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QUANDO INFORMAR É GERENCIAR CONFLITOS: A ENTREVISTA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
Maria del Carmen F. González DAHER (Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutoranda do Programa de Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) ABSTRACT: The aim of this study reported here is to discuss the process of data collection based on theoretical – methodological reflections concerning the role and work of the discourse analyst. To reach this end, an interview was conducted with the Editorial Board (ED) of a house organ of a multinational enterprise. Defending the idea that an interview is an important instrument to access the knowledge of a particular group, the analysis tries to identify the relevance of the methodological proposal through the observation of coincidences or not among the hypotheses formulated by the researchers and the answers given in the interview. RESUMO: Este artigo traz à discussão o processo de elaboração do instrumento da entrevista dos membros do Conselho Editorial do jornal interno da empresa (C.E.), isto é, de seu roteiro, considerando reflexões teórico-metodológicas sobre o papel e a atuação do analista do discurso. Considerando a entrevista como importante instrumento de acesso ao saber de determinado grupo, a análise verifica a relevância da proposta metodológica a partir da observação da existência ou inexistência de coincidências entre as hipóteses construídas pelos pesquisadores e as respostas obtidas nas entrevistas. KEY-WORDS: work situation, guide for interviewing, methodological procedures, evaluation PALAVRAS-CHAVE: situação de trabalho, roteiro de entrevista, procedimentos metodológicos, avaliação
1. Introdução Dando continuidade à primeira etapa de nossa pesquisa – o estudo da demanda e a análise de diversos exemplares do jornal, já apresentados com mais detalhes no artigo de Sant’Anna neste mesmo número -, demos início a outros passos prescritos para o desenvolvimento da pesquisa. A perspectiva inicial era coletar dados por meio de dois instrumentos: entrevistas como forma de acesso a situações de fala sobre o trabalho e gravações de duas reuniões do Conselho Editorial (doravante CE) que nos permitiriam apreender situações de fala no trabalho. A fala sobre o trabalho corresponde ao tipo de fala que Lacoste (1998) chama de fala nas verbalizações, provocadas e exteriores à ação, em oposição à fala de comunicação, que é parte da atividade de trabalho. Segundo a autora, sua preocupação central não é estabelecer classificações, mas “seguir a atividade de um (ou dos) trabalhador(es) e as interações nas quais ele(s) se envolve(m) para perceber os sentidos da fala no contexto”. Para isso, segundo Lacoste, “é necessária a observação do trabalho real, instância fundamental dessa construção complexa que é o trabalho” (pp.3-4). No foco de suas análises estão as falas no trabalho e as falas como trabalho (falas de comunicação), o que aproxima seu estudo às pesquisas em Análise Ergonômica do Trabalho, baseadas na compreensão do trabalho por meio das práticas de linguagem. Mas, para os lingüistas em geral, as falas sobre o trabalho também se apresentam como ricas fontes de análise da situação de trabalho. A pertinência da escolha do tipo de fala a analisar não dependerá somente do fato de se tratar do estudo do trabalho via linguagem ou do estudo da linguagem via trabalho. O que nos parece crucial para essa escolha é, de um lado, o conceito de linguagem que subjaz a qualquer que seja o nível de análise e de intervenção adotada e, de outro, o tipo de resultados a que se pretende chegar.
Para colhermos dados sobre a fala no trabalho, conforme já o dissemos, nossa proposta inicial era a de efetuar gravações das reuniões do CE. Entretanto, ela teve de ser reformulada diante da impossibilidade de levá-la a cabo. Deu-se, então, o processo de organização do roteiro de entrevista, no qual duplicamos as exigências características de um projeto de pesquisa: a partir de cinco blocos temáticos, formalizamos os objetivos, o problema e as hipóteses que nos levaram à elaboração de sete perguntas básicas. Tais blocos continham informações referentes à natureza de um jornal de empresa (bloco 1); às funções do CE, enquanto instância de produção (bloco 2) e enquanto instância de recepção (bloco 3); ao modo de circulação do jornal (bloco 4) e às expectativas de resultados da pesquisa (bloco 5). A cada um dos quatro primeiros blocos corresponde uma pergunta e ao último, três, tal como segue abaixo: (1) Você poderia caracterizar o que é um jornal de empresa? Qual a sua função/objetivo? (2) Você poderia relatar como tem sido sua experiência no CE? (3) Enquanto membro do CE, que tipo de feed-back você tem recebido por parte do leitor? (4) De que maneira esse público leitor tem acesso ao jornal da empresa? E as outras categorias de leitor? (5) Você acha que alguma coisa precisa ser modificada no jornal? (6) Qual pode ser na prática a contribuição do nosso grupo de pesquisadores? (7) Você acrescentaria alguma outra informação que julga pertinente? As perguntas programadas conjugaram as constatações obtidas a partir das análises da demanda e do jornal, segundo o conceito de cenografia discursiva de Maingueneau (1987, 1993). Assim, recuperando sinteticamente a análise de Sant’Anna (v. neste número), podemos dizer que a imagem de empresa veiculada pelo jornal é a de uma instituição moderna, auto-suficiente, eficiente e capaz de reconhecer o seu funcionário como integrante de seu time, constituindo-se num universo próprio. Essas constatações constituíram-se como fonte básica para a organização da entrevista, pois esse esboço da cenografia discursiva apontava para possíveis hipóteses de utilização dos conceitos de comunicação e informação, pelos membros do CE, de
acordo com um ideal de harmonia, de perfeição e de ausência de mal-entendidos ou ambigüidades. Como forma de dar continuidade ao processo de reflexão do caminho teórico-metodológico escolhido pela equipe, nosso objetivo, neste artigo, é o de verificar a adequação do planejamento da entrevista às respostas obtidas junto aos entrevistados, relativas às perguntas de números 1 e 2 do roteiro de entrevista, conforme se verá na seção abaixo.
