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Mayra de Paula Lioncio
Principais motivadores da evasão escolar no
Ensino Médio EJA
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
De São Paulo
2009
Mayra de Paula Lioncio
Principais motivadores da evasão escolar no
Ensino Médio EJA
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
De São Paulo
2009
Monografia apresentada na diretoria de pesquisa e pós-graduação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), como parte dos requisitos para avaliação final.
Orientadora: Profª Dra. Lucia Collet
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo verificar os principais motivadores da
evasão escolar. Observando alunos do ensino médio EJA (Educação para Jovens e
Adultos), há um elevado índice de evasão nas escolas por parte destes alunos, assim
tornando-se relevante a pesquisa sobre o assunto.
Alunos do EJA apresentam maiores dificuldades em realizar os trabalhos
escolares devido a seus afazeres diários e responsabilidades como chefes de família,
donas do lar, etc. Estima-se que a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou
mais seja de 10% da população em 2010, já em 2001/2002 a taxa de analfabetismo
funcional das pessoas desta mesma faixa etária chegava a 25%. Em comparação a
outros países europeus, o Brasil “ganha” em disparado (pesquisa realizada pelo IBGE
em 2000 referente a taxa de analfabetismos). A população de 15 anos de idade chega a
quase 14% da população enquanto a Itália apresentava na época 2% e Chile com um
pouco mais de 4% da população analfabeta. Desta forma surgem as seguintes
conclusões: A qualidade de ensino deve ser melhorada e deve-se combater a repetência
e a evasão escolar (IBGE. 2004). Daí a importância do diagnóstico oferecido, a partir
dele, podem ser propostas ações para diminuição da evasão escolar sobre tudo no ensino
médio EJA.
Conclui-se sobre a necessidade do desenvolvimento de um plano pedagógico
voltado especificamente ao ensino do EJA, valorizando as experiências do aluno e
levando em consideração o aprendizado anteriormente adquirido. Observando as
peculiaridades dos alunos do ensino médio EJA é necessário a realização de uma
adequação aos interesses deste público, visando uma efetiva busca pelo crescimento e
desenvolvimento intelectual, profissional e pessoal.
Palavras Chaves: Evasão Escolar – Jovens e Adultos – Ensino Médio.
ABSTRACTS
This study aimed to verify the key drivers of school dropout. Watching high
school students of EJA (Education for Youth and Adults), there is a high dropout rate in
schools by these students, thus making it relevant to research on the subject.
Students in adult education have more difficulty in performing school work due
to their daily duties and responsibilities as heads of households, housewives, etc. It is
estimated that the illiteracy rate among individuals aged 15 years or more is 10% of
brazilian population in 2010, back in 2001/2002 the rate of functional illiteracy of the
people of the same age reached 25%. Compared to other European countries, Brazil
"wins" in shot (survey conducted by IBGE in 2000 on the rate of illiteracy). The
population 15 years of age is nearly 14% of the population while Italy had the time 2%
and Chile with a little more than 4% of the population illiterate. Thus come the
following conclusions: The quality of teaching should be improved and should deal
with school failure and dropout (IBGE. 2004). Hence the importance of the diagnosis
offered, as it may make possible proposal of actions to reduce dropout on high school
adult education.
It is concluded on the need to develop an educational plan designed specifically
to teaching adults, highlighting the experiences of the student and taking into account
the previously acquired learning. Noting the peculiarities of high school students of
EJA, it is necessary to perform an adjustment to guarantee this audience interest, aiming
to an effective pursuit of growth and intellectual development, professional and
personal.
Keywords: Dropouts - Youth and Adults - Education.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1
2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 4
3. OBJETIVOS .................................................................................................................... 9
3.1. Objetivo Geral ........................................................................................................ ... 9
3.2. Objetivos Específicos ............................................................................................... 10
4. MÉTODO....................................................................................................................... 11
4.1 Participantes .............................................................................................................. 11
4.2 Material ..................................................................................................................... 12
4.3 Procedimentos........................................................................................................... 13
4.4 Plano de Análise dos Dados....................................................................................... 14
5. RESULTADOS .............................................................................................................. 15
5.1 Gráficos ..................................................................................................................... 17
5.1.1 Entrevistados que pensaram em abandonar os estudos .......................................... 23
5.1.2 Entrevistados que não pensaram em abandonar os estudos .................................... 28
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................................................. 33
7. CONCLUSÃO................................................................................................................ 40
8. ANEXOS ........................................................................................................................ 42
8.1 Modelo de Termo de consentimento livre e esclarecido ............................................. 42
8.2 Modelo de questionário ............................................................................................. 43
8.3 Termos de consentimento livre e esclarecido aplicados.............................................. 44
8.4 Questionários aplicados ............................................................................................. 45
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 46
1
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve por objetivo verificar os principais motivadores da
evasão escolar. Observando alunos do ensino médio EJA (Educação para Jovens e
Adultos), há um elevado índice de evasão nas escolas por parte destes alunos, assim
tornando-se relevante a pesquisa sobre o assunto.
Alunos do EJA apresentam maiores dificuldades em realizar os trabalhos
escolares devido a seus afazeres diários e responsabilidades como chefes de família,
donas do lar, etc. Paulo Freire ao desenvolver trabalhos de alfabetização,
fundamentados em métodos e objetivos que buscavam adequar o trabalho à
especificidade dos alunos, fez emergir a consciência de que alfabetizar adultos requeria
o desenvolvimento de um trabalho diferente daquele destinado às crianças nas escolas
regulares. As necessidades e possibilidades daqueles educandos exigiam o
desenvolvimento de propostas adequadas a elas.
