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A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx

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A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx

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    A Dialtica do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx Evald Vasilievich Ilienkov

    1960

    Fonte: The Dialectics of the Abstract and the Concrete in Marxs Capital. Traduo do ingls: Marcelo Jos de Souza e Silva(1) HTML: Fernando A. S. Arajo. Direitos de Reproduo: licenciado sob uma Licena Creative Commons.

    Sumrio

    Prefcio do Autor para a Edio Alem

    Prefcio da Edio Russa

    Captulo 1. A Concepo Dialtica e Metafsica do Concreto

    1. A Concepo do Abstrato e do Concreto na Lgica Formal e Dialtica 2. Da Histria dos Conceitos do Abstrato e do Concreto 3. A Definio do Concreto em Marx 4. Sobre a Relao de Noo e Conceito 5. O Conceito de Homem e Algumas Concluses desta Anlise 6. O Concreto e a Dialtica do Universal e do Individual 7. Unidade Concreta como Unidade de Opostos

    Captulo 2. A Unidade do Abstrato e do Concreto como Lei do Pensamento

    1. O Abstrato como Expresso do Concreto 2. A Concepo Dialtica e Emprico-Ecltica de Anlise Global 3. Carter em Espiral do Desenvolvimento da Realidade e seu Reflexo Terico 4. Abstrao Cientfica (Conceito) e Prtica

    Captulo 3. Ascenso do Abstrato ao Concreto

    1. Sobre a Formulao da Questo 2. Concepo de Hegel do Concreto 3. Viso de Marx do Desenvolvimento do Conhecimento Cientfico 4. O Fundamento Materialista do Mtodo de Ascenso do Abstrato ao Concreto em Marx 5. Induo de Adam Smith e Deduo de David Ricardo. Os Pontos de Vista de Locke e Espinoza sobre Economia Poltica 6. Deduo e o Problema do Historicismo

    Captulo 4. Desenvolvimento Lgico e Historicismo Concreto

    1. Sobre a Diferena entre os Mtodos de Investigao Lgico e Histrico 2. Desenvolvimento Lgico como Expresso do Historicismo Concreto na Investigao 3. Historicismo Abstrato e Concreto

    Captulo 5. O Mtodo de Ascenso do Abstrato ao Concreto em O Capital de Marx

    1. Concreto Pleno de Abstrao e Anlise como Condio da Sntese Terica 2. Contradio como Condio do Desenvolvimento da Cincia 3. As Contradies da Teoria do Valor-Trabalho e sua Resoluo Dialtica em Marx 4. Contradio como um Princpio do Desenvolvimento da Teoria

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    A Dialtica do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx Captulo 1. A Concepo Dialtica e Metafsica do Concreto

    Evald Vasilievich Ilienkov

    Captulo 1. A Concepo Dialtica e Metafsica do Concreto

    1. A Concepo do Abstrato e do Concreto na Lgica Formal e Dialtica Os termos o abstrato e o concreto so ambos empregados no discurso

    cotidiano e na literatura especial de maneira ambgua. Assim, algum ouve sobre os fatos concretos e a msica concreta, sobre o pensamento abstrato e a pintura abstrata, sobre a verdade concreta e o trabalho abstrato. Esse uso em cada caso justificado aparentemente pela existncia de sombras dos significados das palavras e seria um pedantismo ridculo demandar uma unificao completa do uso.

    Entretanto, as coisas so diferentes quando estamos lidando no meramente com palavras ou termos, mas com os contedos das categorias cientficas que se tornaram historicamente vinculadas com esses termos. Definies do abstrato e do concreto como categorias da lgica precisam ser estveis e inequvocas dentro da estrutura desta cincia, pois eles so instrumentais no estabelecimento de princpios bsicos do pensamento cientfico. Atravs destes termos, a lgica dialtica expressa um nmero de princpios fundamentais (no existe verdade abstrata, a verdade sempre concreta, a tese da ascenso do abstrato ao concreto, e assim por diante). Assim, as categorias do abstrato e do concreto tm um significado bastante definido na lgica dialtica, que intrinsicamente vinculado com a concepo materialista-dialtica da verdade, a relao do pensamento com a realidade, e assim por diante. Enquanto lidarmos com essas categorias da dialtica conectadas com palavras, ao invs de com as prprias palavras, qualquer licena, falta de clareza ou estabilidade em suas definies (muito menos incorrees) levaro necessariamente a uma concepo distorcida da essncia da questo. Por esta razo, necessrio livrar as categorias do abstrato e do concreto das conotaes que tm sido associadas a elas atravs dos sculos em muitos trabalhos pela tradio, pela fora do hbito ou simplesmente por causa de um erro, que tem interferido frequentemente com a interpretao correta das proposies da lgica dialtica.

    O problema da relao do abstrato e do concreto em sua forma geral no colocado ou resolvido na lgica formal, pois uma questo puramente filosfica e epistemolgica, bastante fora da sua esfera de competncia. Entretanto, quando uma questo de classificar conceitos, nomeadamente, de dividir conceitos em abstrato e concreto, a lgica formal assume necessariamente uma interpretao bastante definitiva das categorias correspondentes. Esta interpretao aparece como o princpio da diviso e pode por isso ser estabelecida analiticamente.

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    Neste ponto, muitos autores de livros na lgica formal daro aparentemente um suporte bastante unnime a certa tradio, embora com algumas reservas e alteraes. De acordo com a viso tradicional, conceitos (ou ideias) so divididos em abstrato e concreto da seguinte forma:

    Conceitos concretos so aqueles que refletem objetos ou classes de objetos que realmente existem. Conceitos abstratos so aqueles que refletem uma propriedade do objeto abstrada mentalmente do prprio objeto.(1)

    Um conceito concreto aquele relacionado com grupos, classes de coisas, objetos e fenmenos ou, para separar as coisas, objetos ou fenmenos [...] Um conceito abstrato um conceito das propriedades dos objetos ou fenmenos, quando estas propriedades so tomadas como um objeto independente do pensamento.(2)

    Conceitos concretos so aqueles cujos objetos existem realmente como coisas no mundo material [...] Conceitos abstratos so aqueles que refletem uma propriedade de um objeto tomado separado do objeto, ao invs do prprio objeto.(3)

    Os exemplos citados para ilustrar as definies so basicamente do mesmo tipo. Conceitos concretos so normalmente usados para incluir tais conceitos como livro, Fido, rvore, avio, mercadoria, enquanto os abstratos so ilustrados por brancura, coragem, virtude, velocidade, valor etc.

    Julgando pelos exemplos, a diviso , na verdade, a mesma do livro bastante conhecido sobre lgica de G. I. Chelpanov. Melhorias na definio de Chelpanov esto basicamente preocupadas no com a prpria diviso, mas com a base filosfico-epistemolgico, pois Chelpanov era, filosoficamente, um tpico idealista subjetivista.

    Aqui est sua verso da diviso dos conceitos em abstratos e concretos:

    Termos abstratos so aqueles que servem para designar qualidades ou propriedades, estados ou aes das coisas. Eles denotam qualidades consideradas por elas mesmas, sem as coisas. [...] Conceitos concretos so aqueles das coisas,objetos, pessoas, fatos, eventos, estados de conscincia, se considerarmos que eles possuam uma existncia definida.(4)

    A distino entre termo e conceito uma questo indiferente para Chelpanov. Estados de conscincia esto, em sua viso, na mesma categoria que fatos, coisas e eventos. Possuam existncia definida para ele o mesmo que possuam existncia definida na conscincia imediata individual, isto , em sua contemplao, concepo ou pelo menos imaginao.

    Chelpanov, portanto, considera como concreto qualquer coisa que pode ser concebida (imaginada) como uma coisa individual existindo separadamente, ou

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    imagem, e ele considera como abstrato qualquer coisa que no pode ser assim imaginada, que s pode ser pensada enquanto tal.

    A habilidade ou inabilidade do indivduo de conceber algo graficamente , na verdade, o critrio de Chelpanov para a diviso em abstrato e concreto. Esta diviso, entretanto, pode ser dbil na perspectiva filosfica, mas bastante precisa.

    Na medida em que outros autores se esforam para corrigir a interpretao filosfico-epistemolgica da classificao sem mudar o tipo real dos exemplos em questo, a classificao provou estar aberta crtica.

    Se se inclui entre os conceitos concretos somente aqueles que pertencem a objetos do mundo material, um centauro ou Palas Atena sero aparentemente considerados como conceitos abstratos juntamente com coragem ou virtude, enquanto Fido ser includo entre os concretos juntamente com valor.

    Qual o uso de tal classificao para a anlise lgica? A classificao tradicional destruda ou confundida por este tipo de correo que introduz elemento completamente estranho nele. Por outro lado, no se obtm uma nova classificao estrita.

    Tentativas de certos autores para oporem um novo princpio ou base da diviso sugerida por Chelpanov so tambm dificilmente consideradas aptas.

