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3 QUARTA-FEIRA, 15 DE MAIO DE 2013 A GAZETA EDITORA: ANDRÉA PIRAJÁ [email protected] Tel.: 3321.8446 agazeta.com.br/cidades gazetacidades Número de homicídios cai 5% O número de homicídios no Estado caiu 5% nos quatro primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Página 15 4ª NO RANKING DO PAÍS VITÓRIA: UM CASAMENTO GAY A CADA TRÊS DIAS A Capital registrou 101 dessas uniões estáveis em um ano PRISCILLA THOMPSON [email protected] Vitória é a 4ª capital do país em número de registros de união estável entre casais homossexuais, segundo um levantamento feito pe- la Associação de Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR) a pedido do site de notícias G1. Na ca- pital capixaba, 101 uniões foram registradas desde maio do ano passado, o que significa uma a cada três dias. A pesquisa foi fei- ta nos principais cartórios de 13 cidades. As primeiras na lista são: São Paulo (407 uniões), Rio de Janeiro (336) e Fortaleza (113). No período considera- do, pelo menos 1.277 ca- sais do mesmo sexo regis- traram suas uniões no país. O número, porém, deve ser ainda maior. A própria Ano- reg-BR admite que há difi- culdade em conseguir esse tipo de informação e que as respostas recebidas não in- cluem todos os cartórios das cidades consultadas. No Espírito Santo, tanto a Anoreg-ES quanto o Sin- dicato dos Notários e Regis- tradores do Estado (Sino- reg-ES)dizemnãoterinfor- mações da quantidade de registros totais do Estado, já que os cartórios não distin- guem se as uniões foram ce- lebradas entre casais hetero ou homossexuais. Segundo o Censo 2010, o Brasil tem mais de 60 mil casais homossexuais. No Estado, são pelo menos 1.062 casais do mesmo se- xo vivendo juntos. Para o di- retor de Registro da Ano- reg-ES, Rodrigo Sarlo, a procura pela formalização da união ainda é pequena. “A procura ainda é tímida, mas pode começar a crescer à medida que as dificulda- des para a formalização da união e do casamento civil diminuem”, diz. REPORTAGEM ESPECIAL NO BRASIL 1.277 casais do mesmo sexo registraram suas uniões desde maio de 2012. Bem antes de a união es- tável e de o casamento ci- vil entre casais do mesmo sexo tornarem-se comuns nos cartórios do Estado, a policial militar aposenta- da Ana Regina Bourguig- non Pinto, 49 anos, e a dentista Cristiane Vieira Barradas, 36, já sonhavam em ver seus direitos garan- tidos. Juntas desde 2007, elas hoje são oficialmente casadas. O casamento civil das duas foi o primeiro a ser realizado depois que a Corregedoria de Justiça do Estado emitiu um ofício determinando, em agosto do ano passado, que os cartórios realizassem o ca- samento homoafetivo. Elas se casaram em outu- bro, mas desde 2010 já vi- viam uma união estável. “O casamento era um sonho nosso. Queríamos ser, no papel, a família que já éramos na prática. É cla- ro que a questão de ter os direitos garantidos tam- bém é muito importante. Mas o mais significativo para nós era podermos di- zer que somos casadas, de realizar esse sonho. Isso é tão importante para nós quanto é para qualquer outro casal”, diz Regina. FILHA As duas criam, juntas, a filha de 7 anos de Regina. “Minha filha tem duas mães, e não vejo problema algum nisso. Sempre a en- sinamos o respeitar aos outros, e desde pequena conversávamos com ela sobre a nossa relação. Tu- do isso é muito natural em casa, como tem que ser”, conta Regina. Para Cristiane, o casa- mento e a união estável entre casais do mesmo se- xo não pode ser visto co- mo um privilégio para um grupo. “É um direito de todos. Todo mundo quer constituir família e ser feliz. Por que não po- demos querer também? Essa é uma conquista nossa”, destaca. BERNARDO COUTINHO Ana Regina e Cristiane, juntas desde 2007, se casaram oficialmente em outubro do ano passado “Todo mundo quer ser feliz” SONHO “Casar e ter uma família sempre foi um sonho nosso. Não tinha motivo para não conseguirmos fazer isso no papel” ANA REGINA 49 ANOS, POLICIAL MILITAR APOSENTADA “A gente já morava junto, mas parecia que sem o casamento não era a mesma coisa. Também queríamos constituir uma família” CRISTIANE VIEIRA 36 ANOS, DENTISTA O RANKING t 1- São Paulo: 407 t 2- Rio de Janeiro: 336 t 3- Fortaleza: 113 t 4- Vitória: 101 t 5- Manaus: 87 t 6- Brasília: 56 t 7- Curitiba: 37 t 8- Teresina: 36 t 9- Natal: 32 t 10 - Salvador: 31 t 11 - Maceió: 17 t 12 - Palmas: 17 t 13 - Cuiabá: 7 FONTE: Associação de Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR)