2. Análise das questões 1 e 2 do roteiro de entrevistas Com a questão de número 1 - “Você poderia caracterizar o que é um jornal de empresa? Qual a sua função/objetivos?” -, pretendíamos traçar um perfil do jornal, ao passo que, com a de número 2 – “Você poderia relatar como tem sido sua experiência no CE?” -, visávamos recuperar o processo de produção desse house organ. Para tanto, recorremos para cada uma das questões à seguinte metodologia: • levantamento de marcas discursivas que caracterizassem as
hipóteses inicialmente previstas pelos pesquisadores; • identificação de marcas discursivas que remetessem a hipóteses
não previstas inicialmente; • organização desse levantamento, por cada entrevistado, em ordem
de ocorrência na fala; • construção de um quadro totalizador, com o número de ocorrências
das várias hipóteses; A essa metodologia inicial foram acrescidos dois novos passos: • cosntrução de um quadro onde se agrupavam as informações que
complementavam cada uma das hipóteses iniciais; • reorganização num único quadro de todo o levantamento. 2.1- Quadros referentes à questão nº 1 – “Você poderia caracterizar o que é um jornal de empresa? Qual a sua função/objetivos?”-:
Nos quadros a seguir, organizamos, no primeiro deles, o levantamento de hipóteses (hipóteses de 1 a 3) e, no segundo, as informações complementares (hipóteses 4 a 14), segundo ocorrência por entrevistado (ver respostas detalhadas no anexo 2): Quadro 1. Ocorrências das hipóteses de 1 a 3.
NÚMERO DE OCORRÊNCIAS POR ENTREVISTADO
HIPÓTESES 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
total
1 - promover integração
2
1
3
6
2 - informar
1
4
1
1
2
3
3
5
3
23
3 - captar o funcionário
1
2
3
Quadro 2. Ocorrências das informações completementares
NÚMERO DE OCORRÊNCIAS POR ENTREVISTADO
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
total
4 - promover integração e informar
1
1
1
1
4
5 - atender ao funcionário
2
1
1
4
6 – expressar opinião do funcionário
1
1
7 - reconhecer o valor do funcionário
1
1
2
4
8 – fazer marketing
1 1
9 - antecipar acontecimentos
1
1
10 – ocultar informação
1
1
2
11 - conquistar público. externo
1
1
2
12 – expressar opinião da empresa
1
1
13 - doutrinar
1
1
14 - favorecer o crescimento do funcionário
1
1
Ao analisar as respostas de todos os entrevistados em relação à questão número 1, observamos que: a) as três hipóteses levantadas pelos pesquisadores estavam subjacentes às respostas dos entrevistados; b) as respostas classificadas como informações complementares caracterizaram-se como detalhamento das referidas hipóteses e, uma delas (v. nº 10, no quadro acima), formulada por dois dos entrevistados, apontou o jornal como instrumento de ocultação de informações. Este último dado foi fundamental como subsídio para a escolha e construção do instrumento de pesquisa da terceira etapa do projeto, que visava ao levantamento das representações que os funcionários da linha de produção mantinham sobre o jornal da empresa.
2.2- Quadro totalizador Para efeito de análise, reorganizamos as informações complementares (ou ocorrências consideradas como detalhamento não previsto) e as hipóteses levantadas previstas, num único quadro, conforme se pode ver a seguir: Quadro 3. Hipóteses previstas (de 1 a 3) e informações complementares.
