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054 - Cadernos de Teatro

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054 - Cadernos de Teatro

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    l .cademcs de teatro"

    CAR AAOS REITORES -Artaud

    - ARH EEDUCAO - Rolf Gelewski

    EM FIGUR DE GENTE - Covalcanti Borges

    JOGO DA INDEPENDNCIA - Ins Almeida

    DOS JORNAIS

  • Na estreita cisterna que chamais "Pensamento", osraios do esprito apodrecem como lixo.

    Basta de jogo de palavras, de artifcios de sintaxe,de malabarismos formalsticos. Chegou o momento dedescobrir a grande Lei do corao, aLei qne no sejauma lei, uma prisao, mas um guia para oEsprito perdi-do em seu prprio labirinto. POr mais distantc qne acincia possa ir, no ponto cm qne os feixes da mzose quebram contra as nevens, esse labirinto existe, pontode convergncia de todas as foras do ser, as derradsi-ras nervuras do Esprito. N~se ddalo de muralhas mo-ventes e sempre variveis, fora de todas as Iemas co-nhecidas de pensamento, nosso Esprito se agita, espian-do seus movimentos mais secretos e espontneos, aque-les que tm um earter de revelao, esse sopro \~11l1ode fora, cado do cu.

    Araa dos profetas, porm, se extinguiu. AEuropase cristaliza, mumifica-se lentamente sob os pequenoslimites de suas fronteiras, de suas usinas, de seus tri-bunais, de suas universidades. OEsprito congelado serompe entre os ares minerais que se fecham sobre ele.Aculpa de vossos sistemas ~olorentos, de vossa lgicado 2 mais 2 ser igual a 4. E vossa a culpa. Reitorcsapanhados nas malhas de seus silogismos. Fabricaisengenheiros, magistrados, mdicos a quem escapam OSverdadeiros mistrios do corpo, as leis csmicas do ser,falsos sbios cegos na alm-matria, filsofos que pre-tendem reconstruir oEsprito. Omenor ato de criaoespontnea um mundo mais complexo erevelador quequalquer metafsica.

    Senhor Heitor

    CARTA AOS REITORES

    ANTONLIf AHTAUD

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    Publicao d'O TABLADO patrocinada peloServio NacionaLde Teatro (MEC)

    Redao ~,Psqllisa' d'(j !BLADO

    Diretor-respollsoel- JOo SRGIO MARlNHP NUNESDiretor-executivo .~ .1!ARIA CLARA'" MACHADODiretor-teWllreiro..'c'. EDDYfu:zENDE NUNESRedator-ch_~e - VlllG~' villr,Secretrio i S~~F~~'' .,'

    RedaQ: .O/fAnLAnO'A~. Lneli de P~~i;Hahdo, 795~ ZC 20Riode Janeiro.;-- tianabara -Brasil'

    .psfe,rtoipubl~ca~QSUoS.ADERNOSDETEA~ROs.Rtxl~!iQser/epresentGdosinedianl autortw50

    :.~~S;ac!~df.Bre~leira ck. .. Autoresrirlra~ (SBAT);00. AJ"f!lut,e}BtfoSD, 97; Glialabaro: .

    ...

    '.cADEJlNs;;dETE'ATRo N.54juIh o-agos to-setembro-1972

    !.

  • "O prprio oujetivo da educao deveria ser aill-dar aalma em crescimento adesenvolver dentro d siaquilo que melhor etomar isso pe*ito para 11m usonobre." .

    lutanenle, c que as assim chamadas. atualizaes so,muitas vezes, apcnas modemizaes ereformas que nadaatingem ano ser aaparncia Yisvel das coisas, mas nosua raiz - equivalem-se auma troca de roupas, claroque ohomem que vestiu uma camisa nova, no mudou.Atualizao, no sentido de uma mera modemizao, sejaela referente ao comprimento da saia ou a tcnicas edu-cativas, aparecc como algo que, em ltima anlise, dis-pensvel.

    Atualizao, porm, no sentido da atualizao deforas at ento latentes, atualizao como transladaode potncias em poderes de eficcia construtiva - aessa atualizao nosso sim! espontneo e tota1. Sim! aodespedar das riquezas que em ns eno mundo dernem,intensificao de nossa vida econscincia. Sim! trans-fomlao e mutao de uosso ser.

    Opr6prio, tema de minha palestra chama-se Danae Erlucao, E um tema especfico, to especfico queacho necessrio dizer primeiro algo sobre o significadoda arte como recurso educativo; eantes disso, at, queroprocurar apreender a essncia ela educao eJn si, per-!,flmtando pelos" objetivos da ltima, Apenas desta ma-neira _ parece-me - estaremos em condies de per-ceber qual a conhibuio da arte c, em particular, dadana para a educao, ento a pergunta bsica:

    , Quais os ahjetivas da educao?Como resposta extremamente concentrada quero ci-

    tar opensamento de um homem at ento pouco conhe-cido, e' (lue especialmente no crculo dos profissionaisde educao no tem nome, Esse homem indiano,pensador, poeta e yogi, e chama-se Sri Amobuldo, Eisseus pensamentos:

    1\0111 GE1EWSKI

    Aincluso da arte no processo educativo, a qualtem sua motivao bsica no desejo de favorecer a evo-luo intogral do ser em desenvolvimento, significa rea-lizar uma educao atualizada, E se os pais procuramdar a seus filhos uma educao atualizada, e se os pr6-prios educadores buscam aatualizao de seus conheci-mentos e mtodos didticos, ento, isso sem c1ll\~daalgo certo ebom,

    Mas otenno atualizao, to interligado com aatnalincluso da arte no processo educativo, um termo ambi-guo, Tem dois sentidos fundamentais, Um deles poderiaser denotado, aproximadamente, pela conjugao dasnocs 1l10del1lizao ereforma, eooutro, pela conjuga-o das palavras intensifi{;ao econscienciali:wo, Comisso, qucro dizer o seguinte:

    Ns, contemporneos do sculo xx, temos a tendn-cia de buscar Ferpetuamente inovaes, Sentimos tunainquietuele existencial e por isso lanamo-nos em atividades sempre novas, em vez dc estabelecer paz e tran-quilidade cm ns, No conseguimos satisfazer-nos comas coisas de hoje, e como cada dia um novo hoje, fi-camos na husca contnua das coisas de amanh,

    H uma verdade nisso. Pois os melhores entre oscontemporneos, depois de terem vveudado e prolun-damente cxperimentado os valores de nossa civilizao,os do pllisado e os aluais, voltam-se, afinal, de maneiradecisiva para o futuro. Tm a esperana, a certeza deque asada da situao em que omundo est s pode serencontrada no ainda-no-realizado, - que a monotoniadas estpidas repeties dos atos de ignorncia, bm-talidade e mesquinharia, que marcam nossa realidade,ho de dar lugar a uma conscincia nova, elevada,base da constmo de um mundo nova, um mundo me-nos ignorante, menos brutal e menos mesquinllO,

    Mas os indivduos que assim pensam sabem tam-bm que uma coisa, ~elo simples fato de ser nova, noprecisa ser sinal da conscincia nova esperada, abso-

    DANA EEDUCAO (*)lI

    Deixai-nos, portanto Senhore S'usurpadores, Com clue cl.' it S, OlS apenas unsI' A irei o{)retendeis cO"ll' . 'Igencia dstribu I' 1 "I aizar amte-, " uir ( Ip amas ele Esprito?

    Nada sabeis do Esprito i no ' ' " " -mais secretas e mais esse lC'.' g nus as Jallllflcaoes

    I , t I IaIS essas nl0rc fI , -llroxuna I as "" as ossels taous cenossas entes esses trvislumbrar sob as mais ob' ',ao~ JUc_consegnhnoscrebros, scuras c,ltl1lhfIcaoes de nossos

    Em some de vossa I" ffede, Senhores Olhai 'n oglCa, anrmamo-vcs: Avidabl "t ror um momento vos "

    antes, ccnsidemi vossos nroelutos Pelo" ' sOIs sem-sos di I r' cnvo oe vos

    'P amas, passa uma juventude d -elida, Sois a chaga do mund S I esamparada, per-, o, en iores e tant lhpara este mundo, mas ue ele ',t ome ormenos '[ testa da I q'd d se censdere um {lOUCO, '( 1Umalll a e. '

  • lateralmente, se utilizam dele, snfocando inveno, intui-o erealizao individual, no representam meios parafavorecer ocrescimento integral do ser humano. Amerafommo intelectual, seja ela de natureza cientfico-tc-nica ou cultural-artlstica, nada resolve nesse sentido. Noresta dvida: afinal, as teorias ho de ser substitudaspor experincias, as idias por realidades.

    Nessa fase ela eelucao, a arte pode trazer contri-buies de inestimvel valor. Pois a arte, alm de cor-responder, juntamente com a filosofia. e a religio, snecessidades metafsicas, meta-vitais e meta-mentais cJrjser humano, ao mesmo tempo um meio excelente dedesenvolver, disciplinar ecoordenar harmonicamente ascomponentes de nosso ser: o fsico, o ,~tal, omental eo psquico.

    Em toda prtica artstica, oser humano chamadoaparticipar com ainteireza de seu ser. Espontaneidade,sensibilidade, criatividade e inteligncia, concentrao,controle e disciplina do fsico, da dinmica vital e dasemoes, o sentido filosfico e outras qualidades soexercitados e desenvolvidos, nas experincias artsticascriadoras e re-criadoras. Alm disso, a arte uma lin-guagem internacienal, verdadeiramente apta para pro indivduo em contacto direto com os povos do mun-do e suas culturas e, desta maneira, faz-lo reconhecerseu lugar como integrante da Famlia Humana

    E a mais valiosa contribuio da arte para a edu-cao consiste na exigncia de voltar-se para dentro desi prprio, ochamado para tranquilizar esilenciar o~erexterior eentrar numa relao sincera com seu ser eVIelainteriores. "A arte no rellete o visvel, mas toma vi-svel", diz opintor Paul Klee, Se a arte procura tomarvisvel o que normalmente no visvel, ento, precisaestabelecer correspondncias com oinvisvel, para e1'Pe-riment-Io econhec-lo, eessa busca significa esatamen-te o que dissemos antes - significa a exigncia de vol-tar-se para dentro de si prpr.io, o chamado para tra~quilizar esilenciar oser ~xte~or ~ entrar ~uma relauGsincera com seu ser e VIda nteriores, POIS na arte, arealizao interior afonte ea raiz da realizao exte-rior.

    Dissemos que a arte um excelente meio para de-senvolver, discipluJar e coordenar harmonicamente a~componentes de nosso ser: ofsico, ovital, omental ecpsquico. E entre as artes, a dana deve ser conside,

    Apergunta esscncial na educao , se queremosadaptar o educando realidade existente, ou se quere-mos despertar nele as foras que o tomam capaz decolaborar na transfOlmao da vida edo mundo. Eparadizer isso com toda clareza: essa h'ansformao umaquesto essencialmente interior e no exterior, isto ,a alnvanea dessa transfonnao encontra-se no dentrocno no tom - uma questo de conscincia eno demeios materiais. Oescritor Satprem, no seu ensaio OGrande Sentido, diz: "Inventamos meios enermes a ser-vio de conscincias microscpicas, artifcios ~splndidos a servio ela mediocridade, e mais mtifcios paranos curar do Artifcio."

    "O prprio objetivo da educao - disse SJi Auro-bindo - "devcria ser ajudar a alma em crescimento adesenvolver dentro de si aquilo que omelhor e tomarisso perfeito para um uso nobre." Com outras palavras:Oobjetvo central da educao ajudar o educando adescobrir dentro de si o que essencial, o ncleo deSeuser afonte da forca aconscincia eindividualidader J)verdadeiras; do outro lado, estimular odesenvolvimentoe aperfeioamento de fora, conscincia e individuali-dade, e sugerir que sejam colocadas a servio ela ver-dade mais alta que conseguimos conceber.

    Sem clllVida, lJOSSOS problemas so problemas deconscincia. Por isso, o crescimento ele uma eonscin-eia nova, mais intensa que a atual, seria o resultadom.\imo da educao. evidente que o meio hm~'lmental e mais eficaz para despertar uma conscincianova no educando a realizao vivencial dessa cons-cincia nova pelo prprio educador. Deve, antes de fa-lar dela, ,~v-Ia e manifest-Ia em seu ser e existncia.Na pessoa desse educador, tudo e cada coisa tomar-se--a recurso criativo e constmtivo de educaio.

    Tais educadores, porm, so bem raros, e onme-ro daqueles que devem ser educados enorme. No quese refere realidade escolar presente, necessitanlos con-cretamente de recursos que possam modificar as estru-turas limitadas do ensino. Precisamos de meios educa-tivos que possibilitem ao professor encarar oensino deuma maneira nova, e ao educando experimentar-se, des-cobrir-se e encontrm'-se num sentido mais integral. Nose pode duvidar que aquelas tcnicas educativas, sejanJelas tradicionais ou modernssimas, que visam forma-o e ao treinamento do intelecto apenas ou que, uni-

    II

    IiI

  • rada omeio mais cficiente e intenso para tal desenvol-vimento, disciplina e coordenao, pOlTJue em nenhumaoutra arte, as componentes consthlintes lle nosso serso exercitadas de maneira mais total. No danarinoverdadeiro, ofsico, ovital eomental formam o com-pleto insh'mnental: ofsico :1 mednica, oinstrumentomaterial movimentado pelas energias vitais que tantoservem de fora motora quanto possibilitam a realiza-o da dini\mca de expresso, no fsico; omenta! obser-va, conscientiza, cOflige, organiza ecoordena aexecilodos movimentos esuas relaes com ocspao, o~ihll0, amsica, etc; e omovedor central e revelador desse ins-trumental opsquico, que se manilesta atravs do ma-terial vivo e coordenado do movimentn corpreo hu-mano.

