View
219
Download
2
Category
Preview:
Citation preview
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ECOPEDAGOGIA
“UMA EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL”
AUTOR: NEWTON BLEY JACQUES
ORIENTADOR: Nelsom José Veiga de Magalhães
Rio de Janeiro – Março de 2004
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Projeto a Vez do Mestre
ECOPEDAGOGIA – “Uma Educação Sustentável”
Objetivo: - Refletir e trazer para a prática a consciência de que o homem
está no mundo e com o mundo. Isso o torna um ser capaz de
relacionar-se, de sair de si, de projetar-se nos outros, de
transcender. Devemos dar oportunidade para que os
educandos sejam eles mesmos. Estimulando a criação
permitimos a liberdade nata da natureza humana.
Atingiremos, sem medo das mudanças, com essas novas
escalas de valores uma democratização educacional. A
“ecopedagogia” é uma proposta emergente para esse período
de transição da sociedade.
Sabemos que a educação não é um processo de adaptação do
indivíduo à sociedade e sim um processo de mudança social.
2
RESUMO
Com as descobertas das novas interpretações do Universo, um
novo paradigma científico provocou uma profunda mudança em nossa visão
de mundo.
Com a globalização, a super população, a escassez dos
recursos naturais, desmatamentos e poluição em todos os aspectos,
iniciamos uma verdadeira revolução pedagógica e curricular. Se
pertencemos a um único território, a Terra. Se somos cidadãos do mundo,
não podem existir fronteiras. As diferenças culturais, geográficas, raciais e
outras enfraquecem diante do sentimento de pertencer à humanidade.
Nasce a “cidadania planetária” que supõe o reconhecimento e a
prática da planetaridade, isto é , tratar o planeta como um ser vivo e
inteligente. A terra é “Gaia”, um superorganismo vivo e em evolução, o que
for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos.
As exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas
pedagogicamente a partir da vida cotidiana, a partir das necessidades e
interesses das pessoas. Para Francisco Gutiérrez, educar para a cidania
planetária supõe o desenvolvimento de novas capacidades, tais como:
“vibrar emocionalmente”, “inter-conectar-se” e “pensar em totalidade”.
Uma educação para a cidadania planetária deveria nos levar à
construção de uma cultura de sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma
cultura da vida, da convivência harmônica entre os seres humanos e entre
estes e a natureza (equilíbrio dinâmico). Paulo Freire nos falava de uma
“racionalidade molhada de emoção”.
É nesse contexto que se pode falar da “ecopedagogia” como
uma pedagogia que promove a aprendizagem do sentido das coisas a
partirda vida cotidiana. Encontramos o sentido ao caminhar, vivenciando o
processo de abrir novos caminhos, e não apenas observando o caminho.
3
METODOLOGIA
Por pesquisas feitas na internet, leituras de alguns livros, citados na
bibliografia anexa, reflexões e conversas com professores e sobretudo
observando os caminhos que as autoridades governamentais conduzem as
questões ambientais. Sempre atendendo a interesses capitalistas sem
nenhuma preocupação com as gerações futuras. Partí para a pesquisa de
campo.
Foi lendo o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global. E, ainda, tomando conhecimento da Carta da
Terra, um documento que deverá se constituir no equivalente à Declaração
Universal dos Direitos Humanos, que pude elaborar essa monografia
sentindo a urgência dessa mudança pedagógica.
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 5
CAPÍTULO I 8
O QUE É ECOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL 9
CAPÍTULO II 12
A ESCOLA ENSINA UM MUNDO COMO ELE NÃO É 13
CAPÍTULO III 18
UMA PEDAGOGIA PARA A GLOBALIZAÇÃO 19
CONCLUSÃO 25
BIBLIOGRAFIA 30
ÍNDICE 32
5
INTRODUÇÃO
“Ecopedagogia” – Uma Educação sustentável
“A consciência de que a Terra é um sistema vivo, noção que
desempenhou um importante papel em nosso passado cultural, foi revivida
dramaticamente quando, pela primeira vez na História da humanidade, os
astronautas puderam observar a Terra a partir do espaço. A vista do planeta
em toda a sua radiante beleza – um balão azul e branco suspenso na
profunda escuridão do espaço – comoveu-os profundamente e, como muitos
deles declararam, foi uma experiência mística que modificou para sempre
sua relação com a Terra. As esplêndidas fotografias do globo terrestre que
esses astronautas trouxeram de suas viagens transformaram-se num
potente novo símbolo do movimento ecológico e bem poderia ser o resultado
mais importante de todo o programa espacial.” (Fritjof Capra)
6
Com as novas interpretações do Universo científico, as
mudanças tecnológicas e organizacionais do trabalho e a crescente perda
das riquezas naturais nos levaram a uma encruzilhada onde continuar
segurando os conceitos mecanicistas cartesianos só estancaria a evolução,
e como evolução é uma ordem natural, podemos imaginar que logo
estaríamos num “beco sem saída”.
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra,
numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida
que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro
enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para
seguir adiante, devemos reconhecer que no meio de uma diversidade de
culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade
terrestre com um destino comum. (Carta da Terra, 2000, p.1)
A outra via da encruzilhada é institucionalizar novas formas de
educar/formar e reordenar conceitualmente a compreensão da relação
educação/trabalho. Preparar o aluno para um novo mercado onde competir
sede para participar, individualismo para grupo. A qualidade está no ser e
não no ter. O propósito é salvar o planeta, de nada adianta salvar sua pele
se o planeta está morrendo.
