Upload
milena-bellei-cherene
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 1/7
- - -
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)
REVISAO
Amido resistente: propriedades funcionais
Resistent starch funct ional properties
Maria Cristina Jesus Freitas
Douto ra em Ciência da Nlltn ào pela Uni ce rs idade estadual de Campinas (U NIC/LH P), Pr ofe sso ra Ao/lllltO ./0 Dep artament o
de Nutrição Hásica e l- :xperilJlet1/af, Instituto de Nutnção, U nite rs idade Fed eral do R io de Janeiro
r:
Resumo
Todo amido ingerido não é sempre digerido e absorvido no intest ino delgado. Uma parte do amido de certos alimentos
resiste à digestão enzimática no intestino delgado e ao atingir o intestino grosso é hidrolisado parcialmente pela microflora.
Nesta circunstância será denominado amido resistente (AR). O AR é encontrado em alimentos cozidos, resfriados e processados,
mas ocorre também in natura em batata crua e banana verde e outras fontes naturais. O fruto verde é rico em AR nativo. A
presença de AR na alimentação apresenta efeitos benéficos no metabolismo intestinal, lipídico, glicídico, principalmente no
transporte glicêmico e na rnicrobiora colónica. --
Palavras-chave:
Amido resistente, metabolismo intestinal, lipídios,
gncídíos
e microbiota.
Abstract
Not all ingested starch is digcstcd and absorbed by the small intestinc. Parr of thc srarch from some kinds of food
resists cnzyrnatic digestion, and rcaches thc I;.~ge inrestine where it is partially hydrolysed
by
the microflora, This kind of
starch is known as resistant starch (RS). Resistam starch is found in cooked, coldcd and processed foods, although ir is
<
naturally found in raw potatoes and green bananas and orher natural sources. There are-some evidcncc of its positive effect
in rhe Iarge intestine as well : 1 . . < ; on lipidic and glycidic metabolism and the microbiotic contents of thc colon .
Key words: Resistant starch, intestinal metabolism, lipids, glucose and microbiotic.
Artig~ recebido em 1,5 de
fevereiro
.de
2002,
aprovado em 1 de março de
2002.
EnOefeÇ l para correspondência:
Universidade Federal do Rio de Instituto de Nutrição Josué de Castro - DNBE-CCS.
Av Brigadeiro Trompowsky s/n. Cidade Universitária
21940-590
Rio de Janeiro
RJ,
Tel:
21)25626602/22808343,
E-mail:
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 2/7
---_ ..
__
.
__
. _
Nutrição Brasi l - maiO/junho 2002;1(1)
o amido é a principal fonte energética dos
humanos. Distinguem-se três priocipais tipos de
amido ingerido: o amido rapidamente digerido, o
amido.Icnramenre digerido e < amido resistente [1]l
Cerca de 10% do amido ingerido escapam à digestão
da U-amilase pancreática no intestino delgado e (
chegam ao intestino grosso onde são fermentadO
J
ela microflora alterando o ambiente luminal e
favorecendo o metabolismo dos colonócitos {2-8].
A ingestão de diferentes tipos de AR fornece
respostas nutricionais diferenciadas, Nos últimos anos,
I
vários trabalhos [9-11] vem ressaltando a participação
•...• ~~ AR na resposta clínica em decorrência da ferrnen-
. ção colônica demonstrando alteração do meta-
. olismo lipídico e microbiota intestinal modificada.
Alguns trabalhos verificaram a relação de dietas
ricas em AR com características relevantes da massa
fecal [12-21] e fundamentalmenté com o metabolismo
~gliddico [22-24]. Finalmente em humanos, os estudos
utilizando dietas com AR de bananas indicaram
respostas semelhantes às encontradas nos estudos
com animais [14].
O amido resistente (AR) é encontrado em
alimentçsxozidos,
resfriaGGS-
e processados, mas
oco~;~mbém in nalum em batata crua e banana verde
eoUtraS t'õUt~s
naturais.
Amido
As principais fontes de amido são representadas
pelos grãos de cereais (40-90% do peso seco), pelas
leguminosas (30-70% do peso seco) e pelos tubérculos
(65-85% do peso seco). Fornecem 40-80% da energia
ingerida para a maioria dos povos do mundo.
O amido é composto por cadeias de arnilose e
amilopectina. A primeira é um polimero linear de
glicose com ligações glicosídicas do tipo a-1,4 e
compreende 20-30% do amido; a segunda é um
polímero ramificado constituído de ligações
glicosídicas do tipo a-I, 4 com cadeias de glicose ligadas
em a-l,6 conferindo uma estrutura esférica, normal-
mente, representa 70-80% do grânulo de amido. A
fração não glicídica (proteína, lipídeos e fósforo)
representa 0,5 a 2% da composição química total.