    Sem dvitla, opsunico procnra manifesiar-se comi~nal fora e intensidade tambm nas outras artes. 1Ja';o mdium mais prximo lt psique o corpo no qualhabita; le o instrnmento mais imediato, mais capazde aclaptao e mais pronto para ransormar-se e irra-diar.

    V-sc, assim, que a dana a comunicao maisdirela e a rcalizao mais total entre as artes, ao ladodo tcatro. Mas enquanto h no tcatrn lima divcrsidadcde recuses bsicos (fala, mmica c expresso corporal)c, desta maneira, lima certa didso das foras e daconccntrao, toda a intensidade do hcmem, na dana,se unn c se manifcsta num s meio. o movimento deseu corpo. Omaterial essencial cmesmo nico da dana omovimento do coq){J humano.

    Igual rr msica c poesia, a dana uma arte notempo, isto , as manifestacs musicais, poticas e dedana precisam do tempo para desdobrar-se c realizar--se, como seres vivos que crescem e se evoluem. Essecondicionamento bsico em comum exatamentc a ra-zo pela qual a dana consegue unir-se to natnralmen-te com som, ritmo c fala, e a fascinao especffica queas mies no teml.''O exercem tem SU,l causa principal nasimblica eqnivalncia das mesmas a. tudo que tran-sitrio, que, como ns, nasce, cresce, se desenvolve edesvanece, tudo que vive e se evolui.

    Igual pintura, escultura e arquitchlra, a dana uma arte no espao, isto , sem oespao as manifesta-es das artes plsticas e da dana no teriam existn-

    eia -" ele {; a condio esscncial de todas as rcalizaesconcreto-materiais.

    A(lana, segundo isso, uma artc no espao e notempo, e cspao c tempo, vistos por si, so as duascomponentes fundamentais do existir do mundo e (lnvida, sendo que a terceira componente fundamental daevolno universal {; a energia. Espao, tempo c ener-

    . gia, porm, so igualmcnte os trs e1cmentos constituin-tes do mO\~mento eeste, por sua vez, um fator sem aprescna do qual as noes de vida eevoluo no teriamsentido,

    Constatamos antes que omaterial essencial (la dano:t omovimento do corpo humano. certamente porcausa dessas interrelaes complcxas, por causa da pro-funda correspondncia da dana aos princpios e com-ponentes qnc condicionam e dctermimm a existnciado universo eda vida, que adana vem ocupando, desdeocomeo perccptlvel da humanidade, um lugar de des-taque na vida do homcm, tanto como manifestao vitalelementar quanto c especialmente como meio de evo-cao, venerao c simblica representao de poderesunivcrsais c e.spritos, da realizao de rituais de magiac religiosos, da aproximao rr regio do supramentale da fuso com ela. Nesse contexto, revelam-se a luze afora das inhlies que deram origem rrs mitologiasdas culturas antigas - pois segundo a mitologia indiana,por exemplo, ouniverso com a plenitude de suas ma-nifestaes foi criado pela dana de um deus, o deusShiva.

    Adana, ento, oIgina-se da busca do homem, decomunicar-se e fundir-se de uma maneira integral coma regio do supramental, experimentando e intensifican-do o indivduo, deste modo, acontecimentos, formaese evolues de sua interioridade. E uma segunda raizda dana consiste em nossa necessidade elementar deextravasar energias vitais excessivas, atravs Omovimen-to de nosso corpo. Nisso, temos os fundamentos dascontribuies bcsicas da dana para a educao.

    Oextravasmnento de energias vitais atravs o mo-vimento 1Jll1 meio da natureza de exercitar ofsico. Seesse processo, ori~nalmente espontneo e instintivo, penetrado e diJ.i~do por uma orientao consciente dasdiversas partes, msculos e articulaes do corpo, of-sico recebe a ajuda decisiva em seu desenvolvimento.Por meio de exerccios baseados no conllecimento das

    ,,;..

    possibilidades elementares de movimentao do C01110 Iizao de tal elaborao, experincia, descoberta eco-humano, adquire-se, na dana, um eorpo forte e obe- nhecimento.diente, livre de maus hbitos, com facilidade de adapta- Faamos uma ltima considerao referente danao creaoo e conseicnte em todas as suas partes. Pela emie como recursos de e~;JCa.o. Constatmllo: ant:,exigncia de conscientizar, corrigir e coordenar os mo- I que tudo depende da consoenca, Adana, cntao, til?vimenos erelacion-los com oritmo, a msica, oespa- I eficaz que seja como recurso para favoreccr o cresa-o e outros dados, odescnvolvimcnto ~la mcnt~ c, sj:nu~- mento iutegral do :~~ humano, na: ~n~os de un~ cdu.-taneamente, da conscincia do corpo efavoreCIdo, slgm- cador iblllorante, dJflcllmcnte benefrclllra os educmdcs.ficando isso do mesmo modo a realizao de uma auto- Ela, em si, no a receita milagrosa, a pedra dos s--disciplina eaaquisio de un: controle sobre si. Quan:o. bes, to pouco qUaJ:to rr msica, a pintura, o teatroao pdncpio vital, deve-se dizer que a dan~ ~ermlte ou qualquer outra cona.no apenas extravasar e disciplinar ene.rgias VJt~IS, m~, Assim, torna-se claro que a atualizao da educa-igualmente, realizar e comear a doml.nar a.dinmka I o, no funde, no depende da introduo de novosemocional que, em geral, se manifesta impulsiva e des- recursos educativos, mas sim da iutensificao e trans-controladamente em nosso modo de ser. fom1ao da conscincia dos educadores.

    Falamos acima das conb'ibuies da dana para a Cestaria de temnar. Sei que falei relativamenteeducao. Uma delas ento apossibilidade de um~ rea- pouco sobre oprprio tema da ~alestra, ou s~ja, ~a~~a!izao \~tal total, servindo essa realizao, como VImos, eEducao. Indiretamente, porem, destaqu~1 de 1Il1.ClCde ponto de par:ida para o des~n:olvimento, a discipli- oque esse?cial, epareceu-me ~te.s de mais nada nn-na e o correlaeionamento do fmco, do mental e das portmlte delinear e lcmbrar o obJetivo central da edu,emoes. Ofundamento da. outra contribuio, assim o cao, isto , delinear e lembrar o tO(~O no qual a arteformulamos antes, a necessidade do ser humano de e, em particular, a dana compreendidas como recnrexperimentar e intensificar, na dana, acontecimentos, ' sos educativos - se situam, como partes desse todo.fOl111Ues e evolues de sua interioridade. Pois como disse inicialmente, "a educao em UlT

    Em ccrrespondnda a essa capacidade natural d~ detelln;ado fi~ que, ,;ssencial e inali~n.vel, eq~lidana, de ser meio de experimentao e intensificao valente ~o sentido. del~, sen~lo. que defimmos ,esse fl~nda vida interior humana, o ponto mais importm1te na da segull1te maneira: Oobjeti;o central da. educa,uaplicao da dana como recurso de educao achance ajudar o educando a deseobrir dentro de SI o quc Idada ao educando de tomar concreto e expressar ab'avs essencial, oncleo de seu ser, a font~ dafora, da con~

    movimento de seu prprio corpo aquilo que vive e cincia eda. individualidade verdadClr~s;por oubn la(k~contece dentro dele aquilo qlle, normalmente, se rea- estimular o desenvolvimento. e aperfcloan~ento de !orliza apenas insuficiel;temente, s vezes tambm, quando a, conscincia e indisidualidade, ~ sugenr que seJa~acumulado, de maneira assustadora. Porque avida quo- colocadas a servio da verdade mas alta que consegmtidiana atual no consegue corresponder rr evoluo de ,mos conceber."nossa vida interior e dificilmente fornece meios paradefin-Ia e dar-lhe figura. Mas a alividade do psquico,cm ns, uma realidade, e o psquico (j o (Ussemos) a fonte da fora, conscincia e indh~dualidade ver-dadeiras. Por isso, indispensvcl que cada um tenh~ocasio de experimentar, descobrir e conhecer seu PSI-qlCO e estabelecer uma relao positiva co:n ele; co-mea desta maneira a expedmentar, descobnr e. conhe-cer a siprprio, elaborando assim sua r~rsonahd~de econstruindo a base de sua vida como um ser conscrente. (O) Palcstra proferida no IV Festiva! de Invemo (OUlE a dana, pela sua prpda nahll'cza, possibilita a rea- Prelo) e aqui lmuscrta com aulorza~iio do uulor.

  • Segue-se a conversa com aparede] tambm improvi-sada. Aqui torna-se evidente que oeco aresposta. Todo

    Cada aluno escolhe seu texto c pode diz-lo livre-mente, cant-lo ou at grit-lo. Este exerccio feito emunssono. Durante eles, Grotowski anda no meio dosalunos, observa-lhes o trax, as costas, cabeas e abdo-mens enquanto eles Ialam Nada lhe escapa. Depois dissoele escolhe quatro entre os alunos. Os outros.voltam aosseus lugares em absoluto silncio.

    Um dos alunos] colocado no centro, recita o textovontade, aumentando gradualmente ovolume da voz.As palavras devem ressoar contra oteto como se apartesuperior da cabea estivesse falando. Acabea no devepender para trs a fim de evitar ofechamento da larin-ge. Atravs do eco, o teta se toma parceiro no dilogoque assume a forma de pergunta-e-resposta. Durante oexerccio, Grotowski conduz o aluno pelo brao atravs

    da sala.

    ESTIMULO VOCAL

    Para Grotowski, o conato entre espectador e atol' I o corpo deve responder ao eco. Em seguida a voz vital em teatro. Tendo isso em mente] ele inicia uma colocada no intestino, e a conversa se mantm com ode suas aulas com a sentena: cho. Posio: "igual a mm vaca gorda e pesada".

    "ii. essnclt do teatro o atar, as suas aes e o Durante esses exerccios, conforme exige Grotows~lque ele pode realizar." todo pensamento deve ser afastado. Otexto deve ser dIto

    f sem pensar e sem pausas. Se voc espera - diz Groto-Seu es~uema de leitura ?se;]s exerctCIOS b~seJU1l1- wski - uma resposta da parede, em forma de eco, todo

    -~e .em muitos anos d~ e~'PenencJU e em pesqUlsa me- o corpo deve reagir a essa possvel resposta. Se voctodica no campo das tecmcas do atol' e de sua presena me d uma resposta, voc primeiro deve faz-lo comno palco. o corpo. vivo. Depois tenta-se a mesma coisa com a

    Para comear, Grotowski, abordando a ntude em parede.relao quele que traballla, exige absolnto silncio dos Os exerecios que usam oeco auxiliam aprojetar apresentes na sala, tanto ateres como pblieo. O riso voz. Oator deve reagir ao exterior, ataeando o espaodeve ser evitado, ainda que os primeiros exerccios lem- em sua volta, ficando todo o tempo cm contacto combrem uma funo circense. Aqueles que no esto fami- outra ou outras pessoas. Ele no deve ouvir asi prprioliarizados com seu mtodo tm essa impresso. A pla.- porque isso resulta. na introverso da voz. Muitas ve-tia _ no ceso, as pessoas que tomam parte atva nos zes, entretanto, o ater incapaz de resistir tentaoexerccios _ deve ser il1\~svel einaudvel aos alunos. de se escutar. Neste caso, ele deve ouvir o eco da pr-

    pria voz. Por meio de peqnenas pancadas com as J!Jntasdos dedos juntas estimulam-se os centros de energia doaluno. Esses centros esto espalhados por todo ocorpo:entre as omoplatas, na parte inferior das costas; na ca-bea, nas partes supelior e oecipital; no trax, lateral-

    mente, onde se fixam as costelas.

    Oatol' deve ser capaz de despertar esses estmulose ativ-los com exerccios freqentes. Isto deve ser feitocom avoz edo interior. Para alcanar os diferentes pon-tos, deve-se deixar o COl1!0 sofrer detem1inadas trans-fomlaes, no se deve falar quando oCOl1!0 est contor-cido] numa posio no nahlraJ. Essas posies ancnmssomente se usam quando so intencionais e, neste caso,so inteiranlente inofensivas voz. De fato, elas podemser benficas quando se trata, por exemplo, de exercciode abertura da laringe. Oaluno, apoiando-se na cabea,fala] canta ou gIita durmlle certo tempo nessa posio.

    Durante os exerccios de voz o importante nofazer pausas eusar textos perfeitamente decorados. Umavez tendo que pensar para lembrar otexto, quebra-se acontinuidade. Tambm podem ser usadas canes de-coradas. O aluno deve estar inteiramente liberto dotexto, pois a sua busca envolve um processo mentalque deve ser evitado.

    Durante murro tempo] nossos (liretores sacrificarama aparncia corporal e viva do atol' s fices mortas(la pintu~a. Sob tal t.irania] 6eliidente que ocorpo 1111-'numo nao ten~ )Jodtdo desenvolver normalmente seusmeios de expresso.