Os padrões dominantes de produção e consumo estão
causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva
extinção de espécies. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo
divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. O
crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os
sistemas ecológicos e social.
Como é possível viver se a água está poluida e excassa se a
terra de onde brotam os alimentos está ácida e o ar poluído sob o buraco de
oxônio. O homem deixou de ser um e passou a ser uma consciencia. È a
globalização que equaliza a humanidade e exíge um só idioma, um
comportamento semelhante para todos os povos e seus costumes
7 tradicionais passam a ser folclore. A explosão demográfica e a excassez dos
recursos obrigam novos rumos para os jovens, que são o futuro do planeta.
O conceito de qualificação consolidou-se com o modelo
taylorista-fordista de produção, em torno do qual se inscreveram tanto os
padrões de formação quanto o de emprego, carreira e remuneração.
Compreendida inicialmente numa perspectiva essencialista (Friedmann,
1992), que a identifica como propriedade dos postos de trabalho, a
qualificação também tem sido analisada sob uma perspectiva historicista ou
relativista (Naville, 1956), que centra a análise no homem, não como
fenômeno técnico individualizado, mas como valor social e diferencial dos
trabalhadores. Em outras palavras, a qualificação passou a ser
compreendida muita mais como uma relação social complexa entre as
operações técnicas, a estimativa de seu valor social e as implicações
ecnômico-políticas que advêm dessa relação, do que como estoque de
saberes.
A qualificação está relacionada ao conteúdo real do trabalho,
em que se inscrevem não somente os conceitos, mas o conjunto de saberes
postos em jogo quando da realização do trabalho (Schwartz, 1995).
Diante desta nova realidade, em 1996, a Comissão de
Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente criou um programa
denominado Cidadania Ambiental Global. Seu ponto de partida foi a
necessidadde de contar com o cidadão comprometido com uma mudança
profunda de mentalidade, conceitos e valores com respeito ao meio
ambiente. Seu objetivo central é promover a compreensão dos direitos e
responsabilidades cidadãs referentes ao meio ambiente e mobilizar ações
voluntárias em todos os níveis da sociedade.
Espera-se com a ecopedagogia uma transição menos
traumática para o futuro do mundo. Falaremos dos conceitos básicos de
organização, processos educacionais e os princípios da ecologia, mudanças
de comportamento enfim, uma grande mudança planetária.
8
CAPÍTULO I
O que é Ecopedagogia e educação sustentável ?
“O equilíbrio ecológico exige mudanças profundas do papel
que o ser humano deve desempenhar no ecossistema
planetário. O desafio da sociedade sustentável de hoje é
criar novas formas de ser e de estar neste mundo”.
(F. Gutiérrez)
9
A ecopedagogia não se dirije apenas aos educadores, mas a
todos os cidadãos do planeta. Ela está ligada ao projeto utópico de mudança
nas relações humanas , sociais e ambientais, promovendo a educação
sustentável (ecoeducação) e ambiental com base no pensamento crítico
inovador, em seus modos formal, não formal e informal, tendo como
propósito a formação de cidadãos com consciência local e planetária que
valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações.
Somente por meio de uma prática diária sustentada por uma
ética que nos conduza a ações e reflexões críticas e inovadoras tendo como
finalidade a formação de novos cidadãos planetários, lograremos
transformar local e globalmente o mundo e os saberes que lhe garantem
essa tão necessária sustentabilidade que respeite e se harmonize com
autodeterminação de todos os povos e a soberania de cada uma das nações
com equidade. Convivendo com a pluralidade de possibilidades que as suas
diferenças nos possam oferecer.
E um dos pilares da Ecopedagogia é a “sustentabilidade”,
palavra difícil de decifrar sob a influência da ideologia capitalista que nos
envolve e que permeia todos os campos de nossa intelectualidade.
Sustentar significa segurar por baixo, servir de ancora; suportar, suster.
Mas de quê sustentabilidade estamos falando?
Ao se buscar caminhos para a construção de uma nova ordem
social que inclua, ao invés de excluir; que some ao invés de dividir; que
respeite as diferenças, enxergando nelas uma fonte de riqueza para o
crescimento e engrandecimento de todos; não podemos de nos lembrar que
“a diversidade é uma pluralidade de possibilidades.” (Morin, E. 2000, p.54)
As diferentes culturas, línguas, etnias, religiões, filosofias,
etcetera; significam em sua própria diferença a possibilidade do sustentáculo
que buscamos ao caminhar.
Na busca da formulação de uma possibilidade de prática
pedagógica para nosso labor de educadores, precisamos encontrar
maneiras de reaprendermos a relacionar a parte com o todo; de modo que
10 nossas relações mais locais não percam de vista jamais sua importância na
construção planetária de uma convivência harmoniosa com o todo. E
reaprender é muito mais difícil que aprender. Reaprender é mudar as
estruturas do pensamento. Por isso é uma tarefa difícil. Implica em que o
educador consiga descobrir uma forma de também educar a sí mesmo,
assumindo o papel bipolar de educador-educando.