A composição e as propriedades do amido.
variam quanto à origem botânica e são alteradas por
modificações químicas ou físicas quando submetido,
por exemplo, a processamentos térmicos e estocagem.
A organização do grânulo de amido depende do modo
pelo qual estão as moléculas de arriilose e amilopectina
associadas. Quando as ligações são numerosas e
4
regulares as cadeias se associam formando zonas
cristalinas, mas se as ligações são pouco numerosas e
irregulares, as cadeias se associam formando as zonas
amorfas. Zobel {25], relatou que 15 a 45% do grânulo
de amido nativo apresenta cristalinidade, sendo assim,
a cristalinidade não é o principal modelo de organização
dos polimeros no grânulo de amido.
Entre as zonas totalmente cristalinas e as zonas
amorfas existem estruturas co~ densidades variáveís
•
e progressIvas que se evidenciam por aprese' ;:;:-',
níveis distintos de resistência, a saber: umácaril;;:da . = ,
amorfa seria rapidamente hidrolisada; uma camada
--SeiTlÍ-cristalina teria hidrólise mais lenta e finalmente--
-~correriam camadas cristalinas resistentes a hidrólise -
..áci-da--e enzimática._Em geral estas estruturas
~presentam cerca de 40, 30 e 20% do grânulo de
amido, respecrivamente [26].
Por muito tempo foi descrito que a organização
estrutural do grânulo de amido era fibrilar. A partir
do final da década de sessenta foi proposto um modelo
de organização em
c lusters
das cadeias de
amilopectina [27].
Estudos de Gallant et ai [27], Faisant et ai [5] e
Gallant el al [28] sobre a organização do grânulo de
amido de vários tamanhos e tipos (feijão e milho)
descrevem que o amido é constituído por regiões
_ cristalinas alternadas de camadas semicristalinas e que
as regiões cristalinas de amilopectina compõem
supercl l(slerl'
ou super hélices, altamente ordenadas,
formando blocos de vários tamanhos com canais
radiais. Essas estruturas estão conectadas por ligações
glicosídicas (a-I, 4-D-glicose), presentes nos canais e
zonas amorfas as quais seriam as regiões mais
suscetíveis à ação hidrolítica de ácidos e enzimas.
A cristalinidade é analisada classicamente pelos
seus padrões de difração de raio-X e tem revelado
em geral que grânulos de amido de tubérculos são
mais cristalinos que de cereais. Assim regiões
altamente ordenadas conferem ao grânulo padrão de
difração de raio-X caracterizado como A, B ou C
dependendo da origem botânica. Os amidos de
cereais, com difração de raios-X padrão do tipo A,
são termodinamicamente mais estáveis e talvez mais
compactos que os do tipo B; amidos de'batata crua,
banana verde, amidos retrogradados e grãos ricos em
arnilose têm padrão de cristalinidade do tipo B e são
também resistentes à rz-amílase pancreática; amidos
de leguminosas e sementes apresentam padrão tipo C
[27), e com freqüência são resistentes à ação enzimática,
No grânulo de amido a região amorfa é menos
densa, absorve água mais rapidamente e é mais
suscetível às modificações químicas e enzirnáticas [29].
É necessário lembrar que as modificações que
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 3/7
ocorrem durante o processamento de produtos
amiláceos afetam a sensibilidade à ação enzimática
tanto
in v iv o
quanto
i n o it ro ,
fato este que está na origem
do conceito de amido resistente.
No processamento industrial ou doméstico de
alimentos ocorre a gelatinização que consiste em
processo endotérmico de fusão dos cristalitos de
amido [29]. No tratamento térmico o grânulo de
amido sofre hidratação, intumescimento e ruptura da
estrutura granular e consequentemente solubilização
das moléculas. O progressivo resfriamento de uma
suspensão de amido é caracterizado pelo gel viscoelás-
tico formado pela rede tridimensional de moléculas
associadas fisicamente por pontes de hidrogênio. Os
géis de amido retrogradam, isto é, passam por
transformação estrutural durante a estocagem,
ocorrendo agregação de cadeias, recristalização,
aumento de rigidez e separação de fase entre polímero
e solvente, A retrogradação do amido é influenciada
por diversos fatores e, além da digestibilidade, afeta
também a textura e aceitação dos produtos.
