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    CAMPO-TERRITRIO: Revista de Geografia Agrria, Uberlndia, v. 1, n. 1, p. 82-106, fev. 2006.

    URBANIDADES NO RURAL: o devir de novas territorialidades

    URBANITIES ON RURAL AREAS: the becoming of new

    territorialities

    Joo Rua

    Professor-Adjunto do Departamento de Geografia da UERJProfessor-Assistente do Departamento de Geografia da PUC-Rio.

    E-mail: [email protected]

    Resumo

    Neste trabalho pretende-se contribuir para o debate travado por alguns dos principaisautores da teoria social crtica, que focalizam o tema das interaes entre o urbano e orural. Os elementos obtidos nas principais abordagens, sugerem que uma outra dialtica

    pode conduzir-nos idia de urbanidades no rural, considerando-as comomanifestaes de territrios hbridos, nos quais urbano e rural interagem.

    Palavras-chave: rural novas ruralidades urbanidades no rural territrio.

    Abstract

    This work intends to contribute to the debate performed by some of the most importantauthors of the critical social theory that focus on the theme of rural-urban interactions.The elements obtained in main approaches suggest that an other dialectic may lead tothe idea of urbanities on rural areas considering this ones as manifestations of hybridterritories, in which the urban and rural intertwine.

    Key-words: rural new ruralities urbanities on rural areas territory.

    Urbanidades no rural: uma necessria reflexo inicial

    Compreender o rural como parte da espacialidade do capitalismo contemporneo

    remete-nos a observar as relaes de poder, o exerccio da hegemonia e a dialtica entre

    igualizao e diferenciao como tendncias contraditrias manifestadas nas interaes

    espaciais rural-urbano.

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    As relaes de poder e o exerccio da hegemonia tm se manifestado, em seus

    aspectos econmicos, polticos, culturais e simblicos. Cidade e campo, urbano e rural,

    vm sendo percebidos como polaridades, nas quais a assimetria de poder e hegemonia, e

    as representaes da resultantes, nos ltimos sculos na Europa, e, no Brasil,

    principalmente depois da Revoluo de 1930 (e da legislao da resultante), tm

    mantido a cidade (e o urbano) como dominante na polarizao que exerce, acentuando

    uma dicotomia que s, nas ltimas dcadas, vem sendo alterada pelas novas lgicas da

    acumulao capitalista. O campo (e o rural) vem sendo percebido, j h algum tempo,

    como mercadoria (terra-mercadoria), capaz de gerar, graas ao trabalho, outras

    mercadorias, alm das rendas obtidas pela especulao. Atualmente, a essas condies

    j tradicionais, so incorporados novos papis, integrados a um movimento deressignificao do rural, em que a natureza e as atratividades do campo, tornam-se

    mercadorias valiosas. No se trata apenas da terra ou do trabalho a ela incorporado.

    Trata-se de novos atributos, muitas vezes imateriais, em que valores ligados natureza,

    paisagem, explorao do trabalho em reas rurais, obrigam-nos a repensar a prpria

    teoria da renda da terra. O capitalismo recria um rural, capaz de, participante de lgicas

    complexas, integrar-se, desigualmente, s mltiplas escalas que marcam as interaes

    espaciais do mundo atual. Esse processo de integrao afeta, sobremaneira, a(re)construo ou a manuteno da identidade social do agricultor e os rebatimentos

    territoriais desse processo. s novas territorialidades, resultantes das interaes

    urbano-rural e s identidades que a elas se integram, que dedicaremos este ensaio.

    Nosso objetivo central definir e analisar tais interaes que denominaremos

    urbanidades no rural. Com isso, procura-se compreender as intrincadas formas de

    produo do espao rural, manifestadas em territorialidades hbridas urbanidades no

    rural- integradas lgica geral do desenvolvimento do capitalismo, tomando como baseemprica parte da regio Serrana Fluminense que ser apenas referida.

    Mencionar a recriao do rural pelo capitalismo e as relaes cidade-campo que

    da decorrem, falar de um tempo histrico amplo em que a derrota dos antigos

    regimes na Europa (feudalismo) e, mais recentemente, no Brasil (escravismo) permitiu

    o processo de construo da hegemonia burguesa e deslocou o centro do poder do

    campo para a cidade e da agricultura para a indstria.

    Como escreve Moreira (2003, p. 115):

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    Como j escrevemos em Rua (2005, p. 48), o Estado, ao viabilizar os complexos

    agroindustriais e favorecer o empresariado rural em detrimento dos produtores

    familiares camponeses, tem mantido os velhos pactos entre os setores do bloco

    hegemnico, contando sempre com a resistncia, algumas vezes manifestada com

    violncia, desses camponeses que desenvolvem estratgias de sobrevivncia particulares

    ou coletivas, quando integrados a movimentos sociais rurais (embora no

    exclusivamente com contingentes rurais) como o MST, o de maior expresso at o

    momento.

    Prosseguimos em Rua (2005, p. 48), relembrando o carter contraditrio do

    capitalismo que se manifesta, mais uma vez, ao no prescindir de manter (e muitasvezes ampliar) relaes no-capitalistas de produo, como demonstra Oliveira (1991 e

    2001). Esses produtores familiares camponeses esto integrados diretamente produo

    capitalista, seja como no-proprietrios, seja como proprietrios. A integrao desses

    produtores aos complexos agroindustriais e aos mercados tem sido viabilizada, pelos

    crditos bancrios, difuso tecnolgica e ampliao da circulao de bens de produo

    industriais para a agricultura. Assim, percebe-se, que o trabalho familiar persiste no

    interior da sociedade capitalista e que ter sua dinmica e reproduo determinadas pelalgica de tal sociedade, de maneira muito diferenciada. Por vezes, tal tipo de relao

    social, se mantm e at se fortalece. Em outras, pode, at mesmo, desaparecer

    concretamente, permanecendo no imaginrio social como um mito ou como base para

    reivindicaes polticas.

