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3 4* Pierre Schaeffer Tratado dos Objetos Musicais pág. 84 Trad. Ivo Martinazzo Edunb 1993
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5 6
Exposição Adjetos - Vestígios Sonoros Galeria Artespaço Rj 1987
Uma gramática do drama, uma comédia da matemática, esses Adjetos feitos de música, língua abstrata da poesia.
Longo Circuito 1988 tinta acrílica lixa plástico ferro massa sobre tela 30 x 30 cm
Miriam Ash
7 8
AD / AD
Ricardo Basbaum
Finalmente está concluída, para lançamento público, a série Adjetos, de Alexandre
Dacosta, em versão musical: desenvolvida ao longo de duas décadas, é com
alegria que ouvidos e olhos podem finalmente se confrontar com mais
um enigma provocatório deste inquieto artista: olhos e ouvidos
convocados para funcionar em conjunto - não necessariamente
ao mesmo tempo, em simultâneo, mas em relação
de independência e complementaridade, em
busca um do outro. Para nós, olhantes-
ouvintes, a tarefa se impõe com as
bem-vindas e devidas complicações:
é preciso mais atenção e maior
cuidado aproximativo; é necessário
recuar de certezas e hábitos
cristalizados; deve-se ouvir e
olhar sob o impacto de ritmos
sucessivos, trazer as experiências
em conversão conjunta. Ou
olhar e ouvir? Melhor ouver? De
DP (“o olhouvido ouvê”) para AD:
não há qualquer acaso (sim: lance
de dados) se no horizonte de uma
prática artística feita na convergência
de atuações múltiplas (artes visuais, teatro,
cinema, televisão, literatura, música) emerge o
refrão (1956) caro à vanguarda concreta. O mundo não
é o mesmo, mas a inquietação de outros tempos permanece,
transmutada em práticas de trânsito pop e inscrição incerta, para além
das classificações-padrão.
Com a série Adjetos, Alexandre Dacosta atua não apenas nas dimensões visual
e sonora: é também a nível de linguagem a operação processada. A começar pelo
próprio neologismo que funda a série das ações aqui apresentadas:
ad-jetos são, de saída, objetos inventados por A-lexandre D-acosta – é preciso dizer
mais? Confronto de determinado artista com determinadas coisas, em embate e
mistura. Trata-se de artista que emerge no cenário brasileiro no despertar dos
anos 1980 e que a partir de então deixa demarcada sua ação em passos e gestos de
singularidade ímpar. É outra a direção proposta, quando confrontada com a vertente
majoritária do jovem artista brasileiro do período - há aqui um outro tempo,
diverso, desviante, particular, re-dimensionado.
Qual a dimensão de finalmente se disponibilizar publicamente, somente em 2010, um
trabalho cultivado a partir de 1987? A pergunta deve ser formulada em tempo onde a
eficiência máxima e o agenciamento profissionalizante são quase que o único valor -
traços de um açodamento máximo e sem precedentes do mercado – especificamente,
de uma determinada mercantilização automatizante, geradora de hábitos
sensoriais pequenos, rasteiros. Adjetos são portadores de gestos à jato, de
supersônica intensidade em paralelo: “adversos adventos” [proêmio] ou
“fração diagonal” [nasce um anjo oblíquo] das coisas em seu ritmos
hegemônicos.
Nestes adjetos sonoros (ad-sons?), palavras são reconcatenadas
a partir de pressões rítmicas e necessidades enunciativas –
colocadas em som. Encontramos aqui certa “fúfia mulher” [musa
vertical] em ambiência de “pormiúdo nuvear” [solitário suspiro
fiofólico]; Ogã e Anaxímenes de Mileto em terreiro de ritos e
pulsões, potencialmente tomado por “ondulações esfigmáticas”
[nekromanteía, dielectronhidromômetro EH 2803]; torcer
o “dorso ossoso” [ossoso] é ginga aqui contida; e se “o placar foi oxo”
[solitário suspiro fiofólico], isto significa dinâmica e movimento, pois
“idéia fixa asfixia” [estática], por certo. Trata-se de vocabulário que atende
à musica, à dicção, aos jogos de voz – esta, presente em diferentes inflexões,
demarcando a presença do ator – mas que também reforça um importante traço
característico dos adjetos: certo descolamento irônico dos “inutensílios”.
