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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

     2     0     0     9

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

     V     O     L     U     M     E     I     I

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  Secretaria de Estado da Educação Superintendência da Educação 

Departamento de Políticas e Programas Educacionais Coordenação Estadual do PDE 

Universidade Estadual de Maringá  –  UEM

UNIDADE DIDÁTICA

Professora PDEÂngela Maria Sanfelice Gali

Professor orientadorProf. Dr. Aécio Flávio de Carvalho

Esta Unidade Didática é uma produçãodidático-pedagógica, apresentada à Secretariade Educação- SEED no Programa deDesenvolvimento Educacional-PDE na áreade Língua Portuguesa cujo título é: O textoliterário no Ensino Médio: Estratégias deincentivo à leitura. 

JAPURÁ - PR. 

2010

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IDENTIFICAÇÃO

Público objeto da intervenção: 1ª série

Escola de Implementação:  Colégio Estadual Rui Barbosa –  EM

Município de realização: Japurá

Professor PDE:  Ângela Maria Sanfelice Gali

Área PDE: Língua Portuguesa

N.R.E.:  Cianorte

Professor Orientador IES: Prof. Dr. Aécio Flávio de Carvalho

IES vinculada: Universidade Estadual de Maringá  –  UEM

JAPURÁ - PR. 2010

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................  4

2 OBJETIVOS......................................................................................................  4

3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS........................................................................ 6

4 MÓDULO 1........................................................................................................ 7

4.1 Texto 1 : O padeiro............................................................................................... 7

4.2 Texto 2: Operário em construção 12

5 MÓDULO 2........................................................................................................ 175.1 Texto 1: A morte do leiteiro................................................................................. 17

5.2 Texto 2: Enfermeiro............................................................................................. 20

6 MÓDULO 3....................................................................................................... 28

6.1 Texto 1: Descuido na segurança mata operário ................................................. 28

6.2 Texto 2: ―Construção‖ de Carlos Drummond de Andrade................................ 28

6.3 Música: ‗Construção‖ de Chico Buarque de Holanda........................................  31

REFERÊNCIAS................................................................................................ 35

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O texto literário no

Ensino Médio:

Estratégias de incentivo

à leitura 

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LEITURA: OBRIGAÇÃO OU PRAZER? 

1 INTRODUÇÃO

Dentre todos os procedimentos didáticos nenhum é mais importante que a prática de

técnicas que induzam ao hábito da leitura. Sem a leitura o aluno não poderá assimilar e

realizar as práticas que são inerentes às atividades discentes.

A leitura é de suma importância. Leva ao conhecimento e à educação dos sentimentos,

é forma adequada de o aluno aumentar o seu vocabulário e seu repertório discursivo,

envolvendo-se com ideias e enfoques abrangentes para o crescimento cultural, do qual

depende o seu progresso na vida. É através da leitura que o aluno vai descobrindo e

ampliando seu entendimento de mundo, assimilando o acesso à informação com autonomia,

educando o exercício da fantasia e enriquecendo a troca de ideias.

De imediato, o hábito da leitura é essencial para a compreensão de todas as disciplinas,

seja um enunciado de um problema de física, de química ou de matemática; e, essencial nas

aulas de Língua Portuguesa e Literatura, nestas os alunos se preparam para a interpretaçãocrítica de textos e devem ser motivados à prática habitual e correta da linguagem escrita

formal. 

Assim, professores devem encarar com seriedade a difícil tarefa de incentivarem

criativamente os alunos à leitura, sabedores que são da importância da absorção de conteúdos

formadores da personalidade, implícitos no texto. Para que isso se efetive, a leitura deve se

configurar como momento agradável e prazeroso para o aluno.

2 OBJETIVOS

Proporcionar o acesso a leituras variadas, criando condições para que o aluno, lendo,

reconheça que ler é condição indispensável no dia a dia do indivíduo moderno;

Criar condições ao desenvolvimento intelectual e à formação de valores e da

 personalidade;

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Motivar o educando à prática de diferenciadas linguagens comunicativas com vistas à

 produção do texto oral e escrito;

Buscar estratégias relacionadas à prática e ao hábito da leitura.

Esta unidade didática será relacionada com a proposta curricular no que diz respeito a

alguns conceitos que devem ser desenvolvidos no Ensino Médio durante o terceiro e quarto

 bimestres, referentes às práticas de leituras. Assim, propomos alguns textos de diferentes

gêneros textuais, em torno dos quais, são organizadas várias atividades com o objetivo de

contribuir para a melhoria do ensino nas escolas públicas paranaenses. Nesse sentido o tema

dos textos propostos é a valorização da profissão visto que discutir os diversos aspectos desta

questão faz parte de nosso papel de cidadãos críticos e conscientes. As estratégias propostas

ao longo dessa unidade didática serão leituras de textos, debates, análise e produção de texto

em que serão apresentados à comunidades escolar.

