View
311
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
1/258
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
2/258
DADOS DE COPYRIGHT
Sobre a obra:
A presente obra disponibilizada pela equipeLe Livrose seus diversos parceiros,com o objetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudosacadm icos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fimexclusivo de compra futura.
expressamente proibida e totalmente repudivel a venda, aluguel, ou quaisqueruso comercial do presente contedo
Sobre ns:
OLe Livrose seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico epropriedade intelectual de form a totalmente gra tuita, por acreditar que oconhecimento e a educao devem ser acessveis e livres a toda e qualquer
pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nosso site:LeLivros.siteou em
qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.
"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando
por dinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novonvel."
http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.org/parceiros/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.site/http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.org/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
3/258
K. A. Tucker
RESPIRE
Livro 1 da srie TEN TINY BREATHS
Traduo de Maira Parula
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
4/258
Para L ia e Sadie
Que os anjos as protejam
Para Paul
Pelo seu apoio consta n te
Para H eather Self
Todas as plumas verdes e prpuras do mundo
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
5/258
SUM RIO
Pa ra pular o Sum rio, c lique aqui.
Prlogo
Fa se um: TO R P O R AG R A DV EL
UM
DOIS
Fase dois: NEGAO
T R S
Fase t rs: R ESISTN CIA
Q U A T R O
CINCO
SEIS
Fase quatro: ACEITAO
SETE
OI TO
Fase cinco: DEPENDNCIA
N O V E
DE Z
ONZ E
DOZE
TREZE
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
6/258
Fase seis: A BSTIN N CIA
Q U A T O R Z E
QUINZE
DEZESSEIS
Fase sete: RO M PIMENT O
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
V IN T E
Fase oito: RECUPERAO
V IN T E E UM
Fase n ove: PERD O
V IN T E E DO IS
Eplogo
A gradec im en tos
Crditos
A A ut ora
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
7/258
PRLOGO
Apen as respire, min ha m e diria. Dez respira es curtin has... Pren da o ar.Sin ta -o. Am e- o. Sem pre que e u grita va e batia o p de ra iva, chorav a a lto de
frustrao, ou ficava verde de a n siedade, ela ca lmam en te recitava as m esma s
palavras. Toda v ez. Exa tam en te a s mesm as palavras. Ela devia ter t atuado a
porcaria do mantra na testa. Isso no faz sentido!, eu gritava. Nunca
entendi. Para que serve respirar curtinho? Por que no respirar fundo? Por que
dez? Por que n o trs, cin co ou vinte ? Eu gritava e e la sim plesmen te abria um
sorrisinho. Na poca, eu no entendia.A gora en ten do.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
8/258
Fase um
TORPOR AGRADVEL
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
9/258
UM
Um leve assobio... Meu corao palpita nos ouvidos. No ouo mais nada. Tenho certeza de que minha boca se mexe,chamando por eles...M e ?... Pai?... Mas no ouo minha voz. Pior, no ouo a voz deles. Eu me viro para a
direita e vejo a silhueta de Jenny, mas seus braos e pernas esto estranhos, no parecem normais e ela est espremida
contra mim. A porta do carro ao lado dela est mais prxima do que devia.Jenn y? Tenho certeza de que a
chamo. Ela no responde. Eu me viro para a esquerda e s vejo escurido. Escuro demais para enxergar onde Billy
est, mas sei que ele est ali, porque sinto sua mo. grande, forte e envolve meus dedos. Mas ela no se mexe... Tento
apert-la, mas no consigo obrigar meus msculos a se flexionarem. No posso fazer nada alm de virar a cabea e
ouvir meu corao martelar como uma bigorna no meu peito pelo que parece uma eternidade.Luzes fracas... Vozes...
Eu os vejo. Eu os ouo. Esto ao redor, se aproximando. Abro a boca para gritar, mas no encontro energia. As
vozes ficam mais altas, as luzes mais fortes. Um ofegar estridente arrepia meus pelos. Como uma pessoa lutando
ela sua ltima respirao.
Ouo estalos altos, como algum puxando os holofotes de um palco com alavancas. De repente luzes surgem de
todos os lados, iluminando o carro com uma intensidade ofuscante.
Para-brisa destrudo.Metal retorcido.
Manchas escuras.
Poas de lquido.
Sangue. Por todo lado.
Tudo desaparece de repente e estou caindo para trs, despencando na gua fria, afundando cada vez mais na
escurido, ganhando velocidade medida que o peso de um oceano me engole por completo. Abro a boca e procuro ar.
Um jato de gua fria me atinge de repente, me enchendo por dentro. A presso no peito insuportvel. Estou prestes aexplodir. No consigo respirar... No consigo respirar.R espire curtinho, ouo minha me instruir, mas no
consigo. No consigo nem mesmo um sopro. Meu corpo est tremendo... Tremendo... Tremendo...
A corde, querida.
Meus olhos se abrem de repente e vejo um apoio de cabea desbotado
diant e de mim. Preciso de um instan te para m e reorienta r, acalma r me u
corao acelerado.
V oc esta va ofega n do muito diz a v oz.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
10/258
Eu me viro e v ejo uma m ulher me olhan do de c ima , a preocupa o
estampada em seu rosto muito enrugado, os dedos envelhecidos e tortos no
meu ombro. Meu corpo se enrosca antes que eu consiga evitar a reao
autom tica ao seu toque.
Ela tira a m o com um sorriso gen til.
Desculpe, querida. A chei que devia a cordar voc.Engolindo em seco, consigo resmungar.
O brigada.
Ela assente e se vira para se sentar no nibus.
Deve ter sido um pesadelo.
respondo, recuperando minha voz calma e vazia de sempre. No
vejo a hora de ac orda r.
* * *
Chegamos. Sacudo gentilm en te o brao de Livie. Ela resm unga e an inha a
cabea na janela. No sei como consegue dormir assim, mas ela apagou e
ronc ou baixin ho pelas ltim as se is horas. Um fio sec o e grosso de saliva esc orre
pelo seu queixo. To atraente. Livie chamo ma is um a ve z com cert a
impacincia. Preciso sair desta lata de sardinha. Agora.R ec ebo um a ce n o desajeitado e um n o enc he, estou dorm indo de
beic in ho.
O livia C leary! vocifero en quan to os passageiros vasc ulham os
ba ga geiros in tern os e pegam se us pert en c es. V a m os. Pre c iso sa ir da qui an tes
que eu perca a c abea! N o quero gritar, ma s n o con sigo evitar. N o me
sinto muito bem em espaos apertados. Depois de 22 horas na droga deste
nibus, minha vontade de puxar a janela de emergncia e saltar fora.Ela finalmente ouve minhas palavras. As plpebras de Livie se abrem,
piscando, e olhos azuis meio embaados olham o terminal de nibus de Miami
por um momento.
Chegamos? ela pergunta com um bocejo, sentando-se para se
espreguiar e ver a paisagem. Ah, olha! Uma palmeira!
J est ou de p n o c orr edor, pegan do n ossa s m oc hila s.
, palmeiras! Vem, anda logo. A no ser que voc queira passar mais umdia aqui den tro e volta r para M ichigan . Com isso ela resolve se m ex er.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
11/258
Quando samos do nibus, vejo que o motorista j descarregou as malas do
ba ga geiro. R a pida m en te en con tro n ossa s m ala s cor-de-rosa . N ossa vida , todos
os nossos pertences reduzidos a uma mala para cada uma. Foi s o que
conseguimos juntar na pressa de sair da casa de tio Raymond e tia Darla. No
importa, digo a mim mesma enquanto passo o brao pelos ombros da minha
irm n um a brao. Tem os uma outra. s isso que importa . T quente pra caramba! exclama Livie ao mesmo tempo em que eu
sinto o suor escorrer pelas costas. o final da manh e o sol j nos queima
como uma bola de fogo no cu. To diferente do frio de outono que deixamos
em Grand Rapids. Ela tira o capuz vermelho, provocando uma srie de assovios
de um grupo de meninos que andam de skate.
J na pegao, Livie? provoco.
Seu rosto fica cor-de-rosa e n quan to ela d um jeito de se esconder a tr s deuma pilastra de concreto, ficando parcialmente fora de vista.
V oc sabe que n o um c am aleo, n?... A h! A quele de ca m isa v erme lha
est vindo pra c agora. Estico o pescoo com expectativa na direo do
grupo.
O s olhos de Livie se a rregalam de pavor por um segundo an tes de e la
perceber que estou s brincando.
Para com isso, Kacey! ela sibila, batendo no meu ombro. Livie noconsegue ser o centro das atenes dos garotos, e no ajudou em nada ela ter
se transformado numa gata no ano passado.
Sorrio com m alcia e n quan to a ve jo ajeitan do o suter. Ela n o tem ideia do
quanto bonita e, por mim, tudo bem, j que serei sua guardi.
Continue sem malcia, Livie. Minha vida vai ficar muito mais fcil se voc
continuar distrada pelos prximos, digamos, cinco anos.
Ela revira os olhos. T udo bem , dona Sports Illustrated.
H a! N a ve rdade, provav elmen te parte da ate n o daqueles im becis
para m im. Dois an os de kickboxin g in ten so deixa ram m eu corpo sara do. Isso,
alm do m eu ca belo casta n ho-a verm elhado e olhos azul-claros, cham a m uita
ate n o indesejada.
Livie a m inha v erso de 15 an os. O s m esm os olhos azul-claros, o me smo
nariz fino, a mesma pele clara de irlandesa. S h uma grande diferena, e a
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
12/258
cor do nosso cabelo. Se voc enrol-los com toalhas, vai achar que somos
gmeas. Ela tem os cabelos pretos e brilhosos da nossa me. Tambm cinco
centmetros mais alta do que eu, apesar de eu ser cinco anos mais velha.
, olhando para a ge n te, qualquer um com alguma int elign cia pode ver que
som os irm s. Ma s nossas sem elhan as te rmina m a. Livie um a n jo. Ela c ai
em pran tos quan do crian a s choram ; pede desculpas quan do algum esbarranela; se oferece como voluntria em bibliotecas na distribuio de sopa para os
pobres; pede desculpas pela s pessoas quan do elas fazem idiotice s. Se e la t ivesse
idade para dirigir, pisaria no freio at para no atropelar grilos. J eu... eu no
sou Livie. Posso ter sido ma is pare cida c om ela a n te s, ma s n o agora.
Enquanto eu sou uma nuvem de tempestade crescendo no horizonte, ela o
raio de sol que a atravessa.
Kacey! Eu me viro e vejo Livie segurando a porta de um txi, suassobrancelhas arqueadas.
De jeito ne n hum podemos paga r um t xi c om n osso dinheiro con ta do.
Soube que catar comida no lixo no to divertido quanto dizem.
Ela bate a porta do txi, fechando a cara.
En to a ge n te t em que pegar outro n ibus. Ela puxa a m ala com
irrita o pelo me io-fio.
Fala srio. Cinco minutos em Miami e voc j est arrumando confuso?Eu ten ho um a m erreca n a c arteira para passarmos at dom ingo. Esten do a
ca rteira para que ela possa v er.
Livie fica vermelha.
Desculpa, Ka ce . V oc te m razo. Estou m eio perdida.
Suspiro e m e sint o ma l pela bron ca . Livie n o te m a person alidade de quem
arruma confuso. claro que a gente se estranha, mas a culpa sempre
m inha, e eu sei disso. Livie uma boa garota. Sempre foi um a boa garota.Careta, tranquila. Meus pais nunca precisaram falar nada com ela duas vezes.