Uma das possíveis causas da evasão escolar a serem investigadas é a dificuldade
em conciliar atividades e preocupações, porém nem sempre essa pode ser a principal
causa. Ficando em aberto quando se pensa no que levou o aluno a se matricular no
ensino médio EJA e desistir sem nem mesmo comparecer uma só vez nas aulas,
comparecer por um período curto de tempo, ou ainda ao pensar naqueles que
comparecem por um tempo maior apresentando bom desempenho e, em sala de aula
informam que estão pensando em parar de estudar devido à falta de motivação por parte
de seus familiares.
Observando essa realidade fica o questionamento: “qual o principal motivador a
levar estes alunos a se evadirem das escolas”.
Ao iniciar uma aula o professor procura primeiramente a conquista do aluno na
busca de novos conhecimentos, porém estando no sistema de ensino regular, os alunos
do EJA são submetidos a propostas e práticas inadequadas tanto aos seus perfis
socioeconômico-culturais quanto às suas possibilidades e necessidades reais. Isto
porque a tendência predominante das propostas curriculares é a da fragmentação do
conhecimento, e a da organização do currículo numa perspectiva cientificista,
excessivamente tecnicista e disciplinarista, que dificulta o estabelecimento de diálogos
entre as experiências vividas, os saberes anteriormente tecidos pelos educandos e os
conteúdos escolares (OLIVEIRA e PAIVA, 2004).
2
Neste sentido, pode se dizer que a postura do professor é algo de grande
influência, pois alunos do ensino médio – EJA, são pessoas que já tiveram alguma
experiência com o ambiente escolar e muitas vezes se vêem deslocados dessa realidade.
Jovens e Adultos se vêem excluídos do universo escolar, pensando que estão num local
que não é adequado á eles e que foram “recuperar o tempo perdido”. Grande parte
destes estudantes demonstram pouca afinidade com o ambiente escolar, ficando ainda
pior quando unidos ao ensino regular, pois a idade, vivência social e cultural dos
educandos são ignoradas, mantendo-se nas propostas pedagógicas a lógica infantil dos
currículos destinados às crianças que freqüentam a escola regular. (OLIVEIRA. 2007)
É importante observar a postura do professor, visto que estes alunos possuem
uma gama de conhecimento que deve ser levada em conta em seu processo de
aprendizagem para que, realmente este novo conhecimento possa fazer sentido a esse
aluno. Isso significa que alguns conteúdos formais clássicos devem ser abandonados em
prol de outros que sejam operacionais, ou seja, que possam contribuir para uma
capacitação da ação social dos alunos. Assim sendo, a principal preocupação do
trabalho pedagógico, bem como dos processos de avaliação, não deve ser o "saber
enciclopédico", mas saberes que contribuam para o desenvolvimento da consciência
crítica e para esta capacitação, sem que isso signifique uma opção por qualquer tipo de
minimização, como foi e ainda é preconizado por alguns. Não se trata de reduzir
conteúdos para "facilitar", mas de adequar conteúdos a objetivos mais consistentes do
que o da mera repetição de supostas verdades universais desvinculadas do mundo da
vida (OLIVEIRA. 2007).
No momento em que o aluno faz a matrícula acreditando retornar aos estudos,
uma sala se forma, professores são contratados e, ao verificar o número de alunos
evadidos no meio do bimestre, os responsáveis são levados unir salas devido à
diminuição de alunos freqüentes. O que leva outros alunos a desistirem também por se
perceberem “sozinhos” (OLIVEIRA. 2007, grifo nosso).
A média de anos de estudo da população brasileira é de 10 anos ou mais, sendo
observado o numero maior entre as mulheres. Uma pesquisa realizada em 2002 mostra
que os jovens entre 18 e 24 anos estudam ou estudaram por pelo menos 08 anos o que é
considerado uma baixa escolaridade da população brasileira já que este nível deveria ter
sido alcançado aos 14 anos de idade. (IBGE. 2004)
Estima-se que a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais seja de
10% da população em 2010, já em 2001/2002 a taxa de analfabetismo funcional das
3
pessoas desta mesma faixa etária chegava a 25%. Em comparação a outros países
europeus, o Brasil “ganha” em disparado (pesquisa realizada pelo IBGE em 2000
referente a taxa de analfabetismos). A população de 15 anos de idade chega a quase
14% da população enquanto a Itália apresentava na época 2% e Chile com um pouco
mais de 4% da população analfabeta. Desta forma surgem as seguintes conclusões: A
qualidade de ensino deve ser melhorada e deve-se combater a repetência e a evasão
escolar (IBGE. 2004). Daí a importância do diagnóstico oferecido, a partir dele, podem
ser propostas ações para diminuição da evasão escolar sobre tudo no ensino médio EJA.
4
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Ao discorrer sobre as diferentes dificuldades enfrentadas por Jovens e Adultos
do Ensino Médio – EJA e pensar nos principais motivadores para evasão escolar, é
necessário também conhecer um pouco acerca da história da educação brasileira.
Em meados de 1824 é outorgada a primeira Constituição que trata o Ensino
Primário na forma de Lei. “A instrução Primária é Gratuita a todos os cidadãos (Artigo
179)”. Mas as Leis tratam do assunto de forma muito substancial, pois não permeia os
caminhos a serem percorridos para que saiam efetivamente do papel. Constam em 1827
à criação de escolas de Primeira Letra em todas as cidades, vilas e lugarejos, escolas de
meninas nas cidades mais numerosas, dispositivos que nunca foram cumpridos. As
primeiras escolas normais são criadas em 1830 no Rio de Janeiro e Bahia. Na capital do
Império (1875) foram instituídas duas escolas normais uma para cada sexo,
transformadas depois em escola únicas em 1880, quando iniciou realmente o
desenvolvimento das escolas normais no Brasil. (ARANHA, 1997)
O ensino funcionava de forma desordenada. Para entrar no ensino Secundário
não era necessário cursar o ensino Primário. O ensino Secundário tinha sua freqüência
livre, sem organização hierárquica das matérias e das séries. Para o ingresso no ensino
Superior também não era necessário ter cursado o ensino Secundário.