Em nossa relação cotidiana com o mundo que nos cerca,
vamos nos transformando a cada momento em novos homens, em outros
seres humanos que já não são mais aqueles que éramos momentos atrás. E
é assim, “mediatizados pelo mundo que – nas palavras de Paulo Freire –
vamos nos educando uns aos outros”. (Freire, P. 1999, p.32)
A sustentabilidades que procuramos entender, então, ao
pensarmos na Carta da Terra, ao refletirmos no paradigma que desejamos
construir a partir de uma nova visão do mundo em que o cidadão local
assuma também a identidade indispensável de cidadão planetário, se traduz
muito mais eficazmente na idéia de sustentáculo ético para a formação de
uma nova consciência humana. Uma consciência voltada para o cuidado do
próprio corpo, sem o esquecimento do espírito. Do cuidado da própria casa,
sem o esquecimento da comunidade. Enfim, o cuidado de si mesmo sem o
esquecimento do outro; seja o outro quem for, esteja onde estiver.
O educador, que é profissional com função de transmitir
conhecimentos a seus educandos, não pode deixar de assumir para si o
conceito de conhecimento como algo que não se expressa enquanto um
espelho, uma fotografia da realidade; mas como a tradução e reconstrução
do mundo esterior que permite um ponto de vista crítico do próprio
conhecimento.
Morin lança à humanidade um grande desafio. E diz: “Não
basta eliminar, digamos, aqueles que têm o poder político, capitalista ou
outro. O problema está em como fazer uma nova sociedade”.
(Morin,2000,p.37)
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da
Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a diversidade da
11 vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores,
instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as
necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é
primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia
necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio
ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas
oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos
desafios, ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão
interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.
E, a Carta da Terra continua sugerindo que para realizar estas
aspirações devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade
universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com
nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo cidadãos de nações
diferentes e de um mundo no qual, a dimensão local e global estão ligadas.
Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem
estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O espírito de
solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando
vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente
da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na
natureza.
12
CAPÍTULO II
A escola ensina um mundo como ele não é
“Por que me impões
o que sabes
se eu quero aprender
o desconhecido
ser fonte
em minha própria descoberta?...”
(Humberto Maturana, Oração do estudante)
13 Para planejarmos o futuro das práticas educacionais em plena
evolução tecnológica e genética é, antes, necessário entendermos a história
e identificar quais concepções tanto nos aprisionam.
Olhar para trás e perceber os manejos ideológicos intrínsecos é
mais que ousadia; é um desafio. Mas para tanto, há uma verdade que aqui
podemos constatar: “A educação só pode ser entendida no contexto
histórico em que foi produzida” (GUERRA,2000). Afinal,(...) se consultarmos
os livros de histórias, veremos que a educação das crianças e dos jovens
tem atendido às expectativas dos grupos que detém o poder em cada
sociedade (...)” (ARANHA, 1996, p.120). Compreendendo então o contexto
histórico desde a época medieval, veremos que o pensamento pedagógico e
o conhecimento científico mantiveram-se submetidos a um grande crivo
ideológico: A Igreja Cristã.
Universalizando o Cristianismo, Clemente de Alexandria (por
volta de 211 a 215 d.C.), tornou-se um dos “Pais da Igreja” e defendia Cristo
como um grande pedagogo. O homem verdadeiro deveria ter um corpo
santo e celeste, devoto às palavras de Jesus e com eternos “votos” de
obediência. Neste envolto, a educação para o povo era catequética e
dogmática. Já, para o clérigo, era esta humanista e filosófico-teológica, daí o
sucesso de Cristo como um grande educador: dominava a linguagem erudita
e sabia comunicar-se com o povo mais humilde.
A partir destes pensamentos pedagógicos, o sistema de ensino
compreendia na ” (...) finalidade destas escolas que não era instruir, mas
doutrinar as massas camponesas, mantendo-as ao mesmo tempo dóceis e
conformadas (...)” (Gadotti, 1999, p.52). Assim, Santo Agostinho (334-430 d.
C.), também considerado um dos “Pais da Igreja”, comtemplava que só
Cristo tinha a explicação e bastávamos ver nas escrituras, poderíamos obter
uma sobrevivência plena mediante juramentos de fidelidade à fé cristã,
“votos” de obediência, castidade e pobreza. Tudo era feito em nome de
Deus, pois Ele justificava tudo, com isso o alto clero tinha o pleno respaldo
para agir e deter o poder.
14 Nesta ideologia cravada “assegura-se a coesão entre os
homens e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco
recompensadoras, em nome da “Vontade de Deus” e do “dever moral”. “
(ARANHA, 1996,p.32), podemos então, afirmar que nesta maneira o primeiro
milênio segui na “Santa Paz de Deus”.
Com as navegações e as expansões ultramarinas, a Igreja, ao
tomar conhecimentos dos outros povos (até então desconhecidos) definiu
com clareza e eficiência uma política de catequeze. Logo, não se procurava
nenhuma razão observável empiricamente para que se pudesse explicar, por
exemplo, os contágios, a proliferação de doenças em escravos, nas cidades
e, aliás, não se buscavam argumentos racionais para explicar as relações
entre os fatos ocorridos. O destino era imutável; era tudo como Deus queria.
A ciência, portanto, não tinha força e a fé imperava em absoluto.
Nesta época, Lutero (1483-1546 d.C.) foi o líder da Reforma
Protestante, possibilitando a todos a leitura e a interpretação da Bíblia, mas
quando percebeu que as massas iam mais longe do que isto, ele pôs-se a
unir com os príncipes alemães, foi onde novos precursores lutavam para
uma educação realmente, para tanto o povo como Munzer e outros.