    Hoje] avolta do corpo humano como meio de ex-presso de primeira ordem uma idia que domina osespritos] anima afantasia e (l. origem atentativas di-versas e de valores desiguais - certo - mas todasorientadas para amesma reabilitao. Cada wn de nsteria verificado] por um lado] que oexecutante tendia]de certa maneira implicitamente] aaproximar-se do es-pectador e, de otrtro] ressentido (uns mais apaixonada-mente que ~utr~s) uma espcie de inolinao do espec-tador. ~Ill d~reao ao executante. Nossos espetculos noscon~/(;lOnavll1~ alima passiliidade to desprezvel que avellwamos cllldadosamente nas trevas da platia. Agora]diante do esforo iW corpo humano pwa se reencontrar]nossa emoo se torna quase um comeo de colabora-o fraterna: desejaramos ser esse corpo que contempiamos. O instinto social desabroclla em ns a] justa-mente] onde osufocramos friamente] ea, linha que separa palco e platia se torna Wlla barbrie dolorosaodgillada de nosso egosmo. ]

    AESSNCIA DO TEATRO OATOR

    (~) Adolpl~e ~ppiR nasceu cm 1862, na Sua, e foi defRto um dos pnmerros a tentar arrancar o teatro da estticapomposa de seu tempo, formulando os prndpios refonnistas queder~m ~Ii~en~ ao t~atro conten~porneo" Suas obras principais-.L Deuora dArt Vwant, La MlseenSeene du Drama Wagn-nen e Musique et la MiseenScene - procuram renovar a ence-nao operstca alm de abordar problemas de mentagem deobras shakespearianas, Partindo da msica como elemento deunidade do espetculo, Appia substituiu o cerrio pintado peloc~nIio cons.trudo, "constituido de escadas e plaafonms quedi~o aos m~VlJllent?S .do ator todo o seu poder expressivo" (Veins-tem). ~ppla supn:mn a_ rarn~a e ~ cortina e deu t't aluminaiopor preieeres sua funao primordial de animar a cena. Deela-rand? o ~spao ;nieo a seroio do atar, Appia estabeleceu Rse~nte InerarqmR: o ator que representa odrama, o espao comsuas trs dimenses a servio da forma plstica do atar e aluz que d vida aos dois.

  • Depois disso, faz-se exerccio de relaxamento, numdescanso de 20 minutos durante os quais no permi-tido falar nem cochichar. Osilncio a melhor maneirade proteger a voz aps os exercicios. Oprprio textono tem importncia nos exerccios. Oimportante dara esse texto, ntravs do corpo e da tcnica vocal, mnb~'ll\l de interessc llllc ele no tem cm circunstnciasnormais.

    --

    MOTIVAO DRAMTICA - 2

    VIRGINIA VALLI

    O fala 1lislrico poder servir de tema para moti-vao do ensino ou pesquisa de Histria do Brasil, quercomo ponto de partida para um espetculo, quer comoimprovisao, apenas.

    Sobre o tema das Bandeiras (sc. XVll/XVIII), aCASES (MEC) promoveu, em 1960, um concurso dedramatizao espontnea nas escolas pblicas da Guana-bara com a finalidade de incentivar a repercusso dofato histrico na mente infantil, estimulando ointeressedos estudantes de nvel primrio pelos acontecinlentosligados realidade nacional e despertando-lhes ao mes-mo tempo oesprito cvico. Um segundo objetivo aatin-gir-se foi contribuir para a divulgao da dranmtizaocomo mtodo a ser usado na escola. Por isso julgamosde interesse recapitular aqui as recomendaes queorientaram esse trabalho:

    ~ Ano exigncia ele rigor histrico quanto afatos epersonagens.

    @ A permisso de incluir fatos ou personagensima~nJios to a gosto da imaginao infantil,desde que, entretanto, fossem sugeridos pelosfatos ocorridos nas Bandeiras ou com o tipohumano do bandeirante.

    ID Permitiu-se ao professor - no caso de excessivatimidez do aluno - estabelecer um roteiro pr-\~O da dramatizao, evitando, porm, dar textoescrito para acriana decorar.

    5 Tratando-se de simples dramatizao, no ha-veria necessidade de ronpas, caracterizao, efei-tos de luz e som (salvo o caso de criaoespontwea infantil, nesses csmpes], podendo ojogo realizar-se em qualquer espao, na escola(palco, sala de aula, parque, quintal, etc.).

    Como requisitos mais exigidos, destacavam-se:

    ~ Espontaneidade dos alunos quanto maneirade se expressarem e capacidade de mprovsa-o - (50 pontos).

    @ Vivacidade de mOimentao dos alunos, evi-tando-se a monotonia.

    o Fidelidade ao tema escolhido.9 Grande nmero de figurantes, possibilitando ti

    participao de todos os alunos.

    Dentro desses requisitos, recomendou-se, alm disso,aos professores a obedincia. ao seguinte processo:

    1) O professor narraria aos alunos, de maneiraobjetiva e atraente, a histl'a das Bandeiras, enumeran-do seus objetivos, os obstculos vencidos pelos bandei-rantes, suas lutas e trabalhes na travessia de rios e flo-restas, a luta pela sobrevivncia, etc, sem insistir, con-tudo, em datas e nomes prpl'os, e evitando absra-es. Para isso, poderia usar gravuras, visitas a museus,etc. Em seguida, o professor escolheria wn fato dessafase de nossa Histria, rememorando-o em pormenoresde modo a despertar a imaginao infantil, observandoao mesmo tempo a reao e interesse das crianas pelotema. Faria a seguir perglUltas sobre o que gosta:riamde representar, disribnmlo os papis num cdtrio eleobservncia da preferncia infantil.

    .2) Improvisaria com os alunos o fato escolhido,com falas e mo\~mentao, estimulando a cl'ao in-fantil de modo adequado. Por exemplo, indagando: Queaconteceu depo8? Que fizeram? Quais as pa/alifG8 ile ...em tal momento? Aconteceu onde? Estavam os 1J({Jl(/eirantes alegres ou... Que usavam quando viajavam?Que comiam? Etc. etc.

    . 3) Feita essa primeira improvisao, o jogo seriarepetido tantas vezes quanto necessrio, sem necessida-de de reproduo fiel do realizado ou dito da primeiravez. A fidelidade derera limitar-se ao fato nanado,enriquecido de pomlenores medida que as crianasse desinibem ou que aumentam seu conhecimento dofato.

    Afinalidade da interveno do professor seria, ape-nas, a de rea~var a lembrana quanto ao fato narrado,de remover a timidez nantl ou seeerrer oaluno quan-do houvesse necessidade de algum esclarecimento quan-to ao fato histrico. Opdneipal, nesse processo, seda

  • preservar a espontaneidade infantil dentro do jogo,quanto a gestos e falas ou a sua interpretao pessoalda histria, no podendo de mo(lo rtlgum eOlTigir oschamados el10S de gramtiea - o que resultmia eminibir prejudieialmente () aluno.

    4) Como se inclui entre as finalidades da impro-visao a socialhafio do aluno, deveria oprofessor esti-mular a participao de toda a turma na dramatiza(),mcteando o esprito de responsahilidade e de colabo-rao social entre os brincantes. Oexihicionismo deve-[ia ser evitado.

    EXEMPLIFICAO

    A Escoht Irinen Marinho escolheu como tema ABandeira de Fel'l1o Dias Pais edesenvolveu-o da seguin-te maneira:

    Local escolhido: galpo equintal adjacente. Otem-po de durao lIo foi anotado. Convencionou-se rlue aporta dando para o galpo seria a Vila de Piratiningae ogalpo e quintal - oarraal do Sumidouro e serto.Os bandeirnntes - alunos levavam bandeira, armas, sa-cos; usavam botas e chapus grandcs. Os ndios usavamcocares.

    Uma menina lnrcduzn, apresentando, segunuo suaspalavras - "com imenso prazer vamos apresentar ahis-tria .. ." Segue-se o dilogo entre dois forasteiros, RuiVilhena a companheiro, alm de D. Rodrigo e umpaulista.

    VILlIfu\'A - O senhor podia me dizer onde fica acabana de Ferno Dias?

    PAUUSfA - O senhor vai direto nesta ma, seguepor. .. logo ali.

    VILHENA (batendo) - Desejo falar com Ferno Dias.GARCIA - Pai, esto chamando.FERNO DIAS - Mande entrar. (FD aparece)VILHENA- Desejo fazer parte da vossa bandeira.

    Sou professor de nutica e vim terminar meus estudosna Amrica. Vou cata do novo continente, desapare-cido h vrios sculos.

    FERNO DIAS - ....

    VJLHENA - Vou procura dele e hei de ach-lo.No conheo oserto mas meu amigo conhece,

    FEllNo DIAS - J estiveste na Amrica?(Lapso IlllSnotas taquigrficas)VILIlENA - As esmeraldas. S se ouve esse assunto.

    Dizcm que quem deseohriu foi D. Hoddgo CastcloBranco.

    FEnNo DIAS - Tambm vou cata das esmeraldase nunca me roubaro esse ttulo de descobddor dasesmeraldas

    Todos saem ese preparam jJafll apartida. Fel'l1oDias junta-se ao resto da baneleira. H {/. missa.

    PAlJllE - Que Deus abene a bandeira. c qU8Ferno Dias traga as esmeraldas para oseu rei.

    VOZF1.l - Viva Ferno Dias! Viva!Fmmo DIAS - Adeus, dona Maria.MAllIA BKn:Yr - Adeus, D. Femando. Tenho um

    pedido a fazer. No volte de mos vazias. Traga as pe-dras para o rei.

    Um baneleirante toca li sineta. Baneleirantes se-guem FD (chapu ele caador, botas de borracha, casa-co de camura, SI/CD s cosias). Banrleirantes procurampedras no quintal.

    BANDEIllAl-i'TES - isto? isto? Esmeralda?FERNO DIAS - No. Vamos descansar por hoje.Borba Gato toca asineta. Todos deitam.GARCIA - D licena, pai? Achei muita mina de

    ouro.FERNO DIAS - Mas no vim atrs de ouro. Vim

    buscar as esmeraldas.BANDEIllANTIS - Os vveres acabaram.FERNO DIAS - Vamos plantar aqui e esperar pas-

    sar as chuvas.Entram noamente Vilhena e D. Rodrigo. Vilhena.

    diz que Dai proCllrar onOO continente e ai se separarda bandeira.

    VILlIENA - Que tenha boa sorte eencontre as esme-raldas. (Saem)

    Os bandeirantes deitam-se. U/n aponta qualquercoisa.

    BANDEJHANTIS - Veja! Uma tribo de ndio cpareceque esto adorando a lua, pois noite.

    ......

    .....

    -_o

    l1l(li(J,

  • Bandeirantes acordam e procuram as pedras. Ca-tam as esmeraldas (bolas de gude).

    FEllNo DIAS - (segul'llndo osaco de esmel'llldas,cai ao chio) Achei as esmeraldas. As esmeraldas sominhas. D. H(}(lrigo no as ronlnr. (Morre)

    BmUlA GATO - Ovelho est morto.

    Borba Galo segue c se CllcolIll'll COlll D. Rodrigo.Gai'cia Rodrigues, carregando caixa com bandeira, trans-l)ol'ta os res/os de FD para S. Pau/o.

    PADRE (diante dos restos de FD) - "Dia vir, deoas-tador do serto, em que oBrasil gritar alto atua glria.Dia vir em que as geraes sentiro ntidas a epopiade sua '" Dia vir '" em toda sua grandeza a for-midvel obra de devaslamenlo que realizaste. Foste tuque rasgaste omato ... foste tu, paulista de raa. Poucoimporta que as pedras ... fizeste mais. Descobriste CJBrasil."

    Neste exemplo, verificou-se um bom aproveitamentodo conhecimento sobre a bandeira das esmeraldas, combom desenvolvimento de todas as situaes do fato his-trico. Houve sinceridade e espontlUJeidade por partedos alunos, com exceo da dana (ensaiada) dos ndios,que foi introduzida na dramatizao a pedido da me-nina (segundo a professora) que danou vestida depele-vennelha e foi quem ensaiou as outras, conformevira 11a televiso, ou no carnaval, talvez, tanto que sepercebe a parte dos ndios inteiramente desligada dotema. Houve assim uma certa concesso ao exibicionismo(lue, contudo, no prejudicou otema em si. Acarta lidafoi copiada em resumo do original autntico. Anicafala decorada foi o discurso final do padre, que aclana no entendeu e estropiou bravamente.

    Como fonte, o aatcr pes(luisado foi Paulo Setubal(?), segundo a professora.

    Obserwo - Alinguagem mais ou menos correta,ede certo modo pouco espontnea, foi compensada peloentusiasmo e autenticidade da interpretao.

    CONCLUSO

    Analisados e debatidos os resultados desse Concur-so de dramatizao, a comisso concluiu que adrama-tizao uma brincadeira subordinada a certas regraspodendo ser considerada espontilnea quando exi~te cria-u do a/uno pelo menos em dois de seus aspedos. Soaspectos marcantes numa dramatizao:

    escolha do tema escolha dos personagense escolha, coordenao e marcao das cenas" linguagem, gesticulao esonoplastia

    pesquisa do material.

