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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR ARQUITETURA E URBANISMO Disciplina: Técnicas Retrospectivas Docentes: Wanda T. Bononi ACADÊMICOS: SANDY LIA PAVAN - RA 45.104 KARINA SOAREA PIAI - RA 45.113 JULIANA LOPES - RA 45.308 DANIELE HILGENBERG - RA 46.257 CARINA CAROSO GRECO – RA 45.105 CAMILA NAYARA MONTANHER – RA 45.130 ALLINE ASSIS FERREIRE – RA 42.647 Trabalho de Restauro: Adobe

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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR

ARQUITETURA E URBANISMO

Disciplina: Técnicas Retrospectivas

Docentes: Wanda T. Bononi

ACADÊMICOS:

SANDY LIA PAVAN - RA 45.104

KARINA SOAREA PIAI - RA 45.113

JULIANA LOPES - RA 45.308

DANIELE HILGENBERG - RA 46.257

CARINA CAROSO GRECO – RA 45.105

CAMILA NAYARA MONTANHER – RA 45.130

ALLINE ASSIS FERREIRE – RA 42.647

Trabalho de Restauro:

Adobe

UMUARAMA

2012

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1. O que é o adobe?

O adobe, ou tijolo seco ao sol, é um dos mais antigos e vulgares materiais de

construção conhecidos pelo homem. Tradicionalmente, os tijolos de adobe nunca eram

cozidos no forno. Os tijolos de adobe não cozidos consistem em areia, argila, água e,

frequentemente, palha ou erva misturados manualmente, enformados em moldes de madeira,

e secos ao sol. Hoje em dia, alguns tijolos parecidos com adobe, que estão comercialmente

disponíveis, são cozidos.

Como os tijolos de adobe não vão ao forno, ao contrário dos tijolos cerâmicos, eles

não endurecem permanentemente, mas ficam instáveis – eles retraem e distorcem

constantemente com as alterações do respectivo teor em água. A sua resistência também

flutua com o teor em água: quanto maior este teor em água, mais baixa a resistência.

O adobe não se liga permanentemente com os metais, com a madeira ou com a pedra

porque exibe muito maiores movimentos do que estes outros materiais, separando-se,

fissurando ou rodando nas interfaces.

2. Técnicas de construção em adobe

Tijolo: O tijolo de adobe é moldado a partir de areia e argila misturadas com água.

Vulgarmente acrescenta-se palha ou erva como agente de ligação. A lama preparada é

colocada em moldes de madeira, comprimida e nivelada manualmente, após isso são

colocados em uma superfície plana e são cobertos por palha para secarem, quando secos, vão

para a cura ao ar livre, onde ficam em pé num período de 4 semanas ou mais.

Argamassa: Historicamente, a maioria das paredes em adobe são compostas por

tijolos de adobe assentados com uma argamassa de lama. Esta argamassa apresenta as

mesmas propriedades que os tijolos sendo assim a melhor forma de ligação de tijolos de

adobe.

Fundações das edificações: As fundações das primitivas edificações em adobe

variavam conforme as práticas locais de construção e conforme a disponibilidade em

materiais. Muitas fundações tinham grandes dimensões e eram solidamente construídas, mas

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outras são quase inexistentes. Mais frequentemente, as fundações das edificações em adobe

eram construídas com tijolos, pedra recolhida no terreno, ou paredes de pano duplo com o

interior preenchido com detritos de pedra, fragmentos de tijolo cerâmico ou conchas.

Parede: devido a fraca resistência estrutural, as paredes em adobe são espessas e

raramente ultrapassam a altura de dois pavimentos, em alguns locais era comum colocarem

peças compridas de madeira entre as fiadas superiores dos tijolos de adobe. Esta madeira

proporcionava uma grande superfície horizontal para apoio da cobertura, distribuindo assim o

peso desta por toda a parede.

Coberturas: troncos de madeira maiores, espaçados a cada 70cm ou menos, que

suportavam troncos menores de aproximadamente 5cm de diâmetro, os quais, por sua vez,

suportavam lascas em madeira ou em camadas de canas, e eram recobertas com uma camada

de 15 cm de terra de adobe batida. As coberturas eram ligeiramente inclinadas e possuíam

drenos feitos com troncos ocos.