Inicia-se o movimento Humanista; um desacato à Igreja
Católica. Juntamente com a Reforma, impunham-se à estrutura econômica
do feudalismo. Enquanto o Protestantismo pretendia educar a burquesia
abandonada e não abandonar as classes desfavorecidas, os jesuítas se
esforçavam para controlar a educação dos nobres e dos burqueses
abandonados e usavam os recursos pedagógicos como um instrumento de
domínio. Ninguém, porém “(...) se atreveu a disputar à Companhia de Jesus
a hegemonia pedagógica que a Igreja havia reconquistado”. (PONCE, 1987,
p.121). Essa época, no entanto, corresponde aos tempos áureos da
monarquia absoluta. Pode-se provar isto com um texto da Constituição
Jesuítica.
“(...) seria uma obra de caridade ensinar os ignorantes a ler e a
escrever...Nenhuma das pessoas empregadas em serviços domésticos pela
Companhia deverá saber ler e escrever, e elas não deverão ser instruídas
15 nesses assuntos, a não ser com o consentimento do Geral da Ordem,
porque para servir a Jesus basta simplicidade e a humildade. “ (PONCE;
1987, p. 122-123)
Neste enveredar das lutas de classes, Montaigne diz que “não
basta fortalecer a alma, é preciso também desenvolver os músculos” e
completa: “quem quiser fazer do menino um homem, não deve poupar da
juventude nem deixar de infligir amiúde os preceitos dos médicos: que vive
ao ar livre e no meio do perigo.” (GADOTTI, 1999, p.67) .
Ele defendia ainda, a idéia de que a alma e o corpo devem se
desenvolver juntos, pois queria que a delicadeza, a civilidade, as boas
maneiras se modelassem ao mesmo tempo que o espírito, pois não é uma
alma somente que se educa, nem um corpo, é um homem. Acreditava ele
que Platão tinha razão ao declarar que “é preciso não educar uma sem a
outra e sim conduzi-las de par.” (GADOTTI, 1999, p.67). Michel Montaigne
(1953-1592), visava a educação como um sinal de protesto ao Estado e à
Igreja, dizendo: “vislumbrar-se a educação como sinal de protesto, o que
contém em germe a educação moderna e leiga.” (GADOTTI, 1997, p. 69).
Fundador da Pedagogia da Idade Moderna, dizia que os professores
deveriam ter a cabeça antes melhor que provida de ciências. Era, portanto,
contrário ao pensamento teocrático da Idade Média.
Viajar para Montaigne era preciso, mais “( ...) para observar os
costumes e o espírito dessas nações e para limar e polir nosso cérebro ao
contato dos outros (...) “ do que apenas nos informar dos fidalgos. Nota-se,
então, a necessidade da troca de cultura e conhecimentos, daí vem a força
do Humanismo, “(...) assim, buscava-se a igualdade entre Deus e o homem”
(THEODORO, 1996, p.58).
No século XVII, Comênio (1592-1690), maior percursor da
Educação Popular, pregava que o ideal era uma educação democrática, a
que todos deveriam ter acesso, fossem homens ou mulheres, ricos ou
pobres, inteligentes ou ineptos. É nesse sentido que se dirige o esforço de
Comênio, quando afirmava que o ponto de partida da aprendizagem deveria
16 ser sempre o conhecido. Partir das próprias coisas, valorizar a experiência.
Educar os sentidos são passos de uma educação que se faz pela ação e
voltada para ação, “(...) portanto, também nas escolas, deve aprender-se a
escrever escrevendo, a falar falando, a cantar cantando, a raciocinar
raciocinando.”, concluímos ainda com o seu maior lema: “Só fazendo
aprendemos a fazer.” (ARANHA, 1996: p.159).
O iluminismo, aliás, exaltava justamente o poder da razão
humana de traçar os seus próprios caminhos, longe da tirania dos reis e das
superstições religiosas. Nesse sentido, a escola deveria ser leiga (não-
religiosa), livre (independente de privilégios de classes) e universal
(acessível a todos).
Portanto, levando em consideração todo o contexto histórico
envolvendo os pensamentos pedagógicos desde a época medieval ao início
da época moderna, vê-se no decorrer da Educação Popular que sempre
houve um educar para a submissão, mantendo o quadro senhores X servos,
nobre X clero, burguesia X proletário, dominantes X dominados, até os
nossos tempos de Pós- Modernidade, com a opulência X excluídos.
Apesar da máscara de uma educação igual para todos e da
iniciativa de uma “educação popular”, ela é na realidade, uma base
pedagógica, cuja escola pode ensinar um mundo como ele não é.
Em contrapartida sabemos que as culturas dos povos
indígenas, conforme a sua cosmo visão, são testemunhos de fé de “como
esses povos viviam e vivem em harmonia simbiótica com a Terra viva. O
historiador de religião Donald Hughes escreveu que a natureza era para eles
uma grande comunidade inter-relacionada, que incluía animais, plantas,
seres humanos e objetos físicos, por um lado, e, por outro, espíritos.
Nehnuma pessoa, tribo ou espécie enquadrada na unidade viva pode ser
considerada auto-suficiente e é provável que os seres humanos fossem os
menos auto-suficientes. O índio ou a índia não se definiam principalmente
como indivíduos autônomos, mas como parte de um conjunto e tinham uma
relação de reciprocidade mutuamente benéfica com todos os tipos de seres”.