Quando eles morreram e a irm da minha me passou a nos criar, Livie se
esforou muito para ser um a g arota a inda m elhor. Eu segui n a direo
contrria. Difcil.
V em , va m os por aqui. Fico de braos dados com e la e a aperto ma is
jun to de m im en qua n to a bro um a folha de pa pel c om o en dere o. V am os ao
ba lc o de in form a es do term in a l de n ibus. De pois de um a c on versa lon ga e
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
13/258
complicada com o velho atrs da divisria de vidro, uma conversa com direito a
charadas e um diagram a a lpis, onde ele c irculou trs baldea es n o ma pa da
cidade, esta m os n um nibus urban o e toro para n o irm os para r n o Alasca .
Fico feliz de m e sen ta r de n ovo, porque estou aca bada. A lm de um c ochilo
de v int e m inutos no n ibus in term unicipal, n o durm o na da h 36 horas.
Preferia v iajar e m siln cio, m as a s m os agitadas de Livie sobre o colo ac abamcom m eus plan os.
O que foi, Livie?
Ela hesita , fran zindo a test a.
Livie...
A cha que t ia Darla cham ou a polcia?
Esten di a m o para a perta r seu joelho.
N o se preocupe c om isso. V am os ficar bem . Eles n o vo nos achar e, seacharem, a polcia vai saber o que aconteceu.
M as ele n o feznada, Kace. Devia estar bbado demais pra saber em que
quarto estava.
O lho feio para ela.
N o feznada? Voc se esqueceu do pau duro daquele velho nojento
en costan do n a sua coxa?
A boc a de Livie se fra n ze com o se ela est ivesse pre st es a vom it a r. Ele no fez nada porque voc saiu correndo de l e foi pro meu quarto.
N o defenda a quele babaca . V i os olhares de tio Ra ym on d para Livie
conforme ela crescia no ano passado. Doce e inocente Livie. Eu esmagaria o
saco dele se ele colocasse o p dentro do meu quarto, e ele sabia disso. Mas a
Livie...
Bom , s espero que n o ven ham atr s da ge n te e n os levem de volta.
Balan o a cabea. Isso no vai acontecer. Agora eu sou sua guardi e no dou a mnima para
n en hum a papelada jurdica idiota . V oc n o va i sair do m eu lado. A lm do
mais, a tia Darla odeia Miami, lembra? Odeia uma meia verdade. Tia
Darla uma crist fantica recm-convertida que passa todo seu tempo livre
rezando e insistindo para que todo mundo reze ou saiba que deveria estar
rezan do para e vitar o in fern o, a sfilis, a grav idez n o plan ejada. Ela t em
certeza de que as grandes cidades so um solo frtil para o mal no mundo. Ela
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
14/258
s viria a Miami se o prprio Jesus Cristo fizesse uma conveno aqui.
Livie con corda com a ca bea , depois baixa a voz a um sussurro.
Acha que o tio Raymond descobriu o que aconteceu? A gente pode ter
problem as de ve rdade por c ausa disso.
Dou de ombros.
E quem se importa com ele? Parte de mim queria ter ignorado ospedidos de Livie e chamado a polcia depois da visita de tio Raymond ao
quarto dela. Mas Livie no queria ter que lidar com relatrios policiais,
advogados e servios de proteo infncia, e certamente teramos que falar
com essa gente toda. Talvez at com o noticirio local. Nenhuma de ns duas
queria isso. J tn hamos en fren ta do o basta n te depois do aciden te . Q uem sabe
o que fariam com Livie, sendo ela menor de idade? Provavelmente a
colocariam em um orfanato. No a deixariam comigo. Fui classificada comoinstvel por muitos relatrios profissionais para que me confiassem a vida de
algum.
A ssim , Liv ie e eu fizem os um ac ordo. N o o den un cia ram os se ela fic a sse
comigo. Ontem noite por acaso foi perfeito para fugir. Tia Darla ficaria fora a
n oite t oda em algum re tiro religioso, e assim esm aguei tr s comprim idos para
dorm ir e joguei na ce rveja de t io R aym on d depois do jan ta r. N em ac redito que
o idiota pegou o copo que preparei e e n treg uei a ele c om t an ta gen tileza. Eun o lhe dirigi n em dez pala vra s n os ltimos dois an os, desde que descobri que
ele perdeu nossa heran a n uma m esa de vinte e um. s sete horas, ele esta va
esparram ado no sof e ronc av a, o que n os deu tem po suficient e para pegar
nossas malas, limpar a carteira dele e a caixa secreta de dinheiro de tia Darla
embaixo da pia, e pegar um nibus noite. Talvez drog-lo e roubar o dinheiro
deles tenham passado dos limites, mas tio Raymond tambm no devia ter sido
um pedfilo.
* * *
Cen to e vin te e quat ro li o n mero do prdio em voz alta . aqui. pra
va ler. Est va m os n a c a l ada n a fre n te do n osso n ovo la r, um prdio de
apartamentos de trs andares na Jackson Drive com paredes de estuque e
ja n elin ha s. um lugar bon it o, c om c ara de ca sa de praia , em bora a gen teesteja a meia hora do mar. Mas se eu respirar fundo, quase posso sentir um leve
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
15/258
cheiro de filtro solar e algas marinhas.
Livie passa a m o pelo cabelo preto e despent ea do.
Onde foi mesmo que voc encontrou esse lugar?
No www.desesperadaporumapartamento.com brinco. Depois que Livie
entrou de rompante no meu quarto aos prantos ontem noite, eu sabia que
precisvamos sair de Grand Rapids. Uma busca na internet levou a outra, elogo eu estava m an dan do um e-m ail ao sen horio, oferec en do a ele seis meses
de aluguel em dinheiro. Dois anos servindo caf caro na Starbucks se foram.
M as valia ca da gota.
Subim os a esc ada e chegam os a um port o em form a de a rco. Ag ora que
est va m os m ais perto, eu podia v er ra chaduras e m an chas desfiguran do as
paredes do lado de fora.
A foto do anncio parecia tima digo com certa preocupao enquantogiro a maaneta do porto e descubro que est trancado. A segurana boa.
A qui. Livie a perta um a c am painha redon da ra chada direita. Ela n o
em ite som algum, e sei que est quebrada. R eprim o um boce jo en quan to
esperamos que algum passe por ali.
Tr s min utos depois, coloco as m os em conc ha n a boca , prestes a gritar o
n ome do sen horio, quan do ouo o barulho de sapat os se arra sta n do pelo
concret o. Um hom em de m eia-idade com roupas am assadas e cara ma ltratadaaparece. Seus olhos so de tamanhos diferentes, ele praticamente careca no
topo da cabea e juro que uma orelha maior do que a outra. Ele me lembra do
Sloth daquele filme dos anos 1980 que meu pai nos obrigou a ver, Os Goonies. Um
clssico, papai costumava dizer.
Sloth coa a pana e no diz nada. Aposto que ele tem a inteligncia do seu gmeo do cinema.
O i, eu sou Kac ey Cleary apresen to-me. Estam os procurando H arry
Ta n n er. Som os as n ova s in quilina s. O olhar astuto dele se dem ora um poucoem mim, me avaliando. Agradeo em silncio por ter escolhido um jeans para
cobrir a tat uagem gran de n a m in ha coxa, ca so elese atreva a mejulgar. E le se
volt a pa ra Livie , e ta m bm se dem ora dem ais pa ra o m eu gost o.
V ocs so irm s?
N ossas m alas iguais nos entrega ram ? respon do ant es que consiga m e
conter. Entre logo, antes que eles descubram a espertinha que voc pode ser, Kace.
Por sorte, os lbios de Sloth se curvam para cima.
http://www.desesperadaporumapartamento.com/7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
16/258
Pode m e c ham ar de Ta n n er. por aqui.
Livie e eu t rocam os um olhar de c hoque. Sloth n osso novo sen horio? Com
um tinido alto e um rangido, ele nos conduz pelo porto. Parecendo pensar
me lhor, ele se vira para m im e esten de a m o.
Fico petrificada, olhando aqueles dedos carnudos, e no consigo toc-los.
Livie avana habilidosamente e segura a mo dele com um sorriso,enquanto eu recuo alguns passos, deixando claro que no encostarei na mo
deste sujeito. O u n a m o de qualquer pessoa. L ivie sa be m e sa lvar.
Se Ta n n er percebe, n o diz n ada e n os leva por um pt io com arbustos
mirrados e plantas desidratadas que cercam um hibachie n ferrujado.
Aqui a rea comum. Ele gesticula com desdm. Se quiserem fazer
um churrasco, tomar banho de sol, relaxar, o que for, o lugar aqui. Vejo
espinhos de t rinta ce n tm et ros de a ltura e flores seca s pelas bordas e m epergun to quanta s pessoas realme n te acham este e spao relaxan te. Podia ser
legal, se a lgum cuidasse dele.
Deve te r lua c heia ou coisa a ssim resmunga T an n er en quant o o
seguim os por um a fila de porta s verm elhas esc uras. Ca da uma delas t em uma
ja n elin ha ao la do e os tr s an da re s s o id n tic os.
A h, sim ? Por que isso?
V oc s so o segun do caso de a part am en to que aluguei por e- m ail estasemana. A mesma situao... Desesperados por um lugar, no querem esperar,
paga m em din heiro. estran ho. A cho que todo mun do sem pre foge de alguma
coisa.
Ora, ora. E agora isso? Talvez Tanner seja mesmom ais in te ligen te do que seu
gmeo do cinema.
A quele a li chegou esta m an h. Ele a pon ta com o polegar ata rracado
para o apartam en to 1D an tes de nos levar ao apartam en to seguin te c om um1C em dourado. Seu imenso molho de chaves tilinta enquanto ele procura por
uma em particular. Agora, vou dizer a vocs o que digo a todos os meus
inquilinos. Eu s te n ho um a re gra, m as n o pode ser quebrada: M an te n ham a
paz! N ada de festas barulhen ta s com drogas e orgias...
Desculpe, pode ser mais especfico... O que classificado como orgia no
esta do da Flrida? Um m n age pode? E se tiver uma briga, porque, sabe com o
...
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
17/258
Tanner fecha a cara para mim e Livie me d um soco no ombro. Depois de
limpar a garganta, ele continua como se eu no tivesse falado.
Sem brigas, de fam lia ou o que seja. N o te n ho pac in cia para essa
porcaria e vou expulsar vocs mais rpido do que podem mentir para mim.
Entenderam?
Concordo com a cabea e mordo a lngua, reprimindo o impulso decantarolar a msica tema de Family Feudenquanto Tanner abre a porta.
Eu mesmo limpei e pintei. No novo, mas deve servir para o que vocs
procuram.
O aparta m en to pequen o e pouco mobiliado, tem uma cozinha pequena de
ladrilhos verdes e brancos no fundo. As paredes brancas s fazem destacar o
horren do sof florido ma rrom e laran ja. Um ca rpet e v erde barat o e o leve
cheiro de naftalina compem o visual de branco-pobre dos anos 1970. O pior:n o n ada parec ido com a foto do an nc io. Surpresa!
Ta n n er coa a parte de tr s de sua cabea grisalha.