Considerando-se que a gelatinização do amido
facilita a ação enzimática e que a quantidade de enzima
pancreática (a-amilase pancreática) é mais do que
suficiente para a digestão do amido dietético, poder-
se-ia esperar que todo amido ingerido fosse totalmente
hidrolizado no duodeno e jejuno, mas não é o que
ocorre. A digestibilidade do amido varia de amido
rapidamente digerido para amido lentamente digerido
e finalmente para o amido resistente à digestão como
demonstrado na Tabela I [30].
Amido resistente
-
~
O termo Amido Resistente (AR) foi
originalmente usado para designar a fração do amido
que resiste à degradação pela ação da amilase
pancreática i n ouro. Após dispersão e ebulição em água,
seguido de solubilização com hidróxido de potássio
ou dimetilsulfato, esta porção pode ser hidrolizada
pela amiloglicosidase.
Nutrição Brasil· maio/junho 2002;1(1)
EUREST A
Ellropean
F la ir-Con certed
Action
on
Resistante S tarch em 1992 [31], descreveram que o
amido resistente consiste de três frações
in vivo
distintas, as quais dependem principalmente do
alimento e do tipo de amido: uma fração seria
composta por oligossacarídeos (incluíndo glicose); ,
outra fração teria a-glucanas lineares de alto peso
molecular (principalmente nos grânulos de amido) e
a terceira fração teria Qldeias longas provavelmente
partes do grânulo de amido [32].
Czuchajwska el
al
[33] e Gallant et
al
[28] relatam
que o amido resistente é composto por diversas e
variadas formas, sendo estas resultantes de forças de
ligações intermoleculares variáveis. Possuem regiões
cristalinas formando blocos e regiões amorfas de
domínios menos ordenadas interpostas e interela-
cionadas com aquelas citadas regiões cristalinas. Por
outro lado, o conceito fisiológico de amido resistente
foi estendido de modo a incluir todo amido ou
produto da degradação de amido não absorvido no
intestino delgado de indivíduos saudáveis.
Englyst e Cummings [14] classificaram o amido
resistente (AR) de acordo com a resistência à digestão:
amido inacessível fisicamente é o amido encapsulado
pela parede celular de alguns vegetais foi identificado
como AR tipo I (AR ) ocorrendo em grãos
parcialmente triturados, (sementes e leguminosas);
amido resistente nativo (menos freqüente, não é
formado hidrotermicamente) e foi identificado como
A R
do tipo
2 (A Ro),
prescnte em batata crua e bananas
verdes; amido retrogradado, produzido durante ciclos
de cozimentoj resfriamento e estacagem corresponde
ao amido que após ter sido gelatinizado e resfriado,
passa por um processo de recristalização ou seja de
retrogradação. Este processo é irreversível e o amido
é identificado como AR tipo
3
(AR;).
Os produtos amiláceos podem conter um ou
mais tipos de AR, podendo os tipos
1, 2
e
3
coexistirem no_;mesmo alimento; a quantidade
dependerá de muitos fatores iniciando-se pela origem
botânica e alterando-se pelo processamento e _---..
, ~eõãffiento do -alimento, por exempl9'
Tabela I - Classi fi cação nut ri cional do amido in v tr
Tipo de amido Exemplo de ocorrência
Provável d igestão no
intestino delgado
Amido Rapidamente Digerível (ARO)
Amido lentamente Digerível (ALO)
Amido resistente AR
Tipo I Amido fisicamente inacessível Grãos e sementes parcialmente moídos
Tipo -t fuflnú1osamido resistente Batata crua e banana verde
Tipo 111Amido retrogradado Batata cozida e resfriadaPão e f locos de milho
Alimentos amiláceos recentemente cozidos
Principalmente cereais crus
Rápida
Lenta mas completa
Resistente
Resistente
Resistente
Fonte:
Eng/yst
et
ai.,
European Joumal
of
Clinical Nutrition
46: 2 ,
p.
533-50,
1992. [ 1]
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 4/7
Nutrição
Brasil·
maioljunho 2002;1(1)
A presença de AR tem sido detectada em
diversos alimentos comercializados. A análise do teor
(de AR, contido no~jmeoos brasileiros::tem=s:ido
; reãIiZa~ª-Jla .USP com a finalidade de gerar o Banco __
de Dados Brasileiro de AR [3.1],_q1,l~_c.Qotémo t~
deAR de aproximadameQt~ ..12B--Âlimentos_
C ,
- - = - = - ~ = - - = . . . . . - : = . . : . - ~ ~ ~ ~
consunudos pela população brasileira. Alguns destes
âãdos---esão expostosnaf;bela 11. Em todos os
alimentos as q -lantidade~o variáveis e
~uenciadas por diversos fatores: temp-eratura e
u~ade, auto clavagens/resfriamento, presença de
l .Eiaeos, tama-nho da cadeia de amilose e
amilopectina, temperatura/ te l..E~de3Ll1lazename-nt~
teor de açúcar, dentre OU((Qs_[3.3, 35-38]. Até o
m~eoto dois produtos foram descritos como sendo
_naturalmente ricos em
AR-º
anúdo de batata crua e
o de bananas verdes.