    As mudanas no modelo produtivo e organizacional no campo compem

    transformaes mais amplas na sociedade brasileira (por sua vez integradas a alteraes

    sentidas em escala global) que marcam as ltimas duas dcadas. Define-se uma lgicacapitalista em que novas representaes do espao emergem e vo ser difundidas como

    um novo rural. Na verdade so novas imagens, novos sentidos para o espao rural que

    mantm a viso produtivista, at agora dominante, mas que se traduzem em novos

    qualificativos para outras relaes entre o espao urbano e o rural e entre a cidade e o

    campo. Estas novas relaes remetem para uma outra conceituao de urbano e rural,

    mas tambm de agrcola. Rural torna-se, cada vez mais, diferente de agrcola. Ao

    mesmo tempo, distingue-se cidade e urbano explicitando a crescente complexidade que

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    marca tais relaes. Rural e urbano fundem-se mas sem se tornarem a mesma coisa, j

    que preservam suas especificidades.

    Como evidncia disso, atualmente, como, alis, no incio do processo de

    industrializao, a indstria, muitas vezes, ruraliza-se, Hoje em dia, os servios se

    estendem ao campo reforando aquilo que chamaremos de urbanidades no rural

    aceleradas pela industrializao do (e no) campo e da prpria agricultura. O modo de

    produo capitalista recria o campo. H um movimento de expanso fsica e de

    expanso ideolgica dos padres urbanos que vo caracterizar o que alguns

    denominam novo rural que, cada vez mais, se distancia do predominantemente

    agrcola. Desaparece o tradicional corte rural/urbano; a pluriatividade, que mescla

    atividades no-agrcolas (a maioria de carter urbano) e agrcolas no espao rural; adiminuio do tempo necessrio para o trabalho agrcola (mecanizao etc), que podem

    levar o agricultor dedicao parcial agricultura, podendo incorporar outras fontes de

    renda ao oramento familiar; polticas de reduo das reas cultivadas, onde tecnologias

    so incorporadas - rea menor com mais produtividade; novas atividades surgem no

    campo, antes exclusivas da cidade; a localizao de fbricas no campo: a difuso de

    trabalho industrial no campo (trabalho a domiclio); a unidade familiar tornando-se cada

    vez mais distinta da unidade de produo e marcando o momento presente do mercadode trabalho rural. Procura-se cada vez mais trabalhar fora da unidade produtiva, quando

    membros da famlia dedicam-se prestao de servios (tratorista, turmeiro, frentista,

    comercirio, bancrio, veterinrio, piloto agrcola etc); estabelece-se uma estratgia de

    no-fragmentao da terra, aceita por alguns membros da famlia, em troca de outras

    vantagens (estudo, liberao para trabalhar na cidade, por exemplo). Essa caracterizao

    da chamada pluriatividade marca uma nova relao com a terra. Define, ainda, uma

    estratgia de resistncia para permitir famlia nela permanecer. Graas pluriatividade, as funes familiares, ultrapassam em muito aquelas abarcadas pela

    produo, permitindo alternativas famlia para gerir um projeto coletivo de

    incorporao de geraes. Para ns, a pluriatividade j se integra a uma srie de

    urbanidades no rural.

    Alguns autores analisam a pluriatividade1correspondendo a um processo gradual

    cujo desfecho seria o abandono das atividades agrcolas ou a perda relativa de sua

    importncia para a reproduo das famlias e a passagem, tambm gradual, do meio

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    rural para o meio urbano. Do ponto de vista de Wanderley (2003, p. 52), tal desfecho

    no inexorvel e o processo pode ser entendido com sentido inverso: a pluriatividade

    seria, neste caso, uma estratgia da famlia, com a finalidade de - diversificando suas

    atividades fora do estabelecimento assegurar a reproduo deste e sua permanncia

    como ponto de referncia central e de convergncia para todos os membros da famlia.

    Os autores clssicos viam o assalariamento exterior unidade familiar como

    indcio da proletarizao, mas era exatamente o contrrio. Para fugir proletarizao

    que a famlia, ou parte dela, trabalhava fora.

    Tudo isto leva-nos a pensar o rural integrado s transformaes do momento atual

    de (re)organizao do espao pelo capitalismo. O rural permanece como tal, mas

    recriado e integrado a novas lgicas.Moreira (2003, p. 132), sintetiza bem esse processo de recriao do rural, com

    base na pluriatividade e na perspectiva de uma multifuncionalidade do territrio (defesa

    dos patrimnios naturais e culturais), referindo-se ao Brasil, quando escreve:

    Esse (novo mundo rural) passa a ser compreendido no mais como espaoexclusivo das atividades, mas como lugar de uma sociabilidade maiscomplexa que aciona novas redes sociais regionais, estaduais, nacionais emesmo transnacionais. Redes sociais as mais variadas que no processo de

    revalorizao do mundo rural, envolvem a reconverso produtiva(diversificao da produo), a reconverso tecnolgica (tecnologiasalternativas de cunho agroecolgico e natural), a democratizao daorganizao produtiva e agrria (reforma agrria e fortalecimento daagricultura familiar), bem como o fortalecimento dos turismos rurais(ecolgico e cultural).

    Lembra, ainda, o autor, que ocorre uma valorizao da cultura local e a

    dinamizao de agroindstrias associativas de agricultores familiares. Esses processos

    de revalorizao do mundo rural, ressignificando-o (quando se trata de signos herdados,

    ou produzindo novos signos), consolidam atividades rurais e urbanas em reas

    interioranas. Essas ressignificaes tm infludo nas representaes que marcam o rural,

    sendo, por elas, tambm, afetadas provocando a necessria reviso conceitual de rural

    e urbano procurando incorporar as lgicas atuais que marcam o espao, como um

    todo. importante, desde j, deixar claro que no concordamos com o tom otimista que

    marca a maioria dos discursos sobre o novo rural. A integrao lgica do mercado

    coloca novos desafios aos agricultores (aos quais nem todos podem fazer face),

    fortalecendo polarizaes sociais e produzindo desigualdades cada vez mais marcantes.