N o gra n de c oisa, eu sei. Tem dois quart os ali e um ban heiro ent re os
dois. Coloquei uma privada nova no ano passado, ento... Seu olhar torto se
volt a pa ra m im . Se s isso...
Ele quer o dinheiro. Com um sorriso forado, coloco a m o n o bolso da fren te da
m ochila e t iro um e n ve lope grosso. Livie se arrisca m ais para dent ro doapartamento enquanto eu pago. Tanner a observa ir, mordendo o lbio como
quem quer dizer alguma coisa.
Ela parec e m uito n ova para m orar sozinha. Seus pais sabem que v ocs
duas e st o aqui?
Nossos pais morreram. Saiu com a brusquido que eu pretendia, ou seja,
o recado foi dado. Cuide da sua prpria vida, Tanner.
Ele fica plido. Ah, hum, lamento saber disso. Ficamos parados desconfortavelmente
por trs segundos inteiros. Coloco as mos embaixo das axilas, deixando claro
que n o ten ho a in ten o de apertar a m o de n ingum. Q uan do ele se vira e
va i pa ra a porta , solt o um leve suspiro. Ele est louc o pa ra se liv rar de m im
ta m bm. Por sobre o om bro, ele grita:
A lava n deria fica n o subsolo. Eu a lim po uma vez por sem an a e espero que
todos os inquilinos ajudem a m an t -la a rrum ada. M oro no 3F, se precisare m de
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
18/258
alguma coisa. Ele desaparece, deixando a chave na fechadura.
En con tro Livie in ve stigan do o arm rio de rem dios em um ban heiro feito
para hobbits. Ten to en tra r, m as n o h e spa o suficient e para n s duas.
Privada n ova. Chuveiro velho e n ojent o m urmuro, m eu p riscan do o
piso de ladrilho rachado e encardido.
V ou ficar c om esse quart o prope Livie, esprem en do-se por mim para irao quarto direita. S tem uma cmoda e uma cama de solteiro com uma
colcha de croch pssego aberta sobre ela. Gra des pret as en feitam a n ica
ja n ela que d pa ra o exterior do prdio.
Tem certeza? pequeno. Sei, sem precisar olhar o outro quarto, que
este o m en or dos dois. Livie assim . A ltrusta .
Tenho. Est tudo bem. Gosto de espaos pequenos. Ela sorri. Est
tentando ver o lado positivo, eu sei. Bom, quando a gente der aquelas festas que duram a noite toda, voc no
va i c on se guir en fia r m a is de tr s c a ra s a qui de um a vez. Sa be disso, n ?
Livie joga um travesseiro em mim.
Engraadinha.
Meu quarto igual, exceto por ser um pouco maior e ter uma cama de casal
com uma colcha de tric verde e feia demais. Suspiro, meu nariz se torcendo de
decepo. Desculpe, Livie. Este lugar n o n ada parec ido com o an nc io. O
desgraado do Tanner e sua propaganda enganosa. Tombo a cabea de lado.
Ser que podemos process-lo?
Livie bufa.
N o to ruim, K ace.
Voc diz isso agora, mas quando brigarmos com as baratas pelo nosso
po... Voc? Brigando? Mas que choque.
Eu rio. Pouca s coisas ainda m e fazem rir. Uma delas L ivie t en ta n do ser
sarcstica. Quando ela finge ser alegrinha e descolada, acaba parecendo um
daqueles anunciantes de rdio interpretando uma verso dramtica de uma
histria policial brega.
Este a parta me n to um a m erda, Livie. A dmita. M as estam os aqui e o
que podemos pagar agora. Miami cara pra cacete.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
19/258
Sua mo desliza na minha e eu a aperto. a nica mo que consigo tocar. A
nica que n o parece sem vida. s vezes ten ho dificuldade de solt -la.
perfeito, Ka ce. S m eio pequen o, tem n aftalina e ve rde, m as n o
estamos muito longe da praia! Era isso que a gente queria, n? Livie levanta
os braos e geme. E agora?
Bom, para comear, vamos matricular voc no colgio hoje tarde paraque seu crebro gran de n o at rofie digo, abrindo m inha m ala para esva zi-la.
A fina l, quan do voc gan har um zilho de dlares e c urar o c n ce r, vai
precisar m an dar dinheiro para m im. V asculho minhas roupas. Pre ciso m e
matricular numa academia. Ento, vamos ver quantas latas de carne e creme
de milho consigo comprar depois de uma hora vendendo meu corpo gostoso e
suado n a e squin a. Livie balan a a cabea . s vezes ela n o gosta do m eu
senso de humor. s vezes acho que ela se pergunta se falo srio. Eu me curvopara puxar a coberta da minha cama. E sem dvida nenhuma preciso jogar
gua sanitria neste lugar todo de merda.
* * *
lavanderia do prdio no subsolo do nosso apartamento no nada
impressionante. Painis de luzes fluorescentes lanam uma luz forte no piso deconcreto azul desbotado. O cheiro floral mascara muito mal o odor almiscarado
no ar. As mquinas tm pelo menos quinze anos e provavelmente faro mais
ma l do que bem s n ossas roupas. M as n o tem uma t eia de aran ha n em um
fiapo em lugar n en hum.
Jogo todos n ossos le n is e c obert ore s em dua s m quin as, x in ga n do o
mundo por nos fazer dormir em roupa de cama usada. Vou comprar roupa de cama nova
com meu primeiro pagamento, eu m e c om prom et o. Joga n do um a m ist ura de a lveja n te edetergente, abro a gua no ajuste mais quente, desejando que estivesse
rotulado de ferva no inferno qualquer organismo vivo. Isso me faria sentir um
pouquinho melhor.
A s m quin a s pre cisa m de se is m oeda s por c ada la vagem . De test o pa ga r por
m quina s de lav ar. M ais cedo, Livie e eu para m os estran hos n o shopping c om
nossas moedas, pedindo para trocar. Eu tenho o suficiente estocado, percebo,
enquanto deposito as moedas no local correto. A lguma m quina livre? Uma voz grave ma sculin a fala bem atr s de
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
20/258
mim, me assustando o bastante a ponto de eu gritar e jogar as ltimas trs
moedas para o alto. Por sorte, tenho reflexos de felino e pego duas delas em
pleno ar. Meus olhos se fixam na ltima que cai no cho e rola para baixo da
mquina. Caindo de quatro, mergulho para procur-la.
M as sou len ta dem ais.
Q ue droga! M eu rosto bat e n o cho frio en quan to espio em baixo dam quina , procuran do um c int ilar prat ea do. M eus dedos podem ca ber ali
embaixo...
Se eu fosse voc, no faria isso.
A h, ? A gora estou irritada. Q uem chega de fin inho perto de uma
mulher em uma lavanderia no poro, se no for psicopata ou estuprador?
Ta lvez ele seja m esmo. Talvez eu devesse estar trem en do neste ex ato
momento. Mas no estou. Eu no me assusto com facilidade e, para sersin ce ra, e stou irrita da dema is para sen tir qualquer outra c oisa. Ele que t en te
m e a ta ca r. V ai levar o m aior susto da v ida. Por que isso? Solto ent re
dentes, tentando continuar calma. Mantenham a paz, T an n er n os a lert ou. Sem
dvida ele sentiu alguma coisa em mim.
Porque estamos na lavanderia de um poro mido em Miami. Insetos
rastejan tes de oito pat as e c oisas que deslizam e ra stejam se escon dem em
lugare s a ssim .Eu me retraio e reprimo o tremor que toma meu corpo, imaginando minha
m o saindo de baixo da m quina com uma m oeda e uma cobra de bn us.
Pouca s coisas m e deixa m em pnico. O lhos m insculos e um corpo que se
retorce uma delas.
Engraado, tambm soube que coisas rastejantes de duaspernas andam
por esses lugares. So chamadas de pessoas sinistras. Uma praga, pode-se dizer.
Como estou muito abaixa da usan do um short preto m nimo, ele t alvez ten haum a lin da v iso da m inha bun da n este ex ato m om en to. Vai nessa, pervertido. Vai
curtindo, porque s isso que voc vai conseguir. E se eu sentir qualquer coisa roarna minha pele, vou te arrebentar os
oelhos.
A re sposta dele foi um a garga lha da gut ural.
Bem colocado. Q ue tal voc se levan tar? O s pelos da m inha n un ca se
arrepiam com as palavras dele. Havia algo decididamente sexual em seu tom.
O uo o som de m eta l con tra m eta l quando ele ac rescen ta: Esta pessoa
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
21/258
sin istra tem uma m oeda a m ais.
Bom, ento, voc meu tipo favorito de... comeo a dizer, tateando o
alto da mquina enquanto me levanto para olhar o idiota cara a cara. claro
que o vidro aberto de det ergen te est bem ali. claro que m inha m o o
derruba. claro que ele se espalha por toda mquina e pelo cho.
Merda! xingo, me ajoelhando de novo enquanto vejo o sabo verde epega joso va zar para todo lado. Ta n n er v ai m e despejar.
A voz do ca ra sin ist ro fic a m a is ba ix a.
Quanto vai me pagar para ficar de boca fechada? Passos se aproximam
de mim.
Por instinto, mudo de posio para conseguir deslocar sua articulao com
um chute e deix-lo cado em agonia, como aprendi em minhas aulas de sparring.
M inha colun a formiga en quan to um len ol bran co este n dido, cobrindo ocho na m in ha fren te. R espiran do fundo, espero pacien tem en te en quant o o
Sin istro passa m inha esquerda e se a gac ha.
O ar sai de meus pulmes em um suspiro e fico olhando as covinhas fundas e
os olhos ma is azuis que j vi an is de cobalto com azul-c laro por den tro.
Semicerro os olhos. Eles tm pontinhos turquesa? Sim! Meu Deus!O piso azul, as mquinas
velha s e en ferr uja da s, a s pa re des, tudo em volt a de m im desa pa rec e sob a
int en sidade do seu olhar, que a rran ca m inha ca pa prote tora de m ulher cret ina ,tirando-a do meu corpo, me deixando nua e vulnervel em segundos.
possvel a bsorver t odo esse lquido com isso. Prec iso do dete rgen te de
qualquer jeito diz ele com um sorriso juvenil e irnico enquanto arrasta o
len ol para lim par o lquido derram ado.
Pera, voc no precisa... Minha voz falha, a fraqueza nela me d
n useas. De repen te sin to o erro que come ti ao rotul-lo de sinistro. Ele n o
sinistro. bonito demais e legal demais. Sou a idiota que deixa moedas carempor todo lado e agora ele est limpando o detergente deste cho sujo com seus
len is para m e a judar!
N o con sigo form ar palav ras. N o en quan to estou boquiaberta dian te dos
bra os m usc ulosos do N o Sin ist ro, se n tin do o ca lor se espa lha r pelo m eu
ba ix o- ven tre . Ele vest e um a c am isa c om as m a n ga s en rola da s e os prim eiros
bot es a bert os, ex pon do o in c io de um peit ora l in crvel.
Est vendo alguma coisa que te interessa? pergunta ele, a provocao
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
22/258
fazen do me us olhos se desloca rem at sua ca ra sorrident e, o san gue coran do
meu rosto. Desgraado! Ele parece ir do Bom Samaritano Tentao do Mal a
cada frase que sai de sua boca. Pior ainda, ele me pegou babando pelo corpo
dele. Eu! Babando! Fico perto de corpos sarados todos os dias na academia e
n o me abalo. M as, por algum m otivo, n o sou im une ao dele.