    A Comisso considerou tambm que a repetiono prejudica a espontaneidade desde que as crianasestejam bem orientadas sobre amaneira como deoem serrepetidos os ensaios. Os ensaios subseqentes devem serprecedidos de novas pesqusas de modo a melhorar eenriquecer ojogo.

    Quanto 11 interveno do professor, concluiu-se quc:

    a) Oprofessor pode e deve inteljerir em certascircunstncias, sem prejudicar a espontaneidade, desdeque os alunos o solicitem; quando permanecem inati-vos, sem idias e sem saber o que fazer; quando notaralgunJa inexatido historica, anacronismo ou erro de lin-guagem que deva ser corrigido em beneficio da educa-o; quando verifica que os alunos no esto pesqui-sando ou no o esto fazendo em fonte autorizada.

    b) Oprofessor deve adotar celtas restries pes-soais quando orientar o aluno. Por exemplo: no subs-tituir o aluno nas iniciativas, mas sugerir apenas; noprovocar inibies; quando quiser sugerir pesquisas, pro-curar levantar problemas em vez de indicar as solues;corrigir os erros de forma positiva e s aps terminaroensaio adotando uma posio critica-estimuJaute, su-gerindo af01111a correta a ser usada no ensaio seguinte.

    Quanto 11 compreenso do objetivo da dramatizaoespontnea como processo de ensino de Histria, con-cluiu-se que ela !1m meio seguramente eficiente dedar vivncia e de ensinar as crianas a estudar a ma-

    tria. Pela dramatizao, acriana transporta-se 11 pocado fato, vive-o e compreende os personagens ~ suasmotivaes; pesquisando infonnaes para realizar adramatizao, a criana aprende a estudar.

    APHOVEITAMENTO PEDAGGICO

    Todas as opol1unidadesdevem ser aproveitadas pararealizar atividades de natureza educativa, mesmo ligadasa outras matlas.

    Finalmente, grande servio se prestar ao ensino eao magistrio promovendo-se orientao a.os professo~esquanto ao emprego do mtodo. de d:amatJzar,no enSl?Oda Histla do Brasil. Essa onentaao poder ser fetasistematicamente, atravs de cursos com dramatizaesfeitas nas escolas, atravs de publicaes onde o pro-fessor possa buscar elementos de aperfeioamento etambm incentivando omagistrio atravs de concursosdo mesmo gnero.

    (Sobre o mesmo assunto, consulle cr n.' 16 e 53.)

  • MARTA (rspida) - Boa tarde.(Mais /Jramla) Boa tarde, seu cabo.

    CABO (senta-se) - Quase meadmiro de uma coisa ...

    MAR!AZTNIlA passeia, impaciente,comendo UIll fruio. CantaJll passa-rin/lOs. Enira o CABO, fuza' noombro; faz alio, descansl! o fuzil,clesnwnclw a JIlarcialiclacle, .I1tspil'll.

    CABO - Boa tarde, dona Ma-riazinha.

    MAlUA (outra DCZ c/ura) - Qual?

    CABO - No liofensa. Me admiroda senhora por estas bandas de c...

    MARIA - Por essas bandas!CABO - Ih, Odestino... Me pa-

    rece a mim que pegou nos nervcso seu nervozinho, a senhora...(Repam o fl'llto) Goiaba? Verc1inhana erva... Comendo goiaba verde?

    MARTA - Faz mal? omeu gos-to. Tem alguma coisa de mais?

    CABO - Hum... Goiaba verdechego a empeITar, com o meu parde queixos travando. (Levanta-se;arllla na ombro)

    MAlUA - Vai pro lado da LagmlMansa?

    CABO - Ningum sabe omeu des-tino. Ando andando -ta, num ser-'~o desesperado de mim. liuim decumprir earriscado. Servio contra aminha vontade. (Descansa aarma)Uma ~da to sossegada, calmazi-nha ,to boa de vida pra polcia...No acontece nada de nada. AITa-nho de faca, vez perdida, de ma-drugada, no palanque de dana,nem verte sangue; alguma arruaabesta da rapaziada, isso tudn topouco, at distrai a polcia. Fazmais de trs meses se arrecolheu

    MAmA - Mentira sua! Tem, sim,mas li mulher esperando l. Meconsta tudo, do seu relaxamento.Enxerir-se a uma mulher casidalMulher casada, mas porm de mauproceder na porcaria.

    BIL - Quem lhe defamon ainfilmia?

    MARIA - Um passarinho. Um(liabo, meu amigo 10 diabo!

    BIL - Virgelll! Com ele no sebrlca! Mariazinha, se acalme dessamndana do seu gnio,.. Isso limudana desadorada no seu gnio.Se sente, vamos conversar ...

    MARJA - No me sento, no meat,rrade. No vim aqui p'ra conversar!Vim resolvida a decidir a desgraada nossa vida! Sou ou no sou asua mulher, casada no civil e nopadre? No suporto mais nem umminuto o desregramento (lue vocleva, me arrastando ao ridculo naboca de todo mundo! Cansei-me.No suporto mais essa vida! Depra-vado! (ClJora) Desabafo tudo, desa-bafo tudo, para voc, depois, nonegar que lhe contei; lhe aviso, lheaviso; estou cheia!

    BJL - Outra vez! FelicidadesMariazinha! Pra (lue no me disse .antes? Pensa que me entristeo decrescer as obrigaes? Me alegro-me, me alegro-me! Outro filho meu!Se agora for uma menina, 6o seunome!

    MARIA - Que que est pensan-do? Que esperana! Estou cheiamas da sua presena! Cansei-me!Pode se danar para aLagoa Mansal

    BIL ~ No vou. No vou mais.MARIA - Inda agorinha, tinha

    fregus l! Uma pta! Est vendoa pta da sua freguesia?

    um preso na cadeia - aquele doidovarrido que enlouqueceu do juizo.Terraznha calma...

    MAlUA - Mas um povo taradopor mulher!

    CABO - D. Mariazinha: qucmpode seguir os dez mandamentos,do primeiro - amar a Deus, at oderradeiro, descobiar as coisas

    . alheias? Se opovo seguisse COlTCti-Inho os mandamentos, catolicamente,

    a polcia cochilava direto, engorda-va na sua redinha armada. No es-tourava encrenca de especssimaalguma! (Outro tom) Ombro annas!(Sai, Marhdn/Ill oliscmo fora. Cor-re, oClllta-sc. Canta mais forte wnpassarinho. Entra Ril, Dai atraDcssarfeito na rota)

    MAlUA (irrompe frentc aRiM) -Bil!

    BJL - , ah, nl, ..MAmA - Assombrou-se!B1L - Inhora no! Ia me assom-

    brar de voc?M/UUA - Ficou branquinho da

    cor! De medo! Onde j se Ialeu demarido ter medo porque encontroua sua prpria mulher? Pronto! Aprova maior de seu fingimento! Nes-se lugar!

    Bu - Uma mal Passagem degente que quiser. Me mexo no meutrabalho, passo omeu bicho avulso.(E:ribe talo e lpis) Terei outroganha-po diferente?

    MARJA - Nessa hora no conemais loteria.

    Bn - COITe loteria de manhat a noitona fechada.

    MARIA - E tem jogador na beirada Lagoa Mansa?

    BIL - Tem fregus por todaparte.

    1'1'..

    B1L - Homem simples.

    'li, PEQUENO - Moo esperto.Exceto na cena final s,vezes um tanto enigmtico,mas no intelectual.

    NEGA - Mulher moa, des-preocupada, comunicativa.

    ZAB - Bem mais moa queo Cabo (to tola quantoele ou to sabida?)

    CENA - Recanto de Vila daMata, 11l11n caminho para aLagoa Mansa; tem um De-lho poste cle macieira.

    CABO - Gorduchote, lento.Meio fanhoso. Meia idade.

    lJAJUA - Jovem temperamen-tal

    Personagens:

    COMDIA MUNICIPAL N. 5

    de Jos CARLOS CAVALCANTI BOBGES

    EM FIGURA DE GENTE

    oQUE VAl\10S REPRESENTAR

  • BIL - Perco a freguesia certade l. Vou trabalhar na cstao.Voc voltc em casa, Enxugue osolhos, que no quem saber de es-petculo seu pelas mas, pelo motivosomcute de desconfiana sem razo.V. V cuidar do menino, quecuido cu da rua. Tape as ouas aoshoatos de mexericos,

    MARTA - No vou! Pensa qucacredito mais em homem nenhum?

    BIL - Vamos comigo ...MARIA - Pois ento vamos. (Ca-

    bo entra, s. Maria oavista. ARiM)V andando que eu j sigo.

    BIL - Vamos cmbora.MARTA - Preciso passar pela igrc-

    ja rezar uma orao. Uma ave-mmiade promessa; juro que cumpro areza c j vou j. (Camnlw/ll a fIlnasllida; BM slli. Rpido. 110 cabo)Caho Titico (outro tO/ll)! Onero lhecontratar oseu SCI'\~O, Caho Titim.

    CABO (desalentado) - Ail. ..Estou mInto ocupado.

    MARIA - Lhe contrato pr'a dis-parar um tiro de carabina numa mu-lher safada, que intenta a cornlp-o de umhemem direito, pai defamilia, O sr, pode liquidar a ra-pariga - tomando tenncia de pre-servar a estampa do homem.

    CAllO - Oque? Que destino...Me arrisco oque! Aatirar em genteo que! Tem o 5. mandamento -no matar! As arde prender umavaca; s se resistir. Se arresistir,fogo!

    MmA - Pois uma vaca! Avacaque vai tomar banho, quando anoi-tecer, na Lagoa Mansa, mais omeuquerido Bil.

    CABO - Seu Bil um cidadoquieto, honrado. Quando anoitecer,

    este seu criado interrompe a dili- Z - Pois , meu compadre Titi-gncia e se deita. A polcia arre- coo Pois . (Cabo sai, Mllria, in-nega barulho; procuro, contra a quieta, Dai aZ) Pois , d, Maria-minha vontade, uma vaca malhada, zinha, pois .do chifre direito meio torto, l nela, MAmA - Pois no , seu Z Pe-

    I f 1 I' . N" , " , " 'Ique evou uma Ola( a Igelra no queno. ao e, nao c, nao e.quarto esquerdo, l nela. Ferida que 'li. - Eu pensei que fosse ... Meesteja ,deve anelar oanimal, de sdc, adesculpe os erros do meu pensa-no rastro da gua da lagoa. mente. .. o vosso caulnha sarou

    MARTA - Me empreste a arma. do peito...CABO (solene) Impossvel; est MARIA - No , Epudera ser. E

    d dI ' I' . II sendo! Pois .comprometi ana _iigencia po ICIa (Outro tom) Se pudesse, se eu no 'li. - Pois ...fosse autoridade, bem que empres- MARTA - Bil me engana, rastejotava Me aliviava do peso do fu- no rastro imundo de uma mulhersil (Entra Z PEQUENO, de . porqueira. Quem ela?maleta) ZE (segunda inteno) Desconhe-

    Z PEQUh'NO - Compadre cabo o esses particulares soturnos, minhaTitico, salve! D. Marazinha, de seu senhora dona...Bil, bons olhos vos vejam. D-me MARTA - Sabe de tudo! Omaioras alvssaras de seu caulinha. feiticeiro do mundo! Quando no

    1 sabe, adivinha! Feiticeiro, xangosei-MARlA - Bi zinho sarou do peito.1'0, enredador!

    Z PEQUENO - Eu lhe garanti a ZE _ Quem ouvir asenhora assimgarantia do sucesso da mesnhn - no destampatrio malcriado, comoque era tiro e queda. Desconheo vai ter idia arreversa de mim, umrenma de catarrn arresistente ao co- d d

    pobre matador de criao, ven en ozimento do mastmo. (f10 Cabo) a minha caminha de bode, de mar-Notcias novas da comadre? f lr, pelas portas das amlas, somen-

    CARO - Sumiu-se mesmo. Nem te- te das Iamlas escolludas. .. Reme-nho notcias nem quero ter. Despre- diozinho do mato, que me ensinaramzo a ingratido... (Outro tOlIl) a misturar, pratico a caridade deCompadre Z Pequeno, viu uma ensinar aos pobres, como eu...vaca fedda? Maleita, inchao nas partes, mal-

    ZE PEQUENO - Vaca, vaca mesmo, I dita nas pernas, espinheia cada,pessoalmente, no senhor, meu com- soltura de ventre...padre; nem ferida nem nada. E po- MARIA - Me indique um remdiodia ter visto. Varei o tempo todo pr'a rendio de homem: uma rezabeira d'gua da lagoa acima, beira de xang!d'gua da lagoa abaixo, catando as 'li. - Xang reJi~o_! No tenhominhas raizes medicin, nessa minha pmte com issol .caridade, sim senhor. Mara _ Que Bil seja meu, meu,

    CARO (arma ao ombro para sair) meul Dou-lhe duzentos cruzeiros,- Minha N. Senhora, desencavai ZE (Resoluto, caderno ensebadoessa vaca! em punho, l, tropeando) Pm

    ......

    mede o marido s fi a mulh, to-mando raiva de dio a qualquer es-tranha, seja mulher dama ou noseje mulh dama. (Entra o cabo)

    CABO - Nada de nada, nada devaca. (Vai senta-se ,olho compridoli Marill) Ai! Ai! Agente viversolteiro a pulso .

    MAllTA - Quero a receita maisforte ...