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    Se h um movimento de unificao urbano-rural pela lgica capitalista, como

    acreditamos, com um certo sentido de equalizao do espao, h, por outro lado, muitas

    manifestaes de resistncia a essa equalizao pretensamente homogeneizadora, que se

    traduzem por estratgias de sobrevivncia das famlias rurais, principalmente daquelas

    mais pobres e/ou empobrecidas no movimento de integrao acima referido., quando

    buscam manter ou (re)construir suas identidades territoriais. Isto nos coloca frente a um

    complexo processo de heterogeneizao do espao, integrada lgica desigualizadora

    do desenvolvimento do capitalismo, na qual interagem dimenses econmicas,

    polticas, culturais e simblicas. Tentar compreender este intrincado processo de

    criao de identidades territoriais, no como um novo rural, mas como novas

    territorialidades, hbridas, mistas de urbano e rural, em que novas geografias soidentificadas, faz com que insistamos na discusso desta temtica, como temos feito em

    textos anteriores (RUA, 2002a, 2002b e 2005) onde defendemos a idia de urbanidades

    no rural, que retomaremos mais frente.

    Devemos propor um outro modo de ver a realidade, oposto quele fundado em dois

    plos distintos rural e urbano, retomando a idia de um espao hbrido, isto , um

    conjunto inseparvel de sistemas de objetos e sistemas de aes (variando em cada

    momento histrico), definio, para espao, consagrada por Milton Santos. Essa idia dehbrido, buscada em Bruno Latour (1994), referindo-se s relaes sociedade-natureza,

    pode ser apropriada por ns ao recorrermos a Santos (1996, p. 82) quando define o

    espao como um hbrido e escreve que a sua existncia geogrfica (dos objetos) dada

    pelas relaes sociais a que o objeto se subordina, e que determinam as relaes tcnicas

    ou de vizinhana mantidas com outros objetos. Ao lembrar que a noo de forma-

    contedo , em geografia, o correlato dessa idia de mistos ou hbridos, esse autor,

    auxilia-nos a rever o rural (em sua multiplicidade) como uma variedade de hbridos, emque a pureza da distino com relao ao urbano, se algum dia existiu, no se percebe

    atualmente.

    Outro autor que trabalha com a idia de geografias hbridas, ao nos apresentar a

    perspectiva de pensar o natural a partir de uma Geografia Humana que abranja o

    natural, isto , repensando o Humano, dentro da prpria Geografia Humana, Sarah

    Whatmore (1999). A natureza (e o rural, em nossa leitura) ser analisada como produto

    da interpretao humana, ao tentarmos romper com o modo binrio de pensar o social e

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    o natural (para ns, o urbano e o rural) em oposio. Para a autora supracitada as

    imaginaes geogrficas tm sido marcadas por essa oposio entre o espao

    construdo (o plo social) e os meios naturais (o plo natural) com hierarquias de

    estabelecimentos humanos marcando gradaes inversas de presena/ausncia do

    social/natural (em nossa leitura particular, urbano e rural).

    Haesbaert (2005, p. 5), sintetiza que hibridao implicaria, a princpio, tambm,

    em territrios mltiplos, territrios hbridos ou, em seguida, quando escreve que o

    mais comum que as pessoas e os grupos sociais desenvolvam, concomitantemente,

    vnculos identitrios com mais de um territrio ou com territrios de caractersticas

    muito mais hbridas, multiterritorializando-se.

    Podemos dizer que a produo de um rural hbrido transcende as condiesmateriais e os processos que lhes do origem. Tal origem est tambm relacionada

    produo de discursos sobre o rural e de poderosas imagens e smbolos, atravs dos

    quais o rural representado como o outro, em relao ao urbano. Isto implica em

    mltiplas narrativas que relacionam as prticas materiais, representacionais e

    simblicas, cada uma apresentando caractersticas particulares que internalizam relaes

    dialticas. O hibridismo re-apresenta um processo de produo de espaos, feitos

    territrios, em um movimento de vir-a-ser e de perptua transgresso (criao).Em Rua (2002a e 2005) desenvolvemos uma discusso apoiados nas principais

    posies a respeito das relaes urbano-rural e cidade-campo, procurando elucidar os

    cenrios que, para diversos autores se apresentavam, ao elaborarem a anlise desses

    conjuntos scio-espaciais. Ocupamo-nos, to somente, daqueles que se balizavam por

    uma viso crtica da sociedade capitalista, naquilo que se refere s relaes cidade-

    campo, num dilogo em que se explicitam diferentes leituras. Tentaremos sintetizar

    algumas das posies que tomaremos como referncia para refutao ou incorporao.No acreditamos que haja limites rgidos (todos os autores se inspiram, mais ou

    menos explicitamente, na teoria social crtica) e o que buscaremos uma abordagem

    mais plural com relao quelas que os rtulos representam. Na verdade percebemos

    que so nfases, e no antagonismos, tericos. Uns autores enfatizam o urbano como

    plo das relaes cidade-campo, muitas vezes vendo a urbanizao como destino final

    do espao; outros enfatizam o rural, mantendo suas especificidades, e resistindo ao

    poder hegemnico do urbano; alguns fazem uma abordagem mais territorial que outros;

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    poucos percebem o territrio como algo mais do que os recortes poltico-

    administrativos. Ns tentamos uma viso mais integradora das territorialidades em que

    o urbano e o rural se mesclam definindo particularidades e singularidades que marcam

    cada localidade. Em Rua (2002a) sugerimos duas vertentes analticas que

    retomaremos aqui muito simplificadamente. Ao cham-las de vertentes analticas,

    temos claro que enfatizamos, em alguns casos, por demais, as diferenas. Entretanto as

    nuances de posicionamento dos autores tornam-se significativas para a anlise de uma

    temtica to complexa.