A cabei de m e m udar. Para o 1D. M eu nome Tren t. Ele me olha porba ix o da quele s c lios in crivelm en t e lon gos, o ca belo c ast a n ho- doura do
desgren hado em olduran do lin dame n te seu rosto.
Kacey eu me esforo para dizer. Ento, esse cara o inquilino novo... nosso vizinho. Ele
mora do outro lado da parede da minha sala! Ai!
Kacey repete ele. Adoro a forma como seus lbios se mexem quando ele
diz meu nome. Minha ateno fica presa ali, encarando aquela boca, os dentes
perfeitamente retos e brancos, at que sinto meu rosto ferver com umaterceira onda de calor. Merda! Kacey Cleary no fica vermelha por ningum!
Eu apertaria sua mo, Kacey, mas... diz Trent com um sorriso
provocador, estendendo as palmas cobertas de detergente.
Pronto. Isso basta. A ideia de tocar aquelas mos parece um tapa na minha
cara, acabando com o sbito deslumbramento e me trazendo de volta
realidade.
Consigo raciocinar direito de novo. Respirando fundo, ergo meus escudos den ovo, para forma r uma barreira contra esta c riatura divina e n o reagir mais a
ele. m uito m ais fc il assim. E s isso, Kacey. Uma reao. Uma reao estranha e pouco comum a
um homem. Um homem incrivelmente gostoso, mas ningum com quem voc queira se envolver.
Obrigada pela moeda digo com frieza, levantando-me e colocando a
moeda n a ran hura. Ligo a m quina de lava r.
o mnimo que posso fazer por te dar um susto. Ele est de p e enfia os
len is na m quin a a o lado da m inha. Se T an n er reclam ar de algum a c oisa,vou dizer a ele que fui eu. Em pa rt e foi m in ha c ulpa m esm o.
Em parte?
Ele ri e balan a a c abea . A gora e stam os prxim os, to perto que n ossos
om bros quase se toca m . Pert o dem ais.
Eu me afasto alguns passos para ter algum espao, mas acabo encarando
suas costas, e admiro como sua camisa xadrez azul se estica pelos ombros
largos, como o jeans azul-escuro se ajusta com perfeio em sua bunda.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
23/258
Ele para o que est fazendo e olha por sobre o ombro, os olhos brilhantes
en ca ran do os m eus de um jeito que m e faz querer fazer c oisas para ele, c om ele,
por ele. Seu olhar desliza descaradamente pelo meu corpo. Este sujeito uma
cont radi o. Num segundo m eigo, n o outro ousado. Um a c on tra di o
gostosa e perturbadora.
Um alarme dispara na minha cabea. Prometi a Livie que as ficadas de umanoite s iam parar. E pararam. Em dois anos, no fui legal com ningum.
gora estou aqui, no primeiro dia de n ossa n ova vida, prestes a m on ta r n este
cara em cima da mquina de lavar.
De repen te m eu corpo se ret rai, pouco vont ade. Respire, Kacey, ou o a voz da
minha me n a minha cabea. Conte at dez, Kace. Respire dez vezes curtinho.Como sempre,
seu con selho n o me ajuda porque n o faz sen tido. S o que faz sen tido sa ir
desta arm adilha de duas pern as. E j.R ecuo at a porta.
N o quero te r esses pen sam en tos. N o prec iso deles.
E a, onde voc...?
Subo a escada correndo em busca de segurana antes de ouvir Trent
term ina r a frase. S respiro m elhor quan do estou no trreo. Eu me en costo na
parede e fecho os olhos, recolocando aquela capa de proteo que cobre minha
pele e recuperando o controle do meu corpo.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
24/258
DOIS
Um assobio...Luzes fortes...
Sangue...
gua correndo por cima de minha cabea. Estou me afogando.
Ka cey, a corde! A voz de Livie me arran ca da e scurido sufocan te e me
traz de volta a meu quarto. So trs da madrugada e estou ensopada de suor.
Obrigada, Livie.
De nada responde ela baixinho, deitando-se a meu lado. Livie estacostumada com meus pesadelos. Raras vezes passo uma noite sem ter um. s
vezes a c ordo sozin ha . s vezes m eus gritos fazem Liv ie corre r pa ra o qua rt o. s
vezes c om eo a fic a r ofega n te e ela t em de vira r um copo de gua gela da n a
m inha c abea para m e t razer de v olta . Ela n o prec isou fazer isso esta n oite.
Hoje est sendo uma boa noite.
Fico quiet a e para da at ouvir sua re spira o len ta e ritm ada de n ovo e
agradeo a Deus por no t-la tirado de mim tambm. Ele tirou todos os outros,mas deixou Livie. Prefiro pensar que ele a deixou gripada naquela noite para
impedir que e la fosse a o me u jogo de rgbi. O s pulmes c onge stiona dos e o
nariz escorrendo a salvaram.
Salvaram meu nico raio de luz.
* * *
Lev an to ce do para m e despedir de Livie n o seu primeiro dia de aula n o novo
colgio.
Est com toda a papelada? pergunt o a ela. Eu a ssinei t udo como guardi
legal de Livie e a fiz jurar que eu era , se a lgum pergunt asse.
Se valem alguma coisa...
Livie, s m an ter a histria e t udo vai correr tran quilamen te. Para ser
fran ca , estou m eio preocupada. Depen der de Livie para m en tir c omo esperarque um c aste lo de cart as fique de p n um v en daval. Im possvel. Livie n o
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
25/258
consegue mentir nem que sua vida dependa disso. E mais ou menos este o
caso.
O bservo minha irm term inar de comer os cereais e pegar a m ochila,
colocando o cabelo atrs da orelha umas dez vezes. Esse um de seus muitos
sinais. Um sinal de que ela est em pnico.
Pen se bem , Livie. V oc pode ser quem quiser sugiro, ac arician do seusbra os en qua n to ela est in do pa ra a porta . Eu m e le m bro de en c on tra r um
pouquinho de conforto quando nos mudamos para a casa de tia Darla e tio
R aym on d, um a escola n ova e ge n te n ova que n o sabiam n ada de m im . Fui
burra o ba st a n te pa ra a cre dit a r que a tr gua dos olha re s pie dosos duraria . M a s
as n otcias se e spalham rpido em cidades pequena s e logo me vi come n do o
almoo no banheiro ou faltando as aulas para evitar os cochichos. Agora,
porm, estva m os a m un dos de distn cia de M ichigan. T nham os realmen teuma chan ce de recome ar.
Livie para e se vira para m e olhar va gam en te.
Eu sou Olivia C leary. N o estou ten ta n do ser outra pessoa.
Eu sei. S quis dizer que ningum sabe nada do nosso passado aqui. Este
era um de m eus pontos de n egocia o para vir para c : n o part ilhar n osso
passado com ningum.
Nosso passado no quem somos. Eu sou eu e voc voc, e isso queprecisam os ser lembra-me Livie. Ela vai em bora e eu sei exa tam en te n o que
est pen san do. Eu n o sou ma is Ka ce y Clea ry. Sou um a c oncha v azia que solta
piadas inconve n ien tes e n o sen te n ada. Sou um a impostora de Ka cey.
* * *
Quando procurei pelo nosso apartamento, eu no queria s uma escoladece n te para Livie; eu precisava de uma aca dem ia. N o um a a ca dem ia on de
meninas magras feito lpis chegam empinadas com suas roupas novas de
m alhar e ficam perto dos pesos, falan do no ce lular. Uma ac adem ia de luta .
Foi assim que encontrei a Breaking Point.
A Br ea kin g Poin t tem o m esm o ta m a n ho da O M alle ys em M ic higa n e
logo me sen ti v onta de quan do en trei. com pleta, c om luzes baixas, um
ringue de luta e doze sacos de variados tamanhos e pesos, pendurados nas vigasdo teto. O ar uma infuso do fedor familiar de suor e agressividade um
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
26/258
subproduto da propor o 50:1 en tre hom en s e m ulheres.
Q uan do en tro n a sala prin cipal, respiro fundo, ac olhendo a sen sa o de
seguran a que o espa o me tra z. T rs an os an te s, depois de o hospital m e dar
alta aps uma lon ga int ern a o depois de fisiote rapia int en siva para c orrigir
o lado direito de m eu corpo, esmag ado pelo aciden te , en trei em uma
ac adem ia. Pa ssav a horas l t odo dia, levan ta n do pesos, fazendo exe rcciosae rbicos, todas as c oisas que fortalec era m m eu corpo ma chuca do, m as n o
consertaram min ha a lm a destruda.
E en t o, um dia, um ca ra m usculoso cham ado Jeff, com m ais piercings e
tat uagen s que um astro de rock deca den te, se a presentou a m im.
Voc pega mesmo pesado nos exerccios disse ele. Assenti, sem
int eresse n o rum o que a c onve rsa poderia tom ar. A t que ele m e passou seu
carto. J experimentou a OMalleys, nessa mesma rua? Eu dou aulas dekickboxing l algumas noites por semana.
Eu sou lutadora n at a, pelo visto. R apidam en te m e superei c om o sua aluna
fora de srie, provavelmente porque treinava sete dias por semana, sem faltar.
quilo aca bou se t orn an do um m ec an ism o de supera o perfeito para m im. A
cada chute e a cada golpe, eu consigo canalizar a raiva, a frustrao e a mgoa
de forma palpvel. Posso liberar ali, de um jeito no destrutivo, todas as
emoes que me esforcei para enterrar.Felizmente, a Breaking Point barata e deixa que voc pague por ms, sem
ta xa de ma trcula. T en ho dinheiro suficient e n a re serva por um m s. Sei que
deveria gast-lo com comida, mas ficar sem malhar no uma opo para
mim. A sociedade fica melhor comigo numa academia.
Depois de m e m at ricular e c onhecer o lugar, deixo m eu equipam en to perto
de um saco de areia disponvel. E sinto os olhos dos homens em mim, os olhares
questionadores. Quem a ruiva? Ela no percebe que tipo de academia essa?Eles esto sepergunt an do se posso dar um soco que valha alguma m erda. Provave lmen te j
esto fazendo apostas sobre quem vai me levar para o chuveiro primeiro.
Eles que ten tem .
Ignoro a ateno, os comentrios e as risadinhas flagrantes enquanto
alongo os msculos, com medo de contundir alguma parte depois de faltar por
tr s dias. Sorrio com iron ia. Babacas presunosos.
R espiro vrias vezes para a calm ar os n ervos e m e c on cen trar n o saco, esta
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
27/258
coisa graciosa que absorver toda minha dor, meu sofrimento e meu dio, sem
protestar.
E en t o desca rrego tudo.
* * *
Mal amanheceu quando o pior tipo de heavy metal que gente velha escuta
explode pelo meu quarto. Meu despertador diz seis da manh. . Bem no horrio. o
terceiro dia seguido que meu vizinho me acorda com essa barulheira.
Mantenham a paz, resmungo enquanto jogo as cobertas sobre a cabea,
repassando as palavras de Tanner. Imagino que manter a paz no signifique
chutar a porta do vizinho e quebrar os aparelhos eletrnicos na parede.
Ta m bm n o significa que n o possa have r vingan a.Pego meu iPod um dos poucos pertences, sem ser roupa, que peguei na
correria e rolo pelas playlists. L est: Hannah Montana. Minha melhor
am iga, Jen n y, ca rregou toda e ssa me rda a dolescen te de brin cadeira a n os atrs.