Pavimentos: Historicamente, os materiais de pavimento eram colocados diretamente

sobre o solo, com pouca ou nenhuma preparação subjacente. Os materiais de pavimento nos

edifícios em adobe variavam desde a terra batida até ao tijolo de adobe, ao tijolo cerâmico, ao

ladrilho e aos convencionais pavimentos em madeira.

3. Revestimentos superficiais tradicionais

“Mud plaster”: o “mud plaster” é composto por argila, areia, água e palha ou erva, e

por isso exibe características equiparáveis às do adobe original, facilitando sua ligação.

Apesar de a aplicação do “mud plaster” exigir pouca perícia, é um processo trabalhoso e

demorado. Uma vez aplicado, ele tem que ser regularizado. Esta operação era feita

manualmente; às vezes usavam-se peles de veado, peles de carneiro e pequenas pedras

arredondadas para se regularizar o reboco e para criar uma superfície “polida”.

“White wash”: O “white wash” consiste em pedra de gesso pulverizada, água e

argila, ele atua como um selante e pode ser pintado sobre a parede de adobe. Possui uma

fraca durabilidade.

Reboco de cal: O reboco de cal, foi largamente usado durante o século XIX como

revestimento exterior e interior, é muito mais resistente que o “mud plaster”. Ele é, no

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entanto, menos flexível. Consiste em cal, areia e água, sendo aplicado em camadas espessas, à

colher ou à pincel. Para fazer o reboco de cal aderir ao adobe, as paredes eram frequentemente

arranhadas na diagonal com a picadeira, produzindo-se riscos com cerca de 3 cm de

profundidade. Estes riscos eram preenchidos com uma mistura de argamassa de cal e

pequenas lascas de pedra ou de telhas partidas. A parede era então espessamente recoberta

com argamassa de cal.

“Stucco” de cimento: O “stucco” de cimento consiste em cimento, areia e água, e é

aplicado à colher, em 1 a 3 camadas, sobre uma rede de arame pregada à superfície do adobe.

Este material era muito popular porque exigia pouca manutenção quando era aplicado sobre

tijolos de adobe estabilizados ou cozidos, e porque podia ser pintado facilmente. No entanto,

deve-se assinalar que o “stucco” de cimento não cria nenhuma ligação com o adobe; ele tem

que confiar na rede de arame e nos pregos para manter-se no lugar. Mesmo quando eram

usados pregos muito compridos, a umidade penetrada no adobe podia provocar a corrosão da

rede e dos pregos, perdendo-se, assim, o contato com o adobe.

Outros revestimentos superficiais tradicionais: Incluem-se aqui materiais tais como

as tintas (à base de óleo, de resina ou de emulsão), revestimentos com extratos de plantas e

revestimentos com sangue fresco de animais.

4. Origens da degradação

Os sinais as origens e algumas soluções comuns da degradação em construções com

tijolos de adobe.

Danos estruturais: No adobe existem diversos problemas estruturais como mau

projeto, construção de fraca qualidade, fundações insuficientes, materiais fracos ou

inapropriados, e também por efeitos naturais como o vento, a água, a neve ou os sismos.

As respectivas soluções envolvem reparações das fundações, o realinhamento das

paredes deformadas ou “barrigudas”, a construção de contrafortes nas paredes, e a reparação

de estruturas e coberturas gravemente degradadas, mas tudo isso com a supervisão de

Engenheiros capacitados.

No adobe, as fendas são bem visíveis, o que facilita a identificação dos problemas

estruturais nos edifícios, como fendas nas paredes, nas fundações e nos telhados o que é

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normal o aparecimento por que com a retração e com o passar do tempo o adobe continua a

secar e assim se deformar.

Foto: http://www.worldisround.com/articles/322641/photo44.html

Problemas relacionados com a água: A degradação do adobe se da pela umidade

excessiva, e a sobrevivência de um edifício em adobe depende da forma como, ele descarta a

água.

