps um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual o Esprito permanece errante. Pode dar-se nesta Terra ou em outras esferas, mas sempre em um corpo humano, e nunca no de um animal. A reencarnao progressiva ou estacionria; nunca retrgrada. Em suas novas existncias corporais o Esprito pode decair em posio social, mas no como Esprito, isto , de senhor pode nascer servidor, de prncipe, artfice, de rico, mise-rvel, mas progredindo sempre em cincia e moralidade. Deste modo o criminoso pode tornar-se homem de bem, mas o homem de bem no pode tornar-se um criminoso.

    Os Espritos imperfeitos, que esto ainda sob a influncia da matria, nem sempre tm sobre a reencarnao idias perfeitas. A explicao que oferecem se ressente de sua ignorncia e dos preconceitos terrestres, pouco mais ou menos como se daria relativamente a um campons a quem se perguntasse se a Terra ou o Sol que gira. Eles tm apenas uma lembrana confusa de suas existncias anteriores e o futuro se lhes apresenta extrema-mente vago (sabe-se que a lembrana das existncias passadas se elucida medida que o Esprito se purifica). Alguns falam ainda das esferas concntricas que cercam a Terra e nas quais o Espri-to, elevando-se gradativamente, chega ao stimo cu, que , para eles, o apogeu da perfeio. Mas no meio da diversidade das expresses e da extravagncia das figuras, uma observao atenta deixa reconhecer facilmente um pensamento dominante, o das provas sucessivas que o Esprito deve sofrer e dos diversos graus que deve percorrer para chegar perfeio e suprema felicidade. Muitas vezes as coisas s nos parecem contraditrias porque no lhes sondamos o sentido ntimo.

    Religio

  • Vide Nota Especial no final deste Vocabulrio Esprita.

    Sat (do hebreu chaitn, adversrio, inimigo de Deus) o chefe dos demnios. Esta palavra sinnimo de diabo, com a diferena de que este ltimo vocbulo pertence mais do que o primeiro linguagem familiar. Em segundo lugar, de acordo com a idia ligada a esta palavra, Sat um ser nico: o gnio do mal, o rival de Deus. Diabo um termo mais genrico, que se aplica a todos os demnios. H somente um Sat (ou Satans), porm h vrios diabos. Segundo a doutrina esprita, Satans no um ser distinto, pois Deus no tem rival com quem possa medir-se, poder contra poder. Sat a personificao alegrica do mal e de todos os maus Espritos (v. Diabo, Demnio).

    Segunda-vista efeito da emancipao da alma que se mani-festa no estado de viglia. Faculdade de ver as coisas ausentes como se estas estivessem presentes. Aqueles que dela so dota-dos no vem pelos olhos, mas pela alma, que percebe a imagem dos objetos por toda parte onde ela se transporta, e como por uma espcie de miragem. Esta faculdade no permanente. Certas pessoas a possuem sem saber: ela parece-lhes um efeito natural, e produz o que denominamos vises.

    Sematologia (do gr. sema, semato, sinal, e logos, discurso) transmisso do pensamento dos Espritos por meio de sinais, tais como pancadas, batidas, movimentos de objetos, etc. (v. Tiptolo-gia).

    Serafim (v. Anjos).

    Sibilas (do gr. eolio sios, empregado por thos, Deus, e de louli, conselho; conselho divino) eram profetisas que forneci-am os orculos e que os antigos julgavam inspiradas pela Divin-dade. Levando em conta a parte de charlatanismo e o prestgio com que as cercavam aqueles que as exploravam, reconhece-se nas sibilas e nas pitonisas todas as faculdades dos sonmbulos, dos extticos e de certos mdiuns.