As concepções teóricas para a compreensão desta unidade didática estão assentadas em

autores que discutem as práticas de leitura e a formação de leitores, como: Zilberman (1981),

Lajolo (1993), Freire (1988), Aguiar e Bordini (1993) , Silva (2005), Bamberger (2008), entre

outros, tendo como conteúdo estruturante o discurso como prática social. Assim, propomos

alguns textos de diferentes gêneros discursivos, em torno dos quais, organizamos várias

atividades com o objetivo de contribuir para a melhoria do ensino nas escolas públicas do

Paraná.

 pt.wikipedia.org/wiki/ Leitura  

E para você?

leitura

é

importante?

??

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Vamos refletir na frase de Mário Quintana, retirada do texto  Não Despertemos o leitor.

―Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo‖ 

Vamos nos ater a algumas indagações para depois realizarmos a leitura dos textos

1-  Como você se classificaria: um leitor dorminhoco, um leitor semidesperto ou um leitor

atento? Justifique?

2-  Qual é a diferença de postura entre os três tipos de leitor citado na questão anterior.

3 PRÁTICAS DIDÁTICAS

Antes de iniciar a leitura dos textos, vamos conversar um pouco sobre o tema de nosso

estudo. Para tanto, propomos uma reflexão a partir das questões seguintes:

- Trabalhar é importante? Por quê?

- O que é trabalhar?

- Por que devemos trabalhar?

- Existe uma profissão mais importante que a outra e que, portanto, deva ser mais valorizada?

- Qual é a melhor profissão? O que dá mais dinheiro ou aquele que lhe satisfaz pessoalmente?

- Os trabalhadores, de maneira geral, têm consciência de seus direitos e de sua importância

 para a sociedade? Ou vivem alienados? 

Que tipo de leitor você é? 

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4 MÓDULO 1

4.1 TEXTO 1

Padeiro

 Rubem Braga 

 Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta

do apartamento  –  mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter

lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é

bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno;

acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não

 sei bem o que do governo.

 Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo

café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha

deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os

moradores, avisava gritando: - Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como

tivera a idéia de gritar aquilo? ”Então você não é ninguém?”  Ele abriu um sorriso largo.

 Explicou que aprendera aquilo de ouvido.

 Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma

empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando

quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora,

é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém… 

 Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo

 para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele

tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno.

 Muitas profissões são desvalorizadas pela sociedade que até mesmo os profissionais

 passam a incorporar essa desvalorização, achando que não são úteis. Esse é o caso do

 padeiro, personagem do texto a seguir. 

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 Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem

 pela oficina –  e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o

 jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz

naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa,

além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o

meu nome.

O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu

recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é

ninguém, é o padeiro!”E assobiava pelas escadas. 

1-  Pesquise sobre o autor .

studo do Texto

VOCABULÁRIO

Observe o sentido em que são empregadas a palavra pão, nas frases abaixo:

“  Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta

do apartamento –  mas não encontro o pão costumeiro” 

―Por fora, bela viola, por dentro, pão  bolorento‖.

Você pode perceber que a palavra pão leva a pensar coisa diferente, de uma para a outra frase.

O que acontece aqui é muito comum no uso da nossa fala ou escrita. Diz-se que a palavra

 pode ter ―sentido denotativo‖ ou ―sentido conotativo‖. 

Denotação   é o emprego de palavra(s) no seu sentido próprio, comum, habitual, preciso,

aquele que consta nos dici onários.

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Conotação   é o emprego de uma palavra tomada em um sentido figurado, que depende do

contexto.

Veja outro exemplo:

 Meu relógio de ouro foi roubado.

 Pedro nadava em ouro.

 No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa simplesmente o conhecido metal

 precioso, dúctil, brilhante, de cor amarela: tem sentido próprio, real, denotativo.

 No segundo exemplo, a palavra ouro sugere ou evoca riquezas, opulência, poder, glória,

luxo, ostentação, conforto, prazeres: tem sentido conotativo, possui várias conotações (idéias

associadas, sentimentos, evocações que irradiam da palavra).

1-   No texto, padeiro é aquele que entrega o pão. Em muitas cidades brasileiras,

 principalmente nas grandes metrópoles, essa figura já não existe mais. Padeiro

 pode ser quem faz o pão ou até o dono da padaria.