A ação da água da chuva e a secagem posterior das coberturas, parapeitos e paredes

podem provocar a formação de perfurações, fendas, fissuras profundas e superfícies

desgastadas, que se deixadas sem reparação os danos podem destruir totalmente a construção.

Já a água empoçada no terreno por falta de uma drenagem adequada, de uma rega

excessiva de plantações ou de alterações no nível do terreno, a água pode subir pelas paredes

e provocar a erosão, o abaulamento e a escavação do adobe, uma das soluções para se evitar

essa degradação é manter uma cobertura bem vedada com drenagem adequada da água chuva.

Num esforço para deterem os efeitos destrutivos da queda da chuva, os construtores do

século XIX capeavam frequentemente os parapeitos com tijolos cerâmicos, estes tijolos eram

mais resistentes e mais adequados à exposição da água da chuva.

Com um alto teor de umidade no adobe, o mesmo chega a um ponto em que acaba

ficando macio como uma pasta que se torna lama e flui como um líquido, este fenômeno varia

em função do conteúdo de areia, argila e silte no adobe, através deste fenômeno podem

aparecer também danos muito sérios como a deformação conhecida como barriga, que é uma

saliência nas paredes.

Como a barriga fica invisível por baixo do “stucco”, os danos podem prosseguir sem

serem detectados durante algum tempo, portanto, na reparação ou na reconstrução de partes

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das paredes devem ser usados as técnicas e os materiais tradicionais e adequados da

construção em adobe.

O “tunelamento” na base desta parede pode ter sido provocado pelos sais depositados

pela água excessiva no terreno ou pelo salpicar da chuva, que também causam deformações

agressivas nas paredes em adobe.

Fotografia: Arquivos do NPS. CONSERVAÇÃO DE EDIFÍCIOS HISTÓRICOS EM

ADOBE 9 - 16

Os arbustos, as árvores e outra vegetação junto das fundações podem provocar

danos físicos.

Para não ocorrer degradações futuras nas paredes, devem ser retirado todo tipo

de vegetações, raízes pelo fato que pode haver crescimento e a raízes pode transferir

umidade, assim deste modo conclui uma processo bem sucedido!

O nível do terreno imediatamente adjacente às paredes pode ser causador de uma

drenagem insuficiente.

No entorno do edifício não poderá haver nivelamento devido ao empoçamento que

possa vim ocorrer, deste modo deve manter uma pequena inclinação para fora do mesmo.

Pode ser considerada a instalação de drenos na base das paredes.

Ajudando para que não haja futuros desmoronamento em construções de adobe, criam-

se valas de drenagem ao redor do edifício, possuindo um tamanho de 60 a 75 cm. Para local

de solo fracos são criados taludes, assim para melhor eficiência, o fundo da vala é revestido

com barreira em vapor polietileno, para não acumular água. Aplica-se também no fundo da

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vala, tubo em cerâmica ou em plástico que servirá para drenar a água para um poço de

absorção ou valeta aberta. A vala é preenchida com brita até cerca de 15 cm da superfície, e a

escavação, depois, com solo poroso até à superfície.

Todas essas preservações são importantíssima para manter o edifício em boas

condições, mas devem ser feitas cuidadosamente, para não acabar sendo destrutiva aos

vestígios arqueológicos.

Logo após realização das prevenções aplicadas cuidadosamente, é permitido

alguns remendos nas áreas afetadas. No entanto, se for causa erosiva irá certamente

prosseguir, mas os revestimentos superficiais e os remendos só reparam os efeitos da

erosão pela água do terreno e pelo vento, mas não conseguem curar as suas causas.

Erosão pelo vento:

A areia transportada pelo vento tem sido fator para a erosão em adobe. A erosão

provocada pelo vento é, por vezes, difícil de isolar porque provoca resultados semelhantes ao

da erosão pela água; no entanto, geralmente, aparecem na metade superior e nos cantos das

paredes, enquanto que as consequentes da água situam-se, no terço inferior dessas paredes.