    ZE - Psiu, d. Mmiazinha.MARTA - ... que o sr. possuir ...ZE - Psiu. D. Mariazinha, a po-

    licialMARIA - Essa vaca! (Outro tom)

    Seu cabo Titico, agOrinha me lem-brei, quando vinha para c~ cruzeinos trilhos do trem, lima vaca pas-tando. .. Malhada, apresentandoum defeito no chifre esquerdo...

    MAR!A - No direito, l nela!MARIA - Coxeava de um lado..,CARO - ela! Pra que j no

    me disse? Ai, ai! (Armll apontada,sai)

    MARIA - Areceita mais forte doseu bornal'

    Z (li!) - Pru mode omarido sfi. .. Ahn, j expliquei. Pegue op esquerdo do sapato dele -. deseu Bil - arretire fora a palmilhade dentro da sola, queime em fogode labareda msturada com incenso(retira pacotinllO da maleta, entre-ga) e mais esse galho de arruda(retira o ramo da maleta, entrega).Queime tudo e anecelha as cinzas;despeje a metade das cinzas em umsaquinho fabricado de pano de ce-roula sevida do cujo; e meta o sa-quinho no colcho da cama do casal;a outra metade da cinza, coshlrena roupa do suplicante - seu Bil...

    MARIA - Na cala?

    Z - Num ponto que seja dosjoelhos pra cima (Maria mastiga asfolhas de arl'llda). No, senhora,no para mastigar.

    MARIA - Foi sem querer. (Ontrotom) Que tempo gasta em aparecero efeito?

    ZE - Com muita velocidadc. Notermina trs semana.

    IV/ARIA (Lanll fora o galho dael'Da) Tapiao! Quero reza queatue de repente! Que BD perca,hoje, nesse instante, o mais menordesejo de mulher. (Entra Cabo atempo)

    CABO - Fica inutilizado!MARIA - Digo desejo de mulher

    estranha!CARO - D. Marazinha, esse t de

    Z Pequeno o diabo! Amcue, ~etamanha tentao desse demomoem carne e osso. No sei no duroqual o mandamento, mas contr-rio. Pode dar encrenca. Meu com-padre, sim senhor, amspeita?or d:sautoridades, sim senhor... E o caovivo, em figura de gente! Em seme-lhante figura de gente, de hcmefalando, j o diabo encantou-se, naera de minha av, no terreiro dacasa grande do engenho Pru, mu-nicpio do Itamb! Iludiu a famliado engenho, embora no fez mala niugum. Zombeteiro! (Benze-se)Estava descalo; a Iamla reconhe-ceu pelos ps de bicho! Custou adesaparecer, feito fumaa, no cho,afora de gua benta, que jogaram;mais o toque do sino, na hora daave-marial

    MARIA - Oh!CARO - Meu compadre, sim, pai

    de muitos filhos balizados sim se-nhor mas a conversa dele, se ocristo se entrega de alma, fede a

    enxofre queimado! (Benze-se. Mariafdem)

    'li. - D. Mmiazinha pode ficarsegura: no sbado bem cedinho, co-mers o vosso pesinho de bodegordo, na arrefeio do almoo. (AoCabo) Mau jnizo me faz o meucompadre cabo... (Gesto-psu aMara. Sai. Maria apanhli o galhode arruda)

    CABO - Vaca desinfeliz... Achoude ser ferida por um adversrio po-ltico... Um cabra do seu coronelElmiano... (Rel{/ta) Vai avaca Muma carreira no netinho do coronel,chefe da oposio; um cabra em-pregado do coronel na inteno desalvar a criana, ataca a foice noanimal, pegou no quarto esquerdo,J dela.

    MAR!A - A quem pertence avaca?

    CABO - Ao mesmssimo coronel,patro do cabra e av da criana.

    i\'1ARIA - E' assim tem crime?Sendo tudo da mesma propriedade,como se fosse o marido de umamulher ou amulher de um maridoi'Tem?

    CABO - Tirou sangue, tem crime.Coronel, ocabra, vaca, meuinn neto,tudo da oposio. O seu delegadoprendeu o cabra; mas precisa davaca, pra provar as leso eorpor,Sem vaca detida, escriturada peloescrivo, adeus, ocabra se volta-seligeiro, nem carece de doutor arre-querer biscate.

    MARIA morde as folhas na mo, vaisair, muda de fumo, sai por ondeZ saiu. Cabo levanta-se. EntraNEGA.

    CARO - Minha N, Senhora, desen-cavai essa vaca da peste!

  • NEGA - Seu cabo Titico! Falando NEGA - Pode. (Ou/l'O tOlll) Se I B1L - Touro.BIL - Seu Paulino donzelo. a gente estava se namorando, na- noite, se esqnecer da integratido dosozinho?! aqui tive.'isC jornal, Chiqunho era CABO - Eno segundo prmio? '!~ marido.

    CAJlO - No senhora. Estava ca- omaior entre os dez mais. CABO - Ora essa! Quem podiamoro de jinela, me chamava Nega.

    BJL - Vaca. No terceiro, touro; palpitar! Altima loca de uma vaca No sei porque... Por amizade ... MARIA - Esse tal do banho delado. (Olho comprido (f Nega) IlJL - Qlla1

  • llLmfA (Toma, abre a ma/eta)Bagagcm do diabo S deve contermaterial de feitiaria!

    Z (obsel'Va, tom) - O cabocismou de suspeitar dos melhorescidado .. , (Apanlm os bonecos dama/ela). Me prometei, me jure:guardar o segredo desta transa{)at a morte; que nem em confisso,o viglio vai saber (Sorri enigm-Ueo). .. E depois de apertada arma, no adianta arrependimeao,nem santo do cu, nem satans dosinfemo no tem jeito de desmancharmais esse ns!

    MARIA - Pois d o n, COm ospoderes do diabo!

    Z (gargalhada estl'lln/w) As snasordens! (Maneja os bonecos) Pre-cisa unir bem undinhes, o cujo, oque vai sofrer, e a boneca; a se-nhora quem vai enfeitiar. Ele c asenhora isolados no ar, porque cuno tenho coisa alguma na transao.(Envolve os bonecos com uma li-n/lIl) Linha preta, fiapo ue batinade frade capuclJinho. Pegue essealfinete, foi de fralda de anjo, peguemaginando firme em seu Bil...

    MARIA - BiJ! Bil! (continuanltlrmllrando) ,

    Z - Enfie o alfinete de rijo. ,.MARrA (voz e mos tremulas)

    Onde?Z (sustem II mo de Maria)

    Arrepare clue tiro e queda.MARIA - Onde?

    Z - Nos ps... (Maria obede-ce) Nas pernas (Idem). No ventre(fdem), No peito ena cabea! (Ma-ria hesita; executa. Tiros para, oladoda lagoa) Balas. Eu lhe preveni!Rala muita na beira da lagoa! (Pora{:aso, segura ofuzil, corre, sai, larloda lagoa).

    MAmA (aioellur.-se) Minha NossaScnhora, salvai BiJ! Nossa Senhorado Perptuo Socorro, prometo-lhevinte missas, protegei BiJ! (Tiros,Entra o cabo, ofegante)

    CABO - Teje preso! Teje preso!

    MAJUA - Viva! Felizmcnte Bilsalvou-sc! Foi o senhcr que atirouna vaca!

    CABO - Estou virgem. Como po-dia, de mo limpa?

    MARIA - Perdi-me! Mataram meumaridinho! Sou uma mulher desgra-ach~ ,no desamparo, sustentandonos meus braos uma criana pe-queninha! Mataram Bil (histrica)!Mataram Bil,

    CAno (pl'Ocura a arma) Cad omeu canho? Tcje preso! (Aflito)Mataram seu Bil. (Outro tom)Quinto maudamento: no matar! Ai,matam a polcia de susto c de tra-balho! (A Maria) Qucm foi? Estoudesmnadol Quem o criminoso?(Entra. Z Pequeno)

    MARJA - Foi seu Pequeno!

    CABO (receioso, amvel) Compa-dre. .. Compadre, cnh'egue-me aarma...

    Z - Peguei nela sem querer...CABO - Entreguei-ma! (Z obe-

    dece) Ieje preso!Z - Cheire o cano! Fedendo a

    limpo! Eu estava aqui, fazendo com-panhia a dona Maliazinha, sozinha,coitada. (Cabo cheira o cano dofuzil) Ele atirou dez tiros, perdeua cabea; estll louco, furioso, deespingarda fumaando nas mos!

    CABO - Quem?Z - Seu Chiquinho.CABO - Qual?Z - Seu Chiquinho como.

    CAIIO - Qual? O do caldo decaua ou o da ladeira abaixo?

    Z - Nem um nem outro; seu.Chiquinho de dona Ncga.

    CABO - Teje preso! (Vai sair)Z}; - Meu compadre cabo! Ocor-

    no est doido, de arma disparandobala!

    CAJJO - EJogo nessa minha aper-tura me defronto tanto perigo. N,lminha apertum, que a mulher meabandonou, faz setc meses e deze-nove dias! Sei que vou mcrrer, elaestando distante! Ai, ai ingrata!(Movimento rle saida) Me faamum favor, mandem dizer aZab quemorri pensando nela ...

    MARIA - No adianta se arriscar]De cluem a culpa? Daqui mesmo-o senhor leva pra cadeia o verda-deiro criminoso. Grito bem alto aodelegado, ao dr, juiz: Z Pequem), odemniol lI'fatou Bill Matou Bil!Matou meu maridinho (Prantos.En/ra Bil com atoalha de Nega;uemlo os de cena, oculta II toalha).

    Z (A Maria, que conseroa asmos nos olhos) Pronto, seu marido!

    MARIA - Morto? No quero veruma visagcm! Crcdo em cruzl Umfantasma!

    BIL - Mariazinha!

    MARIA - Bil! (Apalpa-Uw os ps,as pernas, II barriga, opeito, aca-bea) Bil! Anjo do meu corao,pai dos meus filhos! .

    BJL - Mariazinha, vem... Pre-ciso de tu! Vem coar pra mim umcafezinho bem quentinho.

    MARIA - Nunca mais eu te deixosair de. casa! Nunca mais, nuncamais, tu sais de juntinho de mim...(Abraa Bil, descobre, desdobratoalha) Oh! Atoalha da,porca! Es-

    tavas no banho, ela merre matada,guardas a toalha ele lembranca!Vieste ,I mim se abraar, trazen~loessa toalha de sebozeira' Bandidomiservel! Prenda-me esse diabo!

    CABO - Scu Z Pequeno?MAmA - Bil!BlI. - Perdo para essa falta!

    Venha Mariazinha, queira mais bempara mim... Eu te amo!

    lI'fARIA - Amas atoalha da bicha!Te danes, Bil! (Tiro)

    CABO - bala santa! bala afavor do sexto mandamento, prgmmlar castidade!

    Z - Seu Bil, cana! COITa, seuBil (Sofri)! terra mais dvertidal

    MARrA - Seu cabo, prenda essehomem! (Bil sai correndo)

    CAIlO - Seu Bil?~JAmA - Seu Z Pequeno!

    CABO - Nesse instante, era seuBil. Ora um ora outro, oacusa-do! Como que a polcia podeacertar?

    MARIA - Osenhor amaior auto-ridade; prenda seu Z Pequeno,antes que ele fuja, se severta nochio, denetido na fumaceira de en-xofre...

    Z - Isso tem !,fraa! Seu Bilandou vivinho, correu ligeiro, salvoda sua sade... Me acusando-meassim a senhora me recompensa?

    CABO - No posso prender. Notem queixa nenhuma,

    MAnIA - Don a queixa: porqueno matou; no matou meu marido.

    CAB'o -A~ ai. .. no matou; isso o mandamento, o quinto! Isso queixa?

    MARIA - Denunciando-se pol-da que seja, uma queixa!

    CAno - 1I1en compadre, tejepreso!

    Z\ - Aquele fiadozinho que te-nho l~ dois quilos de sarapnel,quilo emeio de leito. .. Considereum presente de Z.. ,

    CAno - T solto, meu compadre!MAmA - Um homem casado no

    civil e no religioso desmoraliza asua esposa fiel. Um homem pai defilhos! Engana publicamente a ino-cente da mulher, ..

    CARO - Quem sabe?MARIA - Oque? Duvida da reali-

    dade? Teve testemunha de vista?CABO - Quem sabe se teve tem-

    po.. , Por causa dos tiros ...MAmA - Um homem casado, mu-

    lllerengo conhecido, taxado, regis-trado na polcia.

    CABO - No me consta. Foi essaa primeira vez.

    MAmA - Aniou-se completamen-te atrs de mulher-dama.

    Z - Uma senhora casada...MARIA - Uma galinha. Bil me-

    recia morrer estrebuchando! Poisesse tal de Z Pequeno, esse ndi-viduo - porque um individuo!- eentrata um servio com amulherolendda, pra castigar o homem.Feiticeiro indecente! Ladro da boainteno alheia! Hecebeu o meu di-nheiro ...

    CABO - Quanto?Z - Uma besteira de ninharia...

    lI'fARrA - Mais de um conto deris!

    Z - Mentira da acusao! (Sorri)CABO (A Z) Despacha o retor-

    no da quantia (Z c1.esenbolsa, vai aMaria). Alto! Devolve-se autori-dade constituida! (Recebe) So as

    custas do processo - embolsa-se istouma vez perdida... Se pagassemassim, sempre, sem dar trabalhonenhum.