 Na sua cidade, em que situação você empregaria a palavra padeiro?

2-  Procure no dicionário o significado das palavras grifadas:

a)  ―...vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente.‖ 

 b)  ―E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além

de reportagens...‖ 

c) 

―...ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a ― greve do pão

dormido”.

d)  “De resto não é bem uma greve, é um lock-out...” 

COMPREENSÃO

1- 

Assinale a alternativa mais adequada ao texto lido.

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a)  ―O padeiro‖ é um texto bastante dinâmico, uma vez que o narrador -personagem

narra inúmeros fatos que ocorreram em sua vida.

 b)  Trata-se de uma narrativa mais estática, já que a principal atitude do narrador-

 personagem é refletir a respeito do padeiro que havia conhecido.

c)  O texto é basicamente descritivo, não se tratando de uma narrativa.

2-  Retire do texto uma passagem que comprove a escolha feita na questão 1.

3-  O narrador, enquanto toma seu café da manhã, recorda-se de um antigo entregador de

 pães. A respeito disso, responda:

a)  Por que esse entregador dizia que não era ninguém quando batia à porta das casas

das pessoas para deixar o pão?

 b) 

Segundo o entregador, como ele obteve a idéia de identificar-se assim as pessoas?

4-  No sétimo parágrafo, o narrador compara-se ao padeiro. O que há em comum entre a

atividade de ambos? Transcreva o trecho em que o narrador compara o resultado de

sua atividade com o resultado da atividade do padeiro.

5-  De acordo com o narrador, por que ele se sentia importante quando trabalhava no

 jornal durante a sua juventude?

6-  Ao final da narrativa, o narrador revela o que aprendeu com o padeiro. Explique o que

foi.

GRAMÁTICA

1-  Observe:

―Inter roguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo?‖ 

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O autor empregou o verbo ter   na forma simples do pretérito mais-que-perfeito do

modo indicativo: tivera. Essa forma, na linguagem coloquial, geralmente é substituída pela

forma composta: tinha tido ou havia tido. 

Reescreva as frases que seguem, substituindo a forma simples do pretérito mais-que-

 perfeito pela forma composta.

a-  ―Explicou que aprendera aquilo de ouvido.‖ 

 b-  ―Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa...‖ 

c-  ―... e ouviu a pessoa que o atendera dizer...‖ 

d- 

―Assim ficara sabendo que não era ninguém...‖ 

e-  ―... além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar....‖ 

2-  Veja: 

―...o jornal ainda quentinho na máquina...‖ 

―O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar...‖ 

O sufixo  – inho indica, normalmente, o grau diminutivo dos substantivos. No entanto,nas palavras quente (adjetivo) e cedo (advérbio), esse sufixo tem outra finalidade. Que

finalidade é essa?

Discuta com os colegas

1)  Você acha que uma pessoa que entrega o pão diariamente nas casas pode ser considerada

um João-ninguém?

2) 

Você concorda que a desvalorização social de uma profissão leva as pessoas que a

exercem a se desvalorizarem? Justifique sua resposta.

3)  Que profissões são mais desvalorizadas socialmente em nosso país?

4)   Na sua opinião, tem sentido o narrador sentir-se menos importante que o padeiro? Por

quê?

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4.2 TEXTO 2

Operário em construção Vinicius de Moraes

Quantas coisas são construídas para alicerçar nossas estruturas? As casas, templos,

escolas, edifícios ... No mundo são apenas objetos que nos abrigam, valorizados conforme as

leis de mercado mas, o homem se perde no anonimato das construções e vive sobre as

construções que ajudou a levantar.

Para pensarmos um pouco sobre o trabalho que os seres humanos realizam, para quetal construção se edifique vamos analisar e refletir alguns textos que nos remetem a um

mesmo assunto: trabalho 

O poema ―Operário em Construção‖ apresenta, inicialmente, o operário que além de

ser aquele que constrói casas, edifícios, escolas é também representante de todo trabalhador

assalariado, em que seu trabalho vale muito mais do que o que produz sendo, aqui, comparado

a um pássaro por ser símbolo da liberdade e por subir às alturas. Para ler o texto na íntegra

acesse o site: http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/87332/  

Alguns trabalhadores constroem nossas cidades, e não nos lembramos de que seusuor e, às vezes, seu sangue estão impregnados nas estradas, ruas e edifícios queergueram. Vamos nos lembrar desses trabalhadores anônimos, lendo os textosseguintes em poesia.

