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A TÉCNICA DAS CORONOPLASTIAS
As coronoplastias são um dos processos terapêuticos
curativos que se aplicam nas disfunções oclusais, isola-
damente ou em combinação com outros, como a ortodontia,
a prótese, a cirurgia e o reposicionamento postural.
De uma forma geral, prevê-se que seja uma técnica a ser
utilizada em conjunto com as outras, sendo a última a ser rea-
lizada, por norma como “retoque” final do tratamento. Sendo
inevitável a sua utilização, é importante que se conheça devi-
damente a técnica. Numa população de 100 pacientes, foi pos-
sível tratar 63% utilizando apenas esta terapêutica.
O que se pretende conseguir numa coronoplastia?
Em primeiro lugar, segundo a teoria de Jankelsson, trata-
se de eliminar todos os contactos deflectores no percurso
de oclusão, considerados como os elementos patogéni-
cos essenciais. No artigo publicado n’ O JornalDentistry, de
Janeiro de 2014, acerca da “etiologia das disfunções oclu-
sais”, ficou claro que cerca de 30% das disfunções ocorriam
sem nenhum desvio no percurso de oclusão, sendo os casos
a que foi dado o nome de “encaixes de precisão”.
Os contactos deflectores ocorrem nas mais ligeiras latera-
lidades que habitualmente se produzem no encerramento,
muito embora a posição de encaixe final esteja na relação
fisiológica de oclusão cêntrica ou habitual. Estes contactos
induzem uma perda de velocidade de encerramento na vizi-
nhança do seu final, que têm que ser rigorosamente guiados
para os evitar, condicionando o excesso de trabalho muscu-
lar para músculos não preparados para tamanha actividade
com a ocorrência das contracturas consequentes.
É assim necessário que as coronoplastias corrijam tam-
bém estes casos, existindo cinco identificados: excesso ou
insuficiência de inclinação dentária, egressões, mordidas
cruzadas e excesso de desenvolvimento das cúspides.
Muitos dos casos em que existe verticalização excessiva
dos dentes superiores relacionam-se com as extracções que
se realizam com fins ortodônticos e que condicionam um
arco superior mais restrito e uma arcada mais verticalizada.
Como o fim da ortodontia foi atingido, a solução reside em
realizar coronoplastias. Mas nunca será demais alertar os
ortodontistas para as consequências possíveis das extrac-
ções por falta de espaço na arcada superior.
As egressões têm uma solução rápida que passa por
extrair a peça dentária em egressão ou então utilizá-la como
pilar de prótese fixa com a respectiva redução ou conforma-
ção. Nos outros casos, a coronoplastia indicada, bem plane-
ada e executada, muitas vezes é suficiente, sem porém se
rejeitar nenhuma das outras terapêuticas curativas para as
quais existirá indicação.
Então, como realizar as coronoplastias?
a) Cerificar os contactos.
É essencial saber em que pontos existem contactos dentá-
rios nas duas arcadas, o que se faz com papel químico pre-
parado para oclusão. Convém usar papel que marque bem
e que de uma forma geral tenha bastante tinta, embora
relativamente grosso, sem prejuízo de se poder usar depois
também um papel superfino (para quem considere necessá-
rio), apesar de normalmente não o ser.
O paciente não deve morder no papel como se estivesse a
mastigar, porque os movimentos de mastigação têm sempre
alguma excentricidade, mas deve bater os dentes em movi-
mentos curtos de forma a produzir um som. Esse som em con-
dições normais é alto e claro, mas é impossível de produzir se
existirem deflecções ou prematuridades. Chamou-se-lhe “Tap-
Tap” porque é esse o som que melhor mimetiza o som real.
Um “Tap-Tap” alto e claro diz-nos que se está perto da condição
ideal, e por isso constitui elemento importante de diagnóstico.
Aparece então o mapa de contactos. Em condições ideais (do
ponto de vista da oclusão) há seis regras que convém observar.
1) Os dentes contactam pelas superfícies oclusais. Qual-
quer contacto noutras superfícies deve ser considerado
errado (faces laterais, anteriores e posteriores, tubércu-
los de Carabelli, etc.).
2) As cúspides de trabalho devem contactar as fossas opos-
tas, tanto quanto possível a meio. Toda a cúspide que con-
tacta a fossa oposta é cúspide de trabalho. Normalmente
são as palatinas superiores e as vestibulares inferiores,
mas nas mordidas cruzadas tudo se passa exatamente ao
contrário, e aí são as vestibulares superiores e as linguais
inferiores que contactam as fossas opostas e que assim
funcionalmente são as reais cúspides de trabalho.
3) As cúspides de balanceio não têm contactos em oclusão
cêntrica ou habitual, isto é , se nelas houver marcação
isso corresponde a contactos patogénicos (relembrar que
nas mordidas cruzadas a normalidade está invertida).
4) No grupo anterior, incisivos e caninos devem ter contac-
tos em simultâneo e produzir o fenómeno de Cristhensen
na protrusão (disclusão completa posterior). Idealmente
essa protrusão deve levar a um “topo a topo” desses gru-
pos, razoavelmente harmonioso porque é muito descon-
fortável para os pacientes não conseguirem roer ou cortar
com o grupo incisivo.