    Kondakov acredita, por exemplo, que a diviso de conceitos em abstrato e concreto deveria expressar uma diferena no contedo dos conceitos(5). Isso significa que os conceitos concretos precisam refletir coisas, e os abstratos, propriedades e relaes dessas coisas. Se a diviso para ser completa, nenhuma das propriedades nem relaes das coisas podem ser concebidas em conceitos concretos, de acordo com Kondakov. Permanece turvo como se pode conceber uma coisa ou uma classe outra sem ser atravs de uma concepo de suas propriedades e relaes. Na verdade, qualquer pensamento sobre uma coisa vai inevitavelmente prover ser um pensamento sobre alguma propriedade dessa coisa, pois conceber uma coisa significa formar uma concepo sobre a inteira totalidade de suas propriedades e relaes.

    Se se liberta o pensamento de uma coisa de todos os pensamentos das propriedades dessa coisa, no sobrar qualquer coisa do pensamento que no o nome. Em outras palavras, a diviso dos conceitos de acordo com seu contedo significa, na realidade, isto: um conceito concreto um conceito sem contedo, enquanto um abstrato tem certo contedo, apesar de ser escasso. Por outro lado, a diviso no ser completa e, assim, ser incorreta.

    O princpio da diviso sugerida por Asmus, real existncia dos objetos desses conceitos(6), to infeliz quanto.

    Como algum pode entender essa frmula? Os objetos dos conceitos concretos realmente existem, enquanto os objetos dos conceitos abstratos no existem? Mas, a categoria dos conceitos abstratos abarca no somente virtude, mas tambm valor,

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    peso, velocidade, isto , objetos cuja existncia no menos real do que um avio ou uma casa. Se o que dito significa que medida, valor ou velocidade na verdade no existem fora da casa, da rvore, do avio ou alguma outra coisa individual, claramente as coisas individuais tambm existem sem medida, peso e outros atributos do mundo material somente na cabea, somente na abstrao subjetiva.

    A existncia real no est, consequentemente, nem aqui nem ali, tanto quanto no pode ser feita em um critrio de diviso dos conceitos em abstrato e concreto. Isso s pode criar uma falsa impresso que as coisas individuais so mais reais que as leis universais e formas de existncia dessas coisas.

    Tudo isso mostra que as correes da diviso de Chelpanov introduzidas por alguns autores so extremamente inadequadas e formais e que os autores de livros sobre lgica tm falhado em fazer uma anlise materialista crtica desta diviso, se restringindo a correes particulares, que meramente confundem a classificao tradicional sem melhor-la.

    Devemos, portanto, conduzir uma pequena excurso na histria dos conceitos do abstrato e do concreto para introduzir certa clareza l.

    Notas de rodap:

    (1) N. I. Kondakov, Logika, Moscou, 1954, p. 300. (retornar ao texto)

    (2) M. S. Strogovich, Logika, Moscou, 1949, p. 87. (retornar ao texto)

    (3) V. F. Asmus, Logika, Moscou, 1947, p. 36. (retornar ao texto)

    (4) G. I. Chelpanov, Uchebnik Logiki, Moscou, 1946, p. 10-11. (retornar ao texto)

    (5) Cf. N. I. Kondakov, op. cit., pp. 300-301. (retornar ao texto)

    (6) Cf. V. F. Asmus, op. cit., p. 36. (retornar ao texto)

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    2. Da Histria dos Conceitos do Abstrato e do Concreto

    A definio de conceitos abstratos compartilhada por Chelpanov foi claramente formulada por Christian Wolff. De acordo com Wolff, conceitos abstratos tm como contedo propriedades, relaes e estados das coisas mentalmente isolados das coisas e representados como um objeto independente.(1)

    Wolff no a fonte original. Ele meramente reproduz a viso tomada dos tratados de lgica da escolstica medieval. Todos os nomes/conceitos (eles no distinguiam nome de conceito) que denotam propriedades e relaes das coisas so chamados abstratos, enquanto nomes de coisas so chamados concretos.(2)

    Esse uso foi originalmente determinado por mera etimologia. No latim, concretus significa simplesmente misturado, fundido, composto, combinado; enquanto a palavra latina abstractus significa retirado, retirado de, extrado (ou isolado), ou distante. Isso tudo que est contido no significado etimologicamente original dessas palavras. O resto pertence concepo filosfica que expressa atravs delas.

    A oposio do realismo e nominalismo medieval irrelevante para o significado etimolgico direto das palavras abstrato e concreto. Ambos, nominalistas e realistas, aplicam igualmente o termo concreto para separar as coisas percebidas sensorialmente e observadas diretamente, objetos individuais, enquanto o termo abstrato aplicado para todos os conceitos e nomes designando ou expressando suas formas gerais. A diferena reside que o primeiro acredita que nomes so designaes meramente subjetivas de coisas concretas individuais, enquanto o ltimo que estes nomes abstratos expressam formas eternas e imutveis que tm sua existncia no ventre da razo divina, os prottipos de acordo com os quais o poder divino cria coisas individuais.

    O desprezo pelo mundo das coisas percebidas sensorialmente, pela carne, que caracterstica da viso de mundo crist em geral e particularmente expressa de forma clara no realismo, determina o fato que o abstrato (distante da carne, do sensorial, do puramente cognitivo) acredita-se ser muito mais vlido (ambos nos planos tico e epistemolgico) do que o concreto.

    O concreto aqui um sinnimo pleno do percebido sensorialmente, individual, carnal, mundano, passageiro (composto e, portanto, destinado desintegrao, a desaparecer). O abstrato sinnimo do eterno, imperecvel, indivisvel, institudo divinamente, universal, absoluto etc. Um corpo todo individual desaparecer, mas o corpo todo em geral existe eternamente como forma, como intelectualmente criando nos corpos. O concreto passageiro, elusivo, fugaz. O abstrato existe imutvel, constituindo a essncia, o esquema invisvel sobre o qual o mundo construdo.

    a concepo escolstica do abstrato e do concreto que est na base do respeito antiquado do abstrato que mais tarde Hegelridicularizou to causticamente.

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    A filosofia materialista dos sculos XVI e XVII que, formando uma aliana com a cincia natural, comeou a destruir as bases da viso de mundo religiosa e escolstica, na verdade reinterpretaram as categorias do abstrato e do concreto.

    O sentido direto destes termos permaneceu o mesmo: o termo concreto referia, assim como nas doutrinas escolsticas, s coisas individuais, percebidas sensorialmente, e suas imagens grficas, enquanto o termo abstrato era usado para se referir s formas gerais dessas coisas, s propriedades recorrentes imutveis e as relaes regidas por leis dessas coisas expressadas em termos, nomes e nmeros. Entretanto, o contedo filosfico-terico dessas categorias se tornou oposta ao contedo escolstico. O concreto, que dado ao homem na experincia sensorial, passou a ser entendido como a nica realidade digna de ateno e estudo, e o abstrato, como mera sombra psicolgica subjetiva daquela realidade, seu esquema mental deficiente. O abstrato se tornou um sinnimo para expressar os dados empricos sensoriais em palavras e figuras, um sinnimo para a descrio em signo do concreto.

    Mas esta interpretao da relao entre o abstrato e o concreto, caracterstica dos primeiros passos na cincia natural e filosofia materialista, rapidamente chegou a uma contradio com a prtica da pesquisa natural-histrica. A cincia natural e a filosofia materialista dos sculos XVI a XVIII tenderam mais e mais em direo a vises mecanicistas, e isto significa que caractersticas temporais e espaciais e formas geomtricas abstratas se tornaram reconhecidas como as nicas qualidades objetivas e relaes de coisas e fenmenos. O resto aparecia como mera iluso subjetiva criada pelos rgos sensoriais do homem.

    Em outras palavras, tudo que era concreto era concebido como um produto da atividade dos rgos sensoriais, como certo estado psicofisiolgico do sujeito, como uma rplica subjetivamente colorida do original geomtrico abstrato incolor. A tarefa primordial do conhecimento tambm era vista em uma nova luz: para obter a verdade, era preciso apagar ou limpar todas as cores sobrepostas pela sensorialidade sobre a imagem sensorialmente percebida das coisas, desnudando o esqueleto geomtrico abstrato, o esquema.

    Assim o concreto era interpretado como iluso subjetiva, meramente como um estado dos rgos sensoriais, enquanto o objeto fora da conscincia era transformado em algo totalmente abstrato.

    O retrato ento obtido era o seguinte: fora da conscincia do homem no existe qualquer coisa a no ser as partculas geomtricas abstratas eternamente imutveis, combinadas de acordo com esquemas matemticas abstratos imutveis, eternos e idnticos, enquanto o concreto est somente dentro do sujeito, como uma forma da percepo sensorial dos corpos geomtricos abstratos. Consequentemente a frmula: a nica maneira correta para a verdade atravs do aumento da distncia do concreto (da falaciosa, falsa, subjetividade) para o abstrato (como a expresso dos esquemas imutveis e eternos para construo de corpos).