17 A vida dos indígenas, dos maias, assim como a de muitos
outros povos antigos, é um claro testemunho da consciência planetária: sua
vida cotidiana, seu trabalho, suas celebrações, sua visão da divindade e da
morte, e sua produção artística e científica assim demonstram. Desde
tempos ancestrais, vivem a dimensão cósmica que nós ansiamos. (Devereux
P., 1991, p.25-6)
Concluímos, pois, que só a partir de um estudo histórico e
contextualizado sobre as ideologias dominantes que tanto trava os
progressos educacionais. Se, assim pensarmos, poderemos com rigoroso
critério definir a reconstrução (senão a construção) de uma educação
realmente humana libertadora e completa para este nosso futuro tão incerto.
18
CAPÍTULO III
Uma pedagogia para a globalização
“Uma nova nova consciência, uma nova visão
do ser humano no Cosmos e de suas práticas
em relação com ele.” (L. Boff)
19
Da mesma forma como hoje se fala da necessidade de uma
cidadania planetária. Se a Terra, como afirma Lovelock, é um organismo
vivo, um sistema de vida tão integrado e dinâmico e inteligente, requer de
nossa parte uma compreensão igualmente viva, dinâmica e planetária. “Se
quisermos pôr fim à destruição de nosso planeta, nós – a geração atual –
necessitamos investigar logo se a comunicação entre a consciência humana
e a planetária é verdadeiramente uma possibilidade.”
Não basta termos uma nova cosmologia. Como socializá-la e
internalizá-la nas pessoas de forma que inspirem novos comportamentos,
alimentem novos sonhos e reforcem uma nova benevolência para com a
Terra? Trata-se indiscutivelmente de um desafio pedagógico. (Boff L. 1995,
p.185).
Como o velho paradigma que atomizava, contrapunha e isolava
o ser humano do universo e da comunidade dos vivos, penetra por todos os
poros em nossa vida e criara uma subjetividade coletiva adequada a suas
intuições, assim o novo paradigma deve também formar novas
subjetividades e se introduzir em todas as instâncias da existência, da
sociedade, da família, dos meios de comunicação e das instituições
educativas para gerar um novo homem e uma nova mulher planetários,
solidários cosmicamente e sintonizados com a direção global do processo
evolucionário.
Em primeiro lugar, continua Boff, importa fazer a grande
revolução da perspectiva que funda a nova cosmologia: não podemos nos
entender como seres separados da Terra; nem podemos permanecer na
visão clássica que entende a Terra como um planeta inerte, um amontoado
de solo e de água penetrados pelos 100 elementos que compõem todos os
seres. Nós somos muito mais que isso. Somos filhos e filhas da Terra,
somos a própria Terra que se torna autoconsciente, a Terra que caminha,
como dizia o grande poeta mestiço argentino Atahualpa Yupanqui, a Terra
que pensa, a Terra que ama e a Terra que celebra o mistério do universo.
20 Portanto, a Terra não é um planeta sobre o qual existe vida. A
Terra se apresenta com tal dosagem de elementos, de temperatura, de
composição química da atmosfera e do mar que somente um organismo vivo
pode fazer o que ela faz. A Terra não contém vida. Ela é vida, um
superorganismovivente,”Gaia”.
A espécie humana representa a capacidade de Gaia ter um
pensamento reflexo, uma consciência sintetizadora e uma subjetividade
amorosa. Nós humanos, homens e mulheres, possibilitamos à Terra apreciar
a sua luxuriante beleza, contemplar a sua intrincada complexidade e
descobrir espiritualmente o Mistério que a penetra.
O que os seres humanos são em relação à Terra é a Terra em
relação ao cosmo por nós conhecido. O cosmos não é um objeto sobre o
qual descobrimos a vida. O cosmos é um sujeito vivente. E se encontra num
processo de gênese. Caminhou 15 bilhões de anos, se enovelou sobre si
mesmo e madurou de tal forma que num canto dele, na Via Láctea, no
sistema solar, no planeta Terra emergiu a consciência reflexa de si mesmo,
de onde veio, para onde vai e de quem é símbolo e imagem. Quando um
ecoagrônomo estuda a composição química de um solo, é o próprio cosmo
que estuda a si mesmo. Quando um astrônomo dirige o telescópio para as
estrelas, é o próprio universo que olha para si mesmo.
A mudança que esta leitura deve produzir nas mentalidades e
nas instituições só é comparável com aquela que se realizou no século XVI
ao se comprovar que a Terra era redonda e girava ao redor do Sol.
Especialmente o fato da transformação, de que as coisas ainda não estão
prontas, que estão continuamente nascendo, abertas a novas formas de
auto-realização. Conseqüentemente a verdade se dá numa referência aberta
e não num código fechado e estabelecido. Só está na verdade quem
caminha com o processo de manifestação da verdade.
Em segundo lugar, importa realizar a globalização do tempo.
Nós não temos a idade que se conta a partir do dia do nosso nascimento.
Nós temos a idade do cosmos. Começamos a nascer há quinze bilhões de
anos quando principiaram a se organizar todas aquelas energias e materiais
21 que entram na constituição de nosso corpo e de nossa psique. Quando isso
madurou, então acabamos de nascer e nascemos abertos a outros
aperfeiçoamentosfuturos.