Parece que finalmente veio a calhar. A fasto a dor que a compan ha as lem bran a s ligadas a
isso enquanto aperto Play e coloco o volume no mximo. O som distorcido
quica nas paredes de meu quarto. Os alto-falantes podem at estourar, mas
va le a pen a .E en to eu dan o.
Fe ito uma louca, m e balan o pelo quart o, agita n do os bra os, n a e spera n a
de que e ssa pessoa odeie H an n ah M on tan a t an to quanto eu.
O que est fazen do?! grita L ivie, in va dindo m eu quarto de pijama
am assado com o cabelo indom ado. Ela salta at m eu iPod para aperta r o boto
de desliga r.
S estou ensina n do ao n osso vizinho o que ac onte ce quan do m e a cordam .Ele um grosso.
Ela franze a testa.
Voc o conheceu? Como sabe que um homem?
Porque nenhuma garota pe esta merda berrando s seis da manh, Livie.
Sei que no pode ser Trent, porque o apartamento dele fica do outro lado.
A h. A cho que n o d para ouvir do m eu quarto. Sua testa se vin ca
en quan to ela e xa min a a parede adjace n te. Isso me don ho. A cha m esmo? Especialmen te quando eu trabalhei at as on ze onte m
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
28/258
n oite! Come ce i me u prim eiro turno n a Starbucks de um bairro vizinho. Eles
estava m desesperados e eu tinha uma carta de refernc ia incrvel, graa s a
meu antigo gerente, um filhinho da mame de 24 anos chamado Jake com uma
queda por ruivas rabugentas. Tive a inteligncia de ser legal com ele. Acabou
compensando.
Com um a pausa e um dar de ombros em seguida, Livie grita Va m osdan ar! e a umen ta de n ovo o volume.
Ns duas pulamos pelo quarto em um ataque de risos at que ouvimos uma
ba t ida n a porta da fre n te.
A ca ra de Liv ie perde toda a cor. Ela a ssim s la te, n o m orde. Eu? N o
est ou preocupada. V isto me u roupo rox o e pudo e vou at l c om orgulho.
Vamos ver o que ele tem a dizer a respeito disso.
Minha mo est na maaneta, prestes a abrir a porta num rompante,quando Livie cochicha severamente, Espera!.
Eu me viro, vendo Livie balanando o indicador, como minha me
costum av a fazer quan do dav a um as bron ca s.
Lembra, voc prometeu! O acordo foi esse. Vamos recomear aqui, n?
Uma vida n ova? Uma nova Ka cey?
. E da?
Da que voc pode, por fav or, ten ta r n o ser an tipt ica? Pode ser m aiscomo a Kacey de Antes? Sabe qual, aquela que no foge de todo mundo que
chega perto? Q uem sabe, ta lvez a gen te possa fazer a lgun s am igos por a qui.
s tentar.
V oc quer fazer a m izade com velhos, Livie? Se assim , a ge n te bem que
podia te r ficado em ca sa respon di com frieza. M as a s palav ras dela m e
atingiram como uma agulha de injeo comprida bem no corao. Partindo de
qualquer outra pessoa, teriam escorregado pelo meu exterior de Teflon duro. Oproblema que n o sei quem a Ka cey de A n tes. N o me lembro dela. Ouvi
dizer que se us olhos brilhava m quan do ela ria, que sua ve rso de Stairw ay to
H ea ve n ao pian o fazia o pai chorar. A garota t inha m uitos am igos e ficav a a os
abraos, beijos e mos dadas com o namorado sempre que podia.
A K a cey de A n tes m orr eu qua tro a n os a tr s e s o que re st a um a
ba gun a . Um a ba gun a que pa ssou um a n o n a re a bilita o fsic a c on se rt a n do o
corpo destrudo, para ser liberada em seguida com uma alma destruda. Uma
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
29/258
ba gun a cuja s n ot as m erg ulha ra m de c abe a pa ra o fun do da c la sse. Q ue
afundou em um mundo de drogas e lcool por um ano para lidar com a perda. A
Kacey de Depois no chora, no solta uma nica lgrima. No sei bem como
ela c on segue. Ela n o se abre por n ada; no suporta sen tir o toque de m os,
porque elas a lembram da m orte . N o deixa as pessoas en tra rem , porque a dor
persegue os afetos de perto. A viso de um pian o a faz en tra r em uma n v oa devert igem . Seu n ic o a lv io esm urrar sa cos de areia giga n tes a t os n s dos
dedos ficarem vermelhos e os ps esfolados, e seu corpo unido por incontveis
haste s e pin os de m et al d a impresso de que vai esfarelar. C on heo bem a
Ka ce y de Depois. Bem ou ma l, sei que e stou presa a ela.
M as Livie m e lem bra da Ka cey de A n tes e, por Livie, eu vou ten tar t udo.
bro um sorriso for ado. Parec e est ra n ho e desa jeit a do e, a julg ar pelo
estreme cimen to no rosto da m inha irm , deve parece r me io am ea adortambm.
Tudo bem. Come o a girar a m aan eta.
Espera!
M eu Deus, Livie! O que a gora? Suspiro, ex asperada.
Toma. Ela me entrega seu guarda-chuva rosa de bolinhas pretas. Ele
pode ser um assassin o em srie.
Eu jogo a cabea para trs e rio. um som muito raro, mas autntico. E o que eu faria c om isso? Daria um cutuco n ele?
Ela d de ombros.
m elhor do que a m assar a ca ra dele, que o que voc v ai querer fazer.
Tudo bem, t legal, vamos ver com o que estamos lidando. Vou janela
ao lado da porta e puxo a cortin a fina , procura n do por um sujeito grisalho com
um a c am iseta desbotada apertada n as banhas e m eias pretas. Uma parte
mnima de mim torce para que seja o Trent da lavanderia. Aqueles olhosarden tes inva diram me us pen same n tos vrias vezes sem convite n os ltim os
dias e tive dificuldade para me livrar deles. At me peguei olhando a parede que
separava nossos apartamentos como uma maluca, imaginando o que ele
esta ria fazendo.
Um rabo de cavalo louro cor de palha de milho se balana de um lado a
outro do lado de fora de nossa porta.
Jura? bufo, m e a trapalhan do com a t ran ca.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
30/258
A Ba rbie est a li fora . Sem brin c adeira . Um a gost oson a loura a lt a m en te
bron zeada de 1,70m em ta m an ho n a tura l com l bios ca rn udos e olhos a zuis
gigantescos. Fico sem fala, olhando seu short de algodo mnimo e percebendo
como a logomarc a da P layboy fica distorcida ao ser estica da n a fren te da sua
camiseta. No podem ser de verdade. Tm o tamanho de bales de ar quente.
Uma fala arrastada e suave m e arran ca do me u tran se. Oi, meu nome Nora Matthews, da porta ao lado. Todo mundo me
chama de Storm.
Storm? Aquela do apartamento vizinho com uns bales gigantescos costurados no peito?
Um pigarro e percebo que ainda estou encarando os peitos dela.
Rapidamente desvio os olhos para seu rosto.
Est tudo bem. O mdico me deu de graa uns litros extra enquanto eu
estava dormindo. Ela brinca com uma risadinha nervosa, provocando umatosse sufocada de choque em Livie.
Nossa nova vizinha, Nora, vulgo Storm, com peitos falsos e gigantes. Eu
me pergun to se T an n er fez a elao discurso de n ada de orgias, ma n ten ha a paz
quan do lhe e n treg ou as c hav es. Ela e sten de o bra o bron zea do e
imediatamente me retraio, reprimindo o impulso de me encolher visivelmente.
Por isso eu detesto conhece r gen te . N estes t em pos de doen a s, n o podem os
s acenar para o outro e seguir em frente?Uma cabea morena entra no meu campo de viso e Livie avana para
pegar a mo estendida de Storm.
O i, eu sou a Livie. A gradeo a min ha irm em silncio por m e salvar
ma is um a vez. Essa m in ha irm, K ace y. Somos novas em M iam i.
Storm abre um sorriso perfeito para L ivie e se vira para m im.
Olha, me desculpe pela msica. Ento ela sabe que eu sou a provocadora. N o
sabia que algum tin ha se m udado para c . Eu trabalho n oite e m inha filha de5 anos me acorda cedo de manh. s o que consigo fazer para me manter
acordada.
ento que eu noto a vermelhido no branco de seus olhos. A culpa agora
me apunhala por saber que h uma criana envolvida. Que droga.Detesto m e
sen tir culpada, e spec ialmen te por estra n hos.
Livie d um pigarro e me lana um olhar de lembre-se de no ser uma
cretina.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
31/258
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
32/258
test e do Mr. M agoo, porque M ia a pega pelo bra o e a puxa porta afora.
V em conhecer m eus outros amigos. Elas desaparece m n o apartam en to
de Storm, deixando-a sozinha comigo.
Vocs no so daqui. uma afirmao, no uma pergunta. Espero que
ela no se aprofunde. Esto aqui h muito tempo? Os olhos crticos de
Storm, muito parecidos com os da filha, flutuam por nossa sala de estardespojada, parando em uma foto nossa com nossos pais emoldurada na parede.
Livie pegou na sala de estar de tia Darla quando fugimos pela porta.
Em silncio, censuro Livie por pendurar ali para todo mundo ver, para que
faam perguntas, embora eu no tenha esse direito. Em algumas poucas
ocasies, Livie bate o p. Essa foi uma delas. Se dependesse de mim, a foto
esta ria n o quarto de L ivie, onde e u poderia e n tra r para v isitar de ve z em
quando.Para mim, difcil ver o rosto deles.
H a lguns dias. No ac onc hegan te?
Storm sorri da m inha te n ta tiva de fazer gra a . Livie e eu desbrav am os a loja
de 1,99 do bairro procura de itens de necessidade bsica. Alm disso e da foto
de fam lia, a n ica c oisa que a cresc en ta m os foi o cheiro de alvejan te n o lugar
da n aftalina.
Storm concorda com a cabea, cruzando os braos como quem tentaafugentar o frio. Mas no tem frio algum. Miami quente, mesmo s seis da
manh.
como d para ser por enquanto, n? s o que podemos pedir diz ela
ba ix in ho. De a lgum m odo t en ho a se n sa o de que ela est fala n do m a is do que
s do apartamento.
H um gritin ho de prazer n o apart am en to ao lado e Storm ri.
Sua irm t em jeito com crian as. , a Livie te m um poder m agn tico sobre elas. Nen hum a c rian a
consegue re sistir. Na n ossa c idade, ela t rabalhou como volunt ria n a c reche
muitas vezes. Acho que ela ter pelo menos doze filhos. Eu me curvo para
imitar um cochicho por trs da mo. Espere s at que ela saiba o que precisa
fazer com os homen s para que isso ac onte a .
Storm ri suave me n te.
Sei que ela vai aprender logo. Ela incrvel. Quantos anos ela tem?
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
33/258
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
34/258
Fas e dois
NEGAO
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
35/258
TRS
En tro meio adorme cida n a c ozinha e en contro Livie e M ia m esin ha deja n ta r, joga n do Go Fish.
Bom-dia! can tarola Livie.
Bom- dia! M ia a imita.