    Isso determina o vis fortemente nominalista na filosofia dos sculos XVI a XVIII. Qualquer conceito, exceto os matemticos, era simplesmente interpretado como um

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    signo inventado artificialmente, um nome servindo como uma ajuda memria, para ordenar uma variedade de dados da experincia, para se comunicar com outros homens etc.

    George Berkeley e David Hume, os idealistas subjetivos daqueles tempos, reduziram diretamente conceitos a nomes, a designaes, a signos ou smbolos convencionais, para alm do que, eles acreditavam, seria um absurdo procurar por qualquer outro contedo, exceto por certa similaridade de series de impresses sensoriais, o elemento comum da experincia. Essa tendncia se tornou particularmente enraizada na Inglaterra e est ainda viva atualmente na forma de concepes neopositivistas.

    A fraqueza dessa abordagem, que estava em sua forma perfeita caracterstica do idealismo subjetivo, tambm era peculiar para muitos materialistas da poca. Particularmente surpreendente neste aspecto eram os estudos de John Locke. Hobbes e Helvtius tambm no eram excees. Em seus trabalhos esta abordagem estava presente como uma tendncia obscurecendo suas posies materialistas bsicas.

    Tomado em um extremo, esta viso resulta em categorias lgicas sendo dissolvidas em categorias psicolgicas e at mesmo lingusticas, gramticas. Assim, Helvtius define o mtodo de abstrao como uma maneira de corrigir um grande nmero de objetos em nossa memria(3). Ele considera o abuso das palavras como uma das mais importantes causas de erros(4). Hobbes segue uma linha de raciocnio similar:

    Portanto, como os homens devem todo seu Raciocnio Verdadeiro ao entendimento correto do Discurso; Assim tambm eles devem seus Erros m-compreenso do mesmo(5).

    Desde que o conhecimento racional do mundo externo foi reduzido ao processamento matemtico de dados puramente quantitativo e, para o resto, ao ordenamento e gravao verbal de imagens sensoriais, o lugar da lgica foi naturalmente tomado, por um lado, pela matemtica, e pelo outro, pela cincia da combinao e diviso de termos e proposies, a cincia do uso correto das palavras criadas pelos homens.

    Esta reduo nominalista do conceito palavra, ao termo, e do pensamento habilidade de usar corretamente as palavras que ns mesmos criamos, minou o prprio princpio materialista. Locke, o representante clssico e originador desta viso, j descobrira que o conceito da substncia no poderia ser explicado nem justificado como simplesmente o geral na experincia, como o universal mais amplo possvel, como uma abstrao das coisas individuais. Naturalmente, Berkeley correu para esta brecha, usando a teoria lockeana da formao do conceito contra o materialismo e contra o prprio conceito da substncia. Ele a declarou ele como um nome sem importncia. Continuando sua anlise dos conceitos bsicos da filosofia, Hume provou que a objetividade de um conceito tal como causalidade, tambm no poderia ser provado nem verificado pela referncia ao fato de que ele expressava o geral na

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    experincia, pela abstrao a partir dos fenmenos e objetos individuais sensorialmente determinados, a partir do concreto poderia tambm somente expressar a identidade da estrutura psicofisiolgica do sujeito percebendo coisas, ao invs de uma identidade das prprias coisas.

    A limitada teoria emprica do conceito sendo reduzido a uma mera abstrao dos fenmenos e percepes individuais, refletia somente os aspectos psicolgicos superficiais do conhecimento racional. Na superfcie, o pensamento realmente aparece como abstrao do idntico das coisas individuais, como ascendendo a abstraes cada vez mais abrangentes e universais. Tal teoria, entretanto, pode muito bem servir a concepes filosficas diametralmente opostas, ignorando o ponto mais importante a questo da verdade objetiva dos conceitos universais.

    Materialistas consistentes perceberam a fraqueza da viso nominalista do conceito, sua vulnerabilidade a especulaes e erros idealistas. Espinoza enfatizou que o conceito da substncia, expressando o primeiro princpio da natureza, no pode ser concebido abstratamente ou universalmente, e no pode se estender posteriormente no entendimento do que o faz na realidade(6).

    Existe uma ideia que atravessa todo tratado de Espinoza que universais simples, abstraes simples da multiformidade sensorialmente determinada gravada em nomes e termos so meramente uma forma do conhecimento imaginativo vago. Cientificamente genunas, ideias verdadeiras no surgem dessa maneira. O estabelecimento das diferenas, dos acordos e das oposies das coisas , de acordo com Espinoza, o modo da experincia catica no controlada pela razo.

    Alm disso, seus resultados (do modo de percepo) so muito incertos e indefinidos, pois ns nunca descobriremos nada nos fenmenos naturais por seus significados, exceto propriedades acidentais, que nunca so claramente entendidas, a no ser que a essncia das coisas em questo sejam conhecidas previamente.(7)

    Para comear, a experincia catica formando universais nunca completa, assim qualquer novo fato pode derrubar a abstrao. Em segundo, ele no contm garantias que o universal dado realmente expressa uma forma universal genuna das coisas ao invs de uma mera fico subjetiva.

    Em oposio experincia catica e sua justificao filosfica em concepes empricas, Espinoza estabelece um modo mais elevado de conhecimento baseado em princpios e conceitos estritamente verificados expressando a essncia adequada da coisa. Estes no so mais universais, no mais abstraes da multiformidade sensorialmente determinada. Como eles so formados e de onde eles vm?

    Comentrios sobre este ponto normalmente correm da seguinte forma: essas ideias (princpios, conceitos universais) esto contidas no intelecto humano a priori e so trazidos por um ato de intuio ou autocontemplao. Nessa interpretao a posio de Espinoza se torna muito parecida com a de Leibniz ou Kant e tem pouco a ver com o materialismo. Mas, na realidade tudo muito diferente bem diferente, na

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    verdade. O pensamento do qual trata Espinoza no de maneira alguma o pensamento de um indivduo humano. Esse conceito no de maneira alguma formado em sua teoria seguindo o modelo de conscincia individual, mas na verdade orientado pela autoconscincia terica da humanidade, pela cultura espiritual-terica como um todo. A conscincia individual tomada em conta aqui enquanto encarna este pensamento, isto , pensamento que concorda com a natureza das coisas. O intelecto de um indivduo no contm necessariamente as ideias da razo e no a autocontemplao que pode descobrir elas nele, por mais completa que seja.

    Elas maturam e cristalizam no intelecto humano apenas gradualmente, atravs do trabalho infatigvel da razo visando sua prpria perfeio. Esses conceitos no so por qualquer razo evidentes para um intelecto que no se desenvolveu atravs desse tipo de trabalho. Eles simplesmente esto ausentes nela. Somente o conhecimento razovel tomado como um todo, ao se desenvolver, que elabora tais conceitos. Espinoza afirma firmemente essa viso por uma analogia com o aperfeioamento de instrumentos do trabalho material.

    Na medida que diz respeito ao mtodo para descobrir a verdade,

    a matria se encontra em p de igualdade com a fabricao de ferramentas materiais. [...] Se, para trabalhar o ferro, preciso um martelo e ele no pode ser acessvel a no ser que tenha sido fabricado; mas, para faz-lo, era preciso outro martelo e outras ferramentas, e assim at o infinito. Ns poderamos assim tentar provar em vo que os homens no tm poder de trabalhar o ferro.(8)

    Mas como os homens num primeiro momento usam os instrumentos fornecidos pela natureza para concluir peas muito simples de artesanato, trabalhosamente e imperfeitamente, e ento, quando estes eram terminados, forjava-se outras coisas mais difceis com menos trabalho e mais perfeio. [...] Ento, de alguma maneira, o intelecto, por sua fora nativa, produz para si mesmo instrumentos intelectuais, por meio dos quais adquire fora para realizar outras operaes intelectuais, e dessas operaes ganha novamente novos instrumentos, ou o poder de impulsionar ainda mais suas investigaes e assim procede, gradualmente, at que atinge o cume da sabedoria.(9)

    Tentem como quiser, este argumento dificilmente se assemelha viso de Descartes, para quem as ideias superiores da intuio estavam contidas diretamente no intelecto, ou de Leibniz, para quem essas ideias eram como veias no mrmore. De acordo comEspinoza, elas so inatas de uma maneira bem especfica como natural, isto , inerente natureza, as capacidades intelectuais, da mesma maneira que a mo humana, so originalmente instrumentos naturais.

    Aqui Espinoza tenta uma interpretao fundamentalmente materialista do inatismo dos instrumentos intelectuais, deduzindo-os da organizao natural do homem ao invs do Deus de Descartes ou Leibniz.

  • 12

    O que Espinoza falhou em entender era o fato de que os instrumentos intelectuais originalmente imperfeitos eram produtos do trabalho material e no da natureza. Ele acreditava que eles eram produtos da natureza, e neste ponto, e somente nele, reside a fraqueza de sua posio. Mas, esta fraqueza compartilhada at por Feuerbach. Este defeito no pode ser de maneira alguma considerado como uma vacilao idealista. apenas uma deficincia orgnica de todo o velho materialismo.