4ª NO RANKING DO PA...2016/07/08  · No período considera-do, pelo menos 1.277 ca-sais do mesmo sexo regis-traramsuasuniõesnopaís. Onúmero,porém,deveser aindamaior.AprópriaAno-reg-BR

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Page 1: 4ª NO RANKING DO PA...2016/07/08  · No período considera-do, pelo menos 1.277 ca-sais do mesmo sexo regis-traramsuasuniõesnopaís. Onúmero,porém,deveser aindamaior.AprópriaAno-reg-BR

3QUARTA-FEIRA, 15 DE MAIO DE 2013 A GAZETA

EDITORA:

ANDRÉA PIRAJÁ[email protected]

Tel.: 3321.8446

agazeta.com.br/cidades

gazetacidades

Número dehomicídioscai 5%

O número de homicídios noEstado caiu 5% nos quatroprimeiros meses deste anoem relação ao mesmoperíodo do ano passado.Página 15

4ª NO RANKING DO PAÍSVITÓRIA: UM CASAMENTOGAY A CADA TRÊS DIASA Capital registrou 101 dessas uniões estáveis em um ano

PRISCILLA [email protected]

Vitóriaéa4ªcapitaldopaísem número de registros deunião estável entre casaishomossexuais, segundoum levantamento feito pe-laAssociaçãodeNotárioseRegistradores do Brasil(Anoreg-BR) a pedido dosite de notícias G1. Na ca-pital capixaba, 101 uniõesforam registradas desdemaio do ano passado, oque significa uma a cadatrêsdias.Apesquisa foi fei-ta nos principais cartóriosde13cidades.Asprimeirasnalistasão:SãoPaulo(407uniões), Rio de Janeiro(336) e Fortaleza (113).

No período considera-do, pelo menos 1.277 ca-sais do mesmo sexo regis-traram suas uniões no país.Onúmero,porém,deveseraindamaior.AprópriaAno-reg-BR admite que há difi-culdade em conseguir essetipode informaçãoequeasrespostas recebidas não in-cluem todos os cartóriosdas cidades consultadas.

No Espírito Santo, tantoa Anoreg-ES quanto o Sin-dicatodosNotárioseRegis-

tradores do Estado (Sino-reg-ES)dizemnãoterinfor-mações da quantidade deregistrostotaisdoEstado,jáque os cartórios não distin-guemseasuniõesforamce-lebradasentrecasaisheteroou homossexuais.

Segundo o Censo 2010,o Brasil tem mais de 60 milcasais homossexuais. NoEstado, são pelo menos1.062 casais do mesmo se-xovivendojuntos.Paraodi-retor de Registro da Ano-reg-ES, Rodrigo Sarlo, aprocura pela formalizaçãoda união ainda é pequena.“A procura ainda é tímida,maspodecomeçaracrescerà medida que as dificulda-des para a formalização daunião e do casamento civildiminuem”, diz.

REPORTAGEM ESPECIAL

NO BRASIL

1.277casaisdo mesmo sexoregistraram suas uniõesdesde maio de 2012.