So oitoda m an h resmungo en quant o pego na geladeira um suco de
laranja qualquer em que torrei meu dinheiro outro dia.
Como foi o trabalho? pergunta Livie.
Tomo um gole gigante direto da caixa. Uma m erda.
Ouo um soluo agudo e vejo o dedinho de Mia apontando na minha
direo.
K ac ey falou palav ro! sussurra e la.
Eu me encolho quando vejo o olhar nada impressionado de Livie.
J t saben do, t legal? digo, procuran do um a desculpa para m im
mesma. Terei de moderar meu linguajar, se Mia vai andar por aqui.A ca bea de M ia se in c lin a , prova velm en te con side ra n do m in ha lgic a .
Depois, com a ateno limitada de qualquer menina de 5 anos, minha infrao
horrenda esquecida rapidamente. Ela sorri e anuncia:
V ocs vo toma r o brun ch com a gen te. N o caf da m an h e n o
almoo.
A gora m in ha vez de olha r feio pa ra Livie .
V am os, ?Baixa n do os olhos, Livie se leva n ta e v em para o me u lado.
Voc disse que ia tentar ela me lembra em um sussurro baixo para Mia
no ouvir.
Eu disse que seria gentil. No disse que ia trocar receitas de bolo com as
vizin ha s re spon do, proc ura n do a o m xim o n o rosn ar.
Ela revira os olhos.
Deixa de fazer drama. A Storm gente boa. Acho que voc ia gostar dela,
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
36/258
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
37/258
Mudo de assunto.
Alis, como est sendo na nova escola? Eu trabalhei no turno da tarde a
sema n a toda, en to a nica c omun icao en tre n s foi a troca de algun s
bilhe tes n a ba n c ada da c ozin ha .
A h... foi tudo bem . Livie em palidec e c omo se t ivesse visto um fan ta sma .
Procura a m ochila, olhan do para tr s e v en do que M ia est distra da c om seuprprio jogo de c arta s na m esa. Chequei m eus e-m ails n a e scola ex plica e la
ao me passar uma folha de papel.
M inhas costas en rijec em . Sei o que est por vir.
Q uerida O livia
Imagino que sua irm tenha convencido voc a fugir. No entendo por
qu, mas espero que voc esteja bem. Por favor, me mande umame n sagem para saber on de vocs esto. Vou at voc e a trago para
casa, onde seus pais queriam que voc estivesse. Isso os deixar felizes.
N o estou chate ada c om voc . V oc um a ovelha que foi desgarrada
por um lobo.
Por fav or, m e deixe t raz-la para c asa. Seu tio e e u sen tim os muito a
sua falta.
Com amor,
Tia Darla
* * *
Meu sangue comea a ferver e o calor explode como um vulco dentro de
mim. No pelo comentrio do lobo. No ligo para isso; ela j me chamou de
coisas bem piores. Mas ela est usando nossos pais como uma forma de culpa,
sabendo muito bem que m agoaria Livie.
V oc n o respon deu, no ?
Livie nega solene men te.
timo digo entre dentes, amassando o papel numa bola firme. Delete
sua cont a. A bra uma n ova. N em respon da a e la. Nem um a ve z, Livie.
Est bem , Kacey.
srio! Ouo o ofegar mnimo de Mia e rapidamente modero o tom.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
38/258
N o precisam os deles n a n ossa vida.
H uma lon ga pausa.
Ela n o m pessoa. Ela tem boas inten es. A voz de Livie fica m ais
ba ix a . V oc n o fac ilit ou m uit o as c oisa s pa ra ela .
Engulo o bolo de culpa que se forma no fundo de minha garganta, lutando
para controlar a raiva. Sei disso, Livie. Eu sei me smo. M as as boas int en es da t ia Darla n o
funcionam para ns. Esfrego a testa com as mos. No sou idiota. No
primeiro an o aps o aciden te, eu imprim i todo meu esforo, conc en tra o e
pen sam en to n a cura do meu c orpo para poder a n dar de n ovo. Depois de
receber alta, meu foco se voltou para enterrar as lembranas da minha vida
anterior em um poo sem fundo. Foram dias insuportveis, feriados,
an iversrios e coisas do gn ero, e ra pidam en te apren di que o lcool e a s drogas,embora possam destruir vidas, tambm tm um poder mgico: o poder de
aliviar a dor. Ca da vez m ais, eu depen dia dessas a rm as para lidar c om a on da
constante e dominadora de gua que crescia em minha cabea, ameaando
me afogar.
Isso e sexo. O sexo sem afeto, mec n ico, com qualquer estran ho com quem
eu no me importava e que n o dava a m nima para m im. Sem expecta tivas,
pelo m en os da min ha parte. Ca ras numa festa, n a e scola. Se e les achava mestranho depois, eu no estava nem a. Nunca deixei que chegassem perto o
suficiente de mim para descobrir. Foi o mecanismo de superao perfeito.
A t ia Da rla sa bia o que est a va ac on tec en do, m as n o sa bia com o lida r com
isso. No incio, tentou me aproximar do seu sacerdote, para que ele pudesse me
confrontar e me livrar dos meus demnios interiores. Tudo isso s podia ser
obra dos demnios, mas quando os demnios se provaram resistentes aos
poderes da igreja dela, acho que ela decidiu que ignorar seria o melhor caminho. s uma fase, eu a ouvi cochichando com Livie, junto com um tapinha
reconfortante. Uma fase revoltante e autodepreciativa da qual ela no queria
fazer part e. A partir da, ela c once n trou todo o seu foco na sobrinha in ta ct a.
Eu lidav a bem com isso at o dia em que a cordei com L ivie bat en do na s
minhas costas para impedir que eu me asfixiasse com meu prprio vmito, as
lgrimas escorrendo pelo rosto dela, chorando histericamente, dizendo sem
parar, Prom ete que n o vai m e a ban don ar! suas palavras uma faca
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
39/258
apunhalando meu corao.
Pare i com tudo na quela n oite . Com a bebedeira. A s drogas. O sexo ca sual.
Com o sexo, ponto final. Desde ento, nem mesmo olhei para um homem. No
sei bem por qu. A cho que, em m inha m en te , esta va tudo ligado. Por sorte,
en cont rei um n ovo alvio no kickboxin g pouco tem po depois. Livie n unc a
aprovou int eiram en te n em apoiou me u novo vcio, m as o ace itou sat isfeita emtroca das outras coisas.
Bati a porta da geladeira, sem querer pensar na tia Darla ou na
profundidade do meu passado autodestrutivo.
Q ue horas o caf da m an h?
Brunch! Mia me corrige com um suspiro alto.
* * *
O cheiro delicioso de bacon e caf provoca ondas de fome enquanto seguimos
M ia at a c asa dela. Eu m e dou parabn s por tomar a deciso certa . N o
mnimo, as omeletes que Storm est preparando me daro muita energia para
a academia hoje.
M eus olhos vaga m pelo apart am en to de Storm e sin to cert o assombro.
um espelho do nosso, s que bonito. Ela en cheu a sala de alm ofadas cin za,jogada s a qui e a li, e m esin ha s de vidro cheia s de lin da s lum in ria s de crist al.
Uma TV de te la plana est em um m vel de te ca estiloso. O ca rpete verde
horrvel espia por baixo de um tapete creme felpudo. As paredes so cinza-
claras, com algumas fotos espontneas de Mia, em preto e branco, penduradas.
Enquanto nosso apartamento parece uma espelunca, o de Storm parece uma
but ique fem in in a da m oda .
Ten ho de a dm itir, en quan to me sent o m esa e ouo em silncio Storm ,Livie e Mia trocarem provocaes, que estou comeando a gostar de Storm,
quer eu queira ou no. Embora ningum possa saber s de olhar para ela, Storm
esperta e reage como se tivesse mais do que seus 23 anos. Logo se v isso. Ela
relaxada e solta uma piada espirituosa aqui e ali naquela voz suave, mas rouca.
Mexe muito no cabelo e ri com facilidade, e no vejo nada alm de sinceridade
e interesse em seus olhos. Para algum to bonita, ela no me parece ftil nem
com ego inflado. Principalmente, ela ouve. E observa. Aqueles olhos astutosapreen dem tudo. Eu a pego exa min an do a ta tuagem na m in ha c oxa , seus olhos
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
40/258
se estreitando de leve enquanto tenho certeza de que est se fixando na
horrenda cicatriz por baixo dela. uma cicatriz grande que no foi provocada
por c irurgia, m as por um ca co de v idro irreg ular que v oou.
M as ela n o pergunt a a respeito, e isso m e faz gosta r ain da m ais dela.
A h, cara! exclama Storm a o se senta r novamen te depois de term ina r
de limpar a mesa. Abre um bocejo e noto que seus olhos esto vermelhos e tmbolsas rox as e esc ura s. A poia da n os c otovelos, ela esfrega a c ara . Est ou louc a
para Mia aprender a dormir sozinha. Pelo menos durante a semana eu posso
escapulir para um cochilo no meio da manh enquanto ela est na escola.
Ah, eu ia mesmo perguntar a voc. Posso levar a Mia ao parque aqui na
rua? pergunta Livie como se estivesse realmente pensando nisso e se
esquecera . De im ediat o vejo o que ela e st fazendo. Essa a L ivie. N o vou
perd-la de vista. Nem por um segundo, prometo. Livie comea a enumeraros ite n s de seu currculo impression an te . T en ho ce rtificado em R CP,
atestado de salva-vidas jnior, mil horas em uma creche particular. At tenho
uma cpia impressa de m eu currculo em n osso aparta m en to, se voc quiser. E
referncias! claro que tem, Livie. V am os volta r em , digam os, quat ro horas, se
no tiver problema para voc.
, ma m e! Diz sim ! M ia fica n o sof, agitan do fren eticam en te os
bra os. Diz sim ! Sim ! Sim ! M am e, diz sim ! T udo bem , tudo bem . Ca lma . Storm ri, bat en do n o ar. claro que
voc pode, Liv ie . V oc j pa ssou m uit o tem po c om ela , n o est ou preoc upa da
com suas credenciais. Mas eu devia pagar a voc!
N o. De m an eira n en hum a. Livie rejeita as palavras, e a olho de um
jeit o in c isivo. Ela est maluca? Ela gosta de comer mortadela? Devemos mudar para carne enlatada?
Livie ajuda M ia a c ala r os sapatos.
Tc hau, mam e! grita M ia a cam inho da porta. Livie ev ita m e olhar n osolhos. Era c om o se ela t ivesse uma lin ha direta com m eu c rebro e pudesse ler
m eus pen sam en tos destruidores.
A ssim que a porta se fec ha , St orm a poia a test a n a m esa .
Pen sei que hoje e u ia m orrer. A h, K ac ey. Eu juro, sua irm parec e um
an jo flutuan do por aqui com asas de ce tim e um a v arinha de c on do. N unc a
conheci ningum assim. M ia j e st a paixon ada por ela.
A ca m ada de gelo sobre m eu cora o derr ete. De c ido que ta lvez possa
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
41/258
tentar ser amiga de Storm Matthews, com peitos falsos e gigantescos e tudo.
* * *
T e v ejo depois, Livie m urmuro de c ara feia, pegan do min has coisas para ir
trabalhar. Ka ce... H uma lon ga pausa. Livie en gole em seco e assim preen che o
silnc io en tre n s e eu sei que alguma coisa a inc omoda.