A Constituição de 1934 foi um grande marco no tocante a Educação deste país,
somente então, aparecem juntas, leis que tratam da Gratuidade e Obrigatoriedade do
ensino de Primeiro Grau: “Ensino Primário Integral gratuito e a freqüência obrigatória,
extensiva aos adultos”. Depois disso nunca o conceito de gratuidade e obrigatoriedade
deixou de fazer parte de nossa Constituição. Na mesma Constituição (artigo 149) diz:
“A educação é direito de todos”. Apesar da existência desta prerrogativa, grande parte
dos brasileiros encontravam-se a margem desta realidade. E pela primeira vez obrigam-
se os poderes públicos a destinarem um mínimo de investimento na educação
(ARANHA, 1997).
Tomando como base estes dados históricos observa-se a elitização da educação e
um descaso por parte dos poderes públicos em relação à grande parte dos brasileiros.
Nunca se notou efetivamente uma preocupação ou interesse em “educar”. Criaram-se
leis que garantiam o direito à educação, mas como não se tratavam de uma
5
obrigatoriedade e não passavam de convencionalidades, serviam apenas de enfeite aos
papéis ociosos. (PONCE, 1994)
Em meados de 1964 o regime militar organiza o MOBRAL (movimento
Brasileiro de Alfabetização), onde é amplamente ofertada a todos os cantos deste país.
As finalidades da educação no MOBRAL consistiam em práticas e técnicas de ler,
escrever e contar, motivar o aluno, com alvo à formação acelerada de mão de obra
voltada para o mercado de trabalho. Através da educação buscou-se contribuir para a
política de desenvolvimento instaurada na época (Jannuzzi, 1979; Paiva, 1973; Haddad;
Pierro, 2000).
Surge em 1978 através da iniciativa privada o Telecurso 2000, destinada aos
jovens e adultos na faixa dos 15 anos ou mais. O Telecurso 2000 é um sistema supletivo
que abarca o ensino fundamental e médio e que foi desenvolvido pela Fundação
Roberto Marinho e pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP). Esta
modalidade da educação de jovens e adultos é realizada a distância ou semi-
presencial e tem como objetivo elevar o nível de escolaridade dos trabalhadores
brasileiros.
Os professores que lecionavam na época eram frutos do mesmo sistema de
ensino, logo, reproduziam as mesmas deficiências do processo (desordenado,
desqualificado e sem uma seqüência lógica). Esta grande deficiência faz um convite a
pensar sobre o momento atual da educação.
Direcionando o enfoque ao Ensino Médio – EJA, uma das hipóteses que se
levanta para motivação da evasão escolar é a postura do professor em transmitir “seu
conhecimento”, em que o faz verticalmente*, não levando em conta a singularidade
deste aluno, que possui um conhecimento prévio de acordo com suas vivências,
tornando-se um entrave à apreensão do que é visto em ambiente escolar e realmente
aplicado no seu dia-a-dia. Percebe-se a dificuldade na construção de um novo
conhecimento, pois não há espaço no contexto escolar para que consigam fazer a
transposição de suas experiências (ABRANTES 1992).
______________________________
*Verticalmente: Que está organizado segundo um esquema hierárquico.
6
Durante muito tempo a Educação de Jovens e Adultos teve seu eixo enraizado na
recuperação do tempo perdido destes Jovens e Adultos, o que sempre ocasionou em
quase todos os casos numa perda relativa na qualidade da relação ensino-aprendizagem.
Faltam políticas condizentes para mudança deste perfil de realidade, materiais que
facilitem a construção de novos conhecimentos, uma vez que, muitas vezes os materiais
didáticos dispostos a “educação de todos” são mais voltados para os ternos conhecidos
como “regulares”, estando no sistema de ensino regular, esses jovens são submetidos a
propostas e práticas inadequadas tanto aos seus perfis socioeconômico-culturais quanto
às suas possibilidades e necessidades reais. Isto porque a tendência predominante das
propostas curriculares é a da fragmentação do conhecimento, e a da organização do
currículo numa perspectiva cientificista, excessivamente tecnicista e disciplinarista, que
dificulta o estabelecimento de diálogos entre as experiências vividas, os saberes
anteriormente tecidos pelos educandos e os conteúdos escolares, e é claro que não
podemos nos esquecer da falta de investimento na qualificação dos profissionais da área
da educação, já que o perfil da clientela não deixa de ser diferenciado se formos colocar
na balança comparativa com o ensino regular. (ABRANTES 1992).
Vivemos num mundo amplamente globalizado onde as mudanças ocorrem de
uma forma muito rápida, como num piscar de olhos e em meio a todas estas
transformações estão inseridos todas estas pessoas que por uma série de fatores não
tiveram a oportunidade de iniciar ou dar continuidade aos seus estudos ou ainda tiveram
seus estudos interrompidos bruscamente. Em muitos dos casos esta problemática
ocorreu por um motivo: devido a sua condição sócio-econômica tiveram muitas vezes
de realizar a difícil escolha da escola ou de sua sobrevivência e lançaram mão de tudo
para ir “caçar”, ou seja, não estarão mais no sistema educativo devido ao fato de terem
de trabalhar para garantir o seu sustento e o de sua família.
Permanentemente o aluno da EJA é “lembrado” que aquele lugar que ele ocupa
naquela classe configura uma distorção. Em alguns momentos é utilizado um linguajar
infantilizante, o mesmo da escola regular, por não entender que desqualifica o aluno ao
tratá-lo de maneira artificialmente infantil. Muitos destes Jovens e Adultos são frutos de
uma exclusão histórica, pela impossibilidade de acesso a escolarização, seja por sua
saída da educação regular, a necessidade da suplência a fim de retomar seus estudos.