Bemantesdeauniãoes-tável e de o casamento ci-vil entre casais do mesmosexo tornarem-se comunsnos cartórios do Estado, apolicial militar aposenta-da Ana Regina Bourguig-non Pinto, 49 anos, e adentista Cristiane VieiraBarradas,36, jásonhavamemverseusdireitosgaran-tidos. Juntas desde 2007,elas hoje são oficialmentecasadas.

O casamento civil dasduas foi o primeiro a serrealizado depois que aCorregedoria de JustiçadoEstadoemitiuumofíciodeterminando, em agostodo ano passado, que oscartóriosrealizassemoca-

samento homoafetivo.Elas se casaram em outu-bro, mas desde 2010 já vi-viam uma união estável.

“O casamento era umsonho nosso. Queríamosser, no papel, a família quejáéramosnaprática.Écla-ro que a questão de ter osdireitos garantidos tam-bém é muito importante.Mas o mais significativopara nós era podermos di-zer que somos casadas, derealizar esse sonho. Isso étão importante para nósquanto é para qualqueroutro casal”, diz Regina.

FILHAAs duas criam, juntas, a

filha de 7 anos de Regina.

“Minha filha tem duasmães,enãovejoproblemaalgum nisso. Sempre a en-sinamos o respeitar aosoutros, e desde pequenaconversávamos com elasobre a nossa relação. Tu-do isso é muito natural emcasa, como tem que ser”,conta Regina.

Para Cristiane, o casa-mento e a união estávelentrecasaisdomesmose-xo não pode ser visto co-mo um privilégio paraum grupo. “É um direitode todos. Todo mundoquer constituir família eser feliz. Por que não po-demos querer também?Essa é uma conquistanossa”, destaca.

BERNARDO COUTINHO

Ana Regina e Cristiane, juntas desde 2007, se casaram oficialmente em outubro do ano passado

“Todo mundo quer ser feliz” SONHO

“Casar e ter umafamília sempre foium sonho nosso.Não tinha motivo paranão conseguirmosfazer isso no papel”ANA REGINA49 ANOS, POLICIALMILITAR APOSENTADA

“A gente já moravajunto, mas parecia quesem o casamento nãoera a mesma coisa.Também queríamosconstituir uma família”CRISTIANE VIEIRA36 ANOS, DENTISTA

O RANKING

t 1 - São Paulo: 407t 2 - Rio de Janeiro: 336t 3 - Fortaleza: 113t 4 - Vitória: 101t 5 - Manaus: 87t 6 - Brasília: 56t 7 - Curitiba: 37t 8 - Teresina: 36t 9 - Natal: 32

t 10 - Salvador: 31t 11 - Maceió: 17t 12 - Palmas: 17t 13 - Cuiabá: 7

FONTE: Associação deNotários e Registradoresdo Brasil (Anoreg-BR)

Documento:AG15CA003;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:14 de May de 2013 21:58:09

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4 CIDADESA GAZETA QUARTA-FEIRA, 15 DE MAIO DE 2013

CASAMENTO GAYDECISÃO NACIONAL

Conselho de Justiça obrigacartórios a realizar cerimôniaMedida não alterarealidade no Estado,onde TJ já determinavarealização de casamento

PRISCILLA [email protected]

O Conselho Nacional deJustiça(CNJ)aprovouumaresoluçãoobrigandooscar-tórios de todo o país a cele-brarocasamentocivilentrepessoas do mesmo sexo.Com isso, os casais que en-contrarem resistência noscartórios poderão recorrerà Justiça. A decisão passa avaler a partir da publicaçãooficial, o que deve ocorrernesta semana.

A resolução do CNJ rea-firmaadecisãodoSupremoTribunal Federal (STF) demaiode2011,quereconhe-ceu a união estável homos-sexual.Deacordocomotex-to da resolução, “é vedadaàsautoridadescompetentesa recusa de habilitação, ce-lebração de casamento civilou de conversão de uniãoestável emcasamentoentre

pessoas de mesmo sexo”.NoEstado,aCorregedo-

riadoTribunaldeJustiçajáhaviaemitidoumofíciode-terminando, em agosto doano passado, que os cartó-rios realizassem o casa-mentocivil entrehomosse-xuais. Outros 11 Estadostambém são amparadospor decisões semelhantes.