    MAmA - Exijo a condenaonrsente do criminoso! Hecebeu pa-

    b J' -gamento pra exemp ar um :rJStaofaltoso e roubou-me! Ladrcl OCliabo na tentaco das mulheres to-, ,las! O.dabc me roubou! No matoumeu marido, Diabo! Diabo!

    CABO - Psiu (Olltro tom) Tantoa gente chama que ele aparecemesmo...

    Z - Nem que seja s pra zom-bar da lena...

    CABO - Parece um crime clarocontra o stimo mandamento!

    MARIA - Ostimo: no Iurtar...Sim senhor. E tambm contra oquinto!

    CABO - E pode acumular?Z - A constitnio no permite

    se acumular-se!CABO - Ai, ai, ai, encrenca mestra

    . dos demnios! Que que stimo?No furtar. Muito bem, por isto estsuspeito que oseu compadre Z Pe-queno tenha fraquejado de furtar.Mas, porm, que que diz oquinto?No matar. Est claro, compadreno matou.

    MAmA - Devia matar eno cum-priu! Um vivente da marca ordin-ria, meu marido, merecia ser mortoe continua ofendendo a Deus.(Agarra os braos de Z).

    Z - Me rasgou o meu palet.(Olltro tom) Tive pena da mulher,se ficasse viuva... Tambm tenhocorao.

    CABO - Acho melhor a senhoraprocmar o vigrio e se confessar.Centra oquinto. No matar. Se no,

  • meu compadre... Veja vosmec,dona Mariazinha... Seu 13il um'bicheiro; muito bem, sim senhor...Me vendeu uma milhar de veado.(Exibe o poule) E'st aqui arclni-vada Vai aloteria, mais eomllouco,por azar l dela, d vaca. Quempode, no direito, obrigar seu 13i1a pagar o outro bicho? Entendeuvosmec? A senhora no pode, derepente, acusar a queixa no quinto,se no jogou no quinto, que jus-tamente o contrrio!

    MARIA - Posso acusar oque qui-ser! Deixe o cabo de desrespeito,comparando as h'ampolinagens debicho dos viciados com os manda-mentos sagrados. Quer saber? Apo-lcia tem s uma deciso, que abafaomeu barulho: botar a carabina daautoridade nas mos do criminoso(Executa) e sujeitar o ru a co-meter mesmo o crime, matando osem vergonha do miservel do ban-dido ([ue acode por 13il. (Expressoele nusea) Vamos, ladro, Ialtadorde juramento: tenha ao menos co-ragem de praticar o bem, livrandouma senhora sria da companhia detraste que no tem amizade a ela,Nem um tico de amizade! (Tontura.Cabo eZ amparam-na. Entra Zab.Cabo larga Maria matraca)

    ZAn - Titico! Titiquinho!CABO - Zab! (Larga ofuzil, que

    cai no cho)Z - Comadre Zab! Salve, a mi-

    nha comadre! (Repetidas efuses doCabo eZab)

    ZAn - Mandrio .. , Meu fa-nhoso ...

    CABO - Sua fujona ...ZAB - Mas voltei. ..CABO - Mas demorou-se ...ZAB - Oque foi que tualmoou

    hoje?

    CABO - Po e caf...ZAB; - Eontem?CABO - Po e caf... (Enxuga

    uma lgrima).ZAB - Era o que eu pensava!

    (Outro tom) Titico, juro por Deusda minha alma!

    CABO - No jurar o seu santonome em vo. Logo osegundo man-damento!

    'ZAB - Nunca mais te deixo so-, zinho, nunca mais!

    CAno - Da outra vez, da primei-ra, da. segunda deixada, vosmectambm garantiu isso ...

    ZAB - E cumpri! Cumpri a pro-messa, vivi ajuntada contigo mais dedois anos inteirnhos., .

    CABO - E' da terceira vez? Daltima me abandonou de repente;quando eu me acordei, de manh-zinha, faz sete meses e dezenovedias, que abro os olhos, que passoa mo de lado, foi o canto maislimpo que; encontrei, me levanto,cad Zab? Cad Zab?

    ZAB (spera) Corri pra casa demame. Aborrecida de curtir tantanecessidade aqui! (Chorosa) Fuimuito castigada. Penei muito maistriste fora de tigo. Morri de sau-dades...

    CABO - Morri de saudade...ZAB - Tudo por causa desta tua

    preguia da peste! Se tu criasse re-sistncia na fora de vontade, en-frentasse {J mjo, mellwm\rti 1Ji-nheiro; se tu rasgasse esta fardai

    CABO - Odestino! Meu destino ser militar.

    ZAB - Militar um militar!Cabo.. ' Cabo o povo que lhechama, atiando atua vaidade besta.Soldado raso, sim e no sobe de

    soldado raso, Deve conta na bodega,deve na padaria, deve na carne...

    Z -Com a sua licena. donacomadre Zab: a mim este seucriado, a polcia num deve nada!

    ZAB - V que teimasse na farda,mas podia trabalhar! Plantava umroado, comprava e vendia troos,passava jogo de bicho. V que fossemesmo fardado. Veja seu Bil! Umhomem pobre que vive honrado, deseu, de dia e de noite passando jogoavulso. Bate a p toda a Vila daMata! (Mais a Maria) Digo a Titi-co: fanhoso segue oexemplo de seuBil. (Outro tom) Morri de sauda-de, ..

    MARIA - Asenhora ficou mesmode mal?

    ZAB - Fico mal, fico bem, ficomal, fico bem... Isso amor. Ma-me me azucrina com a ladainha,quando estou em casa de papai:Zab, Zab, marido marido; indamesmo qne no preste, mardol(Outro tom) Inda mais fanhoso(Abraa o Cabo) Cheguei no tremdas quatro e meia, j passei emcasa, ja empurrei aporta da cozinha,j acendi o fogo, j sai catando ocabo, de corao me saltando nagoela. ,. Mulher direita no podeviver sem oseu msridc.

    CABO - E ns? Ns num conse-gue viver sem a sua mulher ...

    MARIA - Dona Zab! Seu caboTitico! verdade? (Contm opran-t,o, &ire, sai. Tiros. Z sustenta amaleta e sai)

    CABO - Me prepara uma jantagostosa. Me compra duas cervejas,me compra queijo, marmelada, car-ne de sol! (D dinheiro do recebidode Z)

    ZAB - Cabo, tu enriqueceste?

    -,

    CABO - Adquiri essa lambugemnuma diligncia. (D mais dinheiro)Tau morto de trabalhar!

    ZAB - Eu te amo!CABO - Eu te amol (ZaM sai.

    Cabo vai sair por onele saiu Z.Obserm o alto, fora) Eita! Urubuvoando, carnia, cadaver morto!Ai, ai! (Entra Z)

    Z - Coitada!! Seu Chiquinhoacertou nela.

    CABO - Encrenca dos infernos!Acertaram no quinto mandamento!Mataram dona Nega.

    Z - No, seu cabo. No foi naque estava botando os chifres, no;foi na outra. Na de chifre.

    CABO - A vaca pessoalmente?Mataram-me o corpo do delito!

    Entra Nega correndo, arranhiiosangrando num brao.

    NEGA - Me acudam! Me acudam!(Sai em fuga)

    CABO - Eita, corno cego! Atirouna que viu, matou a que no viu!

    Entra Nega.

    NEGA - Meu Deus do cu! Sescapei pela SOlte - acabou-se aacomodao de Chiquinho! (A Z)Diabo safado, t'esconjuro! Bil fu-giu na hora H. E' estava medroso,mole, desanimado, .. Era assim quese arriava por mim? Qued opoderda sua feitialia? CM de cebolaalvarr furada, com pimenta mala-gueta edoze ovos de fOlmiga sarara,fervido com mijo de jumento empanela de barro! Que um se arriavatodo, e o outro inda fechava maisos olhes da cara! At ooutro, aco-modado era ali, perdeu a cabea!

    (A Z) Que histria de desculpavou eu inventar a Chiquinho, pro-vando a minha inocncia? (1\0 Ca-bo) O senhor me encontrou aqui,pode ser uma testemunha a meufavor.

    CABO - Oitavo! No levantar fal-so testemunho!

    NEGA - Ento me prenda omeuChiquinho, enquanto esfria a fluiadele! Mais tarde, vou buscar ele napriso, nos meus braos, depois queestancar osangue do meu ferimento.(A Z) Enrolo, safado, pife! (Da-lhe uma bofetada)

    Z - Iluso! No fui eu; no fuieu que atendeu ereceitou vosmec!

    Negra agride, agarram-se, escure-ce.

    CABO - Paz! Paz! (Empunha ofuzil) Olhem os mandamentosi De-claro guerra! Mato todos dois! Paz!Arraso o mundo pela paz!

    Nega sai. Z permanece de ma-leta Il(f miio.

    CABO - Acabou-se a paz da vilada Mata. Crime contra o quinto,contra o sexto, contra o stimo econtra o oitavo, contra o nanaiCrime do primeiro ao quinto! Issoamaior parte do sujo. Isso obrado diabo! Meu Deus, valei-me! Mi-nha N. Senhora, valei a auordadeconstituda !Meu S. Miguel, bichovalente, anilado de espada na mo!S. Miguel Arcanjo! S. Miguel Arcan-jo!

    Z elesaparece, fica s amaleta,no ar, na mesmn altura em que Za sustinha.

    CAllO - Seu Z Pequeno! Seu Z6Pequeno! Amaleta encantou-se, sol-ta no ar! Meu Deus! Zab! Credoem cruz! Zab! (Sai aterrorizado)

    Acenele-se almpaela elo poste, ell-tram Marin e BiM, niio vem amaleta

    BIL - Tenho um segredo paralhe descobrir.

    MARIA - Tenho um segredo pralhe descobrir.

    13JL - Na loucura medonha da-quele banho, no tomei; nem che-guei a molhar os ps n'agua.

    MARIA - A(luela histria que eulhe disse ([ue era mentira, no era;era verdade. Estou mesmo esperan-do outra vez. (Tontura) Um enjoto enormel

    Bil ampara-a. Badaladas ela AveMllI'ia. Envolta ell1 espessa nuvemde fumaa, com. estrondo, nmaletase some. Entra Z.

    Z - Bons olhos vos vejam. Sem-pre juntinhas, sempre se amando,Deus vos guarde! D-me as alvlssi-mas do seu caulinha! (Outro tom)Ferrei um sono chumbado na beirada lagoa, voou o tempo da tardeinteira. Me acordei-me no escurecerda noite.

    MARIA - Era seu Z Pequeno!Tem um rago na manga! (Verifica)No tem! No era! Vou correndo meconfessar-me. Era o diabo! Era odiabo do Pma! (Sai correndo) Odiabo do Pru, outra vez aparecido!

  • JOGO DA INDEPENDNCIA

    2AIOS

    de INS DE ALMEllJA

    Intrpretes: HOMEM IHOMElII IIIIm,IElI[ IIIMUUlEH IMULIJEH JIMULIIhll III

    (HOMEM III eMULlIEH III devemser negros)

    CENmo - Palco Uldo, somentecom um praticel, em degram, aofl/ndo.

    CORTINA - Em nenllllm momento.Escurecimento total 110 fim de cadaato. Os cenrios e acessrios neces-srios ao espetcl/lo podero ser ma-nejados por 2cont1'll-regras 01/ peloslJrprios intrprete.s.

    Os intrpretes estaro vestidos demalhas colantes.

    I ATO

    Entmm os intrpretes 11111 (/. 11m evo se pondo diante da platia.

    HOlIEM I Um.MULllmI III Dois.HOlll~I II Trs.MULlIEllII Quatro.HOlIEM III Cinco.MUUlmI I Seis.H01IEl1f I - J estamos todos cm

    cena?TODOS - Todos.HOMEM I (conta) - Exato.MULllEll III - Ento podemos

    comear?TODOS - Podemos.

    H01IEl1f II (fmpostando (/. (jaz)Somos seis que vo fingir muitos.

    ~:IUIJlhll I - Seis (lue vamos con-tar e viver uma grande histria.

    HOlIEl1I III - Ahistria de nossaindependncia poltica.

    MULnER II - Cento e cinquentaanos de um povo que adquiriuconscincia eque seairma,

    HmrnM I - Sesquiccntentio!Quem puder que repita depressa.

    HOlIEl1f III (herico) - Indepen-dncia ou morte!

    MULHEH I - Frase que vale poruma orao...

    HOMEM III - Por um discurso .MULHER III - Por uma histtia .HOMEM JI - Histria que todo

    brasileiro conhece desde que come-a a ouvir e a falar...

    Muurnn II - Ahistria do 7-de-setembro de mil-oitocentos-e-vinte-e-dois.

    HOMEM I - Independncia alimorte!

    MULIIEH II (cantaralando) "Ouvi-ram do Ipirnnga s margens plci-das..." '

    HOllEM II - Mas o sete-de-se-tembro foi o momento histrico .. ,

    llfuJJlEll I - E' cronolgico .H01JElII II - E psicolgico .MULIJEll III - Emocional. ..HOlvJEllI I - Da nossa indepen-

    dncia.

    H01JliM III - Osentimento na-tivista, o reill\~ndicatrio, a cons-cincia de ser dono da tCITa come-ou antes, muito antes ...