NÚMERO DE OCORRÊNCIAS POR ENTREVISTADO
HIPÓTESES PREVISTAS E INFORMAÇÕES
COMPLEMENTARES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Tot. % 1. Promover a integração e
informar
3
1
1
2
3
10
16,5 2. Divulgar o que ocorre na
empresa
1
4
1
1
2
3
3
5
3
• antecipando informações 1
• doutrinando e expressando opinião da empresa
1
1
29
53,7 • favorecendo o
crescimento do funcionário
1
• ocultando informação 1 1 3. Captar ou atrair para a
empresa
(a) o funcionário (sem referência ao chão de fábrica)
1
2
• atendendo-o 2 1 1
• servindo-lhe de expressão
1
15
27,8
• reconhecendo-o 1 1 2 • fazendo marketing 1 (b) o cliente externo 1 1 TOTAIS
5
9
1
3
4
7
-
6
8
11
54
100
Observando-se mais detidamente o quadro acima, devemos ressaltar, em primeiro lugar, que as hipóteses elaboradas pela equipe de pesquisa se confirmaram, pois o jornal foi apresentado pelos entrevistados como instrumento de integração (16,5%), de divulgação (53,7%) e de captação de público (27,8%). Assim, observamos que o agrupamento das hipóteses em torno das informações complementares, na verdade, permitiu detectar as imagens do C.E. sobre o jornal, como sendo: • instrumento de integração entre empresa e funcionários – hipótese
de menor incidência frente às demais hipóteses, mesmo incluindo a referência simultânea integrar e informar;
• instrumento de divulgação/informação – para o CE, divulgar é também antecipar, doutrinar, ensinar e, ainda, ocultar informação. Portanto, o levantamento ressalta como objetivo maior do jornal a informação, porém a partir de uma concepção que só considera como produtor de sentidos a instância de produção do jornal, como se pode observar nos fragmentos extraídos das falas de membros do CE, como por exemplo: “um jornal (...) que aborde temas técnicos”, “o jornal de empresa vem mostrar para o funcionário o que a empresa está fazendo”, “o objetivo é trazer informações atuais”, etc.;
• instrumento de captação do funcionário chão de fábrica – que era uma hipótese inicial dos pesquisadores, que, na verdade, mostrou-se excessivamente estreita, pois encontramos referência ao funcionário, sem qualificá-lo por função, e também ao cliente externo. A captação é detalhada como forma de atender o funcionário, de dar-lhe expressão e de reconhecê-lo, e ainda como recurso de marketing da empresa. A parcela principal de público-alvo corresponde, efetivamente, ao funcionário, sem referência à função/cargo na empresa .
Ao considerarmos que, para o C.E., o processo de comunicação tem como ponto central a transmissão de informações e que não se prevê necessariamente uma integração entre as instâncias de produção e recepção (empresa/funcionário), atenua-se a ênfase inicialmente conferida à captação do leitor: como comunicar de forma eficiente alguma coisa sem construir uma imagem sobre a instância da recepção? Como tratar o dado a ser informado, se não se considera que a própria apresentação no jornal já não é senão uma “leitura” do fato, vista unicamente sob o ponto de vista da produção? Como ser eficiente no circuito comunicativo sem tratar a instância da recepção como produtora de novos sentidos? Assim, a análise da primeira pergunta aponta para necessidade de o CE refletir sobre todo o complexo processo de produção de um jornal, tendo em vista que seus membros declaram desejar atingir o funcionário da empresa como seu público-alvo mais importante. 2.3- Quadros referentes à questão nº 2 – “Você poderia relatar como tem sido sua experiência no CE?”: Nos quadros a seguir, organizamos, em primeiro lugar, o levantamento de hipóteses previstas (hipóteses 1 e 2) e, a seguir as informações complementares (hipóteses 3 a 11), de acordo com suas ocorrências por entrevistado (ver respostas detalhadas no anexo 3):
Quadro 4. Ocorrência das hipóteses previstas (de 1 a 2). NÚMERO DE OCORRÊNCIAS POR
ENTREVISTADO
HIPÓTESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 total
1 – Configurar-se como espaço de gerenciamento de conflitos
1
1
2
2 – Apresentar os membros do CE como representantes dos seus pares
2
1
4
1
1
9
Quadro 5. Ocorrências das informações complementares.