Há investimento nesse espaço precioso – fino como uma lâmina, porém generoso -
que evita desnecessárias aderências e compreende os funcionamentos como de fato
a manutenção do cultivo de um lugar resistente, que o artista localiza como “fração
diagonal”: aí reside a perversidade (também erótica, corpórea) dos adjetos (“abstruso
abjeto”) [proêmio] em sua particular economia. Pois esse é um traço importante:
estes abjetos perversos objetos exibem principalmente uma maquinação particular,
9 10Exposição Adjetos - Vestígios Sonoros Galeria Artespaço Rj 1987
sempre e a cada vez; cada qual possui funcionamento próprio, seu roteiro de etapas
e procedimentos. A música seria uma delas, assim como eventalmente o filme,
romance ou peça teatral (a serem evocados também pelos adjetos, porque não?).
Escreve Alexandre Dacosta, que os “vestígios sonoros” aqui apresentados “procuram
cartografar a intimidade anímica da matéria”: assim, certo non-sense se
instaura, um pacto de não-sentido que é também total intensidade, contato
de máxima proximidade entre artista e objetos: pouco a pouco
emerge e se impõe o traço poético singular de um descolamento
do(s) sentido(s), estratégia política de afastamento da
captura banal, do lugar standard dos clichês assimiláveis,
apontando rumo ao local fugidio (e é em um átimo que
este se estabelece, para depois se dissolver) onde
o efeito se perfaz: pois o autor não é um tipo de
narciso multitalentoso qualquer, que se contentaria
em ocupar o espaço de um assento laudatório, um
rótulo classificatório de louvor ou virtuosidade. Aqui,
se brinca com a construção do poema e a intervenção
que se efetiva é precisa e contundente: o fazer em
deslocamento pelos múltiplos meios é saber e também
compreensão do campo de inscrição, de intervenção nas
malhas da cultura. AD/AD como anagrama de DADA.
Mas qual a sonoridade disparada pelo conjunto de canções, adsons
para adjetos? São diversos os caminhos, do jingle ao choro e frevo, do
côco ao blues, samba e salsa. Não há limites – e de fato, não importa -
para a experimentação de gêneros: cabe aqui de tudo, em seus formatos
e misturas. Pois as formas musicais são quase que pretextos para a
intervenção pretendida. Regra seria a presença constante de um “humor
subliminar”, seja na letra da canção, na sequência harmônica inesperada ou
na vocalização do texto, com suas falas assinaladas.
Por remeter ao universo de objetos perversos, cada canção flutua
livremente nesse endereçamento de si para si (objeto, som) - e aí
é preciso reescrever as palavras de Dacosta: “a música com sua
musculatura etérea e o objeto com sua sólida atmosfera se
intercombinam nesse espaço entre, nesse lapso chamado
pensamento”: fazer saltar o riso no intervalo, no lapso,
evitando cristalizar-se e ser mais um sólido
qualquer nas prateleiras do supermercado da cultura - portanto, produzir faísca, fricção.
Se as modalidades de ação da música popular são tomadas como modelo, é porque aí
se configura uma forma de ação direta, estratégica, onde várias frentes se articulam,
pólo de convergência, centrífugo - mas capaz de reunir em torno dinâmica poética de
alta difusão potencial. Em tais ondas, se espalha o refrão “M.I.I. - Movimento Íntimo
Infinito” [movimento íntimo infinito], plataforma AD/AD propagadora dos processos de
uma microação perceptiva, artista em contra-imagem. Ou seja:
sempre em fuga, em desvio, configurando uma política do
“lapso chamado pensamento”. Alexandre Dacosta é
personagem fundamental no redesenho da imagem do
artista na arte brasileira pós-80, em sua demarcação
consciente de uma performatividade dessa imagem
(talento pós-mídia): provoca, pois, uma recepção
pública mais complexa e desestabilizadora, ao
promover ações em campos, gêneros e áreas
contíguas – para ele, não há sentido advogar
por qualquer adjetolândia artificial e falsamente
consagradora, já que também atuar como artista
requererá, sempre, a encenação em camadas de um
jogo intenso, próximo do fogo.
11 12
adversos adventos adjunto adscritoadveio advérbio adjacente adjetivo
obsoletos objetos obsesso obstritoóbvio obscuro obstinado objetivo
adjetos abstratos abstruso abjetoadjetos ad
ADJETOSletra e música Alexandre Dacosta[proêmio]
21 22
valia vacante varejo vaporosidade
velame veludo vedado veleidade
visado viscoso viloso vitalidade
volume volúvel volátil vocabulário
herméticamente inoxidável orifício quase-signo
todo ofício que se preza, reza dedicação
produto externo bruto autoclave polarização
compacto pacto tacto contacto
compacto pacto tácito tático didático