    Silvos, Slfides segundo a mitologia cltica e germnica da Idade Mdia, os silfos eram os gnios do ar, como os gnomos eram os da terra e as ondinas os das guas. Eram representados

  • sob forma humana, semivaporosa, com traos graciosos, asas transparentes; eram o smbolo da rapidez com a qual percorrem o espao. Atribua-se-lhes o poder de se tornarem visveis vonta-de. Seu carter era doce e afvel. No duvideis da multido de silfos ligeiros que tendes s vossas ordens. Continuamente ocupados em recolher vossos pensamentos, mal pronunciais uma palavra e eles dela se apoderam, indo repeti-la por toda parte em redor de vs. Sua ligeireza to grande que eles percorrem mil passos em um segundo So os silfos de Paracelso e de Gaba-lis. (A. Martin).

    Sonambulismo (do lat. somnus, sono, e ambulare, marchar, passear) estado de emancipao da alma mais completo do que no sonho (v. Sonho).

    O sonho um sonambulismo imperfeito. No sonambulismo a lucidez da alma, isto , a faculdade de ver, que um dos atribu-tos de sua natureza, mais desenvolvida, Ela v as coisas com mais preciso e nitidez, o corpo pode agir sob o impulso da vontade da alma.

    O esquecimento absoluto no momento do despertar um dos sinais caractersticos do verdadeiro sonambulismo, visto que a independncia da alma e do corpo mais completa do que no sonho.

    Sonambulismo natural o que espontneo e se produz sem provocao e sem influncia de nenhum agente exterior.

    Sonambulismo magntico ou artificial o que provocado pela ao que uma pessoa exerce sobre outra, por meio do fluido magntico que esta derrama sobre aquela.

    Sonho efeito da emancipao da alma durante o sono. Quando os sentidos ficam entorpecidos, os laos que unem o corpo e a alma se afrouxam. Esta, tornando-se mais livre, recu-pera, em parte, suas faculdades de Esprito e entra mais facil-mente em comunicao com os seres do mundo incorpreo. A recordao que ela conserva ao despertar, do que viu em outros lugares e em outros mundos, ou em suas existncias passadas, constitui o sonho propriamente dito. Sendo esta recordao

  • apenas parcial, quase sempre incompleta e entremeada com recordaes da viglia, resultam da, na seqncia dos fatos, solues de continuidade que lhes rompem a concatenao e produzem esses conjuntos estranhos que parecem sem sentido, pouco mais ou menos como seria a narrao qual se houvessem truncado, aqui e ali, fragmentos de linhas ou de frases.

    Soniloquia (do lat. somnus, sono, e loqui, falar) estado de emancipao da alma intermedirio ao sono e ao sonambulismo natural. Aqueles que falam sonhando so sonloquos.

    Sono natural suspenso momentnea da vida de relao. Entorpecimento dos sentidos durante o qual so interrompidas as relaes da alma com o mundo exterior por meio dos rgos.

    Sono magntico atuando sobre o sistema nervoso, o fluido magntico produz, em certas pessoas, um efeito que se comparou ao sono natural, mas que difere dele essencialmente em muitos pontos. A principal diferena consiste em que, neste estado, o pensamento se encontra inteiramente livre, o indivduo tem um conhecimento perfeito de si mesmo e o corpo pode agir como no estado normal, o que devido a que a causa fisiolgica do sono magntico no a mesma que a do sono natural. Contudo o sono natural um estado transitrio que precede sempre o sono mag-ntico, a passagem de um a outro um verdadeiro despertar da alma. Eis por que aqueles que so postos pela primeira vez em sonambulismo magntico respondem quase sempre no a esta pergunta: dormis? E, com efeito, visto que vem e pensam livremente, para eles isso no dormir no sentido vulgar da palavra.