A boa manutenção é a solução para os efeitos destrutivos da erosão pelo vento. Os

danos nas paredes e coberturas em adobe podem ser reparadas pela aplicação de lama de

adobe nova, para ganhar proteção contra quaisquer futuros possíveis efeitos destrutivos. Se o

vento forte for um problema continuado, deve ser construída uma barreira contra o vento,

usando-se vedações de arbustos ou árvores e devem ter o cuidado em sua plantação e com a

escolha da vegetação.

Vegetação, insetos e bichos:

A vegetação e os infestantes são fenômenos naturais que podem acelerar a

degradação do adobe. Como a ação das raízes pode romper os tijolos em adobe ou provocar a

retenção de umidade, os animais, aves e insetos também vivem frequentemente nas estruturas

em adobe, abrindo e fazendo ninhos dentro das paredes ou das fundações. Estas infestantes

minam e destroem a solidez estrutural da construção em adobe. A madeira também são

vulneráveis ao ataque e destruição pelas térmitas.

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Para preservação é fundamental libertarem-se as estruturas em adobe de todas as

infestações por plantas, animais e insetos contra seu regresso. A remoção devem ser

cuidadosa para que os seus sistemas radiculares não desloquem o material do adobe. Devem

ser estudados maneiras de eliminação de infestantes que envolvam o uso de químicos,para

que haja efeitos imediatos. É importante que um profissional nesta área esteja envolvido, não

só porque os químicos podem ser transportados para dentro das paredes e havendo

degradações, mas também por razões de segurança das pessoas e ambiente.

Incompatibilidades de materiais:

Como os edifícios em adobe estão sujeitos a deformações,é provável que já tenham

sido executados outros trabalhos de reparação, anteriormente, durante a sua vida. As filosofias

de abordagem à conservação do adobe têm mudado, assim como as técnicas de restauro e de

reabilitação.Essas técnicas vem mudando com o passar dos anos, antigamente, era colocados

matérias incompatíveis, causando ainda mais degradações aos edifícios em adobe, por não

possuírem características de propriedade do materiais compatíveis. Em alguns casos ocorrem a

retiragem tranquila,mas em outros, precisam de ajuda de especialistas, pois em sua retirada

pode causar mais danos ao edifício.

5. Reparação e Manutenção dos Edifícios Históricos em Adobe

Depois de reparar a degradação no adobe e a qualquer outro dano estrutural, o restauro

do edifício pode prosseguir, devendo-se ainda optar por materiais tradicionais ou originais,

quando da substituição, reparação e/ou reprodução dos materiais danificados.

Remendos e reparações dos tijolos em adobe

Para o remendo ou substituição dos tijolos em adobe, deve-se encontrar uma argila

com textura e cor semelhantes às da fábrica original. Quando uma peça de tijolo em adobe

estiver parcialmente desintegrado, ele pode ser remendado no seu lugar. O material degradado

deve ser escarificado e retirado, sendo substituído por uma lama de adobe apropriada. É

comum que fragmentos de tijolos originais em adobe sejam pulverizados, misturados com

água e voltados a usar para se remendarem áreas erodidas.

No entanto, quando se tem que substituir tijolos completos ou seções inteiras das

paredes, deve-se ter o maior cuidado na compra de tijolos atualmente, pois são produzidos

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com o uso de estabilizadores na sua composição, e, portanto incompatíveis com a fábrica dos

edifícios históricos em adobe. Os blocos de cimento e de cinzas também são soluções

semelhantes numa substituição extensa de tijolos em adobe; mas, tal como com os tijolos em

adobe estabilizados comercialmente, eles são instáveis e incompatíveis com os mais antigos

tijolos em adobe. Apesar disso, os blocos de cimento têm sido usados com sucesso em

paredes divisórias interiores.

Reparação e substituição de argamassas: Para reparar argamassas de adobe soltas e

degradadas, deve-se sempre verificar a cor e a textura originais. Nunca deve ser substituída

uma argamassa de lama de adobe por uma argamassa de cal ou de cimento Portland. As

argamassas compostas com cimento Portland ou cal não tem a mesma taxa de dilatação

térmica que os tijolos em adobe e, portanto, as argamassas provocam fissuras nos tijolos – o

material mais fraco – a sua desagregação e eventual desintegração. No entanto, alguns

edifícios históricos tardios possuem argamassas de cimento Portland e cal na sua construção

inicial. A remoção e substituição destas argamassas por argamassa de lama não são

aconselhadas, porque tais remoções podem destruir os próprios tijolos em adobe.