    O racionalismo de Espinoza deveria, portanto, ser estritamente distinguido do racionalismo de Descartes e Leibniz. Seu contedo de que a habilidade do homem de pensar inerente natureza do homem e explicada a partir da substncia interpretada de uma maneira claramente materialista.

    Quando Espinoza chama o pensamento de atributo, significa exatamente isso: a essncia da substncia no deveria ser reduzida somente extenso; pensar pertence quela natureza a qual a extenso pertence uma propriedade to inseparvel da natureza (ou substncia) como extenso e corporeidade. No podem ser concebidos separadamente.

    exatamente esta viso que motivou a crtica de Espinoza dos universais abstratos, da maneira pela qual escolsticos, ocasionalistas e empiristas nominalistas tentaram explicar a substncia. Esta a razo pela qual Espinoza tinha uma viso mais curta do caminho da existncia concreta para um universal abstrato. Esse modo incapaz de resolver o problema da substncia, sempre deixando uma brecha para as construes escolsticas e religiosas.

    Espinoza acreditava acertadamente que o caminho que conduz da existncia concreta ao vazio universal, o caminho explicando o concreto por uma reduo para uma abstrao vazia, era de pouco valor na perspectiva cientfica.

    "Assim, quanto mais a existncia concebida genericamente, mais concebida confusamente, e mais facilmente pode ser atribuda a um objeto determinado. Ao contrrio, quanto mais concebida particularmente, mais entendida claramente, e menos passvel de ser atribuda atravs da negligncia da ordem da Natureza, para qualquer coisa exceto seu prprio objeto."(10)

    No so necessrios comentrios para perceber que este ponto de vista muito mais prximo verdade do que o ponto de vista limitado do empirismo, que insiste que a essncia do conhecimento racional das coisas reside em ascenses regulares para abstraes cada vez mais vazias e gerais, se afastando da essncia especfica concreta das coisas em estudo. De acordo com Espinoza, esta forma no leva do vago para o claro, mas, ao contrrio, leva para longe do objetivo.

    O caminho para o conhecimento racional precisamente o inverso. Comea com o estabelecimento claro do princpio geral (mas no com um universal abstrato, de forma alguma) e procede como uma reconstruo mental passo a passo de uma coisa, enquanto raciocnio que deduz as propriedades particulares da coisa de sua causa universal (em ltima anlise, a partir da substncia). Uma ideia genuna, distinta do

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    simples universal abstrato, precisa conter necessidade, seguindo aquela que pode explicar todas as propriedades diretamente observveis da coisa. J os universais, eles refletem uma das propriedades mais ou menos acidentais da qual nenhuma outra propriedade deduzida.

    Espinoza explica esta sua concepo citando um exemplo da geometria uma definio da essncia do crculo. Se definimos um crculo como uma figura na qual todas as linhas retas traadas do centro da circunferncia so iguais, qualquer um pode ver que tal definio no explica nem a princpio a essncia do crculo, mas somente uma de suas propriedades. De acordo com o modo correto de definio, um crculo a figura descrita por qualquer linha a qual uma extremidade fixa e a outra livre. Essa definio, indicando omodo da origem da coisa e a compreenso da causa aproximada e, desse modo, contendo o modo de sua reconstruo mental, permite deduzir todas as suas outras propriedades, incluindo a apontada acima.(11)

    No se deve, portanto, proceder do universal, mas sim do conceito expressando a causa real e verdadeira da coisa, sua essncia concreta. A reside o ponto principal do mtodo de Espinoza.

    "Nunca podemos, enquanto estivermos preocupados com investigaes das coisas verdadeiras, elaborar quaisquer concluses das abstraes; devemos ser extremamente cuidadosos para no confundir aquilo que est somente no entendimento, com aquilo que a prpria coisa."(12)

    No a reduo do concreto ao abstrato ou a explicao do concreto atravs de sua incluso no universal que leva verdade, mas, ao contrrio, deduzir propriedades particulares da causa universal verdadeira. Nesta conexo, Espinoza distingue entre dois tipos de ideias gerais: notiones communes, ou conceitos expressando a causa universal real da origem da coisa, e os universais abstratos mais simples expressando simplesmente similaridades ou diferenas de muitas coisas individuais, notiones generalis universales. O primeiro inclui a substncia, o ltimo, por exemplo, a existncia em geral.

    Para trazer qualquer coisa sob a chefia do universal geral do existente significa explicar absolutamente nada sobre ele. Este costumava ser o vcuo preocupante dos escolsticos. Pior ainda a deduo das propriedades das coisas de acordo com as regras formais do silogismo ex abstractis do universal.

    difcil estudar e reconstruir mentalmente todo o processo do surgimento de todas as propriedades especficas particulares da coisa de uma e mesma causa universal verdadeiro expressa no intelecto pela notiones communes. Essa deduo meramente a forma de reconstruir no intelecto o real processo de emergncia da coisa da natureza, da substncia. Esta deduo no realizada de acordo com as regras do silogismo, mas de acordo com a norma da verdade, a norma do acordo, unidade do pensamento e extenso, do intelecto e do mundo externo.

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    Seria dificilmente apropriado discutir aqui as deficincias da concepo de Espinoza, pois elas so bem conhecidas: Espinoza falhou em entender a conexo entre o pensamento e a atividade prtica com objetos, entre teoria e prtica, o papel da prtica como o nico critrio objetivo da verdade de um conceito concreto. A partir da perspectiva formal, a viso de Espinoza, naturalmente, incomparavelmente mais densa e mais perto da verdade do que a de Locke.

    A teoria de Locke proporcionou uma transio fcil para Berkeley ou Hume, sem quaisquer alteraes essenciais, meramente atravs da interpretao de suas proposies. A posio de Espinoza no submissa a tal interpretao a princpio. No por nada que os positivistas contemporneos estigmatizam esta teoria como hierarquia metafsica, enquanto que Locke algumas vezes faz uma reverncia educada.

    A concepo de Espinoza da composio natural e formal dos conceitos universais concretos (esta parece ser a melhor maneira de processar seu termo notiones communes), como oposta aos simples universais abstratos, rica em antecipaes brilhantes da dialtica. Por exemplo, o conceito de substncia, um exemplo tpico e principal de tal conceito, obviamente visto como unidade de duas definies mutualmente exclusivas e, ao mesmo tempo, mutualmente supostas.

    Pensamento e extenso, dois atributos e dois modos de realizao da substncia, no possuem qualquer coisa abstrata-geral em comum e no podem ter qualquer coisa deste tipo em comum. Em outras palavras, no existe um aspecto da abstrao que poderia formar simultaneamente parte da definio de pensamento e da definio do mundo externo (mundo estendido).

    Este aspecto seria um universal que seria mais amplo do que a definio do mundo externo e do pensamento. Tal aspecto no seria compatvel nem com a natureza do pensamento nem com a de extenso. No refletiria qualquer coisa real fora do intelecto. A concepo caracterstica de Deus dos escolsticos precisamente construda fora de tais aspectos.

    De acordo com Malebranche, ambas as coisas estendidas e ideais so contempladas em Deus naquele elemento geral que media entre a ideia e a coisa como termo mdio, como um aspecto comum a ambas. E tal elemento comum (no sentido de um universal abstrato) entre pensamento e extenso no existe. O que comum a ambas sua unidade primordial. O Deus de Espinoza, portanto, equaliza natural mais pensamento, uma unidade de opostos, de dois atributos. Mas neste caso no sobre qualquer coisa do Deus tradicional. O que chamado de Deus , na verdade, a natureza estendida como um todo com o pensamento, como um aspecto de sua essncia. Somente a natureza como um todo possui o pensamento como seu atributo, como uma propriedade absolutamente necessria. Uma parte separada e limitada do mundo estendido no possui necessariamente esta propriedade. Por exemplo, uma rocha como modo no pensa de maneira alguma. Mas forma parte da substncia que pensa, seu modo, sua partcula e pode muito bem pensar se ela forma parte de uma estrutura apropriada conveniente, por exemplo, uma partcula do corpo humano.

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    (Isso era exatamente a maneira na qual Diderot decodificou a ideia principal do ensinamento de Espinoza: uma rocha pode sentir? Pode. Tudo que voc precisa fazer tritura-la, crescer uma planta no seu p e comer a planta, transformando a matria da rocha na matria do corpo consciente.)

    Entretanto, estes lampejos brilhantes da dialtica em Espinoza, combinados com uma viso fundamentalmente materialista do intelecto humano, foram enterradas no fluxo geral do pensamento metafsico dos sculos XVII e XVIII, sendo inundado por ele. A teoria lockeana da abstrao com seu vis em direo ao nominalismo, por algumas razes provou ser mais aceitvel para as cincias naturais e sociais da poca. O ncleo racional da dialtica de Espinoza aflorou somente na filosofia alem clssica no final do sculo XVIII e incio do sculo XIX e foi desenvolvimento em bases materialistas por Marx e Engels.