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INTERTEXTUALIDADE

Pode-se definir a intertextualidade  como sendo um "diálogo" entre textos.  Esse

diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica a identificação

e o reconhecimento de remissões a obras ou a trechos conhecidos.

Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos

textos/contextos em que ela está inserida.

Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento do

mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O

diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única eexclusivamente a textos literários.

Pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de difundir a cultura, uma vez que se

trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).

Observe os dois textos abaixo e note como Murilo Mendes (século XX) faz referência ao

texto de Gonçalves Dias (século XIX):

Canção do Exílio (fragmento ) Canção do Exílio (fragmento)

Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem macieira da CalifórniaOnde canta o Sabiá; Onde cantam gaturamos de VenezaAs aves que aqui gorjeiam, Os poetas da minha terra

 Não gorjeiam como lá. São pretos que vivem em torres de ametista,Os sargentos do exército são monista cubista.

 Nosso Céu tem mais estrelas, Os filósofos polacos vendendo a prestações. Nossas várzeas têm mais flores, Gente não pode dormir Nossos bosques têm mais vida, Com os ,oradores e os pernilongos Nossa vida mais amores......................................... ............................................

Gonçalves Dias   Muri lo Mendes  

 Nota-se que há correspondência entre os dois textos. O poema de Murilo Mendes é umexemplo de intertextualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como ponto de

 partida o texto de Gonçalves Dias. Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é persistente. Sabe-se que todo

texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qualquer textoque se refere a assuntos abordados em outros textos é exemplo de intertextualidade.

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Operário em construção (fragmento) Vinicius de Moraes

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinosdo mundo. E disse-lhe o Diabo:

 –  Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quemquero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.

E Jesus, respondendo, disse-lhe: –  Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.

Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:

 Não sabia, por exemploQue a casa de um homem é um templo

Um templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.

De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadriaQuanto ao pão, ele o comia...Mas fosse comer tijolo!E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreria

 Não fosse, eventualmenteUm operário em construção.

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Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa

 –  Garrafa, prato, facão –  Era ele quem os faziaEle, um humilde operário,

Um operário em construção.Olhou em torno: gamelaBanco, enxerga, caldeirãoVidro, parede, janelaCasa, cidade, nação!Tudo, tudo o que existiaEra ele quem o faziaEle, um humilde operárioUm operário que sabiaExercer a profissão.

...............................................

studo do Texto

VOCABULÁRIO

1-  Dê o signif icado da palavra ―enxerga‖ presente no verso abaixo:

―Banco, enxerga, caldeirão

Vidro, parede, janela‖ 

2-  Explique o significado do trechos a seguir:

a)  ―... a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.” 

 b) 

―De fato, como podia 

Um operário em construção

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Compreender por que um tijolo

Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava

Com pá, cimento e esquadria

Quanto ao pão, ele o comia...‖ 

c)  ―Mas ele desconhecia 

Esse fato extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.‖ 

COMPREENSÃO

1-  Qual é o tema do poema?

2-  No início do poema Vinícius de Morais usa uma passagem bíblica o que podemos

chamar de intertextualidade. Em que versos do poema o autor usou outro exemplo de

intertextualidade.

3- 

 Na última estrofe ocorre uma gradação. Identifique-a e interprete sua função no poema.

4-   Identifique uma metonímia em que se expressa o efeito substituindo a causa.

5-  Agora, explique o título do texto. 

6-  Pesquise sobre o autor do texto lido.

O poeta encerra sua grande edificação mostrando a construção do operário, de sua

consciência e da coragem para negar à ordem, quando esta não representa o seu trabalho. O poema nos leva a pensar qual o nosso papel no mundo. Somos todos operários em construção

que devemos construir o dia-a-dia com tijolos significativos e transformar a realidade num

 Abrigo seguro para os nossos ideais.

 Pensemos nas conquistas de nossas construções individuais, a carreira que

exercemos, nossa importância na sociedade, o orgulho de estar no mundo de forma

 significativa, e verificamos que somos também a edificação coletiva, quando podemos

visualizar, do alto, a construção do nosso conhecimento.

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5 MODULO 2 

5.1 TEXTO 1

A

 MORTE DO LEITEIRO

Carlos Drummond

O poema ”Morte do leiteiro” do escritor Carlos Drummond de Andrade é um dos

mais significantes poemas do livro  A Rosa do Povo”, publicado em 1945. Sua publicação

aconteceu na segunda fase da obra de Carlos Drummond de Andrade, período alge da II

Guerra Mundial  onde o poeta se aproxima do povo, sentindo seus problemas e dando à

inconformidade da gente comum o seu inconfundível toque artístico.