Se sintetizarmos o relógio cósmico de 15 bilhões de anos no
espaço de um ano solar, como o fez engenhosamente Carl Sagan, e
querendo apenas realçar algumas datas que nos interessam, teríamos o
seguintequadro:
- A primeiro de janeiro ocorreu o big-bang. - A primeiro de maio
o surgimento da Via Láctea. - A nove de setembro, a origem do sistema
solar. - A 14 de setembro, a formação da Terra. - A 25 de setembro, a
origem da vida. - A 30 de dezembro, o aparecimento dos primeiros
hominídeos, avós ancestrais dos humanos. - A 31 de dezembro, irromperam
os primeiros homens e mulheres. Os últimos 10 segundos de 31 de
dezembro cobririam a história do homo sapiens/demens do qual
descendemos diretamente. O nascimento de Cristo ter-se-ia dado
precisamente às 23 horas, 59 minutos e 56 segundos do último dia do ano.
O mundo moderno teria surgido no 58º segundo do último minuto do ano. E
nós individualmente? - Na última fração de segundo antes de completar
meia-noite.
Em outras palavras, somente há 24 horas que o universo e a
terra têm consciência reflexa de si mesmos. Se Deus dissesse a um anjo:
“procure no espaço e identifique no tempo Pedro, João ou Maria”,
certamente não o conseguiria porque eles são menos que um pó de areia
vagando no vácuo interestelar e começaram a existir há menos de um
segundo atrás. Mas Deus sim, porque Ele escuta o coração de cada filho e
filha Seus, porque neles o universo converge em autoconsciência, em
amorização e celebração. Sem arrogância antropocêntrica, cada ser
humano é um milagre do universo (Leloup. 1997).
Uma pedagogia adequada à nova cosmologia nos deveria
introduzir nestas dimensões que nos evocam o sagrado do universo e o
maravilhoso de nossa própria existência.
Em terceiro lugar, faz-se mister globalizar o espaço dentro do
22 qual nos encontramos. Vendo a Terra de fora da Terra, nos descobrimos elo
de uma imensa cadeia de seres celestes. Estamos numa galáxia dos 100
bilhões de galáxias, a Via Láctea. A 28 mil anos-luz de seu centro,
pertencemos ao sistema solar, que é um entre bilhões e bilhões de outras
estrelas, num planeta pequeno mas extremamente aquinhoado de fatores
favoráveis à evolução de formas cada vez mais complexas e
conscientizadas de vida, a Terra. Na Terra nos encontramos num continente
que se independentizou há cerca de 210 milhões de anos quando a Pangéia
(o continente único da Terra) se fraturou e ganhou a configuração atual a
partir de 150 milhões de anos. Estamos nesta cidade, nesta rua, nesta casa,
neste quarto e nesta mesa a partir donde me relaciono e me sinto ligado à
totalidade de todos os espaços do universo que podemos imaginar.
Em quarto lugar, é urgente cada um dar-se conta do
surpreendente que é sua própria existência. O universo, desde seu início, foi
criando interioridade e tecendo a intrincada teia de relações que o constitui
como realidade que se auto-organiza e que avança direcionado. Assim como
a noosfera é fruto da biosfera, da mesma forma a biosfera é resultado da
atmosfera e a atmosfera da hidrosfera e a hidrosfera da geosfera até
alcançarmos o Sol, a galáxia, as supernovas, o gás primordial, a grande
explosão/inflação e por fim o núcleo originário de energia inimaginavelmente
condensada. Cada pessoa humana está re-ligada a toda esta imensa
cadeia. O universo culmina em cada um na forma de consciência,
capacidade de compreensão, de solidariedade e de auto-entrega gratuita na
amizade e no amor. Desta consciência nasce o sentimento de auto-estima e
de descoberta do próprio sagrado como fascinante e tremendo que nos
produz intimidade e ao mesmo tempo estranheza. Todas as energias e
campos formogenéticos atuaram sinergeticamente para que cada um
nascesse e fosse aquela pessoa singular e única que é: Ecce mulier, ecce
homo!
Em quinto lugar, cada ser humano deve se descobrir como
membro da espécie homo sapiens/demens em comunhão e em
solidariedade com as demais espécies que formam a comunidade dos
23 viventes (biocenose). Descobre-se membro da família humana distribuída
por todos os quadrantes da Terra. Mas o sentimento de família humana
ainda não se formou completamente. Como escreveu um dos maiores
formuladores da consciência global do planeta, Robert Muller, “quando se
trata do cosmo humano, quase tudo ainda está por ser feito. Nossa catedral
planetária ainda não está ocupada por uma família unida, reverente,
agradecida e plenamente desenvolvida, mas, sim, por grupos rebeldes de
crianças imaturas e contraditórias, inocentes brincando de viver.
Em sexto lugar, é necessário que tenhamos sempre presente
nossa singularidade como espécie. Somos seres condenados a ser seres
culturais. Explico-me: por não dispormos de nenhum órgão
especializado, somos compelidos a intervir na natureza, a prolongarmos
nossos braços, nossas mãos, nossos olhos, nossos ouvidos pelos
instrumentos técnicos e a criarmos cultura. O desenvolvimento biológico de
nosso cérebro, capacitando nosso pensamento e nossa criatividade
imaginária, produz num instante aquilo que a evolução demoraria milhões e
milhões de anos para produzir. Junto com os princípios diretivos do universo
co-pilotamos a atual fase do processo evolucionário. Isso nos confere uma
imensa responsabilidade, pois podemos ser o anjo bom que ausculta a
mensagem da natureza e trabalha junto e em consonância com ela, como
podemos ser o satã devastador e explorador que somente escuta seu desejo
excludente e submete o planeta Terra a uma dizimadora agressão.