NÚMERO DE OCORRÊNCIAS POR ENTREVISTADO
INFORMAÇÕES
COMPLEMENTARES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 total
3 – Apresentar os membros CE como representantes de áreas
1
1
4 – Servir como espaço de aprendizagem dos integrantes do CE
1
1
1
3
5 – Obter vantagens pessoais / prestígio dos membros do CE
2
1
1
1
5
6 - Garantir a união dos membros do CE com funcionários
1
1
2
7 – Atuar como central de informações (reunir / recolher / receber /armazenar / transmitir informações)
1
4
2
2
3
5
2
6
25 8 – Exercer a censura
2
1
6
1
4
2
1
17
9 – Constituir-se como espaço de consenso
1
2
3
10 – Possibilitar a integração dos membros do CE com a administração
2
2
11 – Preservar a imagem da empresa
1
1
Adotando os mesmos critérios que nortearam a análise da questão no 1, procedemos à reorganização das diferentes funções que se explicitaram nas entrevistas. O resultado obtido é apresentado no item a seguir. 2.4. Quadro totalizador
A reorganização das hipóteses inicialmente previstas e as ocorrências consideradas como detalhamento não previsto encontra-se no quadro 6. Quadro 6. Ocorrências das hipóteses previstas e das informações complementares
NÚMERO DE OCORRÊNCIAS POR ENTREVISTADO
HIPÓTESES PREVISTAS E INFORMAÇÕES
COMPLEMENTARES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Tot. %
1 – Configurar-se como espaço de gerenciamento de conflitos
1
1
• unindo membros do CE aos funcionários
1
1
• censurando 2 1 6 1 4 2 1 27 38,6 • garantindo consenso 1 2 • integrando os membros
do CE com a administração
2
• preservando a imagem da empresa
1
2 – Apresentar os membros do CE como representantes
• dos pares 2 1 4 1 1 10 14,3 • de outras áreas 1 3 – Obter vantagens
• aprendendo mais como membro do CE
1
1
1
8
11,4
• garantindo prestígios através do CE
2
1
1
1
4 – Atuar como central de informações
1
4
2
2
3
5
2
6
25
35,7
TOTAIS
9
5
7
11
2
11
4
11
2
8
70
100
A análise mais detalhada desse quadro da permite-nos perceber que as hipóteses de pesquisa que havíamos elaborado parecem não dar conta de toda a complexidade revelada nas entrevistas. Assim, a primeira hipótese formulada pelos pesquisadores (“o CE foi constituído para gerenciar conflitos sobre os quais não tem poder de decisão”) revelou-se excessivamente estreita, pois só entrevíamos a existência de um nível de conflito (a saber, o conflito instaurado entre os membros de CE e os quadros hierárquicos superiores). Por meio das informações prestadas pelos entrevistados, percebemos que a problemática dos conflitos é colocada em cena referindo-se a outras questões, a saber: • os embates entre os vários membros do CE, entre o CE e os
gerentes e entre o CE e os demais funcionários da empresa, função que se explicita, principalmente, através do exercício da atividade de censura;
• a busca de um consenso. Quando à segunda hipótese formulada pelo grupo de pesquisadores (“os membros do CE acreditam-se representantes de seus pares no CE”), cremos que as entrevistas também contribuíram para redimensionar a problemática da representação. Com efeito, ao serem formuladas as hipóteses de pesquisa, que serviram de sustentação à elaboração da entrevista enquanto instrumento para elucidação de um dado saber, o termo representação foi utilizado como um vocábulo monossêmico para se fazer referência à expressão da totalidade dos funcionários da empresa através de um membro do CE. No decorrer das entrevistas, no entanto, pudemos recuperar a emergência de um segundo sentido para representação: cada segmento da empresa deve estar representado no CE (independentemente do fato de o integrante do CE exercer uma real função de representatividade de seus pares). Tal polissemia não nos parece ser desprovida de significado, no que tange ao modo de funcionamento do CE, uma vez que:
• no que diz respeito à primeira acepção do termo, os membros do CE parecem contentar-se com uma noção de representação que se atualiza bastante informalmente: a expressão de pontos de vista de outros funcionários da empresa se dá por meio dos seus contatos ocasionais em espaços não oficiais (conversas na cantina, encontros acidentais nos corredores da empresa, etc.);
• quanto à segunda acepção de representação, parece haver um certo esforço coletivo por parte de todos os integrantes do CE no sentido de alcançar uma situação “ideal”, que consistiria em fazer do referido Conselho uma espécie de “espelho” do organograma da empresa, isto é, parece haver a crença de que é desejável que todos os segmentos que integram a empresa estejam presentes no CE.
Finalmente, cumpre-nos explicitar que não foram previstas duas outras funções do CE que se atualizaram nas entrevistas: a do CE enquanto lugar de obtenção de vantagens pessoais para aqueles que o integram (vantagens que se referem seja à obtenção de uma posição de prestígio na empresa, seja à possibilidade de acesso a saberes de natureza variada); e a do CE enquanto “central de gerenciamento de informação”, isto é, de um espaço no qual tem lugar uma grande diversidade de práticas (a coleta, a seleção, a ordenação, a classificação, a retenção e a difusão de informações). 3. Conclusões A análise que efetuamos, centrada na materialidade lingüística, vem comprovar que a inserção do lingüista no estudo de situações de trabalho tem sua relevância assegurada por meio do privilégio conferido ao processo discursivo enquanto lugar de construção do mundo do trabalho. Isto significa que as falas sobre o trabalho, objeto deste artigo, permitiram ao lingüista explicitar saberes detidos pelos membros do CE, ainda que esses saberes não fossem apresentados como resultado de uma reflexão consciente por parte dos entrevistados.