São várias as vertentes: vemos de um lado o Adulto ou Jovem já inserido no mercado de
trabalho, alias, um mercado que tem como cenário a constante ebulição de processos e
exigências cada vez maiores e se vem quase que na obrigação de ampliar sua
7
qualificação com “um diploma” que talvez o qualificará para brigar por perspectivas
melhores no que tange seu universo profissional ou manter-se no espaço já conquistado.
De outro lado temos muitos alunos que além de manter-se numa posição de relativa
equivalência no que tange ao fato de lutar por uma posição “neste tal mercado de
trabalho”, almejam chegar a cursar uma Universidade e assim poder garantir sua
melhora profissional e uma possível mudança no que se refere o seu padrão social-
econômico. (OLIVEIRA, 2007)
“Fundada nos valores da democracia, da participação, da eqüidade e
solidariedade social, a EJA deve permitir aos educandos mudar a qualidade de sua
intervenção na realidade. Seu objetivo primeiro é, pois, a construção de novas formas de
participação e de exercícios pleno e consciente dos direitos de cidadão entendida como
uma das dimensões e adultos, deve articular-se à educação nacional”. (OLIVEIRA e
PAIVA, 2004)
Os adultos que chegam até a sala de aula, para concretizar mais esta etapa de
seus estudos, sabem muito bem o que querem e todos mesmo que há alguns anos atrás,
já tiveram experiências escolares. Este mesmo aluno traz consigo uma enorme bagagem
contendo muitas de suas experiências, e este riquíssimo universo não pode ficar de fora
desta realidade, os profissionais da educação precisam ter em mente que trazer
propriamente o conteúdo pronto muitas vezes não agrega valor algum há este aluno,
pois este mesmo conteúdo se descontextualiza de seu cotidiano, não fazendo sentido
algum a ele e servindo também de agravante no que se refere à aquisição do saber, pode
ainda trazer conseqüências ligadas a desmotivação. Paulo Freire visando um abrangente
aprender remonta um homem que é sujeito ativo em seu processo histórico, onde nos
remete que este mesmo homem faz e refaz sua história continuamente. Enfatiza a
postura do educador frente ao educando, em que este deve posicionar-se como
facilitador na busca do conhecimento, evitando a verticalização na passagem desse novo
saber, pois se a dialética se faz presente é evidente que a singularidade do aluno integra
todo o contexto de apreensão:
“Aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do
que meramente repetir lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar
para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito (Freire 1966
p.134).”
“Uma de minhas tarefas centrais como educador progressista é apoiar o
educando para que ele mesmo vença suas dificuldades na compreensão ou na
8
inteligência do objeto e para que sua curiosidade, compensada vença e gratificada pelo
êxito da compreensão alcançada, seja mantida e, assim, estimulada a continuar a busca
permanente que o processo de conhecer implica. Que me seja perdoada a reiteração,
mas é preciso enfatizar, mais uma vez: ensinar não é transferir a inteligência do objeto
ao educando, mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne capaz
de inteligir e comunicar o inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim escutar o
educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória, e ao
escutá-lo, aprendo a falar com ele.” (Freire 1966 p.134).
Em SMOLKA(1988):“O discurso interior traz as marcas do discurso social e o
discurso escrito traz as marcas do discurso interior”.
O discurso interior é de grande importância no processo de aquisição do
conhecimento, considerando que este traz uma grande gama de experiências, que estão
intimamente ligadas às memórias afetivas e significações e, a partir destas experiências
o aluno ressignifica o novo conhecimento baseado em seu repertório adquirido através
das diferentes exposições sócio-culturais.
Se o conteúdo visto não faz nenhum sentido para o aluno, este poderá se sentir
incapaz e inferior aos outros, culminando numa cobrança excessiva sobre si, a não
apreensão do conhecimento e até mesmo o abandono da escola (SMOLKA,1988).
9
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Verificar os principais motivadores da evasão escolar entre os alunos Jovens e
Adultos do ensino médio - EJA.
10
3.2. Objetivos Específicos
Verificar os principais motivadores da evasão escolar entre os alunos do ensino
médio - EJA, observando os seguintes aspectos.
• Motivação;
• Falta de apoio dos familiares;
• Dificuldade na aprendizagem / postura do professor;
• Dificuldade em conciliar o trabalho e a escola.
11
4. MÉTODO
4.1 Participantes
Participaram desta pesquisa 101 (cento e um) alunos, Jovens e Adultos de ambos
os sexos, com idades entre 18 e 60 anos do ensino médio – EJA, de uma Escola
Estadual do extremo leste da cidade de São Paulo, do bairro de Guaianases.
12
4.2 Material
Foi utilizado um questionário previamente elaborado com perguntas fechadas e
semi-abertas.
13
4.3 Procedimentos
Após a entrega do termo de consentimento que os entrevistados responderam de
forma voluntária, o questionário. A aplicação foi feita de forma direta e a devolução
imediata para evitar assim a contaminação dos resultados.
14
4.4 Plano de Análise dos Dados
Na análise dos dados foi aplicado um estudo quantitativo quando a natureza dos
dados assim o permitiu e em análise qualitativa no que diz respeito a itens instrumentais
e a respostas discursivas resultantes de entrevistas, perguntas com respostas abertas e
quando da análise de itens específicos.
A análise quantitativa foi conduzida tendo a margem de erro usual em ciências
humanas, ou seja, 0,05, o que também se justifica pelo fato da área não ter sido
anteriormente suficientemente pesquisada, não se dispor de dados descritivos da
população, ou seja, não se conhecer a distribuição do fenômeno na população.