    Superstio por absurda que seja, uma idia supersticiosa repousa quase sempre sobre um fato real, mas que a ignorncia desnaturou, exagerou ou interpretou falsamente. Seria um erro pensar que vulgarizar o conhecimento das manifestaes espri-tas propagar supersties. De duas coisas uma: ou esses fen-menos so uma quimera, ou so reais. No primeiro caso seria razovel combat-los. Mas, se existem, como o demonstra a experincia, nada os impedir de se produzirem. Como seria pueril opor-se a fatos positivos! O que se deve combater no so

  • os fatos, mas a falsa interpretao que a ignorncia pode dar-lhes. Sem dvida, nos sculos remotos, eles foram origem de uma multido de supersties, como alis, todos os fenmenos naturais, cuja causa era desconhecida. O progresso das cincias positivas de pouco em pouco destri parte dessas supersties. A cincia esprita, sendo cada vez mais divulgada, far desaparecer as restantes.

    Os adversrios do Espiritismo apiam-se no perigo que esses fenmenos representam para a razo. Todas as causas capazes de abalar as imaginaes fracas podem produzir a loucura. O que nos compete, antes de tudo, eliminar essa doena qual cha-mamos medo. Ora, o meio de conseguir isto no exagerar o perigo fazendo crer que todas essas manifestaes so obra do diabo. Aqueles que propagam esta crena com o intuito de desacredit-la erram completamente o alvo, pois que atribuir uma causa qualquer aos fenmenos espritas reconhecer-lhes a existncia. Em segundo lugar, querendo persuadir que o diabo o nico agente deles, afeta-se perigosamente o moral de certos indivduos. Como no se impedir que as manifestaes se produzam, mesmo entre aqueles que no se quiserem ocupar com elas, essas pessoas s vero por toda parte, em redor de si, diabos e demnios at nos fatos mais simples, que tomaro por manifestaes. E isso no deixar de lhes perturbar o crebro. Tornar crvel essa crena propagar o mal do medo, em lugar de cur-lo. Nisto est o verdadeiro perigo, nisto a superstio.

    Taumaturgo (do gr. thauma, thaumatos, maravilha, e ergon, obra) fazedor de milagres: So Gregrio Taumaturgo. Diz-se, s vezes, por ironia, daqueles que, com ou sem razo, se gabam de ter o poder de produzir fenmenos fora das leis da natureza. neste sentido que certas pessoas qualificam Swedenborg de taumaturgo.

    Telegrafia humana comunicao distncia entre duas pessoas vivas, que se evocam reciprocamente. Esta evocao provoca a emancipao da alma, ou do Esprito encarnado, que vem se manifestar e pode comunicar seu pensamento pela escrita ou por outro qualquer meio. Os Espritos dizem-nos que a tele-

  • grafia humana ser um dia um meio usual de comunicao, quando os homens forem mais moralizados, menos egostas e menos presos s coisas materiais. At que esse estado seja alcan-ado, a telegrafia humana ser um privilgio de almas de escol.

    Tendncias inatas tendncias, idias ou conhecimentos no adquiridos que, parece, trazemos ao nascer. H muito tempo discutem-se as tendncias inatas, cuja realidade combatida por certos filsofos que pretendem sejam todas adquiridas. Se assim fosse, como explicar certas disposies naturais que se revelam muitas vezes desde a mais tenra idade e independentemente de qualquer educao? Os fenmenos espritas lanam uma grande luz sobre esta questo. A experincia no deixa dvida alguma, hoje em dia, sobre estas espcies de tendncias que encontram sua explicao na sucesso das existncias. Os conhecimentos adquiridos pelo Esprito nas existncias anteriores se refletem nas existncias posteriores atravs do que denominamos tendn-cias inatas.

    Todo universal, ou grande todo segundo a opinio de cer-tos filsofos, h uma alma universal, da qual cada um de ns possui uma parcela. Com a nossa morte, todas essas almas particulares voltam fonte geral, sem conservar sua individuali-dade, como as gotas da chuva se confundem nas guas do ocea-no. Esta fonte comum , para eles, o grande todo, o todo univer-sal. Esta doutrina to desalentadora quanto o materialismo, uma vez que, sem a individualidade depois da morte, , sem dvida, como se no existssemos. O Espiritismo a prova patente do contrrio. Mas a idia do grande todo no implica, necessariamente, a da fuso dos seres em um s. Um soldado que volta ao seu regimento entra no todo coletivo, mas no deixa, por isso, de conservar sua individualidade. O mesmo se d com as almas que entram no mundo dos Espritos, que para elas , igualmente, um todo coletivo: o todo universal. neste sentido que deve ser entendida esta expresso na linguagem de certos Espritos.