O advogado especialistaem Direito da DiversidadeSexualeDireitoHomoafeti-vo, Paulo Roberto Iotti Vec-chiatti, diz que, com a reso-lução, os cartórios não pre-cisarão submeter pedidosde casamento aos juízes.

Pelalei,ocasamentocivilgarante quase os mesmosdireitos da união estável.Mas com o casamento, ocônjuge pode adotar o so-brenomedocompanheiroetermaisgarantiadedireitoàherança, por exemplo.

O vice-procurador geralda República, FranciscoSanseverino,criticouadeci-são do CNJ por acreditarqueopapeldelegislarsobreo tema é do Congresso Na-cional,ondeháanostramitaum projeto de lei que reco-nheceocasamentogay.“Ca-beria,emprincípio,aoCon-gressoelaborarumaleicomobjetivo específico regula-mentando as consequên-cias civis da união estávelhomoafetiva” disse em en-trevista do jornal O Globo.

ENTENDA AS DIFERENÇAS

União estávelt Nome

Não garante o direito deusar o sobrenome docompanheiro

t Estado civilMesmo após aassinatura do contrato,os companheiros nãopodem mudar o estadocivil

t Separação edivórcio

Pode ser feita apenasinterrompendo a união,com um dos membrossaindo de casa, porexemplo

t HerançaO companheiro temdireito aos bensadquiridos na união, maspode ter que recorrer àJustiça

Casamentot Nome

Permite fazer a troca desobrenomes

t Estado civilAdotam o estado civil de

“casados”t Separação edivórcio

Só é realizada na Justiçaou com registro decartório

t HerançaO cônjuge tem todos osdireitos garantidos,inclusive em igualdade

de condições as dosfilhos

t Outros direitosEm ambos os casos(casamento e uniãoestável), são garantidosdireitos como plano desaúde, seguros de vida epensão alimentícia

Primeiradecisãojudicial

Em maio de 2011,o Supremo TribunalFederal reconheceuo direito da uniãoestável para casaisdo mesmo sexo. Parareforçar a decisão,as corregedorias deJustiça dos Estadosemitiram orientaçõesaos cartórios.

DIREITO

“O que antes ficava acargo do entendimentode cada juiz, agorapassará a ser regra. Ocartório que se recusara realizar o casamentode pessoas do mesmosexo poderá ter o casoenviado à Corregedorialocal. É mais umagarantia de direito”PAULO ROBERTO IOTTIADVOGADO ESPECIALISTAEM DIREITOHOMOAFETIVO

Movimento gay comemora a mudançaPara o membro do Fó-

rum Estadual LBGT, Cle-ber Teixeira, a resoluçãodo Conselho Nacional deJustiça é um passo impor-tante na garantia dos di-reitos homossexuais.

“Mas é uma garantiaquesedáviaJustiça,enãovialei.Aindalutamosparaque o casamento civil en-tre pessoas do mesmo se-xo seja aprovada em lei,para que decisões como

essas do STF e do CNJ nãosejam ameaçadas, no fu-turo por mudanças de po-sicionamento dos seusmembros”, explica.

Hoje, em Brasília, cen-tenas de pessoas de todo

o país devem participarda 4ª Marcha NacionalContra a Homofobia. OEstado é representadopor uma delegação demais de 50 pessoas, se-gundo o coordenador da

Rede de Educação para aDiversidade da Ufes, An-tônio Lopes de Souza Ne-to, o Toninho Lopes.

CONGRESSONa próxima semana, a

Ordem dos Advogados doBrasil(OAB-ES)vaipromo-veroIIICongressoNacional

de Direito Homoafetivo,em Vitória. O evento acon-tece entre os dias 22 e 24 econtará com a participaçãode advogados especialistasem direito homoafetivo,psicólogosetambémdode-putadofederalJeanWyllys.Mais informações no sitewww.oabes.org.br.

Documento:AG15CA004;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:14 de May de 2013 21:07:10