5) Os contactos incisivos e caninos devem realizar-se em
condições de equilíbrio, isto é, as marcas devem obser-
var-se no centro das superfícies oclusais, ou então devem
existir marcas de ambos os lados do dente de forma a
evitar os fenómenos de rotação, que são os mais trau-
máticos nessas peças.
6) As guias mais importantes são as caninas, cuja função
é guiar a oclusão até ao contacto final; esta guia é suave
e progressiva. Se for abrupta, pode induzir fenómenos
de encaixe de precisão que são patológicos. Nos casos
em que os caninos não participam da oclusão, as guias
devem pertencer aos pré-molares e molares, mas nestes
casos é preferível que se façam tanto quanto possível em
contacto de grupo, que também será suave e progres-
sivo, e com desoclusão do lado oposto.
Raramente as coronoplastias necessitarão da retirada de
mais de 0,2 mm de esmalte. Muitas vezes muito menos. Mas
se, por imperativos terapêuticos, essa retirada for superior,
não está contraindicada. Os médicos não hesitam, quando
indicado, em realizar uma coroa que exige uma remoção de
um dente bem superior.
Nas coronoplastias extremas pode ser necessário prever uma
protecção da peça dentária que isole a dentina do meio exterior.
Devem realizar-se as coronoplastias com prudência e
progressividade, porque não se trata de eliminar totalmente
os contactos mas sim de modificá-los para que respeitem as
regras que foram definidas. Não é bom tentar uma óptima
oclusão logo numa única consulta.
Como verificar os resultados das coronoplastias?
É necessário controlar os resultados obtidos, o que se faz
com os instrumentos de que dispomos.
A - O primeiro é a folha do inquérito que foi referido no artigo
desta revista (nº de Fevereiro de 2014, ano 1, Nº4 ), “Índice
disfuncional em oclusão”), cujo preenchimento numa nova
data revela a evolução do índice disfuncional em relação à pri-
meira.
B - Outro instrumento é o papel de oclusão que mostra como
os contactos evoluíram e os erros que podem subsistir. Na
realidade, eliminando contactos nocivos, a oclusão passa a
fazer-se no nível imediatamente seguinte onde não é seguro
que os novos contactos sejam os mais correctos.
C - O teste sonoro, muitas vezes menosprezado, é da maior
importância pois o som do “tap-tap” indica imediatamente
que se está mais ou menos perto de uma oclusão ideal.
D - A verificação da acumulação de tártaro em relação às visitas
anteriores mostra que, havendo uma terapêutica correcta, os
níveis de tártaro diminuem dramaticamente, o que também
é sinal da terapêutica bem-sucedida.
E - Por último, a opinião do paciente a quem o processo deve
ter sido explicado nas suas linhas mais gerais, é de grande
importância, porque das suas indicações se pode inferir como
está a correr o tratamento. O paciente detecta uma diferença
de 0,01mm que não é normalmente visível pelo médico.
Instrumentos
Utilizam-se brocas diamantadas de vários grãos com a
intenção de desgastar com a mínima produção de calor, e
por isso com boa irrigação, mas as pedras cinzentas são tam-
bém úteis. É necessário polir o esmalte para eliminar os ris-
cos e irregularidades produzidos pelo diamante, sobretudo
se este tiver um grão grosso. Este polimento pode ser feito
com pedras de Arkansas ou com borrachas diamantadas.
Com que ordem se procede aos desgastes?
Primeiro é necessário resolver o problema das egressões
e das mordidas cruzadas, porque vão perturbar desfavora-
velmente toda a operação subsequente. Existem egressões
por vezes pouco visíveis e que convém pesquisar. É o caso
das que são ocasionadas pelos dentes do siso que, sem opo-
nente, egridem sem que se dê conta e produzem uma pre-
maturidade muito traumática.
As mordidas cruzadas podem ser corrigidas colocando as
cúspides de trabalho nas fossas correspondentes e eliminando
os contactos nas cúspides de balanceio, o que também deve ser
realizado, e a seguir para os restantes molares e pré-molares .
Finalmente deve-se encarar a situação do bloco anterior
segundo as regras já enunciadas e tomando atenção para
que, nesse grupo, possam existir contactos nocivos por exa-
Dr. Pedro Castel-Branco Estomatologista, Cirurgião Maxilo Facial Assistente convidado de cirurgia da FMDUL aposentado.
www.jornalden tistry.pt24
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gero da verticalização desse bloco, o que também produz uma disfunção do tipo encaixe de precisão. Essa ocorrência implica um desgaste de compensação que, por vezes, terá que incidir nas duas arcadas de forma a minimizar a remo-ção de esmalte em cada uma delas. �
ARTIGOS
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Bibliografia
www.jornalden tistry.pt 25
&/Ë1,&$
Pedro G,C.Castel-Branco
Rua José Florindo de Oliveira, 22
2750-001 CASCAIS
Mail: pedro_castelbranco@sapo.pt
OJDentistry N10 Clinica TecCoronop Castel.indd 25 05/09/14 16:59
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