Para reparar as fissuras no adobe, pode ser usado um procedimento semelhante ao da

reparação das juntas em alvenaria, sendo necessário aprofundar-se nas fissuras até uma

profundidade 2 a 3 vezes superior à largura da junta da argamassa, para se obter uma boa

ligação mecânica entre a argamassa nova e os tijolos em adobe.

Reparação e substituição de peças em madeira: As peças em madeira apodrecidas

ou infestadas por cupins, tais como vigas, vergas, e contraventamentos das paredes, ou

assoalhos devem ser reparados ou substituídos. Madeira deve ser sempre substituída por

madeira. No entanto, no caso de trabalhos esculpidos, podem ser usados consolidantes epóxi

de baixa resistência, para essas reparações. Devem ser sempre feitos ensaios preliminares

antes das reparações para se verificar se os resultados desejados são mesmo obtidos, já que,

normalmente, eles não são reversíveis.

Reparação e substituição de revestimentos superficiais: Historicamente,

praticamente todas as superfícies dos edifícios em adobe eram revestidas. Quando estes

revestimentos se degradam, devem ser substituídos pelo mesmo material que originalmente

foi empregue.

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Quando esse revestimento é em “mud plaster”, este processo exige que o “mud

plaster” degradado seja escarificado e substituído com materiais e técnicas semelhantes.

Porém, o processo não é assim tão simples quando estiverem envolvidos “stuccos” de cal ou

de cimento Portland. Deve-se remover tanto quanto possível do revestimento superficial

degradado sem se danificar a fábrica subjacente em tijolos de adobe. Nunca se deve aplicar

uma nova camada de “stucco” de cal ou de cimento Portland sobre um revestimento

superficial degradado, porque provavelmente existe uma degradação maior ainda nas camadas

inferiores, em virtude deste problema ser relacionado à água.

Se forem necessárias aplicações extensas de “stucco” de cal ou de cimento Portland,

pode considerar-se o recobrimento de todo o edifício com ripado sobre o qual será, depois,

aplicado o revestimento, criando, assim, uma barreira de vapor. Deve-se remendar sempre

com o mesmo material que será substituído. Apesar de o “stucco” de cal ou de cimento

Portland ser menos satisfatório como revestimento superficial, muitos edifícios em adobe

sempre o tiveram como revestimento superficial e a sua remoção total danificá-lo-ia mais do

que a degradação natural.

Coberturas: As coberturas planas em adobe devem ser restauradas e mantidas com a

sua forma e materiais originais;

Para se restaurar uma cobertura plana em adobe, utiliza-se uma camada fresca de lama

de adobe sobre a cobertura em adobe existente, devendo-se escorar temporariamente essa

cobertura durante o trabalho.

Num edifício em adobe, não é aconselhável construir-se uma nova cobertura que seja

mais pesada do que a cobertura que deva ser substituída. Se as antigas paredes tiverem

problemas com umidade, o peso adicional da nova cobertura pode provocar seu abaulamento.

Se as paredes estiverem secas, o peso adicional pode provocar fraturas e desmoronamento.

Pavimentos, janelas, portas, etc.: As janelas, as portas, os pavimentos e outros

pormenores originais do velho edifício em adobe devem ser retidos.

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6. Manutenção

A manutenção periódica sempre foi a chave para o sucesso da sobrevivência dos

edifícios em adobe. Uma vez que sejam executadas obras de reabilitação ou de restauro, deve

ser iniciado um programa de manutenção contínua. As alterações no edifício devem ser

cuidadosamente anotadas. Os estados iniciais de fissuração, deformação ou abaulamento nas

paredes em adobe devem ser regularmente monitorizados. Devem ser registados todos os

danos por ação da água e remediados o mais cedo possível. Os danos consequentes de plantas,

animais e insetos devem ser detidos antes que se tornem irremediáveis. A cobertura deve ser

inspecionada periodicamente. Os revestimentos superficiais devem ser inspecionados

frequentemente e reparados ou substituídos, conforme necessário.