    Immanuel Kant, se esforando para reconciliar os princpios do racionalismo e empirismo com base nos pontos de vista idealistas-subjetivistas do conhecimento, foi levado a concluses que uma diviso rpida e difcil dos conceitos em duas classes, abstrato e concreto, era em geral impossvel. Como Kant coloca, absurdo perguntar se um conceito separado abstrato ou concreto, se for considerado fora de seus vnculos com outros conceitos, fora de seu uso.

    A expresso abstrato e concreto no se referem tanto aos prprios conceitos pois qualquer conceito um conceito abstrato quanto ao seu uso. E este uso pode novamente ter diferentes graus; de acordo com que se trata o conceito agora mais, agora menos abstrato ou concreto, isto , retira ou adiciona a ele agora mais, agora menos definies, escreve Kant em sua Lgica.(13)

    De acordo com Kant, um conceito, se for realmente um conceito ao invs de uma apelao vazia, o nome de uma coisa individual, sempre expressa algo em geral, um carter definitivo genrico ou especfico da coisa, e , assim, sempre abstrato, seja substncia ou giz, brancura ou virtude. Por outro lado, qualquer conceito enquanto tal , de uma maneira ou de outra, definido dentro de si mesmo, atravs de um nmero de suas caractersticas. Quanto mais tais caractersticas/definies so adicionados ao conceito, mais concreto ele , de acordo com a viso de Kant, isto , quanto mais definido, mais rico em definies. Quanto mais concreto ele , caracteriza de forma mais completa as coisas individuais empiricamente determinadas. Se um conceito definido atravs da incluso em gneros superiores, atravs da abstrao lgica, usado in abstracto; aplicado para um grande nmero de coisas e espcies individuais, mas o nmero de definies em sua composio menor.

    "Atravs do uso abstrato um conceito se aproxima de um gnero superior, atravs do uso concreto, ao contrrio, ele se aproxima do individual. [...] Atravs de conceitos muito abstratos, ns aprendemos pouco sobre muitas coisas; atravs de conceitos muito concretos, ns aprendemos muito sobre poucas coisas; entretanto, o que ganhamos em um lado, perdemos novamente no outro."(14)

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    O limite da concreticidade , assim, uma coisa individual sensorialmente contemplada, um fenmeno separado. Um conceito, entretanto, nunca alcana esse limite. Por outro lado, o conceito superior e mais abstrato sempre retm em sua composio certa unidade, certa sntese de definies diferentes que no se pode quebrar (atravs da formulao da definio final) sem tornar o conceito sem sentido, sem destru-lo enquanto tal. Por esta razo at os conceitos genricos superiores possuem uma medida de concreticidade.

    Aqui a tendncia emprica, a tradio lockeana aparentemente se faz sentir. Entretanto, Kant a combina com uma viso extremamente racionalista da natureza da sntese de definies de um conceito. Essa sntese ou combinao de definies no conceito (isto , a concreticidade do conceito) naturalmente no pode ser simplesmente orientada multiformidade emprica sensorialmente determinada dos fenmenos. Para reivindicar uma importncia terica, esta sntese precisa se basear em outro princpio a habilidade de combinar definies a priori, independentemente da experincia emprica. A concreticidade do conceito (isto , aquela unidade da diversidade, a unidade de diferentes definies que possuem uma importncia necessria e universal) , desse modo, explicada e deduzida por Kant da natureza da conscincia humana que alegadamente possui uma unidade original, a unidade transcendental da apercepo. Esta ltima precisamente a base genuna da concreticidade do conceito. Desta maneira, a concreticidade do conceito no possui vnculos slidos com as coisas-em-si-mesmas, com a concreticidade sensorialmente determinada.

    Hegel tambm assumiu que qualquer conceito era abstrato, se a abstratividade for interpretada como o fato de que um conceito nunca expressa em suas definies a realidade sensorialmente contemplada em sua totalidade. Hegel estava muito mais prximo deLocke do que de Mill ou do nominalismo medieval. Ele percebeu muito bem que definies dos conceitos sempre incluem uma expresso de algo geral, se somente porque conceitos sempre esto personificados nas palavras e as palavras so sempre abstratas, eles sempre expressam algo geral e so incapazes de expressar o absolutamente individual e nico.

    Portanto, qualquer um pensa abstratamente, e o pensamento mais abstrato quanto mais pobre em definies os conceitos usados. Pensamento abstrato no , de maneira alguma, uma virtude, mas, ao contrrio, uma deficincia. Esta a questo pensar concretamente, expressando atravs de abstraes a natureza especfica e concreta das coisas, ao invs de uma mera similaridade, meramente algo que coisas diferentes possuem em comum.

    O concreto interpretado por Hegel como unidade da diversidade, como unidade de definies diferentes e opostas, como expresso mental dos vnculos orgnicos, do sincretismo da definitividade abstrata independente de um objeto dentro de um objeto especfico determinado.

    Quanto ao abstrato, Hegel o interpreta (assim como Locke o fez, mas no Mill ou os escolsticos) como qualquer coisa geral, qualquer similaridade expressa em palavra

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    e conceito, uma simples identidade de um nmero de coisas com outra, seja ela uma casa ou brancura, homem ou valor, cachorro ou virtude.

    O conceito casa no , neste sentido, de maneira alguma diferente do conceito bondade. Ambos registram em suas definies os elementos comuns inerentes a classes, sries, gnero ou espcies inteiras de coisas individuais, fenmenos, estado espiritual etc.

    Se uma palavra, termo, smbolo, nome, expressa somente isto somente a similaridade abstrata de um nmero de coisas individuais, fenmenos ou imagens da conscincia isto ainda no um conceito, de acordo com Hegel. Isto meramente uma noo ou representao (Vorstellung) abstratamente geral, uma forma do conhecimento emprico, do estgio sensorial da conscincia. Esse pseudoconceito sempre possui certa imagem sensorialmente determinada para seu significado ou sentido.

    Quanto aos conceitos, eles no expressam simplesmente o geral, mas o geral que contm a riqueza dos particulares, compreendidos em sua unidade. Em outras palavras, um conceito genuno no somente abstrato (Hegel, naturalmente, no nega isso), mas tambm concreto no sentido que suas definies (o que a velha lgica chama caractersticas) so combinadas nele em um complexo nico expressando a unidade das coisas, ao invs de um simples aglomerado de acordo com as regras da gramtica.

    A concreticidade de um conceito reside, de acordo com Hegel, na unidade das definies, sua coeso significativa a nica maneira de revelar o contedo de um conceito. Fora de contexto, uma definio verbal individual abstrata e somente abstrata. Imersa dentro do contexto de um discurso terico cientfico, qualquer definio abstrata torna-se concreta.

    O sentido genuno, contedo genuno, de cada definio abstrata tomada separadamente revelado atravs de seus vnculos com outras definies do mesmo tipo, atravs da unidade concreta de definies abstratas. A essncia concreta de um problema , portanto, sempre expressa atravs do desvelamento de todas as definies necessrias do objeto em suas conexes mtuas, e no atravs de uma definio abstrata.

    por isso que um conceito, de acordo com Hegel, no existe como palavra, termo ou smbolo separado. Existe somente no processo de desvelamento em uma proposio, em um silogismo expressando a conexo de definies separadas, e somente ao final em um sistema de proposies e silogismos, somente em uma teoria integral e bem desenvolvida. Se um conceito arrancado dessa conexo, o que sobra dele somente o tegumento verbal, o smbolo lingustico. O contedo do conceito, seu significado, permanece para fora numa srie de outras definies, pois uma palavra tomada separadamente somente capaz de designar um objeto, nomeando-o, somente capaz de servir como signo, smbolo, marcador ou sinal.

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    Assim, o significado concreto de uma definio verbal separada est sempre contido em alguma outra coisa seja ela uma imagem sensorialmente determinada ou um sistema bem desenvolvido de definies tericas expressando a essncia do problema, a essncia do objeto, fenmeno ou evento.

    Se uma definio existe separadamente na cabea, isolada de uma imagem sensorialmente contemplada, desconectada dela ou com um sistema de outras definies, raciocinada abstratamente. Certamente no existe qualquer coisa louvvel sobre essa forma de raciocnio. Pensar abstratamente somente significa pensar sem relao, pensar na propriedade individual de uma coisa sem entender seus vnculos com outras propriedades, sem perceber o lugar e o papel de suas propriedades na realidade.

    Quem pensa abstratamente? pergunta Hegel; e sua resposta , Uma pessoa ignorante, no uma educada. Uma mulher do mercado pensa abstratamente (isto , unilateral, em definies desconexas e acidentais) se considerando todos os homens exclusivamente de seu prprio ponto de vista pragmtico limitado, vendo-os somente como objetos de trapaa; um capito pensa abstratamente se considera o soldado somente como algum para se espancar; uma pessoa ociosa na rua pensa abstratamente ao ver uma pessoa sendo levada para a execuo somente como um assassino e ignorando todas as suas outras qualidades, no interessado na histria de sua vida, as causas do seu crime, e assim por diante.