Com base nesse procedimento de reconstrução dos saberes dos entrevistados, os pesquisadores se propuseram as seguintes indagações: • em que medida a análise ora apresentada contribui para um
redirecionamento de nossa atividade de pesquisa com relação às hipóteses levantadas?
• que importância tem esta análise para o que se pretende oferecer à empresa?
Julgamos que o percurso da construção do roteiro das entrevistas pode vir a ser um procedimento metodológico a ser implementado pelo grupo de pesquisa. Além disso, em outras situações de pesquisa dessa natureza, tal metodologia poderá contribuir para explicitar saberes, sempre que houver uma fonte primária de informação (no nosso caso, exemplares do jornal). A esse respeito, cabe ressaltar a importância da fonte primária para a formulação inicial de hipóteses. É preciso, porém, ter em mente que a referida fonte não nos dará todas as possibilidades de hipóteses que se atualizarão à medida que se avance na análise das entrevistas. No caso específico do presente trabalho, relatamos apenas os resultados obtidos no decorrer da análise das questões 1 e 2 do roteiro de entrevista. O mesmo procedimento adotado para a análise das demais questões garante ainda outras reflexões de relevância para a pesquisa realizada. Considerando que nossa proposta de “consultoria” lingüística não prevê aconselhamentos nem prescrições acerca de “como construir um jornal mais bem-sucedido”, pensamos, entretanto que nos cabe oferecer subsídios para a reflexão do próprio grupo responsável por quaisquer transformações que venham a ocorrer no jornal. Para isso, o trabalho exposto neste artigo nos encaminha para a seguinte orientação: a partir do que foi revelado pelas entrevistas em relação ao conceito de informação e ao papel do CE, propomos uma discussão sobre outras concepções do que seja o processo de comunicação, dado que a concepção linear de informação por nós identificada e a função explicitada pelo CE demonstram um descompasso entre o que é prescrito (gerenciar informações) e o que se atualiza em suas falas (gerenciar informações e gerenciar conflitos).
Com efeito, se é verdade que os membros do CE expressam uma concepção linear do processo de informação/comunicação, também é verdade que já percebem um nível de complexidade que ultrapassa a mera transmissão de um dado conteúdo a um destinatário. Tal “percepção” é o que pudemos apreender na análise dos dados obtidos por meio da questão 2, na qual os entrevistados justapõem duas funções básicas para o CE: em primeiro lugar, gerenciar conflitos; a seguir, gerenciar informações. Desse modo, o que se observa é que as falas dos entrevistados vêm ratificar uma concepção não ingênua do processo de comunicação e de transmissão de informação: no contexto das interações que têm lugar na empresa, informar é, acima de tudo, gerenciar conflitos.
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ANEXO 1: Ro teiro de entrevista
ANEXO 2: Respostas à questão 1: Você poderia caracterizar o que é um jornal de empresa? Qual a sua função/objetivos?
Entrevistado 1: a. meio de comunicação – informação complementar (aproximação das hipóteses 1 e 2) b. uma ponte entre a gerência ou até outros funcionários para a fábrica - hip. 1 c. [uma ponte entre a gerência ou até outros funcionários] e canais de fora como FIESP - hip.1 d. [meio de] informações diversas - hip. 2 e. puxar os funcionários leitores para a empresa - hip. 3 Observações: . explicitam-se os atores de nossa hipótese no 2: “a gente passa as coisas sobre a empresa para os funcionários e para alguns canais de fora”; . o entrevistado não conhece outros jornais de empresa; . menção explícita ao receptor externo; . as letras b e c são realmente hipótese 1 e/ou 2? Entrevistado 2: a. um meio de divulgação da empresa para com o funcionário - hip. 2 b. divulgação de informações (corporativas ou não) junto ao funcionário - hip. 2 c. atender as necessidades dos seres humanos para os quais a empresa é uma segunda casa - informação complementar 5 (corresponder às expectativas do funcionário) d. atender a todo mundo (principalmente aos funcionários (d.1)- informação complementar5 -, mas também aos fornecedores e clientes (d.2) - informação complementar 11) e. meio de informação interna, apesar da necessidade de mandar informação para fora - hip. 2 f. pegar informações e associá-las a pessoas - informação complementar g. meio de informação predominantemente corporativa - hip. 2