    Em linhas gerais, muito resumidamente, podemos apresentar essas duas

    vertentes, da seguinte maneira:

    A primeira parece trabalhar com a idia de urbanizao do rural, em que o ruraldesaparecer e se tornar urbano, isto num reducionismo muito simplificador. Essa idia

    tem permeado, com maior ou menor intensidade, as anlises da maioria dos autores da

    chamada teoria social crtica, numa abordagem mais clssica.

    Tal viso do rural tem atravessado a maioria das anlises at hoje efetuadas,

    inclusive aquelas oriundas de Marx que, ao estudar as relaes cidade-campo no

    escapou da viso urbanocntrica que d primazia cidade em sua luta contra o campo e

    corroborou uma imagem retrgrada do campo constituindo-o como o outro da cidade(BOTELHO, 2005, p.146)2. Compreende-se tal viso quando contextualizada

    historicamente (o que no significa que permanea cristalizada no dando relevo s

    mudanas apresentadas pelas formas capitalistas de produo - como na anlise de

    muitos marxistas). Lembra-nos, o autor supracitado (p. 150) que, nas primeiras obras,

    Marx no tinha uma viso transitria do conflito entre campo e cidade, j que apontava

    para a superao dessa luta apenas quando da emancipao socialista. Como o carter

    revolucionrio concentrava-se no proletariado urbano, era nele que residia apossibilidade de transformao da sociedade. Esta viso dicotmica, que no foi

    atenuada em suas obras mais tardias, tem influenciado a maioria dos autores dessa

    primeira vertente analtica.

    A urbanizao do rural pode ser relacionada idia de continuum, em que

    haveria graus distintos de urbanizao do territrio. A viso desses autores marcada

    por uma certa teleologia em que, para alguns, o destino inexorvel do rural

    desaparecer, tornando-se urbano.

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    Essa primeira vertente parece juntar Ianni (1996), Graziano da Silva (1999),

    Santos (1993 e 1996) e Lefbvre (1986, 1999a, 1999b e 2001), como exemplo de uma

    certa leitura das formulaes marxianas e marxistas, a respeito das relaes cidade-

    campo. Embora com diferenas significativas nas suas posies, decidimos coloc-los

    juntos na linha denominada abordagem clssica.

    , parcialmente, na concepo de urbano demonstrada por Lfbvre em suas

    vrias obras, que baseamos a nossa concepo de urbanidades no rural, que

    explicitaremos mais frente. , tambm, com a idia de sociedade urbana como devir,

    como possvel e virtual, que trabalharemos para perceber a urbanizao da sociedade,

    em que o urbano ultrapassa a cidade e se instala na escala do territrio, como nos

    apresenta Santos (1993).Estes sero importantes (no nicos) balizamentos de nossa anlise, incorporando

    a necessria escalaridade anlise lefevriana. Se bem que no concordemos totalmente

    com a viso do autor a respeito da urbanizao inevitvel e da ampliao da oposio

    urbanidade-ruralidade em lugar do seu desaparecimento (LEFEBRE, 2001, p. 69), ser

    com Lfbvre, dentre os autores desta vertente analtica que mais dialogaremos, ao

    longo do trabalho, ao discutirmos qual o carter dessa urbanizao e em que escalas

    se manifesta no territrio.Para ns, h uma escala da urbanizao que abrange todo o territrio, remetendo-

    nos a Santos e Lfbvre, mas tambm existem outras escalas, em que acontecimentos

    locais, fruto de leituras particulares onde as interaes local/global, interno/externo,

    urbano/rural, tero de ser contempladas nas anlises a serem efetuadas, como

    demonstramos em Rua (2005a) ao defender uma vertente analtica que incorpore

    territrio e escala.

    Esta percepo da necessidade de uma abordagem multiescalar que nos fezrecorrer a autores de uma segunda vertente analtica, com a qual mais nos

    identificamos e qual denominamos urbanizao no rural, que pleiteia a manuteno

    de especificidades no espao rural, mesmo quando impactado pela fora do urbano.

    Desta vertente vamos destacar um grupo de autores que, mesmo com enorme

    diversidade, defende uma necessria nfase no rural, concentrada na idia de novas

    ruralidades. So eles: Maria Jos Carneiro, Roberto Jos Moreira, Jos Eli da Veiga,

    Ricardo Abramovay e Srgio Schneider.

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    A posio desses autores (particularmente os dois primeiros) interessa-nos por

    admitirem a possibilidade da convivncia, num mesmo espao, da cultura rural com a

    cultura urbana, o que refora a nossa defesa da idia da presena das urbanidades no

    rural, como veremos.

    Pode-se dizer que, para Carneiro (1998) e Moreira (1999, 2003, 2005), rural e

    urbano correspondem a representaes sociais alteradas, re-elaboradas (ressignificadas,

    como prefere Moreira), consoante o universo simblico a que estejam referidas.

    J a posio de Schneider (1995, 2003) auxilia-nos nas restries efetuadas s

    abordagens de Abramovay (2000, 2001) (mesmo considerando-o como fundamental

    para nossa discusso) e Veiga (2001, 2004), por se basearem em estudos normativos a

    classificao da OCDE.Estes dois ltimos autores diferem de Carneiro (1998), Moreira (199, 2003 e

    2005) e Schneider (2004), por terem uma viso mais economicista e se basearem numa

    perspectiva territorial mais restritiva limitada por fronteiras administrativas (obviamente

    trabalhando com limites ligados dominao e/ou apropriao de uma parcela do

    espao). Veiga e Abramovay, ao estabelecerem o modelo da OCDE3como parmetro

    para se pensar o rural no Brasil, enfatizam demasiadamente a dimenso poltico-

    administrativa (normativa), em detrimento de outras dimenses (simblica, cultural,natural) exigidas para uma anlise mais integradora do territrio.