    Ao contrrio, um conhecedor de homens pensa concretamente no estar satisfeito com marcar fenmenos com ndices abstratos assassino, soldado, comprador. Ainda menos ser a viso do conhecedor de homens dessas marcas abstratas gerais como expresses da essncia de um objeto, fenmeno, homem, evento.

    Um conceito revelando a essncia da matria s desvelado atravs de um sistema, atravs de sries de definies expressando momentos, aspectos, propriedades, qualidades ou relaes separadas de um objeto individual, todos esses aspectos separados dos conceitos sendo vinculados por uma conexo lgica, no meramente concatenados em algum complexo gramaticalmente formal (por meio de palavras tais como e, ou, se... ento, etc.).

    O idealismo da concepo de Hegel do abstrato e do concreto consiste em que ele considera habilidade para sintetizar definies abstratas como uma propriedade primordial do pensamento, como um dom divino ao invs da conexo universal, expressa na conscincia, de uma realidade percebida sensorialmente, objetiva, verdadeira, independente de qualquer pensamento. O concreto em ltima anlise interpretado como o produto do pensamento.

    Isso tambm idealismo, naturalmente, mas muito mais inteligente do que o idealismo subjetivo de Kant.

    A filosofia burguesa do final do sculo XIX, que foi gradualmente deslizando em direo ao positivismo, provou ser incapaz de relembrar at mesmo as vises

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    de Kant e Locke, muito menos de Espinoza ou Hegel. Para tomar um exemplo particularmente claro Millacreditava que a teoria da abstrao de Locke e sua relao com a concreticidade um abuso de tais conceitos, que em sua viso eram estabelecidos conclusivamente pela escolstica medieval.

    Eu tenho usado as palavras concreto e abstrato no sentido anexado a eles pelos escolsticos, que, no obstante as imperfeies de sua filosofia, eram inigualveis na construo de linguagem tcnica, cujas definies, pelo menos na lgica, [...] tm sido raramente, acho eu, alteradas a no ser para serem estragadas. A escola de Locke, na viso deMill, cometeu um pecado imperdovel ao estender a expresso nome abstrato para todos os nomes gerais, isto , para todos os conceitos que so resultados de abstrao ou generalizao.(15)

    Resumindo, Mill declara:

    Por abstrato, ento, eu devo sempre, na Lgica adequada, significar o oposto de concreto; por nome abstrato, o nome de um atributo; por nome concreto, o nome de um objeto.(16)

    Este uso em Mill intimamente ligado com sua concepo idealista-subjetivista da relao entre pensamento e realidade objetiva.

    Mill no gosta da viso de Locke de que todos os conceitos (exceto os nomes individuais) so abstratos, todos eles sendo produtos de abstrair uma propriedade idntica, a forma geral de muitas coisas individuais.

    Na opinio de Mill, este uso priva toda uma classe de palavras de uma breve designao especfica, nomeadamente a classe dos nomes dos atributos. Por atributos ou propriedades, Mill quer dizer propriedades, qualidades ou relaes gerais entre coisas individuais que podem e devem ser consideradas abstratamente, isto , separadamente das coisas individuais, como objetos especficos.

    Assim, conceitos como casa ou fogo, homem ou cadeira no podem ser pensados de outra maneira que no como uma propriedade comum das coisas individuais. Casa, fogo, brancura, circularidade sempre pertencem a alguma ou outra coisa individual como sua caracterstica. No se pode conceber fogo como algo que existe separadamente dos fogos individuais. Brancura, tambm, no pode ser concebida como algo existindo separadamente, fora de coisas individuais e independentes delas. Todas essas propriedades gerais existem somente como formas gerais de objetos individuais, somente no individual e atravs do individual. Portanto, conceb-los abstratamente significaria conceb-los incorretamente.

    Nomes abstratos, nomes de atributos, so uma questo bastante diferente. Nomes abstratos (ou conceitos, que uma e a mesma coisa de acordo com Mill) expressa propriedades, qualidades e relaes gerais que no so somente podem, mas at mesmo devem ser concebidos independentemente dos objetos individuais, como objetos separados, apesar de que na contemplao direta eles aparecem como sendo o

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    mesmo tipo de propriedades gerais de coisas individuais, como brancura, rigidez, fogo ou cavalheiro.

    Mill inclui entre tais conceitos brancura, coragem, igualdade, similaridade, perpendicularidade, visibilidade, valor etc. Estes tambm so nomes gerais, mas os objetos destes nomes (ou o que na lgica formal se refere como o contedo desses conceitos) no deveriam ser concebidos como propriedades gerais de coisas individuais. Todas essas propriedades, qualidades ou relaes so apenas erroneamente tomadas para serem propriedades gerais das prprias coisas (individuais), diz Mill. Na verdade, todos esses objetos existem no nas coisas, mas fora delas, independentemente delas, ainda que eles se fundem com elas na percepo do ato, aparecendo como propriedades gerais das coisas individuais.

    Onde tais objetos existem, ento, se no nas coisas individuais?

    A resposta de Mill : em nosso prprio esprito. Estes so tanto Sentimentos, ou Estados de Conscincia, ou as Mentes que experimentam tais sentimentos, ou as Sucesses e Coexistncias, as Semelhanas e Diferenas, entre sentimentos ou estados de conscincia(17).

    Todos esses objetos deveriam ser concebidos abstratamente, isto , separadamente das coisas, precisamente porque eles no so propriedades, qualidades ou relaes dessas coisas. Concebendo eles separadamente das coisas significa conceb-los corretamente.

    O defeito fundamental desta delimitao reside em estipular que alguns conceitos deveriam ser vinculados na mente com as coisas individuais (fenmenos), dados em contemplao, enquanto outros deveriam ser considerados fora desta conexo, como objetos especficos concebidos muito independentemente de quaisquer fenmenos individuais que sejam.

    Por exemplo, valor em geral, valor enquanto tal, pode, de acordo com Mill, ser concebido na abstrao, sem analisar qualquer dos tipos de sua existncia fora da cabea. Isso pode e deve ser feito precisamente por razo de que ele no existe como um mtodo artificial de avaliao ou mensurao, como um princpio geral da atitude subjetiva do homem para com o mundo de coisas, isto , como certa atitude moral. No pode, portanto, ser considerado como uma propriedade das prprias coisas, fora da cabea, fora da conscincia.

    De acordo com este tipo de lgica, da qual Mill um representante clssico, precisamente por isso que o valor deveria ser considerado somente como um conceito, somente como um fenmeno moral a priori, independentemente das propriedades objetivas das coisas fora da cabea e opostas a elas. Enquanto tal, somente existe na autoconscincia, no pensamento abstrato. por isso que pode ser considerado abstratamente, e este ser o modo correto de considera-lo.

    Ns lidamos com os pontos de vista de Mill em tal detalhamento somente porque elas representam, de forma mais consistente e clara do que outras, a tradio antidialtica na interpretao do abstrato e do concreto como categorias lgicas. Essa

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    tradio se manifesta no somente como uma antidialtica, mas tambm como de modo geral antifilosfica. Mill conscientemente rejeita os argumentos desenvolvidos no mundo filosfico durante os ltimos sculos. Para ele, no somente Hegel ou Kant parecem nunca ter existido at os estudos de Locke aparecem na luz de uma sofisticao indesejada em lidar com coisas que so estabelecidas de forma absolutamente rigorosa e para sempre pelos Escolsticos medievais. por isso que todas as coisas parecem to simples para ele. O concreto aquilo que dado imediatamente na experincia individual como uma coisa individual, uma experincia individual, e um conceito concreto um smbolo verbal que pode ser usado como um nome de um objeto individual. Este smbolo, que no pode ser usado como nome direto de uma coisa individual, o abstrato. Algum pode dizer, Este um ponto vermelho. Algum pode no dizer, Isto vermelhido. O primeiro , dessa forma, concreto, o ltimo abstrato. Isso tudo que existe.

    Todos os neopositivista conservam a mesma distino, sendo a nica diferena de que o abstrato e o concreto (assim como todas as categorias filosficas) so aqui tratados como categorias lingusticas, e a questo de se frases expressando objetos abstratos so permeveis ou impermeveis, reduzida fecundidade ou convenincia de sua utilizao na construo de estruturas lingusticas. O abstrato aqui consistentemente tratado como tudo que no dado pela experincia individual como uma coisa individual e no pode ser definido em termos daqueles tipos de objetos que so dados na experincia, no podem ser um nome direto de objetos individuais que so ademais interpretados de forma idealista-subjetivista.

    Essa interpretao dos termos abstrato e concreto refutado por toda herana da histria da filosofia e pela filosofia marxista; ns agora passaremos para a exposio do tratamento dessas questes na ltima.