Tabela 11- Conteúdo de amido resistente em
alimentos brasileiros
AUMENTOS
A R 1 o
Arrozpolido , cozido
Aveia em flocos
Macarrão Cozido
MilhoCozido
Fubá de milho cozido
Mandioca frita
Pão francês
Batata cozida
Elvilha cozida
Feijão preto cozido
Fonte:
[34]
0,66
1,41
0,42
1,05
1,26
1,31
1,34
0,48
1,55
1,54
Amido Resistente x Propriedades
Funcionais
A ingestão do amido resistente no Brasil na
década de 90 não passou de 3,4 g/ dia [34]. Tem sido
recomendado em vários países da Europa um
consumo médio de 4 g/ dia/ pessoa. De maneira geral
os estudos mostram que 4 a 10% do amido presente
na dieta pode ser resistente à digestão enzimática. Essa
porção significativa de carboidratos ingeridos que
escapam à digestão e à absorção no intestino delgado
passa ao cólon e cerca de 90% desses carboidratos
não absorvidos são fermentados por bactérias,
influenciando a composição dos metabólitos na luz
intestinal, sobretudo dos ácidos graxas de cadeia curta
que estão relacionados com redução do risco de câncer
de cólon. Alguns benefícios potenciais do AR são
descritos a seguir:
<
43
Efeito no trato intestinal
Numerosas investigações têm demonstrado o
efeito fisiológico do amido resistente principalmente
pelo grupo de trabalho da EU RESTA [31]. Em 1994
este grupo concluiu que o consumo de amido
resistente em quantidades fisiológicas influenciava a
absorção de esterollevando à redução da excreção de
ácidos biliares enquanto que nenhum efeito foi
demonstrado na absorção de vitaminas e mir : -,
Quanto à absorção de glicose, o amido resistente
i.x·~
si só não influenciaria nesse processo, mas em alguns
casos, devido
à
reduzida suscetibilidade enzimática, a
disponibilidade da glicose foi lenta e gradativa como
descrita na literatura [1 e 39].
Gee
et ai.,
[40] utilizaram várias fontes de AR:
anúdo de milho com alto teor de amilose (H ylon
VIl),
Hylon VII retrogradado, Hylon VII modificado
(gelatinizado e resfriado em nitrogênio líquido)
e
extrusado de Hylon VII, produzidos pela EURESTA
[31], objetivando investigar o efeito fisiológico na
função e estrutura do intestino de ratos alimentados
com dietas acrescidas de 20% desses amidos por três
semanas. O impacto do AR no trato gastrintestinal
foi avaliado segundo parâmetros: mudanças na massa,
dimensão e composição do conteúdo do intestino e
atividade fermentativa. Os autores obtivera ll
aumentos similares de excreção fecak em todos os
animais alimentados com AR. Uma das maiores
mú~s foi o aumento da atividade fermentativa
no cécum dos animais submetidos à dieta com AR.
com expressivo aumento de butirato e alterações das
.. _~mensões das criptas da mucosa intesti~: - .
. Os mesmos autores relataram que a composição
química hepática dos ratos alimentados com AR não
sofreu alterações, porém o nível de certas enzima~
principalmente aS associadas
à
lipogênese ,(glicose-i)-
fósfato
desidrogenase) .esta~am elevadas. Quanto à
secreção do glucagon, este estava reduzido nos animais
submetidos ao extrusado Hylon VII e amido
modificado Hylon
VIl,
respectivamente. Os autores
concluíram que os efeitos fisiológicos em tatos das
dietas contendo AR estão sobretudo associados
ao
'-processo fermentativo no intestino gros~ o quai'Seria
um modelador potencial da capacidade proliferativ~
dos enterócitos.