    Transmigrao (v. Reencarnao, Metempsicose).

  • Vidente aquele ou aquela que dotado de segunda-vista. Algumas pessoas designam sob este nome os sonmbulos mag-nticos para melhor lhes caracterizar a lucidez. Esta palavra, nesta ltima acepo, pouco mais vale do que o adjetivo invis-vel aplicado aos Espritos. Tem o inconveniente de no ser especial ao estado sonamblico. Quando se tem um termo para exprimir uma idia, suprfluo criar outro. preciso, sobretudo, evitar desviar as palavras de sua acepo consagrada.

    * * *

    Nota especial (do Tradutor desta edio em portugus): Religio Os estudiosos procuram em vo, na obra de Kardec, uma a-

    cepo para a Religio dos Espritos. Tambm neste Pequeno Vocabulrio Kardec foge a este vocbulo, de conotao cedia. Escrevendo na Revista Esprita de dezembro de 1868 (lembre-mo-nos de que a presente obra foi redigida em 1858, portanto dez anos antes), Kardec assim se expressa:

    O Espiritismo , ento, uma religio? Perfeitamente! Sem dvida; no sentido filosfico uma re-

    ligio, e ns nos ufanamos disso, porque ele a doutrina que fundamenta os laos da fraternidade e da comunho, mas sobre as mais slidas bases: As leis da prpria Natureza.

    Por que, ento, declaramos que o Espiritismo no uma re-ligio?

    Porque s temos uma idia para exprimir duas idias dife-rentes e porque, na opinio geral, a palavra inseparvel de culto; revela exclusivamente uma idia de prticas exteriores. E o Espiritismo no isso. Se o Espiritismo se dissesse uma religio, o pblico s veria nele uma nova edio, uma variante, por assim dizer, dos princpios absolutos em matria de f, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimnias e de privilgios. O pblico no o separaria das idias de misticis-mo e dos abusos, contra os quais sua opinio tem-se manifestado tantas vezes.

  • No possuindo nenhum dos caracteres de uma religio na a-cepo usual da palavra, o Espiritismo no poderia e nem deve-ria ornar-se com o ttulo sobre o valor do qual, inevitavelmente, se estabeleceria a incompreenso. Eis por que ele se diz sim-plesmente: doutrina filosfica e moral.

    Comentando estas palavras de Allan Kardec, pronunciadas na Sociedade Esprita de Paris, a 1 de novembro de 1868, o profes-sor J. Herculano Pires, reconhecido em todo o Brasil como um dos grandes exegetas da obra de Allan Kardec, com preciso assim se expressa:

    A religio espiritual se define pela superao do social. Pestalozzi, mestre de Kardec, considerava a existncia de trs tipos de religio: a animal, ou primitiva; a social, ou po-sitiva; e a espiritual, ou moral. A esta ltima preferia chamar simplesmente moralidade, a fim de no confundi-la com as duas formas anteriores.

    Kardec recebeu dos Espritos a confirmao dessa teoria pestalozziana. Todo O Livro dos Espritos a confirma, ensi-nando uma religio pura, desprovida de exigncias para o culto de investiduras sacerdotais e, conseqentemente, de organizao social em forma de Igreja. As comunicaes particulares que Kardec recebia, e que figuram posterior-mente em Obras Pstumas, acentuam a importncia espiri-tual da nova doutrina, como restabelecimento do Cristianis-mo em esprito e verdade.