“Morte do leiteiro” , é uma crônica escrita em versos, que nos permite identificar os

 principais elementos da narrativa: um narrador onisciente, personagem ( o leiteiro e o burguês) que vive um conflito, cenário, localização temporal. O drama abordado por

Drummond, além de salietar alguns aspectos da vida urbana, marcada pela insegurança, pelo

medo e pela violência, pode ser entendido como uma metáfora da luta de classes, uma vez que

temos um moço suburbano que trabalha, fornecendo o leite alimento indispensável à saúde e

um proprietário de má índole que tudo faz para a sua propriedade, se coloca acima da polícia

e tudo faz para ―salvar a propriedade‖, mesmo que isso custe a vida de seus empregados.

Também de forma metafórica Drummond trabalha a oposição entre a noite, marcada

 pelo medo, pela total incompreensão; um tempo sem esperanças, quando se dá o crime, e a

aurora, um novo tempo, de renovadas esperanças. Note a simbologia das cores: esse novo dia

é marcado por um terceiro tom róseo, resultante da mistura do branco do leite  –  trabalho- e do

vermelho do sangue –  luta. http://letras.terra.com.br/carlos-drummond-de.../460649

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Carlos Drumond de Andrade ( fragmento) 

[…] 

 Há pouco leite no país,

é preciso entregá-lo cedo.

 Há muita sede no país,

é preciso entregá-lo cedo.

 Há no país uma legenda,

que ladrão se mata com tiro.

[…] 

 Mas o homem perdeu o sono

de todo, e foge pra rua.

 Meu Deus, matei um inocente.

 Bala que mata gatuno

também serve pra furtar

a vida de nosso irmão.

Quem quiser que chame médico,

 polícia não bota a mão

neste filho de meu pai.

 Está salva a propriedade.

 A noite geral prossegue,

a manhã custa a chegar,

mas o leiteiro

estatelado, ao relento,

 perdeu a pressa que tinha.

 Da garrafa estilhaçada,

no ladrilho já sereno

escorre uma coisa espessa

que é leite, sangue… não sei. 

 Por entre objetos confusos,

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mal redimidos da noite,

duas cores se procuram,

 suavemente se tocam,

amorosamente se enlaçam,

 formando um terceiro tom

a que chamamos aurora.

studo do Texto

COPREENSÃO

1)  Comente o porquê de o texto lido ser classificado como uma crônica poética.

2)  Explique os versos:

― Bala que mata gatuno

também serve pra furtar

a vida de nosso irmão.” 

“formando um terceiro tom 

a que chamamos aurora.” 

3) Pesquise qual foi a época que este poema foi escrito.

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5.2 TEXTO 2

ENFERMEIRO

Machado de Assis

Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página de livro? Váque seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não

esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado

Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas interessantes,

mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o

tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos

diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem;

 perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas.Pediu-me um documento humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-

Mogol, nem a fotografia dos Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os

dou a ninguém mais.

Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois

anos, fiz-me teólogo  —  quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói,

antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa.

 Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior,

 perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de

enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com

ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à

Corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila.

Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente,

ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dois

deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e

depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as notícias recebidas, e me

recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel.

Para leitura

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Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal.

Começou por não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que observa; depois, uma

espécie de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum

dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam

ao faro das escravas; dois eram até gatunos!

 —  Você é gatuno?

 —  Não, senhor.

Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo?

 Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? achou que não era nome de gente, e

 propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu

agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque a

minha resposta deu de mim a melhor idéia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário,

acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que

vivemos uma lua-de-mel de sete dias.

 No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não

 pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e

conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinências de moléstia edo temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de

três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente

lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a

dor e a humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir

embora; só esperei ocasião.

 Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da

 bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, efui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena

zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.

 —  Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo. Estou

aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de

ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for, acrescentou rindo, eu voltarei de noite

 para lhe puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo, Procópio?

 —  Qual o quê!

 —  E por que é que não há de crer, seu burro? redargüiu vivamente, arregalando os olhos.

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Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram as

mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro,

camelo, pedaço d‘asno, idiota, moleirão, era tudo.  Nem, ao menos, havia mais gente que

recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico,

em fins de maio ou princípios de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo,

aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um

dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário, ia ficando.

 Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à Corte.

Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de um

doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os

 jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto

do mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de

 brigar com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e

tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui.

Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o

tabelião, quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e

 brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade queme fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e

aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando

as razões, pediram-me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um

mês viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me

substituto.

Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de

raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-meum prato de mingau, que achou frio; o prato foi cair na parede, onde se fez em pedaços.

 —  Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele.

Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei

um livro do bolso, um velho romance de d‘Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus -me a lê-

lo, no mesmo quarto, à pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe

dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página

adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que

 parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e

arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face

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esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao

 pescoço, lutamos, e esganei-o.

Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me

ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o

coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não

 posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio

vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os

gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar,

 para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja

fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me

 bradavam: assassino! assassino!

Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o

silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma

 palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à

consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada,

nada; tudo calado. Voltava a andar à toa na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça;

arrependia-me de ter vindo. —  "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!" exclamava.E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os

que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros

homens.

Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento,

se ventasse. Não ventava. A noite ia tranqüila, as estrelas fulguravam, com a indiferença de

 pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa.

Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a uma recapitulação davida, a ver se descansava da dor presente. Só então posso dizer que pensei claramente no

castigo. Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o

remorso. Senti que os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de

 pessoas, no terreiro espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar;

era uma alucinação.

Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas

vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas,

o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia

fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a

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 boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu

irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a

 ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto;

mandei recado ao vigário e ao médico.

A primeira idéia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade,

recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a

retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver,

com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que

descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava

fitar ninguém. Tudo me dava impaciências: os passos de ladrão com que entravam na sala, os

cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos

trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse à outra com piedade:

 —  Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.

Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da meia

escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então

impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou,

respirei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência, e as primeiras noitesforam naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de

Janeiro, nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia,

tinha alucinações, pesadelos...

 —  Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.

E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura,

impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E, elogiando, convencia-me também, ao

menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, éque, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja

do Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de

 joelhos todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí

esmolas à porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui

só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse:

"Deus lhe fale n‘alma!" E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados... 

Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei,

dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal.

Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram

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a mesma coisa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que

fosse uma cilada; mas adverti logo que havia outros meios de capturar-me, se o crime

estivesse descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser

instrumento. Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.

 —  Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão.

 —  Não sei, mas era rico.

 —  Realmente, provou que era teu amigo.

 —  Era... Era...

Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em

recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-

me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a

recusa podia fazer desconfiar alguma coisa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo;

receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era

também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de

contas saldas.

Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando, recordava

o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a

noite horrenda do crime...

Crime ou luta? Realmente, foi uma luta, em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi

uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa idéia. E balanceava os agravos, punha no

ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o

tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade

daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que

menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer

contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas

coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra coisa. Fixei-me também nessa

idéia...

Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei-me e fui. Receberam-me

com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de

caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira ao coronel, que, apesar de

áspero e duro, soube ser grato.

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 —  Sem dúvida, dizia eu olhando para outra parte.

Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras

necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as coisas

correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me

coisas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era

austero...

 —  Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.

E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu,

a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular

 prazer, que eu sinceramente buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía

alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco?

Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o

escrivão, todos diziam a mesma coisa; e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do

defunto. Os velhos lembravam-se das crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado,

insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos

 pedaços recompunha-se logo e ia ficando.

As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contráriaao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio

achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então

 passados muitos meses, e a idéia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me

dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo;

distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola

à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos. Mandei também levantar um

túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foimorrer, creio eu, no Paraguai.

Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no

coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias

dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo.

Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade

é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade...

Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me

também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao

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divino sermão da montanha: "Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão

consolados‖. 

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do 

ATIVIDADE

1-  Faça um resumo do texto: O enfermeiro

2-  Pesquise sobre o autor.

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6 MÓDULO 3

6.1 TEXTO 1

Descuido na segurança mata operário

Firmino Silva, pedreiro 22 anos, casado, residente na Rua Valparaíso, casa 2, em Caxias,

faleceu ontem, às 12 horas, ao cair de um andaime de um prédio em construção na Rua

Cupertino Durão, 238, Leblon. Técnicos do Serviço de Prevenção de Acidentes, do Ministério

do Trabalho, estiveram no local e constataram a falta de material de segurança e prevençãode acidentes, o que determinou o embargo da obra.

A firma construtora nega-se a fornecer detalhes, mas sabe-se que o material já foi

requisitado e a obra será reiniciada ainda hoje. Firmino Silva deixa esposa e dois filhos. A 15ª

Delegacia de Polícia registrou a ocorrência.

6.2 TEXTO 2

Construção

(Carlos Drumond de Andrade)

Um grito pula no ar como foguete.