Eerlingen e Deleour [41] ao caracterizarem
AR do conteúdo ileal de humanos revelaram que
AR consiste em três frações de a-glucanas: a prirneirsa
composta de oligossacarídeos (DP n
<
5) ou seja ,
produtos da hidrólise do amido; a segunda é urnsa
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 5/7
44·
fração cristalina (O P n = 15) compos ra-de amido
retrogradado e a terceira
é
a fração de a-glucanas de
elevada massa molecular (Dp n > 100) que escapam à
digestão por inacessibilidade ou insuficiência de tempo
de contato com a enzima. Concluíram que tanto
in v ivo
quanto in uitro o AR excretado é similar. Encontraram
também que os animais submetidos às dietas com AR
apresentaram bolo fecal e conteúdo cecal aumentado
e pH reduzido. Seguindo esta linha, Cummings et
al
[42], estudaram em humanos a digestão de quatro
fontes de AR: batata, banana, trigo e milho. Os autores
observaram nos indivíduos que ingeriram AR, ocorreu
aumento da massa e nitrogênio fecal, de energia
excretada e ainda relatos de sfeito-laxarizo
O amido resistente tende a aumentar a excreção
fecal. Shetty e Kurpad [13] mostraram que a suplemen-
tação de 100 / dia de ami de milho verde aumenta
30% da massa fecal sem modificar o trânsito inteson .
-'~o com
humanos
que receberam
diariamente uma dieta contendo 45 g de Hylon VII
(amido de milho com alto teor de amilose) mostrou
mudanças significativas na função colônica e na
proliferação das criptas celulares, incluindo ainda o
aumento da excreção fecal [43] .
Johansen et o [44] demonstraram que a
digestibilidade do AR de amido de milho nativo cru
foi baixa, porém foi compensada pelo aumento da
fermentação no cécum e no cólon de ratos. Vários
autores Brunsgaard
tI al
[45]; Edwards
ti al
[ ]
Mathers
ti al
[46]; Muir
et
al [5]; Cummings e
MacFarlanc etai [7 ] concluíram que diferentes tipos
de AR apresentam diferentes taxas de fermentação in .
uitr o e in
vivo
e que os produtos da fermentação apre-
sentam impactos sobre a integridade dos colonócitos.
Freiras e Tavares em 2001 [47], estudaram o
metabolismo intestinal do amido resistente de bananas
Musa AAA-Nanicão e
M us a
AAB-Terra) em ratos
durante dez dias. Os resultados expressaram baixa
digestibilidade e alta excreção de AR, sobretudo de
Mas« AAA-Nanicão resultou em maior quantidade
de material fecal. As dietas contendo AR lv[usa AAB-
Terra promoveram pellets fecais de menor tamanho
e em menor quantidade, possuíndo formas irregulares
e friáveis. É pertinente enfatizar que a integridade
- , ,-
histológica permaneceu inalterada, apesar da excessiva
dilatação devido à alta fermentação e sobretudo cecal
e
colônica.
~feito no metabolismo lipídico e glicídico
./V
O amido resistente e outros carboidratos rema-
nescentes .da dieta fermentam no intestino grosso,
Cummings t
ai
[42) relataram que as mudanças da
Nutrição Brasil· maio/junho 2002;1 1
estrutura física dos distintos tipos de AR podem expli-
car os diversos graus de fermentação dos AR no colono
Cummings
et al
[48] oJ:>servaram aumento da
excreção de ácidos graxos de cadeia curta, quando se
~ uma dieta rica em AR com produção elevada
de acetato \propionato e sobretudo de butirato. Esses
ácidos graxos voláteis (AGV) alteram o pH local
e ~
influenciam o metabolismo dos colonócitos.
Englyst
et
ai
[ 4 ? J
reforçam que a produção de .. , ':
ácidos raxos de cadeia curta pela microbiot .
11''-
intestin me' p lCar narecnlçãO---
~esterol plasmático e na tolerância à glicose. s
autores relataram que o AR, guando acrescido àê1ieta,
_reduzia a concentração de colesterol ~ como
também aumentava a excreção biliar, temIº- um efeito
/comparável ao de fibra solúvel da dJeta. In~~
se ~'efeito do AR pode ser devido ao efeito da
excreção fecal de esteróis neutros e ácidos biliares.
Edwards et al [4 ] demonstraram
in vi tro
por
inoculação do material fccal em substratos
fermentáveis como lactulose e AR, a inibição da
conversão de ácidos biliares primárioscm secundários
~ e ~iminuiçã.2 da concentração de ácido deoxicólico
solúvel e substâncias que provocam litíase biliar. <f--
~ ~a:n Munster
ti
al [2 3] observaram redução na
fração de ácidos biliares secundários no material fecal
de 93 para 82% e diminuição significativa da concen-
tração de ácidos biliares citotóxicos na fração aquosa
do material cecal de indivíduos submetidos à ingestão
de 45 g de HylonVU (60% de AR) por 14 dias.
Annison e Topping, [50] afirmaram que o
butirato possui efeito sobre a renovação celular dos
colorióciros. A deficiência dessa substância no
intestino grosso tem sido associada ao
desenvolvimento de processos carcinogênicos,
enquanto que o propionato, parece inibir a síntese de
ácidos graxos no figado e reduzir a taxa de secreção
do triacilglicerol.