    O conceito de religio espiritual, atualmente, j no mais requer a diferenciao que Pestalozzi adotou. No tempo de Kardec era ainda necessria, principalmente numa obra de divulgao, como O Livro dos Espritos, evitar a palavra religio. Hoje a definio filosfica de religio superou as confuses anteriormente reinantes. O trabalho de Bergson sobre as fontes da moral e da religio colocou o problema em termos claros. A religio esttica de Bergson a reli-gio social de pestalozzi, como a religio dinmica a religio espiritual, ou moralidade.

  • Citando textualmente as palavras de Kardec ante a Sociedade Esprita de Paris, o professor J. Herculano Pires conclui:

    Essas palavras de Kardec, ao mesmo tempo afirmam a natureza religiosa do Espiritismo, j implcita na prpria Codificao, e negam a possibilidade de sua transformao em seita formalista. A religio-esprita reafirma, assim, pelas declaraes do prprio Codificador, o seu sentido e sua na-tureza espirituais, j evidentes no contexto doutrinrio.

    Por sua vez argido quanto ao Espiritismo como Cincia-Filosofia-Religio, o Esprito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, assim se exprime em O Consolador:

    Religio o sentimento Divino, cujas exteriorizaes so sempre o Amor, nas expresses mais sublimes. Enquanto a Cincia e a Filosofia operam o trabalho da experimentao e do raciocnio, a Religio edifica e ilumina os sentimentos.

    As primeiras se irmanam na Sabedoria, a segunda personi-fica o Amor, as duas asas divinas com que a alma humana penetrar, um dia, nos prticos sagrados da Espiritualidade.

  • Quadro sintico da nomenclatura esprita especial

    Ver a explicao e a definio de cada uma destas palavras no VOCABULRIO ESPRITA

    DOUTRINA Espiritismo; Esprita; Espiritista; Espiritualismo;

    Espiritualista.

    ESPRITOS

    Natureza ntima dos Espritos Esprito elementar; Perisprito.

    Estado dos Espritos Encarnao; Erraticidade; Pureza absoluta.

    Escala esprita ou diferentes ordens de Espritos

    1 ordem 1 classe Espritos puros 2 ordem Bons Espritos

    2 classe Espritos superiores 3 classe Espritos sensatos 4 classe Espritos sbios 5 classe Espritos benfazejos

    3 ordem 10 6 classe Espritos neutros 7 classe Espritos pseudo-sbios 8 classe Espritos levianos 9 classe Espritos impuros

    Espritos imperfeitos

    EMANCIPAO DA ALMA OU DO ESPRITO ENCARNADO Sonho; Soniloquia; Sonambulismo natural;

    Sonambulismo artificial ou magntico; xtase; Segunda-vista.

  • MANIFESTAES ESPRITAS Aparentes: Vaporosas ou etreas; Tangveis ou

    estereolgicas. Ocultas; Patentes; Fsicas; Inteligentes. Espontneas; Provocadas.

    COMUNICAES Frvolas; Grosseiras; Srias; Instrutivas.

    MODOS DE COMUNICAO Sematologia. Tiptologia: Alfabtica; ntima; Por movimento. Psicografia: Direta; Indireta. Pneumatofonia; Pneumatografia; Psicofonia; Telegrafia

    humana.

    MDIUNS OU AGENTES DAS MANIFESTAES Mdiuns: Naturais; Facultativos. Mdiuns de influncias fsicas: Motores; Tiptolgicos;

    De aparies. Mdiuns de influncias morais: Escreventes ou

    psicgrafos; Pneumatgrafos; Desenhadores; Msicos; Falantes; Comunicadores; Inspirados; De pressentimentos; Videntes; Sensitivos ou impressionveis.

    * * *

    Nota especial (do Tradutor desta edio em portugus)

    Escala Esprita Na Escala Esprita publicada na verso definitiva de O Livro

    dos Espritos foi includa a classe dos Espritos batedores e perturbadores (6 classe), no incio da 3 ordem. Com isto, a Escala Esprita passou a abranger 10 classes ao invs das nove descritas acima, no item Escala esprita ou diferentes ordens de Espritos. (Vide O Livro dos Espritos, 2 Parte, Captulo I - Dos Espritos, itens 102 a 106.)