    Abramovay (2000, p. 7) explicita a idia de que um territrio representa uma

    trama de relaes com razes histricas, configuraes polticas e identidades que

    desempenham um papel ainda pouco conhecido no prprio desenvolvimento

    econmico. Mesmo apresentando uma viso de territrio menos fechada (limitante)

    do que a de Veiga, ainda assim, em suas medidas de ruralidades, volta-se para o modelo

    da OCDE que criou uma nova delimitao das fronteiras entre o urbano e o rural combase em indicadores que permitiriam compreender as disparidades entre diferentes

    situaes territoriais.

    Pensamos que utilizar modelos aplicados em pases desenvolvidos para realidades

    to diversas como a brasileira, em geral, e a fluminense em particular pode levar-nos a

    concluses equivocadas. Afinal, em que pas central, com as dimenses territoriais do

    estado do Rio de Janeiro, existe tamanha macrocefalia metropolitana, com um peso

    poltico, econmico, demogrfico, cultural to concentrado numa nica cidade, como

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    evidenciamos em Rua (2005). No estado do Rio de Janeiro observa-se uma verdadeira

    metropolizao do espao que imprime ao territrio caractersticas antes exclusivas da

    regio metropolitana, fazendo com que no s as prticas sociais, mas, inclusive as

    identidades dos lugares, fiquem sujeitas aos cdigos da metrpole, como bem escreve

    Lencioni (2003, apud Rua, 2005, p. 53). Mais de 95% da populao do estado do Rio de

    Janeiro considerada, estatisticamente, urbana e, destes, 76% residem na rea

    Metropolitana (mesmo tendo reduzido ligeiramente essa participao), o que marca, em

    nosso estado, forte imbricao do urbano e do rural, facilitada pela mais densa rede

    rodoviria do pas (GARCIA, 1998, p. 87). A enorme macrocefalia exercida pela

    AMRJ, demonstrada por Ribeiro (2002, p. 16), quando lembra que dos dez municpios

    mais populosos do estado do Rio de Janeiro, sete esto na rea Metropolitana, j nosfaria relativizar a aplicao dos indicadores da OCDE em nosso estado. Falar em maior

    ou menor densidade demogrfica para definir o rural e o urbano, parece insuficiente

    quando se est diante de to intensa metropolizao, que alcana todo o estado, e o

    ultrapassa.

    Aspecto mais importante ainda o risco que se corre ao distinguir estatisticamente

    urbano e rural, como se faz no Brasil, desde 1938, com a definio oficial do que

    urbano. Rural tudo o que no urbano. As prefeituras, em busca de mais tributosarrecadados, tm todo o interesse em criar espaos urbanos4. Ao IBGE cabe acatar

    tais definies, mesmo que, de h muito, tente formular outras demarcaes. Ao

    enfatizar-se as definies estatsticas corre-se o risco de obscurecer o movimento

    contraditrio que marca as interaes espaciais na atual fase de unificao

    diferenciadora do espao do capital. Reconhecemos, entretanto, que necessrio buscar

    formas de analisar o real e, para isso, utilizar os instrumentos disponveis, mas com

    muito cuidado.Embora fortemente influenciados pela tese da urbanizao da sociedade - do rural

    (ideolgica, cultural, extensiva), integrada lgica capitalista, numa aproximao com

    Lfbvre, reconhecemos que os autores referidos na segunda vertente analtica tm

    razo ao chamar ateno para a diversidade desse processo e para a reapropriao de

    elementos da cultura local pelo urbano.

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    Em busca de uma perspectiva multiescalar das relaes cidade-campo:

    urbanidades no rural.

    Como variante desta segunda vertente analtica urbanizao no rural -

    colocamo-nos em Rua (2002a) com a noo de urbanidades no rural. Retomaremos,

    daqui em diante, alguns elementos da argumentao utilizada, tambm em Rua (2005),

    em favor dessa variante por ns desenvolvida.

    Os dois alinhamentos tericos discutidos anteriormente apresentam anlises

    parciais pois, cada um, isoladamente, no d conta da complexidade que marca o rural

    de hoje, participante das mltiplas escalas da ao social. por isso que tentaremos

    apresentar algumas idias integradoras, em que os, aparentemente contraditrios,

    dialoguem, bem maneira de Morin (2000). Territrio e escala sero ferramentas

    preciosas para re-apresentar a complexidade das interaes urbano-rurais que marcam

    as transformaes pelas quais passa o rural nos dias atuais. A essas transformaes

    denominamos de urbanidades no rural.

    Mas, em que difere o vis das urbanidades no rural em relao vertente analtica

    centrada na idia de urbanizao no rural, com a qual mais se identifica, mesmo

    utilizando uma abordagem lefevriana derivada da outra vertente?Em primeiro lugar, ao enfatizar as especificidades do rural, ou novas

    ruralidades, como boa parte dos autores deste grupo anuncia, pensamos que a nfase

    no rural no pode ser exagerada. O urbano parece-nos realmente dominante, na relao

    assimtrica entre urbano e rural e a maioria dos autores integrados a esta vertente no

    enfatiza este fato, fundamental na construo atual de territorialidades.

    Em segundo lugar pensamos que so duas escalas de ao uma mais ampla na

    qual uma urbanizao difusa, ideolgica e comportamental domina o espao, e umaescala mais restrita que permite solues (leituras) particulares dos movimentos mais

    gerais, processados localmente (sem enfatizar demasiadamente o poder da ao local).