    MUI1IEll I - Talvez antes dotempo que os historiadores apontamnos livros.

    MULUER II - (Cafn esemiconfi-dencial) Comeou, no meu enten-der, naquele dia memorvel. em queos nossos ferozes tupiniquins, destelado de Ci, aprisionaram, mataramc devoraram obispo Sardeha, sm-bolo da soberania e do poder dolado de l.

    Em fundo: mi(ro de celebraoguerreira de ndios.

    HOMEM I - Os ndios, em seuscostumes antropofgicos, queriamdizer, em termos delicados ...

    HOMEM II - "Vamos assimilarantes que nos assimilem".

    MULIIER III - E em termos pr-ticos...

    HOME.\{ I - "Nesta terra quemmanda sou eu".

    MULHEll I - Mas os mtodos dosnossos inno-ndios, como se sabe,foram muito critieados ecombatidos.

    HOlmI II - No tiveram conti-nuidade.

    MULm:n II - Ea conscincia daposse da terrn c o desejo de liber-dade da terra foi um grande pro-cesso de reivindicaes e rebelies.

    Todos dtio-se os b/'(/os, Solenes.

    Toros - Ns, (lue seohamcs coma liberdade e a independncia, te-remos daqui por diante uma COm-panheira inseparvel ...

    Jogo de luzes. 11 sombra da forcaprojeta-se sobre os intrpretes. Ruidoseco e contnuo de queda de ala-po, rpido. Luzes anteriores.

    MULHmI I - Mas no se assustem.I-I01IEl11 II - No saiam.MULII1l11 II- Nem tudo snsro

    assim.HOMEM I - Que a coisa comea

    engraadae termina hemoMULHER III - S o meio feio.HOMEM II - Antes assim.HOMEM III - Amm.

    Luzes. Aparecem igreja, pelouri-nho; ca,)(/rio colonial bem primtiuo.HOMEM I (Amador Rueno) nasescadas, lliante dos outros, que oooacionmlJ. eestimulam, HOMEM I(AnUldor Bueno) desorientado eatemorizado.

    TODOS - Viva oHei! Viva onossoIiel Viva o lIei de So Paulo!

    HOlIIEM I (AB) - Viva oRei dePomIgal!

    TODOS - Viva o llei AmadorBueno!

    HOMEM I - Viva aliei D. JooIV!

    TODOS - Viva o Ilei AmadorBucno, de So Paulo!

    II01mI I - Viva o Bci D. JooIV, de Portugal!

    TODOS - Viva Amador Bucno,nosso Hei!

    HOlJEM I (eslertrrico) - VivaD. Joo IV, nosso rei esenhor, peloqual darei avida. Viva Portugal!

    TODOS - Viva S. Paulo!HOMEM I - Viva o Hei de Por-

    tugal!

    l\S duas ltimas falas repetem-senum conf/'(/ponto que vai tomandoritmo. Torna-se mmica-bal, comHOMEM I (AB) repelindo acoroaque lhe querem lJor ii cabea equetodos querelIJ. for-lo aaceitar. Porfim, HOMEM I 6 apanhado porulria.s mos llunw si!uallo grotescade teimosill (Ia parte de uns eafli-o dn parte de outros. HOMEM Ifoge espllvorido, deixando li coroamim' no c/uio e refugiando-se naiweja de onde, escondi(lo, atrausde um(1 janela fnz sinais negativosatodos os c/lllmados e propostas.

    TODOS (cantando)

    Vem c Bueno,Vem c Buenc,Vem c!

    HOMEM I (cantando)No vou l,No vou l,No vou l,Tenho medo de apanhar!

    HOMElII I fe.c/Ill a janela enfti-camente. Luzes. Em primeiro plano,alinhados em fila, os intrpretes re-comeam li narrtiva.

    HOMEM II - Aclamao de Amaedor Bueno da lUbeira.

  • Luzes. No trono, com coroa, IIwn-to e cetro, MULHER II (D. Se-bastio)

    MULllEll II - 1641.HOMEM III - Primeira manifes-

    tao separatista do Brasil.HOJI;!E~( I - Hezam as crnicas ...MULlIIIIl III - "Teve ele o bom

    serso de recusar a intempestiva oer-ta c, amiliado por outras pessoasde prestbfo, conseguiu convencer osseus mais cxaltados cenerrneos apennanecerem fiis ao governo deLisboa...

    HOMEM II- "Temendo a coaoda massa, refugiou-se no Mosteirode So Bento".

    MUIJIER I - "O movimento sedesfez suavemente, sem nenhum econa colnin. No teve, pois, maioresconsequncias..."

    HmlE1I I - Como prometemos;tudo acabou em paz.

    Todos fazem o sinal hippie deamor epaz liplatia. Luzes. Ptibom-bar de canluies. Tiros. Tumulto.Todos em posio ele luta, confronto.(Lembraro fatos contemporneos,imagens que os Ol'llais eateleDIsodiDulgam: karat, box, futebol, guer-rilha Israel-Mundo rabe, etc... )

    MULHEll II (Num Calfe brusco daposio em que se encontra) Estaluta, vocs podem acreditar, alutade brasileiros contra holandeses.(Volta posio de combate)

    HOMEM II (Mesmo efeito ante-riar, mas com sotaque pOlfugus)No meio, muito porhlgus e muitointeresse porhlgus, mas isso novem ao caso.

    A partir das falas seguintes, UIlla Ulll aband011llro a posio com-batiDa e Doltaro posio narratiDa) diante da platia.

    MULllEIl III - O que vem ao Hmmr 11 - D. Sebastio, ocaso e fica em primeiro plano o Desejado, nascido em 1564, deimo-Fortalecimento da vontade de auto- sexto rei de Portugal.determinar-se. 'MUIJIIIIl II (DS) - C entre nos,HO~IEM 1- Andr Vida] de Nc- qnc ningum nos oua, essa histria

    greiros. de ser rei muito chata. E possoH01IEM II - lntlio Poti, conheci- falar de cadeira - no! De trono,

    do tambm como Antnio Felipe de cima do trono - porque nasciCamaro. praticamente no trono. Meti pai

    MULllEll 1- Clara Camaro, mu- morreu antes de eu vir ao mundo,lher UO ndio Poti, conhecido tam- meu av foi pr'o hele1u quandobm como Antnio Felpe Camaro. eu tinha trs anos; aos catorze eu

    HOMEM III - Henrique Dias. j era rei. Bo]as! MOlTO de tdioPerdi um brao, lutei com o outro nestes palcios. Estou ficando ve-e mor na seguncltt batalha dos lho sem fazer nada de interessante:Cuararapes, vinte-e-quatro anos e cercado de

    HOMEM II- Matias de A]buquer- gente que no quer mudar nada,que, fundador do AD'i1ial de Bom que quer que tudo continui comoJesus .reduto de resistncia aos ho- sempre foi. Eu no. Eu quero serlandeses. V\~ em tempos muito di- heri, heri mesmo, daqueles baea-fceis, acreditem. llesist eperdi. Fui nas que a gente conhece. Se eujulgado e encarcerado, na Espanha, tivesse nascido no sculo xx, podiapor alta traio. Depois os portu- ser astronauta, jogauor de futebol,gueses me resgataram, me reahili- gal de televiso. Mas no! Sou ape-taram eme deram ottulo de Conde, In~ um reizinho muito ~li;\1m~ca, d~

    HOMEM I _ Joo Fernandes secuIo XVI. Ah! mas ISSO nao V:llVieira. Fui amigo dos holandeses. c01:tinua.r _assi~! (Confiden~iill) To-Depois, a alma da luta contra eles. mel. d~clsoes Im~ort~ntes. 'Ot~ para

    HOMIlL"f III _ Domingos Feman- a Mnca, o nustenoso continente

    1 Cal b E f t" negro. Eles no querem mas eu vou.ees a ar. u IZ o con rano: I , d I d I P., I I 1 I So quem est omeu a oeo apapnmelro estava eo ar o eos portu- _'gueses, depois passei para odos ho- e Camoes. Um santo e_um poeta.landeses. Deu azar. (Acena para a .Gente que tem no coraao ,a ch:ll~~forca) Comigo ela comea a um- que e:1 tenho. Cheg~ pra voces.eionar. (Rudo de forca) Pra num chega. Eles e que me en-

    11 IS' h' tendem. Portanto, eu vou. (Desdo-J' ULHER - e,as cosas oJe bra apergaminho). Meu :lInigo, o

    parecem confusas, e melhor come- . do I Marr os \I'! lei. Impera r ee 1\ arrec , 1\ U -ar asan..; Amed, foi destronado pelo tio Abd-

    ~-rUIJIEIl III - Era lima vez 11m el-Malique e me pede para ir emrei. .. seu audlo e ajud-lo a recuperar

    o poder. Eu vou. J preparei umaeX'}ledio: homens, armas, naviosEu vou. Rumo glria, aventura,fca! Humo a Alcacer-Quibir!

    Apagam-se as luzes sobre o trono.

    MULlIEH I - Alcacer-Quibir! Quenome bacana. pra l clue cu que-ria ir.H()W~I I - Se cu fosse voc

    no ia.MUl.llEH III - canoa Iurnda,~IUJ.lIEI\ I - Canoa furada. Que

    falta de ]'('speito. D. Sebastio temcaravelas sua disposj~'o,

    HmIm II - Eda?MULHEI! I (jJl'etensiosa) Caravela,

    voc devia saber a embarcaomais importante da poca. Se noFosse a caravela aAmrica no teriasido descoberta, o Brasil no teriasido descoberto.HO~JEM III - To boa memria

    e no se lembra do que aconteceuem Alcacer-Quihir.

    MlILHEI\ I - Aleacer-Quibir? Ssei que o nome 11m bocado ba-cana. Se D. Sebastio me levasse,at que eu ia com ele.

    H01mI II - Todos aqui j sa-bem h muito tempo o que aconte-ceu com D. Sebastio em Alcacer-Quibir. Se voc no...

    Mu'LHEll - D. Sebastiomerreuem Alcacer-Quibir.

    HOMEM I - Merreu, no, Desa-pareceu,

    1v!UlJ:fER II - o maior desapa-recido da Histria. H quatro s-culos que ningum sabe contar quefim levou D. Sebastio.

    MUf}IEIl I - Pra mim, ele s fin-giu que sumiu. Desapareceu depropsito.H01~I II (narrativo) Seja como

    for, odesaparecimento de D. Sebas-tio foi um azar para Portugal.

    ~!OLIlEI\ II (cantando)Viv:t el-re D. HenriqueNo interno muitos anosPols deixou cm testameutollortugal aos castelhanos.

    HcnmM 1lI - Isso quer dizer I.lueo velho cardeal D. Henrique mor-rc sem herdeiros c que Felpe II,da Espanha, mais do que depressaabocanha Portugal e oBrasil junto.

    MULUEll I - Ah! isso vai dar umaconfuso.

    MULUEll III - E no deu outracoisa.

    HmmI I - AHolanda, inimigada Espanha, v chegada a hora deamargar a vida dos espanhis eadoar a prpria linguin]la.

    HOMW II (desenrolando perga-minha) "Motivos porque a Compa-nhia elas ndias Ocidentais devetentar tirar ao rei da Espanha asterras do Bnsl.;."

    MULHErl II - Motivo nmeroum: "O lucro anua], de um s pro-duto, o auca; para POliugal, per-faz nada menos ele que quatro mi-lhes e oitocentos florins".

    MULlI1l\ III (cantando)

    Cana, cana verde,Cana elo eanarial,Eu j fui mestre d'aucarHoje sou oficial.

    HOMEM I - Eobrasileiro, espre-mido entre portugueses, espanhiseholandeses, tinha de se virar para,dando graas a Deus, escamotear oseu pedacinho de rapadura.

    Todos compem dana de roda,dando-se as mos, ora de frente, orade cosias, alternadamente.

    TolJOS (cantando)

    Lel virou, virou,Ld tornou a virar, etc.

    1\0 fim d(/. dana, um grilo espa-vorido.

    MUUlJlll I - Os Il'llal\(]eses! Osholandeses vm a!

    Adana. tmnsforma-se incontinen-ti em marcha guerreira. Todos per-filam-se como soldados. HOMEM IIdestaca-se e discursa para a tropa.

    HOMEM II (GoDel'111Il/0I') Tenhonotcias de que uma poderesa es-cll1:lClra holandesa, de vinte e trsnavios, trs iates, mil c sciscentoshomens de tripulao e mil e se-tecentos soldados vm atacar aBahia. Todos os brasilciros vlidosdevem defender a terra. De hOjeem diante ningum deve fazer outracoisa ano ser pel111aneCCr de armana mo e olho no mar.

    Todos fazem continncia. Em se-guida. HOMEM II incol1Jora-se aogmpo que passa aexecutar mmicade vigilncia) inquietude eobseroa-o. Cobrem os olhos com as mos,tentando avistar ao longe, rasteil1l1sobre morros, espiam, ocultam-se;intercalam-se gritos de alarme.

    HO~IEM III - Holandeses vstalMULl1ER I - Vejo velas ao longe!HOMEM I - Al. Bandeira da

    Holanda!

    Acada grito, grande tenso, pre-paro catico para aluta. MULHERrr pretende desmaial~ HOMEM III

  • ampam-a e larga-a em seguida. Ela.se recupera. Repetio do toque dealerta e mobilizao. Repete-se ata exausto de todos que vo cadavez mais fragilmente vigiando eresistindo.