Os sistemas mecânicos devem ser monitorizados para se evitarem as avarias. Por

exemplo, os canos de água com fugas e a condensação podem ser potencialmente mais

danificadores para um edifício em adobe do que para uma estrutura em tijolo, pedra ou

madeira.

7. CAPELA DE SÃO MIGUEL

A história do monumento: suas fases até hoje

Uma rudimentar capelinha levantada para marcar a presença de Cristo entre os índios

guaianazes no aldeamento de São Miguel de Ururaí, iniciado em 1560, pelo "Apóstolo do

Brasil", José de Anchieta, também um dos fundadores de São Paulo de Piratininga, marca o

nascimento do bairro.

A primeira capela, construída por volta de 1580, foi substituída, sob a orientação do

carpinteiro e bandeirante Fernão Munhoz e com a mão de obra dos índios guaianazes em

1622.

Segundo informações constantes no Primeiro relatório, elaborado por Mário de

Andrade por volta de 1937, o núcleo mais antigo da Igreja de São Miguel Paulista teria sido

construído em taipa de pilão pelos paulistas Fernão Munhoz e Pe. João Álvares, e concluído,

provavelmente, no ano de 1622. Em fins do século 18, então sob a assistência dos frades

franciscanos, teria sofrido sua primeira reforma mais expressiva, recebendo, sobre o corpo

primitivo da nave, um alteamento em tijolos de adobe. Por volta de 1904 foram registrados

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pequenos reparos e a inserção de forro na nave central. Em 1927, ainda segundo o relatório de

Mário de Andrade, teria sido executada a última reforma, na qual teriam sido reforçadas as

bases erodidas da taipa e reexecutada a pintura interna.

Em 1938, quase três séculos depois da sua construção, a Capela dos Índios,

descaracterizada e praticamente destruída, passou por um processo de revitalização. Foi um

trabalho minucioso em busca de suas origens com o objetivo de manter a autenticidade de sua

arquitetura e de seus elementos artísticos. Pinturas do período colonial paulista, arte barroca e

traçados incas foram encontrados. A recuperação incluía ainda o resgate de peças e

ornamentos de madeiras vendidos a antiquários.

Figura 1 - Vista frontal da Capela de São Miguel Arcanjo em 1938. Autor: Desconhecido

E com a idéia de dar mais visibilidade ao local, a Praça Aleixo Monteiro Mafra, em

frente, também foi restaurada. Implantou-se uma área ajardinada e foram retiradas

construções que impediam a visão da igreja.

Em 2006 teve início uma nova fase de revitalização. O projeto foi dividido em duas

partes:

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A primeira fase consistiu na restauração de todo o edifício que se encontrava

gravemente danificado, correndo o risco de desabamento. Toda a estrutura, desde as paredes

centenárias em taipa de pilão, passando pela realização de trabalhos de arqueologia, até o

projeto de iluminação foram contemplados, esta etapa foi concluída em 2008.

A segunda fase foi concebida com o objetivo de fornecer a todo o visitante, elementos

que proporcionassem a leitura e o entendimento de todo o significado que a Capela e seus

elementos possuem. Foi realizado um curso de educação patrimonial e formação de monitores

com os membros da comunidade, com o objetivo de que a multiplicação dos saberes seja

realizado por aqueles que já possuem um envolvimento e uma história pessoal com o

Patrimônio.

Para a preservação, houve um acordo com a sociedade em suspender o uso religioso. Optou-

se em organizar visitações, com vitrines, painéis e placas, onde serão apresentadas pesquisas

arqueológicas, história e influência dos povos da região.

As técnicas construtivas da época

As paredes foram levantadas com taipa de pilão que é um sistema rudimentar de

construção de paredes e muros. As colunas internas da igreja foram feitas com madeiras

como: jacarandá, pau-ferro. Os rebocos foram feitos com ostras, que eram queimadas, moídas

e misturadas com fios de cabelo. O telhado era feito com telhas em formatos irregulares.