    Um terceiro aspecto de distino diz respeito s mltiplas territorialidades

    vivenciadas pelos diferentes atores sociais (e produzidas por eles), juntamente com as

    diferentes escalaridades da ao, marcando o surgimento de espaos hbridos,

    inovadores, fruto da interao entre o urbano e o rural, como j vimos.

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    As urbanidades decorrentes dessa interao, no sero apenas novas ruralidades,

    e sim, o urbano presente no campo, sem que cada espacialidade perca suas marcas.

    Logo o espao hbrido que resulta dessas interaes, no um urbano ruralizado nem

    um rural urbanizado. algo novo, ainda por definir e que desafia os pesquisadores,

    tanto nos pases da OCDE (onde muitos criticam os critrios atualmente adotados)

    quanto em pases como o Brasil, onde se luta para ultrapassar a concepo oficial de que

    rural tudo que no urbano.

    A ressignificao do rural, atravs da idia de urbanidades no rural inclui uma

    srie de representaes que re-apresentam este espao como um outro rural. Este,

    concebido, primordialmente, na cidade, como uma nova mercadoria, comporta a face

    natural da natureza e porta uma virtualidade, que se torna real. Virtual e real seconfundem nas recriaes que as novas representaes do rural carregam. Essa

    virtualidade integra aspectos da virtualidade lefevriana, do vir-a-ser da sociedade

    urbana, mas realiza-se, concretamente, na hibridez que marca o rural, em geral, e o

    fluminense em particular. O valor de uso est submetido ao valor de troca como

    essncia da reproduo do capital numa sociedade de consumo. O rural se v consumido

    como virtual antes mesmo de se tornar mercadoria, incorporado aos diferentes discursos

    polticos (mas, tambm, miditicos), ou como referncia cultural, para a sociedadecomo um todo.

    Por outro lado, percebe-se que a ressignificao do rural no fruto apenas de

    criaes urbanas, mas tambm das leituras particulares por parte dos habitantes das

    reas rurais, conformando um carter hbrido ao territrio e s identidades criadas com

    componentes rurais e urbanos, usados, estrategicamente, como discursos e

    reivindicaes predominantes, de acordo com o momento vivido pelos agentes sociais

    locais, em que situaes de inferiorizao (frente aos urbanos) e de reivindicao dedireitos convivem nos relatos obtidos na pesquisa. Mais uma vez ficou evidente o

    carter hbrido das identidades territoriais construdas, principalmente naquelas reas de

    maior adensamento de urbanidades como em algumas reas da regio Serrana

    Fluminense, que estudamos mais detalhadamente como empiria desta anlise.

    Mesmo dando destaque s dimenses cultural e simblica, no se pode deixar de

    lembrar que o que se observa uma permanente recriao do capitalismo, nunca restrito

    dimenso econmica, mas contemplando as mltiplas dimenses das relaes sociais.

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    poltico-disciplinar: a apropriao e ordenao do espao como forma dedomnio e disciplinarizao dos indivduos (HAESBAERT, 1997, p. 42).

    A, Haesbaert (1997), remete-nos s dimenses variadas que compem aquele

    conceito. Dentre elas, selecionamos duas que nos pareceram mais significativas para um

    estudo sobre a identidade do rural. A primeira seria a simblico-cultural, em que o

    territrio visto, sobretudo, como produto da apropriao/valorizao simblica de um

    grupo sobre seu espao e onde os geo-smbolos, que definem uma paisagem cultural,

    marcam a inscrio da cultura de um grupo sobre seu espao. A segunda dimenso a

    jurdico-poltica, bastante difundida, onde o territrio visto como um espao

    delimitado e controlado, atravs do qual se exerce um determinado poder, na maioria

    das vezes visto como o poder poltico do Estado (HAESBAERT, 2001, p. 1770). Nos

    espaos rurais, estas duas dimenses, esto em constante conflito, manifestado na

    permanente inteno das prefeituras de urbanizar as reas tidas como rurais, na

    perspectiva de maior arrecadao de IPTU.

    No podemos deixar de mencionar as dimenses econmica (que enfatiza as

    relaes produtivas no embate entre classes sociais e na relao capital-trabalho, em sua

    espacialidade) e a que se baseia nas relaes sociedade-natureza (no que se refere ao

    desigual usufruto dos recursos naturais, mas, tambm numa srie de smbolos e signosque marcam tal relao). Estas ltimas merecem referncia pelo fato de haver, nas

    pequenas localidades urbanas e nos territrios rurais da rea em estudo, uma

    preocupao recente com o ambiente natural, num discurso ecologista de origem urbana

    (mas com intensas repercusses nas reas rurais) a respeito da natureza natural, que

    vem sendo crescentemente apropriado como elemento de revalorizao do rural/local.

    O controle de um espao (feito territrio), privilegiando um uso mais funcional ou

    mais simblico, pelos atores que promovem tal uso, como vimos anteriormente, leva-nos a analisar tal vivncia pelo vis das mltiplas territorialidades, seguindo Haesbaert

    (2004 e 2005), de quem retiramos muitas das idias apresentadas a seguir. Tais atores

    podem vivenciar, embora de forma desigual, concomitantemente uma enorme gama de

    territrios. Alguns grupos, os mais privilegiados, usufruem de uma multiplicidade

    indita de territrios, seja no sentido da sua sobreposio num mesmo local, seja de sua

    conexo em rede por vrios pontos do mundo. importante ressaltar, para no deturpar

    o pensamento do autor supracitado, que no se trata simplesmente da imbricao ou da

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    justaposio de mltiplos territrios que, mesmo recombinados, mantm sua

    individualidade mas, tambm,da capacidade de interagirmos distncia, influenciando e

    integrando outros territrios. Neste trabalho vamos considerar multiterritorialidade

    como a capacidade de usufruir de uma multiplicidade indita de territrios, seja no

    sentido de sua sobreposio num mesmo local, seja de sua conexo em rede por vrios

    pontos do mundo, sendo, assim, multiescalar. Isto para as classes mais privilegiadas

    (Haesbaert, 2004, p. 348) como veremos nos exemplos a seguir.