  • Desta forma, conforme a classificao descrita na referida o-bra, a Escala Esprita ficou assim constituda:

    1 ordem 1 classe Espritos puros 2 ordem Bons Espritos

    2 classe Espritos superiores 3 classe Espritos sensatos 4 classe Espritos sbios 5 classe Espritos benfazejos

    3 ordem Espritos imperfei-tos

    6 classe Espritos batedores e perturbado-res 7 classe Espritos neutros 8 classe Espritos pseudo-sbios 9 classe Espritos levianos 10 classe Espritos impuros

  • I

    Escala esprita

    De todos os princpios fundamentais da doutrina esprita, um dos mais importantes , sem contradio, o que estabelece as diferentes ordens de Espritos. No princpio das manifestaes imaginou-se que um ente, pelo fato mesmo de ser um Esprito, devia possuir a cincia infusa 11

    A escala esprita compreende trs ordens principais, indicadas pelos Espritos e perfeitamente caracterizadas. Como essas

    e a suprema sabedoria. Em vista disso muitas pessoas se julgaram de posse de um meio infalvel de adivinhao. E este erro deu lugar a muitas desiluses. Em pouco tempo a experincia fez conhecer que o mundo invisvel est longe de comportar somente Espritos superiores. Eles prprios nos fazem saber que no so iguais nem em saber, nem em moralidade, e que sua elevao depende do grau de perfeio a que chegaram. Traaram os caracteres distintivos desses dife-rentes graus que constituem aquilo a que denominamos Escala Esprita. Desde ento ficaram explicadas a diversidade e as contradies da sua linguagem e compreendeu-se que entre os Espritos, como entre os homens, para tomar-se uma informao segura no basta dirigir-se ao primeiro que se encontra.

    Essa escala nos d, assim, a chave de uma multido de fen-menos e de anomalias aparentes, para as quais, sem isto, seria difcil, seno impossvel, encontrar explicao. Ela nos interessa, alm disso, pessoalmente, uma vez que pertencemos, por nossa alma, ao mundo espiritual, ao qual voltamos ao deixar a vida corprea, e nos mostra, assim, o caminho a seguir para chegar-mos perfeio e ao bem supremo.

    Do ponto de vista da cincia prtica, ela nos oferece a manei-ra de julgar os Espritos que se apresentam nas manifestaes e ainda de apreciar o grau de confiana que sua linguagem deve inspirar. Esse estudo exige uma observao atenta e constante. preciso tempo e experincia para aprender a conhecer os ho-mens: no se exige menos para aprender a conhecer os Espritos.

  • ordens apresentam, cada uma, diferentes gradaes, ns a subdi-vidimos em vrias classes qualificadas pelo carter dominante dos Espritos que delas fazem parte. Esta classificao, de resto, nada tem de absoluto. Cada categoria s oferece um carter delimitado em seu conjunto, mas de um grau a outro o matiz se atenua, como nos reinos da natureza as cores do arco-ris, ou, ainda, os diferentes perodos da vida. De vinte a quarenta anos o homem sofre uma mudana notvel; aos vinte anos um rapaz; aos quarenta um homem feito; mas entre essas duas fases da vida seria impossvel estabelecer uma linha precisa de demarca-o e dizer onde acaba uma e onde comea a outra. O mesmo se d entre os graus da escala esprita. Faremos observar, alm disso, que os espritos no pertencem sempre exclusivamente a tal ou tal classe. Seu progresso realiza-se gradualmente e, muitas vezes, mais em um sentido do que em outro. Assim, eles podem reunir os caracteres de vrias categorias, o que fcil de reco-nhecer pela sua linguagem e pelos seus atos.

    Comeamos a escala pelas ord