Ai, Livie! Jogo a cabea para trs. Fala logo. No quero chegar
at rasada n o meu t rabalho ma ravilhoso.
A cho que e u devia t er fica do em Gran d Ra pids.
Isso me deixa petrificada. A raiva fasca den tro de m im ideia de m inha
irm ma is n ova v oltar para l, sem m im. Pa re de falar m erda, Livie. Dou um t apin ha em seu na riz, fazendo-a se
encolher. Agora mesmo. claro que voc no devia ter ficado em Grand
Rapids.
Mas como vamos sobreviver?
Com dez horas de prostitui o cada uma . N o m xim o.
Ka c ey!
Suspiro, ficando sria. V am os pen sar num jeito.
Posso arruma r em prego.
V oc precisa se conce n trar n a e scola, Livie. M as... Balan o o dedo para
ela. Se Storm t e oferec er din heiro de n ovo, ace ite.
Ela j balan ava a c abea.
No. No vou aceitar dinheiro para ficar com Mia. Ela divertida.
Voc devia se divertir com gente da sua idade, Livie. Como os meninos.Sua mandbula se tensiona.
Q uan do eles n o forem idiota s, eu fare i isso. At l, a lgum de 5 a n os faz
m ais sen tido.
R eprim i o riso. Este parte do problem a de L ivie. Ela inte ligen te dema is.
Um gnio. Nunca se relacionou com crianas de sua idade. Acho que ela
nasceu com a maturidade de algum de 25 anos. Perder meus pais s piorou o
problema. Ela cresceu rpido demais. E voc? Nun ca t arde dema is para o son ho de Princ eton.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
42/258
Um bufo nada atra en te e scapa de m im.
Esse son ho morreu an os atr s para m im, Livie, e v oc sabe disso. V oc va i
para Princeton. Eu vou me candidatar a alguma faculdade local assim que tiver
dinheiro. E de algum jeito falsificar meu histrico para apagar dois anos de notas pavorosas.
Livie vinca a testa, preocupada.
Faculdade local, Kacey? Papai detestaria isso. Ela tem razo, eledet esta ria. N osso pai estudou em Princ eton . O pai deleestudou em Princeton.
N a opin io dele, se n o for para e studar e m Princ et on , eu posso muito bem m e
matricular numa escola que tem arcos amarelos como braso e fazer um curso
de virar ham brgueres. M as m am e e papai m orreram e o tio R aym on d
acabou com toda nossa herana numa mesa de jogo.
Eu me lembro com o se fosse on te m a n oite em que descobri isso. Era m eu
an iversrio de 19 an os e pedi nosso dinheiro a t ia Darla e a o tio R aym ond paraque pudssemos nos mudar. Eu queria me tornar guardi legal de Livie.
En ten di que e stava acont ece n do algum a c oisa quando tia Darla n o en carou
m eus olhos. T io R aym ond se at rapalhou com as palavra s an te s de soltar que
n o sobrara n ada.
Depois de quebrar cada prato na bancada da cozinha e meter meu p na
jugula r de t io R a ym on d com t an ta for a que sua ca ra fic ou rox a, liguei pa ra a
polcia, pronta para acusar meus tios de roubo. Livie pegou o telefone de mim edesligou antes que a chamada se completasse. No amos vencer. Eu que
provavelmente seria presa. Embora meus pais fossem inteligentes, eles no
planejavam morrer. Todo o dinheiro que sobrou depois que as dvidas foram
paga s foi para tio Ra ym ond e t ia Darla cuidare m de n s. N o fundo, at que
fiquei feliz por tio Raymond ter feito tudo que fez. Isso me deu outra desculpa
legtima para pegar minha irm e deixar essa parte de nossa vida para trs, e
para sempre.A ca ric ie i a s c ost a s de Livie , ten ta n do a ten ua r sua culpa .
Pa pai ficaria feliz de estarm os em seguran a . Fim de papo.
* * *
N a t arde seguin te eu estava n a lava n deria quan do Storm desceu a esca da a os
saltos, sorrindo, mas de olhos abatidos. Livie levou Mia ao parque depois daescola de novo e eu estava considerando seriamente dar um tapo em sua
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
43/258
cabea por recusar o dinheiro.
Tanner vai arrancar as cuecas pela cabea por causa disso aqui. Storm
esfrega o p na mancha verde e pegajosa deixada pelo meu detergente. Baixo a
cabea, me lembrando em silncio de voltar e limpar o cho. A imagem de
Ta n n er usan do qualquer roupa n tim a faz a bile subir a m inha garga n ta .
Cont inuo em siln cio, arruma n do min has roupas, a t que percebo Stormpara da ali, me olhan do. eviden te que ela quer falar comigo, ma s n o deve
saber por on de come ar.
H quan to tem po voc m ora a qui? pergun to por fim.
A cho que m in ha voz a assust a , porque ela d um pulo e com e a a joga r a s
cam isetinhas e calcinhas de M ia na m quin a.
Ah, trs anos, eu acho. um prdio muito seguro, mas eu ainda no fiquei
aqui em baixo n oite.Suas palavras fazem me lembrar de Trent e dos sentimentos indesejados
que ele despertou em m im sem esforo n en hum. Esta m os aqui h v rias
semanas e no encontrei com ele de novo desde o primeiro dia. Se eu cavasse
bem fun do, se m e im portasse de prest ar a ten o n o que est ou ten t an do
en te rrar, te ria uma ideia da decep o que sin to por isso te r ac on te cido. M as
rapidamente esmago meus pensamentos com um martelo e os jogo no fundo
poo com todos os outros sentimentos indesejados. Como so os outros moradores do prdio?
Ela d de ombros.
M uita ge n te e n tra e sai. A luguel barat o, en to, tem os muitos
universitrios. Eles tm sido legais, especialmente com a Mia. A sra.
Potterage, do terceiro andar, ajuda a cuidar dela depois da escola e quando
estou n o trabalho. A h ela a pon ta o dedo para m im , evite o 2B como a
peste . do Pet e P erve rtido.Jogo m in ha ca bea pa ra t r s c om um gem ido.
In crvel. N en hum prdio c omplet o sem um m orador perve rtido.
A h, e um ca ra n ovo se m udou para o seu lado. N o 1D.
No consigo controlar o calor que sobe pelo meu pescoo.
, o Trent digo despreocupadamente enquanto ligo a mquina. At
ouvir o nome dele em voz alta excitante. Trent. Trent. Trent. Para com isso, Kace.
Bom, no falei com esse Trent, mas eu o vi e... uma coisa. Suas
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
44/258
sobrancelhas se arqueiam sugestivamente.
Que timo.M inha lin da vizinha Barbie a cha T ren t um gat o. S o que ela
precisa fazer ajeitar a blusa e o ter de joelhos. Percebo que meus dentes
esto dolorosamente cerrados e me concentro em relaxar os msculos. Ela pode
t-lo junto com todos os problemas que ele trouxer. Por que voc se importa, Kace?
Fe chan do a porta da m quina com um baque e aperta n do o bot o paraligar, Storm suspira lon gam en te, sopran do a fran ja comprida da ca ra.
V ai ficar a lgum te m po aqui? Ela olha o jorn al e a ca n et a que e u trouxe
comigo. P ode pega r m inha roupa quan do aca bar? Quer dizer, se v oc est iver
aqui e no for incmodo demais.
O lho para ela de n ovo, sua pele repuxa da e as lin has arroxe adas m arc an do
os olhos azuis bonitos e ve jo o quan to ela e st ca n sada. Um a m e jovem e
solteira, com uma filha de 5 an os, que trabalha seis dias na sem an a, a t as tr sda m adrugada, toda n oite.
T, no tem problema. Isso parece o que uma pessoa normal e legal
faria, digo a mim mesma. Livie vai ficar orgulhosa.
Te m certe za? N o quero ser inva siva.
Noto que ela est mordendo o lbio e os ombros esto contrados, e me
ocorre que e st n ervosa. Pedir m inha a juda parec e e xigir um a t on elada de
coragem e ela deve estar desesperada para isso. Perceber isso me d vontadede bater a cabea n a parede. Claram en te, eu n o me esforcei muito para ser
acessvel, como prometi a Livie. E Storm legal. Genuinamente legal.
Ora, senhora, para mim seria uma honra lavar suas calolas digo num
sotaque falso e arrastado do sul, pegando o jornal para me abanar.
Sua c ara se ilumina de surpresa e ela ri. Ela a bre a boca para respon der, ma s
n o sai na da. Eu, com sen so de humor, a c onfundi. Que droga, Livie tem razo. Eu sou uma
antiptica de primeira.A cresc en t o ra pida m en t e:
A lm disso, eu estou te deve n do pela sem an a passada. o mnim o que
posso fazer depois de te fazer ouvir Hannah nas alturas... a mais suja de todas as
arm as. Sorrio e n o um sorriso fora do. V ou cont inuar v en do a se o de
empregos, ento posso muito bem fazer isso neste paraso.
Ela franze o ce n ho.
A Starbucks no est dando certo? Livie deve ter dito a ela, porque no
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
45/258
fui eu que falei.
Est tudo bem , m as pagam m uito ma l. Se e u quisesse v iver de latas de
Spam e de raspar manchas azuis do po pelo resto da vida, estava tudo certo.
Ela assente , pensan do.
V ocs deviam ir jan tar n a m in ha ca sa esta n oite. A bro a boca para
recusar sua c aridade, ma s, ant es que eu con siga falar, ela a crescen ta: M eusagradecimentos por Livie cuidar de Mia hoje. H algo naquele tom, uma
m istura de c orage m fora da e a utoridade que m e faz fec har a boca . V ou
comear a cozinhar agora. Terei terminado quando a mquina aqui acabar.
E... Ela alterna o peso nos ps, meio hesitante, como se no tivesse
ce rteza se devia dizer o que lhe passa pela ca bea . ... Voc sabe preparar
drinques?
H um... Pisco rapidam en te para a repen tina m udan a de assun to. No meio cedo para isso?
Ela sorri, cintilando seus dentes perfeitos.
Tipo martnis e Long Islands?
Sirvo um a dose de te quila de m at ar proponho com desnim o.
Bom, posso falar com meu chefe e ver se ele contrata voc, se estiver
interessada. Sou barwoman numa boate. A grana boa. Tipo, muito boa.
Seus olhos se a rregalam com essas ltim as palavra s. Barwoman, ?
Ela sorri.
E a, o que voc acha?
Ser que posso lidar c om isso? N o digo n ada, te n ta n do m e im agin ar a trs
de um balco de bar. O film e t erm ina comigo quebran do uma garra fa e
ba ten do n a ca be a de um clie n te a busado.
Mas eu preciso te avisar. Ela hesita. uma boate de adultos.Sin to o fran zido en rugar m inha t esta .
De adultos tipo...
Strippers.
A h... claro.Dou uma olhada em mim mesma. , eu sou do tipo que
fica-vestida-em-pblico.
A s m os de St orm re je it am m in ha s pa la vras.
No, no se preocupe. Voc no teria de fazer strip. Eu te garanto.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
46/258
Eu? Trabalhar numa boate de strip?
A cha que serve para m im, Storm ?
Voc consegue ficar cercada de sexo, bebidas e um monte de dinheiro?
Dou de ombros.
Parece minha adolescncia, a no ser pelo dinheiro.
Pode apren der a sorrir um pouquin ho m ais? pergunt a ela c om um risonervoso.