De Oeckere
et al
[51] investigaram o efeito
hipocolesterolêrnico do AR, explicando-o pelo
aumento da excreção fecal de ácidos biliares primários
e esteróis neutros. Seus trabalhos confirmaram que a
ingesta aumentada de. AR eleva o ~ool d~ :i des
biliares no fígado. contribuindo
d e s ; : ; ;
forma ; : f a a : .J--
redução da concentraÇão do colesrerol sérico.
Younes
et al;
[1 8 ] estudaram o efeito do AR de
batata no metabolismo de colesterol e ácidos biliares
em ratos. '0rificaram que o AR a~:esentou maior efeito ~
.na redução
do
caL triaci alie 'is séricos. . ~
Khallou
et
al
[52] estudaram a incidência e
colelitíase e o metabolismo do colesterol e ácidos
biliares em hamister alimentados com dietas contendo
AR (amido com alto teor de arnilose autoclavada) em
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 6/7
~
Nutrição Brasil - maiO/junho 2002;1(1)
proporções crescentes 12, 36, 48 e 72,5 . (erificaram
diminuição significativa dos níveis de colesterol sérico
e do índice litogênico nos animais submetidos às dietas
contendo 36, 48 e 72,5 de AR.
Levrat et al [19] estudaram o efeito no
metabolismo de colesterol e triacilgliceróis de ratos
submetidos a dietas com goma guar à 8% e AR à
20 . Ambos os polissacarídeos reduziram signi-
ficativamente o colesterol e triacilgliceróis plasmáticos
em 40 e 36%, respectivamente.
Lere-Metzger
et al.
[53] investigaram as
conseqüências metabólicas da ingestão crônica de duas
fontes de amido Pbaseolus atirem e amido de trigo)
por duas semanas em ratos normais. Concluíram que
a ingesta do amido de feijão reduziu a concentração
dos ácidos graxas livres, triacilglicerol e fosfolipídeos,
enquanto que o amido de trigo não alterou as
concentrações séricas estudadas.
Freiras e Tavares [47] verificaram, em ratos, que o
consumo de amido resistente de bananas verdes reduziram
significativamente o colesterol sérico. Estes animais
obtiveram melhor relação das frações LDL/HDL
(
-- Os mecanismos propostos para
o
efeito
hipocolesterolêmico do AR e de outros
polissacarídeos (fibra solúvel da dieta) saõ abordados
na literatura como: modificação na absorção e meta-
l bolismo dos ácidos biliares; interferência na absorção
}
e
m~~~~_o ~i~?_?~ s
íp ~rodução de..ácidos
gr~xo~
-Võ áteis P..t:.<?_Y~Qi( ~S~LdaJer:mentaçio--n~e.
(
:llter:lções na concentração e na sensIbilidade iInsulina
h~()~tE?~~~r. 1Qoi05 [1 7 e 51 ]
' -Outros trabalhos Fernandez et ai, [55]; Khalou
et ai., [52]; Levrat et ai, [19]; Smet et ai, [54]; Vahoof e
Schrijver [56] e Yamamoto
et
ai, [57], e associados ao
metabolismo do colesterol com amido não digerido
sustentam os mecanismos propostos acima
explicando que há possibilidade da estrutura helicoidal
do AR apresentar sítios de ligação com esteróides,
impossibilitando a hidrólise do AR. Por outro lado
foi considerado que a proliferação das bactérias
colônicas ou de suas enzimas envolvidas com a
redução do colesterol estariam também relacionadas
com a redução do pH, com a produção dos ácidos
graxos võláteis e com a diminuição do potencial redox.
. Xue
et
ai, [58] constataram que o teor de amilose
e o teor de AR da cevada estão correlacionados com
a resposta glicêmica. A resposta glicêmica diminuiú
após submeter amostras de cevada à autoclavagem.
Os autores atribuem tal fato à formação de AR.
Truswell,
[59]
e Faisant
et
ai,
[5 ]
não encontraram
.correlação ...da gliccmia sangüínea de humanos com
di~tas ricas em AR, porém os dados de Englyst et ai,
[49,64] são contraditórios. Demonstraram que quan-
·45
do a taxa de digestão do amido é diminuída, a elevação
glicêmica pós-prandial é reduzida ou retardada.
Vários
autores
Jenkins
et ai.,
[60];
Lijeberg e
Bjôrck, [61]; Gõni et al., [62]; Akerberg et ai, [ ];
Englyst et al [64] verificaram que a ingesta de
diferentes tipos de alimentos produziriam variadas
respostas glicêmicas. As diferenças foram devido ao
tipo de carboidratos ingeridos, ou seja, carboidratos
de lenta digestão freqi.ientemente apresentam menores
respostas glicêmicas e carboidratos de rápida
< 1 , , : ( •
geralmente apresentam maiores re<;postas glicêmicas.