Vêm da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.

O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.

Os textos a seguir são de gêneros diferentes, mas trata de um mesmo tema. O

 primeiro uma notícia de jornal e o segundo um poema de Carlos Drummond de Andrade.

O poema se identifica com a notícia pelo tema escolhido, mas difere dela pela maneira

como o poeta utilizou a língua para descrever de modo singular a morte de um operário.

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O sorveteiro corta a rua.

E o vento brinca nos bigodes do construtor.

studo do Texto

VOCABULÁRIO

1-  Procure o significado das palavras grifadas:

―Vêm da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.‖ 

―...o que determinou o embargo da obra.‖ 

2-  No poema, a palavra  placa  tem o sentido de ―plano, batido‖. Na verdade, sua

visualização no verso nos sugere uma imagem. Que imagem seria essa?

3-  ―E o vento brinca nos bigodes do construtor‖. Que figura de linguagem est á presente

neste verso?

COMPREENSÃO

1- Se você fosse redigir uma notícia de jornal, diria que ―um operário caiu‖ ou que um grito

 pulou no ar‖, sugerindo a queda? Por quê?

4- 

 No primeiro verso, o poeta utiliza o signo  grito em substituição ao corpo (operário),quebrando o padrão de comunicação (espera-se que um corpo pule no ar, não um

grito, contendo, portanto maior expressividade poética. O poeta condensou em uma só

frase o corpo em queda, a dor provocada pela morte do homem ou pelo acidente, o

grito efetivo do operário. Essa condensação reforça a quebra do padrão de

comunicação.

Selecione mais dois exemplos em que ocorre uma ruptura com os padrões da

comunicação puramente informativa.

5-  O sol cai sobre as coisas em placa fervendo. 

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 Nesse verso o poeta utiliza um recurso impressionista: a fusão do corpo que cai com a

intensidade da luz solar que acompanha a sua trajetória. Observe que, se você olhasse

 para o alto, veria não só o corpo caindo, mas também receberia nos olhos a intensidade

luminosa dos raios solares.

O horário do acidente é indicado de maneira diferente em cada um dos textos. No

 primeiro texto, a indicação é explícita: ―faleceu ontem, às 12 horas, ao cair de um

andaime...‖. Como ele nos é indicado no segundo texto? Explique. 

6-  O ruído que faz um corpo ao chocar-se com o solo é sugerido, no poema, por uma

 palavra (ou parte dela) que, no contexto, adquire valor de onomatopéia. Transcreva a

 palavra em questão.

7-  A palavra  placa também nos indica o fim do movimento do corpo, a sua chegada ao

solo. Que outro verso nos indica a retomada das ações, a continuidade da vida?

PROSOPOPÉIA é uma figura de pensamente que consiste em atribuir qualidades,

ações ou características própria de seres humanos.

8- 

Retire do poema ―construção‖ um exemplo de prosopopéia. 

O texto literário é apreciado pela qualidade da sua composição. A própria linguagem é

objeto de uma intenção criativa: a função poética está em primeiro plano. As figuras

de linguagem e a riqueza de conotações estão presentes mais nos textos literários do

que em outros. Dá-se muitas vezes mais importância às expressões indireta do que à

direta. É preciso, portanto, fazer uma leitura profunda e interpretativa do texto

literário, considerando que ele é plurissignificativo.

  Em grupo, discuta com os colegas as múltiplas significações que podemos atribuir

a algumas palavras, frases e expressões do poema e os seus efeitos no conjunto do

texto. Comece pelas expressões ―um grito‖, ―como foguete‖, ―o sol cai‖. O verso

“O sorveteiro corta a rua‖ contrasta com que? Qeu sentidos podemos atribuir ao

último verso?

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Leia esta estrofe da música ―Construção‖, na qual Chico Buarque também explora o

tema do operário morto no exercício da profissão, onde o trabalhador é considerado uma

 pessoa qualquer e ainda morre num sábado, atrapalhando o passeio de muitas pessoas que

aproveitam esse dia para descansar. Para ler a música na íntegra acesse o site:

http://analisedeletras.com.br/chico-buarque/construcao.