A bro pa ra ela m eu m elhor sorriso falso.
Ela assente, aprovando.
timo. Acho que vai se dar bem no bar. Voc tem um visual que agrada a
eles.
Dou um risinho sarcstico.
Que visual? O visual acabo-de-sair-de-um-nibus-de-Michigan-e-farei-qualquer-coisa-por-dinheiro-para-no-ter-de-comer-Spam?
Os cantos de seus olhos se enrugam quando ela ri.
Pen se nisso e me deixe falar com m eu chefe. uma gran a boa mesmo. Voc
n un ca m ais teria de comer Spam . N unca . C om essa, ela sobe a escada aos
saltos.
Penso nisso. Penso nisso pela meia hora seguinte enquanto olho as roupas
de Storm e M ia rodan do em crculos. Pen so n isso en quan to o tem po passa ecoloco as roupas n a sec adora, c ome an do duas ca rgas n ovas. Pen so n isso
enquanto arrumo e dobro a roupa limpa em pilhas organizadas e recarrego o
cesto, sem prestar muita ateno nas roupas mnimas da pilha de Storm. Tipo
uma camisetinha preta que parece uma mistura de suti esportivo com
lantejoulas e um animal selvagem mutilado. Levanto a pea. Ela serve bebidas
ou o prprio corpo nisso? Isso explicaria seus peitos ridculos. Nossa! Talvez eu
est eja fazen do am izade com uma stripper. Isso e squisito. Depois perc ebo queestou an alisan do a c alcinha da g arota. Isso m ais esquisito ain da.
M e diga onde va i usar isso para que eu possa te stem unhar. Sua v oz
grave m e a ssusta de n ovo.
O fego enquan to vira a c abea e vejo Tren t a n dan do na m inha direo com
um saco de roupa suja pendurado no ombro. Minha respirao para ao v-lo,
em especial aquelas covinhas marcadas que ele mostra descaradamente. J faz
m ais de duas sem an as que e u o en cont rei aqui, e v- lo ac en de de im ediat o um
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
47/258
fogo dentro de mim.
De novo na lavanderia? Quais so as chances?Respiro fundo, me obrigando a relaxar.
Desta vez estou ma is preparada. No vou agir como uma avoada. No vou deixar que seu rosto
bonito me desarme. No vou...
Ora, ora. O Espreitador da Lavanderia ataca novamente.
Tre n t sorri com iron ia en quan to seus olhos perc orrem m eu corpo, para n dopor um m om en to para a valiar a ta tuagem n a m inha coxa , an tes de voltarem
rapidam en te ao m eu rosto. Q uan do seus olhos chega m ali, min ha pulsa o est
ac elerada e ac ho que eu talve z prec ise t roca r de calcin ha. Mas que droga! L vamos ns
de novo.
Segundo round resmungo an tes que c on siga m e c on ter.
Sua sobran ce lha se arqueia e m surpresa e n quan to ele se a proxima da
lavadora aberta.Procuro no ficar babando pelo seu corpo delineado atravs da camiseta
bra n ca apertada , en qua n to o vejo la rg ar um jogo de le n is bra n cos n a
mquina.
V oc lava m uito seus len is observo com frieza, pen san do ser um
comen trio m uito in ocen te.
A s m os de T re n t pa ra m por um se gun do e ele c on tin ua , rin do e
ba la n an do a c a bea , m a s se m dizer n ada . N em prec isa . Perc ebi o que m in haobservao podia implicar e gemi, reprimindo o impulso de bater na minha
testa, m in ha c ara fica n do ain da m ais quente . Q ualquer van tage m que eu
pen sasse te r quan do ele en trou se dissolveu em um poo de te so a m eus ps.
Tenho certeza de que os lenis dele esto em constante trabalho. Ele deve
ter n am orada. A lgum como ele tem deter n am orada. O u um a srie de am igas
para transar. Seja como for, agora quero me enfiar num buraco e me esconder
at que ele v em bora. O que posso dizer? Miami quente sem ar-condicionado prope ele
depois de um momento, tentando atenuar a estranheza. isso que eu me foro
a pen sar, at que ele solta: M esm o sem roupa, e u acordo ferve n do.
Trent dorme pelado. Minha boca seca enquanto foco sem controle em seu corpo
de n ovo. Do outro lado da parede de m inha sala de e star t em esse deus, num a
ca m a, deitado nu. Em bora eu julgasse impossvel, m inha pulsa o se a ce lera
ainda m ais.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
48/258
A bro a boc a pa ra m uda r de a ssun to, m as n o c on sig o pron un c ia r n ada
coerente . A s palavras n adam em min ha c abea, forma n do um vozerio sem
sentido. N o con sigo pen sar numa nica resposta rem otam en te in teligen te.
Eu, que posso contar piadas grosseiras e esmagar o saco de qualquer arrogante
com a melhor delas, estou perplexa. Ele acaba de transpor tranquilamente o
m eu escudo defensivo apena s com len is e sua ima gem de pelado.E a quelas m alditas c ovinhas.
V ejo os m sc ulos de se us om bros se m exere m en qua n to ele c oloc a
detergen te n a m quin a. Q uem poderia imagina r que lava r roupa seria sexy?
Quando ele se vira para mim e pisca, dou um pulo.
Est tudo bem com voc? pergun ta ele.
Conc ordo com a c abea e procuro soltar um som a firmat ivo, m as sai
parec en do um gat o estran gulado e sei que estou a pon to de perder a ca bea.Ele bate a ta m pa da m quina e c oloca m oedas para lig- la, depois se vira
para m im, curvan do-se.
Para ser franco, vi voc passando pelo meu apartamento com a roupa
para lavar e peguei a primeira coisa que vi na frente.
Pera... O que ele est dizendo?Sacudo a c abea para m e livrar da nv oa m en tal. Acho
que ele est me dizendo algo importante.
Ele sorri e passa a mo pelo cabelo desgrenhado. Eu quero fazer isso tambm, pen so,flexion an do involun ta riame n te os dedos.Por favor, me deixe fazer isso.Na realidade,
quero fazer todo tipo de coisas com ele. Bem ali, naquele poro sujo. Em cima
da mquina de lavar. No cho. Em qualquer lugar. Contenho o impulso de me
atirar n ele como um an imal selvagem . Q ue inferno, agora m esmo estou
ofegante como um deles.
E a, o que as pessoas fazem para se divertir por aqui? pergunta ele,
recostando-se um pouco para me dar espao, como se pudesse ver que estouprestes a desm aiar c om sua proxim idade.
H um... Levo um mome n to para a char minha voz. E minha intelign cia.
En contros em lavan derias? M inhas palavras saem trm ulas. Que porcaria... Qual
o meu problema?
Ele ri, seu olhar deslizan do para os me us lbios. A sen sa o de seus olhos ali
m e faz vom itar palavra s que m eu c rebro ain da n o aprovou.
N o sei. Aca bo de m e m udar para c. A in da n o me diverti na da.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
49/258
imeudeus, Kacey. Cale a boca! S cale a boca! Agora voc parece uma lesadae uma man!
Com um sorriso torto, ele se en costa n a m quina e c ruza os bra os forte s.
Depois me olha fixamente. Aquela encarada dura uma eternidade, at que o
suor com e a a escorrer pelas m inhas costa s.
Bom , prec isam os m udar isso, n o acha?
Hein? reajo, o calor aquecendo minha virilha. Ele efetivamente tirouminha capa de titnio de novo. Ele a jogou em outro planeta, onde no tenho
esperana de encontr-la. Estou nua e vulnervel e seus olhos esto cravados
em meu ntimo.
Seu corpo desliza pela m quina at que ele se en costa e m m im, seu quadril
cutucan do o m eu, o bra o esten dido no can to oposto da m quina n a m inha
fren te , rea lmen te inv adido todo o m eu espao pessoal.
Mudar o fato de que voc no se diverte nada murmura ele. Prendo arespira o. Sin to com o se e le en fiasse a m o dent ro do me u corpo e pegasse
meu corao batendo. Ser que ele tem alguma ideia do que faz comigo? Eu sou
assim to na cara?
Seu in dicador se ergue e corre pela m inha t m pora, descen do pelo me u
rosto, e sua mo segura meu queixo. Ele roa meu lbio inferior com o polegar
enquanto fico boquiaberta para ele. No consigo me mexer. Nem um msculo.
Seu toque tem o poder de me paralisar. V oc t o bon ita.
Meus nervos esto em contradio. Sentir a ponta de seus dedos em meu
lbio t o bom , ao m esm o tem po em que aquela v oz est gritan do, No! Pare!
Perigo!
Voc tambm ouo-me sussurrar e de imediato xingo a traidora dentro
de mim.
No. Deixe. Isto. Acontecer.Ele se curva para mais perto, e ainda mais, at que seu hlito acaricia minha
boc a . Est ou petrific a da . Juro que ele va i m e beija r.
Juro que vou deix a r que m e beije .
M as en t o ele e rgue o corpo, como se lem brasse de alguma coisa. Dan do
um pigarro, diz com uma piscadela:
A gente se v, Kacey. Ele se vira e desaparece na escada, suas pernas
compridas subindo dois degraus de cada vez.
7/25/2019 Respire - K. a. Tucker
50/258
-. Cl-claro gaguejo, recostan do-m e n a m quin a para m e a poiar
enquanto minhas pernas viram gelatina. Tenho certeza de que estou a dois
segundos de me derreter em uma poa no piso de concreto. Contenho o
impulso de ir a tr s dele. Um... dois... trs...Luto para me livrar da tenso desagradvel
que toma furtivamente meu corpo. Curvando-me, encosto o rosto na mquina,
m inha pele quen te em alvio por sen tir o me ta l frio.Ele um pega dor dos bon s. Em gera l eu sou igualmen te boa em rejeit-los.
Sendo um a m ulher num a a ca dem ia domina da por hom en s, lidei com a queles
egoma n acos exc itados da O M alleys todo dia. Segura meu saco para mim... Me domina...
O s com en trios eram interm inve is e n ada criativos. Ent o, quando eles
concluram que eu devia ser lsbica porque no baixei o short para nenhum
deles, os comentrios idiotas se multiplicaram por dez.
N unc a tive problem as para re sistir ao ma is gostoso deles. N en hum delesrom peu esse m uro ma gistral de autopreserva o que const ru em torno de
m im. Eu gostava de trocar golpes c om e les. Adorav a bater n os joelhos deles.
Mas eles nunca despertaram nenhum interesse em mim, fsico ou o que fosse.
M as T rent ... Tem algo diferen te n ele e n o preciso pen sar m uito para
enxergar. Algo no modo como ele domina um ambiente, como olha para mim,
como se j t ivesse iden tificado e pudesse desarm ar c ada um de m eus
mecanismos de defesa sem esforo nenhum, como se ele visse atravs deles odesastre que espreita por trs.
E ele quer isso.
M erda de sedutor resm ungo ao correr para a pia. Um jat o de gua
apaga tem porariam en te a s cham as em m eu peito. Ele fala m an so. A h, to
manso. De um jeito muito mais sofisticado que os babacas com quem estou
ac ostuma da a lidar. Voc t o bonita, repito, fazen do, em seguida, uma
im itao severa e sacan a de mim m esma dizen do, V oc t am bm . Ten hocerteza de que ele diz isso para todas. Cuidado, ele vai se encontrar com Storm
Recommended