h. meio de envolvimento de pessoas - hip. 3 Observações: . o entrevistado conhece outros jornais de empresa; . o entrevistado dá detalhes da divulgação, das diferentes categorias de informação e dos diferentes destinatários; . enfatiza a ambigüidade do destinatário do jornal. Entrevistado 3: a. passar para os funcionários os aspectos e as experiências que existem na empresa - hip. 2 Observações: . não conhece outros jornais de empresa; . definição ampla da natureza daquilo que o jornal veicula. Entrevistado 4: a. meio de comunicação entre a parte administrativa e os funcionários - informação complementar4 b. mostrar uma série de eventos do dia-a-dia da empresa - hip. 2 c. funcionário também tem a oportunidade de expor as idéias dele através do jornal (não só aqui dentro, mas [a gente] também mostra o que ele faz fora da empresa) - informação complementar 6 (instrumento de expressão do funcionário visto como pessoa) Observações: . o entrevistado não conhece outros jornais; . o funcionário também é visto como produtor de informação. Entrevistado 5: a. jornal voltado para as necessidades do público interno tratando de temas técnicos e até de lazer, cultura de informação - hip. 2 (ou informação complementar 5) b. canal para comunicar temas técnicos de acontecimentos da empresa - hip. 2
c. um canal de comunicação, de reconhecimento - informação complementar 7 ( valorização do esforço e mérito do funcionário) Observações: . o entrevistado conhece outros jornais de empresa. Entrevistado 6: a. divulgar o que ele está fazendo internamente [para o funcionário] -hip. 2 b. reconhecimento do funcionário - informação complementar 7 c. divulgar a empresa dentro e fora [o funcionário leva o jornal para casa] – hip. 2 d. um meio de comunicação - informação complementar 4 e. um meio de marketing - informação complementar 8 (promover a empresa) f. trazer as informações atuais [para que o funcionário fique informado] - hip. 2 g. “predição”, antecipação dos eventos - informação complementar 9 (preparar o que ainda está para acontecer) Observações: . o entrevistado conhece outros jornais de empresa; . o entrevistado introduz a dimensão do tempo como critério relevantes para caracterizar o que o jornal deve veicular. Entrevistado 7: O entrevistado não explicita possíveis funções para o jornal. Observações: . seu público principal é o interno; . às vezes seu público é outro; . as matérias têm que ser dirigidas ao público interno; . já receberam feedback positivo de outras empresas; . o público interno também dá provas de interessar-se pelo jornal; . o entrevistado se refere a dois tipos de publicações: jornais e revistas de empresa.
Entrevistado 8: a. passar informações para o funcionário de forma ampla - hip. 2 b. fazer essa interação [com o funcionário] - hip. 1 c. veículo importante para passar coisas da atualidade (na área de saúde) - hip. 2 d. trazer o máximo de informações daquilo que o funcionário quer -hip.2 + informação complementar 5 e. veículo de comunicação interno importante - informação complementar 4 Observações: . assim como o entrevistado 6, o entrevistado refere-se à dimensão temporal; . refere-se ainda à informação passada do ponto de vista quantitativo (“um máximo de informação”); . interação é sinônimo de comunicação; . distingue comunicação escrita e comunicação visual; . só se refere ao público interno. Entrevistado 9: a. dar notícias da empresa para a empresa - hip. 2 b. dar notícias da empresa para o mercado - hip. 2 c. esconder do mercado determinadas informações - informação complementar 10 ( não informar) d. informar o público interno das coisas que a empresa está fazendo -hip. 2 e. passar informações importantes para o público externo - hip. 2 f. passar confiança para o público externo - informação complementar 11( conquistar a confiança do público externo) g. responder a necessidades gerenciais da empresa - informação complementar 12 ( expressar as necessidades da própria empresa) h. dar informação para a empresa de assuntos que a empresa acha interessantes - hip. 2 Observações: . apresenta o jornal de empresa como conflitante; . faz referência a uma cultura da empresa;
. letras g, h - de certo modo, funções induzidas pela questão feita pelo entrevistador; . o entrevistado reformula chão de fábrica (termo utilizado pelo entrevistador) por empresa; . o entrevistado reconhece que não há uma área do jornal destinada ao “chão de fábrica”, por economia de espaço, segundo critérios que priorizam o que deve ser veiculado. Entrevistado 10: a. integrar os funcionários com os objetivos da empresa (função principal) - hip.1 b. levar informação a todos os níveis da empresa sobre diferentes aspectos da vida da empresa (inclusive planejamento futuro) - hip. 2 c. trazer informações às quais os funcionários não têm acesso (função cultural do jornal) - hip. 2 d. integrar os objetivos da empresa com os objetivos dos funcionários (team work) - hip. 1 e. reforçar valores importantes que a empresa espera encontrar nos funcionários - informação complementar 13 ( doutrinação) f. não consegue ser um veículo informativo do funcionário - informação complementar 10 g. favorecer o crescimento pessoal do funcionário (função desejável e possível de ser atingida) - informação complementar 14 h. integrar os funcionários - hip. 1 (?) i. reconhecimento do valor do profissional - informação complementar 7 j. suporte de informação - hip. 2 l. reconhecimento da equipe - informação complementar 7 Observações: . o jornal exerce papel cultural importante; . não se refere a público externo; . o entrevistado acentua também todas as funções que o jornal não consegue cumprir.