6.3 MÚSICA

Construção

(Chico Buarque de Holanda)

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu na contramão como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufragoDanço e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Gonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

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studo do Texto

VOCABULÁRIO

1-  Procure no dicionário o significado das palavras sublinhadas.

a)  ― Ergueu no patamar quatro paredes sólidas‖ 

 b) 

―Seus olhos embotados de cimento e lágrima‖ c)  ―Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago‖ 

d)  E se acabou no chão feito um pacote flácido‖ 

e)  ―Agonizou no meio do passeio público‖ 

f)  ―E cada filho seu como se fosse o  pródigo‖ 

g)  ―Tijolo vom tijolo num desenho lógico‖ 

2-  De o sentido denotativo e conotativo das palavras destacadas:

a)  ―Comeu feijão com arroz como se fosse príncipe‖ 

 b)  ―Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago‖ 

c)  ―Tijolo com tijolo num desenho mágico” 

COMPREENSÃO DO TEXTO

1.  Qual é o tema central do poema?

2.  Em relação ao ritmo, que elementos se destaca na construção poética dos versos?

3.  Em relação à descrição da queda do operário, que elementos de contraste podem ser

observados nos quatro últimos versos dessa estrofe de Chico Buarque e os três

 primeiros versos do poema de Drummond.

4.  O operário da construção civil é mal remunerado, não tem perspectiva de visa e nem

segurança no trabalho. Ele teria morrido porque perdeu o equilíbrio e caiu, por falta de

 proteção na obra ou porque perdeu a esperança e se matou? De sua opinião e discuta

com os colegas.

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5.  Para você refletir e debater com sua turma:

―Morreu na contramão atrapalhando o tráfego‖ 

―Morreu na contramão atrapalhando o público‖ 

―Morreu na contramão atrapalhando o sábado‖ 

6.  Vovê acha que o poeta está criticando o pedreiro por atrapalhar o sábado das pessoas?

Qual o valor que se dá à vida humana em nossa sociedade?

GRAMÁTICA

Acentuação das Palavras Proparoxítonas

A acentuação gráfica serve para informar a leitura correta das palavras. Alguns acentos

indicam a intensidade e outros informam se a pronúncia é aberta ou fechada. Devemos nos

lembrar que na língua portuguesa existem as palavras cuja sílaba tônica recai na penúltima

sílaba que são chamadas de paroxítonas ( tijolo, paredes, desenho). Há também aquelas cujo

acento tônico recai na última sílaba e são chamadas de oxítonas ( feijão, patamar, contramão).

Assim, devem ser acentuadas todas as palavras cujo acento tônico recai na antepenúltima

sílaba. São as proparoxítonas: príncipe, pródigo, mágico. A importância do acento –  agudo ou

circunflexo –  para informar a pronúncia correta pode ser vista nos pares de exemplo abaixo:

Meu pai sempre pacifica seus netos. / Sua família é pacífica e ordeira.Ela critica seu modo de cozinhar. / Ela é uma pessoa muito crítica.

 Não publico meus discursos agora, mas no futuro o farei. / Não freqüento parque público.

Sempre me exercito de manhã cedo. / O menino tem um exército de brinquedo.

Pratica bastante, que aprenderás logo. / A prática é diferente da teoria.

Espero que o cantor interprete minhas favoritas./ O embaixador solicitou um intérprete.

Será que você não duvida de nada? / Qual é a sua dúvida agora?

 Não habito no paraíso dos meus sonhos. / O hábito não faz o monge.O trânsito vitima milhares de pessoas por ano no Brasil. / A população é a vítima.

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Peço que analises estas amostras de sangue. / As análises serão feitas no laboratório X.

Já nem calculo quanto tempo perdi. / Fez o cálculo da areia necessária para a construção.

Eu mesma digito meus artigos. / O dígito verificador foi calculado de maneira errada.

1-  Retire do poema ―Construção‖ dez palavras proparoxítonas.

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REFERÊNCIAS

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AZEVEDO, Dirce Guedes de. PALAVRA: verso e reverso. São Paulo: FTD, 1990.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 2008.

CADORE, Luís Agostinho.Curso prático de português. São Paulo: Ática, 1998. 

FARACO & MOURA. Linguagem Nova. São Paulo: Ática. 1994

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:Cortez, 1997.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 2001.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

MAIA, João Domingues. Português:volume único. São Paulo: Ática, 2005

 ____________, Língua, Literatura e Redação. São Paulo: Ática, 1990 

SOLÉ, I. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: ArtMed. 1998.

TERRA, Ernani. NICOLA, José de. Redação para o 2º grau:  pensando, lendo eescrevendo. São Paulo: scipione,1996. 

Sites pesquisados

http://analisedeletras.com.br/chico-buarque/construcao/ - acessado em: 20/04/2010

http://letras.terra.com.br/carlos-drummond-de.../460649 - acessado em: 10/04/2010

http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/87332/ - acessado em: 10/04/2010

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do- acessado em 05/07/2010