    Notas de rodap:

    (1) Cf. Wrterbuch der philosophischen Begriffe, Historisch-Quellenmssig bearbeitet von Dr. Rudolf Eisler, 3. Auflage, Bd. 1, Ernst Siegfried Mittler und Sohn, Berlin, 1910, S. 5. (retornar ao texto)

    (2) Cf. Carl Prantl, Geschichte der Logi im Abendlande, Bd. 3, Akademie-Verlag, Berlin, 1957, S. 363. (retornar ao texto)

    (3) C. A. Helvtius, De lEsprit; or Essay on the Mind and Its Several Faculties, J. M. Richardson, et al., London, 1809, p. 10. (retornar ao texto)

    (4) Ibid., p. 8. (retornar ao texto)

    (5) Thomas Hobbes, Elements of Philosophy, the First Section Concerning Body, R. & W. Legbourn, London, 1656, p. 27. (retornar ao texto)

    (6) Benedict de Spinoza, Improvement of the Understanding, Ethics and Correspondence, translated from the Latin by R. Elwes, M. Walter Dunne Publisher, Washington and London, 1901, p. 26. (retornar ao texto)

    (7) Benedict de Spinoza, op. cit., pp. 8-9. (retornar ao texto)

    (8) Ibid., p. 9. (retornar ao texto)

    (9) Ibid., pp. 9-10. (retornar ao texto)

    (10) Benedict de Spinoza, op. cit., p. 17. (retornar ao texto)

    (11) Ibid., pp. 32-33. (retornar ao texto)

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    (12) Ibid., p. 31. (retornar ao texto)

    (13) Immanuel Kants Logik, 2. Auflage F. Meiner, Leipzig, 1876, S. 109. (retornar ao texto)

    (14) Ibid. (retornar ao texto)

    (15) J. S. Mill, A System of Logic Ratiocinative and Inductive, Longmans, Green and Co., London, 1900, pp. 17-18. (retornar ao texto)

    (16) Ibid., p. 18. (retornar ao texto)

    (17) J. S. Mill, op. cit., p. 49. (retornar ao texto)

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    3. A Definio do Concreto em Marx

    Marx define o concreto como a unidade da diversidade(1). Essa definio pode parecer paradoxal a partir da perspectiva da lgica formal tradicional: a reduo da diversidade sensorialmente determinada na unidade aparece, primeira vista, sendo a tarefa do conhecimento abstrato das coisas, ao invs do conhecimento concreto. Do ponto de vista dessa lgica, para perceber a unidade na diversidade sensorialmente percebida dos fenmenos significa revelar os elementos abstratamente idnticos, gerais, que todos esses fenmenos possuem. Essa unidade abstrata, gravada na conscincia por meio de um termo geral, parece ser, primeira vista, aquela mesma unidade que a nica coisa a ser tratada na lgica.

    De fato, se se interpretar a transio da contemplao e noo viva do conceito, a partir do estgio sensorial do conhecimento para o racional, somente como reduo da diversidade sensorialmente determinada para a unidade abstrata, a definio de Marx certamente ir parecer dificilmente justificvel em termos lgicos.

    A grande questo , entretanto, que as opinies de Marx so baseadas na concepo do pensamento, seus objetivos e tarefas, muito diferentes daquelas sobre as quais a velha lgica, no-dialtica construiu sua teoria. Isso refletido no somente na substncia da soluo de problemas lgicos, mas na terminologia tambm. E isso inevitvel:

    Cada novo aspecto de uma cincia implica uma revoluo de seus termos tcnicos.(2)

    Quando Marx define o concreto como unidade da diversidade, ele assume uma interpretao dialtica de unidade, diversidade e de sua relao. Na dialtica, unidade interpretada em primeiro lugar como conexo, como interconexo e interao de diferentes fenmenos dentro de certo sistema ou aglomerao, e no como semelhana abstrata desses fenmenos. A definio de Marx assume exatamente esse significado dialtico do termo unidade.

    Se se desvela um pouco a frmula aforisticamente lacnica de Marx, sua definio do concreto significa literalmente o seguinte: oconcreto, concreticidade, , primeiros de tudo, sinnimo dos elos reais entre fenmenos, de concatenao e interao de todos os aspectos e momentos do objeto dado ao homem em contemplao e em noo. O concreto , desse modo, interpretado como uma totalidade internamente dividida das vrias formas de existncia do objeto, uma combinao nica do que caracterstico apenas do objeto dado. Unidade assim concebida percebida no atravs da similaridade dos fenmenos um com o outro, mas, ao contrrio, atravs de suas diferenas e oposies.

    Essa concepo de unidade da diversidade (ou concreticidade) no meramente diferente da que a velha lgica procedia, e sim seu oposto direto. A concepo

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    aproxima-se do conceito de integridade ou totalidade. Marx usa esse termo naqueles casos em que ele precisa caracterizar o objeto como um todo integral unificado em todas suas diversas manifestaes, como um sistema orgnico de fenmenos mutuamente condicionados em contradio a uma concepo metafsica dele como um aglomerado mecnico de partes constituintes imutveis que so vinculados um ao outro somente externamente, mais ou menos de forma acidental.

    O aspecto mais importante da definio de concreto de Marx que o concreto tratado, primeiro de tudo, como uma caracterstica objetiva da coisa considerada bastante independentemente de qualquer evoluo que possa ter ocorrido no assunto do conhecimento. O objeto concreto por e nele mesmo, independente de ser concebido pelo pensamento ou percebido pelos rgos sensoriais. Concreticidade no criada no processo de reflexo do objeto pelo sujeito, tanto no estgio sensorial do reflexo ou no estgio lgico-racional.

    Em outras palavras, o concreto , primeiro de tudo, o mesmo tipo de categoria objetiva como qualquer outra categoria da dialtica materialista, como o necessrio e o acidental, essncia e aparncia. Ele expressa a forma universal de desenvolvimento da natureza, sociedade e pensamento. No sistema das opinies de Marx, o concreto no , de forma alguma, um sinnimo para o contemplado imediatamente, sensorialmente determinado.

    Na medida em que o concreto oposto a o abstrato, o ltimo tratado por Marx, em primeiro lugar, objetivamente. Para Marx, ele no , de forma alguma, um sinnimo do puramente ideal, do produto da atividade mental, um sinnimo do fenmeno subjetivamente psicolgico ocorrendo somente no crebro do homem. Mais de uma vez Marx usa este termo para caracterizar fenmenos e relaes reais existindo fora da conscincia, independentemente se so refletidos na conscincia ou no.

    Por exemplo, Marx fala em O Capital do trabalho abstrato. A abstraticidade aparece aqui como uma caracterstica objetiva da forma cujo trabalho humano assume na produo de mercadorias desenvolvida, na produo capitalista. Em outro lugar ele enfatiza que a reduo de diferentes tipos de trabalho a um trabalho uniforme simples desprovido de quaisquer distines

    uma abstrao que se faz diariamente no processo da produo social; no uma abstrao maior nem menos real que a reduo a ar de todos os corpos orgnicos(3).

    A definio de ouro como o ser material da riqueza abstrata tambm expressa sua funo especfica no organismo da formao capitalista e no na conscincia do terico ou trabalhador prtico, de forma alguma.

    Esse uso do termo abstrato no um capricho terminolgico de Marx: est vinculado com a prpria essncia de suas opinies lgicas, com a interpretao dialtica da relao das formas de pensamento e aquelas da realidade objetiva, com o ponto de vista da prtica (atividade sensorial envolvendo objetos) como um critrio da verdade das abstraes do pensamento.

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    Esse uso pode ser explicado ainda menos como um retrocesso ao hegelianismo: contra Hegel que a proposio de Marx direcionada para o efeito que

    a categoria econmica mais simples, o valor de troca [...] s pode pois existir sob a forma de relao unilateral e abstrata de um todo concreto, vivo, j dado(4).

    O abstrato nesse tipo de contexto, muito frequente em Marx, assume o significado do simples, pouco desenvolvido, unilateral, fragmentado, puro (isto , sem a complicao de qualquer deficincia deformadora). No preciso dizer que o abstrato neste sentido pode ser uma caracterstica objetiva dos fenmenos reais, e no somente dos fenmenos da conscincia.

    O estado de pureza (determinao abstrata) em que apareceram no mundo antigo os povos comerciantes fencios, cartagineses determinado pela prpria predominncia dos povos agricultores(5); no era, naturalmente, o resultado da predominncia do poder abstrato do pensamento dos fencios ou dos estudiosos escrevendo a histria da Fencia. O abstrato neste sentido no , de forma alguma, o produto e resultado do pensamento. Esse fato s um pouco dependente do pensamento como a circunstncia que a lei abstrata de multiplicao existe somente para plantas e animais.

    De acordo com Marx, o abstrato (assim como seu equivalente, o concreto) uma categoria da dialtica como a cincia das formas universais de desenvolvimento da natureza, sociedade e pensamento, e nesta base tambm uma categoria da lgica, pois dialtica tambm a Lgica do Marxismo.