Por fim, em sétimo lugar, é de fundamental importância que o
ser humano conscientize a sua funcionalidade dentro da orientação global
do universo que se formulou ao longo dos 15 bilhões de anos. Tudo
caminhou de tal maneira e dentro de formas tão complexas e altamente
auto-organizadas que surgiu a capacidade de sentir, de ver, de ouvir, de se
comunicar, de pensar reflexamente e de amar a alteridade. É o universo e a
própria Terra que através do ser humano se sente a si mesma, vê a sua
indizível beleza, escuta sua musicalidade, comunica seu mistério, pensa
reflexamente sua interioridade e ama apaixonadamente a todos.
Para criar esta possibilidade é que emergiu o ser humano. Até
24 o presente não desempenhou bem esta sua funcionalidade. Isso se deve
menos ao fato de ser bom ou ruim, mas ao fato de ser imaturo e ainda
inconsciente de sua verdadeira missão cósmica. Como bem disse Miriam
Therese MacGillis num impressionante videoteipe de 5 horas The Fate of the
Earth: “Parece que a Terra está saindo de sua fixação juvenil consigo
mesma e com os seus poderes na direção de um nível novo e mais
complexo de maturidade, rumo ao degrau a partir do qual eu e você fizemos
o salto de qualidade, quer dizer, a Terra por nós fez esse salto”.
Todo o processo pedagógico deve culminar nesta conscientização que
confere ao ser humano, homem e mulher, um alto significado universal. A
partir desta conscientização fica claro que o valor supremo e global é
salvaguardar o planeta Terra e com ele o universo e garantir aquelas
condições que o cosmos construiu em 15 bilhões de anos de trabalho para
que toda a vida possa manter sua tendência interna que é se realizar, se
reproduzir e progredir, especialmente no que entendemos como a vida
humana.
25
CONCLUSÃO
Vamos alimentar nossas esperanças!
“Fluem unidas uma consciência ecológica e uma
consciência espiritual profunda.” (F. Capra)
26
Tanto o cientista como o artista dão fé de nosso
desconhecimento do planeta Terra e, por conseguinte, da pobre dimensão
planetária que temos.
Os tempos apresentam-se trevosos. A Globalização capitalista
que acentua a dominação, exploração e manipulação por parte dos
poderosos. Xenofobia explícita em algumas regiões do Globo e dissimulada
em outras aparentemente mais democráticas. Desequilíbrio econômico
generalizado, gerado pelas especulações de investidores que visam
enriquecer a qualquer custo. Guerras localizadas levando sofrimento e
crueldade a vários pontos de todos os continentes. Reações terroristas
gerando medo e insegurança em toda parte. Domínio generalizado de um
ideal consumista que, descontroladamente, gera a destruição progressiva
dos recursos naturais. Exclusão social das minorias com desprezo a seus
ideais e às suas necessidades e dignidade.
São tantos problemas vivos no mundo que, muitas vezes, não
conseguimos vislumbrar uma pontinha de luz no fim do túnel sem
pensarmos num trem vindo na contramão! Assumir uma postura de esperança diante disso tudo é vital!
Não podemos nos esquecer de que a postura de educador não pode de
forma alguma ser pessimista. O educador deve ser alguém que ame a sua
condição humana e, por conseguinte, as novas gerações e por extensão,
toda a humanidade.
Cumpre buscarmos formas de reverter essa situação, de
inverter esses valores, de construirmos a re-humanização da espécie
humana.
Para tanto, urge a valorização de questões e paradigmas
voltados para o estabelecimento de uma sustentabilidade mundial da Terra e
de cada um dos entes que a habitam, pautada no equilíbrio, na inserção
social, na paz e na liberdade para todos e para o todo.
É preciso iniciar-se uma reflexão acerca de nossas próprias
atitudes em nosso cotidiano familiar, em nossa prática profissional e em
27 nossa concepção de um conceito tão desgastado e ao mesmo tempo tão
atual e necessário que o da cidadania. Mas não uma cidadania regionalista
ou nacionalista, e sim uma cidadania comprometida com cada ser humano
vivente – e por viver – em nosso Planeta. Uma cidadania planetária.
A Carta da Ecopedagogia se refere a Terra como um
organismo vivo, que age e interage em consonância com estímulos que
recebe de todo seu entorno universal – estímulos que vêm de fora – e
estímulos que recebe de sua própria superfície, como conseqüência das
ações levadas a cabo por seus habitantes. Se não há muito o que fazer
quanto aos estímulos externos, grande é a quantidade de ações que se
pode implementar desde já no que diz respeito aos estímulos que os
homens têm aplicado ao nosso Planeta.
Parece senso comum que ao falar-se em sustentabilidade e
preservação ambiental, remete-se o pensamento às ações que os governos,
as grandes empresas, grandes organizações não governamentais; podem e
devem implementar como formas de combate à poluição, à destruição e
degradação do mundo. De fato essas ações são importantes e necessárias,
mas não bastam em si mesmas.
“A consciência planetária deve supor o respeito pelo
semelhante, independentemente de quem ele seja e de onde ele esteja”.
Uma postura consciente deve permear todas as ações de
nosso dia-a-dia, desde as mais simples até as mais complexas. Ações que
vão do banho mais rápido como forma de não disperdiçar água, até o
engajamento em projetos de luta pela igualdade e a inclusão social das
minorias de nossa sociedade próxima e/ou global.
Experiências cotidianas simples como um sopro de respiração,
a água da manhã no rosto ou uma corrente de ar fresco, fundamentam as
relações consigo mesmo e com o mundo. A tomada de consciência dessa
realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma tanto quanto
ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para
recuperarmos a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de
28 dominar o mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de
consciência, se a relação que nos liga a ele for apenas uma relação de uso.