ANEXO 3: Respostas à questão 2: “Você poderia relatar como tem sido sua experiência no C.E.?”
Entrevistado 1: a. representatividade de diferentes segmentos da empresa - informação complementar informação complementar 3 b. aprendizagem de um saber específico por parte dos integrantes do CE - informação complementar 4 c. obter vantagens pessoais (de crescimento pessoal) através do CE - informação complementar 5 d. garantir a união dos membros do CE com as pessoas da fábrica - informação complementar 6 e. “experiência excelente” para os integrantes do CE - informação complementar 5 f. reunir as matérias que as pessoas querem (ou que nós queremos passar) - informação complementar 7 g. espaço de exercício da censura - informação complementar 8 h. “os que têm visão mais de cima”- informação complementar 8 i. espaço de consenso - informação complementar9 Observações: . a escolha dos membros do CE não é uma escolha voluntária da própria pessoa, nem uma escolha baseada num certo perfil. É tarefa que se vincula a uma função exercida na empresa; . perde-se o sentido das ações que são executadas na empresa. Por que aumentar o CE? Parece que não se conhece o porquê das práticas, o que não coincide com o que preconizam os programas de qualidade; Entrevistado 2: a. integração de membro do CE junto à administração - informação complementar10 b. “você pode andar lá dentro e não ser desconhecido” - informação complementar 6 ou 10 (ambigüidade da expressão “lá dentro”, podendo remeter a espaços diferenciados) c. crescer muito em termos de conhecimento de empresa - informação complementar 4 d. “precisa dar uma maneirada” - hip. 1 Observação:
. motivação para entrar no CE: quem trabalha com informática se interessa por texto (crença na empresa); . é pertinente aproximar as informações complementares 4, 6.10 e, talvez, 5? Entrevistado 3: a. “trazer matérias [novas] do interesse comum de todos os funcionários [pois ele sentem essa necessidade] - informação complementar7 b. meio de comunicação na empresa - informação complementar 7 c. “... falo com o pessoal lá do setor de benefícios” - hip. 2 d. reunir matérias do interesse dos funcionário [papel central da publicação de fotos dos funcionários] - informação complementar 7 e. “passo [matérias] para a comissão” - informação complementar 7 f. análise da matéria enviada ao CE para publicação - informação complementar 8 Observação: . o entrevistado não sabe por que foi escolhido para integrar o CE. Entrevistado 4: a. “coisa muito gratificante para mim”, em função da necessidade do próprio integrante do CE mostrar o que sabe fazer - informação complementar 5 b. reunir sugestões de matéria junto ao pessoal da fábrica - informação complementar 7 c. decisão do tipo de matéria que deve figurar no jornal [em função de critérios da ordem do que é viável ou não e do espaço de que se dispõe] - informação complementar 8 d. negociar com os gerentes o que vai ser publicado - hip. 1 e. resguardar-se no que diz respeito a matérias confidenciais - informação complementar 8 f. correções diversas (erros de português)- informação complementar 8 g. encaminhar sugestões de mudança de texto versando sobre uma dada matéria - informação complementar8
h. preservar (respeitar) os princípios da empresa - informação complementar 8 i. obter a aprovação da pessoa que é retratada numa matéria - informação complementar 8 j. procurar novidades na fábrica para divulgação (processo informal) - informação complementar7 l. designar informalmente “representantes” seus na fábrica, a fim de obter novidades para o jornal - hip. 2 Observações: . o entrevistado foi convidado por outro membro para integrar o CE; . o CE é apresentado como a instância democrática que decide o que deve ou não integrar o jornal; . é apontada a face protetora do grupo: a decisão tomada em grupo facilita os eventuais embates com um gerente; . a censura é nominalmente atribuída a um dos funcionários; . ao invés de serem representantes de seus pares, há membros do CE que passam tal função a outros funcionários. Entrevistado 5: a. informar o que está acontecendo numa determinada área da empresa - informação complementar7 b. servir de canal para outras pessoas que queiram participar com alguma matéria para o jornal - informação complementar 7 Observações: . ingressou no CE por vontade própria e com o consentimento do gerente; . não é propriamente representante de uma área da empresa, mas a “guardiã” de todo o sistema. Entrevistado 6: a. representar uma determinado área da empresa - hip. 2 b. trazer para o jornal o conhecimento dos funcionários - hip. 2 c. possibilitar aos membros do CE o estreitamento de laços com as pessoas - hip. 2