Outros fatores importantes sobre a glicemia pós-
prandial é a forma do alimento, a quantidade de fibra
da dieta, a quantidade de amilase, o tipo de
processamento do alimento
[ 60 , 6 5- 68 ] .
Menezes
et
ai,
[69], em ensaio com humanos,
verificaram que o feijão proporcionou menores
respostas glicêmicas do que o arroz, polenta e arroz
com feijão, reforçando que o aproveitamento do
amido do feijão é reduzido em relação aos amidos
dos outros alimentos.
Efeito na microbiota intestinal
A fermentabilidade do amido depende da
composição da flora colônica e da adaptação desta ao
substrato. Vários estudos [2,30,70,71] têm indicado que
o amido resistente é mais fermentável que as fibras
solúveis da dieta. Uma das explicações é a facilidade
desse
substratc ser
fermentado à luz intestinal,
a
c.utra
é a capacidade da microflora que se adaptou aos demais
substratos que estão regularmente no ambiente Iuminal,
Cummings e MacFarlane [7 ] concluíram em
estudos in miro de inoculação de fezes humanas em
substratos fermetáveis como lactose e AR, que o
amido foi o melhor substrato dentre os polissacarídeos
testados para produção de butirato,
Alies et al., [72], relataram em pacientes com
anastomose retal o efeito de duas fontes de
carboidratos não digeridos: frutooligossacarideo e
amido resistente (batata crua e banana verde) sobre a
fermentação bacteriana, O amido resistente aumentou
a excreção de .butirato, Efeito também encontrado
em outros estudos [3,8,73] .
Silvi et ai, [8] relataram que o consumo de amida
r~istente induziu mudanças na microflora int<:~
principalmente quanto ao aumento de bactérias
iácticas e na redução de enterobactérias bem como
s-:
Qa atividade enzimática das b:;actéri:;as (b-
glucuronidase), na redução da concentração de amônia
e do pH lumina] e aumento significativo da
~oliferação celular do cólon proxjm:;a
Freitas e Tavares [47], em seus
stu os
com AR
8/20/2019 09 - Foodingredientes.pdf
http://slidepdf.com/reader/full/09-foodingredientespdf 7/7
·
de bananas, demonstraram que o consumo do amido
resistente promoveu intensa dilatação do apêndice
cecal, favoreceu o crescimento bacteriano do cécum
e modificou substâncialmente a flora intestinal de ratos
Wistar jovens.
Conclusão
A definição de amido resistente é basicamente
fisiológica. O conteúdo de amido resistente em alguns
alimentos é subestimado. Muitas propriedades funcionais
do. amido resistente foram comprovadas, contudo
diversas.questões estão sob investigação, principalmente
os possíveis mecanismos dos efeitos enterorróficos e
sistêmico dos ácidos graxas voláteis (AGV) produzidos
durante a fermentação no colonócito.
Referências
1. Englyst HN; Kingman SM; Cwnrnings JH. Classifica-
tion and measurement of nutritionally important starch
fractions. European Joumal of Clinical Nutrition,
1992;46(S2):533-50.
2. Schulze J. Undigested carbohydrates and intestinal
rnicro-ecology. Eurepean Journal of Clinical Nutrition
1992;46(S2): 137 -8.
3.
Dorê
J, Durand M, Agay-Abensour LD', Pchart P,
Flourié B, Bernalier A, Champ M, Rambaud Jc. In
vivo and in vitro ferrnentation of resistant starch and
lactulose by human colonic rnicroflora of high and low
methanogenic activiry, Euresta 1994; 11:82-83.
4. Edwards C, Gibson G, Rumey C, Mather
J ,
Quehl A,
Nagengast F, Champ M, Jensen BB. Ferrnentation of
resistam starch. Euresta, 1994; 11:99-1 00.
5. Muir JG, Philips J , Birkcrr A, Lu zx, Jones G, Young
GP, O'dea
K
Effect of resistam starch on bowel func-
rion in hwnans. Euresra, 1994: 139-40.
6. Birkert
Mf
Jones GP, Silva AM De, Young GP, Muir
JG. Dietary intakc and faecal excrction of carbohy-
drate by Australians: importance of achieving stool
weights greater than 150 g to improve faecal rnarkers
relevant to colon cancer risk. European Journal of
Clinical N utririon 1997;51 :625-32.