Para quem é educador, principalmente, a formação de
cidadãos planetários deve ser uma preocupação constante, meio que
natural, em cada atividade de sala de aula. Uma formação que transcenda a
teoria, o discurso do professor, e se materialize nos seus exemplos diante
dos educandos.
Se o trabalho do educador for pautado no interesse universal
da humanidade, já estar-se-á iniciando um trabalho fundamentado naquela
Pedagogia comprometida com a “esperança” que tanto buscamos de um
mundo melhor. Uma Pedagogia preocupada, voltada para o equilíbrio do
homem no ambiente onde vive, com seu semelhante, com a Terra e todas
as espécies que a habitam; comprometida com um bem estar sócio-cósmico.
Uma Ecopedagogia.
“A Ecopedagogia oferece ao homem a possibilidade de uma
mudança radical de mentalidade em relação à qualidade de vida e ao meio
ambiente”. Uma formação de cidadãos com consciência local e planetária
que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações.
Se a escola é a instituição social responsável pela socialização
das novas gerações e pela produção dos saberes necessários a esse
processo socializador, em seu seio devem-se sedimentar as bases de um
conhecimento comprometido com a qualidade de vida dos sujeitos sociais,
pautados na convivência harmoniosa de todas as diferenças que propôem
aquilo a que estamos nos referindo como cidadania planetária.
A aplicação universalista que se deseja atribuir a esse conceito
de cidadania planetária busca a igualdade entre todos os homens e não
aceita que apenas alguns sejam cidadãos. Todos são naturais da grande
“mãe” Terra e são inaceitáveis a escravidão e a subserviência em qualquer
circunstância.
A Ecopedagogia não objetiva massificar e mundializar uma
determinada cultura, um determinado molde onde todos devam se encaixar
para viver. Antes pretende oferecer subsídios para ações educativas que
29 respeitem a cultura local ao mesmo tempo em que não exclua, enquanto
valor, a cultura de todos aqueles que sejam “diferentes”; que respeitem,
tolerem e se harmonizem com o diverso. A sustentabilidade da vida no
planeta clama por atitudes dessa monta: atitudes que militem efetivamente
em direção, em defesa, da inclusão social e nas lutas contra a exclusão.
Trabalhando-se consciente de que se pode semear na
atividade educativa a construção de uma nova ordem mundial, aprendendo-
se e apreendendo-se uma visão planetária do mundo, assumindo-se para a
própria vida uma filosofia voltada para essa consciência holística e
mundializadora da cidadania; estar-se-á implementando valores básicos no
desempenho das funções docentes que se dêem em consonância com a
Ecopedagogia.
A boa vontade como condição de humanidade diante da lida
com os conflitos, a vontade de prosseguir vivendo harmonicamente apesar
de toda e qualquer diferença, buscando a convergência dos interesses de
todos é o caminho esperançoso a se trilhar.
30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ARANHA, Márcia L. de Arruda. Filosofia de Educação, SP: Moderna,1996.
BOFF, Leonardo. Ecologia Grito da Terra, Grito dos Pobres. SP: Atica,
1995.
BOFF, Leonardo. Uma Pedagogia para a Globalização, RJ: UFRJ-
Universidade Federal do RJ, 2003.
BOLEIZ, Flávio. Grupo de trabalho de Ecopedagogia, SP: Faculdade de
Educação – USP, 2002.
BRASIL. MEC, Referências Curriculares Nacionais da Educação Profissional
de Nível Técnico, Brasília: MEC,2000.
FORUM EDUCAÇÃO. Carta da Terra, SP: 2000.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação.SP: Cultrix, 1980.
CAPRA, Fritjof. Pertencendo ao Universo. SP: Cultrix, 1991.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. SP: Cultrix, 1996.
DEVEREUX, Paul. A Terra Inteligente. SP: Martinez Roca, 1991.
FRIEDMANN, G. O Trabalho em Miettes. Paris: Gallinard,1956.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. SP: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. SP: Paz e Terra,1996.
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. SP: Ática, 1999.
GUTIERREZ, Francisco. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. SP: Cortez,
2000.
LELOUP, Jean-Yves. Terapeutas do Deserto. RJ: Vozes, 1998.
MARINHO, Andrea R. Barbosa. Pedagogia e Educação. SP: Fórum
Educação, 2002.
MATURANA, Humberto. O Sentido do Humano. Chile: S. del Chile,1996.
MORIN, E. Saberes Globais e Saberes Locais. RJ: Garamond, 2000.
31 NAVILLE, P. Ensaio sobre a Qualificação do Trabalho. Paris: Marcel Riviere,
1956.
PONCE, Aníbal. Educação e Luta de classes. SP: Cortes, 1987.
PRADO, Cruz. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. SP: Cortes, 2000.
SCHWARTZ, Y. Da Gualificação a competência. Paris: Educação
Permanente, 1995.
THEODORO, Sonia. Descobrimentos e Renascimentos. SP: Contexto, 1996.
32
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 5
CAPÍTULO I 8
O QUE É ECOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL 9
CAPÍTULO II 12
A ESCOLA ENSINA UM MUNDO COMO ELE NÃO É 13
CAPÍTULO III 18
UMA PEDAGOGIA PARA A GLOBALIZAÇÃO 19
CONCLUSÃO 25
BIBLIOGRAFIA 30
ÍNDICE 32
Recommended