d. atualizar os membros do CE sobre o que está acontecendo nas diversas áreas da empresa (=informar o próprio CE) - hip. 2 ou informação complementar 7 e. saber de antemão o que vai acontecer na empresa - informação complementar 7 f. crescimento pessoal dos membros do CE - informação complementar 5 g. “[membros do CE precisam] xeretar com um pouco de restrição [discrição?]” - informação complementar 7 h. espaço de aprendizagem para os membros do CE - informação complementar 4 i. censura: revisão gramatical, correção das legendas sob fotos, etc. - informação complementar 8 j. preservar a face da empresa - informação complementar 11 Observações: . o entrevistado dá várias pistas que remetem ao (excessivo) acúmulo de funções na empresa; . a função de predizer o que vai acontecer na empresa pode estar associada à atividade de “xeretar” com cuidado. Uma atividade policialesca? Buscar informações junto aos funcionários corresponderia a um mecanismo de controle dos mesmos? . acentua-se o dinamismo que caracteriza a tomada de decisões pelo CE, em detrimento da reflexão. Entrevistado 7: a. exercer a censura (função atribuída nominalmente ao gerente de uma área) - informação complementar 8 b. censura: correção das legendas sob fotos - informação complementar 8 c. censura exercida pelo gerente sobre o que convém figurar no jornal - informação complementar 8 d. censura exercida por quem deu uma entrevista para o jornal - informação complementar 8 Observações: . o entrevistado cita o fato de muitas áreas da empresa não terem um representante no jornal;
. o entrevistado mostra que o sentido de representante nada tem a ver com uma representação dos funcionários; trata-se, antes, de uma representação de cada área da empresa; . o entrevistado mostra como evoluiu sua participação/integração no CE. Entrevistado 8: a. dar idéias “de prevenção” ao funcionário - informação complementar 7 b. mostrar [ao funcionário] o que faz uma dada área da empresa - informação complementar 7 ou hip. 2 c. “pegar as necessidades do pessoal” [pessoal como funcionários?] - informação complementar 7 d. veicular os assuntos importantes trazidos pelo pessoal da área a partir do que se conhece acerca das necessidades dos funcionários - informação complementar 7 e. espaço de busca de um consenso - informação complementar 9 f. censura exercida pelo grupo que forneceu uma matéria para o jornal - informação complementar 8 ou 9 g. analisar informações errôneas veiculadas pela mídia acerca de matéria específica da área - informação complementar 8 h. promover a interação entre as pessoas, conhecer o trabalho de outras pessoas da empresa - informação complementar 7 i. crescimento pessoal - informação complementar 5 Observações: . o entrevistado cita com muita ênfase o fato de que sua participação no jornal restringe-se a matérias muito específicas de sua própria área. Entrevistado 9: a. passar informações para o cliente [externo]; meio de fazer ver ao cliente [externo] que o cliente e a empresa estão integrados [composição de uma mesma família, captação do cliente] - informação complementar 7 b. “fazer a integração” com o cliente - informação complementar. 7 Observações:
. o entrevistado define o cliente da empresa como sendo o “mundo X”, e não o mercado varejista mais próximo [importante para a construção do espaço] . Entrevistado 10: a. conduzir as reuniões do CE (função específica do entrevistado) b. negociar com os demais membros do CE o espaço a ser reservado para cada matéria - hip. 2 c. encaminhar sugestões aos membros do CE com base no que lhe é pedido por pessoas de diferentes áreas da empresa - informação complementar 7 d. “coletar assuntos” informalmente em diferentes locais da empresa [para garantir a existência de “matérias mais diversificadas”] - informação complementar 7 e. espaço de censura do que “vai entrar ou não” no jornal - informação complementar 8 f. fazer entrevistas para as matérias [as pessoas não escrevem] - informação complementar 7 g. “traduzir” as informações de ordem técnica - informação complementar 7 h. priorizar a função de informação [entender o que há de técnico nas entrevistas para poder redigir a matéria] - informação complementar 7 i. associar matérias mais específicas [técnicas?] com o que está acontecendo dentro da empresa [integrar informações]. - informação complementar 7 Observações: . o entrevistado se refere ao banco de pautas, que parece ter uma relação com a função de “predição” apontada por outros funcionários; . o entrevistado aponta o caráter excessivamente pontual dos saberes das diferentes áreas da empresa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRICE, P. (1982) “Lógica e conversação”. In: DASCAL, Marcelo.
Fundamentos metodológicos de lingüística. Campinas, Ed. UNICAMP, p. 81-104.
LACOSTE, M. (1998) “Linguagem, fala e situação de trabalho”. In: DUARTE, F. & FEITOSA, V. (org.) Linguagem e Trabalho. Rio de Janeiro, Lucerna/COPPE, p. 15 a 36
MAINGUENEAU, D. (1989) Novas tendências em análise do discurso. São Paulo, Pontes.
SPERBER & WILSON (1979) “Remarques sur l’ interprétation des énoncés selon Paul Grice”. Revista Communication, nº 30.