15
5. RESULTADOS
Foram entrevistados 101 estudantes sendo 53,47% na faixa etária entre 18 e 27
anos. 56,44% do sexo feminino. 39,6% dos entrevistados recebem entre 02 e 04 salários
mínimos e 43,56% têm grupo familiar de 02 a 04 pessoas.
88,12% dos entrevistados já estudaram anteriormente e 35,64% dos
entrevistados entraram no ensino médio EJA com idades entre 15 e 19 anos tendo como
principal motivo para retornar aos estudos (58,56%) o mercado de trabalho.
Estado Civil Idade Renda Casados(as) 30,69% Entre 18 e 27 anos 53,47% Um salário mínimo 27,72% Solteiros(as) 49,50% Entre 28 e 37 anos 30,69% De 02 a 04 salários mínimos 39,60% Amasiados(as) 13,86% Entre 38 e 47 anos 7,92% De 04 a 06 salários mínimos 10,89% Outros 3,96% Acima de 48 anos 3,96% Acima de 06 salários mínimos 4,95% Não responderam 1,98% Não responderam 3,96% Não responderam 16,83%
32,67% dos entrevistados pensaram em abandonar os estudos, 57,41%
apresentam dificuldades em conciliar trabalho e escola e 53,47% apresentaram
dificuldades na hora de retornar aos estudos.
16
Entre os entrevistados que pensaram em abandonar o ensino médio EJA:
• 39,39%. Relatam encontrar dificuldade na explicação do professor.
• 84,85% Acreditam que a postura do professor influencia no interesse pelo
conteúdo passado.
• 81,82% Acreditam que o conhecimento adquirido no EJA será utilizado no dia a
dia.
• 78,79% Acreditam que estão recuperando o tempo perdido.
• 39,39% Acreditam que o ensino médio e regular juntos atrapalha o aprendizado.
Entre os entrevistados que não pensaram em abandonar ensino médio EJA:
• 27,27% Relatam encontrar dificuldade na explicação do professor.
• 84,85% Acreditam que a postura do professor influencia no interesse pelo
conteúdo passado.
• 92,42% Acreditam que o conhecimento adquirido no EJA será utilizado no dia a
dia.
• 84,85% Acreditam que estão recuperando o tempo perdido.
• 19,70% Acreditam que o ensino médio e regular juntos atrapalha o aprendizado.
17
5.1 Gráficos
Verificação em forma de gráficos dos dados gerais obtidos com a tabulação dos
questionários aplicados.
0
10
20
30
40
50
Sozinho 02 a 04
pessoas
04 a 06
pessoas
08 a 10
pessoas
Acima de 10
pessoas
Não
responderam
• Gráfico 01: Grupo familiar dos entrevistados.
• 6,93% dos entrevistados moram sozinhos;
• 43,56% dos entrevistados têm grupo familiar de 02 a 04 pessoas;
• 36,63% dos entrevistados têm grupo familiar de 04 a 06 pessoas;
• 2,97% dos entrevistados têm grupo familiar de 08 a 10 pessoas;
• 0,99% dos entrevistados têm grupo familiar acima de 10 pessoas;
• 8,91% dos entrevistados não responderam esta questão.
6,93% 43,56% 36,63% 2,97% 0,99% 8,91
18
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Entre 40 e 51
anos
Entre 30 e 39
anos
Entre 20 e 29
anos
Entre 15 e 19
anos
Não
responderam
• Gráfico 02: Idade que os entrevistados entraram no ensino médio EJA.
• 6,93% dos entrevistados entraram no ensino médio EJA com idade entre 40 e 51
anos;
• 22,77% dos entrevistados entraram no ensino médio EJA com idade entre 30 e
39 anos;
• 30,69% dos entrevistados entraram no ensino médio EJA com idade entre 20 e
29 anos;
• 35,64% dos entrevistados entraram no ensino médio EJA com idade entre 15 e
19 anos;
• 3,96% dos entrevistados não responderam esta questão.
6,93% 22,77% 30,69% 35,64% 3,96%
19
0
10
20
30
40
50
60
70
Mercado de
trabalho
Realização
pessoal
Incentivo de
familiares
Outros
• Gráfico 03: Principais motivos descritos pelos entrevistados para retornar os
estudos no ensino médio EJA.
• 58,56% dos entrevistados retornaram aos estudos devido ao mercado de
trabalho;
• 28,83% dos entrevistados retornaram aos estudos por realização pessoal;
• 9,91% dos entrevistados retornaram aos estudos por incentivo de familiares;
• 2,70% dos entrevistados retornaram aos estudos por outros motivos;
58,56% 28,83% 9,91% 2,70%
20
42
44
46
48
50
52
54
Sim Não
• Gráfico 04: Entrevistados que declaram ter encontrado dificuldades ao retornar
aos estudos no ensino médio EJA.
• 53,47% dos entrevistados apresentaram dificuldades ao retornar aos estudos.
• 46,53% dos entrevistados não apresentaram dificuldades ao retornar aos estudos.
53,47% 46,53%
21
0
5
10
15
20
25
30
35
Dificuldade
em conciliar o
trabalho e a
escola
Dificuldade de
aprendizagem
Falta
Motivação
Falta de apoio
familiar
Outros
• Gráfico 05: Principais dificuldades encontradas ao retornar os estudos no ensino
médio EJA.
• 57,41% dos entrevistados informaram que a principal dificuldade encontrada ao
retornar aos estudos foi em conciliar o trabalho e a escola;
• 20,37% dos entrevistados informaram que a principal dificuldade encontrada ao
retornar aos estudos foi à dificuldade de aprendizagem
• 14,81% dos entrevistados informaram que a principal dificuldade encontrada ao
retornar aos estudos foi falta de motivação;
• 3,70% dos entrevistados informaram que a principal dificuldade encontrada ao
retornar aos estudos foi à falta de apoio familiar;
• 3,70% dos entrevistados informaram que a principal dificuldade encontrada ao
retornar aos estudos foram outros motivos.