    Esta interpretao objetiva da categoria do abstrato direcionada contra todos os tipos da lgica e epistemologia neokantiana que opem, de forma grosseiramente metafsica, formas puras de pensamento a formas da realidade objetiva. Para essas escolas da lgica, o abstrato somente uma forma do pensamento, enquanto o concreto, uma forma de uma imagem sensorialmente determinada. Esta interpretao, nas tradies mill-humeana e kantiana da lgica (por exemplo, Tchelpanov e Vvedensky na Rssia), estranha e hostil a prpria essncia da dialtica como lgica e teoria do conhecimento.

    A interpretao epistemolgica limitada (isto , essencialmente psicolgica, em ltima anlise) da categoria do abstrato e do concreto se torna firmemente enraizada na filosofia burguesa moderna. Aqui est um exemplo recente definies do Dicionrio Filosfico, por Max Apel e Peter Ludz:

    abstrato: divorciado de uma conexo determinada e considerado somente por si mesmo. Assim, abstrato adquire o significado conceitual, concebido, em oposio ao dado em contemplao.

    abstrao: o processo lgico de ascender, atravs da omisso das caractersticas, do dado em contemplao noo geral e do conceito dado a um conceito mais geral. Abstrao diminui o contedo e estende o volume. Oposto determinao.

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    concreto: o imediatamente dado em contemplao; conceitos concretos denotam o que contemplado, objetos individuais de contemplao. Oposto abstrao.(6)

    Esta definio unilateral (abstrao , naturalmente, separao mental, entre outras coisas, mas de maneira alguma pode ser reduzida a isto) varia insignificantemente de dicionrio a dicionrio. Tem sido polida em dzias de edies e tem se tornado geralmente aceita entre filsofos nos pases capitalistas. Isto certamente no prova de sua exatido.

    Um conceito concreto reduzido por estas definies para designar as coisas individuais sensorialmente contempladas, a um mero signo, ou smbolo. Em outras palavras, o concreto s est nominalmente presente no pensamento, somente na capacidade do nome que designa. Por outro lado, o concreto transformado em um sinnimo de naturalidade sensorial indefinida e sem interpretao. Nem o concreto, nem o abstrato podem, de acordo com essas definies, ser usados como caractersticas do conhecimento terico em se considerando seu contedo objetivo real. Eles caracterizam somente a forma do conhecimento: o concreto, a forma do conhecimento sensorial, e o abstrato, a forma do pensamento, a forma do conhecimento racional. Em outras palavras, eles pertencem a diferentes esferas da psique, a diferentes objetos. No existe qualquer coisa abstrata onde existe algo concreto, e vice-versa. Isso tudo que existe para essas definies.

    O problema da relao do abstrato com o concreto aparece em uma luz bem diferente do ponto de vista de Marx, o ponto de vista da dialtica como lgica e teoria do conhecimento.

    apenas primeira vista que essa questo pode parecer meramente epistemolgica, uma questo da relao da abstrao mental para a imagem sensorialmente percebida. Na verdade, seu contedo real muito mais amplo e profundo do que isso, e inevitavelmente suplantado por um problema bem diferente ao longo da anlise o problema da relao do objeto consigo mesmo, isto , a relao entre elementos diferentes da realidade objetiva dentro de certo todo concreto. por isso que o problema resolvido, primeiro de tudo, dentro da estrutura da dialtica objetiva o ensino das formas universais e leis do desenvolvimento da natureza, sociedade e prprio pensamento e no no plano epistemolgico limitado, como neokantianos e positivistas fazem.

    Na medida em que Marx trata o aspecto epistemolgico do problema, ele interpreta o abstrato como qualquer reflexo assimtrico, incompleto e unilateral do objeto na conscincia, como oposto ao conhecimento concreto que est bem desenvolvido, completo, conhecimento global. No importa, de maneira alguma, em qual forma psicolgica subjetiva este conhecimento experimentado pelo sujeito em imagens sensorialmente percebidas ou em forma verbal abstrata. A lgica (dialtica) de Marx e Lenin estabelece suas distines em considerao ao sentido e significado objetivo do conhecimento, e no em considerao da forma subjetiva da experincia. Conhecimento pobre, escasso, assimtrico pode ser assimilado na forma

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    de uma imagem sensorial. Neste caso, a lgica ter que definir isso como conhecimento abstrato, apesar de ter sido incorporado em uma imagem sensorialmente determinada. Ao contrrio, a forma verbal abstrata, a linguagem das frmulas, pode expressar um conhecimento profundo e global, bem desenvolvido, rico, isto , conhecimento concreto.

    Concreticidade no nem um sinnimo para e nem um privilgio da forma imagem-sensorial do reflexo da realidade na conscincia, somente como abstraticidade no caracterstica especfica do conhecimento terico racional. Certamente falamos, na maioria das vezes, da concreticidade da imagem sensorial e do pensamento abstrato.

    Uma imagem sensorial, uma imagem de contemplao, pode ser tambm, com a mesma frequncia, bastante abstrata. Suficiente relembrar a figura geomtrica ou o trabalho da pintura abstrata. E vice-versa, pensando em conceitos pode e at mesmo deve ser concreto no sentido pleno e rigoroso da palavra. Sabemos que no existe verdade abstrata, que a verdade sempre concreta. E isso no significa, de forma alguma, que somente a imagem sensorialmente percebida, a contemplao de uma coisa individual pode ser verdadeira.

    O concreto no pensamento tambm aparece, de acordo com a definio de Marx, na forma de combinao (sntese) de numerosas definies. Um sistema logicamente coerente de definies precisamente aquela forma natural na qual a verdade concreta realizada no pensamento. Cada uma das definies formando parte do sistema reflete naturalmente somente uma parte, um fragmento, um elemento, um aspecto da realidade concreta e por isso que abstrato se tomado por ele mesmo, separadamente de outras definies. Em outras palavras, o concreto realizado no pensamento atravs do abstrato, atravs de seu prprio oposto, e impossvel sem ele. Mas isso , em geral, a regra ao invs da exceo na dialtica. Necessidade est somente no mesmo tipo de relao com chance, essncia com aparncia, e assim por diante.

    Por outro lado, cada uma das numerosas definies formando parte do sistema conceitual de uma cincia concreta, perde sua abstratividade nele, sendo preenchido com o sentido e significado de todas as outras definies conectadas com ele. Definies abstratas separadas se complementam mutuamente, assim a abstraticidade de cada um deles, tomados separadamente, superada. Em resumo, aqui reside a dialtica da relao do abstrato e do concreto no pensamento que reflete o concreto na realidade. A dialtica do abstrato e do concreto ao longo do processamento terico do material da contemplao viva, processando os resultados da contemplao e noes em termos de conceitos o assunto de estudo do presente trabalho.

    Naturalmente, no pretendemos oferecer uma soluo exaustiva para o problema do abstrato e do concreto em todos os estgios do processo de conhecimento em geral, em todas as formas de reflexo. A formao da imagem sensorialmente percebida da coisa envolve sua prpria dialtica do abstrato e do concreto, e uma bastante complicada, e isso ainda mais verdade para a formao da noo conectada com a

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    linguagem, com palavras. Memria, que tambm desempenha um papel enorme no conhecimento, contm em sua estrutura uma relao no menos complexa do abstrato ao concreto. Estas categorias tambm tm uma influncia na criatividade artstica. Somos compelidos a deixar de lado todos esses aspectos, como tema de um especial estudo.

    O caminho do conhecimento que leva da contemplao viva ao pensamento abstrato e dele para a prtica, um caminho bastante complicado. Uma transformao complexa e dialeticamente contraditria do concreto no abstrato e vice-versa ocorre em cada elo desse caminho. At mesmo a sensao nos d um retrato mais spero da realidade do que realmente , at mesmo na percepo direta existe um elemento de transio do concreto na realidade ao abstrato na conscincia. A transio da contemplao viva ao pensamento abstrato no , de forma alguma, a mesma coisa que o movimento do concreto ao abstrato. Ela no , de forma alguma, reduzvel a este momento, embora o ltimo esteja sempre presente nela. a mesma coisa somente para aqueles que interpretam o concreto como sinnimo de uma imagem sensorial imediata, e o abstrato, como um sinnimo do mental, do ideal, do conceitual.

    Notas de rodap:

    (1) Marx, Karl. Contribuio Crtica da Economia Poltica. 3.ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 248. (retornar ao texto)

    (2) Marx, Karl. O Capital: Crtica da Economia Poltica. Livro I: O Processo de Produo do Capital. So Paulo: Boitempo, 2013, p. 102. (retornar ao texto)

    (3) Marx, Karl. Contribuio Crtica da Economia Poltica. 3.ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 15. (retornar ao texto)

    (4) Marx, Karl. Contribuio Crtica da Economia Poltica. 3.ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 248. (retornar ao texto)

    (5) Marx, Karl. Contribuio Crtica da Economia Poltica. 3.ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 257. (retornar ao texto)

    (6) APEL, Max; LUDZ, Peter. Philosophisches Wrterbuch [Dicionrio Filosfico]. Berlin: Gruyter, 1958, S. 4-5, 162. (retornar ao texto)