O historiador Lucio Costa, observando antigas capelas existentes nos arredores e a

igreja da capital, explana sobre a técnica construtiva:

“Na capela tão simpática de São Miguel, daquela mesma região de São Paulo, o aspecto mais leve e gracioso resulta no alteamento da nave com paredes de adobe (tijolos de terra crua, água e palha e algumas vezes outras fibras naturais, moldados em fôrmas por processo artesanal), material muito empregado nas reformas e acréscimos do sec. XVIII, desta velha capela de 1622 – data do portal e da valiosa peça que é a grade de separação do presbítero – seria, acrescido de alpendre, o das capelas típicas de aldeia” (COSTA, 1997, p 108).

O trabalho de restauração: na década de 1930 e de 2006 até hoje

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A primeira restauração iniciada em 1939, pelo SPHAN, teve duas fases. A primeira

vai de 1939 a 1941 e a segunda vai de 1958 a 1961.

Figura 2 - Posse como vigário de Pe. Aleixo Monteiro Mafra em 1941. Foto: Arquivo

CPDOC São Miguel

A intenção de restauração estava prevista a substituição dos elementos considerados de

fatura recente bem como a posterior reconstituição do suposto feitio original. Havia uma

grande preocupação em não deformar o caráter da construção de Taipa, originalmente

empregada na construção da capela.

Segundo o guia, a mão de obra utilizada nessa reforma não correspondia às

necessidades que a capela necessitava e, ainda segundo o guia, a obra não foi executada por

mão de obra devidamente especializada.

A segunda restauração iniciada em 2006 e concluída no ano de 2011 esteve sob a

responsabilidade da Associação Cultural Beato José de Anchieta, com patrocínio da

Petrobras, do Grupo Votorantim e do Banco Itaú. A prefeitura de São Paulo também investiu

no projeto. O Projeto de Restauro da Capela de São Miguel Arcanjo resgatou um templo

religioso com valores históricos reconhecidos por urbanistas, historiadores, arquitetos e

pesquisadores, como Gilberto Freire, Sergio Buarque de Holanda e Lúcio Costa, entre outros.

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Figura 3 - Vista atual da fachada da Capela de São Miguel Arcanjo. Autor: Arquivo

CPDOC São Miguel

Essa restauração também foi dividida em duas etapas. A primeira buscou informações,

cadastrou o estado atual da capela e promoveu o restauro físico de seus elementos artísticos e

do entorno. A segunda etapa propõe a ordenação da leitura desses elementos, sua

interpretação em diversos contextos sociais, localizando tais informações em um circuito de

visitação criando assim o museu da capela de S. Miguel Arcanjo. A criação do museu se deu,

entre outras coisas, com a intenção de criar condições tangíveis de manutenção e preservação

do monumento. Percebemos, portanto, duas grandes diferenças entre a primeira e a segunda

restauração. A primeira consiste no fato de que a restauração mais recente tinha um projeto já

definido, que sofreu algumas alterações para se adaptar as necessidades do monumento mas

que já existia a priori.  A segunda consiste no fato de que a restauração anterior deu mais

atenção a parte estrutural do monumento, e não poderia ser diferente, afinal a capela

encontrava-se em um estado de preservação lastimável. No entanto a “segunda restauração”

prestou atenção também a preservação da “parte” artística da capela se dedicando também a

restauração das obras de arte que compõe o acervo da capela, além de tentar proporcionar um

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meio de que o monumento consiga angariar os fundos e obter a devida atenção dos órgãos

competentes para sua manutenção .

Interior da Capela de São Miguel Arcanjo. Fonte: http://catolicos.vialumina.com.br/index.php/restauracao-da-capela-de-sao-miguel-arcanjo/

Interior da Capela de São Miguel Arcanjo. Fonte: http://catolicos.vialumina.com.br/index.php/restauracao-da-capela-de-sao-miguel-arcanjo/

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8. Sites úteis

http://5cidade.files.wordpress.com