57,41% 20,37% 14,81% 3,70% 3,70%
22
0
10
20
30
40
50
60
70
Sim Não Não opinaram
• Gráfico 06: Entrevistados que pensaram em abandonar os estudos.
• 32,67% dos entrevistados informaram que pensaram em abandonar os estudos;
• 65,35% dos entrevistados informaram que não pensaram em abandonar os
estudos;
• 1,98% dos entrevistados não opinaram.
32,67% 65,35% 1,98%
23
5.1.1 Entrevistados que pensaram em abandonar os estudos.
Verificação em forma de gráficos dos dados obtidos entre os entrevistados que
pensaram em abandonar os estudos.
0
5
10
15
20
Sim Não
• Gráfico 07: Entrevistados que apresentam dificuldade em entender a explicação
dos professores.
• 39,39% dos entrevistados informam que apresentam dificuldade em entender a
explicação dos professores;
• 60,61% dos entrevistados informam que não apresentam dificuldade em
entender a explicação dos professores.
39,39% 60,61%
24
0
5
10
15
20
25
30
Sim Não Não Opinaram
• Gráfico 08: Entrevistados que acreditam que a postura do professor influencia
no interesse pelo conteúdo passado.
• 84,85% dos entrevistados acreditam que a postura do professor influencia no
interesse pelo conteúdo passado.
• 13,64% dos entrevistados acreditam que a postura do professor não influencia no
interesse pelo conteúdo passado.
• 1,52% dos entrevistados não opinaram;
84,85% 9,09% 6,06%
25
0
5
10
15
20
25
30
Sim Não Não Opinaram
• Gráfico 09: Entrevista dos que acreditam que o conhecimento adquirido no
ensino médio EJA será utilizado em seu dia-a-dia.
• 81,82% dos entrevistados acreditam que o conhecimento adquirido no ensino
médio EJA será utilizado em seu dia-a-dia.
• 9,09% dos entrevistados acreditam que o conhecimento adquirido no ensino
médio EJA não será utilizado em seu dia-a-dia.
• 9,09% dos entrevistados não opinaram.
81,82% 9,09% 9,09%
26
0
5
10
15
20
25
30
Sim Não Não Opinaram
• Gráfico 10: Entrevistados que acreditam estar recuperando o tempo perdido.
• 78,79% dos entrevistados acreditam estar recuperando o tempo perdido.
• 12,12% dos entrevistados não acreditam estar recuperando o tempo perdido.
• 9,09% dos entrevistados não opinaram.
78,79% 12,12% 9,09%
27
0
5
10
15
20
Sim Não
• Gráfico 11: Entrevistados que acreditam que o ensino regular e o ensino médio
EJA estando juntos, atrapalha o aprendizado do aluno
• 39,39% dos entrevistados acreditam que o ensino regular e o ensino médio EJA
juntos, atrapalha o aprendizado do aluno.
• 60,61% dos entrevistados acreditam que o ensino regular e o ensino médio EJA
juntos, não atrapalha o aprendizado do aluno.
39,39% 60,61%
28
5.1.2 Entrevistados que não pensaram em abandonar os estudos.
Verificação em forma de gráficos dos dados obtidos entre os entrevistados que
não pensaram em abandonar os estudos.
0
10
20
30
40
50
Sim Não Não opinaram
• Gráfico 12: Entrevistados que apresentam dificuldade em entender a explicação
dos professores.
• 27,27% dos entrevistados apresentam dificuldade em entender a explicação dos
professores.
• 71,21% dos entrevistados não apresentam dificuldade em entender a explicação
dos professores.
27,27% 71,21% 1,52%
29
0
10
20
30
40
50
60
Sim Não Não opinaram
• Gráfico 13: Entrevistados que acreditam que a postura do professor influencia
no interesse pelo conteúdo passado.
• 84,85% dos entrevistados acreditam que a postura do professor influencia no
interesse do conteúdo passado.
• 13,64% dos entrevistados acreditam que a postura do professor não influencia no
interesse do conteúdo passado.
84,85% 13,64% 1,52%
30
0
20
40
60
80
Sim Não
• Gráfico 14: Entrevistados que acreditam que o conhecimento do ensino médio
EJA será utilizado em seu dia-a-dia.
• 92,42% dos entrevistados acreditam que o conhecimento do ensino médio EJA
será utilizado em seu dia-a-dia.
• 7,58% dos entrevistados acreditam que o conhecimento do ensino médio EJA
não será utilizado em seu dia-a-dia.
92,42% 7,58%
31
0
10
20
30
40
50
60
Sim Não
• Gráfico 15: Entrevistados que acreditam estar recuperando o tempo perdido.
• 84,85% dos entrevistados acreditam estar recuperando o tempo perdido.
• 15,15% dos entrevistados não acreditam estar recuperando o tempo perdido.
84,85% 15,15%
32
0
10
20
30
40
50
60
Sim Não
• Gráfico 16: Entrevistados que acreditam que o ensino regular e o ensino médio
EJA estando juntos, atrapalha o aprendizado do aluno.
• 19,70% dos entrevistados acreditam que o ensino regular e o ensino médio EJA
estando juntos atrapalha o aprendizado do aluno.
• 80,30% dos entrevistados acreditam que o ensino regular e o ensino médio EJA
estando juntos não atrapalha o aprendizado do aluno.
19,70% 80,30%
33
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Com os resultados obtidos foi possível verificar que tanto entre os homens
quanto entre as mulheres, a maior dificuldade está em conciliar o trabalho e a escola.