    As inmeras territorialidades experimentadas por um usineiro do Norte-

    Fluminense, com casa, empresa e terras na regio, mas com residncias (secundrias ou

    no) em Ipanema e em Paris, contrasta com a quase mono-territorialidade do cortador de

    cana da baixada campista ou do meeiro da Regio Serrana, em suas vivncias cotidianaslimitadas. Nas localidades em que a presena de turistas (muitas vezes estrangeiros)

    e/ou veranistas mais significativa, esse contraste ainda maior, por conta do convvio

    social mais intenso entre esses atores. As alteraes sofridas na territorialidade cotidiana

    de um agricultor da regio Serrana so marcantes ao mudar seu calendrio agrcola, por

    conta da poca de turismo, ao alugar seu quintal para campistas ou sua casa por

    temporada, como ocorre em Sana, So Pedro da Serra e Lumiar. preciso referir a

    vivncia virtual das territorialidades carregadas pelos turistas, nos relatos efetuadospor eles, nos hbitos diversos, to contrastantes com os dos locais. O que se deseja

    reforar que o capitalismo tem encontrado novas foras de se transfigurar em

    mltiplas novas mercadorias rural e natureza, em nossa exemplificao e em criar

    outras formas de desigualizao social e espacial, em que a possibilidade (ou no) de

    experimentar as mltiplas territorialidades se coloca como centro dessa desigualizao.

    Haesbaert (2004, p. 360) sintetiza bem esta situao, quando escreve que:

    Assim, enquanto uma elite globalizada tem a opo de escolher entre osterritrios que melhor lhe aprouver, vivenciando efetivamente umamultiterritorialidade, outros, na base da pirmide social, no tm sequer aopo do primeiro territrio, o territrio como abrigo, fundamento mnimode sua reproduo fsica cotidiana

    Outro aspecto que deve ser agora explicado o que chamamos de vivncia

    multiescalar e transescalar dos territrios. As mltiplas territorialidades so vividas em

    mltiplas escalas (mais amplas ou mais restritas). Distinguimos (precariamente) esses

    dois termos pensando relacionar a multiescalaridade capacidade de vivenciar diversas

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    escalas sincrnica ou diacronicamente, enquanto a transescalaridade poderia relacionar-

    se capacidade de transitar5indiferenciadamente pelas diversas escalas. O primeiro

    termo poderia estar mais ligado aos indivduos, socialmente diferenciados; o segundo

    termo poderia estar mais ligado s empresas e ao capital financeiro, como mercadoria

    maior da contemporaneidade, numa aproximao com Swyngedowun (1997, p. 159)

    quando se refere glocalizao da economia e dos nveis de governana.

    No se pode pensar o urbano e o rural, o local e o global, como polaridades, mas

    como interaes assimtricas que no devem silenciar as intensas disputas scio-

    espaciais que obrigam a permanentes reconfiguraes das escalas de ao. O territrio

    urbanizado, numa escala mais ampla, em geral, est relacionado a espaos de

    dominao que impem suas representaes. Na escala local, essas representaestambm se fazem presentes nas relaes assimtricas que a, tambm, vigoram.

    Entretanto, a, que se processam os movimentos de resistncia e de criao de

    alternativas e/ou estratgias de sobrevivncia que podem se manifestar como releituras

    daqueles movimentos mais gerais que marcam o espao contemporneo. O local e o

    geral/global aparecem integrados pelas escalas da ao.

    Em nossa pesquisa temos tentado ultrapassar o corte tradicional rural/urbano, e

    tomar por base as novas territorialidades, com usos estabelecidos pela amplaparticipao dos interessados habitantes das reas de estudo. A sociedade local pode (e

    deve) exercer, permanentemente, um dilogo com o territrio, e que esse dilogo inclui

    as coisas naturais e artificiais, a herana social e a sociedade em seu movimento atual,

    como preconiza Santos (2000, p. 26).

    Esse dilogo assenta-se em intrincada gama de elementos que marcam um dado

    local. Podem ser de natureza interna e atrair e interagir com os fatores externos, numa

    combinao multiescalar que caracteriza cada lugar, de maneira singular. Tudo isto seprocessa em um movimento histrico que evidencia o dinamismo do espao geogrfico.

    Retomando a Discusso

    Assim confirmamos que h uma certa semelhana entre o que chamamos

    urbanidades no rural e as novas ruralidades da segunda vertente analtica que

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    destacamos anteriormente. Entretanto parece-nos que os autores que defendem esta

    perspectiva, alm de enfatizar em demasia o rural frente ao urbano, no contemplam as

    mltiplas escalas da ao de criao territorial. necessrio lembrar que h uma escala

    ampla de urbanizao ideolgica, comportamental, difusa que alcana todo o territrio,

    bem maneira de Lfbvre e uma outra escala local onde tais criaes ocorrem. A

    interao dessas duas escalas que vai definir a qualidade de tal criao um rural

    transformado como querem os autores dessa segunda vertente analtica, mas dando

    lugar a uma territorialidade nova (nem rural nem urbana) que ainda deve ser definida.

    Propomos a idia de urbanidades no rural compreendendo que as especificidades do

    rural devem ser preservadas, inclusive como base para aes polticas necessrias uma

    reforma agrria diversificada, capaz de contemplar a imensa diversidade de situaesoriundas da hibridez que marca as reas rurais de hoje e que essa idia pode auxiliar

    na anlise das mltiplas territorialidades criadas por esse carter hbrido que o espao

    adquire.