    MULHER I (fracamente) Holan-deses ...

    HOMEM III (idem) Velas ...HOMEM III (idem) Bandeira ...

    Todos caem exaustos, exceto HO-MEM I, que permanece de p.

    HOMEM I -Desmobilizao geral.H meses que nada fazemos s es-perando por eles c eles no vm.Que cada um volte ao seu trabalho.

    Todos se levantam, renascidos.Mmica: pega na en:'((ulil, mi canaplanta semente, fia ll1, nina criana,etc. Troar das canllOeiras. Todos in-terropem oque fazem.

    TODOS (grito) Os holandeses!

    Todos, com os olhos fitos nummesmo ponto, levantam os braoslentamente IJara oalto das cabeas,nWIl gesto de rendio. Luzes. To-dos novamente alinhados diante 'daplatia.

    Ho~m[ II (solene) Queda eres-taurao da Bahia!

    MULHER II (irreverente, massa-geando os joelhos) Eu s vi a que-da ...

    HOMEM III (solene) Um ano de-pois, espanhis e portugueses, co-mandados por D. Fradique de To-ledo Osrio, recuperam aBahia

    Bandeiras eestandartes de POr!ll-gal e Espanlu[ agitam-se. Um car-naval.

    MULlIEH lI! (destacallllo-se dogrupo)

    'lemos assim pelas armasde Castela e Portugalo Brasil restihldoii Coroa e ii Cristandade".

    MULHER lI[ integm-se no gru-po, que continlla adesfilar. Destacase HOMEM II.

    HOMEM II -"Hoje mesmo em nossostemplos,na restaurada Bahia,havemos de celebraresta vitria da f,das anuas eda honradez!Entremos para a edadel"

    HOMEM II integra-se ao grupo.Todos depem bandeiras e estan-dGltes ao mesmo tempo. Luzes. Osintrpretes esto novamente alinlw-dos diante da platia.

    HOMEM I - Enquanto os poetasfalavam em nome da F e do Cris-tianismo, as cortes de Espanha, Por-hlgal e Holanda continuavam deoho nas riquezas do Brasil.

    MULHEH II - Os holandeses nodesistem. Voltam-se, instalam-se emPemambuco e prometem mundos efundos aos brasileiros...

    HOMEM III toca clarim, desen-rola longo pergaminho. Na cabea,um chaptll onde se l: "Antes turcodo que papista".

    HOMEM III (lelUlo) Os holande-ses querem no Brasil o re~me daliberdade edo trabalho. Comprome-tem-se, portanto, a: garantia de li-berdade de conscincia, de serviode euln eproteo das crenas n-

    divduais, Segurana de proprieda-de. Concesso de toda proteo aostratos e negcios. Franquia de passsporte aos que, para seus negcios,quiserem ausentar-se por mar ou porlerra (Continua falando sem que sedistinglf. oque diz).

    H01lEM I (esfregando as mos)Negcios, negcios! Agora sim, fa-laram numa lngua que entendo. Osholandeses do garantias aos nossosnegcios. Talvez os holandeses nosejam to ruins assim.

    MULHER II- Os brasileiros estodivididos, Uns a favor da Holanda,outros a favor de Espanha-Portugal.

    MULHER I - Domingos FemandesCalabar passa-se para o lado dosholandeses e explica porque...

    HOMEM II (lendo) Sr. GeneralMatias de Albuquerque. Depois deter derramado meu sangue pela cau-sa da escravido, que a que de-fendeis ainda, passo para este cam-po, no como traidor mas como pa-triota, porque vejo que os holandesesprocuram implantar a liberdade noBrasil, enquanto os espanhis epor-hlgueses cada vez mais escravizamomeu pas. Como homem tenho odireito de derramar meu sanguepelo ideal que quiser escclher, comosoldado, tenho odireito de quebraro juramento que prestei enganado.

    MULHER II .; Henrique Dias, oheri negro recusa-se a qualquerentendimento com os holandeses etambm explica porque...Ho~mr III (lendo) "Senhores ho-

    landeses. So to manifestos eclarosos embustes de vossas mercs queat as pedras e os paus conhecemos seus enganos, aleivosias e trai-es; no falo de mim que, coma perda de minha sade e dera-

    .......

    mamento do meu sanguc, me fizdoutor no conhecimento desta ver-dade. Meu camarada, o Camaro,no est nqui mas eu respondo porambos. Saibam vossas mercs qucPernambuco a sua pttria c a mi-nha, e que j no podemos sofrertanta ausncia dela; aqui havemosde perder nossas vidas ou havemosde deitar vossas mercs fora dela.Ocaso que se vossas mercs sequerem render e enh'egar oRecife,far-Ihe-emos todos os honrados par-tidos que forem possveis, se se en-fartarem de estar encurralados nesseRecife, e se quiserem espairecer edar uma sada c fora .livrementepodem fazer, e aqui os receberemoscom muita aJeglia e lhes faremoscheirar as flores que produzem ebrotam os nossos mosquetes. E sevossos pecados nos obrigarem a re-tirar-nos, saibam de que certo ha-vemos de deixar a terra to rasacomo a palma da mo e to abra-sada que em dois anos no d f111tos.E se vossas mercs a tornarem aplantar - o que no sabem nempodem - ns viremos em seus cam-pos a queimar-lhes numa noite oque houverem nlantado num ano.Isso no so fbulas nem palavrasdeitadas ao vento,.porque assim hde ser..." .

    Todas empunham mosquetes, mi-ral1lum alvo. De dentro dos mosque-tes grandes flores de papel caem aocho. N/lIIl passo ritmado, comacompanhamento de atabaque, sal-tam sobre afiar eaesmagam.

    MULHER I - Serinhaem...Ho~mr I - Nazar...MULHER III - Forte Maurcio ...H01IEH II- Porto Calvo...

    MULlllm II- Primeira batalha dosGuararapes ...

    HOlvIEH III - Segunda hatalhados Cuamrapes...

    MULlIEll I - Capitulao de Cam-pina ela Taborda.

    HOMEM I - Os brasileiros, no seuincansvel sistema ele gUClTilhas, de-pois de anos ele resistncia, expul-sam os holandeses.

    MULlIEll II- Henrique Dias mor-re no can1po de batalha.

    MULHER III - Felipe Camaromorre no campo de batalha.

    H01IEM II- Domingos Feman-des Calabar morre na forca.

    MULllER III - Os reis de Portugal,depois ele um intervalo de sessentaanos, agora de novo donos absolu-tos elo Brasil, assinam um tratadoele paz com a Holanda no qual sepagaro quatro milhes de cruzadosaos holandeses como iuelenizaodas perdas sofridas no Brasil.

    HOMEM - Equem vai pagar essesquatro milhes so os brasileiros.

    MUIJJEl\ I (intervindo) Como isso? Ns lutamos, ns sofremos, nsmorremos e ainda pagamos?

    HOlvmr II - Assim no vale.MULlIEll III - Mas valeu. OBra-

    sil, novamente colnia portuguesa,volta a sentir todo o peso das exi-gncias de Porhlgal. '

    HOMEM II- As rivalidades entrebrasileiros e portugueses recome-am...

    MULHER II- As reivindicaes ...HOlvmr III - Ofennento da re-

    volta..MULHEll I - A revolta do Be-

    quimo.H01mr I - Rima com Maranho,MULHER III - Maranho 1684.

    Ogrupo divide-se em duas a/as,exceto HOMEM II (Bequimo) quefica 110 centro do IJa1co, com olaoda forclf. projetando-se sobre e/e.

    HOMEM II (discursa inflamado)Com duas coisas dcvemos acabar:com omonoplio c com os jesuitas,a fim de que tenhamos as mos li-vres quanto ao comrcio e quantoaos ndios.

    HOlvIEM III (decisivo) Agora oununca, tempo de ab~r!. MULllEll II - Abaixo o Gover-nador!

    HOMEM I - Aguamio est aonosso lado!

    Todos cercam HOMEM II,excetoMULHER III. Do vivas. 110.1 pou-cos o entusiasmo revolucionriotl'lln40rmase lwma procisso, Ilumcilntico religioso. Te DelIm respei-toso emstico.

    MULHER III. (narrando) Arevo-luo de Manuel Beckman, o Be-quimo, como era conhecido, em-polgou opovo do Maranho.

    HO"IEM I (passando na procis-so) E tambm que os ndios tra-balhem para ns e no s para osjesuitas.

    H01IEM III (dem) Os jsntasdevem ser expulsos da ddade.

    MULHER II- Os padres francesespensam como ns.

    MULHER III (narrando) OGover-nador foi deposto, os jesutas epul-sos, a Companhia de Comrcio foiabolida. Os revolucionrios tomarum o poder por um ano.

    Cessa oTe-deum. Os grupos no-vamente dividem-se em c/lias alas.

    ..

  • HOMEM II (Bequimo) fica 110centro (lo palco, novamente com olao da forca sobre ele.

    HOMEM I - Alegria cm casa depobre dura pouco.

    MULIIEIl I - Portugal manda umaexpedio para acabar com estamodesta independncia dos brasi-leiros.

    HOMEM III - E acaba mesmo.MULIIEIl II - Para o Bequimo,

    a forca!

    Ruido de alapo de forca. Apa-I!am-se as luzes sobre nOMEM II(Bequimo), Os intrpretes estode nODO diante da lJlatia. Cantaro-lam, de boca fechada 11m lamentode escravos. Ocanto Dai crescendo,tornando-se Dihrante, confiante, de-pois desafiador. HOMEM III eMULHER III destacam-se danan-do.

    TODOSFolga negro,branco no vem c~se vier,pau h de levar.

    HOMEM II -PalnareslMULHER I - Cinquenta anos de

    liberdade em Palmares fizeram donegro um forte.

    MUUIER II - Osonho da liber-dade explode tambm no coraodos escravos.

    H01'!EM I - Osonho da liberdade,o orgulho da liberdade leva os pre-tos escravos afugirem ereunirem-seem quilombos e escolherem seu rei.

    HOMEM II (Ganga Zumba)dana entre aclamaes.

    TODOS - Viva Ganga Zumba!Viva Zumbi! Viva Zumbi dos Pal-mares!

    MULHER III - Palmares, nas Ala-goas, era uma verdadeira cidade nomeio da floresta. Tinha mais demeia lgua de circuito e era tofortificada que s lhe faltava arti-lharia. Quantos viviam em Palmaresnunca se soube, mas foram precisossete mil homens, armas de artilhariae 'trs anos de cerco para acabarcom Palmares.

    H01IEM II- Com aliberdade dosnegros 'de Palmares.

    MULIlER I - Ahistria guardou,onome dos trs chefes (lue destrui-ram Palmares.

    HOMEM I - Domingos Jorge Ve-lho.

    MULIlllR II- Bernardo Vieira deMelo.

    MULHER III - Sebastio Dias.HOMEM II - Mas o nome do

    Zumbi dos Palmares passou da his-tria para opovo.

    MULHER I - Zumbi heri, mito, quadra de trovador, cantode ninar criana.

    HOMEM I - Zumbi romance, pea de teatro, filme em tecnico-lor, lembrana no corao do Bra-sil-preto-branco-muJato.

    MUIllER II - Tudo porque Pal-mares no se rendeu. Lutou at oltimo homem, at altima mulher,at a ltima criana.

    MULHER III - Zumbi dos Palma-res, vendo tudo perdido, do alto deuma montanha projetouse comoum pssaro no vo da liberdade.

    Final da dana de HOMEM II.Projeta-se do alto das escadas numarede segura pelos outros. Num

    .Ia/to acrobtico, cai novamente dep, no lIIeiO de lodos.

    TODOS (apontanc/o para HOMEMII-Zumbi) Znmbi!

    TamiJores. i\taiJaqlles.

    SEGUNDO ATO

    Os intrpretes entram, como no Iato, um a11m ealinham-se em frente

    ao pblico

    TODOS - Foi em marco, ao findardas chuvas, quase na'entrada dooutono quando a terra, em sede re-queimada, bebera longamente asguas da estao,- que, em bandeira buscando es-

    meraldas e prata,ir frente dos pees da rude mata,Ferno Dias Pais Leme entroupelo serto.HOMEM I - Femo Dias Pais

    Leme.MULIIEH I (intelferindo) Pais.

    Ferno Dias Pais.Howm I - Eu digo como opoeta

    disse. Como a tradio gnardon onome do bamleirante.

    MULIJEH I - O poeta errou. Atradio elTOU. OLeme do FemoDias Pais no existe.

    HOMEM II (impacicnte) Estbem: Ferno Dias Pais, mas deixaa gente continuar.

    MULllEH - anossa vez de falar,t?

    MULlIEIl I - Certo. V l ...HOMEM I (retomando ao tom)

    Ferno Dias Pais...MULHER III - Brs Cubas

    ......

    HOMEM II- Heliodoro Eobanos...MULlIml II- Antnio Bapeso Ta-

    vares ...HOMEM III - Bartolomen Bueno

    da Silva...MULlIml 1- BOlmA GATO...HOMEM I - Antnio Hodtigues

    ArLo ...MULIlEH III - Antnio Carda da

    Cunha...HOMEM II- Os bandeirantes.MULlIEH I - Na caa ao ndio, em

    busca de ouro e prata, o brasilcirodo sul vai ampliando fronteiras, po-voando terras,