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
16,00%
dificuldade em
conciliar
trabalho e
escola
Falta de apoio
familiar
Falta de
motivação
Dif iculdade de
aprendizagem
Não
apresentou
dif iculdade
Homens
Mulheres
• Gráfico 17: Principais dificuldades encontradas entre homens e mulheres
entrevistadas.
34
Observa-se também que a faixa etária que apresenta maior dificuldade de
aprendizagem tanto entre os homens quanto entre as mulheres, está acima dos 30 anos
de idade.
0,00%
0,50%
1,00%
1,50%
2,00%
2,50%
3,00%
3,50%
4,00%
18 a 29 anos Acima de 30 anos
Homens
Mulheres
• Gráfico 18: Faixa etária entre homens e mulheres que apresentam dificuldade
de aprendizagem.
35
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
16,00%
18,00%
20,00%
Sim Não Não
respondeu
Homens
Mulheres
• Gráfico 19: Entrevistados que pensaram em abandonar os estudos, após retornar
ao EJA.
36
Entre as mulheres com dificuldade em conciliar o trabalho e a escola 70% tem
um grupo familiar de 02 a 06 pessoas e 75,23% retornaram aos estudos devido ao
mercado de trabalho.
Mulheres com Dificuldade em conciliar trabalho e escola
Grupo familiar Motivo de retorno aos estudos Acredita Utiliza o conhecimento no
dia a dia
Já pensou em
abandonar os estudos
Sozinho 15% Mercado de trabalho 11,23% Sim 6,00% Não 8,00%
2 a 4 pessoas 40% Mercado de trabalho 63,00% Sim 80,00% Não 64,00%
4 a 6 pessoas 30% Realização pessoal 24,77% Não 13,00% Sim 27,00%
Não respondeu 15% Mercado de trabalho 1,00% Sim 1,00% Sim 1,00%
É importante observar que estas mulheres realizam tripla jornada por estarem
dentro de um grupo familiar acima de 03 pessoas. Isto nos leva a questionar sobre o que
realmente motiva estas mulheres a pensar em abandonar os estudos (28%). Visto que
muitas contam sobre sua dificuldade em sair de casa, para ir à escola e deixar seu filho
chorando.
”...Meu filho pede para eu não vir porque meu marido chega as vezes depois do
horário de entrada na escola.”
“... Pensei em abandonar os estudos devido ao cansaço de ter de conciliar o meu
trabalho, cuidar dos meus filhos e estudar.”
37
Observando os entrevistados do sexo masculino que apresentam dificuldade em
conciliar o trabalho e a escola temos:
Homens com Dificuldade em conciliar trabalho e escola
Grupo familiar Motivo de retorno aos
estudos
Acredita Utiliza o
conhecimento no dia a dia
Já pensou em
abandonar os estudos
Sozinho 9,09% Mercado de trabalho 11,00% Sim 11,00% Sim 11,00%
2 a 4 pessoas 36,36% Mercado de trabalho 33,99% Sim 33,99% Não 22,99%
4 a 6 pessoas 45,45% Mercado de trabalho 44,01% Sim 44,01% Não 55,01%
8 a 10 pessoas 9,09% Mercado de trabalho 11,00% Sim 11,00% Sim 11,00%
Entre homens com dificuldade em conciliar trabalho e escola 100% retornaram
aos estudos devido ao mercado de trabalho e acreditam que irão utilizar o conhecimento
aprendido em seu dia-a-dia.
Apenas 22,99% dos destes homens pensaram em abandonar os estudos. Em
depoimentos foi possível observar que o que motiva estes alunos a abandonar os estudo
é a conciliação do horário e/ou tempo de trabalho e os estudos.
Desta forma verificamos que entre mulheres e homens que apresentam
dificuldade em conciliar trabalho e estudo, a maior dificuldade da mulher se dá devido à
tripla jornada que esta é obrigada a enfrentar, porém com relação ao homem esta
dificuldade em conciliar o trabalho e os estudos acontece devido às exigências da
empresa.
Apesar de o principal motivo a levar a busca pelo retorno aos estudos no ensino
médio EJA ser o mercado de trabalho (Gráfico 03), quando os alunos se vêem na escola
não conseguem conciliar as jornadas (Gráfico 05), levando-os ao pensamento de
desistência em dar continuidade aos estudos, dando um significado importantíssimo a
postura do professor para motivá-los a continuidade aos estudos.
“... Os alunos ficam mais interessados em seguir em frente com o objetivo de terminar
os estudos, principalmente os que trabalham.”
“Muitas pessoas estão a anos longe da escola como eu que já fiz três tentativas... 11
anos longe da escola, se o professor não tiver carinho, fica difícil”.
“Quando você tem um professor que gosta do que faz, tudo fica mais fácil”
38
“O professor passa confiança, conhecimento, disciplina, dentro e fora da escola”.
“Os professores tem que passar confiança e incentivo para os alunos... Muitos vêm
direto do trabalho e deixam seus filhos em casa para vir estudar”.
“Os professores estão aqui querendo passar conhecimento. Eles influenciam dizendo
que temos que dar continuidade, que temos que ir adiante e não desistir”
Os alunos percebem a importância em dar continuidade aos estudos visando uma
melhor colocação no mercado de trabalho e a busca pelo conhecimento. 78,79% dos
entrevistados que pensaram em abandonar os estudos acreditam estar recuperando o
tempo perdido (Gráfico 10), ou seja, vêem o retorno aos estudos apenas como um
período para recuperar o que foi perdido há tempos atrás. Não vêem como a aquisição
novos conhecimentos no hoje, querem “cumprir” algo que não foi realizado no tempo
“correto”.
“O ensino médio EJA tem que ser realizado em pouco tempo, justamente por isso a
postura do professor influencia no interesse pelo conteúdo...”
“Os professores passam para os alunos o espelho do que ele é”.