    Qualquer agente social procura desenvolver condies de controlar pessoas e

    objetos localizados em seu territrio, para com isso, efetivar projetos polticos,

    econmicos ou culturais. O territrio torna-se um importante instrumento da existncia

    e reproduo do agente social que o criou e/ou o controla manifestando nessas aes asrelaes de poder e hegemonia que marcam as sociedades atuais.

    Lembramos, que para ns, o termo urbanidades no tem o mesmo sentido de

    urbanidade usado, por exemplo, nas diversas obras de Marx e Lefbvre ou por Levy

    (1999, p. 200), todos referindo-se a qualidades do urbano e, quase sempre, das cidades.

    Urbanidades no rural foi inspirado na obra de Poulle e Gorgeu (1997), sem respeito

    sua concepo original urbanit rurale.

    O urbano de Lfbvre no resultado da ao de uma cidade especfica sobre oespao - um projeto societrio, um vir-a-ser que se constitui em um espao-tempo

    renovado; topologia distinta do espao-tempo agrrio tradicional (cclico, que justape

    as particularidades locais). Contrape-se, como diz o autor, ao espao-tempo industrial,

    que ainda predomina, e que leva homogeneidade. O urbano permite, em escalas

    diversas, a heterogeneidade a heterotopia em que os lugares so relativos uns aos

    outros no conjunto urbano (LFBVRE, 1999, p. 45).

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    Portanto, no parece haver contradio entre essa viso do urbano como projeto

    (em que cada lugar e cada momento tm existncia num conjunto, nele se dintinguindo)

    ou como virtual e as escalas locais de anlise, por isso nossa hesitao em arrolar o

    autor numa linha analtica especfica, j que suas reflexes nos permitem integrar as

    escalas mais amplas s escalas mais locais.

    Na escala mais ampla projeta-se aquilo que denominamos, neste trabalho,

    urbanizao ideolgica (difusa, comportamental ...), com tudo de impreciso que essa

    terminologia acarreta. Na escala local desenrola-se um movimento mais concreto,

    mensurvel em certos aspectos. a que se percebe o carter hbrido do territrio. Um

    rural que interage com o urbano, sem deixar de ser rural; transformado, no extinto. A

    hibridez permanente evidencia a criao local, isto , a capacidade dos atores locaisde, influenciados pelo externo, de escala mais ampla, desenvolverem leituras

    particulares dessa influncia e produzirem territorialidades particulares. Essas

    territorialidades, diferenciadamente vividas, podem traduzir-se em mltiplas

    territorialidades para alguns, e reduzida capacidade de experiment-las, para a maioria,

    tornando-se, assim, mais um elemento desigualizador.

    A interao entre a escala mais restrita, do lugar, e a mais ampla, da sociedade

    urbana, se d, tambm, de maneira desigual e com carter desigualizador. Apossibilidade de vivenciar diversas escalas e de transitar entre elas, desconhecendo-

    lhes os limites, desfrutada por poucos. A maioria das pessoas de um dado local, vive e

    experimenta escalas muito limitadas, em sua capacidade de ao, ao mesmo tempo em

    que interage em territorialidades restritas.

    Portanto, fica claro, que a anlise balizada por recortes administrativos torna-se

    bem menos significativa do que as abordagens normativas insistem em apresentar. A

    escala da ao torna-se, cada vez mais, um elemento definidor das interaes espaciais,em nosso caso, das interaes do rural com o urbano como tentamos demonstrar neste

    artigo.

    Notas

    1 - Schneider (2003, p. 91-92) define a pluriatividade como um fenmeno atravs do qual membros das

    famlias de agricultores que habitam no meio rural optam pelo exerccio de diferentes atividades, ou mais

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    rigorosamente, optam pelo exerccio de atividades no-agrcolas, mantendo a moradia no campo e uma

    ligao, inclusive produtiva, com a agricultura e a vida no espao rural. Nesse sentido, ainda que se possa

    afirmar que a pluriatividade decorrente de fatores que lhe so exgenos, como o mercado de trabalho

    no-agrcola, ela uma prtica que depende das decises dos indivduos ou das famlias.

    2 - Estas reflexes vm fundamentalmente, do dilogo travado com esse autor, quando de sua defesa de

    dissertao de mestrado, de contatos posteriores e da leitura de algumas obras de Marx, particularmente

    MARX, Karl. E ENGELS, Friedrich A Ideologia Alem. So Paulo: Martins Fontes, 1998, MARX. Karl.

    O Capital crtica da Economia Poltica. Livro I, o processo de acumulao do capital (tomo II). So

    Paulo: Nova Cultural. 1985.

    3 - Interessante discusso a respeito dos critrios utilizados pela OCDE, para definir rural e urbano,

    travada por Blume (2004, p. 88) em que o autor, ao preparar as bases de aplicao de tais critrios ao Rio

    Grande do Sul, escreve: A OCDE, preocupada em proporcionar um recorte diferenciado para o estudo

    do rural nos pases membros, desenvolveu uma metodologia baseada em elementos territoriais para

    orientar um novo recorte normativo. Para operacionalizar a abordagem territorial foram utilizados como

    parmetros indicadores demogrficos. A partir do resultado desse recorte territorial, foram efetivadas as

    leituras para as dinmicas territoriais urbano-rurais nestes pases (Blume, 2004, p. 87).

    4 - Essa legislao encontra-se em discusso no Congresso Nacional com a inteno de repassar s

    prefeituras a cobrana do ITR, o que trar algumas modificaes no quadro geral.

    5 - Transitar indiferenciadamente quer dizer desconhecer propositadamente os limites das escalas da

    ao, tal a fora dessa ao. Seria um pouco semelhante distino que Haesbaert (2005) procura fazer

    entre multiterritorialidade e mltiplos territrios.

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