7. Cwnrnings JH, McFarlane G.T. Role of intestinal bac-
teria in nutrient metabolismo Journal of Parenteral and
Entera Nutrition 1997;21(6):357-65.
8. Silvi, S; Rurnney, CJ; Cresci, A; Rowland, LR. Resis-
tantstarch modifies gut rnicroflora and microbial me-
tabolism in hwnam flora-associated rats inoculated with
faeces from Italian and Uk donors. Journal of Applied
Mícrobiology 1999;86:521-30.
9. Royall D, Wolever ThfS, Jeejeebhoy KN. Clinical sig-
nificance of colonic fermentarion. American Journal
of Gastroenterology 1990;85(10): 1307 -12.
10. Cheng HH, Yu
ww
Lipid metabolism is altered by
-nebacirin in.rats fed-cooked-srored polished rice as the
only dietary carbohydrate with or without exogenous
cholesterol. Journal of Nutririon 1997;127:153-7.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)
11. Langkilde
Mf
Ekwall H, Bjôrck I, Asp NG, Andersson
H. Retrograded high-amylose com starch reduces
cholic acid excretion from the small bowel in i1eostomy
subjects. European Journal of Clinical Nutririori
1998;52:790-5.
12. Sugimoto Y, Fujita S, Takaya T, Fuwa H. In vitro di-
gestíon of banana starch granules. Starch / Starke,
Weinheim 1980;32(9):290-4.
13. Shetty PS, Kurpad AV. Increasing srarch intake in the
human diet increases fecal bulking. Arnerican Journal
of Clinical Nutrition 1986;43:210-2.
14. Englyst HN, Cumrnings JH. Digestion of polysao.. ..
.
rides of potato in the small intestine of mano Amcri-
can Journal of Clinical Nutrition 1987;45:423-31.
15. Faisant N, Champ M, Ranganathan SS, Azoulay C,
Kergueris
1-iF ,
Krempf M. Effecrs of resistam starch
supplementation on post prandial metabolism in
healthy subjects. Euresta, Les Maures. p.113-4, 1994.
16. Behall KM, Scholfield DJ, Yuhaniak r Canary
J
Dicts
comaining high amylose vs amylopectin srarch: effccts
on rnetabolic variables in human subjects. American
Joumal of Clinical Nutri tion 1989;49:337-44.
17. AndersonJw,Jones AE, Riddell-Mason S. Teo differ-
ent dietary fibers have significantly differem effects on
serum and liver lipids of cholestcrol-fed rats. Journal
of Nu trition, Los Angeles, 1994; 124:78-83.
18. Younes H, Levrat MA, Demigné C, Rémésy C. Rcsis-
tant starch is more effecrive rhan cholesryramine as a
lipid-lowering agem in the rato Lipids 1995;30:847-53.
19. Levrat MA, Moundras C, Younes H, Morand C,
Demigné C, Rérnésy C. Effectiveness of resistant
starch, compared to guar gum in depressing plasma
cholesterol and enhancing fecal steroid excretion. Lip-
ids 1996;31(10):1069-75.
20. Langkilde AM, Anderson H. 10 vivo quantification of
resistant starch in Euresta reference material usiog the
ileostomy model. Euresta, p.31-2, 1994.
21. Christl SU, Bartram HP, Paul 1\ Kclber E, Scheppach
W, Kasper H. Bile acid metabolism by colonic bacteria
in concinuous culture: effects of starch and pH. Annais
ofNutrition and Metabolism 1997a;41:45-51.
22. R:mganathan S, Champ M, Pechard C, Blanchard P,
Nguyen, M; Colonna, P; Krempf, M. Comparative
study of the acute effects of resistant starch and di-
etary fibers on. metabolic indexes in men. American
Journal of Clinical Nutrition 1994;59:879-83.
23. Van Munster, Tangerman A, Nagengast FM. Effect
of resistant starchon colonic fermentation, bile acid
metabolism, and rnucosal proliferation. Digestive Dis-
eases aod Science~ 1994;39(4):834-42.
24. Jenkins DJA, Vuksan V, Kendall CWC, Würsch P,
Jeffcoat R, Waring S, Mehling C, Vidgen E, Augustin
LSA, Wong E. Physiological effects of resistam starches
on fecal bulk, short chain fatty acids, blood lipids and
glycernic index. Journal of the American College of
Nutrition 1998,17 6 :609-16.
25. 25-Zobel HE Molecules to granules: A cornpreheri-
sive starch review. Starch / Starke.Weinheirn
1988;40(2):44-50.
26. Duprat F, Gallant D, Guilbot A, Mercicr C, Robin
J
P.
L' amidon, In: Duprat E (ed) Ses polyméres vegetaux;