Os professores que lecionam aulas para o ensino médio EJA, são os mesmos
professores que lecionam aulas para o ensino “regular”. Estes têm a consciência que o
período de aprendizado do EJA é menor, porém o que se faz é compactar as
informações ficando um conhecimento parcialmente adquirido, sem tempo para troca de
experiências e/ou desenvolvimento maior dentro de um determinado assunto.
Os resultados mostram que a postura do professor influencia diretamente no
interesse do aluno pelo conteúdo, bem como pela continuidade aos estudos.
“Quem deseja aprender pega tudo do jeito que vier apresentado”.
“O professor é nosso intermediário para o conhecimento a ser adquirido”.
“O professor que interage com a sala acaba despertando cada vez mais o aprendizado
entre os alunos”.
“Se a postura do professor não for uma das melhores, a maioria dos alunos vão se
desmotivar de continuar a estudar”.
“Se o professor interagir mais, melhor será a aula”.
39
É importante a interação com o aluno do ensino médio EJA, são alunos
diferenciados do ensino regular, pois possuem experiências adquiridas no dia-a-dia.
Muitas vezes isso não é levado em consideração, deixando de acontecer à troca,
oportunidade que o professor pode colocar vivências da realidade do aluno para a
aquisição de novos conhecimentos.
“Vou utilizar o conhecimento adquirido com os estudos na hora de preencher uma ficha
ou até mesmo na hora de fazer conta. Aprendemos muito em sala de aula não só com o
professor, mas com os colegas também, ouvindo a experiência de cada um.”
40
7. CONCLUSÃO
Conclui-se sobre a necessidade do desenvolvimento de propostas pedagógicas
voltadas especificamente ao ensino do EJA, valorizando as experiências do aluno e
levando em consideração o aprendizado anteriormente adquirido, conforme abaixo:
Qualificação Profissional
O Ensino Médio EJA, tem como objetivo a qualificação profissional do aluno,
observando que este, na maioria vezes já incluso no mercado de trabalho, busca com o
Ensino Médio EJA, uma melhor qualificação profissional. Este objetivo do aluno deve
sempre ser levado em conta, trazendo para sala de aula, conteúdos atuais, que agreguem
conhecimentos sobre o mercado de trabalho e possibilidades de crescimento.
Integração Curricular
É importante a integração entre os conteúdos apresentados nas diferentes
matérias, facilitando uma maior compreensão do todo. Projetos que envolvam a
interdisciplinaridade* dos conteúdos e caracterização do público nos diferentes
municípios, observando a trajetória de trabalho, experiências, conhecimentos e nível de
qualificação profissional do aluno.
Mecanismos de Apoio
Suporte / Apoio em espaços e de formas alternativas durante o curso, visando
suprir as necessidades do aluno.
__________________________________
*Interdisciplinaridade: Palavra disciplinaridade/disciplina, deve ser entendida como aquelas "fatias" dos
estudos científicos e das disciplinas escolares, tais como matemática, biologia, ciências naturais, história,
etc. Um esforço em superar tudo o que esta relacionado ao conceito de disciplina. Assim,
interdisciplinaridade é parte de um movimento que busca a superação da disciplinaridade.
41
Desta forma colocamos para o aluno do Ensino Médio EJA, conteúdos que
realmente estejam dentro de sua realidade. Motivando e criando possibilidades de
crescimento.
Tendo como principal motivador o mercado de trabalho, o aluno do ensino
médio EJA visa um aprendizado que seja significativo para ele, como o preenchimento
de uma ficha, a soma das despesas domésticas, uma melhor posição no mercado de
trabalho ou conhecimento para dar início a um curso superior.
As mulheres que retornam aos estudos contam sobre a dificuldade em conciliar
as atividades domésticas, o trabalho e os estudos, isto também deve ser levado em
consideração, observando o mercado de trabalho hoje que não dá espaço para o
crescimento de mulheres que cumprem esta tripla jornada. Mulheres com tripla jornada
apresentam interesse em abandonar os estudos e, colocam este pensamento em prática
ao observarem o fracasso em seu lar ou em seu ambiente de trabalho, tornando a mulher
“culpada” pelo interesse de crescer profissionalmente e adquirir conhecimento. Este
pensamento torna o papel do professor cada vez mais importante neste seguimento, pois
este deve ter a consciência da jornada de trabalho enfrentada pelos alunos e orientá-los
sobre o resultado que poderá ser obtido frente ao sacrifício hoje exercido.
Entre os homens o maior motivador para o retorno aos estudos também é o
mercado de trabalho, porém, também é este que lhes penaliza em alguns momentos
impedindo estes de dar continuidade na busca pelo conhecimento.
Observando as peculiaridades dos alunos do ensino médio EJA é necessário a
realização de uma adequação aos interesses deste público, visando uma efetiva busca
pelo crescimento e desenvolvimento intelectual, profissional e pessoal.
42
8. ANEXOS
8.1 Modelo de Termo de consentimento livre e esclarecido.
43
8.2 Modelo de questionário.
44
8.3 Termos de consentimento livre e esclarecido aplicados.
45
8.4 Questionários aplicados.
46
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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adultos: Uma construção a partir da prática do professor. Rio de Janeiro:
Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, 1992.
ARANHA, Maria Lúcia de. História da educação. 2 ed. São Paulo, Moderna,
1997.
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nacional.
CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo, UNESP, 1999.
CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis, Vozes,
1994.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 5 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo, Paz e Terra, 1966.
GADOTTI, M. História das idéias pedagógicas. 5 ed. São Paulo, Cortez, 2001.
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IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil em números. Rio de
Janeiro, IBGE, V.12, 2004.
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MELUCCI, Alberto. O jogo do eu: a mudança de si em uma sociedade global.
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47
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